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Ricardo Tabach
1 ÁCIDOS NUCLEICOS E HEREDITARIEDADE
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1.1.1 DNA: constituição química
O DNA é uma estrutura complexa com uma família de proteínas básicas denominadas
histonas e com um grupo heterogêneo de proteínas ácidas não histônicas que estão
bem menos caracterizadas.
O nucleossomo é formado por duas cópias de cada uma das quatro histonas: H2A,
H2B, H3 e H4 em torno do qual um segmento de DNA se enrola duas vezes (140 pares
de bases de DNA), separados por 20 - 60 pares de bases. O nucleossomo é a unidade
estrutural básica da cromatina.
1.1.2 Cromossomos
4
1.1.3 Conceito de gene
5
Os cromossomos consistem em DNA e proteínas associadas. As células de cada espécie
têm um número característico de cromossomos; por exemplo, as células bacterianas
têm um único cromossomo, as células humanas têm 46 (organizados em 23 pares) e as
células do pombo, 80. Cada cromossomo carrega vários genes e são separados por
meio de processos de divisão celular, a mitose e meiose.
Algumas características são afetadas por múltiplos genes que interagem de formas
complexas com os fatores ambientais, fazendo com que o fenótipo seja o resultado da
ação conjunto do genótipo e do ambiente. A altura do ser humano, por exemplo, é
afetada por muitos genes, além de fatores ambientais como nutrição.
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b) O princípio da segregação: em um heterozigoto, dois alelos diferentes
segregam-se um do outro durante a formação dos gametas. Esse princípio é
uma afirmação sobre a transmissão genética. Um alelo é transmitido fielmente
à próxima geração, mesmo que esteja presente com um alelo diferente em um
heterozigoto. A base biológica desse fenômeno é o pareamento e a
subsequente separação de cromossomos homólogos durante a meiose.
Mendel também fez experimentos com plantas que diferiam em duas características
ao mesmo tempo. Ele cruzou, por exemplo, plantas que produziam sementes amarelas
e lisas com plantas que produziam sementes verdes e rugosas. O objetivo desses
experimentos era verificar se a herança das duas características da semente, cor e
textura, era independente. Como as sementes da F 1 eram todas amarelas e lisas, os
alelos para essas duas características eram dominantes. Mendel cultivou plantas a
partir dessas sementes e permitiu a autofertilização. Em seguida, classificou as
sementes da F 2 e contou-as segundo o fenótipo.
Os estudos de Mendel foram organizados na forma de leis que receberam o seu nome
e que se aplicam a todas as espécies diploides, incluindo a espécie humana.
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Algumas pesquisas posteriores mostraram que podem existir mais de dois alelos por
loco, como é o caso do Sistema ABO dos grupos sanguíneos com os alelos A, B e O.
Além disso, as relações entre os alelos para gerar o fenótipo podem ser variadas. É o
caso da base genética da cor da flor boca-de-leão, onde o alelo W é incompletamente
dominante em relação a w. As diferenças entre os fenótipos poderiam ser causadas
por diferenças na quantidade do produto especificado pelo alelo W. Trata-se de um
caso de dominância incompleta, onde o heterozigoto apresenta um fenótipo
intermediário em relação aos homozigotos. Outro ponto importante é que um gene
pode influenciar outro gene. Quando dois ou mais genes influenciam uma
característica, um alelo de um deles pode prevalecer no fenótipo, sendo epistático em
relação aos outros genes participantes; o termo epistasia vem do grego e significa
“estar acima”. Por exemplo, sabemos que muitos genes participam da pigmentação do
olho em Drosophila (mosca de fruta). Se uma mosca é homozigota para um alelo nulo
em um desses genes, a via de síntese do pigmento pode ser bloqueada, causando
anormalidade da cor do olho. Em essência, esse alelo anula a ação de todos os outros
genes, mascarando suas contribuições para o fenótipo.
Segundo Griffiths et al. (2019, p. 211), às vezes um fenótipo pode não corresponder ao
seu genótipo e existem diversos motivos possíveis como, por exemplo:
Conclusão
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As Leis de Mendel se aplicam a todos os seres vivos. Contudo, com o passar do tempo
e com o avanço das pesquisas em Genética, outros fatores relacionados com a
transmissão das características hereditárias foram elucidados, caracterizando o que
ficou conhecido como Extensões do Mendelismo.
