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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


INSTITUTO BIOMÉDICO
DISCIPLINA: GENÉTICA
PROFESSORA: KÊNIA BALBI EL-JAICK

CO-AUTORIA DAS DISCENTES:


ROBERTA LUISA BARBOSA LEAL (MESTRADO/PPGBMC-UNIRIO)
GABRIELA DOS SANTOS SANT’ANNA DA SILVA (MONITORIA/UNIRIO)
YRNEH PRADO PALACIOS (MESTRADO/IOC-FIOCRUZ)

APOSTILA 2

Organização do Material Genético


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1 Organização do material genético

O material genético desempenha um papel fundamental na composição


dos organismos vivos. Nele se encontra o conteúdo responsável pela expressão
das características individuais que são herdadas dos genitores.

O ácido desoxirribonucleico (DNA) e o ácido ribonucleico (RNA) são


macromoléculas essenciais para a continuidade da vida. O DNA,
especificamente, contém as informações hereditárias, aquelas que são
transmitidas dos pais para os filhos, fornecendo instruções sobre como, onde e
quando sintetizar as muitas proteínas necessárias para construir e manter as
células, os tecidos e os organismos funcionais. Como o DNA carrega essas
informações e como elas são colocadas em ação nas células é um mecanismo
extremamente interessante, que aprenderemos ao longo da disciplina.

Os ácidos nucléicos são macromoléculas formadas por unidades


chamadas nucleotídeos. Cada nucleotídeo é composto por três partes: uma
estrutura em anel contendo nitrogênio, chamada base nitrogenada; um açúcar
com cinco carbonos, a pentose; e pelo menos um grupo fosfato (Figura 1).

Figura 1 – Estrutura de um nucleotídeo (no exemplo, um ribonucleotídeo e um

desoxirribonucleotídeo)

Fonte: Os autores
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Existem cinco bases nitrogenadas: adenina (A), guanina (G) citosina (C)
timina (T) e uracila (U). Adenina e guanina são purinas, o que significa que
suas estruturas contêm dois anéis de carbono-nitrogênio. Citosina, timina e
uracila, por outro lado, são pirimidinas e possuem um único anel carbono-
nitrogênio. Mas uma diferença importante entre a molécula de DNA e a molécula
de RNA se encontra na sua composição de bases nitrogenadas.

Enquanto os nucleotídeos que compõem o DNA possuem adenina,


guanina, citosina e timina, os nucleotídeos que compõem o RNA também podem
conter as bases de adenina, guanina e citosina, mas, ao invés da timina, eles
possuem a uracila.

Além de ter conjuntos de bases nitrogenadas diferentes, os nucleotídeos


do DNA e do RNA também possuem açúcares diferentes. O açúcar de cinco
carbonos do nucleotídeo do DNA é a desoxirribose, enquanto o açúcar do
nucleotídeo do RNA, é a ribose. Esses dois têm estrutura muito semelhante,
com apenas uma diferença: o segundo carbono da ribose (carbono 2’) possui um
grupo hidroxila, enquanto o carbono equivalente da desoxirribose possui um
hidrogênio (Figura 2).

Figura 2 – Diferença entre o açúcar ribose e o açúcar desoxirribose

Fonte: os autores.
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O DNA é o material genético encontrado nos organismos vivos, desde


bactérias unicelulares até mamíferos multicelulares como você e eu. Já o RNA
está presente em todos os organismos vivos também, mas é uma estrutura mais
simples e bem menor que o DNA. Alguns vírus possuem RNA como material
genético, e não DNA, entretanto, estes não são considerados seres vivos (visto
que não podem se reproduzir sem a ajuda de um hospedeiro).

Nos seres humanos, o DNA é encontrado no núcleo das células (como


moléculas lineares) e nas mitocôndrias (como uma molécula de DNA
circular)1. Entretanto, por ser composto por várias moléculas lineares muito
grandes, o DNA encontrado no núcleo permanece compactado, associado a
proteínas chamadas histonas, representando o conjunto de cromossomos de
cada espécie. Cada cromossomo contém centenas de genes, cada um formado
por uma sequência de centenas a milhares de nucleotídeos, fornecendo
instruções sobre como expressar características físicas e metabólicas
específicas, ou seja, o fenótipo do indivíduo (Figura 3).

Figura 3 – Material genético nuclear. Cromossomos: DNA associado às proteínas histonas

Cromossomo duplicado, apresentando duas cromátides irmãs

Cromátides

DNA dupla fita

Fonte: Adaptada de Kes47. Disponível no Wikimedia Commons em


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Chromosome-es.svg (acesso em 13 out 2020).

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Em outros eucariontes, o DNA extranuclear pode ser encontrado também nos cloroplastos
(em vegetais e algas).
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Nota: A visualização dos cromossomos ao microscópio somente é possível quando estes se


encontram bem compactados, ou seja, quando a célula está se dividindo. Por isso, os
cromossomos se apresentam sempre duplicados, temporariamente com duas cromátides irmãs
que, em seguida, seriam separadas e alocadas, cada uma delas, em uma das duas células filhas
resultantes da divisão celular. É importante ressaltar que, quando a célula não está em divisão,
cada cromossomo apresenta apenas uma cromátide, ou seja, somente uma molécula de DNA
dupla fita, e se encontra em um estado menos compactado.

