Você está na página 1de 84

P R O F .

A N A S O U Z A E
P R O F . M A R I N A A Y A B E

P R É - N ATA L
OBSTETRICIA Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Pré-Natal 2

APRESENTAÇÃO:

PROF. ANA
SOUZA E
PROF. MARINA
AYABE

PARA COMEÇO DE CONVERSA

Olá, Doc!
Bem-vindo ao estudo
dos mecanismos e fases
clínicas do parto!
Sou a professora Ana.

@profa.anasouza

E eu sou a professora
Marina! Estamos aqui na
missão de apresentar o
tema da forma mais leve
possível para você! Conte
conosco!

@dra.marinamoraes

Estratégia
MED
OBSTETRICIA Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Pré-Natal 3

PARA COMEÇO DE CONVERSA


Você está prestes a iniciar o estudo de um dos temas mais importantes para a prática da obstetrícia e para sua prova: a assistência
pré-natal.
Apesar de, à primeira vista, poder parecer um tema corriqueiro, minha sugestão é que você faça essa leitura de forma bastante
cuidadosa, buscando solidificar esses conhecimentos relativamente simples, mas fundamentais para sua prova de obstetrícia.
Uma consideração bastante importante a respeito desse tema é que, geralmente, as provas de Residência Médica baseiam-se no
protocolo de cuidados para assistência pré-natal proposto pelo Ministério da Saúde, porém é essencial que você conheça o protocolo
assumido pelo serviço onde você está realizando a prova. Particularidades de cada um desses serviços podem influenciar na escolha
correta da questão. Durante esta leitura, chamaremos sua atenção para as condutas diferentes de alguns serviços sempre que necessário.
IMPORTÂNCIA DO TEMA
A engenharia reversa revela que cerca de 10% das questões de obstetrícia nas provas de Residência Médica são a respeito de
assistência ao pré-natal, de acordo com o levantamento que a equipe de obstetrícia do Estratégia MED realizou das principais provas do
país nos últimos anos.

15%
25%

13%

11%
25%

7%

4%

Intercorrências obstétrica Pré-natal

Doenças associadas à gestação PARTO

Medicina fetal
Obstetrícia fisiológica

Puerpério

Estratégia MED

@estrategiamed @estrategiamed

Estratégia
MED
t.me/estrategiamed /estrategiamed
OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

SUMÁRIO

1.0 PRÉ-NATAL 7
1.1 DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO 8

2.0 ANAMNESE OBSTÉTRICA 10


2.1 CÁLCULO DA IDADE GESTACIONAL 10

2.2 DATA PROVÁVEL DO PARTO (DPP) 14

2.3 IDENTIFICAÇÃO 15

2.3.1 IDADE 15

2.3.2 ESCOLARIDADE 16

2.3.3 PROCEDÊNCIA 16

2.3.4 SITUAÇÃO CONJUGAL 16


2.3.5 OCUPAÇÃO 16

2.4 ANTECEDENTES FAMILIARES 17

2.5 ANTECEDENTES PESSOAIS 17

2.5.1 USO DE MEDICAÇÕES DURANTE A GRAVIDEZ 17

2.5.2 HÁBITOS E VÍCIOS DURANTE A GRAVIDEZ 22

2.5.3 ANTECEDENTES CIRÚRGICOS 23

2.6 ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS 24

2.7 ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS 24

2.7.1 CLASSIFICAÇÃO EM NÚMERO DE GESTAÇÕES, PARIDADE E ABORTOS ANTERIORES (G P A) 24

2.7.2 ORDEM CRONOLÓGICA DOS DESFECHOS E PARTICULARIDADES DAS GESTAÇÕES ANTERIORES 25

2.8 QUATRO PERGUNTAS-CHAVE PARA ANAMNESE OBSTÉTRICA 26

2.9 PRINCIPAIS SINTOMAS NA GESTAÇÃO 27

2.9.1 HIPERÊMESE GRAVÍDICA 27

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 4


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

3.0 EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO 31


3.1 PRESSÃO ARTERIAL 31

3.2 PESO 32

3.2.1 CIRURGIA BARIÁTRICA: REPERCUSSÕES E CUIDADOS 33

3.3 MEMBROS INFERIORES 34

3.4 EXAME OBSTÉTRICO ABDOMINAL 35

3.4.1 INSPEÇÃO ABDOMINAL 35

3.4.2 MANOBRAS OBSTÉTRICAS 36

3.4.3 ALTURA UTERINA 39

3.4.4 AUSCULTA DOS BATIMENTOS CARDÍACOS FETAIS 42

4.0 EXAMES COMPLEMENTARES 45


4.1 EXAMES SÉRICOS GERAIS 46

4.1.1 HEMOGRAMA 46

4.1.2 TIPAGEM SANGUÍNEA E PESQUISA DE ANTICORPOS IRREGULARES/COOMBS INDIRETO 47

4.1.2.1 PROFILAXIA DA ALOIMUNIZAÇÃO E DA DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL 48

4.1.2.2 “PEGADINHAS” 49

4.1.3 GLICEMIA DE JEJUM 50

4.1.4 TSH 52

4.2 EXAMES SÉRICOS SOROLÓGICOS 53

4.2.1 SOROLOGIA PARA HIV 53

4.2.2 SOROLOGIA PARA SÍFILIS 55

4.2.3 SOROLOGIA PARA TOXOPLASMOSE 57

4.2.4 SOROLOGIA PARA RUBÉOLA 60

4.2.5 SOROLOGIA PARA HEPATITE B 60

4.2.6 SOROLOGIA PARA HEPATITE C 61

4.3 EXAMES NÃO SÉRICOS 61

4.3.1 URINA TIPO 1 E UROCULTURA 61

4.3.2 COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA 63

4.3.3 PARASITOLÓGICO DE FEZES 63

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 5


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

5.0 EXAMES COMPLEMENTARES NO SEGUIMENTO PRÉ-NATAL 65


5.1 TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE 75 G 65

5.2 SWAB ANAL E VAGINAL PARA PESQUISA DE ESTREPTOCOCO DO GRUPO B 67

6.0 ORIENTAÇÕES GERAIS 70


6.1 IMUNIZAÇÃO 70

6.2 NUTRIÇÃO DURANTE A GESTAÇÃO 73

6.2.1 ÁCIDO FÓLICO 73

6.2.2 SULFATO FERROSO 74

6.2.3 OUTRAS VITAMINAS E MINERAIS 75

6.2.4 POLIVITAMÍNICOS ASSOCIADOS 76

6.3 ATIVIDADE FÍSICA NA GESTAÇÃO 76

6.3.1 HIPERTERMIA 78

6.4 OUTRAS RECOMENDAÇÕES PARA A GESTANTE 78

6.4.1 VIAGENS AÉREAS 78

6.4.2 ATIVIDADE SEXUAL 78

6.4.3 PLANO DE PARTO 78

7.0 DETERMINAÇÃO DO RISCO GESTACIONAL 79


8.0 LISTA DE QUESTÕES 81
9.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 82
10.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 83

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 6


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

1.0 PRÉ-NATAL

Pré-natal, em sua essência, é o seguimento da gestante, desde o diagnóstico da gravidez até


o parto.
Objetiva evitar impactos na saúde do binômio materno-fetal e garantir que o recém-nascido
e a mãe estejam saudáveis ao final do período gravídico, oferecendo cuidados clínicos, mas também
psicossociais, preventivos e educacionais.

É justamente sua facilidade de replicação que garante que que serão solicitados rotineiramente para todas as grávidas. É uma
os principais cuidados à gestante e ao feto sejam assegurados, “receitinha de bolo” que deve ser realizada por todas as gestantes,
independentemente das condições técnicas e econômicas das mais as de risco habitual ou não; e, diante de alguns fatores de risco ou de
diversas realidades de um país continental como o Brasil. comorbidades identificadas, outros exames deverão ser solicitados.
A assistência ao pré-natal realizada adequadamente é Uma vez que a assistência ao pré-natal é um atendimento
fundamental para a redução até mesmo da mortalidade materna muito bem estruturado, outra particularidade dela é que há
e é um importante marcador da qualidade do cuidado materno, intervalos mínimos preestabelecidos para que os retornos da
sendo um aspecto que merece toda a atenção das políticas de gestante aconteçam.
saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que a
A anamnese e o exame físico realizados durante a consulta gestante passe, ao menos, por seis consultas de pré-natal para
pré-natal permitem que o risco gestacional seja definido e guiam a que a assistência seja considerada adequada. O intervalo entre as
decisão dos exames complementares a serem solicitados. consultas de pré-natal em uma gestação de risco habitual obedece
É importante esclarecer que há exames complementares aos seguintes intervalos:

A cada quatro semanas, até a 28ª semana de gestação. Excetuando-se o primeiro retorno, que deve ocorrer
em até 15 dias para avaliação dos exames da rotina de pré-natal solicitados na primeira consulta.
A cada 15 dias, entre a 28ª e a 36ª semana de gestação.
Semanalmente, a partir do termo até o parto.

Atenção! NÃO há alta do pré-natal!

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 7


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

1.1 DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO

Um dos primeiros momentos tensos, no bom sentido, de sinal de Halban – lanugem –, linha nigra).
uma gestante é o famoso "será mesmo que estou grávida?". Para Manifestações mamárias (hipersensibilidade dos mamilos,
isso, existem 3 formas de diagnóstico: o clínico, o laboratorial e por aumento do volume das mamas, sinal de Hunter – hiperpigmentação
imagem, auxiliado pela ultrassonografia. Vamos avaliar cada um da aréola –, presença dos tubérculos de Montgomery, rede venosa
deles: de Haller, saída de colostro).
Diagnóstico clínico Os sinais de probabilidade são sinais do trato genital: atraso
A principal queixa encontrada pela mulher no início da menstrual maior do que 14 dias, aumento do volume uterino,
gravidez é o atraso menstrual. Se o atraso for < 12 semanas, o amolecimento do colo uterino, alteração do muco cervical, sinal
diagnóstico será por meio do teste imunológico de gravidez (TIG). de Piskacek (formato assimétrico do útero onde se implantou o
Mas, se o atraso for > 12 semanas, o diagnóstico poderá ser feito embrião), sinal de Hegar (amolecimento do istmo cervical), sinal
clinicamente. de Nobile-Budin (ocupação dos fórnices laterais), sinal de Kluge
Diante do atraso menstrual, os principais sintomas iniciais (arroxeamento da vagina), sinal de Osiander (pulsação das artérias
são fadiga, mastalgia, náuseas ou vômitos matinais e aumento da vaginais no fórnice lateral).
frequência urinária. E os 3 sinais de certeza: sinal de Puzos (rechaço fetal sentido
Portanto, existem sinais de presunção, de probabilidade e ao empurrar-se o útero pelo fórnice anterior), palpação e percepção
de certeza. dos movimentos fetais e de partes fetais e ausculta dos batimentos
Os sinais de presunção incluem manifestações sistêmicas e cardíacos fetais.
sinais mamários: Veja, na tabela a seguir, um resumo com os principais sinais
Manifestações clínicas (atraso menstrual de até 14 dias, de presunção, probabilidade e certeza de gestação.
náuseas, vômitos, polaciúria, sonolência, alterações do apetite,

SINAIS DE PRESUNÇÃO SINAIS DE PROBABILIDADE SINAIS DE CERTEZA

Atraso menstrual até 14 dias Atraso menstrual maior que 14 dias Sinal de Puzos

Palpação e percepção de movimentos


Náuseas e vômitos Aumento do volume uterino
fetais ou de partes fetais

Congestão mamária Amolecimento do colo uterino

Rede de Haller Alterações do muco cervical


Ausculta de batimentos cardíacos fetais

Sinal de Hunter Sinal de Piskacek

Tubérculos de Montgomery Sinal de Hegar

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 8


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Polaciúria Sinal de Nobile-Budin

Cloasma gravídico Sinal de Jacquemier-Chadwick


Ausculta de batimentos cardíacos fetais
Linha nigra Sinal de Kluge

Sinal de Halban Sinal de Osiander

Sistêmicos e mamários Trato genital Sinto/escuto

Figura 1. Sinais de presunção, probabilidade e certeza de gestação.

Diagnóstico laboratorial os batimentos cardíacos fetais devem estar presentes quando o


É realizado por meio da dosagem de gonadotrofina coriônica embrião apresenta o comprimento cabeça-nádega (CCN) maior ou
humana (beta-hCG) para o diagnóstico precoce da gestação, igual a 7 mm.
quando o atraso menstrual é menor do que 14 dias. O exame ultrassonográfico oferece à gestante a oportunidade
O teste imunológico de gravidez (TIG) é sensível e confiável, de confirmação da idade gestacional, de detecção precoce de
porém é considerado caro e deverá ser solicitado após atraso gestações múltiplas ou de malformações fetais. Porém, os benefícios
menstrual de 15 dias. da ultrassonografia ainda são incertos, já que sua omissão não
Os testes urinários (beta-hCG qualitativo) têm baixos diminui a qualidade do pré-natal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).
resultados falso-positivos, porém podem apresentar resultado A datação da gestação em idade gestacional < 15 semanas
falso-negativo, levando ao atraso no início do pré-natal. é realizada por meio do comprimento cabeça-nádega (CCN). A
O beta-hCG quantitativo é detectado por meio do medida do comprimento cabeça-nádega é o método mais preciso
sangue periférico, 8 a 11 dias após a concepção. A maioria dos para avaliar a idade gestacional com um erro de 5 dias quando
testes apresenta um corte de 25 a 30 mUI/mL, com resultados medido antes de 9 semanas e de 7 dias entre 9 e 14 semanas.
indeterminados e falso-positivos entre 2 e 25 mUI/mL. São Após 15 semanas, a datação é calculada pela medida do diâmetro
considerados negativos valores menores do que 5 mUI/mL, e, biparietal, do fêmur e da circunferência abdominal.
acima de 25 mUI/mL, são considerados positivos. Se você quer estudar mais detalhes sobre a avaliação
Diagnóstico por imagem ultrassonográfica para a datação da gestação, aproveite
O diagnóstico de uma gestação intrauterina pela a oportunidade e já complemente a leitura no livro de
ultrassonografia obstétrica inicial pode ser realizado a partir de ULTRASSONOGRAFIA. Mas não se esqueça de terminar os estudos
4,5 a 5 semanas por meio da visualização do saco gestacional. por aqui.
Já o embrião pode ser visualizado a partir de 5,5 a 6 semanas, e

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 9


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

2.0 ANAMNESE OBSTÉTRICA

2.1 CÁLCULO DA IDADE GESTACIONAL

Neste capítulo, analisaremos as três principais maneiras de na prática clínica e nas provas, por "DUM". E você está certíssimo!
determinar a idade gestacional: Um conceito essencial que você precisa sempre ter em
• Pela data da última menstruação (DUM). mente para determinar a idade gestacional a partir da data da
• Pela ultrassonografia (USG). última menstruação (DUM) é saber que ela representa o primeiro
• Pela altura uterina (AU).
dia do último ciclo menstrual. É comum o examinador apresentar
Pela data da última menstruação (DUM)
a você o primeiro e o último dia do ciclo menstrual no enunciado da
Provavelmente, a primeira ideia que lhe vem à cabeça
questão e solicitar que você determine a idade gestacional. Você é
quando pensa em determinar a idade gestacional é calculá-la a
Coruja e não cairá nessa “pegadinha”, combinado?!
partir da data da última menstruação, frequentemente conhecida,

Data da última menstruação (DUM)


É o PRIMEIRO dia da menstruação do último ciclo menstrual.

Aqui, entram suas habilidades matemáticas e seu Que tal um exemplo para ajudar a esclarecer esse conceito?
conhecimento de quantos dias tem cada mês, uma vez que a Suponha que a data da última menstruação seja 6 de
determinação da idade gestacional (IG) será feita pelo número de fevereiro de 2022 e que se deseje conhecer a idade gestacional
dias entre a data da última menstruação e o dia da consulta médica em 12 de abril de 2022. Observe a figura a seguir, que exemplifica
dividido por sete, para ter-se o resultado em semanas. Perceba, os cálculos envolvidos na determinação de que, nesse caso, a idade
portanto, que o enunciado precisará fornecer as duas datas. gestacional será de 9 semanas e 2 dias na data de 12 de abril de 2022.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 10


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Cálculo da Idade Gestacional pela DUM

IG = 9 semanas e 2 dias

65 7
DUM = 06/02/2022 63 9 Semanas
Data da consulta pré-natal = 12/04/2022 2 Dias

Fevereiro - 22 dias (28 dias - 06 dias da DUM)


Março - 31 dias 22 + 31 + 12 = 65 dias de gestação
Abril – 12 dias

Figura 2. Exemplo de cálculo da idade gestacional a partir da DUM.

É importante ter em mente que a fidedignidade do cálculo é fundamental nos casos em que há dúvidas a respeito de quão
da idade gestacional a partir da DUM se relaciona, por exemplo, à fidedigna é a data da última menstruação ou quando ela é
regularidade do ciclo menstrual da mulher, ao fato de ela lembrar desconhecida.
a data corretamente e à possibilidade de ela ter estado ou não em O raciocínio do cálculo é bastante semelhante ao usado para
uso de contraceptivos. o cálculo a partir da DUM. O que muda é que você deverá considerar
Pela ultrassonografia a data de realização da ultrassonografia como se fosse a DUM e, ao
Outra forma de calcular a idade gestacional é a partir da final do cálculo, adicionar, à idade gestacional encontrada, a idade
ultrassonografia. Sendo que a estimativa da IG pelo ultrassom gestacional que constava na ultrassonografia.

( Soma dos dias entre a data do USG e a data em que se deseja saber a IG

7
) +IG (USG) = IG (em semanas)

Acompanhe, a seguir, um novo exemplo, dessa vez para o de março de 2022 e que, nessa ultrassonografia, a idade gestacional
cálculo da idade gestacional a partir da ultrassonografia. Suponha a estimada era de 10 semanas de gestação. Observe que, de acordo
mesma data de consulta, isto é, 12 de abril de 2022; suponha que com a ultrassonografia, a idade gestacional seria de 13 semanas e
a gestante lhe apresenta uma ultrassonografia realizada no dia 18 6 dias nessa data.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 11


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Cálculo da Idade Gestacional pelo USG

IG= 13 semanas e 6 dias

1º USG 18/03/2022 - 10 sem


25 7 Somar 10 semanas do
Data da consulta 12/04/2022 21 3 Semanas resultado do USG
6 Dias

Março - 13 dias (31 dias - 18 dias data do USG)


Abril - 12 dias 13 + 12= 25 dias de gestação

Figura 3. Exemplo de cálculo da idade gestacional a partir do USG.

