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MANUAL DE PSICOLOGIA

Março, 2022
ÍNDICE
TEMA 3 – Origem e desenvolvimento do psiquismo na evolução filogenética------1
3.1. A genética ------------------------------------------------------------------------------------1
3.1.1. O processo de transição genética -------------------------------------------------------1
3.1.2. Hereditariedade e meio -------------------------------------------------------------------4
3.1.3. Hereditariedade e inteligência -----------------------------------------------------------6
3.2. Desenvolvimento do psiquismo no mundo animal ----------------------------------7
3.2.1. A irritabilidade ----------------------------------------------------------------------------8
3.2.2. A sensação (sensações elementares) ----------------------------------------------------8
3.2.3 A percepção --------------------------------------------------------------------------------9
3.2.4. Etapa do intelecto ------------------------------------------------------------------------10
3.2.5. A consciência ----------------------------------------------------------------------------10
3.3. Diferença entre a actividade reflexa superior dos animais e psique do homem -
------------------------------------------------------------------------------------------------------12
3.4. A origem da consciência ----------------------------------------------------------------12

TEMA 3

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO PSIQUISMO NA EVOLUÇÃO


FILOGENÉTICA

Que características permitem distinguir os indivíduos?

De quem herdam as características que se observam?

Quais as células que transportam essa informação genética?

3.1. A GENÉTICA

É para dar resposta a questões como estas, e outras, que a genética efectua os
seus estudos.

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A Genética é a ciência da hereditariedade; constitui o ramo da biologia que
estuda as genes e o mecanismo de transmissão dos carácteres de uma espécie, passados
de uma geração para outra.

A genética tem uma grande influência nas características de um indivíduo. É


comum referir a influência genética físicas (cor da pele, dos olhos, do cabelo, etc),
porém, a influência genética ocorre também sobre as estruturas ôrganicas, como, o
sistema nervoso e endócrino, que são determinantes no comportamento humano.

3.1.1. O processo de transmissão genética

Ao processo de transmissão de informação genética dos progenitores para os


descendentes dá-se o nome de hereditariedade. O desenvolvimento da Ciência tem
mostrado que a base física da hereditariedade parece ser a mesma em quase todas as
formas de vida, dos vírus e microrganismos até ao Homem.

Todas as características que especificam um indivíduo são transmitidas pelos seus


genes. Algumas combinações genéticas têm um resultado distinto no que respeita às
características estéticas de uma pessoa, como a pigmentação da pele ou a cor dos olhos.

Os genes são, então, subunidades de informação que no seu conjunto formam


um cromossoma.

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Figura 1 Cromossoma humano.

Cada cromossoma corresponde a uma molécula de ácido desoxirribonucleico


(ADN). O ADN apresenta a forma de uma dupla hélice, isto é, de duas cadeias
entrelaçadas uma na outra em todos os seres vivos, cada elemento da cadeia é
constituído, por um grupo desoxirribose fosfato e por uma base azotada.

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Figura 2 Bases do ADN.

Cada cromossoma tem seu homólogo, um proveniente do pai e outro da mãe,


que na fecundação se juntam para formar o zigoto que, por sua vez, se desenvolvem por
mitoses sucessivas até produzir o organismo. Isso quer dizer, é nos cromossomas que
está contida a informação biológica dos traços e características. Os cromossomas
encontram-se nos núcleos das células.

É através de um processo biológico, a meiose, que os seres humanos recebem 23


cromossomas do pai e 23 cromossomas da mãe. Daí que, com efeito, existam duas
versões de cada gene no conjunto: um de origem materna e outro de origem paterna. A
estas versões de genes damos o nome de alelos.

Quando um óvulo é fecundado por um espermatozóide, forma-se o ovo ou


zigoto com 46 cromossomas, isto é, 23 pares de cromossomas característicos da espécie
humana. Assim, cada célula num organismo tem um conjunto duplo de material
genético.

