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Introdução
O DNA é a molécula que carrega a informação genética dos organismos
vivos. Ele é formado por uma sequência de nucleotídeos que determina
a hereditariedade. Essas sequências formam os genes, que definem a
sequência de aminoácidos que formaram as cadeias polipeptídicas sin-
tetizadas pelas células. Dessa forma, a molécula de DNA é extremamente
comprida e para que possa ser armazenada nos núcleos celulares, ela
se organiza em estruturadas altamente compactadas, os cromossomos.
Assim, neste capítulo, você entenderá como é a estrutura do núcleo
das nossas células e como a molécula de DNA consegue ficar contida em
seu interior. Você também identificará a estrutura do DNA e diferenciará
a estrutura e a função dos genes e dos cromossomos.
2 Estrutura nuclear: DNA, genes e cromossomos
Figura 1. Estrutura do núcleo celular. Observe a estrutura das membranas nucleares, bem
como a sua relação com a lâmina nuclear e o RE.
Fonte: Cooper e Hausman (2007, p. 322).
Os nucleotídeos são moléculas formadas por três componentes básicos: uma base
nitrogenada, um resíduo de açúcar (a ose) e um grupo fosfato. A ose presente nos
nucleotídeos encontrados no DNA é a 2’-desoxi-D-ribose (ou desoxirribose). Essa ose
apresenta uma estrutura cíclica e é classificada como uma pentose, isto é, é formada
por cinco átomos de carbono. O prefixo desoxi em sua nomenclatura indica que essa
pentose não apresenta um átomo de oxigênio ligado ao seu carbono 2’. Enquanto
isso, as bases nitrogenadas são moléculas aromáticas que contêm um heteroátomo,
o nitrogênio, em sua estrutura. Essas bases são derivadas de duas moléculas principais,
a purina e a pirimidina. No DNA, são encontradas as bases derivadas da purina, chamadas
bases purínicas, adenina (A) e guanina (G), e as bases derivadas da pirimidina, chamadas
bases pirimídicas, timina (T) e citosina (C) (NELSON; COX, 2014). Veja a Figura 2.
Figura 2. Estrutura do DNA. Note que as bases nitrogenadas são voltadas para o lado
interno da molécula e apresentam pareamento específico: guanina (G) com citosina (C)
e adenina (A) com timina (T) e vice-versa. Essa estrutura adquire a forma de dupla-hélice,
na qual as duas cadeias principais apresentam torção para a direita, em torno de um eixo
helicoidal comum.
Fonte: Alberts et al. (2017a, p. 176).
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Estrutura nuclear: DNA, genes e cromossomos 7
Genes e cromossomos
A informação genética utilizada para a produção de uma nova molécula de
DNA ou para a síntese de proteínas está contida na sequência das bases que
compõe as fitas de DNA. Cada base (A, T, C e G) é utilizada para a codificação
da “mensagem biológica”. Assim, os diferentes tipos de organismos vivos
apresentam diferenças entre si em função das suas diferentes sequências
nucleotídicas que compõem o DNA (ALBERTS et al., 2017a).
Na proliferação celular, a molécula do DNA deve ser duplicada. Como as
duas fitas de DNA são complementares entre si, cada fita dessa molécula atua
como um molde para a produção de uma nova fita complementar. Dessa forma,
a informação contida no DNA pode ser duplicada. Para isso, inicialmente as
duas fitas da dupla hélice se separam e cada uma é usada como molde para
a formação de uma nova fita complementar, idêntica àquela a qual ela estava
associada.
