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MORFOLOGIA HUMANA

Flávio de Barros Molina e


Felipe Scassi Salvador
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SUMÁRIO

1 EMBRIOLOGIA ......................................................................................... 3
2 HISTOLOGIA DOS TECIDOS BÁSICOS ...................................................... 16
3 HISTOLOGIA DOS SISTEMAS .................................................................. 42
4 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO ......................................................... 57
5 SISTEMA CIRCULATÓRIO, RESPIRATÓRIO E DIGESTÓRIO ....................... 77
6 SISTEMAS UROGENITAL MASCULINO E FEMININO E SISTEMA NERVOSO
................................................................................................................. 93

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1 EMBRIOLOGIA

Neste bloco serão apresentadas informações gerais sobre a gametogênese, a


fertilização e o desenvolvimento embrionário até o processo de neurulação. Será dada
ênfase na formação da mórula e do blastocisto, e para os processos de gastrulação e
de neurulação.

1.1 Gametogênese

A reprodução depende da produção dos gametas a partir de células da linhagem


germinativa que, ao se dividirem por meiose, tornam-se haploides (n = 23
cromossomos). Durante a reprodução, através da união do gameta masculino
(espermatozoide) com o gameta feminino (ovócito secundário), o número diploide de
cromossomos característico das células da linhagem somática (2n = 46) é
restabelecido. A divisão por meiose é muito importante do ponto de vista evolutivo,
pois gera a variabilidade genética.

No embrião masculino, células da linhagem germinativa produzem, através da mitose,


as espermatogônias (2n), que também sofrem divisões mitóticas e assim mantêm o
seu número diploide. As divisões na fase embrionária são encerradas, e apenas na
puberdade, quando tem início a fase reprodutiva, as espermatogônias voltam a se
dividir por mitose. Enquanto algumas continuam sofrendo mitoses sucessivas, outras
iniciam a meiose, originando espermatócitos primários (2n, com cromátides
duplicadas). Isso acontece no interior dos túbulos seminíferos dos testículos. Durante a
meiose, cada espermatócito primário irá originar dois espermatócitos secundários (n,
com cada cromátide duplicada). Por fim, cada espermatócito secundário dará origem a
duas espermátides com o número haploide (n) necessário ao gameta (GARCIA, GARCÍA
FERNÁNDEZ, 2012; GILBERT, BARRESI, 2019). Resumindo, a partir de uma
espermatogônia (2n) surgirão quatro espermátides (n, cada) (figura 1.1).

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Figura 1.1 – Espermatogênese ocorrendo no interior de um túbulo seminífero

Espermatogênese
Túbulo seminífero (corte transversal)

Espermátides irão se desenvolver em espermatozoides (n), durante o processo


Espermatogônia
denominado espermiogênese que ocorre próximo à luz dos túbulos seminíferos. A
maior parte do seu citoplasma será eliminado e uma cauda será formada para garantir
Espermatócito
primário MEIOSE I
ao espermatozoide a fundamental capacidade de deslocamento. Cada espermatozoide
Espermatócito
apresenta as seguintes partes: cabeça, secundário
peça intermediária e cauda (figura 1.2). A
MEIOSE II
cabeça inclui o núcleo e o acrossomo eEspermátide
a peça intermediária contém uma bateria de
jovem
mitocôndrias que garantirão a energia necessária para a propulsão do flagelo situado
Espermátide
na cauda (GARCIA, GARCÍA FERNÁNDEZ, 2012; GILBERT, BARRESI, 2019).
madura

Espermatozoide

Figura 1.2 – Estrutura de um espermatozoide

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No embrião feminino, células da linhagem germinativa produzem por mitose as


ovogônias (2n) que também sofrem divisões mitóticas e assim mantêm o seu número
diploide. Ainda na fase embrionária, as ovogônias iniciarão a meiose que, entretanto,
será interrompida após a formação do ovócito primário (2n, com cromátides
duplicadas) para ser retomada apenas na vida adulta, a partir da puberdade. Então, um
ovócito primário produzirá um ovócito secundário (n, com cromátides duplicadas) e o
primeiro corpúsculo polar que irá se degenerar. Durante a ovulação, o ovócito
secundário é liberado do ovário para a tuba uterina e, se for fertilizado, completará a
meiose produzindo um óvulo (n) e o segundo corpúsculo polar que também irá se
degenerar (GARCIA, GARCÍA FERNÁNDEZ, 2012; GILBERT, BARRESI, 2019). Resumindo,
a partir de uma ovogônia (2n) surgirão um óvulo (n) e dois corpúsculos polares (figura
1.3).

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Figura 1.3 – Ovogênese

Ovogênese

Antes do nascimento Ovogônia

Duplicação dos cromossomos

Ovócito primário

Ciclo menstrual Meiose I


O ovócito secundário entra na tuba uterina para que a fertilização ocorra. Encontra-se
rodeado porPrimeiro
uma camada gelatinosa denominada zona pelúcida e por células
corpúsculo Ovócito
foliculares da corona radiata (figura 1.4) (GILBERT, BARRESI, 2019; secundário
SADLER, 2019;
polar
SCHOENWOLF et al., 2016).

Meiose II
Fertilização
Segundo
Corpúsculo
Polar Óvulo

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Figura 1.4 – Ovócito secundário com destaque para a Zona Pelúcida e a Corona
Radiata

Corona radiata

Membrana plasmática

Nucléolo

Núcleo

Citoplasma

Zona
pelúcida

1.2 Fertilização

Os espermatozoides encontrarão o ovócito secundário na porção distal da tuba


uterina. Parece haver uma atração química provocada por moléculas produzidas pelo
ovócito. Apesar de milhões de espermatozoides serem ejaculados durante a cópula,
poucas dezenas chegarão até essa etapa. Ao encontrar o ovócito secundário, o
espermatozoide deve atravessar as células que formam a corona radiata e penetrar na
zona pelúcida. Isso é possível graças à reação acrossômica, durante a qual enzimas são
liberadas pelo acrossoma. Na membrana do ovócito, o espermatozoide encontrará
receptores ligadores de espermatozoides e, após se ligar a um deles, ocorrerá a fusão

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das membranas celulares dos dois gametas. É nesse momento que os grânulos
corticais do citoplasma do ovócito liberam o seu conteúdo para o exterior da
membrana. Esse processo, que impede que outros espermatozoides fertilizem o
ovócito, é denominado reação cortical (figura 1.5) (GILBERT, BARRESI, 2019; SADLER,
2019; SCHOENWOLF et al., 2016).

Figura 1.5 – Espermatozoides durante a tentativa de fertilização de um ovócito


secundário

Repare que apenas um espermatozoide teve sucesso em ligar-se à membrana do


ovócito.

Apenas o núcleo do espermatozoide chega ao citoplasma do ovócito e, quando isso


ocorre, o ovócito secundário completará a meiose. Portanto, é neste momento que o
segundo corpúsculo polar é produzido e que o gameta feminino, agora denominado
óvulo, torna-se haploide (n) sem cromátides duplicadas (GARCIA, GARCÍA FERNÁNDEZ,
2012; GILBERT, BARRESI, 2019). Na sequência, os núcleos dos gametas se fundem
criando assim o zigoto diploide (2n).

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1.3 Formação do blastocisto

Enquanto o zigoto continua sendo conduzido pela tuba uterina em direção ao útero,
ele inicia uma série de divisões celulares mitóticas denominadas clivagens.
Sucessivamente o zigoto passa pelos estágios de 2 células, 4 células, 8 células e 16
células, quando passa a ser denominado mórula (figura 1.6). Esse estágio é alcançado
cerca de quatro dias após a fecundação. As divisões celulares continuam e a mórula,
até então um amontoado compacto de células, começa a apresentar espaços internos
cheios de líquido que se juntarão formando uma única cavidade interna. Com mais de
50 células e uma ampla cavidade interna, o embrião é agora denominado blastocisto
(GARCIA, GARCÍA FERNÁNDEZ, 2012; GILBERT, BARRESI, 2019; SADLER, 2019;
SCHOENWOLF et al., 2016).

Figura 1.6 – Desenvolvimento do zigoto até o estágio de blastocisto, já no útero

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Ele apresenta, em um dos polos, um conjunto de células que constituem o


embrioblasto ou massa celular interna. As demais células que delimitam a cavidade
interna constituem o trofoblasto e a cavidade é denominada blastocele. Como os
nomes sugerem, o embrioblasto, formado por células tronco embrionárias, dará
origem ao embrião e o trofoblasto dará origem a parte da placenta (figura 1.7)
(GILBERT, BARRESI, 2019; SADLER, 2019; SCHOENWOLF et al., 2016).

Figura 1.7 – Blastocisto visto em corte para identificação do embrioblasto, do


trofoblasto e da blastocele

Por volta do sétimo/nono dia após a fecundação, o blastocisto liberta-se da zona


pelúcida e entra em contato com o epitélio endometrial do útero, iniciando um
processo de implantação realizado através de projeções digitiformes. O embrião ficará
completamente implantado no endométrio, sem contato com a luz uterina (figura 1.8)
(GARCIA, GARCÍA FERNÁNDEZ, 2012; GILBERT, BARRESI, 2019; SADLER, 2019;
SCHOENWOLF et al., 2016).

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Figura 1.8 – Blastocisto no final do processo de implantação no endométrio

Antes de estar totalmente implantado no endométrio uterino, o embrioblasto sofre


uma diferenciação e passa a apresentar duas camadas celulares: uma camada dorsal
denominada epiblasto e uma camada ventral denominada hipoblasto (GARCIA, GARCÍA
FERNÁNDEZ, 2012; GILBERT, BARRESI, 2019; SADLER, 2019; SCHOENWOLF et al., 2016).

1.4 Gastrulação

A gastrulação é um importante processo através do qual o disco embrionário muda de


bilâminar (epiblasto e hipoblasto) para trilâminar, quando apresenta os três folhetos
germinativos (ectoderme, mesoderme e endoderme) (figura 1.9). Esse processo tem
início na terceira semana de vida intrauterina. Durante esse período também ocorre a
formação da notocorda (figura 1.10), a partir de células mesodérmicas. Este será o
primeiro bastão longitudinal de sustentação do embrião que, posteriormente, será
quase totalmente substituído pela coluna vertebral. O embrião agora apresenta uma

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simetria bilateral com os eixos crânio caudal e direito-esquerdo definidos (GILBERT,


BARRESI, 2019; SADAVA et al., 2020; SADLER, 2019; SCHOENWOLF et al., 2016).

Figura 1.9 – Gástrula em corte para observação do arquêntero (tubo digestório


embrionário), da ectoderme (células em rosa e roxo), da mesoderme (células em
amarelo e azul) e da endoderme (células em verde)

Ao final da terceira semana de vida intrauterina, o embrião já apresenta uma forma


tubular. Isso acontece como consequência das subdivisões sofridas pelas células dos
três folhetos germinativos. A partir das células da ectoderme, mesoderme e
endoderme serão formados todos os tecidos e órgãos do corpo. Esse é o início do
processo conhecido como organogênese (GILBERT, BARRESI, 2019; JUNQUEIRA et al.,
2018; SADLER, 2019; SCHOENWOLF et al., 2016).

1.5 Neurulação

Outro evento marcante do desenvolvimento embrionário é o processo de neurulação,


durante o qual é formado o tubo neural, posicionado dorsalmente em relação à
notocorda (figura 1.10). Esse processo ocorre a partir do dobramento da placa neural,
estrutura de origem ectodérmica que havia se formado durante a gastrulação, no 18º

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dia de vida intrauterina (GILBERT, BARRESI, 2019; SADLER, 2019; SCHOENWOLF et al.,
2016).

Figura 1.10 – Embrião observado em corte logo após o processo de neurulação.


Observa-se o intestino (origem endodérmica), o celoma e a notocorda (origem
mesodérmica) e o tubo neural (origem ectodérmica)

A neurulação ocorre na quarta semana de vida intrauterina, e o tubo neural formado


sofrerá diferenciação crânio caudal, com um encéfalo primitivo na região cranial e uma
medula espinal se alongando em direção à região caudal. Desde muito cedo é possível
diferenciar a subdivisão do encéfalo em prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo
(figura 1.11) (SILVERTHORN, 2017; TORTORA, DERRICKSON, 2019).

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Figura 1.11 – Embrião, sendo possível observar a diferenciação do encéfalo

REFERÊNCIAS

GARCIA, S. M. L; GARCÍA FERNÁNDEZ, C. (Org.). Embriologia. Porto Alegre: Artmed,


2012.

GILBERT, S. F; BARRESI, M. J. F. Biologia do desenvolvimento. Trad. Catarina de Moura


Elias de Freitas et al. Porto Alegre: Artmed, 2019.

JUNQUEIRA, L. C. U; CARNEIRO, J; ABRAHAMSOHN, P. Histologia básica: texto e atlas.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

SADAVA, D; HELLER, H. C; HILLIS, D. M.; HACKER, S. D. Vida: a ciência da biologia. v. 3.


Forma e função de plantas e animais. Trad. Ardala Catzfuss et al. Porto Alegre:
Artmed, 2020.

SADLER, T.W. L. “Embriologia Médica”. In: Revista Estela Bevilacqua. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2019.

SCHOENWOLF, G. C; BLEYL, S. B.; BRAUER, P. R; FRANCIS-WEST, P. H. L. Embriologia


Humana. Trad. Adriano Zuza e Alcir Fernandes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.

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SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. Trad. Adriane


Belló Klein et al. Porto Alegre: Artmed, 2017.

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Trad. Ana C. C.


Botelho et al. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2019.

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2 HISTOLOGIA DOS TECIDOS BÁSICOS

Neste bloco, serão apresentadas informações gerais sobre biologia celular e serão
discutidas as principais características dos tecidos epitelial de revestimento, epitelial
glandular, conjuntivo, adiposo, cartilaginoso, ósseo, nervoso e muscular.

