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BIOQUÍMICA

AULA 5

Profª Joana Rizzolo


CONVERSA INICIAL

Câncer, transgênicos e organismos geneticamente modificados parecem


assuntos importantes? A resposta para esta pergunta certamente será sim.
Esses são tópicos que despertam interesse e aos quais a ciência –
principalmente a biotecnologia – tem se voltado bastante, embora a população
em geral pouca entenda sobre eles.
Estudar os mecanismos intimamente relacionados a esses assuntos é o
que faremos nesta aula. Compreender a função dos ácidos nucleicos nos
processos biológicos e na manutenção da vida nos oferece o entendimento dos
mecanismos bioquímicos pelos quais a informação genética pode ser passada
de uma geração para a próxima, bem como suas transformações induzidas e
suas modificações através de erros de replicação. Assim, estudaremos a
estrutura dos ácidos nucleicos — conhecidos como DNA e RNA — e como eles
desempenham suas funções relacionadas à codificação, ao armazenamento da
informação e à hereditariedade, buscando compreender como tudo isso pode
resultar nos processos biológicos.
Pesquisas ao redor do mundo vêm avançado a cada ano, proporcionando
conhecimentos e tecnologias para serem aplicados na medicina, ciência forense
e biologia molecular. Por outro lado, tanto poder sobre alterações na natureza –
como o impedimento do nascimento de fêmeas de algumas espécies,
modificações na fertilidade de plantas, modificações quanto à aparência e à
resistência a agroquímicos – poderão acarretar grandes impactos irreversíveis
nos ecossistemas e na saúde dos organismos vivos. Todo esse poder é, muitas
vezes, dominado por algumas instituições com intenções duvidosas. Portanto, o
avanço da ciência pode ser também uma ameaça à saúde humana e ao meio
ambiente como um todo, chegando até nós sem nosso conhecimento ou
disfarçado por meio do lema de soluções inovadoras.
Assim sendo, a próxima classe de compostos orgânicos que vamos
estudar é a classe dos ácidos nucleicos. Esses compostos são formados por
átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e fósforo. Do mesmo modo
que os carboidratos são polímeros de monossacarídeos e proteínas são
polímeros de aminoácidos, os ácidos nucleicos são polímeros de nucleotídeos.
Os ácidos nucleicos desempenham a função de armazenamento da
informação genética e as moléculas que os representam são o DNA (ácido

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desoxirribonucleico) e o RNA (ácido ribonucleico). Assim, DNA e o RNA são
longos polímeros lineares que carregam a informação de uma maneira que pode
ser passada de uma geração para a próxima. Todos os seres vivos têm ácidos
nucleicos em seu material genético e todos codificam sua informação genética
da mesma forma.
Importante lembrar que cada célula humana possui 46 cromossomos, que
são constituídos por DNA e proteínas. É no DNA que estão os genes,
considerados as unidades fundamentais da hereditariedade, nos quais estão
inscritas as instruções para a produção de proteínas (Figura 1). Sabemos que
as enzimas catalisam todas as reações vitais, de tal modo que os ácidos
nucleicos controlam as enzimas. Logo, podemos dizer que os ácidos nucleicos
controlam todo o funcionamento das células dos organismos, pois são
constituídos por genes, os quais são responsáveis por todas as características
dos indivíduos e comandam todas as funções vitais.

Figura 1 – Representação das subdivisões de um cromossomo de uma célula


até a síntese proteica a partir de um gene

Fonte: Fancy Tapis/Shutterstock.

Agora que já entendemos que as funções dos ácidos nucleicos são de


armazenamento da informação genética e de síntese de proteínas, cabe estudar
sua estrutura: tanto o DNA quanto o RNA são macromoléculas que consistem
em um grande número de nucleotídeos ligados, cada um composto de um

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açúcar, um fosfato e uma base nitrogenada. Como os ácidos nucleicos são
polímeros, cada unidade monomérica dentro desse polímero é um nucleotídeo.

