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Citologia clínica

Citologia Hormonal
Profa. Dra. Cristiane Figueiredo
Histórico e fundamento da citologia hormonal
• A citologia hormonal é definida como a avaliação das condições
endócrinas das pacientes por meio do estudo morfológico das células
vaginais, sendo uma das primeiras aplicações diagnósticas da citologia
clínica.

• Os primeiros estudos sobre citologia hormonal tiveram início em 1847:


com a publicação de um atlas descrevendo as alterações morfológicas das
células vaginais que ocorrem durante o ciclo ovárico.
Histórico e fundamento da citologia hormonal
• Papanicolaou (1928) e Babes (1928), de modo independente,
publicaram um método baseado em esfregaços vaginais para detectar
o câncer cervical.

• Nos anos seguintes, Papanicolaou e colaboradores publicaram


monografias sobre a utilização de esfregaços citológicos para
detecção e diagnóstico de lesões uterinas (1943 a 1948), tornando a
citologia diagnóstica um método bem estabelecido.
Histórico e fundamento da citologia hormonal
• Como consequência, a citologia hormonal também se tornou
amplamente divulgada e utilizada, com aumento significativo no
número de trabalhos na literatura sobre metodologia, resultados e
eficiência desta técnica.
Histórico e fundamento da citologia hormonal
• A citologia hormonal fundamenta-se no fato de o epitélio
estratificado escamoso não queratinizado ser provido de receptores
hormonais que controlam a maturação e a diferenciação celulares.

• Assim, o epitélio vaginal sofre uma série de modificações cíclicas


dependentes fundamentalmente da secreção dos hormônios ováricos
estrógeno e progesterona.
Estrógeno e progesterona
• O ESTRÓGENO induz a maturação epitelial completa e leva à
predominância de células escamosas superficiais maduras no
esfregaço citológico.

• A PROGESTERONA produz efeitos contrários aos do estrógeno e inibe


o processo de maturação.
Estrógeno e progesterona

• A ausência de estrógenos e hormônios relacionados ocasiona a


redução acentuada do nível de maturação do epitélio escamoso
(atrofia). Por esse motivo, o estudo da maturação escamosa vaginal
dá informações sobre as taxas do estrógeno e dos outros hormônios
esteroides.
Aplicações da citologia hormonal
• Estabelecer a condição hormonal da paciente;
• Avaliar a função ovárica normal e patológica da puberdade até a
menopausa;
• Estimar o tempo da ovulação, avaliar a função placentária e disfunções em
obstetrícia, auxiliar na seleção da terapia hormonal e acompanhar os
resultados de tratamentos hormonais;
• Quando há suspeita clínica de determinadas anormalidades congênitas,
pode ser analisada a cromatina sexual (corpos sexuais cromatínicos) no
mesmo esfregaço da citologia hormonal.
regras a serem observadas para avaliação citológica hormonal

• Coleta: a partir de esfregaço obtido por escarificação da parede lateral da


vagina, que é mais sensível à ação hormonal, a certa distância da cérvice
uterina.

• A coleta no fundo de saco vaginal posterior deve ser evitada, pois, nesse
local, pode haver produtos de descamação da cérvice uterina, células
inflamatórias e detritos, que dificultariam a avaliação.
regras a serem observadas para avaliação citológica hormonal

• NÃO É POSSÍVEL realizar a avaliação hormonal na presença de processos


inflamatórios, tratamentos hormonais, citólise, câncer, irradiações,
cirurgias recentes ou outros procedimentos como cauterizações, pois essas
condições invalidam a análise por conta de mudanças no padrão
morfológico e tintorial das células escamosas.
regras a serem observadas para avaliação citológica hormonal

• Coletas repetidas devem ser realizadas e comparadas no mesmo ciclo ou


no decurso de um tratamento hormonal.
• O citologista também deve ser informado sobre dados clínicos da paciente,
como idade, dia do ciclo menstrual, situações fisiológicas ou patológicas do
aparelho genital e utilização de tratamento hormonal, pois não há
interpretação hormonal válida sem essas informações.
Citologia hormonal
• A citologia hormonal estuda as alterações celulares em resposta a ação dos
hormônios nas suas diferentes fases de liberação.
• Os receptores para os hormônios são intracelulares e quando ligados ativam o DNA
que presidem respostas de maturação e diferenciação celular.

1) Período pré-pubertário e puberdade


- Na recém-nascida o esfregaço pode apresentar por células superficiais e
intermediárias devido a influência dos hormônios maternos
- Após o 15º dia o esfregaço fica atrófico e próximo a puberdade mostra uma
maturação gradual
Citologia hormonal
1) Período pré-pubertário e puberdade
- Os ovários permanecem inativos, pois o centro hipotalâmico está bloqueado até a
puberdade
- Entre 9 e 12 anos de idade, a hipófise começa a secretar progressivamente mais
FSH e LH, levando ao início dos ciclos sexuais mensais, que começam entre 11 e 15
anos. O primeiro ciclo menstrual é denominado menarca.
Esfregaço atrófico
Citologia hormonal
• CICLO SEXUAL MENSAL OU CICLO
MENSTRUAL

• É definido como as alterações mensais nas


taxas de secreção dos hormônios femininos,
que promovem mudanças nos ovários e em
outros órgãos sexuais, durante os anos
reprodutivos normais.
Citologia hormonal
Representação esquemática do eixo hipotálamo-
hipófise-ovárico.

