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DNA

Descomplicado:
da genética básica aos
conceitos atuais
Caro (a) estudante,
Essa obra tem o intuito de oferecer conceitos
atuais e detalhados sobre genética, permitindo
que essa ciência dinâmica e moderna se torne
mais prazerosa e compreensível.
Esse conteúdo de genética foi oferecido pelas
Biomédicas Mísia Helena e Ana Karolina para os
alunos do curso de Biomedicina e afins.

@biomedicina_descomplicada
biomedicinadescomplicada@gmail.com
1. INTRODUÇÃO
Com certeza você ouvir falar muito sobre o tema genética, que para muitos soa como um
ramo de conhecimento incompreensível, complicado e complexo, para outros a genética chama
atenção por ser uma ciência cheia de mistérios a se desvendar e a base de diversas áreas da biologia.
Mas será que a genética é uma ramificação da biologia realmente cheia de segredos? É isso que
vamos descobrir ao longo da nossa aula de genética. Vamos conhecer várias esferas da genética,
começando por sua definição e por uma viagem ao passado, para enfim descobrirmos da onde vem
essa ciência e os passos que levaram ao conhecimento adquirido até os dias atuais.

A Genética é um campo da biologia que estuda a hereditariedade, ou seja, a informação


das características que são passadas de geração para geração e as variações na informação contida
no DNA que também são transmitiras para a descendência.
Hereditariedade define a informação genética (transmissão de caracteres) recebida dos
nossos antepassados, onde inclui: características físicas, psicológicas, emocionais e além de outros,
a pré-disposição para desenvolver uma determinada doença.
Gene, é um pedaço de DNA que condiciona um caractere de uma espécie. Os genes são
estruturas hereditárias presentes nos cromossomos das células, sendo que cada cromossomo
corresponde a um filamento de DNA. Assim, consideramos um gene aquele pedaço de DNA que é
capaz de determinar a síntese de uma ou mais proteínas a partir do dogma central da biologia: DNA –
RNAm – PROTEÍNA.
Genes alelos são variações específicas de um gene que se encontra na mesma região
cromossômica nos dois cromossomos (materno e paterno). Os genes alelos são diferentes tipos do
mesmo gene que conduz a uma variação da característica.
Genótipo (do grego genos, originar, provir, e typos, característica) é o nome que se refere
à constituição genética do indivíduo, ou seja, aos genes que ele possui. Estamos nos referindo ao
genótipo quando dizemos, por exemplo, que uma planta de ervilha é homozigota dominante (VV) ou
heterozigota (Vv) em relação à cor da semente.
Fenótipo (do grego pheno, evidente, brilhante, e typos, característico) é o nome
empregado para designar as características apresentadas por um indivíduo, sejam elas morfológicas,
fisiológicas e comportamentais, resultado da interação do genótipo com o meio em que o indivíduo
se encontra. Um ou ambos os alelos do genótipo serão responsáveis por determinar a síntese de
proteínas que, em interação com o ambiente, determinarão o fenótipo (forma, cor, altura, etc.).
Nucleotídeos são as unidades que foram a estrutura do DNA ou RNA. Os nucleotídeos são
formados por três moléculas:
➢ Base nitrogenada: Bases purinas adenina (A) e guanina (G) e as bases pirimidinas
citosina (C), uracila (U) e timina (T).
➢ Grupo fosfato (HPO4): Grupo químico derivado do ácido fosfórico. A única porção que
não varia no nucleotídeo.
➢ Pentose: Um açúcar de 5 carbonos. No DNA temos a desoxirribose e no RNA temos a
ribose.

O DNA, também chamado de ácido desoxirribonucleico é um composto de origem


orgânica cuja função é armazenar a informação genética por meio de um ‘alfabeto genômico’ composto
por quatro letras (C, G, A e T), que organizadas paralelamente constitui uma sequência específica do
genoma. O DNA se encontra armazenado no interior da célula em dois lugares propriamente: no núcleo
da célula, envolvido por uma membrana cujo o nome é carioteca e no interior da mitocôndria, que
recebe um nome específico de DNA mitocondrial.
Os ácidos nucleicos são formados por unidades repetidas dos nucleotídeos. Assim, eles são
constituídos por nucleotídeos. Em nossas células existem dois tipos de ácidos nucleicos, o DNA e o
RNA.
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➢ O DNA ou ácido desoxirribonucleico é uma molécula longa formada por duas fitas
unidas constituídas por nucleotídeos. Ele é responsável por conter todas as
informações genéticas.

➢ O RNA ou ácido ribonucleico possui apenas um filamento de nucleotídeos. Ele é


responsável pela síntese de proteínas.

Algumas áreas da genética:

• Citogenética
• Genética molecular
• Genética de microrganismos
• Engenharia genética
• Genética de populações
• Genética quantitativa

2. GENÉTICA CLÁSSICA: O monge no jardim: Gregor Mendel


Johann Gregor Mendel (1822-1884), geralmente chamado de o "pai da genética", era um
professor, um aprendiz por toda a vida, cientista, e homem de fé. Seria justo dizer que Mendel tinha
muita determinação: ele perseverou em circunstâncias difíceis para fazer algumas das descobertas
mais importantes em biologia.

Quando jovem, Mendel teve


dificuldade para pagar por sua educação devido
às posses limitadas de sua família, além de ter
sofrido períodos de doenças físicas e depressão;
ainda assim, ele perseverou para se graduar no
ensino médio e, mais tarde, na universidade. Após
terminar a universidade, ele uniu-se ao Mosteiro
Agostiniano de São Tomás em Brno, atualmente
República Checa. Na época, o mosteiro era o
centro cultural e intelectual da região, e Mendel foi
imediatamente exposto a novos ensinamentos e
ideias.

Sua decisão de entrar para a ordem (contra os


desejos de seu pai, que esperava que ele
tomasse conta da fazenda da família) parece ter
sido motivada, em parte, pelo desejo de continuar
sua educação e perseguir seus interesses
científicos. Mantido pelo monastério, ele ensinou
física, botânica e ciências naturais em níveis
secundário e universitário.

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2.2 Pesquisa sobre hereditariedade

Em 1856, Mendel iniciou um projeto de pesquisa de uma década para investigar padrões
de herança. Apesar de ter começado sua pesquisa usando ratos, ele posteriormente mudou para
abelhas e plantas, decidindo-se por fim pelas ervilhas de jardim como seu sistema modelo
primário^22squared. Um sistema modelo é um organismo que torna mais fácil para o pesquisador
investigar uma questão científica particular, como a maneira pela qual as características são herdadas.
Estudando um sistema modelo, pesquisadores podem aprender princípios gerais que aplicam-se a
outros organismos ou sistemas biológicos mais difíceis de investigar, tais como seres humanos.

Mendel estudou a herança de sete características diferentes em ervilhas, incluindo altura,


cor da flor, cor da semente e formato da semente. Para fazer isso, ele primeiro estabeleceu linhagens
de ervilhas com duas diferentes formas de uma característica, tal como alta vs. baixa. Ele cultivou estas
linhagens por algumas gerações até que elas fossem puras (sempre produzindo descendentes
idênticos aos genitores), então cruzou-as entre si e observou como as características eram herdadas.

Além de registrar a aparência das plantas de cada geração, Mendel contava o número
exato de plantas que mostravam determinada característica. Notavelmente, ele encontrou padrões de
herança muito similares para todas as sete características que ele estudou:

• Uma forma de característica, como por ex., alta, sempre escondia a outra forma, como
por ex., baixa, na primeira geração após o cruzamento. Mendel chamou a forma visível de traço
dominante e a forma escondida de traço recessivo.
• Na segunda geração, depois que as plantas realizavam a autofecundação (polinizar a
si mesmas), a forma escondida do traço reaparecia em uma minoria de plantas. Mais especificamente,
sempre havia cerca de 333 plantas que apresentavam o traço dominante (por ex., alta) para
cada 111 planta que apresentava o traço recessivo (por ex., baixa), formando a razão de 3:13:13,
colon, 1.
• Mendel também descobriu que as características eram herdadas independentemente:
uma característica, como altura da planta, não influenciava a herança de outra, como cor da flor ou
forma da semente.

Representação dos resultados de um dos


experimentos de Mendel. Quando uma planta alta é
cruzada com uma baixa, todos os descendentes são
altos. Se os descendentes realizarem autofecundação,
eles produzem plantas altas e baixas na geração
seguinte em uma razão de 3:1. As contagens reais de
Mendel foram 787 plantas altas:277 baixas nesta
geração (razão de 2,84:1).

Em 1865, Mendel apresentou os resultados


de seus experimentos, realizados com quase 30.000
ervilhas, à Sociedade local de História Natural. Com base
nos padrões observados, nos dados de contagem
coletados e na análise matemática de seus resultados,
Mendel propôs um modelo de herança no qual:

Imagem modificada de "Mendel seven characters," de


Mariana Ruiz Villareal (domínio público). 3
• Características como cor da flor, altura da planta e forma da semente eram controladas por pares de
fatores de herança que ocorriam em diferentes versões.
• Uma versão de um fator (a forma dominante) poderia mascarar a presença da outra versão (a forma
recessiva).
• Os dois fatores pareados eram separados durante a produção de gametas, de forma que cada gameta
(espermatozoide ou óvulo) recebia apenas um fator aleatoriamente.
• Os dois fatores que controlavam características diferentes eram herdados independentemente
um do outro.

2.3 Sistema modelo de Mendel: A planta de ervilha

Mendel realizou seus experimentos-chave utilizando a ervilha de jardim, Pisum sativum,


como um sistema modelo. Plantas de ervilha compõem um sistema conveniente para estudos de
herança e ainda são estudadas por alguns geneticistas atualmente.
Características úteis das ervilhas incluem seu rápido ciclo de vida e a produção de muitas
e muitas sementes. Além disso, plantas de ervilha tipicamente se autofecundam, o que significa que a
mesma planta produz tanto o espermatozoide quanto o óvulo que irão se juntar na fecundação. Mendel
tirou vantagem dessa propriedade para produzir linhagens puras de ervilhas: ele autofecundou e
selecionou ervilhas por muitas gerações até que ele consistentemente produzisse uma prole idêntica
aos pais (por exemplo: plantas sempre baixas).
Plantas de ervilha são também fáceis de cruzar ou reproduzir de maneira controlada. Isso
é feito transferindo-se o pólen das anteras (partes masculinas) de uma planta de uma variedade até o
carpelo (parte feminina) de uma planta madura de outra variedade. Para prevenir que as plantas se
autofecundassem, Mendel exaustivamente removeu todas as anteras imaturas das flores das plantas
antes do cruzamento.
Como as ervilhas eram tão fáceis de se trabalhar e prolíficas na produção de sementes,
Mendel pôde realizar vários cruzamentos e examinar muitas plantas individuais, garantindo que seus
resultados fossem consistentes (não apenas ao acaso) e precisos (baseados em muitos dados de
observações).

4
Imagem da
2.4 Desenho internet
experimental de Mendel

Uma vez que Mendel havia estabelecido linhagens puras de ervilhas com diferentes traços
para uma ou mais características de interesse (tal como alta vs. baixa), ele começou a investigar como
as características eram herdadas realizando uma série de cruzamentos.
Primeiro, ele cruzou uma linhagem parental pura com outra. As plantas usadas nesse
cruzamento inicial são chamadas de geração P, ou geração parental. Mendel coletou e cultivou as
sementes do cruzamento da geração P. Estes descendentes foram chamados de geração F1,
abreviação de primeira geração filial. (Filius significa "filho" em latim)
Depois de analisar as plantas da geração F1 e anotar suas características, Mendel
permitiu que elas se auto-fertilizassem naturalmente, produzindo muitas sementes. Ele então coletou
e cultivou as sementes das plantas F1 para produzir uma geração F2 ou segunda geração filial.
Novamente, ele examinou as plantas cuidadosamente e anotou suas características.

Os experimentos de Mendel prosseguiram da geração F2 para F3 e F4 e gerações


posteriores, mas o seu modelo de herança foi baseado, em sua maior parte, nas primeiras três
gerações (P, F1 e F2). Mendel não registrou apenas a aparência das plantas de cada geração (por
exemplo, alta vs baixa). Além disso, ele contou exatamente quantas plantas apresentavam cada
característica.

2.5 A lei da segregação

Até aqui, tudo bem. Mas este modelo apenas não explica por que Mendel viu os
padrões exatos de herança que viu. Em particular, isto não explica a proporção 3:13:13. Para isso,
precisamos da lei da segregação de Mendel.
De acordo com a lei da segregação, somente uma das duas cópias do gene presentes
em um organismo é distribuída para cada gameta (óvulo ou espermatozoide) que ele produz, e a
distribuição das cópias do gene é aleatória. Quando um óvulo e um espermatozoide unem-se pela
fertilização, eles formam um novo organismo, cujo genótipo consiste dos alelos contidos nos
gametas. O diagrama abaixo ilustra esta ideia:

5
A caixa com quatro
divisões mostrada para a geração F2
é conhecida como um quadro de
Punnett. Parar preparar um quadro
de Punnett, todos os possíveis
gametas produzidos pelos pais são
escritos na parte superior (para o pai)
e na lateral (para a mãe) de uma
grade. Aqui, uma vez que está
representada uma autofertilização, a
mesma planta é pai e mãe.
As combinações entre um
óvulo e um espermatozoide são então
feitas nos quadrados internos da
tabela, representando a fertilização
para originar novos indivíduos. Uma
vez que cada quadrado representa um
evento igualmente provável, nós
podemos determinar as proporções
de genótipos e fenótipos contando os
quadrados.

