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Adaptação

Celular
RESPOSTAS
INTRODUÇÃO CELULARES AO ESTRESSE E AOS
Patologia se dedica ao estudo das alterações ESTÍMULOS NOCIVOS
estruturais, bioquímicas e funcionais em células,
A célula normal está limitada, em suas funções e
tecidos e órgãos que constituem a base das doenças.
estrutura, a uma faixa de variação bastante estreita
Por meio do uso de técnicas moleculares,
devido ao seu estado de metabolismo, diferenciação e
microbiológicas e morfológicas, a patologia tenta
especialização; por restrições pelas células vizinhas; e
explicar os porquês e as causas dos sinais e sintomas
pela disponibilidade de substratos metabólicos. No
manifestados pelos pacientes, fornecendo, portanto,
entanto, ela é capaz de dar conta das demandas
uma base racional para a terapêutica e os cuidados
fisiológicas, mantendo um estado de equilíbrio
clínicos. Assim, ela fornece uma ponte entre as
chamado homeostase.
ciências básicas e a medicina clínica e é a base
científica de toda a medicina. As adaptações são respostas fisiológicas ou funcionais
(função da célula) e reversíveis as alterações
A patologia se divide em geral e sistêmica, onde na
fisiológicas ou patológicas impostas a ela, assim, com
geral se dedica as reações semelhantes em ambos os
a adaptação a células alcança um novo equilíbrio
tecidos, como uma inflamação aguda; na patologia
(homeostase) permitindo sua sobrevivência e
sistêmica a dedicação se dá de forma específica,
atividade funcional.
examinando as alterações e os mecanismos
subjacentes das doenças específicas de determinado Existem 4 tipos de respostas adaptativas:
órgão, como a doença cardíaca isquêmica.
 HIPERTROFIA, aumento do tamanho e
Há 4 aspectos do processo doença, em patologia. São atividade metabólica das células;
eles: (1) Etiologia, que define os fatores que causam a  HIPERPLASIA, aumento do número de células;
doença, seja ele genético (mutações hereditárias e  ATROFIA, diminuição do tamanho e
variantes genéticas associadas a doenças ou metabólica;
polimorfismos) ou adquirido (doenças infecciosas,  METAPLASIA, mudança de fenótipo da célula.
nutricionais, por agentes químicos ou físicos), algumas
doenças podem se derivar de ambos, como a Quando o estímulo é eliminado, a célula pode
aterosclerose; a (2) Patogenia, se dedica aos eventos retornar ao seu estado original sem ter sofrido
que ocorrem no processo, sendo celulares, qualquer consequência danosa.
bioquímicos e moleculares decorrentes da exposição a
células ou tecidos a um agente lesivo; (3) Alterações
morfológicas, que consistem nas alterações Se os limites das respostas adaptativas forem
estruturais nas células ou tecidos, que são excedidos ou se as células forem expostas a agentes
características de uma doença ou diagnóstico de um ou estímulos nocivos, privadas de nutrientes
processo etiológico; (4) Perturbações funcionais e essenciais, ou ficarem comprometidas por mutações
manifestações clínicas, são os sinais e sintomas que a que afetem constituintes celulares essenciais, ocorre
doença causa, bem como sua progressão. uma sequência de eventos denominada lesão celular.
A lesão celular é reversível até certo ponto, mas se o
estímulo persistir ou for intenso o suficiente desde o
início, a célula sofre lesão irreversível e, finalmente,
ocorre morte celular.
Adaptações são alterações reversíveis no tamanho, 2ª:
número, fenótipo, atividade metabólica ou funções
das células, em resposta a modificações em seu meio Sensores mecânicos, fatores de crescimento e agentes
ambiente. Tais adaptações podem assumir várias vasoativo originam sinais na membrana plasmática
formas distintas. (MP) que são traduzidos por duas vias de sinalização
bioquímicas envolvidas na hipertrofia:
HIPERTROFIA
 FOSFOINOISITÍDIO 3-CINASE (PI3K)/AKT 
A hipertrofia consiste no aumento do tamanho das Envolvida na hipertrofia fisiológica, pelo exercício
células sem aumento do número de células, devido físico;
ao aumento da demanda metabólica e à síntese e à  PROTEÍNA G LIGADA A RECEPTORES  Envolvida
incorporação de novos componentes estruturais na indução por fatores de crescimento e agentes
intracelulares. vasoativos.
Há a hipertrofia fisiológica e patológica, causada por
3ª:
aumento da demanda funcional ou por estimulação
de hormônios e fatores de crescimento. Geralmente a Essas vias de sinalização ativam os fatores de
causa da hipertrofia se dá pelo aumento da demanda transcrição:
metabólica, como nos músculos e coração, ocorrendo
um aumento da síntese proteica e do número de  GATA4, fator nuclear de células T ativadas (NFAT);
miofilamentos, o que aumenta a força dessas células  Fator estimulador do miócito 2 (MEF2).
(miócitos). Ainda, pode-se ter hipertrofia por Esses fatores juntos aumentam a síntese de proteínas
hormônios, é o caso do útero gravídico, pela indução musculares responsáveis pela hipertrofia.
do estrogênio que agem nos receptores de estrogênio
no músculo liso. A hipertrofia pode também estar associada com uma
troca de proteínas contráteis do tipo adultas para uma
 MECANISMOS DE HIPERTROFIA forma fetal ou neonatal. Por exemplo, durante a
Hipertrofia é o resultado do aumento na produção das hipertrofia muscular, a isoforma α da cadeia pesada
proteínas celulares, e há três etapas básicas em sua da miosina é substituída pela isoforma β, a qual
patogenia: promove uma contração mais lenta e
energeticamente mais econômica. Além disso, alguns
1ª: genes, que são expressos apenas durante o
desenvolvimento inicial, são reexpressos em células
 Ações integradas de sensores mecânicos hipertróficas, e os produtos desses genes participam
(aumento da carga de trabalho – exercício, na resposta celular ao estresse. Por exemplo, o gene
hipertensão); FISIOLÓGICO para o fator natriurético atrial é expresso tanto no
 Fatores de crescimento (TGF-B, IGF-1, fator de átrio quanto no ventrículo do coração embrionário,
crescimento fibroblástico); PATOLÓGICO mas reduz sua expressão após o nascimento. A
 Agentes vasoativos (agonistas a-adrenérgicos, hipertrofia cardíaca está associada com o aumento da
endotelina-1, angiotensina II). PATOLÓGICO expressão do gene do fator natriurético atrial. O fator
Sensores mecânicos induzem a produção de fatores natriurético atrial é um hormônio peptídico que
de crescimento e agonistas promove excreção de sal pelo rim, diminui o volume e
a pressão sanguínea e, em consequência, reduz a
carga hemodinâmica.