As proteínas também são sintetizadas de acordo com a informação contida
no DNA. Essa informação está armazenada em sequências específicas de
nucleotídeos, chamadas genes. Cada gene, portanto, é um segmento de DNA
que codifica uma determinada sequência polipeptídica. Assim, a sequência
de nucleotídeos do DNA origina uma sequência de aminoácidos, que formam
as cadeias polipeptídicas e as proteínas. Essa relação de codificação entre os
quatro diferentes tipos de bases dos nucleotídeos do DNA e os 20 tipos de
aminoácidos que formam as proteínas é chamada de código genético. A codi-
ficação do código genético é denominada expressão gênica. Nesse processo,
os genes são transcritos em RNA e esse, traduzido em um peptídeo ou uma
proteína. Dessa forma, os genes são os elementos que contêm a informação
que determina as características de uma espécie (COOPER; HAUSMAN,
2007; ALBERTS et al., 2017b).
O conteúdo total de informação de um organismo é contido no chamado
genoma. O genoma de um organismo alberga a informação para a produção
de todas as moléculas de RNA e proteínas que ele precisa. O DNA apresenta
vários genes e também sequências de nucleotídeos que não são codificadoras.
Essas sequências, presentes entre os genes, são chamadas sequências espaça-
doras. Sequências não codificadoras também podem ser encontradas dentro
dos genes, sendo chamadas sequências intervenientes ou, mais comumente, de
íntrons. Dessa forma, os genes apresentam regiões codificadoras, chamadas
de éxons e íntrons. Quando o gene é lido durante o processo de transcrição,
que leva à formação do ácido ribonucleico (RNA), os íntrons são removidos,
resultando somente na inclusão dos éxons. Os íntrons representam grande parte
8 Estrutura nuclear: DNA, genes e cromossomos
do DNA humano. No genoma humano, cada gene tem em média nove éxons,
que são interrompidos por oito íntrons. Os íntrons auxiliam no controle da
expressão gênica. A sua presença permite que os éxons sejam combinados de
diferentes formas, resultando na produção de diferentes proteínas a partir do
mesmo gene. Além dos íntrons e éxons, cada gene é associado a sequências
de DNA regulador. Essas sequências são responsáveis por garantir que o
gene seja ativado ou desativado no momento correto e que seja expresso em
quantidade correta e em células específicas.
Como discutimos anteriormente, nas células eucariontes, o DNA está
compartimentado no núcleo. Nessas células, o DNA é dividido em cromos-
somos. Os seres humanos, por exemplo, apresentam o DNA dividido em
23 pares de cromossomos.
Os cromossomos consistem em uma molécula longa de DNA e proteínas
que a enovelam em uma estrutura mais compactada. Além das proteínas que
ocasionam o empacotamento do DNA, os cromossomos também apresentam
proteínas associadas à replicação e ao reparo de DNA, proteínas relacionadas
à expressão gênica e moléculas de RNA.
O núcleo das nossas células, com poucas exceções, apresenta duas cópias de
cada um dos cromossomos, sendo uma delas herdada do pai e a outra herdada
da mãe. Os cromossomos que formam o par são chamados cromossomos
homólogos. Dos 46 cromossomos presentes em cada uma das nossas células,
22 são pares homólogos e dois são cromossomos sexuais. Nesse caso, as
mulheres apresentam dois cromossomos sexuais X e os homens apresentam
um cromossomo X e um cromossomo Y.
Compactação do DNA
O conteúdo de DNA presente nas células humanas é extremamente grande.
Cada uma das nossas células apresenta cerca de 2 metros de DNA no interior
de seu núcleo, sendo que essa estrutura apresenta menos de 10 nm de diâmetro.
Entretanto, como o DNA cabe no núcleo celular?
Como vimos anteriormente, nas células eucarióticas, o DNA encontra-se
empacotado nos cromossomos. Após o DNA ser duplicado, ele é ligado a
algumas proteínas que ocasionam o seu dobramento. Essas proteínas causam
a formação de espirais e alças na estrutura do DNA, o enovelando de forma
organizada. Dessa forma, o DNA consegue ser empacotado em uma estrutura
pequena e, ao mesmo tempo, totalmente ordenada, garantindo que ela possa
Estrutura nuclear: DNA, genes e cromossomos 9
ser acessada por outras proteínas ou enzimas que farão sua replicação, seu
reparo ou sua transcrição (ALBERTS et al., 2017a).
