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Crescimento e renovação celular

As células são unidades estruturais e funcionais dos organismos. O seu programa genético,
produz moléculas específicas que permitem o crescimento e a renovação celular.
O programa genético está presente no ácido desoxirribonucleico (DNA), molécula que
coordena toda a actividade celular.
O DNA é uma molécula filamentosa.
Seres eucariontes possuem núcleo onde está armazenada a informação genética, enquanto
nos seres procariontes a informação genética não se encontra organizada.
Nos procariontes, o DNA encontra-se no citoplasma como uma molécula circular. Essa
molécula constitui o nucleóide.
Nas células eucarióticas o núcleo possui 2 membranas, membrana celular interna e membrana
celular externa, que constituem o invólucro nuclear, com inúmeros poros nucleares que
permitem a comunicação entre o interior do núcleo e o citoplasma. No interior, o núcleo
contém o nucleoplasma, onde se encontram os cromossomas, massas de material facilmente
corável, constituídos por filamentos de DNA e proteínas. No núcleo pode ainda existir um ou
mais nucléolos, estruturas em cuja constituição entram ácidos nucleicos e proteínas.

DNA, um polímero de nucleótidos em dupla hélice

Cada nucleótido é constituído por 3 componentes: um grupo fosfato, uma pentose e uma base
azotada.

Os nucleótidos têm designações de acordo com a base azotada que entra na sua constituição,
os nucleótidos podem ligar-se sequencialmente e formar uma cadeia polinucleotídica. Cada
novo nucleótido liga-se pelo grupo fosfato ao carbono 3’ da pentose do último nucleótido da
cadeia, repetindo-se o processo na direcção 5’ 3’.

Grupo fosfato - confere à molécula características ácidas;


Açúcar - com cinco átomos de carbono (pentose) - a desoxirribose (C3H10O4) - no caso do DNA;
Base azotada - quatro bases azotadas: timina e citosina têm anel simples e adenina e guanina
têm anel duplo.

A sequência de nucleótidos numa cadeia de DNA é muito importante, pois é nessa sequência
que está codificada a informação genética que define as características de um indivíduo.

O DNA é uma longa molécula em forma de dupla hélice.

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As bordas laterais da hélice são formadas por grupos fosfato, alternando com moléculas de
açúcar, e os “degraus” centrais são pares de bases azotadas ligadas entre si por pontes de
hidrogénio.
 A adenina liga-se à timina (A Ξ T) por duas ligações hidrogénio;
 A guanina liga-se à citosina (G Ξ C) por três ligações hidrogénio.
A especificidade de ligações entre as bases, complementaridade de bases, permite que, a
partir da sequência de nucleótidos de uma cadeia, se conheça a sequência de outra cadeia. As
cadeias complementares da molécula de DNA são cadeias antiparalelas, ou seja, à
extremidade livre 3’ de uma cadeia corresponde a extremidade 5’ da outra.

Os genes são segmentos de DNA com uma sequência nucleotídica própria que contém uma
determinada informação. O número e a sequência de nucleótidos diferem de gene para gene.
É a sequência de nucleótidos que transporta a mensagem genética. A totalidade de DNA
contido numa célula constitui o genoma de um organismo.

Replicação do DNA

Por acção de enzimas específicas, as duas cadeias separam-se uma da outra em locais
específicos ao longo da molécula, havendo ruptura das ligações de hidrogénio. Cada uma das
cadeias originais serve de molde à formação de uma cadeia complementar, sendo utilizados
nucleótidos que existem no meio.
Estas cadeias são complementares das bases, formam-se duas novas cadeias de
desoxirribonucleótidos. Estas cadeias são complementares das cadeias originais, sendo cada
uma antiparalela em relação à que lhe serve de molde.
No processo de replicação semiconservativa, cada uma das cadeias formadas é uma réplica de
uma das cadeias originais. Assim, as novas moléculas de DNA são idênticas às moléculas
originais, sendo cada uma portadora de uma cadeia antiga e de uma cadeia recém-formada.

Composição e estrutura do RNA

O ácido ribonucleico (RNA) é um polímero de nucleótidos. Ao nível da constituição, cada


nucleótido do RNA contém um grupo fosfato, uma pentose (a ribose), e uma base azotada,
que pode ser adenina, guanina, citosina ou uracilo. Esta última base azotada é uma base em
anel simples que pode formar duas ligações hidrogénio com a adenina.
Neste tipo de RNA, chamado RNA de transferência, em determinadas regiões a cadeia dobra-
se devido à complementaridade de bases A = U e C Ξ G.

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Biossíntese de proteínas

A ordem dos nucleótidos de um gene determina a ordem dos aminoácidos numa proteína.
Embora a sequência de bases no DNA determine a sequência de aminoácidos na proteína, as
células não usam directamente a informação contida no DNA. É o ácido ribonucleico que
estabelece a transferência da informação.
A célula utiliza moléculas de RNA formadas no núcleo que migram para o citoplasma,
transportando a mensagem que estava contida num gene. Esse RNA funciona como
mensageiro, RNA mensageiro (mRNA), entre o DNA e os ribossomas, componentes celulares
que fazem a leitura da mensagem para a síntese de proteínas. Os ribossomas podem
encontrar-se livres no citoplasma ou estar associadas a membranas do retículo
endoplasmático.
Um ribossoma é constituído por 2 subunidades de tamanhos diferentes em cuja constituição
entram proteínas e um tipo de RNA chamado RNA ribossómico (rRNA). É nos ribossomas que
é lida a mensagem contida no RNA mensageiro (mRNA).

Código genético

A informação contida no DNA, sob a forma de uma sequência nucleotídica, é copiada para o
RNA mensageiro, sendo posteriormente descodificada e traduzida ao nível dos ribossomas
numa sequência de aminoácidos que constituem uma determinada proteína.
Três nucleótidos consecutivos do DNA constituem um tripleto, que representa a mais pequena
unidade de mensagem genética necessária à codificação de um aminoácido.
Cada gene de 3 nucleótidos do RNA mensageiro que codifica um determinado aminoácido ou o
início ou o fim da síntese de proteínas tem o nome de codão. A partir de cadeias de
polinucleótidos, os codões com os aminoácidos vão constituir uma cadeia polipeptídica.
Pode dizer-se que o código genético é um quadro de correspondência entre os 64 codões
possíveis e os 20 aminoácidos existentes nas proteínas. Alguns dos 64 tripletos codificam um
mesmo aminoácido e existem ainda codões de início e fim de síntese.
AUG - metionina (Met) = codão de iniciação
UAA
UAG = codões de terminação
UGA

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O código genético é redundante - significa que vários codões são sinónimos, isto é, podem
codificar o mesmo aminoácido.
O código genético não é ambíguo - a cada codão corresponde um e um só aminoácido.