REFERÊNCIAS
GRIFFITHS, A.J.F. et al. Introdução à genética. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2016.
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GENÉTICA
Ricardo Tabach
2 HEREDOGRAMAS E PADRÕES DE HERANÇA
A genética clássica analisa as relações entre seres humanos com base em seu
parentesco e, dessa maneira, o padrão de transmissão de determinada característica
monogênica pode ser reconhecido por meio do levantamento da história familiar do
indivíduo portador daquele traço. Com a elaboração de um heredograma ou árvore
genealógica, uma das ferramentas mais utilizadas na genética médica, que nada mais é
do que a representação gráfica de uma história familiar, é possível acompanhar a
transmissão de um traço de pais para filhos em múltiplas gerações de uma genealogia.
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Fonte: adaptado de GRIFFITHS et al., 2019.
Aqui está uma dica útil: para começar a interpretar um padrão de herança, inverta a
maneira como normalmente pensa a respeito da transmissão gênica. Em vez de
procurar o surgimento de um traço na prole de uma família, olhe a partir da geração
da prole para trás em direção aos pais. Em outras palavras, comece procurando por
padrões de transmissão movendo sua atenção heredograma acima, não para baixo. Se,
por exemplo, uma criança apresentar um traço dominante, então se espera que um
dos pais o apresente também. A outra direção não é tão certa. Só porque um genitor
possui um traço dominante não significa que um de seus poucos filhos irá
necessariamente herdá-lo.
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2.2 Padrões de herança
Dessa forma, existem quatro padrões básicos de herança monogênica, sendo duas
autossômicas (ou seja, relacionadas aos cromossomos não sexuais) e duas ligadas ao
cromossomo X (cromossomo sexual). Estas duas últimas serão descritas no subitem 2.3
Herança ligada ao sexo.
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1) Herança autossômica dominante
Como exemplos de herança autossômica recessiva podemos citar a fibrose cística, uma
doença pulmonar crônica, acompanhada de insuficiência pancreática e aumento da
concentração de cloreto no suor. O albinismo (ausência de pigmentação da pele) e a
anemia falciforme (alteração do formato de hemácia) também sã exemplos de herança
autossômica recessiva.
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2.3 Herança ligada ao sexo
A. Os homens afetados com companheiras normais não têm nenhum filho afetado
e nenhuma filha normal.
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a.2) Herança recessiva ligada ao X: Os genes que determinam esta herança estão
localizados na região do cromossomo X, sem correspondência no Y. Em função disto,
esta herança é mais comum em homens do que em mulheres e há uma ausência de
transmissão pai-filho, mas sim de um homem afetado para todas as suas filhas; além
disso, observa-se um “salto” de gerações quando os genes são passados por mulheres
portadoras, que são heterozigotas para esta característica.
Uma das doenças determinada por este tipo de herança é o daltonismo, em que os
genes para a visão das cores localizados nos braços longos do X sofrem uma mutação.
Entre os vários tipos de daltonismo, temos a deuteranopia (incapacidade para
perceber o verde); a protanopia (incapacidade para perceber o vermelho) e a
tritanopia (incapacidade para perceber o azul). A frequência do daltonismo é maior em
homens do que em mulheres. Um outro exemplo é a hemofilia, em que há um defeito
no processo de coagulação do sangue. A coagulação é um processo fisiologicamente
importante e que depende da ação em sequência de muitas proteínas (cascata da
coagulação); a deficiência de uma destas proteínas chamada fator VIII provoca
sangramento prolongado e severo de lesões e hemorragia tanto nas articulações como
também nos músculos.
b.1) Herança ligada ao Y: neste caso, os genes estão localizados no cromossomo Y, sem
correspondência no X; portanto, trata-se de uma herança restrita ao sexo, pois
aparece apenas no sexo masculino. Também é conhecida como herança holândrica. A
hipertricose auricular é caracterizada pela presença de pelos no pavilhão auditivo,
muito comum em homens indianos, e tem sido considerado talvez o único exemplo, na
espécie humana, de herança holândrica.
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c) Herança limitada pelo sexo: neste caso, os genes não estão localizados nos
cromossomos sexuais, mas nos autossomos e só se manifestam em um dos sexos.
Como exemplo, temos o tipo de barba, quantidade e distribuição de pelos pelo corpo e
musculatura mais desenvolvida que só se expressam na presença de hormônios
masculinos. Já nas mulheres, o desenvolvimento das glândulas mamárias e tipo de
cintura pélvica, mais larga, só se expressam na presença de hormônios femininos.
