Você está na página 1de 111

`

Sumário

1. Leis de Mendel:
Herança Monohíbrida
Relações Dominância
Herança Dihíbrida
Noções de Probabilidade e Análise Genética pelo Chi-Quadrado
2. Interações Gênicas Alélicas e Não-Alélicas
Alelos Múltiplos
Pleiotropia
Epistasia
3. Mecanismos de Determinação Sexual, Herança e Sexo
4. Linkage - Ligação Gênica
5. Herança Quantitativa
Caráter quantitativo
6. Genética de Populações
7. Divisão Celular:
Mitose
Meiose
8. Alterações Cromossômicas
Numéricas - Poliploidia
Estruturais: Translocações, Deleções, Duplicações e Inversões
9. Material Genético:
Estrutura: DNA e RNA
Função: Replicação, Transcrição e Tradução
10. Mutações no DNA e Mecanismos de Reparo
11. Expressão Gênica em Procariotos
12. Expressão Gênica em Eucariotos
Direcionamento de Proteínas
Modificações Pós-traducionais
13. Biologia Molecular
Conceitos: Plasmídios, Enzimas de Restrição e Transformação
Técnicas do DNA Recombinante: Engenharia Genética
Diagnósticos Moleculares
Genoma Humano eTerapia Gênica
3

Introdução

A genética aplicada à medicina surgiu no século XX, quando Garrod e outros perceberam
que as leis mendelianas de hereditariedade eram capazes de explicar síndromes e
recorrências de transtornos familiares. Durante estes 100 anos passou então à uma
grande especialidade médica, pois antes restrita à apenas às raras doenças hereditárias,
passou a ter um significado maior, por causa da interação da estrutura genômica e do
ambiente não somente na formação e desenvolvimento de um indivíduo, mas também na
ocorrência em sua maioria de doenças consideradas de cunho esporádico, que nada mais
é do que o efeito ambiental na composição genética do indíviduo chamado de genoma.
Assim, definimos alguns conceitos abaixo, que serão empregados ao longo de diversos
tópicos desta apostila, são eles:

Genética - É o estudo dos genes por meio de suas variações.


Genética de Transmissão - Estuda os modos da transmissão de genes de geração para
geração.
Genética Molecular - É o estudo da estrutura gênica e sua função.
Genética de Populações - É os estudo do comportamento dos genes em populações.
DNA - ácido desoxirribonucleico, material genético básico que constitue os genes.
RNA - ácido ribonucleico, material genético transcrito do DNA.
Genoma - É o complemento básico de DNA que varia de espécie para espécie. É,
geralmente, representado pelo número básico de cromossomos que carregam
os genes essenciais da espécie.
Cromossomos - O genoma pode ser subdividido em cromossomos, sendo estes uma
molécula longa e contínua de DNA. Cromossomos são estruturas de DNA
que são vistos durante a divisão celular. São estruturas eficientemente
empacotadas por dobras e espirais, de tamanho e forma variáveis, de
acordo com a espécie.
Genes - Cada cromossomo consiste de milhares de regiões funcionais, sendo estas
chamadas de genes.
Gametas - Célula haplóide especializada (sexual) - metade dos cromossomos.
Exemplos: espermatozoide e óvulo.
4

• Para qualquer característica de estrutura e função biológicas, tais como forma,


tamanho, nº de partes, cor, padrão, comportamento ou funções bioquímicas, os
genes estão envolvidos.

• Na realidade a genética estuda a hereditariedade (similaridades das progênies


com os pais) e a variação (a diferença entre os pais e progênies).

• A genética moderna, como um conjunto de princípios e regras analíticas, começou


com o trabalho de Gregor Mendel, em meados do sec. XIX, na Tchecoslováquia.

GENES E O AMBIENTE

Ambiente 1 Organismo 1
Fator Genético
Ambiente 2 Organismo 2

Cromossomos 1 de gêmeos idênticos com 3 e 50 anos de idade (esq. e dir.,


respectivamente). As manchas vermelhas acusam a ligação do radical metil à molécula
de DNA e revelam como a idade afeta a ativação dos genes.

Os organismos não são determinados somente por seus genes nem pelo ambiente, mas
sim como consequência da interação dos genes e o ambiente.
5

Gêmeos idênticos criados separados.

Gêmeas idênticas fumante x não fumante.

Genótipo - refere-se ao conjunto de genes herdados por um indivíduo.

Fenótipo - refere-se à todos os aspectos morfológicos, fisiológicos, comportamentais e


ecológicos do indivíduo e suas relações, como consequência do efeito dos genes em
interação ou não com o ambiente.

Tipo sanguíneo Fenótipo Tipo A Tipo O


Sistema ABO Genótipo IAIA ii

Genótipos permanecem constantes através da vida e fenótipos mudam continuamente,


pois sofrem efeito ambiental.
6

1. Leis de Mendel

O conceito de gene (mas não a palavra) foi primeiramente proposto por Mendel em 1865.
O gene, a unidade básica funcional da hereditariedade, é o ponto focal da genética.
Mendel observou que ambas similaridades e diferenças entre pais e progênies podem ser
explicadas por mecanismos de transmissão de unidades hereditárias discretas, os quais
são chamadas de genes. Esta idéia só foi aceita por volta de 1900, após sua morte. Seu
trabalho constitue o protótipo da análise genética.

• Porque com ervilhas?


2. Autógamas (auto-fecundação);
3. Utiliza pouco espaço;
4. Curta geração (3 meses);
5. Grande número de progênies.

Características que Mendel usou:


Mendel

Sementes lisas e rugosas


7

• Cruzamentos recíprocos não afetaram o genótipo ou o fenótipo final.

 Mendel descreveu e inventou os termos DOMINANTE e RECESSIVO, observando a


expressão da característica na geração F1.

Ex.: Cor da flor da ervilha - Púrpura = dominante , Branca = recessiva. O fenótipo que
aparece na F1 é chamado dominante.

Flor Púrpura x Flor Branca

F1: Flor Púrpura (Dominante)

Autofecundação ⊗

F2: 705 púrpuras : 224 brancas (3,15 : 1)

 Estudos adicionais na F3 determinaram que 50% da população era impura


(segregava), ele então descreveu o CRUZAMENTO TESTE, híbrido (Aa) x pai
recessivo (aa) que determina uma segregação de 1:1 (Aa: aa), definindo assim, os
termos heterozigoto e homozigoto, ou seja:

Gametas F1
Cruzamento Teste
½A ½a
Gametas ½a ¼ Aa ¼ aa
Pai Recessivo ½a ¼ Aa ¼ aa

50% Aa - Heterozigoto
50% aa - Homozigoto

Alelos: são formas alternativas de um gene. Ex: A, a.


8

1a Lei de Mendel - Segregação Monogênica ou Segregação


Igual (monohíbrida):

"Os dois membros de um par de genes segregam (separam-se) um do outro


em gametas, de maneira que metade dos gametas carregam um membro
(alelo) do par e a outra metade dos gametas carregam o outro membro
(alelo) do par de genes".

Sumário de como estabelecer a Herança Mendeliana Simples:

1. Escolher linhas puras ou indivíduos puros para a característica em questão - o


indivíduo possue a característica estável através de gerações;
2. Intercruzar os indivíduos;
3. Autofecundar o híbrido;

Resultados: F1 - verificar qual o gene é dominante;


F2 - verificar a segregação 3:1

Inferências: Aa = heterozigoto
AA = homozigoto dominante
aa = homozigoto recessivo
A = alelo dominante, pois expressa sua característica no F1
a = alelo recessivo, pois somente se expressa quando em homozigose

2a Lei de Mendel - Segregação Independente (dihíbrida):

"Durante a formação de gametas, a segregação de um par de genes é


independente de outros pares de genes".

Loco - é o local de ocorrência de um único gene, não podendo mais de um alelo ocupar o
mesmo espaço ao mesmo tempo, isto é, A ou a ocupam um loco em um
cromossomo específico. Como os cromossomos encontram-se pareados, os alelos
de um mesmo gene também estão pareados podendo ocorrer as seguintes
conformações no mesmo loco: AA, Aa e aa.

A probabilidade de um gameta segregar e parear com um outro gameta quando um


indivíduo possui 2 alelos ,ex: Aa, é de ½, isto é: ½ A e ½ a. Neste caso três combinações
de alelos podem existir: AA, Aa e aa. Quando se acrescenta mais um loco ou mais um
9

par de genes, seja Bb, deve-se considerar a probabilidade de ocorrência dos alelos
independentemente:

Gametas ½A ½a
½B ¼ AB ¼ aB
½b ¼ Ab ¼ ab

Mendel idealizou o seginte cruzamento:

Pais: RRyy (Lisas e verdes) x rrYY (rugosas e Amarelas)


Gametas: Ry rY

F1: RrYy (Sementes lisas e amarelas)

F2: 315 lisas e amarelas = 9 R_Y_


108 lisas e verdes = 3 R_yy
101 enrugadas e amarelas = 3 rrY_
32 enrugadas e verdes = 1 rryy

Total = 556 sementes = 16 genótipos


10

 Obs: Fácil entender pela representação gráfica - QUADRADO DE PUNNETT: divide-se


em igual probabilidade as quatro interações entre os gametas, ¼ RY, ¼ Ry, ¼ rY e ¼
ry, isto é:

Masculinos
Gametas ¼ RY ¼ Ry ¼ rY ¼ ry
¼ RY 1/16 RRYY 1/16 RRYy 1/16 RrYY 1/16 RrYy
Femininos ¼ Ry 1/16 RRYy 1/16 RRyy 1/16 RrYy 1/16 Rryy
¼ rY 1/16 RrYY 1/16 RrYy 1/16 rrYY 1/16 rrYy
¼ ry 1/16 RrYy 1/16 Rryy 1/16 rrYy 1/16 rryy

Lisas e Amarelas = 1/16 RRYY + 2/16 RRYy + 2/16 RrYY + 4/16 RrYy = 9 R_Y_
Lisas e Verdes = 2/16 Rryy + 1/16 RRyy = 3 R_yy
Enrugadas e Amarelas = 2/16 rrYy + 1/16 rrYY = 3 rrY_
Enrugadas e Verdes = 1/16 rryy = 1 rryy

Legenda
Redonda e amarela Rugosa e amarela

Redonda e verde Rugosa e verde


11

Cruzamento
Teste
12

2. Interações Gênicas Alélicas e Não-Alélicas

2.1. Variações das Reacões de Dominância


1. Dominância completa - segundo as leis de
Mendel
2. Dominância incompleta - fenótipo intermediário
no heterozigoto
3. Codominância - o heterozigoto tem o fenótipo de
ambos progenitores homozigotos
4. Sobredominância - o fenótipo do heterozigoto
excede os fenótipos dos progenitores
Anemia Falciforme - Codominância
homozigotos.

2.2. Alelos Múltiplos:


- É possível ter mais do que um tipo de gene, embora apenas 2 alelos podem existir em
uma célula diplóide.

Exemplo clássico:
Grupo sanguíneo (fenótipo) Genótipo Antígenos nos Anticorpos no
eritrócitos plasma

O IOIO Nenhum Anti-A e anti-B

A IAIA ou IAIO A Anti-B

B IBIB ou IBIO B Anti-A

AB IAIB AeB Nenhum


• Indivíduos do grupo 0 não possuem nenhum dos dois antígenos, portanto possuem
anticorpos anti-A e anti-B; podem receber apenas sangue do grupo O, mas podem
doar para todos os grupos.
• Indivíduos do grupo A possuem apenas o antígeno A, e portanto apresentam os
anticorpos anti-B; podem receber sangue dos grupos 0 e A, e doar para os grupos A e
AB.
• Indivíduos do grupo B possuem apenas o antígeno B, e portanto apresentam os
anticorpos anti-A; podem receber sangue dos grupos 0 e B, e doar para os grupos B e
AB.
• Indivíduos do grupo AB possuem ambos os antígenos, e nenhum anticorpo. Podem
receber sangue de qualquer grupo, mas doam apenas para o grupo AB.
13

A ERITROBLASTOSE FETAL ou Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN),


mais modernamente denominada Perinatal por acometer fetos e recém-natos, pode ser
determinada pela incompatibilidade de antígenos eritrocitários entre a mãe e o filho,
determinando a passagem através da placenta de anticorpos IgG contra antígenos
presentes nas hemácias do feto / recém-nascido, o que resulta na destruição (hemólise)
destas, com consequente anemia e hiperbilirribinemia (icterícia). Para compensar a
anemia, o organismo do bebê acelera a produção de hemácias e lança na corrente
sanguínea hemácias jovens (eritroblastos), de onde originou-se o nome da doença. A
hiperbilirrubinemia (associada à imaturidade da barreira hemato-encefálica no feto e no
neonato) pode resultar em impregnação do Sistema Nervoso Central pela bilirrubina ---
quadro clínico severo denominado Kernicterus.

A DHPN pode ser fatal à criança se não forem tomadas as medidas de tratamento
adequadas. Os casos mais comuns ocorrem quando se trata de mãe Rh negativo e filho
Rh positivo, ou mãe do grupo O com filho do grupo A. Pode entretanto ocorrer em
qualquer caso de incompatibilidade, tanto nos sistemas ABO e Rh (antígenos C, c, E, e),
como em outros sistemas, especialmente se considerarmos os antígenos mais
imunogênicos, como K1 (sistema Kell), Jka (sistema Kidd), Fya (sistema Duffy). No caso
da DHPN por anti-D (sistema Rh), a doença pode ser evitada pela administração
profilática do soro (erroneamente denominado "vacina") Imunoglobulina anti-D, tanto
durante a gestação (alguns protocolos sugerem administração após a 28a semana), mas
especialmente após o nascimento (até 72 horas após) para evitar-se a sensibilização
materna e consequentemente danos aos fetos nas gestações ulteriores.

Teste de Alelismo:
Como sabemos que um conjunto de fenótipos é determinado por alelos do mesmo tipo de
gene?
- Observar as proporções de pares de genes mendelianos em todas as combinações.
Quando o fenótipo da geração F1 é homogêneo e a segregação da F2 equivale-se a 3 : 1,
dizemos que os genes são alelos.

Outro exemplo de alelos múltiplos:


Variabilidade dos HLAs (Antígenos leucocitários humanos) – Importante na análise de
histocompatibilidade no transplante de orgãos.
14

2.3. Genes Pleiotrópicos


- É o inverso da interação gênica ou epistasia. Um único par de genes atua na
manifestação de vários caracteres, ou seja são genes conhecidos por terem mais de um
efeito fenotípico.

Ex. clássico: cor do pelo de camundongos (amarelo e preto - normal) - proporção 1:2
Este exemplo também caracteriza os GENES LETAIS.

A y A 0 x Ay A 0 = 25% A0A0 (preto)


amarelo) 50% AyA0 (amarelo)
25% AyAy (morto) - homozigoto dominante letal

Exemplo Humano:

FENILCETONÚRIA (pele clara e deficiência mental): A criança afetada é portadora de


um par de alelos recessivos, que condicionam um defeito na enzima Fenilalanina
Hidroxilase, responsável pela conversão do aminoácido fenilalanina em tirosina. Em vez
do tirosina, forma-se o ácido fenilpirúvico, que se acumula no sistema nervoso,
ocasionando deficiência mental. O aminoácido tirosina participa também da produção de
melanina. Por isso, as crianças fenilcetonúricas exibem também pele mais clara do que
deveriam ter. Como se vê, neste caso apenas um par de genes atua em dois caracteres
diferentes: cor de pele e capacidade de matabolização da fenilalanina.

2.4. Interações Não-Alélicas ou Gênicas - Epitasia

Fenótipo Bombaim: também conhecido como “falso O”, é verificado em indivíduos que
não produzem o gene H (precurssor) recessivo (h - não funcional), portanto, qualquer
indivíduo que carrega IA ou IB, deverá portar-se como O.

