Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
à Farmácia
Lesão e Adaptação Celular
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Lesão e Adaptação Celular
OBJETIVO
DE APRENDIZADO
• Apresentar os conceitos básicos em patologia, permitindo a compreensão dos mecanismos
gerais de adaptação, lesão e morte celular frente a distintos agentes de agressão.
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
Este importante ramo da biologia e da medicina vem a ser o estudo das doenças,
sendo classicamente dividido em Patologia Geral e Patologia Especial ou Sistêmica.
A primeira se refere ao estudo dos mecanismos básicos e gerais de doença (por
exemplo, o estudo do processo inflamatório ou do processo de formação dos tumo-
res), enquanto a segunda se relaciona ao estudo das distintas doenças descritas nos
diferentes sistemas corporais (por exemplo, a neuropatologia irá relacionar os tipos
de tumores, os tipos de resposta inflamatória, os tipos de distúrbios circulatórios
ligados ao sistema nervoso etc.).
Nesse sentido, é fundamental definirmos o que vem a ser doença. Para tal, é
necessário revermos um conceito fundamental da Fisiologia, usado pela primeira
vez pelo médico francês Claude Bernard no século 19 – o conceito de homeostasia.
Vamos começar?
8
Importante!
A doença seria exatamente o estado de ruptura da homeostasia. É importante salien-
tar que, muitas vezes, o termo homeostasia é erroneamente utilizado como sinônimo
de equilíbrio, o que não é correto, já que, por exemplo, nossa temperatura corporal não
está equilibrada com a temperatura ambiental, mas sim constante. Além disso, o termo
patologia igualmente pode ser utilizado de forma incorreta como sinônimo de doença.
Vale lembrar que Patologia não é a doença em si e sim o ramo da ciência que, envol-
vendo a morfologia, a bioquímica, a citologia, a genética, a fisiologia e outros ramos do
conhecimento, irá estudar as doenças em seus múltiplos aspectos.
Toda e qualquer célula do corpo, ao executar as funções que lhe cabem, contribui
para a homeostasia e, dessa forma, todas as trilhões de células que compõem o corpo
humano acabam se beneficiando da mesma, uma vez que a estabilidade corporal é
condição necessária para o estado de saúde do organismo.
9
9
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
A lesão hipóxica representa talvez o modelo de lesão mais estudado, uma vez que
seu estudo foi facilmente realizado no passado pela interferência no fornecimento
de sangue a tecidos de animais experimentais. Essa falta de fornecimento sanguíneo
para um tecido é conhecida como isquemia.
Degenerações
São definidas como lesões reversíveis secundárias as alterações bioquímicas que
resultam em acúmulos de substâncias no meio intracelular. São agrupadas segundo
o tipo de substância que se acumula, como você pode ver a seguir:
• Degeneração hidrópica: o tipo mais comum de lesão não letal e caracteri-
zada pelo acúmulo de água e eletrólitos no interior da célula, resultando em
tumefação celular;
• Degeneração hialina: que cursa com acúmulo de material proteico e acidófilo
na célula;
• Degeneração mucoide: com acúmulo de glicoproteínas (mucina);
10
• Degeneração gordurosa (esteatose): que apresenta acúmulo de lipídios sob
forma de monoglicerídios, diglicerídios ou triglicerídios no citoplasma de células
que normalmente não os armazenam. Ocorre sempre que um agente interfere
no metabolismo de ácidos graxos na célula, aumentando sua captação ou sín-
tese ou prejudicando sua utilização e excreção. O etanol, por exemplo, é a
causa mais conhecida de esteatose hepática. Na Figura 1, você pode observar
os aspectos macroscópicos (aumento de tamanho do órgão, abaulamento dos
bordos e coloração amarelada) e microscópicos (vacuolização dos hepatócitos
com deslocamento dos núcleos celulares para a periferia) da esteatose hepática.
Lesão Irreversível
Não se sabe ao certo o momento em que uma lesão reversível seria convertida a
irreversível. O chamado “ponto de não retorno” pode ser atribuído a diversos eventos:
(1) a lesão e possível ruptura de membrana, que potencializaria o influxo de íons em
maior concentração no meio extracelular (como sódio e cálcio); (2) a desestabilização
da membrana dos lisossomos pela acidose, com consequente liberação de suas enzi-
mas lisossômicas e início do processo de autodigestão (autólise); (3) o influxo de cálcio
com ativação de enzimas intracelulares e comprometimento da função mitocondrial.
