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AANATOMOFISIOLOGIA

NATOMOFISIOLOGIA
HUMANA
João
JoãoArmando
ArmandoBrancher
Brancher
Walquiria
WalquiriaAparecida
AparecidaGarcia
GarciaZonta
Zonta
Superintendente Prof. Paulo Arns da Cunha
Reitor Prof. José Pio Martins
Pró-Reitor Acadêmico Prof. Carlos Longo
Coordenador Geral de EAD Prof. Renato Dutra
Coordenadora Editorial Profa. Manoela Pierina Tagliaferro
Autoria Prof. João Armando Brancher
Profa. Walquiria Aparecida Garcia Zonta
Supervisão Editorial Aline Scaliante Coelho
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Validação Institucional Francine Fabiana Ozaki e Regiane Rosa
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Biblioteca da Universidade Positivo – Curitiba – PR

B816 Brancher, João Armando.


Anatomofisiologia [recurso eletrônico]. / João Armando Brancher,
Walquiria Aparecida Garcia Zonta. – Curitiba : Universidade Positivo, 2016.
208 p. : il.

Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.


Modo de acesso: <http://www.up.edu.br>
Título da página da Web (acesso em 25 out. 2016).
ISBN: 978-85-8486-260-3.

1. Anatomia humana. 2. Fisiologia humana. I. Zonta, Walquiria


Aparecida Garcia. II. Título.
CDU 611

*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Imagens de capa: © Tefi // Shutterstock; © Stihii // Shutterstock; e © BlueRingMedia // Shutterstock.
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Ícones
Afirmação Curiosidade

Assista
Dica

Biografia

Esclarecimento
Conceito

Contexto Exemplo
Sumário
Apresentação.....................................................................................................................9
Os autores.........................................................................................................................10

Capítulo 1
Corpo humano em equilíbrio...........................................................................................13
1.1 Organização estrutural do corpo humano .................................................................13
1.1.1 Células......................................................................................................................................................................14
1.1.2 Tecidos.................................................................................................................................................................... 16
1.1.3 Órgãos......................................................................................................................................................................17
1.1.4 Sistemas...................................................................................................................................................................18
1.2 A linguagem da anatomia.........................................................................................18
1.2.1 Posição anatômica...................................................................................................................................................19
1.2.2 Planos e secções......................................................................................................................................................19
1.2.3 Termos de direção e posição.................................................................................................................................. 20
1.2.4 Cavidades do corpo................................................................................................................................................ 22
1.3 Homeostase: palavra-chave da fisiologia..................................................................25
1.3.1 Definição................................................................................................................................................................. 25
1.3.2 Importância............................................................................................................................................................ 25
1.3.3 Mecanismos de controle........................................................................................................................................ 26
1.3.4 Desequilíbrio homeostático................................................................................................................................... 26
1.4 Nutrição e metabolismo.............................................................................................27
1.4.1 Componentes inorgânicos...................................................................................................................................... 27
1.4.2 Componentes orgânicos......................................................................................................................................... 28
1.4.3 Mecanismos celulares de transporte...................................................................................................................... 28
1.4.4 Produção de energia .............................................................................................................................................. 30
Referências.......................................................................................................................31
Capítulo 2
Sustentação e movimento do corpo................................................................................33
2.1 Sistema esquelético ...................................................................................................33
2.1.1 Fisiologia do tecido ósseo....................................................................................................................................... 33
2.1.2 Classificação dos ossos........................................................................................................................................... 34
2.1.3 Esqueleto axial........................................................................................................................................................ 37
2.1.4 Esqueleto apendicular............................................................................................................................................. 39
2.2 Sistema articular.........................................................................................................42
2.2.1 Articulações fibrosas............................................................................................................................................... 43
2.2.2 Articulações cartilaginosas..................................................................................................................................... 45
2.2.3 Articulações sinoviais............................................................................................................................................. 46
2.2.4 Movimentos articulares.......................................................................................................................................... 47
2.3 Sistema muscular.......................................................................................................48
2.3.1 Organização estrutural dos músculos esqueléticos............................................................................................... 49
2.3.2 Músculos da cabeça e pescoço.............................................................................................................................. 50
2.3.3 Músculos do tronco e membros.............................................................................................................................51
2.3.4 Fisiologia da contração e relaxamento muscular................................................................................................... 53
2.4 Estruturas associadas.................................................................................................55
2.4.1 Elementos acessórios das articulações sinoviais..................................................................................................... 55
2.4.2 Tendões e ligamentos............................................................................................................................................ 56
2.4.3 Aponeuroses........................................................................................................................................................... 56
2.4.4 Fáscias..................................................................................................................................................................... 56
Referências.......................................................................................................................58
Capítulo 3
Nutrição de células e tecidos – circulação sanguínea......................................................59
3.1 Sangue........................................................................................................................59
3.1.1 Funções do sangue.................................................................................................................................................. 59
3.1.2 Plasma e elementos figurados................................................................................................................................ 60
3.1.3 Séries branca e vermelha........................................................................................................................................ 62
3.1.4 Hemostasia............................................................................................................................................................. 63
3.2 A bomba cardíaca e vasos da base............................................................................64
3.2.1 Morfologia externa do coração.............................................................................................................................. 64
3.2.2 Câmaras cardíacas.................................................................................................................................................. 68
3.2.3 Valvas cardíacas e importância fisiológica............................................................................................................. 69
3.2.4 Vasos da base cardíaca........................................................................................................................................... 70
3.3 Atividade intrínseca do coração.................................................................................70
3.3.1 Marcapasso cardíaco.............................................................................................................................................. 72
3.3.2 Atividade elétrica do músculo cardíaco................................................................................................................. 72
3.3.3 Controle neural do coração.................................................................................................................................... 73
3.4 Rotas circulatórias.......................................................................................................73
3.4.1 Aorta e principais ramos......................................................................................................................................... 77
3.4.2 Retorno venoso...................................................................................................................................................... 80
3.4.3 Pressão arterial....................................................................................................................................................... 82
3.4.4 Perfusão sanguínea................................................................................................................................................ 83
Referências ......................................................................................................................84
Capítulo 4
Hematose e oxigenação de células e tecidos...................................................................85
4.1 Vias aéreas..................................................................................................................85
4.1.1 Vias aéreas condutoras............................................................................................................................................ 86
4.1.2 Vias aéreas respiratórias.......................................................................................................................................... 91
4.1.3 Funções das vias aéreas.......................................................................................................................................... 91
4.1.4 Produção de voz...................................................................................................................................................... 93
4.2 Respiração pulmonar.................................................................................................94
4.2.1 Mecânica da ventilação pulmonar......................................................................................................................... 94
4.2.2 Hilo, raiz e lobos pulmonares................................................................................................................................. 95
4.2.3 Segmentação dos brônquios................................................................................................................................. 97
4.2.4 Hematose............................................................................................................................................................... 99
4.3 Respiração tecidual...................................................................................................100
4.3.1 Transporte de oxigênio para os tecidos................................................................................................................ 100
4.3.2 Absorção de oxigênio pelas células.......................................................................................................................101
4.3.3 Difusão de dióxido de carbono para o líquido extracelular..................................................................................101
4.3.4 Transporte de dióxido de carbono para os pulmões.............................................................................................101
4.4 Regulação da respiração...........................................................................................102
4.4.1 Centro respiratório.................................................................................................................................................102
4.4.2 Influências sobre o centro respiratório..................................................................................................................102
4.4.3 Controle dos músculos inspiratórios e expiratórios.............................................................................................. 104
4.4.4 Doença pulmonar obstrutiva crônica................................................................................................................... 104
Referências.....................................................................................................................106
Apresentação

Este livro foi desenvolvido com a intenção de tornar o estudo da Anatomofisiologia


mais simples. Desse modo, os vários sistemas do que formam o corpo humano serão
apresentados como se você estivesse assistindo a uma aula, e a linguagem utilizada fará
com que você associe e integre conhecimentos e, principalmente, pense sobre o assun-
to. Aproveite a leitura!
Os autores
O Professor João Armando Brancher é Doutor em Ciências da Saúde pela
PUC/PR, Mestre em Bioquímica pela UFPR e Graduado em Odontologia pela PUC/PR.
Atua como professor universitário desde 2001.

Currículo Lattes:
<lattes.cnpq.br/5460397708527612>

Aos estudantes, estímulo maior para


a busca contínua pelo aprendizado por
parte de nós, professores.
A Professora Walquiria Aparecida Garcia Zonta é Mestre em Engenharia
de Produção pela UFSC com ênfase em Gestão do Conhecimento e Especialista em
Fisioterapia Cardiorrespiratória pela UTP. Graduada em Fisioterapia pela UTP, atua
como professora de Anatomia, Neuroanatomia e Anatomofisiologia em cursos de gra-
duação desde 1986 e em cursos de pós-graduação desde 2000.

Currículo Lattes:
<lattes.cnpq.br/4511820754523704>

A Deus porque Dele, por Ele e para Ele são todas


as coisas na minha vida, e a minha família, que é
o maior presente que Ele me concedeu.
1 Corpo humano em equilíbrio
O corpo humano é uma máquina excepcional e é ele que possibilita que nos
expressemos, movimentemos, emocionemos, sintamos medo e tomemos atitudes
frente a esse sentimento. Isso porque milhões de unidades de células conseguem,
juntas, formar tecidos, órgãos e sistemas altamente especializados que funcionam
harmonicamente em um ambiente altamente equilibrado.
O equilíbrio corpóreo é indispensável para a manutenção de uma vida saudável. Ao
envelhecer ou em caso de doenças, nosso corpo perde a capacidade de mantê-lo, então,
o que devemos fazer para ter uma vida longa e produtiva? Com a leitura deste material,
entenderemos como o corpo humano é organizado estruturalmente e como tais estru-
turas desempenham suas funções e colaboram para a manutenção desse equilíbrio.

Enquanto estrutura é a palavra-chave da Anatomia, equilíbrio ou homeostasia é a palavra-chave


da Fisiologia.

1.1 Organização estrutural do corpo humano


A Anatomia é o estudo das estruturas que compõem o corpo humano. Depen-
dendo da dimensão das estruturas que são estudadas, a anatomia pode ser considerada
microscópica ou macroscópica. A anatomia microscópica depende da utilização de
instrumentos para ampliação, como o microscópio: essa é a maneira de estudar células
e tecidos. A anatomia macroscópica não depende de equipamentos para ampliação,
pois compreende o estudo de estruturas que podem ser observadas a olho nu. O termo
anatomia deriva da palavra grega temnein, que significa cortar, uma vez que o seu prin-
cipal método de estudo é a dissecação.
O corpo humano é formado por unidades estruturais microscópicas chamadas
células, que se agrupam formando os tecidos. A organização de dois ou mais dife-
rentes tecidos dá origem a órgãos que, quando são especializados para executar
funções semelhantes, formam os sistemas orgânicos.
© FabriCO

Sistemas
Células Tecidos Órgãos orgânicos

São esses sistemas orgânicos que estudaremos em mais detalhes ao longo


desta seção.
14

1.1.1 Células
As células eucarióticas são as unidades estruturais dos diferentes sistemas bioló-
gicos do corpo humano, formado por aproximadamente 100 trilhões delas. Sua prin-
cipal característica é a presença de um núcleo, de organelas compartimentalizadas,
citoesqueleto (formado por microfilamentos, filamentos intermédios e microtúbulos)
e membrana citoplasmática, como mostra a figura a seguir. Devido a essa compar-
timentalização das organelas, diferentes reações biológicas essenciais à vida ocorrem
simultaneamente, mas, ao mesmo tempo, cada célula mantém sua individualidade.

Principais componentes da célula eucariótica


Centríolos
Vesículas
Mitocôndria
Microvilosidades

Microtúbulos

Nucléolo
Citoplasma

© La Gorda / / Shutterstock. (Adaptado).


Membrana plasmática

Núcleo

Complexo de Golgi
Retículo endoplasmático

Desenho de uma célula e seus principais componentes.

O núcleo funciona como o centro de controle da célula e contém o material gené-


tico que codifica todas as proteínas do corpo humano. Em resposta a uma sinalização
extracelular proveniente, por exemplo, do sistema endócrino, o núcleo determina
quais e quantas proteínas deverão ser sintetizadas. Nem sempre as células possuem
um núcleo único, células musculares, osteoclastos e outras possuem múltiplos núcleos,
enquanto os glóbulos vermelhos são anucleados.
Examinando um pouco mais de perto, no interior do núcleo existem áreas conden-
sadas com proteínas, ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA). Essas
áreas são denominadas nucléolos. Ainda, no interior do núcleo de uma célula que não
está em divisão, os 23 pares de cromossomos presentes aparecem dispersos em uma
rede delicada chamada de cromatina. O núcleo também possui a sua membrana, o
envelope nuclear, formado por uma membrana dupla cujo lado interno possui proteínas
15

que auxiliam na manutenção da forma do núcleo e na organização do DNA nuclear. O


lado externo da membrana nuclear se fusiona com o retículo endoplasmático rugoso,
que é caracterizado pela presença de ribossomos em sua superfície, cuja função é
a síntese de proteínas. A comunicação entre o lado interno do núcleo e a superfície
externa é facilitada por poros nucleares, que funcionam como uma rede intrincada de
canais de passagem de substâncias.
Tanto o núcleo celular quanto os demais compartimentos celulares estão imersos
no líquido intracelular, o citosol. Dessa forma o conjunto formado pelo citosol e pelas
organelas é denominado citoplasma. Entre as organelas citoplasmáticas, as prin-
cipais são: retículo endoplasmático liso e rugoso, complexo de Golgi, lisossomos,
proteossomos, peroxissomos e mitocôndrias.
O retículo endoplasmático (RE) é do que uma rede de membranas dobradas que
se estendem por todo o citoplasma. O RE liso é assim chamado pela ausência de ribos-
somos e é especializado na síntese de ácidos graxos e hormônios esteroidais.
O complexo de Golgi (CG) mantém uma relação funcional importante com o RE
rugoso: ele recebe vesículas provenientes do RE e processa o material contido nessas
vesículas para posteriormente liberá-las na forma de lisossomos.
Os lisossomos são organelas com enzimas responsáveis pela digestão de carboi-
dratos, lipídios e proteínas. Outras funções importantes atribuídas a essas organelas
são a autofagia e a autólise, processos que permitem reciclar organelas celulares ou
células inteiras. Com função semelhante, os proteossomos são vesículas celulares ricas
em enzimas proteolíticas que destroem proteínas do próprio citoplasma celular. Outras
estruturas vesiculares semelhantes aos lisossomos são os peroxissomos, vesículas abun-
dantes em células hepáticas e renais, uma vez que esses órgãos são importantes na
eliminação de subprodutos do metabolismo corpóreo.
A usina energética das células é a mitocôndria. Essa organela é formada por duas
membranas distintas: a membrana mitocondrial externa (MME) e a mitocondrial interna
(MMI), que contém os complexos mitocondriais responsáveis pela produção de energia.
A MMI se projeta para dentro da matriz mitocondrial, criando um ambiente propício para
a geração de energia. Diferentemente das outras organelas, as mitocôndrias possuem
seu próprio material genético.
O citosol é essencialmente constituído por água, e várias reações celulares impor-
tantes ocorrem nesse ambiente. Além disso, nutrientes, íons e resíduos do metabolismo
celular também podem ser encontrados no citosol.
O citoesqueleto é formado por proteínas que estabilizam a célula e permitem sua
movimentação, funcionando como se fosse a estrutura de metal que suporta um edifício.
Porém, enquanto algumas das proteínas formam um arcabouço de suporte da célula,
16

como é o caso dos filamentos intermediários, outras funcionam como um sistema viário
direcionando o transporte de vesículas secretoras, como ocorre com os microtúbulos.
A delimitação externa da célula é a membrana citoplasmática, que é uma
membrana dupla essencialmente lipídica e proteica, mas que possui certa quanti-
dade de carboidratos, com papel importante na comunicação entre células e das
células com o meio aquoso no qual elas estão inseridas. Sua principal característica é
a permeabilidade seletiva, isto é, a capacidade de controlar o fluxo de entrada e saída
de substâncias da célula. Os lipídios da membrana plasmática formam duas camadas
sobrepostas, que denominamos bicamada. A bicamada é permeada por proteínas que
mergulham nos lipídios. Algumas vezes, essas proteínas podem passar de um lado a
outro, sendo assim denominadas proteínas integrais. As proteínas periféricas, por sua
vez, ficam ligadas na superfície da bicamada. Na superfície externa da membrana plas-
mática, as proteínas possuem carboidratos ligados a elas, formando uma importante
estrutura que funciona como sinalizador celular, por exemplo, para os hormônios.

1.1.2 Tecidos
Quando células se agrupam, formam-se os tecidos, que são aglomerados de
células com o mesmo grau de diferenciação e as mesmas funções. Quatro são os
grupos de tecidos básicos do corpo humano: tecido epitelial, tecido conjuntivo e de
apoio, tecido muscular e tecido nervoso.
Os tecidos epiteliais se organizam em forma de lâminas, formando camadas de
células contínuas, denominadas epitélio de revestimento, ou como glândulas, respon-
sáveis pela secreção de substâncias. Além de recobrirem toda a superfície externa do
corpo, os tecidos epiteliais revestem o interior das vísceras. Entre suas várias funções,
destacam-se: proteção de tecidos subjacentes, transporte de moléculas, secreção e
absorção de substâncias, percepção de estímulos externos e controle do movimento de
substâncias entre os compartimentos do corpo.
Os tecidos conjuntivos e de apoio são abundantes no corpo humano. Possuem
formas variadas e diferentes funções, tais como: suporte estrutural, meio para trocas
de nutrientes ou resíduos, defesa e proteção do corpo e armazenamento de nutrientes.
Ossos, cartilagens e ligamentos também são exemplos de tecidos conjuntivos.
Os tecidos musculares, por sua vez, são responsáveis por desempenhar movimentos
coordenados. Existem três tipos de tecidos musculares: o tecido muscular estriado esque-
lético, o tecido muscular estriado cardíaco e o tecido muscular liso. A nomenclatura
desses tecidos se dá em virtude da presença de estrias transversais claras e escuras que
correspondem aos sarcômeros, unidades contráteis das células musculares.
17

O sarcômero é formado por proteínas contráteis chamadas de actina e miosina. Na presença de


cálcio, essas fibras deslizam umas sobre as outras, resultando na contração muscular.

O tecido estriado esquelético se caracteriza pela movimentação voluntária do


corpo humano e recebe essa denominação porque está ligado ao esqueleto e apre-
senta estrias transversais quando visto sob microscopia.
O músculo estriado cardíaco é encontrado na bomba cardíaca (o coração), e sua
função involuntária é impulsionar o sangue pelos vasos sanguíneos. Outro tipo de
tecido muscular involuntário é o tecido muscular liso, localizado, em geral, nas paredes
dos órgãos ocos, como vasos sanguíneos, vias respiratórias e intestinos. Recebe esse
nome porque seus sarcômeros se encontram desorganizados no citoplasma.
O tecido nervoso funciona como uma rede de comunicação entre o corpo e o
ambiente no qual ele está inserido e também é responsável pelo controle interno do
corpo humano, contribuindo para a homeostasia.
Os tecidos são formados por células especializadas. No caso do tecido nervoso,
existem dois tipos de células altamente especializadas: os neurônios e as células da glia,
também conhecidas como neuróglia. Neurônios são células responsáveis pela condução
do impulso nervoso e consistem basicamente em um corpo celular e prolongamentos
chamados de axônios, dendritos e telodendritos. Já as células da neuroglia funcionam
como uma cola neural, responsáveis, portanto, pela sustentação dos neurônios, nutrição
e, em alguns casos, formação das bainhas de mielina, estruturas lipídicas que isolam as
células nervosas e contribuem para o aumento da propagação do impulso nervoso.

1.1.3 Órgãos
Um órgão é uma estrutura complexa que resulta da associação de dois ou mais
tecidos cujas funções são complementares e, quando executadas em conjunto,
permitem ao órgão desempenhar uma ou mais funções. Os órgãos são observados
a olho nu como uma unidade delimitada externamente que possui forma, função e
localização específicas. O estômago, por exemplo, faz parte do sistema digestório e
é responsável pelo processamento e armazenamento temporário dos alimentos antes
que cheguem aos intestinos.
Outro exemplo importante para entender a definição de órgão é o coração.
Por definição, ele é um órgão muscular formado por quatro câmaras, cuja função
é bombear sangue através dos vasos sanguíneos para o corpo. É constituído por
tecido muscular estriado cujas células formam uma unidade funcional, permitindo
que o órgão trabalhe com perfeição: enquanto as duas câmaras superiores ou átrios
18

contraem, o sangue é direcionado para as duas câmaras inferiores ou ventrículos, que,


quando contraem, lançam o sangue nos vasos para ser distribuído pelo corpo. Perceba
a sequência: as células formam o tecido cardíaco, que, por sua vez, forma o órgão, o
coração, que integrará um sistema: o sistema circulatório.

