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Geraldo Clemente

Licenciado em Ensino de Biologia com Habilitações em Ensino de Química pela Universidade


Rovuma – Delegação de Nampula, Moçambique

Desenvolvimento filogenético da psique e sua térios; Surgimento da consciência no processo


da actividade humana

Universidade Rovuma

Nampula

2021
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Índice

Introdução .................................................................................................................................... 3

1. Desenvolvimento filogenético da psique ou psiquismo ....................................................... 4

1.1. Dependência da psique ao meio........................................................................................ 5

1.2. A psique e a evolução do sistema nervoso ....................................................................... 6

1.3.Teorias do desenvolvimento do psiquismo ............................................................................ 6

1.3.1. Teorias endogénicas ...................................................................................................... 6

1.3.2. Teorias exogénicas ........................................................................................................ 7

1.3.3. Teorias de convergência ................................................................................................ 7

2. Surgimento da consciência no processo da actividade humana ........................................... 7

Conclusão................................................................................................................................... 11

Referências bibliográficas.......................................................................................................... 12
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Introdução

O processo de desenvolvimento do psiquismo humano ocorre por meio de elementos e de


determinações alocadas na cultura histórica e socialmente desenvolvida na essência da actividade
vital do ser humano, ou seja, na categoria trabalho. Isto é, na transformação, consciente,
intencional e criativa da natureza em proveito de suas necessidades (Marx, 2008). O psiquismo
humano, destarte, se traduz pela imagem subjectiva do real no interior das riquezas materiais e
não materiais acumuladas no decorrer da história. A evolução do psiquismo humano se dá
influenciada pela cultura, isto é, pelas objectivações e apropriações realizadas pelo ser humano,
em dado momento histórico.

Quanto a metodologia, foi empregue o método de consulta bibliográfica, onde as fontes estão
devidamente citadas ao longo dos textos e constam nas referências bibliográficas e o trabalho
apresenta a seguinte estrutura organizacional: capa, contracapa, índice, introdução,
desenvolvimento, conclusão e referências bibliográficas.
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1. Desenvolvimento filogenético da psique ou psiquismo

O psiquismo humano, destarte, se traduz pela imagem subjectiva do real no interior das riquezas
materiais e não materiais acumuladas no decorrer da história. A evolução do psiquismo humano
se dá influenciada pela cultura, isto é, pelas objectivações e apropriações realizadas pelo ser
humano, em dado momento histórico (Marx, 2008).

A actividade tipicamente humana assume uma função fulcral no processo de evolução do


psiquismo humano. A actividade é uma estrutura (cadeia) de acções engendradas por motivos que
condicionam as finalidades. Ocorre pelo aspecto estrutural – actividade, operação e acção – e
pelo processo psicodinâmico – motivo, finalidade e condição objectiva (Leontiev, 1978). A
actividade ocorre, portanto, na relação do ser humano com a natureza, ou seja, com o mundo
objectivo e, ao mesmo tempo, transforma-o em uma realidade subjectiva, ou melhor, em uma
imagem subjectiva do real.

É a vida em sociedade que cria as condições para a apropriação da cultura, processo que forma no
homem funções e capacidades que não se desenvolveriam natural ou espontaneamente. Vigotski
se preocupou em elucidar os mecanismos responsáveis pela formação de novas capacidades e
funções psíquicas não naturais. Para compreendermos suas proposições a esse respeito, nos
debruçaremos sobre sua análise do processo de formação das funções psíquicas (Pasqualini,
2018).

Podemos entender por função psíquica uma capacidade ou propriedade de acção de que dispõe
nosso psiquismo no processo de captação da realidade objectiva. Somos capazes de captar
sensorialmente sons e imagens e perceber mudanças no ambiente: sensação e percepção são dois
exemplos de funções psíquicas. Somos capazes, também, de fixar nossos sentidos em um
determinado estímulo do meio e registrá-lo em nosso psiquismo: atenção e memória são também
exemplos de funções psicológicas. Constituem, ainda, funções psíquicas (ou processos
funcionais) a linguagem, o pensamento, a imaginação, e as emoções e sentimentos (Martins,
2013).