À microscopia de luz, pode-se, então, perceber que, além de estar inchada ou
tumefeita, a célula apresenta diminuição de sua afinidade de coloração a corantes
básicos (basofilia), pela diminuição das ribonucleoproteínas celulares. Torna-se, por-
tanto, mais acidófila.
Em cortes histológicos corados pela técnica de hematoxilina-eosina (HE), a mais
comumente empregada para estudos histopatológicos, a hematoxilina (roxa) constitui
o corante básico e a eosina (rosa), o corante ácido. Dessa forma, estruturas celulares
com afinidade pelo corante ácido (estruturas acidofílicas) tendem a se corar de rosa,
como é o caso do citoplasma, enquanto aquelas com afinidade pelo corante básico
(basofílicas), como o núcleo, se coram de roxo. Na Figura 2, você pode observar esta
técnica de coloração aplicada num bronquíolo pulmonar.
11
11
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
Com parede constituída por epitélio simples colunar ciliado e camada de mús-
culo liso, tendo ao redor alvéolos pulmonares. Coloração hematoxilina-eosina.
Magnificação 100x.
A partir do momento em que a célula não pode mais retornar à sua condição
primitiva de manutenção do metabolismo normal, sua sobrevivência está irrever-
sivelmente comprometida e a morte celular torna-se o único fim. A ruptura celular
promove a seguir o extravasamento de enzimas lisossômicas e a saída de macromo-
léculas para o meio extracelular, podendo atingir células vizinhas e causar início de
lesão sobre as mesmas (processo de heterólise). Alterações nucleares decorrentes da
degradação do DNA aparecem sob 3 padrões que se sucedem à medida que a lesão
irreversível evolui: picnose (retração nuclear e condensação da cromatina); cariorrexe
(fragmentação nuclear); cariólise (dissolução nuclear por ação de DNAses).
Outras formas de agressão celular incluem agentes infecciosos (como vírus), quí-
micos (como toxinas), físicos (como radiação, trauma mecânico, calor), excessos ou
deficiências nutricionais, defeitos genéticos ou metabólicos, produtos da resposta
imunológica, dentre vários outros. Nesse caso, os mecanismos de indução do pro-
cesso de lesão podem variar.
Em tecidos submetidos a um menor fornecimento de sangue por longos períodos
de tempo e cujas células já se adaptaram a um menor consumo de oxigênio, o rápido
restabelecimento do fluxo sanguíneo pode representar a causa definitiva da morte
celular durante tentativas de normalização da irrigação tecidual. Isto ocorreria pelo
súbito aumento do oxigênio no local e formação de espécies reativas de oxigênio (ou
radicais livres de oxigênio). Este tipo de lesão ficou conhecido como lesão de reperfu-
são e pode ser considerado como uma forma de lesão induzida por agentes químicos.
Classicamente, radicais livres são definidos como espécies químicas que possuem
elétron não pareado em seu orbital mais externo e, por conta disso, tornam-se ins-
táveis e altamente reativas, reagindo com biomoléculas como proteínas, lipídios e
ácidos nucleicos.
Drogas antineoplásicas, como a doxorrubicina, geram também espécies reativas
de oxigênio, que causam lesão significativa em vários tipos celulares, como fibras
cardíacas, hepatócitos, células tubulares renais e neurônios.
12
Os principais eventos bioquímicos que ocorrem no decorrer da lesão hipóxica em
seus estágios de reversibilidade e irreversibilidade estão sumarizados na Figura 3.
LESÃO REVERSÍVEL
Isquemia
Mitocôndrias
Fosforilação
oxidativa
Efluxo de K+
Glicólise
Ácido láctico
pH
Glicogênio
Condensação da
cromatina nuclear
Ponto de não retorno
LESÃO IRREVERSÍVEL
(morte celular)
Lesão da
membrana
Influxo de Ca++
Liberação intracelular
de enzimas lisossômicas Saída de
enzimas
Ca++ nas
Autólise mitocôndrias
Basofilia
Alterações nucleares Lesão motocondrial
Digestão de proteínas
13
13
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
Morte Celular
Conforme acabamos de ver, a lesão irreversível evolui para a morte celular. Esta
pode ocorrer de duas formas morfologicamente e funcionalmente distintas – a necrose
e a apoptose. Vamos dar início ao estudo destes importantes conceitos em Patologia.
