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Uma primeira alternativa se apresenta, quanto ao âmbito que convém atribuir à noção
de “ciência”: um âmbito alargado, pouco exigente quanto aos critérios, e por isso
mesmo muito abrangente, ou um âmbito restrito, com critérios mais rigorosos, que
determinam portanto um objecto muito mais reduzido.
Mas este processo de divisão e de subdivisão, a par das vantagens, acarreta também
inconvenientes: torna-se cada vez mais difícil a comunicação entre especialistas de
áreas diferentes, e torna-se quase impossível unificar ou pelo menos sintetizar o
conhecimento construído no âmbito de ciências ou especialidades distintas.
A história das ciências sociais, de que temos aqui alguns apontamentos, estrutura-se
por consequência, como acontece para todas as ciências qualquer que seja o seu
domínio de objectos (ciências da matéria, ciências da vida, ciências sociais...), em
função do processo de constituição de cada disciplina, processo no qual distinguimos,
para respeitar o que acima indicámos, três grandes fases.
1. A primeira é por assim dizer uma “pré-história” de cada ciência social: é obvio que
antes que se formasse a disciplina moderna, existiam saberes, por vezes já complexos,
e valiosos, que, não pertencendo a uma ciência moderna, não deixam de ter tido uma
influência decisiva na constituição desta última. Esta fase pode ser extremamente
longa, do ponto de vista cronológico, visto que podemos recuar até à mais alta
Antiguidade e detectar os saberes pré-científicos que se referiam a objectos empíricos
próximos ou análogos dos que seriam depois objecto de estudo científico.
2. A segunda fase é muito mais curta, e pode até abranger apenas algumas décadas,
em vez dos milénios que abraça a fase precedente: é a fase de constituição da
disciplina propriamente dita, fase durante a qual são reunidos (acumulados,
articulados entre eles) os elementos internos e externos que definem cada ciência.
3. A terceira fase concerne ao presente e está aberta ao futuro: nela tentamos descrever
de modo sumário a situação actual da disciplina, com a estrutura organizativa das suas
especialidades, evocando os debates em curso, que também a caracterizam, e as
tendências que parecem desenhar-se para o futuro próximo, apesar da incerteza que tal
intenção comporta.
II
Tornando-se difícil definir qual o objecto de estudo comum a estas disciplinas, Piaget
designou-as de nomotéticas, dado que visam enunciar leis cientificas e recorrem a
métodos de verificação que sujeitam os esquemas teóricos, ao controlo dos factos da
experiência. Mas uma pergunta inerente, fica por resolver. O que são realmente as
Ciências Sociais e o qual o seu objecto de estudo?
Silva e Pinto (1986) afirmam que o objectivo comum às ciências sociais, é a procura do
conhecimento da realidade. Não aprofundando as questões filosóficas inerentes a esta
delimitação, estes mesmos autores, definem essa procura, pela construção de quadros
categoriais, operadores lógicos de classificação e ordenação, mediante processos
complexos influenciados ainda pelas nossas necessidades, vivências e interesses,
construindo desta forma, instrumentos que nos proporcionem informação sobre essa
realidade e formas de a tornar inteligível, sem nunca se confundirem com ela. Gurvitch
(1963; cit. por Nunes, 1987) realça o facto de que a realidade estudada por estas
ciências, é uma só, sendo esta a condição humana considerada sobre uma certa
perspectiva e tornada objecto de um método de investigação específico.
Desta forma, as Ciências Sociais exprimem uma unidade (objectivo comum de estudo),
resultante da diversidade do estudo de diferentes fenómenos ou realidades, presentes
nas disciplinas nomotéticas. Contudo, é necessário mencionar que as diferentes
disciplinas anteriormente referidas e apesar de terem em comum o mesmo objectivo de
estudo, distinguem-se nas metodologias utilizadas, em 4 níveis (Nunes, 1987):
De acordo com Silva e Pinto (1986), as Ciências Sociais são uma criação recente de
uma civilização, pelo que o seu desenvolvimento tem sido influenciado por diversos
factores: (i) a sua própria evolução teórica; (ii) o dinamismo de outras ciências e formas
de saber; e, (iii) as características desiguais de diferentes contextos institucionais e, em
geral, sociais.