De facto cada um dos progenitores também herdou um conjunto simples de cada


um dos avós. Uma criança tem um quarto de seus genes de cada um dos avós. Daí que
as características hereditárias numa criança se assemelham a uma mistura das
características dos pais, mais menos marcadamente às dos avós.

A Síndrome de Down, vulgarmente conhecido como mongolismo, corresponde a


uma trissomia do cromossoma 21. O cariótipo passa a ter 47 cromossomas em de 46.

O género (feminino e masculino) da descendência é decidido pelos dois


cromossomas sexuais, correspondente ao par 23. Uma mulher apresenta o par 23 com
dois cromossomas X enquanto, que um homem tem nesse par de cromossomas um X e
Y. Um óvulo fecundado por espermatozóide que transporta um X tem um
emparelhamento sexual XX, daí que o bebé seja uma menina. Se contiver um Y, o
emparelhamento é do tipo XY, e o bebé é um menino.

MÃE PAI

3
X Y
X X

X X X Y

FILHA FILHO

REPLICAÇÃO DE ADN

Uma das características do ADN consiste em efectuar o transporte da informação


genética, e a outra característica, não menos importante, é conseguir efectuar cópias
idênticas de si próprio num mecanismo designado por replicação de ADN.

Que é: o que procede a divisão celular e através do qual são gerados cópias
idênticas das moléculas de ADN presentes na célula - mãe, a seguir herdadas pelas duas
células – filhas.

Figura 3 Replicação de ADN

Quando uma célula se divide, as novas células recebem uma cópia do ADN da
célula mãe. O código genético é, por isso idêntico em cada célula, a menos que surjam
mutações causadas por influência do meio ambiente. A este processo de divisão celular
que permite a reprodução do código genético em muitas células dá-se o nome de
mitose.

Os indivíduos que pertencem a mesma espécie apresentam características


comuns. É a hereditariedade específica que é responsável pela transmissão das
características que distinguem uma espécie das outras e que garante, por exemplo, que
um homem e uma mulher gerem um ser humano. É graças a hereditariedade específica
que as cegonhas migram e as abelhas constroem a colmeia.

A hereditariedade específica assegura o património genético comum a uma


população, determinada a sua constituição e alguns comportamentos.

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No entanto, cada indivíduo de uma espécie apresenta características próprias que
permitem distingui-lo dos outros. No seio de uma espécie há variações de
hereditariedade que tornam um indivíduo único.

Todos humanos são geneticamente distintos, existindo uma grande diversidade


no seio da espécie. Estas diferenças permitem-nos falar de uma hereditariedade
individual. Cada um de nós tem a sua hereditariedade específica e individual.

2.1.2. Hereditariedade e meio

Como já vimos, cada ser humano tem características próprias, características que os
tornam únicos. Contudo, para conseguirmos explicar melhor este facto, temos que
considerar dois aspectos fundamentais: o meio e a hereditariedade.

Há quem defenda que o desenvolvimento humano é influenciado essencialmente pelo


meio, outros são apologistas de que a hereditariedade é o factor principal. Contudo, a
hereditariedade não pode revelar-se sem um meio adequado, assim como o meio não
tem qualquer efeito sem as características genéticas. Daí que possamos afirmar que a
hereditariedade e o meio estão em constante interacção, determinando o
desenvolvimento do ser humano nos mais diversos campos:

• Orgânico,
• Psicológico,
• Motor,
• Inteligência, etc.

Por exemplo, o genótipo de um adolescente pode ser favorável para o


desenvolvimento dos músculos, mas se este não se alimentar correctamente, ou não
praticar exercício físico, pode não desenvolver essas capacidades.

O meio corresponde a todos os factores externos que participam no


desenvolvimento de um ser humano. Esta influência é notória durante toda a vida,
mesmo até no período de gestação.