Conclusão
17
Seguindo a mesma linha de raciocínio, observamos o mesmo processo no Y em relação
ao X (herança restrita ao sexo). Além disso, as diferenças hormonais entre os sexos e
as diferentes formas de manifestação de alguns genes também determinam fenótipos
diversos no sexo masculino ou feminino.
REFERÊNCIAS
GRIFFITHS, A.J.F. et al. Introdução à genética. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2019.
NUSSBAUM, R.L.; MCINNES, R.R.; WILLARD, H.F. Thompson & Thompson, Genética
médica. 7. Ed. Tradução: Luciane Faria de Souza Pontes et al. Rio de Janeiro: Elsevier,
2008.
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GENÉTICA
Ricardo Tabach
3 GENÉTICA DOS GRUPOS SANGUÍNEOS
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Seguindo esta classificação, temos os seguintes tipos sanguíneos:
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O quadro abaixo mostra um resumo das principais características destes grupos:
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Acredita-se que a formação de anticorpos anti-A e anti-B, na ausência de um
transfusão prévia, seja uma resposta à ocorrência natural de antígenos semelhantes ao
A e ao B no ambiente, como por exemplo em bactérias, provocando uma sensibilização
do organismo.
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Assim resumidamente, temos:
a) Grupo A: transfusão para o grupo A e grupo AB; recebe do grupo A e do grupo
O;
b) Grupo B: transfusão para o grupo B e grupo AB; recebe do grupo B e do grupo
O.
c) Grupo AB: transfusão apenas para o próprio grupo AB, devido à presença de
antígeno A e B.; recebe de todos os grupos, pois não possui anticorpos anti A
ou anti B; se for também Rh-, é considerado como receptor universal.
d) Grupo O: transfusão para todos os grupos, pois não possui antígenos; só pode
receber uma transfusão de outro O devido a presença de anticorpos anti-A e
anti-B; se for também Rh+, é considerado como doador universal.
Esse sistema foi assim denominado porque foram usados macacos Rhesus
(...) nos experimentos que levaram à sua descoberta (...).
(...)
Apesar de ser mais complexo sob o aspecto molecular, para fins didáticos e
práticos o sistema de grupos sanguíneos Rh (...) pode ser descrito com um
único par de alelos, D e d.
23
Ainda conforme Borges-Osório e Robinson (2013, p. 344),
Em geral, 85% dos indivíduos caucasoides são Rh-positivos (DD ou Dd) e 15%
são Rh-negativos (dd), mas essa frequência é variável. Por exemplo, a
prevalência de Rh- negativos é de 20 a 30% em europeus, 7% em afro-
americanos e inferior a 1% em chineses e japoneses.
Os genes que determinam o fator Rh atuam de forma independente dos genes que
determinam o sistema ABO.
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Para evitar a sensibilização de uma mulher Rh-negativa, deve ser usado
sempre um sangue Rh compatível em qualquer transfusão de sangue. A
sensibilização e, portanto, a incompatibilidade de Rh após o parto podem
ser evitados pela administração de uma injeção, via intramuscular, de
anticorpos anti-D, na mãe Rh-negativa, nas primeiras 72 horas após o parto,
pois assim qualquer célula fetal Rh-positiva que seja encontrada a caminho
da circulação materna será destruída antes que a mãe seja sensibilizada.
(...)
a) Tipo A Rh+: Uma pessoa do grupo A Rh+ possui os genes para o tipo A
(IAIA, IAi) e para o Rh+ (DD, Dd).
b) Tipo A Rh-: Se for deste tipo sanguíneo, possui os genes para o tipo A
(IAIA ou IA i) e para o Rh- (dd , recessivo) para esta característica.
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d) Tipo B Rh-: Por outro lado, a pessoa com o tipo sanguíneo B Rh- tem os
genes para o tipo B (IBIB, IBi,), apresentam o antígeno B em suas hemácias e o
anticorpo anti-A no soro. No caso, o genótipo para o Rh- é recessivo (dd)
f) Tipo AB Rh-: No tipo AB Rh-, esta pessoa tem, além do IAIB, o genótipo
recessivo (dd) para esta característica.