Imagem modificada de "Laws of inheritance: Figure 5," de


Robert Bear et al., OpenStax, CC BY 4,0

2.6 A lei da variação independente

A lei da segregação permite-nos predizer como uma única característica associada a


um único gene é herdada. Em alguns casos, no entanto, nós podemos querer predizer a herança
de duas características associadas a dois genes diferentes. A lei da segregação
independente de Mendel afirma que os alelos de dois (ou mais) genes diferentes são distribuídos
para os gametas independentemente um do outro. Em outras palavras, o alelo que um gameta
recebe para um gene não influencia o alelo recebido por outro gene.
Imagine que cruzemos duas linhagens puras de ervilhas: uma com sementes amarelas
redondas (YYRR), e uma com sementes verdes enrugadas (yyrr). Como cada genitor é
homozigoto, a lei da segregação nos diz que os gametas produzidos pela planta de sementes
verdes enrugadas são todos ry, e os gametas produzidos pela planta de sementes redondas,
amarelas são todos RY. Isso nos fornece descendentes F1, que são todos RrYy.
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O alelo que especifica cor amarela de semente é dominante sobre o alelo que
especifica cor verde e o alelo que especifica forma redonda é dominante sobre o alelo para forma
enrugada, como indicado pelas letras maiúsculas e minúsculas. Isto significa que as plantas F 1
são todas amarelas e redondas. Por serem heterozigotas para os dois genes, as plantas F1
chamadas diíbridas (di- = dois, -híbrida = heterozigota).
Um cruzamento entre dois diíbridos (ou, equivalentemente, a auto-fertilização de um
diíbrido) é conhecido como um cruzamento diíbrido. Quando Mendel fez este cruzamento e viu
a descendência, ele descobriu que havia quatro categorias diferentes de sementes de ervilha:
amarelas e redondas, amarelo e enrugada, verde e redonda e verde e enrugada. Estas categorias
de fenótipos (categoria definida pelos tratos observacionais) apareceram numa razão de
aproximadamente 9:3:3:1.

Créditos da imagem: "Laws of inheritance: Figure 2," por OpenStax College,


Biology, CC BY 4,0.

Esta razão foi a pista chave que levou Mendel à lei de segregação independente. Isto
porque a razão 9:3:3:1 é exatamente o que esperaríamos ver se a planta F1 tivesse os quatro
tipos de gametas (esperma e óvulos) com igual frequência: YR, Yr, yR, e yr. Em outras palavras,
este é o resultado que preveríamos se cada gameta aleatoriamente tivesse um alelo Y ou y, e,
num processo separado, também aleatoriamente tivesse um alelo R ou r (fazendo quatro
combinações igualmente prováveis).

Podemos confirmar a ligação entre os quatro tipos de gametas e a


razão 9:3:3:1 usando o quadro de Punnett acima. Para fazer o quadro, primeiro colocamos os
quatro tipos de gametas igualmente prováveis ao longo de cada eixo. Então, juntamos os gametas
nos eixos nas caixas do gráfico, representando os eventos de fertilização. Os 16 eventos de
fertilização de igual probabilidade que podem ocorrer entre os gametas são mostrados

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nas 16 caixas. Os genótipos descendentes nas caixas correspondem a uma razão 9:3:3:1 1 de
fenótipos, tal como Mendel observou.

3. BASES DA HEREDITARIEDADE

Base Histórica: Watson, Crick e Rosalind Franklin


No início dos anos de 1950, o biólogo americano James Watson e o físico britânico
Francis Crick elaboraram seu famoso modelo da dupla hélice de DNA. Eles foram os primeiros a
cruzar a linha de chegada nessa "corrida" científica, com outros como Linus Pauling (que descobriu
a estrutura secundária da proteína) também tentando encontrar o modelo correto.

Em vez de fazer novos experimentos no laboratório, Watson e Crick coletaram e


analisaram conjuntos de dados já existentes, organizando-os de formas novas e esclarecedoras.
Algumas de suas pistas mais cruciais sobre a estrutura do DNA vieram de Rosalind Franklin,
uma química que trabalhava no laboratório do físico Maurice Wilkins.

Franklin era uma especialista em uma técnica poderosa para determinar a estrutura
das moléculas, conhecida como cristalografia de raios-x. Quando a forma cristalizada de uma
molécula como o DNA é exposta a raios-x, alguns dos raios são defletidos pelos átomos no cristal,
formando um padrão de difração que dá pistas sobre a estrutura da molécula.

Imagem modificada de "Estrutura


e sequenciamento do DNA:
Figura 2," by OpenStax College,
Biology (CC BY 3,0)

A cristalografia de Franklin deu a Watson e Crick pistas importantes para a estrutura


do DNA. Algumas vieram da famosa "imagem 51", uma imagem de raio-x de difração do DNA
notavelmente clara e impressionante produzida por Franklin e seus estudantes de graduação (um
exemplo moderno do padrão de difração produzido pelo DNA é mostrado abaixo). Para Watson,
o padrão de difração em formato de X da imagem de Franklin imediatamente sugeriu uma estrutura
helicoidal, de duas fitas para o DNA.

Watson e Crick juntaram dados de um número de pesquisadores (incluindo Franklin,


Wilkins, Chargaff e outros) para montar seu celebrado modelo da estrutura de DNA em 3D. Em
1962, James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins foram premiados com o prêmio Nobel de
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medicina. Infelizmente, a essa altura Franklin já havia morrido, e os prêmios Nobel não são
concedidos a título póstumo.

O modelo do DNA de Watson e Crick


A estrutura do DNA, como representada no modelo de Watson e Crick, é uma hélice de dupla fita,
antiparalela, para a direita. Os esqueletos de açúcar-fosfato das fitas de DNA constituem o exterior
da hélice, enquanto as bases nitrogenadas são encontradas no interior e formam pares ligados
por ligações de hidrogênio que mantêm as fitas de DNA juntas.

No modelo abaixo, os átomos laranja e vermelho marcam os fosfatos dos esqueletos de açúcar-
fosfato, enquanto os átomos azuis no interior da hélice pertencem às bases nitrogenadas.

Orientação antiparalela
O DNA de fita dupla é uma molécula antiparalela,
ou seja, é composta de duas fitas que correm lado
a lado mas apontam para direções opostas. Em
uma molécula de DNA de fita dupla, a extremidade
5' (com fostato livre) de uma fita se alinha com a
extremidade 3' (com hidroxila livre) de sua parceira,
e vice-versa.

Pareamento de bases
No modelo de Watson e Crick, as duas fitas da dupla hélice de DNA são mantidas
juntas por ligações de hidrogênio entre as bases nitrogenadas nas fitas opostas. Cada par de
bases fica plano, formando um "degrau" da escada da molécula de DNA.

Pares de base não são feitos de qualquer combinação de bases. Em vez disso, se há
um A em uma fita, ele deve ser pareado com um T na outra (e vice-versa). Similarmente, um G
encontrado em uma fita, deve sempre ter um C como parceiro na fita oposta. Essas associações
A-T e G-C são conhecidas como pares de base complementares.

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O pareamento de bases explica as regras de Chargaff, ou seja, porque a composição de A é
sempre igual a de T, e a composição de C se iguala a de G. Onde há um A em uma fita, deve
haver um T na outra, e o mesmo é verdade para G e C. Porque uma grande purina (A ou G) é
sempre pareada com uma pequena piridimina (T ou C), o diâmetro da hélice é uniforme,
chegando a cerca de 2 nanômetros.

Apesar do modelo original de Watson e Crick propor que haveriam duas ligações de
hidrogênio entre as bases de cada par, sabemos hoje que G e C formam uma ligação adicional
(de forma que os pares A-T formam duas ligações de hidrogênio, enquanto pares G-C formam
três.

Os três requisitos básicos para uma molécula servir como material genético são: 1)
Capacidade de armazenar informação genética sob uma forma estável e de transferir esta
informação a todas as partes da célula; 2) Capacidade de duplicar com precisão a informação e
transferi-la às outras células durante a divisão celular; e 3) Capacidade de sofrer variações, sob a
forma de mutações. As principais candidatas lançadas inicialmente pelos pesquisadores foram o
DNA, o RNA e as proteínas.

3.1 Estrutura dos ácidos nucléicos: DNA e RNA

O ácido nucleico é uma molécula responsável guardar e transmitir informação. Existem dois
tipos de ácidos nucleicos: o DNA e o RNA. É no DNA que estão os genes. Cada gene tem
informação para produzir um RNA. Por sua vez, o RNA tem as informações para construir as
proteínas.

O DNA (ácido desoxirribonucléico) é formado por unidades de ácido fosfórico,


desoxirribose (açúcar de 5 C) e pelas bases nitrogenadas adenina (A), guanina (G), timina (T) e
citosina (C). A e G pertencem ao grupo das purinas e T e C ao grupo das pirimidinas. A unidade
formada por uma molécula de açúcar, uma de ácido fosfórico e uma base nitrogenada recebe o
nome de nucleotídeo (desoxirribonucleotideo por ser do DNA). Os nucleotídeos estão ligados
através do ácido fosfórico e do carbono 5 da desoxirribose, formando cadeias. Duas cadeias se
complementam através do pareamento entre A = T e C  G. Esse pareamento entre purinas e
pirimidinas ocorre através de pontes de hidrogênio. Para haver um correto pareamento as cadeias
são antiparalelas. A informação genética está na sequência de bases nitrogenadas do DNA.

O RNA (ácido ribonucléico) possui estrutura parecida com o DNA, exceto no açúcar
que é a ribose, na ocorrência da base nitrogenada uracila (U) no lugar da timina (T) e na estrutura
de cadeia única ao invés de cadeias duplas pareadas. Os tipos de RNA que ocorrem são o
mensageiro (mRNA), ribossômico (rRNA), transportador (tRNA) e pequenos RNAs nucleares.
Arranjo do material genético Nos procariotos ocorre um DNA circular, livre de complexos
enzimáticos, no nucleoplasma da célula, enquanto nos eucariontes o DNA (em quantidade bem
maior) está organizado nos cromossomos, complexado com proteínas histônicas.

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Estrutura molecular do DNA Estrutura molecular do RNA

Imagens da Internet

3.2 Papéis do DNA e RNA nas células

Ácidos nucleicos, macromoléculas feitas de unidade chamadas nucleotídeos, vêm


em duas variedades naturais: ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA). O
DNA é o material genético encontrado em seres vivos, desde bactérias unicelulares até mamíferos
multicelulares como você e eu. Alguns virus usam RNA, não DNA, como seu material genético,
mas não são tecnicamente considerados vivos (já que não podem reproduzir sem ajuda de um
hospedeiro).

.3.3 DNA nas células

Em eucariontes, como plantas e animais, o DNA é encontrado no núcleo, um cofre


especializado protegido por uma membrana, assim como em outros tipos de organelas (como as
mitocôndrias e os cloroplastos das plantas). Nos procariontes, como as bactérias, o DNA não está
em um envelope de membrana, apesar de estar localizado em uma região celular especializada
chamada de nucleoide.

Nos eucariontes, o DNA é tipicamente dividido em um número de longos pedaços


lineares chamados cromossomos, enquanto que nos procariontes como bactérias, os
cromossomos são muito menores e geralmente circulares (em forma de anel). Um cromossomo
11
pode conter dezenas de milhares de genes, cada um provendo instruções de como fazer um
produto específico que a célula precisa.

3.4 Do DNA para RNA, do RNA para proteínas

Muitos genes codificam produtos proteicos, isto é, especificam a sequência de


aminoácidos utilizada para construir uma proteína em particular. Antes que essa informação possa
ser utilizada para a síntese de proteínas, no entanto, uma cópia de RNA (resultante da transcrição)
do gene deve ser feita em primeiro lugar. Esse tipo de RNA é chamado de RNA
mensageiro (RNAm), por servir como mensageiro entre o DNA e os ribossomos, máquinas
moleculares que leem as sequências de RNAm e as utilizam para construir proteínas. Essa
progressão de DNA para RNA para proteína é chamada de "dogma central" da biologia molecular.

É importante observar que nem todos os genes codificam produtos proteicos. Por
exemplo, alguns genes especificam RNAs ribossômicos (RNAr), que servem como
componentes estruturais de ribossomos, ou RNAs transportadores (RNAt), moléculas de RNA
em forma de trevo que trazem aminoácidos aos ribossomos para a síntese proteica. Ainda outras
moléculas de RNA, como pequenos microRNAs (miRNA), agem como reguladores de outros
genes, e novos tipos de RNAs não-codificadores de proteínas estão sendo descobertos o tempo
todo.

3.5 Nucleotídeos

DNA e RNA são polímeros (no caso do DNA, geralmente polímeros muito longos), e
são feitos de monômeros conhecidos como nucleotídeos. Quando esses monômeros se
combinam, a cadeia resultante é chamada de polinucleotídeo (poli- = "muitos"). Cada nucleotídeo
é feito de três partes: uma estrutura anelar contendo nitrogênio chamada de base nitrogenada, um
açúcar de cinco carbonos, e pelo menos um grupo fosfato. A molécula de açúcar tem uma posição
central no nucleotídeo, com a base ligada a um de seus carbonos e o grupo (ou grupos) fosfato
ligado a outro. Vejamos cada parte de um nucleotídeo por vez.

12
3.5.1 Bases nitrogenadas

As bases nitrogenadas de nucleotídeos são moléculas orgânicas (com base de


carbono) feitas de estruturas anelares contendo nitrogênio. Cada nucleotídeo no DNA contém uma
de quatro possíveis bases nitrogenadas: adenina (A), guanina (G), citosina(C), e timina (T).
Adenina e guanina são purinas, o que significa que suas estruturas contém dois anéis de carbono-
nitrogênio unidos. Citosina e timina, em contraste, são pirimidinas e têm um único anel de
carbono-nitrogênio. Os nucleotídeos de RNA também podem apresentar as bases adenina,
guanina e citosina., mas em vez de timina eles têm outra base pirimidina chamada uracila (U).
Como mostrado na figura acima, cada base tem uma estrutura única, com seu próprio conjunto de
grupos funcionais ligados à estrutura anelar.

