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AANATOMOFISIOLOGIA

NATOMOFISIOLOGIA
HUMANA
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WalquiriaAparecida
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GarciaZonta
Zonta
Superintendente Prof. Paulo Arns da Cunha
Reitor Prof. José Pio Martins
Pró-Reitor Acadêmico Prof. Carlos Longo
Coordenador Geral de EAD Prof. Renato Dutra
Coordenadora Editorial Profa. Manoela Pierina Tagliaferro
Autoria Prof. João Armando Brancher
Profa. Walquiria Aparecida Garcia Zonta
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Biblioteca da Universidade Positivo – Curitiba – PR

B816 Brancher, João Armando.


Anatomofisiologia [recurso eletrônico]. / João Armando Brancher,
Walquiria Aparecida Garcia Zonta. – Curitiba : Universidade Positivo, 2016.
208 p. : il.

Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.


Modo de acesso: <http://www.up.edu.br>
Título da página da Web (acesso em 25 out. 2016).
ISBN: 978-85-8486-260-3.

1. Anatomia humana. 2. Fisiologia humana. I. Zonta, Walquiria


Aparecida Garcia. II. Título.
CDU 611

*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
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Dica

Biografia

Esclarecimento
Conceito

Contexto Exemplo
Sumário
Capítulo 5
Captação e absorção de nutrientes; eliminação de resíduos: sistema digestório..............9
5.1 Funções gerais do sistema digestório...........................................................................9
5.1.1 Canal alimentar e órgãos acessórios....................................................................................................................... 10
5.1.2 Digestão...................................................................................................................................................................11
5.1.3 Absorção..................................................................................................................................................................11
5.1.4 Excreção...................................................................................................................................................................12
5.2 Ingestão e deglutição.................................................................................................12
5.2.1 Boca.........................................................................................................................................................................12
5.2.2 Glândulas salivares................................................................................................................................................. 16
5.2.3 Faringe.....................................................................................................................................................................17
5.2.4 Esôfago....................................................................................................................................................................18
5.3 Digestão.....................................................................................................................21
5.3.1 Estômago................................................................................................................................................................ 21
5.3.2 Duodeno................................................................................................................................................................. 23
5.3.3 Pâncreas..................................................................................................................................................................24
5.3.4 Fígado e vesícula biliar............................................................................................................................................ 25
5.4 Excreção......................................................................................................................27
5.4.1 Intestino delgado e mesentério.............................................................................................................................. 28
5.4.2 Absorção de nutrientes.......................................................................................................................................... 29
5.4.3 Intestino grosso...................................................................................................................................................... 29
5.4.4 Movimentos intestinais...........................................................................................................................................31
Referências.......................................................................................................................32
Capítulo 6
Controle das funções corporais: equilíbrio, harmonia e bem-estar ................................33
6.1 Organização funcional do sistema nervoso................................................................33
6.1.1 Sistema nervoso central.......................................................................................................................................... 36
6.1.2 Sistema nervoso periférico..................................................................................................................................... 40
6.1.3 Envoltórios do tecido nervoso................................................................................................................................ 42
6.1.4 Barreira hematoencefálica e líquor......................................................................................................................... 42
6.2 Funções sensoriais, integrativas e motoras................................................................43
6.2.1 Estimulação sensorial............................................................................................................................................. 44
6.2.2 Tronco encefálico e controle motor........................................................................................................................ 45
6.2.3 Reflexo e reação..................................................................................................................................................... 45
6.2.4 Funções cognitivas e comportamento................................................................................................................... 45
6.3 Sistema Nervoso Autônomo......................................................................................46
6.3.1 Divisões simpática e parassimpática...................................................................................................................... 46
6.3.2 Função simpática................................................................................................................................................... 47
6.3.3 Função parassimpática........................................................................................................................................... 48
6.3.4 Neurotransmissores da fisiologia autonômica....................................................................................................... 48
6.4 Controle endócrino das funções corporais.................................................................48
6.4.1 Definição de glândulas endócrinas......................................................................................................................... 49
6.4.2 Hipófise: um dos principais órgãos endócrinos......................................................................................................51
6.4.3 Hormônios.............................................................................................................................................................. 53
6.4.4 Mecanismos de ação dos hormônios..................................................................................................................... 53
Referências.......................................................................................................................55
Capítulo 7
Proteção e defesas do corpo humano..............................................................................57
7.1 Pele e mucosas............................................................................................................57
7.1.1 Estrutura da pele..................................................................................................................................................... 57
7.1.2 Funções da pele....................................................................................................................................................... 58
7.1.3 Anexos cutâneos..................................................................................................................................................... 59
7.1.4 Mucosas....................................................................................................................................................................61
7.2 Sistema imunológico .................................................................................................61
7.2.1 Antígenos................................................................................................................................................................ 62
7.2.2 Células do sistema imunológico............................................................................................................................. 63
7.2.3 Resposta imunológica............................................................................................................................................ 66
7.2.4 Hipersensibilidades................................................................................................................................................. 66
7.3 Sistema linfático .........................................................................................................67
7.3.1 Linfa........................................................................................................................................................................ 67
7.3.2 Vasos linfáticos....................................................................................................................................................... 68
7.3.3 Células e tecidos linfáticos...................................................................................................................................... 69
7.3.4 Linfonodos.............................................................................................................................................................. 69
7.4 Resistência do corpo à infecção .................................................................................70
7.4.1 Leucócitos ............................................................................................................................................................... 71
7.4.2 Granulócitos............................................................................................................................................................ 72
7.4.3 Sistema monocítico macrofágico........................................................................................................................... 73
7.4.4 Inflamação...............................................................................................................................................................74
Referências.......................................................................................................................78
Capítulo 8
Aparelho genitourinário...................................................................................................79
8.1 Órgãos excretores.......................................................................................................79
8.1.1 Rins.......................................................................................................................................................................... 80
8.1.2 Ureteres................................................................................................................................................................... 82
8.1.3 Vesícula urinária ..................................................................................................................................................... 82
8.1.4 Uretra masculina e uretra feminina........................................................................................................................ 84
8.2 Sistema genital masculino.........................................................................................85
8.2.1 Testículos................................................................................................................................................................ 85
8.2.2 Túbulos e ductos seminíferos................................................................................................................................. 86
8.2.3 Pênis ..................................................................................................................................................................... 86
8.2.4 Glândulas acessórias............................................................................................................................................... 88
8.3 Sistema genital feminino...........................................................................................88
8.3.1 Ovários e tubas uterinas......................................................................................................................................... 89
8.3.2 Útero....................................................................................................................................................................... 90
8.3.3 Genitália externa ................................................................................................................................................... 92
8.3.4 Glândulas mamárias............................................................................................................................................... 92
8.4 Gravidez......................................................................................................................94
8.4.1 Ciclo menstrual....................................................................................................................................................... 95
8.4.2 Fertilização............................................................................................................................................................. 96
8.4.3 Desenvolvimento e funções da placenta................................................................................................................ 97
8.4.4 O feto e a mãe.......................................................................................................................................................101
Referências ....................................................................................................................104
5 Captação e absorção de nutrientes;
eliminação de resíduos: sistema digestório
Com o aprofundamento de pesquisas na área de saúde sobre fatores que inter-
ferem na qualidade de vida, várias descobertas ressaltam o impacto que uma alimentação
saudável exerce sobre os aspectos funcionais do corpo humano. Nesse sentido, é funda-
mental conhecer os órgãos que participam da digestão dos alimentos.
Neste capítulo, compreenderemos o conceito de digestão e estudaremos o sistema
digestório, analisando cada um de seus órgãos e entendendo como eles participam
desse processo.

5.1 Funções gerais do sistema digestório


As funções do sistema digestório são exercidas por vários órgãos e glândulas e
são essenciais para que nosso organismo absorva os nutrientes necessários. São elas:

Ingestão
Ato de levar os alimentos, sejam sólidos ou líquidos, à boca.

Secreção

Produção e liberação, por vários tipos de células, de substâncias que contribuem para a digestão.

Processos mecânicos

São resultado de ações musculares que ajudam a triturar, misturar e impulsionar as partículas
alimentares.

Digestão

Processo que diminui macromoléculas de nutrientes até sua menor forma.

Absorção

Passagem de substâncias nutrientes das paredes do canal alimentar para o sangue,


a linfa e as células.
10

Defecação

Processo pelo qual todo material não absorvido é eliminado em forma de fezes pela porção
final do canal alimentar, chamada de ânus.

Para que essas funções sejam executadas, nosso organismo possui estruturas
divididas em dois grupos, que compreenderemos a seguir.

5.1.1 Canal alimentar e órgãos acessórios


Os componentes do sistema digestório são divididos em: canal alimentar,
(também chamado de trato gastrointestinal) por onde as partículas dos alimentos
percorrem um trajeto no qual serão sucessivamente processadas, e órgãos anexos ou
órgãos acessórios que contribuem de diversas formas para funções digestivas.

O estresse pode causar uma patologia que acomete todo o trato gastrointestinal, denominada
síndrome do intestino irritável ou colo irritável, que pode causar dores e cãibras abdominais,
diarreia e constipação alternadas, náuseas e flatulência e perda de apetite.

O canal alimentar é composto pelos seguintes órgãos: boca (cavidade bucal),


faringe, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. Os órgãos anexos
compreendem estruturas como dentes, língua e glândulas anexas, que incluem as
glândulas salivares, o fígado com a vesícula biliar e o pâncreas.

Sistema digestório

Cavidade Glândula parótida


bucal
Glândulas Faringe
submandibular
e sublingual
Esôfago
Fígado
Estômago
Vesícula biliar
© snapgalleria / / Shutterstock. (Adaptado).

Pâncreas

Intestino delgado

Ânus
11

Todas essas partes serão estudadas mais a fundo ao longo deste capítulo, em
conjunto com sua função no processo da digestão.