Conclusão
O gene responsável pela produção dos antígenos A e B é designado pela letra I. Ele
tem três alelos: Ia, IB e i. O alelo Ia especifica a produção do antígeno A e o alelo IB, a
produção do antígeno B. No entanto, o alelo i não especifica antígeno. Entre os seis
genótipos possíveis, há quatro fenótipos – os tipos sanguíneos A, B, AB e 0. Nesse
sistema, os alelos Ia e IB são codominantes e o alelo i é recessivo em relação os dois
alelos (A e B). Quanto ao fator Rh, 85% da população humana é Rh+ (DD ou Dd) e
apenas 15% recessivas (dd). Os dois sistemas tem grande importância transfusional,
uma vez que determinados tipos de sangue são incompatíveis entre si.
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REFERÊNCIAS
GRIFFITHS, J.F. et. al. Introdução à genética. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2019.
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GENÉTICA
Ricardo Tabach
4 ERROS INATOS DO METABOLISMO
A maioria dos erros metabólicos hereditários, nos quais seja identificado um produto
gênico deficiente ou anormal, pode ser diagnosticada no período pré-natal e
geralmente é autossômica recessiva com alguns sendo ligados ao X.
28
4.1 Definição e características gerais dos erros inatos do metabolismo
O metabolismo é composto por reações bioquímicas por meio das quais um sistema
vivo obtém energia do ambiente e a armazena ou a utiliza para seu crescimento e
outras atividades biológicas. Erros inatos do metabolismo (EIMs) ocorrem quando há
um bloqueio em uma rota metabólica devido a um defeito hereditário em uma
enzima. As enzimas são catalisadores proteicos que aceleram as reações químicas e
estas reações definem as mudanças estruturais e os eventos bioquímicos que ocorrem
em todos os níveis da atividade biológica. Isso significa que uma pequena quantidade
de uma determinada enzima pode ter um efeito potencialmente grande nas reações
bioquímicas que ela catalisa.
Uma mutação que altera o funcionamento de uma enzima pode causar um problema
em uma rota metabólica de pelo menos duas formas. A mutação pode resultar em um
produto ausente ou deficiente, ou causar o acúmulo de um precursor anterior. Ambos
os mecanismos podem ter consequências fenotípicas sérias e o conhecimento acerca
do efeito de cada mutação permitirá, em última análise, que os pesquisadores
mapeiem a relação entre as etapas de uma rota bioquímica ou de desenvolvimento e o
gene e, portanto, a enzima ativa responsável em cada reação catalítica.
Isso leva a quantidades reduzidas de tirosina, o que, por sua vez, provoca vários
problemas como, por exemplo, o comprometimento da síntese de proteínas em geral,
devido ao fato de que não há tirosina suficiente para a síntese de qualquer proteína.
Portanto, pessoas com PKU tendem a ter uma pigmentação mais clara da pele. Além
de uma deficiência do produto da reação, um bloqueio também levará a um acúmulo
de precursor. Intuitivamente, pode-se imaginar que possíveis problemas podem
resultar a partir da presença de fenilalanina em excesso no sistema e que algo precisa
ser feito para eliminá-la.
30
A homocistinúria é um distúrbio de aminoácidos sulfurados (metionina), devido
à deficiência da enzima cistationina β-sintase (CBS). Este bloqueio metabólico
produz um aumento no nível de homocisteína, que possui o efeito de aumentar
a coesividade das plaquetas. A tendência para “plaquetas pegajosas” leva a um
risco aumentado de trombose, além de contribuir para alterações cognitivas e
reduzir a longevidade.
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c) Distúrbios do ciclo da ureia: um outro tipo de alteração metabólica está
relacionado com os distúrbios do ciclo da ureia O catabolismo de proteína
resulta, em última instância, na geração de amônia, um composto
extremamente tóxico. Níveis excessivos de amônia resultarão em danos
neurológicos graves e irreversíveis. Os pacientes podem apresentar convulsões,
letargia ou coma. Em casos menos graves, os sintomas podem incluir alterações
sensoriais e/ou distúrbios psiquiátricos. O ciclo da ureia existe para eliminar a
amônia rapidamente do organismo. Erros inatos em qualquer uma das cinco
reações do ciclo levarão a graus variados de hiperamonemia e os sintomas
resultantes são graves, pois a amônia é muito tóxica e o dano é irreversível.
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f) Distúrbios de metais: metais (ferro, cobre, zinco, manganês, cádmio e assim por
diante), ocorrem em quantidades mínimas (partes por milhão) no organismo, e
ainda assim possuem papéis significativos na saúde global do indivíduo, pois
atuam como cofatores para enzimas.
