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Introdução à Patologia:

Adaptação, lesão e morte


celular

Professor: Me. Bruno Antonio Ferreira


Disciplina: Patologia Humana
A patologia
“A patologia se dedica ao estudo das alterações estruturais,
bioquímicas e funcionais em células, tecidos e órgãos que constituem a
base das doenças.” Medicina
Ciências Clínica
básicas
Biologia
molecular

Microbiologia PORQUÊS

Morfologia
PATOLOGIA
Patologia geral:
Reações comuns das células e tecidos aos estímulos nocivos.

Patologia sistêmica:
Alterações e mecanismos subjacentes das doenças específicas de determinado
órgão.

Doença cardíaca
Inflamação aguda
Isquêmica
A patologia fundamenta-se em quatro aspectos de um processo de doença:

1 – Etiologia: Fatores genéticos (mutações hereditárias, variantes genéticas


associadas a doenças) e fatores externos (doenças infecciosas, nutricionais)

2 – Patogenia: Refere-se a sequência de eventos celulares, bioquímicos e


moleculares que decorrem da exposição das células ou tecidos a um agente lesivo.

3 – Alterações morfológicas: Alterações estruturais nas células ou tecidos, que


são características de uma doença ou diagnósticas de um processo etiológico.

4 – Perturbações funcionais: Manifestações clínicas.


Respostas celulares ao estresse e aos
estímulos nocivos.
LIMITAÇÕES DE UMA CÉLULA NORMAL
Estado de metabolismo, diferenciação
Adaptações
e especialização

Restrições pelas células vizinhas

Demandas
Fisiológicas
Disponibilidade de substratos
metabólicos.
Etapas da resposta celular ao estresse e
estímulos lesivos.
Adaptações do Crescimento e Diferenciação
Celulares
1 – Hipertrofia
Refere-se ao aumento do tamanho das células, que resulta no aumento do
tamanho do órgão afetado.
O tamanho aumentado das células é devido a
síntese e incorporação de novos componentes
estruturais intracelulares

Em muitos órgãos a hipertrofia e a hipertrofia coexistem, contribuindo para o


seu aumento de tamanho. No entanto, em alguns, há apenas hipertrofia.
Hipertrofia Hipertrofia
Fisiológica Patológica
Estímulos para a Hipertrofia

A hipertrofia é causada pelo aumento da demanda funcional, ou por estimulação


de hormônios e fatores de crescimento.

Hipertrofia do miocárdio, causada pelo


aumento da pressão arterial que requer maior
esforço mecânico das células do miocárdio.
Crescimento muscular em atletas praticantes de fisiculturismo:
Há um aumento no tamanho das fibras musculares individuais, em resposta ao
aumento da demanda. Tanto no músculo estriado esquelético, quanto no cardíaco,
as células de ambos os tecidos passam a sintetizar mais proteínas e o número de
miofilamentos aumenta.
Hipertrofia das fibras musculares uterinas induzida por hormônios.
A) Visão macroscópica: útero gravídico e útero normal. B) Corte histológico das
fibras musculares lisas em útero não-gravídico. C) Corte histológico de útero
gravídico (células hipertrofiadas).

Hipertrofia estimulada por hormônios estrogênicos que


agem sobre receptores de estrogênio do músculo liso.
Mecanismos bioquímicos da hipertrofia
cardíaca
Adaptações do Crescimento e Diferenciação
Celulares
2 – Hiperplasia
A hiperplasia só ocorre quando a população celular é capaz de replicação. Pode
ocorrer com a hipertrofia e sempre em resposta ao mesmo estímulo.

HORMONAL
FISIOLÓGICA

NÚMERO DE CÉLULAS COMPENSATÓRIA

PATOLÓGICA
Proliferação do epitélio glândular da
mama feminina durante a gravidez

Hiperplasia compensatória após


hepatectomia parcial
Hiperplasia patológica X Tumores
Causada por estimulação hormonal excessiva ou por fatores de crescimento.

CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS

O processo hiperplásico
permanece controlado.

A hiperplasia pode dar origem a


um tumor posteriormente

VERRUGAS E
PAPILOMAVIROSES
Adaptações do Crescimento e Diferenciação
Celulares
3 – Atrofia
Diminuição do tamanho da célula pela perda de substância celular. Quando um
número suficiente de células está envolvido, todo o tecido ou órgão diminui de
tamanho.
Causas:
- Diminuição da carga de trabalho
- Perda de inervação
- Diminuição do suprimento sanguíneo
- Nutrição inadequada
- Perda da estimulação endócrina
- Envelhecimento
Adaptações do Crescimento e Diferenciação
Celulares
4 – Metaplasia
É uma alteração celular reversível, na qual um tecido celular adulto (epitelial ou
mesenquimal) é substituído por outro tipo celular adulto.