Na biologia molecular abreviada, as bases nitrogenadas geralmente são mencionadas


por suas letras, A, T, G, C e U. O DNA contém A, T, G e C, enquanto o RNA contém A, U, G e C
(isto é, o U é colocado no lugar do T).

3.5.2 Açúcares

Além de terem conjuntos de bases ligeiramente diferentes, os nucleotídeos de DNA e


RNA tem açúcares ligeiramente diferentes. O açúcar de cinco carbonos no DNA é chamado
de desoxirribose, enquanto que no RNA, o açúcar é ribose. Esses dois são muito similares na
estrutura, com apenas uma diferença: o segundo carbono da ribose liga-se a um grupo hidroxila,
enquanto o carbono equivalente da desoxirribose tem um hidrogênio. Os átomos de carbono de
uma molécula de açúcar de nucleotídeo são numerados como 1', 2', 3', 4', e 5' (1' é lido como "um
linha"), como mostrado na figura acima. Num nucleotídeo, o açúcar ocupa uma posição central,
com a base ligada a seu carbono 1' e o grupo (ou grupos) fosfato ligado(s) ao carbono 5'.

3.5.3 Fosfato

Os nucleotídeos podem ter um único grupo fosfato, ou uma cadeia de até três grupos
fosfato, ligados ao carbono 5' do açúcar. Algumas fontes, em química, utilizam o termo
"nucleotídeo" apenas para o caso de fosfato único, mas na biologia molecular, a definição mais
ampla é geralmente aceita^11start superscript, 1, end superscript

Em uma célula, um nucleotídeo prestes a ser adicionado ao final de uma cadeia de


polinucleotídeos estará ligado a uma série de três grupos fosfato. Quando o nucleotídeo se junta
a cadeia crescente de DNA ou RNA, perde dois grupos fosfato. Portanto, em uma cadeia de DNA
ou RNA, cada nucleotídeo tem apenas um grupo fosfato.

3.6 Propriedades do DNA

As cadeias de ácido desoxirribonucleico, ou DNA, são tipicamente encontradas em


uma dupla hélice, uma estrutura na qual duas cadeias correspondentes (complementares) estão
ligadas, como mostrado no diagrama à esquerda. Os açúcares e fosfatos localizam-se na parte
externa da hélice, formando o arcabouço do DNA; esta porçao da molécula é algumas vezes
chamada de esqueleto de açúcar-fosfato. As bases nitrogenadas se estendem para o interior,
como os degraus de uma escada, em pares; as bases de um par se unem entre si por ligações de
hidrogênio.
13
Imagem da internet

As duas fitas da hélice vão em direções opostas, isto é, o final 5' de uma fita é pareado
como final 3' de sua fita correspondente. (Nos referimos a isto como orientação antiparalela e é
importante ao copiar o DNA.)

Então, podem duas bases decidirem se juntar e formar um par na dupla hélice? A
resposta é definitivamente não. Por conta dos tamanhos e grupos funcionais das bases, o
pareamento de bases é muito específico: A pode apenas fazer par com T, e G pode apenas fazer
par com C, como mostrado abaixo. Isso significa que as duas fitas da dupla hélice de DNA tem
uma relação bem previsível uma com a outra.

Por exemplo, se você sabe que a sequência de uma fita é 5' -AATTGGCC-3’, a fita
complementar deve ter a sequência 3’-TTAACCGG-5’. Isso permite que cada base se combine
com sua parceira:

Quando duas sequências de DNA se combinam desse jeito, possibilitando a ligação


entre si de modo antiparalelo e formando uma hélice, elas são consideradas complementares.

14
3.7 Propriedades do RNA

O ácido ribonucleico (RNA), diferente do DNA, é geralmente de fita única. Um


nucleotídeo em uma cadeia de RNA conterá ribose (o açúcar de cinco carbonos), uma das quatro
bases nitrogenadas (A, U, G ou C), e um grupo fosfato. Aqui, olharemos os quatro tipos principais
de RNA: RNA mensageiro (RNAm), RNA ribossômico (RNAr), RNA transportador (RNAt) e RNAs
reguladores.

3.7.1 RNA mensageiro (RNAm)

RNA mensageiro (RNAm) é um intermediário entre um gene codificador de proteína


e seu produto proteico. Se uma célula precisa fazer uma proteína em especial, o gene codificador
da proteína será "ligado", isto é, uma enzima RNA polimerase virá e fará uma cópia de RNA, ou
transcrição da sequência de DNA do gene. A cópia carrega a mesma informação da sequência de
DNA de seu gene. No entanto, na molécula de RNA, a base T é substituída por U. Por exemplo,
se uma fita de DNA codificadora tem a sequência 5’-AATTGCGC-3’, a sequência do RNA
correspondente será 3’-UUAACGCG-5’.

Uma vez que um RNAm é produzido, será associado a um ribossomo, uma máquina
molecular que é especializada em montar proteínas a partir de aminoácidos. O ribossomo usa a
informação no RNAm para fazer uma proteína de uma sequência específica, "lendo" os
nucleotídeos de RNAm em grupos de três (chamados códons) e adicionando um aminoácido
particular a cada códon.

15
3.7.2 RNA ribossômico (RNAr) e RNA transportador (RNAt)

O RNA ribossômico (RNAr) é um componente importante dos ribossomos, ajudando


o mRNA a se ligar no local certo para que a sequência de informações possa ser lida. Alguns
RNAr também atuam como enzimas, o que significa que eles ajudam a acelerar (catalisar) reações
químicas – neste caso, a formação de ligações que unem os aminoácidos para formar uma
proteína. Os RNAs que atuam como enzimas são conhecidos como ribozimas.

RNAs transportadores (RNAt) também estão envolvidos na síntese proteica, mas


seu trabalho é agir como carregadores - trazer aminoácidos ao ribossomo, assegurando que o
aminoácido adicionado a cadeia é o especificado pelo RNAm. RNAs transportadores consistem
de uma fita única de RNA, mas essa fita tem segmentos complementares que ficam juntos para
fazer regiões de fita dupla. Esse pareamento de bases cria uma estrutura 3D complexa importante
à função da molécula.

3.7.3 RNA regulatório (miRNAs e siRNAs)

Alguns tipos de RNAs não codificadores (RNAs que não codificam proteínas) ajudam a regular a
expressão de outros genes. Esses RNAs podem ser chamados de RNAs regulatórios. Por
exemplo, microRNAs (miRNAs) e RNAs de pequena interferência siRNA são pequenas
moléculas de RNA regulatório de 22 nucleotídeos de extensão. Elas se ligam a moléculas
específicas de RNAm (com sequências parcial ou completamente complementares) e reduzem
sua estabilidade ou interferem em sua tradução, fornecendo uma maneira de a célula diminuir ou
ajustar níveis desses RNAm.

Estes são apenas alguns exemplos de vários tipos de RNAs regulatórios e não codificadores.
Cientistas ainda estão descobrindo novas variedades de RNA não codificador.

Resumo:

16
4. Introdução à expressão dos genes: Dogma Central da Biologia Molecular

Quando o DNA é transmitido dos pais para os filhos, ele pode determinar algumas das
características das crianças (tais como cor dos olhos ou dos cabelos). Uma molécula de DNA não
se reduz a uma cadeia longa e repetitiva de nucleotídeos.Ao invés disto,ela é dividida em unidades
funcionais chamadas genes. Cada gene fornece instruções para um produto funcional, ou seja,
uma molécula necessária para realizar um trabalho na célula. Em muitos casos, o produto
funcional de um gene é uma proteína. Por exemplo, o gene da cor das flores de Mendel fornece
instruções para fazer uma proteína que ajuda na produção de moléculas coloridas (pigmentos)
nas pétalas das flores.

Imagem baseada em dados experimentais relatados por Hellens et al.

Os produtos funcionais dos genes mais conhecidos são proteínas, ou, mais
especificamente, polipeptídeos. Polipeptídeo é apenas outra palavra para cadeia de
aminoácidos. Embora muitas proteínas consistam de um único polipeptídeo, algumas são
formadas por múltiplos polipeptídeos. Os genes que especificam polipeptídeos são chamados de
genes codificadores de proteínas.

Nem todos os genes determinam polipeptídeos. Alguns fornecem instrução para


construção de moléculas funcionais de RNA, tais como os RNAs transportadores e RNAs
ribossomais que desempenham papéis na tradução.

4.1 Como a sequência do DNA de um gene especifica uma determinada proteína?

Muitos genes fornecem instruções para a produção de polipeptídeos. Como exatamente o DNA
direciona a construção de um polipeptídeo? Esse processo envolve dois passos principais: a
transcrição e a tradução.

➢ Na transcrição, a sequência de DNA de um gene é copiada para fazer uma molécula de


RNA. Essa etapa é chamada de transcrição pois envolve reescrever, ou transcrever, a
sequência de DNA num "alfabeto" similar de RNA. Nos eucariontes, a molécula de RNA
deve passar por um processamento para se tornar um RNA mensageiro (RNAm)
maduro.

➢ Na tradução, a sequência de RNAm é decodificada para determinar a sequência de


aminoácidos de um polipeptídeo. O nome tradução significa que a sequência do RNAm
precisa ser traduzida numa "linguagem" de aminoácidos completamente diferente.

17
Assim, durante a expressão de um gene codificante de proteína, a informação flui do
DNA RNA proteína. Esse fluxo direcional de informação é conhecido como
o dogma central da biologia molecular. Genes não codificantes de proteína (genes que
especificam RNAs funcionais) ainda são transcritos para produzir um RNA, mas esse RNA não é
traduzido em um polipeptídeo. Tanto para um quanto para outro tipo de gene, o processo de ir de
um DNA para um produto funcional é conhecido como expressão gênica.

4.1.1 Transcrição

Na transcrição, uma fita de DNA que compõe um gene, chamada de fita não
codificante, age como molde para a síntese de uma fita correspondente (complementar) de RNA
por uma enzima chamada RNA polimerase. Essa fita de RNA é o transcrito primário.

O transcrito primário carrega a mesma sequência de informação que a fita de DNA


não transcrita, algumas vezes chamada de fita codificante. Contudo, o transcrito primário e a fita
codificante de DNA não são idênticos, graças a algumas diferenças bioquímicas entre DNA e RNA.
Uma diferença importante é que as moléculas de RNA não incluem a base timina (T). Ao invés
disso, elas têm uma base similar uracila (U). Como a timina, a uracila pareia com adenina.

4.1.2 Tradução

Após a transcrição (e, nos eucariontes, após o processamento), uma molécula de RNAm está
pronta para dirigir a síntese proteica. O processo de se usar informação contida em um RNAm
18
para construir um polipeptídeo é chamado de tradução(Abre em uma nova janela)(Abre em uma
nova janela).

O código genético
Durante a tradução, a sequência de nucleotídeos de um RNAm é traduzida na
sequência de aminoácidos de um polipeptídeo. Especificamente, os nucleotídeos do RNAm são
lidos em tripletos (grupos de três) chamados códons. Há 616161 códons que especificam
aminoácidos. Um códon é o códon de "início" que indica onde começar a tradução. O códon de
início especifica o aminoácido metionina, assim a maioria dos polipeptídeos iniciam com este
aminoácido. Três outros códons de “parada” sinalizam o final de um polipeptídeo.
Essas relações entre códons e aminoácidos são chamadas de código genético.

Etapas da tradução
A Tradução ocorre dentro de estruturas conhecidas como ribossomos. Ribossomos
são máquinas moleculares cujo trabalho é contruir polipeptídeos. Uma vez que o ribossomo se
prende a um RNAm e encontra o códon de início, ele irá se mover rapidamente ao longo do RNAm,
um códon de cada vez. Conforme for, ele irá gradualmente construindo uma cadeia de
aminoácidos que espelha exatamente a sequência de códons no RNAm.

Como o ribossomo "sabe" qual aminoácido adicionar para cada códon? Na verdade,
esse pareamento não é feito pelo próprio ribossomo. Ao invés disso, ele depende de um grupo
especializado de moléculas de RNA chamadas RNAs transportadores (RNAt). Cada RNAt tem
três nucleotídeos expostos em uma extremidade, que podem reconhecer (parear bases com)
apenas um ou poucos códons específicos. Na outra extremidade, o RNAt carrega um aminoácido
- especificamente o aminoácido que corresponde àqueles códons.

19
Há muitos RNA transportadores flutuando pela célula, mas somente um RNAt que combina
com (pareia as bases com) o códon que está sendo lido no momento pode se ligar e entregar sua
carga de aminoácido. Uma vez que o RNAt está confortavelmente ligado ao seu códon
correspondente no ribossomo, seu aminoácido será adicionado ao final da cadeia polipeptídica.

Esse processo se repete várias vezes, com o ribossomo se movendo ao longo do RNAm
um códon de cada vez. Uma cadeia de aminoácidos é construída um por um, com uma sequência
de aminoácidos que corresponde à sequência de códons encontrados no RNAm. A tradução
termina quando o ribossomo chega a um códon de parada e solta o polipeptídeo.

O que acontece em seguida?

Uma vez que o polipeptídeo está terminado, ele pode ser processado ou modificado,
combinado com outros polipeptídeos ou enviado a um destino específico dentro ou fora da célula.
Em última instância, ele irá realizar um trabalho específico de que a célula ou o organismo
necessita - talvez como uma molécula sinalizadora, elemento estrutural ou enzima!

Resumo:
1. O DNA é dividido em unidades funcionais chamadas genes, que podem especificar polipeptídeos (proteínas
e subunidades de proteínas) ou RNAs funcionais (como RNAt e RNAr).