5.1.2 Digestão
O objetivo dos processos digestivos é transformar moléculas grandes, que não
atravessariam a mucosa intestinal (revestimento interno dos intestinos), em moléculas
suficientemente pequenas para não só atravessarem a mucosa, como serem absor-
vidas pelas células.
Os processos digestivos podem ser divididos em processos mecânicos e
processos químicos. Fortes músculos estriados, como o músculo masseter (situado na
região interna das bochechas de cada lado do rosto) e o músculo temporal (situado de
cada lado nas têmporas) agem voluntariamente e produzem os movimentos mastiga-
tórios que permitirão que os dentes triturem os alimentos. Movimentos executados
por músculos relacionados à língua e à faringe desencadeiam o ato da deglutição, que
impulsiona o bolo alimentar para a faringe.
A partir do esôfago, a musculatura especial do canal alimentar, constituída de
músculos lisos e de controle involuntário, produz movimentos peristálticos, que
mantêm a propulsão das partículas alimentares sempre adiante para a próxima parte,
onde nova etapa da quebra de moléculas será realizada. Músculos da parede do estô-
mago e do intestino delgado realizam também movimentos especiais que misturam
as partículas alimentares às substâncias químicas que vão sendo liberadas nas várias
porções do canal alimentar. A liberação de muitas e variadas enzimas ao longo das
porções do canal alimentar, e também do ácido clorídrico e da bile, constituem os
processos químicos. Tanto os processos mecânicos quanto os químicos serão detalhados
ao longo do capítulo.

5.1.3 Absorção
O processo de absorção requer um revestimento interno especial nos órgãos
digestórios, por isso, só ocorre no estômago, no intestino delgado e no intestino
grosso, que são dotados de um epitélio mucoso próprio para algum grau de absorção.
Segundo Tortora e Grabowski (2006), ocorre pouca absorção no estômago, uma
vez que suas células epiteliais são impermeáveis à maioria das substâncias nutrientes,
permitindo apenas a absorção de água, íons, ácidos graxos de cadeia curta e algumas
drogas, especialmente a aspirina, e álcool.
É no intestino delgado que ocorre 90% da absorção, pois esse órgão e sua
mucosa são especialmente construídos para esse processo. Nele, são absorvidas as
12

vitaminas lipossolúveis, como A, D, E e K, e a maioria das hidrossolúveis, como B e


C. Todos os carboidratos são absorvidos como monossacarídeos, e os triglicerídeos,
na forma de monoglicerídeos e ácidos graxos. Além disso, de acordo com Tortora e
Grabowski (2006), cerca de 50% dos aminoácidos absorvidos provêm das proteínas
alimentares, enquanto o restante vem de células mortas desprendidas da mucosa e
de sucos digestivos. Por fim, as células epiteliais que formam a mucosa intestinal do
intestino delgado absorvem a maior parte da água e dos íons (sódio, potássio, cálcio,
ferro, magnésio, cloreto, fosfato, nitrato e iodeto) que atravessam o canal alimentar e
provêm dos alimentos, bebidas e secreções digestivas.
O processo termina no intestino grosso, responsável pela absorção de água
e íons, como sódio e cloreto, além da formação do bolo fecal. O próximo passo é a
excreção de tudo o que não foi absorvido pelo organismo.

5.1.4 Excreção
Todo o material não digerido ou não absorvido, células mortas da mucosa do
canal alimentar, bactérias ou produtos de sua decomposição e certa quantidade
de água e sais constituem o bolo fecal. Um movimento resultante de contrações da
musculatura lisa do intestino grosso, chamado de peristalse em massa, impulsiona o
bolo fecal em direção ao reto. O reflexo de defecação é desencadeado pela presença
desse composto no reto, distendendo suas paredes. As estruturas e os movimentos
envolvidos na excreção serão detalhados mais adiante.

5.2 Ingestão e deglutição


Os processos que desencadeiam a digestão dos alimentos começam na boca com
a ingestão e a deglutição do bolo alimentar, por isso, a cavidade bucal é especialmente
construída para realizar essas funções.
Ao longo desta seção, conheceremos as partes que integram a cavidade bucal,
como a boca, a língua e os dentes, e estudaremos ainda as glândulas salivares, a
faringe e o esôfago.

5.2.1 Boca
A boca ou cavidade bucal é fechada anteriormente pelos lábios, que formam a
rima bucal ao se encontrarem. Logo após os lábios, existe uma região chamada de
vestíbulo bucal, que fica entre os dentes e os lábios.
A parte superior da boca é denominada palato e está subdividida em palato
duro, formado pelos dois ossos palatinos e por porções dos dois ossos maxilares,
13

e palato mole, constituído por músculos. Na parte central do palato mole, existe a
úvula, uma projeção que possui receptores especiais para avisar sobre a passagem
do bolo alimentar em direção à faringe. Além disso, as contrações dos músculos do
palato mole o elevam juntamente com a úvula e impedem que partículas alimentares
cheguem à cavidade nasal. Na parte final do palato mole, existem dois arcos pala-
tinos, e entre eles estão situadas as tonsilas palatinas ou amígdalas, que pertencem
ao sistema linfático e atuam na defesa do corpo contra microrganismos. Todas essas
estruturas podem ser vistas na imagem a seguir.

Estruturas que compõem a cavidade bucal


Lábio Incisivos

Canino
Palato
duro
Pré-molares
Palato
mole
Molares
Úvula

Tonsila
palatina
Arcos
palatinos
© rendix_alextian // Shutterstock. (Adaptado).

Língua
Molares

Pré-molares

Canino
Incisivos

As paredes da cavidade bucal são formadas pelas bochechas, que são consti-
tuídas por tecido adiposo, músculos bucinadores e tecido epitelial interno e externo. O
assoalho da boca é formado pela língua, estrutura de musculatura estriada e recoberta
de mucosa, cujos músculos participam da mastigação, da deglutição e da fonação.
Na cavidade bucal, estão os dentes. Os seres humanos possuem quatro tipos de
dentes, ilustrados na imagem anterior: incisivos, que cortam o alimento; caninos, que
o seguram, rasgam ou laceram; e os pré-molares e molares que os moem, trituram e
esmagam.
14

Em geral, os dentes possuem três partes: coroa, colo e raiz. A coroa é a parte que
se vê acima da gengiva; colo é o ponto entre coroa e raiz, na altura da gengiva; e raiz é
a parte de fixação nos alvéolos dentais (espaço presentes nas arcadas dentais superior,
do osso maxilar e inferior, do osso mandíbula).
No interior da coroa, existe uma cavidade pulpar, que contém a polpa do dente,
onde estão presentes vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos, que chegaram até ali
pelos canais do dente, localizados no interior da raiz. Os dentes incisivos e os caninos
apresentam uma raiz única, já os pré-molares e os molares possuem três ou mais raízes.

Em alguns dentes doentes, às vezes, é necessário retirar todo o conteúdo da polpa do dente,
tanto da cavidade pulpar quanto da raiz, por meio de um procedimento conhecido como trata-
mento de canal.

Os dentes são compostos de tecido conjuntivo calcificado, que consiste numa


matriz mineralizada chamada dentina. Ela é recoberta, na coroa, pelo esmalte e, na
raiz, pelo cemento. Sendo assim, a proteção da coroa contra o atrito dos movimentos
mastigatórios e corrosão por substâncias presentes nos alimentos se deve ao esmalte,
e o cemento fixa a raiz firmemente ao periodonto, que é o tecido conjuntivo que
reveste a cavidade alveolar.

Elementos que compõem o dente

Coroa Esmalte
Dentina
Colo
Gengiva
Polpa no
interior da
cavidade pulpar

Raiz Cemento
© Jacky Co // Shutterstock. (Adaptado).

Canal
da raiz
do dente

Osso
15

Durante o desenvolvimento, o ser humano apresenta dois conjuntos de dentes.


A primeira dentição, formada por 20 dentes decíduos (também conhecidos como
dentes primários ou dentes de leite) começa a irromper em torno dos 6 meses de idade. A
segunda dentição é composta por 32 dentes permanentes, que começam a irromper
em torno dos seis anos e substituem os decíduos conforme eles vão caindo.
Outra estrutura da cavidade bucal que auxilia na ingestão de alimentos é a língua,
formada por dois conjuntos de músculos que produzem os movimentos especiais da
língua durante a fonação, a mastigação e a deglutição: os músculos intrínsecos da
língua, que a constituem, e os músculos extrínsecos, situados no assoalho da língua e
nas proximidades do osso hioide.
A língua é composta por três partes: corpo, raiz e dorso ou superfície supe-
rior. O dorso e suas margens apresentam projeções afiladas conhecidas como papilas
linguais, ilustradas na imagem a seguir, cujo epitélio espessado que as recobre favo-
rece o atrito com as partículas alimentares, contribuindo para sua movimentação
sobre a língua. Algumas papilas ainda possuem receptores neurológicos especializados
em captar informações sobre tato, sabores diferenciados e temperatura dos alimentos.

Anatomia da língua
Epiglote

Tonsila palatina
Raiz
Tonsila lingual

Papila circunvalada
© stockshoppe // Shutterstock. (Adaptado).

Papila fungiformes

Corpo

Papila filiformes

Na linha mediana inferior da língua, encontra-se o frênulo lingual, uma prega de


mucosa que une o corpo da língua ao assoalho, restringindo movimentos excessivos.
Em algumas circunstâncias, o frênulo lingual pode reduzir demais os movimentos da
língua e prejudicar tanto a fala quanto a mastigação e deglutição, situação que pode
ser corrigida por uma cirurgia simples.
16

5.2.2 Glândulas salivares


Existem dois tipos de glândulas salivares. O primeiro é o das glândulas salivares
maiores, formado pelas glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais, com
ductos que liberam na cavidade bucal suas secreções, que constituem a saliva. Essas
glândulas podem ser visualizadas na imagem a seguir. O segundo grupo é o das inúmeras
glândulas salivares menores, distribuídas nas túnicas mucosas da cavidade oral.

Glândulas salivares maiores

Glândula

© Alila Medical Media / / Shutterstock. (Adaptado).


parótida

Glândula
sublingual

Glândula
submandibular

A saliva produzida pelas glândulas salivares é composta por água (99,5%) e


solutos, que podem ser íons, enzimas, solução-tampão e metabólitos (0,5%). Suas
funções incluem:
• lubrificar e ajudar a hidratar os alimentos para facilitar a deglutição;
• destruir bactérias que possam agredir a mucosa causando infecções ou os den-
tes provocando cáries;
• manter a mucosa úmida;
• iniciar os processos de digestão química dos alimentos pela liberação, pelas
glândulas salivares maiores, das enzimas amilase salivar e, pelas glândulas
salivares menores, da lipase lingual.
A amilase salivar começa a quebra das moléculas de carboidratos da forma de
polissacarídeos para tri ou dissacarídeos, enquanto a lipase lingual age nas partículas
alimentares apenas quando elas chegam ao estômago, onde o pH é mais ácido, produ-
zindo uma quebra parcial de triglicerídeos.
A produção da saliva é comandada pelo sistema nervoso autônomo (SNA),
que também controla o funcionamento dos órgãos e das glândulas. A estimulação
17

do sistema nervoso parassimpático produz a secreção contínua ideal de quantidades


de saliva para cumprir suas funções. O sistema nervoso simpático por sua vez, pode
conduzir ao ressecamento da boca, por diminuição na liberação de saliva, principal-
mente em situações de estresse.