Mecanismo da síntese de proteínas

Transcrição da mensagem genética - a informação contida em cada gene é copiada para RNA;
Tradução da mensagem genética - a informação contida nas moléculas de mRNA é traduzida
em sequências de aminoácidos.
Transcrição da informação genética - nos sistemas vivos, a primeira etapa de transferência da
informação genética corresponde à síntese de RNA mensageiro a partir de uma cadeia de DNA
que lhe serve de molde. Chama-se transcrição do DNA porque a informação do DNA é
transcrita para mRNA, por complementaridade de bases.

O complexo RNA polimerase fixa-se sobre uma certa sequência de DNA, desliza ao longo dela,
ocorrendo a sua abertura, e inicia-se a transcrição da informação. A síntese de RNA a partir de
nucleótidos livres faz-se na direcção 5’ 3’.
Nos eucariontes cada gene no DNA contém sequências de nucleótidos que não codificam
informação, chamados intrões, intercalados com sequências que codificam, designados exões.
A transcrição de um segmento de DNA forma um RNA pré-mensageiro. No processamento
deste RNA, por acção de enzimas, são retirados os intrões, havendo, posteriormente, a união
dos exões. Estas transformações conduzem à formação de RNA mensageiro (mRNA) maturo,
que, posteriormente, migra do núcleo para o citoplasma, fixando-se nos ribossomas.
Tradução da informação genética - neste processo, a informação genética contida no mRNA é
traduzida numa sequência de aminoácidos (polipéptido), havendo a intervenção de vários
componentes.

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É nos ribossomas que se efectua a tradução da mensagem contida no RNA mensageiro que
especifica a sequência de aminoácidos na proteína. O RNA de transferência (tRNA) funciona
como “intérprete” dessa mensagem. Cada tRNA tem uma zona especial numa sequência de
três nucleótidos, o anticodão, que é complementar de um dos codões do mRNA.
Na extremidade 3’ da molécula de tRNA liga-se o respectivo aminoácido. Estas ligações
implicam transferências de energia e são catalisadas por enzimas.
Iniciação - a subunidade pequena do ribossoma liga-se ao mRNA na região de AUG, o codão de
iniciação. O tRNA que transporta o aminoácido metionina (met), liga-se ao codão de iniciação.
A subunidade grande ribossomal liga-se à pequena unidade. O ribossoma está então funcional.
Alongamento - o anticodão de um novo tRNA, que transporta um segundo aminoácido, liga-se
ao segundo codão por complementaridade. Seguidamente, estabelece-se uma primeira ligação
péptidica entre o aminoácido que ele transporta e a metionina. O ribossoma avança três bases
e o processo repete-se ao longo do mRNA. Continua a tradução dos sucessivos codões e da
ligação dos aminoácidos para a construção da proteína.
Finalização - quando o ribossoma chega a um codão de finalização e por complementaridade o
reconhece, termina a síntese. Os codões de finalização constituem verdadeiras pontuações da
mensagem. A cadeia polipeptídica destaca-se. Os componentes do complexo de tradução
separam-se. As subunidades ribossomais podem ser utilizadas para formar um novo complexo
de iniciação com uma molécula de mRNA.

Alteração do material genético

Em todos os organismos, a informação genética está codificada na sequência de nucleótidos


dos genes. Mas o material genético não permanece imutável, pode, em situações diversas, ser
modificado.
As alterações na sequência nucleotídica do DNA têm o nome de mutações genéticas e os
indivíduos que as manifestam dizem-se mutantes.
Erros na replicação do DNA ou vários outros mecanismos conduzem à mudança de bases na
sequência de nucleótidos. Contudo, globalmente, as taxas de mutações observadas são mais
baixas do que a frequência dos danos no DNA, porque todos os organismos têm sistemas de
enzimas que reparam alguns erros.
Quando a molécula de DNA, contendo um erro, se replica, forma-se uma molécula que é igual
à original e outra molécula com uma nova combinação de bases.
Uma alteração na sequência de bases na molécula de DNA pode conduzir a mudanças na
proteína sintetizada. Se essa proteína assegura uma função-chave no organismo, a realização
desta pode ser muito afectada. O efeito de uma mutação a nível celular pode ser pequeno,
mas também pode ser significativo e pode conduzir à morte da célula ou do organismo. Por
vezes ocorrem mutações que não provocam alterações nas proteínas, pois, devido à

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redundância do código genético, o codão mutado pode codificar o mesmo aminoácido
(mutações silenciosas).
É por causa das mutações que existe uma tão grande diversidade de genes no mundo vivo, a
qual permite a evolução das espécies.

Mutação somática: afectam as células do organismo, transmitindo a mutação apenas à


células-filhas descendentes;
Mutação germinativa: afectam a formação de gâmetas, sendo transmitidas à descendência
caso o gâmeta afectado participe na fecundação.

Entre os agentes mutagénicos:

Físicos Substâncias químicas


Raios x Calor Corantes alimentares
Raios gama Componentes do fumo do
Radiações ultravioletas cigarro

Estes agentes podem alterar o material genético de uma célula, conduzindo ao


desenvolvimento de diversas formas de mutação.

Ciclo celular

De acordo com a teoria celular, as células, para além de serem as unidades básicas da vida,
asseguram a continuidade dessa mesma vida, na medida em que se dividem e originam novas
células.
Quando as células se dividem, cada célula origina, em regra, duas células-filhas que são
geneticamente iguais à célula-mãe. As células-filhas, por sua vez, podem tornar-se células-
mães de uma outra geração celular. Esta extraordinária capacidade de as células se dividirem é
a base do crescimento dos seres vivos, da reconstituição de células e de tecidos e da
reprodução.
Nos organismos unicelulares, como as bactérias ou as leveduras, cada divisão celular
corresponde à reprodução, pois a partir de uma célula formam-se duas ou mais células
independentes. Nos seres pluricelulares, são necessárias muitas divisões celulares para que se
constitua um indivíduo a partir da célula-ovo.

Estrutura dos cromossomas das células eucarióticas

Nos seres eucariontes, as moléculas de DNA estão no núcleo das células, associadas a
proteínas, constituindo estruturas filamentosas complexas, os cromossomas. Os cromossomas
podem apresentar-se ao longo da vida das células de forma distendida ou de forma
condensada.
Em alguns períodos da vida celular, cada cromossoma é formado por uma única molécula de
DNA associada a proteínas, sendo, assim, constituído por um cromatídio. Noutros períodos,
contudo, o DNA duplica e o cromossoma fica constituído por dois cromatídios, isto é, duas
moléculas de DNA associadas a proteínas. Os dois cromatídios apresentam-se ligados por uma
estrutura sólida e resistente chamada centrómero.

Fases do ciclo celular

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O conjunto transformações que decorrem desde a formação de uma célula até ao momento
em que ela própria, por divisão, origina duas células-filhas constituí um processo dinâmico e
contínuo a que se chama ciclo celular.
Consideram-se duas fases:
 Interfase,
 Fase mitótica (fase M) ou período da divisão celular.