2. Informação de um gene é usada para construir um produto funcional em um processo chamado expressão
gênica.

3. Um gene que codifica um polipeptídeo é expresso em duas etapas. Nesse processo, a informação flui do
DNA para RNA para proteína, uma relação direcional conhecida como dogma central da biologia
molecular.

a. Transcrição: Uma fita do DNA do gene é copiada para RNA. Nos eucariontes, o transcrito de RNA
deve passar por etapas adicionais de processamento para se tornar um RNA mensageiro (RNAm)
maduro.
b. Tradução: A sequência de nucleotídeos do RNAm é decodificada para especificar a sequência de
aminoácidos de um polipeptídeo. Este processo ocorre dentro de um ribossomo e requer moléculas
adaptadoras chamadas de RNAt.

4. Durante a tradução, os nucleotídeos do RNAm são lidos em grupos de três, chamados códons. Cada códon
especifica um aminoácido em particular ou um sinal de parada. Esse conjunto de relações é conhecido
20
como o código genético.
4.1.2 O código genético

Durante a tradução, a célula "lê" a informação no RNA mensageiro (RNAm) e a usa


para construir uma proteína. De fato, para ser um pouco mais técnico, um RNAm nem sempre
codifica—provê as instruções para— uma proteína completa. Em vez disso, o que podemos
afirmar com segurança é que ele sempre codifica um polipeptídeo, ou cadeia de aminoácidos.

Em um RNAm, as instruções para a construção de um polipeptídeo são nucleotídeos


de RNA (A, Us, Cs e Gs) lidos em grupos de três. Esses grupos de três são chamados de códons.

Existem 61 códons para aminoácidos, e cada um deles é "lido" para especificar um


determinado aminoácido entre os 202020 encontrados comumente nas proteínas. Um códon,
AUG, especifica o aminoácido metionina e também age como códon de iniciação para sinalizar o
começo da construção de uma proteína.

Existem mais três códons que não especificam aminoácidos. Esses códons de
parada, UAA, UAG e UGA, dizem à célula quando um polipeptídeo está completo. Em conjunto,
essas relações entre códons e aminoácidos são chamadas de código genético, porque permitem
que as células "decodifiquem" o RNAm em uma cadeia de aminoácidos.

21
Visão geral da tradução

Como um RNAm é "lido" para produzir de um polipeptídeo? Os dois tipos de


moléculas que são fundamentais para a tradução são os RNAt e os ribossomos.

RNA transportador (RNAt)

RNA transportadores ou RNAt são "pontes" moleculares que conectam os códons


do RNAm aos aminoácidos que eles codificam. Em uma das extremidades de cada RNAt há uma
sequência de três nucleotídeos denominada anticódon que pode se ligar a códons específicos do
RNAm. A outra extremidade do RNAt transporta o aminoácido especificado pelos códons.

Há muitos tipos diferentes de RNAt. Cada tipo lê um ou alguns códons e traz o


aminoácido certo que corresponde aos códons.

Ribossomos

Ribossomos são as estruturas nas quais os polipeptídeos (proteínas) são


construídos. Eles são feitos de proteínas e RNA (RNA ribossômico ou RNAr). Cada ribossomo
tem duas subunidades, uma grande e outra pequena, que se reúnem ao redor de um RNAm—
como se fossem as duas metades de um pão de hambúrguer ao redor da carne.

O ribossomo proporciona um conjunto prático de compartimentos onde os RNAt


podem encontrar seus códons correspondentes no molde de RNAm e entregar seus aminoácidos.
Esses compartimentos são chamados de sítios A, P e E. Não apenas isso, mas o ribossomo
também atua como uma enzima, catalizando a reação química que une os aminoácidos para
formar uma cadeia.

22
4.3 tRNAs e ribossomos

Vocês observaram como a tradução é uma etapa muito complexa e requer alguns
equipamentos especializados. Assim como não jogaríamos tênis sem as raquetes e as bolas, a
célula não poderia traduzir um RNAm em proteína sem duas peças de engrenagem molecular:
RNAt e ribossomos.

• Ribossomos fornecem a estrutura na qual a tradução pode acontecer. Eles também


catalisam a reação que liga aminoácidos para formar uma nova proteína.

• RNAts (RNAs transportadores) transportam aminoácidos para o ribossomo. Eles atuam


como "pontes", combinando um códon em um RNAm com o aminoácido que o códon
especifica.
Aqui daremos uma olhada mais de perto nos ribossomos e RNAts. Se você ainda não
está familiarizado com o RNA (sigla para ácido ribonucleico, do inglês), eu recomendo fortemente
que cheque alguns livros de sua faculdade e/ou busque por vídeos aulas.

4.3.1 Ribossomos: onde a tradução acontece

A tradução ocorre dentro de estruturas chamadas ribossomos, os quais são feitos de


RNA e proteínas. Ribossomos organizam a tradução e catalisam a reação que une os aminoácidos
para formar uma cadeia proteica.

23
4.3.1 Estrutura do ribossomo

Um ribossomo é feito de dois componentes básicos: uma subunidade grande e uma


pequena. Durante a tradução as duas subunidades juntam-se ao redor de uma molécula de
RNAm, formando um ribossomo completo. O ribossomo se move à frente pelo RNAm, códon a
códon, conforme o lê e traduz em um polipeptídeo (cadeia de proteína). Então, uma vez a tradução
finalizada, os dois componentes separam-se novamente e podem ser reusados.

Em geral o ribossomo é um terço proteico e dois terços RNA ribossômico (RNAr). Os


RNArs são aparentemente responsáveis pela maior parte da estrutura e função do ribossomo,
enquanto as proteínas ajudam-no a mudar sua conformação enquanto ele cataliza reações
químicas.

Abaixo, pode-se observar um modelo tridimensional de ribossomo. Proteínas estão


representadas em azul, enquanto cadeias de RNAr estão representadas em laranja e pêssego. O
ponto verde marca o sítio ativo, que cataliza a reação que liga aminoácidos para fazer uma
proteína. Me surpreende o ribossomo ser tão rugoso, meio que como a superfície do cérebro!

Imagem ilustrativa de um ribossomo.

4.3.2 O ribossomo possui sítios para os RNAts

Como vimos brevemente na introdução, moléculas chamadas RNAs transportadores


(RNAts) trazem aminoácidos aos ribossomos. Aprenderemos muito mais a respeito dos RNAs
transportadores e sobre como eles funcionam na próxima sessão.

Por ora, apenas tenha em mente que o ribossomo possui três espaços para RNAts: o
sítio A, o sítio P e o sítio E. RNAts se movem através destes sítios (do A ao P ao E) enquanto
entregam aminoácidos durante a tradução.
24
4.3.3 O que exatamente é um RNAt?

Um RNA transportador (RNAt) é um tipo especial de molécula de RNA. Seu trabalho


é parear um códon de RNAm com o aminoácido que ele codifica. Você pode imaginá-lo como uma
"ponte molecular" entre os dois.

Cada RNAt contém um conjunto de três nucleotídeos chamado de anticódon. O


anticódon de um dado RNAt pode se ligar a um ou alguns códons específicos de RNAm. A
molécula de RNAt também carrega um aminoácido: especificamente, aquele codificado pelos
códons com os quais o RNAt se liga.

Existem diferentes tipos de RNAts dispersos pelo citoplasma de uma célula, cada um
com seu próprio anticódon e aminoácido correspondente. Na verdade, há usualmente
de 40 a 60 tipos diferentes, o que depende da espécie. Os RNAts se ligam aos códons dentro do
ribossomo, onde eles entregam os aminoácidos que são adicionados à cadeia proteica.

25
5. Citogenética: A ciência dos cromossomos

Quando uma célula se divide, um dos seus principais trabalhos é ter certeza de que
cada uma das duas novas células receberá uma cópia completa, perfeita do material genético.
Erros durante a cópia ou divisão desigual do material genético entre as células, pode resultar em
células que não são saudáveis ou são disfuncionais (e pode levar a doenças tais como o câncer).

Mas o que exatamente é esse material genético e como ele se comporta ao longo de
uma divisão celular?

5.1 DNA e genomas

DNA (ácido desoxirribonucleico) é o material genético dos organismos vivos. Em


humanos, o DNA é encontrado em quase todas as células do corpo e fornece as instruções que
estas precisam para crescer, funcionar e responder ao meio.

Quando uma célula no corpo se divide, vai passar adiante uma cópia do seu DNA para
cada uma de suas células-filhas. DNA também é passado adiante nos organismos, com o DNA no
espermatozoide e no óvulo se combinando para formar um novo organismo que tem material
genético de ambos os pais.

Fisicamente falando, o DNA é uma longa sequência de unidades químicas pareadas


(nucleotídeos) de quatro tipos diferentes, abreviados A, T, C, e G, e que transporta as informações
organizadas em unidades chamadas genes. Os genes tipicamente fornecem instruções para
produzir proteínas, as quais dão às células e aos organismos, suas características funcionais.

Nos eucariontes como plantas e animais, a maior parte do DNA é encontrado no núcleo
e é chamado de DNA nuclear. As mitocôndrias, organelas que produzem energia para a célula,
contêm seu próprio DNA mitocondrial, e os cloroplastos, organelas que realizam a fotossíntese
nas células vegetais, também possuem DNA cloroplastidial. As quantidades de DNA
encontradas em mitocôndrias e cloroplastos são bem menores que a quantidade encontrada no
núcleo. Em bactérias e outros procariontes, a maior parte do DNA é encontrada em uma região
central da célula chamada nucleoide, que funciona como um núcleo mas não é envolta por uma
membrana.

O conjunto de DNA de uma célula é chamado de genoma. Já que todas as células de


um organismo (com poucas exceções) contêm o mesmo DNA, pode-se dizer que cada organismo
26
tem seu próprio genoma, e já que os membros de uma espécie normalmente possuem genomas
semelhantes, pode-se também descrever o genoma de uma espécie. Em geral, quando as
pessoas se referem ao genoma humano, ou a qualquer outro genoma eucariótico, elas se referem
ao conjunto de DNA encontrado no núcleo (ou seja, o genoma nuclear). Considera-se que as
mitocôndrias e os cloroplastos possuam seus próprios genomas separados.

5.2 Cromatina

Na célula, o DNA não existe normalmente por conta própria, mas se associa a
proteínas especializadas que o organizam e lhe conferem estrutura. Nos eucariontes, essas
proteínas incluem as histonas, um grupo de proteínas básicas (de carga positiva) que formam
"bobinas" ao redor das quais o DNA, de carga negativa, pode se enrolar. Além de organizar o DNA
e de torná-lo mais compacto, as histonas possuem um papel importante na determinação de quais
genes são ativos. O complexo de DNA mais histonas e outras proteínas estruturais é chamado
de cromatina.

Na maior parte da vida da célula, a cromatina está descondensada, ou seja, ela existe
em fitas longas e finas que parecem rabiscos ao microscópio. Neste estado, o DNA pode ser
acessado com relativa facilidade pelo maquinário da célula (como as proteínas que leem e copiam
o DNA), e isso é importante para que a célula cresça e funcione.

Descondensada pode parecer um termo estranho para esse estado – por que não
chamá-lo de "filamentoso"? – mas faz mais sentido quando se descobre que a cromatina também
pode se condensar. A condensação ocorre quando a célula está próxima de se dividir. Quando a
cromatina se condensa, pode-se ver claramente que o DNA eucariótico não é apenas um filamento
longo. Na verdade, ele é partido em pedaços lineares e avulsos chamados cromossomos. Os
procariontes como as bactérias também têm cromossomos, mas esses são tipicamente circulares.

5.3 Cromossomos

Cada espécie tem seu próprio número característico de cromossomos. Humanos, por
exemplo, têm 46 cromossomos em uma célula típica do corpo (células somáticas), enquanto os
cães têm 78. Tanto quanto muitas espécies de animais e plantas, os seres humanos
são diploides (2n), isto é, a maior parte de seus cromossomos vem em conjuntos combinados
conhecidos como pares homólogos. Assim, os 46 cromossomos de uma célula humana são
organizados em 23 pares, e os dois membros de cada par são considerados homólogos entre si
(com a leve exceção dos cromossomos X e Y; ver abaixo).

O esperma e os óvulos humanos, que possuem apenas um cromossomo homólogo


de cada par, são considerados haploides (1n). Quando o esperma e o óvulo se fundem, seus
materiais genéticos se combinam para formar um conjunto diploide completo de cromossomos.

27
Assim, em cada par homólogo de cromossomos de seu genoma, um dos homólogos vem de sua
mãe e o outro, de seu pai.

Os dois cromossomos de um par de homólogos são muito semelhantes entre si e têm


o mesmo tamanho e forma. O mais importante, eles carregam o mesmo tipo de informação
genética: isto é, têm os mesmos genes nos mesmos locais. No entanto, não necessariamente têm
as mesmas versões de genes. Isso porque você pode ter herdado duas versões diferentes do
gene de sua mãe e seu pai.

Como um exemplo real, vamos considerar um gene no cromossomo 9, o qual


determina o tipo sanguíneo (A, B, AB ou O). É possível que uma pessoa tenha duas cópias
idênticas de um gene, uma em cada cromossomo homólogo — por exemplo, você pode ter uma
dose dupla da versão do gene para o tipo A. Por outro lado, você pode ter duas versões diferentes
do gene em seus dois cromossomos homólogos, tais como um para tipo A e outro para o tipo B
(resultando em sangue AB).

Os cromossomos sexuais X e Y determinam o sexo biológico de uma pessoa: XX


especifica fêmea e XY macho. Esses cromossomos não são verdadeiramente homólogos e são
uma exceção à regra dos mesmos genes nos mesmos lugares. Além de pequenas regiões de
similaridade necessárias durante a meiose, ou produção de células sexuais, os cromossomos X
e Y são diferentes e carregam genes diferentes. Os 44 cromossomos não-sexuais nos seres
humanos são chamados autossomos.