A chamada necrose gordurosa ocorre em áreas nas quais existe ação de lipases,
digerindo triglicerídios em ácidos graxos livres e glicerol. Aparece quando há, por
exemplo, liberação de lipases pancreáticas sobre o tecido adiposo ao redor do pân-
creas e na própria cavidade peritoneal. Os ácidos graxos resultantes se combinam
com cálcio, formando sabões insolúveis de cálcio, que se apresentam como depósitos
amorfos basofílicos. Macroscopicamente, tais áreas de necrose gordurosa se apresen-
tam como áreas brancas opacas. Microscopicamente, contêm adipócitos necróticos
e depósitos basofílicos de cálcio, envolvidos por leucócitos da reação inflamatória.
14
Com exceção da necrose de liquefação, é comum que os restos celulares dos outros
tipos de necrose tendam a atrair sais de cálcio, criando também depósitos de cálcio.
Tal processo é chamado de calcificação distrófica (calcificação sobre tecido necró-
tico) e deve ser diferenciado da calcificação metastática, que é aquela que ocorre de
forma disseminada sobre tecidos saudáveis em situações de hipercalcemia, como,
por exemplo, em situação de hiperparatireoidismo primário com secreção exagerada
de paratormônio (PTH). Este hormônio em excesso atuaria, então, removendo de for-
ma patológica e continuada o cálcio armazenado nos ossos e jogando-o na corrente
sanguínea, daí a hipercalcemia resultante.
Apoptose
Um padrão completamente distinto de morte celular é a apoptose, na qual ocorre
a retração celular, a condensação da cromatina, a fragmentação celular com geração
de corpos apoptóticos, os quais acabam por serem fagocitados. A Figura 4 ilustra
estes principais eventos.
Apoptose
Célula inicia Formação das Bolhas
Apoptose
Núcleo
Condensado Bolhas
Corpos Apoptóticos
Partição do
Citoplasma e
Núcleo em
Fagocitose
Corpos Apoptóticos
Figura 4 – Principais eventos celulares envolvidos no processo de apoptose
Fonte: Adaptado de Getty Images
15
15
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
Tabela 1
Característica Necrose Apoptose
Estímulo desencadeante Patológico Fisiológico ou patológico
Ocorrência Grupos de células Células individuais
Alteração de volume celular Tumefação Encolhimento
• Depleção de ATP;
• Ativação de caspases e fragmentação
• Lesão de membrana;
Mecanismos envolvidos • Extravasamento de enzimas lisossômicas.
nuclear e celular;
• Sem autólise e consome ATP.
• Com autólise.
Indução de resposta
Sim Não
inflamatória
Adaptações Celulares do
Crescimento e Diferenciação
Conforme anteriormente mencionado, as células podem, diante de situações de
estresse ou frente a estímulos patológicos, sofrer adaptações morfológicas e funcio-
nais que permitam a manutenção da homeostasia sem entrarem no processo de lesão.
Algumas dessas adaptações envolvem mudanças de tamanho, de número e de
diferenciação das células.
As mais importantes são:
• Hiperplasia: que vem a ser o aumento do número de células em tecidos ou
órgãos, consequentemente ocasionando aumento de volume dos mesmos. Pode
16
ser fisiológica, decorrente de hormônios, como a progesterona, que promove
o crescimento uterino, ou como forma de compensação, tal como se observa
após hepatectomia parcial (retirada parcial de partes do fígado). Pode também
ocorrer de forma patológica diante da secreção hormonal excessiva e como
acontece frente a algumas infecções virais, como as por papilomavírus, que
acabam causando a formação de verrugas cutâneas (papilomas).
Obviamente, o fenômeno da hiperplasia pode ocorrer apenas em células que
se dividem continuamente, como as células lábeis (por exemplo, as células dos
epitélios de revestimento), ou quando devidamente estimuladas, como as células
estáveis (por exemplo, fibroblastos, condroblastos, osteoblastos etc.). Em células
sem capacidade mitótica após o nascimento, tais como as fibras musculares
esqueléticas e cardíacas, pode ocorrer apenas a hipertrofia;
• Hipertrofia: que designa o aumento de tamanho das células, causando, dessa
forma, o aumento de tamanho do órgão no qual o processo está se desenvol-
vendo. Pode igualmente ser fisiológica ou patológica, resultando do aumento de
demandas funcionais, como, por exemplo, sobre fibras musculares esqueléticas
constantemente estimuladas em atividades físicas com cargas crescentes, ou
também por estimulação hormonal. Distintos hormônios podem induzir hiper-
trofia, como é o caso do hormônio adeno-hipofisário GH (growth hormone
ou hormônio do crescimento) e do IGF-1 (insulin-like growth factor ou fator de
crescimento semelhante à insulina), produzido no fígado, sendo ambos capazes
de promover o anabolismo proteico (síntese proteica) e levar ao aumento do
tamanho e da quantidade das miofibrilas nas fibras musculares esqueléticas,
com subsequente aumento de volume celular;
• Atrofia: que constitui a diminuição do tamanho das células, com isso ocasio-
nando redução de volume do tecido ou órgão.