1.1.4 Sistemas
Último nível da escala organizacional do corpo humano, os sistemas são conjuntos
de órgãos relacionados que desempenham uma função comum. São onze os sistemas
orgânicos que formam o corpo humano: sistema esquelético, sistema muscular,
sistema tegumentar, sistema endócrino, sistema digestório, sistema circulatório,
sistema respiratório, sistema nervoso, sistema linfático, sistema urinário e sistema
reprodutor masculino e feminino.
É comum que a compreensão da anatomia seja simplificada pela apresen-
tação dos sistemas orgânicos isoladamente. Essa divisão, conhecida como Anatomia
Descritiva Sistemática, é considerada didática, pois fornece uma visão completa
de todos os componentes do organismo. No entanto, pode não ser suficiente para
permitir a compreensão das interrelações anatômicas e fisiológicas entre os órgãos e
sistemas. Por isso, a anatomia também explora os sistemas, os órgãos e as suas inter-
relações por meio de uma abordagem topográfica, a Anatomia Topográfica, essencial
para o conhecimento clínico e, principalmente, cirúrgico. Sua importância se deve à
maneira de abordar a localização e a relação de todas as estruturas anatômicas entre
si em uma determinada região do corpo e, por isso, também é chamada de Anatomia
Regional.

1.2 A linguagem da anatomia


Todas as áreas de conhecimento das ciências biológicas possuem vocabulário
e linguagem próprios. No caso da anatomia, o vocabulário é chamado de terminologia
anatômica e tem o objetivo de padronizar a linguagem, facilitando o entendimento entre
anatomistas e profissionais da saúde. A primeira tentativa de se padronizar a termino-
logia ocorreu em 1885 na Suíça e, depois de alguns encontros científicos de anatomistas,
o primeiro documento produzido foi chamado de Nomina Anatomica e publicado em
Paris no ano de 1955. Em 1998, foi publicada a mais recente, atualizada e simplificada
revisão da Terminologia Anatômica, que representa a padronização internacional dos
termos aplicados à anatomia, disponível somente em latim, inglês e espanhol.
19

1.2.1 Posição anatômica


A aplicação adequada da terminologia anatômica depende do entendimento da
posição anatômica do ser humano, pois, a partir desse referencial, serão construídos planos
imaginários, iniciando-se assim o emprego dessa linguagem tão peculiar da anatomia.
A posição considerada anatômica para o ser humano é aquela em que o indivíduo se
encontra em pé, com os pés levemente afastados e apoiados sobre o solo, com o pescoço
ereto, o olhar dirigido para a frente, os braços levemente afastados do tronco e as palmas
das mãos direcionadas para a frente. Essa posição será elucidada no próximo tópico.

1.2.2 Planos e secções


Os planos anatômicos são superfícies planas imaginárias que passam através do
corpo em posição anatômica e se encontram em ângulos retos. Os planos primários
são: sagital, frontal e transversal, ilustrados na imagem a seguir.

Descrição da posição anatômica de estudo e dos planos e secções


Plano oblíquo

Plano
transverso

Plano frontal
© Blamb // Shutterstock. (Adaptado).

Plano sagital mediano


(através da linha mediana)
Plano sagital
paramediana
20

O plano sagital é um plano vertical que divide o corpo nos lados direito e
esquerdo. Caso esse plano divida o corpo em duas metades iguais ou simétricas, ele
é chamado de plano sagital mediano; mas, se o plano estiver deslocado para um dos
lados, dividindo o corpo em duas partes desiguais ou assimétricas, o plano é chamado
de sagital paramediano. Em ambos os casos, as secções através desses planos dão
origem a uma parte lateral direita e outra lateral esquerda.
O plano frontal, também conhecido como coronal, divide o corpo ou parte dele
em duas partes assimétricas chamadas de paquímeros. Uma secção através desse
plano origina uma metade posterior ou dorsal e outra anterior ou ventral.
O plano transversal, também chamado de horizontal ou seccional, divide o corpo
ou parte dele em duas partes assimétricas conhecidas como metâmeros. Uma secção
através do plano transversal dá origem a uma metade superior e outra inferior.
Além desses, há um plano anatômico oblíquo que não encontra os demais em
ângulo reto. Um corte através desse plano é uma secção oblíqua e consiste em um
corte feito em diagonal.

1.2.3 Termos de direção e posição


A construção de planos anatômicos imaginários delimitando um corpo em posição
anatômica permite a compreensão da direção e da posição que as estruturas anatômicas
assumem entre si. Tanto a direção quanto a posição são denominadas por termos dire-
cionais e permitem uma clara comunicação entre profissionais da área da saúde.
Os termos direcionais são palavras técnicas que fazem parte de um vocabulário
específico cuja função é permitir a descrição sobre a posição e orientação de uma
estrutura, víscera ou parte do corpo de maneira precisa.
Em geral, os termos direcionais são aplicados em pares, e cada um indica uma
posição ou direção oposta à do outro. Por exemplo, ao informar que os rins são órgãos
superiores, espera-se a explicação sobre a estrutura que seria inferior a eles. Nesse
caso, a informação completa seria: os rins são órgãos superiores à vesícula urinária. A
vesícula urinária, por sua vez, é ventral, enquanto o reto é dorsal.
Com esses exemplos, é possível perceber que os termos de posição e direção
são derivados de um plano anatômico de secção. No exemplo dos rins e da vesí-
cula urinária, o plano que dá origem aos termos superior e inferior é o transversal,
enquanto a comparação entre a posição da vesícula urinária e do reto levou em consi-
deração o plano frontal. A tabela abaixo mostra os principais termos direcionais, sua
definição e aplicabilidade no estudo da anatomia.
21

Termos direcionais
Termo direcional Definição Exemplo de aplicação
Superior ou
Acima do plano transversal. O músculo diafragma é superior ao fígado.
cranial
Inferior ou
Abaixo do plano transversal. A traqueia é inferior à laringe.
caudal
Anterior ou
À frente do plano frontal. A traqueia é anterior ou ventral ao esôfago.
ventral
Posterior ou O coração é posterior ou dorsal ao osso
Atrás do plano frontal.
dorsal esterno.
Medial Mais próximo do plano mediano. Os olhos são mediais em relação às orelhas.
Lateral Mais distante do plano mediano. Os pulmões são laterais ao coração.

Alguns termos direcionais não têm origem a partir dos planos de secção, por
exemplo, os termos superficial e profundo levam em consideração a proximidade da
estrutura com a superfície da pele. Além desses, há termos que são utilizados somente
para os membros superiores e inferiores, como: proximal, distal, palmar e plantar,
listados na tabela a seguir.

Termos direcionais utilizados para descrever a localização de órgãos no corpo humano


Termo direcional Definição Exemplo de aplicação
Superficial ou
Mais próximo da superfície do corpo. A pele é superficial aos músculos.
externo
Profundo ou As artérias são profundas enquanto as
Mais distante da superfície do corpo.
interno veias são superficiais.
Mais próximo da origem do membro
Proximal A coxa é proximal à perna.
no tronco.
Mais distante da origem do membro
Distal O antebraço é distal ao úmero.
no tronco.
Face da mão voltada para a frente A superfície palmar está direcionada
Palmar quando o indivíduo está em posição anteriormente e é oposta à superfície
anatômica. dorsal da mão.
Face do pé em contato com o solo
A face plantar é oposta à face dorsal
Plantar quando o indivíduo está em posição
do pé.
anatômica.
22

Compreenderemos melhor como utilizar os termos direcionais observando a


imagem a seguir, que traz alguns exemplos.

Desenho esquemático mostrando como utilizar os termos direcionais


LATERAL MEDIAL LATERAL
SUPERIOR
Linha mediana

PROXIMAL

Esôfago
Traqueia
Costela
Pulmão direito Pulmão esquerdo
Esterno

Úmero Coração
Fígado
Vesícula biliar Diafragma
Estômago
Rádio Colo transverso
Ulna
Intestino delgado

© BluezAce // Shutterstock. (Adaptado).


Ossos carpais Colo descendente

Ossos metacarpais

Falanges Bexiga urinária


Colo ascendente

DISTAL INFERIOR
Visão anterior do tronco e superior direito

Existem vários outros termos direcionais que podem ser aplicados em áreas espe-
cíficas. Na odontologia, por exemplo, são utilizados termos que descrevem as faces de
um dente, que dificilmente serão usados por um fisioterapeuta.

1.2.4 Cavidades do corpo


As cavidades corporais representam, em termos gerais, espaços ocos envolvidos
internamente por membranas que separam e protegem os órgãos internos. Além disso,
as paredes dessas cavidades e os tecidos de revestimento interno servem para conferir
sustentação às estruturas anatômicas que ocupam uma determinada cavidade.
23

Principais cavidades do corpo humano

Cavidade
do crânio

Canal
vertebral

Cavidade
torácica

Diafragma
Cavidade
abdominopélvica:
Cavidade

© Lole // Shutterstock. (Adaptado).


abdominal
Cavidade
pélvica

(a) Visão lateral direita (b) Visão anterior

http://panelinha.podomatic.com/

As maiores cavidades corporais são: cavidade torácica ou tórax, a cavidade


abdominal ou abdome e cavidade pélvica ou pelve. Essas cavidades são reves-
tidas internamente por uma membrana serosa dupla com um líquido entre suas duas
camadas, que, além de recobrir as vísceras, permite deslocamento com pouco atrito
entre estruturas vizinhas. O tórax possui duas membranas serosas, a pleura recobrindo
os pulmões e o pericárdio recobrindo o coração. No abdome, essa membrana serosa
recebe a denominação de peritônio.
A cavidade torácica inicia superiormente em um espaço de tecido conjuntivo
do pescoço através do qual passam estruturas dos sistemas respiratório, digestório,
vascular e nervoso, e termina inferiormente em um músculo chamado diafragma. O
diafragma possui três aberturas para permitir a passagem de estruturas vasculares,
nervosas e esôfago a partir do tórax para o abdome.
Em contraste com a separação clara entre as cavidades torácica e abdominal,
os limites entre as cavidades abdominal e pélvica não são bem definidos. Em princípio,
essas duas cavidades formam apenas uma grande cavidade cuja divisão ocorre somente
em relação à topografia e, por isso, podem ser chamadas de cavidade abdominopélvica.
O limite entre o abdome e a pelve consiste em uma linha imaginária que passa sobre as
margens superiores dos ossos do quadril e o sacro da coluna vertebral. A cavidade pélvica
termina no assoalho pélvico muscular na região da virilha, onde são encontradas aber-
turas para estruturas terminais dos tratos urogenital, digestório, vasculares e nervosas.
24

As vísceras abdominais e pélvicas estão localizadas em quadrantes, que


consistem em compartimentos menores da cavidade abdominopélvica delimitados
por linhas imaginárias, duas horizontais e duas verticais, que formam um jogo da velha
com seus nove espaços, sendo três superiores, três intermediários e três inferiores,
como podemos ver na figura a seguir.

Regiões da cavidade abdominopélvica


Diafragma

Fígado
Vesícula
biliar Estômago

Intestino grosso
(colo ascendente) Intestino
delgado

Apêndice
vermiforme Bexiga
urinária

Direita Esquerda

Hipocôndrio Hipocôndrio
Epigástrio
direito esquerdo
© Nerthuz // Shutterstock. (Adaptado).

Região Região
lateral Região lateral
direita umbilical esquerda

Região inguinal Região inguinal


Hipogástrico
(ilíaca) direita (ilíaca) esquerda

Além dessas cavidades, há outras menores, mas de grande importância clínica,


como as cavidades oral, nasal, orbitais e timpânicas. Há ainda a cavidade que protege
o sistema nervoso central, dividida em cavidade encefálica, limitada pelos ossos do
crânio e que contém o encéfalo, e o canal vertebral, formado pelas vértebras, que
protege a medula espinhal.
25

1.3 Homeostase: palavra-chave da fisiologia


A sobrevivência dos animais depende de sua capacidade de manter o ambiente
interno do corpo em homeostase, ou seja, em equilíbrio. Entretanto, para pensarmos
em equilíbrio interno é importante lembrar que as condições ambientais externas
também exercem influência sobre o meio interno. A busca constante pelo equilíbrio
interno frente às alterações externas é o princípio que define a homeostasia.

O conceito de ambiente interno (milieu intérieur) foi desenvolvido por Claude Bernard, médico e fi-
siologista francês e um dos grandes nomes da ciência, referindo-se ao líquido intersticial e plasma.

1.3.1 Definição
O termo homeostase deriva do grego homeo (semelhante) e stase (permanecer)
e compreende a manutenção das condições do meio interno pelas trilhões de células
do corpo humano que trabalham para manter constante o ambiente interno do corpo
apesar das variações que ocorrem tanto externamente quanto internamente.
O ambiente interno está representado, principalmente, pelo líquido extrace-
lular, dividido em líquido intersticial, que banha as células, e plasma, a porção líquida do
sangue. Essa capacidade de manter a homeostase pode ser traduzida como um estado
de saúde.

1.3.2 Importância
A vida está sempre em um estado de variações constantes, e o organismo está
integrado em um ambiente externo cujas variações físicas e químicas provocam varia-
ções no ambiente interno. Além dessa influência externa, o organismo está em cons-
tante adaptação às variações fisiológicas internas. O controle do equilíbrio do meio
interno sujeito a tantas variações depende de mecanismos de controle.
A temperatura corporal sofre variações fisiológicas ao longo do dia, sendo menor
durante o sono, e aumenta durante o dia. Quando o corpo fica exposto ao sol ou em
um ambiente aquecido, a temperatura do sangue se eleva proporcionalmente, desen-
cadeando uma resposta homeostática para provocar a redução da atividade metabó-
lica, restabelecendo o equilíbrio. Para que a temperatura se normalize, há relaxamento
da musculatura lisa dos vasos sanguíneos periféricos, mecanismo conhecido como
vasodilatação, permitindo que a circulação se aproxime da superfície da pele, o que
resulta em perda de calor para o ambiente.
26

1.3.3 Mecanismos de controle


O estado de equilíbrio depende da integração entre os sistemas nervoso e endó-
crino. Enquanto o sistema nervoso atua por meio de impulsos neurais, o sistema endócrino
secreta hormônios, que, pela corrente sanguínea, atingem as membranas das células-alvo.
O sistema nervoso possui componentes sensoriais ou aferentes, integradores
e motores ou eferentes. O componente sensorial detecta as informações a partir dos
ambientes externo ou interno pelos seus receptores, transforma em sinais elétricos e
os conduz ao sistema nervoso central (SNC), que representa o componente integrador.
As informações são processadas no SNC e transmitidas como resposta pelo compo-
nente motor até o órgão-alvo, onde haverá uma contração muscular, uma secreção
glandular ou outra reação necessária para a manutenção da homeostasia.
Pode-se dizer, portanto, que os mecanismos de controle funcionam por meca-
nismos de retroalimentação, uma vez que agem de acordo com a informação recebida
pelos sistemas nervoso ou endócrino. Esses mecanismos de retroalimentação, também
conhecidos como feedback positivo ou negativo, são responsáveis pela aceleração ou
inibição de uma reação fisiológica em função da interpretação pelo sistema nervoso.
O aumento da glicemia, por exemplo, é detectado por receptores localizados no
encéfalo, e a resposta é transmitida por nervos até o pâncreas, onde ocorre a secreção
de insulina, que, após atingir os receptores das membranas celulares, provoca a aber-
tura de canais para que a glicose entre nas células e assim haja redução dos níveis de
glicose no sangue.

1.3.4 Desequilíbrio homeostático


Uma condição ou estímulo que rompe o equilíbrio homeostático do corpo é consi-
derado um agente estressor e pode resultar em um estado de desequilíbrio homeostá-
tico e evoluir para uma situação de doença. Compreende-se facilmente quando o agente
estressor tem origem externa (calor, frio, umidade, claridade), mas a compreensão
passa a ser mais complexa quando a ameaça à homeostasia é interna (pressão artéria,
volume, conteúdo químico dos líquidos corporais). Sempre que as condições normais dos
líquidos teciduais estiverem ameaçadas, os mecanismos de controle tentarão restaurar
a homeostasia. Quando esses mecanismos não forem suficientes para manter a vida
celular, será instalado um processo de doença.
Vários exemplos de desequilíbrios homeostáticos são observados ao longo do
processo de envelhecimento: os vasos sanguíneos perdem a elasticidade e a capaci-
dade de controlar a pressão sanguínea; os osteoblastos produzem menos colágeno,
deixando os ossos mais fracos; os ovários femininos secretam menos hormônios femi-
ninos, resultando nos sintomas da menopausa.
27

1.4 Nutrição e metabolismo


As células estão imersas em líquido extracelular e possuem em seu interior o
líquido intracelular. Tanto componentes orgânicos, como aminoácidos, glicose e lipídios,
quanto substâncias inorgânicas, como sódio (Na), potássio (K) cloro (Cl), entre outros,
estão dispersos nesses líquidos. Ocorre então a movimentação desses compostos
através da membrana plasmática, uma vez que a célula necessita dessas substâncias
para produzir energia.
O controle da passagem dos componentes inorgânicos e orgânicos do meio intra-
celular para o meio extracelular é desempenhado pela membrana celular. Essa estrutura
possui uma excepcional capacidade para controlar o fluxo de substâncias através dela.
Sua fluidez permite alterações de forma da célula, além de possibilitar a fusão entre
células durante eventos como a exocitose de vesículas.

1.4.1 Componentes inorgânicos


Componentes inorgânicos são considerados fundamentais para o metabolismo do
corpo humano. Sódio, fósforo, cobre, potássio, cálcio, ferro, zinco, magnésio, selênio, entre
outros, desempenham, em maior ou menor proporção, funções essenciais à vida humana.
Podem aparecer como íons dissolvidos nos fluídos corporais, onde auxiliam inúmeras
reações enzimáticas, e contribuem para o transporte transmembrana, regulam o equilíbrio
ácido-básico, modulam a contração muscular e participam da resposta imunológica.

TabelaTabela
Periódica dos
periódica dos Elementos
elementos
Grupo
Período

Hidrogênio Número atômico Elétrons por camada Hélio

Símbolo
Lítio Berílio Boro Carbono Nitrogênio Oxigênio Flúor Néon

Hidrogênio Nome

Massa atômica

Sódio Magnésio Alumínio Silício Fósforo Enxofre Cloro Argônio

Potássio Cálcio Escândio Titânio Vanádio Cromo Manganês Ferro Cobalto Níquel Cobre Zinco Gálio Germano Arsênio Selênio Bromo Criptônio

Rubídio Estrôncio Ítrio Zircônio Nióbio Molibdênio Tecnécio Rutênio Ródio Paládio Prata Cádmio Índio Estanho Antimônio Telúrio Iodo Xenônio

Césio Bário Háfnio Tantálio Tungstênio Rênio Ósmio Irínio Platina Ouro Mercúrio Tálio Chumbo Bismuto Polônio Astato Radônio

Frâncio Rádio Ruterfórdio Dúbnio Seabórgio Bóhrio Hássio Meitnério Darmstádio Roentgênio Copernício Unúntrio Fleróvio Unumpêntio Livermório Unumséptio Ununóctio
© concept w // Shutterstock

Lantanídeos
Lantânio Cério Praseodímio Neodímio Promécio Samário Európio Gadolínio Térbio Disprósio Hólmio Érbio Túlio Itérbio Lutécio

Actinídeos
Actínio Tório Protactínio Urânio Netúnio Plutônio Amerício Cúrio Berquélio Califórnio Einstênio Férmio Mendelávio Nobério laurêncio

Metais
Outros Metais de alcalinos- Metais Elemento Elemento
Lantanídeos Não metais Actinídeos Gases nobres Gasoso Líquido Sólido
metais transição -terrosos alcalinos radioativo sintético
28

Os componentes inorgânicos, mostrados na tabela periódica, são fundamentais para


manter a homeostasia do corpo humano, e alguns são vitais. A falta desses compostos
pode acarretar problemas para a saúde, como a deficiência de ferro, por exemplo, que
está associada à anemia e é muito comum em crianças com alimentação inadequada. Já
a ingestão inadequada de cálcio afeta o desenvolvimento do tecido ósseo, o que pode
resultar em diminuição significativa da densidade óssea, levando à osteoporose.

1.4.2 Componentes orgânicos


Para manter o corpo humano e, consequentemente, sistemas, órgãos, tecidos
e células saudáveis, é necessária a ingestão balanceada de nutrientes orgânicos e
vitaminas, considerando o estágio de desenvolvimento do indivíduo. Carboidratos,
proteínas e lipídios fazem parte do rol de componentes orgânicos essenciais para a
sobrevivência. A glicose, um carboidrato, é a primeira fonte de energia para a célula
e pode ser estocada na forma de glicogênio e utilizada durante os períodos de jejum
para alimentar a respiração celular. Por outro lado, proteínas são fontes de aminoá-
cidos que também podem ser utilizados na respiração celular, ou seja, é possível utilizar
aminoácidos para produzir energia. Os lipídios biológicos apresentam uma diversidade
de funções, entre elas o armazenamento de energia. Os ácidos graxos, assim como a
glicose, são uma fonte importante de energia para células e tecidos.

1.4.3 Mecanismos celulares de transporte


As membranas celulares não são simples barreiras estáticas, elas permitem, por
meio de proteínas especializadas, a passagem de solutos orgânicos e íons. Os principais
constituintes das membranas celulares são os lipídios e as proteínas, que constituem a
maior parte das membranas das células (por isso, recebem a denominação de membrana
lipoproteica) e carboidratos complexos na forma de glicolipídios ou glicoproteínas. A
proporção de cada um desses componentes varia de acordo com a função específica de
cada célula, mas os lipídios estão em maior quantidade. Entretanto, a variedade e compo-
sição das proteínas da membrana é que determinam a função da célula.
Vejamos a figura a seguir. Algumas proteínas estão incrustradas na camada lipí-
dica, sendo que algumas se projetam para fora da membrana em um dos lados. Essas
proteínas são denominadas proteínas periféricas de membrana. Outras a atravessam
inteiramente e são denominadas proteínas integrais de membrana e transportam subs-
tâncias de um lado a outro da membrana, funcionando como canais transmembrana.
29

Organização da membrana citoplasmática de uma célula eucariótica


Cadeia de carboidratos
em uma glicoproteína

© VanDenBlind // Shutterstock. (Adaptado).


