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PATOLÓGICOS
Lesão celular
reversível e
irreversível
Francine Luciano Rahmeier
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A célula é a unidade funcional de todo o organismo. Sem as células, não haveria
vida, e qualquer alteração no funcionamento delas pode alterar a fisiologia e a
viabilidade dos tecidos. Nosso corpo está suscetível o tempo todo a diversos
tipos de situações que podem lesar essas células. Existem ameaças vindas do
meio externo, como machucar o joelho ao cair de bicicleta, e do nosso próprio
organismo, como uma doença genética autoimune.
Neste capítulo, você vai conhecer o que são lesões reversíveis e irreversíveis.
Além disso, vai ver como uma lesão se inicia e quais são os principais estímulos
que a desencadeiam. Por fim, vai estudar as principais alterações bioquímicas
e morfológicas encontradas e os fatores envolvidos nesse processo.
2 Lesão celular reversível e irreversível
A C
B D
Figura 2. Exemplos de alterações hidrópicas macroscópicas e microscópicas: (a) rim e (b) fígado
entumecidos, com aumento de volume e palidez. Note o espessamento das regiões corticais
renais e os ligamentos hepáticos esbranquiçados. (c) Microscopia renal e (d) microscopia
hepática: note o entumecimento celular, com a presença de vacúolos claros.
Fonte: Franco et al. (2015, p. 99).
Causas exógenas
Dentre as causas exógenas, podemos destacar os estímulos físicos, químicos
e biológicos e os distúrbios nutricionais.
Estímulos físicos
A seguir, vamos tratar de alguns estímulos físicos.
Trauma físico por força mecânica: o padrão de lesão vai depender do objeto
de colisão, da força do impacto e dos tecidos e órgãos afetados. Tecidos moles
tendem a apresentar reações semelhantes, e as lesões são classificadas como
abrasões, contusões, lacerações, incisivas, feridas por perfuração, feridas por
penetração e fraturas. Essas lesões causam comumente a ruptura celular,
hemorragias, edema e inflamação local, mas se o impacto ou a extensão da
lesão for muito grande, podem ocasionar choque (ANGELO, 2016; KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2016).
Descarga elétrica: a lesão ocorre por meio do contato com fontes elétricas
de baixa voltagem (sistema elétrico de uma casa) ou alta voltagem (linhas
elétricas de alta tensão e relâmpagos). As descargas elétricas podem causar
queimaduras e alterações cardíacas e respiratórias, sendo geralmente fatais
(ANGELO, 2016; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; FRIEDSTAT; BROWN; LEVI, 2017).
Estímulos químicos
Independentemente da origem do agente químico, ele pode ocasionar lesões
por meio da ação direta sobre o interstício ou sobre as células, causando
degenerações, alterações e modificações genômicas. Também pode ser por
ação indireta, induzindo a resposta imune humoral ou celular, que será a
responsável pelas lesões. Para a formação de lesões por essa origem, deve-se
considerar a natureza do agente químico, o tipo de mecanismo de agressão,
a dose, o tempo de exposição, o meio de absorção e fatores exclusivos da
pessoa, como a capacidade do organismo de metabolizar certas substâncias,
a idade, as doenças preexistentes e os fatores genéticos (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2016; FRIEDSTAT; BROWN; LEVI, 2017).
Os principais agentes químicos capazes de originar lesões são os seguintes
(BRASILEIRO FILHO, 2016, KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; FRIEDSTAT; BROWN;
LEVI, 2017).
Estímulos biológicos
Qualquer agente biológico que tenha a capacidade de invadir um organismo
pode causar uma doença infecciosa. Entre esses agentes estão os fungos, as
bactérias, os vírus, as riquétsias e os parasitas, que podem causar os mais
variados tipos de lesões, com diferentes níveis de gravidade. Em geral, esses
microrganismos causam lesões das seguintes formas (BRASILEIRO FILHO, 2016;
KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016).
Distúrbios nutricionais
O equilíbrio nutricional é essencial para a manutenção da vida. A falta ou o
excesso de nutrientes, como vitaminas, minerais, aminoácidos, proteínas
e carboidratos, também são fatores capazes de desencadear lesões. Veja
a seguir alguns exemplos (ANGELO, 2016; BRASILEIRO FILHO, 2016; KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2016).
Causas endógenas
As causas endógenas se referem especialmente aos mecanismos de defesa
do organismo afetado e a sua carga genética.
Mecanismos de defesa
Existem diversos tipos de mecanismos de defesa contra agressores externos.
Eles abrangem barreiras como a fagocitose, o sistema complemento, a reação
inflamatória, a resposta imune inata, o sistema de reparo de DNA, a produção
de antioxidantes, entre outros. Quando algum desses mecanismos falha ou
se torna insuficiente, o fator agressivo vence e inicia o processo de lesão
celular. No entanto, quando algum desses mecanismos está descontrolado
ou exacerbado, ele mesmo vai gerar danos ao próprio organismo (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2016; ALBERTS et al., 2017).
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Carga genética
Essa categoria engloba desde falhas genéticas que causam algum déficit
nos mecanismos de defesa ou nas substâncias responsáveis pela proteção
do organismo até mutações genéticas que aumentam a suscetibilidade de
desenvolver algum tipo de lesão, doença ou síndrome. Existem inúmeros
fatores e distúrbios envolvidos; veja a seguir alguns exemplos (ANGELO, 2016;
KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; ALBERTS et al., 2017).
Redução da disponibilidade de O2
Nesse caso, por algum motivo, o suprimento de oxigênio para os tecidos
está reduzido ou ausente. Na hipóxia, a redução da disponibilidade de O2
provoca uma redução na respiração oxidativa aeróbica da célula, provocando
alterações fisiológicas e morfológicas. Quando essa falta de suprimento de
O2 está totalmente ausente, temos o a anóxia, que constitui um quadro mais
grave, levando à morte celular rapidamente. As principais situações em que
podemos ter uma redução na demanda de O2, incluem as seguintes (KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2016).
Referências
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