2.1 Introdução ao estudo das células

Todo tecido orgânico é formado por células e matriz extracelular, portanto, vamos
dedicar um espaço para destacar alguns aspectos básicos das células humanas. Duas
partes se destacam: o citoplasma, contido pela membrana plasmática, e o núcleo que,
como em toda célula eucarionte, é delimitado pelo envoltório nuclear. A membrana
plasmática é fundamental como uma barreira seletiva através da qual apenas algumas
substâncias podem entrar e outras podem sair. Devido a essa seletividade, o meio
intracelular pode manter-se diferenciado do meio extracelular. Ela é constituída por
uma camada dupla de lipídios que também inclui proteínas e carboidratos (figura 2.1)
e permite que a célula cresça, sofra divisão celular e, em alguns casos, mude de forma.
Trata-se de uma estrutura bastante ativa (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2012; JUNQUEIRA
et al., 2018; MELO, 2018).

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Figura 2.1 – Detalhe estrutural da membrana plasmática

O meio no qual as células estão inseridas contém muita informação e cabe à


membrana plasmática receber e interpretar esses sinais extracelulares e, através de
um processo chamado transdução, gerar os sinais intracelulares correspondentes. Vale
mencionar ainda que ela pode apresentar alterações que garantem o aumento da sua
superfície, como no caso das microvilosidades das células absortivas intestinais, e que
permitem maior comunicação entre duas células (junções comunicantes), um aumento
da adesão entre duas células (junções aderentes e desmossomos) ou que impeçam a
comunicação entre diferentes células (junções de oclusão) (figura 2.2) (JUNQUEIRA,
CARNEIRO, 2012; JUNQUEIRA et al., 2018; MELO, 2018; YOUNG et al., 2007).

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Figura 2.2 – Células absortivas intestinais (enterócitos)

Repare nas microvilosidades das superfícies apicais e nos desmossomos das superfícies
laterais.

O citoplasma apresenta diversas organelas e uma matriz denominada citosol, formada


por água, íons, aminoácidos, enzimas diversas e um citoesqueleto. Este pode ser
caracterizado como um emaranhado de microfilamentos de actina, filamentos
intermediários e microtúbulos de tubulina que se estendem da membrana plasmática
até o núcleo (Figura 2.3). Os componentes do citoesqueleto interagem entre si e com
proteínas acessórias (exemplo: miosina) e, graças à capacidade de despolimerizar e
polimerizar novamente, o citoesqueleto garante a transição que ocorre no citoplasma
entre os estados sol e gel. Entre as várias funções do citoesqueleto estão o suporte
para as junções intercelulares, a sustentação da membrana plasmática e a organização
citoplasmática, possibilitando o transporte interno de vesículas, a movimentação de
organelas e o controle da forma da célula (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2012; JUNQUEIRA
et al., 2018; MELO, 2018).

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Figura 2.3 – Detalhes do citoesqueleto

Repare nos microfilamentos de actina, nos filamentos intermediários e nos


microtúbulos.

As organelas existentes no citoplasma são fundamentais para a realização das reações


metabólicas que sustentam a vida. As mitocôndrias podem ser consideradas as
provedoras de energia, uma vez que garantem a liberação da energia contida nos
alimentos e o seu armazenamento eficiente em moléculas de ATP (adenosina
trifosfato). Os ribossomos, o retículo endoplasmático e o complexo de Golgi participam
da síntese e da secreção de diversas moléculas, sendo que os ribossomos são capazes
de decodificar a ordem dos aminoácidos que irão compor determinada proteína. Essa
ordem é definida no núcleo, através da formação do RNAm (ácido ribonucleico
mensageiro) que será transferido para o citoplasma (figura 2.4). Além de comandar
todos os processos que ocorrem na célula, o núcleo também armazena o DNA (ácido
desoxirribonucleico) (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2012; JUNQUEIRA et al., 2018; MELO,
2018).

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Figura 2.4 – Estrutura básica de uma célula humana

Repare nas diversas organelas existentes.

2.2 Tecido epitelial

Tecidos são formados por células e pela matriz extracelular. As células envolvidas
desempenham uma mesma função ou funções complementares. A matriz extracelular
apresenta fibras proteicas, como as colágenas e elásticas, e substância fundamental
amorfa, basicamente proteoglicanos, glicosaminoglicanos e glicoproteínas
multiadesivas. Há uma continuidade física entre as células e a matriz extracelular, que
garante a coordenação de uma resposta única por parte do tecido.

Existem quatro tipos básicos de tecidos no organismo: tecido epitelial, tecido


conjuntivo sensu lato, tecido nervoso e tecido muscular (JUNQUEIRA et al., 2018;
LOWE, ANDERSON, 2016; YOUNG et al., 2007).

O tecido epitelial pode ser de revestimento e glandular. O primeiro é encontrado


revestindo a superfície externa do corpo (epiderme), revestindo superfícies externas
de órgãos internos (mesotélios) e revestindo cavidades, tubos e ductos do corpo

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(mesotélios, epitélio das mucosas, endotélios). As principais funções são: proteção,


revestimento, transporte transcelular de moléculas, absorção de íons/moléculas,
secreção, percepção de estímulos e distensibilidade. Origina-se de cada um dos três
folhetos germinativos. Trata-se de um tecido avascular que se caracteriza pela
presença de pouca matriz extracelular e pelas inúmeras junções intercelulares
apresentadas pelas suas células. Especializações da superfície apical, como cílios,
microvilos e estereocílios, podem ser observadas em algumas células (GARTNER,
HIATT, 2012; JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016).

O tecido epitelial de revestimento apoia-se sobre uma lâmina basal e é classificado


considerando-se o número de camadas de células e o formato dessas células. Existem
epitélios simples (uma camada) e estratificados (mais de uma camada). Considera-se
ainda um epitélio pseudoestratificado que, embora apresente uma única camada de
células, parece possuir mais de uma camada devido ao posicionamento dos núcleos
celulares em diferentes alturas. Quanto à forma das células, o epitélio de revestimento
pode ser pavimentoso, cúbico e colunar (também denominado cilíndrico ou
prismático). O tecido epitelial estratificado pavimentoso pode ser ou não
queratinizado. É interessante mencionar que este tipo de epitélio contém células com
formato tanto colunar como pavimentoso, conforme a sua posição no tecido, sendo
que a forma a dar nome ao tecido é aquela da camada celular mais externa (a
pavimentosa). Além disso, considera-se o tecido epitelial pseudoestratificado colunar e
o tecido epitelial estratificado de transição (exemplo: na bexiga) (figura 2.5), cujas
células mudam de forma conforme o órgão sofre maior ou menor distensão
(JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; OVALLE, NAHIRNEY, 2014).

O tecido epitelial glandular forma as glândulas exócrinas, que liberam a sua secreção
através de um ducto excretor, e as glândulas endócrinas, que liberam a sua secreção
na corrente sanguínea (figura 2.6) (GARTNER, HIATT, 2012; JUNQUEIRA et al., 2018).

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Figura 2.5 – Tipos de tecidos epiteliais de revestimento

Figura 2.6 – Diferenças estruturais entre glândula exócrina e glândula endócrina

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As glândulas endócrinas podem ser classificadas em cordonais ou foliculares,


dependendo do formato das células secretoras. As glândulas exócrinas podem ser
simples ou compostas, dependendo de o ducto ser ou não ramificado. Também podem
ser classificadas em tubulosas ou alveolares conforme a forma da porção secretora
(figura 2.7). Algumas glândulas são mistas, ou seja, tubuloalveolares (GARTNER, HIATT,
2012; JUNQUEIRA et al., 2018).

Figura 2.7 (a) – Glândula exócrina simples alveolar

23
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Figura 2.7 (b) – Glândula exócrina simples tubular

2.3 Tecido conjuntivo propriamente dito e tecido adiposo

O tecido conjuntivo lato sensu inclui basicamente os tecidos conjuntivos propriamente


ditos, adiposo, cartilaginoso e ósseo. Falaremos aqui sobre os dois primeiros. O tecido
conjuntivo pode ser encontrado adjacente ao tecido epitelial de revestimento (por
exemplo: derme, lâmina própria das mucosas); nas túnicas submucosas e
serosas/adventícias; estruturando órgãos diversos (estroma); organizando músculos e
nervos, envolvendo ossos e cartilagens e formando ligamentos e tendões. Uma de suas
funções é a de sustentação estrutural. Como é um tecido vascularizado, é fundamental
para permitir às células de outros tecidos a troca de gases, a nutrição e a eliminação de
resíduos metabólicos. Além disso, garante a defesa imunológica e a cicatrização
(JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; LOWE, ANDERSON, 2016).

O tecido conjuntivo é de origem mesodérmica e apresenta muita matriz extracelular. A


célula típica desse tecido é o fibroblasto, denominado fibrócito quando é pouco ativo.
Ocorrem também mastócitos, macrófagos e plasmócitos (figura 2.8). Esse tecido pode
ser classificado em conjuntivo frouxo, conjuntivo denso não modelado e conjuntivo

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denso modelado (JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; LOWE,


ANDERSON, 2016).

Figura 2.8 – Tecido conjuntivo

Repare nas células, nas fibras e nos vasos sanguíneos.

O tecido conjuntivo frouxo possui na matriz extracelular um arranjo aleatório e um


pouco frouxo de fibras de colágeno tipos I e II e de fibras elásticas (figura 2.9). O tecido
conjuntivo denso tem como características principais a predominância de fibras de
colágeno I e uma menor quantidade de células. As fibras de colágeno podem ou não
apresentar uma organização em feixes paralelos. No tecido conjuntivo denso
modelado esse paralelismo, que inclui a disposição dos fibroblastos, é observado
(figura 2.10). Já no tecido conjuntivo denso não modelado o que se observa é uma
trama de fibras orientadas de forma tridimensional, sem direções definidas (figura
2.11) (JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; LOWE, ANDERSON, 2016).

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Figura 2.9 – Tecido conjuntivo frouxo

Repare na grande quantidade de núcleos de fibroblastos (estruturas ovaladas coradas


em azul) e nas fibras dispostas de forma aparentemente aleatória.

Figura 2.10 – Tecido conjuntivo denso modelado (tendão)

Repare na menor quantidade de núcleos de fibroblastos (estruturas alongadas coradas


em azul) e nas fibras dispostas rigorosamente em paralelo.

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Figura 2.11 – Tecido conjuntivo denso não modelado (derme)

Repare na menor quantidade de núcleos de fibroblastos (estruturas alongadas coradas


em azul) e nas fibras dispostas sem direção definida.

O tecido adiposo pode ser dividido em tecido adiposo multilocular (ou pardo) e tecido
adiposo unilocular (ou amarelo). O primeiro é característico do embrião e do recém-
nascido, sendo encontrado basicamente próximo às cinturas peitoral e pélvica. É um
tecido com distribuição muito restrita nos adultos uma vez que não há produção após
o nascimento. Esse tecido é fundamental para os recém-nascidos já que é
termogênico, ou seja, produz o calor necessário para a termorregulação. Apresenta
adipócitos multiloculares (figura 2.12), células que apresentam inúmeras mitocôndrias
e muitas pequenas gotas de lipídios (triglicerídeos). Assim como os fibroblastos do
tecido conjuntivo, os adipócitos também se desenvolvem a partir de células do
mesênquima embrionário, ou seja, têm origem mesodérmica (GARTNER, HIATT, 2012;
JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

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,

Figura 2.12 – Tecido adiposo multilocular

Repare na posição central do núcleo dos adipócitos e nas inúmeras gotas de lipídios
espalhadas no citoplasma.

Como mencionado anteriormente, nos adultos quase todo o tecido adiposo existente é
do tipo unilocular. Apresenta-se principalmente na forma de gordura subcutânea (no
panículo adiposo) e de gordura visceral. Sua distribuição pelo corpo é sexualmente
dimórfica. Além de fornecer energia e de garantir o isolamento térmico tão necessário
a um animal endotérmico, é considerado importante para modelar as superfícies
corporais e preencher os espaços entre órgãos e tecidos. Em regiões como as
superfícies palmar e plantar absorve choques mecânicos e, finalmente, deve ser
lembrada a sua função de produzir e secretar hormônios (exemplo: leptina). Ao
contrário dos adipócitos do tecido adiposo multilocular, os adipócitos uniloculares
apresentam poucas mitocôndrias e uma única gota lipídica que mantém o núcleo em
posição periférica (figura 2.13). Sua origem também é mesodérmica. A matriz
extracelular é escassa nos dois tipos de tecido adiposo e ambos recebem vasos

28
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sanguíneos e nervos através de septos de tecido conjuntivo (GARTNER, HIATT, 2012;


JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

Figura 2.13 – Tecido adiposo unilocular

Repare na posição periférica do núcleo dos adipócitos e na enorme gota de lipídio que
ocupa quase todo o citoplasma.

2.4 Tecido cartilaginoso e tecido ósseo

O tecido cartilaginoso é rígido e maleável e está presente, por exemplo, nas fossas
nasais; no pavilhão auditivo e conduto auditivo externo; na laringe, traqueia e
brônquios; na extremidade ventral das costelas; nos discos epifisários e superfícies
articulares dos ossos longos; nos discos intervertebrais e na sínfise pubiana. Entre as
suas principais funções é importante destacar o suporte de tecidos moles, a absorção
de choques mecânicos, a minimização de atrito e a formação embrionária e
crescimento dos ossos longos (JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016;
ROSS, PAWLINA, 2018).