Nesse momento, você deve estar se perguntando: “mas, e Devemos, então, comparar as idades gestacionais calculadas
aí? Que idade gestacional devo considerar correta: a calculada a a partir da DUM e do USG e decidir qual delas será mais adequada.
partir da DUM ou a partir do USG?” E a resposta é "depende"! Diferenças menores de dias do que os citados a seguir indicam que
Depende de quão diferentes são as idades gestacionais a idade gestacional estimada pela DUM é a mais correta. Quando
calculadas a partir da DUM e do USG e de quando a ultrassonografia a diferença for maior do que os dias indicados, devemos considerar

foi realizada. a IG do USG. Isso é chamado de erro de data, ou seja, a DUM não
deve ser levada em consideração para a estimativa da IG.
Sabendo-se que a idade gestacional é estimada a partir do
Ultrassonografias realizadas:
tamanho do embrião ou do feto à ultrassonografia, quanto mais
• Antes de 9 semanas apresentam erro de até 5 dias;
precocemente for realizado o ultrassom, mais fidedigna será a
• Entre 9 e 14 semanas apresentam erro de até 7 dias;
determinação da idade gestacional. Isso acontece porque quanto • Entre 14 e 21 6/7 semanas apresentam erro entre 7 e 10
menor a idade gestacional, menores os efeitos genéticos e de dias;
possíveis comorbidades maternas sobre o crescimento fetal, por • Entre 22 e 27 6/7 semanas apresentam erro de 14 dias;
exemplo. • A partir de 28 semanas apresentam erro de 21 dias.

DICA DE PROVA
Decorar todos esses intervalos não é fácil. Embora não seja tão fidedigna, uma dica para ajudá-lo a responder
às questões sobre esse assunto é que o trimestre em que o ultrassom foi realizado representa o número de semanas
consideradas para o erro, isto é:
Ultrassonografias de:
1º trimestre – apresentam erro de 1 semana (7 dias);
2º trimestre – apresentam erro de 2 semanas (14 dias);
3º trimestre – apresentam erro de 3 semanas (21 dias).

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 12


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

A datação da gestação realizada no primeiro trimestre não se altera. Lembre-se de que, durante o terceiro
trimestre, tamanhos fetais incompatíveis com a IG devem levar à investigação de causas para um crescimento fetal
acelerado ou retardado.

Pela altura uterina No entanto, esse pode ser um parâmetro importante em


Conforme já estudamos no capítulo de exame físico situações em que a datação da gestação é importante e em que não
obstétrico, há correlação entre a altura uterina e a idade gestacional, se têm outros meios, como, por exemplo, em um atendimento de
embora a altura uterina possa ser influenciada por fatores como urgência de uma gestante sem cartão de pré-natal ou quando não
presença de miomas, número de fetos, tamanho fetal, biotipo se sabe o quanto é possível confiar na DUM, entre diversas outras
materno, quantidade de líquido amniótico, entre outros fatores situações que podem se apresentar.
que fazem com que a estimativa da idade gestacional não seja tão Alguns marcos da avaliação da altura uterina são importantes
fidedigna a partir da altura uterina quando comparada à realizada a de serem conhecidos. A figura a seguir auxilia sua memorização:
partir da DUM ou do USG.

• Na 12ª semana, o útero é palpável na sínfise púbica;


• Na 16ª semana, o fundo uterino é palpável entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical;
• Na 20ª semana, a altura uterina é palpável na altura da cicatriz umbilical;
• A partir da 20ª semana, observa-se relação direta entre a medida da altura uterina e as semanas
de gestação, sendo menos fidedigna após a 30ª semana de gestação.

Figura 4. Relação entre a altura uterina e a idade gestacional.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 13


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Há, ainda, outra forma de utilizar a altura uterina para estimar você pretende concorrer nessa prova, é fundamental que memorize
a idade gestacional: o uso da regra de McDonald em gestantes que, por essa regra, a idade gestacional é estimada multiplicando-
entre 28 e 34 semanas. Seu uso não é frequente nas provas nem na se a altura uterina por 8 e dividindo-a por 7.
prática clínica, porém despenca nas provas do SES-PE, por isso, se

REGRA DE MCDONALD
Altura uterina x 8 = Idade gestacional
(Semanas)
7

Figura 5. Cálculo da idade gestacional pela regra de McDonald.

2.2 DATA PROVÁVEL DO PARTO (DPP)

A data provável do parto (DPP) refere-se a quando se 7 ao número de dias da DUM e subtraindo-se 3 dos meses da DUM.
completam 40 semanas de gestação segundo a DUM, e não Esteja sempre atento para realizar os ajustes necessários para ser
necessariamente à data em que de fato ocorrerá o parto. uma data fidedigna quanto a dia, mês e ano.
A DPP é calculada, segundo a regra de Naegele, somando-se

REGRA DE NAEGELE = somar 7 aos dias e subtrair 3 dos meses da DUM = DPP.

Observe o exemplo a seguir, considerando-se uma DUM de 27 de agosto de 2021.

DUM = 27/08/2021 ≥ 27(dia) + 7 = 34; 08 (mês) -3 = 05, portanto, DPP = 34/05/2021

Mês de maio tem 31 dias


DPP = 03/06/2022 Ajustar o ano para o seguinte

Figura 6. Exemplo de cálculo da DPP a partir da regra de Naegele.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 14


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

2.3 IDENTIFICAÇÃO

Muitas vezes, ao realizar a identificação de um paciente, a diversos fatores de risco para gravidez que podem ser conhecidos
avaliamos mecanicamente as informações que obtemos; porém, já a partir das informações coletadas durante sua identificação.
ao realizar a identificação da gestante, é fundamental estar atento

2.3.1 IDADE

O primeiro item da identificação que precisamos lembrar idade as gestantes adolescentes, ou seja, aquelas menores de
é a idade da gestante. Os extremos de idade deverão chamar 18 anos, segundo a definição da Organização Mundial da Saúde,
sua atenção pelo aumento potencial de risco gestacional que e as grávidas com 35 anos ou mais, que podem ser chamadas de
representam. Durante a gestação, consideramos extremos de gestantes idosas ou com idade materna avançada.

ASPECTOS ÉTICOS DO PRÉ-NATAL DA GESTANTE ADOLESCENTE


Não é raro que as provas apresentem a você questões envolvendo o atendimento de adolescentes e, dessa forma, avaliem
seus conhecimentos a respeito do sigilo médico. Então, aproveite este tópico para relembrar pontos importantes a esse respeito.
Internacionalmente, há consenso de que adolescentes entre 12 e 18 anos devem ter sua privacidade garantida, especialmente
se já tiverem 14 anos e 11 meses ou mais, consideradas maduras para entender e cumprir o que lhes for orientado.
O documento “Orientações básicas de atenção integral à saúde de adolescentes nas escolas e unidades básicas de saúde”
(Brasília – DF, 2013), do Ministério da Saúde, lista os seguintes direitos dos adolescentes:
- Privacidade no momento da consulta.
- Garantia de confidencialidade e sigilo.
- Consentimento ou recusa de atendimento.
- Atendimento à saúde sem autorização e sem acompanhamento dos pais.
- Informação sobre seu estado de saúde.
Saiba que, conforme previsto no capítulo IX do Código de Ética Médica (CEM), o Conselho Federal de Medicina (CFM) também
garante o direito do adolescente à privacidade.
É vedado ao médico: [...]
Art. 74. Revelar sigilo profissional relacionado a paciente criança ou adolescente, desde que estes tenham capacidade de
discernimento, inclusive a seus pais ou representantes legais, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente.
O Parecer do CFM nº 25, de 2013, estipula o seguinte acerca do mesmo tema:
[...] Com relação aos pacientes adolescentes há o consenso internacional, reconhecido pela lei brasileira, de que entre os 12 e
18 anos estes já têm sua privacidade garantida, principalmente se com mais de 14 anos e 11 meses, considerados maduros quanto
ao entendimento e cumprimento das orientações recebidas [...].

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 15


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Quanto às gestantes mais velhas, isto é, com 35 anos ou mais, o aumento de risco relaciona-se especialmente à maior probabilidade de
apresentarem cromossomopatias e comorbidades, como hipertensão arterial ou diabetes mellitus, por exemplo.

2.3.2 ESCOLARIDADE

Outro ponto importante a ser conhecido é o nível de influencia na maior dificuldade ou facilidade do paciente em
escolaridade da gestante, o que permitirá escolher a linguagem mais entender as orientações fornecidas. Portanto, influenciará na
adequada a ser empregada durante a comunicação com ela. Lembre- adesão da grávida ao pré-natal e, consequentemente, aos cuidados
se de que, independentemente da especialidade, a escolaridade propostos a ela.

2.3.3 PROCEDÊNCIA

A gestante pode morar e ser natural da localidade onde está auxiliar a pensar em doenças mais prevalentes em determinada
sendo atendida, mas pode também ser de outra cidade, estado região de onde essa grávida é procedente.
ou país. Perceba que conhecer a procedência da grávida pode o

2.3.4 SITUAÇÃO CONJUGAL

Assim como a procedência, conhecer a situação conjugal pelo parceiro quando este soube da gravidez; mulher que engravidou
da gestante também é uma informação que ajuda a entender em uma relação esporádica ou que não tem certeza de quem é o
o apoio e a aceitação dessa mulher diante da gravidez. A lista de pai do filho; parceiro que pressiona a gestante para interromper
situações de fragilidade emocional é extensa. Veja alguns exemplos a gestação por não ter sido planejada. Consegue compreender o
de dificuldades de aceitação de uma gestação: mulher abandonada apoio psicológico que talvez seja necessário solicitar nesses casos?

2.3.5 OCUPAÇÃO

O trabalho exercido pela gestante pode impactar bastante a de saúde ao atenderem pacientes com doenças infectocontagiosas).
evolução da gestação, abrangendo desde riscos teratogênicos ao O trabalho da gestante pode também aumentar os riscos de
feto (por exemplo, em razão de funções que envolvam o contato algumas intercorrências obstétricas, por exemplo, o trabalho de
com produtos químicos, como no caso de mulheres frentistas ou de parto prematuro em mulheres que exercem funções fisicamente
médicas anestesistas ao utilizarem anestésicos inalatórios) até riscos extenuantes, como profissionais de limpeza, ou agravar quadros de
biológicos (como professoras de educação infantil ao entrarem em distúrbios hipertensivos, especialmente em funções relacionadas a
contato com crianças com doenças exantemáticas ou profissionais bastante estresse.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 16


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

2.4 ANTECEDENTES FAMILIARES

Os antecedentes familiares podem levantar hipóteses diagnósticas ou percepção de riscos


aumentados que a grávida pode apresentar.

Tenha especial atenção para informações relativas à mãe e às irmãs da gestante, principalmente se o histórico delas for positivo para
trombose, distúrbios hipertensivos, prematuridade ou outras intercorrências obstétricas.
Atenção para uma possível “pegadinha” relacionada a esse tópico. A família do pai do feto não representa
histórico familiar relevante para a gestação, exceto por histórico de gemelaridade ou de malformações congênitas.
Comorbidades que a sogra ou sogro tenham, como diabetes e hipertensão, não interferem na avaliação de risco
da grávida. Lembre-se de que eles não apresentam consanguinidade com a gestante, portanto não interferirão
em seu risco gestacional.

2.5 ANTECEDENTES PESSOAIS

Independentemente do momento do diagnóstico, fato é que Conhecer as comorbidades da gestante é importante


grande parte das doenças pode interferir bastante na evolução da também para complementar os exames de rotina solicitados
gestação, muitas vezes sendo responsável, inclusive, pela gravidez durante a primeira consulta de pré-natal e que visam auxiliar no
passar a ser considerada de alto risco. Portanto, é fundamental que seguimento e no tratamento de tais doenças durante a gestação.
Como já citado, reafirmo que essas particularidades são abordadas
essas doenças sejam diagnosticadas corretamente.
detalhadamente nos respectivos livros digitais de cada doença,
Mulheres previamente hipertensas, diabéticas, portadoras
por exemplo: "DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS DA GESTAÇÃO" e
de trombofilias, com tireoidopatias, epilépticas, migranosas etc.
"DIABETES NA GESTAÇÃO".
(a gama de possibilidades estende-se por todos os diagnósticos
Conhecer o histórico de doenças já tratadas, ainda que
médicos das diferentes especialidades) precisam ser identificadas, curadas no momento da gestação, também pode ser uma
e os riscos, maiores ou menores, de tais comorbidades para a informação bastante relevante. Um exemplo disso, como veremos
gestação precisam ser conhecidos; dessa forma, um plano de adiante neste estudo, é o conhecimento de tratamento anterior
cuidados é estabelecido, visando prevenir complicações associadas para sífilis, que pode influenciar na interpretação da sorologia para
a tais comorbidades. sífilis e na necessidade de tratamento da infecção.

2.5.1 USO DE MEDICAÇÕES DURANTE A GRAVIDEZ

Este é um item de bastante “decoreba” e que pode causar um categorias, conforme o risco que representavam para a gestação, e
pouco de confusão. Então, vamos juntos, e coragem! as cinco categorias de risco eram representadas por letras: A, B, C,
Classicamente, os fármacos eram classificados em cinco D e X.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 17


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Observe a tabela a seguir, que descreve o que significa cada uma das cinco categorias da classificação clássica do risco de substâncias
durante a gestação pelo Food and Drug Administration (FDA).

Classificacão das drogas quanto ao risco durante a gestação de acordo com o FDA

Categoria A Estudos adequados e controlados em humanos não demonstraram risco para o feto.

Categoria B Estudos em animais não demonstraram risco para o feto.


Estudos adequados em gestações humanas não demonstraram risco fetal.

RISCO NÃO DESCARTADO. Estudos em animais demonstraram


Categoria C efeitos adversos e não existem estudos adequados em gestações humanas.
O benefício pode justificar o risco potencial.

EVIDÊNCIA DE RISCO. Estudos controlados em humanos demonstraram


Categoria D risco para o feto; entretanto o benefício em potencial pode superar o risco.

CONTRAINDICADO NA GESTANTE. Estudos controlados em animais ou


Categoria X humanos demonstraram risco fetal que supera claramente
qualquer beneficio à paciente.

Figura 7. Classificação para o uso de fármacos e substâncias proposta pela Food and Drug Administration (FDA), 1980.

Além disso, você pode encontrar uma outra classificação para segurança na utilização de drogas na lactação, orientada por Weiner et al.

Segurança da utilização de drogas na LACTAÇÃO (Weiner et al).

S = SEGURA

NS = NÃO SEGURA

U = SEM ESTUDOS

S? = ESTUDOS CONFLITANTES OU NÃO PERMITEM CONCLUSÃO

Figura 8. Segurança da utilização de drogas na lactação orientada por Weiner et al.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 18


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Ainda sobre o uso de medicações durante a gestação, além de saber o que significa cada categoria da classificação clássica em cinco
categorias de letras, o examinador espera, algumas vezes, que você também saiba como o uso de algumas medicações durante a gestação é
classificado.

Como você deve imaginar, a lista de medicações classificadas pela FDA é imensa e seria pouco didático
apresentá-la em detalhes aqui para você. Vou, então, apresentar a seguir algumas medicações que a engenharia
reversa mostrou serem as que mais apareceram nas provas de Residência Médica nos últimos anos.
Observe a tabela a seguir e retorne a ela em sua revisão, na véspera da prova, para relembrá-la.

CLASSIFICAÇÃO MEDICAÇÃO IMPLICAÇÃO DO USO DURANTE A GRAVIDEZ

Talidomida Redução de membros, atresia esofágica ou duodenal, hemangioma


X
(imunomodulador) facial, malformações geniturinárias e cardiovasculares.

Isotretinoína
Relaciona-se a abortamento e malformação fetal quando utilizada
X (tratamento de
durante o primeiro trimestre.
acne)

Teratogênica relacionada a malformações, como hidrocefalia e de


X Ribavirina (antiviral)
extremidades.

Síndrome do metotrexato-aminopterina fetal (restrição do


Metotrexato crescimento fetal, malformações craniofaciais, retardo mental),
X
(antineoplásico) quando usado no primeiro trimestre, e toxicidade e óbito fetal,
quando usado no segundo ou no terceiro trimestre.

Durante o primeiro trimestre, é contraindicada por ser teratogênica.


Varfarina Nos demais trimestres, deve ser evitada por associar-se a
D/X
(anticoagulante oral) malformações fetais, a não ser que o benefício materno justifique
seu uso.

Fenitoína Síndrome da fenitoína fetal (restrição de crescimento fetal, atraso do


D
(anticonvulsivante) desenvolvimento, alterações cardíacas e craniofaciais).

Ácido valproico Associa-se a defeitos de fechamento do tubo neural, alterações


D
(anticonvulsivante) cardíacas, craniofaciais, geniturinárias e esqueléticas.

O uso no segundo e terceiro trimestres relaciona-se à descoloração


Tetraciclinas
D marrom-amarelada dos dentes fetais e à redução do crescimento dos
(antibiótico)
ossos longos.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 19


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Carbonato de lítio
(antipsicótico, usado Risco de malformações cardiovasculares (doença de Ebstein),
no tratamento de polidrâmnio, bócio e espinha bífida, quando a exposição fetal ocorre
D
episódios de mania no primeiro trimestre, e risco de toxicidade neonatal, se ocorrer
do transtorno exposição no terceiro trimestre.
afetivo bipolar)

Atenolol
(betabloqueador)
D Restrição do crescimento fetal e hipoglicemia neonatal.
(anti-hipertensivo,
antiarrítmico)

Betabloqueadores
(ex.: propranolol, Restrição de crescimento fetal, quando usados no segundo e no
C/D metoprolol) (anti- terceiro trimestre (categoria C no segundo trimestre), e hipoglicemia
hipertensivos, neonatal (no terceiro trimestre).
antiarrítmicos)

Inibidores da
enzima conversora
da angiotensina
(IECA – ex.:
captopril, enalapril) Restrição do crescimento fetal, malformações renais, hipoperfusão
C/D e bloqueador dos renal, oligoâmnio, hipoplasia pulmonar quando utilizado no segundo
receptores da e terceiro trimestres (categoria D). Categoria C no primeiro trimestre.
angiotensina II (BRA
– ex.: losartana,
valsartana) (anti-
hipertensivos)

Seu uso parece ser seguro durante os dois primeiros trimestres


Ácido acetilsalicílico (categoria C) e associa-se ao aumento do sangramento materno e
C/D
(AAS) fetal e ao fechamento do ducto arterioso, quando utilizado em dose
plena no terceiro trimestre (categoria D).

Quando utilizadas próximo do termo da gestação, podem provocar


Sulfonamidas
hiperbilirrubinemia fetal. Não utilizar próximo do parto. Evitar uso
C (sulfametoxazol)
do trimetoprim no primeiro trimestre por risco de malformação do
(antibiótico)
tubo neural, cardiovascular e geniturinário.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 20


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Heparina
C Não é teratogênico, não atravessa a barreira placentária.
(anticoagulante)

Hidralazina (anti- Segura quando utilizada por períodos curtos. É utilizada


C
hipertensivo) especialmente nas emergências hipertensivas.