28
5.4 Cromossomos e divisão celular

Quando uma célula se prepara para dividir, deve fazer uma cópia de cada um dos seus
cromossomos. As duas cópias de um cromossomo são chamadas cromátides-irmãs. As
cromátides-irmãs são idênticas entre si e estão ligadas uma a outra por proteínas
chamadas coesinas. A ligação a entre as cromátides-irmãs é mais firme no centrômero, uma
região do DNA que é importante para a separação das cromátides durante estágios posteriores
da divisão celular.

Enquanto as cromátides-irmãs estão ligadas pelo centrômero, elas ainda são


consideradas como sendo um único cromossomo. No entanto, tão logo elas se separam durante
a divisão celular, cada uma é considerada um cromossomo avulso.

6. Ciclo celular: Divisão celular

O ciclo celular pode ser considerado como um o ciclo de vida de uma célula. Isto é,
é a série de estágios de crescimento e desenvolvimento que uma célula passa entre seu
"nascimento" - formação pela divisão de uma célula mãe - e reprodução - divisão para gerar duas
células filhas.

6.1 Estágios do ciclo celular

Para se dividir, uma célula deve completar várias tarefas importantes: ela precisa
crescer, copiar seu material genético (DNA), e dividir-se fisicamente em duas células-filhas. As
células realizam estas tarefas em uma série de etapas previsíveis e organizadas que constituem
29
o ciclo celular. O ciclo celular é um ciclo e não um caminho linear, porque ao final de cada um, as
duas células-filhas podem começar novamente mesmo processo, a partir do início.

Em células eucarióticas, ou células com núcleo, os estágios do ciclo celular são


divididos em duas fases principais: interfase e a fase mitótica (M).

➢ Durante a interfase, a célula cresce e faz uma cópia de seu DNA.


➢ Durante a fase mitótica (M), a célula separa seu DNA em dois conjuntos e divide seu
citoplasma, formando duas novas células.

6.2 Interfase

Vamos entrar no ciclo celular assim que uma célula se forma, pela divisão de sua
célula-mãe. O que esta célula recém-nascida deve fazer, em seguida, para crescer e se dividir? A
preparação para a divisão acontece em três etapas:

• Fase G1- Durante a fase G1, também chamada de primeira fase de intervalo, a
célula cresce e torna-se fisicamente maior, copia organelas, e fabrica os componentes
moleculares que precisará nas etapas posteriores.

• Fase S- Na fase S, a célula sintetiza uma cópia completa do DNA em seu núcleo.
Ela também duplica uma estrutura organizadora de microtúbulos chamada de centrossomo. Os
centrossomos ajudam a separar o DNA durante a fase M.

• Fase G2 - Durante a segunda fase de intervalo, ou fase G_22start subscript, 2, end


subscript, a célula cresce mais, produz proteínas e organelas, e começa a reorganizar seu
conteúdo em preparação para a mitose. A fase G_22start subscript, 2, end subscript termina com
o início da mitose.
As fases G1 e G2 juntas são chamadas de interfase. O prefixo inter significa entre,
refletindo que a interfase ocorre entre uma fase mitótica (M) e a próxima.

30
6.3 Fase M

Durante a fase mitótica (M), a célula divide seu DNA duplicado e o citoplasma para
formar duas novas células. A fase M envolve dois processos distintos relacionados à divisão:
mitose e citocinesis.

Na mitose, o DNA nuclear da célula se condensa em cromossomos visíveis e é


separado pelo fuso mitótico, uma estrutura especializada formada por microtúbulos. A mitose
acontece em quatro etapas: prófase (algumas vezes dividida em prófase inicial e prometafase),
metáfase, anáfase, e telófase. Você pode aprender mais sobre estes estágios no vídeo mitose.

Na citocinese, o citoplasma da célula é dividido em dois, formando duas novas


células. A citocinese normalmente começa assim que a mitose termina, com alguma sobreposição.
É importante notar que a citocinese ocorre de formas diferentes em células animais e vegetais.

Em animais, a divisão da célula ocorre quando um conjunto de fibras citoesqueléticas


chamado anel contrátil contrai-se em direção ao interior da célula e parte a célula em duas, um
processo chamado de citocinese contrátil. A indentação produzida à medida que o anel se contrai

31
para o interior da célula é chamada de sulco de clivagem. Células animais podem ser clivadas em
duas, por compressão, porque são relativamente macias e moles.

Células de plantas são muito mais duras que células animais; elas são cercadas por
uma parede celular rígida e têm uma pressão interna alta. Por isto, as células de plantas se dividem
em duas através da construção de uma nova estrutura no meio da célula. Esta estrutura,
conhecida como lamela média, é feita de membrana plasmática e componentes da parede celular
disponíveis em vesículas, e ela divide a célula em duas.

6.4 Saída do ciclo celular e G0

O que acontece às duas células-filhas produzidas numa rodada do ciclo celular? Isto
depende de que tipo de células elas são. Alguns tipos de células dividem-se rapidamente, e nestes
casos, as células-filhas podem entrar imediatamente em um novo ciclo de divisão celular. Por
exemplo, muitos tipos de células em um embrião jovem dividem-se rapidamente, como as células
em um tumor.

Outros tipos de células dividem-se lentamente ou não se dividem. Estas células podem
deixar a fase G1 e entrar em um estado de repouso chamado Fase G0. Em G0 a célula não está
ativamente se preparando para dividir, está apenas desempenhando suas funções. Por exemplo,
pode conduzir sinais como um neurônio (como aquele no desenho abaixo) ou armazenar
carboidratos como uma célula do fígado. G0 é um estado permanente para algumas células,
enquanto outras podem reiniciar a divisão caso recebam os sinais corretos.

6.5 O que é mitose?

Mitose é um tipo de divisão celular em que uma célula (a célula-mãe) se divide para
produzir duas novas células (as filhas) que são geneticamente idênticas a ela. No contexto do
ciclo celular, a mitose é a parte do processo de divisão em que o DNA do núcleo das células é
dividido em dois conjuntos iguais de cromossomos.

A grande maioria das divisões celulares que ocorrem no nosso corpo envolvem a
mitose. Durante o desenvolvimento e o crescimento, a mitose preenche o corpo do organismo com
células e, ao longo da vida de um organismo, substitui células velhas e desgastadas por novas.
Para eucariontes unicelulares como a levedura, as divisões mitóticas são, na verdade, a sua forma
de reprodução, adicionando novos indivíduos à população.

Em todos esses casos, o "objetivo" da mitose é assegurar que cada célula-filha receba
um conjunto inteiro e perfeito de cromossomos. Células com quantidade excessiva ou insuficiente
de cromossomos não costumam funcionar direito e podem, inclusive, não sobreviver ou até
mesmo causar câncer. Então, quando as células sofrem mitose, elas não dividem seu DNA
aleatoriamente e jogam-no em pilhas para as células-filhas. Em vez disso, elas separam seus
cromossomos duplicados em uma série de etapas cuidadosamente organizadas.

6.6 Fases da mitose

A mitose consiste em quatro fases básicas: prófase, metáfase, anáfase, telófase.


Alguns livros-texto listam até cinco, dividindo a prófase em uma fase anterior (chamada prófase)
e uma fase posterior (chamada prometáfase). Essas fases ocorrem em uma ordem estritamente
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sequencial, sendo que a citocinese - o processo de divisão dos conteúdos das células para formar
duas novas células - começa na anáfase ou na telófase.

Dá para lembrar a ordem das fases com o famoso mnemônico: [ProMETo]


a Ana Telefonar. Mas não se preocupe tanto com nomes – o mais importante é entender o que
está acontecendo em cada estágio, e porque ele é importante para a divisão dos cromossomos.

Vamos começar observando uma célula um pouco antes de ela começar a mitose.
Esta célula está na interfase (fase G2 tardia) e já copiou o seu DNA, de modo que cada
cromossomo no núcleo consiste em duas cópias conectadas, chamadas cromátides irmãs. Você
não consegue ver os cromossomos muito claramente neste ponto porque eles ainda estão em sua
forma longa, fibrosa e descondensada.

Essa célula animal também fez uma cópia de seus centrômeros, uma organela que irá
desempenhar um papel chave em orquestrar a mitose, então há dois centrômeros. (As células das
plantas geralmente não tem centrossomos com centríolos, mas têm um tipo diferente de centro
organizador de microtúbulos que tem um papel similar).

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No estágio inicial da prófase, a célula começa a quebrar algumas estruturas e a formar
outras, preparando o cenário para a divisão dos cromossomos.

➢ Os cromossomos começam a se condensar (o que facilita sua separação mais tarde).

➢ O fuso mitótico começa se formar. O fuso é uma estrutura feita de microtúbulos, fibras
fortes que são parte do "esqueleto" da célula. Sua função é organizar os cromossomos e
movê-los durante a mitose. O fuso cresce entre os centrossomos a medida que eles se
separam.

➢ O nucléolo (ou nucléolos, no plural), uma parte do núcleo onde são formados os
ribossomos, desaparece. Esse é um sinal de que o núcleo está prestes a se romper.

No final da prófase (chamada também de prometáfase), o fuso mitótico começa a


capturar e organizar os cromossomos.

➢ Os cromossomos concluem a condensação e, por isso, ficam bastante


compactos.
➢ O envoltório nuclear se rompe, liberando os cromossomos.
➢ O fuso mitótico cresce mais, e alguns microtúbulos começam a "capturar" os
cromossomos.

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Os microtúbulos podem se ligar aos cromossomos através do cinetócoro, um arranjo
de proteínas encontrado no centrômero de cada cromátide irmã. (Centrômeros são regiões do
DNA onde as cromátides irmãs são mais firmemente conectadas).

Os microtúbulos que ligam-se a um cromossomo são chamados de microtúbulos


cinetocóricos. Os microtúbulos que não se ligam aos cinetócoros podem se ligar à microtúbulos
do pólo oposto, estabilizando o fuso. Mais microtúbulos se estendem de cada centrossomo em
direção à borda da célula, formando uma estrutura chamada de áster.

Na metáfase, o fuso já capturou todos os cromossomos e os alinhou no meio da célula,


que está pronta para a divisão.

➢ Todos os cromossomos estão alinhados na placa metafásica (não se trata de uma


estrutura física, é apenas um termo para o plano em que os cromossomos estão
alinhados).

➢ Nesta fase, os dois cinetócoros de cada cromossomo devem se ligar a microtúbulos de


pólos opostos do fuso.

Antes de entrar na anáfase, a célula vai verificar se todos os cromossomos estão na


placa metafásica com seus cinetócoros corretamente ligados aos microtúbulos. Isto é
chamado ponto de checagem do fuso e ajuda a garantir que as cromátides irmãs se dividam
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uniformemente entre as duas células-filhas quando se separarem na próxima etapa. Se um
cromossomo não estiver adequadamente alinhado ou ligado, a célula para a divisão até que o
problema seja resolvido.

Na Anáfase as cromátides irmãs se separam uma da outra e são puxadas em direção


aos pólos opostos da célula. Os microtúbulos que não são conectados aos cromossomos separam
os dois pólos do fuso, enquanto os microtúbulos cinetocóricos puxam os cromossomos para os
pólos.

Na anáfase, as cromátides irmãs se separam uma da outra e são empurradas em


direção às extremidades opostas da célula.

➢ A proteína "cola" que mantém as cromátides irmãs unidas é quebrada, permitindo que elas
se separem. Cada uma é agora um cromossomo único. Os cromossomos de cada par são
empurrados em direção aos pólos opostos da célula.

➢ Os microtúbulos não ligados aos cromossomos se alongam e se empurram separando os


pólos da célula, tornando-a mais longa.

Todos esses processos são acionados por proteínas motoras, máquinas moleculares
que podem “caminhar” pelas trilhas dos microtúbulos levando cargas. Na mitose, as proteínas
motoras carregam cromossomos ou outros microtúbulos enquanto se deslocam.

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Na telófase, a célula está quase completamente dividida e começa a re-estabelecer
sua estrutura normal a medida que a citocinese (divisão dos conteúdos da célula) toma lugar.

• O fuso mitótico é dividido em seus "blocos de construção".

• Dois novos núcleos são formados, um para cada conjunto de cromossomos. As


membranas nucleares e os nucléolos reaparecem.

• Os cromossomos começam a se descondensar e voltam a sua forma "filamentosa".

Citocinese, a divisão do citoplasma para formar duas células novas, sobrepõe-se aos
estágios finais da mitose. Ela pode começar tanto na anáfase quanto na telófase, dependendo da
célula, e termina logo depois da telófase.

Nas células animais, a citocinese é contrátil, apertando a célula em duas, como uma
bolsinha de moedas com um cordão. O "cordão" é um conjunto de filamentos feitos de uma
proteína chamada actina e o vinco formado pelo aperto é conhecido como sulco de clivagem. As
células das plantas não podem ser dividas desta forma porque elas possuem uma parede celular
e são muito duras. Em vez disso, a estrutura chamada de placa celular se forma no meio da célula,
dividindo-a em duas células-filhas, separadas por uma nova parede.

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Quando a citocinese termina, temos duas células novas, cada uma com um conjunto
completo de cromossomos idênticos aos da célula-mãe. As células-filhas podem agora começar
suas próprias "vidas" celulares e - dependendo do que decidirem ser quando crescerem - podem,
elas também, realizar mitose, repetindo o ciclo.

7. Aneuploidia e rearranjos cromossômicos

Algumas coisas funcionam melhor em pares. Exemplos cotidianos incluem sapatos,


luvas e fones de ouvido num aparelho de música. Se você perder um membro do par isto será um
problema e pode até ser um problema sério (por exemplo, se você já estiver atrasado para a
escola!).