Proteínas Proteínas
integrais periféricas

O mecanismo de transporte transmembrana, conhecido como difusão simples,


caracteriza-se pela movimentação de solutos lipossolúveis e apolares diretamente
através da camada lipídica do lado no qual está mais concentrado para o lado no qual
está menos concentrado, sem auxílio de canais transmembrana e sem gasto de energia.
Já a passagem de substâncias através dos canais de proteínas chama-se difusão faci-
litada, e essas proteínas podem ser chamadas de permeases. Difusão simples e difusão
facilitada são modalidades de transporte passivo, cuja principal característica e o movi-
mento das moléculas a favor do gradiente de concentração e sem gasto de energia.

Um exemplo de difusão simples é a passagem de oxigênio do sangue arterial para os tecidos.

O transporte ativo se caracteriza pela utilização de moléculas de adenosina


trifosfato ou ATP para mover uma molécula de um lado para outro da membrana. Da
mesma forma que o transporte passivo, o transporte ativo necessita de uma proteína
que funcione como um canal de passagem. Essas proteínas são chamadas bombas
porque movem o soluto contra o gradiente de concentração. A bomba frequentemente
mencionada nos livros de Anatomofisiologia é a bomba de sódio e potássio (Na+/K+).
30

Mecanismos de transporte através da membrana


Uniporte Simporte Antiporte

© extender_01 / / Fotolia. (Adaptado).


Quando um composto é transportado através da membrana, o mecanismo
chama-se uniporte. Entretanto, algumas vezes o transporte através da membrana
envolve dois ou mais compostos que passam simultaneamente para o mesmo lado da
membrana, nesse caso, chamamos de simporte. Quando um composto é levado para
um lado enquanto outro é carregado no sentido oposto, dizemos que ocorre antiporte.

1.4.4 Produção de energia


A energia essencial para manter as células vivas e, por consequência, o corpo
vivo, é produzida a partir da oxidação de nutrientes orgânicos, tais como carboidratos,
proteínas e lipídios, em uma sequência de reações degradativas. Essa fase de produção
de energia é denominada catabolismo. É nesse momento que moléculas orgânicas
são transformadas em produtos com a liberação de energia na forma de Adenosina
Trifosfato (ATP) ou de transportadores de elétrons reduzidos, como a Nicotinamida
Adenina Dinucleotídeo (NAD) e a Flavina Adenina Dinucleotídeo (FAD).
Por outro lado, outras vias metabólicas utilizam a energia liberada durante o
catabolismo para produzir moléculas mais complexas. Dessa forma, as células podem
sintetizar suas próprias proteínas, peptídeos, aminoácidos, glicogênio e ácidos graxos.
Esse sequência de reações de síntese de moléculas maiores é chamada de anabolismo.
Ambos, catabolismo e anabolismo, fazem parte do metabolismo celular e têm em
comum um elo importante de ligação: o ATP.
Neste capítulo, conhecemos alguns conceitos básicos da Anatomofisiologia,
compreendendo aspectos básicos do corpo humano. Estudamos as células, com suas
principais estruturas, que formam todos os órgãos e tecidos de nosso corpo. Também
vimos algumas considerações acerca de nomenclatura e posição anatômica e enten-
demos o conceito de homeostase.
31

Referências
APPLEGATE, E. J. Anatomia e Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
AUMULLER, G. et al. Anatomia. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
CARROL, R. G. Fisiologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
DRAKE, R. L.; VOGL, A. W.; MITCHELL, A. W. M. Gray’s Anatomia Básica. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger.
5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 11. ed. São
Paulo: Roca, 2005.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo Humano: fundamentos de anatomia e fisio-
logia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
2 Sustentação e movimento do corpo
Um dos primeiros grandes desafios de um humano é ficar em pé e ereto, com toda
sua massa corpórea sustentada pelo esqueleto ósseo, e outro é se locomover. Para que
essas ações ocorram, é necessária a inserção de músculos na estrutura óssea e a estabi-
lização das junções ósseas por tecidos que permitam, dentro de certos limites, a movi-
mentação. Esse é o tema deste capítulo, que abordará generalidades sobre o esqueleto
humano, suas articulações e os músculos neles inseridos.

2.1 Sistema esquelético


Os ossos, além da função de sustentação e movimentação, também desempe-
nham um papel fisiológico importante, pois são eles que produzem células sanguíneas,
armazenam minerais, protegem os órgãos vitais e armazenam gordura. Sendo assim, o
sistema esquelético, ao contrário do que possa parecer, não é uma estrutura inerte e
estática.

A Hematopoese, realizada na medula óssea vermelha, é a produção de células sanguíneas ver-


melhas, os eritrócitos, células sanguíneas brancas, os leucócitos e de megacariócitos, que ori-
ginam as plaquetas.

O mineral que predomina na estrutura óssea é a hidroxiapatita, cuja fórmula é


Ca10 (PO4) 6(OH)2 , e esse cálcio e fosfato depositados no tecido ósseo auxiliam em uma
enorme quantidade de reações fisiológicas, como a contração muscular, transmissão
de impulsos nervosos e coagulação sanguínea. A concentração deste mineral no corpo
humano é cuidadosamente controlada pelos hormônios calcitonina e paratormônio e
pela vitamina D.
Apesar da grande quantidade de cálcio e fósforo, os componentes orgânicos, tais
como células, fibras colágenas, vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos, garantem
ao tecido ósseo intensa atividade metabólica. Além disso, células especializadas sinte-
tizam e reabsorvem a matriz óssea, fazendo com que, ao longo da vida, os ossos se
remodelem continuamente.

2.1.1 Fisiologia do tecido ósseo


Fisiologicamente, o tecido ósseo é dinâmico e muda constantemente de forma
durante o crescimento e desenvolvimento do esqueleto. Ele é duro o suficiente para
suportar pressões externas, mas ao mesmo tempo possui certa flexibilidade devido à
presença da matriz orgânica.
34

Microscopicamente, os ossos são formados por uma matriz orgânica que inclui
células, vasos sanguíneos, vasos linfáticos, nervos e fibras colágenas, e por uma estru-
tura inorgânica, a hidroxiapatita, que garante rigidez aos ossos. Entre as células
encontradas no tecido ósseo, algumas merecem atenção maior, devido a suas funções,
descritas no quadro a seguir.

Principais células encontradas no tecido ósseo


Células Função
Secretam fibras colágenas sobre as quais serão depositados os minerais, ou seja,
Osteoblastos
formam tecido ósseo.
Osteoclastos Reabsorvem e remodelam o tecido ósseo, ou seja, destroem tecido ósseo.

O controle da homeostasia mineral é realizado pelos hormônios calcitonina, parator-


mônio e vitamina D3 (1,25 - D3). A calcitonina, hormônio tiroideano, estimula a atividade
dos osteoblastos e a deposição do cálcio sanguíneo sobre o tecido ósseo, fazendo com
que o nível de cálcio diminua no plasma. Já o paratormônio, secretado pelas paratireoides,
tem efeito antagonista e ativa osteoclastos, que promovem a degradação da matriz óssea,
elevando os níveis de cálcio no sangue. A vitamina D3 (1,25 - D3) tem função similar à do
paratormônio, além de estimular diretamente a absorção intestinal de cálcio.

2.1.2 Classificação dos ossos


A classificação dos ossos é feita com base em sua forma, desse modo, eles
podem ser classificados em: curtos, planos, sesamoides, longos e irregulares. Os
cinco tipos podem ser visualizados na figura a seguir.
35

Diferentes ossos encontrados no corpo humano

(c) Osso plano


(externo)

(a) Osso longo


(úmero)

(d) Osso irregular (vértebra)


vista lateral esquerda

© stihii // Shutterstock. (Adaptado).


(b) Osso curto
(piramidal)

(e) Osso sesamoide


(paleta)

Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 154. (Adaptado).

Os ossos curtos consistem basicamente em um centro de osso esponjoso reco-


berto por uma camada cortical fina de osso compacto. Os principais exemplos são os
ossos do carpo, que compõem a mão, e do tarso, que compõem o pé.
Os ossos planos são finos, e sua espessura compreende uma camada média de
osso esponjoso, chamada díploe, revestida em ambos os lados por uma camada fina de
osso compacto, que são as lâminas interna e externa. Os ossos do crânio são exemplos
de ossos planos.
Ossos sesamoides, assim chamados porque possuem forma de gergelim (semente
de sésamo), desenvolvem-se no trajeto de tendões para impedir a fricção do tecido
fibroso sobre proeminências ósseas. No caso da patela, o maior osso sesamóide do corpo,
sua função é aumentar a força de alavancagem de um músculo ou um grupo muscular.
Os ossos longos são cilíndricos, possuem o comprimento maior que a largura e a
espessura e são encontrados nos membros superiores e inferiores, onde funcionam como
alavancas. Estruturalmente, são divididos em duas extremidades, chamadas de epífises
(uma proximal e outra distal), unidas a um corpo central tubular denominado diáfise.
36

Externamente, as epífises apresentam acidentes anatômicos que se adaptam às epífises


de outros ossos para estabelecer as articulações. Internamente, as epífises contêm maior
quantidade de tecido ósseo esponjoso recoberto por uma lâmina fina de osso compacto.
Na diáfise, por outro lado, há uma grossa camada de osso compacto que delimita uma
cavidade central conhecida como cavidade medular, revestida pelo endósteo.
Durante o desenvolvimento, tanto o osso esponjoso das epífises quanto o canal
medular da diáfise são preenchidos por medula óssea vermelha. Ao longo dos anos, a
medula óssea vermelha encontrada na cavidade medular da diáfise acumula gordura,
tornando-se amarela, e assim a medula óssea vermelha persiste somente nas epífises.
O crescimento dos ossos longos no sentido longitudinal ocorre graças à
presença das cartilagens epifisárias localizadas entre a epífise e a diáfise. Já o cresci-
mento transversal se dá pela atividade osteoblástica do periósteo que recobre toda a
extensão dos ossos longos, exceto nas regiões das epífises recobertas pelas cartila-
gens articulares. A figura a seguir demonstra a localização da epífise, da diáfise e das
cartilagens articulares.

Estrutura de um osso longo

Cartilagem articular
Epífise
proximal
Linha epifisial
Tecido ósseo esponjoso

Cavidade medular
Tecido ósseo compacto

Diáfise
Endósteo
Forame nutrício

Periósteo
© stockshoppe // Shutterstock. (Adaptado).

Epífise
distal Cartilagem articular
37

Finalmente, os ossos que não pertencem às categorias anteriores são chamados


de ossos irregulares. Os principais exemplos são os ossos da face e as vértebras.
O conjunto desses ossos forma nosso esqueleto, que pode ser classificado em dois
tipos: esqueleto axial e esqueleto apendicular, como estudaremos nos próximos tópicos.

2.1.3 Esqueleto axial


O termo axial deriva da palavra grega áxis, que corresponde ao eixo sobre o
qual o corpo gira. Assim, o esqueleto axial é representado pelo conjunto de ossos que
forma o eixo central do corpo, portanto, os ossos que fazem parte do esqueleto axial
são os ossos da cabeça, as vértebras, o esterno e as costelas, que podem ser visuali-
zados na imagem a seguir.

Divisão estrutural do esqueleto humano


Esqueleto axial

Esqueleto apendicular

© stihii // Shutterstock. (Adaptado).

A cabeça é dividida em crânio ou neurocrânio e face ou viscerocrânio. O crânio


protege o encéfalo, enquanto a face abriga as cavidades orbital, oral e nasal, que são
aberturas para os olhos e os sistemas digestório e respiratório, respectivamente.
As vértebras compõem a coluna vertebral, que se divide em segmentos:
cervical, torácico, lombar e sacral, cujas vértebras são denominadas com a letra
maiúscula do segmento seguida de seu número. Assim, a fórmula vertebral do ser
humano é C7, T12, L5, S5 e cóccix.
38

As duas primeiras vértebras cervicais (C1 e C2) são atípicas e recebem os nomes
de atlas e áxis, respectivamente, enquanto as demais são designadas da forma conven-
cional, de C3 a C7.
As vértebras torácicas se caracterizam por altos processos espinhosos e possuem
fóveas costais para a articulação com os 12 pares de costelas. Já as vértebras lombares
são reconhecidas pelos longos processos transversos que servem para a fixação dos
músculos da parede abdominal dorsal. A última lombar (L5) se articula com a primeira
vértebra sacral.
As vértebras sacrais se encontram fusionadas, formando um osso triangular
chamado de sacro, que forma a parede posterior da cavidade pélvica e se une lateral-
mente aos dois ossos do quadril. A extremidade inferior do sacro articula com o cóccix,
osso que representa a fusão de quatro a cinco vértebras coccígeas.
O esterno é um osso plano dividido em uma parte superior denominada manúbrio,
um corpo central e um processo inferior, denominado processo xifoide, que serve para a
fixação de músculos abdominais ventrais. A figura a seguir mostra a articulação anterior
das costelas com o osso esterno e a articulação posterior dessas mesmas costelas com
as vértebras.

Articulações anterior e posterior das costelas


Processo articular superior Faceta costal superior

Faceta costal do
processo transverso

Disco intervertebral Esterno


Processo
articular
inferior Corpo vertebral

Faceta costal inferior


Costela V
© FabriCO

Cartilagem costal

Fonte: DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2015, p. 126. (Adaptado).


39

Existem 12 pares de costelas se articulando posteriormente, com as 12 vérte-


bras torácicas e, a maioria deles, articulando-se anteriormente, com o esterno. Os 7
primeiros pares de costelas, as costelas verdadeiras, articulam-se diretamente com o
esterno por meio de suas cartilagens costais. Os 3 pares seguintes, as costelas falsas,
articulam-se indiretamente ao esterno por meio da ligação com as cartilagens costais
das costelas superiores, Isso significa que, por exemplo, a cartilagem costal da 8.ª
costela se liga à cartilagem costal da 7.ª costela para estabe­lecer conexão com o
esterno. Os 2 últimos pares de costela, as costelas flutuantes, não fazem articulação
com o esterno.

2.1.4 Esqueleto apendicular


O esqueleto apendicular está representado pelos membros inferiores e superiores,
além dos ossos do cíngulo pélvico e cíngulo escapular.

Cíngulo é o nome dado ao conjunto de ossos que prendem os membros inferiores ou superio-
res ao esqueleto axial. O cíngulo escapular é formado pela escápula e pela clavícula, enquanto
o cíngulo pélvico é formado pelos ossos do quadril.

Os membros superiores se dividem em braço, antebraço e mão. O osso do


braço humano é o úmero. Sua epífise proximal apresenta uma superfície arredondada
chamada de cabeça do úmero, que se articula com a cavidade glenoidal da escápula e
a clavícula, formando a articulação do ombro. Essa articulação permite movimentos
amplos ao membro superior. Na epífise distal, a superfície articular do úmero possui
dois acidentes anatômicos importantes: a tróclea e o capítulo, que se articulam com
ossos do antebraço: ulna (osso medial) e rádio (osso lateral), respectivamente,
formando o cotovelo. A extremidade proximal desses dois ossos se articula com o
úmero, mas é a ulna (especificamente o olécrano) que sentimos quando apoiamos o
cotovelo sobre uma superfície.
As epífises distais dos ossos do antebraço se articulam com a primeira fileira de
ossos do carpo, uma das partes da mão. O esqueleto da mão humana é subdividido em
três regiões: o carpo, com 8 ossos, o metacarpo, com 5, e falanges, com 14. Os ossos
carpais estão firmemente unidos entre si por meio de ligamentos e aponeuroses. Os
cinco ossos metacarpais se alinham com as falanges que formam os dedos, assim, os
dedos são numerados de I a V no sentido lateromedial. Todos os dedos, com exceção
do dedo I, conhecido popularmente como polegar, possuem 3 falanges: falange
proximal, falange média e falange distal, conforme ilustrado na figura abaixo.
40

Ossos dos membros superiores

Cavidade glenoidal
Escápula

Úmero

Ulna
Rádio

Ossos carpais
Metacarpais

Falanges
© FabriCO

Fonte: DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2015, p. 654. (Adaptado).

Chegando aos membros inferiores, o cíngulo pélvico é formado pelos três ossos
do quadril: ílio, púbis e ísquio. A depressão observada lateralmente formada pelos
três ossos chama-se acetábulo e é o local onde a cabeça do fêmur articula. Esses três
ossos, junto com o sacro e o cóccix, formam a pelve óssea.
O fêmur é o maior osso do corpo humano. Em sua extremidade proximal, a cabeça
do fêmur se articula com o acetábulo no osso do quadril, e sua epífise distal apresenta
os côndilos lateral e medial, que se articulam com os côndilos lateral e medial da tíbia.
Enquanto os côndilos do fêmur são superfícies arredondadas, os da tíbia são planos, e
essas superfícies articulares seriam incompatíveis se não houvessem os meniscos, que
são discos de fibrocartilagem também classificados em lateral e medial. Além dessas
superfícies articulares, o joelho também é formado pela articulação da patela com a
tróclea do fêmur, vista na face anterior desse osso e presa pelos ligamentos patelares
superior e inferior. O fêmur e os demais ossos dos membros inferiores estão ilustrados
na figura a seguir.
41

Ossos dos membros inferiores

Osso do quadril
Articulação
do quadril

Fêmur

Patela
Articulação
do joelho

Tíbia

Fíbula

Maléolo medial
Maléolo lateral

Articulação
© FabriCO

do tornozelo

Fonte: DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2015, p. 517. (Adaptado).

Os ossos da perna são a tíbia (medial) e a fíbula (lateral). Na extremidade distal


da tíbia, há uma projeção óssea denominada maléolo medial, facilmente palpável no
tornozelo. A fíbula, por sua vez, é um osso mais delgado, que garante sustentação
à tíbia. Sua extremidade distal apresenta o maléolo lateral, que, em conjunto com o
maléolo medial da tíbia, contribui para a formação da articulação da perna com o pé.
O pé atua como uma potente alavanca para impulsão do corpo e é formado
por 7 ossos tarsais, 5 pequenos ossos longos, denominados ossos metatarsais e 14
falanges. Como na mão, existem três falanges para cada dedo do pé, exceto para o
hálux, popularmente conhecido como dedão do pé.
42

2.2 Sistema articular


Os locais de união entre dois ou mais ossos, entre ossos e cartilagens ou entre
duas cartilagens são chamadas de articulações ou junturas, e o estudo do sistema arti-
cular é denominado artrologia.
A despeito da fragilidade das articulações quando comparadas aos ossos, suas
estruturas permitem movimentos complexos capazes de resistir a grande grau de tração
e compressão. A resistência das articulações depende de vários fatores, sendo um deles
o tecido que une as superfícies articulares, permitindo ou não a mobilidade entre elas.
O sistema articular é classificado de acordo com a anatomia e a fisiologia. A clas-
sificação baseada em aspectos anatômicos considera a estrutura da articulação, ou,
em outras palavras, a classificação estrutural se baseia no tecido que se interpõe às
superfícies articulares, como mostram as figuras a seguir.

Articulação sólida
Articulação sólida

Osso Tecido Osso


conjuntivo
Fonte: DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2015, p. 20. (Adaptado).

As articulações podem ser sólidas, quando o tecido interposto aos ossos


é fibroso ou cartilaginoso.

Articulação sinovial
Articulação sinovial

Osso Cavidade articular Osso


Fonte: DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2015, p. 20. (Adaptado).

As articulações também podem ser do tipo sinoviais, quando há um


© FabriCO

espaço entre os ossos preenchido por líquido sinovial.


43

O sistema articular também pode ser classificado considerando-se o grau de


mobilidade observado entre as superfícies articulares, abordagem que chamamos de
classificação funcional ou fisiológica.
De acordo com os aspectos morfológicos, as superfícies articulares podem ser
unidas por tecido fibroso, cartilaginoso ou líquido, também chamado de sinóvia.
Considerando esse critério, as articulações poderão ser fibrosas, cartilaginosas ou
sinoviais. Assim sendo, o grau de mobilidade das articulações será restrito, discreta-
mente móvel ou totalmente móvel, respectivamente. Essa classificação funcional,
portanto, denominará as articulações de imóveis, semimóveis ou móveis.