Omeprazol (inibidor
C das bombas de Não há evidências de malformações fetais associadas ao uso.
prótons (antiácidos)

Levomepromazina
Considerada relativamente segura durante a gestação pelo amplo
(fenotiazina)
C uso na prática clínica. Comumente utilizada no tratamento de formas
(antipsicótico,
graves de pré-eclâmpsia.
sedativo)

Hidroclorotiazida Diuréticos não são recomendados durante a gestação, porém


B
(diurético) hipertensas crônicas podem beneficiar-se de seu uso.

Antagonistas dos
B receptores de H2 Não há evidências de malformações fetais associadas ao uso.
(ex.: ranitidina)

Enoxaparina
B Não é teratogênico, não atravessa a barreira placentária.
(anticoagulante)

Dimenidrinato
(dramin),
metoclopramida
(plasil),
B Não são teratogênicos.
ondansetrona
(vonau),
meclizina (meclin)
(antieméticos)

Metildopa (anti- Seu uso há anos em gestantes não demonstra prejuízos na saúde
B hipertensivo materno-fetal, sendo o mais utilizado no tratamento dos distúrbios
antiadrenérgico) hipertensivos durante a gestação.

Insulina (ex.: NPH e


B Uso seguro durante a gestação, não atravessa a barreira placentária.
regular)

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 21


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Metformina
Não há evidências de teratogenicidade. Mas não há estudos de
B (hipoglicemiante
efeitos a longo prazo na criança. Seu uso deve ser evitado.
oral)

Paracetamol
B (acetaminofeno) Uso seguro durante a gestação.
(analgésico)

Antibacterianos
(penicilinas,
B Não se associam a malformações fetais.
cefalosporinas,
azitromicina)

Anti-inflamatórios
não hormonais
(AINEs) (ex.: Não são teratogênicos, mas podem causar o fechamento precoce do
B
cetoprofeno, ducto arterioso no terceiro trimestre.
ibuprofeno,
naproxeno)

Tabela 1. Categorização do uso durante a gestação das medicações mais abordadas nas provas, segundo a classificação anterior da FDA.

DICA PARA PROVA


Memorize as drogas categoria X na gestação.

2.5.2 HÁBITOS E VÍCIOS DURANTE A GRAVIDEZ

O uso de bebidas alcoólicas e de tabaco é o mais frequente e seus potenciais malefícios, orientados a toda mulher em idade
entre as drogas lícitas, enquanto maconha e cocaína, incluindo fértil.
o crack, são os mais comuns entre as drogas ilícitas. O uso de Observe, na tabela a seguir, as principais associações do uso
qualquer uma delas deve ser desencorajado durante a gravidez, de tabaco e álcool durante a gravidez.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 22


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

DROGA IMPLICAÇÃO DO USO DURANTE A GRAVIDEZ

Contém mais de três mil substâncias, sendo a nicotina e o monóxido de carbono os que oferecem
maior risco fetal – a quantidade de cigarros consumidos interfere no impacto fetal. Associa-se a
Tabaco
gestação ectópica, abortamento, restrição do crescimento fetal, prematuridade, placenta prévia e
descolamento prematuro de placenta.

É teratogênico e não há dose segura estabelecida para uso seguro durante a gravidez. Exposição do
feto ao álcool relaciona-se à síndrome fetal do alcoolismo materno ou à síndrome alcoólica fetal,
Álcool
caracterizada por restrição do crescimento fetal, alterações no sistema nervoso central e fácies
características.

Relaciona-se à redução da perfusão uteroplacentária e à restrição do crescimento fetal e aumenta


Maconha o risco de defeito do septo interventricular. Prejudica o neurodesenvolvimento, com repercussões
inclusive na infância e na adolescência. Potencializa o efeito do álcool.

Seu uso associa-se à restrição de crescimento fetal, malformações cardíacas, geniturinárias e


Cocaína do sistema nervoso central. Aumenta ainda o risco de descolamento prematuro de placenta e
prematuridade.

Tabela 2. Principais implicações do uso de álcool, tabaco, maconha e cocaína durante a gravidez.

2.5.3 ANTECEDENTES CIRÚRGICOS

Assim como o histórico de doenças e drogas em uso pode impactar a evolução da gestação, o histórico de cirurgias
já realizadas pela gestante também pode interferir tanto em cuidados necessários durante a gravidez quanto em possíveis
interferências no momento do parto.
Outro aspecto a ser avaliado a respeito do histórico cirúrgico é que cirurgias abdominais e pélvicas se associam ao
aumento do risco cirúrgico do parto cesáreo, mesmo tratando-se de uma primigesta. A presença de possíveis aderências
e alterações anatômicas aumenta o risco cirúrgico durante a abertura da cavidade para extração fetal no parto via alta.
Quanto às cirurgias ginecológicas anteriormente realizadas pela gestante, algumas delas poderão influenciar nos cuidados oferecidos
à gestante, tanto durante a gravidez quanto no parto.
Por exemplo, na presença de cicatrizes uterinas, como no caso de mulheres que realizaram miomectomia, ou seja, cirurgia para retirada
de mioma uterino, com abertura do endométrio, é desaconselhado o parto via baixa, em razão de aumento do risco de rotura uterina,
devendo ser feito encaminhamento para planejamento do parto cesáreo eletivo no momento oportuno.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 23


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

2.6 ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS

A investigação dos antecedentes ginecológicos permite que o pré-natalista conheça características da saúde do sistema reprodutor da
gestante.

DICA DA CORUJA: neste momento, lembre-se de investigar basicamente 5 características:


1) Menarca
2) Data da última menstruação (DUM)
3) Característica do ciclo menstrual
4) Uso de contraceptivos
5) Parceiros sexuais fixos ou eventuais

2.7 ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS

Quando investigamos os antecedentes obstétricos, é essencial investigar:


• Paridade.
• Ordem cronológica dos desfechos das gestações.
• Particularidades do(s) abortamento(s) que ocorreu(ram).
• Particularidades do(s) parto(s) que ocorreu(ram).

2.7.1 CLASSIFICAÇÃO EM NÚMERO DE GESTAÇÕES, PARIDADE E ABORTOS ANTERIORES (G P A)

Classicamente, essa informação é apresentada por números que antecedem letras. Podem ser usados números
romanos ou arábicos na descrição. A primeira letra refere-se ao número de gestações e simboliza o gesta (G). A segunda
representa o número de partos e simboliza a palavra "para" (P). A última letra representa as gestações que culminaram em
outros desfechos que não um parto, mais comumente em um abortamento (A).

Perceba que o número de gestações demonstra quantas vezes essa mulher concebeu, independentemente de o desfecho ter sido um
parto ou um abortamento. Muitas vezes, as mulheres respondem à pergunta de quantas vezes ficaram grávidas contabilizando apenas as
gestações que culminaram em partos de filhos vivos.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 24


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Paridade refere-se a quantas vezes a gestante engravidou, quantos partos e/ou abortamentos já teve.

Quanto ao número de partos, para (P), lembre-se de que eles parto ou abortamento, ao determinar a paridade
se referem ao número de nascimentos, independentemente de da gestante, é ter clareza sobre a definição de
tratar-se de um nascido vivo ou de um natimorto. Aqui, o conceito abortamento.
importante para não ter dúvida se contabilizará o natimorto como

Abortamento refere-se ao produto conceptual eliminado ainda antes de 20 semanas com menos de 500
gramas.

Outro ponto que pode gerar dúvidas na determinação Aqueles que não são classificados como partos são definidos
da paridade de uma gestante é diante do relato de gestações como abortamento (A). Lembre-se de que, pelo Ministério da
múltiplas. A maioria dos autores e, consequentemente, as questões Saúde, é definido como abortamento a expulsão ou extração do
das provas observadas pela engenharia reversa consideram que a feto de 20 semanas ou com menos de 500 g. Além disso, não se
contabilização seja de um único evento, independentemente de esqueça de que estão incluídas as gestações ectópicas e molares.
quantos fetos foram concebidos e nasceram.

2.7.2 ORDEM CRONOLÓGICA DOS DESFECHOS E PARTICULARIDADES DAS GESTAÇÕES ANTERIORES

Além de conhecer a paridade de uma grávida, é importante que o pré-natalista saiba também as
particularidades do que ocorreu em cada uma das gestações anteriores, porque algumas delas podem repetir-se
e demandar cuidados específicos nessa gestação.
Outro aspecto a ser observado é referente a procedimentos operatórios relacionados aos desfechos
gestacionais. Note que o histórico de partos cesáreos ou de curetagens uterinas acarreta aumento de riscos como
acretismo placentário, que não estará presente em gestantes de mesma paridade, mas que apresentam histórico obstétrico de partos via
baixa e abortamentos em que não foi realizada a curetagem para esvaziamento uterino. Os fatores de risco e as demais particularidades
relacionadas ao acretismo placentário podem ser estudados no livro digital "SANGRAMENTO DA SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO".
O conhecimento do sexo do recém-nascido e de possíveis malformações ou desfechos desfavoráveis fetais pode alertar para investigação
de heranças genéticas ligadas ao sexo ou de alterações maternas que impactaram o desenvolvimento fetal, por exemplo, diante do histórico de
infecções congênitas.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 25


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

O peso ao nascer dos filhos anteriores auxilia o raciocínio maior fator de risco para o trabalho de parto prematuro (TPP) é o
diagnóstico quanto a causas que levam à restrição de crescimento antecedente de um TPP na gestação anterior, tema que você pode
fetal, pensadas especialmente diante de recém-nascidos com menos estudar detalhadamente no livro digital "TPP – PREMATURIDADE E
de 2.500 g ao nascer, ou, ao contrário, doença materna que acarretou TRABALHO DE PARTO PREMATURO".
crescimento fetal acelerado. Deve-se pensar na possibilidade de Muito bem! Até aqui, exploramos detalhadamente como as
diabetes gestacional quando houver relato de recém-nascido particularidades da identificação e dos antecedentes da gestante
macrossômico, isto é, com 4.000 g ou mais ao nascer. podem ser relevantes para seu raciocínio diagnóstico. A partir de
Outro exemplo é que uma grávida com histórico de partos agora, estudaremos como a história atual deve ser abordada em sua
prematuros deverá receber cuidados específicos na gestação anamnese.
atual para que nova prematuridade seja evitada, uma vez que o

2.8 QUATRO PERGUNTAS-CHAVE PARA ANAMNESE OBSTÉTRICA

Ao atender uma gestante, é importante ter quatro perguntas inicialmente, mas que podem estar associadas a intercorrências
sempre em mente. Caso elas não sejam respondidas pelas queixas obstétricas.
ativas da gestante, deverão ser abordadas durante a anamnese. Isso As quatro perguntas estão descritas na tabela a seguir, assim
é importante porque essas quatro respostas ajudarão você a não como exemplos de intercorrências obstétricas que você deve
deixar passar informações que a gestante pode não ter valorizado investigar diante de resposta positiva para cada uma delas.

Sangramento?
Investigar causas dos sangramentos da primeira ou da segunda metade da gestação.

Perda de líquido?
Investigar rotura prematura de membranas ou presença de vulvovaginites.

Dor? Contrações?
Investigar presença de dinâmica uterina, alteração do tônus uterino, infecções,
como as urinárias, entre outras afecções que podem culminar em dor durante a gestação.

Movimentação fetal?
Avaliar vitalidade fetal diante do relato de redução da movimentação fetal.
Figura 9. Quatro perguntas fundamentais para a anamnese obstétrica.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 26


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

2.9 PRINCIPAIS SINTOMAS NA GESTAÇÃO

A principal e mais comum queixa na primeira metade da sintoma fisiológico na gestação. Por ser a queixa mais comum, ela
gestação são as náuseas e vômitos. Devido à alta incidência, em é a mais cobrada pelas bancas de provas e a que vou descrever
torno de 70 a 80% das gestações, estão considerando-a até como primeiro e com mais detalhes.

2.9.1 HIPERÊMESE GRAVÍDICA

O momento das náuseas e dos vômitos gera dúvidas e das gestações. Elas iniciam entre a 5a e a 6a semana de gestação,
ansiedades para muitas mulheres que pensam em engravidar. As com pico na 9a semana, e diminuem por volta da 16a a 18a semana
náuseas, acompanhadas ou não de vômitos, ocorrem em 70 a 80% em 90% dos casos.

A hiperêmese gravídica caracteriza-se pela persistência dos vômitos, acompanhada de perda de peso maior do que 5% da
massa corporal pré-gravídica e cetonúria, excluídas outras causas.

A hiperêmese afeta de 0,3 a 3% das gestantes e é umas peso e, em outros casos, alterações da função hepática e renal,
das indicações mais comuns de hospitalização durante a gravidez. hemorragia retiniana e até distúrbios neurológicos (encefalopatia
A gestante apresenta vômitos incoercíveis, o que pode levar a de Wernicke), ocasionando risco para a vida materna e fetal.
quadros de desidratação e distúrbios hidreletrolíticos, perda de

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 27


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Etiologia
A etiologia parece ser multifatorial. Existe uma maior associação com o aumento do hCG, além da progesterona,
do estrogênio, do hormônio estimulante da tireoide (TSH), do córtex da adrenal, das infecções pelo H. pylori e das
deficiências nutricionais ou causas psicológicas. Aqui, deixo o aviso de que devemos nos lembrar da ocorrência de náuseas
e vômitos, com maior frequência, em gestações múltiplas e na doença trofoblástica gestacional.

hCG PROGESTERONA ESTROGÊNIOS TSH

HIPERÊMESE GRAVÍDICA

CÓRTEX DA ADRENAL INFECÇÃO POR H. DEFICIÊNCIA DE CAUSAS PSICOLÓGICAS


(Produção insuficiente de PYLORI VITAMINA
ACTH)

Figura 10. Etiologia da hiperêmese gravídica.

Quadro clínico
A hiperêmese é caracterizada por vômitos incoercíveis grave de fases avançadas, com sintomas de psicose, alucinações
que podem gerar distúrbio hidreletrolítico e ácido-básico, além de com desenvolvimento de doença crônica neuropsiquiátrica com
desidratação e perda de peso (maior do que 5% da massa corporal perda de memória (amnésia retrógrada) e de aprendizado (amnésia
pré-gravídica). Em alguns quadros, podem ocorrer alterações anterógrada). E a síndrome de Wernicke é caracterizada pela tríade
de enzimas hepáticas e renais, além de hemorragia retiniana e confusão mental, ataxia e alterações oculares e, sem tratamento
distúrbios neurológicos. A síndrome Korsakoff ocorre em quadro adequado, pode evoluir para coma e óbito.

Tratamento

A internação hospitalar é OBRIGATÓRIA, e deve ser mantido o JEJUM por 24 a 48 horas.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 28


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

A hidratação deve ser feita de forma intravenosa, com nem de malformações fetais e tem maior efetividade quando
adição de vitaminas e de ácido ascórbico para eventuais reposições. associada à piridoxina. A clorpromazina, um antipsicótico, também
O controle da hidratação deve ser realizado por meio da diurese é uma alternativa para náuseas e vômitos.
clara, preferencialmente por solução glicofisiológica entre 2.000 e Geralmente, a ondansetrona é uma escolha em casos graves
4.000 mL em 24 horas. e refratários à terapêutica inicial. É uma medicação classificada
Além disso, deve ser corrigido o distúrbio hidreletrolítico como categoria B pela FDA, porém é evitada durante o primeiro
e ácido-básico. Com a ocorrência dos vômitos incoercíveis, existe trimestre da gestação. Além disso, nos casos graves refratários,
perda de ácido clorídrico, cloreto de sódio e cloreto de potássio, pode ser associado o uso de benzodiazepínicos (diazepam),
levando a uma alcalose metabólica hipoclorêmica. Logo, a apesar de serem classificados como classe D, e de corticosteroides
reposição deve incluir o cloro, o sódio e o potássio até que seus (metilprednisolona).
níveis sejam normalizados. Além disso, a escolha do anti-histamínico (dimenidrinato,
Terapêutica medicamentosa meclizina, prometazina) é uma alternativa terapêutica no
As medicações antieméticas são classificadas como tratamento de náuseas e vômitos, e não foi verificado risco de
categoria B. O uso de vitaminas como a piridoxina (vitamina B6), na teratogenicidade.
dose de 25 mg, a cada 8 horas, ou a ingestão de gengibre, 250 mg, Além das náuseas e dos vômitos, relembre, pela tabela
a cada 6 horas, podem ser úteis. a seguir, outros sintomas que também podem estar presentes
A metoclopramida não aumenta o risco de abortamento durante a gestação.

LOMBALGIA Piora de intensidade com o evoluir da gestação. Ocorre em 70% dos casos.

Comum no início da gestação devido ao efeito da progesterona sobre o sistema nervoso


SONOLÊNCIA
central.

Mais comum no início da gestação, regride a partir da metade da gestação, mas pode
CEFALEIA
estar associada a outras patologias (sinusite, enxaquecas, erros de refração).

Relacionadas à posição supina prolongada, à genética e à idade avançada. Para


VARIZES
tratamento, é indicado repouso com membros inferiores elevados e meia elástica.

OBSTIPAÇÃO A piora dos sintomas é maior com o progredir da gestação.

Ocorre por aumento da pressão das veias retais pela compressão uterina. Pode
DOENÇA manifestar-se pela primeira vez na gestação e ser agravada com o evoluir da gestação.
HEMORROIDÁRIA O tratamento é por meio de sintomáticos tópicos, correção da obstipação e compressa
morna.

Ocorre devido à estimulação das glândulas salivares na ingesta de amido e de


SIALORREIA
componente psicossomático.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 29


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Ocorre pela compressão uterina sobre o estômago e relaxamento do esfíncter esofágico


com refluxo do conteúdo gástrico. Geralmente, os sintomas são leves, e o tratamento
PIROSE
indicado é o fracionamento da dieta, o uso de antiácidos e a evitação de alimentos
gordurosos e com cafeína.

PICA A pica pode ocorrer com desejos estranhos de comer, por exemplo, terra, gelo, arroz cru.

As gestantes apresentam um aumento fisiológico do fluxo vaginal devido ao aumento da


LEUCORREIA secreção de muco pelas glândulas endocervicais pelo aumento do estrogênio. Porém, é
necessário o exame ginecológico para afastar outras causas.

Tabela 3. Principais sintomas na gestação.

Ok! Terminamos o interrogatório da gestante. Agora, vamos partir para o exame físico obstétrico, alvo de muitas questões de provas.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 30


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

3.0 EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO

O exame físico realizado durante a primeira consulta de pré-natal deve ser completo, isto é, a avaliação de
todos os aparelhos deve ser realizada, e não apenas dos aspectos obstétricos.