A interfase corresponde ao período compreendido entre o fim de uma divisão celular e o início
da seguinte. A fase mitótica diz respeito ao período durante o qual ocorre a divisão celular.
As células possuem numerosos filamentos cilíndricos, microtúbulos, constituídos por uma
proteína. Estes são coordenados por um centro organizador de microtúbulos.
Os centríolos são estruturas cilíndricas constituídas por microtúbulos altamente organizados,
possuindo cada centríolo nove conjuntos de três microtúbulos.

Interfase
Na interfase os cromossomas encontram-se distendidos.
Fase G1 - corresponde ao período que decorre entre o fim da mitose e o início da síntese de
DNA. Caracteriza-se por uma intensa actividade biossintética nomeadamente de proteínas
estruturais, enzimas e RNA, havendo ainda formação de organelos celulares e,
consequentemente, um notório crescimento da célula.
Fase S - ocorre a auto-replicação de cada uma das moléculas de DNA. A esta novas moléculas
associam-se as respectivas proteínas e, a partir desse momento, cada cromossoma passa a ser
constituído por dois cromatídios ligados pelo centrómero. Nas células animais, fora do núcleo,
dá-se ainda a duplicação dos centríolos, originando-se dois pares.
Fase G2 - decorre entre o final da síntese de DNA e o início da mitose. Neste período dá-se,
sobretudo, a síntese de biomoléculas necessárias à divisão celular, como, por exemplo,
proteínas que vão ser utilizadas na fase mitótica.

Fase mitótica
Na fase mitótica podem considerar-se duas etapas:

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 Mitose ou cariocinese - divisão do núcleo;
 Citocinese - divisão física do citoplasma.

Mitose - diz respeito ao conjunto de transformações durante as quais o núcleo das células
eucarióticas se divide. Embora a mitose seja um processo contínuo, nela distinguem-se,
convencionalmente, quatro estados: prófase, metáfase, anáfase e telófase.
Prófase
 Os filamentos de cromatina condensam-se, tornando-se cada vez mais grossos
e mais curtos;
 Cada cromossoma é constituído por dois cromatídios unidos pelo centrómero;
 Os dois pares de centríolos começam a afastar-se em sentidos opostos;
 Formando-se entre eles, o fuso acromático ou mitótico, constituído por um
sistema de microtúbulos proteicos;
 Quando os centríolos atingem os pólos, a membrana desorganiza-se e os
nucléolos desaparecem.

Metáfase
 Os cromossomas atingem o seu máximo encurtamento;
 Os pares de centríolos estão nos pólos da célula;
 O fuso acromático completa o seu desenvolvimento, notando-se que alguns
microtúbulos se ligam a cromossomas;
 Os cromossomas dispõem-se com os centrómeros no plano equatorial (plano
equidistante entre os dois pólos).

Anáfase
 Dá-se a clivagem de cada um dos centrómeros, separando-se os cromatidios,
que passam a constituir dois cromossomas independentes;
 Os microtúbulos ligados aos cromossomas encurtam-se e estes começam a
afastar-se, migrando para pólos opostos: ascensão polar dos cromossomas- -
filhos.
Telófase
 A membrana nuclear reorganiza-se à volta dos cromossomas de cada célula-
filha;
 Os nucléolos reaparecem;
 Os cromossomas descondensam-se e alargam-se, tornando-se menos visíveis;
 A célula fica constituída por dois núcleos, terminando assim a mitose.

Citocinese - diz respeito à divisão do citoplasma e, portanto, à consequente individualização


das duas células-filhas.
No fim da anáfase e da telófase, forma-se na zona do plano equatorial um anel contráctil de
filamentos proteicos. Estes contraem-se e puxam a membrana para dentro, causando um sulco
de clivagem que vai estrangulando o citoplasma, até se separarem as duas células-filhas.

Aspectos comparativos da fase mitótica em células animais e em células


vegetais

Apesar dos aspectos comuns, existem algumas diferenças entre a fase mitótica das células
animais e a fase mitótica das células vegetais.
No que diz respeito à citocinese, o processo é substancialmente diferente.

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Nas células vegetais a parede celular rígida não permite a divisão por estrangulamento. Neste
caso, vesículas derivadas do complexo de Golgi alinham-se na região equatorial e fundem-se
para formar uma estrutura plana.

Regulação do ciclo celular

Os mecanismos de regulação do ciclo celular actuam fundamentalmente em três pontos: no


final de G1, durante a mitose e no final de G2.

Apoptose ou morte celular programada - a apoptose é uma sequência de acontecimentos que


conduzem à fragmentação da célula. Os fragmentos resultantes são posteriormente
fagocitados.
Estes mecanismos de regulação do ciclo celular são de primordial importância, uma vez que,
quando estes mecanismos falham, pode ocorrer, por exemplo, um cancro ou neoplastia
maligna.
Numa neoplastia, as células dividem-se descontroladamente e podem adquirir características
de malignidade. As células dos tumores malignos podem, então, invadir os tecidos vizinhos ou
espalhar-se por outras partes do corpo - metastização.

Estabilidade do programa genético

Na divisão celular, o programa genético de uma célula é transmitido, em regra, com fidelidade
às células-filhas, garantindo-se, assim, a estabilidade genética através de sucessivas gerações.

Crescimento e regeneração de tecidos

A divisão celular, para além de permitir o crescimento dos seres pluricelulares, é ainda
fundamental na manutenção da integridade dos indivíduos adultos.
A reposição de todas as células só é possível graças à capacidade das células se dividirem.
Também a regeneração de tecidos depende das divisões celulares. Mesmo nos animais de
organização mais complexa, embora em menor escala, a regeneração não deixa de se verificar.
Devido à grande complexidade do sistema humano, a capacidade regenerativa, não é tão
grande como em seres menos complexos.

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Diferenciação celular

As células de um organismo, que provieram da célula-ovo por divisões mitóticas sucessivas,


