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Ácido desoxirribonucleico

ácido desoxirribonucleico (ADN, em português: ácido desoxirribonucleico; ou DNA, em


inglês: deoxyribonucleic acid) é um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções
genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e alguns
vírus, e que transmitem as características hereditárias de cada ser vivo. O seu principal papel é
armazenar as informações necessárias para a construção das proteínas e ARNs. Os segmentos de
ADN que contêm a informação genética são denominados genes. O restante da sequência de
ADN tem importância estrutural ou está envolvido na regulação do uso da informação genética.

A estrutura da molécula de ADN foi descoberta conjuntamente pelo norte-americano James


Watson e pelo britânico Francis Crick em 7 de Março de 1953, o que lhes valeu o Prêmio Nobel
de Fisiologia ou Medicina em 1962, juntamente com Maurice Wilkins.

Do ponto de vista químico, o ADN é um longo polímero de unidades simples (monômeros) de


nucleotídeos, cuja cadeia principal é formada por moléculas de açúcares e fosfato intercalados
unidos por ligações fosfodiéster. Ligada à molécula de açúcar está uma de quatro bases
nitrogenadas. A sequência de bases ao longo da molécula de ADN constitui a informação
genética. A leitura destas sequências é feita através do código genético, que especifica a
sequência linear dos aminoácidos das proteínas. A tradução é feita por um RNA mensageiro que
copia parte da cadeia de ADN por um processo chamado transcrição e posteriormente a
informação contida neste é "traduzida" em proteínas pela tradução. Embora a maioria do ARN
produzido seja usado na síntese de proteínas, algum ARN tem função estrutural, como por
exemplo o ARN ribossômico, que faz parte da constituição dos ribossomos.

Dentro da célula, o ADN pode ser observado numa estrutura chamada cromossoma durante a
metáfase. O conjunto de cromossomas de uma célula forma o cariótipo. Antes da divisão celular
os cromossomas são duplicados através de um processo chamado replicação. Eucariontes como
animais, plantas, fungos e protozoários têm o seu ADN dentro do núcleo enquanto que
procariontes como as bactérias o têm disperso no citoplasma. Dentro dos cromossomas, proteínas
da cromatina como as histonas compactam e organizam o ADN. Estas estruturas compactas
guiam as interacções entre o ADN e outras proteínas, ajudando a controlar que partes do ADN
são transcritas.
Propriedades físicas e químicas

O ADN é um longo polímero formado por unidades repetidas chamadas nucleotídeos. A cadeia
de ADN tem 2,2 a 2,4 nanómetros de largura, e um nucleotídeo possui aproximadamente 0,33
nanómetros de comprimento.[3] Embora os monômeros (nucleotídeos) que constituem o ADN
sejam muito pequenos, os polímeros de ADN podem ser moléculas enormes, com milhões de
nucleotídeos. Por exemplo, o maior cromossomo humano (cromossomo 1), possui 220 milhões
de pares de bases de comprimento.[4] Uma molécula de ADN do ser humano possui
aproximadamente dois metros de comprimento, encapsulada em um núcleo celular de 6 µm, o
equivalente a acomodar uma linha de 40 km de comprimento em uma bola de tênis.[1]

Em organismos vivos, o ADN não existe como uma molécula única (cadeia simples), mas sim
como um par de moléculas firmemente associadas. [5] [6] As duas longas cadeias de ADN enrolam-
se como uma trepadeira formando uma dupla hélice. Os nucleotídeos estão presentes em ambas
as cadeias da dupla hélice, unidos com nucleótidos da mesma cadeia por ligações fosfodiéster e à
cadeia complementar através de pontes de hidrogénio formadas pelas suas bases. Em geral, uma
base ligada a um açúcar é chamada nucleosídeo e uma base ligada a um açúcar e um ou mais
fosfatos é chamada nucleotídeo. Portanto, o ADN pode ser referido como um polinucleotídeo.

A cadeia principal do ADN é formada por fosfato e resíduos de açúcar, dispostos


alternadamente. O açúcar no ADN é 2-desoxirribose, uma pentose (açúcar com cinco carbonos).
Os açúcares são unidos por grupos fosfato que formam ligações fosfodiester entre o terceiro e
quinto átomos de carbono dos anéis de açúcar adjacentes. Estas ligações assimétricas significam
que uma cadeia de ADN tem uma direção. Numa dupla hélice, a direção dos nucleotídeos de
uma cadeia é oposta à direção dos nucleotídeos da outra cadeia. O formato das cadeia do ADN é
designado antiparalelo. As terminações assimétricas das cadeias de ADN são designadas
terminais 5' (cinco linha) e 3' (três linha). Uma das diferenças principais entre o ADN e o ARN
encontra-se no açúcar, com a substituição da 2-desoxirribose no ADN pela ribose no ARN.

A dupla hélice do ADN é estabilizada por pontes de hidrogênio entre as bases presas às duas
cadeias. As quatro bases encontradas no ADN são a adenina (A), citosina (C), guanina (G) e
timina (T). Estas quatro bases ligam-se ao açúcar/fosfato para formar o nucleotídeo completo.

Estas bases são classificadas em dois tipos; a adenina e guanina são compostos heterocíclicos
chamados purinas, enquanto que a citosina e timina são pirimidinas. Uma quinta base (uma
pirimidina) chamada uracila (U) aparece no ARN e substitui a timina, a uracila difere da timina
pela falta de um grupo de metila no seu anel. A uracila normalmente não está presente no ADN,
só ocorrendo como um produto da decomposição da citosina. [1] Exceções para esta regra são os
fagos AR9, 3NT, I10, bem como o PBS1 (muito utilizado em pesquisas), que contém uracila no
seu ADN, em vez de timina.[8]
No topo, pareamento GC com três pontes de hidrogênio. Em baixo, AT com duas pontes de
hidrogênio.

Emparelhamento de bases

Cada tipo de base numa cadeia forma uma ligação com apenas um tipo de base na outra cadeia.
Este comportamento é designado de complementariedade de bases. Assim, as purinas formam
pontes de hidrogênio com pirimidinas, i.e. A liga-se com T e C com G. Este arranjo de dois
nucleotídeos complementares na dupla hélice é chamado par de bases. Além das pontes de
hidrogênio entre as bases, as duas cadeias são mantidas juntas devido a forças geradas por
interações hidrofóbicas entre as bases empilhadas, a qual não é influenciada pela sequência do
ADN.[9] Como as pontes de hidrogênio não são ligações covalentes, podem ser quebradas e
reunidas com relativa facilidade. Desta forma, as duas fitas da dupla hélice de ADN podem ser
separadas como um zíper (fecho de correr) por força mecânica ou altas temperaturas. [10] Como
resultado desta complementariedade, toda a informação contida numa das cadeias de ADN está
também contida na outra, o que é fundamental para a replicação do ADN.[1]

Os dois tipos de pares de base formam diferentes números de pontes de hidrogênio: AT forma
duas pontes de hidrogênio enquanto que GC formam três pontes de hidrogênio. Desta forma a
interação entre GC é mais forte que AT. Como resultado, a percentagem de GC numa dupla fita
de ADN determina a força de interação entre as duas cadeias. [11] Uma parte da dupla cadeia de
ADN que precisa de ser separada facilmente, tal como a TATAAT Caixa de Pribnow nos
promotores bacterianos, tende a ter sequências com maior predomínio de AT, para facilitar a
abertura da dupla cadeia aquando da transcrição. No laboratório, a força desta interacção pode
ser medida encontrando a temperatura necessária para quebrar as pontes de hidrogénio, a
temperatura de desnaturação (também chamado Tm). Quando todos os pares de base numa dupla
hélice de ADN quebram as suas ligações, as duas cadeias separam-se e existem em solução como
duas moléculas completamente independentes. Estas moléculas de ADN de cadeia simples não
têm uma única forma comum, mas algumas conformações são mais estáveis do que outras.[12]

Sulcos

O ADN normalmente encontra-se em forma de uma espiral dextrógira (gira para a direita, ou no
sentido horário). Portanto, as duas cadeias de nucleotídeos giram uma sobre a outra e acabam por
formar sulcos entre as cadeias de fosfato, deixando expostas as faces das bases nitrogenadas que
não estão unidas por pontes de hidrogênio com a base complementar.

Há dois tipos de sulcos na superfície da dupla hélice: um com 22 Å denominado sulco maior e
um com 12 Å designado de sulco menor.