Nos nove meses em que a criança está a desenvolver-se, no meio intra-uterino, o


meio inicia a sua actuação sobre o novo ser, pois é neste período pré-natal que se dá no
bebé a formação e desenvolvimento do sistema nervoso central.

Como a mãe e o feto partilham o mesmo sangue, os hábitos alimentares e a saúde da


mãe são determinantes para o bom desenvolvimento físico e psíquico do feto. Vejamos
os seguintes exemplos:

• Uma subnutrição pode conduzir a um atraso no desenvolvimento do cérebro,


• Se a mãe tiver uma doença, como por exemplo: diabetes, esta pode trazer
consequências para o feto,
• Se uma mulher for toxicodependente e estiver grávida, o bebé pode tornar-se
dependente de drogas ainda no meio intra-uterino, fazendo com que no

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nascimento se notem sintomas de carência, como por exemplo, irritabilidade e
convulsões,
• A ingestão de álcool em grande quantidade durante o período de gestação pode
causar dificuldades em coordenar os movimentos, alterações faciais e
deformação das articulações,
• Se a mãe viver momentos de imensa ansiedade durante a gravidez, há maior
probabilidade de o bebé ser mais instável emocionalmente, chorando bastante
nos primeiros anos de vida.

Ao processo através do qual a hereditariedade age sobre o ser humano após o


nascimento chamamos maturação. Uma alimentação desequilibrada ou mesmo
subnutrição podem conduzir a uma diminuição do número de neurónios da criança e,
consequentemente, um atraso no desenvolvimento intelectual da mesma.

Por outro lado, estudos demonstram que uma criança pouco estimulada sensorial e
efectivamente na primeira infância apresenta dificuldades motoras, limitações
intelectuais, e dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais.

Um exemplo importantíssimo da influência do meio no nosso comportamento e


desenvolvimento é o caso das crianças selvagens, isto é, crianças que crescem com um
reduzido contacto com o ser humano, ou mesmo nenhum. Estas podem ter sido criadas
por animais ou, de alguma forma, terem sobrevivido sozinhas.

2.1.3. Hereditariedade e inteligência

Quase todos os psicólogos estão de acordo com o facto de que a hereditariedade


e o meio são importantes na determinação do nível de inteligência de cada indivíduo. As
discordâncias surgem quanto à importância relativa de cada um dos factores. No
entanto, hoje em dia, os psicólogos interessam-se mais pela forma como os dois factores
interagem do que em saber qual é mais relevante.

A palavra inteligência significa compreensão. No entanto, a definição desta


capacidade é muito complexa do que a sua definição etimológica. Uma possível
definição da Psicologia é:

• Capacidade de adaptação ao meio, de forma célere e eficaz, •


Capacidade de relacionar conceitos e rápida aprendizagem.

Existem estudos que relacionam a inteligência com a afectividade familiar. Por


exemplo, verificou-se que crianças que foram adoptadas, depois de terem vivido em
orfanatos, manifestaram um aumento no seu Q.I., precisamente provocado pela
afectividade e consequente estímulo. Por outro lado, de crianças adoptadas
assemelhase mais dos pais biológicos do que ao dos pais adoptivos. Se a inteligência
não fosse fortemente influenciada por factores genéticos e biológicos, o Q.I. das
crianças adoptadas estaria mais próximo do Q.I. dos seus pais adoptivos.

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Não podemos, contudo, atribuir unicamente ao meio a influência no
desenvolvimento do Q.I. em cada criança. A hereditariedade assume também uma
importância crucial. O melhor exemplo é o caso dos gémeos monozigóticos.

Existem estudos que comprovam que gémeos monozigóticos, separados à


nascença e criados em meios socioeconómicos diferentes, têm um Q.I. semelhante,
bem como outras características de hereditariedade genética, como sendo a forma de
estar e agir, entre outros.