O SNA é formado por dois componentes: o sistema nervoso simpático, que é ativado em situa-
ções de gasto energético, como aumento de atividade física e estresse, e o sistema nervoso
parassimpático, que atua em situações de reposição energética, como digestão e repouso.

5.2.3 Faringe
O órgão seguinte no canal alimentar é a faringe, que pertence tanto ao sistema
digestório, por permitir a passagem do alimento, quanto ao sistema respiratório, por
possibilitar o acesso do ar.
A faringe é um tubo constituído por um grupo de músculos estriados esquelé-
ticos, denominados músculos constritores da faringe (superior, médio e inferior) que
atuam durante a deglutição impulsionando o alimento em direção ao esôfago. Ela é
revestida por uma túnica mucosa composta pelo epitélio pavimentoso estratificado,
que a protege das substâncias corrosivas presentes nos alimentos e das alterações
extremas na temperatura do que é ingerido.
A faringe é constituída por três porções, que podem ser visualizadas na imagem
a seguir: a porção nasal ou nasofaringe, situada posteriormente à cavidade nasal;
porção oral ou orofaringe, localizada posteriormente à cavidade bucal e a porção
laríngea ou laringofaringe, posteriormente à laringe.

Porções da faringe

Nasofringe
Orofaringe
© Blamb / / Shutterstock. (Adaptado).

Laringofaringe
18

Para que o bolo alimentar continue seu trajeto após passar pela faringe e chegar
ao estômago, precisa primeiro passar pelo esôfago, que estudaremos a seguir.

5.2.4 Esôfago
O esôfago é um tubo muscular longo, com cerca de 25 cm de comprimento e 2
cm de diâmetro, revestido internamente por epitélio estratificado pavimentoso ou
escamoso, que contribui para proteger a mucosa esofágica de corrosões causadas pela
qualidade de certos alimentos (muito picantes ou ácidos, mal mastigados e causando
atrito) e também por sua temperatura.
O esôfago começa na porção laringofaringe na região cervical, desce na cavidade
torácica pelo mediastino posterior, anteriormente à coluna vertebral e paralelamente
à artéria aorta, e atravessa o músculo diafragma por uma abertura chamada de hiato
esofágico. Sua porção final desemboca no estômago.
Em função desse trajeto, o esôfago é dividido em três porções com constituições
musculares diferentes. A primeira é a porção cervical, localizada no terço superior e
constituída de músculo estriado; a segunda, mais longa, é a porção torácica, formada
por uma mistura de músculo estriado e músculo liso; e a porção final, logo após o hiato
esofágico, é a porção abdominal do esôfago, constituída apenas de músculo liso.
Para facilitar o processo de deglutição, o esôfago contém glândulas esofágicas,
que produzem muco lubrificante, e duas estruturas constituídas de músculos em forma
de anel ao redor de seu diâmetro: o esfíncter esofágico superior e esfíncter esofá-
gico inferior. Ambos têm a função de relaxar, permitindo passagem do bolo alimentar
para porção seguinte, e contrair logo após, fechando o diâmetro para impedir o refluxo
do bolo alimentar.
O processo de deglutição impulsiona o bolo alimentar da boca em direção ao
estômago, passando pela faringe e esôfago, constituindo três etapas: a primeira é a
etapa voluntária ou fase oral da deglutição, na qual a língua empurra o bolo para
cima e para trás, em direção ao palato mole.
Quando o bolo chega à orofaringe, começa a etapa faríngea ou fase faríngea
da deglutição (involuntária/reflexa), na qual ocorre a elevação do palato mole e
úvula, fechando a comunicação com a nasofaringe para impedir a subida de partículas
alimentares para cavidade nasal. Ao mesmo tempo, inferiormente, ocorre o abaixa-
mento da cartilagem epiglote, que fecha a entrada da laringe para impedir que corpos
estranhos sólidos ou líquidos penetrem nas vias aéreas. Durante essa etapa, ocorre
uma interrupção do processo respiratório por alguns segundos, e, após a passagem do
bolo em direção ao esôfago, as vias aéreas se reabrem.
19

A partir do esôfago, tem início a etapa ou fase esofágica (involuntária), com a


abertura do esfíncter esofágico superior e a propulsão do bolo dentro do esôfago por
ondas peristálticas involuntárias até o esfíncter esofágico inferior, que abrirá, permi-
tindo a entrada do bolo no estômago.

Azia é um sintoma de queimação no esôfago, que ocorre geralmente por refluxo do conteúdo
ácido do estômago, em função de falha no mecanismo de controle do esfíncter esofágico infe-
rior. Muitas vezes, a dor decorrente da azia é confundida com problema cardíaco.

As figuras a seguir mostram as etapas da deglutição.

Posição das estruturas antes da deglutição

Parte nasal da faringe


Palato duro
Palato mole Bolo
Úvula palatina
Língua
Parte oral da faringe
Epiglote
Parte laríngea da faringe
© Blamb // Shutterstock. (Adaptado).

Laringe

Esôfago

Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 484. (Adaptado).


20

Posição das estruturas durante a etapa faríngea da deglutição

Bolo

© Blamb // Shutterstock. (Adaptado).


Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 484. (Adaptado).

Etapa esofágica da deglutição


Esôfago
Túnica
muscular relaxada
Estrato circular
contrai-se
Bolo

Estrato longitudinal
contrai-se
Túnica muscular relaxada

Estômago
© FabriCO

Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 484. (Adaptado).

Com a chegada do bolo alimentar ao estômago, tem início a digestão, e as estru-


turas, substâncias e mecanismos envolvidos nesse processo serão elucidados a partir
de agora.
21

5.3 Digestão
Os principais processos da digestão no canal alimentar ocorrem a partir do estô-
mago e envolvem tanto as ações musculares dos processos mecânicos quanto a libe-
ração de várias substâncias digestivas dos processos químicos. Compreenderemos
melhor esse processo a partir de agora, estudando os aspectos relacionados ao estô-
mago, ao duodeno, ao pâncreas e à vesícula biliar.

5.3.1 Estômago
A porção do canal alimentar que liga o esôfago ao intestino delgado é o estô-
mago, que varia em tamanho e formato de uma pessoa para outra e também entre
as refeições, uma vez que tem a capacidade de se distender para acomodar maiores
volumes. Esse órgão está situado logo abaixo do músculo diafragma, no quadrante
superior esquerdo do abdome, e sua posição pode sofrer variações de acordo com os
movimentos diafragmáticos que o empurram para baixo durante a inspiração e para
cima na expiração.
As funções do estômago são:

• armazenar as substâncias alimentares até que sua digestão estomacal esteja


completa;
• executar uma quebra mecânica e a mistura das partículas alimentares com o
suco gástrico, formando uma massa ácida pastosa chamada de quimo;
• efetuar uma quebra parcial das moléculas de proteína e de triglicerídeos por
intermédio da ação do suco gástrico, composto por ácido clorídrico e pela
enzima pepsina.

O estômago é dividido em quatro regiões: cárdia, fundo gástrico, corpo gástrico


e região pilórica, ilustradas na imagem a seguir.
22

Anatomia do estômago
Esôfago Cárdia
Fundo
gástrico

Esfíncter
inferior do Corpo gástrico
esôfago Camada longitudinar
Camada circular
Curvatura
Camada oblíqua
menor

© Teguh Mujiono // Shutterstock. (Adaptado).


Piloro
Bulbo
duodenal Curvatura
maior
Duodeno

Pregas gástricas

A região situada logo abaixo do esfíncter inferior do esôfago é a cárdia, e a parte


terminal do estômago é a região pilórica, onde está situado o esfíncter piloro (concen-
tração de fibras musculares em círculo ao redor do óstio pilórico, para controlar o fluxo
de quimo em direção ao duodeno). As margens do estômago são denominadas de
curvatura maior e curvatura menor.
A mucosa estomacal possui pregas gástricas, que permitem a distensão do estô-
mago, e glândulas gástricas, que, conforme Van de Graaf (2003), possuem vários tipos
de células que secretam produtos específicos que serão lançados na cavidade estomacal:

A mucosa estomacal pode ser acometida por um processo inflamatório conhecido como gastrite,
causada por medicamentos, como anti-inflamatórios, drogas, estresse, infecção pela bactéria
Helicobacter pylori, maus hábitos alimentares e ingestão frequente de alimentos muito ácidos.

• células mucosas produzem muco gástrico, protetor da mucosa contra o pH


ácido do estômago;
• células parietais secretam ácido clorídrico;
• células principais secretam pepsinogênio, forma inativa da enzima pepsina;
• células G liberam o hormônio gastrina na circulação sanguínea.
23

Além dessas substâncias, a mucosa gástrica secreta o fator intrínseco, que é um


polipeptídeo necessário para absorção de vitamina B12 no intestino delgado, essencial
para maturação das células sanguíneas vermelhas na medula óssea.
A atividade gástrica é comandada pelo SNA, sendo que o sistema nervoso paras-
simpático, visando à reposição de energia, envia impulsos pelo nervo vago, intensifi-
cando a atividade gástrica. Em contrapartida, o sistema nervoso simpático diminui o
funcionamento estomacal.
Os dois tipos de digestão, mecânica e química, ocorrem no estômago sob o
controle do sistema nervoso autônomo e pela ativação do componente parassimpá-
tico. O início da quebra de proteínas acontece na etapa estomacal, por meio da enzima
pepsina, que quebra as ligações peptídicas entre os aminoácidos que constituem as
proteínas. Outro evento químico é uma quebra de em torno de 30%, dos triglicerídeos
pela enzima lipase lingual, secretada pelas glândulas salivares menores na boca, mas que
age apenas no estômago em função do pH muito ácido (pH 2).
Os processos de digestão mecânica do estômago incluem os movimentos de
mistura, ondas peristálticas suaves que misturam o bolo alimentar ao suco gástrico,
formando o quimo, e que impulsionam pequenas quantidades dele em direção ao
duodeno (primeira porção do intestino delgado). Esse movimento ocasiona o esva-
ziamento gástrico, que é controlado pelo esfíncter piloro, estrutura que permite a
passagem do quimo aos poucos para não sobrecarregar o duodeno. Esse esvaziamento
pode ser desacelerado pela liberação do hormônio colecistoquinina (que também inibe
a secreção gástrica) pelo intestino delgado, o que geralmente acontece após a ingestão
de grandes quantidades de gordura.

