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GUIA PARA DESCRIÇÃO DE LÂMINAS

CONSIDERAÇÕES GERAIS

O exame histopatológico é um dos recursos de diagnóstico utilizados em


diferentes situações na prática clínica para que se possa obter auxílio na
determinação de um diagnóstico.
As amostras encaminhadas ao laboratório devem estar acompanhadas de uma
requisição devidamente preenchida. Todas as informações solicitadas ao proprietário
e/ou médico veterinário, como os referentes aos dados clínicos, histórico e aspecto
macroscópico da lesão são essenciais para a conclusão de um diagnóstico.
O laboratório de anatomia-patológica inicia uma série de procedimentos para a
confecção de lâminas, que serão posteriormente analisadas. Com isso, obtêm-se um
documento médico importante, que é o laudo ou relatório histopatológico
Quanto à descrição microscópica de uma lâmina, seja de histopatologia ou de
citologia, é muito importante descrever de forma clara e concisa todos os aspectos
microscópicos (especialmente os mais relevantes) observados no material
encaminhado pelo clínico veterinário. Cabe também ao patologista interpretar o seu
significado e fazer comentários acerca dos diagnósticos diferenciais e prognóstico
esperado.
Deve-se ter em mente que não há uma única maneira de descrever uma
lâmina, no entanto alguns pontos importantes devem ser levados em consideração
para a elaboração de um bom laudo.
DICAS SOBRE COMO FAZER

1. Antes de colocar a lâmina no microscópio, olhando-a contra a luz, verifique o número


de fragmentos teciduais.

Fragmentos de um ou de diversos órgãos podem ser colocados na mesma lâmina e é essencial que
todos sejam examinados.

2. Seja conciso.

Nos casos em que foram remetidos múltiplos fragmentos de um mesmo órgão, deve-se listar o número
de fragmentos e especificar a descrição e diagnóstico para cada fragmento, exceto se o diagnóstico for
o mesmo para todos os fragmentos.

3. Tenha cuidado na caligrafia, ortografia e gramática.

Erros na grafia, especialmente de nomes técnicos (de parasitas, bactérias, etc), bem como erros
gramaticais (por exemplo, na concordância) tiram ou põem em dúvida a acurácia da descrição.

4. Examine os órgãos de uma maneira sistemática e descreva apenas as lesões.

5. Use terminologias específicas, como os nomes de localizações anatômicas, os


aspectos de parasitas e termos descritivos específicos para os vários tipos de
degeneração, inflamação, necrose e várias outras condições.

Sempre que possível, mencione o tamanho e a forma em suas descrições; esses são termos descritivos
poderosos. Por exemplo: zoítos de Sarcocystis podem ser descritos como “zoítos de 1x2 μm em forma
de banana”
DICAS SOBRE O QUE DEVE SER EVITADO

Para uma descrição ser de fácil entendimento, não devem ser utilizados termos
desnecessários, que demandem perda de tempo tanto para quem descreve como
para quem lê.

Não descreva aspectos normais, exceto nos exames de microscopia eletrônica.

Não é necessário descrever lesões que não foram observadas, como por exemplo: “não há evidência
de invasão vascular”

Não é necessário descrever cada célula ou cada padrão celular observados numa lâmina. Descreva os
aspectos observados na maioria das células.

Evite redundâncias ou outros termos inúteis, como por exemplo “de cor azul”.
DESCRIÇÃO DAS LESÕES NÃO-NEPLÁSICAS

Descreva a lâmina numa sequência de “pirâmide invertida”.

As lesões mais importantes para a elucidação do diagnóstico devem ser descritas primeiro; as demais
alterações devem ser descritas posteriormente.

I. Primeira frase. ÓRGÃO E LESÃO PREDOMINANTE.

 Inicie pelo nome do órgão. Quando o órgão não for óbvio faça uma breve
descrição e dê uma interpretação.

 Descreva a principal lesão quanto a sua localização, distribuição e intensidade e


evolução.

Ex.: Pulmão. Broncopneumonia supurativa multifocal grave aguda.

II. Segunda frase. COMPONENTES.

 Descreva os componentes celulares e/ou os componentes não-celulares. Liste


todos os tipos celulares observados, em ordem de prevalência e de números relativos
de cada um. Liste as alterações associadas como fibrina, edema, hemorragia, detrito
celular, etc.

Evite usar os termos “infiltrados de células mononucleares”, “inflamação não-supurativa”, “inflamação


supurativa” ou “inflamação granumomatosa”.

 Localize e quantifique tudo.

