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Genética – Farmácia 2.

º ano
Organitos Celulares:

Leis de Mendel:

Primeira lei ou Princípio da Segregação dos Caracteres: as células sexuais, masculinas ou


femininas, devem conter apenas um fator para cada característica a ser transmitida.

Segunda lei ou Princípio da Independência dos Caracteres: cada característica hereditária é


transmitida independentemente das demais.

Terceira Lei: Mendel formulou os conceitos da dominância, em que os seres híbridos


apresentam um carácter dominante que encobre segundo determinadas proporções o chamado
carácter recessivo, ou seja, os seres híbridos, resultado do cruzamento entre seres portadores
de caracteres dominantes e recessivos, apresentam as características de dominância.

Genótipo: é o material hereditário do ser vivo, ou seja, os genes que possui e que determinam
as suas características. O genótipo não muda, exceto se ocorrerem mutações genéticas.

Fenótipo: consiste em características que o ser vivo apresenta que podem ser vistas a olho nu.
O fenótipo de um ser vivo pode mudar com o passar do tempo, do nascimento até à sua morte.

Híbrido: indivíduo descendente do cruzamento de dois homozigóticos diferentes relativamente


a determinada característica.

Gene: unidade básica da hereditariedade. As características hereditárias são controladas por um


par de genes. Estes pares de genes ou alelos podem ser dominantes ou recessivos.

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Alelos: são um par de genes com a mesma característica. Ex: cor de olhos, temperamento.

Gene Dominante: é um gene com uma determinada característica que se irá desenvolver na
descendência, está presente no material genético de um dos pais.

Gene Recessivo: é um gene cuja característica não aparece expressa, no estado heterozigótico.

Heterozigótico: o indivíduo carrega consigo um par de genes diferentes. Um dos genes é


recessivo e o outro é dominante. Só um dos genes aparece visível (o dominante), no entanto
pode transmitir à sua descendência o gene recessivo.

Homozigótico: o indivíduo carrega consigo um par de genes iguais, que podem ser dominantes
ou recessivos.

Os nucleótidos possuem 3 unidades estruturais:

• Base Azotada (adenina, guanina, citosina, timina, uracilo);


• Pentose (desoxirribose ou ribose);
• Grupo Fosfato.

O nucleósido não possui base azotada.

Os nucleótidos estão ligados entre si por ligações fosfodiéster (5’ – 3’) constituindo cadeias

O grupo fosfato liga-se à pentose no carbono 5’ através de uma ligação covalente e juntos
desempenham uma função estrutural.

Os ácidos nucleicos armazenam e transmitem a informação genética.

A, G, T, C – DNA

A, G, U, C – RNA

Bases pirimídicas – anel simples – compostos cíclicos – C, T e U

Bases púricas – anel duplo – compostos policíclicos – A e G

Os nucleótidos estão ligados entre si por ligações fosfodiéster (5’ – 3’) constituindo cadeias.

A desoxirribose (DNA) e a ribose (RNA) são açúcares que diferem apenas na presença de mais
um átomo de oxigénio (O) na ribose. A ribose apresenta um grupo hidroxilo (OH) no carbono 2’,
enquanto a desoxirribose tem ligado apenas um hidrogénio (H).

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Qual o arranjo das cadeias polinucleotídicas no DNA?

1953 – James Watson & Francis Crick

I Análise de composição de bases azotadas

II Estudos de difração de raios X

➔ O DNA tem uma estrutura em dupla hélice

Conclusões de Chargaff

1. No DNA de qualquer espécie, a quantidade de adenina (A) é proporcional à quantidade


de timina (T) e a quantidade de guanina (G) é proporcional à quantidade de citosina (C).
2. A soma das bases púricas é igual à soma das bases pirimídicas A + G = T + C
3. A percentagem de G + C não é necessariamente igual à percentagem de A + T

Estudos de Difração de raios X

1947 – W. Astbury

Detetou uma periodicidade de 3,4 nm na estrutura molecular, sugerindo que as bases azotadas
estariam empilhadas umas sobre as outras.

1953 – Rosalind Franklin

Confirmou a periodicidade de 3,4 nm e sugeriu que a estrutura seria uma espécie de hélice.

DNA dupla hélice

As duas cadeias de DNA são antiparalelas porque têm direções opostas de ligação do átomo C3’
ao C5’.

Estrutura em dupla hélice de DNA. As duas fitas estão enroladas uma ao redor da outra,
formando uma espiral. O passo de cada hélice corresponde à distância ocupada por uma volta
completa e, no B-DNA, acomoda 10 nucleótidos.

As bases azotadas de ambas as cadeias estão posicionadas perpendicularmente ao eixo,


localizam-se no interior da hélice e distam entre si de 0,34 nm.

As bases azotadas de cadeias opostas estão ligadas por pontes de hidrogénio: A= T e G Ξ C

O diâmetro da dupla hélice é de 20 Å (2,0 nm).

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Formas alternativas de DNA

A–DNA Existe em condições de elevada concentração salina ou desidratação. Cada volta da


hélice tem 11 pares de bases e o diâmetro de 23 Å. Rotação à direita.

B–DNA Existe em condições aquosas e de baixa salinidade, é a forma normal da molécula –


modelo de Watson e Crick. Rotação à direita. 10 pb. Diâmetro de 20 Å.

Z–DNA Apresenta rotação à esquerda. 12 pb. Diâmetro de 18 Å.

Condensação do DNA

➔ Superenrolamento propriamente dito da cadeia de B-DNA -> Procariotas e Eucariotas


➔ Compactação, Pregueamento ou Empacotamento da molécula de DNA -> Eucariotas

Organização das moléculas de DNA nas células eucariotas

Quando o DNA dos núcleos eucarióticos é isolado, verifica-se que está associado a proteínas
formando a cromatina.

Na interfase o material genético encontra-se na forma de cromatina, dispersa pelo núcleo. A


compactação e o dobramento da cromatina produzem os cromossomas com a sua morfologia
característica.

As proteínas mais abundantes são as histonas, pequenas proteínas de carácter básico, presentes
em todos os núcleos eucarióticos. São ricas em aminoácidos (aa) de carga positiva que
interagem com os grupos fosfato de carga negativa no DNA.

Principais tipos de histonas: H1, H2A, H2B, H3 e H4.

As sequências de aa, entre as histonas, são muito similares, à exceção da H1.

As estruturas primárias da cromatina são os nucleossomas compostos por DNA e histonas.

Fig.1 – Estrutura da Cromatina

O DNA que compõe os nucleossomas é mais resistente à digestão por nucleases que o DNA de
ligação entre os vários nucleossomas.

O nucleossoma é composto por um centro proteico – octâmero formado por duas cópias de
cada uma das histonas H2A, H2B, H3 e H4 com DNA enrolado cerca de 2 voltas sobre o centro.

Os nucleossomas de todos os eucariotas contêm 147 pares de bases de DNA.

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O DNA de ligação apresenta maior variabilidade entre espécies (15 a 55 pares de base).

Fig.2 - Estrutura do nucleossoma baseada em cristalografia por raio X

Nucleossoma: octâmero de H2A, H2B, H3 e H4. O esqueleto de açúcar-fosfato das cadeias de


DNA está representado como tubos a branco. Modelo tridimensional visto de frente (esquerda)
e pela lateral (direita).

Habitualmente, a cromatina, quando extraída das células com tampões isotónicos, apresenta-
se em forma de fibra com ≈ 30 nm de diâmetro. Nessas fibras condensadas, os nucleossomas
parecem estar compactados em espiral irregular, com cerca de 6 nucleossomas por volta. A
principal histona, H1, está ligada ao DNA pelo lado interno da estrutura solenóide, com uma
molécula de H1 associada a cada nucleossoma.

Fig.3 - Modelo solenóide da fibra condensada de cromatina

Cada nucleossoma associa-se a uma molécula de H1, e a fibra assume uma forma espiralada
numa estrutura solenóide, com 30 nm de diâmetro.

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Fig.5 – Diferentes modelos de DNA

Ácido Ribonucleico – RNA

Estrutura: Polinucleótidos, ribose, uracilo e cadeia linear.

Funções:

• Transporte da informação genética


• Regulação da expressão genética
• Pode formar estruturas secundárias complexas
• Está sempre ligado a proteínas – ribonucleoproteínas (RNP)

Tipos de RNA

RNAm (~ 5%) – transporta a informação genética do DNA aos ribossomas, onde ocorre a
tradução. Encontra-se no citoplasma das células, em baixa proporção relativamente ao total
com um tempo de semivida curto devido à rápida síntese e degradação. São moléculas de
diversos tamanhos.

RNA de cadeia linear. A sua composição em bases reflete o DNA molde. A cadeia mantém-se
linear, sem adotar estruturas secundárias ou terciárias significativas, devido às proteínas que a
ela se associam.

RNAr (~ 85%) – encontra-se associado a proteínas entrando na constituição dos ribossomas.