5.3.2 Duodeno
O duodeno é a porção inicial do intestino delgado, que é a porção do canal
alimentar após o estômago e o principal órgão da digestão e da absorção dos nutrientes.
Trata-se de uma estrutura curta, com algo em torno de 25 cm e formato de C, que
envolve a cabeça do pâncreas.
A importância digestiva do duodeno não se deve a sua anatomia, mas sim
aos ductos que recebe do fígado e do pâncreas: ducto colédoco e ducto pancreá-
tico, respectivamente. Eles se unem antes de desembocar no duodeno, formando a
ampola hepatopancreática, que se abre na papila maior do duodeno, controlada
pelo esfíncter de Oddi.
24

Localização dos ductos colédoco e pancreático


Ducto hepático
comum

Lobo esquerdo
do fígado
Ducto colédosa
Ducto pancreosa
Túnica mucosa (de Virsung)
do duodeno
Ampola
hepatopancreática

Ducto colédoco

Ducto pancreático

Vesícula biliar
Pâncreas

Músculo esfíncter da
ampola hepatopancreática

Ampola Duodeno
hepatopancreática
(ducto comum
ao duodeno)

© FabriCO
Vista anterior

Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 489. (Adaptado).

O ducto colédoco libera a bile, produzida no fígado e armazenada na vesícula


biliar, para a emulsificação de gorduras (quebra em partículas menores). O ducto
pancreático libera o suco pancreático, gerado pelo pâncreas e rico em enzimas diges-
tivas, que realizam quebras moleculares muito importantes.

5.3.3 Pâncreas
Considerado uma glândula mista, o pâncreas possui uma porção exócrina e uma
porção endócrina.
A porção exócrina, constituída pelos ácinos (pequenos grupos de células glandulares)
libera o suco pancreático, e suas principais enzimas são: a amilase pancreática, que quebra
amido em dissacarídeos; a lipase pancreática, que quebra gorduras em ácidos graxos; e
glicerol, tripsina, quimotripsina e carboxipeptidase, que completam a quebra das proteínas
25

em aminoácidos. O bicabornato de sódio, também presente no suco pancreático, confere


um pH ligeiramente alcalino (em torno de 7,1 a 8,2), que além de tamponar a acidez do
quimo, favorece a ação das enzimas digestivas do intestino delgado.
A porção endócrina, constituída pelas ilhotas pancreáticas, libera principalmente
os hormônios insulina e glucagon na corrente sanguínea, para contribuir no controle
da glicemia (taxa de glicose do sangue). Desse modo, evita a hiperglicemia (aumento da
taxa) liberando insulina e a hipoglicemia (diminuição da taxa) liberando glucagon.

5.3.4 Fígado e vesícula biliar


O fígado é o segundo maior órgão do corpo humano, no sentido maciço (volume), e
está situado abaixo do diafragma, com sua maior parte situada à direita, na região deno-
minada hipocôndrio direito, e uma porção menor localizada na região central e superior do
abdome, conhecida como epigástrica.
Pequenas unidades chamadas de hepatócitos se organizam até formar os lobos
do fígado, que realizam muitas funções, inclusive algumas que são vitais para o orga-
nismo. Entre elas, estão:
• síntese, armazenamento e liberação de vitaminas (A, B12, D, E e K);
• secreção de bile e sais biliares;
• síntese das maioria das proteínas plasmáticas (como albumina e fibrinogênio);
• fagocitose de bactérias e material estranho ou morto;
• fagocitose de eritrócitos e leucócitos envelhecidos;
• participação no metabolismo dos carboidratos (mantendo o nível normal de
glicose no sangue, armazenando ou liberando glicogênio);
• remoção de substâncias tóxicas;
• processamento de drogas e hormônios;
• excreção de bilirrubina;
• ativação da vitamina D;
• participação no metabolismo de lipídeos.

O fígado possui uma face voltada para cima e para o músculo diafragma (face
diafragmática) e outra voltada medialmente para as vísceras (face visceral). Na face
diafragmática, ficam os dois lobos do fígado, direito e esquerdo, separados pelo liga-
mento falciforme, que podem ser visualizados na imagem a seguir.
26

Face diafragmática do fígado


Diafragma

© Oleksii Natykach // Shutterstock. (Adaptado).


Lobo esquerdo
(face diafragmática)

Lobo direito
(face diafragmática)

Na face visceral, podem ser vistos quatro lobos: direito, esquerdo, quadrado
e caudado. Nessa parte, também fica uma porção central, o hilo hepático ou porta
do fígado, onde estão localizadas as estruturas que formam o pedículo hepático, um
conjunto de estruturas composto principalmente por artéria hepática, veia porta e
ducto colédoco. Nessa face, também pode ser vista a vesícula biliar e uma porção da
veia cava superior. O sangue que entra no fígado pela veia porta contém moléculas de
nutrientes que foram absorvidas no trato gastrointestinal, a artéria hepática conduz
sangue oxigenado, e o ducto colédoco leva a bile para o duodeno. Essas estruturas
estão ilustradas na imagem a seguir.

Face visceral do fígado


Lobo Veia cava
caudado inferior

Lobo
esquerdo
Lobo
© lotan / / Shutterstock. (Adaptado).

direito

Artéria
hepática própria Veia porta
Lobo do fígado
quadrado Vesícula
biliar
27

A vesícula biliar concentra e armazena a bile e possui capacidade entre 35 e 50


ml, uma vez que sua mucosa interna é pregueada, o que permite sua expansão. A
bile possui uma coloração amarelo-esverdeada e é constituída principalmente de
sais biliares, bilirrubina (produto resultante da destruição de células sanguíneas) e
colesterol.
A bile desemboca no duodeno pelo ducto colédoco, formado pela união do ducto
cístico (que vem da vesícula) e do ducto hepático comum (formado pelos ductos hepá-
ticos direito e esquerdo, que vêm do fígado), como mostra a figura a seguir.

Organização anatômica dos ductos


Ducto cístico Ductos
hepáticos

Ducto hepático
comum

Ducto colédoco
Visícula
biliar

Ducto pancreático

© Alexilusmedical // Shutterstock. (Adaptado).


Duodeno

Ducto pancreático
acessório

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 663. (Adaptado).

A próxima etapa no processo de digestão é a excreção das substâncias que não


foram absorvidas e aproveitas pelo organismo.

5.4 Excreção
O processo de digestão permite ao corpo aproveitar nutrientes que vêm dos
alimentos ingeridos, entretanto, libera também substâncias que não serão absorvidas.
Ao longo desta seção, compreenderemos os mecanismos de absorção e eliminação
dos produtos da digestão, tarefas que envolvem os intestinos delgado e grosso e um
mecanismo de movimentação desses órgãos.
28

5.4.1 Intestino delgado e mesentério


A porção do canal alimentar mais adaptada para os processos digestivos e
uma absorção de nutrientes significativa é o intestino delgado, composto de três
segmentos: o primeiro é o duodeno, já discutido anteriormente; o segundo é o jejuno
e o terceiro é o íleo.
O comprimento do órgão (em torno de 6 m, com variações entre 5 a 8 m), é
um fator que favorece uma grande absorção. Além disso, a área total de absorção é
bastante aumentada pela presença na mucosa intestinal de pregas circulares, vilo-
sidades e microvilosidades. Segundo Tortora e Grabowski (2006), essas microvilosi-
dades são tão pequenas que, ao serem observadas em microscopia ótica, não podem
ser vistas individualmente; o que pode ser visualizado é uma imagem do conjunto,
formando uma linha encrespada conhecida como borda de escova.

Anatomia do intestino delgado

Estômago

Duodeno

Colo
Ascendente Pregas
Flexura circulares
duodenojejunal
Jejuno

Mesentério

Vilos
Ceco intestinais Submucosa

Túnica
Apêndice muscular
Íleo
Musculatura Túnica
longitudinal serosa
© FabriCO

Musculatura
circular

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 653. (Adaptado).

O intestino delgado possui glândulas intestinais, que produzem o suco entérico,


um líquido de coloração amarelada e de pH ligeiramente alcalino constituído de água e
muco com o objetivo de favorecer a absorção dos nutrientes, e glândulas endócrinas,
que secretam os hormônios secretina e colecistoquinina, que, segundo Martini
(2009), coordenam as atividades secretoras do estômago, duodeno, fígado e pâncreas.
29

O intestino delgado fica localizado no abdome, cujo interior é revestido por uma
membrana denominada peritônio parietal, que emite pregas para os órgãos abdomi-
nais, constituindo o peritônio visceral. Uma dessas pregas é o mesentério, nome dado
a uma das pregas de parede dupla do peritônio que fixa o intestino delgado à parede
abdominal. Nas porções de jejuno e íleo, o mesentério apresenta a forma de um leque
pelo qual chegam vários vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos.

5.4.2 Absorção de nutrientes


As macromoléculas alimentares estarão em sua menor forma e prontas para
serem absorvidas depois de passarem por todos os processos químicos resultantes das
ações enzimáticas na boca, do suco gástrico no estômago, do suco pancreático e da
bile no duodeno e finalmente do suco entérico de jejuno e íleo.
Os processos de digestão química começam com a quebra dos carboidratos na
boca, onde a amilase salivar quebra polissacarídeos em dissacarídeos e trissacarídeos.
O intestino delgado completa essa quebra, por meio da ação da amilase pancreática,
presente no suco pancreático, e das enzimas intestinais (como a maltase, sacarase e
lactase), que transformam trissacarídeos e dissacarídeos em monossacarídeos.
A quebra das proteínas que se inicia no estômago pela ação do suco gástrico
(principalmente pela enzima pepsina) é completada pela ação de enzimas do suco
pancreático (tripsina, quimotripsina e carboxipeptisase) e por enzimas produzidas
pelas peptidases, que são células da mucosa das vilosidades intestinais e liberam como
produto final principalmente os aminoácidos.
Por fim, a maioria das moléculas de lipídios são quebradas no duodeno pela ação
conjunta do processo de emulsificação da bile e a ação principal da enzima lipase
pancreática, transformando-se em ácidos graxos e monoglicerídeos.

