Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
C A M I L O R A M O S
M E D I C I N A D E FA M Í L I A
E C O M U N I DA D E
MEDICINA PREVENTIVA Prof. Camilo Ramos | Medicina de família e comunidade 2
APRESENTAÇÃO:
PROF. CAMILO
RAMOS
Estrategista, bem-vindo!
Sou o professor Camilo Ramos, especialista em Radiologia
e Diagnóstico por Imagem e mestre em Clínica das Doenças
Tropicais. Seu sonho de ser um especialista e ter seu RQE (Registro
de Qualificação de Especialista) ficará mais “palpável” após este
livro digital!
Chegamos à Medicina de Família e Comunidade (MFC), a
especialidade médica que mais cresce no Brasil. Segundo dados
do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São
Paulo (USP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina, as
vagas de Residência para MFC aumentaram quase 500% na última
década!
As provas de Residência refletiram esse boom da MFC. Antes,
as questões eram mais direcionadas à epidemiologia e ao Sistema
Único de Saúde; hoje, as bancas cobram até mesmo conceitos
mais aprofundados de Medicina de Família e Comunidade. Este
livro digital trará todas as ferramentas necessárias para que você
obtenha um ótimo resultado nas provas que estão chegando e,
ainda, para que se apaixone pela encantadora MFC e seu método
de trabalho construído na relação entre o médico e a pessoa, uma
verdadeira medicina raiz.
Estratégia
MED
MEDICINA PREVENTIVA Prof. Camilo Ramos | Medicina de família e comunidade 3
Bem, antes de começarmos nosso livro, falarei mais sobre mim para que, no decorrer da leitura, você se sinta conversando com um
amigo. Sou de Belém (PA), graduado pela Universidade do Estado do Pará (2007-2012), Residência Médica em Radiologia e Diagnóstico
por Imagem na Santa Casa do Pará (Belém-PA), Residência Médica incompleta em Clínica Médica no Hospital Regional da Asa Norte
(Brasília-DF) e Mestrado em Clínica das Doenças Tropicais na Universidade Federal do Pará (Belém-PA). Fui também aprovado em diversas
outras seleções de Residência Médica em vários estados, tal como em concursos públicos (federal, estadual e municipal) para o cargo
de médico. Atualmente, sou Perito Oficial em Saúde do Serviço Público Federal e o principal: seu professor de Medicina Preventiva no
Estratégia MED.
Agora, vou chamá-lo de Estrategista! Afinal, vamos construir a estratégia para a sua aprovação – com um estudo focado
em questões, “gastando os neurônios” com o que realmente aparece em prova, sem ocupar seu valioso tempo com detalhes
teóricos que nunca são cobrados.
Sem mais prolongamentos, vamos agora rumo à incrível Medicina de Família e Comunidade!
Com os melhores votos de sucesso,
Prof. Camilo Ramos.
SUMÁRIO
ENGENHARIA REVERSA 6
1.0 A MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE 7
1 .1 PRINCÍPIOS DA MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE 9
4.2.1 GENOGRAMA 40
4.2.2 ECOMAPA 47
5 .2 ESTIMATIVA RÁPIDA 55
5 .5 ATENÇÃO DOMICILIAR 58
6.1.1 DESVELAMENTO 68
6.1.3 JOURNALING 69
6 .2 A RELIGIOSIDADE 72
ENGENHARIA REVERSA
Estrategista, a engenharia reversa é a técnica vitoriosa do Grupo Estratégia para ser o maior aprovador em
concursos no Brasil. Partimos das provas, realizando estatísticas do que mais cai (e como cai) para trazer um ensino
totalmente direcionado para sua prova, a fim de que você acerte e seja aprovado no concurso de Residência Médica.
Nossa engenharia reversa mostrou que as questões de Medicina de Família e Comunidade (MFC) correspondem
a 5,24% do total de questões de Medicina Preventiva. É um percentual relevante. Isso significa que, em um bloco de
20 questões, você encontraria de 1 a 2 sobre a querida MFC.
3,82%
1,64%
5,24%
Gráfico 1 – Estatística da Medicina Preventiva por área temática. As medidas de saúde coletiva fazem parte da epidemiologia, que é a área temática mais importante
nas provas de acesso direto ao R1.
Dentro da Medicina de Família e Comunidade, temos a seguinte distribuição de tópicos em relação às questões:
E veja que interessante: a MFC guarda íntima relação com outras áreas, como Atenção Primária e Sistemas de Informação em Saúde,
de modo que é pouco comum uma prova que não traga conceitos relacionados a essa especialidade!
Estamos diante de um tema importante, que tem suas particularidades e pode fazer a diferença para sua aprovação. A boa notícia é
que este livro digital lhe trará segurança para ganhar pontos quando surgirem essas frequentes questões!
CAPÍTULO
Ainda, podemos dizer que a Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade que se abastece de diversas áreas do
conhecimento e das diferentes especialidades, já que ela lida com o ser humano em suas diferentes fases da vida.
Como ator principal no palco da MFC, temos o médico de família e comunidade, o qual ocupa papel central na aplicação dos princípios
da Medicina de Família e Comunidade.
É comum que o médico de família atenda seus pacientes ainda na fase precoce das doenças, ou seja, quando ainda estão indiferenciadas,
o que dificulta o diagnóstico em um primeiro momento. Felizmente, a maioria das condições atendidas na Atenção Primária são benignas e
autolimitadas, o que diminui a probabilidade de intervenção urgente. Além disso, o MFC leva em consideração a prevalência e a incidência das
diferentes doenças na comunidade em que atua, o que facilita seu raciocínio diagnóstico (afinal, se ele estiver diante de uma síndrome febril
em um município endêmico para malária, é certo que ele pensará primeiro nessa infecção do que em outras).
O médico de família é o coordenador do cuidado de seu paciente e, com isso, acaba coordenando simultaneamente os diferentes
problemas que ele apresenta, tanto agudos como crônicos!
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN 2023) A Medicina de Família e Comunidade é uma disciplina acadêmica
e científica, com seus próprios conteúdos educacionais, relacionados à pesquisa, sua base de evidências e sua atividade clínica. É uma
especialidade clínica orientada para os cuidados primários. A especialidade Medicina de Família e Comunidade caracteriza-se por:
C) ter um processo de consulta singular, em que se estabelece uma relação temporalmente pontual, através de uma comunicação médico-
paciente efetiva.
D) gerir com prontidão doenças que se apresentem de forma indiferenciada, pois representam doenças em uma fase precoce de sua história
natural e que necessitam de intervenção urgente.
COMENTÁRIO:
Estrategista, veja uma questão que versa exatamente sobre o que acabamos de falar! Vamos analisar as alternativas.
Incorreta a alternativa B, pois a tomada de decisão do médico de família leva em consideração a prevalência e a incidência da doença na
comunidade.
Incorreta a alternativa C. O erro da alternativa está em falar que a relação é temporalmente pontual. É justamente o contrário, já que o MFC
acompanha o paciente e a comunidade ao longo do tempo.
Incorreta a alternativa D. A maioria das doenças que geram demandas espontâneas na Atenção Primária à Saúde não necessitam de
intervenção urgente, pois têm caráter benigno e autolimitado.
O médico de família e comunidade deve conhecer profundamente as condições que mais afetam as
pessoas no contexto da atenção primária.
O médico deve ser capaz de escutar, traçando planos conjuntos com o usuário para a implementação do cuidado.
A atuação médica ocorre em equipe, em que a medicina é uma parte na rede do cuidado, e o médico pode ser tanto membro como
líder da equipe, sem necessariamente ter de exercer a liderança.
O Tratado de MFC estima entre 1.800 a 2.000 pessoas o público de um médico de família e
comunidade. É interessante “linkar” esses números com a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB,
2017), que prevê entre 2.000 e 3.500 usuários por equipe de saúde da família.
Você pode conhecer mais sobre a PNAB no livro digital de Atenção Primária à Saúde, um “livro-
irmão” deste!
Dentro de sua população definida, o médico deve cuidar de cada pessoa de modo personalizado, humanizando os padrões “protocolares
e tecnológicos” comuns atualmente, estando, inclusive, disponível para atuar em casos agudos e urgentes.
A relação ao longo do tempo (longitudinalidade) pautada nesses aspectos constrói uma forte relação de vínculo e lealdade. Para
facilitar essa construção, a Medicina de Família e Comunidade possui ferramentas pouco comuns em outras especialidades, como as visitas
domiciliares e as ferramentas de abordagem familiar.
Estrategista, embarque nessa historinha e tente identificar nela os princípios da Medicina de Família e Comunidade, combinado?
Sra. Maria procura atendimento da Unidade Básica de Saúde por estar sentindo-se frequentemente irritada e achar que
isso não é normal. Lá, é acolhida e encaminhada para a consulta com o Dr. Enzo, o médico de família e comunidade da equipe de
referência onde ela mora.
- Poxa, como é bom ter o senhor aqui no nosso bairro! Lembra que até aquele meu parente que mora lá do outro lado da
cidade e queria vir consultar aqui? Ele descobriu um médico lá no bairro dele, igualzinho ao senhor, que cuida da família. O senhor
é gente boa. Pois é, doutor, então não sei o que está acontecendo comigo, perco a paciência fácil, fico gritando que nem uma
maluca.
- Dona Maria, ainda vamos conversar mais, vou examinar a senhora, mas já de início tenho uma proposta: estava pensando
de um dia eu e a equipe irmos na sua casa; lá, batemos um papo com a senhora, brinco com o Joãozinho e vejo como estão as
coisas com o seu marido, o meu amigo senhor Tonhão. O que acha?
- Adorei a ideia! Vou preparar um doce de goiaba pro senhor, temos duas goiabeiras bonitas demais lá no quintal!
Estrategista, curtiu a história? Não tem como não nos sentirmos familiarizados, não é mesmo? Pois bem, vamos identificar
como o Dr. Enzo praticou os princípios da Medicina de Família e Comunidade.
O médico de família e comunidade é um clínico qualificado: perceba como o médico não se restringiu à queixa da usuária e
procurou escutá-la para investigar se algo na relação familiar poderia não estar bem, incluindo a programação de uma visita domiciliar.
Além disso, é responsável também por cuidar do Joãozinho, o qual certamente apresenta necessidades bem diferentes da dona Maria.
A atuação do médico de família e comunidade é influenciada pela comunidade: note que o médico percebeu a necessidade
de ir mais a fundo na relação familiar da dona Maria e incluiu-se como membro da equipe para a visita domiciliar. Ele adaptou-se à
necessidade e não se restringiu à consulta.
O médico de família e comunidade é um recurso de uma população definida: dona Maria gosta tanto do cuidado proporcionado
pelo Dr. Enzo que queria até trazer um parente de longe para se consultar! Mas, sendo um recurso de uma população definida, o
médico é responsável pela sua comunidade, e o familiar encontrou o médico de seu próprio bairro.
A relação médico-pessoa é fundamental para o desempenho do Médico de Família e Comunidade: chama a atenção na
história o vínculo que usuária e médico possuem, uma relação de proximidade e confiança.
Agora que conhecemos os princípios da Medicina de Família e Comunidade, os alicerces do nosso livro,
vamos treinar? Já adianto para você: nossa engenharia reversa mostra que esse é um dos temas mais cobrados
dentro de MFC!
CAI NA PROVA
(SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE GOIÁS - SES GO 2023) De acordo com o Tratado de Medicina de Família e Comunidade (Gusso et al.,
2019), um dos princípios da Medicina de Família e Comunidade é a:
COMENTÁRIO:
Incorreta a alternativa A. Não vimos nenhum princípio que se assemelha a tal alternativa.
Incorreta a alternativa B. Embora o médico de família realize atendimentos individualizados, esse também não é um princípio da especialidade.
Incorreta a alternativa D. De fato, o médico de família presta cuidado longitudinal (acompanha os diferentes problemas do paciente ao longo
do tempo, tanto os novos como os antigos), assim como também existe a continuidade do cuidado (ou seja, o paciente sempre volta para
cuidar do mesmo problema de saúde). No entanto, não é por um período determinado (é indeterminado, até que a relação médico-paciente
chegue ao fim por algum motivo). De qualquer forma, não temos nenhum princípio que coincida com o que foi descrito na alternativa.
(FUNDAÇÃO HOSPITALAR ESTADUAL DO ACRE [AC], 2021) A Medicina de Família e Comunidade é definida como especialidade médica que
presta assistência à saúde de forma continuada, integral e abrangente para pessoas, suas famílias e comunidade. Assim sendo, o Médico de
Família e Comunidade assume algumas responsabilidades, exceto:
C) Atendimento qualificado.
COMENTÁRIO:
Estrategista, verifiquemos qual das opções não corresponde às atribuições que cabem ao médico de família e comunidade:
Correta a alternativa A. O médico de família acompanha pessoas, famílias e comunidades, seja na Unidade Básica de Saúde ou em
domicílio.
Correta a alternativa B. A coordenação do cuidado e o acompanhamento ao longo do tempo são inerentes ao trabalho do médico de
família e comunidade.
Correta a alternativa C. Como clínico qualificado, o médico de família deve prestar um atendimento qualificado.
Não há obrigatoriedade de que o médico chefie a equipe; pode acontecer, mas não é uma responsabilidade
Incorreta a alternativa D.
própria da profissão.
(SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE FLORIANÓPOLIS [SC], 202O) Hoje, na reunião de sua equipe de saúde da família, João, que é médico
de família e comunidade em uma localidade vulnerável em Florianópolis, observa que desde o início da semana, quando a polícia ocupou
o morro onde se encontra a comunidade, tem atendido mais pacientes com crises de ansiedade. "Fizemos uma avaliação da demanda e
no primeiro dia depois da ocupação do morro, mais da metade dos nossos atendimentos de demanda espontânea estavam relacionados a
sintomas ansiosos". O princípio da medicina de família e comunidade que melhor descreve esta observação é:
COMENTÁRIO:
Estrategista, perceba que o foco da atenção do Dr. João foi perceber que as demandas de cuidados da comunidade se alteraram desde
a ocupação policial, ou seja, ele refletiu sobre a influência da comunidade em seu trabalho. Vejamos as opções:
Incorretas as alternativas A, C e D. Todas essas são opções que correspondem a princípios da Medicina de Família e Comunidade, mas não
são a de destaque no trecho fornecido pela questão.