contêm, no seu núcleo, exactamente a mesma informação genética. Verifica-se que as células
constituem tecidos e órgãos muito diversos, onde assumem formas e funções completamente
diferentes.
Ao longo do desenvolvimento de um indivíduo ocorre, em regra, um conjunto de processos
através das quais células geneticamente iguais se especializam no sentido de desempenharem
uma ou várias funções. Esta especialização bioquímica e morfológica, chamada diferenciação
celular, acarreta alterações não só ao nível da função, mas também da composição e da
estrutura das células.
Em 1950, J. Steward, trabalhando com cenouras, obteve plantas completas a partir de células
diferenciadas da raiz. Estavam dados os primeiros passos da clonagem, que inclui um conjunto
de procedimentos e técnicas através dos quais se podem obter os clones. Os clones podem ser
definidos ao nível dos genes, das células, ou mesmo dos indivíduos. Trata-se, respectivamente,
de um conjunto de genes, de células ou de indivíduos multicelulares, geneticamente idênticos
entre si e que são todos descendentes de um início ancestral (gene, célula ou indivíduo).
Em determinadas circunstâncias, as células diferenciadas podem perder a sua especialização,
transformando-se em células indiferenciadas. Estas células readquirem a capacidade de
originar um indivíduo completo e dizem-se totipotentes, uma vez que conservam todas as
potencialidades genéticas do núcleo inicial. Pode, assim, concluir-se que as células
diferenciadas conservam todo o seu DNA embora apenas uma parte (pequena) desse DNA
esteja activa.
Nestas manipulações, obtêm-se tecidos que podem ser usados no tratamento de doenças. Há
basicamente duas formas de preceder nesta linha terapêutica. Uma consiste em utilizar células
totipotentes dos embriões, chamadas células estaminais embrionárias ou células-tronco
embrionárias. Estas são separadas e cada uma é submetida a um tratamento que permite o
desenvolvimento dos tecidos pretendidos.
Um outro processo consiste em utilizar células estaminais presentes em alguns órgãos dos
indivíduos adultos, como a pele e a medula óssea, ou o cordão umbilical dos recém-nascidos, e
provocar a sua diferenciação nos tecidos que se pretendem.
Embora todas as células de um mesmo indivíduo possuam o mesmo património hereditário, os
genes que estão em actividade nos diferentes tecidos podem ou não ser os mesmos. Deste
facto resultam as diferenças verificadas de tecido para tecido.

Totipotente > Pluripotente > Multipotente > Diferenciada

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O controlo da expressividade dos genes pode fazer-se a vários níveis, quer ao nível da
transcrição, quer ao nível da tradução, e é influenciado por elementos provenientes do
ambiente.
Os elementos provenientes do ambiente activam a expressividade de determinados genes em
detrimento de outros, alterando, assim, o tipo de célula e a sua função.

Reprodução nos seres vivos

Nas múltiplas espécies que povoam a Terra, a duração de vida dos indivíduos é muito diversa,
mas sempre limitada. A continuidade da vida é assegurada pela reprodução, conjunto de
processos pelos quais os seres vivos originam novos indivíduos idênticos a si próprios.
Os processos de reprodução são muito variados, podendo agrupar-se em dois tipos
fundamentais: reprodução assexuada e reprodução sexuada.
Na reprodução assexuada, formam-se novos indivíduos a partir de um só progenitor, sem
ocorrer fusão de gâmetas, ou seja, sem fecundação.
Na reprodução sexuada, os novos indivíduos são originados a partir de um ovo, célula que
resulta da fusão de dois gâmetas.
Apesar da reprodução assumir aspectos muito diversos, ela é sempre baseada na divisão
celular e, logicamente, na capacidade de replicação do DNA, garantindo a passagem de
informação genética ao longo das sucessivas gerações.

Reprodução assexuada

Estratégias de reprodução assexuada

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Na divisão múltipla, também denominada pluripartição ou esquizogornia, o núcleo da célula-
mãe divide-se em vários núcleos. Cada núcleo rodeia-se de uma porção de citoplasma e de
uma membrana, dando origem às células-filhas, que são libertadas quando a membrana da
célula-mãe se rompe. Ocorre em protozoários, como o tripanossoma ou a amiba e, em outros
fungos.

Em todos os processos de reprodução assexuada, um único progenitor dá origem a


descendentes. Neste tipo de reprodução verificam-se multiplicações celulares em que o núcleo
se divide por mitose e, por isso, os indivíduos das sucessivas gerações são, em geral, idênticos
geneticamente entre si e também idênticos ao respectivo progenitor, do qual recebem todos
os genes.
A produção de indivíduos geneticamente iguais chama-se clonagem. Esta designação pode ser
atribuída a qualquer processo de reprodução assexuada e os indivíduos assim originados
constituem clones.

Clonagem nas plantas

Usando a técnica de micropropagação em cultura in vitro, podem ser produzidas rapidamente


milhares de plantas a partir de uma planta original.
Actualmente, este tipo de clonagem é largamente utilizado em floricultura, fruticultura e
silvicultura. A cultura in vitro tem permitido também a recuperação de espécies ameaçadas de
extinção.

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Clonagem em animais

A observação de indivíduos da mesma espécie com a mesma informação genética é pouco


comum nos animais complexos. Surgem da separação das duas células provenientes da
primeira divisão mitótica do ovo, originando embriões geneticamente idênticos. Os novos
indivíduos deles resultantes são clones. Ocorreu uma clonagem embrionária.
A clonagem em laboratório surgiu com base nestes conhecimentos, obtendo-se in vitro
embriões geneticamente idênticos por separação das células de um embrião obtido por
fecundação. Os embriões obtidos completam o seu desenvolvimento no útero.
Em 1997, surgiu o primeiro mamífero clonado, tendo a ovelha Dolly ficado célebre na história
da ciência. Dolly é um clone de uma ovelha de onde foi retirado o núcleo de uma célula
diferenciada e introduzido num oócito já sem núcleo.
A possibilidade de clonar um animal, utilizando a transferência de um núcleo de uma célula
diferenciada, evidencia que o núcleo de uma célula especializada pode perder a sua
especificidade, comportando-se como o núcleo de um ovo a partir do qual ocorre o
desenvolvimento de um ser multicelular, com uma grande diversidade de tipo de células.

Fecundação e meiose

A reprodução sexuada implica que ocorra a fusão de dois gâmetas, ou seja, é necessário que se
verifique fecundação. A célula resultante, o ovo ou zigoto, tem, desse modo, um conjunto de
cromossomas que provêm de cada um dos gâmetas, havendo, portanto, cromossomas de
origem materna e de origem paterna. Cada par de cromossomas, um de origem materna e
outro de origem paterna, são chamados cromossomas homólogos. Estes cromossomas têm
forma e estrutura semelhantes e são portadores de genes para os mesmos caracteres. Todas
as células, como o ovo, cujos núcleos possuem cromossomas homólogos, designam-se por
células diplóides e a sua constituição cromossómica representa-se, simbolicamente, por 2n.
A fecundação tem como consequência uma duplicação cromossómica. No entanto, verifica-se
que a quantidade de material genético em cada espécie se mantém constante de geração em
geração.
A constância do número de cromossomas ao longo das gerações implica que, em determinado
momento, ocorra um processo de divisão nuclear, em que o número de cromossomas seja
reduzido para metade. As células resultantes desse tipo de divisão contêm apenas um
cromossoma de cada par de cromossomas homólogos, sendo designadas por células
haplóides, e a sua constituição cromossómica pode representar-se por n.