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É um tecido de origem mesodérmica em que os condroblastos se originam a partir de


células mesenquimais. Condroblastos, por sua vez, irão se transformar em condrócitos,
células que permanecem no interior de lacunas situadas na extensa matriz
extracelular. Esta, que representa até 95% do tecido, é formada por fibras de colágeno
ou por uma combinação de fibras de colágeno e fibras elásticas e por substância
fundamental amorfa onde predominam ácido hialurônico, condronectina e agrecam.
Os condroblastos produzem a matriz extracelular e, como consequência, acabam
presos em lacunas espalhadas pela matriz. Ao se transformarem em condrócitos,
podem sofrer mitose, originando grupos isogênicos (clones), e se ocupam da
manutenção da matriz cartilaginosa (JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES,
2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

O tecido cartilaginoso também é avascular e precisa estar próximo ao tecido


conjuntivo que, como já mencionado, traz consigo vasos sanguíneos e linfáticos (além
de nervos). Por isso, quase todas as cartilagens são revestidas pelo pericôndrio, uma
camada de tecido conjuntivo denso não modelado. A grande concentração de água de
solvatação presente na matriz extracelular (até 80%) garante que gases, nutrientes e
resíduos metabólicos sejam transportados por difusão através da matriz cartilaginosa.
Existem três tipos de tecido cartilaginoso, sendo o mais comum a cartilagem hialina.
Apresenta grande predominância de fibras de colágeno II e muitos grupos isógenos de
condrócitos. O pericôndrio está presente (figura 2.14), exceto na cartilagem hialina
articular (JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

30
,

Figura 2.14 – Traqueia vista em corte transversal

Da direita para a esquerda, observa-se a túnica mucosa (com epitélio de revestimento


pseudoestratificado colunar ciliado, lâmina própria e glândulas seromucosas), o
pericôndrio, a cartilagem hialina (com grupos isógenos de condrócitos), o pericôndrio e
a túnica adventícia.

A cartilagem elástica é mais flexível, pois além das fibras de colágeno II apresenta
também muitas fibras elásticas. Aqui, os condrócitos não formam grupos isógenos
(figura 2.15). Todas as cartilagens elásticas possuem pericôndrio (JUNQUEIRA et al.,
2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

31
,

Figura 2.15. Cartilagem elástica da epiglote

As fibras elásticas podem ser observadas em vermelho.

Ao contrário destas, as cartilagens fibrosas, ou fibrocartilagens, não apresentam


pericôndrio. Os condrócitos formam grupos isogênicos em fileiras isoladas por matriz
extracelular (figura 2.16) (JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; ROSS,
PAWLINA, 2018).

Figura 2.16 – Cartilagem fibrosa

Condrócitos podem ser observados em fileiras separadas por fibras colágenas.

32
,

O esqueleto do corpo humano é formado pelo tecido ósseo. Esse tecido também dá
suporte para tecidos moles, além de proteger órgãos vitais (por exemplo: cérebro),
formar sistemas de alavancas para o trabalho dos músculos, armazenar íons (exemplo:
cálcio), abrigar a medula óssea e absorver substâncias nocivas (por exemplo: metais
pesados). É mais um dos muitos tecidos de origem mesodérmica, com células
formadas a partir de células mesenquimais indiferenciadas. Delas surgem as células
osteoprogenitoras que dão origem aos osteoblastos (GARTNER, HIATT, 2012;
JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

Osteoblastos produzem a extensa matriz extracelular orgânica (osteoide) e participam


da sua mineralização. Como consequência, terminam aprisionados em lacunas, sendo
então denominados osteócitos. Como a matriz óssea calcificada (cristais de
hidroxiapatita) não possibilita a difusão de substâncias que precisam circular entre
osteócitos e osteoblastos, as lacunas são interligadas por canalículos que permitem
que essas células mantenham junções comunicantes entre si. Osteócitos participam da
manutenção da matriz óssea. Como o tecido ósseo sofre com frequência remodelação,
existe uma célula chamada osteoclasto que pode reabsorver a matriz óssea. É uma
célula móvel, gigante, com vários núcleos, formada a partir da união de alguns
monócitos (figura 2.17). Portanto, pertence à linhagem hematopoiética (GARTNER,
HIATT, 2012; JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; ROSS, PAWLINA,
2018).

33
,

Figura 2.17. Trabécula de tecido ósseo primário (em vermelho, no centro da figura)
com alguns osteócitos em suas lacunas

A grande célula multinucleada apoiada na superfície superior da trabécula é um


osteoclasto.

Por ser um tecido avascular, é envolvido interna e externamente por tecido conjuntivo,
respectivamente o endósteo e o periósteo. Inicialmente, todo tecido ósseo produzido
é do tipo primário, não lamelar (figura 2.17). Posteriormente, quase todo tecido ósseo
primário é absorvido pelos osteoclastos e substituído pelo tipo secundário, com
lamelas, incluindo as concêntricas que formam os ósteons ou sistemas de Havers. No
seu interior, o osso lamelar é perfurado pelos canais de Havers (figura 2.18) e pelos
canais de Volkmann, que permitem a passagem dos vasos sanguíneos que se
distribuem entre o periósteo e o endósteo (GARTNER, HIATT, 2012; JUNQUEIRA et al.,
2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

34
,

Figura 2.18 – Corte transversal de osso secundário

No centro são observados três canais de Havers circundados por lamelas concêntricas.
Diversas pequenas lacunas (de osteócitos) e canalículos intercomunicantes são visíveis.

2.5 Tecido nervoso e tecido muscular

O tecido nervoso forma as estruturas do sistema nervoso central (encéfalo e medula


espinal) e do sistema nervoso periférico (nervos e gânglios nervosos). Informações
vindas dos meios externo e interno são recebidas e processadas pelas células nervosas,
que também participam da organização/coordenação das funções motoras, viscerais,
endócrinas e psíquicas; da manutenção da homeostase e da execução dos padrões
comportamentais. O tecido nervoso é de origem ectodérmica (JUNQUEIRA et al., 2018;
OVALLE, NAHIRNEY, 2014; ROSS, PAWLINA, 2018).

As células nervosas, ou neurônios, apresentam um corpo celular (pericário), um grande


prolongamento com ramificações terminais (axônio) e diversos prolongamentos
menores e ramificados (dendritos) (figura 2.19). Geralmente, são os dendritos que
recebem informações de outras células ou do meio ambiente e esse estímulo segue
sempre através do axônio (JUNQUEIRA et al., 2018; OVALLE, NAHIRNEY, 2014; ROSS,
PAWLINA, 2018).

35
,

Figura 2.19. Partes constituintes de um neurônio típico com indicação da direção


seguida pelo impulso nervoso

A propagação do estímulo depende das alterações que ocorrem na diferença de


potencial elétrico entre as superfícies interna e externa da membrana celular. Para
passar de uma célula para outra, a informação tem de atravessar uma fenda sináptica,
o que pode ocorrer através de sinalização química efetuada por neurotransmissores
(sinapse química) ou por sinalização elétrica realizada pela passagem de íons através
de junções comunicantes (sinapse elétrica). Como já mencionado, as sinapses mais
comuns ocorrem entre o axônio e um dendrito (sinapse axodendrítica). Podem ocorrer
também entre o axônio e o pericárdio (sinapse axossomática) e entre dois axônios
(sinapse axoaxônica) (JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; ROSS,
PAWLINA, 2018).

Neurônios podem ser classificados, quanto à forma, em multipolares (um axônio e


vários dendritos), bipolares (um axônio e um dendrito) e pseudounipolares (um
prolongamento que bifurca em um axônio e um dendrito). Quanto à função, dividem-
se em neurônios sensitivos, neurônios motores e interneurônios. O tecido conjuntivo
está presente em conexão com o tecido nervoso, envolvendo as fibras nervosas
(endoneuro), os feixes nervosos (perineuro) e os grandes nervos (epineuro). Além dos
neurônios, o tecido nervoso apresenta as células da glia (ou neuroglia), cerca de dez
para cada neurônio, e muito pouca matriz extracelular. O SNC possui quatro tipos de

36
,

células da glia: astrócitos, oligodendrócitos, micróglias e células ependimárias. O SNP


possui apenas dois tipos: células satélites (figura 2.20) e células de Schwann
(JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; OVALLE, NAHIRNEY, 2014; ROSS,
PAWLINA, 2018).

Figura 2.20 – Corte transversal de um gânglio nervoso

A imagem mostra alguns neurônios (células grandes com núcleo claro e nucléolo
escuro) rodeados por diversas células satélites (núcleos escuros).

O tecido muscular está presente em praticamente todo o corpo. Além de participar da


manutenção da forma e da sustentação corporal, é fundamental para a locomoção, o
bombeamento do sangue, a digestão mecânica e a produção de calor. Sua origem é
mesodérmica. Células (ou fibras) musculares formam três tipos de tecido muscular. O
mais abundante é o tecido muscular estriado esquelético. Seu controle é voluntário e
permite contrações vigorosas, rápidas e descontínuas. É formado por células muito
longas, cilíndricas e com mais de um núcleo alongado situado em posição periférica.
Fibras, fascículos e músculos são envoltos por uma capa de tecido conjuntivo,
respectivamente, endomísio, perimísio e epimísio. As estriações transversais
observadas são devidas aos sarcômeros, regiões onde os miofilamentos de actina
deslizam sobre os miofilamentos de miosina (FIGURA 2.21), garantido assim a
37
,

capacidade de contração muscular (JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016;


ROSS, PAWLINA, 2018).

Figura 2.21 – Corte longitudinal de fibras de tecido muscular estriado esquelético

Além do padrão estriado vários núcleos periféricos podem ser observados.

O tecido muscular estriado cardíaco, de controle involuntário, garante contrações


vigorosas, rápidas e contínuas. Suas células cilíndricas são razoavelmente longas e
apresentam ramificações. Os núcleos, um ou dois, têm posição central. Uma
característica específica é a presença de discos intercalares (figura 2.22), um conjunto
de complexos juncionais, com junções comunicantes, de adesão e desmossomos
(JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

38
,

Figura 2.22 – Corte longitudinal de fibras de tecido muscular estriado cardíaco

As células apresentam ramificações e núcleos centrais. Discos intercalares indicam a


localização dos complexos juncionais.

O terceiro tipo é o tecido muscular liso, de controle involuntário. As contrações fracas,


lentas e descontínuas são executadas por células fusiformes com um núcleo central
(figura 2.23) e uma rede entrelaçada de miofilamentos de actina e miosina (portanto,
não há sarcômeros) (JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; ROSS,
PAWLINA, 2018).

39
,

Figura 2.23 – Corte longitudinal de fibras de tecido muscular liso

Cada célula apresenta um longo núcleo central.

REFERÊNCIAS
GARTNER, L. P; HIATT, J. L. Histologia essencial. Trad. Cláudia Coana et al. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2012.

JUNQUEIRA, L. C. U; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2012.

JUNQUEIRA, L. C. U; CARNEIRO, J; ABRAHAMSOHN, P. Histologia básica: texto e atlas.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

KIERSZENBAUM, A. L; TRES, L. L. Histologia e biologia celular: uma introdução à


patologia. Trad. Alexandre Bezerra Conde Figueiredo et al. Rio de Janeiro: Elsevier,
2016.

40
,

LOWE, J. S; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe Histologia humana. Trad. Marcella de


Melo Silva et al. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.

MELO, R. C. N. Células & microscopia: princípios e práticas. Barueri: Minha Editora,


2018.

OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter: histologia essencial. Trad. Marcelo Narciso.


Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas. Trad. Beatriz Araújo et al. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

YOUNG, B; LOWE, J. S.; STEVENS, A; HEATH, J. W. Wheater Histologia funcional: texto


e atlas em cores. Trad. Nilson Clóvis de Souza Pontes et al. Rio de Janeiro: Elsevier,
2007.

41
,

3 HISTOLOGIA DOS SISTEMAS

Neste bloco serão apresentadas informações gerais sobre os principais órgãos e


sistemas do corpo, sobre sua composição a partir de uma combinação variada de
tecidos orgânicos e sobre o seu funcionamento perfeitamente coordenado.

3.1 Sistema circulatório

Os principais constituintes do sistema circulatório são o coração e os vasos sanguíneos


e linfáticos distribuídos por todo o corpo. Enquanto os vasos sanguíneos transportam
nutrientes, resíduos metabólicos, gases e hormônios, os vasos linfáticos transportam a
linfa. O coração é a bomba que impulsiona a circulação do sangue/linfa. O coração dos
mamíferos apresenta dois átrios e dois ventrículos, estando o lado direito relacionado
à recepção do sangue venoso (pobre em O2) e ao seu envio aos pulmões e o lado
esquerdo à recepção do sangue oxigenado e ao seu envio às regiões superiores e
posteriores do corpo. Existem três túnicas, sendo a mais interna o endocárdio,
formado por endotélio que se assenta sobre uma camada de tecido conjuntivo. A
túnica intermediária, miocárdio, é basicamente muscular e circunda as câmaras
cardíacas. Trata-se da musculatura estriada cardíaca, de contração rítmica e
involuntária, observada na figura 2.22. A túnica mais externa, que abriga os vasos
sanguíneos e os nervos relacionados ao coração, é a do epicárdio, formada por um
mesotélio apoiado sobre uma camada formada por tecido conjuntivo e adipócitos. O
coração está localizado na cavidade pericárdica e é envolto por tecido adiposo
(GARTNER, HIATT, 2012; LOWE, ANDERSON, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018;
SILVERTHORN, 2017).

O sangue com oxigênio é bombeado pelo ventrículo esquerdo, sendo conduzido para
os tecidos corporais pelas artérias que, durante o seu trajeto, sofrem ramificações e
apresentam um calibre cada vez menor. As arteríolas são contínuas aos finos capilares
e é através da parede destes que ocorre muito intercâmbio entre o sangue e os demais
tecidos. Também em contato com os capilares, só que do lado oposto das arteríolas,

42
,

estão as vênulas, pequenos vasos que iniciam um trajeto através do qual vasos cada
vez maiores, as veias, transportam gás carbônico de volta para o coração (GARTNER,
HIATT, 2012; JUNQUEIRA et al., 2018; ROSS, PAWLINA, 2018; SILVERTHORN, 2017).