Enquanto o DNA é altamente complexo, o RNA é uma molécula bem


menor e mais simples. Nesta parte introdutória da biologia molecular
abordaremos três tipos de RNA: o RNA mensageiro (RNAm), o RNA
transportador (RNAt), e o RNA ribossomal (RNAr). Apesar de possuírem funções
distintas, a participação de cada um é fundamental para que a informação
contida no DNA possa ser expressa. Enquanto o DNA nuclear é composto por
várias moléculas lineares e grandes, que só são encontradas no núcleo, os
diferentes tipos RNA (RNAm, RNAt, RNAr) são sintetizados no núcleo, mas
podem transitar pela célula.

Os genes codificam informações importantes, por meio da síntese de


RNAs e proteínas. Antes que essas informações possam ser usadas para a
síntese de proteínas, que ocorre no citoplasma, é preciso que uma parte da
sequência de nucleotídeos do DNA em que essa informação está contida (o
gene) seja transcrita, no núcleo, em uma molécula de RNA. Esse tipo de RNA é
chamado de RNA mensageiro (RNAm). Após a transcrição, este RNAm
primário sofre alguns eventos de processamento, entre eles a retirada dos
íntrons (splicing), formando o RNAm maduro, que vai ao citoplasma a fim de
participar da maquinaria de tradução em proteínas.

➔ Você já ouviu falar por aí que o sentido da vida é 5’ -> 3’?

As sequências de DNA são sintetizadas na direção 5' para a 3', significando


que o nucleotídeo na extremidade 5’ vem em primeiro lugar e o nucleotídeo na
extremidade 3' vem em último.

À medida que novos nucleotídeos são adicionados a uma fita crescente


de DNA (durante a replicação), a fita cresce em sua extremidade 3', com o fosfato
5' de um nucleotídeo que está sendo adicionado se ligando ao grupo hidroxila
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do açúcar do nucleotídeo que está presente na extremidade 3' da sequência


crescente. Isso cria uma cadeia com cada açúcar unido a um grupo fosfato do
nucleotídeo vizinho por ligações chamadas de ligação fosfodiéster. A leitura
das duas fitas de DNA corre em direções opostas, o que significa que o extremo
5' de uma fita está pareado com o extremo 3' da fita correspondente (Figura 4).

Então, quaisquer duas bases nitrogenadas podem decidir se unir e formar


um par na dupla hélice? A resposta é definitivamente: não!!!! O pareamento de
bases entre as duas fitas de DNA é altamente específico: Guanina pode apenas
se parear com Citosina (por meio de três pontes de hidrogênio) e Adenina só
pode se parear com Timina (por meio de duas pontes de hidrogênio) (Figura 4).
Diferentemente, quando o RNA está sendo sintetizado a partir de uma fita de
DNA molde (3’ – 5’), a Adenina do DNA se pareia com a Uracila do RNA, ao
invés da Timina.

Figura 4 – DNA dupla fita: as duas fitas são unidas por pontes de hidrogênio entre as
bases nitrogenadas Guanina-Citosina e Adenina-Timina.

Fonte: os autores
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Nota: A extremidade da fita de DNA que termina em um açúcar pentose, tem uma hidroxila (OH)
no Carbono 3’, disponível para realizar uma ligação a outro nucleotídeo, se unindo ao grupo
fosfato deste quando o DNA está se duplicando, sendo por isso, chamada de extremidade 3’. A
extremidade da fita de DNA que termina em um grupo fosfato, o qual está ligado ao Carbono 5’
do açúcar pentose, é chamada de extremidade 5’.

Isso significa que as duas fitas de uma dupla hélice de DNA têm uma
relação muito previsível entre si. Quer ver?

Se por exemplo, você souber que a sequência de uma fita é:

5'-AATTGGCC-3'

Qual será a fita de DNA complementar? A resposta é:

3'-TTAACCGG-5'

2 Genes eucarióticos

Os genes são compostos por sequências codificantes de RNA. Assim,


quando um gene é transcrito em uma sequência de RNA, este transcrito
primário do respectivo gene, conterá uma cópia de toda a sequência de
nucleotídeos que o gene apresenta, ou seja, sequências que correspondem
aos éxons e as sequências que correspondem aos íntrons do gene. Os éxons
são chamados de sequências codificantes, pois continuarão presentes no
RNA mensageiro mesmo após o seu processamento, ou seja, estarão presentes
no RNA mensageiro maduro. Diferentemente, os íntrons são chamados de
sequências não codificantes, as quais intercalam os éxons, e não estarão
presentes no RNA mensageiro maduro. Portanto, as sequências dos íntrons,
que não estão presentes no RNA mensageiro maduro, não serão traduzidas
em uma sequência de aminoácidos (Figura 5).