Meiose - redução cromossómica

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A meiose é o processo de divisão nuclear através do qual, a partir de uma célula com núcleo
diplóide, se podem formar células com núcleo haplóide. Estes núcleos possuem metade do
número de cromossomas do núcleo inicial, possuindo um só cromossoma de cada par de
homólogos.
Na meiose ocorrem duas divisões sequenciais, a divisão I e a divisão II, dando origem a quatro
núcleos haplóides.
A divisão I é precedida pela interfase. Durante a interfase, no período S efectua-se a replicação
do DNA constituinte dos cromossomas e, por isso, no início da meiose, cada cromossoma é
formado por dois cromatídios.
As duas divisões que constituem a meiose podem ocorrer sequencialmente ou existir entre
elas uma interfase mais ou menos longa (sem a subfase S).
A divisão I é reducional, porque o número de cromossomas fica reduzido a metade; a divisão II
é equacional, como a mitose.

Divisão I - reducional: ocorre redução do número de cromossomas para metade devido


à separação dos cromossomas homólogos.
Meiose
Divisão II - é equacional: ocorre a separação dos cromatídios irmãos.

A variabilidade genética na reprodução sexuada resulta de:


 Crossing-over que ocorre na prófase I;
 Separação ao acaso dos cromatídios homólogos na anáfase I;
 Cruzamento ao acaso de 2 gâmetas durante a fecundação.

Alterações ao nível dos cromossomas

Durante os fenómenos complexos da meiose podem ocorrer, ocasionalmente, erros que


conduzem a alterações na estrutura ou no número de cromossomas das células resultantes.
Essas alterações são designadas por mutações cromossómicas, podendo ser numéricas ou
estruturais.
Mutações numéricas: anomalias em que há alterações do número de cromossomas.
Mutações estruturais: envolvem alterações no número ou no arranjo dos genes, mas mantêm-
se o número de cromossomas.

Mitose e meiose - aspectos comparativos

Nos processos de reprodução, a divisão celular é fundamental. A mitose permite a formação


de células geneticamente idênticas à célula parental, a meiose ocorre na reprodução sexuada,
permitindo a formação de células haplóides.

Reprodução sexuada e variabilidade genética

Na reprodução sexuada, a meiose e a fecundação asseguram a manutenção do número de


cromossomas de uma espécie de geração em geração. Esses dois processos contribuem, além
disso, para a variabilidade genética entre os indivíduos da mesma espécie, pois cada ovo e,
portanto, cada indivíduo adulto que surge após o respectivo desenvolvimento embrionário
apresenta uma mistura de genes paternos e maternos. Desse modo, os descendentes são
semelhantes, mas não iguais.
n
O número possível de combinações é 2 , sendo n o número de pares de cromossomas
homólogos. Porém o número de combinações genéticas é ainda mais elevado devido ao

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fenómeno de crossing-over que ocorre na prófase I. a troca de segmentos entre cromatídios
não irmãos de cromossomas homólogos permite também novas combinações de genes no
mesmo cromossoma.
Assim, a meiose, para além de assegurar a estabilidade do número de cromossomas próprio de
cada espécie de geração em geração, permite novas recombinações genéticas, contribuindo
para uma acentuada variabilidade de características da descendência.

Diversidade de estratégias na reprodução sexuada

Reprodução sexuada nos animais

Nos animais, as estruturas onde se produzem gâmetas designam-se por gónadas. Há animais
em que os testículos e os ovários se encontram no mesmo indivíduo, sendo designados por
animais hermafroditas. Em muitos casos, porém, os sexos estão separados e os animais dizem-
se unissexuados.
No caso dos organismos que vivem isolados, como acontece com a ténia, verifica-se auto-
fecundação, isto é, a fecundação efectua-se entre gâmetas produzidos pelo mesmo indivíduo,
tratando-se de um caso de hermafroditismo suficiente. No entanto, na maioria dos seres
hermafroditas, a fecundação ocorre entre espermatozóides e óvulos produzidos em indivíduos
diferentes, como acontece com a minhoca e o caracol, entre outros. São casos de
hermafroditismo insuficiente.
Nos animais em que ocorre unissexualismo, a união de espermatozóides com óvulos efectua-
se de diversos modos. Existem dois tipos fundamentais de fecundação: fecundação interna e
fecundação externa.
Fecundação externa: efectua-se em meio líquido e sucede na maioria das espécies aquáticas,
como peixes, ou em seres vivos que procuram a água para a reprodução, como a rã. Machos e
fêmeas lançam os gâmetas para o meio aquático, onde os óvulos são fecundados pelos
espermatozóides.
Fecundação interna: efectua-se no interior do organismo da fêmea. O macho deposita os
espermatozóides no interior do sistema reprodutor feminino, onde ocorre a fecundação. Este
tipo de fecundação é fundamental nos seres terrestres, uma vez que os gâmetas não suportam
a dessecação que se verifica em meio terrestre.
Na maioria das espécies, é o macho que pelo seu comportamento, procura atrair a fêmea,
realizando um complexo ritual, que constitui a parada nupcial.

Reprodução sexuada nas plantas

Nas plantas, as estruturas onde são formados os gâmetas designam-se por gametângios,
havendo gametângios masculinos e gametângios femininos.

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As flores podem ser hermafroditas ou unissexuadas. As flores hermafroditas possuem estames
e carpelos e as flores unissexuadas possuem só estames ou só carpelos. Nas anteras existem
sacos polínicos, estruturas pluricelulares, estruturas pluricelulares onde se formam os grãos de
pólen. Nos carpelos, ao nível dos ovários, existem entidades pluricelulares, os óvulos.
Para que ocorra a reprodução é necessário que se verifique a polinização, isto é, que haja
transporte de grãos de pólen para os órgãos femininos da mesma flor, polinização directa, ou
para os carpelos de flores pertencentes a outras plantas da mesma espécie, polinização
cruzada. A polinização cruzada permite uma maior variabilidade genética dos indivíduos das
novas gerações.
Diversos agentes, como aves, insectos ou o vento, proporcionam a polinização.
Os grãos de pólen que caem sobre os estigmas, se as condições forem favoráveis, germinam,
formando tubos polínicos. O tubo polínico, graças às substâncias nutritivas do estigma, cresce,
ao longo do estilete, penetrando no ovário. Aí, o tubo polínico penetra no óvulo e os gâmetas
masculinos formados no tubo polínico e os gâmetas femininos contidos nos óvulos entram em
contacto e conjugam-se. Após a fecundação forma-se o ovo, que se desenvolve dando origem
a um embrião.
Os óvulos, após a fecundação, originam as sementes.
A disseminação dos frutos e das sementes é essencial na propagação das plantas com flor.

Ciclos de vida - unidade e diversidade

A sequência de etapas de desenvolvimento que ocorrem na vida de um organismo, desde que


se forma até que produz a sua própria descendência, constitui o seu ciclo de vida.

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Uma das fases do ciclo de vida corresponde ao desenvolvimento desde o ovo até a formação
de um ser adulto. A outra fase corresponde à reprodução, ou seja, a formação de novos
indivíduos.