Os antígenos A e B têm como substrato o antígeno H, e são sintetizados pela ação do


gene I, que possui três alternativas alélicas: IA, IB e IO. O alelo IO é silencioso, ou seja, que
não têm nenhum produto ativo e desta forma os eritrócitos de indivíduos homozigóticos
para esse alelo transportam o antígeno H inalterado.
15

O fenótipo de Bombaim, muito particular e raro


na população, refere-se aos indivíduos Oh, ou
faslo os quais não possuem antígenos A, B e H
e têm anticorpos anti-A, anti-B e anti-H. Tendo
em conta o pedigree da figura ao lado, uma
mulher cujo fenótipo é Oh (assinalado de
vermelho), descendente de um casamento
consanguíneo e casada com um homem do tipo
A deu origem a uma filha AB.
Pedigree do fenótipo Oh. (adaptado de
Thompson, 1981)

Por estudos dos ancestrais chegou-se à conclusão que a mulher possuía o alelo IB, mas
não conseguia formar o antígeno respectivo. Isto só pode ser explicado pela existência de
um outro gene envolvido neste fenótipo: o gene H, para o qual a mulher era homozigótica
recessiva. Desta forma, sem o antígeno H, os alelos IA e IB mesmo que presentes não
podem se expresssar o fenótipo por não terem o substrato.

Precurssor

H Transferase

Antígeno H

A Transferase B Transferase

Antígeno A Antígeno B

Os antígenos A, B e H são macromoléculas muito semelhantes entre si, diferindo


apenas nos carboidratos terminais que conferem a especificidade antigênica. Estes
carboidratos são adicionados por transferases (enzimas) a uma cadeia proteica, supondo-
se serem estas enzimas os produtos dos alelos IA, IB e H. Note-se que os indivíduos com
o genótipo ‘hh’ não sintetizam nenhum antígeno, pois não possuem a enzima H
transferase (produto do alelo H), mantendo o precursor inalterado. Da mesma forma, os
indivíduos ‘IOIO’, não conseguem sintetizar antígenos A e/ou B, devido à ausência das
enzimas responsáveis pela sua produção.
16

PENETRÂNCIA - porcentagem de indivíduos de um genótipo específico que expressa o


fenótipo associado com o mesmo.

EXPRESSIVIDADE - grau de expressão de um genótipo específico em nível fenotípico.

O impacto de um gene ao nível fenotípico depende não somente de suas relações de


dominância, mas também da interação com o genoma e com as condições ambientais.

Penetrância Incompleta – Deformidade de mão-fendida

Expressividade Variável – Neurofibromatose Tipo 1


17

3. Mecanismos de Determinação Sexual, Herança e


Sexo

Teoria Cromossômica da Hereditariedade

Sutton & Bovery (1902) - propuseram a TEORIA CROMOSSÔMICA DA


HEREDITARIEDADE - o comportamento paralelo dos
genes e cromossomos sugeria que os genes estavam
localizados nos cromossomos.

Thomas Morgan (1909) - demonstrou que os cromossomos X e Y determinavam o sexo


em Drosophila.

Elinor Carothers (1913) - por meio de testes com cromossomos heteromórficos em


grilos, demonstrou que cromossomos não homólogos
segregam independentemente.

Calvin Bridges (1916) - encontrou que a "não-disjunção" cromossômica em Drosophila,


resultou em progênies excepcionais primárias e secundárias,
provando a teoria da herança cromossômica, em que os genes
estavam localizados nos cromossomos (4% XXY ou X0 - XXX
ou YY morrem)

Obs: cromossomos não sexuais são chamados autossomos.

Herança do Sexo
Dentre os 46 cromossomos humanos, há 22 pares de cromossomos homólogos
chamados autossomos e um par de cromossomos sexuais, chamados X e Y.

A determinação sexual no homem se dá pelo par de cromossomos XY (sexo


heterogamético) e na mulher pelos cromossomos XX (sexo homogamético).

Nas drosófilas e outros animais, a determinação de sexo é semelhante ao homem,


enquanto que nas aves ocorre o inverso, sendo o macho condicionado pelos
cromossomos ZZ e a fêmea pelos cromossomos ZW.
18

Herança Ligada ao Sexo


A herança é considerada ligada ao sexo quando os genes envolvidos situam-se no
cromossomo X, em sua porção não homóloga, isto é, sem correspondência no
cromossomo Y. Portanto, um homem não transmite para seus filhos homens genes
ligados ao sexo, pois o menino herda os genes ligados ao cromossomo Y.

Região não Homóloga ou


Diferencial de X e Y

Região Homóloga de
XeY

Daltonismo
Doença que consiste na impossibilidade de se distinguir nitidamente as cores verde e
vermelha. O termo se origina do nome do naturalista John Dalton (1766-1844), vítima
desta anomalia.
O daltonisno é determinado por um gene recessivo ligado ao X, denominado Xd,
enquando seu alelo dominante que condiciona a visão normal é o XD. Na espécie
humana, a frquência do daltonismo é de aproximadamente 5%, enquanto que atinge
apenas cerca de 0,25% das mulheres. Assim, consideramos os seguintes genótipos e
19

fenótipos em relação ao sexo:

Sexo Genótipo Fenótipo


Masculino XD Y Normal
Masculino Xd Y Daltônico
Feminino XD XD Normal
Feminino XD Xd Normal
Feminino Xd Xd Datônica

Hemofilia
A hemofilia caracteriza-se por uma insuficiência na produção de tromboplastina, enzima
fundamental para o mecanismo da coagulação sanguínea. Essa anomalia também é
condicionada por um gene recessivo (Xh). A doença atinge praticamente apenas os
homens, posi sua incidência é de um homem em cada 10.000 e, geralmente, manifesta-
se por volta de um ano e meio de idade na forma de hemorragia.

Hipótese de Lyon

Em 1961, a pesquisadora Mary Lyon propôs uma hipótese de que as


fêmeas de mamíferos simplesmente desativariam um dos
cromossomos X de cada uma de suas células. Esta hipótese, que
ficou conhecida como hipótese de Lyon, se confirmou mais tarde com
diversos experimentos que mostraram que esta desativação ocorre
durante o período embrionário. Assim, algumas células das fêmeas de
mamíferos teriam um dos X inativados e outras células teriam o outro.
Esta hipótese foi baseada na observação da coloração da pelagem dos felinos que é
determinada por cromossomos sexuais. Nos gatos, assim como em todos os outros
mamíferos, o sexo é determinado por um par de cromossomos, que denominamos X e Y.
Quando o embrião formado é XX, dará origem a uma fêmea, e quando é XY, dará origem
a um macho. Como você pode imaginar, existem genes presentes nestes cromossomos,
que devem se comportar de maneira diferente em cada um dos sexos. Este padrão deu o
que pensar, e os pesquisadores começaram a se perguntar o papel do segundo
cromossomo X nas fêmeas.
Os genes que determinam pelagem preta ou amarelada nos gatos
estão localizados no cromossomo X. Como os machos possuem
apenas um X, eles nunca terão essas duas cores, pois apresentam um
ou outro gene. Já nas gatas a situação é diferente como em algumas
células um dos cromossomos é desativado e o outro não, elas podem
apresentar alguns pêlos pretos e outros amarelos A coloração branca é
determinada por outros genes, que também estão presentes nos
machos. É por isso que algumas pessoas, quando vêm um gato de três
cores, têm certeza de que é uma gata, e não um gato!
Hipótese:
1. Nas células somáticas de mamíferos do sexo feminino, apenas um
cromossomo X é ativo. O segundo X permanece condensado e
inativo, aparecendo em células na intérfase como o Corpúsculo de
Barr ( Cromatina sexual ).
2. A inativação ocorre no início da vida embrionária, mas só se
20

completa ao final da 1ª semana de desenvolvimento.


3. Em qualquer célula somática feminina, o X inativo pode ser o paterno ou o materno.
Depois que um cromossomo X foi inativado uma célula, todos os descendentes clonais
daquela célula apresentam o mesmo X inativo.
A inativação do cromossomo X tem três consequências genéticas importantes:
• Compensação de dosagem.
• Variabilidade da expressão em heterozigotos.
• Mosaicismo, onde as fêmeas possuem duas populações de células, nas quais um
ou o outro cromossomo X é o ativo.
21

Genes recessivos ligados ao X em humanos podem ser detectados:

1. Muitas vezes em homens, pois a mulheres só expressam genes recessivos quando


ambos os pais possuem o gene;
2. Usualmente a progênie do homem recessivo não será afetada, porém as filhas
carregarão o gene mascarado pela condição heterozigótica - 50% dos filhos serão
afetados;
3. Nenhum dos filhos (homens) de um homem recessivo herdará o gene recessivo.

Genes dominantes ligados ao X:

1. Os homens passam a característica para todas as filhas mas não para os filhos;
2. As mulheres passam esta condição para metade dos seus filhos e filhas.

Herança Influenciada pelo Sexo


A herança quando os genes que determinam uma certa característica expressam-se
melhor conforme o sexo. O gene C, que determina a calvíce na espécie humana, atua
melhor quando na presença de hormônios masculinos. Assim um homem CC ou Cc será
calvo, enquanto que uma mulher Cc terá cabelos normais.

Observe o quadro abaixo:

Sexo Genótipo Fenótipo


Masculino CC ou Cc Calvo
Masculino cc Normal
Feminino CC Calva
Feminino Cc ou cc Normal

A Herança Restrita ao Sexo é aquela em que os genes envolvidos situam-se no


cromossomo Y, na porção não-homóloga, manifestando somente nos homens, como por
exemplo, a Hipertricose (presença de pêlos grossos e longos nas orelhas).
22

Símbolos Usados em Análises Genealógicas Humanas

Homem Indivíduos Afetados

Heterozigotos para
Mulher Doença Autossômica
Recessiva
Casal
Portador de doença
recessiva ligada ao sexo
Pais e crianças: 1
menino e 1 menina
Morte
(em ordem de
nascimento
Aborto ou neonato com
sexo não-especificado
Gêmeos Dizigóticos
Propositus

Gêmeos Monozigóticos Método de Identificação


de pessoas em um
pedigree: o propositus é
Sexo não especificado a criança 2 da geração II
ou II.2

Número de Crianças
com o Sexo Indicado Casamento consangüíneo

Propositus (homem), proposita (mulher) – membro da família em que a


doença genética foi descoberta

Exercício

Assuma a genealogia abaixo e apresente um padrão de herança consistente para a transmissão


de um gene W raro na população, representado no indivíduo afetado em preto. (autossômico ou
ligado ao sexo, recessivo ou dominante?)
23

4. Ligação Gênica - Linkage

Ligação gênica - dois genes localizados no mesmo cromossomo contudo não segregam
de forma independentemente devido à proximidade entre eles.

F 1 (Híbrido )

>25% T ip o P arent al

>25% T ip o P arent al

Pro gên ie do
Cru zame nt o T este
<25% Re co mbin an te

<25% Re co mbin an te

Thomas Morgan designou os seguintes termos:

pr vg
Fase de atração
pr+ vg+

pr vg+
Fase de repulsão
pr+ vg
24

pr
pr vg+
vg pr vg

vg+ pr+ vg+


pr+ vg
pr+

 Morgan demonstrou a importância do Cruzamento Teste - O progenitor testador


carrega somente genes recessivos.

 Morgan fez o seguinte cruzamento teste com Drosophila:

pr = olho cor púrpura vg = asa vestigial


pr+ = olho cor vermelha vg+ = asa normal

Obs: Alelos representados com + indicam fenótipo normal e dominante.

Pais: pr+ pr+ vg vg x pr pr vg+ vg+


(fêmea) (macho)

F1: pr+prvg+vg x pr pr vg vg (macho recessivo duplo)

Cruzamento Teste No Observado No Esperado


pr+ vg+ / pr vg 157 583,75
pr vg / pr vg 146 583,75
pr+ vg / pr vg 965 583,75
pr vg+ / pr vg 1067 583,75
Total 2335
25

Alfred Stutervant (estudante de graduação de Morgan) - desenvolveu o método para


descrever a relação entre genes, criando o MAPA DE LIGAÇÃO.

Em razão da descendência do cruzamento teste ser idêntico à proporção de gametas do


heterozigoto, ou seja, expressa a proporção de gametas parentais e recombinantes, faz-
se, então, a estimativa de permuta (%):

No de Recombinantes
% Permuta = x 100
o
N Total de Descendentes

Sendo que o número de recombinantes é representado pela classe inferior.


Portanto:

1 UNIDADE DE MAPA - é a distância entre pares de genes para o qual um produto da


meiose entre 100 é recombinante. Sendo assim, cada 1% de
frequência de recombinação ou permuta representa 1 cM
(centimorgan).

No exemplo de Sturtevant, temos que:

% Permuta = [157 + 146 / 2335] x 100 = 12,97 cM

Thomas Morgan
26

5. HERANÇA QUANTITATIVA
Na herança quantitativa, também chamada de poligênica, os caracteres variam
quantitativamente por interação gênica, como por exemplo: altura, peso, coloração
e o comprimento. Os genes dominantes atuam de forma cumulativa, somando seus
efeitos aos demais.

Nos seres humanos, a cor da pele é um caso de herança quantitativa. Em síntese,


a determinação desta característica é feita basicamente por dois genes não-
alélicos (A e B), os quais determinam o fenótipo pelo número de alelos dominantes
no genótipo:

Genótipos Fenótipos
1/16 AABB (4 alelos dominantes) 1/16 Negro
2/16 AABb
4/16 Mulato Escuro
2/16 AaBB (3 alelos dominantes)
1/16 AAbb
1/16 aaBB 6/16 Mulato Médio
4/16 AaBb (2 alelos dominantes)
2/16 Aabb
4/16 Mulato Claro
2/16 aaBb (1 alelo dominante)
1/16 aabb (4 alelos recessivos) 1/16 Branco

Contudo, os fenótipos ainda possuem influência de outros genes e do ambiente,


favorecendo a alta expressividade e a grande variabilidade de fenótipos.

No caso de existirem três pares de genes para a cor da pele a proporção


genotípica na F2 será de 1 : 6 : 15 : 20 : 15 : 6 : 1, ou seja:

aaBbCC
AABbCc aaBBCc aaBbCc
AaBBCc AaBbCc AabbCc
AaBbCC AabbCC AaBbcc
AaBBCC AABBcc AaBBcc aabbCC aabbCc
AABbCC AAbbCC AAbbCc aaBBcc aaBbcc
AABBCC AABBCc aaBBCC AABbcc AAbbcc Aabbcc aabbcc
1 6 15 20 15 6 1

Quando se trabalha com 3 genes em heterozigose (AaBbCc) tem-se os seguintes


gametas: ABC, ABc, AbC, Abc, aBC, aBc, abC, abc. Há, portanto, 1/8 de chance
para cada um.

A cor dos olhos no homem:

A cor é determinada pela quantidade de melanina na camada mais superficial. Com


pouca ou nenhuma melanina, os olhos ficam azuis (resultado da dispersão da luz na íris).
Com um pouco mais de melanina o olho fica esverdeado até chegar ao preto/castanho-
27

escuro. Acredita-se que a cor do olho siga a herança quantitativa com dois pares de
alelos (A/a e B/b), que podem ser altamente influenciados pela ambiente, conforme
quadro abaixo:

Segregação da Geração F2

♀ ♂ ¼ AB ¼ Ab ¼ aB ¼ ab
1 1 1 1
/16 AABB /16 AABb /16 AaBB /16 AaBb
¼ AB Castanho- Castanho- Castanho- Castanho-
Escuro Médio Médio Claro
1 1 1
/16 AABb /16 AAbb /16 AaBb 1
/16 Aabb
¼ Ab Castanho- Castanho- Castanho-
Verde
Médio Claro Claro
1 1 1
/16 AaBB /16 AaBb /16 aaBB 1
/16 aaBb
¼ aB Castanho- Castanho- Castanho-
Verde
Médio Claro Claro
1
/16 AaBb 1 1 1
/16 Aabb /16 aaBb /16 aabb
¼ ab Castanho-
Verde Verde Azul
Claro

Cálculo do número de genes, genótipos e fenótipos na poligenia:

Número de classes genotípicas na F2 = 4n

Onde n = número de genes em heterozigose.

