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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Mecanismos das lesões celulares........................ 8
3. Necrose.........................................................................14
4. Apoptose......................................................................22
5. Autofagia......................................................................31
Referências bibliográficas .........................................33
MORTE CELULAR 3

1. INTRODUÇÃO
Célula normal
Lesão reversível
(homeostasia)

Estresse Estímulos
nocivos
Leve, transitória

LESÃO
Adaptação
Incapacidade CELULAR
de se adaptar

Intensa, progressiva

Lesão irreversível

Necrose Morte celular Apoptose

KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins


patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

A lesão celular é decorrente de um


intenso processo de estresse com o CONCEITO: Lesão celular reversível:
qual a célula não é capaz de lidar ou é caracterizada, inicialmente, por alte-
rações funcionais e morfológicas que
quando elas são expostas a agentes
podem ser reversíveis caso a fonte no-
perniciosos. A lesão pode cursar por civa seja retirada. A lesão celular rever-
um estágio reversível até culminar na sível pode ser caracterizada por redução
morte célula, caracterizada por sua na quantidade de adenosina trifosfato
(ATP) e edema celular causado por alte-
completa inativação da célula. rações na concentração de íons e influxo
de água.
Lesão irreversível e morte celular: qua-
dro causado pela progressão do dano,
em que a lesão se torna irreversível e a
célula não apresenta mais meios de se
recuperar. Em outras palavras, lesão ce-
lular irreversível significa a morte celular.
MORTE CELULAR 4

Estímulos nocivos persistentes ou destacar três lesões que acometem o


excessivos levam a célula a cruzar o núcleo celular, o que de forma indi-
limiar da lesão irreversível. A lesão ir- reta, interfere na maquinaria biológica
reversível, na maioria dos casos, está da célula. São as seguintes:
associada à morte celular. Esta morte
• Picnose celular: condensação ge-
pode ser causada, entre outros mo-
neralizada do núcleo, o qual passa
tivos, por rompimento da membrana
a apresentar um aspecto puntifor-
celular, por edema lisossomal, por va-
me. Além do encolhimento do nú-
cuolização das mitocôndrias com re-
cleo, percebe-se um aumento da
dução da capacidade de gerar ATP,
basofilia da cromatina.
etc. Estruturas laminares compostas
de grandes massas de fosfolipídios • Cariorréxis: fragmentação do nú-
(as figuras de mielina) derivadas das cleo e do material genético por ele
membranas danificadas das organe- abrigado.
las e da membrana plasmática apa- • Cariólise: dissolução do material
recem inicialmente durante o estágio genético, fazendo com que o nú-
reversível e se tornam mais pronun- cleo apresente um aspecto pálido.
ciadas nas células que sofreram dano É caracterizada por uma diminui-
irreversível. ção da basofilia da cromatina, alte-
Vale salientar também que, entre es- ração que possivelmente reflete a
sas lesões irreversíveis, podemos atividade da DNAse.
MORTE CELULAR 5

NECROSE e
APOPTOSE

MORTE
CELULAR

Danos em estruturas
Provocadas por alta
vitais, tumefação das
Lesões irreversíveis intensidade ou baixa
mitocôndrias e
intensidade prolongada
membrana plasmática
Alterações
de núcleo

Contração e condensação
da cromatina; núcleo
PICNOSE
basofílico (rosado)

Ausência de
CARIÓLISE
núcleo celular

Núcleo fragmentado e
CARIORREXE
disperso no citoplasma
MORTE CELULAR 6

Ocorre nos
estágios iniciais
da lesão

Alterações
Lesão
morfológicas e
reversível
funcionais
TAMANHO
MEMBRANA CONTEÚDOS INFLAMAÇÃO
Formas leves de DA NÚCLEO
lesão PLASMÁTICA CELULARES ADJACENTE
Lesão CÉLULA
celular
Digestão
Picnose
Aumentado enzimática;
Cariorrexe Rompida Frequente
Necrose (tumefação) extravasam
Cariólise
Lesão da célula
irreversível Intactos;
Fragmen-
Apoptose Intacta; podem ser
Reduzido tação em
estrutura liberados Não
(retração) nucleosso-
alterada nos corpos
mos
apoptóticos

Células que sofreram lesões irrever- que um tecido seja classificado


síveis invariavelmente sofrem altera- como necrosado quando este re-
ções morfológicas que são reconhe- presenta apenas uma área restrita
cidas como morte celular. Existem que se encontra circundando por
dois tipos de morte celular, a necrose tecido vivo, ou seja, um tecido ne-
e a apoptose que diferem quanto a crosado se restringe a apenas uma
sua morfologia, mecanismos e pa- área de necrose contida em um
péis que desempenham nas doenças organismo vivo. É caracterizada
e fisiologia. Enquanto que a necrose ainda por causar inflamação no te-
é sempre um processo patológico, a cido circunjacente. Ex: o infarto do
apoptose ocorre em várias funções miocárdio gera uma área restrita
normais e não está necessariamente de tecido morto no contexto de um
associada à lesão celular. Cabe ain- organismo vivo. A necrose é sem-
da diferenciar a autólise das demais pre causada por um fator externo
modalidades de morte celular. e patológico, como uma isquemia,
por exemplo.
• Necrose: ocorre quando o dano
às membranas é muito severo, • Apoptose: ocorre quando os es-
de modo que as enzimas lisossô- tímulos nocivos danificam o DNA,
micas entram no citoplasma e di- o qual induz a dissolução nucle-
gerem a célula e os componentes ar sem perda total da integridade
celulares extravasam. Admite-se das membranas. A apoptose é,
MORTE CELULAR 7

portanto, a via de morte celular que uma auto programação de destrui-


é induzida por um programa intra- ção celular. As enzimas envolvidas
celular altamente regulado, no qual com a apoptose são as chamadas
as células destinadas a morrer ati- caspases. Diferentemente da ne-
vam enzimas que degradam seu crose, não causa inflamação.
DNA nuclear e as proteínas cito-
• Autólise: destruição da massa ce-
plasmáticas. A apoptose, diferen-
lular que ocorre post-mortem.
temente da necrose, é causada por
fatores internos, caracterizados por