Ex.: Submucosa intestinal com pequeno número de linfócitos e plasmócitos e raros eosinófilos.
III. Terceira frase. AGENTE ETIOLÓGICO.

 Descreva a localização e aspecto do agente (tamanho, forma e cor)

 Faça a interpretação de acordo com os aspectos observados (bacilos, cocos,


hifas de fungos, etc.).

Ex.: Neurônios com a presença de corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos, pequenos,


arredondados e eosinofílicos, compatíveis com o Corpúsculo de Negri.

IV. Quarta frase. DIAGNÓSTICO MORFOLÓGICO

Há muitas maneiras de formular um diagnóstico morfológico. Como muitas instituições de ensino


brasileiras, aqui será adotado o modelo utilizado pelo AFIP (Armed Forces Institute of Pathology).

Assim, para concluir o diagnóstico morfológico consideramos:

 Local. Citar o órgão listado na descrição morfológica e sempre que possível, a


localização específica da lesão.

 Lesão. Utilizar termos específicos e adequados para caracterizar a lesão.

 Duração. Aguda, subaguda, crônica, crônico-ativa.

 Distribuição. Incipiente, focal, focalmente extensa, multifocal, multifocal a


coalescente, difusa).

 Intensidade. Discreta, leve, moderada e acentuada; pode-se ainda utilizar


termos intermediários, como leve a moderada, etc.

Ex.: "Fígado: necrose coagulativa centro-lobular, aguda, multifocal, moderada".


Ex.: "Rim, glomérulos: glomerulo-nefrite granulomatosa crônica acentuada”.
DESCRIÇÃO DAS LESÕES NEPLÁSICAS

I. Primeira frase. ÓRGÃO

 Inicie pelo nome do órgão. Quando o órgão não for óbvio faça uma breve descrição e dê
uma interpretação.

II. Segunda frase. DESCRIÇÃO SUBMACROSCÓPICA.

 Neste ponto da descrição, deve-se dar uma idéia geral da neoplasia, quanto a
sua localização, tamanho, celularidade, forma, crescimento, encapsulamento e tipos
celulares.

III. Terceira frase. PADRÕES CELULARES E TIPO DE ESTROMA

 Inicia-se com a caracterização da neoplasia quanto ao seu arranjo celular.

Os termos ninhos, pacotes, cordões (comuns aos carcinomas), túbulos, ácinos (adenocarcinomas),
feixes, correntes, redemoinhos (sarcomas) e mantos (sarcomas de células redondas) são comumente
utilizados. Pode-se ainda acrescentar os adjetivos bem agrupadas, frouxamente agrupadas, etc.

 Na última parte desta frase deve-se falar sobre o estroma.

Ex.: Os termos fibrovascular e fibroso são comumente utilizados.

IV. Quarta frase. ASPECTOS CITOLÓGICOS

 Inicie descrevendo o aspecto geral das células, como sua forma (redondas,
fusiformes, ovais, cubóides, colunares, poligonais, multinucleadas ou pleomórficas),
tamanho (anisocariose, anisocitose) e limites celulares (distintos ou indistintos).

 Considere os aspectos do citoplasma, como sua quantidade (abundante,


moderado ou escasso), cor (eosinófilo, basófilo) e aspecto (homogêneo, fibrilar,
granular).
 Considere os aspectos do núcleo, como sua forma (redondo, oval, alongado,
fusiforme, pregueado, etc.), localização na célula (central, paracentral, excêntrico),
distribuição da cromatina (esparsa, finamente pontilhada, grosseiramente pontilhada,
formando agregados) e coloração da cromatina (hipercromático).

 Considere os aspectos do nucléolo, como número (apenas um, dois, múltiplos)


e cor.

 Considere a atividade mitótica, como o número de mitoses por campo de


grande aumento (40x) e a ocorrência de mitoses bizarras.

V. Quinta frase. EVIDÊNCIA DE MALIGNIDADE.

É importante observar a ocorrência de invasão de vasos sanguíneos e linfáticos e invasão da


membrana basal ou da cápsula.

VI. Sexta frase. OUTRAS ALTERAÇÕES.


Considerar as alterações não relacionadas diretamente com a neoplasia, como a ocorrência de
inflamação, ulceração, hemorragia, mineralização ou outras

VII. Sétima frase. DIAGNÓSTICO MORFOLÓGICO.


O diagnóstico morfológico para uma neoplasia é simplesmente o local e o tipo da neoplasia.
Ex.: “Fêmur: osteossarcoma telangiectásico”
Ex.: “Pele hirsuta: plasmocitoma”.

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