A atrofia pode ser fisiológica ou patológica, ocorrendo em situações como desu-
so muscular ou ósseo, perda de inervação sobre músculos, diminuição de fluxo
sanguíneo a um tecido, falta de estimulação hormonal, envelhecimento, desnu-
trição proteico-calórica etc.
Embora as células atróficas estejam com tamanho e função diminuídos, per-
manecem viáveis. No entanto, muitos dos sinais que conduzem ao processo de
atrofia podem induzir a ocorrência de apoptose. Isto se encontra, por exemplo,
na regressão de glândulas endócrinas após retirada dos estímulos hormonais
(como na atrofia testicular e ovariana após perda da ação das gonadotrofinas
hipofisárias FSH [hormônio folículo-estimulante] e LH [hormônio luteinizante],
que desempenhariam funções tróficas sobre as gônadas masculina e feminina;
• Metaplasia: que designa a substituição de um tipo celular adulto (epitelial ou me-
senquimal) por outro, em geral mais capacitado a suportar estímulos adversos.
Um exemplo é a metaplasia epitelial de colunar para escamosa, na qual o epitélio
caracterizado como simples colunar se transforma em estratificado pavimentoso,
tal como ocorre na traqueia e nos brônquios de indivíduos fumantes.
Outro exemplo é a transformação inversa do epitélio estratificado escamoso
típico do esôfago para um epitélio do tipo colunar, como ocorre em indivíduos
17
17
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
Acúmulos Intracelulares
Daremos início agora ao estudo dos transtornos metabólicos celulares que levam
ao acúmulo excessivo de várias substâncias. Tais substâncias se dividem em três
principais categorias: (1) algum constituinte celular normal que se acumula em exces-
so, como, por exemplo, água, diferentes proteínas, lipídios e carboidratos; (2) uma
substância anormal, podendo ser exógena, como o acúmulo de partículas de carbo-
no; (3) um pigmento, que pode se acumular de maneira transitória ou permanente,
podendo ser inofensivo ou extremamente tóxico para as células.
• Lipídios: todas as classes de lipídios podem se acumular nas células - triglicerí-
deos, colesterol e fosfolipídios. Neste módulo, daremos atenção aos acúmulos de
triglicerídeos e colesterol.
A esteatose, como vimos anteriormente, refere-se ao acúmulo anormal de trigli-
cerídeos dentro das células. Com frequência, tal acúmulo é encontrado no fígado,
devido ao fato de este órgão ser o grande responsável pelo metabolismo lipídico,
embora possa também ser encontrado no coração, nos músculos e nos rins. Várias
são as causas que levam à esteatose, incluindo a presença de toxinas, a desnutrição
proteica e o etilismo, a causa mais comumente conhecida de esteatose hepática.
Frequentemente, o órgão acometido se apresenta à macroscopia com aumento de
tamanho, untuoso, mole e de coloração amarelo-brilhante, podendo haver, em se
tratando do fígado, o abaulamento dos bordos hepáticos. À microscopia de luz, as
células parenquimatosas, que possuem acúmulo anormal de triglicerídeos, apresen-
tam-se com pequenos vacúolos em seu citoplasma e o núcleo pode estar deslocado
para a periferia. A Figura 5 ilustra tais alterações.
18
• Colesterol: os acúmulos intracelulares de colesterol são observados em diversos
processos patológicos. Dentre os principais, podemos citar:
» aterosclerose: que leva à formação da placa aterosclerótica. Nela, as células
musculares lisas e os macrófagos presentes na túnica íntima da aorta e das
grandes artérias estão repletos de vacúolos lipídicos, em sua maioria compos-
tos por colesterol e ésteres de colesterol;
» xantomas: que consistem em aglomerados de células espumosas (com va-
cúolos de colesterol) no tecido conjuntivo subepitelial da pele e dos tendões,
levando à formação de massas tumorais benignas.
• Proteínas: o excesso de proteínas dentro das células pode ter várias causas.
Dentre as mais comuns, podemos citar a proteinúria decorrente de doença renal.