2.2.1 Articulações fibrosas


O tecido que se interpõe às superfícies articulares é conjuntivo fibroso e, por isso,
confere pouco ou nenhum movimento à articulação e, caso o objetivo fosse denominar
as articulações fibrosas com base em seu grau de mobilidade, elas seriam denominadas
articulações imóveis.
A restrição do movimento é determinada pelo comprimento das fibras de tecido
conjuntivo que unem os ossos e dará origem a três tipos de articulações fibrosas:
suturas, sindesmoses e gonfoses.
As suturas são observadas somente entre os ossos do crânio e da face dos
adultos. Durante a vida fetal, os ossos do crânio e da face são ilhas de tecido ósseo
unidas por ligamentos longos que permitem uma razoável mobilidade entre os ossos
da cabeça para favorecer a passagem do feto pelo canal do parto. Após o nascimento,
ainda é possível sentir a presença das fontanelas e, com o passar do tempo e como
resultado da ossificação intramembranosa, esses ligamentos se tornam cada vez mais
curtos e passam a ser observados como linhas suturais em um crânio que completou
seu desenvolvimento, conforme ilustram as figuras a seguir.
44

Suturas do crânio
Sutura esfenoescamosa
Sutura coronal Sutura escamosa

Sutura esfenoparietal Parte escamosa


(do osso temporal)
Ptério
Osso parietal
Osso Frontal

Asa maior
(do osso estenoide) Sutura parietomastóidea

Forame zigomaticotemporal
(na superfície profunda Sutura lambdoide
do osso zigomático)
Osso nasal Astério
Osso lacrimal
Forame Osso occipital
zigomaticofacial
Osso zigomático Sutura occipitomastóidea

Maxila Parte mastóidea


do osso temporal
Processo mastóideo
Parte timpânica (do osso temporal)
Parte alveolar
(da mandíbula) Processo estiloide
Processo condilar
Forame
Ângulo da mandíbula
mentual
Ramo da mandíbula
Corpo da mandíbula Processo zigomático (do osso temporal)
Processo temporal (do osso zigomático) Processo coronoide

Protuberância
occipal externa

Osso sutural Sutura sagital

Osso
Osso parietal parietal

Sutura
lambdoide
Parte escamosa
do osso occiptial

Incisura
© Randall Reed // Shutterstock. (Adaptado).

mastoide
Sutura
Processo occipito-
mastoide mastóidea

Linha nucal inferior Linha nucal


superior

Ínio
Crista occipal
externa
45

As suturas recebem denominações específicas conforme sua localização, o


formato das bordas dos ossos ou, simplesmente, pela composição dos nomes dos
ossos que se articulam.
Além das suturas, as articulações fibrosas também são representadas pelas
sindesmoses, onde os ossos são unidos por feixes de fibras mais longas que aquelas
observadas nas suturas. São exemplos de sindesmoses as articulações entre os ossos
do antebraço e da perna. As fibras da membrana interóssea entre o rádio e a ulna
permitem certa rotação no antebraço, porém, entre as epífises distais da tíbia e da
fíbula, há um ligamento curto que permite um grau de mobilidade restrito. Por isso, as
sindesmoses também são classificadas funcionalmente como articulações imóveis.
As articulações fibrosas também são observadas na maxila e na mandíbula, onde
as raízes dos dentes se articulam nos alvéolos dentários pelos curtos ligamentos perio-
dontais em articulações chamadas de gonfoses. Os ligamentos periodontais unem o
cemento ao osso alveolar, estabilizando essas articulações de tal forma que sua mobili-
dade indica doença periodontal.

2.2.2 Articulações cartilaginosas


As articulações cartilaginosas são assim chamadas porque os ossos são unidos
por cartilagem. Essas articulações podem ossificar ao longo do desenvolvimento,
sofrendo um processo conhecido como sinostose, ou podem permanecer durante toda
a vida conferindo uma mobilidade parcial à articulação. De acordo com essas caracte-
rísticas, as articulações cartilaginosas dividem-se em sincondroses e sínfises. Do ponto
de vista funcional, as articulações cartilaginosas são conhecidas como semimóveis.
As sincondroses são placas de cartilagem hialina que unem as epífises proximal
e distal com a diáfise dos ossos longos. Essas placas de cartilagem são chamadas de
placas ou discos epifisários e promovem o crescimento dos ossos longos no sentido
de seu comprimento. O processo de sinostose inicia com a liberação dos hormônios
sexuais na puberdade.

A secreção de estrogênio pelos ovários ocorre prematuramente em relação à secreção de tes-


tosterona pelos testículos. Assim, por conta do “selamento” sofrido pelas placas epifisárias em
decorrência da sinostose, as mulheres são geralmente mais baixas que os homens.

Nas sínfises, as superfícies articulares estão unidas por um disco de fibrocar-


tilagem, cuja função é conferir resistência aliada à flexibilidade. Os exemplos mais
lembrados de sínfises são as articulações entre as vértebras.
46

2.2.3 Articulações sinoviais


Nas articulações sinoviais, as superfícies articulares estão separadas por um
espaço chamado de cavidade articular, que se encontra preenchido por líquido sinovial
ou sinóvia. Portanto, do ponto de vista funcional, essas articulações são denominadas
móveis, e as peças articulares são mantidas unidas por cápsula articular e, em alguns
casos, por ligamentos.

O termo sinóvia tem origem grega (sin + oóv) e significa com ovo, pois esse líquido viscoso
contém mucina e uma pequena quantidade de sais minerais. É transparente e alcalino e sua
aparência lembra a clara do ovo.

A cápsula articular também tem a função de produzir o líquido sinovial por


processos de filtração do plasma a partir da sua membrana mais interna e vasculari-
zada, chamada de membrana sinovial. Esse líquido mantém a nutrição e a viabilidade das
cartilagens hialinas que recobrem as superfícies articulares e que têm a função de evitar
atrito entre si.
Algumas articulações sinoviais contam com componentes considerados acessó-
rios como ligamentos, meniscos, discos, bainhas e bolsas sinoviais.
As únicas articulações móveis da cabeça são as articulações temporomandibu-
lares (ATMs). São articulações sinoviais complexas que possuem os componentes
básicos de uma articulação sinovial, além de ligamentos e um disco interarticular posi-
cionado entre o côndilo da mandíbula e a fossa mandibular do osso temporal.
A articulação do joelho, ilustrada na figura abaixo, possui os elementos conside-
rados constantes em uma articulação sinovial, como superfícies articulares represen-
tadas pelos côndilos do fêmur, côndilos da tíbia e patela e cápsula articular.
47

Articulação do joelho
Ligamento
colateral
posterior
Ligamento
colateral Côndilo
fibular medial

Ligamento
Côndilo colateral
lateral do tibial
fêmur
Ligamento
Menisco cruzado
lateral anterior

Menisco
Tíbia medial

Ligamento
patelar

Fíbula Patela

Tendão do
quadríceps

© FabriCO
Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 236. (Adaptado).

A cápsula articular delimita uma cavidade, chamada de cavidade articular, que é


preenchida pelo líquido sinovial, importante na lubrificação das cartilagens articulares.
O joelho também possui ligamentos patelares e colaterais medial e lateral, além de
meniscos medial e lateral, que são discos de fibrocartilagem que promovem a adap-
tação entre os côndilos do fêmur e da tíbia e também servem para absorver impactos.

2.2.4 Movimentos articulares


Os movimentos articulares podem ser classificados de acordo com a morfologia
das faces articulares ou de acordo o número de possibilidades de movimento, determi-
nados pelo eixo do movimento. Desta forma, as articulações podem ser classificadas em:
• articulações nas quais o movimento ocorre em volta de um eixo único;
• articulações cujo movimento ocorre em volta de dois eixos;
• articulações cujo movimento ocorre ao redor de três eixos de movimento.
48

Para exemplificar, podemos utilizar as articulações do cotovelo, com um eixo de


movimento; as articulações dos ossos do carpo com as falanges, com dois eixos de
movimentação; e a articulação do úmero com a escápula, com três eixos de rotação.

2.3 Sistema muscular


Os movimentos do esqueleto humano dependem essencialmente dos músculos.
Tais músculos, presos ao esqueleto e estabilizados por articulações, são chamados
músculos esqueléticos. Sua principal característica é a presença de estrias, que são
faixas proteicas claras e escuras, chamadas de sarcômeros, visíveis sob microscópio.
Além de facilitar a realização de movimentos coordenados, os músculos esqueléticos
também auxiliam na manutenção da postura corporal, no retorno venoso ao coração e
na manutenção da temperatura corporal.
Correr uma maratona ou apanhar uma caneta para fazer uma anotação exigem
ações coordenadas de grupos musculares. Por exemplo, durante um movimento de
corrida, determinados grupos musculares contraem tracionando os ossos da perna e
coxa, enquanto outros relaxam permitindo o movimento. Nesse sentido, para cada
grupo de músculos que realiza uma determinada ação, outros grupos musculares são
mobilizados para desfazer a ação. Assim, de maneira bastante simples, os músculos
podem ser divididos em músculos que desempenham ações no mesmo sentido,
chamados de músculos agonistas ou sinergistas, e músculos que desempenham ações
opostas, chamados de antagonistas.
Outro ponto que deve ser considerado é que os músculos esqueléticos estão
presos em, pelo menos, dois locais no esqueleto. Desta forma, um desses locais é deno-
minado origem do músculo e o outro é chamado de inserção do músculo. A origem é
o local de fixação do músculo no osso que não se movimenta durante a contração
muscular. Na outra extremidade, está o local de inserção, ou seja, o ponto de fixação no
osso que se movimenta durante a contração. Para que haja o movimento, as inserções
musculares devem se mover em direção à origem. Tabelas que ilustram a função de
cada grupo muscular normalmente contêm, em suas colunas, os itens origem e inserção
muscular, dando indícios de qual local se movimentará durante a contração do músculo.
Para entender melhor, imaginemos o ato mastigatório: para fechar a boca, o
músculo masseter traciona a mandíbula para cima. Nesse caso, o osso que se movimenta
é a mandíbula e é nela que está a inserção do músculo masseter. A origem (osso que não
se movimenta) é o arco do osso zigomático, e aí está a origem do músculo masseter.
No corpo humano existem mais de 600 músculos, alguns longos, outros minús-
culos, a descrição detalhada da função, inervação e vascularização de cada um é uma
tarefa que requer esforço. Dessa forma, deve-se associar o conhecimento teórico com
a prática profissional, buscando informações adicionais sempre que surgirem dúvidas.
49

2.3.1 Organização estrutural dos músculos esqueléticos


A figura a seguir mostra como está organizado um músculo esquelético. A unidade
estrutural do músculo é a miofibrila, que contém filamentos proteicos paralelos
responsáveis pela contração. O conjunto de miofibrilas está imerso no sarcoplasma
e é recoberto por uma membrana plasmática, o sarcolema. O sarcolema é seme-
lhante às outras membranas citoplasmáticas, porém com uma característica funda-
mental: ela forma invaginações para o interior do sarcoplasma, originando os túbulos T.
Intimamente relacionado com os túbulos T, aparece o retículo sarcoplasmático, respon-
sável pelo armazenamento de cálcio intracelular. Um detalhe interessante da miofibrila é
que ela é formada por sarcômeros com suas bandas A, I e H, além do disco Z.

Organização estrutural do músculo esquelético

Miofibrila
Retículo sarcoplasmático

Mitocôndria
Miosina

Sarcoplasma
(citoplasma celular)

Sarcolema
(membrana celular)

Núcleo

Capilar
Miofilamentos
Fibra muscular
(célula muscular)
Actina Endomísio
Fascículo
© sciencepics // Shutterstock. (Adaptado).

Epímísio
Túbulos Perimísio
Músculo esquelética
Fáscia (tecido conjutivo)
Tendão
50

O conjunto de miofibrilas recobertas pelo sarcolema forma a fibra muscular, que


contém células longas com vários núcleos situados na periferia da fibra. Cada fibra
muscular é recoberta individualmente por tecido conjuntivo chamado endomísio. Os
conjuntos de fibras musculares são separados pelo perimísio e, finalmente, o músculo
como um todo é recoberto pelo epimísio. A parte cárnea do músculo, que fica entre os
tendões de origem e de inserção, é denominada ventre muscular.

2.3.2 Músculos da cabeça e pescoço


Muitos dos músculos da cabeça e do pescoço são designados por sua função (por
exemplo, músculo levantador do lábio superior), além de estarem envolvidos na masti-
gação, deglutição, fonação e na expressão facial. Vários deles se inserem na pele da
face, permitindo uma variação enorme de movimentos.
A figura a seguir mostra os principais músculos superficiais da cabeça e do pescoço.

Vista lateral dos principais músculos superficiais do corpo

Aponeurose
epicrânia
Ventre Epicrânio
frontal
Ventre
occipital
Corrugador do supercílio
Orbicular do olho Temporal
Masseter
Levantador do
lábio superior © decade3d - anatomy online // Shutterstock. (Adaptado).

Zigomáticos
maior e menor Esternocleidomastóideo
Bucinador
Risório Trapézio

Orbicular da boca
Mentual
Esplênio da cabeça
Abaixador do
lábio inferior
Abaixador do
ângulo da boca

Platisma

Os músculos do pescoço atuam na manutenção da postura da cabeça e trabalham


de tal forma que podem auxiliar também na estabilização das vértebras cervicais e na
estabilização da língua, por intermédio do osso hioide.
51

2.3.3 Músculos do tronco e membros


Os músculos do tronco podem ser subdivididos em músculos do abdome e
músculos do tórax. Os primeiros colaboram para movimentação do tronco e para a
proteção das vísceras. Já os músculos do tórax, inseridos nas costelas, estão envolvidos
em seus movimentos coordenados de elevação e abaixamento, contribuindo para a
respiração. Esse processo é auxiliado pelo diafragma, que é o músculo mais importante
da inspiração e tem a função de ampliar a cavidade torácica, aumentando a capacidade
respiratória, no que denominamos respiração abdominal. Considera-se que esse músculo
faça a divisão anatômica entre as cavidades torácica e abdominal.
Tendo em vista que grandes quantidades de alimentos transitam pelos órgãos
abdominais e que a parede abdominal se distende durante a gravidez, é fácil imaginar
que os músculos do abdome, se não forem exercitados, podem perder o tônus
muscular e distender.
Músculos profundos da coluna cervical auxiliam no correto posicionamento das
vértebras e na fixação dos membros ao tronco. Os músculos dos membros, tanto
superiores quanto inferiores, estão envolvidos em atividades de locomoção e susten-
tação do esqueleto. Por exemplo, os músculos situados na região anterior da perna
tracionam o pé para cima. Tal movimento é denominado flexão dorsal do pé. Músculos
posteriores da perna fazem o movimento contrário: tracionam o pé para baixo em um
movimento chamado de flexão plantar do pé.
As duas figuras abaixo mostram as vistas anterior e posterior dos principais
músculos superficiais do corpo.
52

Vista anterior dos principais músculos superficiais do corpo


Facial
Facial • Epicrânio, ventre frontal
• Temporal • Orbicular do olho
• Zigomático
• Masseter • Orbicular da boca
Ombro • Platisma Pescoço
• Trapezio • Esterno Hióideo
• Esternocleidomastóideo
• Deltóide Torax
• Peitoral menor
Braço • Peitoral maior
• Tríceps branquial • Serrátil anterior
• Bíceps branquial
• Intercostais
• Branquial
Abdome
Antebraço • Reto do abdome
• Pronador redondo • Oblíquo esterno do abdome
• Branquioradial
• Oblíquo interno do abdome
• Flexor radial do carpo
• Palmar longo • Transverso do abdome

Coxa
Pelvis/coxa
• Iliopsoas • Tensor da fáscia
lata
• Pectíneu
• Sartorio
• Adutor longo
• Grácil
Coxa
• Reto femoral
• Vasto lateral
• Vasto medial

Perna
• Fibular longo Perna
• Gastrocnêmio
• Extensor longo dos dedos

© adike // Shutterstock. (Adaptado).


• Tibular anterior
• Sóleo
53

Vista posterior dos principais músculos superficiais do corpo


Pescoço

Epicrânio, ventre occipital

Esternocleidomastóideo

Ombro
Trapézio
Deltoide
Infra-espinhal
Braço
Tríceps braquial Redondo maior
Rombóide maior
Braquial
Latíssimo do dorso
Antebraço
Braquiorradial
Extensor radial
curto do carpo Quadril
Extensor ulnar do carpo Glúteo médio
Glúteo máximo
Flexor ulnar do carpo

Extensor dos dedos

Coxa

Abdutor magno
Isquiotibias:
Trato iliotibial
Bíceps femoral
Semitendíneo
Plantar Semimembranáceo
Gastrocnêmio

Sóleo

© adike // Shutterstock. (Adaptado).


Sóleo (b) Visão posterior
Fibular longo
Extensor longo dos dedos
Flexor longo dos dedos
Tendão do calcâneo (Aquiles)

O estudo dos músculos esqueléticos requer do estudante de Anatomia e


Fisiologia empenho e dedicação. Uma sugestão para organizar os tópicos de estudo
é agrupar os músculos de acordo com suas funções, nesse sentido, atlas de anatomia
auxiliam a saber a origem e inserção de cada músculo. Na próxima seção, entende-
remos como funciona a contração e o relaxamento muscular.

2.3.4 Fisiologia da contração e relaxamento muscular


O movimento de contração e relaxamento muscular é desempenhado individual-
mente pelas fibras musculares, estimuladas por impulsos nervosos conduzidos por
54

neurônios motores. Cada filamento nervoso axonal conduz o impulso nervoso para as
fibras musculares individualmente. O ponto de união entre o neurônio motor e todas
as fibras musculares por ele inervada é denominado unidade motora, e o terminal
axônico se conecta com a fibra muscular na junção neuromuscular ou mioneural.
Nesse pequeno espaço chamado de fenda sináptica, neurotransmissores são libe-
rados e transmitem o impulso nervoso que culmina com a contração muscular.
O mecanismo de contração muscular, ilustrado na figura abaixo, pode ser resu-
mido em cinco etapas.

Sequência da contração muscular


Sarcômero relaxado Fibra muscular
Cabeça de miosina
Miofilamentos Capilar
Axônio
Miosina

Actina Miosina
Actina
Sarcômero contraído
Impulso nervoso
Ponte cruzada

Vesículas
sinápticas -

© Anton Nalivayko // Shutterstock. (Adaptado).


contém ACh
Terminação
Actina Miosina Sarcolema
pregueado axônica

Sítios
receptores
ligado a ACh

Fenda
sináptica

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 121. (Adaptado).

O mecanismo de contração muscular, ilustrado nesta imagem, pode ser assim


resumido:

O impulso nervoso proveniente do sistema nervoso chega no terminal axônico, vesículas com acetilcolina
(Ach) se fundem com a membrana da fenda sináptica, e a Ach é liberada.

A Ach liberada na fenda sináptica se liga a receptores no sarcolema, despolarizando-o.


55

A despolarização do sarcolema é transmitida ao retículo sarcoplasmático pelos túbulos T, provocando a


abertura de canais de cálcio ao longo do retículo sarcoplasmático.

O cálcio se difunde para o sarcoplasma e se liga à proteína troponina, induzindo a exposição das cabeças
de miosina.

As cabeças de miosina expostas deslizam sobre a actina, e ocorre a contração muscular.

No relaxamento muscular, as cabeças de miosina se desprendem da actina. Para que


isso ocorra, a Ach deve ser degradada pela acetilcolinesterase, fazendo com que os canais
de sódio se fechem, encerrando a despolarização do sarcolema. O cálcio que estava no
sarcoplasma retorna ao retículo, e o sarcômero retorna a sua conformação original.

2.4 Estruturas associadas


No corpo humano, existem centenas de músculos esqueléticos fixados direta ou
indiretamente aos 206 ossos do esqueleto, com inúmeras articulações viabilizando
a conexão entre eles. Esse conjunto de ossos, músculos e articulações depende de
estruturas a eles associadas para garantir a perfeição do movimento, chamadas de
elementos acessórios das articulações sinoviais.

2.4.1 Elementos acessórios das articulações sinoviais


Existem alguns elementos acessórios das articulações sinoviais que auxiliam no
movimento articular, tais como discos e meniscos articulares. Discos são constituídos
de tecido conjuntivo denso e cartilagem e estão unidos à cápsula articular dividindo a
cavidade articular em um compartimento supradiscal e outro infradiscal. Suas funções
principais são absorver forças compressivas que incidam sobre a articulação e ajustar a
articulação durante os movimentos.
Meniscos são encontrados na articulação do joelho, interpondo-se entre as faces
ósseas articulares. A deformação fisiológica dos meniscos articulares permite que dois
ossos com formatos diferentes se encaixem perfeitamente, auxiliando na manutenção
da estabilidade da articulação. Outro elemento acessório importante são os corpos
adiposos, que permitem grandes movimentos articulares, uma vez que se movem para
dentro e para fora das articulações, preenchendo espaços durante o movimento arti-
cular. Finalmente, a articulação sinovial é estabilizada por ligamentos que reforçam a
estrutura da cápsula e limitam os movimentos.
56

2.4.2 Tendões e ligamentos


Tendões e ligamentos são elementos de união e estabilização de articulações.
Os tendões são compostos por tecido fibroso denso conectam fortemente músculos e
ossos ou músculos e cartilagens. O tecido conjuntivo que envolve a fibra muscular é
denominado endomísio. O conjunto de fibras musculares forma um fascículo muscular
que é envolvido pelo perimísio, e o conjunto de fascículos forma, então, o músculo que
é envolvido pelo epimísio.
Endomísio, perimísio e epimísio se estendem do músculo em direção ao
periósteo, que reveste o osso formando o tendão. Alguns tendões são envolvidos por
tubos de tecido conjuntivo fibroso, chamados de bainhas tendíneas. O objetivo da
bainha tendínea é reduzir o atrito durante o movimento dos tendões.
Ligamentos são formados por fibras colágenas condensadas que participam da
articulação e conexão entre os ossos. Podem ser classificados em ligamentos intra-arti-
culares, que estão no interior das articulações e ligamentos extra-articulares, que estão
fora das articulações. Os ligamentos são responsáveis pelo reforço e contenção da arti-
culação e pela limitação do movimento, contribuindo para preservar as articulações.