Geralmente, os vasos sanguíneos apresentam três túnicas. A mais interna, túnica


íntima, é formada por endotélio assentado sobre a lâmina basal e tecido conjuntivo
frouxo. Células musculares lisas podem estar presente. Em artérias observa-se ainda
uma lâmina elástica interna. Camadas concêntricas de musculatura lisa representam a
maior parte da túnica média que também pode apresentar lâminas elásticas. A túnica
mais externa, adventícia, é composta por tecido conjuntivo frouxo com muito
colágeno I e fibras elásticas. Os capilares, devido ao seu diminuto tamanho, são
formados por um endotélio que se assenta sobre a lâmina basal (figura 3.1) (GARTNER,
HIATT, 2012; JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; ROSS, PAWLINA,
2018).

Figura 3.1 – Estrutura de artérias, veias e capilares

43
,

Ao contrário dos vasos sanguíneos, os vasos linfáticos permitem a circulação da linfa,


um filtrado do líquido intersticial, somente em direção ao coração, caracterizando um
fluxo unidirecional. Eles se iniciam em capilares com fundo cego e formam vasos
maiores que terminam no ducto torácico e no ducto linfático direito. Ambos
desembocam na confluência das veias subclávias e jugulares internas. Os capilares são
formados por células endoteliais apoiadas em uma lâmina basal incompleta. Os
grandes vasos linfáticos apresentam paredes semelhantes às das veias (LOWE,
ANDERSON, 2016; OVALLE, NAHIRNEY, 2014; ROSS, PAWLINA, 2018).

3.2 Sistema respiratório

Para um bom entendimento do sistema respiratório é importante considerar a


existência de uma parte condutora de ar e de uma parte respiratória, onde ocorrem as
trocas gasosas. A parte condutora se inicia nas fossas nasais e continua através da
nasofaringe, da laringe, da traqueia, dos brônquios, dos bronquíolos e dos bronquíolos
terminais. Na sequência, estão os componentes da parte respiratória: bronquíolos
respiratórios, ductos alveolares e alvéolos. A parte condutora, em geral, é revestida
internamente por um epitélio pseudoestratificado colunar ciliado, com abundância de
células colunares ciliadas e de células caliciformes (secretoras de muco) (figura 3.2). O
muco produzido serve para aprisionar boa parte da poeira e dos micro-organismos que
entram com o ar inalado e o batimento sincronizado e constante dos cílios em direção
à faringe impede que esse material alcance as partes respiratórias (GARTNER, HIATT,
2012; JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; LOWE, ANDERSON, 2016).

44
,

Figura 3.2 – Epitélio de revestimento pseudoestratificado colunar ciliado da traqueia

Destaque para as células ciliadas e células caliciformes.

Laringe, traqueia e brônquios apresentam cartilagens que garantem que o lúmen


esteja sempre aberto. Na laringe as cartilagens são dos tipos: hialino e elástico; na
traqueia e nos brônquios a cartilagem é hialina. Na traqueia e nos brônquios, a mucosa
(epitélio + lâmina própria) é revestida pela submucosa, de tecido conjuntivo, pela
camada cartilaginosa e, por último, por uma adventícia, também de tecido conjuntivo.
O tecido epitelial nos bronquíolos sofre uma transição, conforme o diâmetro luminal
diminui, de pseudoestratificado colunar ciliado para simples colunar ciliado. Nos
bronquíolos terminais, o epitélio é simples, cuboide com células ciliadas intercaladas
com células de clara secretoras de um agente tensoativo. Externamente ao tecido
conjuntivo existem fibras musculares lisas. A situação é mais ou menos a mesma nos
bronquíolos respiratórios, mas, nos ductos alveolares, o epitélio varia entre simples
cuboide e simples pavimentoso. Nos alvéolos, a separação do ar em relação ao sangue
em um capilar é feita por uma fina barreira que permite a difusão dos gases: o
citoplasma de uma célula epitelial pavimentosa, a sua lâmina basal, a lâmina basal do
capilar e o citoplasma da célula endotelial (GARTNER, HIATT, 2012; JUNQUEIRA et al.,
2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; LOWE, ANDERSON, 2016).
45
,

3.3 Sistema digestório

O sistema digestório divide-se em um tubo digestório com cerca de 9 metros de


comprimento e alguns órgãos anexos. A cavidade oral representa a abertura de
entrada sendo seguida pela orofaringe, esôfago, estômago, intestino delgado e
intestino grosso. A mucosa oral é revestida por epitélio estratificado pavimentoso com
ou sem queratina, dependendo de sua função ser mastigatória ou gustativa. O epitélio
estratificado pavimentoso não queratinizado continua na orofaringe. A partir do
esôfago, o tubo é revestido por quatro túnicas: mucosa, submucosa, muscular externa
e serosa (figura 3.3) (JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; YOUNG et al.,
2007).

Figura 3.3 – Túnicas que compõem o tubo digestório: mucosa, submucosa, muscular
externa e serosa

A mais interna, túnica mucosa, apresenta um epitélio, uma lâmina própria de tecido
conjuntivo frouxo, que pode apresentar glândulas e tecido linfático, e uma camada
longitudinal de músculo liso, a muscular da mucosa. Na túnica submucosa está
localizado o plexo nervoso submucoso (ou de Meissner) e eventualmente glândulas e
tecido linfático. Duas camadas de músculos lisos caracterizam a túnica muscular
externa, uma camada circular mais interna e outra longitudinal mais externa. Entre as
duas camadas musculares há tecido conjuntivo, que garante a presença do plexo

46
,

nervoso mioentérico (ou de Auerbach). Finalmente, o tubo é forrado pela túnica


serosa, formada por tecido conjuntivo frouxo e por epitélio simples pavimentoso
(mesotélio) (JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; YOUNG et al., 2007).

O epitélio de revestimento da túnica mucosa muda de estratificado pavimentoso não


queratinizado no esôfago para simples colunar a partir do estômago. Apenas no canal
anal o epitélio voltará a ser estratificado. Como o intestino delgado é um importante
local de absorção e de secreção, sua superfície interna é aumentada através da
existência de pregas, vilos, criptas e microvilos (nos enterócitos) (figura 3.4). Criptas
também estão presentes no estômago e no intestino grosso (JUNQUEIRA et al., 2018;
LOWE, ANDERSON, 2016; YOUNG et al., 2007).

Figura 3.4 – Vilosidades na mucosa do intestino delgado e microvilos na superfície


apical dos enterócitos

47
,

O tecido epitelial glandular é observado na mucosa do esôfago, do estômago, do


intestino delgado e do intestino grosso, estando envolto pelo tecido conjuntivo da
lâmina própria. Em parte do esôfago são encontradas as glândulas esofágicas da
cárdia, produtoras de muco. No estômago, desembocando nas criptas gástricas, são
observadas as glândulas da cárdia, que produzem principalmente muco e lisozima; as
glândulas fúndicas, que produzem principalmente muco, lisozima, íons de H+, íons de
Cl-, pepsinogênio e lipase, e as glândulas pilóricas, que produzem principalmente muco
e lisozima. No intestino delgado, as glândulas (ou criptas) de Lieberkühn produzem
principalmente muco, lisozima, enteroquinase, dipeptidases e dissacaridases (figura
3.5). No intestino grosso, as criptas intestinais são ricas em células caliciformes
produtoras de muco (JUNQUEIRA et al., 2018; KIERSZENBAUM, TRES, 2016; LOWE,
ANDERSON, 2016; YOUNG et al., 2007).

Figura 3.5 – Corte longitudinal do jejuno mostrando vilosidades e criptas de


Lieberkühn na mucosa

Na túnica submucosa, glândulas são observadas no esôfago (glândulas produtoras de


muco e lisozima) e no duodeno (glândulas de Brünner, produtoras de muco alcalino).

48
,

Na submucosa do íleo, grandes nódulos linfáticos formam as placas de Peyer, que


atravessam a muscular da mucosa e se estendem na lâmina própria. Na túnica
muscular externa do esôfago existem algumas fibras de musculatura estriada
esquelética, de controle voluntário. A muscular externa do estômago conta com a
adição de uma camada mais interna formada por fibras musculares lisas oblíquas. Na
porção torácica do esôfago a serosa é substituída por uma adventícia (apenas tecido
conjuntivo frouxo) (JUNQUEIRA et al., 2018; LOWE, ANDERSON, 2016; YOUNG et al.,
2007).
O sistema digestório conta ainda com órgãos anexos: glândulas salivares, pâncreas,
fígado e vesícula biliar. As glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais
apresentam um parênquima formado por ácinos serosos e/ou túbulos mucosos e seus
ductos, cuja estrutura é organizada por um estroma formado por septos e por uma
cápsula de tecido conjuntivo frouxo. O parênquima pancreático é formado, na sua
parte exócrina, por ácinos, ductos e as características células centroacinosas. Ilhotas de
Langerhans compõem a porção endócrina (figura 3.6). Cápsula e septos de tecido
conjuntivo frouxo constituem o estroma. No fígado, os hepatócitos adotam disposição
cordonal, entre canalículos biliares e capilares sinusoides (JUNQUEIRA et al., 2018;
LOWE, ANDERSON, 2016; YOUNG et al., 2007).

Figura 3.6 – Corte do pâncreas mostrando o seu parênquima

Ao centro observa-se uma ilhota de Langerhans circundada por ácinos e ductos


pancreáticos.
49
,

3.4 Sistemas urinário e genital

Uma cápsula de tecido conjuntivo denso envolve o parênquima renal composto por
uma zona medular circundada por uma zona cortical. O parênquima contém milhares
de néfrons (corpúsculo renal + túbulo contorcido proximal + alça de Henle + túbulo
contorcido distal) e de túbulos coletores, estruturas que compõem o túbulo urinífero.
Cada corpúsculo renal é constituído por uma cápsula renal que envolve um glomérulo
renal formado por um capilar enovelado ligado a uma arteríola aferente e uma
eferente (figura 3.7). Dois folhetos formam a cápsula renal. O externo está constituído
por um epitélio simples pavimentoso, sua lâmina basal e algumas fibras reticulares. O
folheto interno está representado por podócitos, células que ao manterem contato
com a lâmina basal do capilar glomerular criam as fendas de filtração (JUNQUEIRA et
al., 2018; OVALLE, NAHIRNEY, 2014; ROSS, PAWLINA, 2018).

Figura 3.7. Parênquima renal em corte transversal mostrando dois corpúsculos renais
e diversos túbulos contorcidos

É possível observar as células pavimentosas do folheto externo da cápsula renal.

50
,

Os túbulos contorcidos proximal e distal são forrados por epitélio simples cúbico, com
microvilos nas células dos túbulos proximais. Já os cálices, a pelve, o ureter e a bexiga
possuem um epitélio estratificado de transição, necessário para sofrer a distensão
quando essas estruturas estiverem repletas de urina. O tecido conjuntivo da lâmina
própria varia de frouxo a denso e é envolto por musculatura lisa e por uma adventícia.
A uretra, nas mulheres, apresenta epitélio estratificado pavimentoso que, em certas
áreas, é substituído por epitélio pseudoestratificado colunar. Nos homens, a porção da
uretra relacionada à próstata possui epitélio de transição. Nas demais porções
observa-se tanto epitélio pseudoestratificado colunar como estratificado pavimentoso
(JUNQUEIRA et al., 2018; OVALLE, NAHIRNEY, 2014; ROSS, PAWLINA, 2018).

O testículo é envolto pela túnica albugínea, de tecido conjuntivo denso, e é dividido


em lóbulos por diversos septos. No interior de cada lóbulo encontram-se os túbulos
seminíferos, cobertos por tecido conjuntivo frouxo bastante vascularizado e com
muitas células mioides e células de Leydig. Células de dois tipos, dispostas em
camadas, formam a parede de um túbulo seminífero (figura 3.8). São as células da
linhagem espermatogênica, que produzirão os espermatozoides, e as células de
Sertoli, com seu característico formato triangular. Os ductos intratesticulares são
revestidos por epitélio simples cúbico e, nos ductos eferentes, algumas células são
ciliadas. Nos ductos extratesticulares, o epitélio muda para pseudoestratificado
colunar, com células providas de estereocílios. A lâmina própria do ducto deferente
apresenta muitas fibras elásticas e a musculatura lisa que a envolve possui três
camadas, sendo a mediana circular (JUNQUEIRA et al., 2018; OVALLE, NAHIRNEY, 2014;
ROSS, PAWLINA, 2018).

51
,

Figura 3.8 – Corte transversal de um túbulo seminífero

No interior, destacam-se as células da linhagem germinativa. No exterior, destacam-se


as células de Leydig.

O ovário é revestido por epitélio simples pavimentoso ou cuboidal que se assenta


sobre a túnica albugínea (tecido conjuntivo denso). Abaixo desta, o ovário é formado
por uma região cortical e uma região medular mais interna, ambas formadas por
tecido conjuntivo. A região cortical abriga os folículos ovarianos (ovócito + células
foliculares) enquanto a região medular abriga vasos sanguíneos (figura 3.9). As tubas
uterinas apresentam parede constituída por três camadas. Epitélio simples colunar,
com células ciliadas e células secretoras, e lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo
compõem a mucosa. Esta é recoberta por duas camadas de musculatura lisa, uma
interna circular (ou em espiral) e outra externa longitudinal que é revestida pela túnica
serosa (JUNQUEIRA et al., 2018; OVALLE, NAHIRNEY, 2014; ROSS, PAWLINA, 2018).

52
,

Figura 3.9 – Região cortical do ovário, mostrando um folículo primário (ovócito


envolto por duas camadas de células foliculares) imerso em tecido conjuntivo

A mucosa que reveste a cavidade uterina é denominada endométrio. É formada por


tecido epitelial simples colunar, também composto de células ciliadas e de células
secretoras, assentado sobre lâmina própria formada por tecido conjuntivo rico em
fibras de colágeno III e com muitas glândulas tubulares. A porção da mucosa voltada
para a cavidade uterina sofre alterações significativas durante o ciclo menstrual sendo
por isso denominada camada funcional. A camada basal não sofre tais alterações. Uma
espessa camada de musculatura lisa, denominada miométrio, envolve o endométrio. É
formada por quatro camadas de fibras musculares lisas intercaladas por tecido
conjuntivo que permite a intensa vascularização necessária. O aumento do miométrio
durante a gravidez ocorre por hipertrofia e por hiperplasia das fibras musculares e
observa-se ainda a produção de novas fibras de colágeno. Externamente, o útero
apresenta tanto regiões cobertas por uma serosa como regiões cobertas por uma
adventícia. Três camadas formam a parede vaginal: uma mucosa, com epitélio
estratificado pavimentoso e com lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo rico em

53
,

fibras elásticas; uma túnica muscular com fibras lisas longitudinais e circulares e uma
túnica adventícia (JUNQUEIRA et al., 2018; OVALLE, NAHIRNEY, 2014; ROSS, PAWLINA,
2018).