Potanto, se temos 2 genes (AaBb) o número de genótipos = 42 = 16

Número de classes fenotípicas na F2 = 2n + 1

Assim, para AaBb, temos: 2(2) + 1 = 5 classes fenotípicas.

Herança poligênica

Os caracteres quantitativos são, em geral, regulados por vários genes, ao passo que os
caracteres qualitativos são de herança monogênica ou oligogênica.
28

6. GENÉTICA DE POPULAÇÕES

Teoria do Equilíbrio Gênico de Hardy-Castle-Weinberg

Critérios:
1. Acasalmento ao acaso - sem acasalamento preferencial;
2. Sem seleção diferencial (artificial ou natural);
3. Mutações devem afetar ambos alelos igualmente;
4. Não há perda ou adição de alelos de origem exterior à população - isolamento
completo;
5. Tamanho da população relativamente grande.

Importância:
• Qualquer falha na teoria de Hardy-Castle-Weinberg não tem efeito significante para o
melhoramento genético. O conceito principal da teoria é o entendimento do efeito da
seleção sobre os genes e frequências genotípicas.

Teoria:
(p + q) = 1

sendo: p = A e q = a

p2 + 2pq + q2 = 1

sendo: p2 = AA; 2pq = Aa; q2 = aa

Análise da Frequência de um Alelo Recessivo


Uma característica recessiva em uma população é determinada pela ocorrência de
afetados. Por exemplo, a frequência gênica da ocorrência de fenilcetonúria, localizada no
cromossomo 12 é 1:12.000 na população brasileira. Portanto,
q2 = 1/12000
q = √0,000083
29

q = 0,0091
Portanto, p = 0,9919.
Qual a porcentagem de portadores na população?
2pq = 2 (0,9919) (0,0091) = 0,018 ( ou seja 1,8%)

Análise da Frequência de um Alelo Dominante


A análise das frequências alélicas e genotípicas de um alelo com dominância
completa tem que levar em conta tanto homozigoto dominante quanto o heterozigoto.
Por exemplo, a ACONDROPLASIA - mais de 97% dos pacientes com nanismo
apresentam a mesma mutação, uma transição de G à A no nucleotídeo 1138 do cDNA
levando à substituição de uma glicina por arginina no domínio transmembranar do
receptor do fator de crescimento fibroblástico 3 (FGFR3 ). É a forma mais comum de
nanismo com ocorrência de 1:15.000, com herança autossômica dominante.
Qual é a porcentagem de homozigotos recessivos e heterozigotos?
p2 + 2pq = 1/15.000
q2 = 1 – 0,000066 = √0,999934 = 0,999966
2pq = 2 (0,000034) (0,999966) = 0,000068

Exercícios
1. Uma amostra de 1000 pessoas tinha os seguintes grupos sanguíneos: A=320; B=150, AB=40 e
O=490. Qual é a frequência nesta amostra de cada um dos seguintes genótipos: IAIA, IAi,
IBIB, IBi, IAIB e ii ?

2. A frequência gênica e genotípica de características ligadas ao sexo, são calculadas


diferentemente das características estudadas até aqui, isto é, considera-se que os genótipos
ligados ao sexo teriam a seguinte conformação (fórmula):
homem: p + q = 1;
mulher: p2 + 2pq + q2 = 1;
Isto implica que se uma característica qualquer é observada em 30% dos homens e esta é
recessiva, os valores das frequências gênicas se assemelham à genotípica, ou seja: p=0,70 e
q=0,30, contudo nas mulheres para que estas manisfestem a característica recessiva o gene
recessivo deve estar em homozigose (q2), no caso, o homem está em hemizigose. Portanto,
considerando que o daltonismo verde-vermelho é uma característica ligada ao sexo e que 8%
dos homens a manifestam, calcule a frequência de mulheres portadoras heterozigotas
normais e de mulheres daltônicas.
30

7. DIVISÃO CELULAR, GAMETOGÊNESE E


FERTILIZAÇÃO

7.1. MITOSE

• Divisão celular resulta em duas células filhas idênticas, mantendo o mesmo número de
cromossomos da célula mãe. Ocorre em células somáticas, podendo ser células
diplóides ou haplóides.
 Fases: interfase, prófase, metáfase, anáfase e telófase (Ver figura de pontas de raízes
de Lilium regale).

A mitose é a divisão celular associada à divisão somática das células (células não
destinadas a tornarem-se células sexuais). O ciclo celular pode ser dividido entre quatro
estágios, sendo a mitose (M) propriamente dita o mais curto deles, com duração
aproxiamada de 5 a 10% do ciclo. A síntese de DNA ocorre no período S, e os outros
estágios G1 e G2 são espaços de tempo onde a célula encontra-se num período de
descanso. Juntos, S, G1 e G2 formam a intérfase.

Células em G1 possuem a cromatina descondensada e não há síntese de DNA.


Neurônios e e células vermelhas sanguíneas não se dividem após estarem totalemente
diferenciados e permanecem na fase G1, numa fase não divisória chamada de G0.
Outras células como as hepáticas, podem entrar em G0, mas após uma lesão retornam à
G1 e reiniciam o ciclo celular. Na fase S, os cromossomos podem se replicar entre 6 a 8
horas. As células em G2 finalizam a interfase, sendo esta fase a mais breve, com
duplicação de sua massa total. As 3 fases podem levar de 16 a 24 horas. A mitose por
sua vez pode durar de 1 a 2 horas. As células da derme e mucosa intestinal são as mais
rápidas.
31

Interfase - “Período de descanso” entre mitoses. Muitas funções ativas celulares


ocorrem neste período, principalmente a síntese de DNA. Os cromossomos
são difíceis de serem vistos. Os nucléolos e a membrana nuclear são
nítidos. Cromatina difusa. (a)

Prófase - Cromossomos começam a ficar distintos (condensação ocorre devido à


superespiralização e helicoidização do DNA). Ocorre o desaparecimento da
membrana nuclear. Cada cromossomo consiste de duas partes chamadas
cromátides. As cromátides irmãs são agrupadas no centrômero. O(s)
nucléolo(s) desaparecem neste estágio. (b e c)

Metáfase - As fibras do fuso formam-se, em sentido paralelo e direcionado aos pólos


da célula. Os cromossomos migram para o plano equatorial da célula e cada
um prende-se às fibras no centrômero. Fase mais fácil para fazer a
contagem do número de cromossomos. (d)
32

Anáfase - Nesta fase as cromátides irmãs se separam movendo-se, cada uma, para os
pólos opostos da célula. A separação começa pelo centrômero formando uma
estrutura em forma de V. (e)

Telófase - Os cromossomos se descondensam. A membrana nuclear forma-se


novamente, produzindo assim o núcleo interfásico. (f)

7.2. MEIOSE

• Meiose ocorre sempre em células no ciclo sexual, em células diplóides que geralmente
resulta em quatro produtos haplóides. Promove variação entre os produtos devido à
recombinação (quiasmas).
• Fases I e II: Prófase I: Leptóteno, Zigóteno, Paquíteno, Diplóteno e Diacinese;
Metáfase I, Anáfase I, Telófase I, Interfase, Prófase II, Metáfse II, Anáfase II, Telófase
II e a formação da tétrade (Ver figura da formação de pólen em Lilium regale).

A meiose, como a mitose, é precedida por uma fase pré-meiótica S, durante a qual ocorre
a síntese de DNA. Contudo, alguma síntese também ocorre na Prófase I da meiose

Prófase I -

Leptóteno: Estágio inicial em que os cromossomos começam a se tornar visíveis como


longas fibras muito finas. Os cromossomos começam a se condensar
formando áreas mais espessas e ecuras em toda a sua extensão, chamadas
cromômeros. (a)

Zigóteno: Este é o estágio ativo de pareamento dos cromossomos, no qual torna-se


aparente o complemento cromossômico do meiócito, formando dois conjuntos
completos de cromossomos. Cada par é chamado de homólogos. (b)

Paquíteno: Estágio caracterizado pelo padrão distinto de cada par cromossômico


originado pelos cromômeros. (c)

Diplóteno: Estágio caracterizado pela estrutura sináptica - quiasmas ou crossing-over,


cromossomos com 4 cromátides homólogas. (d)

Diacinese: Finalização da prófase I - cromossomos bem condensados. (e)


33
34
35

Metáfase I - Cromossomos migram para a placa equatorial da célula. (f)

Anáfase I - Cromossomos migram para os polos. Forma em V dos cromossomos. (g, h)

Telófase I - Formação do núcleo, dividindo a célula mãe em duas células filhas 2n. (i)

Interfase, Prófase II, Metáfase II, Anáfase II, Telófase II - semelhante à mitose,
contudo formando ao final quatro células filhas haplóides - n. (j, k, l, m, n,
respectivamente). Letras o e p significam tetrade e grãos de pólen.

 Como os homólogos encontram seu par?


- As terminalizações cromossômicas, telômeros, estão ancorados na membrana
nuclear e é provável que telômeros homólogos estão próximos iniciando o processo de
"zipper".

 Como os homólogos pareiam tão precisamente?


- Um importante fator é a presença do Complexo Sinaptonêmico - estrutura composta
de proteina e DNA encontrada prensada entre homólogos durante a sinapse.

Comparação entre as divisões celulares:

Mitose Meiose
Ocorre em células somáticas. Ocorre em células do ciclo sexual.
Uma divisão celular resultando em duas Duas divisões celulares resultando em quatro
células filhas. produtos meióticos.
O número de cromossomos po núcleo é O número de cromossomos é reduzido pela
mantido metade nos produtos meióticos.
Uma fase S pré-meiótica por divisão celular. Duas fases S para ambas divisões.
Normalmente não há pareamento dos Sinapse total dos cromossomos homólogos
cromossomos homólogos na prófase I
Normalmente não há crossing over No mínimo um crossing over por par
Centrômeros dividem-se na Anáfase. Centrômeros não se dividem na Anáfase I
mas dividem-se na Anáfase II.
Processo conservativo: células filhas Promove variação entre os produtos da
idênticas às parentais. meiose devido à recombinação.
Células em mitose podem ser tanto diplóides Células em meiose são sempre diplóides.
quanto haplóides.
36

7. 3 Gametogênese Humana e Fertilização


Tanto a espemermatogênese quanto a
ovocitogênese exigem a meiose, mas
possuem diferenças importantes. A
meiose feminina é iniciada antes,
durante a vida fetal, em número
limitado de células. A meiose
masculina é iniciada continuamente em
toda a vida adulta do homem.

Espermatogênese
Os espermatozoides são formados nos
túbulos seminíferos dos testículos,
após atingir a maturação sexual. Os
túbulos são revestidos por
espermatogônias que estão em
diferentes estágios de diferenciação.
Após uma série de mitoses, o último
tipo celular é o ESPERMATÓCIDO
PRIMÁRIO, que sofre Meiose I para
formar dois ESPERMATÓCITOS
SECUNDÁRIOS haplóides, que
rapidamente sofrem Meiose II,
formando duas ESPERMÁTIDES cada
um, que se diferenciam em
ESPERMATOZÓIDES. O processo
ocorre em 64 dias.

Ovocitogênese
Ao contrário da espermatogênese, que se inicia na puberdade, a ovocitogênese se inicia
durante o desenvolvimento pré-natal. Os ovócitos se desenvolvem a partir das
OVOGÔNIAS do embrião, que começam a se formar em OVÓCITOS PRIMÁRIOS, dos
quais alguns entram na Prófase da Meiose I. O processo não é sincronizado, e vários
estágios co-existem no ovário fetal. Dos milhões de ovócitos ao nascimento, a maioria se
37

degenera e somente cerca de 400 amadurecem e ovulam. Os ovócitos primários


completam a Prófase I até o momento do nascimento e permanecem assim até a
ovulação.
Depois que a mulher atinge a
maturidade sexual, os folículos
individuais começam a crescer
e amadurecer (média de um por
mês) e são ovulados. Antes da
ovulação, o ovócito completa a
Meiose I, dividindo-se, e uma
céula se torna OVÓCITO
SECUNDÁRIO (óvulo) e a outra
se torna o GLÓBULO POLAR.
A Meiose II se inicia e
prossegue para o estágio de
Metáfase II durante a ovulação,
e a divisão é somente
completada se ocorrer a
fertilização.

Fertilização
A fertilização ocorre na tubas de
Falópio (1 dia de ovulação). A
penetração de um
espermatozoide no ovócito
desencadeia a conclusão de
Meiose II, com a formação de
um segundo glóbulo polar. Os
cromossomos, após tormarem-
se pronúcleos circundados por
uma membrana (ZIGOTO),
replicam-se e o zigoto se divide
por mitose, iniciando o
desenvolvimento embrionário.
38

Cariotipagem Humana

Cada célula do corpo humano contém 46 cromossomos, os quais representam a


biblioteca da informação hereditária. Estes 46 cromossomos consistem de 23 pares,
sendo cada conjunto de cromossomos derivado de um genitor (mãe/pai). Os
cromossomos de 1 a 22 são chamados autossomos e o 23º par de cromossomos forma o
par de cromossomos sexuais (X e Y). Nas mulheres este par de cromossomos consiste
de dois cromossomos X enquanto que homens possuem um cromossomo X e um Y (veja
cariótipo). Aparte do núcleo celular, a mitocôndria no citoplasma da célula também possui
uma pequena quantidade de informação hereditária (< 0.003%).

Cariotipagem convencional com Bandeamento G

Cariotipagem com Fluoréoforos Específicos (SKY)


39

8. ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS NUMÉRICAS E


ESTRUTURAIS

8.1. Alterações Estruturais: Translocações, Inserções,


Deleções, Duplicações e Inversões

Deleção Duplicação Inversão

Inserção

Translocação
40

Duplicação e
Deleção

Inversão
41

Duplicação por recombinação


desigual

Translocação
42

8.2. Alterações Numéricas - Poliploidia


Definições:
- Poliplóides: estado no qual células, tecidos ou indivíduos apresentam número anormal
de um ou mais cromossomos, ou número anormal de repetiçoes de todo complemento
cromossômico.

Tipos de Poliploidia:
• Aneuploidia: nº de cromossomos não é múltiplo inteiro do nº básico (nX + 1 ou mais).
• Euploidia: nº de cromossomos é múltiplo do número básico (nX):
- Autopoliploidia: repetição de grupos similares (genomas).
- Alopoliploidia: genomas diferentes na mesma célula.

Origem:
1. Acidentes citológicos na meiose:
- não-disjunção cromossômica
- migração lenta de cromossomos
- segregação errônea de homólogos
2. Não-disjunção das cromátides irmãs – mitose
43

Na espécie humana, a ocorrência das euploidias é incompatível com o desenvolvimento


do embrião, determinando a ocorrência do aborto. Células poliplóides cujo número de
cromossomos alcança 16n são encontradas na medula óssea, no fígado e nos rins
normais, além de ocorrerem em células de tumores sólidos e leucemia.

Origem das Aneuploidias

As aneuploidias podem se originar de anomalias ocorridas na meiose (isto é, serem


pré-zigóticas) ou nas mitoses do zigoto (pós-zigóticas).

Quando a não-segregação é pré-zigótica, ela pode ter ocorrido na espermatogênese ou


na ovulogênese. Na origem de indivíduos com dois cromossomos X e um Y, a
contribuição feminina é maior do que a masculina; por outro lado, 77% dos casos onde
há apenas um X tem origem em erros ocorridos na espermatogênese. Nas aneuploidias
autossômicas, a influência da idade materna leva a supor que a participação feminina é
maior do que a masculina. As aneuploidias produzidas por erros na mitose do zigoto ou
na segmentação dos blastômeros são menos frequentes.

As aneuploidias devem-se à não separação (ou não-segregação) de um (ou mais)


cromossomo(s) para as células-filhas durante a meiose ou durante as mitoses do zigoto
44

A não-segregação na mitose decorre do não-rompimento do centrômero no início da


anáfase ou da perda de algum cromossomo por não ter ele se ligado ao fuso.