Numa delimitação histórica, não é possível definir datas e períodos que sustentem a
formação das Ciências Sociais, dado que cada uma das disciplinas que constituem este
universo que designamos de Ciências Sociais, possui a sua própria história, no decurso
da qual acumulou um património especifico de paradigmas, teorias, técnicas e métodos,
obras de referência e manuais de ensino, circuitos de difusão de resultados, esquemas
de formação, competências, costumes, bem como, inércias profissionais (Silva & Pinto,
1986).
Segundo Bento (1994; cit. por Carvalhal, 2000), devido ao facto de se utilizarem
diferentes terminologias e pela falta de cooperação e coordenação das diferentes
disciplinas das Ciências do Desporto, a investigação realizada nesta área não se tem
preocupado em realizar uma auto-reflexão e avaliação sobre a sua actuação presente e
futura. Por isso, tem sido muito escassa ou diminuta, a investigação fundamental na
procura e definição de uma teoria, de uma matriz teórica, de um objecto de estudo,
todos eles elementos essenciais para a constituição de uma verdadeira ciência.
Kuhn (1962; cit. por Raposo, 1996), afirma ser necessário considerar os seguintes
aspectos, para concomitantemente se definir uma ciência:
Nas ciências com paradigmas, os artigos científicos são a forma privilegiada para
apresentar os estudos desenvolvidos e não as monografias, sendo o livro de texto um
instrumento pedagógico de base;
Kuhn (1962; cit. por Carvalhal, 2000) também afirma que a actividade cientifica não é
a procura de novas teorias, mas sim, uma actividade permanente na procura da
resolução de problemas, à luz das teorias e do paradigma aceites pela comunidade
cientifica.
Este paradigma é representativo de uma orientação filosófica dualista, dado que todo o
esquema depende de uma ideia dualista da lógica, da distinção entre o abstracto e o
concreto, interior e exterior, sensação e razão e realidade subjectiva e objectiva
(Raposo, 1996).
Segundo Raposo (1996), o que caracteriza o positivismo pode ser definido de acordo
com as seguintes características:
A realidade, seja ela de carácter físico ou social, pode ser reduzida às partes individuais
que a constituem; o desafio académico para os positivistas é identificar as partes
constituintes e explicar a forma como estas se relacionam entre si;
A realidade é simultaneamente lógica e ordeira, podendo ser descrita e documentada
por cientistas, desde que utilizem uma metodologia adequada;
Este parâmetro visa referenciar que não existe uma integração da informação produzida
pelos cientistas para os práticos, o que leva a que toda a informação produzida não se
transforme em conhecimento útil para a sociedade.
Segundo Martens (1987), este problema pode ser resolvido com a introdução duma
pessoa capaz de fazer a síntese de ambas as fontes de informação, quer teóricas, quer
práticas, transformando esta informação em conhecimento útil. Tal como no paradigma
positivista, este parâmetro possui um carácter dualista, em que se separa a teoria da
prática, associando à teoria a actividade mental e espiritual, enquanto que à prática é
associada uma actividade material, mecânica e mecanicista (Crespo, 1981; cit. por
Carvalhal, 2000).
Para Sérgio (1999: 4), “não basta uma prática, precisa é uma compreensão da prática,
ou seja, a unidade prática-teoria: teoria essa que pretende interpretar e projectar a
prática”.
Este tipo de estudos sociais que surgiram a partir da necessidade da regulação publica
da troca de informações científico-tecnológicas, teve origem na década de 70, surgindo
a partir de novas correntes de investigação empírica, no domínio da filosofia e
sociologia.
Numa análise generalista, Cerezo (1998) refere que um aumento do produto cientifico
de um país, origina um desenvolvimento tecnológico, que por sua vez melhora a
riqueza e bem-estar social da nação em causa. No entanto, Maxwell (1984; cit, Cerezo,
1998) adverte que esta visão clássica só pode ser entendida correctamente se a ciência
se afastar da sociedade em questão, para procurar exclusivamente a verdade.