5.4.3 Intestino grosso


A porção final do canal alimentar é constituída pelo intestino grosso, formado por
quatro regiões: ceco, colos (que podem ser ascendente, transverso, descendente e
sigmoide), reto e canal anal, ilustradas na figura a seguir. Esse órgão absorve a porção
restante de água, que não foi absorvida no jejuno e íleo, e sais minerais.
30

Anatomia do intestino grosso


Flexura direta Flexura
do colo esquerda
Colo transverso do colo

Colo ascendente

Mesocolo

Tênia do colo Colo


Papila Ileal descendente
Íleo
Apêndice omental

Óstio do
apêndice
vermiforme

Ceco

Saculação
Apêndice do colo
vermiforme Colo sigmoide
Reto

Canal anal

© FabriCO
Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 657. (Adaptado).

As diferenças entre intestino delgado e intestino grosso começam pelo compri-


mento e diâmetro, sendo que o grosso é mais curto (com cerca de 1,5 m), mas tem
diâmetro maior (6,5 cm). Além disso, a mucosa do intestino grosso não apresenta vilo-
sidades, e suas glândulas secretam apenas muco, não liberando, portanto, enzimas.
O produto final de material não digerido ou não absorvido forma as fezes, geral-
mente constituídas de água, células mortas da mucosa, bactérias, partículas que inge-
rimos, mas que não são digeríveis, e material não absorvido.
Tanto o intestino grosso quanto o delgado realizam processos mecânicos
que contribuem para tornar as moléculas dos alimentos digeridos suficientemente
pequenas para a absorção. É o que veremos a seguir.
31

5.4.4 Movimentos intestinais


A digestão mecânica no intestino delgado é representada por dois tipos de
processos: os movimentos de segmentação e os movimentos peristálticos. A segmen-
tação agita o quimo para frente e para trás, favorecendo sua mistura com as substâncias
químicas digestivas e a absorção das moléculas que já estão prontas, por aumentar seu
contato com a mucosa. A peristalse, iniciada após a segmentação, impulsiona o material
restante não digerido ou não absorvido em direção à primeira parte do intestino grosso.
Ambos os intestinos apresentam movimentos peristálticos clássicos que impulsionam o
quilo (produto no intestino delgado equivalente ao quimo do estômago) e o bolo fecal
para a porção seguinte.
Além disso, a musculatura lisa do intestino grosso produz contrações que geram
ondas peristálticas lentas, mas fortes, denominadas ondas peristálticas em massa, que
são desencadeadas durante ou após uma refeição e impulsionam o bolo fecal até o
reto, causando uma distensão de suas paredes, disparando o reflexo de defecação.
Por fim, o estudo desse capítulo nos mostra a diversidade e a importância dos
processos digestivos realizados por vários órgãos para preparar os nutrientes que
devem ser absorvidos, com a finalidade de contribuir para prover as fontes energé-
ticas necessárias que mantêm o corpo funcionando adequadamente. É importante nos
lembrarmos de que estresse constante e hábitos alimentares incorretos, seja quanto
ao tipo de alimentos, ao tempo de mastigação ou ao intervalo excessivo e irregular
entre as refeições, podem prejudicar os processos digestivos e, consequentemente, a
digestão como um todo. Dessa forma, o corpo também sofrerá prejuízos, desenvol-
vendo patologias decorrentes do mal funcionamento do sistema digestório.
32

Referências
HERLIHY, B.; MAEBIUS, N. K. Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano Saudável e
Enfermo. Barueri: Manole, 2002.
MARTINI, F. H. Anatomia Humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia Orientada para a Clínica. 5. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2007.
NETTER, F. H. Atlas de Anatomia Humana. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
SOBOTTA, J.; PUTZ, R.; PABST, R. Atlas de Anatomia Humana. 22. ed. rev. e atual. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
TORTORA, G. J. Princípios de Anatomia Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.
______; GRABOWSKI, S. R. Corpo Humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 6. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia Humana. 6. ed. Barueri: Manole, 2003.
WOLF-HEIDEGGER, G.; KOPF-MAIER, P. Atlas de Anatomia Humana. 5. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
6 Controle das funções corporais: equilíbrio,
harmonia e bem-estar
Quando uma pessoa encontra alguém por quem está apaixonado, seu coração
bate mais forte, a face fica ruborizada e as mãos começam a suar: são os sistemas
nervoso e endócrino em ação. O sistema nervoso, por meio de impulsos elétricos e
mediadores químicos, provoca aumento dos batimentos cardíacos e dilatação de
vasos, e o sistema endócrino libera mensageiros químicos, os hormônios, que são
responsáveis pelo estímulo das glândulas endócrinas que provocam, por exemplo, o
aumento da secreção do suor e da glicose no sangue.
Todas as atividades corpóreas, como homeostasia, reprodução, crescimento e
desenvolvimento do corpo humano, são controladas por esses dois grandes sistemas.
A atuação de ambos ocorre simultaneamente e eles estão tão intimamente associados
que, em conjunto, formam o sistema neuroendócrino. Para fins didáticos, entretanto,
esses dois sistemas serão abordados separadamente, como veremos a seguir.

6.1 Organização funcional do sistema nervoso


O sistema nervoso é o centro controlador das ações coordenadas dos outros
sistemas e permite que o corpo humano interaja de maneira adequada com o
ambiente que o cerca, uma vez que seus componentes detectam estímulos ambien-
tais, processam e integram tais estímulos e produzem respostas motoras efetivas. Ao
mesmo tempo, permite que o corpo reaja internamente aos estímulos detectados.
A unidade funcional do sistema nervoso são os neurônios, células que conduzem
impulsos nervosos, especializadas em comunicação rápida e responsáveis pela função
sensitiva, memória, elaboração de informações e por controlar as atividades muscu-
lares e as secreções das glândulas. Um neurônio típico é constituído de corpo celular,
prolongamentos chamados dendritos e um axônio, representados na figura a seguir.
34

Neurônio
Corpo
celular

Nucléolo

Núcleo

Axônio

Dendritos

Nódulo de Ranvier Direção do impulso Ramo colateral

© Designua // Shutterstock. (Adaptado).


Telodendro

Bulbo sináptico
Núcleo da Neurilema
célula de Schwann
Mielina
Axônio

O corpo celular contém um núcleo único e mitocôndrias, assim, consegue sinte-


tizar as moléculas necessárias para seu funcionamento. Um conjunto de corpos celu-
lares de células nervosas no prolongamento de um nervo formam um gânglio. No
Sistema Nervoso Central (SNC), os corpos celulares formam a substância cinzenta.
Do corpo celular emergem os dendritos, que são prolongamentos que recebem o
impulso nervoso de um neurônio adjacente e o transmitem ao corpo celular.
O axônio é uma extensão citoplasmática do corpo celular que conduz os impulsos
nervosos para longe dele, em direção a outro neurônio, uma fibra muscular ou uma
célula glandular. Na porção final do axônio, existem terminações axonais que se
expandem em bulbos sinápticos. A união de vários axônios forma um trato, que
compõem a substância branca do SNC.

Classificação funcional dos neurônios


Neurônios sensitivos Recebem o estímulo na periferia, formam um potencial de ação e o
ou aferentes transmitem para o SNC.
Neurônios motores ou Transmitem o potencial de ação do SNC para a periferia, até os
eferentes efetores.
Interneurônios Posicionam-se entre neurônios sensitivos e motores. Processam
ou neurônios de as informações recebidas de neurônios sensitivos e provocam uma
associação resposta motora pela ativação dos neurônios motores.
35

Os axônios são revestidos por uma substância lipídica que os isolam, a bainha de
mielina, aumentando a velocidade de condução do impulso. O local onde dois neurô-
nios ou um neurônio e uma célula efetora se encontram é denominado sinapse. Em
uma sinapse, o terminal axonal de um neurônio contém vesículas repletas de neuro-
transmissores, moléculas que se ligam à membrana do dendrito de outro neurônio e
conduzem o impulso nervoso adiante. Observemos uma sinapse na figura a seguir.

Esquema de uma sinapse


Botão sináptico
(terminal axônico do
Direção
neurônio pré-sináptico) Fenda sináptica
do impulso
Vesícula Membrana do dentrito do
sináptica neurônio pós-sináptico

Moléculas
neurotransmissoras

© Designua // Shutterstock. (Adaptado).


Local do receptor

Ligação neurotransmissoras

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 152. (Adaptado).

A célula que envolve os neurônios se chama neuroglia, que funciona como


elemento estrutural do sistema nervoso: são células de sustentação que mantêm a
coesão do sistema nervoso e nutrem o tecido nervoso. As células da neuroglia que
dão suporte às atividades dos neurônios incluem as células de Schwann e células
satélite, no Sistema Nervoso Periférico (SNP), e astrócitos e oligodendroglia, no
sistema nervoso central.

A neuroglia recebeu esse nome porque, no passado, acreditava-se que os neurônios eram
unidos por uma espécie de cola (glue, em inglês).
36

6.1.1 Sistema nervoso central


O SNC é formado pelo encéfalo e a medula espinhal e é responsável por
processar as informações provenientes do SNP. Também é responsável pela memória e
emoções, aprendizado, raciocínio, posicionamento do corpo no espaço e sensibilidade.
A medula espinhal, representada na figura abaixo, se estende desde o encéfalo até
a segunda vértebra lombar. Dela emergem os nervos espinhais, que são as vias de comu-
nicação específicas entre a medula espinal e partes específicas do corpo. Em seu trajeto
apresenta duas áreas mais espessas denominadas intumescências cervical e lombossa-
cral. Da primeira surgem os nervos que suprem os membros superiores, e da segunda, os
nervos que suprem os membros inferiores, como mostra a imagem a seguir.

Vista posterior da medula espinal

Dura-máter

Intumescência cervical

C1
2
Nervos 3 Plexo cervical
4
cervicais 5
6
7
8
T1
2
3 Plexo braquial
4
5
6
Nervos 7
torácicos 8
Intumescência
9
10 lombossacral
11
12
Cone medular
L1
Nervos 2
3
lombares 4
5
Plexo
Nervos lombossacral
sacrais

Cauda equina
© FabriCO

Nervos
coccígeo Filamento terminal

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 161. (Adaptado).