Quando um gene codificante de proteína é expresso, um RNA


mensageiro primário é transcrito, o qual apresentará a transcrição de toda
sequência dos respectivos éxons e íntrons daquele gene. Para que a
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transcrição do gene aconteça, é necessária a participação de proteínas


ativadoras ou repressoras da expressão dos genes, que se ligam ao DNA
em sequências chamadas “regiões reguladoras” e promovem a ligação da
enzima RNA polimerase na sequência de nucleotídeos chamada “região
promotora” do gene. Após a transcrição da sequência do gene em RNA, este
RNA mensageiro primário será processado, e as sequências que
correspondem aos íntrons serão retiradas, pois estas não são sequências
codificantes de uma sequência de aminoácidos. O RNAm primário se tornará
um RNAm maduro, contendo somente a sequência dos éxons, e sairá do
núcleo em direção ao citoplasma, onde será traduzido em uma determinada
sequência de aminoácidos, que dará origem a uma proteína (Figura 5).

Figura 5 – Gene eucariótico. Transcrição em RNAm. Tradução do RNAm em proteína.

Fonte: os autores
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3 Cariótipo humano

Quando observamos o nosso conjunto de 46 cromossomos, podemos


perceber que os dois cromossomos em um par homólogo são muito semelhantes
entre si e têm o mesmo tamanho e forma. E como vimos, eles carregam a mesma
informação genética: ou seja, eles têm os mesmos genes nas mesmas posições
ao longo do cromossomo (cada gene está localizado em um determinado
cromossomo, em uma posição chamada locus). No entanto, eles não têm
necessariamente as mesmas versões dos genes, lembra? As versões diferentes
de um mesmo gene são chamadas de ALELOS. Por exemplo, você pode ter
herdado alelos diferentes de um mesmo gene, um alelo de sua mãe e outro de
seu pai2.

Em relação ao número de cromossomos, podemos observar que


diferentes espécies possuem números de cromossomos diferentes. Por
exemplo, os seres humanos são diploides (2n) e tem 46 cromossomos em
suas células nucleadas. Esses 46 cromossomos estão organizados em 23 pares
de cromossomos homólogos: 22 pares de autossomos e 1 par de
cromossomos sexuais. Os cromossomos sexuais, X e Y, determinam o sexo
biológico de uma pessoa: XX expressa o sexo feminino e XY expressa o sexo
masculino. Os cromossomos X e Y não são homólogos verdadeiros e são uma
exceção à regra dos pares de autossomos, os quais possuem os mesmos genes
nos mesmos lugares. Além de pequenas regiões de similaridade necessárias ao
pareamento destes durante a meiose (chamada de região
pseudoautossômica), os cromossomos X e Y são diferentes e carregam genes
distintos.

O conjunto completo de cromossomos de um organismo pode ser


visualizado por meio de fotografias das células em divisão. Essas imagens são
então organizadas para formar um cariótipo, como ilustrado na Figura 6.

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Foram abordados exemplos na apostila 1.
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Figura 6 - Cariótipo humano sem anomalias cromossômicas (masculino, 46, XY)

Fonte: National Cancer Institute, National Institutes of Health (NIH). Disponível no Wikimedia
Commons em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Karyotype_(normal).jpg. Acesso em 13
out 2020.

IMPORTANTE!

Cromossomos, DNA, genes e genomas não são a mesma coisa!

Às vezes, essas palavras são usadas de maneira equivocada, inclusive


em muitos materiais disponíveis na internet. Mas não significam a mesma
coisa. Vejamos:

O DNA é o material genético encontrado em todos os seres vivos. Uma


longa molécula dupla-fita de DNA, associada a proteínas histonas, compõe um
cromossomo na célula eucariótica. Nos cromossomos, existem segmentos que
correspondem a sequências codificantes de RNAs e proteínas, chamadas
genes. Todos os diferentes cromossomos de um organismo compõem o
genoma desse organismo. Em outras palavras: um segmento específico do
cromossomo representa um gene (sequência de DNA codificante de RNA e
proteinas); um conjunto de sequências de DNA codificantes (chamadas genes),
e de sequências não codificantes também (como regiões reguladoras e regiões
repetitivas), formam um cromossomo; e um conjunto de cromossomos,
localizado no núcleo da célula, mais o DNA extranuclear, forma o genoma de
uma espécie.
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Bibliografia

GRIFFITHS, A.J.F.; WESSLER, S.R.; CARROLL, S.B.; DOEBLEY, J.


Introdução à Genética. 10ª edição. Guanabara Koogan, 2013.

PIERCE, B.A. Genética. Um Enfoque Conceitual. 3ª edição. Guanabara


Koogan, 2011.

SNUSTAD, D.P.; SIMMONS, M.J. Fundamentos de genética. 4ª edição.


Guanabara Koogan, 2012.

LODISH, H.; BERK, A.; ZIPURSKY, S.L.; MATSUDAIRA, P.; BALTIMORE, D.;
DARNELL, J. Biologia Celular e Molecular. 4ª edição. Editora Revinter, 2002.

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