3.5 Sistema nervoso

Observa-se no cérebro, no cerebelo e na medula espinal uma divisão entre a chamada


substância cinzenta e a substância branca. Na substância cinzenta estão concentrados
os pericários, dendritos e partes iniciais não mielinizadas dos axônios, além de algumas
células da glia. Ela predomina no córtex cerebral, compondo seis camadas
interconectadas, no córtex cerebelar, compondo três camadas (figura 3.10), e no
interior da medula espinal. A substância branca predomina nas porções centrais do
cérebro e do cerebelo e na parte externa da medula espinal. É formada, basicamente,
pelos axônios e pelas células que garantem a sua mielinização, os oligodendrócitos.
Vale destacar que imersos na substância branca do cérebro existem pericários e
dendritos compondo núcleos de substância cinzenta (por exemplo: núcleos da base)
(GARTNER, HIATT, 2012; LOWE, ANDERSON, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

Figura 3.10 – Córtex cerebelar visto em corte para observação das três camadas de
substância cinzenta

54
,

Os grandes neurônios observados no centro da figura são as células de Purkinje que


formam a camada central. Acima está a camada molecular, ocupada principalmente
pelos dendritos das células de Purkinje, e abaixo está a camada granulosa, com
inúmeros neurônios de pequeno tamanho. No canto inferior direito da imagem,
observa-se região de substância branca.

A distribuição observada no Sistema Nervoso Periférico, entre pericários e axônios, é


bastante diferente daquela do Sistema Nervoso Central. Os axônios e as células de
Schwann, que garantem a sua mielinização, formam feixes de fibras nervosas que são
envoltas por tecido conjuntivo, constituindo assim os nervos e as suas capas
denominadas endoneuro, perineuro e epineuro. Os pericários e dendritos formam os
gânglios (figura 2.20), envoltos por uma cápsula de tecido conjuntivo (GARTNER,
HIATT, 2012; LOWE, ANDERSON, 2016; ROSS, PAWLINA, 2018).

REFERÊNCIAS
GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Histologia essencial. Trad. Cláudia Coana et al. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2012.

JUNQUEIRA, L. C. U; CARNEIRO, J; ABRAHAMSOHN, P. Histologia básica: texto e atlas.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

KIERSZENBAUM, A. L.; TRES, L. L. Histologia e biologia celular: uma introdução à


patologia. Trad. Alexandre Bezerra Conde Figueiredo et al. Rio de Janeiro: Elsevier,
2016.

LOWE, J. S; ANDERSON, P. G. Stevens & Lowe Histologia humana. Trad. Marcella de


Melo Silva et al. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.

OVALLE, W. K.; NAHIRNEY, P. C. Netter: histologia essencial. Trad. Marcelo Narciso.


Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

55
,

ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas. Trad. Beatriz Araújo et al. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. Trad. Adriane


Belló Klein et al. Porto Alegre: Artmed, 2017.

YOUNG, B; LOWE, J. S.; STEVENS, A; HEATH, J. W. Histologia funcional: texto e atlas


em cores. Trad. Nilson Clóvis de Souza Pontes et al. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

56
,

4 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO
O Sistema Musculoesquelético, também conhecido como Sistema Locomotor, é
composto pelos sistemas Esquelético, Articular e Muscular, sendo responsável pela
movimentação do corpo humano, orientado pelo sistema nervoso. Temos como
objetivo entender os aspectos gerais destes sistemas, bem como seus principais
componentes e sua interação, facilitando o entendimento dos processos de
deambulação, podendo ser aplicado no ensino infantil e fazer uma correlação com
futuros estudos dentro dos processos de deambulação de outros animais.

4.1 Planos de referência e posição anatômica

Antes de começarmos os estudos do sistema locomotor, devemos entender alguns


conceitos básicos a respeito da organização do corpo humano e como o dividimos.

Ao nos referirmos a nosso organismo, normalmente pensamos nas estruturas que são
visíveis a olho nu, como olhos, nariz, pele, boca, dedos etc. Contudo ao estudarmos
outras áreas da Ciência Biológica, como Biologia Molecular, Bioquímica, Citologia e
Histologia, podemos constatar que nosso organismo possui uma organização muito
menor do que podemos ver a olho nu. Sendo assim, nosso corpo é organizado em
níveis estruturais que garantem a sua funcionalidade, começando com átomos, que se
unem dando origem a moléculas e macromoléculas, que atuam realizando reações
químicas dentro de uma organela, que está presente no interior de uma célula.

As células, por sua vez, produzem mais substâncias, formando um ambiente propício
para sua funcionalidade, dando origem aos tecidos biológicos, que unidos em camadas
dão origem aos órgãos e, quando atuam em conjunto, são a origem dos sistemas que
unidos formam o nosso organismo.

Assim, no estudo da morfologia observamos as estruturas que compõe o corpo em


seus aspectos histológicos e anatômicos, e para tal precisamos dividir o corpo em
planos e eixos.

57
,

Este conceito serve para que possamos nos orientar em planos de referência, direção e
posição das estruturas anatômicas, sendo assim temos três planos fundamentais de
referência (Figura 4.1):

a) plano sagital – divide o corpo em partes direita e esquerda;

b) plano coronal ou frontal – divide o corpo em partes frontal (anterior) e


dorsal (posterior);

c) plano transversal – divide o corpo em região superior e inferior.

Figura 4.1 – Divisão do corpo humano em planos Sagital, Coronal e


Transversal

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed., pg. 33. São Paulo: Manole, 2003.

58
,

Mas, para podermos utilizar essas divisões feitas pelos planos, temos que ter em
mente que o corpo precisa estar em posição anatômica, na qual encontramos o corpo
ereto, com os pés paralelos entre si, com os olhos voltados para frente, braços ao lado
do corpo com as palmas das mãos voltadas para frente e os dedos apontados para
baixo.
Com esses planos podemos utilizar termos de direção para facilitar o entendimento da
posição das estruturas em relação ao corpo, como podemos ver na tabela abaixo
(Tabela 4.1).
Assim, quando observamos um corpo ou órgão (peça anatômica) em posição
anatômica, seus lados são inversos ao observador, ou seja, o lado esquerdo da peça
anatômica se encontra do lado direito do observador, por exemplo na imagem abaixo
(Figura 4.2), o lado direito do coração está posicionado ao lado esquerdo do leitor. Isso
ocorre, pois, a peça está sendo observada de frente e os lados do observador ficam
invertidos aos da peça. Sendo assim, sempre que tiver dúvida quanto ao
posicionamento lateral, tente se imaginar na posição da peça para saber seu
posicionamento.

Figura 4.2 – Posicionamento anatômico de um coração em corte coronal

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2014.

59
,

Tabela 4.1 – Termos de direção para o corpo humano


Termo Definição Exemplo
Superior (cranial, Mais próximo da cabeça; O tórax é superior ao abdome.
cefálico) para cima
Inferior (caudal) Mais afastado da cabeça; As pernas são inferiores ao
para baixo tronco.
Anterior (ventral) Mais próximo da frente O umbigo está no lado anterior
do corpo do corpo.
Posterior (dorsal) Mais próximo do dorso do Os rins são posteriores ao
corpo intestino.
Medial Mais próximo da linha O coração é medial aos pulmões.
mediana do corpo
Lateral Mais afastado da linha As orelhas são laterais ao nariz.
mediana do corpo
Interno (profundo) Mais afastado da O encéfalo é interno ao crânio.
superfície do corpo
Externo Mais próximo da A pele é externa aos músculos.
(superficial) superfície do corpo
Proximal Mais próximo do tronco O joelho é proximal ao pé.
do corpo
Distal Mais afastado do tronco A mão é distal ao cotovelo.
do corpo
Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed., pg. 36. São Paulo: Manole, 2003.

4.2 Sistema Esquelético – Esqueleto Axial

Nosso organismo é sustentado por um sistema conhecido como Sistema Esquelético,


composto por 206 ossos em um adulto. Quando nascemos, muitos ossos não possuem
suas partes totalmente fundidas, para facilitar o parto, sendo assim em um recém-
nascido (RN) encontramos exatamente 270 ossos.

60
,

Antes de vermos os principais ossos que formam nosso corpo, precisamos entender
que os ossos são classificados de acordo com seu formato (Figura 4.3) , sendo assim
temos:

1) Ossos Longos: comprimento é maior que a largura, funcionam como


alavanca (membros superiores e inferiores) e possuem no interior de sua
parte longa uma região para armazenar e proteger a medula óssea,
conhecido como canal medular;

2) Ossos Curtos: tem forma próxima a um cubo e transferem as forças de


movimento (ossos do punho e tornozelo);

3) Ossos Planos: superfície larga, com função de inserção de um músculo ou


proteção de um órgão (ossos do crânio, costelas e ossos do cíngulo
superior);

4) Ossos Irregulares: formas e superfícies variadas, permitindo inserções


musculares variadas e articulações (vértebras e alguns ossos do crânio).

O tecido ósseo pode se organizar de duas formas macroscopicamente, dando origem a


dois tipos de tecidos:

A) Tecido ósseo esponjoso – tecido poroso, encontrado mais profundamente


no osso. Composto por pequenas trabéculas, sendo altamente
vascularizado e proporcionando formas grandes com pouco peso.

B) Tecido ósseo compacto – tecido lamelar, encontrado nas superfícies ósseas.


Sendo muito denso e duro.

61
,

Figura 4.3 – Classificação dos ossos

Para facilitar nosso estudo, o esqueleto é dividido em Esqueleto Axial, que forma o
eixo central do corpo e o Esqueleto Apendicular, que é composto pelos membros
ligados ao eixo central.
Desta maneira encontramos as seguintes estruturas formando o esqueleto axial:

1) Crânio – composto pelos ossos do crânio, que originam a caixa encefálica e


ossos da face, que dão sustentação aos olhos, nariz e originam o arcabouço
ósseo da cavidade oral (Figura 4.5);
2) Ossículos da audição – três pequenos ossos, presentes na orelha média e que
servem para transmitir impulsos sonoros (figura 4.5);
3) Osso hióide – Sustenta a língua e auxilia na deglutição, sendo encontrado
abaixo da mandíbula e acima da laringe (figura 4.5);
4) Coluna Vertebral e Caixa torácica – A coluna é composta por 26 ossos
isolados, separados por um disco de cartilagem fibrosa, conhecido como disco

62
,

intervertebral, já a caixa torácica é composta pelo esterno e por doze pares de


costelas, sendo os pares superiores conhecidos como costelas verdadeiras,
pois se fixam diretamente ao esterno, os cinco pares inferiores são conhecidos
como costelas falsas, pois ou se ligam indiretamente ao esterno (os três
primeiros pares) ou não se ligam a esse osso (dois últimos pares), sendo estas
últimas conhecidas como costelas flutuantes (Figura 4.6).

63
,

Figura 4.4 – Ossos do crânio e da face

Fonte: Pixabay. Disponível em: <https://bit.ly/307RPYm> e <https://bit.ly/2HwsaCi>. Acesso em 25 set.


2020.

64
,

Figura 4.5 – Imagem A (esquerda) ossos do ouvido. Imagem B (Direita) Osso hioide

Figura 4.6 – A – Coluna vertebral. Dividida em 5 regiões: Cervical (C1 - C7), Torácica
(T1 - T12), Lombar (L1-L5), sacro e cóccix. B – Caixa torácica e seus 12 pares de
costelas: Costelas verdadeiras par I ao VII, Costelas Falsas par VIII ao XII, sendo XI e
XII costelas flutuantes

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. São Paulo: Pearson Education do
Brasil, 2014.

65
,

4.3 Sistema Esquelético – Esqueleto Apendicular

Formado pelos membros superiores e inferiores e seus cíngulos, que são as regiões de
ligação entre os membros e o esqueleto axial.

Cíngulo do membro superior (Figura 4.7): Formado pelas clavículas (direita e esquerda)
e escápulas (direita e esquerda). Por ter ligação direta com o esqueleto axial apenas
pela região anterior, clavícula e esterno, não é considerado um cíngulo completo. Pela
falta de fixação posterior permite uma grande amplitude de movimento, além de
servir como área de inserção para diversos músculos que movimentam a articulação
do ombro.

O membro superior é dividido em (Figura 4.7):

1) Braço: estende-se o ombro até o cotovelo, tendo um único osso, o úmero;

2) Antebraço: formado pelos ossos ulna, no lado medial, e rádio, no lado


lateral, estendendo-se do cotovelo ao punho;

3) Mão: composta pelos oito ossos do carpo (punho), cinco ossos metacarpais,
formando o metacarpo (região de palma/dorso) e os quatorze ossos das
falanges (dedos).

Cíngulo do membro inferior (Figura 4.8): Formado pelos ossos do quadril, que estão
ligados a coluna no osso sacro, na região posterior e encontram-se unidos entre si na
região anterior, pela sínfise púbica. Estes ossos são originados pela fusão de outros
três ossos após nosso nascimento, o ílio, o ísquio e o púbis, que, apesar de se fundirem
completamente após os 25 anos, já estão ligados suficientemente fortes para nos
estabilizarem por volta dos 10 aos 18 meses de idade. Suporta todo o peso do corpo e
protege vísceras, como a bexiga urinária e em mulheres grávidas, protege o feto. A
região formada pelos ossos do quadril, sacro e cóccix é denominada pelve.