Correta a alternativa B. A influência dos aspectos da vida da comunidade sobre o profissional foi o principal destaque do enunciado.
(CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS OCULISTAS ASSOCIADOS [RJ], 2020) São princípios relacionados à atuação do médico da família e
comunidade, exceto:
C) O médico da família e comunidade deve ser competente no método clínico centrado no ambiente.
COMENTÁRIO:
Analisemos as alternativas:
Corretas as alternativas A, B e D. Todos são princípios da especialidade.
Não é um dos princípios elencados. Além disso, veremos à frente que a atuação deve ser centrada na
Incorreta a alternativa C.
pessoa, e não no ambiente.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS [TO], 2019) Uma mulher de 45 anos vem buscar atendimento no Centro de Saúde da Comunidade
de sua área de abrangência, por estar com "ferida" no couro cabeludo. Apresenta-se à recepção da unidade demonstrando estar muito
preocupada, desejando atendimento com urgência. “Isso aqui vai virar uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento)!” – reclamou a médica de
uma equipe Estratégia Saúde da Família, ao observar a cena. Quando a médica manifesta que atender "urgências" não faz parte do "cardápio"
de cuidados do médico de família e comunidade, contradiz qual princípio da Medicina de Família e Comunidade?
E) O trabalho do médico de família é inspirado pelas intervenções propostas pelas demais especialidades médicas.
COMENTÁRIO:
Estrategista, com os princípios da Medicina de Família e Comunidade em mente, vamos entender o que ocorreu. Bem, a médica
queixou-se de atender um caso de urgência. Lembremos que o médico de família e comunidade é recurso de uma população definida e tem
responsabilidade sobre a população.
Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. A qualificação da médica não foi contestada.
Incorreta a alternativa B. Não foi uma necessidade da comunidade, mas sim de uma pessoa, portanto não é a melhor alternativa.
Uma vez que a médica tem responsabilidade sobre a população onde a usuária está inserida, ela deve
Correta a alternativa C.
realizar os procedimentos necessários e possíveis no momento, caso contrário ofenderá o princípio de ser
o recurso de uma população definida.
Incorreta a alternativa D. O principal aspecto observado não diz respeito à relação médico-pessoa, mas à queixa sobre realizar o
atendimento de uma pessoa de sua área de cobertura.
Incorreta a alternativa E. Este não é um princípio da Medicina de Família e Comunidade. Além disso, a especialidade tem suas próprias
ferramentas de trabalho, não necessitando se inspirar em intervenções propostas pelas demais áreas.
Outro ponto cobrado com frequência pelas bancas em Medicina de Família e Comunidade (MFC) são as características de como é o
trabalho dos médicos em MFC. Embora o médico de família também seja um especialista, quando utilizamos esse termo, entenda como
especialista dos demais níveis de atenção à saúde. O seu trabalho foca prioritariamente na promoção da saúde, mas quando é necessário
realizar um diagnóstico, o modo de atuação do médico de família e comunidade tem particularidades, como veremos a seguir.
O médico de família e comunidade costuma receber os A história natural da doença está apenas no começo quando
pacientes quando surgem os sintomas iniciais, na maioria das o paciente procura o primeiro atendimento com um profissional de
vezes antes de maior gravidade já estar estabelecida. Enquanto família; logo, os sintomas tendem a ser pouco definidos, o que faz
isso, outros especialistas costumam receber casos mais avançados com que o médico de família e comunidade trabalhe com muitas
e com características diagnósticas mais evidentes. possibilidades diagnósticas e elenque muitos diferenciais.
Figura 3: ambos os pacientes têm o mesmo diagnóstico: pielonefrite. Veja a diferença de quadro clínico que o médico de família recebe, apenas um sintoma inicial
inespecífico, abrindo a possibilidade para amplos diagnósticos diferenciais, enquanto a pessoa chega mais tardiamente ao especialista, com sintomas mais específicos.
Este tópico relaciona-se diretamente ao estilo diagnóstico que vimos. Como o médico de família costuma receber casos no início da
evolução, os sintomas pouco específicos fazem com que, na atenção básica, o usuário receba um diagnóstico pouco específico. Por exemplo,
um caso que pode ser caracterizado no primeiro atendimento como síndrome edemigênica pode receber um diagnóstico específico de
síndrome nefrótica.
Há duas características que se destacam na abordagem da Medicina de Família e Comunidade no que diz respeito ao relacionamento
entre o médico e o usuário: o foco na pessoa e a continuidade do cuidado.
Gusso e Ceratti (2019) afirmam que o especialista possui foco diferente: há uma mínima continuidade do cuidado e seu foco é na
doença.
Vamos agora comparar o modo de atuação da Medicina de Família e Comunidade com a dos especialistas:
CAI NA PROVA
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS - CEREM [AM], 2021) A atuação do Médico de Família e Comunidade (MFC)
possui características próprias.
COMENTÁRIO:
Estrategista, vimos que a atuação do médico de família e comunidade é bastante diversa. Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa B. O foco prioritário não é na prevenção de doenças, mas sim na promoção da saúde.
Incorreta a alternativa C. A clientela do profissional de Medicina de Família e Comunidade não se restringe por idade ou por classificação
de doenças. Trata-se de um profissional clínico qualificado e apto a promover a saúde e interpretar sinais e sintomas de todos os grupos
populacionais da sua localidade de atuação.
Incorreta a alternativa D. Ao contrário do que afirma a alternativa, o profissional de Medicina de Família e Comunidade é resolutivo na
maioria das vezes, já que se trata de um clínico qualificado.
(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE GOIÂNIA [GO], 2020) É considerado um aspecto da prática do médico de família e comunidade
A) foco na doença.
C) continuidade sustentada.
COMENTÁRIO:
Estrategista, escolhamos a opção que indica uma característica do médico de família e comunidade:
Incorreta a alternativa A. O médico de família e comunidade tem seu foco nas pessoas e em promover a sua saúde.
Incorreta a alternativa B. Como clínico qualificado, o médico de família e comunidade é resolutivo e não posterga os cuidados.
Correta a alternativa C. A continuidade sustentada (ou seja, mantida) transmite a ideia da longitudinalidade.
Incorreta a alternativa D. Como o médico de família recebe pessoas com sintomas iniciais e inespecíficos, sua abordagem diagnóstica
inclui amplos diagnósticos diferenciais, e não condições específicas.
Estrategista, vimos a introdução do tema do nosso livro, ou seja, entendemos quem é e como
atua o profissional de Medicina de Família e Comunidade. A partir do próximo capítulo,
veremos pontos específicos da especialidade que já foram cobrados em prova.
CAPÍTULO
Desde os primórdios da medicina na Antiguidade, as doenças têm sido o foco da atenção: causas, formas de apresentação,
particularidades, desfechos etc. Esse modelo vê a própria pessoa doente como “figurante” no contexto do adoecimento e é a base do modelo
biomédico. Nele, há uma inclinação para explicar tudo pelos critérios biológicos, renegando a participação subjetiva da pessoa no processo.
No modelo biomédico, os médicos tentam explicar todas as características do adoecimento por meio de
análises técnicas biológicas e não deixam espaço para a discussão sobre a influência dos aspectos psicossociais
e comportamentais.
O MCCP propõe a integração entre os aspectos relacionados à doença com a perspectiva da pessoa doente,
com o objetivo de garantir “que as características particulares e as preferências de cada pessoa sejam levadas
em consideração e de que se chegue a um plano de tratamento elaborado de acordo com esses fatores”
(STEWART, 2017).
Cuidado com o erro comum em concluir que o MCCP “tem por foco primário as questões psicossociais da pessoa, e não suas doenças”,
quando na verdade o método alia os aspectos psicossociais e do adoecimento, respeitando o ponto de vista da pessoa.
Os componentes do MCCP são quatro, os quais têm uma característica que os une: promover a autonomia da pessoa no seu cuidado,
em que o médico renuncia ao poder de decisão sobre todos os aspectos do cuidado e compartilha esse poder decisório com a pessoa.
Preciso de toda a sua atenção agora, pois o MCCP é um dos temas mais comuns de MFC em provas e as
bancas perguntam até a ordem dos componentes (primeiro, segundo...).
Vamos entender o que significa cada componente, pois as questões costumam pedir que se identifique o componente em uma situação.
Após conhecermos os quatro, então praticaremos com questões.
Antes disso, chamo sua atenção para o fato de este livro usar, preferencialmente, o termo “pessoa” ao invés de “paciente”, já que
este último termo traduz uma posição passiva e de pouco poder de quem recebe o cuidado.
O Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) entende que a doença, a saúde e a experiência com a doença são fatores que interagem.
Por exemplo, se ignorarmos isso e buscarmos respostas para o adoecimento no modelo biomédico, teremos dificuldades para explicar o
motivo de uma pessoa com exames físico e complementares normais apresentar uma queixa persistente.
Para que o médico explore esse contexto, é proposto que sejam analisadas quatro dimensões da experiência da doença, podendo
utilizar uma regrinha mnemônica chamada SIFE. Acompanhe:
Figura 5: esquematização do método SIFE, forma que o médico pode utilizar para abordar o primeiro componente do Método Clínico Centrado na Pessoa.
Esse componente do Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) integra os conceitos do primeiro componente, que entende a pessoa
como um todo, incluindo o momento do ciclo de vida (falaremos mais sobre ele adiante) e aspectos religiosos.
O terceiro componente é bastante interessante por representar não apenas o ponto de vista médico de ouvir, entender e contextualizar
o adoecimento, mas propõe uma postura ativa da própria pessoa doente.
Chegamos ao quarto e último componente, o qual diz que a aproximação da relação entre a pessoa e o médico é fundamental no
processo do cuidado. O médico deve evitar que haja um distanciamento com a pessoa que necessita de seus cuidados, como se ela fosse
apenas uma tarefa a ser cumprida. O quarto componente enfatiza a necessidade de o médico aproximar-se da realidade da pessoa, criando
empatia e vínculo.
Estrategista, anteriormente, Stewart e colaboradores elencavam seis componentes do MCCP. A última edição de
seu trabalho (3ª ed.), lançada em 2017 em português, passou a trazer apenas os quatro componentes que vimos.
Mas, você sabe, tem muita banca marota por aí... Para evitar qualquer susto, veja a relação dos seis antigos
componentes do Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP):
1) Explorando a doença e a experiência da pessoa com a doença;
2) Entendendo a pessoa como um todo, inteira;
3) Elaborando um projeto comum de manejo;
4) Incorporando a prevenção e a promoção de saúde;
5) Fortalecendo a relação médico-pessoa;
6) Sendo realista.
Prontinho! Agora tenho certeza de que você está em plenas condições de acertar todas as questões sobre esse tópico frequente da
Medicina de Família e Comunidade: o Método Clínico Centrado na Pessoa. Mas antes, veja um resumo:
Componente Característica
Entendendo a pessoa como um todo Entender a influência de aspectos como ciclo de vida e
(segundo) religião sobre a forma de a pessoa vivenciar a doença.
O Método Clínico Centrado na Pessoa despenca em provas! Separei as melhores questões para
conversarmos e fixar o aprendizado.
CAI NA PROVA
(PROCESSO SELETIVO UNIFICADO DE GOIÁS - PSU GO 2023) O método clínico centrado na pessoa envolve a execução de vários componentes.
Em relação à avaliação do primeiro componente durante a consulta, qual é a alternativa que indica as dimensões da experiência da doença a
serem questionadas?
COMENTÁRIO:
Estrategista, as dimensões da experiência da doença (ou illness) são representadas pelo acrônimo SIFE: sentimentos, ideias, funcionalidade
(ou funções) e expectativa. Encontramos a sequência na alternativa A.
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP [SP], 2020) Josefa é uma mulher negra de 62 anos de idade que frequenta a unidade básica de saúde
há muitos anos. Ela era acompanhada por diabetes e hipertensão arterial, ambas as condições com bom controle clínico. Há cerca de 10
dias, Josefa foi ao Pronto-Socorro devido um desmaio seguido de perda de força em braço e perna esquerdos. Foi encaminhada a hospital
terciário, com hipótese de acidente vascular encefálico (AVE). Essa hipótese diagnóstica foi confirmada com tomografia. Ela recebeu cuidados
adequados e teve alta hospitalar, ainda com alguma perda de força em perna esquerda.
Hoje ela vem em consulta e traz os documentos que recebeu na alta hospitalar, além da prescrição medicamentosa:
Durante a consulta, Josefa mostra-se preocupada com o custo dos remédios prescritos no hospital e dificuldade de ir às consultas. Chora ao
falar das suas dificuldades. Ela mora com uma filha e três netos. No momento, sua filha está desempregada e era Josefa quem trabalhava
como diarista para pagar as contas. Um de seus netos está envolvido com drogas e álcool e isso preocupa muito Josefa. Tem irmãos que
moram em cidades vizinhas, porém sem tanta proximidade. Josefa mora em uma viela no morro e para chegar a sua casa é preciso subir uma
escada estreita e íngreme. Hoje ela teve muita dificuldade de descer os degraus para ir à UBS.
O médico escuta Josefa, realiza exame clínico que constata hemiparesia desproporcionada à esquerda, com força muscular grau V em
membro superior e grau III em membro inferior. O restante do exame clínico é normal. Conversa com Josefa e propõe seguir o tratamento
da diabetes e hipertensão na própria UBS. Troca alguns medicamentos de sua prescrição por outros de mesmas classes disponíveis na UBS.
escreve contrarreferência para o hospital informando a troca de medicação e seguimento da hipertensão e diabetes na UBS, cancelando esses
encaminhamentos. Planeja discutir o caso com equipe multidisciplinar para acionar o fisioterapeuta pensando na reabilitação de Josefa e
assistente social para discutir indicação de benefícios aplicáveis. Por fim, combina retorno precoce com Josefa na UBS para conversar sobre a
adaptação dela e da sua família a esse novo ciclo de vida.
Qual dos componentes do método clínico centrado na pessoa foi mais acionado para abordar as dificuldades da Josefa com o uso da medicação?