RNAt (~ 10%) – transporta os aminoácidos assegurando a sua correta inserção segundo o código
genético do RNAm. Estas moléculas atuam como adaptadoras na síntese proteica. Apresentam
uma dupla interação: numa extremidade a molécula interage com o aminoácido e na outra com
o RNAm. Sendo dos RNAs de menor tamanho, o RNAt apresenta elevada complexidade
estrutural.

micro-RNAs – núcleo, nucléolo, citoplasma. São uma nova classe de RNAs endógenos com cerca
de 19 a 25 nucleotideos.

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Atuam como silenciadores pós-transcricionais, inibindo a tradução de mRNAs alvo e,
dependendo das condições fisiológicas, podem aumentar ou reprimir a tradução;

Análises bioinformáticas indicam que um único miRNA atua em diversos RNAs mensageiros. A
biologia destes miRNAs é, ainda, pouco conhecida. Suspeita-se da sua intervenção ao nível de
várias patologias: controlo da proliferação celular, morte celular, modulação de diferenciação
de linhagens hematopoiéticas.

Regulação por miRNA: Emparelhamento de modo imperfeito → Inibição traducional do alvo

Como os miRNAs possuem sequências pequenas não é necessário o emparelhamento completo.

miRNA e Patologia

Muitas doenças relacionadas com a idade estão associadas com a diminuição do controlo de
sinalização celular. Tem-se demonstrado que o controlo dos miRNAs em sistemas como o ciclo
celular, a reparação do DNA, as respostas ao stress oxidativo e apoptose tornam-se anormais e
expressam-se com a meia-idade.

Um único miRNA pode regular muitos mRNA-alvo. Há cooperação no controlo (um miRNA pode
regular 200 RNAs).

Vantagens da sua utilização:

✓ São bons para diagnóstico


✓ Marcadores de estado
✓ São utilizados para testar resistência
✓ Podem ser reintroduzidos artificialmente no organismo
✓ Impedem a progressão das doenças.

Estruturas do RNA

Ausência da aplicação das regras de “Chargaff”.

O RNA como polinucleótido pode formar fita dupla ou fita simples, linear ou circular. Podendo
mesmo apresentar uma hélice híbrida composta de RNA e DNA, com uma conformação
ligeiramente diferente da B – DNA.

Diferentes tamanhos e conformações nos vários tipos de RNA permitem-lhes realizar funções
específicas na célula.

RNAs catalíticos têm capacidade catalítica e são designados ribozimas, podem cortar cadeias de
RNA.

Alguns domínios do RNA podem catalizar o splicing de RNA. Numa sequência interna de RNA,
um intrão, é cortado e removido e as duas cadeias resultantes, exão, são seladas juntas
(moléculas de RNAm funcionais).

Várias conformações das moléculas de RNA

As estruturas secundárias de fita simples são formadas pelo emparelhamento de bases


complementares.

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➔ Estruturas tipo “grampos de cabelo” (hairpins) – 5 a 10 nucleótidos.
➔ “Hastes em alças” (stem-loops) – 50 a centenas de nucleótidos.

Fig.6 – Estruturas secundárias do RNA

Essas simples dobras podem formar estruturas terciárias mais complicadas e por dobramento
originam o “pseudonó” (pseudoknot).

Fig.7 – Estrutura terciária do RNA

Genética molecular
Replicação do DNA genómico

Vários DNAs genómicos de procariotas e muitos virais são moléculas circulares. Encontram-se
na mitocôndria como DNA mitocondrial.

Enzimas:

Topoisomerase I – alivia o stress de torção nas moléculas de DNA, quebrando ligações


fosfodiéster numa das cadeias. Quebra de uma das cadeias - nick. No final a enzima promove a
ligação das extremidades da cadeia.

Topoisomerase II – promove a quebra das duas cadeias de DNA em simultâneo. Liga de novo as
duas extremidades. Alivia o stress de torção e une as duas moléculas de DNA circular entre si.

DNA helicase: Quebra pontes de H.

DNA topoisomerase: Retira a tensão.

A replicação do DNA ocorre nos procariotas e eucariotas antes da divisão celular. Cada célula
filha fica com uma molécula de DNA igual à da célula mãe e outra sintetizada de novo –
replicação semiconservativa.

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Fig.9 – Replicação do DNA

Nas células eucariotas com cromossomas lineares e cadeia de DNA muito extensa, a replicação
é bidirecional e com muitas origens de replicação.

Na maioria dos genomas bacterianos, virais e nos plasmídios, constituídos por uma cadeia de
DNA circular, a replicação do cromossoma tem início numa única origem de replicação,
prosseguindo unidirecional (em plasmídios) ou bidirecional até que as cadeias filhas se
encontrem no polo oposto ao do início do processo.

Origem de replicação (ORI)

Constituída por múltiplas sequências repetitivas. As unidades repetitivas são reconhecidas por
complexos multiproteícos que, por sua vez, estão envolvidos no recrutamento da maquinaria
de replicação da célula para o local da origem de replicação;

A origem de replicação é, geralmente, flanqueada por sequências ricas em adeninas e timinas,


o que deverá facilitar o desenrolamento e a separação das duas cadeias que integram a molécula
de DNA a partir desse local, dado o menor número de ligações de hidrogénio envolvidas na
estabilização da dupla hélice.

DNA Polimerase

Enzima que catalisa a reação de síntese do DNA;

• Adiciona nucleótidos trifosfato (dNTPs) à extremidade 3’OH livre;

• Alongamento da cadeia de DNA feito sempre na direção 5’>3’ (endonuclease 5’>3’);

• Incapaz de fazer DNA do zero (precisa ter extremidade 3’OH livre);

• Possui mecanismo de correção de erros (exonuclease 3’>5’).

Enzimas envolvidas na replicação

A manutenção da hereditariedade implica que a passagem da informação genética à


descendência ocorra sem erros, exigindo uma capacidade de deteção e correção dos mesmos.
Há necessidade de mecanismos complexos de reparação ao longo da vida da célula.

Em procariotas (E.coli) foram identificadas DNA polimerases (I, II e III). I e III são essenciais na
replicação, enquanto a atividade da polimerase II está mais ligada aos processos de reparação.

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Em eucariotas identificaram-se 5 DNA polimerases (alpha-α, beta-β, gamma-γ, delta-δ e epsilon-
ε). A polimerase γ, localiza-se na mitocôndria sendo responsável pela replicação do seu
genoma. Todas as outras estão localizadas no núcleo e envolvidas na replicação e/ou reparação
do genoma nuclear.

As polimerases α, δ e ε são ativas em células em divisão sugerindo funções relacionadas com a


replicação. Enquanto a polimerase β funciona quer as células estejam ou não em divisão,
compatível com uma função mais de reparação do DNA.

Qualquer que seja a origem e tipo de polimerase, todas têm 2 características fundamentais:

1. Todas sintetizam DNA no sentido 5’- 3’, só podendo adicionar um novo dNTP ao grupo
3’-OH, originando uma cadeia avançada e outra atrasada.
2. Nenhuma é capaz de iniciar a síntese de novo de uma cadeia de DNA, pois só podem
adicionar um novo dNTP à extremidade 3’ de uma sequência de nucleótidos (DNA ou
RNA).

Estas características condicionam todo o processo de replicação.

Orientação reversa das cadeias; (DNA polimerases; RNA polimerases 5’- 3’)

As DNA polimerase são enzimas que, por complementaridade, presidem à síntese de

novas cadeias. Utilizam como substratos os trifosfatos 5’ de desoxirribonucleótidos (dNTPs) –


(dATP, dGTP, dCTP e dTTP), ligando o seu fosfato α ao OH-3’ do nucleótido previamente
incorporado, decorrendo a direção de polimerização de 5’ -- 3’.

As DNA polimerases não iniciam a reação. Assim, é necessário que enzimas do tipo RNA
polimerases, catalisem a síntese de um segmento de RNA – iniciador (primer), para que as DNA
polimerases possam atuar.

As DNA polimerases exercem, também, uma ação corretiva exonucleolítica 3’ -- 5’.

Helicases - separação das duas cadeias formando a bolha da replicação. Ao desenrolarem a


dupla cadeia formam a forquilha de replicação. A replicação ocorre bidirecionalmente.

Uma cadeia é sintetizada continuamente – cadeia líder, contínua e a outra descontinuamente


(fragmentos de Okazaki) cadeia atrasada, descontínua.

Exonucleases – remoção dos primers de RNA.

Ligases – ligação dos fragmentos Okazaki (Reiji Okazaki).

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Fig.10 – Atuação das enzimas

Tipos de DNA polimerase

• DNA polimerase I

– Descoberta em 1956 (Kornberg pai)

– Função precisa descoberta apenas em 1969: remove o primer de RNA da fita descontínua

• DNA polimerase III

– Descoberta em 1970 (Kornberg filho)

– Principal enzima que realiza a replicação em procariótas

• DNA polimerase II

– Lenta, envolvida na reparação do DNA

Regulação da replicação

A replicação do DNA está diretamente ligada com a regulação do ciclo celular. É um processo
muito bem controlado, de modo a que só o número correto de células necessário para formar
cada órgão e tecido seja produzido, tanto ao longo do desenvolvimento como durante a vida
do organismo.

O controlo do início da replicação e, em particular, da atividade da helicase, necessária para


que todo o processo se inicie, é fundamental.

Esta ativação é regulada por cinases proteicas, dependentes de ciclina e ativadas durante a
fase S do ciclo celular.