CARACTERÍSTICA NECROSE APOPTOSE

Tamanho celular Aumento (tumefação) Reduzido (retração)


Fragmentação em fragmentos do tamanho
Núcleo Picnose  cariorrexe  cariólise
de nucleossomos
Intacta; estrutura alterada, especialmente
Membrana plasmática Rompida
a orientação dos lipídios
Digestão enzimática, escapa da Intacta; são liberados em corpos
Conteúdo celular
célula apoptóticos
Inflamação adjacente Frequente Nenhuma
Frequentemente fisiológica, forma de
Invariavelmente patológi-
Papel fisiológico ou eliminação de células indesejáveis; pode
ca (resultado da lesão celular
patológico ser patológica após alguns tipos de lesão
irreversível)
celular, especialmente danos ao DNA
Tabela 1. Características da necrose e da apoptose. Fonte: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins
patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013
MORTE CELULAR 8

Célula Célula
normal normal

Lesão Recuperação
reversível
Condensação de
Tumefação do cromatina
retículo
endoplasmático Bolhas da
Figura de e das membrana
mielina mitocôndrias
Bolhas da Fragmentação
Lesão membrana celular
progressiva
Ruptura da membrana
Figura de mielina plasmática, organelas Corpo Apoptose
e núcleo; liberação de apoptótico
conteúdo

Inflamação Necrose
Fagócito Fagocitose de
células apoptóticas
Densidades amorfas nas e seus fragmentos
mitocôndrias
Figura 2. Características celulares da necrose (esquerda) e da apoptose (direita). Fonte: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul
K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

2. MECANISMOS DAS metabólicas são importantes na


LESÕES CELULARES resposta às lesões.
Os mecanismos bioquímicos respon- • A lesão celular resulta de anormali-
sáveis pela lesão celular são comple- dades funcionais e bioquímicas em
xos. Entretanto, existem vários prin- um ou mais componentes essen-
cípios que são relevantes na maioria ciais: fosforilação oxidativa e pro-
das lesões celulares: dução de ATP; membranas celula-
res; síntese proteica; citoesqueleto;
• A resposta celular a estímulos no-
integridade do componente gené-
civos depende do tipo da lesão,
tico da célula.
sua duração e gravidade.
• As consequências da lesão celular
dependem do tipo, estado e grau
de adaptação da célula danifica-
da. O estado nutricional e hormo-
nal da célula e suas necessidades
MORTE CELULAR 9

LESÃO
CELULAR

DANO ↑ CÁLCIO LESÃO DA


MITOCONDRIAL INTRACELULAR MEMBRANA

↑ RADICAIS ↑ Permeabilidade Membrana Membrana


↓ ATP
LIVRES mitocondrial plasmática lisossômica

Múltiplos efeitos Lesão aos lipídios, Ativação de múltiplas Perda de Digestão


enzimática dos
de cascata proteínas e DNA enzimas celulares componentes
componentes
celulares celulares

Figura 3. Principais mecanismos bioquímicos e sítios de lesão celular. Fonte: Adaptado de KUMAR, Vinay; ABBAS,
Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

Diminuição do ATP A atividade da bomba de sódio da


membrana plasmática dependente
A diminuição do ATP e a redução de
de energia (Na+ /K+ - ATPase) está
sua síntese estão frequentemente
reduzida. Uma falha nesse sistema
associadas a lesões hipóxicas e quí-
causa acúmulo intracelular de sódio e
micas (tóxicas). Esta diminuição é ex-
perda de potássio da célula. Este só-
tremamente maléfica à célula, uma
dio intracelular atrai a água do líquido
vez que o fosfato de alta energia, na
intersticial, gerando edema celular e
forma de ATP, é necessário para vá-
dilatação do retículo endoplasmático.
rios processos sintéticos e de degra-
dação na célula: transporte de mem- Se o suprimento de oxigênio para
brana, síntese proteica, lipogênese célula é reduzido, a fosforilação oxi-
e reações de deacilação-reacilação, dativa fica dependente da glicólise
necessárias para as alterações que anaeróbica para a produção de ener-
ocorrem com os fosfolipídios. gia. Esta glicólise resulta, além de uma
redução brusca dos depósitos de gli-
A redução do ATP a menor que 5%
cogênio celular, em um acúmulo de
a 10% dos níveis normais tem efei-
ácido lático e fosfato inorgânicos, re-
to disseminados em muitos sistemas
duzindo o pH intracelular, resultando
celulares críticos.
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na diminuição da atividade de muitas dos mecanismos de síntese proteica


enzimas celulares além da condensa- manifestada pelo deslocamento dos
ção da cromatina nuclear. ribossomos do retículo endoplasmá-
A deficiência da bomba de Ca2+ re- tico granular e dissociação dos polis-
sulta no influxo de cálcio, o qual, em somos em monossomos. Finalmente,
excesso, passa a exercer efeito de- ocorre um dano irreversível às mem-
letério para vários componentes branas mitocondriais e lisossomais,
celulares. levando a necrose celular.
Com a diminuição prolongada do
ATP, ocorre uma ruptura estrutural Dano mitocondrial