A principal função dos sulcos do ADN é fornecer a informação acerca das bases que se
encontram ligadas numa determinada região da dupla cadeia sem necessidade de abertura. O
sulco maior oferece maior acessibilidade para ligação com proteínas do que o sulco menor. Um
exemplo disto é a TBP (TATA-binding protein) uma importante proteína para a transcrição em
eucariotas.[15]

Senso e antissenso

Uma sequência de ADN é chamada de senso se possui a mesma sequência do ARNm. A cadeia
oposta (complementar) à cadeia "senso" é denominada sequência antissenso. Como a ARN
polimerase sintetiza um ARN que é complementar à fita molde, então podemos dizer que ela
utiliza a cadeia anti-senso como molde para produzir um ARN. As sequências senso e anti-senso
podem existir em diferentes partes da mesma cadeia de ADN, que pode ser de um lado ou do
outro, dependendo de onde se encontra a sequência codificadora.

Às vezes não é possível dizer qual é a cadeia senso ou antissenso. Isto acontece devido à
existência de genes que se sobrepõem. Neste caso ambas as cadeias dão origem a um ARN. [16]
Nas bactérias, a sobreposição pode estar envolvida da regulação da transcrição.[17]

Nos vírus, a sobreposição aumenta a capacidade do armazenamento de informações em


pequenos genomas virais.[18]

Superenrolamento

O ADN pode ser torcido num processo denominado superenrolamento. No estado relaxado do
ADN, uma fita normalmente dá uma volta completa ao eixo da dupla hélice a cada 10,4 pares de
base, mas se o ADN está torcido, as cadeias ficam mais ou menos enroladas.[19]

Se o ADN está torcido na direção da hélice, é denominado um superenrolamento positivo e as


bases estão unidas mais firmemente. Já o superenrolamento negativo refere-se a uma torção na
direção oposta, resultando num afrouxamento das bases. Na natureza, o ADN apresenta um
ligeiro superenrolamento negativo que é causado pela ação da enzima topoisomerase.[20]
Estas enzimas também são necessárias para aliviar o estresse de torção causado no ADN durante
os processos de transcrição e replicação.[21]

Estrutura alternativa da dupla hélice

O ADN pode existir em muitas formações diferentes. As formações mais comuns são: ADN-A,
ADN-B, ADN-C, ADN-D,[22] ADN-E,[23] ADN-H,[24] ADN-L,[22] ADN-P,[25] e ADN-Z.[26]

Porém, só as formações de ADN A, B e Z foram encontradas em sistemas biológicos naturais. A


formação que o ADN adopta depende de vários fatores da própria sequência de ADN: a
intensidade e direção do superenrolamento, modificações químicas das bases e a solução na qual
o ADN está presente (ex.: concentração de metais, iões e poliaminas).[27]

Das três formações referidas, a forma “B” é a mais comum nas condições encontradas nas
células.[28]

A forma “A” corresponde à espiral dextra mais larga, com um sulco menor largo e superficial e
um sulco maior estreito e profundo. A forma “A” ocorre sob condições não fisiológicas em
amostras de ADN desidratadas, enquanto na célula pode ser produzida por pareamento híbrido
de ADN e ARN ou pelo complexo enzima-ADN.[29] [30]

Em segmentos de ADN onde as bases foram quimicamente modificadas por metilação, o ADN
pode sofrer uma grande modificação na sua formação e adoptar a forma ADN-Z. A cadeia gira
sobre o eixo da dupla hélice para a esquerda, o oposto da forma mais comum – ADN-B.[31]

Esta estrutura é rara e pode ser reconhecida por proteínas especificas de ligação com o ADN-Z.
Pode estar envolvida na regulação da transcrição.[32]

Estruturas em quadrúplex

Estrutura de um quadrúplex de ADN formado por repetições teloméricas. A conformação do


esqueleto de ADN é diferente da típica estrutura helicoidal.[33]

Nas extremidades do cromossomas lineares estão zonas especializadas do ADN chamadas


telómeros. A função principal destas regiões é permitir que a célula replique as extremidades do
cromossoma usando a enzima telomerase, porque enzimas que permitem replicar ADN
normalmente não conseguem copiar as extremidades 3' dos cromossomas. [34] Estas tampas de
cromossoma especializadas também ajudam a proteger as extremidades do ADN, e evitam que o
sistema de reparação de ADN elimine estas regiões como erros que precisassem de ser
corrigidos.[35] Em células humanas, os telómeros têm normalmente vários milhares de repetições
de uma sequência simples (TTAGGG).[36]

Estas sequências ricas em guanina podem estabilizar as extremidades dos cromossomas


formando estruturas de unidades de quatro bases empilhadas, ao invés dos pares de base usuais
encontrados em outras moléculas de ADN. Quatro bases de guanina formam uma placa chata e
depois estas unidades chatas de quatro bases empilham-se no topo umas das outras, para
formarem estruturas quadrúplex-G estáveis.[37] Estas estruturas são estabilizadas por pontes de
hidrogénio entre as margens das bases e por quelação de um ião metálico no centro de cada
unidade de quatro bases.[38] Outras estruturas podem também ser formadas, com o conjunto
central de quatro bases provenientes de uma cadeia simples enrolada à volta das bases ou de
diversas cadeias paralelas, cada uma contribuindo com uma base para a estrutura central. [39]

Além destas estruturas empilhadas, os telómeros também formam grandes estruturas em forma
de laço chamados telomere loops ou T-loops. O ADN de cadeia simples enrola-se à volta de um
círculo grande estabilizado por proteínas que se ligam a telómeros. [40] Mesmo no fim dos T-
loops, o ADN de cadeia simples do telómero é mantido sobre uma região de ADN de cadeia
dupla pela cadeia do telómero que desestabiliza o ADN de dupla hélice e o emparelhamento de
bases de uma das duas cadeias. Esta estrutura de cadeia tripla é chamada de laço de
deslocamento ou D-loop.[37]

Modificações químicas

Modificações de bases

Metilação do ADN

A expressão de genes é influenciado pela maneira como o ADN está disposto nos cromossomas,
numa estrutura chamada cromatina. As modificações de bases podem estar envolvidas na
disposição, com as regiões quem tem expressão génica baixa ou inexistente contendo usualmente
níveis elevados de metilação de citosina. Por exemplo, a metilação de citosina produz 5-
metilcitosina, que é importante na inactivação do cromossoma X.[41] O nível médio de metilação
varia entre organismos - o verme Caenorhabditis elegans tem pouca metilação da citosina,
enquanto que vertebrados têm níveis mais elevados, com até 1% do seu ADN contendo 5-
metilcitosina[42] Apesar da importância da 5-metilcitosina, esta pode desaminar transformando-se
em timina. Citosinas metiladas são por isso especialmente susceptíveis de sofrer mutações.[43]
Outras modificações de bases incluem metilação de adeninas em bactérias e glicosilação do
uracilo para produzir a "base-J" em organismos da classe Kinetoplastida.

Danos ao ADN

Mutações
Benzopireno, o maior mutagénio no fumo do tabaco, ligando-se ao ADN[46]

O ADN pode ser danificado por muitos tipos diferentes de mutagénios, que alteram a sequência
de ADN. Estes incluem agentes oxidantes, agentes alquilantes e também por radiação
electromagnética de grande energia tal como luz ultravioleta e raios-X. O tipo de dano ao ADN
produzido depende do tipo de mutagénio. A luz ultravioleta, por exemplo, pode danificar o ADN
produzindo dímeros de timina, que são ligações cruzadas entre pirimidinas. [47] Por outro lado,
oxidantes como radicais livres ou peróxido de hidrogénio produzem múltiplos tipos de danos,
incluindo modificações de bases, em particular guanosina, e quebras das cadeias duplas. [48] Em
cada célula humana, cerca de 500 bases podem sofrer danos por oxidação por dia. [49] [50] As
quebras da cadeia dupla são lesões oxidativas de difícil reparação, que podem produzir mutações
pontuais, inserções e delecções, assim como translocações cromossómicas.[51]

Muitos mutagénios encaixam entre o espaço entre dois pares de bases adjacentes, na chamada
intercalação. A maioria dos intercaladores são aromáticos e moléculas planas e incluem brometo
de etídio, daunomicina, doxorrubicina e talidomida. Para que um intercalador encaixe entre pares
de bases, as bases têm de se separar, abrindo a cadeia dupla. Isto inibe a transcrição e a
replicação do ADN, causando toxicidade e mutações. Como resultado, os intercaladores de ADN
são muitas vezes carcinogénicos. Benzopireno, acridinas, aflatoxina e brometo de etídio são
exemplos bem conhecidos.[52] [53] [54] No entanto, devido à sua capacidade de inibir a transcrição e
replicação, estas toxinas também são usadas em quimioterapia para inibir o crescimento rápido
de células tumorais.[55]

Funções biológicas

O ADN ocorre normalmente como cromossomas lineares em eucariotas e como cromossomas


circulares em procariotas. O conjunto dos cromossomas numa célula perfazem o seu genoma; o
genoma humano tem aproximadamente 3 mil milhões de pares de base dispostos em 46
cromossomas.[56] A informação transportada pelo ADN está contida nas sequências de ADN
chamados genes. A transmissão da informação dos genes é conseguida pela complementaridade
do emparelhamento das bases. Por exemplo, na transcrição, quando uma célula usa a informação
num gene, a sequência de ADN é copiado para uma sequência de ARN complementar através da
atracção entre o ADN e os nucleotídeos de ARN correctos. Esta cópia de ARN pode ser depois
usada para compor uma sequência proteica correspondente no processo de tradução, que depende
da mesma interacção entre nucleotídeos de ARN. Alternativamente, uma célula pode
simplesmente copiar a sua informação genética num processo chamado replicação do ADN.

