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I Parte

1.1.2 A NOÇÃO DE "CIÊNCIA"

1.1.2.1 Caracterização dos saberes científicos

Uma primeira alternativa se apresenta, quanto ao âmbito que convém atribuir à noção
de “ciência”: um âmbito alargado, pouco exigente quanto aos critérios, e por isso
mesmo muito abrangente, ou um âmbito restrito, com critérios mais rigorosos, que
determinam portanto um objecto muito mais reduzido.

(i) Uma definição restritiva

A nossa escolha, embora em parte arbitrária, é a de definir uma “ciência” de maneira


estrita, apenas considerando como ciências as formações modernas de conhecimentos,
cujas características examinaremos. Esta opção deixa portanto de fora os saberes da
Antiguidade, da Idade Média, etc., e leva-nos a considerar que a Física de Aristóteles,
a Geometria de Tales, a História de Heródoto, não pertencem ao domínio das ciências
no sentido restrito, mas sim ao domínio dos saberes pré-científicos que antecedem a
formação da maior parte das ciências, sem obedecer a todos os requisitos. Note-se que
tal não significa, de modo algum, que tudo o que esses sábios afirmaram, ou
conjecturaram é falso e sem validade; as ciências não têm o monopólio da produção
de conhecimentos verdadeiros, válidos. O que importa sublinhar é que as ciências são
modos específicos, peculiares, de organização dos conhecimentos, da sua produção e
transmissão. Modos, como veremos, particularmente eficazes, mas não exclusivos.

No sentido restrito que aqui propomos – as ciências no sentido moderno -, as ciências


são corpos de conhecimentos que devem ser caracterizados em dois planos distintos,
embora não separáveis : um plano interno, e um plano externo.

(ii) Critérios internos de definição de "ciência"

No plano interno, analisam-se os caracteres próprios dos conhecimentos, dos


instrumentos, dos processos que têm lugar no âmbito de cada ciência, caracteres esses
que justificam precisamente que um certo corpo de discursos (logos) e de práticas seja
classificado enquanto “ciência”, e outros não. Neste plano, uma ciência é um discurso
e uma prática que constituem um corpo de conhecimentos, no qual se combinam os
seguintes elementos:

- Um conjunto de conceitos e de enunciados, articulados em teorias; um conjunto de


técnicas e instrumentos de recolha, de tratamento e de interpretação de dados;Um
conjunto de objectos empíricos (fenómenos existentes no mundo exterior), sobre os
quais incidem os elementos precedentes; Um objectivo de produção de conhecimento
objectivo, visando a verdade, e portanto um conjunto de procedimentos de crítica dos
conceitos e enunciados, de verificação das teorias, definindo o que é ou não aceitável
afirmar a propósito do objecto estudado.

(ii) Critérios externos de definição de "ciência"

No plano externo, uma ciência é uma actividade socialmente organizada numa


“profissão”, que corresponde à seguinte configuração:

- Existência de um corpo de especialistas, profissionais dessa ciência.

- - -Existência de organizações profissionais que reconhecem quem é ou não membro do


corpo de cientistas, fixam regras deontológicas, metodológicas, etc.

- - -Existência de publicações especializadas (Revistas) que fixam regras de qualidade


para os trabalhos a publicar, e servem de arenas de debate entre especialistas.

1.1.2.2 As ciências têm uma história

Ao enumerar estas características internas e externas das ciências, podemos verificar


que é raro que no decorrer da História, todos os requisitos que evocamos tenham sido
reunidos de uma só vez, simultaneamente, por qualquer disciplina científica. Torna-se
mesmo provável que estes elementos vão sendo adquiridos, ou reunidos, ao longo de
um processo que pode ser mais ou menos longo, difícil ou até conflituoso.

Todavia, a definição restrita que utilizamos tem a vantagem de permitir a descrição


criteriosa de tal processo, datando sucessivamente a aparição de cada elemento.
Assim, se uma ciência “completa”, ou seja, detentora de todos os requisitos que
evocámos, é forçosamente um facto recente (relativamente à História de longo prazo,
por exemplo desde o Neolítico ou desde a Antiguidade egípcia, grega, etc.), é também
possível traçar a sua formação, e determinar uma data ou um período (ainda que não
se trate de definir um dia e uma hora, mas aceitando apenas a aproximação de alguns
anos, ou mesmo de décadas), que assinala o nascimento de cada disciplina moderna,
com uma relativa precisão.