Seja qual for a causa exata e o mecanismo da


hipertrofia cardíaca, ela finalmente alcança um limite
no momento em que o aumento da massa muscular
deixa de ser capaz de compensar a sobrecarga.
comprometida, devido a lesões celulares como em
algumas formas de hepatite, os hepatócitos podem,
HIPERPLASIA alternativamente, regenerar-se a partir de células-
A hiperplasia é o aumento do número de células em tronco intra-hepáticas.
um tecido ou órgão devido a um estímulo. Pode
ATROFIA
ocorrer concomitantemente a hipertrofia. Também
existe hipertrofia fisiológica e patológica. Atrofia é definida como a redução do tamanho de um
órgão ou tecido que resulta da diminuição do
 HIPERTROFIA FISIOLÓGICA
tamanho e do número de células.
A hiperplasia fisiológica devido à ação de hormônios
Existem tanto atrofia fisiológica como patológica. A
ou fatores do crescimento ocorre em várias
atrofia fisiológica é comum durante o
circunstâncias: quando há necessidade de aumentar a
desenvolvimento normal (embrionário), com a atrofia
capacidade funcional dos órgãos hormônio-sensíveis;
da notocorda e do ducto tireoglosso, como também é
quando há necessidade de aumento compensatório
normal a atrofia do útero após o parto.
após lesão ou ressecção. A hiperplasia funcional pode
ser exemplificada pelo aumento das mamas (epitélio Já a atrofia patológica possui várias causas, podendo
glandular) por hormônios durante a puberdade e a ser local ou generalizada:
gravidez; enquanto a hiperplasia compensatória
pensa-se na regeneração hepática, quando é extraído  Redução da carga de trabalho: esse tipo de
um lobo do fígado e as células hepáticas sofrem atrofia pode ser originada quando um osso é
hiperplasia até que o tamanho original do órgão seja imobilizado por conta de uma fratura ou quando
reestabelecido. um paciente fica restrito ao leite, atrofiando os
músculos esqueléticos. Inicialmente, a redução no
 HIPERPLASIA PATOLÓGICA tamanho celular é reversível quando a atividade
motora é restaurada. Com o desuso mais
A maioria das formas de hiperplasia patológica é
prolongado, as fibras musculares esqueléticas
causada pela ação excessiva ou inapropriada de
diminuem em número (devido à apoptose), bem
hormônios ou fatores de crescimento sobre suas
como em tamanho; essa atrofia pode ser
células-alvo.
acompanhada por aumento da reabsorção óssea,
Exemplos de hiperplasia patológica são hiperplasia levando à osteoporose por desuso.
endometrial, que ocorre normalmente durante o ciclo  Perda da inervação: O metabolismo e função
menstrual, mas pode ser desregulada com aumento normais do músculo esquelético dependem de
de estrogênio, causando aumento do endométrio e sua inervação. Uma lesão dos nervos leva à atrofia
sangramento menstrual anormal; outro exemplo é a das fibras musculares por eles inervadas.
hiperplasia nodular prostática, em resposta ao  Diminuição do suprimento sanguíneo: ou
estímulo hormonal androgênico (androgênio). Essas isquemia, que ocorre por conta a doença oclusiva
hiperplasias são anormais, porém, seguem arterial resulta na atrofia do tecido; ou por conta
controladas por mecanismos de controle; no câncer, da aterosclerose, resultando na atrofia do
os mecanismos de controle se tornam ineficientes cérebro.
por conta de anormalidades genéticas existentes,  Nutrição inadequada: O marasmo, desnutrição
assim, gerando um crescimento descontrolado proteico-calórica profunda usa as proteínas do
(proliferação incontrolável). músculo como fonte de energia, após o
esgotamento de outras reservas de energia, o que
 MECANISMOS DA HIPERPLASIA
resulta em consumo do músculo.
A hiperplasia é a proliferação de células maduras  Perda da estimulação endócrina: Muitos tecidos
induzida por fatores de crescimento, e em alguns que respondem a hormônios, como a mama e os
casos o aumento ocorre pelo surgimento de novas órgãos reprodutores, dependem da estimulação
células a partir de células-tronco teciduais; como na endócrina para sua função e metabolismo
hepatectomia parcial, onde são produzidos no fígado normais. A perda da estimulação estrogênica após
fatores de crescimento que se ligam a receptores nas a menopausa resulta em atrofia fisiológica do
células remanescentes e ativam vias de sinalização endométrio, epitélio vaginal e mama.
que estimulam a proliferação celular. Entretanto, se a  Compressão: A compressão tecidual por um certo
capacidade proliferativa das células do fígado estiver período de tempo pode causar atrofia. Um tumor
benigno em crescimento pode causar atrofia nos não desejada. Além disso, as influências que
tecidos normais circundantes. A atrofia nesse caso predispõem à metaplasia, se persistentes, podem
é, provavelmente, o resultado de alterações iniciar a transformação maligna no epitélio
isquêmicas causadas por comprometimento do metaplásico. Assim, um tipo comum de câncer no
suprimento sanguíneo devido à pressão exercida trato respiratório é composto por células escamosas,
pela massa em expansão. que podem surgir nas áreas onde o epitélio colunar
 MECANISMOS DA ATROFIA normal foi substituído pelo epitélio escamoso.

