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PSICOLOGIA

Psicologia – estudo do comportamento e dos processos mentais. Tem como


objectivos alcançar uma compreensão mais profunda do ser humano,
promover/prevenir/remediar situações que ameacem o processo, pondo em
causa a qualidade de vida das pessoas e da sociedade em geral.

O estudo da psicologia começa em responder à questão “Qual é a


especificidade do ser humano?”. Para isto, temos de ter em atenção fatores que
influenciam a pessoa que nos vamos tornar e que influenciam o nosso
desenvolvimento e comportamento, como as características herdadas dos
nossos progenitores, o funcionamento do sistema nervoso, e os factores
socioculturais.

 GENÉTICA

No ser humano há uma grande diferença entre genótipo e fenótipo


(diferenças no nº de células nervosas e organização sináptica em gémeos
monozigóticos); espaço para a indeterminação; os organismos mais simples
apresentam maior rigidez no programa genético, enquanto os mais complexos
têm um inacabamento biológico que se traduz em mais versatilidade
adaptativa; o carácter embrionário torna-se uma vantagem.

Genética – área de investigação que estuda o processo de variação e


transmissão genética de características biológicas dos progenitores aos
descendentes: a hereditariedade (semelhante a herdar algum bem dos nossos
pais e que vai sendo transmitido ao longo de gerações). No entanto, na
transmissão genética, aquilo que é transmitido aos descendentes são meras
potencialidades genéticas que podem ou não manifestar-se.

1. Agentes responsáveis pela transmissão genética

No ser humano, os agentes responsáveis pela transmissão genética são os


gâmetas:o oócito e o espermatozóide (obtidos no processo meiótico nas
gónadas). Estas células têm cromossomas no seu interior.

Cromossomas (corpo colorido) – pequenos corpúsculos filiformes no núcleo


das células constituídos por ADN (ácido desoxirribonucleico), onde se encontra
a informação genética proveniente dos progenitores, e que está codificada nos
genes. As células somáticas do nosso corpo transportam 46 cromossomas (23
de origem materna e 23 de origem paterna, homólogos), os gâmetas
transportam 23 cromossomas. Os 1ºs 22 são semelhantes (estrutura ou forma
semelhante) ou homólogos. O 23º par é o par dos cromossomas sexuais, que
apresenta diferenças:

Mulher: XX
Homem: XY

Quando o oócito é fecundado pelo espermatozóide, os 46 cromossomas


juntam-se e origina-se a primeira célula do novo indivíduo: o ovo ou zigoto.
Através da mitose, o ovo multiplicar-se-á sucessivamente até formar um
organismo completo. Os 23 pares de cromossomas copiam-se, cópias essas que
se dividem em duas células diferentes, cujo núcleo contém uma cópia dos 23
pares de cromossomas recebidos na fecundação.

Mitose – processo de formação de novas células através de divisão


celular, que permite que o corpo cresça, se diferencie e repare tecidos
danificados.

Cariótipo – número e tipologia dos nossos


cromossomas (46, XX ou XY na espécie humana). O
cariótipo determina a espécie a que um
organismo pertence. É responsável também por
determinar o nosso género.

No caso do humano, todos os pares de


cromossomas são compostos por cromossomas X,
exceto o último par: este par é constituído por 2
gonossomas – cromossomas responsáveis pela
determinação do nosso sexo. O sexo feminino é composto por dois
cromossomas X, enquanto o sexo masculino é composto por cromossomas XY.
Visto que o cariótipo feminino é composto apenas por cromossomas X, não há
possibilidade de este “doar” um gonossoma Y na fecundação, ou seja, a mulher
não desempenha qualquer papel na determinação do sexo da
descendência. O nosso sexo é inteiramente determinado pelo facto de o
oócito ser fecundado por um espermatozóide portador de gonossomas
X ou Y.