Pares também são importantes na genética. A maioria de suas células


contém 46 cromossomos, estruturas semelhantes a bastões feitas de DNA e proteína, que
formam 23 pares que se combinam perfeitamente dois a dois. Esses cromossomos possuem
dezenas de milhares de genes, que dizem ao seu corpo como se desenvolver e manter-se
funcionando a cada momento de sua vida

Se um par de cromossomos perde ou ganha um membro, ou mesmo parte de um, o


equilíbrio delicado do corpo humano pode ser rompido. Agora, iremos examinar como as
mudanças no número e na estrutura dos cromossomos acontecem e como elas podem afetar a
saúde humana.

7.1 Aneuploidia: cromossomos extra ou faltando

Mudanças no material genético da célula são chamadas de mutações. Em uma forma


de mutação as células podem terminar com um cromossomo a mais ou a menos. Cada espécie

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tem seu número característico de cromossomos, tal como 46 cromossomos para uma célula típica
do corpo humano. Em organismos com dois conjuntos completos de cromossomos, como nos
humanos, dá-se a esse número o nome de 2n. Quando um organismo ou uma célula
contém 2n, cromossomos (ou algum outro múltiplo de n), ele é chamado de euploide, ou seja,
que contém cromossomos corretamente organizados em conjuntos completos (eu- = bom).

Se a célula estiver sem um ou mais cromossomos, é chamada de aneuploide (an- =


não, "não bom"). Por exemplo, células somáticas humanas com número de cromossomos igual a
(2n−1)=45 ou (2n + 1) = 47(2n+1)=47 são aneuploides. Da mesma forma, um óvulo ou esperma
humano normal tem apenas um conjunto de cromossomos (n = 23). Um óvulo ou esperma com (n-
1) = 22 ou (n+1)= 24 cromossomos é considerado aneuploide.

Dois tipos especiais de aneuploidia tem nomes especiais:

• Monossomia é quando um organismo tem apenas uma cópia de um cromossomo que deveria
estar presente em duas cópias (2n-1).

• Trissomia é quando um organismo tem uma terceira cópia de um cromossomo que deveria estar
presente em duas cópias (2n+1).

Aneuploidia também inclui casos onde uma célula tem um número maior de
cromossomos extras ou ausentes, como em (2n - 2), (2n + 3), etc. No entanto, se houver um
conjunto completo de cromossomos extras ou ausentes (p.e., 3n), isto não é formalmente
considerado aneuploidia, mesmo que ainda possa ser ruim para a célula ou para o organismo. Os
organismos com mais de um conjunto completo de cromossomos são chamados de poliploides.

Distúrbios genéticos causados por aneuploidia

Embriões humanos nos quais falta uma cópia de qualquer autossomo (cromossomo
não sexual) não se desenvolvem até o nascimento. Em outras palavras, monossomias
autossômicas humanas são sempre letais. Isto porque os embriões têm uma "dose" muito baixa
de proteínas e de outros produtos que são codificados pelos genes do cromossomo que falta.

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A maioria das trissomias autossômicas também impedem que um embrião se
desenvolva até o nascimento. Mas uma cópia extra de algum dos cromossomos menores (13, 15,
18, 21, ou 22) pode permitir que o indivíduo afetado sobreviva por um curto espaço de tempo após
o nascimento, ou em alguns casos, por muitos anos. Quando um cromossomo extra está presente,
ele pode causar problemas no desenvolvimento devido ao desequilíbrio entre os produtos dos
genes do cromossomo duplicado e os produtos dos genes de outros cromossomos.

A trissomia mais comum entre os embriões que sobrevivem ao nascimento é


a síndrome de Down, ou trissomia 21. Pessoas com este distúrbio hereditário têm estatura baixa
e dedos curtos, distinções faciais que incluem um crânio largo, língua grande e atrasos no
desenvolvimento. Aqui está um cariótipo, ou imagem dos cromossomos, de uma pessoa com
síndrome de Down, mostrando as características três cópias do cromossomo 21:

Cerca de 1 a cada 800 recém-nascidos nasce com síndrome de Down. Mas, a


probabilidade de que a gravidez resulte em um embrião com a síndrome de Down aumenta com
a idade da mulher, particularmente acima de 40 anos. Isto provavelmente se deve à maior
frequência de não disjunções no desenvolvimento dos óvulos das mulheres mais velhas.

Os distúrbios genéticos humanos também podem ser causados por aneuploidias


envolvendo os cromossomos sexuais. Estas aneuploidias são melhor toleradas que as
autossômicas porque as células humanas têm capacidade para desligar os cromossomos X
extras, em um processo chamado de inativação do X. Você pode aprender mais sobre isto no
artigo sobre Inativação do cromossomo X (Veremos a diante).

7.2 Rearranjos cromossômicos

Em outra classe de mutações de larga escala, grandes pedaços de cromossomos


(mas não cromossomos inteiros) são afetados. Tais mudanças são chamadas rearranjos
cromossômicos. Elas incluem:

➢ Uma duplicação, onde parte de um cromossomo é copiada.

➢ Uma deleção, onde parte de um cromossomo é removida.

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➢ Uma inversão, onde uma região cromossômica é invertida apontando assim, para a
direção oposta.

Uma translocação, onde uma parte de um cromossomo fica aderida a outro


cromossomo. Uma translocação recíproca envolve a troca de segmentos entre dois cromossomos;
uma translocação não recíproca significa que um segmento de um cromossomo se move para o
outro.

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8. Herança do DNA mitocondrial e cloroplástico

DNA também é encontrado nas mitocôndrias presentes na maioria das células animais
e vegetais, assim como nos cloroplastos das células vegetais. Aqui, exploraremos como o DNA
mitocondrial e dos cloroplastos são herdados.

8.1 DNA mitocondrial e cloroplástico

As moléculas de DNA encontradas nas mitocôndrias e cloroplastos são pequenas e


circulares, muito parecidas com o DNA de uma bactéria típica. Geralmente existem muitas cópias
de DNA em uma única mitocôndria ou cloroplasto.

As semelhanças entre o DNA das mitocôndrias e cloroplastos e o DNA das bactérias


são uma importante linha de evidência apoiando a teoria endossimbiótica, que sugere que as
mitocôndrias e cloroplastos eram originalmente células procariontes de vida livre.

8.2 Como é herdado o DNA não-nuclear?

Estes são alguns modos em que o DNA dos cloroplastos e das mitocôndrias diferem
do DNA encontrado no núcleo:

Elevado número de cópias. Uma mitocôndria ou cloroplasto apresenta múltiplas cópias


do seu DNA, e uma célula típica apresenta muitas mitocôndrias (no caso de uma célula de planta,
cloroplastos). Como resultado, as células geralmente apresentam muitas cópias – com frequência,
milhares – de DNA mitocondrial e cloroplástico.

➢ Segregação aleatória. As mitocôndrias e os cloroplastos (e os genes que eles carregam)


tendem a ser distribuídos aleatoriamente nas células-filhas durante a mitose e meiose.
Quando ocorre a citocinese, as organelas que estão em lados opostos do sulco de
clivagem terminam em células-filhas diferentes.

➢ Herança monoparental. O DNA não-nuclear é muitas vezes herdado uniparentalmente,


significando que a prole obtém o DNA apenas do progenitor ou da progenitora, não de
ambos. Em humanos, por exemplo, as crianças obtêm DNA mitocondrial de sua mãe (mas
não do pai).
42
8.3 Herança mitocondrial

As mitocôndrias, como os cloroplastos, tendem a ser herdados somente de um dos


genitores (ou, pelo menos, serem desigualmente herdados dos dois genitores). No caso dos seres
humanos, é a mãe que contribui com as mitocôndrias para o zigoto, ou embrião unicelular, através
do citoplasma do óvulo. Os espermatozoides contêm mitocôndrias, mas eles normalmente não
são herdados pelo zigoto. Houve o relato de um caso de herança paterna de mitocôndrias em um
ser humano, mas isto é extremamente raro.

8.4 Herança maternal de mitocôndrias nos seres humanos

Uma vez que as mitocôndrias são herdadas da mãe, elas fornecem uma forma de
rastrear a linhagem matrilinear (linha de descendência através de uma cadeia intacta de ancestrais
femininos)

Para entender como as mitocôndrias ligam você às antepassadas de sua mãe,


considere de onde suas mitocôndrias vieram. Elas foram recebidas de sua mãe, no citoplasma do
óvulo que deu origem a você. Onde sua mãe conseguiu suas próprias mitocôndrias? Da mãe dela,
que é sua avó materna.

Se você continuar repetindo esta pergunta, você pode voltar no tempo ao longo de
sua árvore genealógica, seguindo suas ancestrais maternas e rastreando a rota de transmissão
de seu DNA mitocondrial.

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Como mostrado no diagrama acima, o padrão de herança do DNA mitocondrial é
diferente daquele do DNA nuclear. O DNA nuclear de uma pessoa é uma "colcha de retalhos" de
segmentos herdados de muitos ancestrais diferentes, enquanto o DNA mitocondrial é herdado
através de uma única linhagem contínua de ancestrais femininos.

9. Inativação do X

Na realidade, o nível de atividade gênica produzida por um único cromossomo X é a


"dosagem" normal para um humano. Homens têm essa dosagem porque, bem, eles têm apenas
um cromossomo X! As mulheres têm a mesma dosagem por um motivo diferente: elas desligam
um de seus dois cromossomos X em um processo chamado inativação do X.

Na inativação do X, um cromossomo X é compactado (ou, como meu professor de


introdução à biologia gostava de dizer, "amassado em uma bolinha"), para formar uma estrutura
pequena e densa chamada de corpúsculo de Barr. A maioria dos genes no corpúsculo de Barr
são inativos, o que significa que eles não são transcritos. O processo de inativação do X foi
descoberto pela geneticista britânica Mary F. Lyon, e algumas vezes é chamado
de lyonização em sua homenagem.

Mary F. Lyon

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Uma mulher tem dois cromossomos X, um do pai e um da mãe. Qual deles ela irá
inativar? A inativação do X é um processo aleatório que ocorre separadamente em células
individuais durante o desenvolvimento embrionário. Uma célula pode desligar o X paterno,
enquanto sua vizinha pode desligar o X materno ao invés. Todas as células descendentes de uma
dessas células originais irão manter o mesmo padrão de inativação do X.

Nota interessante: se você fosse um canguru, o que eu acabei de dizer não seria
verdade! Nos cangurus e outros marsupiais, é sempre o cromossomo X paterno que passa pela
inativação do X.

Exemplo de inativação do X: o gato malhado

Um exemplo clássico da inativação do X é visto em gatos. Se uma gata for heterozigota


para alelos de pelagem preta e amarela encontrados no cromossomo X, ela irá inativar os dois X
(e, assim, os dois alelos do gene para cor de pelo) aleatoriamente em diferentes células durante
o desenvolvimento.

O resultado é um padrão de pelagem semelhante a um casco de tartaruga, composto


de tufos alternantes de pelo preto e amarelo. Os tufos pretos vêm de grupos de células nas quais
o X com o alelo para a cor preta está ativo, enquanto os tufos amarelos vêm das células nas quais
o X com o alelo para a cor amarela está ativo.

Embora raramente seja tão fácil de se ver como na pelagem dos gatos, fêmeas
humanas também são "mosaico" para quaisquer genes que estejam presentes em diferentes
alelos de seus dois cromossomos X.

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10. Herança ligada ao X

Pontos Principais:

➢ Em seres humanos e outros mamíferos, o sexo biológico é determinado por um par


de cromossomos sexuais: XY para o sexo masculino e XX para o sexo feminino.
➢ Os genes no cromossomo X são chamados de ligados ao X. Genes ligados ao X têm
padrões de herança específicos porque estão presentes em números diferentes nos
indivíduos de sexo feminino (XX) e de sexo masculino (XY).
➢ Doenças genéticas humanas ligadas ao X são muito mais comuns em homens do que em
mulheres devido ao padrão de herança ligada ao X.

Se você é um ser humano (o que parece ser uma boa aposta!), a maioria dos seus
cromossomos vêm em pares homólogos. Os dois cromossomos do par homólogo contêm as
mesmas informações básicas - isso é, os mesmos genes, na mesma ordem - mas podem carregar
diferentes versões destes genes.
Todos os seus cromossomos estão organizados em pares homólogos? A resposta
depende se você é (cromossomicamente) do sexo masculino.

➢ Um homem tem dois cromossomos sexuais, o X e o Y. Diferentemente


dos 444444 autossomos (cromossomos não-sexuais), o X e o Y não transportam os
mesmos genes e não são considerados homólogos.

➢ Ao invés de um X e um Y, uma mulher tem dois cromossomos X. Estes cromossomos X


formam um autêntico par de homólogos.

Por causa dos cromossomos sexuais nem sempre estarem em pares homólogos, os
genes que eles carregam apresentam padrões distintos de herança.