2.4.3 Aponeuroses
Quando um tendão é plano, ele é denominado de aponeurose. A aponeurose,
então, possui a mesma função do tendão, mas com forma diferente: tendões são cilín-
dricos, e aponeuroses, laminares. Um exemplo interessante é a aponeurose abdo-
minal: a parede abdominal não é protegida por ossos, como o tórax. Ao invés disso, os
músculos abdominais se fundem com aponeuroses amplas na região anterior, formando
uma faixa tendinosa que se estende da sínfise púbica até o osso esterno. Essa faixa,
junto com os músculos abdominais, protege e sustenta as vísceras abdominais.

2.4.4 Fáscias
Os músculos são envolvidos por tecido conjuntivo conectivo e são separados da
pele pela tela subcutânea. Essa estrutura funciona como trajeto para nervos, vasos
sanguíneos e vasos linfáticos, que entram e saem do tecido muscular, mas o verdadeiro
elemento de sustentação dos músculos são as fáscias.
As fáscias são membranas fibrosas e elásticas que envolvem os músculos
esqueléticos e permitem a passagem de vasos e nervos. Junto com os tendões, as
fáscias unem os músculos esqueléticos aos ossos. Fáscias auxiliam também na susten-
tação e manutenção dos órgãos em seus lugares.
57

Fáscias podem ser classificadas em fáscia superficial, que é lâmina de tecido fibroso
que fica sob a pele, isolando-a e protegendo-a, e fáscia profunda, que envolve, separa
e fixa os músculos esqueléticos nos ossos. No punho, a fáscia profunda é espessa,
formando faixas fibrosas, chamadas de retináculos, pelas quais passam os tendões.
Neste capítulo, compreendemos como o corpo se movimenta e como ocorre a
fixação de suas partes. Essas são as funções do sistema esquelético e do sistema
muscular, que estão intimamente ligados para que possamos nos manter em pé e nos
mover. Assim, vimos os principais ossos e músculos do corpo humano e estruturas
auxiliares, como discos, meniscos, ligamentos e tendões.
58

Referências
APPLEGATE, E. J. Anatomia e Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DRAKE, R. L.; VOGL, A. W.; MITCHELL, A. W. M. Gray’s Anatomia Básica. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.  
______. Gray’s Anatomia Clínica para Estudantes. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em Cores. 3. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.
HERLIHY, B.; MAEBIUS, N. K. Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano Saudável e
Enfermo. 1. ed. Barueri: Manole, 2002.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia. 3. ed. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
STANDRING, S. Gray’s Anatomia: a base anatômica da prática clínica. 40. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2011.
THOMPSON, J. C. Neeter Atlas de Anatomia Ortopédica. 2. ed. Ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012.  
3 Nutrição de células e tecidos – circulação sanguínea
As células que formam os tecidos do corpo humano exercem as mais variadas e
complexas funções, que demandam consumo de energia, a qual provém do metabolismo
do oxigênio. Assim, para o funcionamento ideal dos sistemas que formam nosso corpo,
os nutrientes fornecidos após o processo de digestão devem chegar às células. Além
disso, a atividade celular produz materiais e substâncias que precisam ser eliminadas do
corpo e, portanto, devem ser transportadas até os órgãos encarregados de excretá-las.
O sistema circulatório sanguíneo, constituído pelo coração, pelo sangue e pelos
vasos sanguíneos e suas ramificações, conecta as partes mais distantes do corpo e se
encarrega de captar e distribuir o que as células precisam através do sangue, que se
mantém em movimento numa rota circulatória entre os sistemas pela ação bombeadora
do coração. Neste capítulo, veremos os detalhes do funcionamento e da constituição
desse sistema.

3.1 Sangue
Uma das partes líquidas que compõem o corpo humano é o sangue, que faz parte
do tecido conjuntivo e conecta os órgãos por meio da ação de transportar e distribuir
substâncias. Suas características possibilitam a realização de funções que serão eluci-
dadas ao longo desta seção, na qual também compreenderemos a constituição do
sangue e o conceito de hematose.

3.1.1 Funções do sangue


O sangue tem diversas funções, relacionadas ao transporte de substâncias, ao
equilíbrio do organismo e à proteção de nosso corpo:

Transporte de oxigênio

O sangue é o meio pelo qual o oxigênio captado nos pulmões é conduzido até as células, e o
dióxido de carbono produzido pelas reações celulares é levado das células até os pulmões, de
onde será expelido.

Transporte de nutrientes

Após a digestão de alimentos, os nutrientes ficam prontos para ser absorvidos pelas células. O
sangue, então, transporta esses nutrientes do trato gastrointestinal ou dos locais onde estão
armazenados (como fígado e tecido adiposo) para as células.
60

Transporte de hormônios

Glândulas endócrinas secretam hormônios, que precisam ser conduzidos para os órgãos-alvo, e
o sangue cumpre essa função.

Transporte de resíduos

O sangue conduz até os rins os resíduos do metabolismo que devem ser excretados. Os rins,
então, filtram esse sangue, eliminando as substâncias que podem ser tóxicas.

Manutenção do equilíbrio
Quando nosso corpo está saudável, apresenta um equilíbrio interno chamado de homeostase,
e um dos fatores que devem ser mantidos em níveis específicos é a concentração de íons nos
tecidos do corpo. O sangue contribui absorvendo, transportando e liberando íons conforme
circula e de acordo com as necessidades das células. Dessa forma, cumpre a função de estabili-
zação do pH e manutenção da composição eletrolítica ideal dos líquidos intersticiais.

Proteção do corpo
O sangue impede a perda de líquidos por vasos sanguíneos lesados produzindo reações de
coagulação que selam as paredes dos vasos rompidos, o que evita alterações da volemia, isto
é, a quantidade de sangue circulante. Situações graves de hipovolemia (diminuição do volume
sanguíneo circulante) causadas, por exemplo, por hemorragias severas, podem conduzir a uma
parada cardíaca. O sangue também protege o corpo contra toxinas e patógenos, por meio de
suas células especializadas em defesa, os leucócitos, que combatem infeções impedindo a
entrada e desenvolvimento de microrganismos.

Para que o sangue consiga cumprir todas suas funções, precisa ter características
especiais. A principal delas é sua divisão em uma parte líquida e outra sólida, como
veremos a seguir.

3.1.2 Plasma e elementos figurados


O sangue é constituído por uma parte líquida, o plasma, e outra sólida distribuída
nessa porção aquosa, formada por várias células denominadas glóbulos sanguíneos e
que integram a porção dos elementos figurados. De acordo com Van de Graaff (2003),
45% do sangue corresponde aos elementos figurados e 55% ao plasma. Essa divisão
pode ser visualizada na imagem a seguir.
61

Componentes do sangue
Amostra de sangue Camada sobre
centrifugado o coágulo

Plasma
sanguíneo

Plaquetas
Camada
tampão Células
sanguíneas
Elementos Células brancas
figurados sanguíneas
vermelhas

© FabriCO
Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 541. (Adaptado).

O plasma é incolor, ligeiramente amarelado e possui viscosidade e densidade


maiores do que da água. O maior percentual de seu volume é constituído de água, e o
restante do soluto é quase todo formado por proteínas. Segundo Tortora e Grabowski
(2006), essa porção do sangue ainda contém outros solutos, como nutrientes, eletró-
litos, enzimas, hormônios, gases e produtos residuais do metabolismo que devem ser
excretados pelos rins, como ureia, ácido úrico, creatinina e amônia.
Células do fígado, os hepatócitos, são responsáveis pela síntese das proteínas
do sangue encontradas no plasma, que são chamadas de proteínas plasmáticas. São
elas: albuminas, globulinas e o fibrinogênio.
As albuminas são as menores e mais abundantes proteínas do plasma sanguíneo
e exercem a função de transporte de hormônios esteroides e ácidos graxos. As globu-
linas podem se apresentar de duas formas. A primeira é como imunoglobulinas,
também conhecidas como anticorpos, que atuam como parte de nosso sistema de
defesa atacando vírus, bactérias e quaisquer outras substâncias consideradas estranhas,
chamadas de antígenos. A segunda é como globulinas de transporte, conduzindo lipí-
dios, hormônios, ferro, íons e vitaminas lipossolúveis. O fibrinogênio é uma proteína
encontrada em menor quantidade no plasma e está relacionada à coagulação do sangue.
Segundo Martini (2009), tanto as albuminas quanto as globulinas podem se ligar
a lipídios como triglicerídeos, ácidos graxos ou colesterol, que não são solúveis em
água. Essas combinações são chamadas de lipoproteínas e se dissolvem rapidamente
no plasma para conduzir os lipídios para os tecidos.
62

Os elementos figurados do sangue são células vivas chamadas de hemá-


cias, glóbulos vermelhos ou eritrócitos e os leucócitos ou glóbulos brancos, que
serão explicados no próximo item. Fragmentos celulares denominados plaquetas
ou trombócitos também constituem essa porção do sangue e atuam transportando
substâncias químicas para o processo de coagulação do sangue. Elas formam tempo-
rariamente tampões nas paredes danificadas dos vasos sanguíneos e podem reduzir o
tamanho do coágulo, aproximando as bordas da ferida após sua formação.

3.1.3 Séries branca e vermelha


Os glóbulos vermelhos (hemácias) e os glóbulos brancos (leucócitos) formam as
séries vermelha e branca, respectivamente.
Os glóbulos vermelhos recebem esse nome em função da proteína transportadora
de gases que contêm, a hemoglobina, cujo pigmento confere a cor vermelha ao sangue.
Os principais gases transportados são o oxigênio e o dióxido de carbono, que são ligados
de forma reversível à hemoglobina, formando os compostos denominados de oxihemo-
globina e carbamino-hemoglobina. Já o monóxido de carbono forma uma ligação irrever-
sível com a hemoglobina, assim, ela não conseguirá mais transportar outros gases.
A porcentagem do volume total de sangue constituída pelas hemácias é deno-
minada hematócrito, volume concentrado de glóbulos vermelhos (VCGV) ou volume
globular (VG). O hematócrito normal de um homem adulto sadio é em torno de 40 a
54% e o de uma mulher fica entre 38 e 46%. Alterações nesse índice podem interferir
no transporte de substâncias, uma vez que um hematócrito muito baixo num volume
sanguíneo normal pode significar anemia, o que reduzirá a capacidade de trans-
porte de oxigênio; e um hematócrito muito alto indica policitemia, que pode causar
obstrução de pequenos vasos sanguíneos.
Os glóbulos brancos são encontrados em pequena quantidade no sangue e em
grande quantidade nos tecidos. Eles agem durante processos infecciosos ou infla-
matórios decorrentes de alguma lesão de duas formas: fagocitando (captando e
ingerindo) bactérias, vírus e outros patógenos, células cancerosas e restos celulares
ou desencadeando respostas imunes. Para tanto, deixam a corrente sanguínea e
emigram para os pontos de inflamação ou infecção (diapedese) ou são atraídos por
substâncias químicas que podem ser liberadas por bactérias ou durante os processos
inflamatórios (quimiotaxia).
Os glóbulos brancos são divididos em duas categorias: granulócitos, que apre-
sentam grânulos quando vistos ao microscópio óptico, e os agranulócitos, cujos
grânulos citoplasmáticos são em pequena quantidade e não reagem aos corantes, por
isso, não aparecem numa imagem de microscopia ótica.
63

Os leucócitos granulócitos são de três tipos: neutrófilos, eosinófilos e basófilos,


que diferem pelas características de seus grânulos.
Neutrófilos são móveis e fagocitários e agem fagocitando. Os eosinófilos atuam
em reações alérgicas, combatendo os efeitos da histamina, e combatem vermes para-
sitas. Os basófilos, também atuam nos processos alérgicos, mas liberando substâncias
que aumentam a resposta inflamatória.
Já os agranulócitos são os monócitos e linfócitos. Os monócitos se desenvolvem
a partir da medula óssea, circulam na corrente sanguínea por alguns dias e depois
se deslocam para os tecidos, onde recebem o nome de macrófagos e que, como os
neutrófilos, agem fagocitando. Por fim, os linfócitos podem ser do tipo linfócitos T,
que destroem patógenos, e os linfócitos B, que produzem anticorpos.
Segundo Tortora e Grabowski (2006), a leucocitose, que é um número aumentado
de leucócitos, é uma resposta protetora normal a estresses consequentes de invasão
microbiana, exercício intenso, anestesias e cirurgias. Entretanto, a leucopenia, ou seja,
um nível anormalmente baixo, pode ser desencadeada por radiação, choque e algumas
substâncias quimioterápicas. Os vários tipos de leucócitos apresentam ações diferentes
no mecanismo de defesa e resposta imune, assim, uma contagem de leucócitos, esta-
belecendo o percentual de cada tipo no sangue, pode facilitar um diagnóstico, deter-
minando se há uma infecção ou inflamação, alergia, ou uma resposta a um processo de
intoxicação ou quimioterapia.

3.1.4 Hemostasia
Lesões da parede de vasos sanguíneos permitem o extravasamento e perda de
volume circulante de sangue com consequências graves e até fatais. Para que isso não
aconteça, o organismo desencadeia um conjunto de mecanismos fisiológicos para deter
a hemorragia: a hemostasia. Segundo Tortora e Grabowski (2006), basicamente três
respostas para minimizar a perda sanguínea são ativadas: vasoconstrição (diminuição
do calibre do vaso), formação de tampão plaquetário e coagulação do sangue.
A vasoconstrição é produzida pela contração de pequenos músculos lisos do inte-
rior da parede dos vasos para diminuir a vazão do sangue; a agregação (formação de
grupos) de plaquetas forma o tampão plaquetário; e o desenvolvimento de um coágulo
envolve a formação de uma rede de fibras de fibrina (proteína insolúvel) que vai apri-
sionar os elementos figurados do sangue. A fase final do processo de coagulação desen-
cadeia a contração do coágulo, diminuindo o tamanho da ferida, e posteriormente
a dissolução do coágulo por fibrinólise, que é o processo que pelo qual um coágulo é
destruído. Existem medicamentos que podem deter os processos de coagulação, deno-
minados anticoagulantes, como a heparina.
64

Trombose é o nome dado a um processo de coagulação em que as plaquetas se agregam no


interior de um vaso sem que ele esteja lesado. Êmbolo é o trombo que se desloca de onde foi for-
mado e segue pela circulação até obstruir um vaso menor, acarretando um tromboembolismo.

3.2 A bomba cardíaca e vasos da base


O sangue precisa ser mantido circulando continuamente por toda nossa vida para
cumprir as funções que cooperam para a homeostase. Para tanto, o coração exerce um
papel de bomba muscular, que recebe e impulsiona volumes sanguíneos, garantindo
um movimento circulatório incessante. De acordo com Tortora e Grabowski (2006),
mesmo quando estamos dormindo, nosso coração bombeia 30 vezes nosso próprio
peso a cada minuto.

3.2.1 Morfologia externa do coração


O formato do coração parece o de uma pirâmide oca ou cone numa posição inver-
tida. Ele ocupa um espaço da cavidade torácica denominado mediastino médio, situado
entre os dois pulmões, atrás do osso esterno e por cima do músculo diafragma e está
contido dentro de um saco fibroso que o protege, o saco pericárdico. Cerca de dois
terços da massa total do coração estão situados à esquerda, e o restante, à direita de
uma linha imaginária que divide o tórax ao meio.
A parte mais larga, a base, é situada superiormente, e sua porção mais afuni-
lada, o ápice, é localizada inferiormente. Sua posição é ligeiramente oblíqua, portanto
a base está voltada para cima, para direita e ligeiramente para trás, e o ápice, para
baixo, para esquerda e para frente, tornando os batimentos cardíacos mais percep-
tíveis quando auscultados (ouvidos com o estetoscópio) sobre o ápice. A localização
desse órgão em nosso corpo pode ser visualizada nas imagens a seguir.

Localização do coração

Pulmão Pulmão
© Sebastian Kaulitzki / / Shutterstock. (Adaptado).

direito esquerdo
© S K Chavan / / Shutterstock

Ápice
Diafragma
65

Na base do coração, são encontrados quatro vasos sanguíneos e suas rami-


ficações, que são denominados vasos da base do coração. Duas veias trazem sangue
para o órgão: as veias cavas e as veias pulmonares, e duas artérias conduzem sangue
que sai dele: a artéria tronco pulmonar e a artéria aorta. Elas podem ser visualizadas
nas imagens a seguir.

Coração – vista anterior


A. carótida comum direita A. carótida comum
esquerda
A. subclávia direita A. subclávia esquerda
Tronco braquicefálico
Arco da aorta

Pericárdio
(margem do corte) Lig. arterioso
A. pulmonar direita
A. pulmonar esquerda
V. cava superior Tronco pulmonar

Parte ascendente V. pulmonar esquerda


da aorta
Aurícula esquerda
Aurícula direita
Sulco coronário
Átrio direito
A. coronária direita no
Sulco coronário (direito)

R. marginal direito
R. interventricular anterior no
Ventrículo direito
Sulco interventricular anterior
Pericárdio seroso
Lâmina visceral
Ventrículo esquerdo
(R. anterior do
ventrículo direito)

© FabriCO

Ápice do coração

Fonte: WOLF-HEIDEGGER; KOPF-MAIER, 2000, p. 124. (Adaptado).


66

Coração – vista posterior

A. carótida comum esquerda Tronco braquicefálico

A. subclávia esquerda

A. pulmonar direita

Arco da aorta V. cava superior


Pericárdio
(margem do corte) Vv. pulmonares direita

A. pulmonar esquerda

Vv. pulmonares esquerdas Átrio esquerdo

Aurícula esquerda Suco terminal

Átrio direito

Sulco coronário V. Cava inferior


Seio coronário

Sulco coronário

Ventrículo esquerdo
Pericárdio seroso
Lâmina visceral Sulco interventricular
posterior

Ventrículo direito

Ápice do coração Incisura do ápice

© FabriCO
do coração

Fonte: WOLF-HEIDEGGER; KOPF-MAIER, 2000, p. 125. (Adaptado).

De cada lado da base, encontram-se duas projeções que lembram pequenas


orelhas: as aurículas direita e esquerda. Além disso, em toda a superfície externa,
estão as artérias coronárias, que se ramificam e originam vários ramos que condu-
zirão sangue oxigenado para todo o miocárdio, e as veias cardíacas. O compro-
metimento das artérias coronárias pode causar diminuição ou interrupção do fluxo
sanguíneo para o miocárdio, condição conhecida como isquemia cardíaca e que pode
evoluir para um infarto do miocárdio, cujos sintomas geralmente incluem dor intensa
retroesternal (atrás do osso esterno), denominada angina, palidez, sudorese abun-
dante e dor irradiada para ombro e/ou braço esquerdo.
67

Uma condição patológica geralmente relacionada ao infarto do miocárdio (morte das células
musculares cardíacas) é a aterosclerose, caracterizada por obstruções do fluxo sanguíneo por
placas de colesterol LDL, chamadas de ateroma.

O coração é envolto e fixado ao mediastino médio pelo saco pericárdico, cons-


tituído externamente por uma membrana fibrosa denominada pericárdio fibroso e
forrado internamente por uma lâmina serosa chamada de pericárdio seroso parietal.
Entre essa película e o coração, existe um espaço ou cavidade pericárdica preenchido
por uma fina camada de líquido pericárdico que evita o atrito entre a lâmina parietal
do pericárdio e a lâmina visceral, que é película que adere diretamente à superfície
externa do coração, chamada de pericárdio seroso visceral ou epicárdio. A cons-
trução anatômica do saco pericárdico e como as películas estão distribuídas podem ser
vista na figura a seguir.

Porção do pericárdio e parece cardíaca do ventrículo direito

Cavidade do
pericárdio

Lâmina parietal do Endocárdio


pericárdio seroso
Miocárdio
Lâmina visceral (músculo cardíaco)
do pericárdio
seroso (epicárdio)
© FabriCO

Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 371. (Adaptado).

Até agora, estudamos a maneira como o coração está situado na cavidade torá-
cica e as estruturas relacionadas à anatomia externa do coração. Nas próximas seções,
compreenderemos a anatomia interna do órgão.
68

3.2.2 Câmaras cardíacas


O coração é constituído de músculo estriado cardíaco, denominado miocárdio, com
a capacidade de relaxar (diástole) para receber os volumes sanguíneos que chegam e de
contrair (sístole) para impulsionar e ejetar esses volumes adiante no sentido circulatório.
Internamente, o coração é subdividido em quatro cavidades ou câmaras
cardíacas divididas por paredes musculares chamadas de septos. As duas câmaras
superiores, o átrio direito e o átrio esquerdo, são divididas pelo septo interatrial e
atuam como captadoras de sangue. As duas câmaras inferiores, o ventrículo direito
e o ventrículo esquerdo, são divididas pelo septo interventricular e agem como
ejetoras. Uma película chamada de endocárdio reveste internamente cada câmara e
forma estruturas especiais chamadas de valvas.
A figura a seguir mostra as quatro câmaras, as quatro valvas, os vasos da base
cardíaca e o septo interventricular. O septo interatrial não aparece porque fica abaixo
da artéria tronco pulmonar, que aparece emergindo do ventrículo direito.

Anatomia do coração

Arco da aorta

Artéria pulmonar
Veia cava superior esquerda

Tronco pulmonar
Veia pulmonares
direitas Veias pulmonares
esquerdas

Átrio esquerdo
Valva da aorta
Valva do tronco pulmonar
Valva atrioventricular
Átrio direito esquerda
© Elen Bushe // Shutterstock. (Adaptado).

