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Lesão celular e morte celular

Porquê adoecemos?
Como
adoecemos?
De quê adoecemos?

Há alterações
morfológicas?

Há alterações funcionais?
Lesões reversíveis ou degenerações
Nos estágios iniciais ou nas formas leves de lesão, as
alterações morfológicas e funcionais são reversíveis se o
estímulo nocivo for removido.

Nesse estágio, embora existam anomalias estruturais e


funcionais significativas, a lesão ainda não progrediu para
um dano severo à membrana e dissolução nuclear.

Quando a alteração atinge o núcleo e as membranas


celulares, ela se torna irreversível.
Fatores e agentes que podem levar a uma lesão
celular :
Privação de oxigênio:
Obstrução do fluxo sanguíneo -> falta de oxigênio;

Hipóxia: a redução de fornecimento de oxigênio (anemias,


envenenamento (CO: forma um complexo estável com a
hemoglobina que impede a ligação ao oxigênio), Insuf.
cadiorespitarória, pneumonia, isquemia);

Anóxia: a privação total de oxigênio (afogamento);


Ambas são causas frequentes de lesões;

O oxigênio -> envolvido no processo de produção de energia (ATP)


-> respiração oxidativa aeróbica;

Mediador de diversas reações metabólicas;


Agentes químicos
Grande diversidade de substâncias químicas que podem
desencadear alterações celulares;

Inclusive substâncias indispensáveis para célula podem se tornar


agentes nocivos em excesso, como a glicose e íons.

Os agentes conhecidos como venenos/toxinas atuam na degradação


da membrana celular, alterando todo o equilíbrio osmótico
e, também, podem inativar enzimas e cofatores.

Grandes vilões celulares: o monóxido de carbono, álcool e metais


pesados (chumbo e mercúrio) -> dia a dia

-> Modificações no genoma, transformação nas moléculas, ou atuar


como antígeno, induzindo resposta imunitária humoral.
Agentes patogênicos biológicos
Grande diversidade -> vírus, bactérias, fungos e parasitas.

O agente pode atuar invadindo a célula, proliferando-se e


causando a morte celular por ruptura.

-> Por liberação de toxinas e antígenos, promovendo a


ativação do processo inflamatório e indução de resposta
imunitária.
Fatores genéticos
Mutações nos genes e alterações cromossômicas
resultam em doenças;

Ex: Síndrome de Down - trissomia do cromossomo 21.

Ex:Anemia falciforme – substituição de 1 aminoácido da HgS.

-> Causam lesão celular devido a deficiência de proteínas funcionais,


defeitos enzimáticos nos erros inatos do metabolismo, acúmulo de D N A
danificado ou proteínas mal dobradas.

Ambos disparando a morte celular quando são irreparáveis.

As variações genéticas (polimorfismos) podem influenciar também a


suscetibilidade das células a lesão por substâncias químicas e outras lesões
ambientais.
Desequilíbrios Nutricionais
Era de borbulhante riqueza global - as deficiências nutricionais
permanecem como a principal causa de lesão celular.

Ex: Deficiências proteico-calóricas entre as populações


desfavorecidas. Deficiências de vitaminas específicas mesmo em
países desenvolvidos com alto padrão de vida.

Os excessos nutricionais são também causas importantes de


morbidade e mortalidade -> a obesidade aumenta
consideravelmente o risco para diabetes mellitus tipo 2.

As dietas ricas em gordura animal estão fortemente implicadas no


desenvolvimento da aterosclerose, como também na vulnerabilidade
aumentada a muitas desordens, incluindo o câncer.
Desequilíbrios Nutricionais
A célula, em seu funcionamento normal, necessita de proteínas,
lipídios, vitaminas e minerais.

Grande parte dessas substâncias são obtidas por meio de


reações metabólicas e síntese proteica;

Algumas substâncias precisam ser adquiridas pela alimentação


-> a ausência pode acarretar danos celulares;

A ausência de algumas vitaminas na alimentação representa


uma das principais causas de lesão.

Ex: Anorexia, Bulimia, Escorbuto.


Agentes físicos
Força mecânica;
Extremos de temperatura;
Radiação;
Choque;
Alteração brusca de pressão;

Lesões traumáticas: feridas abrasivas, laceração de tecidos,


torções, corte e perfuração.
Reações Imunológicas
 Reações autoimunes contra os próprios tecidos e as
reações alérgicas contra substâncias ambientais, em
indivíduos geneticamente suscetíveis;

Os anticorpos podem lesar o funcionamento da


célula, inibindo ou estimulando uma função.