HOM
EM X Y
MULHER

X XX XY

X XX XY

Contrariamente ao que acontece com as células do nosso


corpo, os gâmetas são formados por meiose – passagem da
diploidia para a haploidia (pares de cromossomas a
cromossomas). A 1ª separação dos cromossomas é aleatória, o
que significa que o mesmo individuo pode gerar +8300000
células diferentes, já que cada célula tem 46 cromossomas. A
meiose promove a variabilidade genética porque somos o
resultado de uma combinação única de 2 gâmetas de entre os
milhares possíveis: cada um possui um património genético único (exceto
os gémeos monozigóticos, que têm património genético igual).
Os cromossomas desempenham notoriamente um papel importante no
nosso desenvolvimento e no nosso comportamento, mas para entender o
alcance dessa influencia temos de dar atenção ao ADN.

DNA (ácido desoxirribonucleico) – molécula complexa formada por duas


cadeias polinucleotídicas antiparalelas dispostas em dupla hélice unidas por
complementaridade de bases azotadas (A//T e C///G por pontes de hidrogénio) e
que se forma por replicação semi-conservativa, essencial para o
funcionamento dos seres vivos e para a transmissão genética de
características ao longo das várias gerações.

Cada molécula que compõem o DNA é um nucleótido composto por uma


base azotada (A/T/G/C), ligada a uma pentose que se liga, por sua vez, a um
grupo fostato (no C5’). As bases azotadas ligam-se sempre de acordo com a
Regra de Chargaff por pontes de hidrogénio.

O papel do DNA na transmissão genética e no nosso desenvolvimento


explica-se porque alguns segmentos de DNA constituem os genes.

Genes – segmentos de DNA com uma sequencia de nucleótidos que


codifica instruções para formar uma proteína, uma informação do código
genético. Unidade básica fundamental da hereditariedade capaz de armazenar o
património genético. Os genes determinam o tamanho e o formato das
proteínas e estes 2 aspetos regulam a função que as proteínas desempenham
mais tarde no corpo humano.

EX: a hemoglobina tem um tamanho e formatos especificamente


atribuídos para serem proteínas capazes de captar oxigénio quando o sangue
circula perto dos pulmões, até às células que necessitam de oxigénio.

Assim pode dizer-se que os genes são responsáveis pelo


funcionamento e desenvolvimento do nosso corpo e controlam muitas
características que temos ou podemos vir a ter.

Quando as características dependem da acção conjunta de vários


tipos de genes, como a cor dos olhos, são características/traços
poligénicos.

Quando as características dependem da acção de um único tipo de


gene, são traços monogénicos ou mendelianos, como o albinismo.

Os genes e a informação genética neles contida são-nos transmitidos pelos


nossos progenitores, através dos 23 cromossomas que recebemos de cada um.
Estes 46 cromossomas recebidos formam 23 pares de homólogos.

Locus – local ocupado por um gene num cromossoma.

No mesmo locus, em cada membro do par existe um gene responsável por


produzir certas proteínas e controlar alguns aspectos do nosso funcionamento e
desenvolvimento proveniente de um dos nossos progenitores. Os genes que
ocupam o mesmo locus são genes alelos e dado que os dois membros de um
par de cromossomas têm estrutura genética idêntica, são cromossomas
homólogos.
 INFLUÊNCIAS GENÉTICAS E EPIGENÉTICAS

Genoma – conjunto de genes


correspondente à totalidade de
informação genética
hereditária codificada no ADN
de um indivíduo. No ser humano,
é composto por cerca de 20500
genes. Segundo o Projeto do
Genoma Humano, que consiste
em mapear a sequência do
código genético humano, apenas
0.1% do nosso genoma
corresponde à
hereditariedade individual. O
nosso genoma não se limita
apenas a controlar a nossa h.
individual, mas também a nossa
h. específica.

Hereditariedade Individual – características fisicobiológicas


transmitidas geneticamente que permitem distinguir-nos de entre os
outros indivíduos da nossa espécie, são as nossas características mais
singulares, como a tendência para ser alto ou baixo.

Hereditariedade específica – características fisicobiológicas gerais


transmitidas geneticamente que determinam a nossa pertença a uma
espécie e a diferenciam das outras.

Genótipo – o genótipo de um indivíduo corresponde ao conjunto de genes


que este herda dos seus progenitores, incluindo aqueles que não chegam
a manifestar-se.

Fenótipo – por outro lado, o fenótipo é o conjunto de características


individuais herdadas que são observáveis, ou seja, que se manifestaram,
decorrentes da interacção dos genes entre si e com o meio onde o
individuo se desenvolveu.