37

Internamente, a medula espinhal pode ser dividida em substância cinzenta e


substância branca. A substância cinzenta contém os corpos celulares dos neurô-
nios, dendritos axônios, terminais axonais e neuroglia e é subdividida em duas regiões
chamadas de cornos. Os cornos posteriores, ou dorsais, contêm corpos celulares e
axônios de interneurônios, além de axônios de neurônios sensitivos. Os cornos ante-
riores, ou ventrais, contêm os corpos celulares de neurônios motores que transmitem
os impulsos para a contração de músculos esqueléticos, como mostra a figura a seguir.
O impulso proveniente de receptores localizados na pele chega ao SN pela raiz dorsal
do nervo, que é sensitiva. A resposta é enviada aos órgãos efetores pela raiz motora
(ventral). Além dos cornos dorsais e ventrais, a substância cinzenta possui cornos late-
rais com corpos celulares de neurônios motores autônomos que controlam as funções
dos músculos liso, do músculo cardíaco e das glândulas.

Comunicação no sistema nervoso


Corno dorsal
Raiz dorsal (interneurônios)
Gânglio da (sensorial)
raiz dorsal
Neurônio sensorial
somático

Neurônio sensorial SS
visceral SV

Neurônio motor MS
visceral
MS

Neurônio motor

© FabriCO
somático
Corno ventral
Nervo espinal Raiz ventral (motora)
(neurônios motores)

Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 429. (Adaptado).

A substância branca é formada por axônios de neurônios organizados em feixes


distintos, os tratos, que podem ser ascendentes ou sensitivos, transportando infor-
mações semelhantes em direção ao encéfalo, ou descendentes ou motores, que
conduzem as informações para baixo, a partir do encéfalo.
O encéfalo é a porção do sistema nervoso central que está contida pelo crânio
e possui 100 bilhões de neurônios. Pode ser dividido em quatro regiões principais:
tronco encefálico, diencéfalo, telencéfalo e cerebelo, que podem ser observadas nas
imagens a seguir.
38

Vista lateral do encéfalo


Hemisfério cerebral

Lobo parietal
Lobo temporal
Lobo frontal Lobo occiptal

© Alila Medical Media // Shutterstock. (Adaptado).


Ponte (metencéfalo)
Cerebelo
(metencéfalo)
Bulbo (miencéfalo)

Tronco encefálico

Fonte: DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2013, p. 836. (Adaptado).

Corte sagital mediano do encéfalo


Diencéfalo

Hipotálamo Tálamo

Telencéfalo

Glândula
pineal
© Alila Medical Media // Shutterstock. (Adaptado).

Cerebelo
Mesencéfalo (metencéfalo)

Ponte Bulbo
(metencéfalo) (mielencéfalo)

Tronco encefálico

Fonte: DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2013, p. 836. (Adaptado).


39

O tronco encefálico faz a conexão do encéfalo com a medula espinhal, e dele


emergem os 12 pares de nervos cranianos. Pode ser dividido em três regiões:
• bulbo (miencéfalo): é continuação intracraniana da medula espinal, a porção
mais inferior do tronco encefálico, onde estão localizados o centro cardiovas-
cular e o centro da respiração, responsáveis pela frequência cardíaca e pelo
ritmo respiratório, respectivamente;
• ponte (metencéfalo): é continuação superior do bulbo, responsável pelo con-
trole dos ciclos respiratórios;
• mesencéfalo: estende-se da ponte até a porção inferior do diencéfalo.

Diencéfalo e telencéfalo formam juntos o cérebro. O diencéfalo é a área do


cérebro que contém:
• tálamo: está relacionado com as emoções e tem como principais funções rece-
ber, interpretar e direcionar os impulsos que sobem da medula espinal direcio-
nando-os para áreas específicas;
• hipotálamo: controla atividades corporais importantes, especialmente aquelas
relacionadas à homeostasia, e é onde está localizada a hipófise, principal glân-
dula endócrina do corpo;
• glândula pineal: é responsável pela produção de melatonina.

O telencéfalo é a maior massa do encéfalo, formado pelos hemisférios cerebrais,


corpo estriado e substância branca cerebral. Em sua periferia, o córtex forma giros, sulcos
e fissuras, sendo que a maior fissura separa os dois hemisférios cerebrais. Cada hemis-
fério é dividido em lobos: frontal, parietal, temporal e occipital, como mostrado na vista
lateral do encéfalo. É importante destacar que no telencéfalo existem pequenas cavi-
dades conhecidas como ventrículos, cuja função é produzir o líquor cerebroespinal.
Finalmente, posterior ao tronco encefálico localiza-se o cerebelo, responsável
pelo equilíbrio do corpo, orientação espacial, coordenação de movimentos e funções
involuntárias.

Dançar exige sequências complexas de movimentos que são finamente controladas pelo cerebelo.
40

6.1.2 Sistema nervoso periférico


A parte periférica do sistema nervoso é formada por feixes de axônios, ou fibras
nervosas, e corpos celulares situados fora do SNC. Um feixe de axônios forma nervos,
que são elásticos e muito fortes. No SNP, os corpos celulares do neurônio se agrupam
em gânglios, que podem ser motores ou sensoriais.
O SNP é formado por todos os nervos cranianos, pelos nervos espinhais, pelos
gânglios e pelos receptores sensitivos. Ao todo, são 12 pares de nervos cranianos e
31 pares de nervos espinhais, que podem ser classificados em motores, sensitivos ou
mistos, de acordo com os neurônios que os compõem.
Os nervos cranianos saem da caixa craniana e são designados por números
romanos de I a XII, de acordo com a sequência craniocaudal na qual deixam o crânio.
Essa denominação pode ser vista no quadro a seguir.

Os 12 pares de nervos cranianos e seus componentes


Nervo Nome Componente
I Nervo olfatório Sensitivo
II Nervo óptico Sensitivo
III Nervo oculomotor Motor
IV Nervo troclear Motor
V Nervo trigêmeo Misto
VI Nervo abducente Motor
VII Nervo facial Misto
VIII Nervo vestibulococlear Sensitivo
IX Nervo glossofaríngeo Misto
X Nervo vago Misto
XI Nervo acessório Motor
XII Nervo hipoglosso Motor

Os nervos espinhais, representados na figura a seguir, saem da coluna verte-


bral e são identificados por uma letra C, T ou S e um número. Por exemplo: C3 indica
o terceiro par espinhal que sai de uma vértebra cervical. Os nervos espinhais, após
saírem da sua origem na medula espinal, formam plexos, verdadeiras redes axonais
de onde emergem nervos para as diferentes regiões do corpo. São exemplos: plexo
cervical, plexo braquial, plexo lombar e plexo sacral.
41

Nervos espinhais deixando a medula espinhal

Plexo cervical (C1-C5):


Nervo frênico

Plexo braquial (C5-T1):


Nervos cervicais
Nervo musculocutâneo
Nervo axilar
Nervo mediano
Nervo radial
Nervo ulnar

Nervos torácicos

Nervos
intercostais

Plexo lombar (L1-L4):


Nervo ilioinguinal

Nervos lombares

Nervo femoral
Nervo obturador

Plexo sacral (L4-S4): Sacro


Nervo glúteo superior Nervos sacrais
Nervo glúteo inferior

Nervos cocígeos

Nervo pudendo

Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2012, p. 248. (Adaptado).

O SNP pode ser dividido em três partes. O sistema nervoso somático (SNS) capta
informações provenientes de receptores localizados na pele e órgãos dos sentidos e as
repassa para o SNC, desempenhando papel sensitivo, quando recebe as informações,
e motor, quando envia respostas à pele, músculos e articulações. Como as respostas
podem ser conscientemente controladas, a ação do SNS é voluntária. O sistema
nervoso entérico é responsável pelo controle das vísceras do sistema digestório e
42

trabalha de forma involuntária. Por fim, o sistema nervoso autônomo transmite infor-
mações das vísceras para o SNC e traz respostas do SNC para as vísceras.

6.1.3 Envoltórios do tecido nervoso


Chamam-se meninges as camadas que funcionam como envoltório do tecido
nervoso. Existem três: a mais externa é a dura-máter, a média é a aracnoide e a mais
interna é a pia-máter, ilustradas na imagem a seguir. O líquido cerebroespinal circula
por entre essas meninges.

Revestimentos do SNC

Crânio
Dura-máter
Aracnoide-máter
Pia-máter

Córtex Espaço
cerebral subaracnóideo

© FabriCO

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 154. (Adaptado).

A bainha de mielina envolve os axônios, mas nem todos a possuem. Axônios com
bainha de mielina são chamados de axônios mielínicos enquanto aqueles sem a bainha
são denominados amielínicos.
Individualmente, cada axônio é envolvido por um tecido delicado, chamado de
endoneuro. Feixes de axônios são envolvidos pelo perineuro, e os conjuntos desses
feixes são envoltos pelo epineuro. Quando o nervo espinal entra no SNC, o epineuro se
funde com a dura-máter.

6.1.4 Barreira hematoencefálica e líquor


O SNC, especialmente o encéfalo, precisa ser constantemente nutrido com
glicose e oxigênio. Caso o suprimento sanguíneo destas substâncias seja interrompido
por períodos de tempo maiores do que cinco minutos, pode haver danos irreversíveis
aos neurônios. Da mesma forma, o sangue pode carregar patógenos ou substâncias
químicas tóxicas que, em hipótese alguma, podem chegar ao encéfalo.
43

Para proteger de maneira eficiente o encéfalo, existe a barreira hematoence-


fálica, que consiste em vasos sanguíneos firmemente selados que, ao mesmo tempo
em que permitem a passagem de oxigênio, dióxido de carbono e agentes anestésicos,
impedem a entrada de bactérias ou toxinas produzidas por elas.
Para proteção adicional contra danos físicos e químicos, os ventrículos do encé-
falo produzem o líquor cerebroespinal, líquido formado a partir do filtrado do sangue
e que é responsável pelo transporte de oxigênio, glicose e outras substâncias do
sangue para o SNC, além de remover resíduos metabólicos da atividade das células
nervosas. O líquor cerebroespinhal está localizado entre a pia-máter e a aracnoide.

Hidrocefalia é a condição patológica de acúmulo de líquor em um ou mais ventrículos.

6.2 Funções sensoriais, integrativas e motoras


A percepção de estímulos ambientais externos por parte do corpo humano é
realizada por receptores sensoriais localizados na pele e nos órgãos dos sentidos.
Sensações como pressão, alongamento, vibrações, alterações de temperatura
corpórea e aumento da frequência cardíaca ou respiratória são transformados em
sinais elétricos, que são conduzidos da periferia do corpo para o SNC, passando pela
medula espinhal e chegando ao encéfalo. No encéfalo, tais sinais são processados e
integrados. O passo seguinte é a resposta motora, que segue o caminho inverso: sai do
encéfalo e passa pela medula espinhal em direção à periferia.
44

Ações coordenadas do SNC e SNP

Encéfalo
SISTEMA
NERVOSO
CENTRAL Gânglios SISTEMA
(SNC) NERVOSO
Medula espinal
PERIFÉRICO
(SNP)
Nervos

Do SNC Para o SNC

Divisão Divisão
Eferente Aferente
(Motora) (Sensorial)

Somático Autônomo Visceral Somático


(visceral)

© FabriCO
Simpática Parassimpática
(gasta energia) (poupa energia)

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 148. (Adaptado).