A História da constituição das ciências, entendidas neste sentido restritivo, é essencial


para a compreensão do lugar que elas ocupam no quadro geral dos saberes, ou se
quisermos utilizar um termo perigoso, no quadro da Ciência em geral. Ora, o lugar
ocupado pelas diversas ciências (sociais ou outras) no quadro geral não pode ser
determinado de modo simples, como seria o caso se as ciências se tivessem
desenvolvido segundo um plano pré-estabelecido, ou segundo um plano ordenado. O
contrário é verdade. A maior parte das disciplinas foi-se constituindo por tentativas
sucessivas, ajustando-se ao existente, seguindo por vezes vias diferentes segundo as
sociedades e as suas tradições culturais.

Numerosas "disciplinas" que pretendiam ao estatuto de ciências foram abandonadas,


por não terem conseguido ultrapassar as críticas a que foram submetidas. Na
realidade, as ciências actuais, que nos parecem tão "evidentes" quanto à sua existência
e quanto ao seu domínio, são apenas as que conseguiram "sobreviver" num universo
em que o pensamento crítico e o debate (por vezes o combate) entre cientistas é um
poderoso factor de selecção.

É também a partir do exame do modo de constituição das disciplinas modernas que


podemos preencher o objectivo que é o nosso durante este ensino, que é colocar os
Alunos em posição de poder entender o modo de utilização que podemos actualmente
fazer de cada disciplina, os benefícios que de cada uma podemos esperar, os
constrangimentos que cada uma nos impõe, e enfim, o modo como, na prática senão
em teoria, podemos ultrapassar as dificuldades que provêm da especialização dos
saberes em disciplinas distintas, por vezes separadas por linguagens não compatíveis.

A especialização crescente dos saberes obedece a uma poderosa necessidade interna


do desenvolvimento dos conhecimentos: à medida que os conhecimentos se
desenvolvem numa determinada área, torna-se indispensável aprofundar certas partes
dos domínios de conhecimento outrora unificados. Pouco a pouco, deixa de ser
possível para cada cientista (ou até para cada grupo de cientistas), dominar o conjunto
dos conhecimentos (e por conseguinte, como vimos, dos conceitos, teorias, técnicas,
etc.) de um dado campo. Então nasce uma especialidade: foi esse mesmo processo que
presidiu à formação das diferentes disciplinas a partir de um saber relativamente
universal, abarcando domínios que hoje nos parecem totalmente heterogéneos (como a
Metafísica, uma especialidade da Filosofia, e a Física).

Desenvolvem-se então os elementos internos e externos acima descritos, diferentes


para cada nova especialidade. Note-se que a própria distinção entre “disciplina
científica”, ou “ciência”, e “especialidade de uma ciência”, são conceitos
eminentemente relativos: o que começa por ser considerado como a “especialidade”
no interior de uma ciência, acaba por vezes por tornar-se numa verdadeira ciência
autónoma.

Mas este processo de divisão e de subdivisão, a par das vantagens, acarreta também
inconvenientes: torna-se cada vez mais difícil a comunicação entre especialistas de
áreas diferentes, e torna-se quase impossível unificar ou pelo menos sintetizar o
conhecimento construído no âmbito de ciências ou especialidades distintas.

A história das ciências sociais, de que temos aqui alguns apontamentos, estrutura-se
por consequência, como acontece para todas as ciências qualquer que seja o seu
domínio de objectos (ciências da matéria, ciências da vida, ciências sociais...), em
função do processo de constituição de cada disciplina, processo no qual distinguimos,
para respeitar o que acima indicámos, três grandes fases.

1. A primeira é por assim dizer uma “pré-história” de cada ciência social: é obvio que
antes que se formasse a disciplina moderna, existiam saberes, por vezes já complexos,
e valiosos, que, não pertencendo a uma ciência moderna, não deixam de ter tido uma
influência decisiva na constituição desta última. Esta fase pode ser extremamente
longa, do ponto de vista cronológico, visto que podemos recuar até à mais alta
Antiguidade e detectar os saberes pré-científicos que se referiam a objectos empíricos
próximos ou análogos dos que seriam depois objecto de estudo científico.

2. A segunda fase é muito mais curta, e pode até abranger apenas algumas décadas,
em vez dos milénios que abraça a fase precedente: é a fase de constituição da
disciplina propriamente dita, fase durante a qual são reunidos (acumulados,
articulados entre eles) os elementos internos e externos que definem cada ciência.