Isto significa que apesar de herdamos uma quantidade enorme de genes,


nem todos têm a mesma influência no nosso funcionamento e desenvolvimento.
Alguns destes podem nem chegar a manifestar-se, devido às relações
estabelecidas com os nossos restantes genes e com o meio.

Relativamente às relações estabelecidas entre os genes, é importante


saber que no interior de cada para de homólogos há vários pares de genes
alelos, cada um dos quais com um elemento de origem materna e outro
paterno, ambos com o seu respectivo conjunto de instruções.

Quando um indivíduo é portador de dois alelos com o mesmo tipo de


instruções, dizemos que em relação a esse gene ele é homozigótico. Quando,
pelo contrário, tem dois alelos com instruções diferentes entre si, é
heterozigótico.
Mas o que sucede quando um indivíduos tem dois alelos com informações
diferentes? Qual deles é que se manifesta? Mesmo que um deles não se
manifeste, pode ser transmitido à descendência?

Ainda que nem todos os genes se manifestem, podem continuar a ser


transmitidos e podem manifestar-se nas gerações seguintes. Tudo depende do
tipo de gene em questão e da relação que estabelecem uns com os outros,
estes podem ser:

Recessivos – não se manifestam no indivíduo caso haja um alelo com


instruções diferentes no cromossoma homólogo.

Dominantes – manifestam-se ainda que haja, no cromossoma homólogo,


um alelo com instruções contrárias.

Codominantes – dois alelos dominantes são manifestados


no indivíduo.

Para compreender melhor estas relações entre os genes,


vamos retomar ao exemplo do albinismo. O gene responsável
por esta anomalia é um gene recessivo, o que significa que
um indivíduo pode ser portador do gene sem que este se
manifeste, desde que haja um alelo no cromossoma
homólogo com instruções para um funcionamento adequado
da proteína em questão, um alelo dominante. Ou seja, para
alguém ser afectado por esta condição é preciso que tenha
herdado um alelo recessivo responsável pelo albinismo de
cada progenitor – é preciso ser homozigótico recessivo
para apresentar albinismo.

Assim, um casal heterozigótico em relação a


esse gene, tem 25% de hipóteses de ter um filho
albino, porque ambos são portadores do gene.

Além das relações entre os genes, também o


meio onde nos desenvolvemos e os estímulos a
que somos expostos durante a vida podem favorecer
ou inibir a manifestação de certas potencialidades presentes nos nossos
genes.

 PREFORMISMO E EPIGÉNESE

Ao longo dos tempos foram propostas várias perspeticas no que diz respeito
à relação genótipo – fenótipo.

Preformismo – o nosso desenvolvimento encontra-se pré-definido


desde o momento da conceção e o fenótipo corresponde à mera expansão
e crescimento de estruturas preexistentes no ovo ou zigoto. Esta
perspetiva foi abandonada depois em favor de outras abordagens.

Epigénese – os nossos genes encerram em si um conjunto de


potencialidades cuja expressão depende de fatores ambientais, como os
estímulos a que somos expostos, o estilo de vida que levamos, a alimentação
que fazemos, as pessoas com quem nos damos, etc.

Vários estudos estão de acordo com a teoria epigenética, suportando a ideia


de que o nosso desenvolvimento como indivíduos é o resultado da
interação do nosso património genético com o meio onde nos
desenvolvemos.

Ex: 2 indivíduos com a mesma alimentação podem apresentar pesos


diferentes consoante a sua predisposição genética para ganhar peso, e vice-
versa, como
visto no
esquema:

Caracteres Atualizam-se no
potenciais meio
GENES
Este tipo de influência dos factores
genéticos não se restringe às
Não se atualizam
características físicas, também se
aplica a características intelectuais. Concluímos então que, para cada uma
das nossas características (tanto físicas como psicológicas), existe um
potencial genético que depende da influência de epigenéticos para se
manifestar mais ou menos intensamente.