Figura 4. Papel da mitocôndria na lesão e morte celular. Fonte: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Rob-
bins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
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As mitocôndrias tornam-se alvos im- O dano mitocondrial pode ainda es-


portantes para virtualmente todos os tar associado ao extravasamento do
tipos de estímulos nocivos, incluindo citocromo C (componente integral da
as toxinas e a hipóxia. Elas podem ser cadeia de transporte de elétrons) no
danificadas pelo aumento do Ca2+ citosol.
no citosol, pelo estresse oxidativo,
pela degradação dos fosfolipídios pe-
las vias da fosfolipase A2 e da esfin- Fluxo intracelular de cálcio e
gomielina, e pelos produtos de degra- perda da hemostasia do cálcio
dação dos lipídios derivados dessas Os íons cálcio são importantes me-
reações, tais como os ácidos graxos diadores da lesão celular. A isquemia
livres e a ceramida. e certas toxinas causam um aumen-
A lesão mitocondrial geralmente cau- to inicial da concentração de cálcio
sa a formação de um canal de alta no citosol devido ao influxo de Ca2+
condutância, chamado poro de tran- através da membrana plasmática e li-
sição de permeabilidade mitocon- beração do Ca2+ das mitocôndrias e
drial, na membrana mitocondrial in- do retículo endoplasmático.
terna. Apesar de ser reversível nos Esse aumento intracelular de Ca2+,
estágios iniciais, este poro torna-se por sua vez, ativa várias enzimas que
permanente caso o estímulo nocivo possuem efeitos celulares deletérios
persista. Como a manutenção do po- em potencial: ATPases (reduzindo
tencial de membrana é crítico para a ainda mais os níveis de ATP), fosfo-
fosforilação oxidativa da mitocôndria, lipases e as endonucleases. O au-
o poro de transição de permeabilida- mento de níveis intracelulares Ca2+
de mitocondrial significa uma senten- também causa um aumento na per-
ça de morte para a célula. meabilidade mitocondrial, ativação de
caspases e induz a apoptose.
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Figura 5. O papel do aumento do cálcio citosólico na lesão celular. Fonte: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER,
Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

Acúmulos de radicais livres produzidas como um produto não


derivados do oxigênio desejado da respiração mitocondrial.
Algumas dessas formas são radicais
As células geram energia reduzin-
livres que danificam os lipídios, as
do o oxigênio molecular em água.
proteínas e os ácidos nucléicos. Elas
Durante este processo, pequenas
são chamadas espécies reativas de
quantidades de formas reativas do
oxigênio. Um desequilíbrio entre os
oxigênio parcialmente reduzidas são
sistemas de geração e eliminação de
MORTE CELULAR 13

radicais livres causam um estresse ânion altamente reativo, como em


oxidativo, condição que tem sido as- NO2 e NO3.
sociada com a lesão celular vista em
muitas condições patológicas.
Os efeitos dessas espécies reativas
Os radicais livres são espécies quí- são amplos, mas três reações são
micas que possuem um único elétron particularmente relevantes para a le-
sem um par correspondente na órbita são celular:
eletrosférica externa. A energia criada
por essa configuração instável é libe- • Peroxidação lipídica das membra-
rada através de reações com molécu- nas: quando há oxigênio, os radi-
las adjacentes (como proteínas, lipí- cais livres podem causar peroxi-
dios, carboidratos ou ácido nucléicos). dação de lipídeos das membranas
plasmáticas e de organelas. A ge-
Os radicais livres podem ser criados
ração de peróxidos leva a uma re-
nas células de várias maneiras:
ação em cadeia autocatalítica, em
• Absorção de energia radiante propagação, que pode causar ex-
(como luz ultravioleta, raios X, ra- tensa lesão em membranas;
diações ionizantes);
• Modificação oxidativa das proteí-
• Metabolismo enzimático de subs- nas: os radicais causam alterações
tâncias químicas exógenas ou nas proteínas de forma que dani-
drogas; fica a os sítios ativos das enzimas,
rompe a conformação de proteínas
• As reações de redução-oxidação
estruturais e intensifica a degrada-
que ocorrem durante os processos
ção de proteínas não dobradas ou
metabólicos normais.
mal dobradas;
• Metais de transição como o ferro
• Lesões no DNA: os radicais livres
e o cobre que doam ou aceitam
podem causar quebra das cadeias
elétrons livres durante as reações
simples e duplas do DNA, ligações
intracelulares e catalisam a forma-
cruzadas das cadeias do DNA e a
ção de radicais livres.
formação de complexos de adição.
• O óxido nítrico (NO), importan-
te mediador químico gerado por
células endoteliais, macrófagos,
neurônios e outros tipos celulares.
Ele pode atuar como radical livre e
também pode ser convertido a um
MORTE CELULAR 14