Nos distúrbios com grande extravasamento proteico através da filtração glome-
rular, há um aumento da reabsorção das proteínas filtradas pelas células tubula-
res renais. Pode também ser decorrente da síntese excessiva de proteínas, como
ocorre em alguns plasmócitos que fazem a síntese de imunoglobulinas. O retículo
endoplasmático torna-se imensamente distendido e produz grandes inclusões eo-
sinofílicas homogêneas, denominadas de corpúsculos de Russel. Podemos citar,
por fim, a agregação de proteínas causadas por envelhecimento, mutações ge-
néticas ou fatores ambientais desconhecidos. Sabe-se que o acúmulo excessivo de
proteínas intracelulares é uma característica presente em várias doenças neurode-
generativas, como as doenças de Alzheimer, de Huntington ou de Parkinson;
• Glicogênio: o depósito intracelular excessivo de glicogênio pode ser visto em
pacientes com uma anormalidade no metabolismo da glicose ou do glicogênio.
O diabetes mellitus é o principal exemplo de como o glicogênio pode se acu-
mular nas células epiteliais dos túbulos renais, nos hepatócitos, nas células pan-
creáticas ou do miocárdio;
• Pigmentos: substâncias coradas, sendo algumas constituintes normais da cé-
lula, como a melanina, outras produzidas em circunstâncias especiais. Alguns
podem ser exógenos, como é o caso das partículas de carvão inaladas e que se
acumulam no interior dos macrófagos alveolares. O acúmulo de tais partículas
faz com que os pulmões e os linfonodos próximos fiquem enegrecidos, gerando
o estado patológico chamado de antracose, que ocorre, por exemplo, nos tra-
balhadores de minas de carvão e pode levar à proliferação de tecido conjuntivo
fibroso (fibrose) do parênquima pulmonar. Outros tipos de pigmentos exógenos
incluem os pigmentos introduzidos na pele durante o processo de tatuagem,
sendo fagocitados por macrófagos cutâneos;
Dentre os pigmentos exógenos, pode-se citar como exemplos a lipofuscina, a
melanina, a hemossiderina e os pigmentos biliares:
» A lipofuscina ou pigmento do “uso e desgaste” é um pigmento insolúvel amar-
ronzado, constituído por polímeros de lipídios e de fosfolipídios complexados a
proteínas, provavelmente derivado do processo de peroxidação lipídica induzi-
do por espécies reativas de oxigênio (radicais livres de O2). Apesar de não ser
nociva à célula, a lipofuscina serve como alarme de lesão por radicais livres,
19
19
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
20
80% com o ácido glicurônico, formando glicuroneto de bilirrubina; 10% com sulfatos,
gerando sulfato de bilirrubina; e 10% com substâncias diversas. Todas essas formas
de bilirrubina são chamadas coletivamente de bilirrubina conjugada ou direta e são
excretadas pelos hepatócitos junto com a bile. Durante o trajeto da bile até o duodeno,
parte da bilirrubina conjugada é reabsorvida pela mucosa altamente vascularizada dos
ductos biliares e do ducto colédoco, indo para a corrente sanguínea.
A maior parte da bilirrubina conjugada, porém, chega no duodeno junto com a bile
e sofre ação das bactérias intestinais, formando um novo pigmento biliar, chamado de
urobilinogênio. Pequena parte do urobilinogênio intestinal é reabsorvido pela mucosa
do duodeno, indo também para a corrente sanguínea.
21
21
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
Em Síntese
Nesta unidade, tratamos dos conceitos de saúde e doença, adaptações celulares de cres-
cimento e diferenciação, lesões reversíveis e irreversíveis, degenerações e tipos de morte
celular (necrose e apoptose), bem como de acúmulos intracelulares e pigmentações. Estes
importantes conteúdos permitirão a compreensão dos próximos tópicos em Patologia.
22
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Departamento de Patologia Geral– Banco de imagens
Este banco de imagens tem por objetivo facilitar o estudo pelos alunos, das
disciplinas de graduação e de pós-graduação do Departamento de Patologia Geral.
Ele contém microscopias e macroscopias do Museu de Patologia. Utilize-o como
ferramenta de aprendizado sempre que precisar.
https://bit.ly/2zOPA1N
Leitura
Esteatose hemática e estilo de vida ativo: revisão de literatura
https://bit.ly/3cMYeMK
Subependimoma. 1. Macro, HE, colorações especiais
https://bit.ly/2TihPwA
Necrose
https://bit.ly/2LHuk0B
23
23
UNIDADE Lesão e Adaptação Celular
Referências
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo – Patologia Geral. 6ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2018.
KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.; ASTER, J. C. Robbins & Cotran –
Patologia: bases patológicas das doenças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
24