AMBIENTE HOSTIL
Tipo celular
Tipo celular novo
original

Células mais sensíveis Células mais capazes

“Reprogramação” de células-tronco
Epitélio respiratório e o cigarro – Metaplasia

- Aumento no número de células caliciformes

- Diminuição do número de células colunares ciliadas

- Transição epitélio colunar  estratificado


Lesões celular reversível e Morte celular

A lesão celular ocorre quando as células são estressadas a tal ponto que se
tornam incapazes de se adaptar. No entanto, a lesão pode passar de um estado
reversível e culminar em morte celular.

1 – Lesão reversível: Nos estágios iniciais ou nas formas leves de lesão, as


alterações morfológicas e funcionais são reversíveis, se o estímulo for removido.

2 – Morte Celular: Com a continuação do dano a lesão torna-se irreversível, nesse


período, a célula não se recupera e morre.

NECROSE APOPTOSE
Causas da Lesão Celular

A maioria dos estímulos causadores de lesão pode ser agrupada nas seguintes categorias :

1 – Privação de oxigênio
2 – Agentes Químicos
3 – Agentes infecciosos
4 – Reações imunológicas
5 – Defeitos genéticos
6 – Desequilíbrios Nutricionais
7 – Agentes Físicos
8 – Envelhecimento
Características morfológicas da lesão reversível:

Tumefação celular: resultado da falência das bombas de íons da membrana


plasmática, levando a uma incapacidade de manter a homeostase iônica e de
fluido.

Vacúolos pequenos e claros dentro do


citoplasma

Quando afeta muitas células de um órgão,


causa alguma palidez e aumento do peso.
Degeneração gordurosa: Presença de vacúolos lipídicos no citoplasma,
encontrada sobretudo em células que participam do metabolismo da gordura
(hepatócitos e miocárdio)
Mecanismos Lesão Celular

Bases moleculares da lesão celular


Os mecanismos que ligam determinada tipo de lesão com as manifestações
celulares e tissulares são complexos, interconectados e intercombinados.

Contudo, vários princípios são relevantes para a maioria das formas de lesão celular:

• A resposta celular depende do tipo de lesão, sua duração e sua gravidade.


• As consequências de um estímulo nocivo dependem das características da célula lesada
• As lesões celulares resultam em alterações em um ou mais componentes celulares essenciais
Mecanismos Lesão Celular
Mecanismos Lesão Celular
Depleção de ATP: ATP = adenosina trifosfato; molécula energética!!!!!

Formas de obtenção do ATP:


1) 2)

ADP ATP
As principais causas de depleção de ATP são:
1 – Redução do aporte de O2 e nutrientes
2 – Dano Mitocondrial
3 – Ações de algumas toxinas (ex.: cianeto)

Efeitos da depleção de ATP:


1 – Redução da atividade da bomba de sódio
2 – Aumento da Glicólise anaeróbica
3 – Falência da bomba de cálcio
4 – Rompimento estrutural do aparelho de síntese
proteica
Mecanismos Lesão Celular

Danos à Mitocôndria
Fornecedoras de energia na forma de ATP e também componentes importantes
na lesão e morte celular.

Principais causadores de danos mitocondriais:


1 – Aumento de cálcio no citoplasma
2 – Espécies reativas de oxigênio
3 – Privação de oxigênio
Consequências principais aos danos mitocondriais:

1- Formação de um canal de alta:


 perda de potencial de membrana
 alteração de pH

2 – Extravasamento de proteínas pró-apoptóticas


 citocromo c
Mecanismos Lesão Celular

Influxo de cálcio.
O cálcio livre no citosol é mantido por
transportadores de cálcio dependentes de
ATP, em concentrações 10.000 vezes
menores que no espaço extracelular e nos
estoques intracelulares (mitocôndria e RE).

Consequências:
Ativação de diversas enzimas com efeitos
celulares potencialmente prejudiciais.
Mecanismos Lesão Celular

Defeitos na permeabilidade da membrana:


A perda da permeabilidade seletiva da membrana, levando posteriormente a uma
lesão na mesma, é uma característica marcante na maioria das formas de lesão celular.