Do DNA à proteína
A informação contida numa dupla cadeia de DNA é transferida para uma cadeia simples de
mRNA – Transcrição

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A informação transcrita no mRNA é convertida segundo o código genético. → numa sequência
de aminoácidos – Tradução → PROTEÍNA

Na síntese proteica participam 4 tipos de RNA (mRNA, rRNA snRNA e tRNA).

mRNA – contém a informação transcrita do DNA e atua como intermediário do produto final
funcional (proteína) dos genes codificadores de proteínas (genes estruturais).

O rRNA e o tRNA são eles próprios os produtos finais funcionais de um pequeno nº de genes, o
tRNA transporta os aa até aos ribossomas – grandes complexos macromoleculares constituídos
por rRNA e proteínas onde se realiza a síntese proteica.

snRNA - Small RNA nuclear: miRNAs que formam complexos com proteínas e são usados no
processamento do RNA em eucariotas. (Não encontrados em procariontes)

Fig.11 – Diferentes tipos d RNA

Transcrição

• Processo semelhante à replicação, com base na rigorosa complementaridade entre


bases e interações específicas entre proteínas e DNA.
• Ocorre sempre que a célula necessita e em pequenas regiões do genoma.
• A síntese de RNA é catalisada na direção 5’ → 3’ pelas RNA polimerases utilizando como
substrato os trifosfatos 5’ de ribonucleótidos (ATP, GTP, CTP e UTP) – (rNTPs).
• Para cada gene é usada apenas a cadeia codificante do DNA (5’ → 3’).

Num gene:

• 1º nucleótido transcrito é denominado (+1)


• nucleótidos a montante do 1º - são numerados negativamente (-)
• nucleótidos a jusante – são numerados positivamente (+)
• as RNA polimerases podem iniciar cadeias
• não têm ação exonucleotídica 3’ → 5’

Fig.12- Porções de um gene

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Processo de transcrição. As duas cadeias de DNA são utilizadas como molde na transcrição de
diferentes genes.

Procariotas

➔ A maioria apresenta uma única RNA polimerase que catalisa a síntese dos RNAs;
➔ A enzima liga ao promotor, zona do DNA a montante da extremidade 5’ do gene (upstream
region);
➔ O promotor tem 2 regiões para início da transcrição:
1. sequência de consenso TTGACA(região -35);
2. sequência de consenso TATAAT (região -10).
➔ A localização das regiões -35 e -10 (Pribnow), determina qual das cadeias é a codificante e
de que modo a RNA polimerase liga ao DNA, determinando o sentido da transcrição.

A RNA polimerase reconhece a sequência TTGACA e liga fortemente à sequência TATAAT


provocando a separação das 2 cadeias. O processo é facilitado pelo facto da sequência de
Pribnow ser rica em A/T. A enzima ao caminhar desenrola e separa as cadeias.

O processo para quando a RNA polimerase encontra sequências nucleotídicas específicas


localizadas a jusante da extremidade 3’ da região codificante (down – stream region), que atuam
como sinais de terminação.

Os terminadores são normalmente sequências de ≈ 40 pb, finalizando numa sequência


palindrómica – Sequência com simetria bilateral em torno de um eixo perpendicular à dupla
cadeia de DNA, rica em G-C, seguida de 6 ou mais (A) na cadeia molde.

Forma-se uma estrutura em gancho (hairpin) na zona palindrómica G-C, devido às ligações
complementares do RNA. Esta estrutura, em conjunto com os 6 ou + resíduos de U, é o sinal
para separar da cadeia molde, tanto a RNA polimerase como o RNA sintetizado.

Fig.13 – Estrutura em gancho

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Fig.14 - Etapas da transcrição

A região codificante de um gene procariótico é contínua e o transcrito primário é igual ao


transcrito maduro utilizado na tradução.

Eucariotas
Há 3 RNAs polimerases: a polimerase I catalisa a síntese do rRNA, a polimerase II (mRNA e
miRNAs ) e a polimerase III (tRNA).

Num gene eucariótico as regiões codificantes são intercaladas com regiões não codificantes.
Apenas um reduzido nº de genes não possui intrões (histonas).

O pré-mRNA é processado (processamento), sofre modificações, e origina o mRNA maduro


(mRNA funcional).

Transcrição
É o 1º passo da expressão génica. A reação é catalisada pelas RNA polimerases, que, em conjunto
com outros fatores proteicos, transcrevem a informação do genoma em moléculas de RNA, de
cadeia simples, num processo de várias etapas.

Descompactação da dupla cadeia de DNA, expondo a cadeia molde.

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Os ribonucleótidos emparelham com os seus complementares na sequência de DNA.

Formação de ligações fosfodiester e produção da cadeia polirribonucleotídica.

A sequência de bases do RNA transcrito é complementar à cadeia molde, assegurando o fluxo


da informação génica.

Transcrição

Na extremidade 5’ do pré-mRNA é adicionada uma estrutura “capuz” (cap)/(5’), um


7metilguanilato ligado ao nucleótido terminal do RNA através de uma ligação trifosfato 5’,5’
incomum.

O cap protege o mRNA da degradação enzimática e ajuda na exportação para o citoplasma.


Sofre ainda a ligação de um fator proteico necessário para iniciar a tradução.

O processamento na extremidade 3’ do pré-mRNA envolve a clivagem por uma endonuclease


gerando um grupo 3’hidroxil livre ao qual são adicionados resíduos de adenina, um a um,
formando uma cadeia por ação da enzima poli (A) polimerase.

A cauda de poli (A) contém de 100 a 250 bases. A poli (A) polimerase faz parte de um complexo
de proteínas que pode localizar e clivar um transcrito num sítio específico e, então adicionar o
nº correto de resíduos A, num processo que não necessita de molde.

O passo final do processamento do mRNA dos eucariotas é o splicing do RNA – clivagem dos
intrões e ligação dos exões codificadores.

Os mRNAs eucarióticos funcionais retêm em cada extremidade regiões não-codificadoras,


referidas como regiões 5’ e 3’ não traduzidas (UTRs, untranslated regions)

Nos mRNAs de mamíferos, a UTR 5’ pode ter 100 ou mais nucleótidos, e a UTR 3’ pode ter vários
quilobases de comprimento. Os procariotas também podem apresentar UTRs, mas são muito
reduzidas.

O splicing pode ser feito de modo alternativo – ou seja, do mesmo gene, podem obter-se
diferentes proteínas em diferentes tecidos.

Fig.15 - Esquema de um gene estrutural eucariótico e da relação do seu tamanho com o correspondente transcrito maduro.

A presença de múltiplos intrões em diversos genes eucarióticos permite a expressão de


múltiplas proteínas relacionadas, a partir de um único gene, através do splicing alternativo.

Nos eucariotas superiores é um mecanismo importante para a produção de diferentes formas


de uma proteína, denominadas isoformas, em diferentes tipos celulares.

Ex: fibronectina, produzida por fibroblastos versus a produzida por hepatócitos.

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Genética molecular
A transferência da informação contida no mRNA é traduzida na sequência de aminoácidos da
proteína, seguida de um correto enrolamento. A síntese de uma proteína pode ser dividida em
cinco etapas:

1. Ativação do aminoácido
2. Iniciação
3. Elongação
4. Terminação e libertação
5. Enrolamento e processamento pós-tradução.

A Tradução da informação genética requer uma interação específica entre mRNA, ribossomas,
tRNAs carregados e um grande número de proteínas necessárias às três etapas envolvidas no
processo: iniciação, elongação e terminação.

A formação do complexo de iniciação ocorre com a associação da grande subunidade do


ribossoma.

RNA ribossómico

A maioria é constituída por rRNA, com 2 espécies.

A espécie maior e a menor, associadas a proteínas formam as


subunidades pequena e grande do ribossoma.

Durante a síntese proteica as subunidades associam-se e formam um


ribossoma.

Fig.16 - Ribossoma

Os tRNAs são pequenos (75 a 93 nucleótidos) com estrutura terciária em forma de L, adaptada
à síntese proteica. Possuem uma região de 3 nucleótidos para ligação ao mRNA (anticodão) e
ligam pela extremidade 3’ a um aa, através da enzima sintetase do aminoacil tRNA.

Quando um tRNA transporta um aa diz-se que está carregado. O mesmo aa pode ligar a várias
espécies de tRNA.

Procariotas

A iniciação da tradução ocorre por ligação de uma sequência de 8 nucleótidos (sequência de


Shine Dalgarno) rica em purinas localizada perto da extremidade 5’ do mRNA, a uma seq
complementar do rRNA da pequena subunidade ribossomal. Esta ligação coloca o codão de
iniciação no local P do ribossoma.

• O tRNA iniciador transportando uma metionina formilada é levado com a ajuda de


fatores de iniciação para o local P e pode ligar pelo seu anticodão 3’ - UAC - 5’;
• Segue-se a ligação da grande subunidade ribossomal – formação do complexo de
iniciação;
• mRNA só se move com o ribossoma completo;
• prossegue a elongação com a leitura do mRNA e ligações peptidicas;
• por fim a terminação com a síntese da proteína.