Genes e genomas

T7 ARN polimerase (azul) produzindo um ARNm (verde) a partir de um molde de ADN


(laranja).

O ADN genómico está localizado no núcleo celular dos eucariontes, assim como em pequenas
quantidades em mitocôndrias e em cloroplastos. Em procariontes, o ADN está dentro de um
corpo de forma irregular no citoplasma chamado nucleóide.[58] A informação genética num
genoma está nos genes, e o conjunto completo desta informação num organismo é chamado o
seu genótipo. Um gene é a unidade básica da hereditariedade e é uma região do ADN que
influencia uma característica particular num organismo. Genes contêm uma fase aberta de leitura
que pode ser transcrita, assim como sequências reguladoras tais como promotores ou
acentuassomos, que controlam a transcrição da fase aberta de leitura.

Em muitas espécies, apenas uma pequena fracção da sequência total do genoma codifica uma
proteína. Por exemplo, apenas 1,5% do genoma humano consiste de exões (que codificam
proteínas), com mais de 50% do ADN humano consistindo de sequências repetitivas.[59] As
razões para a presença de tanto ADN não-codificante em genomas eucarióticos e as
extraordinárias diferenças no tamanho do genoma, ou valor C, entre espécies representam um
enigma conhecido por enigma do valor C.[60] Contudo, sequências de ADN que não codificam
proteínas podem ainda codificar moléculas de ARN não-codificante funcional, que estão
envolvidas na regulação da expressão génica.[61]

Algumas sequências de ADN não-codificante têm um papel estrutural nos cromossomas. Os


telómeros e centrómeros contêm tipicamente poucos genes, mas são importantes para a função e
estabilidade dos cromossomas.[35] [62] Uma forma abundante de ADN não codificante em
humanos são os pseudogenes, que são cópias de genes que foram desabilitados por mutação. [63]
Estas sequências são usualmente apenas fósseis moleculares, apesar de poderem servir
ocasionalmente como material genético em bruto para a criação de novos genes através do
processo de duplicação de genes e divergência.[64]

Transcrição e tradução

Replicação de ADN. A dupla hélice é desdobrada por uma helicase e por uma topoisomerase.
Em seguida, uma ADN polimerase produz uma cópia da cadeia líder. Outra ADN polimerase
liga-se à cadeia atrasada. Esta enzima produz segmentos descontínuos (chamados fragmentos de
Okazaki) antes de a ADN ligase os juntar.

Um gene é uma sequência de ADN que contêm informação genética e pode influenciar o
fenótipo de um organismo. Dentro de um gene, a sequência de bases ao longo de uma cadeia de
ADN definem uma cadeia de ARN mensageiro, que por sua vez define uma ou mais sequências
proteicas. A relação entre a sequência de nucleótidos de um gene e a sequência de aminoácidos
de uma proteína é determinada pelas regras de tradução, conhecidas colectivamente como o
código genético. O código genético consiste de 'palavras' de três letras chamadas codões
formadas por uma sequência de três nucleótidos (p.e. ACU, CAG, UUU).[65]

Na transcrição, os codões de um gene são copiados para um ARN mensageiro pela ARN
polimerase. Esta cópia de ARN é depois descodificada por um ribossoma que lê a sequência de
ARN emparelhando o ARN mensageiro com o ARN de transferência, que carrega aminoácidos.

Uma vez que há quatro bases em combinações de 3 letras, há 64 codões possíveis (


combinações). Estas codificam os vinte aminoácidos, dando à maioria dos aminoácidos mais do
que um codão possível. Há também três codões 'stop' ou 'nonsense' significando o fim da região
codificante; estes são os codões UAA, UGA e UAG.[66]
Replicação

Replicação do ADN

A divisão celular é essencial para que um organismo cresça, mas quando uma célula se divide
tem de replicar o ADN do seu genoma para que as duas células-filha tenham a mesma
informação genética que a célula parental. A estrutura em dupla-hélice do ADN fornece um
mecanismo simples para a sua replicação. As duas cadeias são separadas e sequências de ADN
complementares a cada uma das cadeias são recriadas por uma enzima chamada ADN
polimerase. Esta enzima constrói a cadeia complementar encontrando a base correcta através de
emparelhamento com a base complementar, e ligando-a à cadeia original. Como as polimerases
de ADN só conseguem fazer a extensão de uma cadeia de ADN na direcção 5' para 3', outros
mecanismos são usados para copiar a cadeia antiparalela da dupla hélice. [67] Desta forma, a base
presente na cadeia antiga determina que base vai aparecer na nova cadeia e a célula acaba com
uma cópia perfeita do seu ADN.

Interacções com proteínas

Todas as funções do ADN dependem de interacções com proteínas. Estas interacções com
proteínas podem ser não-específicas, ou a proteína pode ligar-se especificamente a uma única
sequência de ADN. Algumas enzimas também se podem ligar ao ADN. Destas, as polimerases
que copiam as sequências de ADN na transcrição e replicação são particularmente importantes.

Proteínas que se ligam ao ADN (DNA-binding)

Proteínas estruturais que se ligam ao ADN são exemplos bem estudados de interacções não-
específicas ADN-proteínas. Nos cromossomas, o ADN está ligado a proteínas estruturais
formando complexos. Estas proteínas organizam o ADN numa estrutura compacta, a cromatina.
Em eucariontes esta estrutura envolve a ligação do ADN a um complexo de pequenas proteínas
básicas chamadas histonas, enquanto que em procariontes estão envolvidas vários tipos de
proteínas.[68] [69] As histonas formam um complexo em forma de disco, o nucleossoma, que
contém duas voltas completas de ADN de cadeia dupla à sua volta. Estas interacções não-
específicas formam-se quando os resíduos básicos das histonas fazem ligações iónicas ao
esqueleto açúcar-fosfato acídico do ADN, e por isso são largamente independentes da sequência
de bases.[70] Modificações químicas nestes resíduos de amino-ácidos incluem metilação,
fosforilação e acetilação.[71] Estas mudanças químicas alteram a força da interacção entre o ADN
e as histonas, tornando o ADN mais ou menos acessível a factores de transcrição e mudando a
taxa de transcrição.[72] Outras proteínas com ligação a ADN não-específicas incluem o grupo de
proteínas de alta mobilidade, que se ligam a ADN dobrado ou distorcido. [73] Estas proteínas são
importantes pois dobram conjuntos de nucleossomas e organizam-nos em estruturas maiores que
constituem os cromossomas.[74]

Um grupo distinto destas proteínas são as que se ligam especificamente a ADN de cadeia
simples. Nos humanos, a proteína de replicação A é o membro desta família mais bem
compreendido e é usado em processos onde a dupla hélice é separada, incluindo durante a
replicação do ADN, recombinação e reparo.[75] Estas proteínas parecem estabilizar ADN de
cadeia dupla e protegem-no da formação de hairpin loops e da degradação por nucleases.

O factor de transcrição do hélice-volta-hélice lambda repressor ligado ao seu alvo de ADN.[76]

Em contraste, outras proteínas evoluíram de modo a ligar-se a sequências de ADN específicas.