A atrofia resulta da diminuição da síntese proteica e A metaplasia do tipo escamoso para colunar também
do aumento da degradação das proteínas nas células. pode ocorrer, como no esôfago de Barrett, no qual o
A síntese de proteínas diminui em função da atividade epitélio escamoso do esôfago é substituído por células
metabólica reduzida. colunares tipo intestinais, sob a influência do refluxo
do ácido gástrico. Cânceres podem surgir nessas áreas
A degradação das proteínas celulares ocorre
e são tipicamente glandulares (adenocarcinomas)
principalmente pela via ubiquitina-proteossomo. A
deficiência de nutrientes e o desuso podem ativar  MECANISMOS DA METAPLASIA
ligases de ubiquitina, que ligam o pequeno peptídeo
A metaplasia não resulta de uma alteração no
ubiquitina a proteínas celulares, e marcam essas
fenótipo de um tipo celular já diferenciado; ao
proteínas para degradação nos proteossomos. Essa
contrário, ela é o resultado de uma reprogramação de
via também é considerada responsável pela proteólise
células-tronco que sabidamente existem nos tecidos
acelerada observada em diversas condições
normais ou de células mesenquimais indiferenciadas
catabólicas, incluindo a caquexia do câncer. Em
presentes no tecido conjuntivo.
muitas situações, a atrofia é também acompanhada
por aumento da autofagia, observada pelo número A diferenciação de células-tronco para uma linhagem
elevado de vacúolos autofágicos. A autofagia (“comer particular é provocada por sinais gerados por
a si próprio”) é o processo no qual as células privadas citocinas, fatores de crescimento e componentes da
de alimento digerem seus próprios componentes na matriz extracelular presentes no ambiente celular.
tentativa de reduzir a demanda nutricional igualando- Esses estímulos externos promovem a expressão de
a ao fornecimento. genes que dirigem as células para uma via de
diferenciação específica.
METAPLASIA
A deficiência ou excesso de vitamina A pode causar
Metaplasia é uma alteração reversível na qual um tipo
metaplasia.
celular diferenciado (epitelial ou mesenquimal) é
substituído por outro tipo celular. Ela, muitas vezes,
representa uma resposta adaptativa em que um tipo
de célula sensível a um determinado estímulo nocivo
é substituído por outro tipo de célula que é mais
capaz de suportar o ambiente adverso.

Metaplasia epitelial mais comum é a colunar para


escamosa, como ocorre no trato respiratório em
resposta à irritação crônica. No fumante habitual de
cigarros, as células epiteliais normais, colunares e
ciliadas da traqueia e dos brônquios, são, com
frequência, substituídas por células epiteliais
escamosas estratificadas. Entretanto, a mudança para
células escamosas metaplásicas tem um preço. Por
exemplo, no trato respiratório, embora o
revestimento epitelial se torne resistente, os
importantes mecanismos de proteção contra
infecções — a secreção de muco e o movimento ciliar
do epitélio colunar — são perdidos. Portanto, a
metaplasia epitelial é uma faca de dois gumes e, na
maioria das circunstâncias, representa uma alteração

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