Ciclo de vida de uma alga - a espirogira: haplonte

A espirogira é formada por células cilíndricas, colocadas topo a topo. A cor verde deve-se á
presença de um ou mais cloroplastos em forma de fita enrolada em hélice.
Na espirogira, quando ocorre reprodução sexuada, são os conteúdos das células que
constituem os filamentos que vão funcionar como gâmetas.
Quando dois filamentos de espirogira se encontram próximos, formam-se nas células desses
filamentos, saliências que crescem e entram em contacto. Entre cada duas dessas células
forma-se um canal, chamado tubo de conjugação.
O conteúdo de cada célula de um dos filamentos condensa-se e desloca-se até à célula do
outro filamento. O conteúdo celular que se movimenta constitui um gâmeta, o gâmeta dador,
e o conteúdo celular que permanece imóvel é o gâmeta receptor. Cada gâmeta dador funde-
se com o gâmeta receptor, ocorrendo fusão dos núcleos e dos citoplasmas. Formam-se, assim,
num dos filamentos, diversos ovos ou zigotos. O núcleo de cada ovo divide-se por meiose,
formando 4 núcleos haplóides. Três desses núcleos degeneram, ficando a célula com um único
núcleo haplóide. Por divisões mitóticas sucessivas, a partir dessa célula forma-se um novo
filamento de espirogira.
No ciclo de vida da espirogira ocorre fecundação e meiose, verificando-se alternância de fases
nucleares: uma fase haplóide, constituída por células de núcleo haplóide (n), e uma fase
diplóide constituída apenas pelo ovo ou zigoto de núcleo diplóide (2n). A espirogira é um
organismo haplonte, pois, como a meiose se efectua na divisão do núcleo ou do ovo (meiose
pós-zigótica), todo o ciclo de vida decorre na fase haplóide, com excepção do ovo ou zigoto
que pertence à fase diplóide. Durante o período em que a reprodução da espirogira é
assexuada, o organismo adulto fragmenta-se e as células de cada fragmento dividem-se por
processo mitótico, levando ao crescimento de novos filamentos. Neste processo mantêm-se a
informação genética, não havendo alternância de fases nucleares.

Ciclo de vida de um feto - o polipódio: haplodiplonte

O polipódio é um feto, reproduz-se assexuadamente através dos rizomas, mas também por
reprodução sexuada. Na época da reprodução surgem, na página inferior do limbo das folhas,
formações amareladas. Estas formações são grupos de estruturas pluricelulares, os
esporângios, que, quando jovens, contêm células-mães de esporos.
No decurso da reprodução sexuada, as células-mães dos esporos contidas nos esporângios
dividem-se por meiose (meiose pré-espórica), originando esporos que são libertados quando
maduros. Os esporos que caem em solo favorável germinam e cada um origina uma estrutura
laminar (verde), com cerca de um centímetro, o protalo.
Na face inferior do protalo, onde existem rizóides que o prendem ao solo formam-se
gametângios masculinos e gametângios femininos. Os gâmetas masculinos, anterozóides,
movimentam-se na água que envolve o protalo, penetram os gametângios femininos, onde se
encontra o gâmeta feminino ocorrendo então a fecundação.
No ciclo de vida do polipódio, quando ocorre reprodução sexuada verifica-se alternância de
fases nucleares, uma vez que ocorre fecundação e meiose.
A fase nuclear mais desenvolvida é a fase diplóide, estando nela incluído o organismo adulto. A
fase haplóide que começa com o esporo, é bem diferenciada, incluindo o protalo com vida
independentemente da planta adulta. O polipódio é um ser haplodiplonte, a fase haplóide e a
fase diplóide são bem diferenciadas, incluindo entidades multicelulares.

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Quando ocorre reprodução assexuada, não se verifica alternância de fases nucleares, uma vez
que uma nova planta á formada por multiplicação vegetativa, não ocorrendo, portanto,
fecundação e meiose.

Ciclo de vida de um mamífero: diplonte

Nos mamíferos a reprodução é exclusivamente sexuada. A produção de espermatozóides e de


óvulos ocorre nas gónadas por um processo em que intervém a meiose.
O ciclo de vida dos mamíferos apresenta alternância de fases nucleares, visto que, ocorre
fecundação e meiose. A fase mais diferenciada é a fase diplóide, que inclui os indivíduos
adultos. A fase haplóide está reduzida aos gâmetas em cuja produção intervém a meiose
(meiose pré-gamética).
Os mamíferos são organismos diplontes, pois como a meiose ocorre quando se formam os
gâmetas, todo o ciclo de vida decorre na fase diplóide e só os gâmetas pertencem à fase
haplóide.

Gametófito: entidade multicelular haplóide onde se formam os gâmetas que resultam de


germinação de esporos.
Esporófito: entidade multicelular diplóide onde se formam estruturas que por meiose
originam esporos, e que resultou de mitoses sucessivas do ovo ou zigoto.

Evolução biológica e sistemática - dos seres vivos

Unicelularidade e multicelularidade

Dos seres procariontes aos seres eucariontes

As primeiras células encontradas no registo fóssil devem ter surgido num período que oscila
entre os 3800 e os 2500 milhões de anos e assemelham-se aos actuais procariontes,
representados pelas bactérias e pelas cianobactérias.

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As células procarióticas são estruturalmente simples, mas possuem uma grande diversidade
metabólica, embora não tenham quaisquer organelos. Podem ser autotróficos, encontrando-
se os pigmentos fotossintéticos nas membranas celulares.
Os dados fornecidos pelos fósseis e a simplicidade estrutural e funcional das células
procarióticas constituem os dois principais argumentos que sustentam a hipótese dos seres
procariontes terem estado na origem da grande diversidade na Terra.
As células eucarióticas apresentam uma constituição bem mais complexa do que as células
procarióticas, nomeadamente no que respeita ao material genético, que se encontra no
núcleo, e à grande abundância de estruturas membranares.
O modelo autogenético admite que ocorrem invaginações da membrana plasmática formando
um sistema endomembranar que por diferenciações sucessivas originou os diferentes
organelos.
O modelo endossimbiótico admite que a célula eucariótica resultou da incorporação de
organismos procariontes, que estabeleceram entre si relações de simbiose (associação entre
organismos diferentes, em u m deles - endossimbionte – vive no interior do outro,
beneficiando ambos da associação)
 Na década de 60, os estudos microscópicos permitiram a Lynn Margulis fundamentar a
ideia da endossimbiose.
 Uma célula procariótica grande terá capturado outras células procarióticas (células-
hóspedes) que permaneceram no interior da célula hospedeira, resistindo à digestão.
 As células capturadas estabeleceram com a célula hospedeira relações de simbiose.
 A cooperação foi tão eficaz entre os elementos, que se tornaram dependentes entre si
e passaram a constituir organismos estáveis e singulares.
 As células-hóspedes vieram, assim, a constituir alguns dos organelos da célula
eucariótica.