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Eucariotas

A tradução tem início com a ligação do tRNA


iniciador transportando a metionina à pequena
subunidade do ribossoma - iniciação.

O mRNA liga pela sua extremidade 5’ ao complexo


tRNA/pequena subunidade (40S) e vai migrando
até o anticodão do tRNA encontrar e ligar um AUG.

Finalmente associa-se a grande subunidade do


ribossoma (60S), para formar o complexo de
iniciação (80S).

Na subunidade maior encontramos o centro E,


local de saída do tRNA e o centro M, centro de
ligação do ribossoma à membrana do RER.

A elongação e a terminação ocorrem de modo


semelhante nos procariotas e nos eucariotas.

Fig. 17 – Fatores de iniciação

O processo de elongação envolve a formação de uma ligação peptídica entre 2 aa, sendo a
ordem destes determinada pelos codões no mRNA.

Fig.18 – Ciclo de elongação

No ribossoma, a subunidade menor, além do local P (centro peptidil), existe o local A (centro
aminoacil), onde se vão ligar todos os outros tRNAs, exceto o iniciador.

Quando em P está AUG, está exposto em A outro codão, que determinará qual o tRNA carregado
que se vai ligar pelo seu anticodão. O aa une-se pelo seu grupo amínico ao grupo carboxílico da
metionina através de uma ligação peptídica.

Assim, um aminoacil-tRNA liga-se ao complexo fator de elongação/GTP e aloja-se no centro A.


Segue-se o emparelhamento entre o anticodão do tRNA e o codão do mRNA no centro A. Em

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simultâneo ocorre a ativação do domínio GTPase com hidrólise do GTP e dissociação do
complexo.

A ligação peptídica ocorre na 2ª fase do ciclo, por deslocamento nucleofílico do tRNA do centro
P pelo grupo amino do aminoacil-tRNA do centro A. Fase designada por transpeptidação e
catalisada pela enzima peptidil-transferase, que estabelece a ligação peptídica entre o grupo
amina do aminoácido do centro A e o grupo carboxilo do outro aminoácido.

Posteriormente, ocorre a transferência do peptidil –tRNA do centro A para o centro P e a saída


do tRNA do centro P para o centro E e saída do ribossoma, enquanto todo o ribossoma se desloca
um codão no sentido 3’ do mRNA.

Esta etapa envolve ainda a participação do fator de elongação, que se liga ao ribossoma
juntamente com GTP, dissociando-se do ribossoma com hidrólise de GTP, permitindo o reinício
de novo ciclo de elongação.

Terminação e libertação

Há reconhecimento dos codões terminação pelos fatores de terminação. A ligação do fator de


terminação ao codão induz hidrólise da ligação do polipeptídeo ao tRNA. Este tRNA dissocia-se
do ribossoma com hidrólise de GPT e, de seguida o mRNA com fatores de terminação dissocia-
se do ribossoma, resultando um ribossoma inativo pronto a participar em nova síntese de
proteínas.

Fig.20 – Terminação e libertação

A cadeia polipeptídica sintetizada ao nível do ribossoma segue, pelo menos, o primeiro dos 3
processamentos seguintes:

18
Adriana Dourado
• Enrolamento da cadeia de forma a obter uma estrutura tridimensional;
• Clivagem proteolítica;
• Modificação química.

Para assegurar um enrolamento correto da estrutura terciária, o processo decorre com o auxílio
de chaperones moleculares (proteínas de choque térmico). As hsp70 são particularmente
importantes, ligam-se às zonas hidrofóbicas do polipeptídeo emergente, impedindo interações
incorretas intra e intermoleculares, até que toda a cadeia esteja sintetizada e a proteína possa
enrolar e enterrar estas zonas no seu interior, longe do ambiente hidrofílico do citoplasma.

Algumas proteínas necessitam de um enrolamento assistido, onde uma classe de chaperones,


as chaperoninas (hsp60/hsp10) ativamente promovem alterações conformacionais na cadeia
polipeptídica substrato, de forma a atingir o estado nativo e funcional.

Após o enrolamento muitas proteínas neossintetizadas ainda não apresentam atividade


biológica e necessitam sofrer alterações para adquirir a sua função. Esta depende do local
intracelular final do polipeptídeo ativo. Estão descritas várias modificações: clivagem
proteolítica, glicosilação, acilação, acetilação, metilação, fosforilação, sulfanação, hidroxilação,
carboxilação, ubiquitinação.

Código genético

A conversão dos nucleótidos do mRNA em aa durante a tradução é mediada pelo código


genético.

• O código genético é semelhante a um dicionário que estabelece uma equivalência entre


as bases nitrogenadas do RNA e a linguagem das proteínas estabelecida pelos
aminoácidos;
• Há 61 codões que codificam para 20 aminoácidos;
• Há 3 codões stop.

Fig.21 – Tabela de tripletos

1. É universal, utilizado por quase todos os seres vivos; com exceção de bactérias e
mitocôndria.
2. Cada tripleto tem o seu próprio significado.
3. Todos os tripletos têm sentido: codificam um aminoácido ou indicam a terminação da
leitura.

19
Adriana Dourado
4. Há vários tripletos para o mesmo aminoácido, isto é, há codões sinónimos.
5. É unidirecional, os tripletos lêem-se no sentido 5' - 3'.

Transferência de informação – Regulação da expressão génica


A regulação da expressão genética é um processo complexo e multifatorial.

A expressão dos genes que codificam as proteínas necessárias ao indivíduo depende do


desenvolvimento celular.

A regulação da expressão de um gene pode ser feita em diferentes etapas: transcrição e/ou
tradução.

Eucariotas

Nos eucariotas pode ainda, efetuar-se ao nível


da estrutura da cromatina, do processamento,
do transporte do núcleo para o citoplasma e da
degradação no citoplasma dos mRNAs.

Não sendo de todo conhecido, pensa-se que


talvez por razões energéticas, a célula utiliza
mecanismos que regulam o início da transcrição.

Os genes estruturais que codificam proteínas da


mesma via metabólica são normalmente
contíguos e coordenadamente controlados,
formando um operão.

O operão é transcrito numa única molécula de


mRNA, contudo é possível a formação de várias
proteínas, porque o codão de terminação de
cada um dos genes está muito próximo do codão
iniciação do gene seguinte.
Fig.22 – Transcrição e tradução de uma célula eucariota

A região entre a sequência de Pribnow no promotor e o nucleótido +1 chama-se operador e é


essencial para a regulação da transcrição do operão.

Fig. 23 – Operão IAC

• Operões indutíveis – catabolismo de substratos (açúcares)


• Operões repressíveis – anabolismo de substâncias (aa)

20
Adriana Dourado
• Regulação negativa – proteína repressora
• Regulação positiva – proteína ativadora

Fig.24 – Anabolismo vs. Catabolismo

• Operões indutíveis – catabolismo de substratos (açúcares)


• Operões repressíveis – anabolismo de substâncias (aa)

Regulação negativa dos operões indutíveis: ausência de indutor / ligação do repressor →


bloqueio da transcrição.

Regulação negativa de um operão indutível na presença do indutor: liga o repressor, modifica-


se o complexo → transcrição. (Habitualmente na presença de substrato)

Regulação negativa de um operão repressível

Na regulação negativa dos operões repressíveis (operão do triptofano) há um repressor inativo


(apo-repressor). Ausência/Concentrações reduzidas do produto em formação não permitem
ligação ao operador, há transcrição.

Quando a substância a ser sintetizada existe em quantidade suficiente, (co-repressor) liga-se ao


repressor inativo, alterando a sua configuração. O complexo apo-repressor/co-repressor já
possui afinidade para o operador, impedindo que a RNA polimerase se mova ao longo do DNA,
não há transcrição.

Regulação positiva de um operão bacteriano

Na regulação positiva de um operão bacteriano é necessária a ligação de uma proteína ativadora


ao promotor para aumentar a afinidade da RNA polimerase permitindo a transcrição do operão.

Se o ativador é inativo, não liga ao promotor e não há transcrição. Para se tornar ativo necessita
uma ligação a uma molécula efetora. Pode acontecer que o ativador seja ativo e, ao ligar-se a
outra pequena molécula, torna-se inativo.

21
Adriana Dourado
A – Na ausência do ativador do promotor não
há ligação correta da RNA polimerase e não há
transcrição

B – Na presença do ativador aumenta a


afinidade da RNA polimerase para o promotor
e há transcrição do operão.

A – Ativador ativo; AI – Ativador inativo; E –


Molécula efetora.

Fig.25 – Regulação da transcrição

Regulação da transcrição do mRNA em Eucariotas

Nas células eucariotas ativas é transcrito um nº de genes estruturais que permite manter as
funções celulares normais. Alguns genes estruturais são expressos em determinadas células
conferindo-lhes propriedades específicas. O processo de regulação da transcrição em eucariotas
é complexo e mediado por fatores de transcrição (FT).

A maior parte destes fatores liga diretamente a pequenas sequências do DNA – elementos
iniciadores.