46
10.1 Cromossomos sexuais em humanos

Os cromossomos humanos X e Y determinam o sexo biológico de uma pessoa, com


XX determinando sexo feminino e XY determinando sexo masculino. Apesar do cromossomo Y
conter uma pequena região similar ao cromossomo X, de forma que eles podem parear durante a
meiose, ele é muito menor e contém muito menos genes.
Para quantificar essa diferença, o cromossomo X tem cerca de 800-900 genes
codificadores de proteínas com uma ampla variedade de funções, enquanto que o Y tem
apenas 60-70 genes codificadores de proteínas, dos quais cerca da metade são ativos somente
nos testículos (órgãos produtores de espermatozoides).
O cromossomo Y humano desempenha
um papel fundamental para a determinação do sexo de
um embrião em desenvolvimento. Isto é causado
principalmente por um gene chamado SRY (região
determinante de sexo do Y, do inglês "sex-determining
region of Y").
SRY está localizado no cromossomo Y e
codifica umas proteínas que ativa outros genes
necessários para o desenvolvimento masculino.
➢ Embriões XX não possuem SRY, levando ao
desenvolvimento do sexo feminino.
➢ Embriões XY possuem SRY, levando ao
desenvolvimento do sexo masculino.
➢ Em casos raros, erros durante a meiose podem
transferir o SRY do cromossomo Y para o
cromossomo X. Se um cromossomo X que
possui SRY fertilizar um óvulo normal, resultará
em um embrião cromossomicamente do sexo
feminino (XX) e que se desenvolve como do
sexo masculino.
Se um cromossomo Y deficiente
de SRY fertilizar um óvulo normal, resultará em um
embrião cromossomicamente do sexo masculino (XY)
e que se desenlvolve como do sexo feminino.

10.2 Doenças genéticas associadas ao cromossomo X

Os mesmos princípios que vemos nas moscas-da-fruta podem ser aplicados à


genética humana. Em humanos, os alelos para certas anomalias (incluindo algumas formas de
daltonismo, hemofilia e distrofia muscular) são ligados ao X. Estas doenças são muito mais
comuns em homens do que em mulheres em razão de seu padrão de herança ligado ao X.

Por que isto acontece? Vamos explorar este tema usando um exemplo no qual a mãe
é heterozigota para um alelo causador de doença. Mulheres que são heterozigotas para alelos
causadores de doença são chamadas de portadoras, e em geral não apresentam sintomas.
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Os filhos destas mulheres têm 50% de chance de apresentar a doença, mas as filhas
têm pouca probabilidade de apresentar a doença (a menos que o pai também apresente), e terão,
ao contrário, 50% de chance de serem portadoras.

Por que isto acontece? Características recessivas ligadas ao X aparecem mais


frequentemente no sexo masculino que no feminino porque, se um macho recebe um alelo
"ruim" de sua mãe, ele não tem chance de receber um alelo "bom" de seu pai (que lhe transmite
um cromossomo Y) para esconder o alelo "ruim". As fêmeas, por outro lado, geralmente
receberão um alelo normal de seus pais, evitando que o alelo causador de doença se expresse.

11. Elementos Transponíveis: Uma visão geral

Retirado do Artigo Barbara McClintock and the Discovery of Jumping Genes


(Transposons)

Algumas das descobertas genéticas mais profundas foram feitas com a ajuda
de vários organismos- modelo que são favorecidos pelos cientistas por sua ampla disponibilidade
e facilidade de manutenção e proliferação. Um desses modelos é o Zea mays (milho),
48
particularmente as plantas que produzem grãos de cores variadas. Como cada núcleo é
um embrião produzido a partir de uma fertilização individual , centenas de filhotes podem ser
classificados em uma única orelha, tornando o milho um organismo ideal para análise genética. De
fato, o milho provou ser o organismo perfeito para o estudo de elementos transponíveis (TEs), também
conhecidos como " genes saltadores ".que foram descobertos durante a metade do século XX pela
cientista americana Barbara McClintock. O trabalho de McClintock foi revolucionário, ao sugerir
que o genoma de um organismo não é uma entidade estacionária, mas está sujeito a alterações e
rearranjos - um conceito que recebeu críticas da comunidade científica da época. No entanto, o
papel dos transposons acabou se tornando amplamente apreciado, e McClintock recebeu o
Prêmio Nobel em 1983 em reconhecimento a essa e suas muitas outras contribuições ao campo
da genética.

McClintock e as origens da citogenética

Barbara McClintock iniciou sua carreira científica na Cornell University, onde foi
pioneira no estudo da citogenética - um novo campo na década de 1930 - usando o milho
como organismo modelo . De fato, o casamento da citologia e genética tornou-se oficial em 1931,
quando McClintock e a estudante Harriet Creighton forneceram a primeira prova experimental de
que os genes estavam fisicamente posicionados nos cromossomos,
descrevendo o fenômeno do cruzamento e a recombinação genética.. Embora Thomas Hunt Morgan
tenha sido a primeira pessoa a sugerir a ligação entre traços genéticos e a troca de material
genético por cromossomos, 20 anos se passaram antes que suas idéias fossem comprovadas
cientificamente, em grande parte devido a limitações nas técnicas citológicas e experimentais (Coe
& Kass, 2005) . As técnicas citogenéticas inovadoras de McClintock lhe permitiram confirmar as
idéias de Morgan, e essas técnicas estão entre as suas maiores contribuições para a ciência.

11.1 Descobrindo TEs através da experimentação com milho

Como mencionado anteriormente, McClintock é mais conhecida por sua descoberta


de elementos transponíveis através da experimentação com milho. No entanto, para entender as
observações de McClintock e a lógica que levou à descoberta de ETs, primeiro é necessário estar
ciente de que o sistema fenotípico que McClintock estudou - o padrão de cores variado dos grãos
de milho - envolve três alelos em vez dos dois usuais.

Para entender melhor essa ideia, considere cada grão de milho como um único
indivíduo, originando-se como um óvulo que passou por uma fertilização dupla. Durante a
fertilização dupla, um fusíveis de esperma com o óvulo célula do núcleo, produzindo
uma diplóide zigoto que vai desenvolver para a próxima geração. Enquanto isso, o outro
espermatozóide se funde com os dois núcleos polares para formar um endosperma triploide, que
forma uma camada protéica externa conhecida como camada aleurona. Como resultado, o tecido
colorido (ou incolor, conforme o caso) que compõe a camada de aleurona do núcleo é triploide,
não diplóide.

11.2 O sistema AC / Ds de elementos transponíveis

McClintock trabalhou com o que é conhecido como o sistema Ac / Ds no milho, que


ela descobriu conduzindo experimentos genéticos de melhoramento genético com
49
um fenótipo incomum . Através desses experimentos, McClintock reconheceu que ocorreram
rupturas em locais específicos nos cromossomos do milho. De fato, o primeiro elemento transponivel
que ela descobriu foi um local de quebra de cromossomo, apropriadamente chamado de
"dissociação" ( Ds ). Embora McClintock tenha finalmente descoberto que alguns ETs podem
"pular" autonomamente, ela inicialmente observou que os movimentos de Ds são regulados por
um elemento autônomo chamado " ativador " ( Ac).), que também pode promover sua
própria transposição .
Obviamente, essas descobertas foram precedidas de extensas experiências de
criação. Era conhecido na época, a partir de trabalhos anteriores de Rollins A. Emerson, outro
geneticista americano do milho e o "redescobridor" das leis de herança de Mendel , que o milho tinha
genes que codificavam núcleos variegados ou multicoloridos; esses núcleos foram descritos como
incolores (embora na verdade fossem brancos ou amarelos), exceto por manchas ou estrias de
púrpura ou marrom (Figura 2). Emerson havia proposto que a variação variegada se devia a uma
" mutação instável, "ou uma mutação para o fenótipo incolor que às vezes volta à sua variante do
tipo selvagem e resulta em uma área de cor. No entanto, ele não conseguiu explicar por que ou
como isso ocorreu. Como McClintock descobriu, a mutação instável que Emerson intrigava over
era na verdade um sistema de quatro genes, conforme descrito na Tabela 1.

Figura 2: Variação nos fenótipos do núcleo é usada para estudar o comportamento do transposão. Núcleos
em uma espiga de milho mostram fenótipos instáveis devido à interação entre um elemento transponivel
(TE) e um gene de pigmento. © 2002 Nature Publishing Group Feschotte, C. et al. Elementos transponíveis
para plantas: onde a genética encontra a genômica. Nature Reviews Genetics 3, 330. Todos os direitos
reservados

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Tabela 1: Genes do milho estudados por Barbara McClintock

Gene Descrição

C' Alelo dominante no braço curto do cromossomo 9 que impede que a cor seja expressa na camada
aleurona do caroço de milho, causando o chamado fenótipo "incolor" (que na verdade é de cor branca ou
amarela). Isso também é conhecido como alelo inibidor.

C Alelo recessivo no braço curto do cromossomo 9 que leva ao desenvolvimento da cor.

Beleza Alelo dominante no braço curto do cromossomo 9 que leva a um fenótipo roxo.

beleza Alelo recessivo no braço curto do cromossomo 9 que leva a um fenótipo marrom escuro.

Ds Localização genética no braço curto do cromossomo 9 no qual ocorre a ruptura cromossômica.

Como Um fator de localização desconhecida (pelo menos quando McClintock estava conduzindo sua pesquisa)
que afeta a expressão de Ds .

Adaptado de McClean, 1997.

Em seus experimentos, McClintock criados fêmeas que


eram homozigotos para C e BZ e que careciam de Ds (denotado CCbzbz -, onde os traços indicam
a ausência de Ds alelos) com os machos que eram homozigotos para C' , Bz e Ds (denotado C
'C'BzBzDsDs ) para produzir heterozigotos com uma camada de aleurona que possuísse
o genótipo C'CCBzbzbz - Ds. (Lembre-se, em dupla fertilização, o esperma fornece um conjunto
de alelos e o óvulo fornece dois.) Devido à presença do alelo inibidor dominanteC ' , era esperado
que os núcleos descendentes fossem incolores, independentemente da sua composição genética
no locus Bz / bz . De fato, após o cruzamento, muitos desses núcleos eram de fato incolores. No
entanto, McClintock também observou muitos núcleos com fundos incolores e quantidades
variadas de manchas marrons escuras ou estrias, e concluiu que as células individuais desses
núcleos perderam seus alelos C ' e Bz por causa de uma quebra cromossômica no local Ds . Sem
o alelo C ' (para impedir a expressão da cor) ou o alelo Bz (púrpura), as células que sofreram uma
ruptura no locus Ds terminaram com alguma coloração marrom.
Nas sementes afetadas, a quantidade de listras ou manchas coloridas dependia de
quando, durante o desenvolvimento da semente, ocorreu a mutação das células
somáticas em Ds . Se essa mutação ocorresse no início do desenvolvimento, então, à medida que
a célula mutante continuasse a se dividir, mais células no núcleo maduro teriam o fenótipo
acastanhado, e a mancha ou faixa de cor no núcleo seria maior. Por outro lado, se a mutação
ocorresse mais tarde no desenvolvimento , a detecção seria menor, porque o núcleo passaria por
menos divisão celular antes da maturidade.
Expressão de Ds no milho
McClintock também realizou experimentos adicionais para demonstrar que o efeito
fenotípico dos Ds dependia da presença de outro elemento, que ela chamou de Ac . McClintock
teve problemas para mapear os elementos Ac e Ds , no entanto, observando que eles mudaram de
posição no cromossomo em diferentes plantas de milho. De fato, experimentos posteriores
mostraram que os Ds não quebravam apenas os cromossomos, mas podiam realmente se mover
de um local cromossômico para outro. Quando Ds se insere no alelo Bz , por exemplo, causa uma

51
mutação no gene Bz (mas somente quando Acestá presente), destruindo assim a capacidade
do gene Bz de produzir qualquer pigmento. Ds também podem ser retirados
do alelo Bz (novamente, apenas na presença de Ac ), fazendo com que Bz volte ao seu fenótipo
roxo ou marrom. Novamente, a quantidade de púrpura ou marrom depende de quando, durante o
desenvolvimento, Ds é inserido ou excisado. Se a excisão ocorrer antes da fertilização, o núcleo
afetado será inteiramente roxo ou marrom, dependendo do genótipo Bz / bz .
Anos depois que McClintock descobriu o sistema Ac / Ds , os cientistas finalmente
conseguiram estudar os dois EEs com muito mais detalhes moleculares. Hoje, sabemos que
os elementos Ac têm cerca de 4.500 pares de bases e são similares em estrutura a
outros transposons de DNA.

11.3 McClintock e a teoria da epigenética

Além de sua descoberta dos TEs e de suas revolucionárias técnicas de pesquisa


citogenética, Barbara McClintock também foi a primeira cientista a especular corretamente sobre
o conceito básico de epigenética - ou alterações herdáveis na expressão gênica que não são causadas
por alterações nas seqüências de DNA . Principalmente, ela reconheceu que os genes podem ser
expressos e silenciados durante a mitose em células geneticamente idênticas. McClintock propôs
essa teoria antes da estrutura molecular do DNA e mais de 40 anos antes do estudo formal do
conceito de epigenética, cimentando ainda mais sua reputação como inovadora em seu campo.

11.4 Revisão: Genes Saltitantes

Os genomas dos organismos vivos são o resultado de toda uma história evolutiva, em
muitos casos, de centenas de milhares ou mesmo de milhões de anos. Ao longo da evolução das
espécies, foram sofrendo diversos tipos de alterações. Para além das já aqui muito faladas
substituições de uma base por outra, outros eventos foram tendo diferentes impactos naquilo que

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são os genomas que hoje podemos observar. Por exemplo, trocas, eleminações ou duplicações
de grandes segmentos de cromossomas acontecem com alguma frequência, e podem hoje
detetar-se entre organismos de espécies diferentes.
Algumas regiões do genoma parecem mesmo ter uma vida própria, tal é a sua
capacidade de se moverem ou copiarem de uns locais para outros. Estas regiões são designadas,
em inglês, por jumping genes ou transposable elements (elementos transponíveis), precisamente
pela sua facilidade em “saltitar” ou transpôr-se para outros locais. Pensa-se que muitos destes
elementos sejam vestígios de infeções víricas do passado cujo genoma acabou por se integrar no
hospedeiro passando a fazer parte do seu património genético.