Assim, quando os anticorpos se ligam aos receptores


celulares pode ser estimulada uma reação inflamatória.
Envelhecimento Celular ou Senescência Celular
Resultado do declínio progressivo do tempo de vida e da
capacidade funcional das células.
Os indivíduos envelhecem porque suas células envelhecem.

-> Alterações nas habilidades replicativas e de reparo das


células e tecidos -> diminuição da capacidade de responder ao
dano -> morte das células e do organismo.

Foco de atenção pública para o processo de envelhecimento


-> suas manifestações estéticas.

Constitui um dos fatores de risco -> para muitas doenças


crônicas, como o câncer, a doença de Alzheimer e a doença
cardíaca isquêmica.
Lesão celular - Mecanismos

Principais mecanismos bioquímicos e sítios de lesão celular. ATP, trifosfato de adenosina; ERO,
espécies de oxigênio reativo.
Mecanismos da lesão celular
Depleção de ATP: ATP é a principal fonte de energia.

Principais causas de depleção de ATP: redução do suprimento de


oxigênio e nutrientes, o dano mitocondrial e as ações de algumas
toxinas (ex: cianeto: afinidade pela e enzima citocromo c oxidase –
bloqueio da cadeia respiratória).
Tecidos com maior capacidade glicolítica (fígado) são
capazes de sobreviver melhor à perda de oxigênio e ao
decréscimo de fosforilação oxidativa do que os tecidos
com capacidade limitada para a glicólise (ex: cérebro).

síntese de ATP na cadeia respiratória -> reduz as


oxidações e o bombeamento de eletrólitos nas
membranas celulares;

Redução das sínteses celulares -> redução de glicogênio


que se transforma em ácido lático, reduzindo o pH e
prejudicando as atividades enzimáticas da célula.
Outro efeito da depleção de ATP: é a redução da atividade da
bomba de Na+ e K+ na membrana plasmática = desequilíbrio
osmótico.

A falha da bomba de Na+ provoca influxo de sódio e efluxo de


potássio celular, resultando no ganho osmótico de água,
causado tumefação celular e dilatação do RE.

A falência da bomba de Ca2+ a [ ] desse elemento no


citoplasma, o que desencadeia a ativação de diversas enzimas,
como as fosfolipases (degradam lipídeos), proteases (clivam
proteínas) e endonucleases (cortam o DNA) e dispara o
processo de apoptose.
Defeitos na Permeabilidade da
Membrana
Ocorre degradação e redução de lipídios e proteínas ->
modificações do citoesqueleto.

O aumento da permeabilidade da membrana -> necrose.

Esses danos fazem com que os materiais dentro do lisossomo,


mitocôndria e até da própria célula extravasem resultando em
morte celular.

A membrana plasmática pode ser danificada por isquemia, várias


toxinas microbianas, componentes líticos do complemento e
por uma variedade de agentes químicos e físicos.
Consequências morfológicas e
funcionais da diminuição de
ATP intracelular. RE, retículo
endoplasmático.
Os radicais livres são elementos químicos que possuem um
único elétron não pareado e, devido a isso, são extremamente
reativos, atacando ácidos nucléicos, lipídios e proteínas.
Acúmulo de Radicais Livres Derivados do Oxigênio
(Estresse Oxidativo)
ERO´s - Espécies Reativas de Oxigênios.

3 principais: Superóxido (O2-), peróxido de hidrogênio


(H2O2) e a hidroxila (OH) - formada em decorrência de
reações com o H2O2, sendo esta a mais reativa.

Nas células saudáveis -> moléculas são produzidas


normalmente -> suas [ ] intracelulares são rigorosamente
reguladas para evitar seus efeitos lesivos.

-> São produzidas pelos leucócitos, principalmente neutrófilos


e macrófagos, como uma arma para destruição de micróbios e
outras substâncias durante a inflamação e defesa do
hospedeiro -> reagem com macromoléculas -> causam lesões.
Mecanismos para a remoção de
radicais livres
1 – Enzima Superóxido Dismutase -> converte O2- em H2O2.

2 – Catalase: uma das mais importantes enzimas conhecidas, capaz de


degradar milhões de moléculas de H2O2 por segundo -> H2O + O2.