Principais causadores de danos à membrana:


1 – Isquemia
2 – Toxinas microbianas
3 – Agentes químicos e físicos
4 – Componentes líticos do sistema complemento
Mecanismos bioquímicos de danos à membrana:
1 – Diminuição da síntese de fosfolipídios
2 – Aumento da degradação dos fosfolipídios
3 – Espécies reativas de oxigênio
4 – Alterações do citoesqueleto
5 – Produtos da degradação de lipídios
Os sítios mais importantes de lesão, durante a lesão celular, são:

1 – Membranas mitocondriais:
Resultam no decréscimo da produção de ATP  necrose
Extravasamento de proteínas  apoptose

2 – Membranas plasmáticas:
Perda do equilíbrio osmótico
Perda de conteúdos celulares

3 – Membranas lisossômicas:
Extravasamento de suas proteínas para o citoplasma (RNases, Dnases, proteases)
Necrose

O termo necrose foi utilizado pela primeira vez por morfologistas para descrever
uma série de alterações que acompanham a morte celular.
Enzimas digestivas liberadas
pela própria célula

LESÃO NECROSE

Enzimas digestivas liberadas


por células inflamatórias.
Principais características:
- Danos irreversíveis as membranas celulares
- Extravasamento do conteúdo da célula
Citoplasma vacuolado
“roído por traças”
Morfologia histológica típica:

Aumento da
eosinofilia

Alterações nucleares:
Cariólise X Picnose X
Cariorréxe
Alterações ultraestruturais

1 – Descontinuidade das membranas


2 – Dilatação acentuada das mitocôndrias
3 – Rompimento dos lisossomos
4 – Figuras de mielina
5 – Alterações nucleares
Padrões de necrose
Há vários padrões morfológicos distintos de necrose, os quais podem fornecer
pistas sobre a sua causa básica:

1- Necrose coagulativa: Características de infartos (exceção = cérebro)


Células componentes mortas, mas arquitetura tecidual preservada.
Supostamente a lesão desnatura proteínas estruturais e enzimáticas.
2 – Necrose liquefativa: Observada em infecções bacterianas focais e/ou fúngicas.
Estes microrganismos estimulam a chegada de células inflamatórias e a
liberação do conteúdo digestivo destas nos tecidos, “liquefazendo” o tecido. A
liquefação do tecido resulta em uma massa viscosa líquida.

Inflamações agudas = pus

No cérebro a morte por


hipóxia causa necrose
liquefativa.
3 – Necrose caseosa: Focos de infecção tuberculosa
O termo “caseoso” (semelhante à queijo) vem da aparência branco-amarelada
da área de necrose. Ao microscópio óptico a área necrótica aparece cheia de
células fragmentadas e sem a arquitetura tecidual preservada.
4- Necrose gordurosa: Áreas focais de destruição gordurosa

Quando há o escape de enzimas pancreáticas que escaparam das células


acinares e dos ductos, liquefazem a membrana plasmática dos adipócitos do
peritônio e as lipases dividem os ésteres de triglicerídeos. Os ácidos graxos
liberados combinam-se com o cálcio produzindo áreas brancas macroscopicamente
visíveis.

Triglicerídeos

Glicerol Ác. graxos

Cálcio
5- Necrose Fibrinóide: Reações imunes que envolvem vasos sanguíneos.
Imunocomplexos são depositados nas paredes das artérias e em combinação
com a fibrina que tenha extravasado dos vasos resultam em uma aparência amorfa
róseo-brilhante, conhecida como fibrinóide.
Exemplos de lesão celular e necrose
Lesão isquêmica e hipóxica:
Hipóxia = falta de oxigênio
 produção de energia pelas células ainda é mantida (níveis baixos)

Isquemia = diminuição do fluxo sanguíneo


 lesa os tecido com mais rapidez que a hipóxia

Bombas de íons
Ác. Lático
O2 ATP Estoque de glicogênio
pH
Síntese protéica
Lesão isquêmia-Reperfusão
A restauração do fluxo sanguíneo para tecidos isquêmicos, mas viáveis, resulta em
lesão acentuada. Como resultado os tecidos continuam a perder células.

Os mecanismos associados à lesão celular resultante da reperfusão são:

1 – Produção aumentada de EROs


 Células apresentam danos mitocondriais que não reduzem o oxigênio
 Diminuição das defesas antioxidantes.

2 – A lesão isquêmica esta associada a inflamação


Apoptose

A apoptose é a via de morte celular induzida por um programa de suicídio,


rigorosamente regulado, no qual as células destinadas a morrer ativam enzimas
capazes de degradar seu próprio DNA, proteínas nucleares e citoplasmáticas.

A célula morta é
removida antes que o
seu conteúdo
extravase
Morfologia da apoptose

1 - As células apoptóticas aparecem


como massas ovais ou redondas, com o
citoplasma intensamente eosinofílico

2 – Os núcleos exibem vários estágios


de condensação e, em seguida,
cariorrexe.

3 – Células retraem e há a formação de


corpos apoptóticos

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