dos fosfolipídios de membrana, anor-


CURIOSIDADE: As células desenvol- malidades do citoesqueleto, espécies
vem múltiplos mecanismos para remo- reativas de oxigênio, produtos de de-
ver os radicais livres reduzindo, assim,
gradação de lipídios, dentre outros.
o grau de lesão. Os principais sistemas
enzimáticos e não-enzimáticos que con-
tribuem para a desativação das reações
RESUMO: Mecanismos da lesão celular
de radicais livres incluem:
• Depleção de ATP: falha das funções
• Antioxidantes que bloqueiam o início
dependentes de energia  lesão re-
da formação dos radicais livres ou os
versível  necrose.
inativa, cessando a lesão causada
por eles. Exemplos incluem vitami- • Lesão mitocondrial: depleção de
nas lipossolúveis A e E, como o ácido ATP  falha nas funções celulares
ascórbico no citosol. dependentes de energia  final-
mente, necrose; sob algumas condi-
• O próprio ferro e o cobre podem ca-
ções, extravasamento de proteínas
talisar a formação de espécies reati-
que causam apoptose.
vas de oxigênio.
• Influxo de cálcio: ativação de enzi-
• Uma série de enzimas que agem
mas que danificam os componentes
como sistema de recolhimento (eli-
celulares e podem também disparar
minador) de radicais livres e que
a apoptose.
degradam peróxido de hidrogênio e
ânion superóxido. • Acúmulo de espécies reativas do
oxigênio: modificação covalente de
proteínas celulares, lipídios, ácidos
nucleicos.
Defeitos na permeabilidade da
membrana • Aumento da permeabilidade das
membranas celulares: pode afetar
A perda inicial da permeabilidade se- a membrana plasmática, membra-
nas lisossômicas, membranas mi-
letiva da membrana leva, finalmente,
tocondriais; tipicamente culmina em
a um dano evidente da membrana, necrose.
sendo uma característica consistente • Acúmulo de DNA danificado e
da maioria dos tipos de lesão celular. proteínas mal dobradas: dispara a
O dano à membrana pode afetar a apoptose.
mitocôndria, a membrana plasmática
e outras membranas celulares. Nas
3. NECROSE
células isquêmicas, os defeitos nas
membranas podem resultar de uma Necrose é o tipo de morte celular que
série de eventos envolvendo a dimi- está associado à perda da integrida-
nuição de ATP e a ativação das fosfo- de da membrana e extravasamento
lipases modulada pelo cálcio. dos conteúdos celulares, culminando
Vários mecanismos bioquímicos po- na dissolução das células, resultan-
dem contribuir para o dano da mem- te da ação degradativa de enzimas
brana: disfunção mitocondrial, perda nas células lesadas letalmente. Os
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conteúdos celulares que escapam lisossomos dos leucócitos que são


sempre iniciam uma reação local do recrutados como parte da reação in-
hospedeiro, conhecida como inflama- flamatória às células mortas.
ção, no intuito de eliminar as células Depois de instalada a isquemia e a
mortas e iniciar o processo de reparo carência de ATP, e depois que a célu-
subsequente. As enzimas responsá- la tenha sofrido qualquer mecanismo
veis pela digestão da célula são de- de lesão irreversível, o tecido entra
rivadas dos lisossomos das próprias em necrose.
células que estão morrendo ou dos

CARACTERÍSTICAS

• Morte celular
• Autólise
• Extravasamento celular
• Resposta inflamatória
• Desnaturação proteica

ATIVADA POR
PODE EVOLUIR PARA
• Diminuição de O2
• Diminuição de ATP
• Perda de permeabilidade
• Calcificação distrófica NECROSE da membrana
• Cicatrização
• Liberação de enzimas
• Regeneração
lisossômicas
• Alteração na síntese
proteica
• Acúmulo de radicais livres
ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS

• Eosinofilia aumentada
• Aumento de volume
• Citoplasma vítreo
• Grânulos
• Massa amorfa

A massa de células em necrose pode • Necrose coagulativa: acontece


apresentar diversos padrões morfo- principalmente nos órgãos pa-
lógicos, como: renquimatosos (sólidos). Implica
a preservação do contorno básico
da célula por pelo menos alguns
MORTE CELULAR 16

dias. Os tecidos afetados apresen- sem núcleo podem persistir por se-
tam uma textura firme, de modo manas. Finalmente, as células do
que as células que o compõem miocárdio necrosadas são removi-
apresentem uma delimitação vi- das por fragmentação e fagocitose
sível, uma vez que suas proteínas dos restos celulares por leucócitos
estruturais não sofreram ação de removedores e pela ação de enzi-
hidrolases. Presumivelmente, a le- mas lisossômicas proteolíticas tra-
são ou o aumento subsequente da zidas pelos leucócitos que migram
acidose intracelular desnatura não para a região. Este tipo de necro-
somente as proteínas estruturais se é característica geral dos teci-
mas também as enzimas, bloque- dos quando submetidos a morte
ando, assim, a proteólise celular. por hipóxia, exceto as células que
Ex: no infarto agudo do miocárdio, compõem o tecido nervoso.
as células acidófilas, coaguladas,

Figura 6. Necrose coagulativa. A, Infarto renal em forma de cunha (em amarelo). B, Vista microscópica da borda do
infarto, com células renais normais (N) e células necróticas no infarto (I), mostrando contornos celulares preservados
mas com perda dos núcleo e um infiltrado inflamatório (visto como núcleos das células inflamatórias entre os túbulos
Necróticos). Fonte: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013
MORTE CELULAR 17