Valva atrioventricular direita

Septo interventricular

Ventrículo esquerdo

Veia cava inferior

Ventrículo direito

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 549. (Adaptado).


69

Existem quatro valvas cardíacas, que atuam como controladoras do fluxo


sanguíneo de dentro para fora do coração e serão explicadas na sequência.

3.2.3 Valvas cardíacas e importância fisiológica


As valvas cardíacas, constituídas de endocárdio e formadas por pequenas partes
denominadas válvulas, permitem que o sangue passe no sentido da circulação e
impedem que haja retorno (refluxo), o que comprometeria a eficiência circulatória.
Duas valvas estão localizadas no septo que divide os átrios dos ventrículos, por
isso, são denominadas valvas atrioventriculares. Entre o átrio e o ventrículo direitos,
está a valva atrioventricular tricúspide, formada por três pequenas cúspides ou
válvulas. Entre o átrio e o ventrículo esquerdos, fica a valva atrioventricular bicúspide
ou mitral, formada por duas válvulas. Ambas abrem simultaneamente e permitem que
o sangue contido nos átrios passe para os ventrículos. Na sequência, elas fecham para
impedir que o sangue reflua quando os ventrículos realizarem a sístole.
Na base do coração, ficam as duas outras valvas, conhecidas como valvas da base,
cada uma no interior da parte final de cada artéria. Na porção final da artéria tronco
pulmonar, na saída do ventrículo direito, está a valva pulmonar. Na porção final da
artéria aorta, na saída do ventrículo esquerdo, fica a valva aórtica. Ambas abrem para
a saída do sangue que foi ejetado pela sístole de cada ventrículo e se fecham, logo
após o quase esvaziamento total dos ventrículos, quando começarão a diástole para
receber novo volume sanguíneo. O fechamento de cada valva impede que o sangue
que estava saindo pelas artérias reflua para os respectivos ventrículos.
A abertura de qualquer uma das valvas cardíacas é silenciosa, no entanto, o fecha-
mento produz um som cardíaco normal chamado de bulha cardíaca. Quando há
problemas em alguma das valvas, um som anormal, conhecido como sopro cardíaco poderá
ser auscultado. Ao conhecer a relação das bulhas com as respectivas valvas, pode-se ter
uma indicação de qual valva apresenta problemas de abertura ou fechamento.

As bulhas cardíacas são sons normais que podem ser ouvidos por meio da ausculta cardíaca,
com o estetoscópio. São subdivididas em primeira bulha, que é o som resultante do fechamen-
to das valvas atrioventriculares, e segunda bulha, que resulta do fechamento das valvas da base.
70

3.2.4 Vasos da base cardíaca


Os vasos da base cardíaca, ilustrados na imagem “Anatomia do Coração”,
englobam as veias, que trazem sangue do pulmão e de outras partes do corpo, e as
artérias da base, que realizam o caminho inverso.
As veias cavas superior e inferior desembocam o sangue das partes superiores
e inferiores do corpo, respectivamente, no átrio direito do coração. Esse sangue tem
baixo teor de oxigênio (pressão parcial de O2 baixa = ↓PpO2) porque esse gás foi utili-
zado pelas células para realização de suas funções.
As veias pulmonares desembocam o sangue no átrio esquerdo, sendo que duas
vêm do pulmão direito e outras duas, do esquerdo. Esse sangue é rico em oxigênio,
que foi captado nos alvéolos durante a hematose, e por isso, possui uma pressão
parcial de oxigênio alta (= ↑PpO2).
A artéria tronco pulmonar emerge do ventrículo direito e se ramifica na artéria
pulmonar direita e artéria pulmonar esquerda, que conduzem sangue para o pulmão
direito e o esquerdo, respectivamente. O sangue transportado por elas a partir da
sístole do ventrículo direito vem do átrio direito e possui baixa pressão parcial de
oxigênio (= ↓PpO2). Já a artéria aorta emerge do ventrículo esquerdo e, por meio de
suas ramificações, conduz sangue com alta pressão parcial de oxigênio (= ↑PpO2), que
veio do átrio esquerdo, para o corpo.

3.3 Atividade intrínseca do coração


O coração possui duas inervações: uma extrínseca, que estudaremos mais adiante,
e uma intrínseca, também conhecida como complexo estimulante do coração. A iner-
vação intrínseca é capaz de gerar os batimentos cardíacos, propagá-los e mantê-los
sem intervenção externa do sistema nervoso, dessa forma, o coração pode continuar
batendo mesmo em situação de coma ou de morte cerebral.
Essa inervação é composta por um conjunto de estruturas, que podem ser vistas
na imagem a seguir: o nó sinoatrial (SA) ou marcapasso, a partir de onde partem
fibras de condução atrial; o nó atroventricular (AV); o fascículo atrioventricular (ou
feixe de His); ramos direito e esquerdo do fascículo atrioventricular e ramos suben-
docárdicos (fibras de Purkinje).
71

Complexo estimulante do coração

Nó sinotrial (SA)
ou marcapaso Fibras de
condução atrial

Fascículo
atrioventricular
(Feixe de His)

Ramos
Nó atrioventricular direito e
esquerdo

© snapgalleria // Shutterstock. (Adaptado).


(AV)

Ramos subendocárdicos
(Fibras de Purkinje)

Fonte: MOORE; DALLEY, 2007. (Adaptado).

Segundo Tortora e Grabowski (2006), as células que compõem essa inervação


podem estabelecer um padrão rítmico e gerar repetidamente potenciais de ação,
isto é, impulsos eletroquímicos que se propagam por uma rota específica por todo o
miocárdio ou músculo cardíaco.
A função de bomba cardíaca depende muito da eficiência da propagação desse
impulso, que fará com que os átrios contraiam primeira e simultaneamente, produ-
zindo a sístole atrial, e depois os ventrículos, gerando a sístole ventricular. Dessa forma,
quando os átrios estão em sístole, por estarem sendo contraídos pela propagação do
impulso por suas paredes, os ventrículos estão em diástole porque o impulso ainda não
chegou até eles. Esse mecanismo produz a perfeita alternância dos períodos de sístole e
diástole das câmaras cardíacas, permitindo seu enchimento e esvaziamento alternados.
72

3.3.1 Marcapasso cardíaco


Localizada no átrio direito, perto da desembocadura da veia cava superior, existe
uma estrutura especial constituída de um enovelado de células ou fibras nervosas e
células ou fibras musculares, denominada nó sinoatrial, nódulo sinoatrial ou marca-
passo. Ela tem a capacidade de gerar o impulso eletroquímico ou potencial de ação
que percorre os componentes da inervação intrínseca e determina os batimentos alter-
nados dos átrios e ventrículos.

Quando o funcionamento do nó sinoatrial fica comprometido e os mecanismos fisiológicos de


adaptação cardíaca não conseguem manter ritmo e frequência adequados, é necessária a im-
plantação de uma marcapasso artificial que manterá a atividade elétrica cardíaca.

O potencial de ação é causado por dois eventos: processo de despolarização da


membrana celular, que resulta do rápido influxo (entrada) de íons sódio para o interior
da fibra ou célula, e uma corrente mais lenta na mesma direção, constituída por íons
cálcio que têm a função de impedir a rápida repolarização da célula. Essa repolarização
é causada pelo efluxo (saída) rápido de íons potássio para o exterior da fibra ou célula.
Entendemos, então, que o processo de despolarização é causado pela entrada
rápida de íons sódio e lenta de íons cálcio, que desencadeia o potencial eletroquímico
que vai percorrer todo o interior do coração, provocando sístole por onde passa. O
processo de repolarização, por sua vez, é causado pela saída de íons potássio e causa a
consequente diástole na câmara onde acontece.

3.3.2 Atividade elétrica do músculo cardíaco


O potencial de ação gerado pelo nó sinoatrial é conduzido por fibras atriais, se
espalha pelos dois átrios, produzindo sua contração, e chega ao nó atrioventricular,
situado no septo interatrial, onde sofre uma desaceleração que permite ao sangue
dos átrios fluir para os ventrículos.
Do nó atrioventricular, o potencial de ação chega ao fascículo atrioventricular e
se propaga para os ramos direito e esquerdo, que percorrem todo o septo interven-
tricular até chegar ao ápice do coração. A partir do ápice, os ramos subendocárdicos
conduzem o impulso para toda a parede muscular dos dois ventrículos num sentido
ascendente, produzindo a contração ventricular simultânea.
73

Segundo Tortora e Grabowski (2006), a condução de potenciais de ação pelas


paredes do miocárdio, no sentido dos átrios para os ventrículos, gera correntes elétricas
que podem ser captadas por eletrodos colocados sobre a pele. O registro dessas
correntes gera um traçado de ondas-padrão de normalidade: o eletrocardiograma ou
ECG. Alterações nas ondas do ECG podem ser interpretadas pelo cardiologista e, então,
revelar patologias nos átrios ou nos ventrículos, como o infarto do miocárdio.

3.3.3 Controle neural do coração


Embora o coração consiga manter seus batimentos com sua inervação intrínseca,
ele também está sob controle do sistema nervoso autônomo (SNA), que comanda o
funcionamento de todos os órgãos do corpo humano. Essa inervação é chamada de
extrínseca porque o controle é feito externamente ao coração.
Dois componentes da inervação extrínseca agem produzindo respostas geral-
mente opostas nos órgãos: o sistema nervoso parassimpático e o sistema nervoso
simpático, que têm o papel de adequar os batimentos cardíacos às circunstân-
cias pelas quais o corpo humano passa. Situações que demandam gasto energé-
tico, como aumento da atividade física e respostas emocionais intensas, ativam o
sistema nervoso simpático, liberando adrenalina ou noradrenalina, que aceleram os
batimentos cardíacos (taquicardia) e aumentam a força de contração do miocárdio.
Situações que favorecem a reposição energética, como digestão e repouso, ativam
o sistema nervoso parassimpático, liberando acetilcolina, que diminui a frequência
cardíaca (bradicardia).

3.4 Rotas circulatórias


O sangue percorre nosso corpo por duas rotas circulatórias principais, que
formam a circulação sistêmica ou grande circulação e circulação pulmonar ou
pequena circulação, representadas na imagem a seguir. Compreenderemos nesta
seção o trajeto completo de cada uma dessas rotas.
74

Circulação sanguínea

Veia cava superior

Artéria pulmonar Pulmão

Capilares
Átrio Átrio
direito esquerdo

Aorta

© BlueRingMedia // Shutterstock. (Adaptado).


Valva do tronco
Veias Capilares pulmonar
pulmonares Valva atrioventricular
esquerda
Ventrículo
esquerdo

Vasos transportando Vasos transportando Vasos envolvidos


sangue oxigenado sangue desoxi- em trocas gasosas

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 539. (Adaptado).

A circulação sistêmica tem como função conduzir sangue com alta pressão parcial
de oxigênio para os tecidos, com o objetivo de oxigená-los. Essa circulação se inicia no
ventrículo esquerdo (VE), que, ao realizar uma sístole de 80 mmHg de pressão, ejeta o
sangue para a artéria aorta, atravessando a valva aórtica. Essa valva se abre, permitindo
a passagem do sangue para a artéria aorta, e se fecha quando o ventrículo começa a
relaxar durante sua diástole, impedindo o refluxo sanguíneo para o ventrículo esquerdo.
A artéria aorta, que é de grande calibre, ramifica-se e origina artérias de médio
calibre, que, por sua vez, dividem-se em artérias de pequeno calibre. Essas pequenas
artérias originam as arteríolas, que terminam nos capilares, e todas são responsáveis
por oxigenar os tecidos, inclusive do próprio coração.
75

À medida que o sangue percorre seu trajeto, o oxigênio é distribuído na extremi-


dade arterial dos capilares, e a pressão parcial de O2 (PpO2) vai diminuindo; em contra-
partida, o sangue recebe, também nos capilares, dióxido de carbono, com aumento
progressivo da pressão parcial de CO2 (PpCO2). Os capilares, agora venosos, originam
vênulas, que formam veias de pequeno calibre. Essas pequenas veias dão origem
a veias de médio calibre que drenam sangue venoso ou desoxigenado (pobre em
O2 e rico em CO2) nas duas veias de grande calibre: a veia cava superior, que recebe
o sangue da cabeça e da parte superior do corpo, e a veia cava inferior, que obtém
sangue da parte inferior. Ambas desembocam o sangue no átrio direito (AD).
A circulação sistêmica pode ser resumida no seguinte trajeto:

© FabriCO
Corpo
Coração (VE) Coração (AD)
(ramificação da aorta)

A circulação pulmonar tem a função de conduzir o sangue aos pulmões para


captar nova cota de oxigênio e expelir o dióxido de carbono. Essa circulação começa
no ventrículo direito (VD), que realiza uma sístole de apenas 8 mmHg para ejetar
sangue em direção à artéria tronco pulmonar, atravessando a valva pulmonar, que se
abre para permitir essa passagem. Quando a sístole do ventrículo direito termina e
começa sua diástole, a valva fecha, impedindo refluxo do sangue para o ventrículo.
O sangue ejetado com pressão parcial de oxigênio baixa e pressão parcial de
dióxido de carbono alta é conduzido para os pulmões direito e esquerdo pelas duas
ramificações da artéria tronco pulmonar, chamadas de artéria pulmonar direita e artéria
pulmonar esquerda. Nos pulmões, o dióxido de carbono atravessa a fina membrana
dos capilares (últimas ramificações das artérias pulmonares) e a dos alvéolos (menores
unidades do pulmão, onde ocorre troca gasosa), que estão em íntimo contato. Dos
alvéolos, esse gás é conduzido pelas vias aéreas para ser expelido durante a expi-
ração. O oxigênio contido nos alvéolos faz o caminho contrário, atravessando a fina
membrana alveolar e a do capilar – que, juntas, formam a membrana respiratória – e
penetra no sangue. Essa troca de gases alvéolo/capilar é denominada hematose.
Diferentemente de quando entra nos pulmões, o sangue que sai tem uma pressão
parcial de oxigênio alta e de dióxido de carbono baixa, portanto, é chamado de sangue
oxigenado. As quatro veias pulmonares desembocam esse sangue no átrio esquerdo (AE).
76

A circulação pulmonar pode ser resumida no seguinte trajeto:

© FabriCO
Coração (VD) Pulmão Coração (AE)

As imagens a seguir mostram as rotas percorridas pelo sangue oxigenado (repre-


sentado em vermelho) e desoxigenado (em azul).

Rota do sangue dentro do coração


Cabeça e membros superiores

Pulmão
Pulmão
esquerdo
direito

© Designua // Shutterstock. (Adaptado).

Tronco e membros inferiores

Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 377. (Adaptado).


77

Diagrama do fluxo sanguíneo

Nos capilares
pulmonares, o
4 sangue perde
CO2 e ganha O2

3 5

Tronco pulmonar e
Veias pulmonares
artérias pulmonares (sangue arterial ou oxigenado)
(sangue venoso ou desoxigenado)

Valva pulmonar

2 Ventrículo direito 6 Átrio esquerdo

Valva atrioventricular Valva atrioventricular esquerda


direito (tricúspide) (bicúspide ou mitral)

© FabriCO. Crédito da imagem: BlueRingMedia // Shutterstock


1 Átrio direito 7 Ventrículo
(sangue venoso) esquerdo

10 Valva aórtica
8
Aorta e
Veia cava Veia cava Seio
artérias
superior inferior coronário
sistêmicas

Nos capilares sistêmicos, o


9
sangue perde O2 e ganha CO2

Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 377. (Adaptado).

Vimos que na circulação sistêmica, todos os órgãos que compõem os sistemas do


corpo recebem sangue oxigenado proveniente de ramificações da artéria aorta. Agora,
conheceremos as porções dessa artéria, as ramificações que ela origina e os órgãos
que são supridos por elas.

3.4.1 Aorta e principais ramos


A artéria aorta é a artéria de maior calibre do corpo humano e possui quatro
porções: porção ascendente, arco ou cajado, porção descendente torácica e porção
descendente abdominal. Da porção ascendente, originam-se as artérias coronárias
78

(direita e esquerda) que irrigam o coração. Do arco da aorta, saem as artérias caró-
tidas comuns (direita e esquerda), que irrigam cabeça, e artérias subclávias, responsá-
veis por mandar o sangue para os membros superiores e parte do encéfalo. A porção
descendente torácica dá origem às artérias brônquicas, esofágicas, pericárdicas e
frênicas. Por fim, da porção descendente abdominal, derivam as artérias hepática,
gástrica, esplênica, mesentérica superior, renais, gonadais e mesentérica inferior.

Principais artérias do corpo humano

A. carótida externa

Seio carótico A. carótida interna


A. carótida comum E.
A. vertebral D.
A. subclávia E.
A. subclávia D.
Tronco
branquiocefálico
A. axilar
Arco da aorta
A. torácica interna
Aa. coronárias
A. braquial
Tronco celíaco

Parte descendente da aorta A. intercostal

A. ulnar A. mesentérica
superior
A. radial A. mesentérica
A. Itíaca comum inferior

A. Itíaca interna A. ilíaca externa


A. radial

A. testicular
A. femoral profunda
A. femoral

A. poplítea

A. tibial posterior
A. tibial anterior
© stihii // Shutterstock. (Adaptado).

A. dorsal do pé

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 560. (Adaptado).


79

Embora o aprofundamento nesse assunto esteja no âmbito de um curso de espe-


cialização, é importante conhecer ao menos os principais ramos de algumas das arté-
rias citadas anteriormente:

Artéria coronária direita


Ramo marginal direito e o descendente posterior ou interventricular posterior.

Artéria coronária esquerda


Ramos descendente anterior, lateral, marginal esquerdo e circunflexo.

Artéria coronária comum


Artéria carótida externa (irriga a face) e artéria carótida interna (irriga parte do encéfalo).

Artéria subclávia

Artérias axilar, braquial, radial, ulnar, dos arcos palmares e digitais. Também origina a artéria
vertebral, que irriga o encéfalo juntamente com a artéria carótida interna.

Porção descendente abdominal da artéria aorta

Artérias ilíacas comuns direita e esquerda, que se bifurcam em artérias ilíacas interna e externa
(direita e esquerda).

Artéria ilíaca interna


Artérias que irrigam órgãos e paredes da pelve.

Artéria ilíaca externa

Artérias que irrigam os membros inferiores: artérias femoral, poplítea, tibial anterior, tibial
posterior, fibular, artérias do arco do pé e artérias digitais.
80

Toda essa rede de ramificações da aorta transporta o sangue que foi bombeado
até os capilares, onde ocorre a captação do oxigênio pelas células e de dióxido de
carbono pelo sangue. Esse sangue deve, então, retornar ao coração para ser nova-
mente bombeado, o que acontece por meio das veias sistêmicas que vão se formando
a partir da rede capilar.

3.4.2 Retorno venoso


Estudamos que os capilares desembocam o sangue em veias de pequeno calibre,
que desembocam em veias de médio calibre, que, por sua vez, levam o sangue para a
veia cava superior e veia cava inferior. Três mecanismos influenciam esse retorno venoso:
as contrações ventriculares, principalmente do ventrículo esquerdo, as contrações dos
músculos esqueléticos, que comprimem as veias periféricas, e a bomba respiratória.
Os músculos da panturrilha (região posterior da perna) são muito importantes
nesse processo, porque os potentes músculos que a compõem (gastrocnêmio e sóleo)
realizam uma forte contração que impulsiona o sangue contido nas veias da perna em
direção ascendente.
A bomba respiratória, por sua vez, resulta da ação do principal músculo respira-
tório que divide a cavidade torácica da cavidade abdominal: o diafragma, que contrai
durante a inspiração e desce aumentando a pressão intrabdominal, o que resulta na
compressão de veias dessa região.
As veias geralmente recebem o nome das artérias que as acompanham condu-
zindo o sangue no sentido contrário. As artérias conduzem sangue oxigenado e as
veias, desoxigenado.
81

Principais veias do corpo humano

V. braquiocéfala esquerda
V. jugular externa
V. braquiocéfala direita
V. jugular interna
V. subclávica direita
V. subclávia esquerda
V. cava superior
V. torácica interna
V. axilar
Vv. cardíacas
V. braquial
V. cava inferior V. basílica
V. hepática V. cefálica
V. renal V. testicular esquerda
(v. gonadal)
V. testicular direita
V. intermédia do cotovelo
V. radial V. ilíaca comum
V. ulnar V. ilíaca interna
V. ilíaca externa

V. femoral V. safena magna


V. poplítea

V. tibial posterior
V. tibial anterior
© stihii // Shutterstock. (Adaptado).

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 573. (Adaptado).

O sangue da cabeça é trazido pelas veias jugulares, e as do coração, pelas veias


cardíacas. O sangue dos membros superiores é transportado por veias que, em sua
maioria, recebem o nome das artérias que as acompanham, acrescidas das veias basílica,
82

cefálica e mediana do cotovelo. As veias dos membros inferiores também são denomi-
nadas conforme as artérias, acrescentando ainda as veias safena magna e safena parva.
Depois de estudarmos as principais artérias e veias do corpo, é importante
conhecer os conceitos relacionados à pressão arterial, que é um fator de interferência
direta na saúde e cujas alterações podem acarretar consequências prejudiciais ao
funcionamento e à integridade estrutural de vários órgãos do corpo.