COMENTÁRIO:
Estrategista, note que a história de Sra. Josefa é marcada pelo relato dela a respeito de suas dificuldades e pela habilidade do médico
da UBS em manejar a situação.
Antes de analisar as alternativas, vamos reforçar os quatro componentes do Método Clínico Centrado na Pessoa:
MCCP
3 3 - Elaborando um plano conjunto de manejo dos problemas;
Incorreta a alternativa A. Acolhimento e escuta qualificada são fundamentais em todo o desenvolvimento do MCCP, mas não constam
como um dos componentes.
Incorreta a alternativa B. Embora haja referência a esse componente (por exemplo: combinar retorno para conversar sobre a adaptação
dela e família), não foi o predominante ao longo da história.
Incorreta a alternativa C. Também não foi o componente predominante ao longo da história, embora citado quando o médico convida a
usuária a realizar o tratamento na UBS.
Entender o contexto da vida da Sra. Josefa foi o ponto central da história, tanto que o médico tomou
Correta a alternativa D.
condutas baseadas nisso: trocou as medicações caras e evitou a necessidade de deslocamento até os
especialistas.
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO - UERJ [RJ], 2021) Idoso de 65 anos marcou consulta com o seu médico de família devido a
problemas de insônia. O médico pediu que ele relatasse o que está lhe tirando o sono. Intrigado, ele responde que veio à consulta para que
o médico lhe explicasse. Nesse diálogo, o método clínico centrado na pessoa refere-se ao componente:
COMENTÁRIO:
Estrategista, o médico deixou o idoso “à vontade” para contar o que, na visão dele, poderia estar contribuindo para o problema – esse
gesto caracteriza o primeiro componente do Método Clínico Centrado na Pessoa: explorando a saúde, a doença e a experiência com a
doença.
Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. O segundo componente é “Entendendo a pessoa como um todo”, o que não foi explorado no trecho do diálogo
reproduzido na questão.
Incorreta a alternativa B. O quarto componente é “Intensificando a relação entre o médico e a pessoa”, o que ocorre por meio da
continuidade do cuidado (longitudinalidade), o que também não foi observado na questão.
Incorreta a alternativa D. O terceiro componente refere-se ao manejo do conjunto de problemas, em que o médico e a pessoa assumem
responsabilidades no cuidado – o que também não foi destacado na história.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – UFES [ES], 2021) Paciente recém-diagnosticada com diabetes mellitus tipo 2 consulta
sua médica. Informa que não conseguiu incorporar todas as recomendações nutricionais. A médica então diz, olhando diretamente para a
paciente, com postura acolhedora: "Acho que consigo entender o que você está passando. Eu também vivenciei algo parecido no passado.
Não pense nisso como um fracasso. Temos tempo para ajustar o que for necessário". Tendo em vista o método clínico centrado na pessoa,
qual de seus componentes é ilustrado nessa situação?
COMENTÁRIO:
Estrategista, note que a médica “colocou-se no lugar” da pessoa, demonstrando empatia e respeito pelas dificuldades dela. Esse gesto
aproxima a relação entre elas, cria vínculo e reforça o quarto componente do MCCP: intensificando a relação entre a pessoa e o médico.
Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. Não houve exploração da saúde, doença e sua experiência, mas um compartilhamento de histórias buscando a
criação de vínculo e confiança.
Incorreta a alternativa B. Não foram abordados temas do contexto de vida da usuária, então não se pode dizer que houve ilustração desse
segundo componente do MCCP.
Incorreta a alternativa C. A médica não convidou para o tratamento (plano conjunto), apenas reforçou o vínculo ao contar uma história
de identificação com a situação.
A médica intensificou sua relação com a usuária, criando identificação entre elas de modo a fortalecer o
Correta a alternativa D.
vínculo – o que pode ser decisivo para a adesão terapêutica.
MÉDICA: Pelos seus relatos e ausência de alterações ao exame físico que realizei, você possui um tipo de dor de cabeça chamada enxaqueca.
Já ouviu falar algo sobre ela?
PACIENTE: Sim. Minha mãe tem enxaqueca e tem os mesmos sintomas que eu.
MÉDICA: Você tem estado muito preocupada com sua saúde, não é?
PACIENTE: Bom, um amigo meu que também sofria de dores de cabeça, assim como eu, morreu de tumor cerebral. Tenho medo de estar
com o mesmo problema.
MÉDICA: Existem muitas causas de dor de cabeça e certamente os aneurismas podem cursar com esse sintoma, mas as características da
dor são muito diferentes do seu caso. Você tem um histórico de dor de cabeça desde a infância e pioraram à medida que você foi exposta
a situações de cada vez mais responsabilidade e tensão. Além disso, você tem usado um anticoncepcional com dosagem alta, o que piora o
quadro. Você observou que fiz seu exame completo e nada há de anormalidades. No caso de problemas mais graves, como tumores, a pessoa
tem dor de cabeça de início mais recente, o tipo de dor de cabeça é bem diferente. E a pessoa geralmente tem outros sintomas...
(Trecho extraído de um caso encontrado em PIANCASTELLI, C. H.; DI SPIRITO, G. C., FLISCH, T. M. P. Saúde do Adulto. 2ª ed. Belo Horizonte: NESCON/UFMG, 2013.P. 67.
Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/3865.pdf ).
Sobre a abordagem da paciente apresentada no trecho da consulta acima, escolha a alternativa CORRETA:
A) Percebe-se a utilização do Método Clínico Centrado na Doença (MCCD), onde ocorre uma valorização do problema da enxaqueca que a
paciente apresenta.
B) Em análise, percebe-se que o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) está sendo utilizado ao tentar compreender além da doença,
mas também a experiência da pessoa com a doença.
C) No tipo de abordagem utilizada pela médica, não se observa que ela tentou abrir o espaço para que emergissem na história de vida da
paciente experiências prévias e nem explorar as expectativas em relação à doença que acredita ter.
D) Compreende-se que o vínculo e a relação médico-pessoa não estão sendo percebidos no trecho relatado.
E) Quando se utilizam os aspectos do MCCP consegue-se perceber maior satisfação dos envolvidos no atendimento, embora uma maior
adesão ao tratamento e uma resposta terapêutica melhor não possam ser evidenciadas como vantagens.
COMENTÁRIO:
Estrategista, a médica realizou uma abordagem cuidadosa, valorizando a experiência da usuária com a sua doença. Analisemos as
alternativas:
Incorreta a alternativa A. A abordagem centrada na doença é a forma “tradicional” de trabalho médico, em que todo o foco está no
adoecimento. Veja que a profissional valorizou aspectos subjetivos e acalmou a paciente, conferindo um foco humanizador e centrado na
pessoa.
Incorreta a alternativa C. A médica estimulou que fosse relatada a experiência do amigo e comentou, de forma clara e gentil, para que a
usuária compreendesse que era diferente do caso dela.
Incorreta a alternativa D. Houve vínculo na medida em que a médica se mostrou empática.
Incorreta a alternativa E. A maior adesão ao tratamento e uma resposta terapêutica melhor podem, sim, ser evidenciadas como vantagens.
(UNIEVANGÉLICA [GO], 2018) No primeiro componente do Método Clínico Centrado na Pessoa valoriza-se a abordagem de aspectos
resumidos no termo SIFE. Esse acrônimo refere-se a:
C) Sensibilização, intensidade, foco e transmissão de esperança; ações esperadas na condução de consultas com "más notícias".
COMENTÁRIO:
Estrategista, o “SIFE” é modo que o médico pode utilizar para conduzir a conversa com o usuário. Ele representa:
• Sentimentos da pessoa;
• Ideias que a pessoa tem sobre o seu adoecimento;
• Funções da vida da pessoa que foram afetadas pela doença; e
• Expectativas da pessoa em relação ao que o médico pode fazer por ela.
Analisemos as alternativas:
Alternativa que descreve os itens SIFE, embora as expectativas sejam relacionadas ao médico e não à
Correta a alternativa A.
experiência de adoecimento.
O MCCP é um dos grandes destaques da Medicina de Família e Comunidade, afinal revoluciona a forma de
se fazer medicina e pode ser aplicado a qualquer outro médico. Já que estamos falando em focar na pessoa,
vamos aprofundar no próximo capítulo, olhando para aqueles casos mais complexos, que merecem uma
atenção toda especial: o Projeto Terapêutico Singular.
CAPÍTULO
O Projeto Terapêutico Singular é direcionado para casos que tenham aspectos complexos,
havendo então a reunião de todos os profissionais de uma equipe em busca do compartilhamento
dos diversos saberes e construção de uma proposta coletiva de intervenção. A liderança do PTS não
é direcionada a um profissional específico, mas é sugerido que fique com aquele(s) mais vinculado
ao(s) sujeito(s) do projeto – o chamado profissional de referência do PTS. Já a escolha dos casos
pode ser realizada por qualquer profissional da atenção primária que se deparar com a complexidade
de um caso.
É importante destacar que o Projeto Terapêutico Singular está inserido no contexto da clínica ampliada, que consiste em iniciativas que
evitem a fragmentação do cuidado – como quando se reduz a pessoa a um diagnóstico ou a um número de leito.
A clínica ampliada prevê tornar os usuários como sujeitos participantes e autônomos em seus projetos terapêuticos, o que
pode ser alcançado com o trabalho em equipe dos diversos atores que compõem a equipe de saúde.
Chegamos ao momento de fixar o aprendizado por meio de questões que demonstram como o PTS tem aparecido em provas.
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - UNIFESP [SP], 2021) Considerando que o projeto terapêutico singular (PTS) tem se mostrado como
dispositivo resolutivo, tanto no âmbito do cuidado e da atenção, como da gestão dos serviços e redes de saúde, assinale a alternativa correta.
A) O PTS caracteriza-se como um conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas e resultantes da avaliação da equipe de saúde,
com prioridade para o médico.
B) Considerando a relevância que tem demonstrado para o cuidado integral, a proposta de implantação do PTS deve ocorrer
independentemente da adesão dos pacientes e familiares.
C) No processo de construção do PTS há espaço para uma postura ativa do paciente, evidenciando suas possibilidades para a produção de
saúde e o exercício da autonomia.
D) O processo de construção do PTS pode favorecer a fragmentação do cuidado ao paciente, devido à elaboração complexa que demanda
a participação de diferentes profissionais da equipe.
COMENTÁRIO:
Exato! A pessoa deve ter postura ativa e exercer sua autonomia na construção do cuidado (por exemplo:
Correta a alternativa C.
sugerindo à equipe que utilize outro modo de tratamento, pois sua cultura não se adéqua àquele
proposto). Ressalva: é preferível o termo pessoa ao invés de paciente, justamente porque o usuário participa ativamente.
Incorreta a alternativa D. Pelo contrário, o PTS fortalece o cuidado quando a equipe reúne conhecimentos em prol da pessoa.
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - UNICAMP [SP], 2021 - DISCURSIVA) O Núcleo de Apoio à Saúde da Família atua de maneira
integrada para apoiar as equipes da Atenção Básica, utilizando diversas estratégias. Uma delas é a organização do cuidado em saúde construída
entre equipe e usuário, considerando as singularidades do sujeito e a complexidade de cada caso, em que a identificação das necessidades
de saúde, a discussão do diagnóstico e a definição do cuidado são compartilhadas, o que leva a aumento da eficácia dos tratamentos, pois a
ampliação da comunicação traz o fortalecimento dos vínculos e o aumento do grau de corresponsabilização.
ESSE INSTRUMENTO É O:
COMENTÁRIO:
O PTS corresponde à atuação e à responsabilização conjunta entre os profissionais de uma equipe ou mais de uma equipe (o
matriciamento) em prol do tratamento de uma específica situação complexa, seja de uma pessoa ou de uma família. Nesse contexto, o
usuário é um polo ativo de interação e construção do cuidado, não apenas uma figura passiva recebedora de cuidados.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO [MA], 2019) Sobre o projeto terapêutico singular (PTS), assinale a alternativa CORRETA.
B) Na atenção básica é recomendado que as reuniões exclusivas para discussão dos casos sejam diárias; no âmbito hospitalar, elas podem
ser semanais ou quinzenais.
C) O profissional de referência é aquele que a família procura quando sente necessidade, podendo ser qualquer profissional da equipe,
independente da formação.
D) É recomendado que o PTS não ultrapasse um tempo de 3 meses, quando esse ocorre na atenção básica.
COMENTÁRIO:
Incorreta a alternativa D. Não há tempo determinado para a duração do PTS; ele dependerá da complexidade do caso e da evolução dos
trabalhos.
Estrategista, vimos que o Projeto Terapêutico Singular pode ser direcionado a um indivíduo ou mesmo a uma
família. Então, pegando o gancho na família, vamos estudar agora como a Medicina de Família e Comunidade
interage com ela.
CAPÍTULO
O médico idealmente deve contatar a família todas as vezes em que o problema de uma pessoa possa
influenciar ou fazer parte do contexto familiar (exemplo: uso de drogas). A única contraindicação é quando
existir risco de violência a alguém, seja ao usuário do serviço de saúde, ao próprio familiar ou mesmo ao
médico.
A unidade familiar é diversa e tem se alterado ao longo das últimas décadas. Motivos sociais, como o crescimento da participação da
mulher no mercado de trabalho, as uniões homoafetivas e razões tecnológicas − como as aproximações virtuais − contribuíram para modificar
a estrutura de quantidade significativa de famílias no Brasil.
Neste capítulo, vamos abordar dois tópicos: os ciclos de vida das famílias e as ferramentas de abordagem familiar.
As famílias passam por diversas transformações ao longo do tempo e algumas delas são “previsíveis e habituais”. Mudanças de
componentes, saídas de casa, questões sociais e falecimentos podem afetar a estrutura familiar.
Todas as famílias passam por diferentes fases ao longo de sua existência e os momentos de transição
costumam representar os momentos de maior vulnerabilidade. É importante que o médico reconheça esses
aspectos, a fim de orientar e ajudar as famílias a enfrentarem e prepararem-se para momentos assim em sua
história.
As provas de Residência ocasionalmente cobram esse interessante tema da Medicina de Família e Comunidade. Então vamos conhecer
os principais aspectos, conforme classicamente descritos na literatura.