Para Vigotski, o que diferencia, essencialmente, o psiquismo humano do animal, é que a conduta
animal é determinada pela estimulação do ambiente (externo e interno), enquanto o homem
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tornou-se, historicamente, capaz de superar essa determinação, conquistando a capacidade de


dominar o próprio comportamento.

A evolução psíquica dos indivíduos depende da maturação e do desenvolvimento genético; dos


estímulos sociais e afectivos.

 Desenvolvimento: é o conjunto de fases pelas quais o indivíduo passa ao longo do seu


ciclo de vida. É um processo multidimensional que engloba os aspectos físicos
(crescimento); fisiológicos (maturação), psicológicos (cognitivos e afectivos), sociais
(socialização), e culturais (aquisição de valores, normas).
 Maturação: é a dimensão fisiológica do desenvolvimento. Refere-se ao grau de prontidão
funcional dos diversos sistemas do organismo, nomeadamente do sistema nervoso. É que
torna possível determinado padrão de comportamento. (por exemplo, a alfabetização das
crianças depende da maturação neurofisiológica para manejar o lápis, e segurá-lo com as
mãos é necessário um desenvolvimento neurológico o que a criança de 1 ou 2 anos não
possui ainda (Chicote et al., 2007).
1.1. Dependência da psique ao meio

A extraordinária variedade que o meio ambiente tem (clima, condições de vida) suscitou a
diferenciação dos organismos (na terra vivem milhões de espécies de animais). Entre toda a
multiplicidade de fenómenos terrestres, existem suas mudanças cíclicas anuais, a mudança do dia
e da noite, as mudanças de temperatura etc., e todo o organismo vivente adapta-se as condições
existentes (Chicote et al., 2007).

Uma modificação brusca do ambiente provoca no animal ou o seu desaparecimento. O meio e a


condição de existência do organismo vivo, e o factor mais importante para determinar a vida dos
seres viventes, ou seja, dito em outras palavras, a existência dos organismos viventes esta
condicionada causalmente pelo meio ambiente. Quanto mais alta e a capacidade do reflexo dentro
de um determinado meio, mais livre e a espécie do influxo do meio (Chicote et al., 2007).
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1.2. A psique e a evolução do sistema nervoso

Para que haja um reflexo adequado e necessário antes de mais uma estrutura dos órgãos de
sentido e do sistema nervoso. O grau de desenvolvimento dos órgãos de sentido e do sistema
nervoso determina constantemente o grau e a forma do reflexo psíquico (Chicote et al., 2017) .

Em corresponderia com o desenvolvimento do sistema nervoso se tem mais completas as formas


do reflexo psíquico ou seja quanto mais completo e o sistema nervoso tanto mais perfeita e a
psique. A evolução da psique não é linear, até que se aperfeiçoe em diferentes direcções. Num
mesmo meio habitam animais com os mais variados níveis de reflexo e ao contrário, em meios
diferentes podem-se encontrar diferentes tipos de animais com níveis de reflexos semelhantes.

O meio, como a matéria, não e invariável, ele evolui. A este meio em evolução adapta-se a
espécie animal que nele habita. Pode acontecer, sem dúvidas, que o meio radicalmente se
modifique para alguns animais e isto influencia no desenvolvimento das funções psíquicas, ao
mesmo tempo, a mudança ocorrida não exerce uma influência determinante no desenvolvimento
das funções dos outros animais.

1.3. Teorias do desenvolvimento do psiquismo

Teoria é a forma de explicação dos factos, de forma unitária, coerente, livre de contradições
internas e que conduza a descoberta de novos factos. A questão da abordagem do
desenvolvimento do psíquico, é ainda polémica pela existência de várias teorias explicativas, que
estão divididas em grupo (Chicote et al., 2007).

1.3.1. Teorias endogénicas

O desenvolvimento psíquico é feito dependentemente de factores biológicos: a hereditariedade e


as predisposições inatas tornam lugar de relevo. O desenvolvimento do Homem está programado
e reformado pelas disposições. Segundo esta teoria, os factores do meio ambiente são apenas um
atributo subordinado, as aptidões e qualidades psicológicas da personalidade são reduzidas aos
instintos inatos de acordo com Mendel, Weisman e Morgan (Chicote et al., 2007).
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1.3.2. Teorias exogénicas

O Homem seria no momento do nascimento uma tábua rasa, pelo adestramento e hábito poder-se-
ia fazer-se tudo quando são aplicados os métodos respectivos. Este grupo de teorias acentua o
meio ambiente em que decorre o desenvolvimento comparativamente aos outros factores como
força determinante de desenvolvimento psíquico.