66
,

O membro inferior é dividido em (Figura 4.8):

4) Coxa: estende-se do quadril até o joelho, tendo um único osso, o fêmur. Na


articulação do joelho encontramos um osso sesamoide (que lembra o
formato de uma semente de gergelim), conhecido como patela;

5) Perna: formado pelos ossos tíbia e fíbula, estendendo-se do joelho ao


tornozelo;

6) Pé: composto pelos sete ossos do tarso (tornozelo e calcanhar), cinco ossos
do metatarsais, formando o metatarso (região de plantar/dorso) e os
quatorze ossos das falanges (dedos).

67
,

Figura 4.7 - Membro superior. Cíngulo: Escápula e Clavícula; Braço: Úmero;


Antebraço: Rádio e Ulna; Mão: Ossos do Carpo, Ossos do Metacarpo e
Falanges

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014. Adaptado.

68
,

Figura 4.8 - Membro inferior. Cíngulo: Osso do quadril; Coxa: Fêmur; Joelho: Patela;
Perna: Tíbia e Fíbula; Pé: Ossos do Tardo, Ossos do Metatarso e Falanges

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014. Adaptado.

69
,

4.4 Sistema articular

As articulações fazem parte do sistema esquelético, contudo as articulações são de


extrema importância pois permitem o movimento entre os ossos e sua estrutura
determinará a amplitude e a direção do movimento realizado.

Assim as articulações são classificadas de duas formas, quanto a função e a estrutura:

1) Classificação funcional: nesta classificação vemos o quanto de movimento a


articulação proporciona.

A. Sinartrose – articulações consideradas imóveis ou com movimentos


imperceptíveis;

B. Anfiartrose – articulações nas quais ocorrem movimentos pequenos,


sem grande deslocamento entre os ossos;

C. Diartrose – articulações com grande capacidade de movimento.

2) Classificação estrutural: nesta classificação analisamos como os ossos estão


ligados para formar a articulação.

A. Articulações fibrosas – neste grupo a união entre os ossos ocorre por


um tecido conjuntivo fibroso e encontramos três tipos de articulações
neste grupo (Figura 4.9):

a. Suturas: articulação que corre entre os ossos do crânio, possuem


uma quantidade mínima de tecido entre as placas ósseas e
lembra uma costura. Faz parte do grupo das sinartroses;

b. Sindesmose: O tecido fibroso que conecta os ossos nessa


articulação, também denominados ligamentos, são mais longos
do que nas suturas, o que permite uma certa movimentação.
São consideradas articulações anfiartrose;

70
,

c. Gonfoses: Articulação entre dentes e alvéolos dentários,


havendo um encaixe. O ligamento entre eles é conhecido como
periodonto. São classificados como anfiartrose.

B. Articulações cartilagíneas – nesta classe a união entre os ossos é feita


através de cartilagens e encontramos dois tipos de articulações neste
grupo (Figura 4.10):

a. Sincondroses: ligação feita com cartilagem hialina, sendo uma


articulação do grupo das sinartroses;

b. Sínfise: ligação feita com fibrocartilagens, o que permite uma


ligeira movimentação, sendo do grupo das anfiartroses.

C. Articulações sinoviais – Nesta classe temos as articulações mais móveis


do nosso corpo, os ossos não estão unidos diretamente e um líquido
garante a diminuição de atrito e a movimentação dos ossos, conhecida
como sinóvia. Nas faces dos ossos que participam dessa articulação
encontramos um revestimento de cartilagem hialina, conhecida como
cartilagem articular, que diminui ainda mais o atrito entre os ossos. Esta
articulação é delimitada por um tecido fibroso, conhecido como cápsula
articular, que também é responsável pela produção da sinóvia e por fim,
para evitar movimentos não desejados entre os ossos, temos os
ligamentos, compostos por tecido conjuntivo fibroso e que lembram
pequenos cordões (Figura 4.11).

71
,

Figura 4.9 – Articulações fibrosas. a. Sutura; b. Sindesmose; c. Gonfose

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. Adaptado.

Figura 4.10 - Articulações cartilagíneas. a. Sínfise; b. Sincondrose

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014. Adaptado.

72
,

Figura 4.11 – Articulação sinovial, vista posterior da articulação do joelho

Fonte: KOPF-MAIER, P. Wolf-Heidegger Atlas de Anatomia Humana. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2006. Adaptado.

4.5 Sistema muscular

Este sistema é composto por 600 músculos esqueléticos diferentes, sendo cada um
considerado um órgão diferente, pois são constituídos por tecido muscular, tecido
conjuntivo e tecido nervoso separadamente um dos outros.

Sabemos que a função do músculo é a movimentação corporal, porém ele não exerce
apenas essa função. As outras duas funções são produção de calor, através do
metabolismo muscular, ocorre a liberação de calor, e sustentação do corpo e postura,
onde alguns músculos atuam contra a força gravitacional, mesmo quando pensamos
estar relaxados muitos destes músculos estão atuando.

Para que possam realizar suas funções de movimentação e sustentação os músculos


esqueléticos precisam estar fixados nos ossos, através de suas extremidades. A
estrutura que realiza essa fixação são os tendões, um tecido conjuntivo fibroso, que

73
,

está intimamente relacionado com os tecidos conjuntivos que envolvem as fibras


musculares. O músculo possui duas ligações, uma mais curta, que denominamos
origem e uma mais longa, que denominamos inserção, assim, quando realizamos a
contração ela ocorre no sentido da origem, encurtando a inserção, fazendo com que o
osso onde foi feita a inserção se movimente (Figura 4.12).

Figura 4.12 – Esquema de contração muscular

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

Um músculo estriado é formado por diversas fibras musculares, que nada mais são que
as células deste músculo. As fibras se organizam em feixes e os feixes formam o
músculo e este conjunto é unido por tecido conjuntivo (endomísio, perimísio e
epimísio). Contudo, existe um tecido conjuntivo que liga o músculo à pele, conhecido
como fáscia muscular.

Os músculos podem ser classificados de acordo com a disposição das fibras, sendo elas
paralelas, convergentes, esfinctéricas ou peniformes.

74
,

1) Músculo Paralelo – Músculos com grande amplitude de contração e


possuem boa resistência para contração. São divididos em dois grupos, os
músculos fusiformes, que possuem a região central (ventre) ampliado, e em
forma de fita, fibras paralelas . (Figura 4.13). Exemplo: Músculo sartório;

2) Músculo Convergente – Músculo com fibras que convergem na região do


tendão, lembrando um leque. Possui força maior que o músculo paralelo
(Figura 4.13). Exemplo: Músculo Peitoral;

3) Músculo Esfinctérico – Músculo com fibras concêntricas em um orifício, ou


seja, suas fibras formam um anel muscular entorno de um orifício (Figura
4.13). Exemplo: Orbicular da boca;

4) Músculo Peniforme – Músculo com fibras dispostas de forma a parecer uma


pena de ave. São de extrema destreza e amplitude curta, porém se cansam
rapidamente. São subdivididos em semipeniforme, peniforme e
multipeniforme (Figura 4.13). Exemplos: Músculos extensor longos dos
dedos, reto femoral e deltoide.

Figura 4.13 – Tipos de músculo

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.
Adaptado.

a. Paralelo: músculo retoabdominal; b. Convergente: peitoral maior; c. Esfinctérico:


músculo obicular do olho; d. Semipeniforme: músculo extensor longo dos dedos; e.
Peniforme: músculo reto femural; f. multipenifrme: músculo deltoide.

75
,

REFERÊNCIAS

KOPF-MAIER, P. Wolf-Heidegger – Atlas de Anatomia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2006.

MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2014.

MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 8ª ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

TANK, P. W; GEST, T.R. Atlas de Anatomia Humana. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp.
2013.

76
,

5 SISTEMA CIRCULATÓRIO, RESPIRATÓRIO E DIGESTÓRIO

Neste bloco veremos o sistema respiratório e circulatório, que estão ligados


intrinsicamente e o sistema digestório que utiliza o sistema circulatório para distribuir
os nutrientes absorvidos por ele.

5.1 Sistema Circulatório

O sistema circulatório é de suma importância para que as células de seres


pluricelulares mais complexos sejam supridas de nutrientes e oxigênio, visto que em
seres unicelulares e multicelulares menos complexos (alguns helmintos, por exemplo)
somente o processo de difusão de nutrientes do meio extracelular para o meio
intracelular é suficiente para nutrir o indivíduo.

Nosso sistema circulatório é composto pelo sistema cardiovascular e pelo sistema


linfático. Cada um desses sistemas possui suas próprias características que serão
descritas a seguir.

O sistema cardiovascular é composto por uma rede de vasos, denominados vasos


sanguíneos (que serão discutidos mais adiante) e um órgão com capacidade de
bombeamento do sangue, conhecido como coração (Figura 5.1).

O sistema linfático é composto pela rede de vasos linfáticos, que são paralelos aos
vasos do sistema cardiovascular. Este sistema não possui órgão de bombeamento,
contudo nas regiões onde os vasos de menor calibre se encontram para formar um de
maior calibre encontramos pequenos órgãos que fazem parte do sistema de defesa de
nosso organismo, os linfonodos, também conhecidos como nodos linfáticos (Figura
5.1).

77
,

Figura 5.1 – Sistemas circulatórios

Esquerda: Sistema Cardiovascular; direita: Sistema Linfático.

O coração é um órgão formado por três camadas, epicárdio, miocárdio e endocárdio.


O epicárdio é composto por um tecido conjuntivo fino, revestido por tecido epitelial, o
miocárdio é a camada mais espessa e a funcional do coração, composta por um tecido
muscular específico, conhecido como músculo estriado cardíaco, com características
histológicas próprias, que já foram vistas anteriormente. O endocárdio é composto por
tecido endotelial (epitelial que reveste o interior do coração e vasos sanguíneos).

Este órgão possui quatro cavidades internas, o átrio direito, que se comunica com o
ventrículo direito e o átrio esquerdo que se comunica com o ventrículo esquerdo e
estas cavidades servem para bombear o sangue (Figura 5.2). Sendo assim, o sangue
chega do corpo para o coração no átrio direito, é bombeado para o ventrículo direito e
então para os pulmões. Quando o sangue retorna dos pulmões para o coração ele
chega no átrio esquerdo, sendo bombeado para o ventrículo esquerdo e então é
bombeado para o corpo. Entre os átrios e ventrículos existe uma estrutura conhecida

78
,

como valvas cardíacas, que impedem o retorno do sangue dos ventrículos para os
átrios quando o coração estiver bombeando o sangue para fora. A valva do lado direito
é conhecida por dois nomes, atrioventricular direita ou tricúspide, pois possui três
cúspides de tecido fibroso, já a do lado esquerdo é conhecida por três nomes,
atrioventricular direta, mitral ou bicúspide, constituída por duas cúspides (figura 5.3).

Figura 5.2 – Coração em posição anatômica em corte coronal, com as regiões


anatômicas apontadas, mas em destaque por negrito estão as cavidades cardíacas

Fonte MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

79
,

Figura 5.3 – Valvas atrioventriculares, corte transverso entre átrios e ventrículos

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.
Adaptado.

As valvas se fecham pois quando o coração comprime os ventrículos cria uma pressão
que empurra as cúspides em direção aos átrios e devido a presença do tecido
conjuntivo em formato de pequenos cordões, travam as cúspides em posição fechada.

5.2 Sistema Circulatório – Artérias e veias

Os vasos sanguíneos formam uma rede em nosso organismo, contudo há três tipos de
vasos sanguíneos (Figura 5.4) em nosso organismo, dependendo da função que irão
desempenhar.

As artérias são os vasos que levam o sangue do coração para o corpo e pulmões. Esses
vasos são compostos por três camadas, conhecidas como túnica adventícia (externa),
túnica média e túnica íntima (interna), a túnica mais espessa é a média, pois esses
vasos recebem a pressão do sangue quando ele sai do coração e são responsáveis por
parte da manutenção desta pressão.

80
,

Conforme o diâmetro (calibre) vai diminuindo a espessura da parede também diminui,


até que em um determinado momento as artérias de menor calibre, também
conhecidas como arteríolas, dão origem aos capilares, os vasos com o menor calibre
do nosso organismo, compostos por uma parede fina de endotélio, tecido que compõe
a túnica íntima dos vasos. Devido a essa característica, os capilares permitem a saída
de água com nutrientes e do oxigênio para os tecidos.

Da mesma forma que os capilares são contínuos, as arteríolas e as vênulas são


contínuas aos capilares. Esses vasos também são conhecidos como veias de pequeno
calibre e vão aumentando seu calibre conforme se aproximam do coração
(inversamente proporcional as artérias). As veias também são vasos sanguíneos
compostos por três túnicas, contudo sua túnica média é menos espessa que a das
artérias. É responsável pelo retorno venoso do sangue, contudo o sangue nas veias
não possui pressão, sendo assim em seu interior encontramos válvulas que auxiliam o
retorno do sangue para o coração.

81
,

Figura 5.4 – Estrutura dos vasos sanguíneos

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.

Desta maneira, formamos duas circulações em nosso organismo, a circulação


pulmonar, também conhecida como pequena circulação, e a circulação sistêmica,
conhecida também como grande circulação. Como o nome diz, elas nunca param e
ocorrem concomitantemente.

A circulação pulmonar dá início com a chegada do sangue rico em gás carbônico no


coração, através das veias cava inferior (corpo) e superior (cabeça e membros
superiores). Já sabemos que esse sangue entra pelo átrio direito e então é bombeado
para o ventrículo direito, que então sai do coração em direção aos pulmões pela
artéria tronco pulmonar, que se ramifica em artérias pulmonares direita e esquerda.
Assim, o sangue é oxigenado no pulmão e retorna ao coração pelas veias pulmonares,

82
,

que encontram-se ligadas ao átrio esquerdo, que bombeia o sangue para o ventrículo
esquerdo e este para o corpo, através da artéria aorta e após oxigenar todo o corpo
retorna para o coração pelas veias cava superior e inferior, no átrio direito (Figura 5.5).