Os modelos de descrição dos ciclos de vida baseados em classes sociais surgiram nos Estados Unidos da América, havendo inegáveis
particularidades e realidades distintas em relação a outros povos, inclusive o brasileiro. Vamos conhecer o ciclo da classe média:
Filhos saindo
Filhos de casa
adolescentes
Filhos
pequenos
Novo casal
Jovens
solteiros
• Jovens solteiros: é o momento inicial da vida adulta, em que jovens solteiros saem de casa e passam a assumir
responsabilidades, como manter-se, estabelecer-se no mercado de trabalho e gerir os elementos da própria subsistência,
sendo responsáveis pelas próprias compras e lavagem de roupas.
• Novo casal: nesse segundo momento do ciclo, os jovens unem-se e formam novos casais, novas famílias, devendo adaptar-se
a esse novo sistema de vida e assumir compromissos maritais.
• Família com filhos pequenos: novo momento, agora o jovem casal passa a lidar com filhos pequenos, representando um
novo desafio: ajustar a realidade do casal, unir-se em torno da educação das crianças (e suas consequências financeiras) e
estabelecer o papel de pais e avós.
• Família com adolescentes: a família segue sua história e nesse momento tem como desafios reconhecer o início da
independência dos filhos e lidar com a fragilidade dos avós.
• Filhos saindo de casa: momento do ciclo também chamado de “encaminhando os filhos” ou “ninho vazio”. Refere-se à saída
dos filhos de casa, quando eles vão começar o próprio ciclo fora de casa. O casal tem como desafio reinventar-se novamente
como dois, após tantos anos dedicados à criação dos filhos, sendo ainda um momento de entradas e saídas do núcleo familiar
(netos e falecimento dos avós).
• Estágio tardio da vida: nesse último momento, as famílias passam a viver uma mudança de papéis, em que os idosos passam
a ter menor controle e a geração do meio (filhos) assume um papel central. São frequentes as perdas nesse período, outro
desafio para as famílias.
Nas classes que convivem em um ambiente de limitações financeiras e educacionais, algumas etapas do ciclo de vida “clássico” que
vimos não se efetivam. As etapas aqui são menos numerosas e marcadas pela necessidade de adaptar-se – já que, por vezes, os elementos
da família têm de assumir funções que não são típicas de seu momento na vida, com o objetivo de manter a família o mais estável possível
(como avós mantendo filhos e netos, responsabilizando-se pela tarefa que seria dos filhos já adultos.)
Família
com filhos Famílias no
estágio tardio
Adolescente e
adulto jovem
solteiro
• Adolescente e jovem adulto solteiro: a transição entre a adolescência e a idade adulta é mal delimitada e, às vezes, o
adolescente já necessita buscar sua autonomia e até mesmo manter-se com trabalho.
• A família com filhos: a geração de filhos e não o casamento é o primeiro momento da formação da nova família, na qual o
planejamento é precário ou não ocorre. O sistema conjugal forma-se já no contexto dos filhos presentes.
• Famílias no estágio tardio: são comuns as famílias em que convivem três ou quatro gerações, o que ocorre devido à concepção
precoce e ao baixo nível educacional, que não permite a independência dos membros.
Figura 8: comparação entre as distintas fases do ciclo de vida familiar entre as classes média e popular.
Saiba que o ciclo de vida familiar é visto como uma ferramenta de abordagem familiar que permite avaliar as crises vitais e acidentais,
bem como possíveis vulnerabilidades e fatores de risco e proteção.
Interessante, não, Estrategista? Agora, vamos ver como as bancas abordam o ciclo de vida familiar.
CAI NA PROVA
(PROCESSO SELETIVO UNIFICADO DE GOIÁS - PSU GO 2023) Qual é o instrumento de abordagem familiar que permite conhecer as crises
previsíveis e imprevisíveis que passam as famílias, bem como avaliar sua adaptabilidade, vulnerabilidade, funcionalidade, resiliência e seus
fatores de risco e proteção?
A) Genograma.
B) Ecomapa.
C) Ciclo vital.
D) Mapa de redes.
COMENTÁRIO:
Estrategista, veja que o enunciado fala sobre o instrumento que permite conhecer crises previsíveis e imprevisíveis (ou seja, vitais e acidentais),
bem como adaptação, vulnerabilidade, funcionalidade, resiliência e fatores de risco e proteção. Essas são características que não podem ser
vistas em sua totalidade pelas demais ferramentas como genograma e ecomapa, por exemplo. Portanto, o examinador está falando do ciclo
vital.
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS - CERMAM [AM], 2021) O ciclo de vida familiar de classe popular é
caracterizado por um menor número de etapas de desenvolvimento decorrentes do processo de adaptação. Esse contexto exige que as
pessoas exerçam tarefas que não são específicas para a fase da vida em que se encontram e, sim, são exigidas em uma determinada situação.
Todas as etapas abaixo caracterizam o ciclo de vida familiar da classe popular, EXCETO:
C) Ninho vazio.
COMENTÁRIO:
Estrategista, a classe popular tem um ciclo familiar diferenciado devido às particularidades de suas vulnerabilidades, como baixo nível
de renda e educacional. Lembremos os estágios pelos quais as famílias populares passam:
(SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE GOIÁS [GO], 2020) Um médico de família e comunidade atende uma paciente que acompanha há
alguns anos. Na consulta, ela se queixa do relacionamento com o esposo. Acha difícil dialogar com o marido sobre as diferenças que existem
entre eles e tem dificuldade de perceber quais objetivos possuem em comum. Tendo estudado sobre o ciclo vital e as crises previsíveis
de desenvolvimento, o médico pode interagir com o casal objetivando motivar e mediar o relacionamento. Pelas características do caso
apresentado, por qual fase do ciclo vital a paciente deve estar passando?
D) Ninho vazio.
COMENTÁRIO:
Estrategista, note que se trata de um momento inicial da vida matrimonial, pois a esposa queixa-se da dificuldade de traçar objetivos
comuns com o marido e suas diferenças estão se destacando. Esse contexto é típico do início da vida conjugal.
Analisemos as alternativas:
Correta a alternativa A. O início da vida conjugal pode trazer desafios como esses.
Incorretas as alternativas B, C e D. São contextos mais tardios do que o descrito pelo enunciado.
Estrategista, já vimos como a compreensão da família é Estudaremos em detalhes as mais famosas (genograma
importante para o trabalho do médico de família e comunidade. e ecomapa), mas também citarei aquelas que não são cobradas
Estudaremos agora as ferramentas de abordagem familiar, que comumente, mas que podem aparecer em alguma alternativa para
são instrumentos que o médico pode utilizar para compreender que você possa excluir, sabendo a fundamentação mínima. Ou
as dinâmicas familiares, identificar debilidades e propor seja, faremos um estudo baseado no que você tem de saber para
intervenções que venham a reduzir a influência do contexto acertar questões.
familiar no adoecimento das pessoas.
4.2.1 GENOGRAMA
O genograma é uma ferramenta importantíssima de abordagem familiar e utiliza símbolos para fornecer uma visão ampla do contexto
da família, incluindo aspectos hereditários, de doenças, relacionamentos e hábitos de vida.
Não é obrigatório que o genograma seja construído no primeiro contato com a família, porém
é indispensável que sejam incluídas no mínimo 3 gerações.
Figura 9a: principais símbolos utilizados no genograma. Fonte: (adaptada de GUSSO E CERATTI, 2019).
Figura 9b: principais símbolos utilizados no genograma. Fonte: (adaptada de GUSSO E CERATTI, 2019).
Agora que conhecemos os principais símbolos do genograma, vamos treinar com um exemplo (em que
lhe mostrarei mais alguns detalhes) e, em seguida, partimos para as questões.
Conclusões:
1. Alfredo é o chamado caso-índice (pois há duplo contorno em seu símbolo), a partir de quem se inicia o genograma. Ele é
homossexual masculino e sua idade não foi citada; ele é filho adotivo de pais divorciados e tem uma relação distante com o
pai.
2. Os pais adotivos de Alfredo tiveram uma gestação, que resultou em aborto.
3. A mãe adotiva de Alfredo era a filha mais nova de seus pais e tem relacionamento conflituoso com o avô de Alfredo (pai dela),
que faz abuso de álcool ou drogas.
4. Moram juntos: Alfredo, sua mãe, sua tia e avós, pois há uma linha que os une.
Ao lado do símbolo de cada pessoa, podem ainda ser acrescentados os nomes de doenças, profissão, hábitos etc.
CAI NA PROVA
A) divórcio.
B) violência física.
C) morando junto.
D) abuso sexual.
COMENTÁRIO:
Estrategista, a SES-GO gosta muito desse tipo de questão em que o examinador traz a simbologia do genograma para testar se o candidato a
conhece. Como vimos acima, quando a linha de união de um casal está tracejada, estamos diante de um casal que está unido, mas sem ser
um casamento formalizado. Portanto, estão morando juntos, em união.
A) homoafetivo masculino.
B) homoafetivo feminino.
C) heteroafetivo.
D) biafetivo.
COMENTÁRIO:
Os genogramas são importantes ferramentas de abordagem familiar e descrevem graficamente as conexões entre as pessoas da família.
O símbolo de um triângulo dentro de um quadrado simboliza uma pessoa homossexual masculina.
Dica: o triângulo representa uma pessoa homossexual e se estiver em um círculo (que representa a
mulher) será homossexual feminina; se estiver em um quadrado (que representa o homem), será homossexual
masculino.
Analisemos as alternativas:
Há uma conexão de casamento entre duas pessoas homoafetivas masculinas, conforme a alternativa
Correta a alternativa A.
descreve.
Incorreta a alternativa B. Se fosse uma relação entre pessoas homoafetivas femininas, o símbolo de cada uma seria um triângulo dentro
de um círculo.
Incorreta a alternativa C. Pessoas heteroafetivas são descritas como quadrado apenas (masculino) ou círculo apenas (feminino).
Incorreta a alternativa D. Pessoas biafetivas podem ser representadas por triângulos tracejados cercados pelo quadrado ou círculo (se
masculino ou feminino).
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO [RJ], 2020) O genograma (familiograma) é uma ferramenta utilizada para descrever
as histórias das pessoas e suas famílias. Sobre a sua construção, é correto afirmar que:
A) o resumo das informações deve incluir, no mínimo, três gerações de membros familiares.
C) as representações gráficas são aleatórias e têm como principal objetivo expressar a função familiar.
D) esse instrumento é desenhado e mantido fixo como representação de um momento único da história familiar.
COMENTÁRIO:
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS - CERMAM [AM], 2020) Analise o genograma abaixo e marque a alternativa
CORRETA:
COMENTÁRIO:
Incorreta a alternativa B. Sofia é o caso-índice, já que o símbolo dela exibe duplo contorno.
Incorreta a alternativa D. Apenas moram juntos aqueles que estão dentro da linha (Carla, José, Sofia e os filhos Maria, Júnior, Lara, Lauro
e Carlos).
4.2.2 ECOMAPA
O ecomapa é outra ferramenta de abordagem familiar bastante usada no contexto da Medicina de Família e Comunidade. Também é
uma representação gráfica, que se destaca por expressar a relação entre a pessoa e o meio em que ela vive, mostrando, por exemplo, como
a pessoa se vincula ao serviço de saúde, à igreja e a atividades comunitárias. Pode ser aplicado também à família.
Veja exemplos dos meios sociais que podem ser incluídos no ecomapa:
TRABALHO
ANIMAL DE
GRUPOS
ESTIMAÇÃO
RECREATIVOS
PESSOA
FAMÍLIA
OU IGREJA
EXTENSA
FAMÍLIA
AMIGOS ESCOLA
UNIDADE DE
SAÚDE
Para representar o vínculo que a pessoa possui com cada elemento, são utilizados símbolos. Vamos conhecê-los, pois as provas cobram.
Relação conflituosa
Linha irregular
Relação rompida
Linha interrompida
Figura 11: simbologia do ecomapa a respeito das relações entre a pessoa (ou família) e o meio social. Fonte: (adaptada de GUSSO E CERATTI, 2019).
Note que linhas espessas se relacionam a ligações mais fortes que linhas finas. Sobre as setas, quanto
mais longa, indica que há uma maior dedicação rumo a quem está apontando.
Muitos símbolos novos, não é, Estrategista? Então, só tem um jeito, treinar para
guardar! Vamos ver como o ecomapa já foi abordado em provas de Residência Médica
e ficaremos prontos para qualquer questão do tema. Destaco que a UNICAMP gosta
desse tema. Vamos conversar sobre duas questões recentes dessa banca (2021 e 2019).
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - UNICAMP [SP], 2021 - DISCURSIVA) Tem por objetivo a representação dos relacionamentos dos
membros da família com os sistemas mais amplos. Desenvolvido como dispositivo de avaliação, planejamento e intervenção familiar, pode
ser utilizado para reestruturar comportamentos, relacionamentos e vínculos no tempo com as famílias, bem como modificar as percepções
das famílias sobre si mesmas.
RESPOSTA = Ecomapa.
COMENTÁRIO:
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - UNICAMP [SP], 2019) O ecomapa é um instrumento de avaliação familiar bastante útil no
mapeamento de redes, apoios sociais e ligações da família com a comunidade. Costuma ser utilizado em associação ao genograma, tanto para
fins diagnósticos quanto em planejamento de ações em saúde. Deve ser atualizado na medida em que ocorrem modificações no contexto
familiar, sejam elas de caráter social, cultural ou econômico.
A) Existe uma relação forte entre os filhos de uma família e a escola, com criação de vínculos e troca de experiências.
B) O relacionamento entre os filhos de uma família e a escola é fraco e estressante, sem trocas de apoio e dedicação.
C) Os filhos de uma família têm uma relação tênue ou incerta com a escola, dedicando-se pouco a ela e dela recebendo pouco apoio.
D) Os filhos de uma família dedicam quantidade moderada de energia para a escola, mas percebem que a escola os apoia.
COMENTÁRIO:
Apenas essa opção oferece uma relação tênue/incerta e um fraco vínculo entre a escola e os filhos da
Correta a alternativa C.
família.