A hipótese endossimbiótica é, actualmente, muito aceite porque apresenta argumentos


válidos que a fundamentam.
 Mitocôndrias e cloroplastos assemelham-se a bactérias, quer na forma, quer no
tamanho, quer na composição membranar.
 Cloroplastos e mitocôndrias têm o seu próprio genoma e produzem as suas próprias
membranas internas. Dividem-se independentemente da célula e contêm moléculas
de DNA circulares tal como as dos procariontes actuais.
 Os ribossomas dos cloroplastos e mitocôndrias são muito mais semelhantes em
tamanho e em características bioquímicas aos dos procariontes do que aos dos
eucariontes.
 É possível encontrar, ainda hoje, associações simbióticas entre bactérias e alguns
eucariontes.

Alguns investigadores admitem que o núcleo das células eucarióticas poderia ter surgido por
invaginações da membrana plasmática que envolveram o DNA, conciliando assim os dois
modelos principais.
Certas proteínas das mitocôndrias e dos cloroplastos estão codificados no núcleo, o que
aumenta a dependência mútua.

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Origem da multicelularidade

Uma célula maior pode facilmente capturar outras células. Os organismos não podem,
contudo, aumentar indefinidamente de tamanho.
Quando uma célula aumenta de tamanho, verifica-se que a razão entre a superfície e o volume
diminui, isto é, o volume aumenta a um ritmo maior do que a área da superfície (membrana
plasmática).
Aumenta o volume

Aumenta o metabolismo

A superfície não aumenta na mesma proporção

Diminuição na eficácia das trocas com o meio

Há duas formas possíveis de um organismo maior do que um milímetro sobreviver: pode


reduzir o seu metabolismo, o que diminui as necessidades de trocas com o meio externo ou
pode apresentar multicelularidade.
Os seres eucariontes unicelulares constituem, por vezes, agregados. Quanto estas associações
de eucariontes unicelulares dizem respeito a seres da mesma espécie que estabelecem
ligações estruturais entre si, designam-se por agregados coloniais ou colónias. Alguns seres
não são considerados multicelulares porque nas suas células não ocorreu diferenciação, já que
são todas semelhantes.
Os seres coloniais podem ter estado na origem de algas verdes pluricelulares que mais tarde
evoluíram para plantas. É provável que, em algumas colónias, determinadas células se tenham
diferenciado e especializado no desempenho de funções específicas. A colónia começou então
a comportar-se como um indivíduo, surgindo a multicelularidade.
Na actualidade, a multicelularidade ocorre apenas nos seres eucariontes. A multicelularidade
caracteriza-se por uma associação de células em que há uma interdependência estrutural e
funcional entre eles. Um dos aspectos mais relevantes da multicelularidade decorre do facto
de a sua existência ter permitido a ocorrência de mecanismos de regulação que conduziram à
diferenciação celular, a qual gerou um grande impulso na evolução dos seres vivos.

Vantagens da multicelularidade

 Maiores dimensões, mantendo-se uma relação área/volume das células ideal para a
realização de trocas com o meio;
 Maior diversidade, proporcionando uma melhor adaptação a diferentes ambientes;
 Diminuição da taxa metabólica, resultado da especialização celular, que permitiu a
utilização da energia de forma mais eficaz;
 Maior independência em relação ao meio ambiente, devido a uma eficaz
homeostasia, resultante de uma interdependência dos vários sistemas de órgãos.

Evolucionismo e Fixismo

Durante séculos admitiu-se que as espécies surgiam tal como hoje conhecemos e se
mantiveram imutáveis ao longo do tempo. Esta visão ficou conhecida por fixismo.
Apesar da força das ideias fixistas, no século XIX vai transitar-se, num ambiente de grande
controvérsia, para uma visão evolucionista, isto é, vai admitir-se que as espécies se alteram de
forma lenta e progressiva ao longo do tempo, originando outras espécies.

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O aparecimento de fósseis de indivíduos muito diferentes dos da actualidade abalou de forma
clara as ideias fixistas, criando um ambiente intelectual propício ao aparecimento de ideias
evolucionistas. Os evolucionistas admitem a existência de mudanças progressivas nos seres
vivos a partir de ancestrais comuns, e são essas mudanças que, ao longo do tempo geológico,
vão dar origem às diferentes espécies.

Mecanismos de evolução

Lamarckismo

Lamarck não só defendia ideias evolucionistas como apresentou uma explicação coerente
acerca da origem das espécies. As ideias de Lamarck, para explicar a existência da evolução,
podem, resumir-se em dois princípios fundamentais:
 Lei do uso e do desuso;
 Lei da herança dos caracteres adquiridos.

A adaptação, segundo Lamarck, representa, pois, a faculdade que os seres vivos possuiriam de
desenvolver características estruturais ou funcionais que lhes permitissem sobreviver e
reproduzir-se num determinado ambiente. As modificações que levam à adaptação são
explicadas pela lei do uso e do desuso. De acordo com esta lei, a necessidade de um órgão em
determinado ambiente cria esse órgão e a função modifica-o, isto é, a função faz o órgão. Se
um órgão é muito utilizado, desenvolve-se, tornando-se mais forte, vigoroso ou de maior
tamanho; se, pelo contrário, esse órgão não se usa, degenera e atrofia.
Segundo a lei da herança dos caracteres adquiridos, as modificações que se reproduzem nos
indivíduos ao longo da sua vida, como consequência do uso e/ou do desuso dos órgãos, são
hereditárias, originando mudanças morfológicas no conjunto da população.

Charles Lyell estabeleceu princípios que muito influenciaram Darwin:


 As leis naturais são constantes no espaço e no tempo;
 Deve explicar-se o passado a partir dos dados do presente;
 Na longa história da Terra ocorreram mudanças geológicas lentas e graduais.

Depois de analisar todos os dados, Darwin concluiu que as ilhas Galápagos foram
provavelmente povoadas a partir do continente americano e as características particulares de
cada ilha condicionaram a evolução de cada espécie, daí a sua diferenciação.
Ao longo das gerações e recorrendo a cruzamentos selectivos previamente planeados, é
possível obter indivíduos com as características desejadas. As plantas e os animais assim
obtidos, ao fim de algumas gerações, são substancialmente diferentes dos seus ancestrais
selvagens.
É possível que ocorra na Natureza, de modo análogo, uma selecção consumada pelos factores
ambientais, designada por selecção natural.
Animais melhor adaptados são indivíduos mais aptos.

Darwinismo

Os seres vivos apresentam variações entre si

As populações crescem em progressão geométrica

Os indivíduos estabelecem uma “luta pela sobrevivência”

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A natureza selecciona os indivíduos mais bem adaptados às condições ambientais, ocorrendo a
sobrevivência dos mais aptos (SELECÇÃO NATURAL)

Os seres vivos mais aptos reproduzem-se transmitindo as suas características à descendência


(Reprodução Diferencial)

Transformação e aparecimento de novas espécies

Pode, pois, considerar-se que o tempo e a reprodução diferencial das formas favorecidas em
relação às menos aptas produzem mudanças nas espécies existentes, conduzindo à formação
de novas espécies.