Outro aspecto fundamental a ser considerado ao examinar parâmetros devem sempre ser investigados em todas as consultas:
uma gestante é que seu corpo está passando por diversas • Pressão arterial.
modificações fisiológicas relacionadas à gestação e que, portanto, • Peso.
deverão ser levadas em consideração na avaliação do exame físico. • Membros inferiores.
Considerando-se o exame físico geral da gestante, três Vamos avaliar as particularidades de cada um deles?

3.1 PRESSÃO ARTERIAL

A avaliação da pressão arterial da gestante deve sempre ser


realizada em repouso, sentada e com o membro superior na altura
do coração.
Lembre-se de que uma redução fisiológica dos níveis
pressóricos é esperada no período gravídico, associada à redução
da resistência vascular periférica.

Figura 11. Aferição da pressão arterial da gestante.

Medidas de pressão arterial sistólica maiores ou iguais a 140 mmHg e/ou pressão diastólica maior ou igual
a 90 mmHg devem sempre chamar a atenção do examinador para a possibilidade de pré-eclâmpsia, especialmente
se associadas a ganho ponderal e/ou edema.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 31


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Alterações pressóricas devem ser confirmadas em, ao menos, duas medidas e motivar investigação, conforme detalhado no livro digital
"DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO E HIPERTENSÃO CRÔNICA".

3.2 PESO

A avaliação do ganho de peso materno é um dado bastante


relevante na evolução da gestação. O peso materno pode influenciar
o peso do recém-nascido ao nascer e ser um sinal de alerta para
distúrbios hipertensivos, por exemplo.
A medida padronizada para avaliação ponderal da gestante
é a do índice de massa corpórea (IMC) segundo a curva de Atalah,
assumida pelo Ministério da Saúde.

IMC = peso (kg)/altura (m2)

Figura 12. Gráfico para monitoramento da evolução ponderal em gestantes. Fonte: Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao pré-natal de baixo risco, Ministério da Saúde, 2012.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 32


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

De um modo geral, espera-se que o ganho ponderal médio não é uniforme no decorrer da gestação, devendo, idealmente,
da gestante que inicia a gestação com o IMC normal seja de 12,5 kg, ocorrer primordialmente no segundo e no terceiro trimestre. Para
e esse ganho deve variar para mais ou para menos de acordo com gestantes que são classificadas dentro do peso normal, o esperado
o IMC apresentado por ela no início da gestação. é um ganho de cerca de 400 g por semana na segunda metade da
Além disso, é importante que você saiba que o ganho de peso gestação.

IMC pré-gravídico

Ganho de peso ideal durante a gestação


IMC (kg/m2)
Semanal no 2° e 3° tri TOTAL

< 18,5 500g/sem 12,5 a 18 kg

18,5 a 24,9 400g/sem 11,5 a 16 kg

25 a 29,9 300g/sem 7 a 11,5 kg

≥ 30 200g/sem 5 a 9 kg

Figura 13. Ganho ponderal de peso durante a gravidez, de acordo com o índice de massa corpórea (IMC) (fonte: Ministério da saúde, 2012).

3.2.1 CIRURGIA BARIÁTRICA: REPERCUSSÕES E CUIDADOS

A gestação após a cirurgia bariátrica é considerada segura, mas requer cuidados pré-concepção, durante a gestação e no puerpério.
Além disso, há redução de complicações como hipertensão arterial, pré-eclâmpsia, diabetes e macrossomia fetal.

Quando a técnica escolhida para a paciente é a técnica de Capella, que consiste na realização da gastroplastia e derivação em
Y de Roux ou biliopancreática, existe uma maior perda de folato, ferro, vitamina B12, vitamina D, cálcio e tiamina do que em outras
cirurgias.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 33


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Assim, quais são os cuidados que devemos tomar para até a 12a semana de gestação.
programar e acompanhar uma gestação após uma cirurgia Gestação: manter o seguimento tanto do obstetra quanto
bariátrica? do cirurgião bariátrico. Deve-se realizar controle ultrassonográfico
Pré-concepção: deve-se evitar engravidar no 1o ano após a rigoroso do crescimento fetal e manter suplementação durante a
cirurgia, especialmente por um período de 12 a 18 meses, já que pré-concepção, a gestação e o puerpério: vitamina B12, vitamina
é o ano de maior perda ponderal, e o potencial de perda de peso D, cálcio, ferro, tiamina, além da suplementação adicional
pode não ocorrer adequadamente após o parto. Além disso, deve- recomendada para a gestante.
se atentar à menor quantidade de alimentos e ao aumento do risco Puerpério: está indicado o uso de meias de compressão
de desnutrição. graduadas, hidratação e deambulação precoce para evitar o
Outro ponto importante que não pode ser esquecido é que tromboembolismo venoso. Atenção especial está no risco de
as mulheres obesas são consideradas como de maior risco para anemia, por isso o controle de hemoglobina materna durante a
defeitos do tubo neural, já que o ácido fólico participa da fase inicial gestação deve ser rigoroso e realizado por meio da suplementação
da embriogênese. Assim, a recomendação é que as doses de ácido de ferro e de outras vitaminas e minerais.
fólico devem ser 10 vezes maiores do que as doses habituais (4 mg/ Referência bibliográfica: Manual de Assistência Pré-Natal,
dia), com início 30 a 90 dias antes da concepção e com manutenção FEBRASGO, 2014.

3.3 MEMBROS INFERIORES

A compressão dos vasos em razão do aumento do volume especialmente quando o edema de membros inferiores está
uterino no decorrer da gestação, normalmente, acarreta edema associado ao edema de mãos e face, sendo a hipótese diagnóstica
em membros inferiores, especialmente no final da gestação. de pré-eclâmpsia um importante diagnóstico diferencial a ser feito
Apesar disso, é muito importante que a possibilidade de nesses casos.
edema patológico seja sempre cogitada quando se avalia a gestante,

Figura 14. Exemplos de membros inferiores com edema, varizes e trombose.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 34


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

3.4 EXAME OBSTÉTRICO ABDOMINAL

3.4.1 INSPEÇÃO ABDOMINAL

A inspeção abdominal de uma gestante pode apresentar como da coloração ou relativas ao aparecimento de estrias. A
diferentes aspectos, dependendo do trimestre em que ela se hiperpigmentação da linha alba recebe o nome de linha nigra
encontra. As principais alterações observadas serão quanto ao durante a gestação e é observada com frequência na prática clínica
formato e ao tamanho do abdômen, além de alterações cutâneas, durante a avaliação física da gestante.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 35


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Outra alteração comum de ser observada no abdômen mudar tão expressivamente.


gravídico é o surgimento de estrias, especialmente no final da A avaliação da presença de cicatrizes prévias é um importante
gestação, associadas à distensão cutânea e ao hipercortisolismo. passo durante a inspeção abdominal da gestante. É o momento
Observe que é importante que o pré-natalista esteja oportuno para descobrir procedimentos cirúrgicos que a gestante
preparado para orientar a gestante sobre essas alterações, que, em possa ter eventualmente esquecido de mencionar durante a
geral, causam bastante preocupação na grávida, que vê seu corpo anamnese, assim como avaliar a cicatriz de partos cesáreos prévios.

Lembre-se de que a técnica mais utilizada para a realização da cesariana é a de Pfannenstiel e de que cicatrizes longitudinais no
abdômen referentes a partos cesáreos, em geral, relacionam-se a urgências obstétricas.

3.4.2 MANOBRAS OBSTÉTRICAS

As manobras obstétricas são manobras de palpação abdominal divididas em quatro tempos e que
têm o intuito de definir parâmetros da estática fetal.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 36


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Figura 15. Manobras obstétricas.

A primeira manobra, ou primeiro tempo, caracteriza-se pela não. É realizada apreendendo-se o polo fetal presente na porção
palpação do fundo uterino com as bordas cubitais das duas mãos inferior do útero com a mão em formato de “C”, isto é, entre o
procurando perceber com as faces palmares qual é a porção fetal dedo médio e o polegar da mão direita, e realizando movimentos
que ocupa essa região. O polo cefálico é mais irredutível ao toque de lateralização que tentam movimentar de um lado para o outro
em comparação com o polo pélvico, assim como tende a ser menor o polo cefálico apreendido. Caso o polo fetal realize o movimento,
do que ele. isso demonstra que ainda não penetrou na pelve materna, o que
A segunda manobra, ou segundo tempo, também chamada denominamos, na prática clínica, de “estar alto e móvel”.
de manobra de Budin, é realizada deslizando-se as mãos para as A quarta e última manobra, ou quarto tempo, tem o
laterais do útero na intenção de perceber para que lado materno intuito de avaliar a escava. Nesse momento, é necessário que o
o dorso fetal está voltado. A porção referente ao dorso do feto será examinador fique de costas para a gestante e posicione cada
sentida à palpação como uma superfície mais contínua e densa, uma de suas mãos nas fossas ilíacas, projetando-as em direção
enquanto, na porção contralateral, que contém as partes e os ao hipogástrio da grávida, na tentativa de penetrar na pelve
membros fetais, a sensação será oposta. materna. A percepção de polo fetal liso e irredutível revela tratar-
A terceira manobra, ou terceiro tempo, é também chamada se de apresentação cefálica; já a percepção de polo fetal irregular e
de manobra de Leopold e dedica-se a investigar se o polo fetal que deprimível caracteriza o polo pélvico.
se apresenta ao estreito superior da pelve materna está móvel ou

Note que é intuitivo pensar que, se a escava estiver vazia, o feto estará em situação transversal ou apresentação
córmica, uma vez que seus diâmetros são incompatíveis com sua insinuação. Por outro lado, o polo cefálico, por ser
irredutível, não permitirá a progressão da mão do examinador, caracterizando a escava completamente ocupada,
enquanto a apresentação pélvica permitirá uma penetração maior da mão que examina a escava, relacionando-se à
escava parcialmente ocupada.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 37


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Observe a imagem a seguir, que demonstra exemplos das três apresentações fetais citadas.

Apresentação Apresentação Apresentação


cefálica pélvica córmica

Figura 16. Variedades de apresentação fetal.

• Escava vazia – apresentação córmica.


• Escava parcialmente ocupada – apresentação pélvica.
• Escava completamente ocupada – apresentação cefálica.

Primeiro tempo – situação fetal, isto é, ao perceber qual é a


porção fetal que ocupa o fundo uterino, é possível definir a relação
entre os maiores eixos do feto e do útero entre si. Lembre-se de
que a situação pode ser longitudinal, oblíqua ou transversal (figura
17).

Figura 17. Variedades da situação fetal.

Segundo tempo – posição fetal, ou seja, ao perceber para que lado do corpo materno o dorso fetal está voltado, define-se a posição
fetal caracterizada por ser a relação do dorso fetal com o corpo materno. Pode ser esquerda, direita, anterior ou posterior (figura 15).

DIREITA ESQUERDA ANTERIOR POSTERIOR

Figura 18. Variedades de posição fetal.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 38


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Terceiro tempo – apresentação fetal, isto é, ao apreender superior da bacia materna e que nele vai se insinuar. Conforme
o polo cefálico que está próximo da pelve materna, é possível demonstrado na figura 16, o feto pode estar em apresentação
determinar qual é a porção fetal que se relaciona com o estreito cefálica, pélvica ou córmica.

Quarto tempo – insinuação fetal, que, embora seja uma


avaliação relacionada ao toque vaginal, quando se percebe o feto
ocupando a escava materna, infere-se que esteja insinuado, isto é,
que seu maior diâmetro transverso da apresentação atravessou o
estreito superior da pelve materna.

Figura 19. Planos da bacia obstétrica.

Além das manobras obstétricas para avaliação do conteúdo uma. Nesse momento, também deve-se acompanhar a ausculta do
uterino, a palpação obstétrica deve avaliar também a consistência batimento cardíaco fetal, se há ou não desacelerações.
do útero, classicamente denominada de tônus uterino, e a presença A percepção da presença da movimentação fetal também
de contrações, chamada de avaliação da dinâmica uterina. O pode ocorrer nesse momento. Lembre-se de que, em geral, a
examinador deve espalmar sua mão no fundo do útero e avaliar gestante passará a notar os movimentos fetais por volta da 19ª ou
por 10 minutos qual é o número de contrações e a duração de cada 20ª semana de gestação.

3.4.3 ALTURA UTERINA

A altura uterina é determinada posicionando-se o zero da fita métrica na borda superior da sínfise
púbica e estendendo-a medialmente, passando pela cicatriz umbilical, utilizando-se a borda cubital da
mão, até o fundo uterino.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 39


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Figura 20. Aferição da altura uterina.

A respeito do crescimento uterino, é importante que você correlacionando-se com a idade gestacional até próximo do
conheça alguns marcos importantes e que os examinadores gostam termo.
de apresentar nas provas. O preenchimento do gráfico referente à altura uterina é
O útero: uma importante ferramenta para identificar alturas uterinas que
• Deixa de ser um órgão pélvico por volta da oitava semana estão abaixo do percentil 10 ou acima do percentil 90, segundo o
de gestação;
esperado para a idade gestacional, assim como para que mudanças
• Atinge a altura da cicatriz umbilical por volta da 20ª
semana; e na curva de crescimento, para mais ou para menos, sejam
• A partir da 20ª semana, cresce cerca de 1 cm por semana, prontamente notadas e investigadas.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 40


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Figura 21. Gráfico de evolução da altura uterina durante a gestação. Adaptado de Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao pré-natal de baixo risco, Ministério da
Saúde, 2013.

Lembre-se de que pontos abaixo da curva relativa ao motivar a investigação de causas relacionadas ao crescimento fetal
percentil 10 devem fazê-lo cogitar a hipótese de restrição do acelerado e à macrossomia fetal, como o diabetes gestacional,
crescimento fetal, assim como pontos registrados acima da gestações múltiplas e aumento do líquido amniótico (polidrâmnio).
curva que descreve o percentil 90 de crescimento uterino devem

Embora a altura uterina seja muito importante para o seguimento do crescimento fetal, ela pode ser influenciada
por diversos outros fatores além do tamanho do feto, por isso a incompatibilidade entre altura uterina e idade gestacional
precisa ser mais bem avaliada pela ultrassonografia obstétrica, já que é um método mais fidedigno para a avaliação do
tamanho fetal.
Observe, na tabela a seguir, possíveis causas relacionadas à altura uterina incompatível com a idade gestacional.
Lembre-se sempre de considerar a possibilidade de erro de medida ou erro no cálculo da idade gestacional nesses casos.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 41


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Fatores relacionados à altura uterina

Maior do que o esperado para IG Menor do que o esperado para IG

Macrossomia fetal
Restrição de crescimento fetal
Polidrâmnio Oligoâmnio

Gestação múltipla

Miomatose uterina

Situação transversal
Mola hidatiforme

Obesidade materna

Erro técnico na aferição da altura uterina

Erro no cálculo da idade gestacional

Tabela 4. Fatores relacionados à altura uterina incompatível com idade gestacional.

3.4.4 AUSCULTA DOS BATIMENTOS CARDÍACOS FETAIS

A ausculta dos batimentos cardíacos fetais é muito importante realizada de forma mais prolongada e em idades gestacionais mais
na avaliação obstétrica porque permite analisar a vitalidade fetal, avançadas, ainda permite identificar sinais de sofrimento fetal.
primordialmente identificando se o feto está vivo e, quando

Os batimentos cardíacos fetais (BCF) são considerados normais no intervalo de variação entre 110 e 160 bpm.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 42


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Batimentos cardíacos fetais mantidos acima de 160 bpm mais facilidade onde se percebeu o dorso fetal durante a palpação
caracterizam taquicardia fetal; quando mantidos abaixo de obstétrica.
110 bpm, caracterizam feto bradicárdico, um sinal importante de A ultrassonografia modo M é o método que permite
sofrimento fetal agudo. identificar mais precocemente os batimentos cardíacos do
Tanto na ausculta com o sonar Doppler quanto na com o embrião, que podem ser visualizados por volta da quinta semana
estetoscópio de Pinard, os batimentos do feto são audíveis com de gestação.

A ultrassonografia obstétrica será o método de escolha quando os batimentos cardíacos do feto não forem
identificados pelos outros métodos de ausculta.

Figura 22. Sonar Doppler.

Por volta da 9ª e da 12ª semana de gestação, a ausculta Porém, vale lembrar que há também o estetoscópio de
dos batimentos cardíacos fetais passa a ser possível utilizando-se Pinard, que permite a ausculta dos batimentos cardíacos do feto
o sonar Doppler, método mais amplamente utilizado na prática por volta da 16ª-20ª semana de gestação.
clínica atual.

Figura 23. Estetoscópio de Pinard.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 43


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Simplificando: a partir da segunda metade da gestação,


quando o feto estiver em apresentação cefálica, o ponto mais fácil
de ausculta fetal será na região central do quadrante inferior do
abdômen, compatível com o lado para o qual o feto está voltado.
Caso a apresentação seja pélvica, há maiores chances de a ausculta
fetal ser facilitada nos quadrantes superiores do abdômen materno
na lateralidade compatível com a posição fetal.

Figura 24. Apresentação fetal e sua correlação com os quadrantes.

Por fim, a cardiotocografia também permite que os


batimentos cardíacos fetais sejam auscultados, mas é essencial
que você se lembre de que, muito mais do que auscultar o BCF,
a cardiotocografia é uma importante ferramenta para avaliação
da vitalidade fetal, conforme você pode estudar no livro digital
"VITALIDADE FETAL".

Antes de terminarmos este tópico, observe a tabela a seguir


Figura 25. Cardiotocografia. e memorize os conceitos.

Método de ausculta Idade gestacional mínima para ausculta cardíaca

Ultrassonografia modo M 5 semanas

Sonar Doppler 9-12 semanas

Estetoscópio de Pinard 16-20 semanas

Tabela 5. Correlação entre método de ausculta fetal e idade gestacional mínima para ausculta dos batimentos cardíacos do concepto.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 44


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

4.0 EXAMES COMPLEMENTARES

Rotina da primeira consulta de pré-natal


Se eu precisasse escolher apenas um capítulo deste livro para orientar seus estudos, não teria dúvidas
sobre ser este o tema escolhido. Embora tudo que estudamos até aqui seja, sim, muito relevante para que
você esteja apto para realizar a avaliação adequada da gestante nos mais diversos cenários obstétricos,
anamnese e exame físico obstétricos são conceitos que, em geral, aparecem como pano de fundo das
questões de obstetrícia.

A primeira coisa a ser destacada neste nosso estudo é que, neste livro, serão apresentados a você os exames complementares
propostos como a rotina pré-natal para gestantes de risco habitual. Os exames que complementam essa lista de acordo com a condição
clínica ou obstétrica apresentada por uma gestante de alto risco estão particularizados nos livros digitais relativos a cada uma delas.