Alguns defendem que é um erro estabelecer relações de causa - efeito entre o meio e
a hereditariedade na influência do Q.I. ou comportamentos. Trata-se pois, de uma
correlação, isto é, meio e hereditariedade interagem entre si com a personalidade de
cada indivíduo. Em resumo, meio, hereditariedade e personalidade actuam
conjuntamente na formação da inteligência do indivíduo.

3.2. Desenvolvimento do psiquismo no mundo animal

Os seres vivos não se desenvolveram todos da mesma forma, isto é, não tiveram a
mesma possibilidade de se desenvolver ao longo do tempo. Por exemplo, a aranha
atingiu a fase de sensibilidade ou sensações elementares. O cão atingiu a fase de
percepção dos objectos. Por outro lado, os mamíferos, pertencentes à etapa da
percepção, porém os mais altamente organizados, levam-se a um nível superior de
desenvolvimento.

Essa etapa é conhecida como etapa do intelecto, próprio dos animais organizados,
principalmente dos macacos antropóides. Estes possuem um cérebro com tamanho, peso
e estrutura que se aproxima ao homem. Em jeito de conclusão, podemos dizer que
somente o Homem é que chegou a atingir a última etapa ou fase de consciência.

As fontes apontam que o psiquismo se desenvolve no mundo animal sobre a base de


irritabilidade que é um reflexo biológico.

Psiquismo é o conjunto de fenómenos psíquicos organizados na mente do


indivíduo, cuja manifestação exterior é processada pelos actos do próprio homem.

Etapas do desenvolvimento do psiquismo:

3.2.1. Etapa da irritabilidade

Todos os seres vivos respondem a estímulos, que podem ser de natureza física ou
química, como, por exemplo, a alteração da:

• Temperatura,
• Intensidade luminosa,
• Pressão, etc.
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Em organismos complexos, como é o caso do Homem verifica-se a existência de
órgãos sensoriais extremamente especializados em captar os estímulos provenientes do
meio ambiente. Esses órgãos estão ligados ao sistema nervoso, que produz respostas
rápidas e adequadas a cada tipo de estímulos.

No que se refere aos vegetais, estes também respondem a estímulos, embora de uma
forma mais lenta que os animais. O girassol é um exemplo muito conhecido, pois este
orienta o seu movimento pela direcção dos raios de Sol que nele incidem.

A capacidade de reagir a estímulos (irritabilidade ou excitabilidade) é classificada


tendo em conta a evolução do organismo.

No caso dos primitivos, como a aranha, dizemos que possuem uma irritabilidade
simplificada. Está irritabilidade é a capacidade de reagir, de forma inata e mecânica, a
um estímulo.

No caso dos animais mais evoluídos, dá-se a irritabilidade complexa, por excitação
de um sistema nervoso mais evoluído, que produz uma resposta mais elaborada a um
estímulo. Um exemplo de maior desenvolvimento é o ser humano, capaz de emitir
respostas de grande complexidade ao meio ambiente.

3.2.2. Etapa da sensibilidade (sensações elementares)

Esta é a etapa onde os fenómenos psíquicos são elementares e observam-se em


animais possuidores de um Sistema Nervoso Rudimentar. O topo do estádio sensorial
elementar é observado no comportamento dos vermes e insectos. Como exemplo,
podemos considerar o comportamento alimentar da aranha. Quando um insecto cai na
sua teia, fazendo-a vibrar, a aranha automaticamente dirige-se a ele para o morder,
assim como o enrolar nos seus fios.

3.2.3 Etapa da percepção

O psiquismo perceptivo evoluiu ao longo do processo filogenético desde os vermes até


aos vertebrados, de acordo com um nível crescente de complexidade.

O máximo desenvolvimento da percepção foi alcançado com o comportamento dos


mamíferos, considerados os melhores representantes deste estádio. Essa transformação
está intimamente relacionada com a formação de algumas estruturas anatómicas,
nomeadamente o córtex cerebral, ou seja apresentam um Sistema Nervoso
desenvolvido.