O sistema responsável pela percepção, organização e integração de informações


é o córtex somatossensorial, e a resposta motora fica sob responsabilidade do córtex
somatomotor.

6.2.1 Estimulação sensorial


Com base na distribuição de seus receptores, o sistema somatossensorial recebe
três grandes categorias de informações:
• exterocepção: informações referentes ao contato da pele com o mundo exterior;
• propriocepção: informações a respeito da posição e movimentos do corpo;
• enterocepção: informações sobre o estado interno do corpo.
Os neurônios que levam essas informações ao SNC são denominados neurônios
aferentes, responsáveis por captar as informações dos órgãos dos sentidos e recep-
tores e os conduzirem até o córtex somatossensorial, localizado no lobo parietal.
Essa região é extremamente organizada com áreas específicas que recebem informa-
ções provenientes do tato, olfato, paladar, visão e audição.
45

6.2.2 Tronco encefálico e controle motor


Uma vez que o sistema somatossensorial tenha integrado as informações, fibras
nervosas motoras oriundas do córtex somatomotor, localizado no lobo frontal do
cérebro, permitem controlar a resposta voluntária dos músculos esqueléticos. Para
isso, as fibras descendentes que partem dessa área passam pelo tronco encefá-
lico e cruzam de um lado para o outro no bulbo. Esse cruzamento faz com que o lado
esquerdo do cérebro controle os músculos esqueléticos do lado direito do corpo e
vice-versa.
Por exemplo, quando estamos em pé, esperando o sinal verde para atravessar
uma rua, a percepção visual da mudança de cor no semáforo é rapidamente conduzida
ao córtex somatossensorial, que interpreta a informação. A resposta dada pelo córtex
somatomotor é imediata e sob controle voluntário: colocamos nossos músculos para
trabalhar e atravessamos a rua.

6.2.3 Reflexo e reação


Reflexo é a resposta automática produzida por um órgão efetor após um estí-
mulo localizado. Ao tocarmos com a mão uma superfície quente, por exemplo,
reagimos imediatamente, retirando a mão do local de forma involuntária.
A via percorrida pelo impulso nervoso durante uma ação reflexa é curta: um
receptor sensitivo é estimulado, e a informação é levada por um neurônio sensitivo até
o centro integrador na substância cinzenta da medula espinhal. Esse centro integrador
transmite a resposta a um neurônio motor, que o conduzirá até o órgão muscular
efetor, e esse músculo terá uma reação, sofrendo extensão, flexão, contração ou qual-
quer outro movimento.
Alguns reflexos são inatos, outros podem ser adquiridos com prática. Um lutador
de artes marciais, por exemplo, pode, com muito treino, adquirir reflexos para desviar
ou responder aos golpes do seu oponente.

6.2.4 Funções cognitivas e comportamento


Partes do telencéfalo e diencéfalo constituem um sistema responsável pelo
controle das emoções, da sensação de dor, prazer, raiva e estados emocionais, deno-
minado sistema límbico. Ele controla o instinto de sobrevivência dos seres humanos
e, por isso, também é conhecido como cérebro emocional. Quando estimulado, forma
conexões importantes entre as regiões corticais e o tronco encefálico, permitindo a
integração de estímulos relacionados à memória e às emoções.
46

Vejamos um exemplo: por que nos emocionamos quando ouvimos uma música,
sentimos o cheiro de um perfume ou olhamos uma fotografia de família? É nosso
sistema nervoso em ação, recebendo informações sensoriais que estimularão áreas no
sistema límbico que têm forte ação sobre a atividade neuronal. Memórias lá guardadas
são reavivadas, e nós nos animamos, nos motivamos, tomamos atitudes. Assim, é esse
o sistema que deve ser estimulado sob o ponto de vista motivacional.
O sistema límbico também está envolvido na retenção de informações e na trans-
ferência delas para áreas de armazenamento permanente, logo, deve ser constante-
mente estimulado para que o aprendizado seja consolidado. Patologias que causam
perda de memória, como a doença de Alzheimer, afetam o sistema límbico.

6.3 Sistema Nervoso Autônomo


O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é a parte do SNC que controla as funções
viscerais do organismo, sem participação da consciência. Seus nervos inervam
músculos lisos, o músculo cardíaco e glândulas, por isso, atua controlando a pressão
arterial, a frequência respiratória, a motilidade intestinal, a temperatura corporal e as
secreções glandulares. O controle principal do SNA está localizado na medula espi-
nhal, no tronco encefálico e no hipotálamo.

6.3.1 Divisões simpática e parassimpática


Os sinais eferentes do SNA provenientes do SNC devem atuar estimulando ou
inibindo um determinado órgão ou glândula, dessa forma, há uma divisão clássica
deste sistema em sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. O
primeiro atua estimulando órgãos efetores enquanto o segundo tem função oposta,
ou seja, inibe órgãos efetores.
Para desempenhar essa dupla função, o SNA deve possuir dois neurônios que
conectam o SNC aos órgãos efetores, entre os quais se interpõe um gânglio que
contém o corpo celular de um neurônio e o terminal axonal de outro neurônio. Na
imagem a seguir, podemos perceber que há um neurônio que estimula os órgãos
efetores e faz parte do sistema nervoso simpático, e outro neurônio que inibe os
órgãos efetores e pertence ao sistema nervoso parassimpático.
47

Conexões entre o SNC e os órgãos efetores

Sistema Sistema
nervoso nervoso Órgãos
central periférico efetores
Acetilcolina Músculo liso
Músculo
Fibra cardíaco
Fibra pré-
pós-ganglionar Glândulas
Sistema nervoso ganglionar Gânglio
simpático paravertebral ou colateral Norepinefrina

Acetilcolina Músculo liso


Músculo
cardíaco
Fibra
pré-ganglionar Gânglio Fibra Glândulas
Sistema nervoso

© FabriCO
terminal pós-ganglionar Acetilcolina
parassimpático

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 167. (Adaptado).

Estudaremos em mais detalhes as funções do sistema nervoso simpático e do


sistema nervoso parassimpático a seguir.

6.3.2 Função simpática


As funções do sistema nervoso simpático estão relacionadas ao estímulo
de órgãos efetores, preparando o corpo para situações de perigo, aumentando a
frequência cardíaca, com objetivo de bombear mais sangue para os músculos, e
respiratória.
As fibras nervosas simpáticas se originam na medula espinhal, na altura das
regiões torácica e lombar, e fazem sinapse no gânglio paravertebral ou colateral, muito
próximo ao SNC, onde liberam acetilcolina. Do gânglio, parte outra fibra nervosa, a fibra
pós-ganglionar, que se dirige aos órgãos efetores, onde liberam norepinefrina. Tanto a
acetilcolina quanto a norepinefrina têm como função principal estimular o órgão efetor.
Dessa forma, o coração bate mais forte, a frequência respiratória aumenta, os músculos
recebem mais glicose e oxigênio, e o corpo fica preparado para lutar ou fugir.

Fibras nervosas que liberam acetilcolina são denominadas fibras colinérgicas, e as que liberam
norepinefrina são chamadas de fibras adrenérgicas.
48

6.3.3 Função parassimpática


O sistema nervoso parassimpático tem ação pronunciada em momentos pós-
-estresse ou de descanso, contribuindo para que o corpo retome sua homeostasia.
Suas fibras se originam no tronco encefálico e na região sacral da medula espi-
nhal. Diferentemente da função simpática, os gânglios terminais parassimpáticos
se localizam próximos do órgão efetor, e não do SNC. Além disso, tanto fibras pré-
-ganglionares quanto pós-ganglionares secretam acetilcolina nas sinapses, cujo efeito
e tempo de duração são curtos.

6.3.4 Neurotransmissores da fisiologia autonômica


Neurotransmissores são mediadores químicos responsáveis pela trans-
missão dos sinais na sinapse. Eles são liberados nas sinapses entre dois neurônios ou
nas sinapses entre um neurônio e um órgão efetor e podem excitar ou inibir outro
neurônio. Inúmeras moléculas são reconhecidas com neurotransmissores: glutamato,
aspartato, ácido gama aminobutírico (GABA), endorfinas, dopamina, serotonina, nore-
pinefrina e acetilcolina são alguns exemplos.
As fibras nervosas simpáticas e parassimpáticas secretam dois tipos principais de
neurotransmissores: a acetilcolina e a norepinefrina. Os efeitos da acetilcolina são de
curta duração e localizados, uma vez que este neurotransmissor é rapidamente degra-
dado pela enzima acetilcolinesterase. O exemplo clássico é a contração de um músculo
estriado esquelético: o tempo de duração da contração é semelhante ao tempo de
liberação da acetilcolina. Já a norepinefrina tem ação mais longa, por isso os efeitos
persistem por mais tempo. A ação desse neurotransmissor estimula, por exemplo, o
aumento dos batimentos cardíacos, por isso nosso coração bate em uma frequência
maior por alguns minutos após um evento estressante.

6.4 Controle endócrino das funções corporais


O sistema endócrino, formado por glândulas endócrinas e pelos hormônios
por elas produzidos, influencia a atividade metabólica celular. Os hormônios, mensa-
geiros químicos secretados nos fluidos corporais, atuam sobre órgãos específicos e
controlam a maioria das reações fisiológicas e bioquímicas realizadas pelas células,
como crescimento, reprodução e controle da glicemia, do volume de sangue circu-
lante e da pressão arterial.
49

A liberação dos hormônios ocorre por estímulo da glândula endócrina que os


produzem. Um exemplo é a regulação da glicemia: quando uma pessoa se alimenta, a
elevação da taxa de glicose no sangue é rapidamente percebida pelo sistema nervoso
que, em resposta, estimula o pâncreas, que secreta insulina. A insulina instantanea-
mente atua sobre receptores na superfície de células-alvo, permitindo a abertura de
canais de passagem da glicose para o interior da célula. Quando a glicemia se norma-
liza, a insulina é destruída, e os canais de passagem de glicose se fecham.
Assim, a liberação de qualquer hormônio é regulada por sinais provenientes
do sistema nervoso, por alterações de componentes sanguíneos ou até mesmo por
outros hormônios.