 Segundo o Lamarckismo, o meio cria necessidades que determinam mudanças na


morfologia dos indivíduos que, pelo uso, se estabelecem, tornando-os mais bem
adaptados e sendo transmitidas aos descendentes;
 Segundo o Darwinismo, entre os indivíduos de uma espécie existem variações. O meio
exerce uma selecção natural que possuem as características mais apropriadas para um
determinado ambiente e num determinado tempo, tornando-os mais aptos e
eliminando gradualmente os restantes.

Argumentos do evolucionismo

Anatomia comparada: baseia-se no estudo das formas e estruturas dos organismos com o fim
de estabelecer possíveis relações de parentesco entre elas. A presença de órgãos homólogos,
análogos e vestigiais, são provas importantes que evidenciam relações filogenéticas ou de
parentesco entre diferentes espécies.
Estruturas homólogas: são estruturas com origem embriológica semelhante,
constituídas por ossos idênticos, com um plano de organização semelhante, embora
apresentam um aspecto diferente e desempenham, neste caso, funções também
diferentes;
Evolução divergente: a partir de um mesmo ancestral, devido a diferenças existentes
entre os indivíduos, ocorre uma divergência nos organismos que colonizam diferentes
habitats e que ficam sujeitos a pressões selectivas também diferentes;
Estruturas análogas: semelhanças entre organismos com origens muito diferentes.
Anatomicamente, apresentam uma função idêntica.
Estruturas vestigiais: estruturas atrofiadas, com função não evidente e desprovidas de
significado fisiológico em determinados grupos.

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Neodarwinismo - teoria sintética da evolução

Define-se fundo genético como o conjunto de todos os genes presentes numa população num
dado momento.
Evolução: é uma mudança no fundo genético das populações. Em cada fundo genético a
frequência dos genes pode variar, havendo genes mais frequentes do que outros.
Poplação: conjunto de indivíduos da mesma espécie que vive num determinado local e ao
mesmo tempo.

As mutações são a fonte primária de variabilidade

Recombinação génica

Através da reprodução sexuada (durante a meiose e a fecundação)

Permite uma multiplicidade de combinações dos genes

Teoria sintética da evolução, também chamada neodarwinismo engloba duas ideias


fundamentais: variabilidade genética e selecção natural.

São considerados factores capazes de alterar o fundo genético de uma população de forma a
promover fenómenos evolutivos (factores de evolução).
 Mutações;
 Migrações (movimentos de indivíduos, implicando fluxo de genes);
 Cruzamento não ao acaso (tende a privilegiar determinados fenótipos em relação a
outros);
 Deriva genética (variação do fundo genético de uma população como resultado do
acaso); selecção natural.

Sistemática dos seres vivos

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Do esforço de discernir ordem na incrível diversidade da vida nasceu a Sistemática, ciência que
faz o estudo científico dos seres vivos, das suas relações evolutivas e desenvolve sistemas de
classificação que reflectem essas relações. O nome sistemática que se ocupa da classificação
dos seres vivos e da nomenclatura designa-se por taxonomia. A sistemática inclui, pois, a
taxonomia e a biologia evolutiva.

Diversidade de critérios de classificação

No séc. XVIII, um botânico sueco, Carlos Lineu, deu um impulso significativo na classificação
dos seres vivos. Lineu apresentou o SISTEMA SEXUAL, uma classificação de plantas baseada na
existência, ou não, de flor.

Classificações biológicas

Os sistemas de classificação artificiais caracterizam o período pré-lineano das classificações.


Classificações em que a organização dos grupos se baseia no maior número possível de
caracteres caracterizam o período pós-lineano e pré-darwiniano, designam-se por
classificações naturais e transmitem maior quantidade de informação do que as classificações
artificiais.
Como os sistemas evolutivos consideram o factor tempo, têm o nome de sistemas de
classificação vertical e são característicos do período pós-darwiniano. As relações de

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parentesco entre as espécies podem apresentar-se por árvores de evolução ou árvores
filogenéticas.

 O grande florescimento da taxonomia ocorreu no séc. XVII, com Lineu;


 Os sistemas de classificação artificial caracterizam o período pré-lineano das
classificações. O período pós-lineano e pré-darwiniano é caracterizado por
classificações naturais;
 Tanto as classificações artificiais como as naturais são classificações horizontais;
 Com as ideias evolucionistas surgiram as classificações filogenéticas, que são
classificações verticais com características do período pós-darwiniano.

Hierarquia das categorias taxonómicas

No sistema de classificação que Lineu desenvolveu, os seres vivos são agrupados em dois
grandes reinos; plantas e animais, que se subdividem em categorias progressivamente de
menor amplitude. Este modo lineano de ordenação dos seres vivos numa série ascendente a
partir da espécie constitui um sistema hierárquico de classificação.
Na hierarquia de classificações biológicas, cada uma das categorias taxonómicas é também
designada por taxon.

Além das sete categorias principais de Reino


taxa usadas em classificação - espécie, (Animalia)
género, família, ordem, classe, filo, reino - Filo
os taxonomistas têm, por vezes, (Chordata)
necessidade de considerar categorias
Subfilo
intermédias. Para as distinguir usam
(Vertebrata)
prefixos como super, sub
e infra. A espécie é a unidade básica de Classe
classificação e representa um grupo (Mammalia)
natural constituído pelo conjunto de Ordem
indivíduos morfologicamente (Primata)
semelhantes, que, partilhando o mesmo Família
fundo genético, podem cruzar-se entre si, (Pongidae)
originando descendência fértil. Género
(Pan)
Espécie
(Pan troglodytes)

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Sistemas de classificação de Whittaker

São três os critérios em que se fundamenta a classificação em 5 reinos.


Níveis de organização celular - considera essencialmente o tipo de estrutura celular
procariótica ou eucariótica e se há unicelularidade ou multicelularidade.
Tipos de nutrição – tem como base o processo de obtenção de alimento.

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Interacções nos ecossistemas - os tipos de nutrição relacionam-se com as interacções
alimentares que os organismos estabelecem nos ecossistemas.

Os sistemas de classificação mais recentes agrupam os seres vivos em seis reinos e três
domínios

Em 1970, Carl Woese e os seus colaboradores, baseados em critérios moleculares


essencialmente sequências nucletotídicas de RNA ribossómico, propuseram que há
fundamentalmente dois grupos distintos nos procariontes: arquebactérias e eubactérias.
Classificação superior ao reino chama-se domínio.

Enquanto o sistema de classificação de


Whittaker inclui todos os procariontes
num só reino, a classificação em 3
domínios reconhece 2 domínios incluindo
organismos procariontes e apenas um
domínio para os eucariontes.

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