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g) Distúrbios de ácidos nucleicos: existem vários distúrbios do metabolismo de
ácidos nucleicos relatados. A condição mais bem conhecida é a síndrome de
Lesch-Nyhan cujas características mais marcantes são déficits cognitivos,
distúrbios do movimento e comportamentos autodestrutivos dramáticos
(mordidas graves com mutilação dos lábios e dedos). É um distúrbio recessivo
ligado ao X, causado por alterações na enzima hipoxantina-guanina fosforribosil
transferase (HgPRT), que possui um papel central no metabolismo das purinas
(bases que fazem parte da composição dos ácidos nucleicos).
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A Síndrome de Smith-Lemli-Opit se deve em parte a uma deficiência global de
colesterol e de todos os seus muitos derivados metabólicos, devido à uma
deficiência enzimática. Os pacientes com esta síndrome apresentam acentuada
deficiência do desenvolvimento neurológico e comportamento autista, além de
anormalidades faciais, digitais e genitais. Hoje, sabe-se que a deficiência dessa
enzima resulta em um déficit na produção de colesterol e em um aumento do
precursor 7-desidrocolesterol.
Os avanços em terapias para erros inatos do metabolismo (EIM) estão bem à frente da
maioria das outras condições genéticas e isso se deve muito à natureza patogênica
desses distúrbios. O tratamento dos diferentes tipos de erros metabólicos geralmente
tem uma abordagem multidisciplinar envolvendo diversas especialidades como, por
exemplo, a pediatria, genética, patologia, nutrição e a fisioterapia, entre outras. Entre
as várias formas de tratamento do EIM, serão abordadas as seguintes:
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3. Inibição enzimática: este tipo de tratamento é eficaz quando há um acúmulo de
uma determinada substância produzida pelo organismo como, por exemplo, a
hipercolesterolemia familiar, ou seja, o excesso de colesterol no sangue. O
tratamento se baseia na utilização de medicamentos que inibem a enzima hepática
responsável pela síntese de colesterol. Os medicamentos mais conhecidos com
esta finalidade são as estatinas
Conclusão
a) Por falta do produto final, causando ausência de reação subsequente para a qual
esse produto seria o substrato ou prejuízo do mecanismo de controle do tipo inibição
retroativa;
c) Por interferência nos mecanismos reguladores, uma vez que a falta de um produto
final ou o excesso de um substrato pode interferir nos mecanismos reguladores,
causando vários tipos de doenças.
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O tratamento dos erros inatos do metabolismo tem avançado muito nos últimos anos.
O desenvolvimento de novas medidas de abordagem torna mais importante o
diagnóstico precoce, impulsionando a expansão de programas de triagem neonatal, o
que, por sua vez, proporciona intervenções mais precoces e mais bem sucedidas.
REFERÊNCIAS
OTTO, P.A.; MINGRONI NETO, R.C.; OTTO, P.G. Genética médica. São Paulo: Roca,
2013.
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GENÉTICA
Ricardo Tabach
5 CROMOSSOMOS HUMANOS E CARIOTIPAGEM
(...)
38
(...) A eucromatina, que constitui a maior parte do cromossomo, apresenta
fibras menos condensadas e coloração uniforme durante a interfase. A
heterocromatina corresponde a regiões cromossômicas mais densamente
espiralizadas e, por isso, são coradas com mais intensidade. A cromatina
muda constantemente do estado eucromático para o heterocromático,
significando que esses estados representam diferentes graus de
condensação do material genético, que está organizado de modo que ambos
os estados alternativos possam ser mantidos lado a lado na cromatina,
permitindo a ocorrência de trocas cíclicas no empacotamento da
eucromatina entre a interfase e a divisão.
Assim, cada nucleossomo está formado por uma partícula central de histona
envolvida por uma espiral de DNA, cujo comprimento corresponde a uma
volta e 3⁄4 de volta, abrangendo cerca de 140 pares de bases. Os
nucleossomos estão unidos entre si por segmentos de DNA, chamados DNA
de ligação e formados por 15 a cem pares de bases; esse DNA de ligação
está associado à quinta histona, H 1 (...).
39
Fonte: SCHAEFER; THOMPSON, 2015, p. 86.