A característica essencial desta etapa consiste em que o animal tem a possibilidade


de reflectir de um modo sintético as distintas propriedades de um só objecto.

Por exemplo, no estádio da percepção, o cão reconhece o seu dono através de vários
signos: (o odor, a voz, os movimentos, etc).

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Podemos então definir a percepção como um processo cognitivo através do qual é
possível estabelecer contacto com o mundo, que é caracterizado pelo facto de implicar a
presença do objecto, da realidade a conhecer.

O processo de percepção tem inicio com a atenção, que não é mais do que um processo
das observações efectuadas. Este processo conduz-nos a percepção de alguns elementos
em detrimento dos outros.

No caso do ser humano, verifica-se que este percepciona o tamanho de um objecto


ou de um outro indivíduo, independentemente da distância a que se este se encontre.
Assim, o mesmo indivíduo, situado a diferentes distâncias, forma na retina ocular
imagens com tamanhos diversos. Pode inferir-se que quanto mais longe está o
indivíduo, mais pequeno parece aos olhos do observador.

3.2.4. Etapa do intelecto

A característica essencial desta etapa consiste em que o reflexo do animal não se centra
nas propriedades isoladas dos objectos ou sobre os os objectos, mas nas relações que
existem entre os diversos objectos.

Nos mamíferos superiores, o desenvolvimento quantitativo da etapa da percepção


permitirá um salto em termos qualitativos para uma terceira etapa: a do intelecto.

Nesta etapa, revelam-se muito importantes às experiências efectuadas por Kohler com
macacos antropóides, que apresentam características importantes da sua actividade.

Essas experiências consistiam na criação de situações problemas, mas especificamente,


começando por rodear uma jaula e usando uma vara para chegar ao alimento. Ou, de
outra forma, conseguindo alcançar uma vara maior por meio de uma vara mais pequena,
para, desta forma, com a maior conseguir obter o alimento.

No início, observou-se que o macaco tentava de forma vigora obter o alimento de


forma directa, saltando ou esticando os braços. Contudo, depois deste período, o macaco
sentava-se, mantendo-se inerte durante algum tempo, e abandonava todas as tentativas.

Em seguida, a sua actividade reaparece, mas esta vez por outra via. Sem tentar apanhar
directamente o fruto com à mão, pega no pau, estende-o em direcção ao fruto, toca-o,
puxa o pau para trás, estende-o de novo, depois puxa-o para trás, numa sequência em
que o fruto se aproxima cada vez mais até o poder apanhar.

Nesta etapa o pensamento é ainda concreto ou manual, que dizer que reflecte relações
por intermédio de objectos concretos e de operações do mesmo tipo. Não é um
pensamento geral, conceptual tal como o do homem.

3.2.5. Etapa da consciência

A passagem da consciência é o início de uma etapa superior do desenvolvimento do


psiquismo.

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Nos dias de hoje, há quem defenda que a consciência corresponde à estrutura mais
complexa que pode existir. Áreas como a filosofia da mente, a psicologia, a neurologia e
a ciência do conhecimento têm sido fundamentais para a definição do conceito de
consciência, nomeadamente a sua função e a sua importância na vida do indivíduo.

A consciência pode ser resumidamente definida como a forma de reflexo psíquico do


homem resultante das condições histórico - sociais, de modo a poder participar activa e
determinantemente na sua construção.

Ao contrário dos animais, que apresentam uma consciência responsável pela sua
sobrevivência sob a forma de protecção, alimentação e reprodução, o Homem apresenta
uma consciência que lhe possibilita o seu envolvimento com o meio, alterando-o através
de mecanismos que se influenciam mutuamente, como a memória, o pensamento, a
linguagem e demais acções que fazem do Homem um ser único.

A consciência pressupõe uma atitude cognitiva, quer dizer, o conhecimento do que se


encontra fora do sujeito. Assim ter consciência é ter conhecimento do que se encontra
fora da consciência. Por outro lado, a consciência pressupões também um aspecto
afectivo que expressa a atitude do homem perante o mundo.