• Necrose liquefativa: neste tipo de presença de leucócitos mortos,


necrose, independente da patoge- sendo chamado de pus. Exemplos:
nia, a liquefação digere completa- comum este tipo de necrose em
mente as células mortas. O resul- certas infecções bacterianas focais
tado final é a transformação do ou fúngicas; por razões desconhe-
tecido em uma massa viscosa de cidas, a morte das células nervosas
odor e cor característica. Se o pro- leva a este tipo de necrose. Abces-
cesso for iniciado por uma inflama- sos cheios de secreção purulenta é
ção aguda, o material geralmente exemplo de necrose liquefativa.
é um amarelo cremoso devido a

Figura 7. Necrose liquefativa. Um infarto do cérebro, mostrando a dissolução do tecido. Fonte: KUMAR, Vinay;
ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013

• Necrose caseosa: do latim, ca- macroscópica semelhante a quei-


seus = queijo. É uma forma dis- jo branco da área de necrose. Ao
tinta de necrose coagulativa, en- contrário da necrose de coagula-
contrada mais frequentemente ção, a arquitetura está completa-
em focos de tuberculose. O termo mente destruída.
caseosa é derivado da aparência
MORTE CELULAR 18

Figura 8. Necrose caseosa. Tuberculose do pulmão, com uma grande área de necrose caseosa, contendo detritos
amarelo-esbranquiçados caseosos. Fonte: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica.
9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013

• Esteatonecrose (necrose gordu- pancreáticas ativadas quebrem as


rosa): o termo bem estabelecido membranas dos adipócitos e os
na área médica, na verdade não ésteres de triglicerídeos contidos
especifica um padrão de necrose. nestas células. Os ácidos graxos li-
Se refere às áreas de destruição berados se combinam com o cálcio
de gordura que ocorre tipicamen- e produzem áreas brancas visíveis
te como resultado da liberação de (saponificação) que permitem que
lípases pancreáticas ativadas no o cirurgião e o patologista identifi-
parênquima pancreático e na cavi- quem as lesões (por eles chama-
dade peritoneal (como o que ocorre dos de lesões em pingo de vela).
na pancreatite aguda). Este extra-
vasamento faz com que enzimas
MORTE CELULAR 19

Figura 9. Necrose gordurosa. As áreas de depósitos calcários brancos representam focos de necrose gordurosa com
a formação de sabão de cálcio (saponificação) em locais de degradação de lipídios no mesentério. Fonte: KUMAR,
Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013

• Necrose gangrenosa: não é um se desenvolvem bactérias Clos-


padrão específico de morte celular, tridium perfringens. Existem dois
mas seu termo é bastante utilizado tipos de gangrena: a gangrena
na prática médica. É causada por úmida (ocorre quando a necrose
uma isquemia periférica e acome- de coagulação é modificada pela
te, na maioria das vezes, os mem- ação de liquefação das bactérias e
bros (como na diabetes; ateroscle- os leucócitos que são atraídos para
rose; Síndrome de Furnier, que é a região) e a gangrena seca (ocorre
a gangrena perineal). A gangrena quando predominam os fenôme-
apresenta um odor forte e carac- nos coagulativos).
terístico pois na região necrosada
MORTE CELULAR 20

Figura 10. Tecido necrótico e normal da hipófise

Figura 11. Tecido cardíaco necrótico e normal. Fonte: retirado de www.anatpat.unicamp.br

Nota-se nas imagens acima características morfológicas de células necróticas: picnose, cariorrexe, cariólise e
eosinofilia.
MORTE CELULAR 21

TIPOS DE
NECROSE

NECROSE LIQUEFATIVA NECROSE CASEOSA NECROSE DE COAGULAÇÃO

• Liquefativa enzimática
• Degradação celular • Isquemia
• Formação de granulomas
• Leucócitos mortos (pus) (linfócitos) • Preserva estrutura
• Transformação do • Massa branca, friável, básica da célula
tecido em uma massa queijo • Afeta enzimas lisossomais
viscosa líquida
• Células gigantes • Eosinofilia
• Liberação de enzimas
lisossômicas

Ex: polpa com cárie (comum),


Ex: infecção tuberculosa. Ex: infarto do miocárdio...
isquemia do tecido nervoso.

Pode evoluir para


NECROSE GANGRENOSA
em todo o membro.
Gangrena seca
(coagulação) x úmida (liquefativa)
Ex: diabéticos/trombose.

https://coggle.it/diagram/XIf_hFaBBGtzKoUd/t/apoptose-e-necrose
MORTE CELULAR 22

4. APOPTOSE A membrana plasmática da célula


apoptótica permanece intacta, mas é
A apoptose é uma via de morte celu-
alterada de tal maneira que a célula
lar, induzida por um programa de sui-
e seus fragmentos tornam-se alvos
cídio estritamente regulado no qual
atraentes para os fagócitos. Rapi-
as células destinadas a morrer ativam
damente, as células mortas e seus
enzimas que degradam seu próprio
fragmentos são removidos antes
DNA e as proteínas nucleares e cito-
que seus conteúdos extravasem e,
plasmáticas. Os fragmentos das cé-
por isso, a morte celular por essa via
lulas apoptóticas então se separam,
não induz uma reação inflamatória no
gerando a aparência responsável
hospedeiro.
pelo nome (apoptose, “cair fora”).