A não-segregação na meiose é devida à falhas na separação dos cromossomos ou das


cromátides, que se separam ao acaso para um pólo ou outro. Na meiose a não-
segregação tanto pode ocorrer na primeira divisão como na segunda. No primeiro caso,
o gameta com o cromossomo em excesso, em lugar de ter apenas um dos
cromossomos de um dado par, ou seja, terá um cromossomo paterno e um materno. No
segundo, o gameta com o cromossomo em excesso terá dois cromossomos paternos
ou dois maternos, por exemplo.

Quando em consequência desses processos de não-segregação falta um cromossomo


de um dado par, isto é, quando o número de cromossomos da célula é 2n - 1, diz-se,
que a célula apresenta monossomia para este cromossomo. Se faltam os dois
elementos do mesmo par 2n - 2, tem-se nulisomia. Se, pelo contrário, houver aumento
do número de cromossomos de um determinado par, a célula será polissômica para o
cromossomo em questão; ela será trissômica, tetrassômica, pentassômica etc.,
conforme tiver 1, 2 ou 3 cromossomos a mais, sendo, nesses casos, o seu número
cromossômico designado por (2n + 1), (2n + 2), (2n + 3) etc.

Importância em Síndromes Humanas:


- Trissomias e Monossomias na área humana são importantes, tais como a Síndorme
45

de Klinefleter (Trissomia – 47,XXY), Síndrome de Turner (Monossomia – 45,X),


Síndorme de Down (46, Trissomia no autossomo 21).
- A incidência da Síndrome de Down é de 1 em 800 (0,12%). O risco para mães com
menos de 30 anos e com síndrome trissômica na família é de 1,4%, semelhante à de
mulheres com 40 anos de idade. Mulheres com mais de 45 anos têm o risco maior que
4%.

Síndrome de
Down
(trissomia do 21)

Poliplóides em humanos são letais, pois os genes deletérios, geralmente recessivos,


manifestam-se quando em homozigose. Existem relatos na literatura de bebês com 69 e
92 cromossomos, que já nasceram mortos ou permaneceram vivos por apenas alguns
minutos.
46

Síndrome de
Klinefelter
(47, XXY – membros
longos, dorso e tórax
estreitos e genitália
pequena)

Síndrome de Turner
(45,X – bebê recém-nascido
com pescoço alado e linfedema
das mãos e pés; menina com
13 anos, baixa estatura,
pescoço alado e atrado na
maturação sexual e tórax
amplo)
47

Trissomia do 13 Trissomia do 18
(Lábio leporino bilateral e (Pés em cadeira de balanço com calcâneo proeminente,
polidactilia) orelhas grandes, malformadas e de baixa implantação)
48

9. GENÉTICA MOLECULAR
Histórico:
• Frederick Griffith (1928) - Experimento sobre Streptococcus pneumoniae em
Camundongos;
Raça R

Camundongo Camundongo
vive
Raça S morre

Raça R

Morte por aquecimento

Camundongo
morre

Raça S Raça S
Vive
Morta

• Avery - McLeod - McCarty (1944) - Separação dos componentes bacterianos e


demonstração do DNA como agente transformador (sequência do experimento de
Griffith);
Bactéria S Morta

Polissacarídeos Lipídeos Proteínas Ácidos Nucleicos

Raça R

Avery
R R R R S
49

2o Experimento de Avery McLeod e McCarty:


DNase RNA + Cêpa R
Camundongo
Vive
Ácidos
Nucleicos
RNase DNA + Cêpa R Camundongo
Morre

• Hershey & Chase (1952) - confirmação do experimento anterior por meio de


experimento com bacteriófago radioativo (capsídeo e DNA);

• Watson & Crick (1953) - elucidaram a estrutura do DNA

Raio-X do DNA em
solução feita por
Rosalind Franklin

Estrutura do DNA
50

Estrutura Primária do DNA


A estrutura primária do DNA é definida pela união entre nucleotídeos compostos de um
açúcar, a desoxirribose, um ácido fosfórico e uma base nitrogenada (citosina, timina,
adenina ou guanina). Os diferentes nucleotídeos se ligam por ligação fosfodiéster entre o
carbono 3’ do açúcar de um nucleotídeo e o grupo fosfato de outro. O DNA se constitui de
duas fitas de nucleotídeos, onde as bases nitrogenadas correspondentes (C+G, A+T)
formam pontes de hidrogênio para manter estável a estrutura em fita dupla. Interações
adicionais entre os nucleotídeos resultam na conformação helicoidal da molécula de fita
dupla.

Estrutura Secundária (Dupla Hélice)


A associação do DNA duplex a proteínas básicas (histonas; H1, H2A, H2B, H3 e H4) dá
ao material genético da célula uma maior condensação. A união de duas proteínas H2A,
duas H2B, duas H3 e duas H4 formam a unidade chamada de nucleossomo. Os
nucleossomos são ligados entre si pela histona H1. Assim o enrrolamento do DNA ao
redor das histonas contribui para o empacotamento, reduzindo sua extensão linear. A
formação de um estrutura mais condensada (57 mil vezes em célula de milho) na
metáfase mitótica, resulta na formação de um solenóide tendo em vista a associação dos
nucleossomos.
51

A estrutura do DNA duplex pode tomar diferentes conformações. Entre elas as formas A,
B, C e Z. A forma B corresponde ao tipo conformacional predominante nas condições
fisiológicas. Ela possui 10 pares de base por volta, um angulo de rotação de
aproximadamente 34o no sentido positivo (da esquerda para direita), e um diâmetro
helicoidal de 19 Å. O resultado de sua rotação é a formação de “entalhes” mais profundos
e mais rasos alternados ao longo do eixo da molécula. Esses entalhes constituem as
localizações no DNA onde algumas proteínas relacionadas com a regulação da expressão
se fixam.

A Compactação do DNA Eucariótico


A cromatina interfásica parece estar como uma massa confusa dentro do núcleo devido à
perda do superenrolamento do DNA. Essa perda está intimamente ligada a pequenos
cortes gerados pela DNAase na molécula do DNA. Regiões completamente relaxadas
contém domínios e loops, semelhantes aos encontrados em bactérias, correspondentes a
sequências específicas que podem desempenhar funções importantes. O desprendimento
da maioria das proteínas do DNA (≅ 92%) nos cromossomos mitóticos, favorece a uma
visualização “direta” de loops. Quando o núcleo está desprovido de proteínas, o DNA
lança os loops que permanecem fixados a uma matriz nuclear residual. Isso parece ser
necessário para a ocorrência de transcrição e replicação.
A replicação do DNA acaba por produzir cromátides irmãs que constituem o cromossomo
após a fase S da interfase. Cada cromátide irmã consiste de uma fibra de
aproximadamente 30 nm e de uma protuberância aparente. Os cromossomos metafásicos
são 5-10 vezes mais condensados que os cromossomos da interfase. A estrutura da
cromatina interfásica não muda entre divisões celulares. Ela é fibrilar e bastante
52

semelhante aos cromossomos mitóticos.


A cromatina pode ser dividida em eucromatina e heterocromatina. A eucromatina é a
região no cromossomo que apresenta fibras com menor densidade em termos de
empacotamento. E tem uma dispersão considerável dentro do núcleo. Outras regiões da
cromatina mais densamente condensada recebe o nome de heterocromatina, e
demonstra uma condição comparável àquela dos cromossomos na mitose. As várias
regiões heterocromáticas se reúnem para formar o cromocentro, densamente corado. O
material genético é organizado de forma a permitir estágios alternativos mantidos lado a
lado na cromatina, e possibilita a ocorrência das mudanças cíclicas no empacotamento da
eucromatina entre intérfase e divisão.
As células na intérfase contém duas classes de heterocromatinas, e é em uma dessas
que o DNA sofre transcrição. Elas são a heterocromatina constitutiva e a facultativa. A
heterocromatina constitutiva é formada por regiões que não são expressas, incluindo
pequenas sequências repetidas de DNA que desempenham papel estrutural no
cromossomo. A heterocromatina facultativa toma a forma de cromossomos inteiros que
não são expressos em certas linhagens celulares, mas que podem ser expressos em
outras.
A condensação do material genético está de alguma relacionado com a inativação dos
cromossomos. Uma pequena minoria de sequências da eucromatina é transcrita, pois a
localização de genes na eucromatina é necessário para a expressão, embora não o
suficiente para isso.
53

Funções dos Ácidos Nucleicos

Replicação
54

Teorias da Replicação (Meselson e Stahl)


55

Distúrbios Mendelianos com Efeitos Citogenéticos


Síndromes raras de genes únicos, além da relativamente comum Síndome do X Frágil,
nas quais há uma anomalia citogenética característica. Estes distúrbios automssômicos
recessivos são coletivamente chamados de Síndromes de Instabilidade Cromossômica. A
natureza do defeito cromossômico e do defeito molecular subjacente na replicação ou no
reparo do cromossomo é diferente em cada um desses distúrbios. A Síndrome de
Bloom é provocada pelo defeito de uma DNA helicase que leva ao aumento de
recombinação somática e troca de cromátides irmãs.

Doenças de Expansões Genômicas Repetidas

Ocorrem devido à recombinação desigual na mesma cromátide ou entre cromátides


irmãs.
56

Transcrição
Promotores: regiões ou sequências de DNA que servem como sítios de reconhecimento
para as RNA polimerases. Ex.: RNA pol em Procariotos.
Região -35 TATA Box (-10)

5'------TGTTGACA----11-15pb------TATAAT----5-8pb------Sítio de Iniciação (A/G) -----3'

Diagrama representativo de um promotor genérico de E. coli. As caixas -35 e -10 (também


chamada caixa de Pribnow ou caixa TATA) são muito conservadas entre distintos
promotores. Pequenas variações nestas sequências podem reduzir drasticamente a
afinidade do fator sigma da RNA pol pelo promotor. A base +1 é, por convenção, aquela
onde se inicia a transcrição. A RNA pol, uma vez acoplada ao promotor, ocupa cerca de 5
voltas do DNA.

Sítio Promotor em Procariotos

Início do
RNA
Sítio Promotor em Eucariotos (RNA pol II)

Início do
RNA

Os genes em eucariotos são compostos de exons e


Introns:
• Exons: região codificadora do gene
• Introns: região não codificadora do gene
• Splicing: retirada dos introns
57

Splicing
O “splicing”, é processamento do RNA mensageiro, é o evento molecular responsável
pela retirada do introns. A retirada alternativa de exons e introns é chamada de SPLICING
ALTERNATIVO.
O processamento se dá pela síntese da fita simples primária, incorporação do CAP na
extremidade 5’ (guanina metilada) e do poliA (múltiplas Adeninas >200) na extremidade
3’.

O Splicing do exon se dá pelo reconhecimento das regiões terminais dos exons e dos
introns, formando um dobra em sua própria molécula, e pequenos RNAs se associam ao
mRNA propiciando o corte e a junção novamente.

Pequeno
RNA
Nuclear

Processo de Splicing e Splicing Alternativo


58

A junção do splicing requer as bases AG no término do EXON, GT (ou GU) no início do


INTRON, seguido pelo término AG, iniciando o próximo EXON com AG.

RNA Transportador
O RNA transportador possui uma estrutura tipo trevo de três folhas, com dobras em sua
própria molécula. O anticódon (trinca de nucleotídeos que fará o pareamento com o códon
do mRNA) é o responsável pela codificação do tipo de aminoácido a ser acoplado à
molécula na região 3’(término CCA) também chamada de região aceptora.

Término da Transcrição
59

Primeiramente não há qualquer associação do término da transcrição com a tradução, ou


seja, o tamanho do mRNA não corresponde ao tamanho da proteína a ser traduziada.

Nos procariotos, o sítio de terminação possui um região rica ma região rica em CG, que
forma uma alça ou grampo (hairpin - devido ao próprio pareamento da molécula
internamente), seguido por uma sequência poli-T, liberando assim o RNA mensageiro.
60

Nos eucariotps, a transcrição termina diferencialmente dos procariotos – há um sinal com


6 bases AAUAAA na extremidade 3’, que segue com a incorporação de mais de 200
adeninas (poli A).

Corte e Adição da cauda poli A


61

Tradução
O processo de tradução (síntese proteica a partir do DNA) ocorre pela interação entre as
3 moléculas de RNA produzidas: mRNA (RNA mensageiro), tRNA (RNA transportador) e
rRNA (RNA ribossômico).

Processo de tradução – mRNA + rRNA + tRNA

O RNA ribossômico, por meio de sua subunidade menor interage com o RNA mensageiro,
que reconhece as bases do RNA mensageiro em trincas (códon) e, na subunidade maior,
forma-se o peptídeo pela adição de aminoácidos pelo tRNA, que carrega em sua estrutura
na porção terminal 3’ o resíduo específico. O tRNA possui o anticódon que reconhece e
pareia com o códon.

O processo de tradução se inicia pela ligação da sub-unidade menor do ribossomo a um


sítio (sequência) específico no mRNA chamado RBS (ribosome binding site). Esta ligação
é mediada, provavelmente, pelo pareamento de uma sequência do rRNA 16S (que faz
parte da composição da sub-unidade leve) com a sequência de Shine-Delgarno (ou
RBS). À sub-unidade menor acopla-se, então, o primeiro tRNA (sempre para formil-
62

metionina, em E. coli), e o conjunto desliza pelo mRNA até encontrar o códon AUG (ou
GUG) (identificado pelo anticódon correspondente no tRNA). Mais uma vez, é
necessário um ajuste preciso da posição de início da leitura do mRNA pelo ribossomo.
Para cada mRNA existem potencialmente três diferentes quadros de leitura (já que as
bases são lidas em trincas), porém só um quadro de leitura é correto. A sub-unidade leve,
por sua vez, não tem como reconhecer o códon AUG, mas "sabe" onde é a sequência
RBS e determina, assim, que a primeira trinca AUG abaixo de seu sítio de ligação será o
início da síntese protéica. Então, fica claro que a associação das duas moléculas, tRNA e
sub-unidade leve do ribossomo, é imprescindível.

Ao conjunto sub-unidade menor / tRNA, já na posição exata para início da síntese


proteica, liga-se, então, a sub-unidade maior, completando o ribossomo. O ribossomo tem
formado, assim, uma cavidade P (à esquerda, no desenho), onde está o tRNA com a
formil-metionina, e uma cavidade A, ainda vazia, a sua direita, aguardando a chegada do
próximo tRNA transportando o aminoácido correspondente ao códon apresentado no
fundo da cavidade. Quando isto acontece uma reação química (ligação peptídica) ocorre
entre o primeiro aminoácido e o segundo, transferindo desta forma o primeiro para se ligar
ao segundo, que permanece pelo seu lado ligado ao seu tRNA. O primeiro tRNA, agora
ocupando a cavidade P do ribossomo, está descarregado. O ribossomo então desloca-se
no mesmo sentido que já vinha fazendo, descartando assim o tRNA vazio, posicionando o
segundo tRNA com os dois aminoácidos a ele aderidos na cavidade P e liberando a
cavidade A para receber um novo tRNA carregado. O processo se repete até que um
sinal de terminação seja encontrado – UAA, UAG, UGA. Neste caso o ribossomo
espera não um tRNA mas uma proteína conhecida como fator de terminação, que se liga
no sítio A ao códon de terminação, desestabiliza o ribossomo e interrompe
irreversivelmente a síntese. Há vários fatores proteicos chamados fatores de iniciação e
fatores de alongamento que colaboram neste processo.

Código Genético
Marshall Nirenberg e seus colaboradores decifraram o código genético (Tabela abaixo). Eles
prepararam 20 extratos de E. coli contendo aminocil-tRNAs (tRNAs associados com aminoácidos).
Cada amostra de extrato consistia de um aminoácido diferente radioativado, e os outros 19
aminoácidos estavam presentes na amostra sem marcação. No painel esquerdo, os aminoacil-
tRNAs e trinucleotídeos passaram por um filtro de nylon (círculo cinza) e não ficaram presos. Os
ribossomos são então presos ao filtro no centro da figura. Cada um dos 64 trinucleotídeos foram
testados separadamente para sua habilidade em atrair um tRNA pela adição aos ribossomos nos
63

diferentes extratos. Cada amostra é então filtrada com um trinucleotídeo radioativado, que faz com
que o aminoacil-tRNA específico se prenda ao filtro com os ribossomos, caso contrário o
aminoacil-tRNA passa direto pelo filtro (lado direito da figura). O teste com todos os trinucleotídeos
determinou quais os codons são específicos para os 20 aminoácidos (na figura UUU =
fenilalanina).