Figura 2 – Estrutura geral de um ácido nucleico:

Fonte: Soleil Nordic/Shutterstock.

a) Comparação em relação às pentoses dos ácidos nucleicos: a pentose do


DNA é denominada desoxirribose e a pentose do RNA é denominada
ribose com um grupo hidroxila no carbono 2; ambas com um grupo
hidroxila ligado ao carbono 3 circulado, pois é onde o grupo fosfato da
próxima unidade de nucleotídeo irá se ligar;
b) Demonstração geral de uma cadeia de um ácido nucleico mostrando

como os nucleotídeos se ligam para formar a cadeia de um ácido nucleico.

TEMA 1 – NUCLEOTÍDEOS: COMPOSIÇÃO E NOMECLATURA

Nucleotídeos são as unidades estruturais dos ácidos nucleicos. Além


disso, os nucleotídeos desempenham uma variedade de outras funções, como
carreadores de energia (como principais doadores e aceptores de grupos fosforil
no metabolismo como tri e difostatos – ATP e ADP), componentes de cofatores
enzimáticos e mensageiros químicos.

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Cada nucleotídeo isolado é formado por três componentes: uma base
nitrogenada, uma pentose (açúcar de cinco carbonos) denominada desoxirribose
ou ribose e um grupo fosfato. Tanto o DNA como o RNA são compostos por
nucleotídeos, com a diferenciação de suas pentoses pela ausência ou presença
do grupo hidroxila no carbono 2, conforme explanado acima. O terceiro
componente dos nucleotídeos será uma das cinco bases nitrogenadas,
denominadas adenina (A), timina (T), citosina (C), guanina (G) e uracila (U). A e
G são estruturas de anel duplo chamadas de purinas; enquanto T, C e U são
estruturas de anel simples denominadas pirimidinas, conforme Figura 3.
Uma outra característica que difere as estruturas do DNA e do RNA, além
das pentoses, é quanto às bases nitrogenadas. Ambos os ácidos nucleicos
contêm duas bases púricas (A e G) e uma base pirimídica (C) em comum. No
DNA, a quarta base é a timina; no RNA, é a uracila, como podemos observar na
figura abaixo.

Figura 3 – Componentes estruturais dos nucleotídeos: grupo fosfato, açúcares e


as bases nitrogenadas

Um detalhe importante que deve ser esclarecido quando estudamos a


estrutura dos nucleotídeos é em relação ao uso da numeração dos átomos nas
unidades de pentose, os quais são identificados e numerados com “linhas” para
distingui-los dos átomos das bases. Assim, fica claro quando dizemos que um
nucleotídeo se liga ao outro através do carbono 3’ da pentose do primeiro com o
grupo fosfato do próximo, como podemos observar na Figura 4.

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Figura 4 – Nucleotídeos se ligando através do carbono 3’ do primeiro (destacado
pelo círculo na cor roxa) com o grupo fosfato do próximo (destacado pelo círculo
na cor amarela)

Na figura acima apresentada, não foi chamada a atenção para as bases


nitrogenadas. Porém, é importante pontuar que um nucleotídeo difere do outro
apenas pela base nitrogenada. Assim, as outras estruturas sempre serão as
mesmas, um grupo fosfato e uma pentose.
Quando a estrutura considerada é formada apenas pela pentose e pela
base nitrogenada, chamamos essa estrutura de nucleosídeo.

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Quadro 1 – Nomenclatura das bases, dos nucleosídeos e dos nucleotídeos

Base Nucleosídeo Nucleotídeo no DNA Nucleotídeo no RNA


Desoxiadenosina 5’
Adenina Adenosina Adenosina 5’ monofosfato
monofosfato
Desoxiguanosina 5’
Guanina Guanosina Guanosina 5’ monofosfato
monofosfato
Desoxicitidina 5’
Citosina Citidina Citidina 5’ monofosfato
monofosfato
Desoxitimidina 5’
Timina Timidina --
monofosfato
Uracila Uridina -- Uridina 5’ monofosfato

Note, no quadro acima, como se dá a nomenclatura das bases, dos


nucleosídeos e dos nucleotídeos.