• Retração celular
• Condensação da cromatina na periferia
• Picnose da cromatina
• Corpos apoptóticos

s
gica
oló
mor f
es • Morte celular programada
açõ
Alter • Liberação de enzimas apoptóticas
• Formação de corpo apoptópticos
Características
APOPTOSE • Não causa resposta inflamatória
Fat • Processo dependente de ATP
ores
ant • Morte asséptica: não extravasa o líquido
i-a
pop
tót • Produz mediadores lipídicos (ceramidas)
ico
s

• BCL2 e BCL-X mantém homeostase


(anti-apoptóticas)
• IAPS inibidores fisiológicos de apoptose

https://coggle.it/diagram/XIf_hFaBBGtzKoUd/t/apoptose-e-necrose
MORTE CELULAR 23

SE LIGA! A apoptose difere da necrose,


que é caracterizada pela perda da inte-
gridade da membrana, digestão enzi-
mática das células, extravasamento dos
conteúdos celulares e, frequentemente,
uma reação no hospedeiro. Entretanto,
a apoptose e a necrose algumas vezes
coexistem, e a apoptose induzida por
alguns estímulos patológicos progride
para a necrose.

Causas da apoptose
Desenvolvimento
embrionário
FISIOLÓGICAS

Envelhecimento celular

CAUSAS DA Lesão no DNA


APOPTOSE

Hipóxia

Radicais livres

PATOLÓGICAS

Radioterapia

Toxicidade

Vírus
MORTE CELULAR 24

A apoptose ocorre normalmente em • Involução de tecidos hormônios-


muitas situações e funciona para eli- -dependentes sob privação de
minar células potencialmente prejudi- hormônio, tal como a célula endo-
ciais e células que tenham sobrevivi- metrial, que se desprende durante
do mais que sua utilidade. É também o ciclo menstrual, e a regressão da
um evento patológico quando as mama após o desmame.
células são lesadas de modo irrepa-
• Perda celular em populações celu-
rável, especialmente quando a lesão
lares proliferativas, como o epitélio
afeta o DNA ou as proteínas da cé-
de cripta intestinal, mantendo as-
lula; nessas situações, a célula lesada
sim um número constante.
de modo irreparável é eliminada.
Na apoptose em situações fisioló- • Morte de células que já tenham
gicas, a morte por apoptose é um cumprido seu papel, como os neu-
fenômeno normal que funciona para trófilos na resposta inflamatória
eliminar as células que não são mais aguda e os linfócitos, ao término da
necessárias e para manter, nos teci- resposta imune. Nessas situações,
dos, um número constante das várias as células sofrem apoptose porque
populações celulares. É importante estão privadas dos sinais de so-
nas seguintes situações fisiológicas: brevivência necessários, como os
fatores de crescimento.
• Destruição programada de células
durante a embriogênese. O de- • Eliminação de linfócitos autorreati-
senvolvimento normal está asso- vos potencialmente nocivos, antes
ciado à morte de algumas células ou depois de eles terem completa-
e ao surgimento de novas células do sua maturação, para impedir re-
e tecidos. A expressão morte ce- ações contra os tecidos da própria
lular programada foi criada origi- pessoa.
nalmente para denotar a morte • Morte celular induzida por linfóci-
de tipos celulares específicos, em tos T citotóxicos, um mecanismo
tempos definidos, durante o de- de defesa contra viroses e tumores
senvolvimento de um organismo. que mata e elimina células neoplá-
Apoptose é um termo genérico sicas e infectadas por vírus.
para esse padrão de morte celular,
independentemente do contex-
to, mas frequentemente é usado Já na apoptose em Condições Pa-
em alternância com morte celular tológicas, a apoptose elimina célu-
programada. las que estão geneticamente altera-
das ou lesadas de modo irreparável,
sem iniciar uma reação severa no
MORTE CELULAR 25

hospedeiro, mantendo mínima a le- culmina em morte apoptótica das


são tecidual. A morte por apoptose é células.
responsável pela perda de células em
• Infecções: Lesão celular em cer-
vários estados patológicos:
tas infecções, particularmente as
• Lesão de DNA: a radiação, as dro- infecções virais, nas quais a perda
gas citotóxicas anticâncer, os ex- de células infectadas é devida em
tremos de temperatura e mesmo a grande parte à morte apoptótica
hipóxia podem lesar o DNA direta- que pode ser induzida pelo vírus
mente ou através da produção de (como nas infecções por adeno-
radicais livres. Se os mecanismos vírus e vírus da imunodeficiência
de reparo não podem competir humana) ou pela resposta imune
com a lesão, a célula dispara meca- do hospedeiro (como na hepatite
nismos intrínsecos que induzem a viral).
apoptose. Nessas situações, a eli-
• Atrofia patológica no parênquima
minação da célula pode ser melhor
de órgãos após obstrução de duc-
alternativa do que arriscar em mu-
to, como ocorre no pâncreas, na
tações no DNA lesado, o que pode
parótida e no rim.
progredir para uma transformação
maligna. Esses estímulos noci-
vos causam apoptose se a lesão é Fases de iniciação da apoptose
leve, mas doses maiores do mes-
A apoptose resulta da ativação de
mo estímulo resultam em morte
enzimas chamadas caspases (assim
celular por necrose. A indução de
chamadas porque são cisteína pro-
apoptose em células cancerosas
teases que clivam proteínas depois
é um efeito desejado dos agentes
dos resíduos aspárticos). A ativação
quimioterápicos, muitos dos quais
das caspases depende de um equilí-
funcionam danificando o DNA.
brio finamente sintonizado entre vias
• Acúmulo de proteínas anormal- moleculares pró e antiapoptóticas.
mente dobradas: as proteínas Duas vias distintas convergem para a
impropriamente dobradas podem ativação de caspase: via mitocondrial
surgir de mutações nos genes que e via receptor de morte. Embora es-
codificam essas proteínas ou de- sas vias possam interagir, geralmente
vido a fatores extrínsecos, como a são induzidas sob diferentes condi-
lesão causada por radicais livres. O ções, envolvem diferentes moléculas
acúmulo excessivo dessas proteí- e exercem papéis diferentes na fisio-
nas no RE leva a uma condição co- logia e na doença.
nhecida como estresse do RE, que
MORTE CELULAR 26