3. A terceira fase concerne ao presente e está aberta ao futuro: nela tentamos descrever
de modo sumário a situação actual da disciplina, com a estrutura organizativa das suas
especialidades, evocando os debates em curso, que também a caracterizam, e as
tendências que parecem desenhar-se para o futuro próximo, apesar da incerteza que tal
intenção comporta.

II

2. A investigação em ciências sociais

2.1. O âmbito de estudo das ciências sociais

O conceito de Ciências Sociais ou como refere Nunes (1987), Ciências do Homem, só


existe numa concepção fragmentária, englobando um conjunto de ciências dispares e
desconexas. Neste contexto abrangente, Silva e Pinto (1986) apresentam como algumas
destas ciências, a Sociologia, a Economia, a Psicologia Social e a Antropologia, às
quais, Nunes (1987) adiciona a Geografia Humana, a Demografia, a Ciência Política, a
Linguística e a Etnologia Social.

Tornando-se difícil definir qual o objecto de estudo comum a estas disciplinas, Piaget
designou-as de nomotéticas, dado que visam enunciar leis cientificas e recorrem a
métodos de verificação que sujeitam os esquemas teóricos, ao controlo dos factos da
experiência. Mas uma pergunta inerente, fica por resolver. O que são realmente as
Ciências Sociais e o qual o seu objecto de estudo?

Silva e Pinto (1986) afirmam que o objectivo comum às ciências sociais, é a procura do
conhecimento da realidade. Não aprofundando as questões filosóficas inerentes a esta
delimitação, estes mesmos autores, definem essa procura, pela construção de quadros
categoriais, operadores lógicos de classificação e ordenação, mediante processos
complexos influenciados ainda pelas nossas necessidades, vivências e interesses,
construindo desta forma, instrumentos que nos proporcionem informação sobre essa
realidade e formas de a tornar inteligível, sem nunca se confundirem com ela. Gurvitch
(1963; cit. por Nunes, 1987) realça o facto de que a realidade estudada por estas
ciências, é uma só, sendo esta a condição humana considerada sobre uma certa
perspectiva e tornada objecto de um método de investigação específico.

Desta forma, as Ciências Sociais exprimem uma unidade (objectivo comum de estudo),
resultante da diversidade do estudo de diferentes fenómenos ou realidades, presentes
nas disciplinas nomotéticas. Contudo, é necessário mencionar que as diferentes
disciplinas anteriormente referidas e apesar de terem em comum o mesmo objectivo de
estudo, distinguem-se nas metodologias utilizadas, em 4 níveis (Nunes, 1987):

- os fins ou objectivos que orientam a investigação, ou seja, o que interessa aos


investigadores analisar, explicar e compreender;

- a natureza, condicionada por esses fins, dos problemas de investigação que os


investigadores definem como sendo aqueles sobre os quais a sua pesquisa deve incidir;

- os critérios utilizados pelos investigadores, a fim de se seleccionarem as variáveis


relevantes para o estudo desses problemas; e,

- os métodos e técnicas de pesquisa empírica e de interpretação teórica que os


investigadores considerem adequados para trabalhar com as variáveis escolhidas,
resolver os problemas de investigação com que se defrontem e atingir os fins ou
objectivos visados.

De acordo com Silva e Pinto (1986), as Ciências Sociais são uma criação recente de
uma civilização, pelo que o seu desenvolvimento tem sido influenciado por diversos
factores: (i) a sua própria evolução teórica; (ii) o dinamismo de outras ciências e formas
de saber; e, (iii) as características desiguais de diferentes contextos institucionais e, em
geral, sociais.

Numa perspectiva social, as acções humanas desdobram-se em práticas materiais e


simbólicas, relações com a natureza e relações com outros homens, no âmbito de
grupos com várias dimensões, dos grupos elementares como as famílias até às
organizações vastas a que chamamos sociedades. Para Nunes (1987: 29), “a
constituição das Ciências Sociais esteve directamente relacionada com a possibilidade
histórica de afirmação da autonomia do social; isto é, com os desenvolvimentos sócio-
económicos, políticos e teóricos, que nos séculos XVII, XVIII e XIX, impuseram a
ideia da existência de uma ordem social laica e colectiva, não directamente determinada
pela vontade divina, irredutível à acção social e submetida a leis”.