TEMA 2 – DNA: CONSTITUIÇÃO E ESTRUTURA DA DUPLA HÉLICE

Watson e Crick foram os cientistas que postularam o modelo


tridimensional da estrutura do DNA, em 1953, consistindo em um marco decisivo
na história do material genético. O modelo proposto – o qual é aceito até hoje –
descreve que cada molécula de DNA é uma dupla hélice em que duas cadeias
de nucleotídeos se dispõem espiraladamente em torno de um eixo. Essas
cadeias são unidas entre si por pontes de hidrogênio que se formam entre as
bases nitrogenadas.
A dupla hélice contém dois polinucleotídeos. As bases nitrogenadas estão
no interior da hélice, e o arcabouço açúcar-fosfato na parte externa. A dupla
hélice se constitui então em duas fitas antiparalelas que se unem em pares de
bases por ligações de hidrogênio intramoleculares.
Essa união entre as cadeias não é aleatória, ou seja, em qualquer DNA,
a adenina de uma cadeia se pareia com a timina da outra cadeia e a guanina de
uma se pareia com a citosina de outra, e vice-versa.
Uma cadeia de DNA se difere de outra pela ordem com que os
nucleotídeos se dispõem.

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Figura 5 – Padrões de ligações de hidrogênio no pareamento de bases (ligações
de hidrogênio estão representadas por três linhas azuis)

Fonte: Adaptado de Nelson e Cox, 2014.

Outro aspecto importante sobre a estrutura de uma cadeia de DNA é que


a sequência de uma fita simples de ácido nucleico é sempre escrita com a sua
extremidade 5’ (carbono 5’ da primeira pentose) à esquerda e com a extremidade
3’ à direita (Figura 5), ou seja, na direção 5’→3’. Assim, a cadeia tem uma ponta
5’, geralmente ligada a um fosfato e uma ponta 3’, geralmente uma hidroxila livre.
A partir da Figura 5, podemos destacar outra questão: podem ser
formadas três ligações de hidrogênio entre G e C — simbolizadas G≡C — e
apenas duas podem ser formadas entre A e T — simbolizadas A=T.

TEMA 3 – DNA: ESTUDOS DE MAPEAMENTOS GENÉTICOS

Antes de falarmos sobre o mapeamento genético em si e sua importância,


é imprescindível conhecermos o Projeto Genoma Humano. Esse foi um projeto
internacional que durou 13 anos, sendo finalizado em 2003 e custando quase
US$ 3 bilhões de dólares. Seu objetivo era sequenciar o genoma humano
completo e, através desse mapeamento, fornecer informações e oferecer um
banco de dados para pesquisas. Lembrando que o genoma é a sequência
completa do DNA da célula e os genes que o compõem são as unidades

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responsáveis pela transmissão das características hereditárias e controlam
todas as atividades que ocorrem dentro da célula. Desse modo, a técnica que
determina quais genes estão presentes no genoma de uma célula se chama
mapeamento genético. A partir do mapa genético, é possível identificar a
predisposição a alergias, intolerâncias e doenças.
Outras ciências foram surgindo para lidar com as informações
encontradas nos mapas genéticos. A nutrigenômica estuda a forma como
compostos presentes nos alimentos podem modular a expressão gênica. Dessa
forma, o paciente poderá ser tratado com alimentos específicos a fim de silenciar
a expressão de certas doenças.
A medicina preventiva também pode atuar baseada nesses
conhecimentos alcançados pelo mapeamento genético por meio do
silenciamento de genes que poderiam expressar determinadas doenças. Ela
também pode revelar informações sobre o metabolismo, sobre características
dos sistemas corpóreos e até mesmo informações sobre a performance física. A
medicina preventiva consiste em um tratamento completamente individual que
se baseia no perfil genético de cada pessoa. Certamente, esse tipo de
tratamento não modifica a predisposição genética, sendo utilizado apenas para
evitar a manifestação de algumas doenças.
O mapeamento genético também se destaca nos estudos de ecologia, em
que pesquisadores buscam entender estratégias adaptativas de organismos. Por
exemplo, como fatores ambientais influenciam padrões de variação no genoma
resultando em mudanças adaptativas e a hereditariedade dessas alterações.
A epigenética é outra ciência que se integra ao conhecimento dos mapas
genéticos, pois ela consiste no estudo das características de organismos que se
modificam sem que haja modificações em seu DNA. Assim, a epigenética trata
dos efeitos que o ambiente gera na expressão genética e que podem ser
passados para as gerações. Esse assunto será abordado na próxima aula.
O sequenciamento do genoma de microrganismo patogênicos também
pode trazer benefícios em relação a um aspecto que vem preocupando cientistas
e a medicina: a resistência a antibióticos. Assim, a identificação dos genes
associados à resistência de medicamento pode auxiliar na identificação rápida
da resistência.