Os factores de transcrição são dos mais intensivamente estudados (proteínas que regulam a
transcrição). Cada factor de transcrição liga-se a um conjunto particular de sequências de ADN e
activa ou inibe a transcrição de genes que tenham estas sequências perto dos seus promotores. Os
factores de transcrição fazem isto de duas maneiras. Primeiro, podem ligar-se à polimerase do
ARN responsável pela transcrição, quer directamente quer através de proteínas mediadoras; isto
posiciona a polimerase no promotor e permite que comece a transcrição. [77] Em alternativa, os
factores de transcrição podem ligar-se a enzimas que modificam as histonas no promotor; isto
muda a acessibilidade do molde de ADN à polimerase.[78]

Como estes locais de ligação podem ocorrer pelo genoma inteiro de um organismo, mudanças na
actividade de um tipo de factor de transcrição pode afectar milhares de genes. [79] Por
consequência, estas proteínas são muitas vezes alvo de processos de transdução de sinal que
controlam respostas a mudanças ambientais ou diferenciação e desenvolvimento celular. A
especificidade da interacção destes factores de transcrição com o ADN provém das proteínas que
fazem contactos múltiplos com a extremidade das bases de ADN, permitindo a leitura da
sequência de ADN. A maior parte destas interacções com bases faz-se no sulco maior, onde as
bases estão mais acessíveis.[80]

Enzimas que modificam o ADN

Nucleases e ligases

As nucleases são enzimas que cortam as cadeias de ADN mediante a catálise da hidrólise das
ligações fosfodiéster. As nucleases que hidrolisam nucleótidos a partir dos extremos das cadeias
de ADN denominam-se exonucleases, enquanto que as endonucleases cortam no interior das
cadeias. As nucleases que se utilizam com maior frequência em biologia molecular são as
enzimas de restrição, endonucleases que cortam o ADN em sequências específicas. Por exemplo,
a enzima EcoRV, mostrada à esquerda, reconhece a sequência de 6 bases 5′-GAT|ATC-3′ e faz
um corte em ambas as cadeias na linha vertical indicada, gerando duas moléculas de ADN.
Outras enzimas de restrição geram, no entanto, extremidades coesivas, já que cortam de forma
diferente as duas cadeias de ADN. Na natureza, estas enzimas protegem as bactérias contra as
infecções de fagos, ao digerir o ADN do fago quando entra através da parede bacteriana,
actuando como um mecanismo de defesa.[82] Em biotecnologia, estas nucleases específicas
utilizam-se na clonagem molecular e na técnica de impressão de ADN ( fingerprinting, em
inglês).

As enzimas denominadas ADN ligases podem reunir pedaços de ADN cortados ou quebrados.[83]
As ligases são particularmente importantes na replicação do ADN da cadeia atrasada de ADN, já
que unem os fragmentos curtos de ADN gerados no garfo de replicação para formar uma cópia
completa do molde de ADN. Também se utilizam no reparo de ADN e na recombinação
genética.[83]

Topoisomerases e helicases

As topoisomerases são enzimas que possuem actividade de nuclease e ligase. Estas proteínas
mudam a quantidade de ADN superenrolado. Algumas destas enzimas funcionam cortando a
hélice de ADN e permitindo a uma secção que faça rotação, de maneira a reduzir o grau de
superenrolamento; uma vez feito isto, a enzima volta a unir os fragmentos de ADN. [20] Otros
tipos de enzimas são capazes de cortar uma hélice de ADN e depois passar a segunda cadeia de
ADN através desta quebra, antes de reunir as hélices. [84] As topoisomerases são necessárias para
muitos processos em que intervém o ADN, como a replicação e a transcrição.

As helicases são proteínas que pertencem ao grupo dos motores moleculares. Utilizam energia
química armazenada nos trifosfatos de nucleósidos, fundamentalmente ATP, para romper pontes
de hidrógeno entre bases e separar a dupla hélice de ADN em cadeias simples. Estas enzimas são
essenciais para a maioria dos processos em que as enzimas necessitam de aceder às bases do
ADN.

Polimerases

As polimerases são enzimas que sintetizam cadeias de nucleótidos a partir de trifosfatos de


nucleósidos. A sequência de seus produtos são cópias de cadeias de polinucleótidos existentes,
que se denominam moldes. Estas enzimas funcionam adicionando nucleótidos ao grupo hidróxilo
em 3' do nucleótido anterior numa cadeia de ADN. Por consequência, todas as polimerases
funcionam na direcção 5′ → 3′. [86] Nos sítios activos destas enzimas, o trifosfato de nucleósido
que se incorpora emparelha a sua base com a correspondente no molde: isto permite que a
polimerase sintetize de forma precisa a cadeia complementar ao molde.

As polimerases classificam-se de acordo com o tipo de molde que utilizam:

 Na replicação do ADN, uma ADN polimerase dependente de ADN realiza uma cópia de
ADN a partir de uma sequência de ADN. A precisão é vital neste processo, por isso
muitas destas polimerases possuem uma actividade de verificação de leitura
(proofreading). Mediante esta actividade, a polimerase reconhece erros ocasionais na
reacção de síntese, devido à falta de emparelhamento entre o nucleótido erróneo e o
molde, o que gera um desacoplamento (mismatch). Se se detecta um desacoplamento,
activa-se uma actividade exonuclease na direcção 3′ → 5′ e a base incorrecta é eliminada.
[87]
Na maioria dos organismos, as ADN polimerases funcionam num grande complexo
denominado replissoma, que contém múltiplas unidades acessórias, como helicases.[88]
 As ADN polimerases dependentes de ARN são uma classe especializada de polimerases
que copiam a sequência de uma cadeia de ARN em ADN. Incluem a transcriptase
reversa, que é uma enzima viral implicada na infecção de células por retrovírus, e a
telomerase, que é necessária para a replicação dos telómeros. [34] [89] A telomerase é uma
polimerase inusual, porque contém o seu próprio molde de ARN como parte da sua
estrutura.[35]
 A transcrição é levada a cabo por uma ARN polimerase dependente de ADN que copia a
sequência de uma das cadeias de ADN em ARN. Para começar a transcrever um gene, a
ARN polimerase une-se a uma sequência do ADN denominada promotor, e separa as
cadeias de ADN. Então copia a sequência do gene num transcrito de ARN mensageiro até
que alcança uma região do ADN denominada terminador, onde se detém e se separa do
ADN. Como ocorre com as ADN polimerases dependentes de ADN em humanos, a ARN
polimerase II (a enzima que transcreve a maioria dos genes do genoma humano) funciona
como um grande complexo multiproteíco que contém múltiplas subunidades reguladoras
e accessórias.

Recombinação genética

A recombinação implica a rotura e reunião de dois (M e F) para produzir dois cromossomas


novos, reorganizados (C1 e C2).

Uma hélice de ADN normalmente não interage com outros segmentos de ADN. Nas células
humanas os diferentes cromossomas ocupam áreas separadas no núcleo celular denominadas
“territórios cromossómicos”.[92] A separação física dos diferentes cromossomas é importante para
que o ADN mantenha a sua capacidade de funcionar como um armazém estável de informação.
Um dos poucos momentos em que os cromossomas interagem é durante o sobrecruzamento
cromossómico (chromosomal crossover, em inglês), durante o qual se recombinam. O
sobrecruzamento cromossómico ocorre quando duas hélices de ADN se rompem, sofrem
intercâmbio e se unem novamente.[93]

A recombinação permite aos cromossomas trocar informação genética e produzir novas


combinações de genes, o que aumenta a eficiência da selecção natural e pode ser importante na
evolução rápida de novas proteínas.[94] Durante a profase I da meiose, uma vez que os
cromossomas homólogos estão perfeitamente emparelhados formando estruturas que se
denominam bivalentes, produz-se o fenómeno de sobrecruzamento ou entrecruzamento
(crossing-over), no qual os cromatídeos homólogos não irmãos (procedentes do pai e da mãe)
trocam material genético. A recombinação genética resultante faz aumentar em grande medida a
variação genética entre a descendência de progenitores que se reproduzem por via sexual. A
recombinação genética também pode estar implicada na reparação do ADN, em particular na
resposta celular às roturas da dupla cadeia (double-strand breaks).[95]

A forma mais frequente de sobrecruzamento cromossómico é a recombinação homóloga, na qual


os dois cromossomas implicados compartilham sequências muito similares. A recombinação
não-homóloga pode ser danosa para as células, já que pode produzir translocações
cromossómicas e anormalidades genéticas. A reacção de recombinação é catalisada por enzimas
conhecidas como recombinases, tais como a RAD51.[96] O primeiro passo no processo de
recombinação é uma rotura da dupla cadeia, causada por uma endonuclease ou por dano no
ADN.[97] Posteriormente, uma série de passos catalisados em parte pela recombinase conduz à
união das duas hélices formando pelo menos uma junção de Holliday, na qual um segmento de
uma cadeia simples é anelada com a cadeia complementar na outra hélice. A junção de Holliday
é uma estrutura de união tetraédrica que pode mover-se ao longo do par de cromossomas,
intercambiando uma cadeia por outra. A reacção de recombinação detém-se pelo corte da união e
a reunião dos segmentos de ADN libertados.