 HEREDITARIEDADE E MEIO

É difícil investigar o peso do património genético e dos fatores ambientais no


desenvolvimento dos seres humanos porque:

o Existem obstáculos éticos à manipulação genética dos indivíduos e


à manipulação do tipo de ambiente onde estes são criados. Não
podemos, por exemplo, criar um grupo de crianças num ambiente
calmo e outro num ambiente agressivo para verificar o modo como
isso afeta o comportamento.
o Existem algumas limitações epistemológicas, porque os seres
humanos são tão complexos e os ambientes onde se desenvolvem
são tão ricos que é impossível isolar e controlar todas as
variáveis em questão para determinar com exatidão a extensão da
influência dos fatores epigenéticos e ambientais na expressão de um
traço ou característica.

Dado isto, os investigadores recorrem sobretudo a 4 métodos para


compreender o peso da hereditariedade e do meio no nosso
desenvolvimento e comportamento:

o Análise do ADN – identificação dos genes


responsáveis/envolvidos na expressão de traços ou
características fisico-biológicas e psicológicas no indivíduo humano e
o modo como interagem entre si. O mapeamento do Genoma
Humano é um bom exemplo deste método.

o Árvores Genealógicas – chamam a atenção para a repetição de


certas características e traços ao longo das sucessivas
gerações. As características que permanecem e que se repetem
ao longo de gerações são um forte indício da influência
genética, tanto maior quando se verifica que as gerações (não?)
estão distantes no espaço e no tempo.

o Estudo de Gémeos monozigóticos e dizigóticos

 Os gémeos monozigóticos são resultado da


separação de um ovo ou zigoto em dois,
dando origem a dois seres com o mesmo
ADN – o mesmo genótipo. Estes gémeos
sofrem influência dos genes, mas o meio
em que se inserem condiciona o seu
comportamento e atitudes. Os gémeos
verdadeiros têm tendência para
demonstrar comportamentos idênticos
porque têm uma disposição natural para a
sociabilidade (característica do ser humano,
temos tendencia natural para viver em grupo)
e vivem, geralmente, no mesmo meio. A
experiencia revela que o meio molda mais as
atitudes – fator epigenético.

 Os gémeos dizigóticos resultam da fecundação em


simultâneo de dois oócitos distintos por dois
espermatozóides diferentes – daqui podem até resultar dois
bebés de sexo diferente. Estes sofrem influência genética e
do meio e podem ter atitudes diferentes entre si, dado
que são geneticamente diferentes. Por este motivo, há
uma maior influência do meio que partilham, podendo
resultar atitudes idênticas à mesma.

 Considerando que ambos crescem em ambientes


semelhantes, se os gémeos monozigóticos exibirem um
maior grau de concordância entre si relativamente a
uma característica, então é provável que essa
característica tenha uma forte componente genética.

 Então, embora haja uma forte


correlação nas atitudes dos gémeos
idênticos, algumas experiências que
ambos partilham podem moldar as
atitudes de cada um.

 Este método está longe de ser perfeito,


dado o facto de se supor que os gémeos
verdadeiros e falsos recebem igual
tratamento após nascer. Em suma, depois
de nascer, os gémeos identicos, além de ter
o mesmo genótipo e hereditariedade,
provavelmente partilham um meio mais
semelhante que os gémeos dizigóticos. Para
contornar esta situação, tende-se a
comparar gémeos verdadeiros criados por diferentes famílias
com gémeos falsos criados na mesma casa, dada a suposição
de que famílias separadas apresentam meios mais diversos do
que uma só.

o Adoção Precoce – comparam-se as semelhanças entre filhos e


pais adotivos e filhos e pais biológicos.

 No estudo realizado com filhos biológicos de um casal, há


uma influência da herança genética no seu
desenvolvimento e comportamento, interagindo com o
meio

 No estudo realizado com filhos adotados precocemente


por um casal, uma mãe ou pai adotivos, há uma influência
dos fatores epigenéticos, uma vez que todos os
elementos têm genótipos distintos.

 Se o grau de concordância em relação a uma característica


for maior em filhos biológicos, é provável que os fatores
genéticos tenham grande peso na expressão da
característica. Caso contrário, o mais provável é que a
expressão da característica se deva essencialmente a
fatores socioculturais.

Embora não seja fácil entender com exatidão o peso dos fatores epigenéticos
e genéticos na expressão de alguns traçoes e caracteristicas, a ciência tem
procurado contornar as dificuldades articulando os resultados obtidos nos diferentes
métodos de estudo.

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