Tabela para identificação dos aminoácidos que serão formados pela trinca de
bases (códon) do mRNA.
a
a 2 Base a
1 Base 3 Base
U C A G
FEN SER TIR CIS U
FEN SER TIR CIS C
U
LEU SER TÉRMINO TÉRMINO A
LEU SER TÉRMINO TRP G
LEU PRO HIS ARG U
LEU PRO HIS ARG C
C
LEU PRO GLN ARG A
LEU PRO GLN ARG G
ILE TRE ASN SER U
ILE TRE ASN SER C
A
ILE TRE LIS ARG A
MET (Início) TRE LIS ARG G
VAL ALA ASP GLI U
VAL ALA ASP GLI C
G
VAL ALA GLU GLI A

Sumário da Transcrição e Tradução em Eucariotos


VAL ALA GLU GLI G
Código Genético
64

Tradução em Eucariotos

SUMÁRIO

Interpretação da Transcrição e Tradução


65
66

10. Mutações no DNA

Os agentes mutagênicos podem ser:

• Físicos: radiação ionizante e raios UVC, capazes de destruir as ligações químicas


ente os nucleotídeos (mutações são mais raras nesses casos, pois a destruição da
cadeia de DNA geralmente provoca a morte celular), e UVB, cujo espectro é
absorvido pelo DNA. Os danos destes agentes são grandemente amplificados em
presença de água e oxigênio;
• Químicos: inúmeras substâncias ditas cancerígenas, que atuam danificando
ligações químicas, ou mesmo substituindo nucleotídeos normais por moléculas
análogas. Radicais livres também atuam catalizando reações químicas danosas ao
DNA;
• Biológicos: ação de vírus e bactérias, que injetam parte de seu DNA na célula
hospedeira, ocasionalmente integrando-a à cadeia de DNA do hospedeiro.
Também podem haver mutações por falhas de ordem genética.

Definições dos tipos de mutações ao nível gênico:

Tipos de Mutações Resultado e Exemplos


Ao nível de Proteínas
Mutação Silenciosa Codon codificando para o mesmo aminoácido
AGG CGG (codificam para Arginina)

Mutação Neutra - não altera a função da Codon para aminoácidos diferentes mas
proteína funcionalmente equivalentes
AAA AGA (Lisina para Arginina - ambos
aminoácidos básicos)
Mutação Missense Codon codificando para um aminoácido
diferente e não funcional
Mutação Nonsense Codon de terminação
CAG UAG (Glutamina para término)
Mutação Frameshift Qualquer deleção ou adição de pares de
bases não múltiplos de 3 bases
67

Transição e Transversão:
Transversão: A T e G C
Transição: A G e C T

Suponha-se que uma proteína (polipeptídeo de Fenilalanina) possua os seguintes códons:


............AAU AAU AAU AAU AAU AAU AAU........
Asn Asn Asn Asn Asn Asn Asn

A adição de uma única base (G) do polipeptídeo de Fenilalanina modifica a fase de leitura
da mensagem ficando da seguinte maneira:

...........AAU GAA UAA UAA UAA UAA UAA U.....


Asn Glu Stop....

A deleção de uma base (A) do polipeptídeo de Fenilalanina siginificaria também a


completa modificação dos aminoácidos:

...........AAU AUA AUA AUA AUA AUA AU.........


Asn Ile Ile Ile Ile Ile

Mutações específicas na 3a base do códon tornam-se menos significativa do que na


pimeira e segunda bases, por ser o códon degenerado, isto é: mais de um códon codifica
para um mesmo aminoácido, ex: Serina (Ser): UCU, UCA, UCC e UCG.

Mutações geradas por substâncias químicas - modificação de bases por retirada ou


substituição de componentes das bases (grupos metil, nitrogênio, oxigênio, etc...)

Modificação de Bases:
5-Bromouracila (BrU) - análogo de bases
do DNA.
68

Mutagênese por meio do Ácido Nitroso (HNO2):

O Nitrato de Sódio (NaNO3) é um aditivo comum que forma naturalmente quando carnes
são preservadas por defumação. No estômago, o nitrato de sódio é convertido em ácido
nitroso (HNO2), o qual atua como um agente mutagênico por deaminação do grupo NH2
da adenina e/ou citosina para um grupo éter, e por esta razaão altera o pareamento de
bases.

Ou seja: CG UG UA + CG
HNO2 Replicação

Observe que muitos químicos, embora não mutagênicos, podem se tornar mutagênicos
quando metabolizados.
69

Mutações geradas por radiação ionizante:


A radiação UV provoca diretamente danos do DNA, com formação de dímeros de bases.
Estes são corrigidos sem problemas a maioria das vezes, mas podem ser reparados
erroneamente com substituição por uma base diferente. A radiação de alta energia (raios
gama, beta e alfa) também causam mutações, ou seja, provocam quebras nos
cromossomos.

Radiação ionizante: na maioria dos estudos, a freqüência de mutações de ponto é


diretamente proporcional à dose de irradiação (raios X, raios gama e raios cósmicos).
70

11. EXPRESSÃO GÊNICA EM PROCARIOTOS


O termo expressão gênica refere-se ao processo em que a informação codificada por um
determinado gene é decodificada em proteína. Teoricamente, em qualquer uma das
estapas desse processo pode levar a uma expressão gênica diferencial.

Nas bactérias, o controle da expressão gênica serve principalmente para permitir que as
células se ajustem às mudanças nutricionais no ambiente, de forma que seu crescimento
e divisão sejam otimizados.

Em organismos multicelulares, a expressão gênica controlada regula um programa


genético fundamental para o desenvolvimento embrionário e a diferenciação.

Em bactérias, muitos genes estão em complexos chamados OPERONS, e nestes


complexos normalmente existe uma proteína repressora e uma ativadora da transcrição
de vários genes que, atuando em "parceria", determinam certas características.

Três operons da bactéria E coli serão apresentados:


• Operon lac (controlador da síntese das enzimas metabolizadoras de lactose),
• Operon ara (controlador da síntese das enzimas metabolizadoras da arabinose) e
• Operon trp (controle da síntese das enzimas sintetizadoras de triptofano).

OPERON lac
No metabolismo da lactose por E. coli são necessárias duas enzimas que fazem parte de
um operon chamado lac. A primeira enzima é a BETA-GALACTOSIDASE. Ela é capaz
de clivar a lactose em glicose e galactose que assim servirão como fonte de carbono para
a célula (ver figura abaixo).

A beta-galactosidase é uma enzima indutível, ou seja, sua expressão varia com as


necessidades celulares:
• Caso a bactéria esteja crescendo em meio rico em lactose, sua expressão será alta;
• Caso a fonte de carbono seja outro carboidrato, sua expressão será reduzida.
71

A outra enzima do operon é a PERMEASE, que, como seu próprio nome indica, é a
enzima responsável pelo transporte de lactose do meio extracelular para o meio
intracelular através da membrana bacteriana (a lactose, como a maioria dos carboidratos,
não é capaz de atravessar a bicamada lipidica sem uma proteína carreadora).
Existe ainda no operon lac uma outra enzima: Tiogalactosídeo Transacetilase. Seu
papel in vivo ainda é incerto, mas in vitro é capaz de transferir uma acetila do acetil CoA
para a hidroxila do carbono 6 de um tiogalactosídeo.
Um importante indício de que a indução ocorreria no metabolismo da lactose foi o
aumento observado de beta-galactosidase quando se tinha um aumento de permease e
transacetilase.
Isto foi facilmente compreendido com modelos mutantes que mostravam que as 3
enzimas são codificadas por 3 genes contíguos (ver figura abaixo), onde:
z - beta-galactosidase; y - permease; a - transacetilase

O RNAm do operon lac é chamado de policistrônico ou poligênico pois possui


informação para codificar as 3 proteínas: beta-galactosidase, permease e transacetilase
(rever figura acima).
Depois da descoberta destes 3 genes, descobriu-se um mutante que possuía os genes
para expressar as 3 proteínas, mas não o fazia. Jacob e Monod deduziram que "a taxa
de síntese destas proteínas é normalmente governada por um elemento comum diferente
dos genes que especificam sua estrutura". A este gene deu-se o nome de regulador
(gene i), sendo que os mutantes constitutivos possuem genótipo i-z+y+a+ e os selvagens
i+z+y+a+.
O gene i é capaz de codificar um repressor que está faltando ou está inativado nos
organismos com o gene i-.
Através de estudos usando bactérias parcialmente diplóides, através do fator sexual (F'),
observou-se que uma bactéria que possui o genoma i+z- e o fator F'i-z+ não é capaz de
metabolizar a lactose, ou seja, o repressor (produto do gene i) é difundível.
72

Existe no opreron lac uma região promotora (p), que é o local onde a RNA polimerase se
liga para começar a transcrição. Juntamente com o operador (o) formam os locais de
controle do operon. Na presença do produto do gene i o operon é incapaz de ser
codificado pois o repressor está ligado ao operador.
O isopropil-b-D-galactosídeo (IPTG) é um indutor artificial do operon lac. Foi através de
estudos com esta substância que se descobriu o repressor lac, que na ausência do
indutor liga-se ao operador e bloqueia a transcrição (veja as figuras abaixo).

O repressor é uma proteína tetrâmera com subunidades idênticas (de 37 kDa), cada uma
com um ponto de ligação ao indutor. Através de cristalografia (ver figuras abaixo)
descobriu-se que esta proteína possui eixos bilaterais, como seria esperado de uma
proteína que se liga ao DNA. "O repressor encontra o operador se difundindo ao longo da
molécula de DNA (uma procura unidimensional) e não o encontrando a partir do meio
aquoso (uma procura tridimensional)”.
73

Já é sabido que se a glicose estiver no meio de cultura da E coli, ela será


preferencialmente usada como fonte de energia, isto é, enzimas utilizadas no
metabolismo dos outros carboidratos serão pouco ou nada expressas. Este efeito é
chamado repressão por catabólito.
Mas como se dá essa repressão?
Um fato importante é que a glicose abaixa a concentração do AMP cíclico em E coli.
Através de estudos com AMPc exogeno, concluiu-se que "AMPc estimula o início da
transcrição de muitos operons indutíveis" sendo, portanto, um sinalizador tanto em
bactérias quanto em mamíferos.
Mas como se dá essa modulação da transcrição via AMPc?
Em bactérias, o AMPc liga-se ao CAP (catabolite gene activator protein - proteína
ativadora de genes por catabólitos), uma proteína dimérica com 2 subunidades idênticas
de 22Kd. Cada subunidade possui um domínio de ligação ao DNA e ao AMPc (ver figura
abaixo). Somente o complexo CAP-AMPc é capaz de estimular a transcrição e se ligar a
determinados promotores (Saiba mais sobre motivos proteicos de ligação ao DNA
clicando AQUI!). No operon lac, CAP se liga próximo a a região que se liga a RNA
polimerase.

CAP exibe simetria bilateral que se ajusta à seu ponto de ligação do DNA. O repressor se
liga em um região "a frente" da RNA polimerase, portanto não bloqueia a sua ligação mas
impede sua progressão. CAP também estimula a transcrição do operon lac por possuir
uma região de ligação a RNA polimerase quando está ligado ao DNA.
74

Os operons catabólitos indutíveis foram colocados sobre controle duplo, pois possuem
promotores de ligação acima da região do operon (provavelmente enfraquecido durante a
evolução) para tornar operons dependentes de uma proteína auxiliar que inicia
eficientemente a transcrição. O indutor específico atua em um só operon enquanto que o
complexo CAP-AMPc é capaz de afetar muitos.

Operons controlados em conjunto pelo AMPc são membros de um circuito regulador


global, dentre eles: genes heat-shock (que são ativados por uma subunidade sigma
diferente da RNA polimerase quando há altas temperaturas) e genes SOS (que codificam
enzimas de reparo após dano no DNA).
75

12. EXPRESSÃO GÊNICA EM EUCARIOTOS

As últimas estimativas sobre o número de genes de uma célula eucariótica são de


20.000–25.000 genes:
• Alguns são expressos em todas as células e em todos os momentos, são os
chamados genes HOUSEKEEPING, responsáveis pela rotina metabólica, ou seja
funções tais como a respiração, e que sejam comuns a todas as células.
• Alguns são expressos quando a célula entra em uma via metabólica específica de
diferenciação.
• Alguns são expressos todo o tempo apenas naquelas células que já se
diferenciaram. Por exemplo, as células do plasma expressam continuamente genes
que sintetizam os anticorpos.
• Alguns genes expressam apenas as condições ao redor e nas alterações celulares.
Por exemplo, a chegada de um hormônio pode ligar ou desligar certos genes
naquela célula específica.

Como a expressão do gene é regulada?


Há vários processos usados em eucariotos.
• Alteração da taxa de transcrição do gene - esta é a mais importante e mais
frequente estratégia usada.
• Contudo, os eucariotos suplementam a regulação transcricional com vários outros
processos:
o Alteração da velocidade na qual os transcritos de RNA são processados
enquanto dentro do núcleo.
o Modificação da estabilidade das moléculas de mRNA, que significa a
velocidade com que estas são degradadas.
o Alterção da eficiência da tradução nos ribossomos formando os
polipeptídeos.

Genes condificantes de proteínas têm:


• exons cujas sequências codificam as proteínas;
• introns que são removidos do mRNA antes de serem traduzidos;
• Sítio inicial da transcrição
• Promotor:
o a parte basal do promotor está localizada dentro de aproximadamente 40
pares de bases antes do sítio de iniciação da transcrição.
• Enhancers (ativadores) – a região anterior ao promotor (upstream) se estende por
mais de 200 pb ou ainda a região posterior ao gene estrutural, downstream.
• Silencers (silenciadores)
76

Genes Adjacentes (codificantes de RNA tanto quanto codificantes de proteínas) são


frequentemente separados por um insulator (insuladores) que os ajudam a prevenir o
que chamam de reação cruzada entre os promotores e ativadores/silenciadores.

Sítio Inicial da Transcrição:


O promotor é onde a molécula de RNA polimerase II (pol II, também conhecida por
RNAP II) se associa. A Pol II é um complexo de 12 proteínas diferentes e o sítio inicial é
onde o RNA se inicia.

The promotor basal contem uma sequência de 7 bases (TATAAAA) chamada de TATA
box. É associada a um largo complexo de 50 proteínas diferentes, incluindo:

• O Fator de Transcrição IID (TFIID) que é um complexo de:


• TATA-binding protein (TBP – proteína de associação ao TATA), a qual
reconhece e se associa ao TATA box
• Outros 14 fatores proteicos que se associam ao TBP e entre si, mas não ao DNA.
77

O promotor basal é econtrado em todos os genes codificantes de proteínas. Contudo, há


um grande contraste entre os genes na estrutura da sequência da região anterior dos
promotores (upstream).
Embora a figura esteja desenhada como uma linha reta, a associação dos fatores de
transcrição leva o DNA à formar uma alça.
Muitos genes diferentes e muitos tipos celulares compartilham os mesmos fatores de
transcrição — não apenas aqueles que se associarão ao promotor basal, mas também
aqueles que se associarão à região upstream. O que realmente faz com que o gene seja
transcrito é a combinação única e particular do promoter e fatores de transcrição.

Fatores de transcrição representam apenas uma fração de proteínas de uma célula.

Hormônios exercem muitos efeitos na formação de fatores de transcrição. Os complexos


de hormônios e seus fatores de transcrição representam uma classe desses fatores, e os
elementos de resposta hormonais, nos quais o complexo se associa, são os sítios
promotores.