O promotor pode incluir a região de -40 a -250 (relativamente ao local de iniciação +1), mas o
núcleo do promotor localiza-se, habitualmente a -40 do local de iniciação. O promotor contém
algumas sequências consenso como TATA box, CAAT box e GC box. A TATA box, idênticas à
sequência -10 dos procariotas

A TATA box encontra-se em muitos promotores eucariotas e localiza se cerca de 25 a 30 pb a


montante do ponto de iniciação da transcrição.

A CAAT box consiste na sequência de consenso CAAT, importante para a eficiência do promotor.

A GC box contém a sequência GGGCGG e pode estar presente em múltiplas cópias e em ambas
as orientações.

Há outras sequências de DNA que regulam a transcrição pela

RNA polimerase II:

• Ativadores
• Silenciadores

Estes não fazem parte do promotor, podem localizar-se muito afastados do gene.

Existem os fatores gerais de transcrição, que fazem parte da maquinaria transcricional basal e
são suficientes à promoção de um nível basal de transcrição.

22
Adriana Dourado
Estes fatores formam um complexo com as RNA polimerases, constituindo a maquinaria
transcricional basal, e determinam o início da transcrição.

Os fatores de transcrição gerais da RNA polimerase II denominam se TFII seguidos de uma letra,
ex TFIID.

1. Início da transcrição de um gene eucariótico com o promotor TATA box é a ligação do


fator de transcrição IID (TFIID) à sequência TATA;
2. Os fatores IIA e IIB ligam a TFIID e à região do DNA adjacente à sequência TATA box;
3. A RNA polimerase II associada a IIF, pode agora ligar ao promotor;
4. Início da transcrição no local correto com a ajuda dos fatores IIE, IIH e IIJ.

A simples alteração de 1 único par de bases na sequência TATA box é suficiente para bloquear a
transcrição.

Um mecanismo muito utilizado pela célula para a regulação da atividade dos fatores de
transcrição são pequenas moléculas efetoras como as hormonas esteróides. São lipossolúveis e
passam a membrana celular por difusão. Na célula ligam a recetores específicos, entram no
núcleo e ligam com elevada afinidade a um elemento de resposta do gene permitindo o início
da transcrição.

Distribuição celular de proteínas

Grande parte das proteínas de uma célula eucariótica são codificadas no núcleo e sintetizadas
no citoplasma. Após tradução citoplasmática, as proteínas são direcionadas para os locais
apropriados dentro e fora da célula. Dependendo da sua localização podemos distinguir vários
tipos de proteínas:

a) proteínas citoplasmáticas;
b) proteínas associadas a estruturas macromoleculares do citoplasma;
c) proteínas do núcleo;
d) proteínas dos vários organitos citoplasmáticos;
e) proteínas do sistema retículo endotelial que inclui várias estruturas como retículo
endoplasmático, aparelho de Golgi e lisossomas;
f) proteínas que são transportadas para o exterior.

As proteínas são dirigidas para o local correto tendo em conta a informação devido às
sequências sinal próprias.

Ciclo celular
Citogenética é a ciência que envolve o estudo da constituição genética celular através dos
cromossomas.

Estudos de cariótipo constitucional, diagnóstico pré-natal citogenético, diagnóstico pós-natal


citogenético, infertilidade, autismo, estudos familiares, atraso psicomotor.

Citogenética convencional, citogenética molecular, citogenética molecular-FISH, biologia


molecular e citogenómica.

O ciclo celular compreende o espaço temporal entre a divisão de uma célula e a divisão de uma
das suas filhas.

23
Adriana Dourado
Nos seres unicelulares o ciclo celular é fundamental para que as espécies se mantenham ao
longo do tempo.

Nos seres multicelulares o processo é muito diferente. Os organismos são constituídos por
diversos tecidos que se mantêm pela proliferação das células estaminais. Cada tecido tem um
nº reduzido de células estaminais. As células progenitoras originam células diferenciadas. Por
fim as células em apoptose são removidas. A manutenção dos organismos multicelulares requer
altos níveis de proliferação.

Fig. 26 – Etapas do ciclo celular

Interfase: Inicia no fim da mitose e estende até iniciar a próxima mitose.

Mitose: Reprodução celular com as seguintes finalidades:

• Nos unicelulares: reprodução


• Nos pluricelulares: crescimento do organismo, reposição das células que morrem,
cicatrização ou regeneração dos órgãos e tecidos.

Processo transversal a todas as células.

Fase G1 – crescimento celular para iniciar novo ciclo proliferativo. Estudos revelaram que a
célula mede o seu tamanho e a qualidade do meio envolvente.G1 é uma fase importante onde
mecanismos moleculares avaliam as condições fisiológicas e do meio ambiente definindo o
futuro da célula.

Na ausência de sinais indutores de proliferação (fatores de crescimento) permanece em G1 ou


inicia a diferenciação.

As condições ambientais são essenciais para a proliferação e origem de duas novas células. Esta
avaliação é fundamental, pois o ciclo celular é unidirecional.

Ultrapassado o restriction point, a célula entra na fase S – replicação do DNA.

Fase G2 preparação para a fase final, mitose M, com segregação dos cromossomas e todos os
outros componentes celulares, conduzindo à formação das células filhas.

24
Adriana Dourado
Fig.27 – Controlos no ciclo celular

Mecanismos moleculares avaliam as condições fisiológicas e do meio ambiente definindo o


futuro da célula.

Variantes:

Fase G1 a G0 – a célula somática sai do ciclo celular mantendo-se quase por tempo
indeterminado num estadio de metabolismo muito baixo.

Endorreduplicação as células entram em fase S contínua.

Poliploidia o nº de cromossomas aumenta, contudo, a célula realiza quase todas as fases, mas,
sem divisão celular completa. No final a célula apresenta muitos núcleos, ou seja, múltiplas
cópias do genoma.

Ciclo celular somático e embrionário

Nos organismos multicelulares, encontram-se 2 tipos de células, associadas a dois tipos


diferentes de ciclo celular.

1. Células somáticas responsáveis pela formação e manutenção dos tecidos. Consideram-


se sistemas abertos, em que a célula obtém todos os nutrientes do meio ambiente,
levando ao crescimento celular. Habitualmente o crescimento resulta em ciclos
celulares lentos (célula humana 24h, aprox.).
2. Células embrionárias são células que durante a embriogénese têm a multiplicação
como função principal. Alguns tipos de células caracterizam se por serem sistemas
fechados em que todos os nutrientes foram depositados maternamente no oócito, onde
a célula apenas necessita de humidade e oxigénio ambiental.

Importância do fator de promoção da maturação (MPF) na meiose e mitose, comprovado no


laboratório.

Mitose: processo biológico no qual uma célula somática se divide em duas geneticamente iguais
(2n).

25
Adriana Dourado
Fig.28 – Fases da Mitose

Profase – início da condensação dos cromossomas; cada cromossoma apresenta 2 cromatídeos;

centríolos organizam o fuso acromático.

Metafase – máxima condensação dos cromossomas; centríolos nos polos; cromossomas na


placa equatorial.

Anafase – divisão do centrómero e separação dos cromatídeos.

Telofase – reorganização do invólucro nuclear; descondensação gradual dos cromatídeos;


ocorre a nucleocinese; alterações da estrutura do citoesqueleto e redistribuição equitativa dos
organitos celulares.

Citocinese

A fase M é dominante sobre qualquer outra fase do ciclo celular.

O MPF não é um fator necessário apenas durante a maturação do ovócito, mas parece
permitir que uma célula qualquer entre em mitose.

Bioquímico - o aumento da atividade do MPF, inicialmente descrito durante a maturação dos


ovócitos, mais tarde foi demonstrado sempre que uma célula entrava em mitose.

Genética - o MPF era composto por 2 proteínas, uma ciclina e uma proteína tipo cdc2. A ciclina
é necessária para ativar a subunidade catalítica (cinase). Isto levou à alteração da designação
do complexo. Passando as cinases a designarem-se por cinases dependentes de ciclinas, do
inglês ciclin dependent kinases (Cdk).

Foi demonstrado que o MPF era constituído por duas subunidades que em conjunto possuem
atividade cinase. Uma célula avança para a fase seguinte do ciclo celular porque se forma um
complexo Cdk/ciclina, que tem como objetivo principal direcionar a atividade cinase do
complexo para localizações subcelulares específicas e substratos específicos. A fosforilação
destes substratos modifica a sua atividade biológica, desencadeando os eventos
correspondentes da fase do ciclo para a qual são específicos.

26
Adriana Dourado
Há várias famílias de ciclinas com expressão e síntese nas diferentes fases do ciclo celular.

Fase G1 - Ciclina D;

Fase S - Ciclinas A e E ;

Fase M - Ciclina B.

As fases do ciclo celular caracterizam-se pela síntese de ciclinas específicas. A sua degradação
é necessária para a célula passar à fase seguinte, tornando o ciclo unidirecional.

Ciclinas

A degradação das ciclinas é realizada pela via da ubiquitina.

Na fase G1 é sintetizada a ciclina D;

Na replicação do DNA, as ciclinas A e E (ciclinas S);

Em G2 e M, as ciclinas mitóticas (M).

Fig.29 – Concentração de ciclinas ao longo do ciclo celular

Diferentes ciclinas são sintetizadas nas diferentes fases e posteriormente degradadas via
ubiquitina.