O desenvolvimento é mais ou menos directamente reduzido à educação e formação. Contudo a


criança e o jovem são considerados como objectos positivos das influências externas e deste
modo expostos a métodos mecânicos de educação, segundo Watson (Chicote et al., 2007).

1.3.3. Teorias de convergência

O desenvolvimento do psíquico é resultado de uma convergência de factores hereditários e


factores ambientais. Logo, o desenvolvimento do psíquico da criança e do jovem é resultado de
forças desiguais da hereditariedade e do meio ambiente. Significa que, o desenvolvimento do
psíquico é determinado pela cooperação de dois factores principais: hereditariedade e meio
ambiente (Chicote et al., 2007).

Estas teorias defendem que, no desenvolvimento do psíquico deve-se distinguir os processos de


maturidade e os processos de aprendizagem. Os processos de maturidade são biologicamente
condicionados. Enquanto que os factores de aprendizagem estão sujeitos a regularidades sociais.
Portanto, o desenvolvimento psíquico seria condicionado pelos factores biológicos e de
assimilação (Chicote et al., 2007).

2. Surgimento da consciência no processo da actividade humana

A psique como conjunto de reflexos da realidade no cérebro dos homens caracteriza-se por
possuir diferentes níveis.

O mais alto nível da psique, que é próprio do Homem, forma a consciência. A consciência é a
forma superior integrante da psique do Homem que se forma como resultado das condições
histórico-sociais na actividade laboral e na permanente comunicação oral com as demais pessoas.
Neste sentido, pode-se dizer que a consciência e em última instancia (como dizem os clássicos
marxistas) um produto social, a consciência e a existência consciente.
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A consciência é um dar conta de si mesmo e do mundo (Cobb). Compreende os seguintes


sectores funcionais:

 Vigília: premissa fundamental para a clareza da consciência. Clareza da consciência: só


com consciência clara se podem experimentar como tais os objectos que se mostram no
horizonte
 Consciência de si mesmo: o sujeito reconhece-se a si mesmo como vivente e actuante,
com total coerência biográfica que, aliás, se mantêm continuamente (em condições
normais), ao longo da vida.
 À consciência de si mesmo corresponde a consciência da experiência, da realidade e do
vivenciar o tempo.

Sectores funcionais:

Estado vigil: Não é uniforme; experimenta oscilações, umas reguladas pelo próprio organismo
(ritmo sono-vigília, actividade básica), outras dependem do modo do sujeito se encontrar no
momento (humor, saúde...).

Clareza da consciência: Está intimamente relacionada com o estado de vigília. Os graus de


lucidez da experiência vão desde sensações pré-reflexivas (protopáticas), até um perceber
consciente (crítico e epicrítico).

Consciência do próprio eu: “Eu sou eu mesmo”

A consciência, na perspectiva de Damásio (2010, p. 11), é uma faculdade da nossa mente, um self
capaz de controlar tanto o mundo interior quanto tudo aquilo que está em seu entorno, pronto
para entrar em actividade a qualquer momento. Consciência não se trata de estar meramente
acordado, mas de ter a possibilidade de reconhecer-se a si mesmo como sendo EU, proprietário
de uma mente repleta de conteúdos independentemente de sua ordenação, conteúdos ligados a
mim por fios invisíveis agrupados no self. Contudo, Damásio (2010, p. 11) fala de uma espécie
de vigília, um estado da consciência que ocorre quando estamos dormindo, ou seja, a consciência
não cessa completamente quando dormimos, apenas permanece em um estado de vigília. Sem a
consciência, ou seja, sem uma mente provida de subjectividade, não seria possível saber que
existimos quanto mais saber quem somos nós ou o que pensamos.
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A consciência não surge a partir da produção de imagens ou pela criação das bases da mente.
Para que haja o surgimento da consciência é necessário que as imagens se tornem propriedades
do organismo singular. A obtenção de uma mente consciente depende da criação de um
conhecedor, e, quando esse conhecedor é inserido na mente, ocorre a denominada subjectividade
(Damásio, 2010, p. 15).