Privação de fatores de crescimento

Lesões no DNA (toxinas, radiação)

VIA INTRÍNSECA
(Mitocondrial)
Acúmulo de proteínas
mal dobradas

Agentes que lesam


membrana plasmática

Falta de agonistas
(ex: fator de crescimento)

VIA EXTRÍNSECA Ausência de moléculas


(Receptor) anti-apoptóticas

Falta de estímulo trófico

Figura 12. Ativação das vias apoptóticas


MORTE CELULAR 27

VIAS
APOPTOTICAS

VIA INTRÍNSECA VIA EXTRÍNSECA

Mitocondrial Receptor

Lesão intracelular irreparável Sinal externo

Antagonismo de BCL2 Proteínas FAS + FAZ Ligante

BAX/BAK (pró-apoptóticas) FADD

Aumento de permeabilidade da membrana


Ativa pro- caspase 8 em
CASPASES 8, 10 – ativadores
Liberação de citocromo C no citoplasma

Ativa CASPASE 9-ativadora

Forma o apoptossomo

CASPASES 3, 6, 7 - efetoras

APOPTOSE

https://coggle.it/diagram/XIf_hFaBBGtzKoUd/t/apoptose-e-necrose

Via intrínseca (mitocondrial) neutralizam inibidores endógenos da


apoptose. A escolha entre a sobrevi-
As mitocôndrias contêm uma série de
vência e a morte celular é determina-
proteínas que são capazes de indu-
da pela permeabilidade da mitocôn-
zir apoptose; essas proteínas incluem
dria, que é controlada por uma família
o citocromo c e outras proteínas que
MORTE CELULAR 28

de mais de 20 proteínas cujo protóti- mitocôndrias bloqueiam as ativida-


po é a Bcl-2. des dos antagonistas das caspases,
Quando as células são privadas de os quais funcionam como inibidores
fatores de crescimento e outros sinais fisiológicos da apoptose. O resultado
de sobrevivência ou são expostas a final é a ativação da cascata de cas-
agentes que lesam o DNA ou acumu- pases, levando, finalmente, à frag-
lam quantidades inaceitáveis de pro- mentação nuclear.
teínas anormalmente dobradas, um De modo contrário, se as células fo-
grupo de sensores é ativado. rem expostas a fatores de crescimen-
Eles ativam, por sua vez, dois mem- to e outros sinais de sobrevivência,
bros pró-apoptóticos das famílias elas sintetizarão membros antiapop-
chamadas Bax e Bak, que se dime- tóticos da família Bcl-2, dos quais os
rizam e se inserem dentro da mem- dois principais são o próprio Bcl-2 e o
brana mitocondrial, formando canais Bcl-xL. Essas proteínas antagonizam
através dos quais o citocromo c e ou- Bax e Bak, limitando, portanto, o es-
tras proteínas mitocondriais extrava- cape das proteínas mitocondriais pró-
sam para o citosol. Esses sensores -apoptóticas. As células privadas de
também inibem as moléculas antia- fatores de crescimento não apenas
poptóticas Bcl-2 e Bcl-xL, aumen- ativam as proteínas pró-apoptóticas
tando o extravasamento de proteínas Bax e Bak, mas mostram também ní-
mitocondriais. veis reduzidos de Bcl-2 e Bcl-xL, por-
tanto tendendo o balanço, mais tarde,
O citocromo c, em conjunto com al- em direção à morte. A via mitocon-
guns cofatores, ativa a caspase 9. drial parece ser a via responsável pela
Outras proteínas que extravasam das maioria das situações de apoptose.
MORTE CELULAR 29

Proteínas
anti-apoptóticas

Bcl-2 Bcl-XL
Proteínas
pró-apoptóticas

Bax Bak

APOPTOSE

Figura 14. Proteínas pró-apoptóticas e anti-apoptóticas.