3 - Glutationa Peroxidase: converte +OH -> H2O2 -> H2O + O2.


Principal função é proteger as células da lesão oxidativa -> é encontrada no
citoplasma de todas as células.

Os antioxidantes endógenos ou exógenos (p. vitaminas E, A, C e o b-


caroteno) podem bloquear a formação de radicais livres ou removê-los,
uma vez que tenham sido formados.
Mecanismos para a remoção de
radicais livres

Geração, remoção e papel das espécies reativas de oxigênio (ERO) na lesão celular. A produção de ERO é
aumentada por muitos estímulos nocivos. Esses radicais livres são removidos por decomposição
espontânea e por sistemas enzimáticos especializados. A produção excessiva ou a remoção inadequada
resulta em acúmulo de radicais livres na célula que lesa os lipídios (por peroxidação), proteínas e DNA,
resultando em lesão celular.
Morfologia das lesões a nível celular
1º - o agente nocivo atua ao nível molecular, alterando a
quantidade e as moléculas disponíveis, o que acarreta um
desequilíbrio fisiológico, resultando na disfunção celular.

Consequências: alterações morfológicas como alteração


na sua forma e tamanho.
Lesão Reversível
Principais características morfológicas da lesão celular
reversível: tumefação celular e a degeneração gordurosa.

Tumefação celular: é resultado da falência das bombas de


íons dependentes de energia na membrana plasmática, levando
a uma incapacidade de manter a homeostasia iônica e líquida.
-> aumento de água intracelular -> a redução de síntese de ATP
-> interfere na eficiência da bomba de Na+.

A degeneração gordurosa ocorre na lesão hipóxica e em


várias formas de lesão metabólica ou tóxica e manifesta-se pelo
surgimento de vacúolos lipídicos, grandes ou pequenos, no
citoplasma.
Tumefação celular
É a primeira manifestação de quase todas as formas de lesão celular.

Difícil observação na microscopia óptica -> mais visível ao nível do


órgão inteiro.

Quando afeta muitas células em um órgão, causa alguma palidez


(resultante da compressão dos capilares), aumento do turgor e
aumento do peso do órgão.

Microscopia: pode revelar pequenos vacúolos claros dentro do


citoplasma que representam segmentos distendidos e separados do
retículo endoplasmático.

Padrão de lesão não letal também chamado de degeneração


hidrópica ou degeneração vacuolar.
Degeneração Gordurosa
Presença de vacúolos lipídicos no citoplasma.

Encontrada principalmente células que participam do


em metabolismo (ex. hepatócitos e células
miocárdicas). da gordura

As células lesadas podem exibir também coloração eosinofílica


que se torna muito mais pronunciada com a progressão para a
necrose.

Quando afeta muitas células em um órgão causa coloração


amarelada devido à presença de lipídeos.
Morte Celular
Com a persistência do dano, a lesão torna-se irreversível
e, com o tempo, a célula não pode se recuperar e morre.

Existem dois tipos de morte celular — necrose e


apoptose — que diferem em suas morfologias,
mecanismos e papéis na fisiologia e na doença.
Apoptose/Necrose
Apoptose -> célula privada de fatores de crescimento;
-> ou quando o D N A celular ou as proteínas são danificadas sem
reparo, a célula se suicida -> caracterizada pela dissolução
nuclear sem a perda da integridade da membrana.

Necrose -> constitui sempre um processo patológico ->


provocado pela alteração da funcionalidade das membranas,
possibilitando que o conteúdo presente nas organelas
membranosas citoplasmáticas extravase e acelere o processo de
degradação enzimática.
Figura 1- Características celulares da necrose (esquerda) e da apoptose (direita).
Necrose
É um tipo de morte celular que está associado à perda da
integridade da membrana e extravasamento dos conteúdos
celulares.

Apresenta alterações no citoplasma e no núcleo das células


lesadas.

Com a diminuição de glicogênio, o citoplasma fica mais vítreo e


se torna vacuolado, devido à degradação das organelas e do
seu conteúdo.
Necrose
As enzimas responsáveis pela digestão da célula são derivadas
dos lisossomos das próprias células que estão morrendo ou
dos lisossomos dos leucócitos que são recrutados como parte
da reação inflamatória às células mortas.

Os conteúdos celulares também extravasam através da


membrana plasmática lesada e iniciam uma reação
(inflamatória) no hospedeiro.