São muito raras as questões sobre abordagem familiar que possuam como gabarito outras ferramentas que não sejam o genograma e
o ecomapa; no entanto, é frequente vermos nas outras opções nomes como “APGAR familiar” e “Practice”. Para que você saiba que existem
outras ferramentas e conhecer o básico sobre elas, a fim de ter segurança para identificá-las como erradas e estar pronto para não ser
surpreendido, trago as informações resumidas na tabela a seguir:
A ferramenta PRACTICE estuda o funcionamento familiar, A ferramenta APGAR familiar é uma metodologia que utiliza
fornecendo orientações sobre possíveis intervenções que um questionário com cinco perguntas a serem aplicadas a
possam atuar no problema familiar. A sigla PRACTICE vem das cada familiar, com questionamentos a respeito da satisfação
iniciais em inglês Presenting problem (problema); Roles and pessoal com os contextos familiares que aceitam respostas
structure (papéis e estrutura); Affect (afeto); Communication como “raramente” (0 ponto), “às vezes” (1 ponto) ou “sempre”
(comunicação); Time of life cycle (tempo); Illness in Family (2 pontos). A partir da contagem média dos pontos dos
(doenças na família); Coping with stress (lidando com o estresse) integrantes do grupo familiar, é possível caracterizar a família
e Ecology (ecologia, meio externo que possa apoiar a família). por sua funcionalidade (funcional, moderadamente funcional
ou gravemente disfuncional). A sigla APGAR aqui não é a mesma
da pediatria, significando iniciais de termos de língua inglesa:
Adaptation (adaptação); Partnership (participação); Growth
(crescimento); Affection (afeição) e Resolve (resolução).
Tabela 2: ferramentas de abordagem familiar: PRACTICE e APGAR familiar. Fonte: autoria própria.
Vamos ver um exemplo de questão que cita essas ferramentas de abordagem familiar:
CAI NA PROVA
(SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA MÉDICA NO ESTADO DO CEARÁ - SURCE [CE], 2021) Durante uma visita domiciliar de um paciente
acamado, você percebe um certo "clima pesado" entre os integrantes da família. É perceptível que a cuidadora está mais áspera nas suas
respostas; afinal de contas, já são 3 anos cuidando praticamente só do paciente. Qual ferramenta de abordagem familiar ajudará, de maneira
mais específica, a equipe de saúde da família a traçar estratégias para esse caso?
A) Ecomapa.
B) Genograma
C) PRACTICE
D) APGAR familiar
COMENTÁRIO:
Estrategista, já vou falar qual é o gabarito (ecomapa), mas antes veja a importância de “saber que existem” PRACTICE e APGAR, a fim
de ir excluindo alternativas.
Analisemos as alternativas:
O ecomapa é uma ferramenta que produz uma “rede social da família”, estabelecendo as relações entre
Correta a alternativa A.
os indivíduos da família e o meio social próximo (exemplo: membros que frequentam um clube ou o
serviço de saúde com assiduidade). Considerando que a cuidadora se encontra cansada e sozinha em sua função de cuidar, o ecomapa
seria uma excelente ferramenta de abordagem por ajudar a identificar quais outros vínculos sociais poderiam ser fortalecidos entre o
paciente e a comunidade, reduzindo em alguma proporção o cuidado contínuo da cuidadora (por exemplo, o paciente poderia permanecer
dois períodos da semana sob cuidados de reabilitação ou de estímulo às atividades de vida diária na unidade de saúde ou no centro
comunitário, “abrindo um horário” para a cuidadora descansar).
Incorreta a alternativa B. O genograma representa graficamente a estrutura familiar e abrange, por meio de símbolos, elementos como
genealogia, relacionamento emocional, doenças, ciclo vital etc. Essa ferramenta permite conhecer o indivíduo em seu contexto familiar,
auxiliando o entendimento sobre a influência de variados fatores “históricos” na vida da pessoa estudada (a chamada pessoa-índice),
além de identificar padrão de transmissão de doenças, entre outras aplicabilidades. No contexto da questão apresentada, o genograma
auxiliaria a entender o ambiente estressor que a família vive, mas como o enunciado cita a maneira mais específica em traçar estratégias
para esse caso, o ecomapa seria mais apropriado, já que identifica debilidades no relacionamento membro familiar-meio social e indica
um potencial alvo para a intervenção da equipe de saúde da família.
Incorreta a alternativa C. A ferramenta PRACTICE estuda o funcionamento familiar, fornecendo orientações sobre possíveis intervenções
que possam atuar no problema familiar. Esse método poderia identificar os problemas da família da questão e permitir a identificação dos
pontos de conflito que pudessem ser trabalhados. Contudo, entendemos não ter sido a melhor maneira para intervenção escolhida pela
banca, uma vez que o ecomapa fornece ao mesmo tempo o “diagnóstico” dos problemas familiares quanto à interação com o meio social
e já indica possível conduta para aperfeiçoar o contexto familiar.
Incorreta a alternativa D. O APGAR familiar utiliza um questionário com cinco perguntas a serem aplicadas a cada familiar e, a partir das
respostas, permite-se caracterizar a família por sua funcionalidade (funcional, moderadamente funcional ou gravemente disfuncional).
Embora o APGAR seja uma interessante ferramenta, não detalha os problemas familiares como o PRACTICE, o genograma e o ecomapa, e
não é o gabarito da questão.
Já vimos como ocorre a abordagem familiar, então nosso próximo passo será conhecer ferramentas que a
Medicina de Família e Comunidade pode utilizar para melhor conhecer e integrar-se à comunidade.
CAPÍTULO
Para Gusso e Ceratti (2019), a principal característica operacional que define a abordagem comunitária é a longitudinalidade.
Lembre-se de que a longitudinalidade é um atributo essencial Ou seja, para haver êxito no diagnóstico de uma situação na
da atenção primária que prevê o relacionamento próximo da equipe comunidade e para se intervir adequadamente, é necessário que a
com a população, de modo que sejam criados vínculos de confiança equipe seja próxima das pessoas. Como alcançar essa proximidade
e empatia ao longo do tempo (esse conceito você pode encontrar e com quais ferramentas atuar junto à comunidade é o que
detalhado no livro digital de Atenção Primária à Saúde). estudaremos nos próximos tópicos. Vamos lá?
Antes de se propor qualquer tipo de medida diante de um Por fim, conhecendo-se o território (muito além do que
problema comunitário, é inevitável que o primeiro passo seja realizar apenas o espaço, mas as dinâmicas “vivas” que nele ocorrem,
um levantamento (diagnóstico) da situação daquela comunidade. como socioeconômicas, políticas, epidemiológicas etc.), a equipe
Inicialmente, deve ocorrer a etapa preparatória, em que a pode então realizar o planejamento das ações. Afinal, não seria
equipe vai se planejar para realizar o levantamento, por exemplo, possível nenhum planejamento sem se preparar e conhecer a área
Veja como esse tópico já foi cobrado em uma questão do Revalida (2021):
CAI NA PROVA
(REVALIDA INEP, 2021) Em uma reunião da Unidade de Saúde da Família, com a presença dos membros das cinco equipes de Saúde da
Família, incluindo os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), decidiu-se que, em razão do aumento do número de usuários sem cadastro que
passaram a procurar a unidade para atendimento, seria iniciado o processo de atualização da territorialização, que inclui várias etapas e
principia pela fase preparatória. Considerando-se essa situação, que conjunto de ações e/ou atividades está incluído na etapa preparatória
do processo de territorialização?
A) Fazer o levantamento dos dados populacionais e socioeconômicos, analisar os dados, adquirir mapa do território, identificar os
equipamentos sociais com base no tamanho da população e delimitar o território de acordo com os dados obtidos.
B) Indagar às lideranças comunitárias sobre fatores facilitadores ou dificultadores do trabalho desenvolvido pela equipe de saúde e acerca
do funcionamento da unidade de saúde, além de obter informações sobre dificuldades de acesso à unidade.
C) Realizar entrevistas para levantar informações sobre o território e a vida das famílias e da comunidade, aspectos geográficos, políticos,
econômicos, sociais e culturais percebidos e de relevância para a comunidade.
D) Levantar a documentação (incluindo plano diretor do município, projetos e estudos, dados demográficos, econômicos e sociais; adquirir
mapa-base e definir responsabilidades, principalmente dos ACS (Agente Comunitário de Saúde) e dos profissionais mais antigos e/ou
moradores na área.
COMENTÁRIO:
Estrategista, para que uma unidade de saúde possa prestar um serviço adequado à população, é necessário que haja um conhecimento
dos diversos aspectos da vida daquela comunidade. A isso chamamos de territorialização. Assim, conhecer aspectos, como saneamento
básico, desemprego, desavenças políticas, doenças comuns na região e muitos outros, é fundamental na territorialização.
Repare que a questão fala de uma “etapa preparatória do processo de territorialização”, ou seja, ainda não são as ações em si, mas o
planejamento.
Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. O levantamento de dados e sua análise, tal como os demais itens citados, já fazem parte da territorialização, não
sendo mais uma etapa preparatória.
Incorreta a alternativa B. Mais uma vez, a alternativa descreve a própria territorialização e não a etapa preparatória.
Incorreta a alternativa C. Outra alternativa que descreve a territorialização propriamente dita.
Agora sim, estão citados apenas “momentos” prévios à realização da territorialização, configurando a
Correta a alternativa D.
etapa preparatória.
5 .2 ESTIMATIVA RÁPIDA
CAI NA PROVA
(SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE SÃO PAULO [SP], 2019) Um planejamento deve ser factível em termos de tempo e recursos. Que
metodologia proporciona uma análise de situação que possibilite coletar dados bastante confiáveis, em um tempo razoavelmente curto?
A) Grupo focal
B) Territorialização
C) Estimativa rápida
D) Observação direta
COMENTÁRIO:
Estrategista, perceba que a descrição é muito semelhante à que lhe apresentei de estimativa rápida. Analisemos as alternativas:
Em 2013, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Educação Popular em Saúde. A educação popular em saúde (EPS) prevê
uma troca de conhecimentos entre a população e a equipe da atenção básica, de modo que a voz da comunidade promova alterações nas
ações e serviços de saúde – cada vez mais direcionadas às necessidades específicas da população, transformando a realidade por meio do
cuidado.
A educação popular em saúde tem aparecido em provas! Em 2021, esteve em importantes provas, como na Universidade Federal do
Paraná e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vamos ver como foi?
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ [PR], 2021) É correto afirmar que a educação popular:
A) baseia-se nos conhecimentos que são necessários à população após a análise dos indicadores de saúde.
B) é uma metodologia usada para as classes populares com simplificação de conceitos científicos percebidos pelos educadores como
essenciais.
D) é uma metodologia usada para passar informações às comunidades fazendo a promoção à saúde.
E) diz respeito à necessidade de os educadores estarem preparados para transmitir informações a pessoas com diferentes graus de instrução.
COMENTÁRIO:
Estrategista, lembre-se de que a educação popular em saúde (EPS) preza pela integração entre os conhecimentos da população e dos
profissionais, não sendo uma função de ensino dos profissionais sobre a população.
Analisemos as alternativas:
Incorretas as alternativas A, B e E. A EPS não pretende ensinar a população.
Incorreta a alternativa D. Na EPS, a equipe de saúde absorve saberes, experiências e viveres da comunidade.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE [RN], 2021) A educação popular é um instrumento que possibilita a abordagem
integral na assistência à saúde. Ela parte da concepção de que todas as pessoas têm saberes e experiências acumuladas.
B) construir um saber dialogado e participativo, fortalecendo o protagonismo social das pessoas envolvidas.
C) repassar o saber biomédico para a população, identificando, de forma objetiva, as patologias individuais.
COMENTÁRIO:
Fazer a comunidade estar inserida no serviço de saúde e aperfeiçoar as ações e serviços prestados às
Correta a alternativa B.
necessidades das pessoas caracteriza a EPS.
A terapia comunitária integrativa (TCI) é uma intervenção coletiva que tem como objetivo criar e fortalecer os vínculos sociais.
Sua proposta é ocorrer como uma roda com os membros da comunidade, em que cada um compartilha experiências, vivências e saberes,
favorecendo o fortalecimento da identidade e da autoestima da comunidade.
A terapia comunitária traz resultados clínicos, observáveis pela redução do processo de somatização e de complicações
clínicas após o bem-estar proporcionado aos participantes por poderem falar e serem ouvidos, compartilhando temores e medos,
mas também sucessos e experiências positivas. Ela pode ser resumida como um mecanismo para formação e fortalecimento de
redes sociais solidárias.
A TCI funciona como um espaço de acolhimento psíquico, que reduz o sofrimento das pessoas e está incluída na chamada Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares.
5 .5 ATENÇÃO DOMICILIAR
O domicílio é considerado como um possível ponto de elemento para garantir a integralidade do cuidado na atenção
atenção à saúde pela Portaria 4.279/2010 do Ministério da Saúde, primária. No Brasil, ela foi definida pela Portaria 963/2013 do
o que é adequado, uma vez que nele podem ser desenvolvidas Ministério da Saúde e reformulada pela Portaria 825/2016. Vamos
ações em todos os níveis de prevenção, como promoção da saúde, analisar os pontos fundamentais para as provas de Residência
diagnóstico, reabilitação etc. Médica.
Peço a sua atenção em relação a esse tema, pois a engenharia reversa mostra frequentes questões
sobre ele nos últimos anos, em diferentes instituições (por exemplo: USP, UFRN, UFT, Santa Casa de Belo
Horizonte, UEPA, SURCE).
Pessoa(s), com ou sem vínculo familiar com o usuário, apta(s) a auxiliá-lo em suas necessidades
Cuidador e atividades da vida cotidiana e que, dependendo da condição funcional e clínica do usuário,
deverá(ão) estar presente(s) no atendimento domiciliar.
Tabela 3: conceitos em atenção domiciliar. Fonte: adaptado da Portaria 825/2016 do Ministério da Saúde.
A atenção domiciliar deve prezar por diretrizes, como a prática do acolhimento e da humanização, ser incorporada ao sistema
de regulação (com a Atenção Básica coordenando o cuidado) e estimular a participação ativa do usuário, da família, do cuidador e dos
profissionais da saúde.
O Serviço de Atenção Domiciliar deverá articular-se com os outros serviços da Rede de Atenção à Saúde,
principalmente hospitais, serviços de urgência e atenção básica, buscando evitar demanda direta dos usuários.