Segundo o Ministério da Saúde, em seus Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco de
2013, os exames que devem ser solicitados para toda gestante, em sua primeira consulta de pré-natal, são:

• Hemograma.
• Tipagem sanguínea e fator Rh Coombs indireto se o Rh for negativo.
• Glicemia em jejum.
• Teste rápido de triagem para sífilis e/ou VDRL/RPR.
• Teste rápido diagnóstico anti-HIV ou sorologia anti-HIV.
• Sorologia para toxoplasmose IgM e IgG.
• Sorologia para hepatite B, preconizada apenas a pesquisa do HBsAg.
• Urina tipo I, também chamada de sumário de urina.
• Citopatológico de colo de útero, se necessário.
• Exame da secreção vaginal, se identificada a indicação clínica durante a anamnese.
• Parasitológico de fezes, se houver indicação clínica.
• Ultrassonografia obstétrica.

Estudaremos cada um dos exames citados acima e mais alguns que não fazem parte dos preconizados como obrigatórios pelo Ministério
da Saúde, sendo que, para facilitar sua memorização, proponho que você pense sobre eles divididos basicamente em três trios de exames:

Exames séricos gerais – hemograma, tipagem sanguínea e Coombs, glicemia de jejum.


Exames séricos sorológicos – sífilis e HIV, toxoplasmose e hepatite B.
Exames não séricos – urina I, urocultura e citopatológico de colo uterino.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 45


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Então, vamos lá! O primeiro grupo de exames que chamar sua atenção para exames que fazem parte de protocolos
detalharemos será o de exames séricos gerais. Esteja atento aos de rotina de pré-natal diferentes do proposto pelo Ministério da
marcadores diferentes no decorrer do texto. Eles serão usados para Saúde.

4.1 EXAMES SÉRICOS GERAIS

Os exames que você precisa lembrar dentro desse primeiro grupo são:
• Hemograma.
• Tipagem sanguínea e fator Rh Coombs indireto se o Rh for negativo.
• Glicemia em jejum.

4.1.1 HEMOGRAMA

A avaliação do hemograma da gestante deve sempre considerar as modificações hematológicas


que ocorrem fisiologicamente durante o período gravídico.
Lembre-se de que, devido à hemodiluição gravídica, apesar do aumento absoluto do número
de eritrócitos, os níveis de hemoglobina tendem a ser mais baixos durante a gestação, não devendo
motivar o diagnóstico de anemia a partir dos valores de referência utilizados em mulheres não grávidas.
Portanto, é essencial que você esteja preparado para identificar quando se trata de hemodiluição
gravídica fisiológica e quando a anemia deve ser tratada na gestante. Segundo o Royal College of
Obstetricians and Gynaecologists (RCOG, 2015), os valores mínimos de hemoglobina considerados
normais durante a gestação são de: Figura 26. Hemácias ou eritrócitos.

• 11 g/dL durante o 1º trimestre.


• 10,5 g/dL durante o 2º e o 3º trimestre.

O Ministério da Saúde, em seus Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco, de 2013,
descreve que hemoglobina maior do que 11 g/dL na gestante demonstra ausência de anemia.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 46


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Ainda com relação à avaliação do hemograma, lembre- quadros infecciosos durante a gravidez. Leucocitose que não
se de que a gestante tende a apresentar discretas leucocitose excede 14.000/mm3 tende a relacionar-se ao aumento fisiológico,
e plaquetopenia. Lembre-se disso especialmente para avaliar especialmente do número de neutrófilos.

4.1.2 TIPAGEM SANGUÍNEA E PESQUISA DE ANTICORPOS IRREGULARES/COOMBS INDIRETO

A avaliação da tipagem sanguínea da gestante está entre os temas que mais aparecem na prova. Os
examinadores adoram avaliar seu conhecimento sobre ele.
O grande objetivo de conhecer o tipo sanguíneo materno é evitar a doença hemolítica perinatal
(DHPN) ou garantir assistência adequada para ela.

A incompatibilidade Rh é a principal causa de aloimunização materna, sendo fundamental que as


gestantes Rh negativas sejam identificadas, assim como a tipagem sanguínea do parceiro.

A aloimunização materna pode ser rastreada já no início do o feto seja Rh positivo, o que só poderá ocorrer se o parceiro for Rh
pré-natal, solicitando-se a tipagem sanguínea materna por meio positivo. Portanto, gestante Rh negativo com parceiro Rh negativo
de dois exames: também deverão ser seguidas conforme rotina pré-natal habitual,
• Pesquisa de anticorpos irregulares (PAI). uma vez que não apresentam risco de aloimunização pelo fator Rh.
• Coombs indireto. Entretanto, a gestante Rh negativo com parceiro Rh positivo
Qualquer um deles permite que a presença de anticorpos ou do qual não conheçamos a tipagem sanguínea deverá ser
antieritrocitários no plasma materno seja identificada, sendo que monitorada durante todo o pré-natal pelo risco de ser aloimunizada
a pesquisa de anticorpos irregulares identificará que anticorpo pelos eritrócitos do feto, que pode ser Rh positivo, nesse caso.
especificamente está presente. Quando há risco de aloimunização materna e o Coombs
Lembre-se de que a doença hemolítica perinatal (DHPN) indireto ou PAI são negativos, a gestante deverá ser rastreada
pode ocorrer por incompatibilidade dos sistemas Rh e ABO, mas para o risco de aloimunização até o final da gestação ou até a 28ª
também por outros sistemas bem menos conhecidos, denominados semana de gravidez, quando receberá a imunoglobulina anti-D
Kell, Duffy, MNS e P. profilaticamente, como estudaremos a seguir.
A gestante Rh negativo terá risco de ser aloimunizada caso

Rastreamento de aloimunização materna é realizado pelo Coombs indireto ou pela PAI, mensalmente.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 47


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Por outro lado, quando o Coombs indireto ou PAI já se perinatal, relacionada aos títulos de anticorpos antieritrocitários
apresentam positivos, significa que essa gestante já foi previamente maternos ≥ 1/16.
aloimunizada e deverá ser seguida em serviço que ofereça Ficou confuso para definir o plano de cuidados em cada
seguimento com medicina fetal para monitoramento fetal, uma vez caso? Observe o fluxograma a seguir. Ele irá ajudá-lo a sistematizar
que, nesse caso, há risco de o feto apresentar doença hemolítica seu raciocínio diagnóstico e a memorizar os cuidados necessários.

TIPAGEM SANGUÍNEA + COOMBS INDIRETO OU PAI

Rh positivo e Rh negativo e Rh negativo e


Coombs Indireto negativo Coombs Indireto negativo Coombs Indireto positivo

Não há risco de Tipagem sanguínea do pai


aloimunização Rh biológico do feto Gestante com aloimunização Rh

Pré-natal de Pai Rh positivo ou Seguimento em pré-natal de


Pai Rh negativo desconhecido alto risco
rotina

Não tem risco de


aloimunização Rh Risco de aloiminização Rh

Pré-natal de Fazer seguimento com


rotina coombs indireto mensal

Profilaxia com
imunoglobiulina anti-D

Figura 27. Seguimento pré-natal de acordo com a tipagem sanguínea materna.

4.1.2.1 PROFILAXIA DA ALOIMUNIZAÇÃO E DA DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL

Felizmente, a aloimunização materna e a DHPN relacionadas ao antígeno anti-D podem ser evitadas pelo uso da imunoglobulina anti-D.

A profilaxia dessas complicações é realizada ao prescrever-se, para toda gestante Rh negativo com Coombs
ou PAI negativos, imunoglobulina anti-D 300 µg via intramuscular sempre que estiver em situações de alto risco de
exposição aos antígenos eritrocitários do feto.

A tabela a seguir descreve as situações em que há indicação da profilaxia de aloimunização materna pelo antígeno D.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 48


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Indicações de profilaxia de aloimunização materna pelo antígeno D

Com 28 semanas de gestação

Sangramento de primeira ou segunda metade da gestação

Realização de procedimentos intrauterinos

Trauma abdominal

Em até 72 horas após o parto se o recém-nascido for Rh positivo

Figura 27. Indicações de profilaxia da aloimunização materna pelo antígeno D.

4.1.2.2 “PEGADINHAS”

Esse tema é tão frequente nas provas que ganhou um subitem especialmente para
alertá-lo sobre possíveis “pegadinhas” que os examinadores costumam apresentar nas
questões para confundi-lo. Mas, como boa Coruja, você estará preparado para voar alto, longe
dessas armadilhas. Então respire fundo e redobre a atenção para mais estes conceitos.

• Gestante Rh negativo, DU fraco ou positivo • Puérpera Rh negativo, Coombs indireto positivo


O D fraco é considerado uma variante que expressa menos O Coombs indireto de puérperas Rh negativo pode estar
o antígeno eritrocitário D. Para sua prova, o importante é que você positivo após o parto, mas não se tratar de um caso de aloimunização
saiba que gestantes Rh negativo, mas que apresentam DU positivo se a gestante recebeu a imunoglobulina anti-D por volta da 28ª
ou fraco devem ser seguidas como as gestantes Rh positivo, ou seja, semana de gestação.
não devem receber imunoglobulina anti-D profilaticamente.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 49


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Estima-se que os anticorpos poderão ser identificados por até 12 semanas após a realização da dose de
imunoglobulina.

Nesse caso, a puérpera deverá receber outra dose de de imunoglobulina precisa ser realizada porque, durante o parto,
imunoglobulina anti-D, se o recém-nascido for Rh positivo, até a exposição materna ao sangue fetal é bem maior e não será
72 horas após o parto, uma vez que o Coombs indireto poderá adequadamente neutralizada se nova dose de imunoglobulina não
estar positivo devido aos baixos títulos de anticorpos ainda for realizada.
circulantes e que foram passivamente adquiridos. A nova dose

1 mL de sangue fetal precisa de 10 µg de imunoglobulina para ser neutralizado.

• Gestante Rh positivo, parceiro Rh negativo prova, não ler a questão sem cuidado. O exame utilizado para o
Cuidado para não ler a questão distraidamente e se confundir, seguimento da gestante Rh negativo é o Coombs INDIRETO. O
Doc. Embora haja incompatibilidade Rh quando a gestante é Rh Coombs direto pode ser realizado para detecção de anticorpos
positivo e o parceiro é Rh negativo, não há risco de aloimunização antieritrocitários no sangue do recém-nascido.
materna nesse caso. Esclarecidas as particularidades da avaliação da tipagem
• Coombs indireto x Coombs direto sanguínea materna, vamos estudar o próximo exame a ser solicitado
Mais uma vez, tenha bastante atenção para, na pressa da na primeira consulta de pré-natal: a glicemia de jejum.

4.1.3 GLICEMIA DE JEJUM

Sem dúvida, esse é outro exame queridinho dos examinadores das provas de Residência Médica e do
Revalida.
O rastreamento do diabetes na gestação deve ser realizado em dois momentos: no início do pré-
natal, pela realização da glicemia de jejum, e entre a 24ª e a 28ª semana de gestação, apenas para as gestantes
com glicemia de jejum normal no início da gestação, pela realização do teste oral de tolerância à glicose 75 g,
que estudaremos no próximo capítulo deste livro.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 50


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

O rastreamento do diabetes na gestação deve ser universal, isto é, TODAS as gestantes devem ser rastreadas, e não apenas as
que apresentarem fatores de risco para desenvolver o diabetes.

Acertar as questões sobre esse tópico depende de que você memorize os valores de glicemia considerados normais e relacionados
ao diagnóstico do diabetes:

• Glicemia < 92 mg/dL – gestante euglicêmica.


• Glicemia ≥ 92 mg/dL e < 126 mg/dL – diabetes gestacional.
• Glicemia ≥ 126 mg/dL – diabetes prévio à gestação.

Sendo que basta um único valor alterado para o diagnóstico do diabetes durante a gestação, sem indicação de nenhum outro exame
para confirmação do diagnóstico.

Hemoglobina glicada não se relaciona ao diagnóstico de diabetes durante a gestação!

Observe, a seguir, o fluxograma que representa o diagnóstico do diabetes na gestação a partir da glicemia de jejum, para ajudar sua
memorização.

Glicemia de jejum (início do pré-natal)

<92 mg/dL 92 - 125 mg/dL > 126 mg/dL

Diabetes Diabetes prévio à gestação


Normal Gestacional (overt diabetes)

Figura 28. Fluxograma de diagnóstico do diabetes na gestação pela glicemia de jejum.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 51


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

TRATAMENTO DO DIABETES NA GESTAÇÃO


Diante do diagnóstico do diabetes na gestação, a gestante deve ser orientada, na mesma
consulta de pré-natal, a iniciar medidas para o controle da hiperglicemia.
Dieta e atividade física, desde que não haja contraindicação obstétrica para sua prática,
são a primeira linha de tratamento.
Além disso, a grávida deve ser orientada a iniciar o controle glicêmico por meio da
glicemia capilar, que será avaliada durante toda a gestação.
Quando apenas dieta e atividade física não bastarem para que se atinja o adequado
controle glicêmico, indica-se a associação de insulinoterapia para que os alvos glicêmicos sejam
atingidos.
Você pode estudar detalhadamente esse tema no livro digital "DIABETES NA GESTAÇÃO".

Antes de iniciarmos o estudo dos exames sorológicos, gostaria de apresentar-lhe um exame que não faz parte do protocolo do
Ministério da Saúde, mas que é recomendado como rastreio universal por Zugaib: o TSH.

4.1.4 TSH

O rastreamento de alterações da função da tireoide durante referência esse autor apresentarão o TSH como exame obrigatório
a gestação é controverso na literatura médica. Há sociedades que a ser solicitado na primeira consulta de pré-natal, como no caso do
advogam para que o rastreamento seja universal, e outras que HCFMUSP.
recomendam que a pesquisa seja indicada apenas para grávidas Embora os valores de referência variem de acordo com a
que apresentem fatores de risco para disfunção tireoidiana. idade gestacional, no início da gestação, TSH maior do que 0,1 e
Sendo assim, atenção ao protocolo assumido pela instituição menor do que 2,5 é considerado normal.
em que você fará sua prova. Aquelas com protocolos que têm como

1º trimestre: 0,1 < TSH < 2,5 = normal

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 52


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

4.2 EXAMES SÉRICOS SOROLÓGICOS

Os exames a serem memorizados neste segundo grupo são:


• Sorologia para HIV.
• Sorologia para sífilis.
• Sorologia para toxoplasmose.
• AgHBs – hepatite B.

Sorologia citomegalovírus
Embora a infecção por citomegalovírus represente risco potencial para infecção fetal, seu rastreamento de rotina é bastante
questionável e não é recomendado de rotina pelo Ministério da Saúde. O protocolo de rotina de exames de pré-natal sugerido por
Zugaib também NÃO orienta o rastreamento universal com a sorologia para citomegalovírus para gestantes. O autor recomenda
que tal sorologia seja pesquisada rotineiramente em grávidas que trabalham com crianças ou em unidades de diálise.

4.2.1 SOROLOGIA PARA HIV

O rastreamento da infecção pelo vírus do HIV deve ser diagnosticadas com HIV são:
universal, isto é, deve ser solicitado para todas as gestantes, e não • Encaminhar ao pré-natal de alto risco, mantendo-se seu
apenas para aquelas que apresentam fatores de risco. vínculo com a unidade básica de saúde.
• Solicitar carga viral, o que permite que a magnitude da
O Ministério da Saúde preconiza que o teste rápido seja
viremia seja avaliada.
realizado na primeira consulta de pré-natal para que o diagnóstico e
• Solicitar contagem de LT-CD4, que se correlaciona
início do tratamento não sejam retardados, especialmente quando ao risco de a gestante apresentar infeções oportunistas e,
o resultado da sorologia laboratorial não for ficar disponível em consequentemente, associa-se ao risco de mortalidade dos
menos de 15 dias da data da coleta. portadores de HIV.
Diante de um resultado positivo, é sempre necessária • Solicitar o teste de genotipagem para todas as gestantes
HIV positivas, lembrando que não é necessário aguardar o teste
a realização de outro teste para confirmação do diagnóstico,
de genotipagem para iniciar o tratamento.
conforme protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde e que
• Iniciar a terapia antirretroviral (TARV) após a 12ª semana
você pode estudar no livro digital "HIV". de gestação, para todas as gestantes vivendo com HIV, e que não
Os cuidados iniciais a serem assumidos para gestantes deverá ser suspensa após o parto.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 53


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

O esquema de tratamento inicial recomendado para gestantes virgens de tratamento prévio, segundo o “Manual de gestação
de alto risco” do Ministério da Saúde de 2022, é:
Tenofovir (TDF) + lamivudina (3TC) + dolutegravir (DTG)

O principal objetivo do tratamento é que a carga viral se torne indetectável o mais rápido possível, sendo,
inclusive, o marcador utilizado a partir da 34ª semana de gestação, quando deve ser novamente solicitada para
determinação da via de parto com o intuito de reduzir o risco de transmissão vertical.

VIA DE PARTO EM GESTANTES HIV +

Esta é a abordagem mais frequente nas provas quando o examinador deseja avaliar seus conhecimentos
sobre a infecção de HIV durante a gestação.

A decisão da via de parto em gestantes infectadas pelo HIV depende da carga viral a partir da 34ª
semana de gestação.
Observe, a seguir, o fluxograma proposto pelo Ministério da Saúde em seu "Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e Hepatites Virais do Ministério da Saúde de
2019":

CARGA VIRAL
34 semanas

> 1.000 cópias < 1.000 cópias Indetectável


ou desconhecida

AZT IV AZT IV Manter TARV


habitual

3h antes Até clampeamento


do cordão

CESÁREA ELETIVA INDICAÇÃO OBSTÉTRICA INDICAÇÃO OBSTÉTRICA


(após 38 semanas) Preferência vaginal Preferência vaginal

Figura 29. Fluxograma para decisão da via de parto e administração de AZT intravenoso profilático para gestantes infectadas pelo HIV.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 54


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Note que, em gestantes com carga viral indetectável após a 34ª semana de gestação, é recomendado manter a TARV via oral
de uso habitual, não sendo necessário prescrever AZT injetável no parto.
O estudo desse tema pode ser aprofundado no livro digital "HIV", pela infectologia.

Vale lembrar que a infecção materna pelo HIV é contraindicação absoluta da amamentação, independentemente do
controle clínico da gestante, de sua carga viral ou do uso regular da TARV. Tal orientação pode ser fornecida já durante o pré-
natal, esclarecendo os riscos associados, assim como as dúvidas da gestante.