Principal via de morte celular em muitas lesões comumente


encontradas, como as que resultam de isquemia, de exposição
a toxinas, várias infecções e trauma.
Alterações citoplasmáticas
Eosinofilia aumentada: coloração rósea do corante eosina, o
“E” no “H&E” -> Proteínas citoplasmáticas desnaturadas
(eosina) e perda de RNA citoplasmático -> perde a basofilia
(coloração azul do corante hematoxilina - H);

Citoplasma vacuolizado: organelas digeridas.

Figuras de mielina: massas fosfolipídicas derivadas das


membranas celulares lesadas.

As figuras de mielina são mais evidentes nas células necróticas


do que nas células com lesão reversível.
Alterações morfológicas na lesão celular reversível e irreversível (necrose).
A, Túbulos renais normais com células epiteliais viáveis.
B, Lesão isquêmica inicial (reversível) mostrando, em células ocasionais, bolhas na superfície,
eosinofilia aumentada do citoplasma e tumefação celular.
C, Necrose (lesão irreversível) de células epiteliais com perda dos núcleos, fragmentação das
células e extravasamento dos conteúdos.
Alterações nucleares
• -> resultado da redução acentuada de
pH na célula morta e da digestão da
cromatina e de seu envoltório nuclear.

• 1 - Picnose: retração nuclear e aumento da


basofilia. o DNA se condensa em uma massa sólida
e encolhida.

• II - Cariorrexe: o núcleo picnótico sofre


fragmentação. Dentro de 1-2 dias, o núcleo da
célula morta desaparece totalmente.
• III - Cariólise: núcleo
apresenta coloração pálida, devido à
• dissolução da cromatina -> perda de DNA
Destino das células necróticas
As células necróticas podem persistir por algum tempo
ou ser digeridas por enzimas e desaparecer.

As células mortas são substituídas por figuras de mielina


que são fagocitadas por outras células ou, mais tarde,
degradadas em ácidos graxos.

Esses ácidos graxos se ligam a sais de cálcio, resultando


em células mortas calcificadas.
Padrões de Necrose Tecidual
A necrose de um conjunto de células em um tecido ou órgão, por
exemplo, na isquemia miocárdica, resulta em morte de todo o
tecido e, algumas vezes, do órgão inteiro.

Existem vários padrões morfológicos distintos de necrose tecidual,


os quais podem fornecer pistas sobre a causa básica.

Embora os termos que descrevem esses padrões não reflitam os


mecanismos básicos, são de uso comum e suas implicações são
compreendidas por clínicos e patologistas.

A maioria desses tipos de necrose possui aparência macroscópica


distinta.

A necrose fibrinoide é detectada apenas por exame histológico.


Necrose de coagulação
É a forma de necrose tecidual na qual a arquitetura básica dos tecidos
mortos é preservada, por pelo menos, alguns dias.

Os tecidos afetados adquirem textura firme.

Supostamente, a lesão desnatura não apenas as proteínas estruturais, como


também as enzimas, bloqueando assim a proteólise das células mortas ->
células anucleadas e eosinofílicas persistem por dias ou semanas.

Os leucócitos são recrutados para o sítio da necrose e suas enzimas


lisossômicas digerem as células mortas.

Finalmente, os restos celulares são removidos por fagocitose.

É característica de infartos (áreas de necrose isquêmica) em todos os


órgãos sólidos, exceto o cérebro.
A, Infarto renal em forma de cunha (amarelo),
com preservação dos contornos.
B, Aspecto microscópico da borda do infarto,
com rim normal (N) e células necróticas no infarto
(I). As células necróticas mostram contornos
preservados, com ausência de núcleos e infiltrado
inflamatório (difícil de perceber nesse aumento)
Necrose liquefativa
Observada em infecções bacterianas focais ou, ocasionalmente, nas
infecções fúngicas porque os microorganismos estimulam o acúmulo de
células inflamatórias e as enzimas dos leucócitos a digerirem (“liquefazer”) o
tecido.

Por motivos desconhecidos, a morte por hipóxia, de células dentro do


sistema nervoso central, com frequência leva a necrose liquefativa.

Seja qual for a patogenia, a liquefação digere completamente as células mortas,


resultando em transformação do tecido em uma massa viscosa líquida.