A regulação dos processos decorrentes das duas transições mais importantes do ciclo celular
são: G1-S e G2- M.

A transição G2-M leva a célula a iniciar o processo de divisão (bastante complexo). A célula tem
de acabar a replicação do DNA e, para se dividir, tem que fazer uma reorganização completa do
seu núcleo e citoplasma.

Estes eventos ocorrem num período, no qual, a célula não pode usar a regulação da expressão
génica para resolver qualquer eventual problema.

A divisão celular decorre numa fase altamente instável em que muitos dos eventos estão
associados a alterações pós-traducionais de inúmeras proteínas ou resultam da degradação de
proteínas.

Conceito de Checkpoint – sistema de regulação que monitoriza a execução de um determinado


evento durante o ciclo celular e, caso não seja concluído corretamente, inibe o início de novos
eventos. Há 3 aspetos que são monitorizados de forma muito rigorosa:

1. Estrutura do DNA;
2. Replicação do DNA;
3. Ligação dos cromossomas ao aparelho mitótico

27
Adriana Dourado
Se detetados erros, a célula pode parar na transição (G1-S), na (G2-M) ou durante a
prometafase, e permitir tempo extra para completar estes eventos corretamente.

O checkpoint durante a mitose monitoriza a ligação dos cromossomas aos microtúbulos do fuso.
Se incorreta impede a saída da mitose.

Checkpoint que monitoriza a estrutura do DNA – a integridade da molécula de DNA é essencial


para que a organização biológica se mantenha e funcione corretamente. A célula para se dividir
tem de replicar o seu genoma, processo altamente complexo que pode levar a erros. A simples
exposição ao meio ambiente natural, envolve raios UV e substâncias químicas que atacam o
DNA originando lesões.

Quando o DNA sofre quebras de cadeia simples ou dupla é ativado um conjunto de mecanismos
que impedem a progressão ao longo do ciclo celular ou, ativam os mecanismos responsáveis
pela reparação do DNA.

Cinases ativam cinases (Chk1 e Chk2) que regulam a atividade dos complexos Cdk/ciclina
modificando proteínas como a cdc25A, que pode ativar complexos Cdk-ciclina em G1 e ou em S
diretamente.

Podem também fosforilar a proteína supressora de tumores p53, o que leva à ativação da
transcrição da proteína p21, inibindo os complexos Cdk-ciclina diretamente.

Alterações na estrutura ou replicação do DNA conduzem à ativação dos mecanismos


moleculares responsáveis pela paragem do ciclo celular, permitindo a reparação do erro e a
manutenção da estabilidade genómica.

Citogenética

Meiose: processo de divisão celular que leva à formação de gametas, em que o nº de

cromossomas é reduzido para n. Divide-se em meiose I e meiose II.

Profase I - muito longa e com várias fases.

Leptóteno – início da condensação dos cromossomas;

Zigóteno – reconhecimento entre cromossomas homólogos por mecanismos, ainda


desconhecidos, seguidos de emparelhamento através de sinapses. A membrana nuclear parece
ter um papel importante na ligação dos cromossomas através dos telómeros, auxiliando o
reconhecimento entre homólogos.

O emparelhamento dos cromossomas homólogos leva à formação de cromossomas bivalentes


ou tétradas, cada um com 2 cromatídeos.

28
Adriana Dourado
Fig.30 – Mitose I e mitose II

Paquíteno – fase particularmente longa e, após estabilização das sinapses, ocorre a


recombinação, por mecanismos de crossing-over, processo durante o qual, os cromossomas
homólogos trocam material genético equivalente entre si através de pontos de contacto
(quiasmas) implicando a quebra da dupla cadeia de DNA e sua posterior reparação.

Diplóteno – fase com prolongamento da recombinação caracterizada por uma

intensa atividade de transcrição.

Diacinese – os cromossomas homólogos começam a separar-se, permanecendo unidos pelas


pontas. Segue-se a dissolução da membrana nuclear com formação do 1º fuso acromático e
migração dos cromossomas para a placa metafásica com alinhamento durante a metafase I.

Na anafase I, os cromossomas homólogos migram para os polos originando a telofase I, com 2


células, cada uma com metade dos cromossomas da célula original, ou seja, 2 cromatídeos. A
meiose I designa-se como uma divisão redutora ou reducionista.

Após uma intercinese muito curta inicia-se a meiose II. Corresponde a uma mitose, com
formação de um 2º fuso acromático em metafase II. A separação dos 2 cromatídeos de cada
cromossoma em anafase II e a formação de células filhas em telofase II. O resultado da meiose
serão 4 células haplóides (n) a partir de uma única célula diploide (2n).

A recombinação entre homólogos potencia a variabilidade, já que, em cada célula haplóide,


existe um cromossoma com genes que foram trocados com o seu homólogo durante a meiose
I.

A recombinação que ocorre durante a meiose envolve proteínas coesinas, que têm um papel
fundamental na manutenção dos cromatídeos irmãos unidos durante a fase inicial da mitose.

As coesinas desencadeiam a formação do complexo de recombinação, recrutando outras


proteínas com função de quebrar e reparar hélices de DNA, permitindo a recombinação. Pensa-
se que o complexo sinaptonémico estabiliza o complexo de recombinação formando uma

29
Adriana Dourado
estrutura sobre a qual as diferentes proteínas se associam e ligam os cromossomas homólogos.
É altamente especifica; unindo cada ponto do cromossoma com o seu correspondente.

Possíveis erros no processo da meiose, como problemas durante a recombinação, ou com a


migração de cromossomas homólogos ou cromatídeos irmãos para o mesmo polo durante as
anafases I e II (em vez de polos opostos), resultando em gametas com mais ou menos
cromossomas do que o esperado – gametas portadores de aneuploidias. Se estes gametas
contribuem para um embrião, este irá ter um complemento errado de cromossomas e,
provavelmente será inviável.

Exemplos conhecidos incluem a trissomia 21, síndroma de Turner (XO; falta de um cromossoma
sexual) ou síndroma de Klinefelter (XXY; presença de 2 cromossomas X), entre outras. É
interessante verificar que a meiose masculina parece ser mais sensível a anomalias, abortando
o processo de espermatogénese caso haja problemas.

Em oposição, anomalias durante a oogénese tendem a aumentar exponencialmente após os 35


anos, devido a um alinhamento deficiente de cromossomas nas placas metafásicas I e II,
resultando na migração anormal de cromossomas durante a anafase I e II. Razão pela qual, a
idade da mãe é um critério clínico que pode motivar um rastreio pré-natal mais rigoroso, de
modo a detetar eventuais deficiências cromossómicas no feto.

Meiose: processo de divisão celular em que o nº de cromossomas é reduzido para n na formação


de 4 gametas.

Classificação dos cromossomas em função da posição dos braços curto (p) e longo (q) e do
centrómero:

Fig. 31 – Tipos de cromossomas

Mecanismos de mutação
Mutações: Modificações permanentes provocadas na sequência do DNA.

A taxa de mutação define o número de mutações / gene / geração.

As taxas de mutação na espécie humana refletem a probabilidade de ocorrer uma modificação


grave num gene e não a totalidade das mutações que um gene ou que o genoma pode sofrer.
As taxas apenas evidenciam as mutações que se expressam.

A taxa de mutação do DNA mitocondrial é 5 a 10 vezes superior à do DNA nuclear.

No DNA mitocondrial a capacidade de reparação é menos eficiente e tem um ambiente


altamente mutagénico, resultante da produção de radicais livres durante a respiração.

A probabilidade de ocorrer uma mutação num gene depende de:

30
Adriana Dourado
• Fatores intrínsecos (mutações espontâneas);
• Fatores extrínsecos (mutações induzidas);
• Erros de replicação.

Fatores intrínsecos:

• Extensão do gene;
• Número e extensão dos intrões, variam a probabilidade de erro durante o splicing;
• Nas posições ocupadas por bases púricas pode ocorrer depurinação do DNA, ficando um
lugar apurínico por perda de uma base púrica. Há interrupção da ligação glicosídica
entre a base e a desoxirribose.

Fatores extrínsecos:

• Agentes ambientais de natureza química e de natureza física.


• Agentes químicos: incorporação no DNA de análogos das bases normalmente
encontradas;
• Agentes de natureza física: radiações ionizantes associadas a troca de bases ou quebra
da dupla cadeia de DNA e radiações não ionizantes capazes de provocar ligações
covalentes entre bases pirimídicas adjacentes.

Tipos e locais de mutações

Mutações ao nível do gene - génicas:

• Substituição de uma base e posterior


alteração de um codão;
• Deleção parcial ou total;
• Duplicação ou inserção de um gene.

As mutações cromossómicas podem ser:

• muito extensas implicando alterações


do número – numéricas
• estruturais – estrutura dos
cromossomas.

31
Adriana Dourado
Alterações génicas:

Mutações génicas são mudanças repentinas que ocorrem nos genes, ou seja é um processo, no
qual o gene sofre uma mudança estrutural.

As mutações diferem das aberrações por serem alterações pontuais envolvendo a alteração ou
substituição de um ou poucos nucleótidos na cadeia de DNA.