Redução da
Redução do período
demanda por
de permanência de
atendimento
usuários internados
hospitalar
Humanização da Desinstitucionalização
atenção à saúde, e otimização dos
com a ampliação da recursos financeiros e
autonomia dos estruturais da Rede
usuários de Atenção à Saúde
Antes de definir modalidades de atenção, é fundamental indicar corretamente para quem está destinado o serviço de atenção domiciliar.
• Atenção Domiciliar 1
AD 1 • Responsáveis: equipes de atenção básica
• Atenção Domiciliar 2
• Responsável: Serviço de Atenção Domiciliar
AD 2
• Atenção Domiciliar 3
AD 3 • Responsável: Serviço de Atenção Domiciliar
• AD 1: usuários que necessitem de cuidados com menor frequência e com menor necessidade de intervenções
multiprofissionais; supõe-se estabilidade clínica e bons cuidados dos cuidadores. Os atendimentos são prestados pela atenção
básica, com apoio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), ambulatórios especializados e centros de reabilitação.
• AD 2: usuário com indicação de atenção domiciliar e que apresente condições para as quais se tentará evitar ou abreviar
internação. São as condições:
օ Afecções agudas ou crônicas agudizadas, como tratamentos parenterais ou reabilitação;
օ Afecções crônico-degenerativas, considerando o grau de comprometimento causado pela doença, que demande
atendimento no mínimo semanal;
օ Necessidade de cuidados paliativos com acompanhamento clínico no mínimo semanal, com o fim de controlar a dor
e o sofrimento do usuário;
օ Prematuridade e baixo peso em bebês com necessidade de ganho ponderal.
• AD 3: AD 2 + necessidade de cuidados mais frequentes ou procedimentos complexos, como ventilação mecânica, paracentese
de repetição, nutrição parenteral e transfusão sanguínea.
As equipes que compõem o Serviço de Atenção Domiciliar (também chamado de Melhor em Casa pelo governo federal). podem ser
equipes multiprofissionais de atenção domiciliar (EMAD) ou equipe multiprofissional de apoio (EMAP). As EMAD são as fundamentais para
o SAD e não pode haver EMAP se não houve EMAD.
As EMAD podem ser dos tipos 1 e 2. Veja na figura a seguir como são formadas as equipes:
Figura 13: composição das equipes multiprofissionais de atenção domiciliar (EMAD) tipos 1 e 2, e da equipe multiprofissional de apoio (EMAP). Fonte: adaptado da
Portaria 825/2016 do Ministério da Saúde.
As EMAD devem visitar cada usuário pelo menos uma vez por semana, funcionando no mínimo 12 horas por
dia, todos os dias (inclusive finais de semana e feriados). A atenção básica deve participar do trabalho com o
Serviço de Atenção Domiciliar, promovendo o Projeto Terapêutico Singular.
Ufa! Tema extenso, hein, Estrategista?! Respire fundo e vamos agora ver como as bancas cobram atenção
domiciliar (sugiro depois voltar ao texto e notar o que mais é enfatizado nas questões).
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP [SP], 2020) O cuidado domiciliar amplia o espectro da atenção das equipes que cuidam dos pacientes
no domicílio, incorporando aspectos de prevenção, promoção e reabilitação. Segundo a Portaria 2.527, que redefine a Atenção Domiciliar no
âmbito do Sistema Único de Saúde, pode-se afirmar que:
A) as modalidades A2 e A3 exigem maior complexidade tecnológica e deverão ficar sob responsabilidade do Serviço de Assistência Domiciliar
(SAD), nos municípios com menos de 40 mil habitantes.
B) deve ser estruturada na perspectiva das Redes de Atenção à Saúde, tendo a atenção hospitalar como coordenadora do cuidado.
C) é uma modalidade de atenção à saúde que substitui e complementa o cuidado prestado em outro ponto da Rede de Atenção à Saúde.
D) o Serviço de Assistência Domiciliar (SAD) deverá estar integrado ao Sistema de Regulação Médica, sem ser referência para a Rede de
Atenção às Urgências.
COMENTÁRIO:
Estrategista, essa é uma questão padrão USP: sempre rica em conceitos. Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), que presta a atenção domiciliar tipos 2 e 3, tem previsão de uma
população municipal igual ou superior a 20.000 (vinte mil) habitantes.
Incorreta a alternativa B. A atenção primária sempre é a coordenadora do cuidado.
A pessoa em atenção domiciliar recebe cuidados que poderia estar recebendo em outro ponto da rede,
Correta a alternativa C.
por exemplo, em uma longa permanência em instituição hospitalar.
Incorreta a alternativa D. O Serviço de Atenção Domiciliar deve articular-se com outros pontos da rede, em especial com os hospitais e
urgências.
(SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ - SURCE [CE], 2020) Em reunião de equipe de saúde da família
(ESF), a agente comunitária de saúde (ACS) solicita receita de anti-hipertensivo para o Sr. Ageu, 86 anos, pois o mesmo não virá à consulta
agendada para esse mês por impossibilidade de locomoção. Ao todo, são 6 medicações prescritas, entre anti-hipertensivos, antidiabéticos,
antiplaquetários e hipolipemiante. A ACS relata que, há quinze dias, o paciente sofreu uma queda no banheiro, o que aumentou sua dificuldade
de deambulação. Diante da situação apresentada, qual o melhor plano terapêutico para o Sr. Ageu?
LEGENDA: Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD).
COMENTÁRIO:
Estrategista, o primeiro passo é classificar a modalidade de atenção domiciliar (AD) de que o Sr. Ageu necessita. A limitação de locomoção
já caracteriza a necessidade da AD, mas de qual tipo?
A AD 1 é o modo mais básico para pessoas com estabilidade de sintomas e que necessitem de cuidados com menor frequência; já a
AD 2 preocupa-se, por exemplo, com situações agudas e agudizadas. A situação do Sr. Ageu não tem relato de condição aguda, então a AD 1
está bem indicada.
• AD 1 – Atenção básica;
• AD 2 e 3 – Serviço de Atenção Domiciliar.
Analisemos as alternativas:
Está indicada AD 1 para esse caso que necessita menor frequência de visitas e deve ser prestada pela
Correta a alternativa A.
atenção básica (Estratégia Saúde da Família).
(SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO MARANHÃO [MA], 2016) Em relação à Organização da Atenção Domiciliar (Portaria Ministerial da
Saúde nº 963, de 27 de maio de 2013), é correto afirmar que:
A) A EMAP (Equipes Multiprofissionais de Apoio Domiciliar) terá composição mínima de 4 (quatro) profissionais de nível superior.
B) Nos Municípios com população inferior a 40.000 (quarenta mil) habitantes, a cobertura por serviço móvel local de atenção às urgências
igual à do SAMU 192 será, também, considerada requisito para a implantação de um SAD.
C) Na EMAD tipo 1 (Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar), os profissionais médicos devem ter somatório de Carga Horária Semanal
(CHS) de, no mínimo, 30 (trinta) horas de trabalho.
D) Na EMAD tipo 2 (Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar), os profissionais enfermeiros devem ter somatório de CHS de, no
mínimo, 40 (quarenta) horas de trabalho.
E) Possuir hospital de referência no município ou região a qual integra, o serviço é uma das condições para que os municípios tenham SAD
(Serviço de Atenção Domiciliar).
COMENTÁRIO:
Estrategista, essa questão inclui a composição das equipes entre as alternativas. Analisemos:
Incorreta a alternativa A. São pelo menos 3, e não 4, os profissionais de nível superior da EMAP.
Incorreta a alternativa B. Essa é uma particularidade muito detalhada da portaria, mas trata-se de serviço móvel local de atenção às
urgências equivalente, e não igual ao SAMU 192. Não se preocupe com um detalhe assim, o mais importante é assimilar os critérios gerais
da atenção domiciliar.
Incorreta a alternativa C. A carga horária deve ser de, no mínimo, 40 horas de trabalho.
Incorreta a alternativa D. São 30 horas, e não 40.
Estamos caminhando bem pelas trilhas da MFC! Vamos então ao nosso próximo capítulo, no qual entenderemos
as ferramentas que o médico pode utilizar para otimizar sua comunicação com as pessoas.
CAPÍTULO
Fonte: Shutterstock.
Fonte: Shutterstock.
Havendo uma relação de proximidade entre a pessoa e o médico, nada mais natural que as decisões tomadas no tratamento sejam
compartilhadas. O conceito de decisão compartilhada atribui ao médico a função de esclarecer a pessoa sobre seu tratamento (diagnóstico,
tratamento, prognóstico), de modo que a pessoa possa entender riscos e benefícios, e conjuntamente possa ser definida a melhor estratégia
de cuidado.
Na relação médico-pessoa, o médico de família e comunidade pode adotar a chamada entrevista motivacional,
que consiste em estimular a motivação da pessoa para realizar uma mudança, por exemplo, iniciar a prática de
atividades físicas. Apesar de comumente citada no contexto da dependência química, ela pode ser utilizada em
qualquer contexto de cuidado, promovendo a participação e a autonomia da pessoa.
Vamos ver como esses primeiros conceitos da relação médico-pessoa já foram abordados recentemente em
provas.
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP [SP], 2021) Mulher de 65 anos de idade, oriunda de região rural e vivendo em São Paulo há dois anos,
procura a Unidade Básica de Saúde porque está com sangramento vaginal esporádico há seis meses. Estava com medo de ir à consulta médica
porque nunca fez exame ginecológico e tem muita vergonha. Acha que o sangramento acontece porque a “mãe do corpo” está muito baixa
e vem tomando chá sem melhora. O caso remete à importante tarefa do cuidado em saúde, particularmente na atenção primária, que é a
construção de contatos terapêuticos culturalmente sensíveis.
A) É necessário desmistificar respeitosamente a noção de “mãe do corpo” para que o contato terapêutico possa ser bem-sucedido.
B) É necessário estabelecer as racionalidades terapêuticas diversas para uma boa relação médico-paciente.
C) É necessário adaptar os termos usados pelos profissionais ao universo cultural dos pacientes para que a explicação correta do adoecimento
e, em consequência, a do tratamento supere medos e constrangimentos.
D) É necessário relacionar a experiência da doença vivida pelos pacientes com o modo como é compreendida pelos profissionais de saúde
para que a interculturalidade possa ser produtiva.
COMENTÁRIO:
Estrategista, perceba que a usuária traz para a consulta toda uma concepção cultural própria e a questão solicita a conduta profissional
diante disso. Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. A equipe não deve interferir nas crenças do usuário, devendo respeitar e garantir a autonomia.
Incorreta a alternativa B. A boa relação médico-pessoa implica em respeito pela crença da pessoa e não imposição de racionalidade
terapêutica.
Incorreta a alternativa D. A experiência da doença deve ser vista sob o ponto de vista da pessoa e não do profissional.
(BANCO DE OLHOS DE GOIÁS [GO], 2021) A relação médico-paciente é uma relação humana caracterizada pela busca de ajuda, bem como
pelo fornecimento de uma solução. A boa relação médico-paciente é fundamental para que o profissional possa realizar um trabalho de
excelência. Devido às mudanças culturais e ambientais ocorridas a partir do século XX, a relação médico-paciente também se modificou,
porquanto antigamente tratava-se de:
A) Uma relação horizontal, na qual o conhecimento pertencia à ala médica e o paciente possuía um papel ativo.
B) Uma relação vertical, na qual o conhecimento pertencia à ala médica e o paciente possuía um papel passivo.
C) Uma relação predominantemente horizontal, na qual o médico era o consultor de saúde e o paciente possuía um papel passivo.
D) Uma relação vertical, na qual o conhecimento pertencia ao médico que atuava como consultor de saúde e o paciente possuía um papel
ativo.
COMENTÁRIO:
Estrategista, a questão pergunta como era a relação médico-paciente antigamente. Vamos entender os termos “vertical” e “horizontal”
utilizados pelas alternativas:
• Vertical: transmite a ideia de “cima para baixo”, ou seja, como se houvesse uma hierarquia de importância entre o médico e
o paciente – assim era anteriormente;
• Horizontal: médico e pessoa estão no mesmo patamar; veja que até se prefere utilizar “pessoa” a “paciente”, já que nesse
modelo o usuário tem autonomia e participa ativamente do cuidado.
Analisemos as alternativas:
Incorretas as alternativas A e C. Anteriormente predominava um modelo vertical de cuidados médicos.
Incorreta a alternativa D. O paciente não possuía papel ativo e o médico não representava o papel de um consultor (que aconselha), mas
de detentor do conhecimento.
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - UNICAMP [SP], 2017) Um paciente relata, durante uma consulta médica, ter procedido
exaustiva pesquisa na rede mundial de computadores relacionada a seu problema de saúde. O médico, na busca da qualificação da relação
clínica e projeto terapêutico, deve:
C) Demonstrar a fragilidade das informações obtidas, visto que carecem de rigor científico.
D) Lembrar o paciente de que apenas o médico pode diagnosticar enfermidades e prescrever terapêuticas.
COMENTÁRIO:
Estrategista, o usuário chegou ao médico com informações prévias coletadas na internet, possivelmente nem todas de acordo com a
medicina baseada em evidências, mas o médico deve respeitar. Para a pessoa, essas informações podem ter causado preocupação, medo ou
outros sentimentos, de modo que não cabe ao profissional de saúde sumariamente negá-las ou ridicularizar o paciente, mas deve acolhê-lo
e construir um diálogo a partir disso.
Analisemos as alternativas:
Incorretas as alternativas A, C e D. A abordagem do médico deve respeitar os conhecimentos da pessoa.
Permitir que a pessoa se expresse, além de trazer subsídios a pessoa reflita e aperfeiçoe sua capacidade de lidar com fatores
que permitam ao médico a identificação dos problemas, pode ser estressantes – trazendo vantagens clínicas ao cuidado.
um instrumento também terapêutico. Vamos analisar algumas estratégias, que já estiveram em
Receber um olhar de compreensão, perder uma lágrima ou provas, que o médico de família e comunidade pode utilizar para
mesmo sentir um toque na mão ou no braço podem permitir que estimular a narrativa da pessoa.
6.1.1 DESVELAMENTO
O desvelamento faz referência ao mecanismo de “organizar pensamentos caóticos permitindo então que os estressores sejam
interpretados e avaliados” (GUSSO E CERATTI, 2019).