CICLO SEXUAL MENSAL OU CICLO MENSTRUAL


• É um processo regulado primeiramente por
células nervosas do hipotálamo, mediante a
secreção do GnRH; em seguida, pela hipófise
anterior, que secreta os hormônios FSH e LH; e,
por fim, pelos ovários, pela secreção dos
hormônios estrógeno e progesterona.
hormônios gonadotróficos
• O objetivo final do ciclo sexual mensal da mulher
é preparar o endométrio para uma possível
gravidez.
2) Ciclo Menstrual

a) Menstruação (1º ao 5º dia)


-Considerado o início do ciclo
-Os esfregaços são hemorrágicos, com
células intermediárias e detritos
celulares, leucócitos, algumas células
endocervicais e endometriais isoladas
ou agrupadas.
- 4 a 7 dias após o início da
menstruação, a perda de sangue para,
porque, nesse momento, o
endométrio já se reepitelizou
2) Ciclo Menstrual

b) Fase Folicular, proliferativa ou estrogênica (6º ao 14º dia)


- no início (período pós-menstruação - 6º ao 12º dia) é formado por
células intermediarias e superficiais cianófilas com núcleos vesiculosos,
geralmente agrupadas;

- depois (período pré-ovulatório - 12° ao 14º dia) há predomínio de


células superficiais isoladas, eosinofílicas de núcleo picnótico com
diminuição dos leucócitos e histiócitos podem persistir células
endometriais acompanhadas de macrófagos até o 14º dia
2) Ciclo Menstrual

b) Fase Folicular, proliferativa ou estrogênica (6º ao 14º dia)

- O estrógeno secretado pelos ovários promove proliferação das células


endometriais, restabelecendo o epitélio descamado com a menstruação.
- Assim, antes de ocorrer a ovulação, a espessura do endométrio aumenta
bastante por causa do número crescente de células estromais e do crescimento
progressivo das glândulas endometriais e novos vasos sanguineos no
endométrio.
- Em amostras obtidas diretamente do endométrio, é possível observar as células
glandulares formando agrupamentos em “favo de mel”, caracterizado por
núcleos esféricos que variam pouco em tamanho. Pequenos nucléolos e figuras
mitóticas ocasionais podem ser observados
Fase Folicular, proliferativa ou estrogênica (6º ao 14º dia)

Células intermediárias com coloração azul ou cianofilicas (basofílicas)


e células superficiais com coloração avermelhada ou eosinofílicas.
c) Fase ovulatória (13º ao 15º dia)
- o esfregaço apresenta células superficiais eosinófilas, isoladas, com núcleo
picnótico, raros leucócitos, muco abundante com aspecto de samambaia, raras
hemácias, as células endocervicais ficam inchadas com citoplasma abundante

Esfregaço do meio do ciclo (fase ovulatória): células escamosas superficiais eosinofílicas, fundo limpo.
d) Fase Secretória, Lútea ou Progesterônica ( 15º ao 28º dia)
- ocorre diminuição das células superficiais eosinófilas e de núcleo picnótico e
ocorre um aumento das células intermediárias cianófilas de aspecto
pregueado, aumento de leucócitos e muco. Há aumento dos aglomerados de
células intermediárias cianófilas, citólise, leucócitos que dão um aspecto sujo
aos esfregaços.

Fase secretória, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 400x. Agrupamento de células intermediárias, algumas
delas contendo depósitos de glicogênio e bordas citoplasmáticas espessas.
d) Fase Secretória, Lútea ou Progesterônica ( 15º ao 28º dia)

Predomínio de células intermediárias, presença de leucócitos


3) Menopausa

- Num primeiro período ocorre aumento das células intermediárias,


eventualmente acompanhadas de lactobacilos
- Num segundo aspecto há presença de algumas células parabasais acompanhando
as células intermediárias
- Em um terceiro aspecto há predomínio das células parabasais freqüentemente
acompanhadas de fenômenos inflamatório

“Fundo” autolítico. Esfregaços cervicovaginais,


Papanicolaou, 100x (a) e 400x (b). Observar o
fundo preenchido por numerosos núcleos
desnudos que preservam a estrutura
cromatínica. Trata-se de alteração degenerativa,
onde ocorreu ruptura do citoplasma das células
durante a confecção dos esfregaços. Este
padrão citológico é comum na atrofi a associada
à pós-menopausa.
Menopausa
células escamosas imaturas (parabasais)

• Núcleos Desnudos – Células que apresentam citoplasma delicado podem ser muito sensíveis a traumas, mesmo pequenos,
como acontece durante a confecção dos esfregaços. Ocorre ruptura do citoplasma das células, com o aparecimento de
numerosos núcleos desnudos que preservam a estrutura finamente granular da cromatina e a membrana nuclear bem
definida e regular. Na atrofia pós-menopausa, esse padrão citológico é bastante comum.
4) Gravidez

- Quando ocorre a gravidez, a placenta secreta grande quantidade de hCG,


somatomamotrofina coriônica humana, estrógeno e progesterona.