3.4.3 Pressão arterial


O sangue exerce uma pressão contra a parede dos vasos que o contêm, conhecida
como pressão sanguínea (PS) ou pressão arterial (PA), gerada pela contração dos
ventrículos. Segundo Tortora e Grabowski (2006), a PS é mais alta na artéria aorta e
nas artérias sistêmicas de maior calibre, sendo que um adulto jovem em repouso apre-
senta valores em torno de 120 mmHg durante a sístole e 80 mmHg durante a diástole.
À medida que a distância dos vasos em relação ao ventrículo esquerdo aumenta, a
pressão vai diminuindo para aproximadamente 93 mmHg nas artérias sistêmicas mais
periféricas e 35 mmHg nos capilares sistêmicos.
O conjunto dos vasos sanguíneos do sistema circulatório é fechado e acomoda
um volume sanguíneo específico, de acordo com o sexo e biotipo (relação altura e peso
das pessoas) da pessoa. Dessa forma, alterações no volume sanguíneo repercutem
direto na pressão sanguínea.
O volume médio de sangue num adulto regula em torno de 5 litros de sangue.
Qualquer fator que produza redução de mais de 10% desse volume, como hemorragias
importantes, pode conduzir à hipovolemia e produzir uma crescente queda na pressão
sanguínea, com consequências graves, incluindo parada cardíaca. Em contrapartida,
aumentos significativos de volume, que acarretam hipervolemia, por exemplo, por
alguma falha no mecanismo renal que elimina os excessos de líquido, podem aumentar
a pressão sanguínea, por não terem sido compensados por mecanismos fisiológicos de
adaptação.
De acordo com Tortora e Grabowski (2006), a resistência vascular é consequência
do atrito pela passagem do sangue pelas paredes dos vasos, criando uma oposição
ao fluxo sanguíneo. Quanto maior a resistência vascular, maior a pressão sanguínea,
e quanto menor a resistência, menor a pressão. Alguns fatores interferem direta-
mente na resistência vascular, como o tamanho do vaso, a viscosidade do sangue e o
comprimento total dos vasos sanguíneos. Quanto menor o diâmetro interno do vaso
sanguíneo, ou seja, quanto menor seu lúmen por vasoconstrição, maior a resistência
ao fluxo. E quanto maior seu lúmen por vasodilatação, menor a resistência. Quanto
mais espesso está o sangue, maior é sua viscosidade e maior a resistência vascular.
83

Dois fatores interferem nessa viscosidade: a proporção de glóbulos vermelhos em


relação ao volume de plasma e a concentração de proteínas no plasma.
Além disso, o corpo humano pode desenvolver vasos sanguíneos adicionais em
várias circunstâncias, um exemplo é o aumento da massa corporal por aumento de
peso. Quanto maior for o contato do sangue com a parede de um vaso, mais expres-
sivos serão o atrito e a resistência.

3.4.4 Perfusão sanguínea


A medida do volume de sangue que flui pelos capilares para as células dos
tecidos, determinando a distribuição de oxigênio e nutrientes, é compreendida como
perfusão tecidual. Tortora e Grabowski (2006) afirmam que a principal função dos
capilares é permitir as trocas de nutrientes e material a ser excretado entre o sangue
e as células dos tecidos, por meio do líquido intersticial, e que a distribuição dos capi-
lares, que são encontrados nas proximidades de quase todas as células do corpo, varia
de acordo com o grau de atividade metabólica das células de cada tecido. Quanto mais
elevada a necessidade das células de um tecido, maior a distribuição da rede capilar
com maior área de superfície disponível para as trocas e vice-versa.
Durante o estudo deste capítulo, conhecemos a constituição e as funções do
sangue, que nos mantêm vivos e saudáveis. Percebemos também a dependência do
sistema circulatório sanguíneo da ação bombeadora do coração para manter o fluxo
constante por rotas específicas, garantindo a atividade celular adequada de cada órgão
e sistema, tudo graças a fatores anatômicos e fisiológicos interrelacionados. Apesar de
parecer tão simples estar vivo, uma quantidade surpreendente de fenômenos químicos
e elétricos estão ocorrendo dentro de nós para manter nossa sobrevivência.
84

Referências
HERLIHY, B.; MAEBIUS, N. K. Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano Saudável e
Enfermo. Barueri: Manole, 2002.
MARTINI, F. H. Anatomia Humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MOORE, K.; DALLEY, A. F. Anatomia Orientada para a Clínica. 5. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2007.
NETTER, F. H. Atlas de Anatomia Humana. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
SOBOTTA, J.; PUTZ, R.; PABST, R. Atlas de Anatomia Humana. 22. ed. rev. e atual. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
TORTORA, G. J. Princípios de Anatomia Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
______; GRABOWSKI, S. R. Corpo Humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 6. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia Humana. 6. ed. Barueri: Manole, 2003.
WOLF-HEIDEGGER, G.; KOPF-MAIER, P. Atlas de Anatomia Humana. 5. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
4 Hematose e oxigenação de células e tecidos
Um dos sistemas vitais para nos manter vivos e saudáveis é o sistema respira-
tório, formado por um conjunto de órgãos que contribuem para que ocorra a respiração
e também para ajudar a regular o pH sanguíneo, permitir a captação de odores para o
sentido do olfato, produzir a voz num processo chamado de fonação e preparar o ar para
chegar aos alvéolos em condições adequadas.

O pH sanguíneo é a medida de concentração de íons de hidrogênio em uma solução, e sua es-


cala vai de 0 a 14. O valor 7 significa neutralidade, números superiores traduzem aumento de
alcalinidade, e índices inferiores significam aumento da acidez.

Quando o processo de entrada e saída do ar nas vias aéreas ocorre sem troca
gasosa, é chamado de ventilação ou condução do ar. Quando ocorre troca gasosa,
dizemos que há hematose. Mas o que significa respiração do ponto de vista fisiológico
e qual sua relação com o conceito de hematose? Neste capítulo, elucidaremos essas
questões enquanto estudamos as funções e etapas do processo respiratório, os órgãos
que compõem as vias aéreas e as estruturas relacionadas à mecânica respiratória.
Além de conhecermos a organização anatômica e funcional dos órgãos e estru-
turas envolvidas em nossa respiração, veremos aplicações práticas do conteúdo impor-
tantes para o exercício profissional e também faremos algumas reflexões sobre a
qualidade da saúde.

4.1 Vias aéreas


O caminho percorrido pelo ar, desde sua entrada até a chegada aos pulmões, é
constituído por vários órgãos conhecidos em conjunto como vias aéreas, ilustradas na
imagem a seguir.
De acordo com o aspecto anatômico (que leva em conta onde estão localizadas),
as vias aéreas podem ser divididas em superiores e inferiores por uma linha imagi-
nária que passa pelo queixo em direção à nuca. As vias aéreas superiores (VAS) são
compostas pelo nariz, os seios paranasais e a faringe. Mais adiante, veremos mais
detalhadamente como essas partes compõem a cavidade nasal. Já as vias aéreas infe-
riores (VAI) englobam laringe, traqueia e brônquios, que se ramificam sucessivamente
diminuindo de tamanho (calibre) até originar os bronquíolos, que terminam conduzindo
o ar inspirado até os alvéolos. Os alvéolos são espaços aéreos muito pequenos que
constituem basicamente toda a estrutura dos pulmões.
86

Pulmões e vias aéreas

Cavidade nasal
Narina Palato mole
Faringe

Laringe Brônquio
principal
Brônquio
lombar

© Alila Medical Media // Shutterstock. (Adaptado).


Brônquio
Pulmão direito segmentar

Pulmão esquerdo

As vias também podem ser classificadas conforme o aspecto funcional (consi-


derando a forma como trabalham), isto é, se permitem ou não a passagem de gases
através de suas paredes. Desse modo, existem também duas divisões: porção de con-
dução do ar e porção respiratória, que estudaremos a seguir.

4.1.1 Vias aéreas condutoras


As vias aéreas condutoras são formadas pelos órgãos que conduzem o ar sem que
haja troca gasosa através de suas paredes, que são muito espessas para permitir essa
passagem. Dizemos, então, que nessas vias não ocorre hematose.
A porção de condução do ar das vias aéreas é composta por: nariz, faringe,
laringe, traqueia, brônquios e bronquíolos terminais.
87

Todo o processo de respiração se inicia no nariz, dividido em nariz externo e


nariz interno, que é a cavidade nasal. A parte externa é formada pelos ossos nasais,
pelas cartilagens nasais e contornada pelos ossos maxilares. A cavidade nasal é
subdivida em duas partes pelo septo nasal, que funciona como uma parede divisória
e é formado, em sua parte superior, por uma parte do osso etmoide, na parte inferior,
pelo osso vômer e, em sua parte anterior, por cartilagens. Assim, podemos imaginar
a cavidade nasal como duas salas iguais divididas por uma parede, cada uma com
paredes laterais, um teto e um assoalho. O teto é formado por uma das partes do
osso etmoide, onde existem pequenas aberturas por onde passam as fibras do nervo
olfatório que vieram do encéfalo. O assoalho da cavidade nasal é formado pelo palato
duro, que é constituído pelos ossos maxilar e palatino e recoberto de mucosa.
A cavidade nasal é formada pelas seguintes partes: narinas, vestíbulo nasal,
região de condução e região olfatória. As aberturas de saída da cavidade nasal são
chamadas de coanas ou cóanos e só podem ser vistas no crânio.
As narinas são as duas aberturas que dão entrada para as duas partes da cavidade
nasal. Para entrar em cada uma dessas partes, o ar passa primeiro pelo vestíbulo nasal,
que é a região logo após as narinas e onde estão as vibrissas, pelinhos revestidos de
muco, onde aderem partículas suspensas no ar. Esse muco também recobre toda a
mucosa nasal. Assim, o que não foi filtrado pelas vibrissas pode ficar aderido ao muco
do restante da cavidade.

A mucosa da cavidade nasal possui muitos vasos sanguíneos para cumprir suas funções, o que
faz com ela seja propensa a sangramentos nasais chamados de epistaxes. Esses sangramentos
podem ocorrer por vários fatores, como impactos sobre o nariz, pressão alta e ressecamento
da mucosa.

A região de condução é a área por onde o ar passa. Nela, ficam as conchas nasais
média e inferior (também chamadas de cornetos), que são estruturas ósseas recobertas
pela mucosa nasal, e seus respectivos meatos, isto é, os espaços entre as conchas.
A concha nasal superior marca a região olfatória, que fica situada logo abaixo do
teto da cavidade nasal, próxima à concha nasal superior. As estruturas que acabamos
de estudar podem ser vistas na imagem a seguir.
88

Cavidade nasal

Concha nasal superior Tonsila faríngea


(adenoide, se aumentada)
Meato nasal superior
Concha nasal média
Ato do meato médio
Concha nasal inferior

©Vladislav Gajic // Shutterstock. (Adaptado).


Cóano
Vestíbulo do nariz
Meato nasal inferior

Fonte: NETTER, 2011, p. 37. (Adaptado).

Para auxiliar na adequação do ar que entra em nosso corpo, existem os seios


paranasais, que são cavidades em alguns ossos do crânio que contêm ar. Os seios
paranasais são: seios maxilares, seios etmoidais, seio esfenoidal e seio frontal, ilus-
trados na imagem a seguir. Todos eles possuem aberturas que os comunicam com a
cavidade nasal e são revestidos internamente pelo mesmo tipo de mucosa dessa cavi-
dade. Processos patológicos que afetem a mucosa podem se espalhar para a mucosa
dos seios e desencadear sinusite, caracterizada pela presença de uma secreção que
preenche os seios no lugar do ar.

Seios paranasais
Seio frontal

Seio esfenoidal
© Della_Liner / / Shutterstock. (Adaptado).

Seio etmoidal
Seio maxilar
89

Se respirarmos corretamente pelo nariz, o próximo órgão na passagem do ar


será a faringe. Ela tem o formato de um tubo muscular situado logo atrás da cavidade
nasal, da cavidade oral e da laringe, possuindo três porções relacionadas a elas.
A primeira é a porção nasal da faringe (superior) ou nasofaringe, que continua
logo após a cavidade nasal e permite a condução do ar. Nela, ficam localizadas as
tonsilas faríngicas, como pode ser visto na imagem “Cavidade nasal”. Quando aumen-
tadas devido a um processo patológico, são conhecidas como adenoides.
A porção bucal da faringe (média) ou orofaringe é a porção que pertence
tanto ao sistema respiratório quanto ao sistema digestório, uma vez que permite a
passagem do ar (função respiratória) e participa da deglutição (ingestão) de alimentos
(função digestória). É nesse local que ficam as tonsilas palatinas (amígdalas).
A porção laríngea da faringe (inferior) ou laringofaringe é a última porção
da faringe localizada atrás da laringe, por onde passa apenas o ar e onde ocorre a
fonação (fala). Nessa porção, a faringe continua servindo como trajeto para ar e para
o alimento e, a partir dela, o ar é conduzido para a traqueia, e o bolo alimentar, para o
esôfago. Todas as porções da faringe podem ser observadas na figura a seguir.

Porções da faringe

Nariz Palato mole

Lábios Nasofaringe

Língua
Orofaringe
© stockshoppe / / Shutterstock. (Adaptado).

Laringofaringe
Epiglote
Esôfago
(via digestória)
Traqueia
(via respiratória)

Após passar pela cavidade nasal e pela faringe, o ar chega até a laringe, um tubo
cartilaginoso situado na frente do nosso pescoço, que pode ser palpado, ou seja,
tocado com as mãos. Ela é constituída por um conjunto de cartilagens: cartilagem
epiglote, cartilagem tireoide, cartilagem aritenoide e cartilagem cricoide, ilus-
tradas na próxima figura.
90

Cartilagens da laringe
Vista anterior Vista posterior
Cartilagem
epiglote

© Tefi / / Shutterstock. (Adaptado).


Cartilagem
tireoide

Cartilagem
aritenoide

Cartilagem
cricoide

Como também é possível ver na imagem, logo abaixo da cartilagem cricoide da


laringe, está a traqueia, constituída por 18 a 20 anéis incompletos de cartilagem, cada
um preso a outro pelos ligamentos anulares de tecido fibroso que conferem mobili-
dade ao pescoço. Na parte posterior, a abertura dos anéis é fechada pela membrana
da traqueia, que é elástica e permite a expansão do esôfago (situado posteriormente à
traqueia) quando deglutimos volumes alimentares grandes.
A traqueia termina numa cartilagem chamada de carina da traqueia, e a partir
dela, os brônquios se ramificam sucessivamente, formando uma imagem que lembra
uma árvore, como mostra a imagem a seguir. É daí que vem o nome árvore brônquica
para toda a ramificação dos brônquios.

Traqueia e ramificações dos brônquios

Traqueia

Carina da
Brônquio traqueia
© Alex Mit / / Shutterstock. (Adaptado).
91

Durante todo o trajeto do ar, desde a cavidade nasal até os bronquíolos termi-
nais da árvore brônquica, o ar foi apenas conduzido, sem captação de oxigênio para as
células, o que acontecerá somente na respiração pulmonar. Esse processo é executado
pelas vias aéreas respiratórias.

4.1.2 Vias aéreas respiratórias


As vias aéreas respiratórias são constituídas pelas estruturas que não apenas
conduzem o ar, mas também realizam troca gasosa, ou seja, hematose, uma vez que
suas paredes são constituídas por um tipo de epitélio especial (tecido de revestimento)
adaptado. Essa adaptação garante que os gases o atravessem, porque as membranas
que esse epitélio forma e que constituem as paredes dessas vias aéreas são suficiente-
mente delgadas, ao contrário das outras vias, cujos epitélios de revestimento não são
especializados.
Em nosso corpo, as estruturas que possuem essas características e, portanto,
integram a porção respiratória das vias aéreas, são: bronquíolo respiratório, ductos
alveolares, sacos alveolares e alvéolos, estruturas que compreenderemos mais
adiante, ao estudarmos a ramificação ou segmentação dos brônquios.

4.1.3 Funções das vias aéreas


O ar que é conduzido pelas vias áreas deve chegar aos alvéolos livre de partí-
culas ou micro-organismos o máximo possível e também deve estar numa temperatura
próxima a do corpo (36,5°C) e adequadamente úmido. As vias aéreas são construídas
de modo a contribuir para essa adequação do ar com estruturas que vão participar da
filtração do ar e da regulação de sua temperatura e umidade.
A primeira via aérea que entra em contato com o ar é nosso nariz. As funções da
cavidade nasal são:

Conduzir o ar da entrada da cavidade nasal pelas narinas até o começo da faringe, que fica logo após as
conchas nasais;

Filtrar partículas do ar por meio das vibrissas do vestíbulo nasal e partículas menores – que ficam aderidas
no muco – porque não devem chegar aos pulmões, onde obstruiriam os alvéolos;

Adequar a temperatura e da umidade do ar externo de acordo com a situação corporal, o que ocorre
devido ao contato do ar com a mucosa úmida e aquecida que recobre as conchas nasais;
92

Realizar a olfação, por intermédio das fibras do nervo olfatório que atravessam o osso etmoide;

Ajudar na fonação, por atuar como uma câmara de ressonância que amplia, modifica ou prolonga o som.

O ar, então, segue seu trajeto pela faringe, que serve para passagem tanto do ar
quanto de alimento, e pela laringe. Apesar dos nomes semelhantes, essas estruturas
têm constituição e funcionamento distintos, e diferenciá-las é muito importante na
prática de profissionais da saúde.
A faringe é uma via tanto respiratória quanto digestória, mas a laringe é exclu-
sivamente respiratória, e qualquer corpo estranho que passar por ela ficará alojado
no interior do pulmão, ocasionando distúrbios patológicos. Nesse sentido, a epiglote,
logo na entrada da laringe, desempenha um papel fundamental, agindo de forma
reflexa para fechar a laringe quando engolimos um alimento para que nenhum corpo
estranho sólido ou líquido entre nas vias aéreas.
Mesmo assim, engasgos podem acontecer. Caso ocorra obstrução do fluxo aéreo,
a melhor técnica para expelir o corpo estranho é a manobra de Heimlich, que funciona
da seguinte forma: uma pessoa deve se posicionar atrás da vítima e envolver com os
braços seu tórax, na região logo abaixo das últimas costelas, com as mãos se entrela-
çando na frente. Feito isso, a pessoa deve se realizar uma compressão forte e súbita
para dentro e para cima, que vai aumentar a força da expiração da vítima, fazendo-a
expelir o corpo estranho.

Manobra de Heimlich
© LSkywalker / / Shutterstock
93

Nos hospitais, é comum o uso de duas sondas que passam pela laringe e pela
faringe quando os pacientes não conseguem tossir nem expectorar ou quando não
podem se alimentar por estarem muito fracos, sedados ou em coma. A sonda nasotra-
queal (que passa pelo nariz, faringe, laringe e traqueia) é usada para aspirar secreções
pulmonares, e a sonda nasogástrica (que passa pelo nariz, faringe, esôfago e estô-
mago) conduz substâncias nutritivas.

Por que a sonda de alimentação não é feita pela boca, e sim pelo nariz? Porque se fosse intro-
duzida na boca, desencadearia o reflexo de vômito quando alcançasse o final da língua.

A laringe ainda está associada a outra importante função de nosso organismo: a


produção da voz. É o que veremos a seguir.

4.1.4 Produção de voz


A elaboração da fala é chamada de fonação. Para articularmos uma simples
palavra, várias estruturas anatômicas são recrutadas e trabalham de forma sincroni-
zada e harmônica. Entre essas estruturas, estão pequenos músculos que movem carti-
lagens onde as cordas vocais estão fixadas.
Na cavidade da laringe, ficam as pregas vocais (ou cordas vocais) fixadas ante-
riormente na parte de dentro da cartilagem tireoide e posteriormente nas cartilagens
aritenoides. Vários pequenos músculos movem essas cartilagens, fazendo com que as
pregas vocais sejam tensionadas ou relaxadas. O grau de tensão ou relaxamento inter-
fere na tonalidade dos sons. Se as pregas ficam tensas, o som produzido é agudo e, se
ficam relaxadas, o som é grave.
Existem dois tipos de pregas. O primeiro é o das pregas vocais verdadeiras,
também conhecidas como glote. O espaço entre elas é chamado de rima da glote.
Um pouco abaixo da entrada na laringe, estão localizadas as pregas vestibulares
ou pregas vocais falsas, que não participam da produção da voz, mas sim, são respon-
sáveis por manter uma pressão do ar na cavidade torácica, que pode aumentar quando
fazemos força.
Conhecer a estrutura interna da laringe é importante para compreender o que
ocorre em situações como o edema de glote, que é o inchaço das pregas vocais decor-
rente de reação alérgica, que pode evoluir para um fechamento da passagem do ar
entre as pregas, desencadeando asfixia e morte por parada respiratória. As pessoas
podem desenvolver alergia aos mais variados fatores, como remédios, corantes
alimentícios e até alguns tipos de alimentos, como frutos do mar. Em situações como
94

essa, o encaminhamento ao hospital deve ser imediato, onde substâncias antialérgicas


poderão ser aplicadas via oral ou injetável (intramuscular ou endovenosa). A escolha
dependerá do grau de fechamento da passagem do ar que causa dificuldade respira-
tória crescente (dispneia).