Evolução do metabolismo de ADN

Hipótese do mundo de ARN

O ADN contém a informação genética que permite à maioria dos organismos vivos funcionar,
crescer e reproduzir-se. No entanto, desconhece-se o intervalo de tempo durante o qual ele
exerceu esta função nos ~3000 milhões de anos desde a história da vida, já que se propôs que as
formas de vida mais precoces poderiam ter utilizado ARN como material genético.[86] [99] O ARN
poderia ter funcionado como parte central de um metabolismo primordial, já que pode transmitir
informação genética e simultaneamente actuar como catalisador, formando parte das ribozimas.
[100]
Este antigo mundo de ARN onde os ácidos nucleicos funcionariam como catalisadores e
como armazéns de informação genética, poderia ter influenciado na evolução do código genético
actual, baseado em quatro nucleótidos. Isto se deveria a que o número de bases únicas num
organismo é determinado entre um número pequeno de bases (o que aumentaria a precisão da
replicação) e um número grande de bases (que por sua vez aumentaria a eficiência catalítica das
ribozimas).[101]

Infelizmente, não dispomos de evidência directa dos sistemas genéticos ancestrais, porque a
recuperação do ADN a partir da maior parte dos fósseis é impossível. O ADN é capaz de
sobreviver no meio ambiente durante menos de um milhão de anos, e logo começa a degradar-se
lentamente em fragmentos de menor tamanho em solução. [102] Algumas investigações pretendem
a obtenção de ADN mais antigo, como no caso do isolamento de uma bactéria viável a partir de
um cristal salino de 250 milhões de anos de antiguidade,[103] mas estes dados são controversos.[104]
[105]

No entanto, podem utilizar-se ferramentas de evolução molecular para inferir os genomas de


organismos ancestrais a partir de organismos contemporâneos. [106] [107] Em muitos casos, estas
inferências são suficientemente fiáveis, de maneira que uma biomolécula codificada num
genoma ancestral pode ser ressuscitada no laboratório para ser estudada hoje. [108] [109] Uma vez
recomposta a biomolécula ancestral, suas propriedades poderiam oferecer informações sobre os
ambientes primordial, remetendo ao campo emergente da paleogenética experimental.[110] Apesar
de tudo, o processo de trabalho retrospectivo tem limitações inerentes, razão pela qual outros
investigadores tentam elucidar o mecanismo evolutivo trabalhando desde a origem da Terra até
adiante no tempo. Dada suficiente informação sobre como as substâncias cósmicas poderiam
haver-se depositado na Terra e sobre as transformações que poderiam ter tido lugar na superfície
terrestre, talvez poderíamos ser capazes de desenvolver modelos prospectivos de evolução da
informação genética.

História

: História do estudo do ADN

Descoberta

A história do ADN começa no final da década de 1860, com a chegada do médico suíço
Friedrich Miescher (1844-1895) à Universidade de Tübingen, uma pacata cidade no sul da
Alemanha. O jovem pesquisador estava disposto à dedicar-se ao estudo da química da célula e
escolheu essa universidade porque nela o químico Felix Hoppe-Seyler (1825-1895) havia
inaugurado um importante laboratório de química fisiológica. Na época floresciam ideias a
respeito das origens e funções das células, após a queda da teoria da geração espontânea. A teoria
celular estabelecia-se como um dos pilares da Biologia. Por tudo isso, as células atraíam a
atenção de estudantes entusiasmados, como Miescher.[111]

Felix Hoppe-Seyler foi quem primeiro descreveu as interações entre a hemoglobina, a proteína
responsável pela cor do sangue, e o gás oxigênio. Seu trabalho levou-o a interessar-se pela
composição bioquímica dos linfócitos. Mas Miescher enfrentou dificuldades para obter amostras
com linfócitos em quantidade e grau de pureza adequados. Por sugestão de Hoppe-Seyler,
Miescher começou a estudar a química das células do pus; o material para a pesquisa era
abundante, pois dezenas de bandagens com material purulento eram diariamente descartadas por
um hospital próximo à universidade. Miescher desenvolveu técnicas adequadas para o
isolamento das células presentes em pus das bandagens e para a sua análise química. O objetivo
inicial era investigar as proteínas celulares, um grupo de substâncias descoberto cerca de trinta
anos antes.[111]

Em um dos seus muitos experimentos com células do pus, Miescher obteve um precipitado que
diferia quimicamente de todas as substâncias protéicas conhecidas. Ele descobriu que a nova
substância concentrava-se no núcleo celular, na época considerado uma estrutura de pouca
importância para o funcionamento celular. Aprimorando os métodos de extração e purificação da
nova substância, Miescher pôde realizar uma análise química mais precisa, que mostrou que as
quantidades relativas de hidrogênio, carbono, oxigênio e nitrogênio presentes diferiam das
encontradas em proteínas, além de uma quantidade incomum de fósforo. À substância descoberta
Miescher denominou nucleína, pelo fato de ela estar concentrada no núcleo das células.[111]

O trabalho sobre nucleína só foi publicado em 1871, após certa resistência do editor da revista
científica, o próprio Hoppe-Seyler, que, no início, não acreditou nos resultados apresentados por
Miescher. Mesmo depois da publicação do trabalho, muitos pesquisadores continuaram
duvidando da existência da nucleína; na opinião deles, o achado de Miescher devia ser uma
mistura de fosfato inorgânico e proteínas.
Elucidação da composição química

As desconfianças quanto à real existência da nova substância descrita por Miescher só foram
superadas por volta de 1889, quando Richard Altmann (1852-1900) obteve preparações
altamente purificadas de nucleína, sem nenhuma contaminação por proteínas. Pelo fato de a
substância ter caráter ácido, o que já havia sido detectado por Miescher, Altmann sugeriu que ela
fosse chamada de ácido nucléico em vez de nucleína.[113]

Outro pesquisador pioneiro na descoberta foi Albrecht Kossel (1853-1927). Em 1877, ele juntou-
se ao grupo de pesquisa de Hoppe-Seyler, então trabalhando na Universidade de Estrasburgo
(França), e começou a estudar a composição química das nucleínas. Kossel detectou dois tipos de
bases nitrogenadas já conhecidas, a adenina e a guanina. Em 1893, identificou uma nova base
nitrogenada, que era liberada pela degradação de nucleína da células do timo; por isso
denominou-a timina. Logo em seguida, descobriu que a nucleína continha um quarto tipo de base
nitrogenada, a qual denominou citosina.[114] Em 1894, o grupo liderado por Kossel descobriu que
os ácidos nucleicos continham também pentose, um açúcar com cinco átomos de carbono.[115] Em
reconhecimento às suas contribuições na área, foi agraciado em 1910 com o Nobel de Fisiologia
ou Medicina.[116]

Em 1909, Phoebus Levene e Walter Abraham Jacobs (1883-1967) conseguiram determinar a


organização das moléculas de fosfato, de pentose e base nitrogenada no ácido nucleico. [117] Esses
três componentes estão unidos entre si formando uma unidade fundamental, o nucleotídeo. Em
1929, Levene e colaboradores identificaram pentoses componente do ácido nucleico das células
do timo, que denominaram 2-deoxi-D-ribose, pelo fato de ela possuir, no carbono 2 de sua
cadeia, um átomo de oxigênio a menos que a ribose, uma pentose já conhecida, encontrada pelos
pesquisadores em dois tipos de ácidos nucléicos: o ácido ribonucleico, ou ribose, e o ácido
desoxirribonucléico, ou ADN, cujo açúcar é a desoxirribose.[118] [119]

Descoberta da transformação

Frederick Griffith fez uma importante observação no curso dos experimentos com a bactéria
Streptococcus pneumoniae em 1928. Esta bactéria, que causa pneumonia em humanos,
normalmente é letal em camundongos. Entretanto algumas linhagens desta espécie de bactérias
eram menos virulentas (menos capazes de causar doenças ou morte). Nos experimentos de
Griffith, ele usou duas linhagens distinguíveis pelas suas colônias quando cultivadas em
laboratório. Uma linhagem era um tipo normalmente virulento e mortal para a maioria dos
animais de laboratório. As células desta linhagem estão envoltas em uma cápsula de
polissacarídeo, dando às colônias em aspecto liso, sendo esta linhagem identificada com S
(smooth, em inglês). A outra linhagem de Griffith era um tipo mutante não virulento que crescia
em camundongos. Nesta linhagem, a capa de polissacarídeo está ausente, dando às colônias um
aspecto rugoso. Esta linhagem é chamada R (rough, em inglês).[120]
Griffith inativou algumas células virulentas a alta temperatura. Injetou então as células mortas
por aquecimento nos camundongos. Os camundongos sobreviveram, mostrando que os restos das
células não causam morte. Entretanto os camundongos injetados com uma mistura de células
virulentas mortas por aquecimento e células não virulentas vivas morreram. Além disso, as
células vivas podiam ser recuperadas de camundongos mortos. Estas células deram colônias lisas
e foram virulentas em uma injeção subsequente. De algum modo, os restos das células S
aquecidas haviam convertido células R vivas em células S vivas.[121]