Para não esquecer: lembre-se de uma radiografia de tórax que tenha um velamento
do seio costofrênico. Nesse caso, você não está vendo o seio, pois ele está velado, ou seja,
coberto. O desvelamento é um processo de “descobrir”, de trazer à tona os pensamentos
confusos, para que sejam organizados e analisados de forma efetiva.
Por exemplo, o médico de família estimula o desvelamento quando solicita que a pessoa conte tudo o que lhe causa sofrimento na sua
vida e, em seguida, juntos tentam “organizar” os pensamentos, entendendo o que realmente é o problema a ser enfrentado.
Essa é uma técnica conhecida e universalmente utilizada pelos médicos a fim de obter a narrativa das pessoas. No entanto, para
promover a expressão da pessoa, não basta fazer perguntas quaisquer; elas devem permitir ao médico entender a crença da pessoa em
relação ao seu adoecimento.
São perguntas que podem permanecer por longo tempo na lembrança das pessoas e se tornarem até mesmo uma reflexão e fonte de
suporte emocional.
Por exemplo, o médico pode perguntar a um paciente hipertenso como ele pensa que aquela doença pode influenciar o futuro
dos seus filhos e o usuário sempre lembrar disso quando for escolher entre opções alimentares saudáveis ou não.
6.1.3 JOURNALING
Esse termo em inglês lembra “jornalismo” e sua compreensão é próxima disso: faz referência a
estimular a pessoa a escrever sobre aspectos estressantes de sua vida, podendo representar um “desabafo”
para a pessoa, além de permitir ao médico o direcionamento do diagnóstico exato.
No contexto da comunicação entre médico e pessoa, destaco ainda dois conceitos: resiliência e empoderamento.
¾ A partir da expressão da pessoa, o médico deve estimular a resiliência, que pode ser traduzida pelo
fortalecimento da pessoa para lidar com seus problemas. Ela sabe que os problemas “não desaparecerão”, mas
o seu modo de enfrentá-los será ativo, otimista e confiante; podemos afirmar que a resiliência será um modo
fortalecido de se reconstruir frente a uma adversidade.
¾ O empoderamento relaciona-se à pessoa sentir-se no controle de seu adoecimento, dialogando com o
médico e a equipe a respeito de diagnósticos, prognósticos e todos os demais aspectos, de modo que o usuário
se sinta inserido como polo ativo no cuidado e também responsável pelo sucesso do tratamento.
Chegou aquele momento legal de conferir as questões, quando nos alegramos por perceber que
já dominamos mais um assunto para a prova ;)
CAI NA PROVA
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO [RJ], 2019) Mulher de 54 anos, após a menopausa, procura atendimento médico
para fazer reposição hormonal. Seu médico solicita os exames que avaliam os riscos e benefícios desse tratamento. A mamografia identifica
um carcinoma de mama. Apesar do resultado desse exame, a paciente agradece ao médico pelo diagnóstico precoce. A capacidade de uma
pessoa manter ou recuperar a saúde mesmo diante de situações adversas como essa, refere-se ao conceito de:
A) empoderamento.
B) desvelamento.
C) resiliência.
D) journaling.
COMENTÁRIO:
Estrategista, a capacidade de a pessoa “reconstruir-se” diante de uma situação difícil e ficar apta para enfrentar a adversidade relaciona-
se ao conceito de resiliência.
Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. Faz menção à participação ativa da pessoa em seus cuidados pelo adoecimento, de modo que esteja “no
controle da situação”.
Incorreta a alternativa B. O desvelamento é a organização de vários pensamentos, a fim de se criar uma completa compreensão da
situação.
Incorreta a alternativa D. É uma técnica que consiste em estimular a pessoa a escrever sobre aspectos estressantes de sua vida.
(ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL - AMRIGS [RS], 2018) Em casos de estresse somático crônico e para entender o processo
de saúde-doença e melhorar a resposta terapêutica, pode-se utilizar a promoção _________, que é o ato de possibilitar à pessoa falar ou
evidenciar algum agente estressante, alguma coisa que esteja mantida "em segredo" e que, não raro, a pessoa sente ou percebe que está
afetando sua vida pessoal.
A) da adaptação.
B) da resiliência.
C) do empoderamento.
D) do desvelamento.
E) da empatia.
COMENTÁRIO:
Estrategista, falar o que está em segredo indica desvelar, ou seja, tirar o velamento de algo.
Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. A adaptação e seus transtornos você verá em detalhes com o Prof. Thales nos livros digitais de psiquiatria, mas
adianto que não se relaciona a expor condições potencialmente estressantes, como solicitado.
Incorreta a alternativa B. A resiliência transmite a ideia de um modo confiante e fortalecido de reconstruir-se diante de uma adversidade.
Incorreta a alternativa C. Empoderamento relaciona-se a estar “no controle da situação” e não em relatar os fatores estressantes.
Incorreta a alternativa E. A empatia faz menção a uma postura amigável e confiável, também não se relacionando ao enunciado.
6 .2 A RELIGIOSIDADE
Figura 14: a religiosidade deve ser estimulada, sempre com respeito às opções
da pessoa. Fonte: Shutterstock.
A espiritualidade pode ser conceituada como a reflexão que fazemos sobre a crença em algo maior que nós.
Quando o médico a aborda, está incluindo a prática da integralidade, ou seja, vendo a pessoa como um todo.
A atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2019) afirma que
“há um conjunto de evidências que demonstram forte relação entre espiritualidade, religião, religiosidade e os
processos de saúde, adoecimento e cura, compondo junto dos aspectos físicos, psicológicos e sociais a visão
integral do ser humano.”
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO [MA], 2021) A saúde em sua essência é constituída por fatores físicos, mentais, sociais e espirituais.
Em razão desses determinantes, assinale a alternativa CORRETA sobre a importância da espiritualidade e religiosidade como ferramenta para
o enfrentamento do adoecimento:
A) É importante evitar que a religiosidade interfira na terapêutica, protegendo o paciente de eventuais efeitos depreciativos sobre suas
convicções religiosas.
B) A religiosidade pode favorecer atitudes positivas e, também, negativas, porém seu potencial de impacto é indiferente para melhora ou
piora da qualidade de vida das pessoas em tratamento.
C) O uso da religiosidade para lidar com a doença pode mobilizar atitudes positivas e também negativas com um potencial de impacto
significativo para melhora ou piora da qualidade de vida das pessoas em tratamento.
D) No contexto da saúde e doença, é importante tornar o ambiente clínico isento de influências ligadas aos aspectos religiosos e espiritualistas,
que podem prejudicar a eficácia da terapêutica estabelecida.
COMENTÁRIO:
Estrategista, a espiritualidade é um componente importante da vida de cada pessoa, seja por influenciar suas escolhas de vida, seja
pelo modo que se relaciona com as demais. Assim sendo, ela sempre deve ser respeitada (independentemente de concordância pessoal do
profissional de saúde) e os aspectos a ela relacionados devem ser considerados no plano terapêutico para alcançar-se a integralidade do
cuidado.
Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa A. Abranger a espiritualidade no plano terapêutico significa respeitar o paciente e preocupar-se com sua
integralidade, além de reconhecer as evidências científicas de que ela possa representar um benefício para a qualidade de vida.
Incorreta a alternativa B. A espiritualidade pode, sim, exercer impactos sobre a qualidade de vida.
A espiritualidade é uma ferramenta valiosa e pode ser bem utilizada (como por meio de atividades positivas
Correta a alternativa C.
de meditação e promoção da saúde) ou pode ser mal utilizada e ser danosa (por exemplo, por convicções
de não adotar determinada terapêutica).
Incorreta a alternativa D. O profissional é livre para ter suas escolhas, mas não deve de modo algum limitar o ambiente clínico quanto à
espiritualidade dos pacientes.
A comunicação de más notícias sempre é um momento difícil na prática clínica, envolvendo as emoções do usuário, de sua família e do
próprio profissional que a repassa.
Já foram propostos vários protocolos sobre como repassar más notícias aos usuários e família, como o brasileiro PACIENTE (Pereira,
2010). No entanto, o mais cobrado em provas de Residência Médica é o chamado Protocolo SPIKES (BUCKMAN, 1992; BAILE E BUCKMAN,
2000), baseado em seis passos. Embora, inicialmente, tenha sido proposto para pacientes em situação oncológica, o SPIKES pode ser aplicado
nos mais diversos contextos.
Vejamos na tabela que segue o que cada letra do acrônimo SPIKES significa:
Relaciona-se ao
Setting Ex.: escolher o melhor local para comunicar, como o
S planejamento de como
(planejamento) consultório ou uma área externa.
será transmitida a notícia.
Relaciona-se ao convite
Ex.: perguntar “Você gostaria que eu explicasse mais a
I Invitation (convite) para conversar sobre o
fundo o seu problema?”.
caso.
Relaciona-se a
Knowledge transmitir a informação Ex.: explicar a situação à pessoa, utilizando-se de modo
K
(conhecimento) (conhecimento) ao empático e linguagem clara.
usuário.
Relaciona-se a abordar
Explore emotions Ex.: disponibilizar-se para conversar sobre o assunto
E as emoções após a
(abordar emoções) quando a pessoa desejar.
comunicação.
Relaciona-se ao
Ex.: fazer um resumo e certificar-se de que a mensagem
S Strategy (estratégia) encerramento, em
foi passada com clareza.
sintetizar o que foi dito.
Tabela 4: descrição do Protocolo SPIKES. Fonte: adaptado de BUCKMAN (1992) e BAILE E BUCKMAN (2000).
Você já tem as informações necessárias para resolver as questões sobre Protocolo SPIKES. Vamos
treinar?
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - UNIFESP [SP], 2021) Na prática clínica pediátrica para a comunicação de más notícias, o Protocolo
SPIKES de Bayle e Buckman (2000) tem sido utilizado. Sobre esse protocolo, assinale a alternativa correta:
A) Deve-se formular perguntas abertas para investigar o que a família quer saber sobre a doença e o tratamento de seu filho.
B) Durante o processo de comunicação, períodos de silêncio podem provocar muita angústia e devem ser evitados.
C) O sexto passo deve ser suprimido em caso de morte, uma vez que não é mais possível fazer um plano terapêutico para paciente e
familiares.
D) Com o objetivo de evitar angústia e sofrimento, deve-se evitar abordar situações de incerteza sobre diagnóstico e prognóstico.
COMENTÁRIO:
Estrategista, note que o SPIKES não é utilizado apenas para a pessoa adoecida; nesse caso pediátrico, a comunicação será entre o
médico e os responsáveis.
Analisemos as alternativas:
Incorreta a alternativa B. Os sentimentos da pessoa devem ser respeitados; então, se for necessário haver uma pausa, não há problemas.
Incorreta a alternativa C. Mesmo em caso de evolução desfavorável, a síntese do que foi dito (item “S”) deve ocorrer.
Incorreta a alternativa D. O usuário (ou seu responsável) tem direito de ser informado sobre a condição clínica.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO [MA], 2021) "A comunicação é uma ferramenta utilizada para a prática de uma boa assistência em
saúde. Uma má notícia é qualquer informação que altera drasticamente a perspectiva que uma pessoa tem sobre o seu futuro. O que de fato
é uma má notícia dependerá das vivências e expectativas que o receptor tem da notícia recebida". (D'Alessandro et al; Ministério da Saúde;
2020). Assinale a alternativa INCORRETA em relação ao protocolo SPIKES para comunicação de más notícias:
A) Avaliar a percepção do paciente é a segunda etapa. Utilizando perguntas, o médico tenta perceber o quanto o paciente compreende seu
estado atual.
B) Planejar a conversa é o primeiro passo. O médico planeja onde e como dará a má notícia ao paciente e como responderá às reações
emocionais dele.
C) Obter o convite do paciente é o primeiro passo. A maioria dos pacientes não deseja ter conhecimento detalhado sobre sua patologia, seu
tratamento e sua evolução. Dessa forma, o médico deve, primeiro, abordar a família que decidirá se o indivíduo doente será abordado.
D) Abordar as emoções dos pacientes com respostas afetivas é a quinta etapa do protocolo. Como os pacientes podem reagir de diferentes
formas, essa é uma das etapas mais difíceis na transmissão da má notícia. É fundamental dar ao indivíduo o tempo necessário para ele
acalmar-se.
COMENTÁRIO:
Incorreta a alternativa C. O primeiro passo é o planejamento. O convite (“I”, de invitation) é o terceiro passo.
É, Estrategista, a boa comunicação entre médico-pessoa é uma arte! Chegou a hora de conhecer como o
próprio médico pode ser terapêutico e o que fazer diante de um caso desafiador quanto à relação com a
pessoa. Vamos conhecer o trabalho do famoso professor Balint!
CAPÍTULO
O trabalho do médico deve funcionar como uma droga, o que se relaciona aos fenômenos da transferência e
contratransferência.
¾ Transferência: o usuário traz para a relação com o médico experiências e aspectos afetivos do passado (por
exemplo: “gosto desse médico porque parece meu primeiro namorado”; “acho que essa médica deve ser tão
irritante quanto a anterior que me atendeu"; "me senti bem nessa consulta, pois o médico fala de modo firme e
ao mesmo tempo amável, como meu pai”.
¾ Contratransferência: quando o médico atribui de volta ao usuário um aspecto afetivo.
Perceba que tanto a transferência como a contratransferência podem carregar aspectos positivos
(que fortaleçam o vínculo) ou negativos. Quando o usuário apresenta uma transferência positiva em relação
ao médico, suas orientações serão bem mais “ouvidas”, e o médico passa a exercer o efeito droga.
No entanto, Estrategista, o médico e os demais profissionais de saúde podem não se sentir à vontade ou acharem que não estão
plenamente sendo um "efeito droga". Indo mais além, um processo intenso de transferência e contratransferência pode fazer o profissional
(não apenas o médico) sentir-se esgotado – como se fosse um caso de síndrome de Burnout (detalhada pelo Prof. Thales no seu material de
psiquiatria).