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TEMA 4 – RNA: COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA

A segunda maior forma de ácidos nucleicos nas células é o RNA, o qual


difere do DNA em vários aspectos:

• O RNA normalmente é uma fita simples;


• O açúcar do nucleotídeo é a ribose, que tem um átomo de oxigênio a mais
que a desoxirribose;
• Ocorre a presença da base uracila ao invés da timina;
• A uracila forma pares de bases com a adenosina;
• As outras três bases são as mesmas do DNA (A, G, C).

O processo de formação do RNA a partir do DNA será abordado no


próximo tema, assim como a função dos três principais tipos de RNA,
denominados RNA mensageiro (mRNA), RNA ribossômico (rRNA) e RNA
transportador (tRNA). Podemos observar, na Figura 6, esse processo que se
inicia no núcleo celular e continua no citoplasma, com a participação do tipos de
RNA citados.

Figura 6 – Formação do RNA na célula, com destaque para os processos de


transcrição, tradução e formação de proteína

Fonte: Alila Medical Media/Shutterstock.

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TEMA 5 – FUNÇÕES DO MATERIAL GENÉTICO: REPLICAÇÃO, TRANSCRIÇÃO
E TRADUÇÃO

O pesquisador Crick propôs em 1958 o Dogma Central, alegando que a


informação biológica é primeiro transferida ao RNA e depois à proteína. Em
1970, essa afirmação foi considerada errada quando outros cientistas
descobriram que alguns vírus transmitem a informação do RNA para o DNA.
Contudo, a transmissão da informação na maioria dos organismos vai de
DNA para RNA da seguinte forma: a informação é armazenada no DNA,
transcrita e decodificada no RNA e, por último, traduzida em uma proteína,
conforme ilustrada na Figura 7.

Figura 7 – Representação da transcrição do DNA e da tradução do RNA à


proteína

A replicação (Figura 8) é um processo que ocorre sempre que a célula se


divide, independentemente da transcrição ou tradução. Portanto, esse é um
processo essencial para que haja multiplicação celular, o qual parte de uma
cadeia dupla de DNA para gerar duas novas cadeias duplas de DNA, idênticas
à original.

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Figura 8 – Duplicação do DNA produzindo duas fitas idênticas (representadas
pela cor laranja) de DNA a partir de uma fita original de DNA (representada pela
cor azul)

Fonte: Soleil Nordic/Shutterstock.

A replicação do DNA é semiconservativa, ou seja, uma fita de DNA original


será conservada para se unir a uma nova fita de DNA. Assim, cada fita de DNA
fornece um molde para uma nova fita, produzindo duas novas moléculas de
DNA.
Assim como as pontes de hidrogênio das bases nitrogenadas que unem
as fitas de DNA são desfeitas por enzimas (DNA helicase) para que se inicie a
duplicação/replicação, as próximas etapas também são geridas por enzimas.
São as enzimas que garantem que o nucleotídeo correto seja adicionado e que
a informação genética seja transmitida de maneira intacta. Já com as fitas
abertas, a DNA polimerase proporciona a construção da nova fita; logo, ocorre a
ligação dos nucleotídeos da nova fita de DNA à fita original de DNA sob
gerenciamento da DNA ligase.
Vimos que a função da replicação é a duplicação da molécula de DNA, a
qual ocorre independentemente da transcrição e tradução, sempre que uma
célula precisa se duplicar. Agora, veremos como ocorre a passagem de
informação do DNA para o RNA e proteínas, orientando o tamanho, forma e
funcionamento de todos os seres vivos.
O primeiro passo na passagem da informação do material genético para
a síntese das proteínas é a transcrição, processo que gera um RNA a partir de
um DNA. O processo é semelhante à replicação, mas apenas um pequeno