A etapa seguinte era determinar que componente químico das células doadoras mortas havia
causado esta conversão. Esta substância tinha mudado o genótipo da linhagem receptora e
portanto podia ser uma candidata a material genético. Este problema foi resolvido pelos
experimentos feitos em 1944 por Oswald Avery e dois colegas, C M. Macleod e M. McCarty.
Seu enfoque ao problema foi destruir quimicamente todas as principais categorias de substâncias
no extrato de células mortas, uma de cada vez, e descobrir se o extrato havia perdido a habilidade
de conversão. As células virulentas possuíam uma capa lisa de polissacarídeo, enquanto as
células não virulentas, não. Assim os polissacarídeos eram um candidato óbvio a ser o agente
responsável. Entretanto, quando os polissacarídeos foram destruídos, a mistura ainda era capaz
de conversão. As proteínas, gorduras e ácido ribonucleico (ARN) foram todos excluídos. A
mistura só perdia a sua capacidade de conversão quando a mistura doadora era tratada com
enzima desoxirribonuclease (DNase), que quebra o ADN. Estes resultados indicavam fortemente
que o ADN era o material genético. Hoje sabemos que os fragmentos do ADN transformante que
conferem virulência entram no cromossomo bacteriano e substituem suas contrapartes que
conferem não-virulência.[122]

Experimento de Hershey-Chase

Os experimentos feitos por Avery e seus colegas foram definitivos, mas muitos cientistas
mostraram-se muito relutantes em aceitar o ADN (e não as proteínas) como material genético. [113]
Evidências adicionais foram publicadas em 1952 por Alfred Day Hershey e Martha Chase, cujo
experimento com o fago T2, um vírus que transfecta na bactéria a informação específica para a
reprodução viral. Se eles pudessem descobrir que material o fago transmitia à bactéria
hospedeira, determinariam o material genético do fago.[123]

O fago tem uma constituição molecular relativamente simples. A maior parte de sua estrutura é
de proteína, com o ADN contido dentro da capa de proteína de sua "cabeça". Hershey e Chase
decidiram marcar o ADN e a proteína usando radioisótopos, de modo que pudessem rastrear os
dois materiais durante a infecção. O fósforo não é encontrado nas proteínas mas é uma parte
integrante do ADN. Contrariamente, o enxofre está presente nas proteínas mas nunca no ADN.
Hershey e Chase incorporaram o radioisótopo de fósforo ( 32P) no ADN do fago e o enxofre ( 35S)
nas proteínas de uma cultura separada de fagos. Eles então infectaram duas culturas de E. coli
com muitas partículas de vírus por células: uma cultura de E. coli recebeu fagos marcados com
32
P e a outra recebeu fagos marcados com 35S. Decorrido tempo suficiente para que ocorresse a
infecção, os cientistas removeram as embalagens de fago (chamadas ghosts) das células
bacterianas por agitação em um liquidificador. Eles separaram as células bacterianas dos
envoltórios dos fagos em uma centrífuga e então mediram a radioatividade nas duas frações.
Quando o fago marcado com 32P foi usado para infectar E. coli, a mais alta radioatividade foi
encontrada dentro das bactérias, indicando que o ADN do fago havia entrado nas células.
Quando era usado o fago marcado com 35S, maior parte do material radioativo estava nos
invólucros dos fagos, indicando que a proteína do fago nunca entrava nas bactérias. A conclusão
era inevitável: o ADN era o material hereditário. As proteínas do fago eram apenas embalagens
estruturais abandonadas após o ADN viral entrar na bactéria.[123]

Aplicações

Engenharia genética

Ver artigo principal: Engenharia genética, biologia molecular

A investigação sobre o ADN tem um impacto significativo, especialmente no âmbito da


medicina, mas também na agricultura e pecuária, com objectivos de domesticação, selecção e de
cruzamentos dirigidos. A moderna biologia e bioquímica fazem uso intensivo da tecnologia do
ADN recombinante, introduzindo genes de interesse em organismos, com o objectivo de
expressar uma proteína recombinante concreta, que pode ser:

 isolada para seu uso posterior: por exemplo, podem-se transformar microorganismos para
produzir grandes quantidades de substâncias úteis, como a insulina, que posteriormente
se isolam e se utilizam em terapias.[124] [125] [126]
 necessária para substituir a expressão de um gene endógeno danificado que seja causador
de uma patologia, o que permitiria o restabelecimento da actividade da proteína perdida e
eventualmente a recuperação do estado fisiológico normal, não patológico. Este é o
objectivo da terapia genética, um dos campos em que se está a trabalhar activamente em
medicina, analisando vantagens e inconvenientes de diferentes sistemas de administração
do gene (virais e não virais) e os mecanismos de selecção do ponto de integração dos
elementos genéticos (distintos para os vírus e transposões) no genoma alvo. [127] Neste
caso, antes de apresentar-se a possibilidade de realizar uma terapia génica numa
determinada patologia, é fundamental compreender o impacto do gene de interesse no
desenvolvimento de dita patologia, para o qual é necessário o desenvolvimento de um
modelo animal, eliminando ou modificando dito gene num animal de laboratório,
mediante a técnica nocaute.[128] Só no caso de os resultados no modelo animal serem
satisfatórios poderá ser analisada a possibilidade de restabelecer o gene danificado
mediante terapia génica.
 utilizada para enriquecer um alimento: por exemplo, a composição do leite (que é uma
importante fonte de proteínas para o consumo humano e animal) pode modificar-se
mediante transgénese, adicionando genes exógenos e inactivando genes endógenos para
melhorar o seu valor nutricional, reduzir infecções nas glândulas mamárias, proporcionar
aos consumidores proteínas antipatogénicas e preparar proteínas recombinantes para o
uso farmacêutico.[129] [130]
 útil para melhorar a resistência do organismo transformado: por exemplo, em plantas
podem-se introduzir genes que conferem resistência a agentes patogénicos (vírus,
insectos, fungos), assim como a agentes estressantes abióticos (salinidade, seca, metais
pesados).[131] [132] [133]
Medicina Forense

A Medicina Forense pode utilizar o ADN presente no sangue, no sémen, na pele, na saliva ou em
pelos existentes na cena de um crime para identificar o responsável. Esta técnica denomina-se
impressão genética ou perfil de ADN. Ao realizar a impressão genética, compara-se o
comprimento de secções altamente variáveis do ADN repetitivo, como os microssatélites, entre
pessoas diferentes. Este método é muito fiável para identificar um criminoso. [134] No entanto, a
identificação pode complicar-se se a cena do crime estiver contaminada com ADN de pessoas
diferentes.[135] A técnica da impressão genética foi desenvolvida em 1984 pelo geneticista
britânico Sir Alec Jeffreys,[136] e utilizada pela primeira vez para condenar Colin Pitchfork por
causa dos assassinatos de Narborough (Reino Unido) em 1983 e 1986. [137] Pode-se requerer às
pessoas acusadas de certos tipos de crimes que cedam una amostra de ADN para ser introduzida
numa base de dados. Isto tem facilitado o trabalho dos investigadores na resolução de casos
antigos, onde só se obteve uma amostra de ADN da cena do crime, em alguns casos permitindo
exonerar um convicto. A impressão genética também pode ser utilizado para identificar vítimas
de acidentes em massa,[138] ou para realizar provas de consanguinidade.[139]

Bioinformática

Bioinformática

A Bioinformática implica a manipulação, busca e extracção de informação dos dados da


sequência do ADN. O desenvolvimento das técnicas para armazenar e procurar sequências de
ADN gerou avanços no desenvolvimento de software para computadores, com muitas
aplicações, especialmente algoritmos de busca de frases, aprendizagem automática e teorias de
bases de dados.[140] A busca de frases ou algoritmos de coincidências, que procuram a ocorrência
de uma sequência de letras dentro de uma sequência de letras maior, desenvolveu-se para buscar
sequências específicas de nucleótidos.[141] Em outras aplicações como editores de textos,
inclusive algoritmos simples podem funcionar, mas as sequências de ADN podem gerar que
estes algoritmos apresentem um comportamento de quase o pior caso, devido ao baixo número
de carácteres. O problema relacionado do alinhamento de sequências procura identificar
sequências homólogas e localizar mutações específicas que as diferenciam. Estas técnicas,
fundamentalmente o alinhamento múltiplo de sequências, utilizam-se ao estudar as relações
filogenéticas e a função das proteínas.[142] As colecções de dados que representam sequências do
ADN do tamanho de um genoma, tais como as produzidas pelo Projecto Genoma Humano, são
difíceis de utilizar sem notações que marcam a localização dos genes e dos elementos
reguladores em cada cromossoma. As regiões de ADN que têm padrões associados com genes
codificantes de proteínas ou ARN podem identificar-se por algoritmos de localização de genes, o
que permite aos investigadores predizer a presença de produtos génicos específicos num
organismo mesmo antes que se tenha isolado experimentalmente.[143]
Nanotecnologia de ADN