40
Conforme Borges-Osório e Robinson (2013, p. 95),
(...)
(...)
(...)
41
Fonte: PASSARGE apud BORGES-OSÓRIO; ROBINSON, 2013, p. 98.
Figura 5.2 – Microcultura ou cultura de leucócitos para análise dos cromossomos
humanos.
42
5.2 Classificação de Denver e montagem de um cariótipo
43
Figura 5.3 – Classificação de cromossomos de acordo com a localização do
centrômero.
44
avanço das técnicas de análise cromossômica, esta padronização foi aperfeiçoada ao
longo do tempo em outras conferências internacionais (Paris, Londres, Chicago), mas
ficou conhecida como Classificação de Denver.
45
5.3 Aberrações numéricas e estruturais
Aberrações numéricas
(...)
46
Aneuploidia é a alteração numérica de parte do genoma, geralmente a
alteração na dose de um único cromossomo. Indivíduos que têm um
cromossomo a mais, um cromossomo a menos ou uma combinação dessas
anomalias são aneuploides. Essa definição também inclui segmentos de
cromossomos. Assim, um indivíduo com deleção do braço de um
cromossomo também é considerado aneuploide.
(...)
(...)
47
A monossomia ocorre quando há ausência de um cromossomo em indivíduo
diploide. Em seres humanos, só existe um monossômico viável, o cariótipo
45, X. Esses indivíduos têm um só cromossomo X e um complemento
diploide de autossomos. O fenótipo é feminino, mas, por terem ovários
rudimentares, são quase sempre estéreis. Os indivíduos 45, X geralmente
são baixos; têm pescoço alado, deficiência auditiva e anormalidades
cardiovasculares significativas. Henry H. Turner foi o primeiro a descrever o
distúrbio em 1938; por isso, agora é denominado síndrome de Turner. (...)
Aberrações estruturais
A ausência de um segmento cromossômico é
denominada deleção ou deficiência. (...) Um exemplo clássico é a síndrome
do miado do gato, também conhecida como síndrome cri-du-chat (do
francês, “miado de gato”) em seres humanos (...). Esse distúrbio é causado
por deleção no braço curto do cromossomo 5. O tamanho da deleção varia.
(...) Esses indivíduos podem apresentar grave comprometimento mental e
físico; o choro queixoso, semelhante ao miado de gato na infância, dá nome
à síndrome.
(...)
48
(...) As inversões pericêntricas incluem o centrômero e as
inversões paracêntricas, não. A consequência disso é que uma inversão
pericêntrica pode alterar os comprimentos relativos dos dois braços do
cromossomo, enquanto a inversão paracêntrica não tem esse efeito. Assim,
se um cromossomo acrocêntrico sofre uma inversão com um ponto de
quebra em cada braço (i. e., uma inversão pericêntrica), pode ser
transformado em um cromossomo metacêntrico. Mas se um cromossomo
acrocêntrico sofre uma inversão em que as duas quebras estão no braço
longo (i. e., uma inversão paracêntrica), a morfologia do cromossomo não se
altera. (...)
(...)
(...)
(...)
Conclusão
49
O desenvolvimento de técnicas citogenéticas permitiu a observação de cada
cromossomo e a contagem do conjunto formado por 46 cromossomos ou 23 pares.
Desses, 44 (ou 22 pares) são homólogos nos dois sexos – os autossomos. Os dois
restantes são os cromossomos sexuais, que contém os genes responsáveis pela
determinação do sexo.
Quanto à sua forma, os cromossomos metafísicos são constituídos por duas cromátides
unidas pelo centrômero, que divide as cromátides em braços cromossômicos: p (braços
curtos) e q (braços longos); de acordo com sua posição, os cromossomos humanos são
classificados em três tipos: metacêntricos, submetacêntricos e acrocêntricos.
REFERÊNCIAS
GRIFFITHS, J.F. et. al. Introdução à genética. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2019.
SANTOS, V. S. dos. O que é cariótipo? Brasil Escola, 11 jan. 2018. Disponível em:
<https://bit.ly/2NCFB1C>. Acesso em: 2 ago. 2019.
50
GENÉTICA
Ricardo Tabach
6 HERANÇA MULTIFATORIAL
51
6.1 Princípios da herança multifatorial
Um traço (ou característica genética) complexo é qualquer traço que não demonstre
herança mendeliana simples e pode ser um traço descontínuo, tal como a presença ou
a ausência de uma determinada doença, ou um traço continuamente variável, tal
como a altura em seres humanos, que apresenta uma grande variação e é influenciada
por inúmeros fatores, tanto genéticos como ambientais.