Quando está envolvida uma única base → mutações pontuais

Podem resultar da substituição de uma base por outra ou da inserção ou deleção de uma única
base. Podem funcionar como mutações sinónimas, mutações “missense” ou mutações
“nonsense”.

• Transição: quando uma purina é substituída por outra purina ou uma pirimidina por outra
pirimidina;

• Transversão: Quando uma purina é substituída por uma pirimidina ou vice-versa;

Mutações sinónimas (ou silenciosas): Responsáveis por cerca de 25% das mutações pontuais;
Resultam da substituição de uma base nucleotidica, em posição que não altera a codificação
para o aminoácido em questão, embora altere o codão.

Ex: mutações sinónimas pontuais: do codão UCU para UCC, UCA, UCG, sem que se altere a
codificação para serina ou a alteração do codão CGU para CGC, CGA ou CGG, mantendo-se a
codificação para arginina.

A presença de um codão alternativo para um mesmo aminoácido pode interferir com:

• precisão;
• velocidade da transcrição de mRNA;
• velocidade e a precisão da tradução devido à reduzida;
• disponibilidade de moléculas de tRNA específicas.

Mutações “missense”: ocorrem por substituição de uma base nucleotidica de forma que o
codão resultante codifica um aminoácido diferente. As consequências patogénicas deste tipo de
mutação pontual podem ser moderadas ou graves, tendo em consideração a intensidade com
que afeta a atividade funcional da proteína que o gene codifica.

Ex: mutação “missense”: alteração do codão 6 do mRNA produzido a partir do gene da β globina
mutado, de GAG para GUG. Esta alteração leva à substituição do aminoácido glutamina por
valina. Tem um efeito patogénico traduzindo-se em drepanocitose ou anemia falciforme. A
alteração de apenas um aminoácido altera a hemoglobina adulta normal (Hb A) para
hemoglobina S (Hb S).

Mutações “nonsense”: alterações pontuais do DNA que convertem um codão que codifica um
aminoácido em codão “stop” no RNA (UAA, UAG, UGA). Presença de um codão “stop” (em
posição anormal), fim da tradução da proteína leva à formação uma proteína truncada. Se a
mutação for proximal (em relação à extremidade 5’ do gene) o polipéptido traduzido não terá
atividade funcional e será rapidamente degradado.

Mutação frameshift é um tipo de mutação pontual que leva à substituição de um único


nucleótido por outro. Por vezes, o termo mutação pontual inclui, também inserções ou deleções
de um único par de bases. Na mutação frameshift o efeito é mais adverso ao nível da síntese de

32
Adriana Dourado
proteínas, uma vez que os nucleótidos continuam a ser lidos em tripletos (codões), mas com
sequências diferentes.

Mutações dinâmicas: Correspondem ao aumento do número de unidades repetidas.


Tipicamente são tripletos; o aumento de repetições ocorre durante a meiose ou nas fases
precoces do desenvolvimento fetal, por instabilidade mitótica e normalmente não afeta a
normal expressão do fenótipo. Porém, na transmissão entre gerações o número de repetições
varia e após um determinado número de tripletos manifesta-se o efeito patogénico, variável
com as patologias.

Quanto ao local:

• Regiões génicas codificadoras (exões): alteram o mRNA e, na maioria das vezes, a


composição dos aminoácidos em proteínas.
• Regiões não codificadoras (intrões): habitualmente, não afetam a composição dos
aminoácidos nas proteínas.

Mutação → Doença genética

Quando uma mutação altera uma proteína que tem um papel importante pode originar doença.
Uma patologia causada por mutações em um ou mais genes é uma doença genética. Contudo,
apenas uma reduzida percentagem de mutações causa doenças genéticas; a maioria não tem
impacto na saúde.

Como exemplo, algumas mutações alteram a sequência de bases de DNA de um gene, mas não
mudam a função da proteína produzida por esse gene.

Consequências das mutações:

• Patogenicidade de uma mutação.


• Mesmo gene diferente mutação diferente patologia.
• Efeito pleiotrópico.
• As mutações podem ser prejudiciais, neutras ou benéficas.
• Mutações de expressão tardia.
• Mutações somáticas.

Reparação do DNA

• Taxa de erro por par de bases é inferior a 10-9.


• Pontos de restrição.
• Proteínas com capacidade para reconhecerem as lesões do genoma e para repararem
essas lesões ou as assinalarem, para que outras proteínas procedam à sua reparação.
• A eficiência da reparação do DNA não é igual ao longo do genoma, sendo mais eficaz
junto dos genes que estão a ser transcritos.
• Com a mutação pode surgir um clone celular com capacidade tumoral.

33
Adriana Dourado
Citogenética

Ramo da genética que se dedica ao estudo da célula, mais propriamente aos cromossomas.

Análise dos cromossomas e as doenças relacionadas com a alteração da sua estrutura e/ou
número.

1. Convencional: Constitucional e Oncológica


2. Molecular: FISH (Hibridização in situ Fluorescente) CHH (Hibridação genómica
comparativa) SKY (Cariótipo espectral)

Cromossoma

➔ Estruturas complexas compostas por DNA e proteínas associadas.


➔ Localizados no núcleo da célula.
➔ Transportam toda informação de hereditariedade de um organismo.
➔ Padrão de bandas que é constante de indivíduo para indivíduo.

Cromossomas Humanos

23 pares (46 total)

Autossomas = 22 pares (44 total)

Par de autossomas: Cromossomas Homólogos: mesmo tamanho e forma → Um da mãe outro


do pai

Cromossomas sexuais =1 par (2 total)

Cariótipo

Representa o nº total de cromossomas de uma célula somática. Conjunto cromossómico


diplóide (2n) de uma espécie.

• Cariograma (imagem dos cromossomas)


• Ideograma (esquema dos cromossomas)

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Fig.32 – Cariótipo Humano

Há décadas que o cariótipo se destaca no diagnóstico de diferentes condições genéticas


constitucionais e adquiridas.

Faz parte da rotina de diferentes áreas e especialidades médicas, tais como reprodução humana,
medicina fetal, genética humana, neonatologia, pediatria, neurologia, dermatologia,
hematologia oncológica.

1882: Cromossomas humanos; Water Flemming (descoberta da mitose)

1888: Von Waldeyer introduziu o termo cromossomas (colored bodies)

1956: Tjio e Levan – Técnicas de análise cromossómica: 2n=46

1970: Técnica de bandas → Identificação de cromossomas.

Diagnóstico Pré-Natal

• Idade materna avançada;


• Alterações fetais estruturais detetadas ecograficamente;
• Rastreio bioquímico positivo;
• Rastreio de patologias hereditárias.

Diagnóstico Pós-Natal

• Infertilidade (primária ou secundária);


• Abortos espontâneos (recorrentes);
• Crianças com anomalias congénitas;
• Crianças com atraso mental, de desenvolvimento e/ou de crescimento.

Diagnóstico Hemato-Onclógico: Leucemias (LMC, LMA, LLC, LLA e LA), Neoplasias das células B,
Síndromes mielodisplásicos, Síndromes mieloproliferativos, Pancitopenias, Neutropenias,
Anemia aplástica, Mieloma Múltiplo, Linfomas leucemizados, Recidivas, Follow – up.

FISH (Fluorescence In Situ Hybridization)

• Citogenética molecular;
• Utiliza sondas de DNA marcadas com fluorescência;
• Deteta anomalias cromossómicas que estão para além do poder de resolução da
citogenética convencional;
• Ex: microdeleções e rearranjos cromossómicos complexos.

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Bandeamento

Cromossomas podem ser corados com vários corantes. Regiões que coram escuro, replicam
tarde na fase S do ciclo celular, contêm cromatina mais condensada. As bandas claras
geralmente replicam na fase S inicial, e têm cromatina menos condensada.

Bandas G

A coloração com Giemsa dá aos cromossomas o padrão de bandas claro, escuro. Os


cromossomos são desproteinizados por ação da tripsina. Regiões ricas em pares de bases
adenina (A) e timina (T) (pobres em genes) coram mais escuro. A cromatina menos condensada,
(rica em GC) mais ativa na transcrição, incorpora menos corante (Giemsa) e apresenta bandas
claras. Menor condensação dos cromossomas, mais bandas no bandeamento G.

Tipos de bandas

Bandas Q: quinacrina mustarda, (fluorescente) apresenta, faixas com diferentes intensidades de


fluorescência.

Bandas R: solução salina e calor para uma desnaturação coloração com Giemsa. Representa o
inverso produzido pelos bandeamentos Q e G.

Bandas C: solução de hidróxido de bário e coloração com Giemsa. DNA altamente repetitivo,
correspondendo à heterocromatina constitutiva.

Bandas T: marcam as regiões teloméricas dos cromossomas.