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Os elementos transponíveis estão espalhados um pouco por todo o genoma e por
todos os organismos, e podem ser de vários tipos: uns são cortados do local original e movem-se
literalmente para outro local, como no “cut+paste” do computador, enquanto outros são primeiro
copiados, através de RNA, e a sua cópia é inserida noutro local, de forma semelhante ao
“copy+paste” dos processadores de texto. Estes últimos, por terem capacidade de se duplicar
ativamente, são mais frequentes.
Apesar de alguns continuarem “vivos”, a maior parte dos elementos transponíveis
existentes no genoma humano perderam a capacidade de se mover, pelo que muitos
investigadores os consideram apenas DNA “lixo” (mais sobre isto aqui). No entanto, alguns deles
foram incorporados pelo genoma hospedeiro de tal forma que adquiriram uma função e são
atualmente vitais para o organismo. É o caso, por exemplo, de algumas regiões que foram
resgatadas para coordenar o desenvolvimento embrionário. Noutros casos, os elementos
transponíveis proporcionaram variações sobre as quais a evolução pode atuar, tais como
alterações na cor dos organismos ou, em algumas plantas, na estrutura dos frutos. Um exemplo
deste efeito é o que resulta em variações na cor dos grãos de milho.
Como qualquer invasor, os elementos transponíveis estão também relacionados com
doenças. Quando interrompem a sequência codificante de uma proteína, podem resultar na
produção de proteínas defeituosas, ou restringir totalmente a sua produção. Os elementos LINE-
1 e Alu são os dois exemplos mais conhecidos destes efeitos no genoma humano, tendo já sido
relacionados com o desenvolvimento de doenças como o Alzheimer ou diversos tipos de câncro.
Este tipo de elementos podem ser valiosas ferramentas em estudos de evolução, já
que ao serem inseridos em diferentes pontos da história, proporcionam marcadores temporais de
diferentes momentos, nos quais ocorre uma espécie de reset da evolução. Assim, pode ser útil e
interessante estudar mesmo aqueles elementos que já não se encontram ativos, uma vez que nele
podem estar refletidos importantes acontecimentos do passado.

(Fonte: Sciencenews.org)

12. Epigenética
(Artigo: Epigenetics: A New Genetic Field – Muller e Prado, 2008)

RESUMO:
Epigenética é definida como modificações do genoma, herdável durante a divisão celular,
que não envolve uma mudança na sequência do DNA. Mecanismos epigenéticos atuam para
mudar a acessibilidade da cromatina para regulação transcricional pelas modificações do DNA e
pela modificação ou rearranjo de nucleossomos. Estes mecanismos são componentes críticos no
desenvolvimento normal e no crescimento das células. A regulação epigenética do gene colabora
com as alterações genéticas do desenvolvimento do câncer. Nesta revisão, examinamos os
princípios básicos dos mecanismos epigenéticos e suas contribuições para o controle do ciclo
celular, assim como as conseqüências clínicas dos erros epigenéticos. Além disso, direcionamos
nossa pesquisa para o uso das vias epigenéticas em ensaios para tratamentos contra o câncer e
para os resultados do Projeto Epigenoma Humano (PEH)

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O termo epigenética origina-se do prefixo grego epi, que significa “acima ou sobre algo”
e estuda as mudanças herdadas nas funções dos genes, observadas na genética, mas que não
alteram as sequências de bases nucleotídicas da molécula de DNA. Os padrões epigenéticos são
sensíveis a modificações ambientais que podem causar mudanças fenotípicas que serão
transmitidas aos descendentes. Segundo Tang e Ho, a epigenética é definida como as mudanças
herdáveis na expressão do gene que não alteram a sequência do DNA, mas que são herdáveis
pela mitose e ao longo das gerações. Feinberg define a epigenética como modificações no
genoma que são herdadas durante a divisão celular e que não estão relacionadas com a mudança
na sequência do DNA.

Existem algumas características que distinguem a epigenética dos mecanismos da


genética convencional: a reversibilidade, os efeitos de posicionamento, a habilidade de agir em
distâncias não esperadas maiores do que um único gene. Existem dois mecanismos principais
envolvidos na epigenética: alterações nas histonas e padrão de metilação do DNA, que envolve
modificações na estrutura das ligações covalentes do DNA. Esses mecanismos atuam
modificando a acessibilidade da cromatina para a regulação da transcrição localmente ou
globalmente, pelas modificações no DNA e pelas modificações ou rearranjos dos nucleossomos.
Além desses principais mediadores epigenéticos, há também a presença de RNAs não
codificadores, que podem atuar interferindo na transcrição de genes.

Esses mecanismos regulam funções celulares cruciais como a estabilidade do


genoma, a inativação do cromossomo X, o imprinting gênico, a reprogramação de genes não

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imprintados, e atuam no desenvolvimento da plasticidade como as exposições a fatores
endógenos ou exógenos durante os períodos críticos, que alteram permanentemente a estrutura
e a função específica de sistemas de órgãos. Os nucleossomos e as histonas são estruturas
associadas ao DNA com a função de organização da cromatina. Tal organização está intimamente
associada à expressão gênica. Mudanças na estrutura da cromatina influenciam a expressão dos
genes, sendo que, estão inativos quando a cromatina está condensada e os genes são expressos
quando a cromatina estiver aberta, ou seja, não condensada.

Esses estados dinâmicos da cromatina são controlados por padrões epigenéticos


reversíveis de metilação do DNA e de modificações das histonas. A metilação do DNA é
indispensável para as funções do genoma dos vertebrados e está relacionada com processos de
regulação gênica, estabilidade cromossômica e imprinting parental. Existe uma forte correlação
entre a cromatina inativa com a metilação do DNA, ou seja, a metilação silencia a expressão dos
genes. Quando o DNA estiver hipometilado, a cromatina estará ativa, permitindo a transcrição dos
genes. Porém, quando o DNA estiver hipermetilado a cromatina estará inativa, impedindo a
expressão dos genes.

Ao contrário do genoma, que é idêntico nos diferentes tipos celulares, o epigenoma é


dinâmico e varia de uma célula para outra, pois, o epigenoma corresponde à cromatina, às
proteínas associadas e aos padrões de modificações covalentes do DNA obtidos pela metilação
e que permitem a organização e manutenção dos programas de expressão dos genes. Nesta
revisão, analisamos os principais mecanismos epigenéticos e o modo como esses atuam na
regulação da expressão dos genes. Verificamos também, como as modificações epigenéticas
atuam na promoção e/ou desencadeamento do câncer. Além disso, descrevemos algumas
terapias que se utilizam do conhecimento da epigenética para o tratamento do câncer. Relatamos
também os avanços nas pesquisas realizadas no estudo do Projeto Epigenoma Humano (PEH).

12.1 Mecanismos epigenéticos

Eventos epigenéticos incluindo a metilação do DNA e as modificações das histonas


apresentam um importante papel para o desenvolvimento normal e são cruciais para estabelecer
a programação correta da expressão dos genes.

12.1.1 Metilação do DNA

Os padrões de metilação são estabelecidos e mantidos nos dinucleotídeos CpG (pares


de Citosina-fosfato-Guanina) por uma família de enzimas, as DNA metiltransferases (DNMTs) que
reconhecem os dinucleotídeos CpG hemimetilados, depois da replicação do DNA.(4) A metilação
do DNA em células humanas é restrita às adições covalentes do grupamento metil na posição 5´
do anel da citosina e também nos dinucleotídeos CpG, em uma porção menor no CpNpG.

As ilhas CpG são localizadas, em sua maioria, nas regiões promotoras de genes e
apresentam tamanho igual ou superior à 200 pares de bases (pb) sendo que há pelo menos 10
vezes mais metilação nessa região do que em outras regiões do genoma com CpG.(9) O processo
de metilação é mediado, ao menos, por três DNA metiltransferase (DNMT1, DNMT3a, DNMT3b),
que catalizam e transferem o grupamento metil da S-adenosyl-L-metionina (doador de metil) para
as bases de citosina ou adenina na molécula de DNA.

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Acredita-se que os padrões de metilação do DNA são relativamente baixos durante o
desenvolvimento da célula e são realizados pelas DNMT3a e DNMT3b, que catalizam a metilação
de novo, principalmente nas ilhas CpG. Esses padrões são mantidos nas células somáticas ao
serem copiados para as células-filhas pela DNMT1, que replica os padrões de metilação de
gerações parentais metiladas para as gerações seguintes ainda não metiladas.

A metilação do DNA interfere na expressão dos genes por meio de mecanismos diretos
e indiretos. Primeiro, a metilação de ilhas CpG presentes nas regiões promotoras dos genes
impede diretamente, através de uma barreira física, o seu reconhecimento pelos fatores de
transcrição, resultando na inativação do gene. Segundo, a metilação ocorre em uma região que
apresenta domínios de ligação para a metilação (MBD), que se localiza ao redor de um sítio de
regulação da transcrição e atrai de forma indireta as proteínas de domínio de ligação de metilação,
como as MeCp2, que recrutam correpressores e desacetilases de histonas (HDACs) inativando a
configuração da cromatina ao redor do gene, desligando-o.

As ilhas CpG são alvos de proteínas que se combinam com os CpG não metilados e
iniciam a transcrição do gene. Tipicamente as regiões não metiladas dos pares CpG são
localizadas em genes de tecido-específico e em genes essenciais, como os de manutenção, que
estão envolvidos na preservação da rotina celular e são expressos na maioria dos tecidos. Em
contraste, as regiões CpG metiladas são geralmente associadas ao DNA silencioso, pois
apresentam as regiões MBD, que podem bloquear as proteínas sensíveis à metilação.

A metilação do DNA também é controlada pela cromatina, através de uma interação


bi-direcional entre ambas. Os mecanismos epigenéticos atuam na mudança da acessibilidade da
cromatina para a regulação da transcrição local e globalmente, através de modificações na
molécula de DNA, via metilação, e também através das modificações ou rearranjos dos
nucleossomos. O DNA hipometilado está associado com a cromatina ativa, acetilada e o DNA
hipermetilado é associado com a cromatina inativa, isto é, hipoacetilada.

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12.1.2 Modificações nas histonas

O DNA nuclear encontra-se associado às proteínas histonas. Ambos encontram-se


sob a forma da estrutura básica de condensação do DNA, o nucleossomo. Este é a unidade básica
da cromatina e é composto por dois complexos idênticos, cada um constituído de 4 proteínas
histonas, que formam um octâmero. As proteínas histonas presentes em cada nucleossomo são:
a H2A, H2B, H3 e H4. Duas voltas da molécula de DNA incorporam-se a esta estrutura, que tem
também a proteína histona H1 associada ao DNA, contribuindo para sua condensação. As
modificações das histonas regulam as funções da cromatina alterando a acessibilidade do DNA
aos diferentes fatores que atuam em trans, como as enzimas de transcrição, ou pelo recrutamento
de proteínas específicas que reconhecem as modificações ocorridas nas histonas. Acredita-se que
a acetilação das histonas H3 e H4 nas caudas N-terminais seja um sinal predominante para a
ativação da cromatina, aumentando a acessibilidade da maquinaria de transcrição. Esse sinal é
removido pela ação das desacetilases de histonas (HDAC), que promovem a condensação da
cromatina.

Considerações
A epigenética desponta como uma nova fronteira a ser alcançada e transposta no
cenário médico-científico. A compreensão dos mecanismos envolvidos no silenciamento e
ativação de genes, além daqueles conhecidos pela genética molecular, permite a criação de
modelos para tratamento de doenças como o câncer. Sob esse aspecto, este trabalho possibilitou
uma análise criteriosa dos mecanismos epigenéticos, dos padrões de metilação usuais do genoma
e forneceu informações importantes sobre essa nova face da Genética, que é a epigenética. O
estudo de revisão permitiu reconhecer a complexidade dessa nova área da Genética, que
recentemente vem despontando como uma forma de terapia mais eficiente e menos agressiva
para o tratamento do câncer, principalmente. Além disso, permitiu vislumbrar uma nova área de
aplicação dos conhecimentos da epigenética no que se refere ao câncer: o diagnóstico e o
acompanhamento clínico da doença, por ensaios que identifiquem o grau de metilação de genes
relacionados com o desenvolvimento e progressão do câncer.

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Nossas considerações
A genética é um ramo que sempre estará em alta na ciência. Não há como dizer que se
descobriu tudo ou que a ciência está chegando próximo ao fim de ser desvendada.
Caro colega, imagina a dimensão do genoma humano. Conseguiu? É impossível
imaginar? É impossível descrever? Não sabemos, mas o que sabemos é que sempre haverá o que
se descobrir. Nosso genoma é “complexo como o universo”, será?
Essa apostila carrega uma pequena parcela dessa ciência, tudo foi selecionado para
você, que assim como nós, admiramos a genética e suas ramificações. A referência de todo esse
trabalho veio do Site Khan Academy. Amamos esse site, muitas coisas aprendemos por meio dele
mas é claro, tudo acompanhado de um bom livro e artigos científicos! Não se esqueça, nossos
estudos jamais podem se basear em apenas um lugar, sempre devemos buscar outras fontes e de
preferência, fontes atualizadas e científicas. Essa apostila aqui é apenas um resumo e um caminho
a se seguir. Estude por ele e por outras referências!
Concluindo, para chegarmos até aqui, muitas décadas de estudos se passaram e grandes
pesquisadores se empenharam em prol dessa ciência: a genética.
Sim, vocês podem pensar que eu devo estar exagerando. Mas quando se trata de
genética eu costumo pensar de precisamos de amor, ciência na veia e, principalmente,
IMAGINAÇÃO!
Deixo com vocês aqui, a mensagem de Fiodor Dostoiévski, “Não há assunto tão velho
que não possa ser dito algo de novo sobre ele”. Essa citação define tudo né?
Desejamos sucesso para todos vocês e principalmente você, que chegou até aqui!

Palavra das administradoras da página


@biomedicina_descomplicada

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