Numa delimitação histórica, não é possível definir datas e períodos que sustentem a
formação das Ciências Sociais, dado que cada uma das disciplinas que constituem este
universo que designamos de Ciências Sociais, possui a sua própria história, no decurso
da qual acumulou um património especifico de paradigmas, teorias, técnicas e métodos,
obras de referência e manuais de ensino, circuitos de difusão de resultados, esquemas
de formação, competências, costumes, bem como, inércias profissionais (Silva & Pinto,
1986).

Em suma, torna-se necessário referir que a estrutura e funcionamento dos


conhecimentos produzidos pelas Ciências Sociais, foram condicionados por outras
instituições e dinâmicas sociais, sobretudo nas nações industriais avançadas, em que a
investigação e tecnologia desempenham um papel crucial e por isso, estiveram sujeitos
a intensas procuras e pressões de diversas proveniências, entre as quais, políticas,
militares, económicas, entre outras (Silva & Pinto, 1986).

2.2.1. Reduzida investigação fundamental

Segundo Bento (1994; cit. por Carvalhal, 2000), devido ao facto de se utilizarem
diferentes terminologias e pela falta de cooperação e coordenação das diferentes
disciplinas das Ciências do Desporto, a investigação realizada nesta área não se tem
preocupado em realizar uma auto-reflexão e avaliação sobre a sua actuação presente e
futura. Por isso, tem sido muito escassa ou diminuta, a investigação fundamental na
procura e definição de uma teoria, de uma matriz teórica, de um objecto de estudo,
todos eles elementos essenciais para a constituição de uma verdadeira ciência.
Kuhn (1962; cit. por Raposo, 1996), afirma ser necessário considerar os seguintes
aspectos, para concomitantemente se definir uma ciência:

As ciências com paradigmas, raramente discutem ou debatem o que constitui o método


legitimo, os problemas e os padrões de avaliação inerentes à área de estudo;

Nas ciências com paradigmas, os artigos científicos são a forma privilegiada para
apresentar os estudos desenvolvidos e não as monografias, sendo o livro de texto um
instrumento pedagógico de base;

O grau de consonância ou de concordância sobre o paradigma utilizado, bem como as


correntes teóricas e filosóficas adoptadas; e,

as anomalias (distúrbios relativos à pratica da ciência normal) são proporcionadoras das


pré-condições para as mudanças paradigmáticas.

Kuhn (1962; cit. por Carvalhal, 2000) também afirma que a actividade cientifica não é
a procura de novas teorias, mas sim, uma actividade permanente na procura da
resolução de problemas, à luz das teorias e do paradigma aceites pela comunidade
cientifica.

2.2.2. Utilização do paradigma positivista

Este paradigma é representativo de uma orientação filosófica dualista, dado que todo o
esquema depende de uma ideia dualista da lógica, da distinção entre o abstracto e o
concreto, interior e exterior, sensação e razão e realidade subjectiva e objectiva
(Raposo, 1996).

Segundo Raposo (1996), o que caracteriza o positivismo pode ser definido de acordo
com as seguintes características:

A realidade, seja ela de carácter físico ou social, pode ser reduzida às partes individuais
que a constituem; o desafio académico para os positivistas é identificar as partes
constituintes e explicar a forma como estas se relacionam entre si;
A realidade é simultaneamente lógica e ordeira, podendo ser descrita e documentada
por cientistas, desde que utilizem uma metodologia adequada;

O método cientifico que deriva do positivismo lógico é o adequado para o


desenvolvimento de um conhecimento que visa identificar e promover as leis universais
sobre o mundo; como princípio essencial deste método, está a necessidade de
observação;

A observação é fundamental na medida em que há uma realidade objectiva que pode


ser observada, explicada e prevista através de procedimentos aplicados de uma forma
sistemática, como o cálculo matemático; e, todo o conhecimento que não tenha por
base a observação directa, não é conhecido como válido. “O positivismo defende que o
método científico é o método mais adequado para observar e analisar as partes
constituintes da realidade, de forma a esclarecerem-se leis universais” (Carvalhal,
2000: 42). Assim, a objectividade é uma condição inerente ao conhecimento científico.

2.2.4. Falta de ligação da teoria à prática

Este parâmetro visa referenciar que não existe uma integração da informação produzida
pelos cientistas para os práticos, o que leva a que toda a informação produzida não se
transforme em conhecimento útil para a sociedade.