Finalmente, o tecido digerido é removido por fagocitose. Se o processo foi


iniciado por inflamação aguda, como na infecção bacteriana, o material é
frequentemente amarelo cremoso e é chamado de pus.
Necrose liquefativa. Infarto no cérebro mostrando a dissolução do tecido.
Necrose gangrenosa
Não é um padrão específico de morte celular, mas o termo
ainda é usado comumente na prática clínica.

Em geral, é aplicado a um membro, comumente a perna, que


tenha perdido seu suprimento sanguíneo e que sofreu necrose
de coagulação, envolvendo várias camadas de tecido.

Quando uma infecção bacteriana se superpõe, a necrose de


coagulação é modificada pela ação liquefativa das bactérias e
dos leucócitos atraídos (resultando na chamada gangrena
úmida).
Necrose caseosa
Mais frequentemente em focos de infecção tuberculosa.

O termo caseoso (semelhante a queijo) é derivado da aparência friável branco-


amarelada da área de necrose.

Ao exame microscópico, pela coloração de hematoxilina e eosina, o foco


necrótico exibe uma coleção de células rompidas ou fragmentadas, com
aparência granular amorfa rósea.

Diferentemente da necrose de coagulação, a arquitetura do tecido é


completamente obliterada, e os contornos celulares não podem ser
distinguidos.

A área de necrose caseosa é frequentemente encerrada dentro de uma borda


inflamatória nítida; essa aparência é característica de um foco de inflamação
conhecido como granuloma.
Pulmão tuberculoso com grande área de necrose caseosa contendo restos branco-amarelados e
semelhantes a queijo.
Necrose gordurosa
Refere-se a áreas focais de destruição gordurosa, tipicamente resultantes da
liberação de lipases pancreáticas ativadas na substância do pâncreas e na
cavidade peritoneal.

Ex: pancreatite aguda.

As enzimas pancreáticas que escapam das células acinares e dos ductos


liquefazem as membranas dos adipócitos do peritônio, e as lipases dividem os
ésteres de triglicerídeos contidos nessas células.

Os ácidos graxos liberados combinam-se com o cálcio, produzindo áreas


brancas gredosas macroscopicamente visíveis (saponificação da gordura), que
permitem ao cirurgião e ao patologista identificar as lesões.

Ao exame histológico, os focos de necrose exibem contornos sombreados de


adipócitos necróticos com depósitos de cálcio basofílicos circundados por
reação inflamatória.
Pancreatite aguda: As áreas de depósitos gredosos, brancas, representam focos de necrose gordurosa com
formação de sabão de cálcio (saponificação) nos locais da degradação dos lipídios no mesentério.
Necrose fibrinoide
É uma forma especial de necrose, visível à microscopia óptica,
geralmente observada nas reações imunes, nas quais
complexos de antígenos e anticorpos são depositados nas
paredes das artérias.

Os imunocomplexos depositados, em combinação com a


fibrina que tenha extravasado dos vasos, resulta em aparência
amorfa e róseo-brilhante, pela coloração do H&E, conhecida
pelos patologistas como fibrinoide.

Doenças imunologicamente mediadas (ex: a poliarterite


nodosa).
A parede da artéria mostra área circunferencial de necrose, com depósito de proteína e inflamação.
Apoptose
Apoptose é uma via de morte celular, induzida por um programa de suicídio
estritamente regulado no qual as células destinadas a morrer ativam
enzimas que degradam seu próprio D N A e as proteínas nucleares e
citoplasmáticas.

Os fragmentos das células apoptóticas então se separam, gerando a


aparência responsável pelo nome (apoptose,“cair fora”).

A membrana plasmática da célula apoptótica permanece intacta, mas é


alterada de tal maneira que a célula e seus fragmentos tornam-se alvos
atraentes para os fagócitos.

Rapidamente, as células mortas e seus fragmentos são removidos antes que


seus conteúdos extravasem e, por isso, a morte celular por essa via não induz
uma reação inflamatória no hospedeiro.
Ocorre normalmente em muitas situações e funciona para
eliminar células potencialmente prejudiciais e células que
tenham sobrevivido mais que sua utilidade.

É também um evento patológico quando as células são lesadas


de modo irreparável, especialmente quando a lesão afeta o
D N A ou as proteínas da célula;

Nessas situações, a célula lesada de modo irreparável é


eliminada.

A apoptose e a necrose algumas vezes coexistem, e a apoptose


induzida por alguns estímulos patológicos progride para a
necrose.
Apoptose em Situações Fisiológicas
A morte por apoptose é um fenômeno normal que funciona para
eliminar as células que não são mais necessárias e para manter, nos
tecidos, um número constante das várias populações celulares.