4.2.2 SOROLOGIA PARA SÍFILIS

O rastreamento da sífilis durante a gestação é universal, devendo ser solicitado para todas as gestantes
na primeira consulta de pré-natal.
Há dois tipos de exames que podem ser solicitados para o rastreamento do Treponema pallidum, agente
causador da sífilis:
Testes treponêmicos (FTA-Abs, teste rápido, ELISA/EQL, TPHA/TPPA, MHA-TP) – detectam anticorpos
específicos contra o Treponema pallidum. São os primeiros a tornarem-se reagentes, porém não podem ser
utilizados no monitoramento do tratamento, por permanecerem positivos.
• Testes não treponêmicos (VDRL, RPR, TRUST, USR) – detectam anticorpos anticardiolipina não específicos para o Treponema
pallidum e podem ser utilizados para controle do tratamento e cura por serem expressos em títulos.

NÃO
TREPONÊMICO
TREPONÊMICO DIAGNÓSTICO
Teste rápido
VDRL DE SIFILIS
FTA-Abs
RPR CONFIRMADO
ТР
TRUST
TPPa
USR

Figura 30. Diagnóstico da sífilis.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 55


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Apesar de serem necessários dois exames positivos para o alérgica a esse antibiótico, deverá ser dessensibilizada, uma vez
diagnóstico da sífilis, o início do tratamento não deve ser retardado que outros tratamentos, como a eritromicina, não são reconhecidos
pela espera do resultado do segundo exame, visando, dessa forma, pelo Center for Disease Control and Prevention como tratamento da
reduzir o risco de transmissão vertical da infecção para o feto. gestante com sífilis.
O único tratamento reconhecidamente eficaz para a sífilis na A determinação do esquema terapêutico dependerá de como
gestação é o uso de benzilpenicilina benzatina intramuscular, que a sífilis será classificada. Observe, na tabela a seguir, o tratamento
atravessa a barreira placentária. Sendo assim, caso a gestante seja relativo a cada estadiamento da sífilis.

ESTADIAMENTO TRATAMENTO

Primária

Benzilpenicilina benzatina
RECENTE Secundária 2,4 milhões UI, IM, dose única
(1,2 milhão UI/ glúteo)

Latente recente (<1 ano)

Latente tardia (>1 ano) ou duração


Benzilpenicilina benzatina
ignorada 2,4 milhões UI, IM, semanal, (1,2 milhão UI/glúteo) por 3
semanas
Terciária Dose total: 7,2 milhões UI, IM
TARDIA
Benzilpenicilina procaína (cristalina)
18-24 milhões UI/dia, EV,
Neurossífilis
3-4 milhões UI, 4/4 horas ou infusão contínua por 14
dias

Tabela 6. Estadiamento e tratamento da sífilis.

Lembre-se, ainda, de que o parceiro deve sempre ser tratado que sua sorologia seja negativa. Nesse caso, diagnostica-se sífilis
concomitantemente à gestante, de modo a interromper a cadeia de presumida e realiza-se o tratamento com penicilina benzatina 2,4
transmissão e evitar, especialmente, a transmissão vertical, mesmo milhões de UI, intramuscular, dose única.

Geralmente, as gestantes estão ASSINTOMÁTICAS, e não é possível determinar o tempo de infecção. Nesse
caso, ela é classificada como INDETERMINADA, e o tratamento deve ser como o da LATENTE TARDIA.
• Penicilina benzatina 2.400.000 UI, IM, semanal, por 3 semanas.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 56


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Você pode estudar todas as particularidades desse tema no livro digital "SÍFILIS NA GESTAÇÃO E SÍFILIS
CONGÊNITA".
Concluímos, assim, o estudo do primeiro par de sorologias que você deve memorizar da rotina de exames
realizados durante o pré-natal: sorologia para HIV e para sífilis, sendo que o Ministério da Saúde preconiza que o
rastreamento de ambas as infecções seja realizado ao menos em três momentos durante a gestação:

• No início do pré-natal.
• No terceiro trimestre.
• Na admissão da maternidade para parto.

4.2.3 SOROLOGIA PARA TOXOPLASMOSE

A relevância desse tema relaciona-se ao fato de que a de gestação. Isso ocorre porque, apesar de o risco de transmissão
toxoplasmose durante a gestação pode acarretar consequências vertical ser menor no primeiro trimestre, o risco de consequências
como abortamentos, óbitos fetais e malformações fetais graves, graves para o feto é bem maior se a infecção ocorrer durante o
especialmente se a infecção ocorrer durante o primeiro trimestre período de maior organogênese fetal.

Risco de transmissão
ou gravidade
Transmissão

Gravidade

1º Trim 2º Trim 3º Trim idade gestacional.

Figura 31. Relação entre o risco de transmissão vertical e gravidade do acometimento fetal em relação à idade gestacional.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 57


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

A avaliação da sorologia depende de que esteja claro para cerca de dois meses após a infecção e mantendo-se positivo por
você que o anticorpo IgM é o primeiro a ser produzido quando toda a vida em baixos títulos.
há exposição a um novo antígeno, podendo ser detectado já Sabendo disso, observe a tabela a seguir, que demonstra
entre 5 e 14 dias após uma infecção, relacionando-se, portanto, às como a sorologia para toxoplasmose durante a gestação deve ser
infecções agudas. Por outro lado, o anticorpo IgG é produzido mais interpretada:
tardiamente em relação ao IgM, tendendo a apresentar um pico

IgM IgG Diagnóstico

Negativo Negativo Gestante suscetível

Negativo Positivo Gestante imune

Gestante com infecção aguda


Positivo Negativo
Falso-positivo

Positivo Positivo Necessário prosseguir investigação para elucidação diagnóstica

Tabela 7. Interpretação da sorologia para toxoplasmose durante a gravidez.

Vamos pensar a respeito de cada uma dessas situações limpeza da bancada e dos utensílios após contato com alimentos
juntos, Doc? crus.
Anticorpos IgM e IgG negativos indicam que essa gestante • Evitar contato com a terra e, caso o faça, utilizar luvas de
borracha.
nunca entrou em contato com o Toxoplasma, sendo, portanto,
Além de receber orientações para prevenção primária da
suscetível a ser infectada por ele durante a gravidez. Diante disso,
infecção pelo Toxoplasma, gestantes suscetíveis devem realizar
é fundamental que ela seja orientada a respeito de medidas que
periodicamente a sorologia durante a gravidez. O intervalo entre a
evitem que essa infecção ocorra:
• Não ingerir carnes cruas, malpassadas ou malcozidas. realização dos exames varia de acordo com o perfil epidemiológico

• Ingerir frutas e verduras bem higienizadas. de cada região, mas preconiza-se que sejam realizados ao menos
• Evitar contato com gatos e com o que possa estar durante o primeiro, segundo e terceiro trimestres, sendo que,
contaminado por fezes de gatos. quando há altas taxas de toxoplasmose, o intervalo de dois meses
• Higiene adequada das mãos ao manipular alimentos e é o mais adequado.

Atenção!
Caso seu interesse seja realizar a prova da USP-SP ou de instituições que seguem o protocolo do HC-FMUSP,
o intervalo de rastreamento da sorologia para toxoplasmose em gestantes suscetíveis é mensal nessa instituição.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 58


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Por outro lado, diante de anticorpos IgM negativo e quando tanto o anticorpo IgM quanto o IgG estão positivos. Nesse
IgG positivo, faz-se o diagnóstico de uma gestante imune à caso, para elucidação diagnóstica, será necessário realizar o teste
toxoplasmose. Nesse caso, não é necessário repetir esse exame de avidez para IgG. Quando o teste revela avidez baixa (< 60),
durante o pré-natal ou em futuras gestações. trata-se de uma infecção recente e, quando a avidez é alta (> 60),
No entanto, se ocorrer o contrário, anticorpo IgM positivo e diagnostica-se infecção tardia. Isso ocorre porque o IgM pode
IgG negativo, é provável que se esteja diante de um caso de infecção manter-se positivo por até um ano. Porém, é fundamental destacar
recente ou aguda pelo Toxoplasma ou de um caso falso-positivo. que o teste de avidez para IgG só é útil se a gestante estiver com
Nesse caso, recomenda-se repetir a sorologia em duas semanas e, menos de 16 semanas. Após essa idade gestacional, quando a
caso ocorra soroconversão, isto é, o IgM permaneça positivo e o gestante não tem sorologia prévia, não é possível garantir que a
IgG torne-se positivo, confirma-se o diagnóstico de toxoplasmose infecção ocorreu antes do início da gestação, portanto deve-se
aguda. Caso o IgG persista negativo, faz-se o diagnóstico de um seguir o caso como uma infecção recente.
caso falso-positivo e a gestante não necessita de tratamento. Observe o fluxograma a seguir para fixar esse conceito.
A situação que representa maior desafio diagnóstico é

TOXOPLASMOSE

IgM negativo IgM negativo IgM positivo IgM positivo


IgG negativo IgG positivo IgG negativo IgG positivo

Teste de avidez para IgG se


Susceptível Imune Infecção recente IG < 16 semanas

baixa alta

Infecção Infecção
recente antiga
Figura 32. Fluxograma para interpretação da sorologia para toxoplasmose.

No entanto, uma vez que é comum questões a respeito do auxiliá-lo a memorizar esse conceito, observe, a seguir, o fluxograma
diagnóstico de toxoplasmose durante a gravidez citarem, em suas que relaciona o diagnóstico com o tratamento para toxoplasmose
alternativas, possibilidades de tratamento, e especialmente para e lembre-se de que:

• Espiramicina é utilizada para tratamento materno e não ultrapassa a barreira placentária.


• Sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico (esquema tríplice) são indicados para tratamento fetal por
ultrapassarem a barreira placentária.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 59


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

4.2.4 SOROLOGIA PARA RUBÉOLA

A frequência baixa desse tema nas provas provavelmente • Gestantes com IgG e IgM positivos durante o primeiro
se relaciona ao fato de que a Organização Mundial da Saúde trimestre e que não apresentam sintomas de rubéola devem
considera essa doença exantemática erradicada no Brasil desde ser investigadas com a coleta do teste de avidez para IgG. Caso
2008 em resposta à imunização eficiente da população. Diante a avidez seja baixa, considera-se infecção recente, isto é, que
ocorreu há menos de três meses.
disso, o Ministério da Saúde deixou de recomendar a sorologia para
• Gestantes com IgG negativo e IgM positivo devem ser
rastreamento da rubéola como obrigatória durante o pré-natal.
acompanhadas por infecção aguda por rubéola.
• Gestantes com IgG e IgM negativos são consideradas
suscetíveis para rubéola. É importante ressaltar que o acometimento fetal grave está
• Gestantes com IgG positivo e IgM negativo estão associado à transmissão transplacentária durante o primeiro
imunizadas contra rubéola e não necessitam de orientações trimestre, não havendo relatos de síndrome da rubéola congênita
adicionais durante o pré-natal nesse aspecto. quando a transmissão acontece após a 20ª semana de gestação.

4.2.5 SOROLOGIA PARA HEPATITE B

A transmissão vertical de hepatite relaciona-se com o à imunização.


aumento do risco de a doença cronificar. Devido à idade precoce O Ministério da Saúde recomenda a solicitação do antígeno
de infecção, 90% dos recém-nascidos desenvolvem a forma crônica de superfície (HBsAg) na primeira consulta de pré-natal para todas
da doença, sendo fundamental o rastreamento da hepatite B as gestantes, sendo que o HBsAg é o primeiro marcador que se
durante o pré-natal para que se ofereçam os cuidados necessários torna positivo quando há infecção pelo vírus da hepatite B, além de
às gestantes infectadas e a seus recém-nascidos, além de identificar ser o responsável pelo diagnóstico de infecção crônica quando se
as grávidas suscetíveis à doença e, dessa forma, orientá-las quanto mantém positivo por mais de seis meses ou 24 semanas.

Tratamento da hepatite B durante a gestação


Gestantes que apresentam carga viral elevada (HBsAg positivo e HBeAg positivo ou com HBV-DNA > 10⁶ cópias/mL ou >
200.000 UI/mL) devem ser orientadas quanto ao uso de tenofovir, como forma de reduzir a carga viral e, assim, o risco de transmissão
vertical.
O uso deve ser iniciado a partir da 28ª semana de gestação até, pelo menos, 30 dias ou quatro semanas após o parto.

É fundamental que os recém-nascidos de grávidas com hepatite B recebam a vacinação contra a doença já nas primeiras
horas de vida, além da imunoglobulina específica anti-HBs (HBIg) para reduzir o risco de transmissão vertical do vírus. Quanto
à amamentação, ela deve ser incentivada! Apesar de o vírus poder ser detectado no leite materno, as medidas profiláticas
realizadas corretamente parecem auxiliar na prevenção da transmissão vertical.
Por outro lado, a imunidade contra o vírus da hepatite B é verificada pela presença do anticorpo contra o antígeno
de superfície (anti-HBs). Ele pode estar presente após a resolução da doença ou após a vacinação. O Ministério da Saúde
recomenda que seja solicitado para gestantes que não sabem se foram vacinadas contra a doença.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 60


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

4.2.6 SOROLOGIA PARA HEPATITE C

A sorologia para hepatite C é recomendada para todas monitorados e acompanhados. Lembre-se de que não existe
as gestantes, pelo documento público do Ministério da Saúde, profilaxia para hepatite C.
desde 2020, mas não consta entre os exames recomendados Você pode estudar mais a respeito da hepatite C no livro
rotineiramente pelo Ministério da Saúde em seu documento digital "HEPATITES VIRAIS".
“Cadernos de Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco” de 2012. Assim, concluímos o estudo do segundo grande grupo de
Apesar de o tratamento para hepatite C não ser realizado exames que faz parte da rotina da primeira consulta de pré-natal:
durante a gestação, a identificação de gestantes com sorologia as sorologias. A seguir, estudaremos o terceiro e último conjunto de
positiva permite que a gestante e os recém-nascidos sejam exames: os exames não séricos. Espreguice, respire fundo, e vamos lá!

4.3 EXAMES NÃO SÉRICOS

Nesse terceiro grupo, os exames que você precisa memorizar são:


• Urina tipo I (também chamado de sumário de urina, EAS) e urocultura.
• Colpocitológico do colo do útero.
• Protoparasitológico – Zugaib, 2020.

4.3.1 URINA TIPO 1 E UROCULTURA

A infecção do trato urinário (ITU) é a complicação clínica mais


comum durante a gravidez e associa-se ao aumento do risco de
abortamento, trabalho de parto prematuro, rotura de membranas,
corioamnionite, entre outras complicações obstétricas, sendo,
portanto, fundamental seu diagnóstico e tratamento corretos.
Seu principal agente etiológico é a Escherichia coli, mas
agentes como Klebsiella, Enterobacter, Proteus, Enterococcus
e Streptococcus do grupo B também estão associados à ITU na
gestação.
Figura 33. Ilustração da Escherichia coli.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 61


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

A ITU pode apresentar-se basicamente em três formas que a urocultura seja solicitada para toda grávida, por isso esse
clínicas: exame está entre os obrigatórios a serem solicitados durante a
• Bacteriúria assintomática. primeira consulta de pré-natal e no terceiro trimestre!
• Cistite aguda. Sempre que possível, o tratamento de qualquer uma das
• Pielonefrite.
formas clínicas da ITU deve ser guiado pelo teste antibiograma,
Seu tratamento apresenta particularidades durante a
porém isso não deve retardar o início do tratamento das formas
gestação que diferem do proposto para não grávidas e que serão
sintomáticas da doença. Os principais antibióticos utilizados para
destacadas a seguir.
tratamento de infecção urinária durante a gestação são:
A bacteriúria assintomática é definida quando se observa • Cefalexina.
urocultura com mais de 100 mil colônias por mL e a gestante se • Nitrofurantoína.
apresenta assintomática. É uma condição que pode evoluir para • Fosfomicina trometamol.
formas sintomáticas (cistite ou pielonefrite) e deve sempre ser • Cefadroxil.
tratada durante a gestação. • Amoxicilina.
• Ampicilina.
Uma vez que, em grande parte das vezes, o exame de urina
I estará normal nos casos de bacteriúria assintomática, é essencial

Antibioticoterapia durante a gestação


- Embora a nitrofurantoína não apresente risco de teratogenicidade e, por isso, esteja entre os antibióticos de escolha para
tratamento da infecção urinária durante a gravidez, recomenda-se que seu uso seja evitado nas últimas semanas de gestação por
associar-se ao aumento do risco de hemólise em fetos e recém-nascidos com deficiência da glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD).
- Quinolonas devem ser evitadas durante a gravidez, porque a segurança fetal não está bem estabelecida, além de também
não serem recomendadas durante a amamentação por serem excretadas no leite materno.
- Apesar de ser uma boa alternativa durante a gestação, a fosfomicina trometamol não está disponível no Sistema Único de
Saúde (SUS).

Outro aspecto importante é que o tratamento da gestante nitrofurantoína, e a realizar nova urocultura de controle após uma
com PIELONEFRITE deve ser realizado preferencialmente em ou duas semanas do fim do tratamento para confirmação de que a
ambiente hospitalar, promovendo hidratação adequada e bacteriúria foi erradicada.
antibioticoterapia endovenosa. Esses são os principais tópicos a respeito das infecções
Além disso, gestantes que apresentam quadro de urinárias durante a gestação, mas você pode estudar
pielonefrite durante a gravidez devem ser orientadas a utilizar detalhadamente cada uma dessas formas clínicas no livro digital
antibioticoprofilaxia, em geral realizada com 100 mg/dia de "INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO", pela nefrologia.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 62


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

4.3.2 COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA

Quando pensamos sobre a colpocitologia oncótica durante que procuram o serviço de saúde por estarem grávidas, mas não
a gravidez, é importante perceber que a gestação é um momento para avaliações de rotina quando não estão grávidas.
oportuno para realizar o rastreamento do colo uterino em mulheres

Atenção!
A coleta do colpocitológico do colo uterino durante a gestação segue os mesmos critérios de rastreamento
utilizados para mulheres não gestantes.
Devem ser rastreadas as mulheres sexualmente ativas com idade igual ou superior a 25 anos. Os dois primeiros
exames devem ser feitos com intervalo anual e, se negativos, o rastreamento pode ser feito a cada três anos.