Dois tipos de proteínas se associam ao DNA formando os cromossomos,
as histonas e as proteínas cromossômicas não histonas. Essas proteínas e
o DNA formam a chamada cromatina. As histonas estão presentes em alta
quantidade na cromatina, sendo que sua massa total praticamente é igual à
massa correspondente ao conteúdo de DNA. Esse grupo de proteínas realiza o
primeiro grau de compactação do DNA, que é chamado de nucleossomo. Assim,
o nucleossomo é a estrutura básica da cromatina. O nucleossomo é formado
em torno de uma estrutura central, denominada “centro do nucleossomo”.
Essa estrutura é formada por oito histonas e um segmento de dupla fita de
DNA com 147 pares de nucleotídeos. Essa sequência de DNA enrola-se em
torno do complexo formado pelas proteínas histonas, dando à cromatina um
aspecto de “colar de contas”. Os centros dos nucleossomos formam as “contas”,
que são espaçadas por pequenas sequências de DNA formadas por cerca de
80 pares de nucleotídeos, chamadas DNA de ligação. Os nucleossomos levam
à redução do comprimento da fita de DNA em torno 1/3 do seu tamanho
estendido. As histonas apresentam alta quantidade de aminoácidos básicos,
como arginina e lisina. Isso faz com que o octâmero de histonas, presente no
centro do nucleossomo, apresente uma alta densidade de cargas positivas. Isso
facilita o enrolamento da cadeia de DNA em torno dela, já que a sequência de
açúcar e fosfato que forma o seu esqueleto principal é negativamente carregada
(ALBERTS et al., 2017b; COOPER; HAUSMAN, 2007).
Os nucleossomos que se formam, normalmente, se interpõem uns sobre os
outros, formando estruturas ainda mais compactadas, as fibras de cromatina.
A ligação entre os nucleossomos é mediada por meio da histona H1. A formação
da fibra de cromatina ocasiona o encurtamento do DNA em cerca de seis vezes.
O grau de empacotamento da cromatina varia de acordo com a fase do ciclo
celular. Assim, a estrutura cromossômica é dinâmica. Para a transcrição e a
replicação do DNA, durante a fase de interfase, algumas regiões da cromatina
acabam ficando levemente descondensadas. Isso torna o DNA mais acessível
às enzimas e proteínas envolvidas nesses processos. Enquanto isso, durante
a mitose, a cromatina encontra-se altamente condensada. Os cromossomos
mitóticos apresentam um alto grau de compactação para que possam ser
distribuídos às células filhas. Para isso, as fibras de cromatina se dobram em
torno de si mesmas, condensando o DNA em quase 10.000 vezes. Quando o
DNA apresenta esse alto grau de condensação, ele não pode ser acessado para
a replicação ou transcrição, por exemplo. Assim, o grau de compactação da
cromatina também é um regulador da expressão gênica.
10 Estrutura nuclear: DNA, genes e cromossomos
Veja a Figura 3.
Os cromossomos mitóticos são tão compactados que podem ser corados e visualizados
no microscópio. As técnicas de coloração utilizadas nesses processos produzem
padrões de bandas claras e escuras nos cromossomos. Esses padrões de bandas
parecem representar regiões cromossômicas diferentes e sua avaliação é utilizada para
a identificação de cada cromossomo (ALBERTS et al., 2017a). A partir da coloração e
identificação dos cromossomos, as análises do cariótipo são realizadas. Estas permitem
a identificação de síndromas genéticas, como a Síndrome de Down, a Síndrome de
Patau e a Síndrome de Edwards. No link a seguir, você poderá aprender um pouco
mais sobre essa técnica:
https://qrgo.page.link/GJT5B
ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017a.
ALBERTS, B. et al. Fundamentos da biologia celular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017b.
COOPER, G. M.; HAUSMAN, R. E. A célula: uma abordagem molecular. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
VOET, D.; VOET, J. G. Bioquímica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.