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Na agropecuária, vegetais e animais foram modelados pela propagação de indivíduos
com características desejáveis – maior teor de proteína, menor gordura corporal,
maior produtividade, resistência a doenças, e assim por diante. Essa capacidade de
modificar fenótipos por cruzamento seletivo indica que as características têm base
genética. Em geral, porém, essa base genética é complexa. Há a participação de vários
ou muitos genes, e é difícil distinguir os efeitos individuais por análise genética
convencional. Desse modo, são necessárias outras técnicas para estudar a herança de
características complexas.
Existem, também, algumas doenças genéticas que são determinadas pela combinação
de alelos de vários genes, sendo que a suscetibilidade ou predisposição a elas depende
da combinação genotípica que o indivíduo possui dos alelos para esses genes e,
algumas vezes, também de fatores ambientais que contribuem para sua manifestação
ou não. Desta forma, podemos dizer que essas doenças têm herança multifatorial.
A predisposição a essas doenças pode ser representada por uma distribuição contínua
(curva normal), representada na figura abaixo. As pessoas que se encontram na
extremidade mais baixa da distribuição têm poucas chances de desenvolver a doença
porque possuem poucos alelos ou estão pouco expostas a fatores ambientais que
propiciam o aparecimento da doença. Já as que estão próximas da extremidade mais
alta da distribuição possuem um maior número de genes causadores da doença ou
têm maior predisposição ambiental e são mais propensos a desenvolvê-la.
53
Algumas doenças crônicas muito frequentes também têm etiologia multifatorial como
por exemplo a hipertensão arterial idiopática, o diabetes mellitus tipo I (e tipo II) a
doença arterial coronariana, a esquizofrenia e o autismo, entre outras.
54
Na herança poligênica, além dos efeitos e interações entre os múltiplos genes
envolvidos, fatores ambientais também podem contribuir para a variação observada
nessas características, constituindo o que denominamos herança multifatorial.
Praticamente todos os traços poligênicos são influenciados pelo modo de vida e outros
fatores ambientais. Na verdade, não se herda determinada altura, peso ou cor, e sim
uma potencialidade (predisposição genética), quantitativa, que será desenvolvida em
maior ou menor grau, pelo ambiente, representado, no caso da estatura e peso, pela
nutrição e exercício e, no caso da pigmentação da pele, pela exposição ao sol. A
estatura é um bom exemplo de característica multifatorial, por ser um traço genético
condicionado por vários genes (natureza hereditária) e também influenciado pelo
ambiente (dieta e atividade física). É intuitivo que pessoas mais altas tenham
tendência a ter filhos mais altos, além da influência exercida pelo ambiente. Esta
característica apresenta variação contínua, pois observamos a presença de fenótipos
sucessivos, ou seja, diferentes padrões de altura, sem uma separação nítida de
categorias.
55
O peso (figura abaixo) também decorre da interação entre fatores genéticos, incluindo
fatores ligados ao metabolismo, e ambientais (culturais, familiares, atividade física
etc). Pode-se ganhar peso facilmente com hábitos alimentares inadequados, inclinação
genética, vida sedentária, distúrbios psicológicos ou problemas familiares sendo,
portanto, uma característica também determinada por herança multifatorial, com
variação contínua.
A grande variação de cor da pele entre adultos não pode ser explicada por um par de
alelos de um único loco mendeliano (mecanismo monogênico). É evidente que existem
tons de pele geneticamente condicionados, além de branco, mulato médio e negro. Os
descendentes da união entre mulatos médios apresentam uma variação contínua de
tons, desde branco até negro, seja branco o homem ou a mulher. Portanto, a hipótese
de que vários locos diferentes determinam a cor da pele é a mais adequada para
explicar essa diversidade de fenótipos e encontra respaldo na descoberta de inúmeros
genes em humanos que exercem influência sobre esta característica.
56
Figura 6.4 – Cor da pele: vários fenótipos (variação contínua).
Além disso, quanto maior a influência do componente genético em relação aos fatores
ambientais na variabilidade fenotípica de um traço, mais genético esse traço será e
quanto menor a influência do genótipo sobre a variabilidade fenotípica, menos
genético ele será.