Ativadores (Enhancers)
Alguns fatores de transcrição ("Enhancer-binding protein") se associam à regiões do DNA
que estão milhares de pares de bases distante do gene que eles controlam. A associação
aumenta a taxa de transcrição do gene.
Ativadores podem estar localizados upstream, downstream, ou mesmo dentro do gene.
Como esta associação de uma proteína ao ativador regula a transcrição de um gene
milhares de bases distante?
Uma possibilidade é que a associação ativador-proteína, em adição ao sítio promotor do
DNA, tem sítios que se agregam aos fatores de transcrição ("TF") integrados ao sítio
promotor do gene.
Transcription Factor IIB (TFIIB) se associa a ambos DNA e pol II.

Silenciadores
Silenciadores são regiões controladoras do DNA que, como os ativadores, estão
localizados milhares de pares de bases distante do gene. Contudo, quando os fatores de
transcrição se associam a eles, a expressão do gene é reprimida.

Insuladores (Insulator)
Como foi visto acima, ativadores podem ativar os promotores dos genes localizados
milhares de pares de bases distante do gene que controlam. Como prevenir que um
ativador se associe inespecificamente a um promotor de outro gene no mesmo
cromossomo, ativando-o? A resposta é o insulator.
78

Insuladores são:
• Pedaços de DNA (tão pequenos quanto à 42 pares de bases)
• Localizados entre:
o Ativadores e promotor ou
o Silenciadores e promotor de genes adjacentes ou grupos de genes
adjacentes.
Sua função é prevenir que a expressão de um gene seja influenciada pela ativação ou
repressão de genes adjacentes (vizinhos).

Exemplo:
O ativador para o promotor do gene da cadeia delata do antígeno receptor de célula T
gama-delta (TCR) está localizado próximo ao promotor da cadeia alfa do TCR alfa-beta
no cromossomo humano 14. Uma célula T deve escolher entre um ou outro gene. Há um
insulador entre ambos os genes que viabiliza a ativação de um gene sem que ocorra a
ativação do outro.

Todos os insuladores descobertos até o momento em vertebrados atuam apenas quando


se agrega a uma proteína designada CTCF ("CCCTC binding factor"; que é designada
pela seqüência de nucleotídeos encontrada nos insuladores). As CTCF têm 11 dedos de
zinco 11 (zinc-fingers).

Outro exemplo: Em mamíferos (camundongos, humanos e porcos), apenas o alelo do


gene insulin-like growth factor-2 (IGF2) herdado do pai é ativo, enquanto que o herdado
da mãe não é – um fenômeno chamado imprinting.
O mecanismo – o alelo materno tem um insulador entre o promotor do IGF2 e o ativador,
como também ocorre com o alelo paterno, mas neste caso o insulador é metilado. O
CTCF não poderá mais se associar ao insulador, e então o ativador está livre para ativar o
promotor paterno do IGF2.
Muitas das raças comerciais de suínos foram melhorados para conter um gene que
aumenta as proporções entre músculo esquelético e gordura. Este gene é um alelo do
gene IGF2, o qual contem um único ponto de mutação e um dos seus introns. Suínos
com esta mutação produzem altos níveis de mRNA de IGF2 mRNA no músculos
esqueléticos, mas não no fígado.

Isto nos indica que:


• Mutações que afetam o fenótipo não estão necessariamente nas porções
codificantes do gene.
• Mutações em regiões não-codificantes de um gene podem afetar como um gene é
regulado.
79

RNA Antisenso
O RNA mensageiro (mRNA) é uma molécula de fita simples. Sua sequência de
nucleotídeos é chamada de “sense” porque resulta em uma proteína. Normalmente seus
nucleotídeos não pareados estão prontos para serem pareados aos anticodons de RNA
presentes nos RNAs transportadores, ao proceder a tradução da mensagem pelos
ribossomos.
Contudo, o RNA pode formar fitas duplas (duplex) como o DNA. Tudo que se precisa é
uma segunda fita de RNA cuja seqüência de bases é complementar à primeira fita. Por
exemplo:
5´ C A U G 3´ mRNA
3´ G U A C 5´ RNA Antisenso

A segunda fita complementar ao mRNA é chamada de RNA antisenso. Quanto o mRNA


forma um duplex com o RNA antisenso a tradução é boqueada. Isto pode ocorrer pelos
seguintes motivos:
• Os ribossomos não conseguem ter acesso aos nucleotídeos do mRNA ou
• O RNA duplex é rapidamente degradadopor ribonucleases na célula (veja RNAi a
seguir).

Com a tecnologia do DNA recombinante, genes sintéticos (DNA) que codificam moléculas
de RNA antisense podem ser introduzidos dentro de um organismo.

RNA de interferência (RNAi)


Durante os testes sobre os efeitos do RNA antisense, descobriu-se que o RNA sense, que
seria a molécula controle, também atuou como inibidor do RNA, como observado com o
RNA antisense. Por que?
Naquele momento arece que as preparações de RNA sense também contavam com
contaminações de RNA duplex ou RNA de fita dupla (dsRNA). Os dsRNAs que
correspondem a um gene específico são poderosos supressores daquele gene. De fato, o
efeito supressor do RNA Antisense provavelmente depende de sua habilidade em formar
um dsRNA usando a seqüência complementar do mRNA alvo.
A habilidade de dsRNA suprimir a expressão de um gene correpondente à sua seqüência
é chamada de RNA de interferência (RNAi), também chamado de silenciamento
gênico pós-transcricional - SGPT.
80

Mecanismo do RNAi
As únicas moléculas de RNA normalmente encontradas no citoplasma de uma célula
qualquer são moléculas de fita simples. Se as células encontram moléculas de RNA de
fita dupla (dsRNA), elas usam uma enzima chamda de Dicer que corta as dsRNA em
fragmentos contendo 19 pares de bases (~2 voltas na dupla fita) com dois nucleotídeos
adicionais na extremidade oposta de cada fita.
As duas fitas de cada fragmento então se separam e liberam a fita antisense. Com a
ajuda de uma proteína, este fragmento antisense se associa à seqüência complementar
sense de uma molécula de mRNA. Se o pareamento é exato, então o mRNA é destruído.
(vide Figura a seguir).
Por causa da ação destes RNAi, estes fragmentos de RNA têm sido designados de
pequenos RNAs de interferência ou "short interfering RNA" (siRNA).
O complexo do siRNA e proteina é chamado de complexo de silenciamento induzido de
RNA - "RNA-induced silencing complex" (RISC).
siRNAs podem também interferir com a transcrição.
Há uma crescente evidência de que siRNAs podem inibir a transcrição dos genes.
• Talvez por associação às sequências complementares no DNA ou
• Talvez por associação ao RNA nascente (transcrito primário), quando está se
formando.

Por que o RNAi?


O RNAi tem sido encontrado em diversos organismos, tais como plantas, fungos e
animais. Tal resposta universal celular deve ter uma importante fuinção. Qual seria?

Algumas possibilidades:
• Alguns vírus de ambos plantas e animais possuem um genoma de dsRNA. Em
muitos outros vírus seus genomas são de RNA que ao entrar na célula hospedeira
é rapidamente convertida em dsRNA. Então o RNAi pode ser uma arma poderosa
para conter a infecção por estes vírus através da destruição dos mRNAs e assim
bloquear a síntese de proteínas virais essenciais.
• Transposons (um tipo de DNA) podem ser transcritos em moléculas de RNA com
regiões que formam fita dupla. Os RNAi podem estão destruir estes transposons.
• O RNA de interferência pode ainda ser dividido em um outro processo básico para
o controle da expressão gênica como os miRNAs (a seguir).
81

MicroRNAs (miRNAs)
No nematóide C. elegans, o desenvolvimento através de seus estágios larvais até a forma
adulta requer a presença de no mínimo dois "microRNAs" ("miRNAs") — moléculas de
fitas simples de RNA contendo cerca de 22 nucleotídeos (quase do mesmo tamanho dos
siRNAs).
Estes pequenos transcritos de fita simples são gerados pela clivagem de longos
precurssores usando uma versão similar à enzima Dicer.
Estes miRNAs atuam destruindo mRNAs ou inibindo a tradução (ver figura a seguir) de
vários mRNAs neste organismo através da associação às regiões de sequências
complementares na extremidade não traduzida 3' do mRNA.
82

Os microRNAs (miRNAs) em C. elegans são representantes de uma longa classe de


RNAs que:
• São clivados de longos precurssores de RNA pela Dicer condificado pelos genes
do próprio organismo;
• São encontrados em humanos (nós temos mais que 200 genes de miRNA),
Drosophila, camundongos, peixes e plantas também;
• contem 19 a 25 nucleotídeos;
• podem ser expressos em:
o apenas certos tipos celulares;
o em apenas alguns períodos de diferenciação de tipos celulares específicos.

Estes "riboreguladres" têm duas características que se ajustam perfeitamente a este tipo
de regulação:
• Sendo pequenos, eles podem ser rapidamente transcritos a partir de seus genes.
• Eles não necessitam de ser traduzidos em proteínas para atuarem (em contraste
com os fatores de transcrição).
A repressão da expressão gênica por miRNAs parece ser um mecanismo que garante a
expressão gênica regulada e coordenada conforme as células se diferenciam. Por
exemplo, quando genes do zigoto começam a serem ativados para se tornar blastula no
zebrafish, um dos miRNA que ele codifica ativa a destruição dos mRNAs maternos que
regulavam as células até então.
Então os miRNAs podem ter uma importante função, como os fatores de transcrição, na
regulação e coordenação da expressão de múltiplos genes em um tipo particular de célula
e em tempos específicos.

Outros mecanismos na regulação gênica:


No eucariotos, existem diversos eventos de regulação gênica, que vão deste a regulação
da replicação, passando pela transcrional, pós transcricional, traducional e pós-
traducional.
83

Seis passos no controle da expressão:

Núcleo Citoplasma
sma
1 2 3 5 mRNA
Inativo
Transcrito
DNA Primário mRNA mRNA

4
Tipos de Controle da Expressão:
1. Controle transcricional Proteína
2. Controle do Processamento do RNA
3. Controle do Transporte do RNA 6
4. Controle da Tradução
5. Controle da Degradação do RNA
Proteína
6. Controle da Atividade Pós-Traducional
Ativa/Inativa

Como uma célula pode controlar as proteínas que ela faz?


• Controlando a transcrição pelo promotor,
• Controlando como um transcrito primário sofre o splicing,
• Selecionando quais mRNAs são traduzidos,
• Ativando ou invativando as proteínas depois da síntese.

ELEMENTOS EM CIS: são elementos que regulam a iniciação da transcrição juntamente


como o PROMOTOR.
84

Epigenética
• É o conjunto de modificações nucleares herdadas e que modulam a expressão
sem modificações na seqüência de DNA.
• Essas modificações incluem a metilação das citocinas (que é a maioria,
principalmente em regulações realizadas a longo termo), acetilação das histonas e
modificação da estrutura da cromatina.
• Todas as células possuem o mesmo genoma, no entanto expressam genes
diferentes, dependendo do seu estado de diferenciação e das suas circunstancias
funcionais.
• Além dos fenômenos de pura regulação gênica, a metilação está envolvida nos
processos de regulação da estrutura da cromatina, estabilidade genômica e na
patogênese de doenças (especialmente câncer).
• Fatores ambientais podem levar à mudanças nos padrões epigenômicos
(epimutações), tendo assim influências duradouras sobre o fenótipo.
• Relembrando a Hipótese de Lyon:
Nas células somáticas de mamíferos do sexo feminino, apenas
um cromossomo X é ativo. O segundo X permanece
condensado e inativo - Corpúsculo de Barr ou Cromatina
sexual. Número de corpúsculos de Barr = nº de cromossomos X
por célula – 1.

Metilação
A metilação é uma reação química que consiste a adiçao de um grupo metila (-CH3) a
uma molécula, com o caso particular quando um átomo de hidrogênio é substituído por
um grupo metil.
É o principal mecanismo epigenético. A metilação consiste na transferência de grupos
metilo a algumas das bases citosinas (C) do DNA situadas previa e contiguamente a uma
guanina (G). Visto que a metilação é fundamental na regulação do "silenciar" dos genes,
pode provocar alterações na transcrição genética sem necessidade de que se produza
uma alteração na sequência do DNA, sendo um dos mecanismos responsáveis pela
plasticidade fenotípica. Neste processo há a intervenção das enzimas DNA-
metiltransferases.

Imprinting Genômico
Um exemplo clássico é a doença de Prader-Willi e de Angelman.

Prader-Willi
Angelman
85

O imprinting é um processo normal provocado pelas alterações na cromatina que ocorrem


na linhagem germinativa de um dos genitores, mas não no outro, em regiões
características do genoma. Essas alterações incluem a metilação, afetando a expressão
gênica.
A Síndrome de Prader-Willi é uma síndrome dismórfica caracterizada por obesidade,
hábitos alimentares excessivos, mãos e pés pequenos, baixa estatura, hipogonodismo e
retardo mental. Em 70% dos casos existem uma deleção genética envolvendo a porção
do braço longo do cromossomo 15 herdado do pai, portanto com informaçãoo genética
somente da mãe. Na rara Síndrome de Angelman (aspecto facial incomum, baixa
estatura, retardo mental severo e convulsões) acontece ao contrário, a deleção é no
cromossomo 15 materno, portanto com informação genética do pai somente.
Descobriu-se que mutações na cópia materna do gene E6-AP da ubiquitina-proteína
ligase causam síndrome de Angelman. A Síndrome pode se originar de grande deleções
maternas no cromossomo 15q11-q13 e na dissomia uniparental do 15 paterno (definida
como linhagem celular dissômica, contendo dois cromossomos ou porções herdados de
um único genitor).

Ciclo de Vida de uma Proteína


Uma proteína passa para ser degradada precisa da marcação da molécula UBIQUITINA,
processo chamado de UBIQUITINAÇÃO, com o objetivos de ser reconhecida por um
PROTEASSOMA e ser degradada.

Para que uma proteína exerça uma função é necessário que ela passe por um processo
PÓS-TRADUCIONAL (modificação), tais como: FOSFORILAÇÃO, GLICOSILAÇÃO,
ACETILAÇÃO, entre outros.
86

Direcionamento de Proteínas
As modificações pós-traducionais conhecidas incluem fosforilação, acetilação, alquilação,
metilação, sulfatação, isoprenilação, glicilação, ubiquitinação e formação de pontes
dissulfeto.
87

Modificações Pós-Traducionais
As modificações pós-traducionais conhecidas incluem fosforilação, acetilação, alquilação,
metilação, sulfatação, isoprenilação, glicilação, ubiquitinação e formação de pontes
dissulfeto.

Acetilação e deacetilação de histona


Em acetilação e deacetilação de histona, as histonas são acetiladas e deacetiladas
em lisina localizada na cauda N-terminal como parte da regulação genética.
Tipicamente, estas reações são catalisadas por enzimas com atividade
"acetiltransferase histona" (HAt) ou "histona deacetilase" (HDAc).