Quando há resultado alterado na colpocitologia oncótica, sejam reavaliadas 90 dias após o parto.
a indicação e a realização de colposcopia em gestantes são A via de parto mantém-se de acordo com a indicação
semelhantes às aplicadas a mulheres não grávidas, porém a obstétrica independentemente dos resultados colpocitológicos, a
biópsia apenas é recomendada se houver suspeita de lesão não ser que a lesão obstrua o canal de parto ou seja claramente
invasiva, isto é, suspeita de tratar-se de câncer. Isso ocorre porque invasora, o que pode ser estudado com maior ênfase no livro digital
as alterações fisiológicas que ocorrem no colo uterino durante a "CÂNCER DO COLO UTERINO". Portanto, apenas o diagnóstico de
gestação podem mimetizar alterações colposcópicas, além do câncer de colo uterino interfere na decisão sobre a resolução da
maior risco de sangramento de biópsias realizadas durante a gestação, ok?
gravidez. É importante que mulheres com alterações ao exame

4.3.3 PARASITOLÓGICO DE FEZES

Considerando-se que o Brasil é um país em que a incidência


de protozooses e helmintíases ainda é alta e que essas infecções
podem comprometer o estado nutricional de quem está infectado,
o rastreamento de infecções parasitárias é importante para prevenir
repercussões fetais relacionadas à desnutrição e a anemias
maternas, como a prematuridade e a restrição de crescimento fetal.
Figura 44. Coleta da citologia oncótica convencional.

Uma vez que as medicações antiparasitárias são potencialmente teratogênicas, idealmente, essas infecções deveriam ser tratadas
antes da gestação, porém quadros importantes relacionados às parasitoses intestinais devem ser tratados evitando-se o primeiro trimestre
da gestação. Lembre-se sempre da importância de realizar orientações quanto às medidas profiláticas, como higiene correta das mãos e dos
alimentos para evitar que as infecções parasitárias aconteçam.
Diante disso, o Ministério da Saúde recomenda que o exame parasitológico de fezes seja solicitado para todas as gestantes com
indicação clínica, especialmente aquelas expostas a maior risco de adquirir parasitoses intestinais.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 63


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Atenção!
O protocolo do HC-FMUSP recomenda a realização do exame protoparasitológico para todas as gestantes
durante a primeira consulta de pré-natal. Lembre-se disso ao realizar a prova da USP-SP ou de instituições que
seguem esse protocolo.

Caso você deseje estudar mais detalhes a respeito das infecções parasitárias, acesse o livro digital "PARASITOSES".

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 64


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

5.0 EXAMES COMPLEMENTARES NO SEGUIMENTO


PRÉ-NATAL

Mesmo as gestantes identificadas como de risco habitual • Swab anal e vaginal para pesquisa de estreptococo do
deverão ser submetidas a mais alguns exames de rastreio durante grupo B – entre a 35a e a 37a semana de gestação.
a gravidez, além dos realizados no início da gestação, sendo • Coombs indireto para gestante Rh negativo e marido Rh
positivo – mensalmente até aplicar a imunoglobulina anti-D com
importante que o pré-natalista esteja atento às idades gestacionais
28 semanas de gestação.
recomendadas para solicitação de cada um deles. Os exames a
• Toxoplasmose – mensalmente, se mãe suscetível (IgM e
serem solicitados rotineiramente após os do início da gestação são:
IgG negativos).
• Teste oral de tolerância à glicose 75 g – entre a 24a e a 28a
As particularidades a respeito das sorologias e sobre
semana de gestação.
a urocultura já foram abordadas anteriormente. A seguir,
• Sorologia para HIV e sífilis – após a 28a semana de
gestação. estudaremos a respeito dos demais exames.
• Urocultura – após a 28a semana de gestação.

5.1 TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE 75 G

O teste oral de tolerância à glicose 75 gramas (TOTG 75 g), ele é realizado se, no início deste livro, já verificamos que a glicemia
que você pode conhecer como curva glicêmica, é indicado durante de jejum é indicada entre os exames de rotina da primeira consulta
a gestação para rastreamento do diabetes. Ele é composto por três de pré-natal justamente para o rastreamento do diabetes. E você
medidas de glicemia sérica: está certíssimo! De fato, o diabetes deve ser pesquisado já no início
• A primeira, realizada em jejum. do pré-natal, porém, para aquelas gestantes que apresentarem
• A segunda, realizada após uma hora da ingestão de 75 valores normais de glicemia de jejum, um novo rastreamento
gramas de glicose. para diabetes deve ser realizado entre a 24ª e a 28ª semana de
• A terceira, realizada após duas horas da ingestão de 75 gestação.
gramas de glicose. Atenção! Você acaba de ler uma das informações mais
Neste momento, você pode estar se questionando por que importantes a respeito do TOTG 75 g:

Teste oral de tolerância à glicose 75 gramas SÓ deve ser indicado para gestantes com valores de glicemia
NORMAIS no início do pré-natal.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 65


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Perceba que isso faz muito sentido se refletirmos que esse Outro aspecto fundamental que você precisa saber a respeito
é um exame realizado para o rastreamento do diabetes, portanto desse exame, porque despenca nas questões de sua prova de
não faz sentido que seja realizado em gestantes que já têm esse Residência Médica, são os valores de referência para o diagnóstico
diagnóstico, seja ele prévio à gestação ou gestacional. do diabetes. Aqui, não tem jeito. Precisa decorar, Doc!

• Jejum ≥ 92 mg/dL.
• Primeira hora após sobrecarga ≥ 180 mg/dL. Diabetes gestacional
• Segunda hora após sobrecarga ≥ 153 mg/dL.

Valores de glicemia abaixo dos indicados acima relacionam- gestação. Tenha bastante atenção aos valores referentes ao TOTG
se à gestante euglicêmica. 75 g.
Observe o fluxograma a seguir. Aproveite para revisar os E lembre-se sempre: basta um único valor de glicemia
conceitos que já estudamos a respeito da glicemia de jejum e alterado para o diagnóstico do diabetes durante a gestação!
complete seu raciocínio a respeito do rastreamento do diabetes na

Glicemia de jejum (início do pré-natal)

<92 mg/dL 92 - 125 mg/dL ≥ 126 mg/dL

Diabetes Diabetes prévio à gestação


Normal Gestacional (Overt Diabetes)

Teste oral de tolerância Jejum ≥ 92 mg/dL Jejum ≥ 126 mg/dL


à glicose 75g 1 hora após ≥ 180 mg/dL Após 2ª hora ≥ 200 mg/dL
2 horas após ≥ 153 mg/dL
(entre 24 e 28 semanas)

Figura 35. Fluxograma para rastreamento do diabetes durante a gestação com disponibilidade técnica e viabilidade financeira.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 66


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Por outro lado, caso existam limitações financeiras e econômicas para realização do TOTG 75 g, ao
menos uma glicemia de jejum deve ser solicitada novamente entre a 24ª e a 28ª semana de gestação para
as gestantes que se apresentaram euglicêmicas no início do pré-natal.
Para aprofundar seus conhecimentos a respeito desse tema, você pode estudar o livro digital
"DIABETES NA GESTAÇÃO".

5.2 SWAB ANAL E VAGINAL PARA PESQUISA DE ESTREPTOCOCO DO GRUPO B

O estreptococo do grupo B (Streptococcus agalactiae) é uma bactéria que pode colonizar de forma
assintomática o trato gastrointestinal e geniturinário, mas que pode causar infecção sintomática no recém-nascido,
relacionando-se a doença respiratória, sepse e meningite.
É transmitido da mãe para o bebê no momento do parto, sendo que o rastreamento materno para
identificação das mulheres colonizadas pelo estreptococo do grupo B e a realização da antibioticoprofilaxia
anteparto são medidas relacionadas à prevenção da infecção neonatal. A colonização materna por essa bactéria não contraindica o parto
vaginal.
No entanto, a maioria dos protocolos e o Manual de gestação de alto risco do Ministério da Saúde de 2022 preconizam a coleta do
swab anal e vaginal para cultura do estreptococo do grupo B de forma sistemática entre a 36ª e a 37ª semana de gestação, como forma de
rastrear a colonização do trato genital e intestinal materno.

DE OLHO NA PROVA PRÁTICA!


A coleta do swab para pesquisa do estreptococo do grupo
B é um exame que pode ser realizado durante a consulta de
pré-natal ou laboratorialmente, dependendo da rotina de cada
serviço.
A realização da coleta é simples e está demonstrada na
figura a seguir.
1. Identifique, com os dados da gestante, o tubo próprio
para a pesquisa do estreptococo do grupo B.
2. Abra o tubo e perceba que a tampa é conectada ao
coletor (que se assemelha a um cotonete).
3. Colete a secreção do introito vaginal primeiro e, em
seguida, da região perianal.
4. Reintroduza o coletor no tubo e feche a tampa.

Figura 36. Técnica de coleta do swab anal e vaginal para pesquisa


do estreptococo do grupo B.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 67


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

É importante saber que gestantes com urocultura que identifique o estreptococo do grupo B, em qualquer
momento da gestação, já devem ser consideradas como de risco para transmissão da bactéria no momento do parto.

O aspecto que mais aparece nas provas de Residência Médica e de Revalidação do


diploma médico a respeito do estreptococo B durante a gestação são as indicações de
antibioticoprofilaxia anteparto.
Conhecer os principais fatores de risco para infecção do recém-nascido facilita sua
memorização dos casos em que a antibioticoprofilaxia está indicada. São eles:
• Parto prematuro.
• Rotura prematura de membranas antes da 37ª semana de gestação.
• Rotura prematura de membranas há mais de 18 horas.
• História de infecção neonatal por estreptococo do grupo B em filhos anteriores.
• Febre durante o trabalho de parto.
Sabendo disso, esses serão os casos em que se deverá prescrever a antibioticoprofilaxia para prevenir a infecção neonatal, sendo que
ela só será considerada adequada quando forem realizadas ao menos duas doses de antibiótico, pelo menos quatro horas antes do parto.

Os esquemas de antibiótico preconizados são:


Penicilina G cristalina intravenosa – sendo uma dose de ataque com 5 milhões de UI e 2,5 milhões
de UI a cada 4 horas até o parto.
Ampicilina endovenosa – dose de ataque com 2 g, e 1 g a cada 4 horas até o parto.

A antibioticoprofilaxia não é necessária nos casos indicados Outra “armadilha” comum sobre esse assunto são mulheres
acima quando a cultura para estreptococo do grupo B é sabidamente com pesquisa desconhecida para estreptococo do grupo B
negativa. na gestação atual, mas com relato de cultura positiva para
Por outro lado, em casos de parto cesáreo eletivo, aquele estreptococo do grupo B na gestação anterior. Cuidado! Não há
realizado no termo, fora de trabalho de parto e com bolsa das indicação de prescrever antibiótico nesses casos. É a história de
águas íntegra, mesmo que a pesquisa de estreptococo do grupo B filho recém-nascido com sepse neonatal por EGB anterior que
seja positiva, NÃO está indicada a antibioticoprofilaxia. Atenção, indica a antibioticoprofilaxia na gestação atual, não exame positivo,
porque essa costuma ser uma “pegadinha” clássica de prova. ok?

Resultados negativos de pesquisa swab anal e vaginal para cultura de estreptococo do grupo B com mais de
cinco semanas devem ser desconsiderados, e o exame deve ser repetido.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 68


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

A tabela a seguir sintetiza o que foi apresentado até aqui. Analise-a com cuidado e decore-a!

Cultura para Streptococcus


Realizar antibioticoprofilaxia NÃO realizar antibioticoprofilaxia
agalactiae

Trabalho de parto
Positiva Cesárea eletiva
Rotura de membranas ovulares

• Trabalho de parto prematuro


• Febre intraparto
• Filho anterior com história de
• infecção por Streptococcus agalactiae Cultura positiva para Streptococcus
Desconhecida
• Rotura de membranas ovulares há mais agalactiae em gestação anterior
de 18 horas
• Urocultura durante o pré-natal positiva
para Streptococcus agalactiae

Rotura de membranas há mais de


Negativa
18 horas

Figura 37. Indicações de antibioticoprofilaxia para estreptococo do grupo B.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 69


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

6.0 ORIENTAÇÕES GERAIS

6.1 IMUNIZAÇÃO

Um aspecto importante que precisa estar claro para você é quais são as vacinas que são recomendadas
pelo Programa Nacional de Imunização, em seu calendário vacinal da gestante, e quais são as vacinas que
não devem ser realizadas.
Tenha sempre em mente que, durante a gravidez, não devem ser realizadas as vacinas vivas pelo
risco potencial de causarem a doença, enquanto as vacinas inativadas não oferecem esse risco.
As vacinas contra hepatite B e contra tétano e difteria (dT) podem ser realizadas durante a gestação
caso a gestante não apresente esquema vacinal completo, enquanto as vacinas contra influenza e contra tétano, difteria e coqueluche (dTpa)
devem ser oferecidas a todas as gestantes independentemente de imunização prévia, após a 20ª semana de gestação. Esse conceito está
sintetizado na tabela a seguir.

IMUNIZAÇÃO NA GESTAÇÃO

VACINAS DOSES

Esquema completo composto por três doses.


Realizar dose de reforço a cada 10 anos.
Dupla bacteriana adulto (dT)
Realizar uma dose de reforço na gestação se última dose tiver sido realizada há mais
de 5 anos.

Tríplice bacteriana acelular Uma dose em TODA gestação, a partir da 20ª semana de gravidez e até 45 dias após
(dTpa) o parto (o ideal é que a imunização seja realizada durante a gravidez).

Influenza Uma dose anual.

Hepatite B Esquema completo é composto de três doses.

Tabela 8. Imunização na gestação.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 70


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Outro ponto a que você deve ficar atento é o conhecimento como alternativa, a de vírus inativado (Coronavac) quando a vacina
das vacinas contra a covid-19 na gravidez. A Febrasgo e o Programa da Pfizer não estiver disponível.
Nacional de Imunizações (PNI) recomendam que as gestantes e A Febrasgo e o PNI contraindicam as vacinas de vetor viral
puérperas recebam as duas doses da vacina da Pfizer (mRNA) ou, (AstraZeneca e Janssen) para as mulheres no período gestacional.

Figura 38. Vacinas contra a covid-19 que são permitidas ou contraindicadas na gestação.

Outro aspecto importante a respeito da imunização durante a a gestação, por ser produzida a partir de vírus vivos atenuados,
gestação é lembrar-se de que, embora a vacinal tríplice viral contra ela pode ser realizada durante o puerpério sem interferir na
caxumba, sarampo e rubéola não seja recomendada durante amamentação.

CONTRAINDICADA NA GESTAÇÃO

Vacinas de vírus vivos atenuados

• POLIOMIELITE
• TRÍPLICE VIRAL (sarampo, caxumba, rubéola)
• VARICELA-ZOSTER
• TUBERCULOSE (BCG)

Vacina de antígeno recombinante

• Papilomavírus humano (HPV).

Tabela 9. Vacinas contraindicadas na gestação.

No entanto, a vacina contra febre amarela, além de não ser não deve ser administrada em lactantes de bebês com menos de
recomendada durante a gestação, a menos que o risco de contrair seis meses de vida. Portanto, veja, na tabela a seguir, as vacinas
a doença seja maior do que o risco relacionado à vacina, também que podem ser indicadas na gestação em situações especiais.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 71


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

VACINAS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS

FEBRE AMARELA

Indicada se a gestante vive em áreas de risco ou vai viajar para áreas endêmicas e não esteja com vacinação atualizada.

RAIVA HUMANA

Vacina de virus inativado, indicada em gestantes com elevado risco pré-exposição (veterinárias, vacinadores,
profissionais de laboratório, laçadores e treinadores de cães).

MENINGOCOCO

Pode ser utilizada em situações de bloqueio de surto.

PNEUMOCOCO

Em gestantes de risco sem vacina prévia: asplênicas, doenças cardíacas, renais, metabólicas, pulmonares e
imunossuprimidas.

Tabela 10. Vacinas indicadas na gestação em situações especiais.

Ok, revisamos as vacinas indicadas e contraindicadas na gestação. Mas também vale, pela praticidade, relembrar as situações em que
podemos utilizar a imunoglobulina, frente ao risco, pelo esquema a seguir.

Imunoglobulina

Hepatite B Tétano Sarampo Raiva Varicela-Zóster

Pós-exposição

Imunoglobulina Imunoglobulina Imunoglobulina Imunoglobulina Imunoglobulina


antirrábica 1as 96
horas após
o contágio
Vacina Vacina

Figura 39. Imunoglobulinas disponíveis na exposição ao risco da gestante.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 72


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

6.2 NUTRIÇÃO DURANTE A GESTAÇÃO

A recomendação nutricional diária de glicídios é sugerida


em 175 g por dia e deve corresponder a 45 a 65% da composição Recomendação nutricional diária
nutricional no dia. Para as proteínas, o aporte calórico diário deve
ser de 10 a 35%, com um adicional de 25 g por dia a partir do
segundo trimestre. E quanto aos lipídeos, a ingesta calórica diária Glicídios 45 a 65%
constitui-se de cerca de 20 a 35%.
O aconselhamento nutricional que apresenta baixo índice
glicêmico acompanhado por uma ingesta de alimentos saudáveis
Proteínas 10 a 35%
ajuda a controlar o índice glicêmico materno e a aumentar a ingesta
de fibras e proteínas, levando à redução do risco de ganho de peso
Lipídeos 20 a 35%
excessivo materno durante a gestação.

As recomendações pelo Ministério da Saúde de 2012 são que as refeições devem ser divididas em:

Café da manhã LANCHE Almoço LANCHE Jantar

* Evitar ficar mais do que 3 horas sem comer. ao nascimento, de anemia materna e de deficiência de ferro (forte
* Beber água entre as refeições (2 litros por dia). recomendação). Então, vamos entender com mais detalhes as
Diretriz da OMS particularidades de cada uma delas e, na sequência, vou detalhar
É recomendado, para todas as gestantes, a suplementação as recomendações de outras vitaminas e minerais.
diária do ácido fólico e do ferro para reduzir o risco de baixo peso

6.2.1 ÁCIDO FÓLICO

O estudo da vitamina B9, conhecida como ácido fólico, laranja e levedo de cerveja.
deve ser um momento de maior atenção para seus estudos das Vamos revisar, de uma vez por todas, de onde vêm as
vitaminas, já que é considerada a única suplementação realmente terminologias do ácido fólico.
necessária. O ácido fólico é a forma sintética do folato. Já o L-metilfolato
A deficiência do ácido fólico é frequente, já que ele é é a forma ATIVA formada após a absorção intestinal (duodeno
facilmente perdido pelo cozimento dos alimentos. As maiores e jejuno proximal) do ácido fólico e a ação da enzima chamada
fontes de folato são: vegetais verdes (espinafre, repolho, brócolis, metiltetra-hidrofolato redutase (MTHFR).
aspargo), além de nosso prato nacional (arroz, feijão e carnes),

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 73


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

VOO ALTO DA CORUJA


A suplementação do ácido fólico é a única realmente necessária, pois reduz o risco de defeitos
de fechamento do tubo neural (espinha bífida, anencefalia, encefalocele).
DOSE RECOMENDADA: 400 µg por dia.
Início: 1 mês antes da concepção até a 12ª semana de gestação.

