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NOÇÕES DE PATOLOGIA

Adaptação e degeneração celular

A) Respostas celulares ao estresse e estímulos nocivos: a célula por estar sob a influência da
programação genética do seu metabolismo, diferenciação e especialização; da limitação física
das células vizinhas e da disponibilidade de substratos metabólicos possui uma variação muito
limitada de sua função e estrutura
*no entanto ela é capaz de lidar com as exigências fisiológicas normais mantendo um padrão
estável chamado de homeostasia
*estresses fisiológicos e estímulos nocivos podem desencadear adaptações celulares funcionais
e morfológicas. Se os limites da resposta de adaptação celular são excedidos entra-se no estágio
de lesão celular que inicialmente é reversível, basta remover o estímulo nocivo que a célula volta
ao normal, mas se o estímulo persistir ou for severo a célula atinge um “ponto de não-retorno”
e sofre lesão celular irreversível que vai culminar em morte celular

B) Adaptação celular ao crescimento e à diferenciação:

Crescimento celular: é um mecanismo baseado na multiplicação e reposição das células


resultante da ação coordenada de agentes estimuladores e inibidores da divisão celular (fatores
de crescimento).

Diferenciação celular: é a especialização morfológica e funcional das células resultante de


controle genético durante a embriogênese.

1. ATROFIA:

Conceito: redução no volume de uma célula pela perda de alguns de seus componentes
estruturais o que consequentemente vai diminuir sua função e o tamanho do órgão como um
todo.

Tipos:

1. Atrofia fisiológica: ocorre, por exemplo, na atrofia do ducto tireoglosso e da notocorda no


período embrionário ou atrofia do útero pós-parto
2. Patológica: (depende da causa e pode ser localizada ou generalizada)

Causas:

1. Diminuição da carga / atrofia por desuso: rápida diminuição do tamanho das células
musculares quando um membro é imobilizado, o que volta ao normal com o fim da imobilização

2. Perda da inervação / atrofia por desnervação: atrofia das fibras musculares inervadas por
um conjunto de nervos que perderam sua função como por exemplo na poliomielite

3. Diminuição do suprimento sanguíneo (isquemia): em idosos pela formação de placas de


ateroma nos vasos sanguíneos da base do encéfalo ocorre redução do suprimento sanguíneo
para o cérebro resultando em atrofia de suas células
4. Nutrição inadequada: no marasmo (desnutrição proteico-calórica acentuada) ocorre uso das
proteínas musculares como fonte de energia já que as demais reservas foram esgotadas
causando atrofia muscular (caquexia) e na anorexia nervosa

5. Perda da estimulação endócrina: perda estimulação estrogênica na menopausa resulta em


atrofia fisiológica do endométrio, epitélio vaginal e seios

6. Envelhecimento/atrofia senil: bem visível em tecidos com células permanentes como


cérebro e coração

7. Atrofia por compressão: um tumor benigno ao crescer pode causar atrofia dos tecidos
circundantes devido a isquemia induzida por essa massa em expansão nesses tecidos

2. HIPERPLASIA:

Conceito: aumento do número de células pelo aumento dos processos de divisão celular

Tipos:

1. Hiperplasia fisiológica:

Hormonal - aumenta a capacidade funcional de um tecido quando é necessário


Ex: útero na gestação

Compensatória - aumento da massa tecidual após um dano ou ressecção parcial,


Ex: fígado após hepatectomia parcial, rim após nefrectomia unilateral ou testículo após
orquiectomia unilateral)

2. Hiperplasia patológica: causada pela estimulação excessiva das células-alvo por hormônios
ou fatores de crescimento que apesar de ser um processo anormal permanece sob controle
pois basta o estímulo hormonal ser eliminado que tudo volta ao normal;
Ex: hiperplasia endometrial onde há endométrio espessado com estruturas polipóides por
excesso de estímulo estrogênico
Ex: hiperplasia nodular da próstata onde há aumento de maneira nodular do parênquima
prostático por excesso de estímulo androgênico

3. HIPERTROFIA:

Conceito: aumento do volume das células sem que ocorra divisão celular devido ao aumento
da síntese proteica, se deve a um aumento na demanda funcional ou por estímulos hormonais
e que consequentemente vai aumentar o tamanho do órgão também

Tipos:

1. Hipertrofia fisiológica:
Ex: fisiculturismo - hipertrofia muscular onde ocorre aumento no tamanho de cada fibra de
forma que a carga seja distribuída por um número maior de componentes celulares e assim ao
corra o risco de ser lesada.
Ex: aumento do útero e seios na gravidez - o hormônio estrógeno estimula aumento da síntese
proteica e leva ao aumento das células do útero na gravidez enquanto que a prolactina
combinada com o estrógeno causam o mesmo nos seios na amamentação).
2. Hipertrofia patológica:
Ex: músculo cardíaco se hipertrofia devido a uma sobrecarga hemodinâmica crônica causada
pela hipertensão arterial ou por válvulas defeituosas).