Figura 5.5 – Esquema das circulações sistêmica (ventrículo esquerdo, artéria aorta,
corpo, veias cavas sup. e inf., átrio direito, ventrículo direito) e pulmonar (ventrículo
direito, artéria tronco pulmonar, artérias pulmonares dir. e esq., pulmões, veias
pulmonares dir. e esq., átrio esquerdo, ventrículo esquerdo)

5.3 Sistema Respiratório

Como vimos no item anterior, o sistema circulatório e o respiratório estão


intimamente correlacionados, mas quais são as estruturas que formam esse sistema?

Os componentes deste sistema são basicamente: cavidades nasais, faringe, laringe,


traqueia, brônquios, bronquíolos e os pulmões, onde encontramos os alvéolos
pulmonares, estrutura que realiza a troca gasosa no pulmão. Estas estruturas são
divididas em sistema respiratório superior e inferior, sendo o superior composto por

83
,

nariz, faringe e estruturas associadas e o inferior por laringe, traqueia, árvore


brônquica, pulmões e alvéolos (Figura 5.6).

Figura 5.6 – Divisão anatômica do Sistema Respiratório

Fonte: MARIEB, Elaine N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2014.

Na cavidade nasal encontramos as conchas nasais, que são três saliências formadas
pelos ossos maxila e palatino, que tem como função aumentar a área de contato do ar
com a mucosa nasal, melhorando o aquecimento do ar e retirada de partículas
aderidas no muco, etapas essenciais para que não haja problemas pulmonares. Alguns
ossos da face são ossos pneumáticos, ou seja, possuem uma região oca, conhecidas
como Seios da face, que se comunicam com o nariz para que haja maior área de
contato do ar com mucosas (figura 5.7).

84
,

Figura 5.7 – Esquerda: Estruturas que compõe o nariz e faringe; direita: Posição dos
Seios da Face e em quais ossos estão presentes

Fonte: VAN DE GRAAFF, Kent Marshall. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.
Adaptado.

A Laringe é o órgão responsável por impedir que os alimentos que deglutimos entrem
no sistema respiratório, também é onde encontramos as pregas vocais. É estruturada
por placas de cartilagem, formando uma estrutura mais rígida, mantendo a luz da
laringe aberta, para que o ar possa passar. Ocorre na traqueia, com anéis em forma de
C, que permitem a passagem de ar para a arvore brônquica, composta pelos brônquios
e bronquíolos, que possuem anéis de cartilagem completos (Figura 5.8).

85
,

Figura 5.8 – Estrutura anatômica da Laringe, traqueia e brônquios

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.

5.4 Sistema Respiratório – Músculos da respiração

A arvore brônquica termina nos alvéolos, estruturas saculares (em forma de saco) que
são compostos por um tecido epitelial extremamente fino e que permite a troca
gasosa com os vasos sanguíneos que se encontram no tecido conjuntivo adjacente aos
alvéolos. Esta então é a composição do pulmão, arvore brônquica + alvéolos + tecido
conjuntivo (Figura 5.9).

86
,

Figura 4.9 – Estrutura pulmonar e alveolar

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014. Adaptado.

O pulmão se encontra ligado a caixa torácica, através de duas membranas, conhecidas


como pleura. A pleura parietal se encontra ligada a caixa torácica e a pleura visceral
está ligada ao pulmão e entre essas pleuras encontramos o líquido pleural, que
permite que a tração realizada pelos músculos da respiração seja passada ao pulmão
de forma que não o lesione.

Sendo assim, para que o ar adentre os pulmões e haja a troca gasosa é necessário que
ele seja expandido, para que seja criada uma pressão negativa interna, fazendo com
que o ar entre, os principais músculos responsáveis por essa ação são os músculos
intercostais internos e externos e o diafragma (Figura 5.10).

Eles expandem a caixa torácica, tracionando a pleura parietal, distanciando-a


levemente da visceral, isso faz com que o líquido pleural gere uma pressão negativa,

87
,

puxando levemente a pleura visceral e consequentemente tracionando o pulmão e


fazendo com que ele expanda.

Porém para que haja a expiração normal, basta relaxar os músculos da inspiração, pois
o pulmão contém muitas fibras elásticas e retorna à posição inicial, gerando uma
pressão maior dentro do pulmão do que fora do pulmão, jogando assim o ar para fora.
Contudo, quando fazemos uma expiração forçada (“forçamos o ar com força para
fora”) utilizamos alguns músculos, que são músculos intercostais internos, oblíquo
externo do abdômen, oblíquo interno do abdômen, transverso do abdômen e reto
abdominal (Figura 5.10).

Figura 5.10 - músculos atuantes na inspiração (esquerda) e expiração forçada


(direita)

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.
Adaptado.

88
,

5.5 Sistema Digestório

Apesar deste sistema não ser correlacionado diretamente com o sistema respiratório,
eles possuem alguns órgãos em comum, porém, possui uma relação mais significativa
com o sistema circulatório, pois os nutrientes são absorvidos pelo sistema digestório e
enviados pelo organismo através do sistema circulatório.

O sistema digestório é composto por cavidade oral, faringe, esôfago, estômago,


duodeno, intestino delgado e intestino grosso, contudo temos anexos do sistema
digestório, que são dentes, glândulas salivares, fígado, vesícula biliar e pâncreas.
(Figura 5.11).

Figura 5.11 – Estruturas que formam o sistema digestório

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

89
,

A grande parte destes órgãos estão presentes na cavidade abdominal e pélvica


(cavidade abdominopélvica), sendo sustentados no abdômen por um tecido
membranoso conhecido como peritônio. O mesentério é uma membrana serosa, ou
seja, possui a capacidade de produzir líquido seroso, que lubrifica a superfície visceral
dos órgãos diminuindo o atrito entre eles.

A partir do esôfago, os órgãos do sistema digestório possuem quatro camadas


teciduais: a) Mucosa; b) Submucosa; c) Muscular; d) Serosa (Figura 5.12). Cada uma
dessas camadas possui uma função específica, onde a mucosa e submucosa estão
voltadas para digestão dos alimentos e absorção dos nutrientes, a camada muscular,
formada por músculo liso, com exceção do esôfago, que possui uma região específica
composta por músculo estriado esquelético, sendo responsável pela movimentação do
bolo alimentar pelos órgãos, movimento este conhecido como peristáltico (Figura
5.13). A camada serosa é constituída por um tecido conjuntivo frouxo e epitelial
simples e faz parte do peritônio, sendo o peritônio visceral.

Figura 5.12 – Constituintes das camadas que formam os órgãos do sistema digestório

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

90
,

Figura 5.13 – Movimento Peristáltico

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

As estruturas anexas auxiliam no processo de digestão. Processo este que se inicia na


boca, com a mastigação, misturando o alimento com a saliva. A saliva é produzida
pelas glândulas salivares, sendo elas as glândulas parótidas, submandibulares e
sublingual. A saliva tem papel importante no início da digestão, quebrando alguns
açúcares (amido). O bolo alimentar formado é então deglutido e transferido para o
estômago, passando pela faringe e esôfago.

No estômago ocorre a liberação de sucos gástricos, ricos em ácido clorídrico e enzimas


com função de quebra de proteínas, conhecidas como pepsina. Após este processo o
alimento será transferido para o duodeno, órgão este que dá início ao intestino. No
duodeno são liberados a bile, pela vesícula biliar, responsável pelo armazenamento
deste fluido que é produzido pelo fígado, e pelo suco pancreático, produzido e
liberado pelo pâncreas. Este órgão também é responsável pela produção de um
hormônio conhecido como insulina, responsável pela entrada de glicose nas células,
consequentemente controle da concentração de glicose no sangue (glicemia).

Estas secreções são importantes pois alcalinizam o pH do alimento, que proveio do


estômago ácido e são responsáveis pela quebra de outros macronutrientes como
lipídeos, carboidratos e proteínas. Após o duodeno o alimento é conduzido pelo
intestino delgado, que é subdividido em jejuno e íleo, mas tem a função de absorção
destes nutrientes.

91
,

O interior do intestino, conhecido como lúmen intestinal, é repleto de dobras


conhecidas como vilosidades, que aumentam a área de contato da mucosa com o
alimento. Continuando o trajeto, o alimento segue para o intestino grosso, que é
subdividido em cólons, sendo eles cólon ceco, cólon ascendente, cólon transverso,
cólon descendente, cólon sigmoide e cólon retal. Nesta parte do intestino termos a
absorção de água e então a transformação do alimento em bolo fecal. Junto ao cólon
ceco encontramos um pequeno órgão, conhecido como apêndice. Esta estrutura é rica
em tecidos de defesa e serve como uma reserva de microbiota para nosso intestino.

REFERÊNCIAS

KOPF-MAIER, P. Wolf-Heidegger – Atlas de Anatomia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2006.

MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2014.

MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 8ª ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

TANK, P. W; GEST, T. R. Atlas de Anatomia Humana. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed,


2009.

VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp.
2013.

92
,

6 SISTEMAS UROGENITAL MASCULINO E FEMININO E SISTEMA NERVOSO

Neste bloco discutiremos algumas peculiaridades do sistema genital (masculino e


feminino) e sua intrínseca relação com o sistema urinário, principalmente no sistema
genital masculino. Devido a esta relação acabamos agrupando esses sistemas, de um
modo mais didático, como sistema urogenital.

Além deste sistema iremos estudar as características básicas do sistema nervoso, bem
como sua divisão funcional entre sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso
periférico (SNP).

6.1 Sistema Genital Masculino

No geral o sistema genital não é essencial para a sobrevivência do indivíduo, pois


mesmo com disfunções ou má formações, o indivíduo sobrevive, contudo ele é
essencial para a sobrevivência da espécie.

Diferentemente dos demais sistemas orgânicos, o genital só se torna funcional pela


ação de determinados hormônios na puberdade e é o único que possui diferenças
estruturais entre o sexo masculino e feminino. Suas funções são a produção de células
gaméticas, com metade do genoma da espécie, pois o gameta masculino se fundirá
com o feminino para dar origem ao embrião e produzir hormônios sexuais, que geram
as características sexuais do indivíduo.

O Sistema genital masculino pode ter suas estruturas divididas em dois grupos, devido
as suas bases funcionais:

a) Órgãos sexuais primários: também conhecidos como gônadas, que no


sistema masculino são os testículos. Sua função principal é a produção dos
gametas masculinos, os espermatozoides, e dos hormônios sexuais
masculinos;

93
,

b) Órgão sexuais secundários: tem como função o transporte do


espermatozoide e são divididos em três categorias: 1) ductos de
transporte: responsáveis pelo transporte e parte da maturação dos
espermatozoides, são eles epidídimos, ductos deferentes, ductos
ejaculatórios e uretra; 2) glândulas acessórias: produzem substâncias que
auxiliarão a ejaculação e a ativação dos espermatozoides, são elas glândulas
seminais, próstata e glândulas bulbouretrais; 3) órgão de cópula:
responsável pela liberação dos sêmen (espermatozoides + substâncias
glandulares), que é o pênis.

Encontramos os testículos no escroto, estrutura essa semelhante a uma bolsa e


encontrada abaixo do pênis. As gônadas masculinas se encontram nessa estrutura pois
precisam estar em uma temperatura ligeiramente abaixo da corporal para que possam
funcionar.

Ao analisamos a formação testicular encontramos as seguintes características:


composto por um emaranhado de pequenos túbulos, responsáveis pela produção dos
espermatozoides e do hormônio sexual conhecido como testosterona, contidos em
compartimentos que nada mais são que prolongamentos da membrana fibrosa que
reveste o testículo, a túnica albugínea (Figura 6.1).

Figura 6.1 – Estrutura dos testículos

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.
Adaptado.
94
,

O epidídimo é uma estrutura alongada, ligado posteriormente ao testículo (Figura 6.1)


e em seu interior ocorrem alguns processos de maturação dos espermatozoides e sua
porção terminal está ligada ao ducto deferente, responsável por armazenar os
espermatozoides maduros, principalmente em sua porção mais proximal, conhecida
como ampola do canal deferente (Figura 6.2).
O canal deferente se liga ao ducto ejaculatório, que possui ligação com as glândulas
seminais, responsáveis por secretar uma substância extremamente nutritiva para os
espermatozoides, para que eles possam ter energia suficiente para migrar pelo útero,
essa secreção constitui mais de 60% do volume do sêmen (Figura 6.2).
O ducto ejaculatório se liga com a uretra, ambas passando por dentro da próstata,
glândula que está localizada logo abaixo da bexiga urinária. A próstata libera sua
secreção durante o processo de ejaculação na porção da uretra que passa por ela, este
fluido que possui um pH alcalino, protegendo os espermatozoides do pH vaginal
(ácido) e fazendo com que sejam ativados (Figura 6.2).
Logo abaixo da próstata encontramos as glândulas bulbouretrais, que liberam uma
secreção viscosa, que tem como finalidade neutralizar o pH da urina residual e a
lubrificar a uretra para a ejaculação (Figura 6.2).
A uretra continua pela extensão do pênis, que é um órgão composto por três
estruturas cilíndricas compostas por tecido erétil. As duas estruturas de tecido fibroso
na região dorsal do pênis são denominadas corpos cavernosos, já a estrutura mais
ventral, que envolve a uretra é conhecida como corpo esponjoso. Estes tecidos
lembram uma esponja, e as pequenas cavernas são preenchidas com sangue, quando
ocorre a ereção, a pressão do sangue aumenta, distendendo o pênis e deixando-o
rígido. Na extremidade distal do pênis o corpo esponjoso dá origem a glande, região
ricamente enervada e quando estimulada induz a resposta para o processo de
ejaculação (Figura 6.2).

95
,

Figura 6.2 – Componentes do sistema genital masculino

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.
Adaptado.

6.2 Sistema Genital Feminino

O sistema genital feminino é mais complexo que o genital masculino, pois é o


responsável por abrigar o embrião/feto.