Existem pacientes que necessitam de suplementação com de má absorção (doença celíaca), diabetes insulinodependente,
doses maiores por serem consideradas de risco para deficiência de alcoolismo, cirurgia bariátrica (redução do estômago). Também
ácido fólico. vários fármacos prejudicam o metabolismo do folato, como
GRUPOS DE ALTO RISCO: indicar 4 a 5 mg por dia (dose 10 5-fluoruracila, metformina, metotrexato, fenitoína, fenobarbital,
vezes maior!). São gestantes consideradas do grupo de alto risco: sulfassalazina, triantereno e trimetoprima.
lactente anterior com defeito de tubo neural, obesidade, uso de Com o objetivo de minimizar a deficiência de folato, muitos
anticonvulsivantes (carbamazepina e ácido valproico), síndromes cereais já são enriquecidos com ácido fólico nos EUA e no Canadá.

6.2.2 SULFATO FERROSO

Existem diferentes recomendações do ferro no período da embriogênese devido ao maior estresse


quanto à dose para suplementação diária oxidativo trofoblástico e ao maior risco de diabetes e pré-eclâmpsia.
de ferro durante a gestação. É recomendada a suplementação com base na ferritina. Se menor
O mais cobrado nas provas é a do que 30 mg/mL, iniciar o ferro no primeiro trimestre; se entre 30
orientação do Programa Nacional de e 70 ng/mL, no segundo trimestre; se > 70 ng/mL, não suplementar
Suplementação de Ferro, do Ministério ferro.
da Saúde, 2005, que recomenda a Já pelo “Zugaib Obstetrícia”, 2020, está recomendada a
suplementação de 40 mg/dia de ferro elementar (200 mg de suplementação de ferro da 16a semana de gestação até 8 semanas
sulfato ferroso) 1 hora antes das refeições. Ela está indicada acima após o parto na dose de 60 mg/dia de ferro elementar ou 300 mg
de 20 semanas de gestação e mantida no pós-parto e no pós- de sulfato ferroso ou ferro quelato glicinato.
aborto por 3 meses. Então, é verdade quando dizem que vai depender da
Em 2013, a OMS orientou, por meio da diretriz para literatura recomendada por sua instituição. Fique atento ao edital
suplementação diária de ferro e ácido fólico em gestantes, de 30 de provas de sua instituição.
a 60 mg de ferro elementar e 400 µg de ácido fólico diário durante “Mas, professora, e para o tratamento das gestantes com
toda a gestação. anemia?”
Entretanto, pelo Tratado de Obstetrícia da FEBRASGO de As gestantes com anemia (no 1o ou no 3o trimestre, com Hb
2021, o ferro deve ser suplementado na dosagem de 30 mg por < 11 g/dL ou, no segundo trimestre, < 10,7 g/dL ou ferritina sérica
dia nas mulheres não anêmicas, por diminuir o risco de anemia < 30 ng/dL) devem receber suplementação com ferro elementar
materna no momento do parto. Deve-se evitar a suplementação adicional de 30 a 120 mg por dia até correção da anemia.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 74


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

6.2.3 OUTRAS VITAMINAS E MINERAIS

Agora, para deixá-lo um pouco mais “louco”, vamos partir VITAMINA C (ácido ascórbico): as maiores fontes consistem
para o mundo das vitaminas. Vou detalhar, a seguir, os pontos em frutas e verduras. A necessidade na gestação é de 80 a 85 mg/
principais sobre o benefício ou o risco de cada uma delas. dia, obtidos geralmente pela própria dieta. Logo, não se recomenda
VITAMINA A: evitar a suplementação, já que os alimentos já a suplementação de vitamina C durante a gestação.
suprem a necessidade. Se a ingestão for acima de 10.000 UI por dia, VITAMINA D: produzida na pele por meio dos raios
há risco de teratogenicidade. ultravioletas B (UVB) do Sol e pelos alimentos (peixes, fígado, gema
VITAMINA B2 (riboflavina): recomenda-se o consumo diário de ovo e gordura do leite). Ainda, é indefinida a suplementação
de 1,4 mg. Suas principais fontes são os derivados lácteos, as frutas, de 1.000 UI por dia de vitamina D para definir uma recomendação
os cereais e as carnes. clínica. É necessária a orientação quanto ao consumo de alimentos
VITAMINA B3 (niacina): recomendado o consumo diário que contenham a vitamina D e quanto à exposição solar, e, para
de 18 mg. É encontrada nas carnes, nos peixes e nos cereais. Sua mulheres vulneráveis, prescrever 600 UI (15 µg) ou mais de vitamina
deficiência leva a lesões de pele e mucosas, o que é denominado D por dia. Geralmente, a deficiência ocorre devido ao aumento da
pelagra. demanda com o rápido crescimento na infância e na adolescência,
VITAMINA B5 (ácido pantotênico): encontrada em carnes, além de na gestação e na lactação. A deficiência de vitamina D pode
batatas, tomates e ovos. Sua deficiência pode causar dor abdominal, levar ao risco de desenvolver diabetes gestacional, diabetes do tipo
cãibras, vômitos, fadiga e insônia. 1, cânceres e doenças cardiovasculares.
VITAMINA B6 (piridoxina): indicada para adolescentes, VITAMINA E: não houve benefício em sua suplementação
usuárias de drogas, grávidas com gestação múltipla e ingestão para a prevenção de pré-eclâmpsia, óbito fetal ou neonatal, rotura
inadequada. Existem trabalhos que indicam seu uso para o manejo de membranas, restrição de crescimento intrauterino.
da hiperêmese gravídica, mas há poucas evidências de consistência. VITAMINA K: não houve redução de risco na indicação da
VITAMINA B9 (ácido fólico): por sua importância e por ser ingestão de vitamina K para gestantes com objetivo de diminuir
a mais cobrada em provas, será detalhada à parte. Lembrando de hemorragia periventricular.
suplementar, nas gestantes sem fatores de risco, 400 µg por dia CÁLCIO: recomendado na dose de 600 mg/dia se a gestante
para diminuir o risco de defeitos de tubo neural. não consome produtos lácteos. A ingesta de cálcio diária para
VITAMINA B12: deve ser indicada a suplementação em gestantes, lactentes e mulheres entre 19 e 50 anos é de 1.000 mg
pacientes veganas e com cirurgias bariátricas. ao dia e, para meninas entre 14 e 18 anos de idade, de 1.300 mg.

DICA DA CORUJA: a suplementação de cálcio está indicada nas gestantes com fatores de risco para desenvolver a pré-eclâmpsia,
desde que apresentem ingesta inadequada de cálcio pela dieta.

IODO: pela Associação Americana de Tireoide, está indicada tireoidianos normais e para o desenvolvimento do cérebro e do
a suplementação de 150 µg por dia de iodo durante a gestação e a sistema nervoso central. O déficit de iodo leva a quociente de
lactação. A OMS e a UNICEF aumentaram para a suplementação de inteligência rebaixado em níveis leves a moderados.
250 µg por dia, já que é essencial para a produção de hormônios

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 75


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Ômega 3: o ácido docosa-hexaenoico (ômega-3-DHA) DHA têm maior probabilidade de evoluir com idade gestacional
presente no óleo de peixe e na amamentação materna é um maior quando comparadas com as mulheres que não o ingerem.
nutriente essencial para o desenvolvimento do cérebro e do sistema Mas, sua suplementação não diminuiu a incidência de parto pré-
nervoso central de uma criança. Além disso, mulheres que ingerem termo nem provocou a melhora do prognóstico neonatal.

6.2.4 POLIVITAMÍNICOS ASSOCIADOS

Não existem evidências de benefícios da suplementação estudos atuais também sugerem que a ingesta crônica de adoçante
de polivitamínicos e minerais em mulheres sem deficiências aumenta o risco de obesidade e doenças metabólicas. A American
em micronutrientes. Fique atento, já que, na prática clínica, a Dietetic Association diz que o uso de adoçante durante a gestação
suplementação ocorre de forma rotineira, porém ainda sem uma é seguro dentro do limite de ingestas aceitáveis.
evidência de recomendação. Aspartame: pertence à categoria B e S na lactação, mas deve
A autossuplementação tem elevado os casos de toxicidade a ser evitado nas gestantes com fenilcetonúria.
vitaminas e minerais. As vitaminas tóxicas, se ingeridas em grande Ciclamatos e sacarinas: pertencem à categoria C na gestação
quantidade, são: ferro, iodo (risco de bócio fetal), vitamina D (risco e à U na lactação.
de hipercalcemia), selênio e vitamina A (> 10.000 UI por dia pode Restrições alimentares
levar a malformações fetais). Devem-se evitar ou eliminar alguns alimentos durante a
Adoçante gestação por apresentarem risco de toxicidade. São eles: café,
O adoçante entra como uma prática estimulada devido alguns peixes (tubarão, peixe-espada e cavala), carnes cruas,
à recomendação da redução da ingestão de açúcares. Porém, produtos não pasteurizados, frutas e verduras não lavadas.

6.3 ATIVIDADE FÍSICA NA GESTAÇÃO

É recomendada à gestante a realização de atividades físicas regulares, na ausência de contraindicação. Porém, vai depender de como
era a atividade física prévia à gestação, já que não é o momento de iniciar novos exercícios aeróbicos ou de intensificar o treinamento.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 76


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Principais atividades físicas recomendadas durante a muscular contribui para a prevenção de traumas e quedas e para
gestação: o controle das alterações posturais que ocorrem com o evoluir
• Caminhada: deve ser praticada durante toda a gestação, da gestação.
indicada para controle do ganho de peso na gravidez e para • Alongamento: para toda gestação, com maior foco para o
gestantes previamente sedentárias e que desejam iniciar final da gestação e preparo para o parto.
atividade física na gestação. Pelo Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (ACOG),
• Natação: indicada por não oferecer impacto nas estão indicados exercícios moderados por 30 minutos ou mais, na
articulações e pelo fato de a água apresentar o efeito maioria ou em todos os dias da semana.
termorregulador, estabilizando a elevação da temperatura
Entretanto, as contraindicações para a atividade física
corporal.
durante a gestação são um ponto que não deve ser esquecido em
• Hidroginástica ou exercícios na água: estão entre os mais
seus estudos. Deixo um quadro a seguir com as contraindicações
praticados pelas gestantes e incluem exercícios que trabalham
todos os grupos musculares, além de apresentarem atividade relativas e absolutas descritas pelo Colégio Americano de
aeróbica e respiratória. Ginecologia e Obstetrícia (ACOG).
• Treinamento de resistência muscular: o fortalecimento

ABSOLUTAS RELATIVAS

Doença pulmonar obstrutiva crônica Obesidade mórbida extrema

Doenças cardiovasculares Anemia materna grave

Síndromes hipertensivas gestacionais (pré-eclâmpsia /


Arritmia cardíaca materna
eclâmpsia)

Incompetência istmocervical (IIC) Hipertensão arterial descontrolada

Hemorragias persistentes Hipertireoidismo mal controlado

Placenta prévia Limitações ortopédicas

Rotura prematura de membranas Diabetes tipo 1 mal controlado

Trabalho de parto prematuro Restrição de crescimento fetal

Gestação múltipla Bronquite crônica

Tabela 11. Contraindicações relativas e absolutas de atividade física durante a gestação.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 77


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Além disso, devem ser evitadas algumas modalidades: levantamento de peso, esportes coletivos de contato (futebol, voleibol, futsal,
handebol, basquetebol), hipismo, esportes aquáticos e mergulho devido ao risco de trauma materno e fetal.

6.3.1 HIPERTERMIA

Pode levar à teratogênese e a defeitos de tubo neural banho quente de imersão no primeiro trimestre de gestação está
quando ocorre no primeiro trimestre da gestação. Há indícios associado ao risco de defeito de tubo neural, porém a hipertermia
de que a atividade física exagerada, pelo risco de hipertermia, não foi confirmada com a sauna.
em ambientes pouco arejados pode levar à malformação fetal. O

6.4 OUTRAS RECOMENDAÇÕES PARA A GESTANTE

6.4.1 VIAGENS AÉREAS

Geralmente, as viagens aéreas costumam ser seguras pressão arterial. Assim, algumas precauções devem ser tomadas,
para as gestantes de risco habitual e sem complicações maternas como evitar viagem aérea para gestantes com risco materno ou
ou fetais. Porém, devem ser evitadas até 4 semanas antes da data fetal; durante o voo, recomenda-se à gestante o uso de meia elástica;
provável do parto. a gestante deve movimentar braços e membros regularmente;
Existem, também, algumas modificações maternas pela deambular quando permitido e manter-se hidratada.
altitude: hemoconcentração, aumento da frequência cardíaca e

6.4.2 ATIVIDADE SEXUAL

Na ausência de complicações durante a gestação, como sangramentos, placenta prévia, rotura prematura de membranas e outras, a
atividade sexual não é contraindicada.

6.4.3 PLANO DE PARTO

É um documento em que a gestante manifesta suas Estamos quase encerrando, mas veja que, após o início do
preferências e escolhas nos momentos do trabalho de parto, do pré-natal ou durante o seguimento da gestante, existe um tópico
parto e do pós-parto. Esse documento deve ser elaborado durante importante, que é a determinação do risco gestacional. Quando
o pré-natal junto com a equipe que estará presente no momento devemos encaminhar ao pré-natal de alto risco?
do parto.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 78


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

7.0 DETERMINAÇÃO DO RISCO GESTACIONAL

Terminado, assim, o estudo sobre a assistência ao pré-natal, presente nos "Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao Pré-Natal
definir o risco gestacional da grávida pode ser cobrado pelas bancas de Baixo Risco do Ministério da Saúde de 2013". Perceba que, de
de todo o Brasil, pois, além de estabelecer o plano de cuidados uma forma geral, tudo o que for achado positivo relacionado às
adequado para a gestante, essa definição é fundamental para ajudar condições prévias da gestante e sua história reprodutiva anterior
a reconhecer as gestantes de risco e para o encaminhamento para ou atual fará com que a gestação deixe de ser considerada de risco
o seguimento de pré-natal especializado. habitual e passe a ser seguida como uma gravidez de alto risco.
A tabela a seguir é baseada na classificação de risco gestacional

• Cardiopatias
• Pneumopatias graves
• Nefropatias graves
• Endocrinopatias
• Doenças hematológicas
• Hipertensão arterial crônica
Fatores relacionados às condições • Doenças neurológicas
prévias • Doenças psiquiátricas que necessitam de acompanhamento
• Doenças autoimunes
• Alterações genéticas maternas
• Antecedente de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar
• Ginecopatias
• Portadoras de doenças infecciosas
• Dependência de drogas lícitas ou ilícitas

• Morte intrauterina
• História prévia de doença hipertensiva da gestação, com mau resultado
Fatores relacionados à história repro-
obstétrico e/ou
dutiva anterior
• abortamento habitual
• Esterilidade/infertilidade

• Restrição do crescimento intrauterino


• Polidrâmnio ou oligoidrâmnio
Fatores relacionados à gravidez atual • Gemelaridade
• Malformações fetais ou arritmia fetal
• Distúrbios hipertensivos da gestação

Tabela 12. Fatores relacionados ao aumento do risco gestacional, segundo os “Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco do Ministério da
Saúde, 2013”.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 79


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Observe que, uma vez que os aspectos da gravidez atual de acordo com a evolução da gestação, e o encaminhamento para
influenciam na classificação de risco gestacional, a classificação de serviços de referência deve ser prontamente realizado sempre que
risco da grávida deve ser repensada a cada consulta de pré-natal necessário.

A correta determinação do risco gestacional é essencial para garantir que o binômio materno-fetal tenha
acesso a todos os recursos técnicos de assistência à saúde de que precisa para evitar complicações obstétricas e
tratar adequadamente as que ocorrerem.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 80


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula!


Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação.
Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser.

Resolva questões pelo computador


Copie o link abaixo e cole no seu navegador
para acessar o site

https://estr.at/SndD

Resolva questões pelo app


Aponte a câmera do seu celular para
o QR Code abaixo e acesse o app

Baixe na Google Play Baixe na App Store

Baixe o app Estratégia MED


Aponte a câmera do seu celular para o
QR Code ou busque na sua loja de apps.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 81


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

9.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. MONTENEGRO, Carlos Antonio Barbosa; REZENDE FILHO, Jorge de. Rezende Obstetrícia. Guanabara Koogan.
2. MORAIS, R.M.; ROCHA, J.E.S., TISSIANE, M.P.; FILHO, R.M.M. Tratado de Obstetrícia FEBRASGO. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
3. ZUGAIB, M.; CABAR, F.R.; CODARIN, R.R.; BUNDUKI, V. Zugaib Obstetrícia. São Paulo: Atheneu, 2020.
4. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Gestação de alto risco. Brasília – DF, 2022.
5. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cadernos de Atenção Básica – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco. Brasília, 2012.
6. PEIXOTO, Sergio. Manual de assistência pré-natal – FEBRASGO, 2a ed. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (FEBRASGO), 2014.
7. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE; MINISTÉRIO DA SAÚDE; FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E
OBSTETRÍCIA. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Rastreamento e Diagnóstico de Diabetes Mellitus Gestacional no Brasil, Brasília, 2016.
8. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e Hepatites
Virais, Brasília, 2019.

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 82


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

CAPÍTULO

10.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Assistência ao pré-natal é certamente um dos principais temas obstétricos, e esperamos que, após este estudo, você esteja sentindo-se
seguro para responder às questões que surgirem sobre ele em sua prova de Residência Médica.
Esteja atento para não cair em “armadilhas” de um tema aparentemente simples por sua aplicação rotineira, mas bastante denso.
Lembre-se de que você é Coruja e está preparadíssimo para voar longe dessas “pegadinhas” dos examinadores.
A dica é: não deixe de resolver as listas de questões que preparamos para você. Elas irão contribuir bastante para que você sedimente
esse conhecimento, além de serem uma ótima ferramenta para que você perceba se alguma dúvida ainda precisa ser sanada. Nesse caso, não
hesite em nos procurar. Não subestime nenhuma dúvida. Todas podem ser importantes para seu aprendizado.
Aguardaremos seus comentários e possíveis questionamentos. Você pode enviá-los no fórum de dúvidas do EMED ou em mensagem
direcionada diretamente para nós pelo site do Estratégia.
Sugiro, ainda, que você acompanhe o perfil do Estratégia MED nas redes sociais para ter notícias de provas de Residência Médica de
todo o país.
Estamos mais próximos de sua conquista. Vamos juntos!
Até a próxima!
Ana Claudia Souza e Marina Ayabe Gomes de Moraes

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza| Resumo Estratégico | 2023 83


OBSTETRICIA Pré-Natal Estratégia
MED

Prof. Marina Ayabe e Prof. Ana Souza|Resumo Estratégico | 2023 84

Você também pode gostar