Segundo Damásio (2010), estados mentais conscientes só são possíveis quando estamos
acordados, mas existe uma excepção parcial a essa que é a forma paradoxal de consciência que
ocorre no sono quando sonhamos. Sendo assim, a forma elementar de consciência é um estado
mental que ocorre quando estamos acordados e temos conhecimento privado da nossa própria
existência em conformidade com o ambiente. Os estados mentais conscientes fazem uso dos
diversos materiais sensitivos visão, audição etc. (Damásio, 2010, p. 105).

Segundo Damásio (2010), algumas pessoas usam o termo (mente) para se referir à consciência, o
que para ele é um equívoco. E esse uso erróneo do termo é utilizado também por demasiados
estudiosos contemporâneos que tratam a consciência como mente.

Consciência e vigília, na visão de Damásio (2010), não são a mesma coisa: estar acordado é uma
condição prévia para a consciência elementar. Sendo assim, quando a pessoa está dormindo, a
consciência em seu formato elementar desaparece, mas estar dormindo não faz com que a
consciência cesse ou zere. Quando acendemos as luzes, algo se revela, e isso é denominado como
conteúdos mentais ou mente, e essa mente é feita por padrões mapeados nas expressões de todos
os sentidos com incríveis tonalidades, matizes, variações e combinações, surgindo de modo
organizado ou desconexo formando imagens. As imagens são a principal forma circulante da
nossa mente, termo que se refere a todos os modos de sentidos, não só o visual ou os padrões
abstractos e concretos (Damásio, 2010, p. 107).

Damásio (2010) rapidamente explicita três momentos que são indispensáveis para o aspecto da
consciência, o primeiro deles (i) é que devemos estar acordados; (ii) posteriormente que
tenhamos uma mente em funcionamento e; (iii) que esteja presente o sentido de self automático,
espontâneo, pois a noção de si é uma característica distintiva da consciência, mas não uma noção
qualquer e sim uma noção sentida de si.
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Conforme Damásio (2010), a construção de uma mente consciente se dá por um processo muito
complexo, que é o resultado da eliminação e adição de mecanismos cerebrais ao longo de
milhões de anos de evolução biológica.
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Conclusão

Com o culminar do trabalho, compreende-se que a evolução psíquica dos indivíduos depende da
maturação e do desenvolvimento genético; dos estímulos sociais e afectivos. E a consciência está
sempre referida a algo. O homem desperto não tem consciência no sentido substantivo (como tem
coração ou braços), mas é ele próprio consciência, diversamente desperta, sensível, vivenciante,
animada, racionalmente sabedora, activa. A consciência é um dar conta de si mesmo e do mundo
(Cobb). Assim, a consciência compreende os seguintes sectores funcionais: Vigília: premissa
fundamental para a clareza da consciência. Clareza da consciência: só com consciência clara se
podem experimentar como tais os objectos que se mostram no horizonte. Consciência de si
mesmo: o sujeito reconhece-se a si mesmo como vivente e actuante, com total coerência
biográfica que, aliás, se mantêm continuamente (em condições normais), ao longo da vida. À
consciência de si mesmo corresponde a consciência da experiência, da realidade e do vivenciar o
tempo.
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Referências bibliográficas

Chicote, Luísa Lopes; et al. (2007). Psicologia Geral. Módulos para cursos de Bacharelato semi-
presencial. Universidade Pedagógica, Nampula.

Damásio, A. R. E. (2010). O cérebro criou o homem: construindo a mente consciente. São Paulo,
SP: Companhia das Letras.

Martins, L. M. (2013). O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar: contribuições à


luz da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores
Associados.

Pasqualini, J. C. (2018). Princípios para a organização do ensino na educação infantil na


perspectiva histórico-cultural: um estudo a partir da análise teórica da prática do professor. Tese
de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, Faculdade de Ciências e
Letras, Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Araraquara.

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