3.3. Diferença entre a actividade reflexa superior dos animais e a psique do homem

O animal apresenta dois tipos de comportamentos:

• Um está relacionado com a experiência da espécie, que é hereditária


(comportamento instintivo, inato),
• O outro é a sua experiência individual (adaptação ao meio), que é responsável
pela diferença no comportamento dos diferentes animais.

A actividade humana encontra-se orientada para um objectivo, executa-se com


instrumento verbal e é planificada, isto é, consciente. Já o animal, pode usá-los numa
situação, depois deixar de existir para ele como instrumento.

Diferença Linguagem Pensamento Actividade Transmissão de Afectividade


Instrumental experiência

PSIQUE Alerta sobre Concreto (prático) Utiliza os Através de Emoções


ANIMAL fenómenos instrumentos em acções positivas e
limitados e situações instintivas negativas.
imediatos. concretas.

PSIQUE Procede Cria e conserva Apropria-se das Só o homem é


HUMANA Informa sobre o conscientemente os instrumentos experiências capaz de
passado, presente e que utiliza. sociais. experimentar
utiliza a linguagem sentimento.
para transmitir

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experiência.
A diferença fundamental entre actividade reflexa superior dos animais e a
psique do Homem está no facto de o desenvolvimento psíquico do mundo animal
seguir as leis da evolução biológica, enquanto a psique humana está subordinada às leis
do desenvolvimento histórico – social, a consciência.

3.4. A origem da consciência

A consciência surge como resultado de um longo processo de desenvolvimento


passados pelas etapas por nós já estudadas.

Juntamente com a linguagem, talvez a consciência de si mesmo, das próprias acções,


assim como dos outros, seja um dos entraves que separam, de alguma forma, os seres
humanos do resto dos animais.

Há décadas que a ciência procura dar uma explicação para o que nos torna diferentes
dos nossos parentes mais próximos, o macaco antropóide, antepassado do homem. Com
efeito, eles têm memória, têm a capacidade de rir e já foram observados a estabelecerem
aliança para derrubar um macho líder e até mesmo em situações em que parecem
colocar-se no lugar do outro, características que se imaginava ser exclusivamente
humana. Acredita-se que estas acções desenvolveram-se paulatinamente, convertendose
numa espécie de nova actividade: o trabalho.

3.4.1. O papel do trabalho e da linguagem no surgimento e desenvolvimento da


consciência.

O trabalho é o factor principal que contribui para o surgimento da consciência


humana. Foi no decorrer do trabalho que se realizou a evolução dos antepassados do
homem. Ao se desenvolver o trabalho se processava o agrupamento daqueles que
realizavam e assim surgiu a sociedade humana baseada no trabalho. O desenvolvimento
do trabalho se realiza com ajuda de instrumentos criados pelo homem.

Os homens de cada geração tinham de aprender a utilizar os instrumentos da geração


antecedente e por conseguinte desenvolve-los. Toda essa relação determinou a
necessidade de comunicação: necessidade de coordenar esforços para um determinado
fim, de dividir funções, de transmitir experiências, que resultou na origem da
linguagem. Assim a comunicação verbal instintiva possibilitou o aparecimento da
linguagem. Com o aparecimento da linguagem foi possível a denominação dos objectos
e fenómenos através de sons e representação mental dos mesmos.

A linguagem vem materializar as ideias e o pensamento do homem, o que pode fazer


com que as ideias subjectivas interiores do homem se tornem objecto do seu próprio
conhecimento. Portanto, depois do trabalho, a linguagem contribuiu de igual modo, para
a génese da consciência.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Parker, S. Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano, Portugal: Civilização Editora,


2010.

Manual de Psicologia 11ª Classe.

Programa de Psicologia - 11ª Classe (2014). Editora: Editora Moderna, S.A. 2ª Edição.

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