É importante nas seguintes situações fisiológicas:

Destruição programada de células durante a embriogênese:


O desenvolvimento normal está associado à morte de algumas
células e ao surgimento de novas células e tecidos.

A expressão morte celular programada foi criada originalmente para


denotar a morte de tipos celulares específicos, em tempos definidos,
durante o desenvolvimento de um organismo.
Involução de tecidos hormônios-dependentes sob privação de
hormônio: tal como a célula endometrial, que se desprende
durante o ciclo menstrual, e a regressão da mama após o
desmame.

Perda celular em populações celulares proliferativas: como o


epitélio de cripta intestinal, mantendo assim um número
constante.

Morte de células que já tenham cumprido seu papel: como os


neutrófilos na resposta inflamatória aguda e os linfócitos, ao
término da resposta imune.
Nessas situações, as células sofrem apoptose porque estão
privadas dos sinais de sobrevivência necessários, como os
fatores de crescimento.
Eliminação de linfócitos autorreativos potencialmente nocivos:
antes ou depois de eles terem completado sua maturação,
para impedir reações contra os tecidos da própria
pessoa.

Morte celular induzida por linfócitos T citotóxicos: um


mecanismo de defesa contra viroses e tumores que mata
e elimina células neoplásicas e infectadas por vírus.
MORFOLOGIA
Em tecidos corados pelo HE, os núcleos das células
apoptóticas exibem vários estágios de condensação e
agregação da cromatina e, finalmente, cariorrexe.

Em nível molecular, isso é refletido na fragmentação do DNA


em peças do tamanho dos nucleossomos.

Rapidamente as células retraem, formando brotos


citoplasmáticos, e se fragmentam em corpos apoptóticos
compostos por vesículas envoltas por membrana contendo
citosol e organelas.

Em razão de tais fragmentos serem rapidamente expulsos e


fagocitados, sem induzir resposta inflamatória, mesmo a
apoptose substancial pode, histologicamente, ser indetectável.
Aparência morfológica de células
apoptóticas. Células apoptóticas (algumas
indicadas por setas) do epitélio de cripta
do colo. (A preparação para a
colonoscopia frequentemente induz
apoptose em células epiteliais, o que
explica a abundância de células mortas
nesse tecido normal.) Note os núcleos
fragmentados, com cromatina condensada
e corpos celulares retraídos, alguns com
falhas.
Mecanismos da Apoptose
A apoptose resulta da ativação de enzimas chamadas caspases.

A ativação das caspases depende de um equilíbrio finamente


sintonizado entre vias moleculares pró e antiapoptóticas.

Duas vias distintas convergem para a ativação de caspase: via


mitocondrial e via receptor de morte.

Embora essas vias possam interagir, geralmente são induzidas


sob diferentes condições, envolvem diferentes moléculas e
exercem papéis diferentes na fisiologia e na doença.
AUTOFAGIA
A autofagia (“comer a si próprio”) refere-se à digestão
lisossômica dos próprios componentes da célula.

Constitui mecanismo de sobrevivência, em períodos de


privação de nutrientes, de tal modo que a célula privada de
alimento sobrevive ingerindo seu próprio conteúdo e recicla
os conteúdos ingeridos para fornecer nutrientes e energia.

Nesse processo, as organelas intracelulares e partes do citosol


são primeiramente sequestradas do citoplasma em um vacúolo
autofágico, formado a partir de regiões livres de ribossomos do
retículo endoplasmático.
O vacúolo se funde com os lisossomos para formar um
autofagolisossoma, que digere os componentes celulares
através das enzimas lisossômicas.

A autofagia é iniciada por várias proteínas que percebem a


privação de nutrientes e estimulam a formação do
vacúolo autofágico.

Com o tempo, a célula privada de nutrientes não perdurará


canibalizando a si mesma; nesse estágio, a autofagia pode
também sinalizar a morte celular por apoptose.
O estresse celular, como a privação de nutrientes, ativa os genes da autofagia
(genes Atg), que iniciam a formação de vesículas revestidas por membrana nas
quais as organelas celulares são sequestradas. Essas vesículas se fundem com os
lisossomos, onde as organelas são digeridas, e os produtos são usados para
fornecer nutrientes à célula. O mesmo processo pode desencadear apoptose por
mecanismos ainda não bem definidos.

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