Nanotecnologia

A nanotecnologia de ADN utiliza as propriedades únicas de reconhecimento molecular de ADN


e outros ácidos nucleicos para criar complexos ramificados auto-ensamblados com propriedades
úteis. Neste caso, o ADN utiliza-se como um material estrutural, mais que como um portador de
informação biológica.[144] Isto conduziu à criação de lâminas periódicas de duas dimensões
(ambas baseadas em azulejos, assim como usando o método de "ADN origami"), para além de
estruturas em três dimensões em forma de poliedros.[145]

História e antropologia

Filogenia, Genealogia molecular

O ADN armazena mutações conservadas com o tempo e portanto contém informação histórica.
Comparando sequências de ADN, os geneticistas podem inferir a história evolutiva dos
organismos, a sua filogenia.[146] O campo da filogenia é uma ferramenta potente na biologia
evolutiva. Se se compararem as sequências de ADN dentro de uma espécie, os geneticistas de
populações podem conhecer a história de populações particulares. Isto pode-se utilizar numa
ampla variedade de estudos, desde ecologia até antropologia; por exemplo, evidência baseada na
análise de ADN está a ser utilizada para identificar as Dez Tribos Perdidas de Israel. [147] [148]

Ácido nucleico

Os ácidos nucleicos são moléculas gigantes (macromoléculas), formadas por unidades


monoméricas menores conhecidas como nucleotídeos. Cada nucleotídeo, por sua vez, é formado
por três partes:

 um açúcar do grupo das pentoses (monossacarídeos com cinco átomos de carbono);


 um radical “fosfato”, derivado da molécula do ácido ortofosfórico (H3PO4).
 uma base orgânica nitrogenada.

Ocorrem em todas as células vivas e são responsáveis pelo armazenamento e transmissão da


informação genética e por sua tradução que é expressa pela síntese precisa das proteínas.

Os ácidos nucleicos são as biomoléculas mais importantes do controle celular, pois contêm a
informação genética.

Existem dois tipos de ácidos nucleicos: ácido desoxirribonucleico - DNA e ácido ribonucleico -
RNA.
Utilizando técnicas apropriadas, foi possível isolar os ácidos nucleicos e identificar os seus
constituintes.

Nos ácidos nucleicos podem identificar-se três constituintes fundamentais:

 Ácido fosfórico - confere aos ácidos nucleicos as suas características ácidas. Faz as
ligações entre nucleotídeos de uma mesma cadeia. Está presente no DNA e no RNA.
 Pentoses - como o próprio nome descreve, é um açúcar formado por cinco carbonos.
Ocorrem dois tipos: a desoxirribose e a ribose.
 Base nitrogenada - há cinco bases azotadas diferentes, divididas em dois grupos:[1]
o Bases de anel duplo (puricas)- adenina (A) e guanina (G);
o Bases de anel simples (pirimidicas)- timina (T), citosina (C) e uracila (U).

DNA

O DNA é a molécula que contém as informações genéticas. É formado por quatro tipos de
nucleotídeos e quatro tipos de bases nitrogenadas (adenina, timina, guanina e citosina) que irão
formar moléculas de DNA distintas conforme a sequência e a quantidade desses nucleotídeos.
No DNA contém informações gênicas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento dos
seres vivos e alguns vírus, as características hereditárias são passadas por meio dessa molécula,
que tem o principal papel de armazenar as informações.[2]

Para o DNA possuir o formato de dupla hélice, os nucleotídeos formam pares de bases
nitrogenadas e se unem através de pontes de hidrogênio, atrações frágeis que se formam apenas
quando um hidrogênio está ligado a um átomo eletronegativo e se aproxima de outro átomo
negativo, porém existem regras para essa formação em pares, a adenina só poderá se parear com
a timina e vice-versa, já a guanina se pairará com a citosina e vice-versa. Portanto a quantidade
de adenina no DNA é a mesma da timina e a quantidade de guanina será a mesma da citosina,
sendo esta lógica denominada de relação Chargaff. As bases nitrogenadas possuem classificação
em bases púricas (adenina e guanina) e bases pirimídicas (timina e citosina).[3]

A duplicação do DNA é necessária devido à divisão celular, sendo denominada duplicação


semiconservativa, pois ao ocorrer a separação das fitas de DNA pela enzima helicase, cada uma
das fitas irá servir de molde para a construção de uma nova fita de DNA, o que faz a nova fita
conservar uma parte do DNA antigo, portanto as duas novas moléculas de DNA terá em sua
conformação uma parte do DNA antigo.[4]

Desnaturação do DNA

Em extremos de pH ou quando aquecidos, o DNA nativo sofre desenrolamento reversível e


separação(fusão) das fitas. Isso ocorre devido ao fato de os pares de bases G≡C serem mais
estáveis que os pares A=T, pois possuem ponto de fusão maior. Fitas simples de DNAs
desnaturados de duas espécies podem formar um dúplex híbrido e o grau de hibridização
depende da extensão da homologia de sequência. A hibridização é fundamental para importantes
técnicas usadas para estudar e isolar genes específicos e RNAs.[5]
RNA

O RNA está envolvido no processo de fabricação de proteína. É formado por nucleotídeos


compostos de um fosfato, uma ribose e uma base nitrogenada, que podem ser uracila, adenina,
guanina ou citosina. Possui formato de uma fita hélice e se diferencia em RNA mensageiro,
RNA transportador e RNA ribossomal em procariotos, porém em eucariotos há a presença de
todos os contidos nos procariotos, com adição de dois RNAs, o snRNA e o micro RNA.[6]

História

Em 1869, Friedrich Miescher, trabalhando em Tübingen, sul da Alemanha, iniciou experiências


que, aparentemente, eram de pouca importância. Seu trabalho consistia no exame de células do
pus humano. O pesquisador retirava o material para estudo a partir de curativos utilizados em
secreções purulentas.

Durante suas observações, verificou que todas as células vivas, inclusive as de pus, continham
um glóbulo central mais escuro que o restante, denominado núcleo celular. Já se sabia que nas
células do pus o núcleo representava uma grande parte do organismo celular. Miescher acabou
por concluir que daquele material poderia obter, quase que na sua totalidade um grande número
de núcleos celulares isolados.

O processo utilizado pelo pesquisador era fazer o produto retirado das células ser assimilado por
uma enzima digestiva chamada de pepsina. Em seguida, através de centrifugações e outros
processos de separação e filtragem observou o aparecimento de uma substância química até
então desconhecida e rica em fósforo. Inicialmente esta substância foi chamada de nucleína. Ao
submetê-la à verificação do PH, descobriu que esta substância era bastante ácida. Em função
desta descoberta, Miescher mudou o nome do produto para “Ácido Nucleico”
Existem 3 tipos de RNA:

RNA ribossômico (rRNA)

É o RNA presente em maior quantidade na célula (cerca de 80%). É inicialmente armazenado


nos nucléolos (corpo esférico coloração escura presente no núcleo da célula) e passa para o
citoplasma, associando-se a proteínas para formar os ribossomos que, por sua vez, são
responsáveis pela síntese proteica (formação de proteínas).

http://www.fisiologia.kit.net/biomol/3.htm

RNA mensageiro (mRNA)


É uma molécula de vida curta, de tamanho variável, que representa 5% do RNA existente na
célula. Tem como função principal levar para o citoplasma as informações para a síntese de
proteínas.

RNA transportador (tRNA)

É formado por uma só cadeia de nucleotídeos, que se dobra sobre si próprio em forma de trevo.
É o RNA responsável por “guiar” os aminoácidos aos locais onde está ocorrendo a síntese
proteica.
Diferença entre dna e rna

De semelhanças:

Possuem as bases nitrogenadas de adenina, citosina e guanina.


Participam da síntese de proteínas.

De diferenças:

No Dna há a timina ligada por ligação de hidrogênio àadenina


Já no Rna Há a uracila ligada por ligação de hidrogenio à adenina.

O Dna tem dupla hélice espiralizada e o Rna é uma molécula simples( de apenas uma hélice).
O Dna tem um papel mais "completo"na genética corpórea dos seres vivos.