Desencadeadores da hipertrofia:
1. Desencadeadores mecânicos: estiramento
2. Desencadeadores tróficos: fatores de crescimento e agentes vasoativos que estimulam a
expressão de vários genes levando a hipertrofia celular

Fatores limitantes da perpetuação da hipertrofia:

*suprimento vascular limitado para as células hipertrofiadas


*diminuição da capacidade oxidativa da mitocôndria
*alterações na síntese e degradação de proteínas
*alterações do citoesqueleto

4. METAPLASIA:

Conceito: é uma alteração reversível na qual um tipo de tecido maduro é substituído por outro
mais resistente, mas da mesma linhagem embrionária devido a uma agressão crônica e a mais
comum é a do epitélio colunar para o escamoso.

Exemplos:

1. Fumantes de longa data: traqueias e brônquios possuem epitélio cilíndrico que com as
agressões vai sendo substituído por um epitélio pavimentoso resistente, mas que perde a
capacidade de secreção de muco.

2. Cálculos nos ductos excretores das glândulas salivares, pâncreas ou ductos biliares: podem
levar à substituição do epitélio colunar secretório normal pelo epitélio escamoso estratificado
não-secretor.

3. Esôfago de Barret: o epitélio escamoso esofágico é substituído por células colunares


semelhantes a células intestinais devido ao refluxo do suco gástrico.

LESÕES CELULARES

Causas:

1. Ausência de oxigênio:

• Hipóxia - deficiência de O2 causando lesão celular pela redução da respiração aeróbica


oxidativa e pode ser decorrente de anemia, envenenamento por cianeto, insuficiência
cardiorrespiratória, etc.
• Anóxia - ausência de suprimento de O2 para as células em virtude de afogamento ou pré-
parto.
• Isquemia - perda do suprimento sanguíneo em virtude da obstrução do fluxo arterial por
trombos, êmbolos, aterosclerose ou compressão ou redução da drenagem de um tecido que
resulta na deficiência de O2 e de nutrientes para o tecido como a glicose, logo a lesão celular
é mais severa nesse caso.
2. Agentes físicos:

Mecânicos - traumatismos
Temperatura - frio ou calor excessivos
*variações repentinas da pressão atmosférica
*radiações ionizantes
*corrente elétrica

3. Agentes químicos:

*venenos - tetracloreto de carbono e arsênio


*drogas terapêuticas
*drogas não -terapêuticas (álcool e narcóticos)
*poluição (tabaco)
*inseticidas

4. Agentes biológicos:

*vírus e príons - efeito citopático e oncogênico


*bactérias
*protozoários

5. Mecanismos imunológicos:

*reação anafilática
*doenças autoimunes
*repostas imunes humoral e celular normais também causam lesão celular

6. Distúrbios genéticos:

*alterações gênicas, genômicas e cromossomiais


*erros inatos do metabolismo

7. Distúrbios nutricionais:
*avitaminoses - escorbuto e xeroftalmia
*anorexia nervosa
*dislipidemias
*má nutrição proteica não calórica- marasmo e kwashiokor

8. Envelhecimento:

Relação com as doenças circulatórias (depósito de placas de ateroma é gradativo ao longo da


idade).

DETERMINANTES DAS LESÕES CELULARES:

1. A resposta celular a estímulos nocivos depende do tipo de lesão, de sua duração e gravidade
2. As consequências da lesão celular dependem do tipo, estado e grau de adaptação da célula
danificada
3. As lesões celulares resultam de anormalidades funcionais e bioquímicas em um ou mais
componentes celulares, assim, os alvos mais visados são: (1) fosforilação oxidativa (2)
integridade das membranas celulares (3) síntese proteica (4) citoesqueleto (5) núcleo.