Via extrínseca (receptor) ligação adaptadoras via domínio de


morte. Estas, por sua vez, recrutam
Muitas células expressam moléculas
e ativam a caspase 8. Em muitos ti-
de superfície, chamadas receptores
pos celulares, a caspase 8 pode clivar
de morte, que disparam a apoptose.
e ativar um membro pró - apoptóti-
A maioria dessas moléculas são re-
co da família Bcl-2, chamado de Bid,
ceptores membros da família do fator
portanto dentro da via mitocondrial.
de necrose tumoral (TNF) que con-
têm em suas regiões citoplasmáticas A ativação combinada de ambas as
um “domínio de morte” conservado, vias lança um golpe letal para a célula.
assim chamado porque medeia a in- As proteínas celulares, notadamente
teração com outras proteínas envolvi- um antagonista de caspase chamado
das na morte celular. FLIP, bloqueia a cascata de ativação
das caspases dos receptores de mor-
Os receptores de morte prototípi-
te. De modo interessante, alguns ví-
cos são do tipo TNF I e Fas (CD95).
rus produzem homólogos de FLIP, e
O ligante de Fas (Fas-L) é uma pro-
tem sido sugerido que isso seja um
teína de membrana expressa, prin-
mecanismo usado pelos vírus para
cipalmente, em linfócitos T ativados.
manter as células infectadas vivas. A
Quando essas células T reconhecem
via receptor de morte está envolvida
os alvos que expressam Fas, as mo-
na eliminação de linfócitos autorrea-
léculas Fas são ligadas em reação
tivos e na eliminação de células-alvo
cruzada pelo Fas-L e proteínas de
por alguns linfócitos T citotóxicos.
MORTE CELULAR 30

Fase de execução

Ativação de
caspases

Caspases executoras

Ativação de Colapso do
endonucleases citoesqueleto

Bolha citoplasmática

Corpo apoptótico

Fagocitose

Figura 15. Fase de execução e remoção da apoptose

As vias mitocondrial e de receptor de nuclear e do citoesqueleto, promo-


morte levam à ativação de caspases vendo a fragmentação das células.
desencadeantes, caspase 9 e 8, res-
pectivamente. As formas ativas des-
sas enzimas são produzidas e clivam Fase de remoção
outra série de caspases chamadas de As células apoptóticas atraem os fa-
caspases executoras. Essas caspa- gócitos produzindo sinais de “coma-
ses ativadas clivam numerosos alvos, -me”. Em células saudáveis, a fosfa-
culminando na ativação das nuclea- tidilserina está presente no folheto
ses, que degradam as nucleoproteí- interno da membrana plasmática,
nas e o DNA. As caspases degradam mas nas células apoptóticas esse
também os componentes da matriz fosfolipídio move-se para fora e é
MORTE CELULAR 31

expresso no folheto externo da mem- ingeridos para fornecer nutrientes e


brana, onde é reconhecido pelos ma- energia. Nesse processo, as organe-
crófagos, levando à fagocitose das las intracelulares e partes do citosol
células apoptóticas. são primeiramente sequestradas do
As células que estão morrendo por citoplasma em um vacúolo autofági-
apoptose secretam fatores solúveis co, formado a partir de regiões livres
que recrutam os fagócitos. Isso faci- de ribossomos do retículo endoplas-
lita a remoção imediata das células mático. O vacúolo se funde com os
mortas, antes que sofram uma se- lisossomos para formar um autofa-
gunda lesão de membrana e liberem golisossoma, que digere os compo-
seus conteúdos celulares (que pode nentes celulares através das enzimas
resultar em inflamação). Alguns cor- lisossômicas.
pos apoptóticos expressam glicopro- A autofagia é iniciada por várias pro-
teínas adesivas que são reconhecidas teínas que percebem a privação de
pelos fagócitos, e os próprios macró- nutrientes e estimulam a formação
fagos podem produzir proteínas que do vacúolo autofágico. Com o tem-
se ligam às células apoptóticas (mas po, a célula privada de nutrientes não
não às células vivas) e direcionam a perdurará canibalizando a si mes-
morte das células por engolfamento. ma; nesse estágio, a autofagia pode
Tem sido demonstrado que numero- também sinalizar a morte celular por
sos receptores de macrófagos estão apoptose.
envolvidos na ligação e fagocitose A autofagia está envolvida também na
das células apoptóticas. Esse proces- remoção de proteínas anormalmente
so de fagocitose das células apoptóti- dobradas, por exemplo, em neurônios
cas é tão eficiente que as células mor- e hepatócitos. Portanto, a autofagia
tas desaparecem sem deixar traços e defeituosa pode ser a causa de morte
a inflamação é virtualmente ausente. de neurônios, induzida pelo acúmulo
dessas proteínas, subsequentemen-
te gerando doenças neurodegenera-
5. AUTOFAGIA tivas. De modo contrário, a ativação
A autofagia (“comer a si próprio”) refe- farmacológica da autofagia limita a
re-se à digestão lisossômica dos pró- formação de proteínas mal dobradas
prios componentes da célula. Consti- nos hepatócitos de modelos animais,
tui mecanismo de sobrevivência, em reduzindo a fibrose hepática. Os poli-
períodos de privação de nutrientes, morfismos em um gene envolvido na
de tal modo que a célula privada de autofagia têm sido associados com
alimento sobrevive ingerindo seu pró- doença inflamatória intestinal, mas
prio conteúdo e recicla os conteúdos a ligação mecânica entre autofagia
MORTE CELULAR 32

e inflamação intestinal não é conhe- provar haver uma função na doença


cida. Assim, uma via de sobrevivên- humana.
cia pouco apreciada nas células pode

Figura 16. O processo da autofagia. Fonte: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica.
9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2013.
Brasileiro Filho, G. – Bogliolo Patologia Geral, 6a ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2018.
GRIVICICH, Ivana et al. Morte celular por apoptose. Revista brasileira de cancerologia, v. 53,
n. 3, p. 335-343, 2007.
Site didático de Anatomia Patológica, Neuropatologia e Neuroimagem. Departamento de
Anatomia Patológica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas
(FCM-UNICAMP). Campinas, São Paulo. Retirado de www. anatpat.unicamp.br
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