O grupo Balint deve ter entre 6-12 membros, ser fixo (grupo
fechado), possuir um líder e um colíder, e ter duração entre
1h30min-2h. Reunidos em uma roda, o líder pergunta quem tem
algum caso para compartilhar (exposição oral, pelas lembranças,
e sem anotações) e em seguida abre a discussão. O foco do grupo
Balint não é representar uma terapia em grupo, mas um crescimento
conjunto da abordagem entre o profissional da saúde e a pessoa.
Figura 16: grupo Balint em funcionamento: reunião em roda, pelo menos 6
membros, presença de líder e colíder, com duração entre 1h30-2h.
CAI NA PROVA
(SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE [RJ], 2020) Nas discussões dos casos atendidos pelas equipes da Atenção Primária, uma característica do
grupo Balint é:
COMENTÁRIO:
Incorreta a alternativa D. A ideia não é discutir o caso clínico, mas o relacionamento dos profissionais com os usuários.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO [ES], 2019) Os grupos Balint são ferramentas baseadas na teoria do médico Michael Balint,
cujo objetivo principal é:
COMENTÁRIO:
Estrategista, essa questão pede o conceito mais fundamental do grupo Balint: a que ele se destina.
Analisemos as alternativas:
Incorretas as alternativas B, C e D. Não se referem ao objetivo do grupo Balint (relacionamento com as pessoas).
Poxa, o quanto já aprendemos sobre como lidar com a relação médico-pessoa! No nosso penúltimo capítulo,
vamos então aprender a lidar com uma situação difícil, sempre envolvendo muitos sentimentos: os cuidados
paliativos.
CAPÍTULO
Os cuidados paliativos destinam-se a oferecer cuidados dignos a pessoas adoecidas por doenças
ameaçadoras à vida – de caráter crônico ou agudo, com ou sem possibilidade de cura.
Independentemente da idade (desde crianças a idosos), qualquer pessoa que possui doença crônica e/ou ameaçadora à vida pode se
beneficiar dos cuidados paliativos. É importante ressaltar que os cuidados paliativos não se destinam apenas a determinado nível de atenção
à saúde: os cuidados paliativos devem estar presentes em todos os níveis de atendimento.
Vamos observar a figura a seguir que correlaciona o processo do adoecimento com os cuidados paliativos:
Figura 17: cuidados paliativos precocemente introduzidos juntamente com o tratamento da condição ameaçadora da vida. Fonte: adaptado da Organização Mundial da
Saúde (2007).
Note que o tratamento e o cuidado paliativos relacionam-se: ocorrem paralelamente. Ou seja, não existe um dado momento do
adoecimento em que se passa a indicar o cuidado paliativo. Se a doença é ameaçadora da vida, inicia-se ao mesmo tempo o tratamento e
o cuidado paliativo.
Matsumoto (2009), em seu livro de referência Cuidados paliativos: conceito, fundamentos e princípios, define
princípios norteadores para a prática desses cuidados. Conhecê-los vai ajudá-lo a compreender como se
desenvolvem os cuidados:
¾ Reafirmar a vida e sua importância;
¾ Compreender a morte como um processo natural, sem antecipar ou postergar;
¾ Iniciar o mais precocemente possível os cuidados paliativos junto aos chamados “tratamentos
modificadores da doença” (que buscam a cura, o controle dos sintomas ou mesmo a paliação);
¾ Perceber a pessoa integralmente, incluindo aspectos espirituais e psicossociais – sendo imprescindível
uma equipe multidisciplinar;
¾ Compreender a família e os entes queridos, oferecendo suporte durante o adoecimento e também no
processo de luto;
¾ Promover a qualidade de vida, possibilitando que a pessoa viva de modo tão ativo quanto possível, até a
sua morte.
A Resolução 41/2018 do Ministério da Saúde tratou dos cuidados paliativos no contexto do Sistema Único de Saúde. Nossa engenharia
reversa não detectou questões específicas sobre essa abordagem, mas para que você saiba que existe essa normativa, destaco para você o
quadro a seguir, com informações fundamentais caso as provas passem a tratar do assunto:
Atenção Básica:
Incluiu os cuidados Será elegível para
ordenadora da rede e
paliativos como Os cuidados cuidados paliativos
coordenadora do
parte dos cuidados paliativos deverão toda pessoa afetada
cuidado, será
continuados ser ofertados em por uma doença que
responsável por
integrados qualquer ponto da ameace a vida, seja
acompanhar os
ofertados no rede de atenção à aguda ou crônica, a
usuários com doenças
âmbito da rede de saúde partir do diagnóstico
ameaçadoras de vida
atenção à saúde dessa condição
em seu território
Prezado aluno, cuidados paliativos são um tema bastante extenso, até porque poderíamos ainda abordar as medidas para cada sintoma,
como náusea, dispneia e dor (apenas para a dor, existe uma sociedade médica inteiramente dedicada ao seu estudo!). Mas vamos parar por
aqui, pois para as provas de Residência Médica, os conceitos fundamentais são os mais cobrados e mostro isso agora, nas questões, para
treinarmos!
CAI NA PROVA
(FUNDAÇÃO BANCO DE OLHOS DE GOIÁS [GO], 2021) Os cuidados paliativos buscam oferecer assistência com o objetivo de melhorar a
qualidade de vida de um indivíduo doente, aliviando o sofrimento diante de uma doença incurável que possa pôr fim à sua vida. Para que isso
não seja confundido com a inércia do profissional de saúde em não fazer mais nada pelo paciente e dele ter pena, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) aponta alguns princípios fundamentais concernentes ao cuidado paliativo, dentre os quais se EXCLUI:
COMENTÁRIO:
Estrategista, analisemos qual opção não está de acordo com os princípios relacionados aos cuidados paliativos:
Correta a alternativa A. O cuidado paliativo não deve nem apressar e nem postergar a morte.
Incorretas a alternativas B, C e D. Todos esses itens se relacionam ao que estamos estudando a respeito dos cuidados paliativos.
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS - CERMAM [AM], 2021) Qual das situações clínicas abaixo não constitui
indicação para adoção de Cuidados Paliativos?
A) Mulher, 55 anos, realizou tireoidectomia total devido a carcinoma papilífero de tireoide há 12 anos, sem metástase.
C) Mulher, 43 anos, portadora de câncer de colo uterino invasivo, lúcida e orientada, em uso sistemático de analgésicos.
D) Homem, 28 anos, internado em unidade hospitalar há 3 meses após acidente automobilístico, evoluindo com tetraplegia e úlceras de
pressão com infecção secundária.
COMENTÁRIO:
Estrategista, lembremos das indicações de cuidados paliativos: contexto de doenças ameaçadoras da vida, de caráter crônico ou agudo,
com ou sem possibilidade de cura, independentemente da idade.
Analisemos:
Não estão indicados cuidados paliativos, pois a pessoa não possui no momento doença ameaçadora da
Correta a alternativa A.
vida – o câncer foi curado.
Incorretas as alternativas B, C e D. São todos quadros graves e, embora de diferentes causas e idades, há indicação de paliação.
(FACULDADE DE MEDICINA DE JUNDIAÍ [SP], 2020) É perspectiva dos cuidados paliativos do paciente:
C) oferecer ao paciente suporte que permita viver o mais autônomo e ativo possível.
COMENTÁRIO:
Estrategista, mais uma questão conceitual sobre os cuidados paliativos. Vamos avaliar:
Incorreta a alternativa A. A morte deve ser vista como um processo natural.
Incorreta a alternativa B. Os cuidados paliativos não se relacionam a apressar ou retardar a morte.
Correta a alternativa C. A vida ativa e autônoma é uma meta para os cuidados paliativos!
Querido aluno Corujinha, estamos quase chegando ao fim! Espero que você esteja entusiasmado pelo magnífico
mundo da Medicina de Família e Comunidade! Como é um assunto extenso, compilei os temas que aparecem
em provas na maioria das vezes, mas ainda tem mais um sobre o qual queria “trocar uma ideia” com você: o
registro de saúde orientado por problemas (Re-SOAP).
CAPÍTULO
Essa ferramenta busca que o registro clínico não seja estático, mas que possa refletir o processo de adoecimento, sendo dinâmico
como um filme em vez de uma foto – valorizando a longitudinalidade.
S - Subjetivo
O - Objetivo
A - Avaliação
P - Plano
Descrição dos problemas como são ditos pela pessoa. Ex.: “fraqueza nas pernas”, “dor nos
S Subjetivo
Não usar termos técnicos. ossos”, “vista cansada”.
Na atenção primária à saúde do Brasil, o Ministério da Saúde estabeleceu o prontuário eletrônico do cidadão por meio do Sistema
e-SUS AB. Nele, foi adotado o registro clínico orientado por problemas (RCOP), tendo o SOAP como um de seus componentes.
LISTA DE
BASE DE DADOS
PROBLEMAS
RCOP
FOLHA DE
ACOMPANHAMENTO SOAP
No item avaliação do SOAP, o médico pode descrever sua impressão utilizando a ferramenta
chamada CIAP-2 (Classificação Internacional da Atenção Primária – segunda edição). Trata-se
de um instrumento que combina códigos de letras, números e cores, fornecendo um modelo de
classificação de queixas de muito valor para a atenção básica.
Não se trata de um modelo de substituição à Classificação Internacional de Doenças (CID), mas
sim complementar, para a realidade do trabalho dos médicos de família e comunidade.
Gostou do SOAP, Estrategista? Vamos ver como ele tem aparecido em provas recentes.
CAI NA PROVA
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - UFSCAR [SP], 2020) Em relação ao registo orientado por problemas, utilizado nos serviços de
Atenção Primária à Saúde (APS), está correta a afirmação:
A) O formato SOAP de registro dos atendimentos deve conter as informações e dados do acompanhamento. É um acrônimo de 4 itens:
Subjetivo, Objetivo, Avaliação e Propedêutica.
B) O meio eletrônico de registro não é adequado para o uso em pesquisas, avaliação e auditoria.
C) A longitudinalidade é o atributo da APS que é mais favorecido pelo registro orientado por problema.
D) A lista de problemas é o resumo da história clínica dos pacientes. Os problemas de ordem social não devem ser incluídos na lista de
problemas.
E) O Ministério da Saúde adotou o Prontuário Eletrônico para a APS, mas optou por utilizar o registro tradicional, e não o SOAP, pois contém
linguagem mais conhecida pelos médicos.
COMENTÁRIO:
Incorreta a alternativa D. Se excluirmos os problemas sociais, não praticaremos a integralidade. Portanto, todos os problemas devem estar
incluídos.
Incorreta a alternativa E. O Ministério da Saúde criou o RCOP (registro clínico orientado por problemas), sendo o SOAP um de seus
componentes.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO [ES], 2019) Na Atenção Primária à Saúde utiliza-se, frequentemente, o Registro de Saúde
Orientado por Problemas. Nesse formato de registro, as anotações de evolução clínica do paciente normalmente seguem o padrão denominado
SOAP, acrônimo cujas seções significam e compreendem:
COMENTÁRIO:
(COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO AMAZONAS - CERMAM [AM], 2020) João, 32 anos, vem para consulta médica na UBS.
Verifica-se no prontuário que é a sua terceira consulta e que, na lista de problema principal do prontuário, consta: ALERGIA À DIPIRONA
(história de angiodema). O registro da consulta é realizado como descrito abaixo. S: Há 2 dias apresenta quadro de coriza hialina acompanhada
de tosse com expectoração clara e febre intermitente de até 38 graus. Nega dispneia ou outras queixas. Nega comorbidades prévias. O: Bom
estado geral, eupneico, hidratado. Ausculta cardíaca: ritmo cardíaco regular, sem sopros. Ausculta pulmonar: murmúrio vesicular positivo
bilateralmente, sem ruídos adventícios. Oroscopia: hiperemia de orofaringe, sem presença de placas em amígdalas. Otoscopia: membranas
timpânicas e condutos sem alterações. PA = 125x80 mmHg; FC=92 bpm; FR=18 mrpm; temperatura axilar = 37,7 °C. A: Infecção de vias aéreas
superiores. P: Orientação quanto a sinais e sintomas de gravidade; paracetamol 500 mg, 1 comprimido de 6 em 6 horas se dor ou febre maior
que 38,2 °C; hidratação e solução fisiológica nasal. Em relação ao registro acima, no formato SOAP, é CORRETO afirmar que:
B) O P (Plano do SOAP está inadequado, pois deveria ater-se à menção da terapia farmacológica instituída.
C) Infecção de vias aéreas superiores é um termo genérico e está sendo usado inadequadamente no A (Avaliação do SOAP).
D) O S (Subjetivo do SOAP está inadequado pela menção de febre, que, por ser um sinal, deveria aparecer exclusivamente no O (Objetivo
do SOAP).
COMENTÁRIO:
• S: foram descritos os sintomas relatados pelo usuário, embora devam ser priorizados os termos utilizados pela pessoa
(provavelmente João não falou “coriza hialina”);
• O: estão corretamente descritas as observações do médico no item “Objetivo”;
• A: a avaliação do médico foi adequadamente caracterizada de modo não tão específico, como infecção de vias aéreas
superiores. Por exemplo, se fosse concluído como “faringoamigdalite por Haemophilus influenzae”, haveria grande chance de
estar equivocado, por isso são preferíveis diagnósticos genéricos;
• P: o plano do cuidado corretamente incluiu condutas medicamentosas e orientações.
Analisemos as alternativas:
Foi um bom registro utilizando o SOAP, ainda que com a pequena ressalva que comentei acima, a respeito
Correta a alternativa A.
do item “S”.
Incorreta a alternativa B. Todo o planejamento do cuidado deve ser incluído (medicamentos, orientações, retorno, encaminhamentos
etc.).
Incorreta a alternativa C. Vimos que foi adequadamente descrito.
Incorreta a alternativa D. Se a pessoa relata febre, então deve estar no tópico Subjetivo (S); contudo, se fosse percebida apenas ao exame
físico, então deveria apenas estar no Objetivo (O).
https://estr.at/JNvT
CAPÍTULO
CAPÍTULO
Nossos outros livros de Medicina Preventiva trarão ainda mais conhecimento da prática do médico de família e comunidade e da
atenção primária, já que nossos temas são intimamente conectados aos de outros livros, como o de Atenção Primária à Saúde.
Um grande abraço! Vejo você no sistema de questões do Estratégia MED – treine sempre!