DNA - O ácido desoxirribonucléico é uma molécula formada por duas cadeias na forma de uma
dupla hélice. Essas cadeias são constituídas de um açúcar, chamadodesoxirribose, um grupo
fosfato e quatro bases nitrogenadas, chamadas T ou timina, A ou adenina, C ou citosina e G ou
guanina. O fato de o DNA ter a forma de duas hélices, enroladas uma na outra, é umfator
essencial na sua replicação, isto é, a sua reprodução, gerando uma nova molécula de DNA
enquanto ocorre a divisão celular. Durante a replicação, as duas hélices se desenrolam uma da
outra e cadauma delas serve de molde para fazer duas novas.

RNA - O ácido ribonucléico (RNA) é uma molécula também formada por um açúcar (ribose),
um grupo fosfato e uma base nitrogenada (U ou uracila, A ouadenina, C ou citosina e G ou
guanina). Um grupo reunindo um açúcar, um fosfato e uma base é um "nucleotídeo".

As principais diferenças entre os ácidos DNA e RNA

Pentose: DNA Desoxirribos RNARibose


Bases púricas: DNA Adenina e Guanina RNA Adenina e Guanina
Bases pirimídicas: DNA Citosina e Timina RNA Citosina e Uracila
Estruturas: DNA Duas cadeias Helicoidais DNA Uma cadeia
Enzimahidrolítica:DNA Desoxirribonuclease (DNAase) DNA Ribonuclease (RNAase)
Origem:DNA Replicação DNA Transcrição
Enzima sintética: DNA - polimerase RNA - polimerase
Função: DNA Informação genética DNA Síntesede proteínas

Dna

• pode ser formado por 4 bases nitrogenadas diferentes:


-> Adenina (A)
-> Guanina (G)
-> Citosina (C)
-> Timina (T)
• é composto por uma fita dupla(dupla...

Por favor, assinar para o

RNA Mensageiro

O RNA mensageiro (RNAm), ou ARN mensageiro, é responsável pelo controle e formação de


uma proteína específica, cuja ação responderá pela manifestação do caráter hereditário
codificado pelo DNA (no gene).

RNA-Mensageiro. Ilustração: Alila Medical Media / Shutterstock.com

Após o processo de duplicação do DNA, ocorrerá a síntese do RNAm pelo DNA, sendo
controlado por enzimas específicas denominadas DNA-transcriptases. Nesse processo, as duas
cadeias do DNA vão se separando numa determinada extensão (zona de afastamento)
permanente, que apenas vai mudando de lugar, como que “escorregando” ao longo da fita do
DNA. No espaço de separação, sob o controle enzimático, os nucleotídeos de RNA se encaixam
numa das cadeias apenas do DNA.

Há uma especificidade entre os nucleotídeos, sendo que os nucleotídeos de adenina sempre se


combinam com os nucleotídeos de timina (no DNA) e nucleotídeos de citosina sempre se ligam
com nucleotídeos de guanina (tanto no DNA quanto no RNA). Mas quando há a formação do
RNA, ao nível de cada nucleotídeo de adenina da cadeia do DNA entrará um nucleotídeo de
uracila na cadeia do RNA que está se formando.

Ao passo que a cadeia única de RNAm vai sendo formada, ela se desgarra do seu molde, que é a
cadeia modeladora de DNA, permitindo que esta última, já livre naquele ponto, possa voltar a
unir-se à sua cadeia complementar, restaurando a integridade da molécula.

Dessa forma, quando a longa cadeia de RNAm estiver completa, a molécula de DNA que a
formou estará perfeitamente intacta, com seus dois filamentos íntegros unidos.

Nesse tempo, o RNAm já terá feito a transcrição do código genético do DNA, contendo na sua
linguagem “invertida” de bases nitrogenadas, uma perfeita correspondência com a linguagem
“original” de bases nitrogenadas do DNA.

Ou seja, já que o RNA passará para o citoplasma levando a mensagem genética do DNA, ele
recebe o nome de RNA-mensageiro ou RNAm.

Síntese proteica

A síntese proteica é um fenômeno rápido e muito complexo que ocorre em quase todos os
organismos, e que se desenvolve no interior das células. Este processo tem três fases: transcrição,
Ativação e a tradução.

Transcrição

Ocorre no interior do núcleo das células e consiste na síntese de uma molécula de RNA m (RNA
Mensageiro) a partir da leitura da informação contida no cístron de uma molécula de DNA. Este
processo inicia-se pela ligação de um complexo enzimático à molécula de DNA, o RNA-
polimerase. A enzima helicase desfaz a dupla hélice, destruindo as ligações de hidrogênio que
ligam as bases complementares das duas cadeias, afastando-as. O RNA-polimerase, inicia a
síntese de uma molécula de RNA m de acordo com a complementaridade das bases nitrogenadas.
Nesse processo, as bases pareiam-se: a adenina do DNA se liga à uracila do RNA m, a timina do
DNA com a adenina do RNA m, a citosina do DNA com a guanina do RNA m, e assim
sucessivamente, havendo a intervenção da enzima RNA-polimerase. Quando a leitura termina, a
molécula RNA m separa-se da cadeia do DNA, esta restabelece as ligações de hidrogênio e a
dupla hélice é reconstituída.

Nem todas as sequências da molécula do DNA codificam aminoácidos. O RNA sintetizado sofre
um processamento ou maturação antes de abandonar o núcleo. Algumas porções do RNA
transcrito, "íntrons", vão ser removidas e as porções não removidas, "éxons", ligam-se entre si,
formando assim um mRNA maturado. O RNA que sofre este processo de exclusão de porções é
designado do RNA pré-mensageiro. No final do processo, o mRNA é constituído apenas pelas
sequências que codificam os aminoácidos de uma proteína, podendo assim migrar para o
citoplasma, onde vai ocorrer a tradução da mensagem, isto é, a síntese de proteínas.

Ativação de aminoácidos

Nessa etapa, atua o RNA transportador (RNAt), que leva os aminoácidos dispersos no
citoplasma até os ribossomos. Numa das regiões do RNAt está o anticódon, uma sequência de 3
bases complementares ao códon de RNAm. A ativação dos aminoácidos é dada por enzimas
específicas que se unem ao RNA transportador, formando o complexo aa-RNAt, dando origem
ao anticódon (um trio de códons complementar aos códons do RNAm). Para que esse processo
aconteça é preciso haver energia, que é sim fornecida pelo ATP.

Tradução

Ocorre no citoplasma e é a segunda parte da síntese proteica. Nessa fase a mensagem contida no
RNAm é decodificada no ribossomo.

Participa do processo.

 mRNA ou RNA mensageiro, que vem do interior do núcleo;


 Os ribossomos;
 O RNAt ou RNA ribossomal (ou ainda RNA transportador);
 Enzimas (responsáveis pelo controle das reações de síntese);
 E o ATP, é o que fornece energia necessária para o processo

Nas moléculas de RNAt apresentam-se cadeias de 75 a 80 ribonucleotídeos que funcionam como


intérpretes da linguagem do mRNA e da linguagem das proteínas.

Toda molécula de mRNA possui:

 um Códon de iniciaçao, que é sempre o mesmo (AUG), correspondente ao aminoácido


metionima;
 vários códons que determinam a sequência dos aminoácidos no polipeptídeo;
 um códon de terminaçao, que marca o final daquela cadeia polipeptídica, podendo ser
UAG, UAA, ou UGA; só há um deles na molécula de mRNA.

O processo da tradução encerra com três etapas: iniciação, alongamento e finalização.

Iniciação

A subunidade menor do ribossoma liga-se à extremidade 5' do mRNA, esta, desliza ao longo da
molécula do mRNA até encontrar o codão de iniciação (AUG), transportando o tRNA ligado a
um aminoácido, ligando-se ao codão de iniciação por complementaridade. A subunidade maior
liga-se à subunidade menor do ribossoma. O processo de tradução começa pelo aminoácido de
metionina AUG.

Alongamento

Um 2º tRNA transporta um aminoácido específico de acordo com o codão. Estabelece-se uma


ligação peptídica entre o aminoácido recém-chegado e a metionina. O ribossoma avança três
bases ao longo do mRNA no sentido 5' -> 3', repetindo-se sempre o mesmo processo. Os tRNA
que já se ligaram inicialmente, vão-se desprendendo do mRNA sucessivamente até formar .

Finalização

O ribossomo encontra o codão de finalização - UAA, UAG ou UGA terminando assim o


alongamento. Quando último tRNA abandona o ribossoma, as subunidades do ribossoma
separam-se, podendo ser recicladas e por fim, a proteína é libertada.

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