Carvalhal (2000) salienta que a causa desta problemática deve-se ao facto de os


cientistas também não se mostrarem muito interessados no conhecimento integrador e
revelam pouca preocupação em aplicar a informação produzida aos problemas reais,
bem como por outro lado, os práticos também revelam incapacidade de percepção da
informação cientifica, assim como, a dificuldade em integrar essa informação prática.
Este facto, provoca uma falta de receptividade da informação cientifica produzida, por
parte de alguns investigadores de algumas área de conhecimento.

Segundo Martens (1987), este problema pode ser resolvido com a introdução duma
pessoa capaz de fazer a síntese de ambas as fontes de informação, quer teóricas, quer
práticas, transformando esta informação em conhecimento útil. Tal como no paradigma
positivista, este parâmetro possui um carácter dualista, em que se separa a teoria da
prática, associando à teoria a actividade mental e espiritual, enquanto que à prática é
associada uma actividade material, mecânica e mecanicista (Crespo, 1981; cit. por
Carvalhal, 2000).

Para Sérgio (1999: 4), “não basta uma prática, precisa é uma compreensão da prática,
ou seja, a unidade prática-teoria: teoria essa que pretende interpretar e projectar a
prática”.

2.2.5. Reduzida investigação de acordo com o paradigma naturalista

Em comparação com o paradigma positivista anteriormente citado, existe pouca


investigação realizada de acordo com este paradigma. Este por sua vez, permite uma
pesquisa interpretativa e crítica e funciona como uma nova alternativa a desafios e
novas formas de conhecimento.

Segundo Delgado (1994; cit. por Carvalhal, 2000), os modelos explicativos ou


ideográficos, nada explicam nas Ciências Sociais, apenas demonstrando relações
importantes, sugerindo aspectos causais e possíveis efeitos, tornando assim mais claro o
evidente, e inteligíveis as dimensões menos evidentes dos acontecimentos. Desta
forma, a investigação em qualquer uma das Ciencias sociais não se pode cingir à
investigação somente realizada com base no modelo ideográfico, pois é necessário
aumentar o conhecimento, criar diferentes perspectivas de análise do ser humano, pois
não basta coleccionar factos, sendo necessário ter presente o seu significado.

“O objecto de estudo desta área do conhecimento, é o Ser humano e o movimento


intencionalmente realizado, quer individualmente, quer no grupo, num determinado
contexto. As actividades humanas são práticas culturais, embebidas em contextos
sociais, económicos, políticos, e culturais, não podendo ser vistas como neutras,
desprovidas de um vasto significado social e livres de determinados valores culturais”
(Carvalhal, 2000: 48). Raposo (1996) afirma ainda, que o ser humano é um ser
intencional, que age num ambiente intencional, sofrendo as influências do meio sócio-
cultural.

2.3. Ciência, Sociedade e Tecnologia


Os estudos sociais da ciência e da tecnologia, também conhecidos como estudos sobre
ciência, tecnologia e sociedade, constituem actualmente um vasto campo de trabalho
onde se pretende entender o fenómeno científico-tecnológico em contexto social, tanto
em relação com as suas condicionantes sociais, como no que diz respeito às suas
consequências sociais e ambientais (Cerezo, 1998).

Este tipo de estudos sociais que surgiram a partir da necessidade da regulação publica
da troca de informações científico-tecnológicas, teve origem na década de 70, surgindo
a partir de novas correntes de investigação empírica, no domínio da filosofia e
sociologia.

Numa análise generalista, Cerezo (1998) refere que um aumento do produto cientifico
de um país, origina um desenvolvimento tecnológico, que por sua vez melhora a
riqueza e bem-estar social da nação em causa. No entanto, Maxwell (1984; cit, Cerezo,
1998) adverte que esta visão clássica só pode ser entendida correctamente se a ciência
se afastar da sociedade em questão, para procurar exclusivamente a verdade.

Neste tipo de relação ciência-tecnologia, não se pretende entender isto como um


produto ou actividade autónoma, que segue uma lógica interna de desenvolvimento
para o seu funcionamento óptimo, mas sim como um processo ou produto
inerentemente social, onde os elementos não-técnicos (valores morais, convicções
religiosas, interesses profissionais e pressões económico-políticas) desempenham um
papel decisivo na sua génese e consolidação.

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