O sistema genital feminino também é dividido em órgãos sexuais primários e


secundários. Os órgãos primários, as gônadas, denominados ovários, também são
responsáveis pela produção dos gametas femininos, os ovócitos, e hormônios
femininos, estradiol (estrógeno) e progesterona. Estes hormônios são de suma
importância para que ocorram as alterações necessárias para que o corpo possa
manter a gestação. Diferentemente das gônadas masculinas, os ovários estão
localizados na parte superior da pelve, lateralmente ao útero (Figura 6.3).

Os órgãos secundários são os cruciais para o sucesso da fertilização, implantação,


gestação e parto. Estes órgãos são: Tubas uterinas, responsáveis pelo transporte do
ovócito e como local para a fecundação, útero, que é o órgão responsável pela
alocação do embrião, vagina ou canal vaginal, estrutura que recebe o pênis e o sêmen

96
,

ejaculado e as glândulas mamárias, pois sofrem influência direta da gestação,


fornecendo alimento para o recém-nascido após o parto.

Figura 6.3 – Posição do sistema genital feminino

O processo de maturação do ovócito culmina com sua liberação, conhecida como


ovulação. A região terminal da tuba uterina, conhecida como infundíbulo, não possui
ligação fixa com o ovário, porém se movimenta envolta dele, e isso permite que ela
capture o ovócito liberado, na abertura do infundíbulo encontramos as fímbrias, que
são as estruturas responsáveis pela captura do óvulo. Ainda na tuba, mais
especificamente no terço distal encontramos a ampola da tuba (Figura 6.4), nesta
região é onde ocorre a fecundação do ovócito.

As tubas estão ligadas ao útero, órgão com forma de pera invertida, composto por três
camadas, que são o perimétrio, camada serona e faz parte do peritônio, miométrio,
espeça camada de músculo liso, responsável pelas contrações uterinas e o endométrio,
revestimento mucoso interno, composto por duas camadas, a camada funcional, que é
a mais superficial e composta por tecido colunar e glandular, servindo como base para
a implantação do blastocisto, também é a camada eliminada na menstruação caso não
haja fecundação e a camada basal, mais profunda e altamente vascularizada, serve
como tecido de regeneração para a camada funcional (Figura 6.4).

97
,

O útero é um órgão oco e suas regiões anatômicas do útero são o fundo do útero,
região superior que lembra uma cúpula, onde se liga as tubas, corpo do útero, porção
mais larga, região onde ocorre a implantação do blastocisto e colo do útero, região
inferior e mais estreita, onde encontramos os óstios do útero (externo voltado para a
vagina e interno voltado para a cavidade uterina) e o canal do colo uterino. A parte
externa do colo está unido com a vagina.

A vagina, também conhecida como canal vaginal é um órgão tubular, possui


musculatura estriada, podendo ter sua contração controlada pela mulher
voluntariamente. Tem como função atuar como canal do parto, passagem da
menorreia (descamações liberadas na menstruação) e recebe o pênis e o
sêmen/esperma após a ejaculação. A abertura da vagina presente na vulva é
denominada como óstio da vagina e possui uma fina membrana chamada de hímen,
que é rompido durante a primeira relação sexual.

O órgão genital externo da mulher é conhecido como vulva e é composto pelo monte
púbis, que é a estrutura formada por tecido adiposo recobrindo a região onde
encontramos a sínfise púbica, tendo como função a diminuição do impacto do coito,
lábios maiores do pudendo, que são duas pregas longitudinais espeças compostas por
tecido epitelial, conjuntivo e adiposo. Na puberdade inicia-se o crescimento dos pelos
púbicos na região, esta região tem a função de proteção, lábios menores do pudendo,
que pelo nome já demonstra que são menores que os lábios maiores e não possuem
pelos.

A fenda longitudinal delimitada pelos lábios menores é conhecida como vestíbulo da


vagina e nele encontramos o óstio da vagina e acima o óstio da uretra. Na parte
superior do vestíbulo, na região onde os lábios menores se encontram está localizado
o clitóris que é uma pequena projeção arredondada e é ricamente enervado, sendo
correspondente à glande do pênis.

98
,

Figura 6.4 – Componentes do sistema genital feminino

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

Figura 6.5 – Estruturas que compõe o órgão genital externo

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.

99
,

6.3 Sistema Urinário

O sistema urinário é crucial para a manutenção do funcionamento ideal do organismo,


pois ele é responsável por retirar os restos metabólicos do sangue, que são
reabsorvidos dos tecidos pelo sistema linfático, para que possamos excretá-los pela
urina.

Este sistema é composto pelos rins, direito e esquerdo, ureteres, bexiga urinária e
uretra. Com essa descrição podemos identificar a correlação íntima do sistema genital
com o sistema urinário, visto que o no sexo masculino temos a uretra sendo utilizada
tanto para micção (processo de urinar) e ejaculação, já no sexo feminino temos o óstio
da uretra.

Figura 6.6 – Órgãos que compõe o Sistema Urinário

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.

O rim é um órgão em sua maior parte sólido, possuindo duas regiões distintas, o córtex
renal, que se encontra na região mais superficial do rim e a medula renal, sendo a
porção mais interna. Na região medial do rim encontramos um espaço denominado
seio renal, que na verdade é preenchido pelos vasos e nervos renais, um pouco de
100
,

tecido adiposo e os túbulos que irão transportar a urina formada neste órgão (Figura
6.7).

A unidade funcional do rim é denominada néfron, esta é uma estrutura microscópica,


responsável pela filtragem do sangue e produção da urina. A região de filtragem,
denominada glomérulo, encontra-se na parte cortical do rim, já as regiões tubulares
que realizam reabsorção de determinadas substâncias, ainda úteis, do filtrado se
encontram principalmente na região medular (Figura 6.7).

Figura 6.7 – Regiões renais (esquerda); posicionamento e estrutura do néfron (direita


e inferior).

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.

A urina formada pela passagem do filtrado pelo néfron é liberado pelos túbulos
coletores nos cálices renais menores, que levam para os cálices renais maiores. Dos
cálices passa para a pelve renal e então para o ureter.

101
,

Assim como o rim, os ureteres são retroperitoneais, ou seja, estão posteriores ao


peritônio, sendo revestidos por ele. Os ureteres são órgãos tubulares, com
aproximadamente 25 centímetros de comprimento, ligando a pelve renal até a bexiga
urinária, possuem uma camada de músculo liso, realizando pequenos movimentos
peristálticos, que auxiliam no transporte da urina.

A bexiga é um órgão oco, com uma grossa parede composta por músculo liso e com
um epitélio específico para exercer sua função de armazenamento de urina, que leva a
distensão do órgão. A região onde encontramos os óstios dos ureteres e o óstio da
uretra é denominada trígono da bexiga, pois forma uma área triangular.

Após o estímulo de micção, a urina é transportada pela uretra, que também é um


órgão tubular, mas que apresenta algumas diferenças entre os sexos, pois na mulher a
uretra é retilínea e tem aproximadamente 4 centímetros, já no homem tem um
formato em S e tem por volta de vinte centímetros de comprimento.

6.4 Sistema Nervoso Central

O sistema nervoso possui como função principal o controle do organismo, orientando


e coordenando suas atividades, assimilando os estímulos externos e internos, gerando
respostas e comportamentos instintivos. Devido às diferenças anatômicas e funcionais
o sistema nervoso é dividido em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso
Periférico (SNP).

As células funcionais do sistema nervoso são os neurônios, que possuem a capacidade


de irritabilidade, ou seja, conseguem ser ativadas facilmente por estímulos físicos e
químicos, além disso, possuem condutibilidade que é a capacidade de propagar o
impulso nervoso, gerado pelo estímulo, ao longo de seu axônio e transmiti-lo para
outra célula.

O sistema nervoso central é composto pelo encéfalo e pela medula espinal, que estão
protegidos pelo esqueleto axial, sendo o encéfalo contido na caixa craniana e a medula
espinal passando pelo forame vertebral, além dessa proteção óssea, eles são envoltos

102
,

por um tecido membranoso conhecido como meninge, que são a dura-máter,


aracnoide-máter e a pia-máter e são banhados pelo líquido cefalorraquidiano, que
mantém o encéfalo flutuando dentro do crânio, evitando que ele toque diretamente as
paredes ou assoalho cranial, evitando uma ativação deste órgão (Figura 6.8). Não
podemos confundir a medula espinal com medula óssea, onde a primeira é composta
por tecido nervoso e a segunda por tecido hematopoiético.

Figura 6.8 - Sistema nervoso central alocado no esqueleto axial

Fonte: VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp. 2013.

Durante o desenvolvimento embrionário do encéfalo, temos determinadas regiões que


dão origem a estruturas encefálicas específicas, que são o cérebro, que controla as
atividades sensitivas, o tálamo, que retransmite os impulsos para o cérebro, o
hipotálamo que regula diversas funções como sede, fome e temperatura corporal,

103
,

hipófise regula as glândulas endócrinas do organismo, cerebelo que dá a coordenação


motora e equilíbrio, ponte e bulbo que são centros retransmissores de impulso
nervoso (Figura 6.9).

Figura 6.9 – Estruturas que compõe o encéfalo

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

Os neurônios que formam o sistema nervoso central organizam-se de tal forma que
formam duas regiões distintas, a substância cinzenta, que é composta pelos corpos dos
neurônios e a substância branca, formada pelos axônios, tendo essa cor devido as
bainhas de mielina que revestem os axônios.

A região superficial do encéfalo, conhecida como córtex cerebral, é composta pela


substância cinzenta, já a região abaixo do córtex é composta pela substância branca.
Uma estrutura muito característica do córtex cerebral é a presença de numerosas
pregas, conhecidas como giros cerebrais, e sulcos encefálicos, isto ocorre devido ao
aumento rápido do córtex em relação a substância branca durante o desenvolvimento
encefálico fetal.

O cérebro é composto por dois hemisférios, cada um possuindo cinco lobos, além
disso, são conectados internamente por uma estrutura conhecida como corpo caloso e

104
,

cada hemisfério contém uma cavidade, conhecido como ventrículo lateral, que é
preenchido pelo líquido cefalorraquidiano.

Os lobos cerebrais são delimitados por sulcos e fissuras profundas, sendo que quatro
dos lobos aparecem na superfície cerebral, recebendo o nome do osso craniano que
está na mesma posição. Sendo assim temos o lobo frontal, lobo parietal, lobo
temporal, lobo occipital e encoberto pelos lobos frontal, parietal e temporal
encontramos o lobo insular (Figura 6.10).

Figura 6.10 – Lobos superficiais do encéfalo e constituição da cama de substância


cinzenta e branca

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

Os lobos cerebrais são delimitados por sulcos e fissuras profundas, sendo que quatro
dos lobos aparecem na superfície cerebral, recebendo o nome do osso craniano que
está na mesma posição. Sendo assim temos o lobo frontal, lobo parietal, lobo
temporal, lobo occipital e encoberto pelos lobos frontal, parietal e temporal
encontramos o lobo insular.

105
,

Diferentemente do cérebro, a medula possui a substância cinzenta centralmente, e a


substância branca perifericamente. Essa conformação é explicada pela sua função, que
serve de ligação entre o encéfalo e o sistema nervoso periférico, sendo assim os ramos
axonais tendem a ficar periféricos em relação aos corpos neuronais.

Figura 6.11 - Estrutura da medula espinal

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

6.5 Sistema Nervoso Periférico

Assim como o sistema nervoso central, este sistema é composto por neurônios,
contudo sua organização é diferente e engloba receptores sensitivos, nervos, estrutura
composta por axônios, bainhas de mielina e tecido conjuntivo, gânglios, que são
estruturas formadas pelos corpos celulares dos neurônios que compõe os nervos e
plexos nervosos, sendo a via de comunicação do sistema nervoso central com o corpo
e vice-versa.

Os receptores nervosos podem ser classificados quanto:

A) Localização:

a. Exteroceptores – sensíveis a estímulos de fora do corpo;

106
,

b. Interceptores – também conhecidos como viceroceptores,


recebendo estímulos das vísceras;

c. Propceptores – situados nos músculos esqueléticos, tendões,


articulações e ligamentos.

B) Tipo de estímulo:

a. Mecanorreceptores – respondem a estímulos como toque, pressão e


estiramento;

b. Barorreceptores – monitoram a pressão arterial;

c. Termorreceptores – respondem a alterações de temperatura;

d. Quimiorreceptores – respondem a moléculas, como por exemplo


resposta gustativa;

e. Fotorreceptores – respondem aos estímulos luminosos;

f. Nociceptores – respondem a estímulos de dor.

Temos dois grandes grupos de nervos que compõe este sistema, classificados de
acordo com sua origem. Aqueles que são originados do encéfalo são classificados
como nervos cranianos e os originários da medula são os nervos espinais.

Temos doze pares de nervos cranianos, classificados por números romanos e nomes,
onde os números se referem à ordem em que estão posicionados e os nomes indicam
a estrutura inervada ou sua função, desta forma temos: I nervo olfatório, II nervo
óptico, III nervo oculomotor, IV nervo troclear, V nervo trigêmeo, VI nervo abducente,
VII nervo facial, VIII nervo vestíbulococlear, IX nervo glossofaríngeo, X nervo vago, XI
nervo acessório e XII nervo hipoglosso (Figura 6.12).

107
,

Figura 6.12 – Posição dos nervos cranianos

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

Temos trinta e um pares de nervos espinais, que são agrupados da seguinte forma: 8
pares cervicais, 12 pares torácicos, 5 pares lombares, 5 pares sacrais e 1 par coccígeo.

108
,

Figura 6.13 – Esquema de origem dos nervos espinais

Fonte: MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2014.

REFERÊNCIAS

KOPF-MAIER, P. Wolf-Heidegger – Atlas de Anatomia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2006.

MARIEB, E. N; WILHELM, P. B; MALLAT, J. Anatomia humana. 7ª ed. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2014.

MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 8ª ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

TANK, P. W; GEST, T. R. Atlas de Anatomia Humana. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed,


2009.

VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2003. reimp.
2013.

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