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segmento de uma fita de DNA é copiado, exatamente aquele correspondente ao
gene que está sendo transcrito. Outra diferença é que o produto da transcrição
é uma fita simples de RNA, que se libera do DNA após sintetizada, sendo que o
DNA volta a se enrolar ao final do processo.
Esse RNA produzido na transcrição (conforme Figura 6) é denominado
RNA mensageiro (mRNA) e sairá do núcleo da célula para o citoplasma, onde
encontra um ribossomo, carregando a sequência de bases nitrogenadas (códon
– conjunto de três bases nitrogenadas que contém a informação para um
aminoácido) que será traduzida. Dentro dessa organela, os RNA transportadores
(tRNA) começam a chegar, em resposta à leitura dos códons pelos ribossomos
e transportam os aminoácidos correspondentes ao códon do mRNA. Os tRNAs
traduzem fielmente a informação no mRNA em uma sequência específica de
aminoácidos. É o RNA ribossômico (rRNA) que realiza a leitura do mRNA,
permitindo as ligações dos códons, proporcionado então a síntese das proteínas.
Contudo, podemos concluir que a sequência específica de aminoácidos
de cada nova proteína é determinada pelo gene, o qual consiste em um
segmento de uma molécula de DNA que continha a informação necessária para
a síntese dessa proteína formada. Assim, as sequências de nucleotídeos de
DNA codificam as estruturas primárias de todos os RNAs e proteínas celulares,
afetando indiretamente a síntese de todos os outros constituintes celulares.

NA PRÁTICA

Nesta aula, vimos o quanto a ciência avançou no campo da engenharia


genética e o quanto ainda irá avançar. Observamos também algumas vantagens
que o mapeamento genético pode trazer para a vida das pessoas.
Uma situação famosa foi o caso da atriz e cineasta estadunidense
Angelina Jolie que, aos 38 anos, realizou mastectomia, retirando os seios.
Através do estudo do seu mapeamento genético, a atriz soube da sua forte
predisposição ao câncer de mama e que pertencia ao grupo de risco, optando
pela cirurgia, mesmo não tendo sido diagnosticado câncer de mama.
Tomando esse caso como exemplo, podemos pensar a importância desse
tipo de exame para salvar vidas. Mas podemos analisar sob outro ponto de vista
se considerarmos resultados referentes a mutações para doenças que ainda não
apresentam cura. Como será que as pessoas lidariam com essas informações?

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Avançando nessa discussão da possibilidade de conhecer os genes de
cada indivíduo, podemos trazer as seguintes situações: imaginemos empresas
e setores que venham a se apropriar dessa tecnologia e passem a aplicar, por
exemplo, testes para os genes da inteligência para admissão em escolas; testes
para habilidades específicas; ou testes para identificação de predisposição a
certas doenças para contratação de trabalhadoras e trabalhadores. Do ponto de
vista ético, o mapa genético deveria ser utilizado somente como instrumento de
inclusão e acolhimento, e não como forma de discriminação e exclusão.
Ainda podemos ir mais longe nessa discussão e falar da possibilidade de
descobrir quem tem predisposição a ter filhos/filhas com determinadas doenças.
No futuro, talvez seja possível evitar que as pessoas tenham doenças. Será que
a humanidade pararia por aí ou passaria a escolher outras características para
suas crianças, criando de certa forma uma eugenia, como mostra o filme
Gattaca: Experiência Genética, dirigido por Andrew Niccol em 1997?
Portanto, o avanço da ciência e a utilização das informações genéticas
devem estar continuamente aliadas à bioética. Além de todas as outras formas
de discriminação que a sociedade já vivencia, podemos acabar nos deparando
com discriminação genética, pois além do conhecimento sobre predisposição
genética para doenças, através do mapeamento genético de uma pessoa, pode-
se ter acesso às características normais do indivíduo e, num futuro próximo,
pode-se almejar manipular essas características normais como altura, cor dos
olhos, habilidades etc.
Considerando o que foi apresentado acima, você faria seu mapa
genético? E seus familiares, o que achariam disso? Faça uma pesquisa empírica
com as pessoas do seu convívio, perguntando o que elas pensam sobre o
assunto (a partir de sua prévia explicação sobre o tema) e questione-as a
respeito da necessidade de se estipular ou não um limite a partir do domínio de
tanto conhecimento sobre si mesmas.