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Em algumas doenças multifatoriais, como a hipertensão, é fácil identificar alguns
agentes ambientais de risco (obesidade, altos níveis de sódio na dieta, baixa atividade
física, entre outros). Entretanto, na maioria dos traços multifatoriais, muito pouco
ainda se sabe sobre os fatores ambientais que representam risco e sobre aqueles que
são protetores. Essa compreensão é de real importância, pois abrirá novos caminhos
para o delineamento de intervenções preventivas para inúmeros distúrbios.
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Um exemplo bem conhecido de patologia de origem multifatorial é o lábio leporino
acompanhado ou não de fenda palatina, que é um defeito resultante do fechamento
defeituoso de estruturas normalmente presentes no embrião (figura abaixo). O traço é
familial, isto é, é mais comum nos parentes dos afetados do que nos parentes de
pessoas normais tomadas como controle, o que sugere que o defeito seja determinado
geneticamente. Como se trata de um fenótipo contrastante com o presente nas
pessoas normais da família, sem o defeito, pensa-se logo em herança monogênica,
determinada por alelo dominante ou recessivo, conforme as leis de Mendel. Todavia, a
frequência de pessoas afetadas nas famílias de quem tem o defeito é muito menor do
que a esperada sob hipótese de herança monogênica. Admite-se, por isso, o
mecanismo multifatorial poligênico, com limiar. A predisposição poligênica, combinada
com influências ambientais intrauterinas, promove uma distribuição continua de
suscetibilidades, que só desencadeia o defeito quando ultrapassa um determinado
limiar.
Figura 6.5 – Pacientes apresentando o espectro de fendas labiais e palatinas. (a) Fenda labial
e palatina bilateral. (b) Fenda labial unilateral com fenda palatina. (c) Fenda labial unilateral
envolvendo alvéolo. (d) Fenda palatina. (e) Fenda palatina submucosa (oculta).
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Outra patologia de origem multifatorial inclui os defeitos de tubo neural (DTNs), que
são malformações congênitas do tubo neural embrionário. A falha do tubo neural em
fechar adequadamente levará à anomalias do encéfalo e/ou da espinha dorsal e das
estruturas ósseas adjacentes. Existe uma variedade de expressão dependendo de
onde/quanto do tubo neural falha em fechar e estes defeitos são relativamente
comuns, ocorrendo em cerca de 1 a 2 por 1.000 nascimentos. Uma das formas de
expressão é a anencefalia, com ausência parcial ou completa da abóbada craniana e
dos hemisférios cerebrais. Os bebês que apresentam esta alteração são natimortos ou
resistem por poucas horas após o nascimento (Figura 6.6).
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O Pé Torto Congênito (PTC) caracteriza-se por flexão plantar e supinação com a face
plantar do pé voltada para a linha mediana do corpo e predomina no sexo masculino,
de modo que a proporção sexual ao nascer entre afetados é de 2:1. O PTC pode
aparecer isoladamente ou fazer parte de várias doenças e síndromes. Entre suas causas
preponderantes ou coadjuvantes estão os fatores mecânicos, como posição defeituosa
de feto, ou pressão exagerada na cavidade uterina. Finalmente, a causa primária
poderia ser esquelética, neurológica ou muscular e não está esclarecido se uma dessas
explicações é a única verdadeira ou se todas ou algumas se combinam. O tratamento
do PTC deve ser iniciado no primeiro dia de vida, com aplicação de aparelhos gessados
ou, dependendo do caso, cirurgia.
O termo epilepsia é usado para descrever várias afecções convulsivas, como os diversos
tipos de epilepsia mioclônica (com convulsões espasmódicas) e a epilepsia
centroencefálica. A incidência conjunta das diversas formas, na população geral, é
relativamente alta, da ordem de 1/200 nascimentos. Apesar dos recentes avanços na
área de genética molecular, existe ainda um grau de incerteza significativo quanto ao
determinismo genético das muitas formas. Mesmo naquelas com possível herança
monogênica, há considerável grau de heterogeneidade genética. Por outro lado, não
existem dúvidas de que uma porção significativa dos casos de epilepsia são
determinados por mecanismo multifatorial.
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Conclusão
REFERÊNCIAS
GRIFFITHS, A.J.F. et al. Introdução à genética. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2019.
OTTO, P.A.; MINGRONI NETO, R.C.; OTTO, P.G. Genética médica. São Paulo: Roca,
2013.
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