MORTE CELULAR: NECROSE E APOPTOSE

NECROSE: é o conjunto de alterações morfológicas que ocorrem na célula após a morte celular
em um tecido vivo que resulta da desnaturação de proteínas intracelulares e da digestão
enzimática da célula a partir de enzimas, há perda de integridade das membranas e ocorre uma
reação inflamatória.

Tipos de necrose:
1) Necrose de coagulação:

Etiologia: isquemia (no caso da maioria dos tecidos, exceto o cérebro), substâncias químicas,
infecção fúngica, etc.
*as áreas necróticas liberam substâncias vasodilatadoras que aumentam o fluxo sanguíneo nos
vasos próximos acentuado a coloração vermelha (halo periférico).
*exemplo: infarto do miocárdio🡪células acidófilas, coaguladas, núcleos piquinóticos,
citoplasma eosinófílico, linfócitos removedores de fragmentos celulares, preservação da
arquitetura geral do tecido.

2)Necrose de liquefação:

Etiologia: isquemia e hipóxia


*tipos: autolítica (no infarto cerebral por hipóxia em que as células gliais de sustentação
neuronal se desintegram e se liquefazem por razões desconhecidas) e heterofágica (nas
infecções bacterianas piogênicas que atraem neutrófilos que liberam seus grânulos líticos em
processos inflamatórios que vão desintegrar tecidos como o pulmão, pele, fígado, etc.).

3) Caseosa:

Etiologia: processo inflamatório granulomatoso


*exemplo: tuberculose em que há uma infecção bacteriana que gera uma resposta imunológica
a partir de linfócitos T que é lenta e pouco eficaz e circunda o microrganismo formando um
granuloma e na blastomicose / paracoccidiose.
*o foco necrótico se parece com fragmentos granulosos amorfos cercados por uma borda
inflamatória denominada de reação granulomatosa.
*há destruição da arquitetura tecidual.

4) Gordurosa / esteatonecrose:

Etiologia: liberação de lípases pancreáticas ativadas no parênquima pancreática e na cavidade


peritoneal *exemplo: pancreatite aguda - é uma inflamação que estimula a liberação de
proteases e lípases que vão digerir seu próprio tecido gorduroso e do parênquima.
*nessa necrose os AG liberados se combinam com o cálcio e produzem áreas brancas visíveis
(saponificação ou sabões de cálcio).
5) Necrose gomosa:

Etiologia: necrose de um tecido com a ocorrência de uma reação inflamatória que leva a
formação de estruturas resistentes (em goma).

6) Necrose hemorrágica:

Etiologia: obstrução da artéria pulmonar e a artéria brônquica tenta suprir a área, mas acaba
lançando sangue no tecido necrosado provocando hemorragia.
*Ex: AVE ou derrame (necrose por ruptura de um vaso cerebral que faz o sangue extravasar
para o tecido e matar as células), infarto no pulmão e intestino.

7) Necrose gangrenosa:

*para os patologistas: é uma necrose de coagulação em que há infecção secundária podendo


ser úmida (exsudatos) ou gasosa (gases bacterianos).
*para osclínicos: é uma necrose de extremidade ou mumificação pelo contato do tecido com o
ar.

APOPTOSE é a via de morte celular induzida por um programa intracelular regulado que ativa
enzimas que degradam o DNA nuclear e as proteínas citoplasmáticas, mas a célula morta é
fagocitada antes que seu conteúdo extravase e com isso não é desencadeada uma reação
inflamatória.

Causas Fisiológicas:

A. destruição programada de células durante a embriogênese


B. involução dependente de hormônios nos adultos (colapso endometrial, atresia folicular
ovariana, regressão da mama lactante)
C. eliminação celular em populações celulares em proliferação (cripta intestinal)
D. morte de células de defesa que já atuaram como os neutrófilos na resposta inflamatória
aguda
E. eliminação de linfócitos autorreativos
F. morte celular induzida pelas células TCD8+

Causas Patológicas:

A. morte celular por estímulos nocivos (radiação, drogas, calor, hipóxia)


B. morte celular em doenças virais (hepatite)
C. atrofia patológica de órgãos após obstrução ductal (rins, pâncreas e parótida)
D. morte celular nos tumores

Morfologia:

*encolhimento celular - citoplasma denso pela destruição de proteínas e organelas agrupadas


*condensação da cromatina-se agrega na periferia sob a membrana nuclear.
*formação de bolhas citoplasmáticas e em seguida corpos apoptóticos contendo as organelas.
*fagocitose das células por macrófagos através de suas enzimas lisossomais.
*tecido é substituído por outro normal.

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