FINALIZANDO

Chegamos à última classe das macromoléculas que constituem as


células. O grupo dos ácidos nucleicos é representado pelas moléculas de DNA
e RNA, as quais são formadas por sequências repetidas de nucleotídeos — suas
unidades estruturais.

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Os nucleotídeos são formados por um grupo fosfato, uma pentose e uma
base nitrogenada. As moléculas de DNA e de RNA se diferem pela pentose (DNA
– desoxirobose; RNA – ribose), pelo conjunto de bases nitrogenadas, estando a
timina presente somente no DNA; e a uracila presente somente no RNA. Outra
característica estrutural que as difere é que o DNA consiste em um par de
cadeias de ácidos nucleicos, chamadas de fitas duplas; e o RNA consiste em
uma única cadeia de ácidos nucleicos, chamada de fita simples.
As cadeias polinucleotídicas do DNA se ligam por pontes de hidrogênio
que se formam entre as bases nitrogenadas. São essas pontes que são
rompidas quando se dá início à duplicação do material genético, a qual ocorre a
partir no DNA, com exceção de alguns vírus. Tal processo é chamado de
replicação ou duplicação semiconservativa, pois uma fita da molécula é
conservada e uma nova fita de DNA será produzida para que juntas deem origem
a uma nova molécula de DNA. Portanto, a partir uma molécula de DNA, são
originadas outras duas moléculas.
É o DNA que contém os genes e, portanto, é nele que estão todas
informações referentes ao indivíduo, que serão passadas para as próximas
gerações, e é ele que comanda e coordena toda a função celular.
Vimos que cada gene comanda a síntese de determinada proteína e é
nesse processo que a molécula de RNA inicia seu trabalho. Três tipos de RNA
são produzidos, os quais desempenham diferentes e imprescindíveis funções
para que ocorra o processo de transmissão da informação. Assim, o mRNA é
produzido na primeira etapa denominada de transcrição, e é ele que carrega a
mensagem contida no DNA. O rRNA realiza a leitura da mensagem trazida até
o ribossomo e traduz para que os tRNA cheguem com os códigos corretos, os
quais definirão quais proteínas devem ser produzidas. Dessa forma, se dão os
mecanismos bioquímicos para que ocorram o armazenamento e a transferência
da informação genética, ou seja, para que um organismo funcione.
Ainda estudamos sobre um grande marco na ciência, que foi o Projeto
Genoma Humano, o qual permitiu que o genoma humano fosse mapeado. Tal
estudo possibilitou um avanço na engenharia genética e ainda projeta, até hoje,
novos horizontes.

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REFERÊNCIAS

BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. S. Bioquímica. 7 ed. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

FERREIRA, V. Mapeamento genético traça evolução do bacilo causador da


hanseníase. Disponível em: <http://portal.fiocruz.br/noticia/mapeamento-
genetico-traca-ecolicao-do-bacilo-causador-da-hanseniase>. Acesso em: 13
nov. 2019.

OSSEGE, A.; GARRAFA, V. Bioética e mapeamento genético na seleção de


trabalhadores. Saúde debate, Rio de Janeiro, v. 39, n. 104, p. 226-238, 2015.

NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2014.

TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 10. ed. Porto


Alegre: Artmed, 2010.

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