- A hCG tem como função evitar a involução do corpo lúteo, de modo que a secreção de
es- trógeno e progesterona continue pelos próximos meses, impedindo a menstruação
e fazendo que o endométrio continue a crescer e a armazenar grandes quantidades de
nutrientes. Após algumas semanas, a placenta secreta quantidades suficien- tes de
progesterona e estrogênios para manter a gravidez até o fim do período gestacional e o
corpo lúteo involui lentamente.
4) Gravidez

- Durante as seis primeiras semanas o esfregaço é do tipo lúteo ou releva uma


discreta ação estrogênica.
- Na gravidez há o predomínio absoluto de células intermediárias. A partir do final
do 2º mês de gestação, as células intermediárias são frequentemente do tipo
navicular. Essas células são consideradas uma variante das células intermediárias.
O citoplasma contém abundante glicogênio, que se cora em castanho. Há
presença de flora Lactobacilar.
- As bordas citoplasmáticas são espessas, dobradas, e os núcleos são excêntricos.
As células naviculares
- São muito frequentes, mas não exclusivas da gravidez. São associadas a níveis
elevados de progesterona e assim podem ser vistas na fase secretória do ciclo
menstrual.
4) Gravidez

Células escamosas intermediárias do tipo navicular. a - Células naviculares.


Amostra cervical, citologia de meio líquido, Papanicolaou, 100x. b - Células
naviculares. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou, 400x. Células
naviculares em agrupamento compacto.
5) Pós-parto

- No pós-parto e na lactação, o esfregaço é atrófico e permanece assim por algumas semanas,


apesar de não ser incomum a permanência desse padrão citológico durante vários meses. Nos
esfregaços as células parabasais geralmente contêm abundante glicogênio. Pode apresentar
células intermediárias, acompanhadas de leucócitos, histiocitos e muco.

Atrofia na lactação. a; b - Esfregaços cervicovaginais,


Papanicolaou, 100x e 400x. Padrão citológico na lactação com
predomínio de células parabasais ricas em glicogênio. O
glicogênio assume uma coloração acastanhada, e as bordas
celulares são espessas.
Avaliação hormonal
• Os diferentes estados hormonais podem ser representados pelas células que
compõem cada epitélio.

• Para se obter resultados confiáveis é necessário atentar:


-A coleta dever ser feita no terço superior da parede vaginal
-Deve-se evitar a coleta de células do fundo de saco
-Processos inflamatórios, tratamento hormonal, irradiação, cirurgias, invalidam a
citologia de avaliação hormonal
-Repetidas coletas devem ser feitas e comparadas durante o mesmo ciclo ou
durante tratamento
- Dados clínicos devem ser informados
• Índices usados na Citologia de Avaliação Hormonal

– Índice cariopicnótico ou picnótico (IP): é o percentual de células com núcleo


picnótico em todas as células superficiais e intermediárias, o valor máximo se
situa no período ovulatório (50 e 85%)
– Índice eosinófilo ou acidófilo (IE): é o percentual de células eosilófilas maduras
entre as células epiteliais maduras contadas independente do tamanho do
núcleo
– Índice de pregamento: relação de células planas e pregadas

– Íncice de maturação (IM) ou índice de Meisels: é o coeficiente atribuido a cada


tipo de células, 1 para superficiais, 0,5 para intermediarias e 0 para parabasais,
com escala de 0 a 100
(parabasais × 0 + intermediárias × 0,5 + superficiais × 1)
Efeitos de tratamentos hormonais
1) Estrógenos: promove a maturação do epitélio, elevando o número de células
superficiais com núcleo picnótico
2) Progesterona: se observado em um esfregaço na fase estrogenica dá um aspecto
de regressão na maturação com aglomerados de células cianófilas intermediárias;
quando o esfregaço é atrófico dá aspecto de de proliferação com presença de
células intermediárias
3) Estrógeno e progesterona: a curto prazo dá um efeito intermediário entre os dois
hormônios e a longo prazo observa-se uma atrofia dificilmente reversível
4) Andrógenos: no esfregaço estrogênico mostra regressão, no lúteo não altera e no
atrófico mostra maturação
Efeitos de distúrbios do ciclo menstrual

1) Menorragias e metrorragias (sangramento fora do período menstrual): podem


ser causadas por anormalidades na atividade ovariana podendo ser de hiper
ou hipoatividade, variando de esfregaço com maturação estrogênica ou
atrófico respectivamente

2) Amenorréias (ausência de menstruações): o esfregaço sugere uma


ausência de atividade ovariana
Trofismo do epitélio após analise citológica

1) Hipertrófico: aspecto de maturação bem característico, altos valores de


Índice de Maturação, comum na fase ovulatória.

2) Normotrofico: esfregaço observado durante as fases pré e pós ovulatória.

3) Hipotrófico: esfregaço com predomínio de células intermediárias.

4) Atrófico: predomínio de células parabasais no esfregaço.

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