Enovelamento de Proteínas (protein folding)


Logo após a tradução, a proteína é apenas uma longa cadeia de aminoácidos incapaz de
exercer sua função biológica. Para se tornar ativa ela precisa assumir a devida
conformação, adquirir uma estrutura tridimensional específica, a chamada forma nativa.
Este processo - a passagem de uma cadeia amorfa para uma proteína ativa - é chamado
de enovelamento. O processo reverso é a desnaturação. Proteínas desnaturadas podem
perder sua solubilidade e precipitar. Algumas proteínas desnaturadas podem
eventualmente se re-enovelar, a maioria não.
A informação sobre como será a estrutura terciária de uma proteína estão contidas em
sua própria estrutura primária; pois esta é sempre a forma mais estável, de menor
energia, que a cadeia pode assumir. A forma mais estável varia de acordo com o meio.
Em um solvente polar, por exemplo, uma forma estável terá os aminoácidos de cadeia
lateral polar expostos ao meio e os de cadeia lateral apolar escondidos no núcleo da
proteína; num solvente apolar vale o contrário. O enovelamento é guiado pelas forças de
Van der Waals, contribuições da energia livre de Gibbs, formação de pontes de hidrogênio
e pontes dissulfeto. Apesar das proteínas espontaneamente assumirem sua forma nativa,
muitas vezes esse processo é demasiadamente demorado. Por isso existem as
chaperonas, proteínas que catalisam o enovelamento de outras proteínas.
88

Fosforilação
É a adição de um grupo fosfato (PO4) a uma aminoácido de uma cadeia protéica. A
reação é:
ATP + proteína <---------> fosfoproteína + ADP
As fosfatases são as enzimas responsáveis pela desfoforilação e as quinases as
reponsáveis pela fosforilação.
A fosforilação em eucariotos ocorre apenas em serina, treonina ou tirosina. A taxa relativa
de probabilidade de fosforilação desses três aminoácidos é de aproximadamente
1000/100/1 para serina/treonina/tirosina respectivamente. Podemos então notar que a
tirosina é relativamente muito raramente fosforilada, ainda assim, sua fosforilação é de
profunda importância. Porque, por exemplo, a atividade de muitos receptores de fatores
de crescimento é regulada por ela.
De um modo geral, a fosforilação é a mais importante e bem estudada modificação pós-
traducional. Exerce papel crucial em inúmeros processos celulares; muitos receptores e
enzimas são “ligados” ou “desligados” pela fosforilação e desfosforilação. O controle da
atividade enzimática pela fosforilação é responsável por diversas vias de transdução de
sinal, pelo controle do ciclo celular e muitos outros eventos celulares cruciais.
À primeira vista pode parecer que a simples adição de um grupo fosfato não deveria ser
tão importante. No entanto, o grupo fosfato é fortemente negativo, então sua adição induz
forças na cadeia protéica que podem levar a uma radical alteração em sua conformação.
Desse modo, uma proteína pode expor os aminoácidos antes escondidos em seu centro e
mudar muito suas característica. Por exemplo, uma proteína apolar e hidrofóbica pode se
tornar polar e hidrofílica.
A poli-fosforilação também é um processo importante. A proteína p53, (já foi “molécula do
ano”, é conhecido como o guardião do DNA) de crucial importância para a manutenção da
integridade do material genético e para o bom andamento do ciclo celular, possui 18 sítios
de fosforilação. Isso decorre principalmente de sua importância; sua atividade
precisamente ser finamente regulada, pois quando muito ativa ela induz a apoptose e
quando muito inativa o desenvolvimento de câncer é muito provável.

Formação de pontes dissulfeto


Modificações pós-traducionais podem levar a formação de pontes dissulfeto, o que altera
drasticamente a estrutura tridimensional da proteína em questão.
Pontes dissulfeto são ligações fortes covalentes entre dois grupos sulfidril ( -SH ), quase
sempre da cadeia lateral de cisteína. Essa ligação é muito importante para a formação da
estrutura terciária de proteínas e conseqüentemente para a função destas.
Em células eucarióticas as pontes dissulfeto são formadas no lúmen do [retículo
endoplasmático rugoso - RER (retículo endoplasmático rugoso)], porque esse ambiente,
ao contrário do citosol, é um meio oxidativo.
Sendo assim, pontes dissulfeto são desfeitas no citosol, portanto apenas proteínas
lisossomais, secretórias e do glicocálice as possuem.
Há exceções notáveis para esta regra. Por exemplo, proteínas citoplasmáticas possuem
resíduos de cisteína muito próximos que funcionam como detectores do potencial redutivo
do citosol; quando este cai, os resíduos se oxidam, formando pontes dissulfeto e
disparando mecanismos celulares de resposta.

Glicosilação
É a adição de sacarídeos a cadeias protéicas. Este processo é primordial para a formação
das proteínas de membrana e secretórias.
Há dois tipos de glicosilação: a nitrogênio-glicosilação, que ocorre no nitrogênio da amida
de cadeias laterais de asparagina e a oxigênio-glicosilação, que ocorre no hidróxi oxigênio
de serina e treonina.
89

As cadeias de polisacarídeas adicionadas as proteínas tem diversas funções:


experimentos mostraram que sem elas, algumas proteínas não se enovelam corretamente
e outras tem sua vidamédia muito diminuída. A glicosilação também desempenha uma
papel central na adesão célula-célula.

Sulfatação
Ocorre em resíduos de tirosina de proteínas como o fibrinogênio e proteínas que serão
secretadas (por exemplo a gastrina).
O grupo sulfato uma vez adicionado não será mais removido, sendo assim, ele é não
usado para a regulação protéica como a fosforilação, só é adicionado quando necessário
para a função biológica daquela proteína.

Metilação
É a substituição de um hidrogênio (H) por um grupo metil (CH3).
Em sistemas biológicos essa reação é catalisada por enzimas e está envolvida na
modificação de metais pesados, na regulação da expressão gênica e no metabolismo de
RNA.
Em proteínas a metilação ocorre em resíduos de arginina ou lisina. A metilação protéica é
hoje mais bem conhecida em histonas, as proteínas responsáveis pelo enovelamento das
fitas de DNA. A transferência de grupos metil de S-adenosil metionina (SAM, um cofator
enzimático presente em todas as células eucarióticas) para histonas é catalisada por
enzimas conhecidas como histona metil transferases. A metilação das histonas pode
influenciar na expressão gênica, sendo portanto um fator epigenético.

Zimogênios
Zimogênios ou pró-enzimas são precursores inativos de proteínas precisam ser clivados
em um ponto específico para dar origem a proteínas funcionais.
A síntese de proteínas em forma de zimogênios é uma estratégia utilizada pela célula
para evitar que uma proteína exerça uma atividade perigosa em hora e local errado. Por
exemplo, as proteínas com função digestiva não podem se tornar ativas no citosol porque
começariam a degradar deliberadamente outras proteínas, então a célula sintetiza essas
proteínas numa forma inativa (os zimogênios). Exemplos conhecidos são a tripsina e a
quimiotripsina.
As caspases, responsáveis pelo disparo do processo de apoptose, também só podem se
tornar ativas em situações específicas, por isso são também sintetizadas na forma de pró-
enzima.
A modificação pós-traducional em questão é a clivagem de zimogênios.
90

EXEMPLO DE PRODUÇÃO DE INSULINA


91

Imunoglobulinas e a Diversidade de Receptores de Células T


Os anticorpos são imunoglobulinas que são produzidas em resposta à estímulos de
antígenos estranhos e que podem reconhecer e ligar-se ao antígeno e facilitar sua
eliminação. As imunoglobulinas apresentam uma propriedade única – o rearranjo
somático, que gera a diversidade. Estima-se que cada indivíduo possa gerar um
repertório de cerca de 1011 anticorpos diferentes.

As moléculas de imunoglobulinas são compostas de


quatro cadeias de polipeptídeos, duas cadeias pesadas
(H) idênticas e duas cadeias leves (L) idênticas. Cada
cadeia H e L consiste de dois segmentos, a região
constante (C) e a variável (V). A região constante
determina a classe da Imunglobulina (M, G, A, E e D).
A região V da cadeia H é composta de 3 domínios, V, D
e J, compondo mais de 200 genes no mesmo locus.
O mecanismo de rearranjo somático é compartilhado por
outro membro da superfamília de genes das
imunoglobulinas, o RECEPTOR DE CÉLULA T (TCR).
O TCR é uma glicoproteína transmembranar altamente
variável que desempenha um papel chave no
reconhecimento do antígeno e da função da célula T.
92

13. BIOLOGIA MOLECULAR

13.1. TÉCNICAS DO DNA RECOMBINANTE

Engenharia Genética - É a manipulação direta de ácidos nucleicos (DNA, RNA) com o


objetivo de transferir uma informação genética de um organismo a outro.

Conceitos Essenciais:

Plasmídio - DNA pequeno ( cerca de 3000 pares de bases) capaz de auto-replicação


(independente do hospedeiro), permite a inserção de fragmentos de DNA em regiões de
sítios múltiplos de restrição (SCM) e possui resistência à antibióticos, além de outros
marcadores fenotípicos como a β-galactosidase.

Lac Z (β-galactosidase)

Sítio de Clonagem
Resistência Múltipla (SCM)
à Antibióticos

Lac Z

Ori (origem da replicação)

Sítio de Clonagem Múltipla: sítio específico para várias enzimas onde cada uma corta o
plasmídio uma única vez.
Ori: origem da replicação - independente da bactéria.
Lac Z: genes que codifica para a β-galactosidade, enzima responsável pela quebra da
galactose.
Resistência à antibióticos: ex: AmpR (Resistência à Ampicilina).

Enzimas de Restrição - proteínas capazes de cortar o DNA em sítios específicos de


93

acordo com a sequência das bases (A, T, C, G). Exemplo:

Eco RI: Proveniente da E. coli 5’---------GAATTC----------3’


3’---------CTTAAG----------5’

As sequências são palindrômicas, isto é, a mesma sequência é lida no sentido inverso.


As enzimas só reconhecem o sítio de clivagem no sentido 5’ 3’. No caso da enzima
acima, as extremidades produzidas pelo corte são chamadas adesivas ou coesivas.
Enquanto que enzimas que cortam exatamente na mesma base, são chamadas lisas ou
abruptas, tal como:

5’------GGCC---------3’
3’------CCGG---------5’
As enzimas de restrição, sensíveis à metilação, podem não reconhecer algum sítio
específico se uma das bases estiver metilada.
94

13.2. ENGENHARIA GENÉTICA


95

13.3. TÉCNICAS DE TRANSFERÊNCIA DE MATERIAL GENÉTICO


(TRANSFORMAÇÃO):
A. Eletroporação - impulsos elétricos alternados aplicados em protoplastos na presença
do material genético desejado em solução - tais impulsos permeabilizam a membrana
celular permitindo a absorção do material genético extra-celular;

B. Microinjeção de Células - manipulação direta


do DNA dentro do protoplasto através de
micromanipuladores;

Métodos para Produção de Animais Transgênicos:


96

Método 1
Injetar CE
Selecionar transformadas dentro
células da Massa Celular de
expressando Blastocistos
o gene
desejável
Células Embrionárias
(CE)
Método 2
Pronúcleo
s Gene de interesse
em vetor Implantar no
útero
Implantar no Mãe
útero
Testa a progênie para a presença do gene

Seleciona machos heterozigotos para a produção de transgênicos


homozigotos

C. Bombardeamento de Partículas - partículas microscópicas de tungstênio que


carregam moléculas de DNA são bombardeadas por descargas elétricas ou por
pressão mecânica, sob vácuo, direcionando-as à células em suspensão.
97

13.4. DIAGNÓSTICOS MOLECULARES

Amostra

Lise

Termociclador (PCR)

Associar

Lavar

Elui
r

DNA
Genômico
ou Viral
98

PRINCÍPIOS DA REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR)


Desenvolvida por Saiki, et al. (1985) e principalmente por Mullis, et al. (1987). Kary Mullis,
que percebeu que possuía uma importante ferramenta em mãos, tentou publicar seus
experimentos nas duas revistas científicas mais Importantes do mundo, a Science,
americana, que prontamente lhe negou a publicação, e a Nature, britânica, que procedeu
da mesma forma. Mullis, resignado, conseguiu publicar então seu artigo sobre
amplificação do gene da β-globina humana na Methods in Enzymology, de impacto
infinitamente menor. Apesar dos fracassos iniciais, a Perkin-Elmer Cetus, uma
reconhecida empresa de insumos para pesquisa comprou-lhe a patente, o que lhe rendeu
bons lucros, não antes de ser agraciado com o prêmio Nobel de Química em 1993.

Na verdade, Saiki já havia descrito a técnica, mas Mullis inovou: Conseguiu especificidade
na cópia de apenas segmentos específicos, introduzindo o conceito de primer de PCR, e
na utilização de uma DNA polimerase termoestável. Até então, a precursora da PCR
demandava grandes quantidades de enzima, adicionadas a cada ciclo de amplificação.
Além disso, desenvolveu-se vários equipamentos para a automatização da adição da
enzima após cada ciclo, todos de custo elevadíssimo (os primeiros “termocicladores”).
Mullis utilizou a então recém descrita Taq, DNA polimerase termoestável isolada da
bactéria de fontes termais Thermus aquaticus. Esta enzima se mantém estável em
temperaturas de até 117ºC, com temperatura ótima de 72ºC. Estes dois passos tornaram
a técnica muito mais fácil de se realizar.
99

Em 1989, o DNA Thermal Cycler apareceu como o primeiro termociclador automático. Até
hoje, a maioria dos termocicladores automáticos funciona com o mesmo princípio:
aquecimento por resistências elétricas e refrigeração com ventoinhas e tubulações em
serpentina preenchidas por etileno glicol. Aperfeiçoou-se os sistemas de contagem de
tempo, para aumentar a confiabilidade das reações. Em meados dos anos 90 surge o
padrão Peltier, cujo bloco de aquecimento é composto por uma liga metálica que aquece
ou resfria de acordo com o sentido da corrente elétrica aplicada.

Termociclador (PCR)

FUNDAMENTOS E OBJETIVOS
Multiplicar um trecho específico do DNA (gene ou parte dele, regiões supervariáveis, Junk
DNA, etc.) utilizando desoxirribonucleotídeos como monômeros até um ponto em que sua
concentração em dada solução seja tão alta que possa ser facilmente detectável por
métodos simples e clássicos de separação e identificação de substâncias. Portanto, Kary
Mullis na verdade propôs uma técnica que consegue resolver um grande problema da
análise de ácidos nucléicos: sua baixa quantidade na maioria dos tecidos vivos.
A multiplicação destes trechos específicos se dá alternando-se a temperatura de ensaio
entre: a) Denaturação das cadeias do DNA genômico (94ºC); b) anelamento (annealinng)
dos primers (50-65ºC), usados para delimitar a seqüência a ser amplificada; c)
temperatura ótima específica da enzima: 72ºC; d) reinício do ciclo.
100

Reação em Cadeia da Polimerase


101

Reagentes Necessários para a Reação


A reação sempre parte de um DNA molde, extraído convenientemente da amostra, ou de
uma amostra de RNA, convertida para cDNA (DNA complementar). O ideal é que o ácido
nucléico esteja livre de impurezas (proteínas, lipídeos, outro ácido nucléico, reagentes de
extração, etc.) e numa concentração mínima de 5µg/mL, apesar de quantidades bem
menores poderem ser utilizadas (em medicina forense, chegou-se a utilizar quantidades
de até 10-12 mol de DNA).

A DNA polimerase: A mais utilizada ainda é a Taq, numa concentração que varia de 1 a
4U por microlitro de solução. Normalmente, a maioria das DNA polimerases disponíveis
no mercado são fornecidas conjuntamente com uma solução-tampão específica, cuja
composição varia de acordo com o fabricante. Basicamente, estas soluções contêm íons
diversos (Na+, Cl-, K+, entre outros) que otimizam as condições de reação. Alguns
tampões contêm ainda detergentes (Tween 20, Triton X-100, Nonidet P-40), inibindo a
formação de dímeros das cadeias enzimáticas, proteínas estabilizantes (BSA = Bovine
Serum Albumin = Albumina Sérica Bovina) e algumas substâncias que agem na
denaturação da cadeia molde de DNA (DTT = Dithiothreitol, β-mercaptanoethanol),
quebrando as pontes de hidrogênio entre as bases.

Um reagente de importância crítica é o MgCl2 , doador muito estável de íons Mg2+, que
são cofatores indispensáveis para atividade da enzima. Algumas enzimas utilizam outros
íons metálicos como cofatores. Um desses casos, e talvez o mais interessante é a enzima
Tth (Thermus thermophillus) Polimerase. Esta enzima possui atividade DNA polimerásica
em presença de íons Mg2+; porém, na presença de Mn2+ esta mesma enzima apresenta
atividade de uma transcriptase reversa, ou seja, sintetiza DNA a partir de uma cadeia de
RNA.

Os desoxirribonucleotídeos são a matéria-prima propriamente dita para a síntese das


fitas-filhas. São compostos por nucleotídeos (ATP, TTP, CTP, GTP) desoxilados no
carbono 5´ da desoxirribose. São adicionados pela polimerase complementarmente à fita-
mãe. Adiciona-se uma mistura de todos os dNTP´s em concentrações iguais à reação.