Organização dos cromossomas humanos (Convenção de Denver)

Fig.33 – Grupos de cromossomas

Nomenclatura Citogenética:

• Indicação do nº de cromossomas, seguida de vírgula e dos cromossomas sexuais ex.: 46,


XX ou 46, XY
• Indicação de braço curto (p), braço longo (q), região, banda e sub-banda ex.: 1 q 42 ou
1 q 42.1

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• Descrição das alterações: Numéricas e Estruturais

Alterações numéricas: Trissomia (+), Monossomia (-) (normalmente letal), Triploidia (3 N):69,
Tetraploidia (4 N): 92

deleção (del) – terminal, intersticial ex: del(1)(q23) ou del(1)(q21;q31)

duplicação (dup) ex.: dup(1)(q21;q31)

Cromossoma em anel (r): ex.: r (6)

Contributo da citogenética na orientação terapêutica

Na Leucemia Aguda os achados de bom prognóstico adiam o transplante de medula óssea. Em


oposição os achados de mau prognóstico implicam o transplante.

Nas síndromes mielodisplásicas em nos idosos a citogenética favorável convida ao tratamento.


A desfavorável desaconselha.

Conclusões:

• Análise citogenética de células leucémicas tem provado ser uma parte obrigatória no
diagnóstico e prognóstico de hemopatias malignas;
• Anomalias citogenéticas contribuem para a definição de subgrupos relativamente
homogéneos de hemopatias malignas;
• Achados citogenéticos demostraram ser poderosos indicadores na predição da evolução
clínica e orientação terapêutica;
• Citogenética também fornece informações importantes sobre a compreensão dos
processos de transformação maligna;
• Apesar de ter um procedimento de fácil execução técnica, requer pessoal especializado;
• Em plena era molecular, a citogenética convencional mantém ainda um importante
valor diagnóstico, prognóstico e follow – up.

DNA Mitocondrial
As mitocôndrias são organitos
dinâmicos limitados por 2 membranas.
Possuem um genoma próprio,
molécula circular de DNA, que codifica
algumas proteínas e componentes do
seu sistema de síntese proteica.
Contudo, a maior parte das proteínas
mitocondriais são codificadas no DNA
nuclear, sintetizadas no citoplasma e,
posteriormente, enviadas para a
mitocôndria.
Fig.34 - Mitocondria

Presentes nas células eucarióticas e responsáveis pela obtenção da maior parte da energia
necessária às células.

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Apresentam morfologia muito variável, podendo ocorrer sob diversas formas – redonda, oval e
em bastonete ou filamento. Mostram variações no seu tamanho, número e distribuição, não
apenas segundo os diferentes tipos de células, como durante o ciclo de vida de uma mesma
célula.

Divisão mitocondrial

As novas mitocôndrias normalmente surgem do crescimento e divisão de uma mitocôndria pré-


existente.

Cada organito aumenta a sua massa para o dobro e origina 2 organitos filhos.

Mesmo na ausência de mitose, as células necessitam substituir mitocôndrias que foram


degradadas ou produzir mitocôndrias adicionais.

Síntese proteica mecanismo complexo visto as proteínas mitocondriais serem codificadas em


genomas diferentes, nuclear e mitocondrial.

Genética mitocondrial

A mitocôndria possui genoma próprio e toda a maquinaria para os processos de transcrição e


tradução.

Na maior parte dos animais, o espermatozoide contribui com muito pouco citoplasma para o
zigoto, logo a maior parte das mitocôndrias no ovo derivam do oócito secundário.

O genoma mitocondrial é formado por uma molécula circular de DNA em cadeia dupla. Cadeias
com diferentes densidades. Cadeia leve, rica em pirimidinas; cadeia pesada, rica em purinas.

O mtDNA não possui intrões, está localizado na matriz, por vezes ligado à membrana interna.

Fig.35 – Genoma mitocondrial

Estudos do genoma mitocondrial em vários organismos revelaram que sensivelmente todos eles
possuem o mesmo grupo de rRNA, tRNA e algumas proteínas mitocondriais essenciais. Supõe-
se que todos os transcritos do mtDNA e os seus produtos de tradução ficam na mitocôndria.

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Contudo, já foi descrita a presença de uma proteína de origem mitocondrial noutras estruturas
celulares.

O mtDNA humano, molécula com 16.569 pb, é dos mais pequenos. Codifica 2 rRNA
mitocondriais, 22tRNA usados na tradução dos mRNA e 13 sequências codificantes de proteínas.
Todos os produtos de tradução foram identificados. Os ribossomas diferem dos citoplasmáticos
na sua composição em RNA e proteínas, menor tamanho e sensibilidade a antibióticos.

A transcrição inicia-se apenas em 2 pontos na cadeia pesada (cadeia H). O processamento tem
de ser preciso para separar corretamente os mRNA dos tRNA, visto serem imediatamente
contíguos. O código genético usado nas mitocôndrias é diferente do código padrão usado em
genes nucleares eucariotas e procariotas.

UGA, normalmente um códão de terminação, é lido pelos sistemas de tradução das


mitocôndrias como triptofano.

À semelhança dos procariotas inicia-se com uma metionina formilada. As regras de


emparelhamento de codão-anticodão nas mitocôndrias são flexíveis, sendo que muitas
moléculas de tRNA podem reconhecer qualquer um dos quatro nucleótidos (A, T, G, C) na
terceira posição.

Variação do código genético: 4 de 64 codões tem significado diferente dos codões de outros
genomas.

Doenças mitocondriais

De aparecimento esporádico (por rearranjos do DNAmt duplicações ou deleções). Por herança


maioritariamente materna (tipicamente por mutações pontuais no DNAmt). Por herança
mendeliana (tipicamente por defeitos do DNA nuclear).

Exemplos:

• MELAS (Encefalomiopatia mitocondrial, acidose láctica e episódios similares a acidentes


vasculares cerebrais)
• Oftalmoplegia externa progressiva
• LHON (Neuropatia Ótica de Leber Hereditária)
• Síndrome de Leigh
• MERRF (epilepsia mioclónica associada com Ragged-Red Fibers)

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MELAS: Manifesta-se normalmente antes dos 45. Exige diagnóstico diferencial com AVC. O
diagnóstico pode ser difícil, dada a ausência de alguns sintomas das doenças mitocondriais. Em
80% dos casos, deve-se a uma mutação no gene para o tRNA da leucina, ocorrendo pela troca
de A por G na posição do nucleotídeo 3243 do mtDNA.

MERRF: Ocorre em qualquer idade. As manifestações clínicas mais comuns são epilepsia, ataxia
cerebelar, miopatia e presença de fibras vermelhas rasgadas em biópsias musculares. É uma
doença de progressiva. 80-90% dos casos são decorrentes da mutação de ponto A8344G no
DNAmt, o qual codifica o tRNALys.

Mutação Petite: Pequeno fenótipo que pode ser causado pela ausência no DNA mitocondrial,
ou por mutações de genes codificados no núcleo envolvidos na fosforilação oxidativa. Mutações
petite podem ser induzidas por uma variedade de mutagénicos, incluindo agentes intercalantes
de DNA, mas também químicos que interferem com a síntese de DNA nas células em
crescimento. Mutagénicos que criam os petites estão implicados no aumento das taxas de
doenças degenerativas e no processo de envelhecimento.

Citopatias mitocondriais: São doenças primárias da cadeia respiratória que podem ser devidas
a defeitos genéticos no genoma mitocondrial e nuclear.

Mutações Pontuais

Taxa de mutação muito elevada, em consequência da falta de histonas protetoras.

Elevada tendência para a formação de radicais livres, devido à presença do oxigénio na cadeia
respiratória.

Associadas a doenças de transmissão materna e ou paterna.

Deficitário sistema de reparação.

Mutações nos genes nucleares

A maior parte das citopatias é causada por estas mutações

Reduzido número de proteínas funcionais da mitocôndria são codificadas pelo seu próprio
genoma

Doenças causadas: - Cardiomiopatia, Hipertrófica, - Acidose metabólica, - Tubulopatia, -


Encefalopatia, - Disfunção hepática.

Mutações Somáticas

Alterações que ocorrem ao longo do tempo levam a este tipo de mutações.

Rearranjos Mitocondriais

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Alterações espontâneas de maior dimensão do mtDNA : Deleções e duplicações.

• O mtDNA de mamíferos é extremamente compacto e parece ter evoluído no sentido de


conter apenas as sequências necessárias para gerar os mRNA, tRNA e rRNA. A análise
comparativa da estrutura do mtDNA de diferentes espécies sugere que, ao longo da
evolução, vários genes se têm transferido para o núcleo e o DNA tornou-se mais
compacto.
• É ainda um enigma porque é que as mitocôndrias mantêm um sistema genético próprio,
contrariamente a outros organitos celulares. Em termos evolutivos, é aceite a teoria
endossimbiótica para explicar a origem da mitocôndria.
• Durante a evolução inicial das células eucarióticas, ocorreu, provavelmente, uma
transferência maciça de genes da mitocôndria para o núcleo e, possivelmente, essa
transferência terminou antes de estar concluída.

Teoria endossimbiótica

Fig. 36 – Endossimbiose do cloroplasto e mitocôndria

As mitocôndrias:

• Assemelham-se a bactérias;
• Têm o seu próprio genoma e produzem as suas próprias membranas internas;
• Dividem-se independentemente da célula e contêm moléculas de DNA circulares tal
como os procariontes atuais;
• Os seus ribossomas são mais semelhantes em tamanho e em características bioquímicas
aos dos procariontes;
• Ainda hoje se encontram associações simbióticas entre bactérias e alguns eucariotas.

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