4.2 Respiração pulmonar


A respiração pulmonar acontece por meio da membrana respiratória ou
membrana alveolocapilar, que é formada pela parede alveolar e a parede capilar.
Embora cada membrana seja constituída por células que formam um epitélio pavi-
mentoso simples e acabam por formar duas paredes, a espessura, mesmo dupla,
ainda é muito fina. Assim, moléculas de oxigênio conseguem atravessar essa parede
e passar para o sangue, também atravessando a parede dos capilares sanguíneos que
circundam os alvéolos. Da mesma forma, moléculas de dióxido de carbono passam
através da parede do capilar e do alvéolo, indo para seu interior.

4.2.1 Mecânica da ventilação pulmonar


Vários músculos trabalham para produzir os movimentos respiratórios de inspiração e
expiração que garantem, em conjunto, a mecânica da ventilação pulmonar. Esses músculos
se dividem em dois grupos: os músculos respiratórios principais e os acessórios.

Músculos respiratórios
Esternoclidomastóideo

Escalenos

Intercostais externos
Intercostais internos
Intercostais internos (excluindo a parte
(parte intercondral) intercondral)

Diafragma
Oblíquo externo
do abdome

Oblíquo interno
do abdome

Transverso
© FabriCO

do abdome
Reto do abdome

Fonte: VAN DE GRAAF, 2003, p. 620. (Adaptado).


95

Os músculos respiratórios principais agem tanto na inspiração tranquila quanto na


forçada aumentando a caixa torácica para a entrada do ar nos pulmões. O diafragma,
com formato de cúpula, separa a cavidade torácica da cavidade abdominal e contrai e
desce durante a inspiração, aumentando a cavidade torácica longitudinalmente. Já os
músculos intercostais externos, localizados entre as costelas, contraem e elevam-nas,
aumentando a cavidade transversalmente.
Os músculos respiratórios acessórios atuam na inspiração ou na expiração
forçada. Os que atuam como acessórios inspiratórios são: músculo esternocleidomas-
toide, músculos escalenos (situados na lateral do pescoço) peitoral maior, peitoral
menor, entre outros, que agem elevando o osso esterno e as primeiras costelas,
contribuindo para um maior aumento da caixa torácica para uma maior expansão
pulmonar. Já os músculos intercostais internos e abdominais atuam durante a expi-
ração forçada que ocorre quando tossimos, assopramos com força ou nos exercitamos.
Eles puxam as costelas para baixo, diminuindo a caixa torácica e consequentemente
comprimindo os pulmões e os músculos abdominais, criando uma compressão sobre
os órgãos do abdome. Essa movimentação força o diafragma para cima, aumentado a
compressão dos pulmões e favorecendo a expiração. Na sequência, descobriremos as
diferenças entre os dois pulmões e conheceremos o local pelo qual várias estruturas se
relacionam com os pulmões.

4.2.2 Hilo, raiz e lobos pulmonares


O ar inalado pelo nariz entra nos pulmões por meio do hilo ou raiz pulmonar,
uma região na face medial dos pulmões onde se encontra o ponto por onde estru-
turas entram ou saem dele. É como se fosse a “porta” dos pulmões. Nos hilos direito e
esquerdo, encontram-se os brônquios principais, a artéria pulmonar, veias pulmonares,
vasos linfáticos e nervos, elementos que podem ser vistos na figura a seguir.
96

Anatomia do pulmão
Ápice

Área para traquéia e esôfago

Sulco para a
Sulco para o arco da aorta Artéria subclávia

Sulco para a 1ª costela


Fissura oblíqua

Linfonodo
broncopulmonar(hilar)
Artéria pulmonar
Brônquio

Manguito pleural Margem anterior

Veias pulmonares

Sulco para a parte Impressão cardíaca


descendente da aorta

Ligamento pulmonar

Incisura cardíaca
Área para o esôfago

Língula

© FabriCO
Face
Margem inferior diafragmática Fissura oblíqua

Fonte: MOORE; DALLEY; AGUR, 2010, p. 112. (Adaptado).

Os pulmões são compostos por lobos, que são separados pelas fissuras e
formados por pequenas partes denominadas segmentos. O pulmão direito possui
três lobos: superior, inferior e médio, separados pelas fissuras oblíqua e horizontal. O
pulmão esquerdo possui apenas dois lobos: superior e inferior, separados pela fissura
oblíqua, porque o coração ocupa o espaço que seria do lobo médio.

Lobos e fissuras do pulmão


Ápice

Incisura
Lobo
cardíaca
superior
©Designua // Shutterstock. (Adaptado).

ANTERIOR

Fissura oblíqua Fissura Fissura


horizontal oblíqua
Lobo inferior
Lobo Lobo
POSTERIOR médio inferior

Base

(a) Vista lateral do pulmão direito (b) Vista lateral do pulmão esquerdo
Fonte: TORTORA, 2007, p. 792. (Adaptado).
97

Cada brônquio é uma via aérea que conduz o ar para uma parte específica, o que
compreenderemos no próximo item.

4.2.3 Segmentação dos brônquios


Os brônquios se originam a partir da traqueia e vão sofrendo várias ramificações,
como mostra a imagem a seguir.

Árvore brônquica
Laringe

Traqueia

Carina

Pleura visceral
Pleura pleural
Pleura parietal Brônquio principal
esquerdo

© sciencepics // Shutterstock. (Adaptado).


Brônquio principal
direito Brônquio lobar
esquerdo
Brônquio lobar
direito Brônquio segmentar
esquerdo
Brônquio segmentar
direito Brônquíolo
Brônquíolo
Brônquíolo
Brônquíolo terminal esquerdo
direito

Fonte: TORTORA, 2007, p. 787. (Adaptado).

A denominação de cada brônquio está relacionada à parte para onde ele conduz o ar:

Brônquios pulmonares ou principais


1 Conduzem ar para os pulmões direito e esquerdo.

Brônquios lobares
2 Originam-se a partir da ramificação dos brônquios pulmonares e conduzem ar para os lobos.

Brônquios segmentares
3 Originam-se dos brônquios lobares e conduzem ar para cada segmento dos lobos.
98

A partir dos brônquios segmentares, começam ramificações ainda menores, os


bronquíolos terminais (que não possuem alvéolos brotando de suas paredes) e, por
fim, os bronquíolos respiratórios (que possuem alvéolos que realizam hematose, por
isso, recebem o nome de respiratórios).
Podemos, então, compreender a sequência da árvore brônquica da seguinte forma:

Ramificação da árvore brônquica

Traqueia

Brônquio principal
(primário)

Brônquio lobar
(secundário)

Brônquio segmentar
(terciário)

Bronquíolos

Bronquíolos respira-
tórios terminais

Fonte: TORTORA, 2007, p. 787. (Adaptado).

Assim como os bronquíolos respiratórios, os alvéolos também são vias aéreas


respiratórias. Eles possuem células alveolares formando suas finíssimas paredes e
células secretoras que produzem um fluido alveolar umidificador do ar e das paredes
que contém uma substância chamada de surfactante. Se um alvéolo esvaziar, suas
paredes tendem a colapsar, ou seja, grudar, e a substância surfactante tem a função de
tentar reduzir essa tendência. Por fim, no interior dos alvéolos ainda existem macró-
fagos, células que fagocitam, ou seja, ingerem quaisquer partículas estranhas.
As membranas que revestem, envolvem e protegem os pulmões e a caixa torácica
por dentro são denominadas pleuras e estão distribuídas da seguinte maneira: pleura
pulmonar, aderida diretamente aos pulmões, e pleura parietal, que é uma continui-
dade da pleura pulmonar e se adere internamente à parede da caixa torácica.
99

Pleuras

Pleura parietal

Cavidade pleural

Pleura pulmonar

© Alila Medical Media / / Shutterstock. (Adaptado).


Entre as pleuras, existe um espaço pleural, também chamado de cavidade
pleural, que contém o líquido pleural, com a função de lubrificação e redução de atrito
entre as pleuras. Nesse espaço, deve haver apenas uma pequena quantidade de líquido
pleural, caso ela aumente, ocorre o derrame pleural. Se houver ar entre as pleuras,
denominamos pneumotórax, se existir sangue, dizemos hemotórax, e a presença de pus
é o que chamamos de empiema. Todas essas condições patológicas precisam ser rever-
tidas com a retirada da substância estranha do espaço pleural por intermédio de um
dreno, colocado nos últimos espaços entre as costelas.
Após vermos as membranas relacionadas aos pulmões e à caixa torácica e como
estão distribuídas, veremos como acontece o processo de hematose, que é o objetivo
de todos os órgãos que compõem o sistema respiratório.

4.2.4 Hematose
Fisiologicamente, a respiração consiste na captação do gás oxigênio, proveniente
do ar atmosférico que chega, por meio da inspiração, pelas vias aéreas e vai até os
alvéolos. Neles, o oxigênio passa através da membrana respiratória para o sangue dos
capilares. A troca de gases que ocorre nos pulmões entre os alvéolos e o sangue dos
capilares pulmonares é chamada de hematose ou respiração externa e inclui também
a passagem de dióxido de carbono do sangue capilar para o alvéolo, de onde será
eliminado durante a expiração, fazendo o caminho oposto do oxigênio.
100

A pressão de um gás em uma mistura é denominada pressão parcial. Na hema-


tose, cada gás passa, por difusão, de uma área onde sua pressão parcial é maior para
outra, em que sua pressão parcial é menor. Desse modo, a hematose ocorre para
transformar o sangue com pressão parcial baixa em oxigênio (sangue desoxigenado/
venoso) em sangue com pressão parcial alta de oxigênio (sangue oxigenado/arterial)

Difusão é o processo no qual um gás passa de uma área onde sua pressão parcial é maior para
outra em que sua pressão parcial é menor.

A qualidade da captação de oxigênio pelos capilares depende da integridade


e disponibilidade dos alvéolos e dos capilares, cujas paredes sobrepostas formam a
membrana respiratória. Assim, quanto mais alvéolos estiverem livres de lesões, secre-
ções ou partículas que poderiam obstruí-los e quanto mais capilares estiverem íntegros,
melhor e mais efetiva será a hematose.

4.3 Respiração tecidual


A troca de gases entre as células dos tecidos e o sangue, quando as células
recebem o oxigênio e entregam o dióxido de carbono, é chamada de respiração teci-
dual ou respiração interna. Nesta seção, elucidaremos esse processo, compreen-
dendo o transporte de oxigênio para os tecidos e o trajeto do dióxido de carbono, o
gás que deve ser eliminado de nosso organismo.

4.3.1 Transporte de oxigênio para os tecidos


O sangue rico em oxigênio é distribuído para as células do corpo, por toda a rede
arterial, para realização de suas atividades metabólicas. Esse transporte ocorre com o
auxílio da hemoglobina, uma proteína plasmática contida nas hemácias ou eritrócitos
(glóbulos vermelhos). Isso porque a parte líquida do sangue é o plasma, e o oxigênio
não se dissolve em solução aquosa com facilidade.
Assim, o oxigênio é conduzido agregado à hemoglobina num conjunto denominado
oxiemoglobina. Essa ligação é reversível de acordo com as necessidades celulares, então,
quando o plasma sanguíneo contém muito oxigênio (pressão parcial de oxigênio alta),
ele se liga proporcionalmente à hemoglobina, que atua como meio de transporte.
101

4.3.2 Absorção de oxigênio pelas células


No plasma dos tecidos, onde a quantidade de oxigênio é pequena, a hemoglobina
libera o oxigênio, que se difunde do plasma para o líquido intersticial e dali para as células.
As células, então, recebem e consomem o oxigênio trazido pelo sangue para
produzir, em seu interior, reações metabólicas que geram ATP (adenosina trifos-
fato), que é um composto relacionado ao fornecimento de energia para o corpo. Esse
processo é a respiração celular, e seu produto tóxico é o dióxido de carbono.

4.3.3 Difusão de dióxido de carbono para o líquido extracelular


Quantidades aumentadas de dióxido de carbono podem produzir uma condição
patológica chamada de acidez, que pode ser tóxica para as células. Por essa razão, ele
precisa ser eliminado do organismo. Para tanto, ele segue o seguinte trajeto: primeiro,
é transportado pelo sangue até os alvéolos e atravessa a membrana respiratória por
difusão, uma vez que a pressão parcial de dióxido de carbono será maior no sangue do
que no alvéolo. Os alvéolos, então, recebem esse gás dos capilares e os eliminam pelas
vias aéreas no processo de expiração, que ocorre no sentido contrário ao da inspiração.

4.3.4 Transporte de dióxido de carbono para os pulmões


De acordo com Martini (2009) e Tortora e Grabowski (2006), o dióxido de carbono
pode ser conduzido num percentual de 9% dissolvido no plasma, em 13% ligado à
hemoglobina (constituindo a carbaminoemoglobina) e, na maior porcentagem, na
forma de íons bicarbonato (HCO3). A pressão parcial de dióxido de carbono das células
teciduais (45 mmHg) é maior do que a do sangue contido no capilar (40 mmHg), por
isso, o gás passará das células para o sangue por difusão, através do líquido intersticial
Tanto o sistema respiratório quanto o sistema circulatório contribuem para
captação de oxigênio e eliminação de dióxido de carbono. O coração recebe e bombeia
o sangue, mantendo uma circulação contínua. O trajeto que conduz o sangue do
coração até os pulmões para oxigenação e depois de volta dos pulmões para o coração
é chamado de pequena circulação ou circulação pulmonar, que faz o trajeto: coração –
pulmão – coração. Depois, o sangue rico em oxigênio de que as células precisam é
bombeado pelo coração para o corpo num trajeto maior, chamado de grande circu-
lação ou circulação sistêmica, que compreende: coração – corpo – coração.
Vimos que o sistema respiratório trabalha em sincronia e parceria com o sistema
sanguíneo, mas quem controla para que suas funções sejam executadas dentro de um
equilíbrio é o sistema nervoso. Veremos agora como acontece esse controle.
102

4.4 Regulação da respiração


O sistema nervoso controla todas as funções de nosso corpo por meio dos neurô-
nios, incluindo nossos processos respiratórios, que são resultados de ações musculares
e possuem ritmo e frequência que precisam estar adequados às demandas de oxigênio
geradas pelas atividades que o corpo executa.

Núcleos que constituem o centro respiratório

Centro
pneumotáxico
Centro
apnêustico
Centro

© Blamb / / Shutterstock. (Adaptado).


expiratório
Centro
Ponte inspiratório
Bulbo

As partes que controlam os eventos respiratórios são formadas por grupos de


neurônios ou núcleos localizados no encéfalo, que constituem o centro respiratório.

4.4.1 Centro respiratório


O centro respiratório é organizado em três pares de núcleos. A área bulbar, da
ritmicidade ou centro rítmico da respiração controla o ritmo básico da respiração e
possui duas subáreas: a área inspiratória ou grupo respiratório posterior (também
denominada centro inspiratório) e o grupo respiratório anterior (também chamado
de centro expiratório). Na ponte, estão localizados dois centros: apnêutico e pneu-
motáxico, que controlam a velocidade e a profundidade da respiração respondendo a
alguns estímulos sensitivos ou a comandos de centros superiores.

4.4.2 Influências sobre o centro respiratório


O ritmo, a frequência e as ações musculares respiratórias são determinados e
coordenados por áreas do tronco encefálico, mas outras áreas do encéfalo e vários
fatores podem interferir nesses e em outros fatores, como os seguintes:
103

Controle voluntário

Nosso córtex cerebral é a área do sistema nervoso que exerce controle sobre todas as funções
neurológicas, mesmo quando atribuídas a outras partes do encéfalo. Dessa forma, mesmo que o
bulbo do tronco encefálico seja a principal área relacionada ao controle respiratório, nosso córtex
pode modificar nossa respiração de acordo com nossa vontade, embora não consiga produzir uma
parada voluntária em função de mecanismos neurológicos protetores de centros respiratórios.

Níveis de dióxido de carbono e oxigênio

Os níveis dessas substâncias nos fluidos corporais são controlados por quimiorreceptores, que
são neurônios especiais sensíveis às alterações dos níveis adequados dos gases.

Temperatura corporal

A frequência respiratória pode aumentar frente a situações de febre e exercícios físicos e dimi-
nuir em casos de hipotermias.

Impulsos dolorosos

Dores intensas e súbitas podem produzir paradas respiratórias temporárias ou aumentar a


frequência respiratória quando atingem pele, ossos músculos e articulações. Quando a dor é
proveniente de algum órgão, entretanto, geralmente diminui a frequência.

Fatores emocionais

Situações de ansiedade, alegria e tristeza extremas, depressão, medo etc., controladas pelo
sistema límbico e hipotálamo, podem desencadear impulsos que serão enviados a centros
respiratórios e produzirão alterações na respiração.

Proprioceptores articulares e musculares

São estruturas neurológicas especiais que inspecionam os movimentos articulares e musculares


e enviam impulsos nervosos ao centro respiratório do bulbo dependendo da intensidade das
atividades físicas e da quantidade de oxigênio que demandarão.
104

O processo de respiração é complexo e envolve muitas variáveis, portanto, o


sistema nervoso tem um papel primordial. É ele que controla os músculos que atuam
na inspiração e na expiração, como veremos a seguir.

4.4.3 Controle dos músculos inspiratórios e expiratórios


De acordo com Martini (2009), o grupo respiratório posterior exerce controle
sobre neurônios motores que produzem a contração dos principais músculos da inspi-
ração (músculo diafragma e músculos intercostais), atuando tanto na respiração
normal quanto na respiração forçada.
O grupo respiratório anterior, por sua vez, atua somente durante a respiração
forçada, exercendo controle sobre neurônios motores que inervam músculos acessó-
rios que contraem na expiração ativa e na inspiração máxima. Os neurônios do grupo
respiratório anterior relacionados com a respiração ativa são, algumas vezes, conside-
rados componentes do centro expiratório.

4.4.4 Doença pulmonar obstrutiva crônica


Existe um grupo de doenças respiratórias muito comuns conhecidas pela sigla
DPOC, que significa doenças pulmonares obstrutivas crônicas. A asma, a bronquite e o
enfisema fazem parte desse grupo de enfermidades.
A asma é uma doença inflamatória das vias aéreas, desencadeada por processos
alérgicos em resposta a fatores como pólen, ácaros, certos medicamentos (aspirina
e antiinflamatórios) e alguns produtos químicos (perfumes, produtos de limpeza),
entre outros. Os sinais e sintomas incluem tosse, geralmente produtiva (que produz
secreção), falta de ar, cianose de extremidades (unhas e lábios azulados) e “chio de
peito”. Esse “chio” ou sibilo é um som produzido pela passagem dificultada do ar pelos
bronquíolos que estão estreitados pela contração de pequenos músculos lisos situados
ao redor de suas paredes, em função da reação alérgica. A asma pode levar à morte se
essa constrição não for revertida, e o tratamento consiste em medicamentos bronco-
dilatadores e antiinflamatórios e fisioterapia.
A bronquite também é um processo inflamatório e é caracterizada por produção
excessiva de muco (secreção) e edema (inchaço interno) das vias aéreas. A mucosa
que reveste as vias aéreas internamente, principalmente os brônquios, produz muco
em quantidade proporcional a fatores alérgenos ou irritantes. Assim, quanto mais
exposta à inalação de substâncias irritantes, como fumaça do cigarro e poluição, maior
quantidade de muco será produzida. Para ser considerada crônica, a bronquite deve
perdurar por pelo menos três meses num ano e se repetir por dois anos consecutivos.
O tratamento consiste em medidas para reduzir a resposta inflamatória e eliminar as
105

secreções com medicamentos e fisioterapia, além disso, é essencial afastar a pessoa


dos fatores desencadeantes.
O enfisema é uma doença respiratória presente na maioria dos fumantes e também
nas pessoas não fumantes, mas muito expostas à fumaça do cigarro, isto é, fumantes
passivos. Em função das substâncias tóxicas presentes na fumaça inalada do cigarro,
ocorre uma destruição das paredes que separam os alvéolos, tornando-os incapazes de
participar da hematose. Sem as paredes divisórias, os sacos alveolares formam “bolhas
de ar morto”. Assim, as pessoas com enfisema têm muita falta de ar, porque as áreas
respiratórias destruídas não captarão oxigênio, mesmo cheias de bolhas de ar.
A eficácia funcional e a adequação estrutural de cada sistema de nosso orga-
nismo dependem da quantidade e da qualidade do suprimento de oxigênio recebido
e da prontidão com a qual o dióxido de carbono é eliminado. Assim, ao término deste
capítulo, podemos concluir que não basta respirar de forma superficial e inadequada.
Uma melhor captação de oxigênio e eliminação de dióxido de carbono repercute dire-
tamente na melhora qualidade de vida, assim como o inverso é verdadeiro. Pessoas
que respiram superficialmente ou que possuem distúrbios ou patologias que compro-
metam a hematose direta ou indiretamente terão várias consequências danosas para
o funcionamento do seu corpo, desde as mais simples, como dores de cabeça e dificul-
dade de concentração, como as mais complexas, que acarretam prejuízo nos órgãos e
sistemas e em suas funções.
106

Referências
HERLIHY, B.; MAEBIUS, N. K. Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano Saudável e
Enfermo. Barueri: Manole, 2002.
MARTINI, F. H. Anatomia Humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia Orientada para a Clínica. 6. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
NETTER, F. H. Atlas de Anatomia Humana. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
TORTORA, Gerard J. Princípios de Anatomia Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
______ ; GRABOWSKI, S. R. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 6. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
______; NIELSEN, M. T. Princípios de Anatomia Humana. 12. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013
VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia Humana. 6. ed. Barueri: Manole, 2003.

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