Os dNTP´s são ligados à fita-mãe pela polimerase numa área delimitada pelos primers,
que são pequenas seqüências de DNA (12 a 35 bases) complementares às bordas.

RT-PCR
RT-PCR (Reverse Transcriptase Chain Reaction): Esta reação é composta de 2 partes:
a transcrição reversa e a amplificação propriamente dita. Seu principal diferencial é que
na verdade esta reação não parte de um molde de DNA diretamente extraído da amostra;
a amostra fornece o RNA, que é convertido em cDNA (DNA complementar). Ferramenta
útil em estudos de expressão gênica, pois avaliando o mRNA, podemos detectar quais
proteínas estão sendo efetivamente expressas. No entanto, o estudo direto do RNA
(principalmente o mRNA) é inviável, devido à sua alta sensibilidade a vários fatores e a
altas temperaturas. O primeiro passo da reação consiste na síntese de uma fita de DNA
utilizando como template uma fita de RNA numa reação catalisada por uma transcriptase
reversa. Usualmente, são utilizadas duas enzimas desta classe, extraídas de vírus: a
AMV (Avian Mieloblastosis Vírus) e a M-MuLV (Moloney Murine Laeukemia Vírus). Além
disso, também são utilizados primers, mas inespecíficos e nunca em pares. São
oligonucleotídeos compostos por várias timinas consecutivas (6 a 35), que são anelados
às regiões Poly-A (ou A-Rich) do RNA, ricas em adeninas. Após este ciclo, obtém-se o
102

cDNA que será utilizado na PCR. É importante ressaltar que o round de transcrição
reversa não altera o número de fitas de RNA ou DNA.

Identificação dos produtos das reações


Eletroforese: Os ensaios de eletroforese se valem do princípio que determina que a
carga global de uma fita de DNA é negativa. Portanto, uma solução que possua íons livres
(eletrolítica) e que tenha moléculas de DNA em suspensão pode ser purificada aplicando–
se uma dada voltagem. Ao final do processo as cadeias de DNA estarão próximas ao
catodo (positivo), atraente de moléculas de carga negativa. No entanto, o foco da técnica
é separar os fragmentos por tamanho, uma vez que a reação gera fragmentos de mesma
extensão. A solução é “peneirar” o resultado da PCR por peneiras moleculares. As
cadeias são “empurradas” através da peneira pela corrente elétrica, e de acordo com o
tamanho dos furos dela, elas serão retidas ou liberadas. Na verdade, nos valemos do fato
de que cadeias maiores demoram mais tempo para passar pelos poros da “peneira”, e
cadeias menores viajam mais rapidamente através dela. A distância que o fragmento
percorreu a partir do ponto de aplicação é comparada com a distância que outros
fragmentos de tamanhos conhecidos percorreram no mesmo gel. São os marcadores de
tamanho molecular (Ladders = Escadas), que são misturas de trechos de DNA com
tamanhos variáveis, normalmente eqüidistantes entre si. Por exemplo, um Ladder de 50bp
quer dizer na prática que ele mostrará várias bandas, cada uma maior 50 pares de base
do que a anterior (50bp, 100bp, 150bp, 200bp, 250bp...). Existem dois modelos básicos
de eletroforese: Baseada em géis de agarose ou em géis de poliacrilamida. As duas
substâncias formam tramas de poros de tamanhos variáveis, possibilitando a separação
dos fragmentos, que terá sua eficiência dependente da concentração do polímero e da
intensidade da voltagem e amperagem aplicada. Em qualquer um dos casos, estas
substâncias são dissolvidas numa solução-tampão eletrolítica, obrigatoriamente a mesma
que recobrirá o gel na cuba de eletroforese e possibilitará a passagem de corrente elétrica
(Tampão de Corrida).Para eletroforese de DNA, normalmente utiliza-se o TBE (Tris-
Borato EDTA) e o TAE (Tris-Acetato EDTA) Quanto à aplicação das amostras no gel, é
importante ressaltar que antes disso elas são misturadas a uma outra (Tampão de
amostra), que tem como função aumentar a viscosidade da amostra e assim impedir que
esta comece a flutuar no tampão de corrida antes que a voltagem seja aplicada no
sistema. Além disso, o tampão de amostra possui um corante, que possibilita a
visualização do andamento da corrida. Usualmente, pode-se utilizar uma mistura de Azul
de Bromofenol (Corante), Xileno-Cianol e Glicose (aumentam a viscosidade), dissolvidos
no tampão de corrida apropriado para cada reação. Apesar da sua versatilidade e relativo
baixo nível de dificuldade de realização, a eletroforese convencional tem a desvantagem
de identificar os fragmentos apenas quanto ao tamanho, e não quanto à seqüência.

Agarose: Polissacarídeo em forma de pó. Quando suspenso em solução aquosa e


aquecido dissolve-se completamente, solidificando-se vagarosamente conforme a
temperatura cai. Enquanto está em forma líquida, é colocado num molde que lhe dará o
formato de um bloco quando resfriar. Enquanto isso são feitos pequenos furos (poços) em
uma das suas extremidades, perpendicularmente ao seu comprimento com o uso de um
“pente”; são os poços que receberão o produto da PCR.
103

Aplica-se uma voltagem entre as extremidades do gel que varia entre 10 e 200 V, e
corrente de 50 a 3000mA. São utilizadas concentrações de 0,5 a 3% de agarose no gel.
Quanto maior a concentração, maior a sua capacidade de distinguir fragmentos de
tamanhos próximos, fator denominado DEFINIÇÃO. Por exemplo, um gel de agarose a
1% pode separar fragmentos com uma diferença de tamanho de 80 pares de bases,
enquanto a 2,5% pode-se separar fragmentos com diferença de no mínimo 30 pares de
bases. A visualização dos produtos no gel após a corrida se dá pela reação de ligação do
DNA com Brometo de Etídio (EtBr). Este composto tem a capacidade de inserir-se nas
fendas da cadeia de DNA e apresenta fluorescência quando excitado com radiação
ultravioleta. Pode-se adicionar o EtBr (10µg/mL) no gel liquefeito antes da corrida ou levar
o bloco a uma solução de EtBr com a mesma concentração e deixar descansar por alguns
minutos.
Gel da agarose montado em cuba de eletroforese horizontal submarina submetido a uma
voltagem de 69 V.

Poliacrilamida: Polimeriza-se a partir da reação da acrilamida (C3H5NO) com a Bis-


Acrilamida (N,N´- Metileno-bis-acrilamida) em presença de perssulfato de amônio e
catalisada por TEMED (N,N,N´,N´-Tetrametiletilenodiamino). A mistura, dissolvida no
tampão de corrida desejado, é posta rapidamente para polimerizar numa cuba de
montagem semelhante à utilizada para agarose, mas orientada verticalmente. Também é
posto um pente para a formação de poços. Após a polimerização, os procedimentos são
os mesmos em relação a um gel de agarose: Cobertura pelo tampão de corrida na cuba
de eletroforese, aplicação das amostras e do ladder, aplicação da corrente elétrica.

Normalmente, utiliza-se géis com concentrações de 4 a 25% de acrilamida. A


poliacrilamida apresenta definição muito maior do que a agarose: um gel de 10% pode em
certas condições separar fragmentos de DNA diferentes em tamanho por apenas um par
de bases A identificação dos produtos pode ser feita pela coloração com EtBr, porém o
método mais utilizado é a impregnação do DNA contido no gel por nitrato de prata. Logo
após a corrida e gel é fixado com uma solução de etanol e ácido acético, para impedir a
eluição (forma borrões no gel) das amostras. Em seguida, é colocado por alguns minutos
numa solução de nitrato de prata. Este composto escurece quando oxidado, o que é feito
passando o gel para uma solução contendo hidróxido de sódio e formaldeído. A coloração
por prata é de bem mais fácil visualização do que a oferecida pelo EtBr, além de ser mais
segura, levando-se em conta o fato de que este é altamente carcinogênico.
104

PRINCÍPIO DA ELETROFORESE

A eletroforese é uma técnica de


separação de fragmentos em gel de
agarose ou acrilamida. O DNA é
separado conforme sua carga negativa,
correndo para o pólo positivo. Quanto
menor o fragmento mais rápido ele migra
para o outro pólo

+ + -

Gel de Poliacrilamida - Detecção do


vírus HPV

M 1 2 3 4 5 6 7
Gel de Agarose com EtBr- Detecção da
prédisposição ao Infarto Agudo pela PCR
105

Projeto Genoma Humano


Proposta:
• Concebido em 1988 por um grupo de pesquisadores e financiado por orgãos
governamentais dos EUA e Europa (HUGO – Human Genome Organization)
• Proposta - sequenciar todo o genoma humano
• Estrutura: - 22 cromos. Autossomos
- 02 cromossomos sexuais
- 3,1 bilhões de bases
- 40.000 genes

Metas:
• Sequenciar as 3,1 bilhões de bases do DNA de todo o genoma humano até 2005
• Identificar cerca de 40.000 genes e posicioná-los no genoma, definindo suas
variações
• Colocar e arranjar as sequências em um banco de dados
• Desenvolver ferramentas de bioinformática para análise
• Discutir as implicações éticas, legais e sociais da pesquisa genômica

Resultados Alcançados:
• Junho de 2000 - anúncio conjunto da HUGO e CELERA (empresa privada) - 96%
sequência obtida e mapeada.
• Comprovação e anotação dos genes em cada sequência
• Cerca de 25.000 genes já identificados
• Estimativa de 3,1 bilhões de bases
106

Como foi feito:


1. Clonagem: - Cromossomos Artificiais de Levedura
- Cosmídios
- Plasmídios

2. Seqüenciamento Automático por Fluorescência


107

3. Bioinformática – alinhamento dos clones, ordenamento e posicionamento nos


cromossomos. Caracterização de sequências gênicas.

Implicações Éticas, Legais e Sociais do PGH


• Uso racional da informação genética
• Privacidade e Confidencialidade
• Impacto Psicológico e estigmatização
• Testes genéticos
• Aspectos reprodutivos
• Educação, padrões e controles de qualidade
• Comercialização
• Implicações conceituais e filosóficas
Privacidade e Confidencialidade
• Quem deveria ter acesso a informação genética?
• Como deveria ser usada?
• A quem pertence e quem controla?
• Considere os seguintes proprietários:
– Seguradoras, Empregadores, Poder Judiciário, Escolas, Agências de
Adoção, Militares.

Estigmatização Psicológica
•Como a descoberta da predisposição genética a uma doença afetará o
indivíduo?
•Como será a percepção da família e dos amigos deste indivíduo?
•Qual será o efeito na percepção da sociedade em relação a este indivíduo?
Teste Genético
•Deveria ser feito apenas quando a família tem um histórico para fins de
aconselhamento pré-natal/decisão de diagnóstico?
•A avaliação da população deveria ser feita? (recém-nascidos, antes do
casamento, e para fins empregatícios)?
•O teste deveria ser feito quando não há tratamento disponível?
Teste Genético
• O teste deveria ser feito para genes de suscetibilidade?
– Como ficaria o papel do ambiente no desenvolvimento da doença?
• Os pais têm o direito de testar seus filhos para doença de ocorrência tardia
(adulto)?
• Os métodos atuais são confiáveis e de fácil interpretação pela comunidade
médica?
108

Aspectos Reprodutivos
• Consentimento informado para os procedimentos
• Uso da informação genética na decisão reprodutiva
• Direitos reprodutivos
Implicações Conceituais e Filosóficas
• Responsabilidade humana
• Liberdade x Determinismo Genético
• Conceitos de Doença e Saúde
Comercialização
• Direito de propriedade
• Patentes, direitos de cópias e comércio secreto
• Acesso aos dados e materiais
Aspectos Clínicos
• Educação para auxiliares de saúde, pacientes e para o público em geral
• Implementação de padrões específicos e medidas de controle de qualidade
para os procedimentos

Problemas Técnicos
• Diagnóstico molecular antes da manifestação de sintomas ou da terapia
(testes positivos para algumas doenças com diagnósticos pré-sintomáticos
podem ser devastadores e mesmo testes negativos podem causar
desespero);
• Entendimento incompleto do teste genético molecular (mutações idênticas
em dois indivíduos podem manifestar-se diferentemente com grandes
variações);
• Má interpretação dos resultados de testes genéticos ou falta de associação
com outros fatores e clínica (histórico familiar, critérios do teste,
conhecimento da doença em nível molecular);
• Discriminação e uso indevido da informação (seguradoras).
109

Terapia Gênica
O que é?
Ø Terapia com a finalidade de transformar ou mudar a expressão de alguns genes na
tentativa de tratar, curar ou mesmo prevenir doenças

Ø Há dois níveis potenciais de aplicações da Engenharia Genética na terapia gênica:


Terapia de Células Somáticas - correção de um defeito genético em células
somáticas
Terapia de Células Germinais - correção de um defeito em células gaméticas ou
tecido reprodutivo

Ø Vacinas de DNA – uso de vetores ou DNA livre com potencial uso para indução de
resposta imune, mas não transforma a célula hospedeira

Importância
Ø 4.000 genes associados à desordens genéticas
Ø Doenças crônico-degenerativas sem tratamento disponível ou cura
Ø Exemplos: Distrofia Muscular de Duchenne, Esclerose Múltipla, Mal de Alzheimer,
Distrofias Miotônica, Doenças Infecciosas (Aids, etc...), Aterosclerose, Tumores,
Fibrose Cística, entre outras.

Tecnologia
Ø Microinjeção direta por meio de micromanipuladores e microscopia
Ø Bombardeamento de micropartículas de tungstênio ou ouro associados ao DNA
Ø Lipídios (lipossosmos) e Proteínas
Ø Transformação de células por meio de vetores:
- Adenovírus - Lentivírus
- Retrovírus - AAVs
- Plasmídios

Alvos biológicos
Ø Genes completos com regiões reguladoras e homólogas - modificação de genes
defeituosos;
Ø Genes anti-senso - produção de RNAs antisenso para impedir a produção de
proteínas defeituosas (ex.: câncer);
Ø Oligonucleotídeos sintéticos antisenso ou senso para impedir a transcrição ou
replicação (geralmente em vacinas gênicas).

Resultados
a
Ø 1990 - 1 terapia funcional com o gene Adenosine Deaminase (ADA) - 2 crianças
com imunodefic. Severa - transf. de linfócitos T com as próprias células (Ashanti
DeSilva)
a
Ø 2000 - 1 morte - Jesse Gelsinger morreu por dose extrema de adenovírus (vírus
da gripe atenuado)
Ø VEGF - crescimento de novos vasos sanguíneos (trombose - coração e pernas) por
injeção direta no local.
110
111

Considerações Finais sobre Terapia Gênica

Ø No momento a única célula humana viável para transformação é a medula óssea -


nenhum outro tecido pode ser removido, cultivado e transformado (exceto células
da pele);
Ø O sistema ideal de transformação/receptor é tecido específico
Ø Vetores derivados de retroviroses são mais vantajosos por infectarem 100% das
células
Ø Microinjeção direta tem efeitos deletérios e grande porcentagem de falhas - não
aceitável para terapia gênica de céulas embrionárias
Ø A terapia gênica de células germinativas pode levar à efeitos adversos - serão
estes herdáveis?
Ø Apenas 0,1 a 0,5% das células nucleadas da medula óssea são células-tronco,
não diferenciadas, capazes de se diferenciarem em tecidos específico - em terapia
gênica, estas células não reconhecíveis, são as células-alvo primárias.
Ø Riscos:
o Nenhum vetor é perfeito - pois grande doses são necessárias para
maximizar a quantidade de genes a serem incorporados ao alvo
o Os vírus geralmente podem infectar mais de um tipo de célula alvo
o O novo gene pode ser inserido em local não desejado, possivelmente
causando danos a saúde
o Injeção direta ou uso de lipossomos têm chances remotas de sucesso
o Genes transferidos podem super-expressar e se tornarem perigosos (ex.:
insulina)
o Falta de consistência e precisão
o Os vírus geralmente podem rearranjar sua estrutura e trocar sequências
com outros vírus.

Você também pode gostar