6.4.1 Definição de glândulas endócrinas


Há dois tipos de glândulas em nosso corpo: glândulas exócrinas e glândulas
endócrinas. As exócrinas possuem ductos e lançam secreções não hormonais, como
saliva e suor, na superfície celular. As endócrinas produzem hormônios e os lançam
no líquido que circunda as células e, posteriormente, no sangue. As principais glân-
dulas endócrinas estão representadas na figura, e os hormônios secretados com suas
respectivas funções estão listados no quadro que a sucede.

Principais glândulas endócrinas do corpo humano


Glândula pineal

Glândulas
paratireóides
(na face posterior Glândula tireóide
da glândula tireóide)

Timo

Glândula
suprarrenal
© Designua // Shutterstock. (Adaptado).

Pâncreas

Ovário
(em mulheres)

Testículos
(em homens)

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 196. (Adaptado).


50

Principais glândulas do corpo humano, hormônios


que elas produzem e ação que desempenham
Glândula Hormônios Funções
Aumentam a taxa de metabolismo basal, elevando a tempera-
Tiroxina (T4) tura corporal.

Tri-Iodotironina (T3 ) Induzem a lipólise de triglicerídios.


Tireoide

Estimulam o crescimento ósseo e nervoso.

Diminui o nível de cálcio sérico.


Calcitonina Atua sobre osteoclastos, células que destroem osso,
inibindo-os.
É o principal regulador do nível de cálcio e fosfato séricos.
Paratireoides

Ativa osteoclastos, que destroem matriz óssea e liberam mine-


Hormônio rais no sangue.
Paratireideo (PTH) Atua sobre os rins, mediando a perda de cálcio do sangue para
a urina.
Promove a formação de calcitriol, forma ativa da vitamina D.
Diminui a glicemia, fazendo com que a glicose se mova para
dentro das células.
Insulina
Pâncreas

Promove captação de aminoácidos e ácidos graxos do sangue


para as células.

Aumenta a glicemia, fazendo com que a glicose retorne ao


Glucagon
sangue por intermédio da degradação do glicogênio hepático.

É um mineralocorticoide que atua na homeostase de Na+ e K+.


Aldosterona
Controla a pressão arterial e o volume sanguíneo.

É um glicocorticoide que desempenha papel importante no


catabolismo de proteínas, aumentando a taxa de aminoácidos
no sangue.
Estimula a produção de glicose a partir de aminoácidos ou
Suprarrenais

Cortisol ácido lático, processo chamado de gliconeogênese.


Estimula o catabolismo de lipídios no tecido adiposo.
Possui efeito anti-inflamatório e depressor da resposta
imunológica.

Nas mulheres, os andrógenos podem ser utilizados para formar


Andrógenos estrógenos.
Nos homens, dão as características masculinas.
51

Glândula Hormônios Funções


Epinefrina Aumenta a frequência cardíaca e a pressão sanguínea.
Suprarrenais

(adrenalina) Dilata vias aéreas e aumenta a glicemia.

Norepinefrina
Idem à epinefrina.
(noradrenalina)

Estrogênio e Produzidos pelos ovários, regulam o ciclo menstrual e dão as


testículos)
(ovários e
Gônadas

progesterona características sexuais femininas.


Produzida pelos testículos, estimula o desenvolvimento das
Testosterona
características sexuais masculinas.

Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2012, p. 336. (Adaptado).

Há uma importante glândula que não foi descrita nessa tabela: a hipófise, que,
devido a sua importância, será descrita separadamente, no tópico a seguir.

6.4.2 Hipófise: um dos principais órgãos endócrinos


A glândula hipófise fica localizada sob o hipotálamo, região do encéfalo, e o conjunto
formado pelo hipotálamo e a hipófise é o elo de conexão entre os sistemas nervoso e endó-
crino. Vários hormônios produzidos pelo hipotálamo são secretados pela hipófise.
Podemos imaginar a glândula hipófise com um pequeno grão de uva, alojado dentro
da sela turca, uma estrutura óssea que a abriga e protege. Ela é dividida em dois lobos:
o lobo anterior, ou adeno-hipófise, e o lobo posterior, ou neuro-hipófise, ilustrados nas
imagens a seguir.

Adeno-hipófise
Hipotálamo

Neurônios secretam
hormônios liberadores
Glândula Infundíbulo
hipófise anterior
(adeno-hipófise) Vasos sanguíneos no
hipotálamo - sistema
porta-hipofisário

Cédulas glandulares
secretam hormônios
da hipófise anterior
© FabriCO

Para a circulação

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 198. (Adaptado).


52

Neuro-hipófise

Hipotálamo

Infundíbulo

Hipófise posterior
(neuro-hipófise)
Neurônios secretam
hormônios diretamente
nos vasos sanguíneos
que os transporta
para o tecido-alvo

© FabriCO
Para a circulação

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 198. (Adaptado).

A neuro-hipófise, histologicamente, é semelhante ao encéfalo, mantém conexão


íntima com neurônios hipotalâmicos os quais produzem dois hormônios e é respon-
sável pela produção de dois hormônios: ocitocina e hormônio antidiurético (ADH). Já
a adeno-hipófise apresenta conexões vasculares importantes com o hipotálamo, e por
meio desses vasos, os hormônios produzidos pelo hipotálamo controlam a produção e
a liberação dos hormônios da adeno-hipófise.

Hormônios produzidos pela adeno-hipófise e da neuro-hipófise e suas principais funções


Adeno-hipófise Funções
Auxilia na manutenção da massa muscular e óssea.
Hormônio do crescimento Promove o reparo tecidual e cicatrização de lesões.
(GH) Promove a degradação de lipídios armazenados e também de
glicogênio hepático.
Hormônio tireo-estimulante
Estimula a produção e secreção de hormônios da tireoide.
(TSH)
Nas mulheres, atua sobre os ovários, iniciando o desenvolvimento
Hormônio folículo estimu- de folículos ovarianos, e induz a secreção de estrógeno.
lante (FSH)
Nos homens, estimula a produção de espermatozoides.
Nas mulheres, estimula a ovulação e a formação do corpo lúteo e
Hormônio luteinizante (LH) a secreção de progesterona e estrógeno.
Nos homens, estimula a secreção de testosterona.
Prolactina (PRL) Estimula a produção de leite pelas glândulas mamárias.
53

Adeno-hipófise Funções

Hormônio adrenocorticotró- Controla a produção de hormônios glicocorticoides pelo córtex


fico (ACTH) das glândulas adrenais.
Hormônio melanócito
Influencia a atividade do sistema nervoso central
estimulante (MSH)
Neuro-hipófise Funções
Promove a ejeção de leite pelas glândulas mamárias.
Ocitocina
Atua sobre o útero, intensificando a contração da musculatura lisa.
Hormônio antidiurético Atua diretamente sobre os rins, fazendo com que eles diminuam a
(ADH) produção de urina; como consequência, o corpo retém mais água.
Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2012, p. 336. (Adaptado).

Concluímos assim que a hipófise, apesar de diminuta, produz e secreta vários


hormônios, sendo então considerada uma glândula endócrina. Ela responde aos estí-
mulos dos hormônios hipotalâmicos, ou seja, é controlada pelo hipotálamo.

6.4.3 Hormônios
Hormônios são mensageiros químicos produzidos pelas glândulas endócrinas e
lançados diretamente no sangue, que se encarrega de distribuí-los pelo corpo. Dessa
forma, os hormônios atuam em células-alvo distantes de seu local de produção. Cada
hormônio produzido pelo corpo humano é único, com mecanismos específicos de ação.
Quimicamente, os hormônios podem ser derivados de peptídeos/proteínas ou de
lipídios. Hormônios derivados de peptídeos/proteínas possuem como unidade forma-
dora os aminoácidos e podem ser chamados de hormônios esteroidais ou hormônios
hidrossolúveis. A maioria dos hormônios, exceto os sexuais, encaixam-se nesse grupo.
Como são hormônios proteicos, sempre que forem utilizados para tratamentos, devem
ser injetados, uma vez que, se utilizados por via oral, serão destruídos no estômago.
Já os hormônios derivados de lipídios são formados por unidades de gordura.
Aqui é importante lembrar que as células de nosso corpo possuem uma membrana lipí-
dica e que, quando um hormônio lipídico chega a uma célula, ele passará facilmente
pela membrana, característica denominada lipossolubilidade. Portanto, hormônios lipí-
dicos são denominados lipossolúveis. São exemplos: os hormônios sexuais masculinos
(testosterona) e femininos (estrogênio).

6.4.4 Mecanismos de ação dos hormônios


Para um hormônio desempenhar corretamente sua ação, deve atingir células
alvo específicas, que possuem mecanismos para reconhecer hormônios: receptores na
superfície celular ou receptores no interior da célula. Isso quer dizer que a insulina, por
54

exemplo, liga-se a receptores específicos na superfície de células musculares, enquanto


o hormônio estimulante da tireoide (TSH) se conecta a receptores específicos nas
células da glândula tireoide. Esse mecanismo pode ser observado na figura a seguir.

Mecanismo de ação hormonal

Uma célula produtora Uma célula produtora


de hormônios proteicos de hormônios esteróides

Vasos saguíneos

Hormônio proteico
Hormônio esteróide
Células-alvo
Receptor
Receptor específico
específico

Segundo
mensageiro

Hormônio incompatível Hormônio combina com Hormônio combina


com receptor específico receptor específico na comreceptor específico

© FabriCO
Sem efeito superfície celular no interior da célula
Efeito Efeito

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 195. (Adaptado).

Caso o hormônio seja lipossolúvel, ele passará pela membrana lipídica e encon-
trará seu receptor no interior da célula. Uma vez ligado a seu receptor, o hormônio
“liga” ou “desliga” genes específicos, alterando a atividade da célula-alvo.
A outra possibilidade é que o hormônio seja hidrossolúvel. Esses hormônios se
ligam a seus receptores específicos na superfície externa da célula, atuando como
primeiros mensageiros. Segundos mensageiros são produzidos no interior da célula sob
estímulo do hormônio que se ligou na membrana externa. Normalmente, o segundo
mensageiro é a adenosina monofosfato cíclico (AMP cíclico), que ativa proteínas intra-
celulares, causando respostas específicas. Em ambos os casos, o mecanismo de ação
hormonal é longo, e seus efeitos se prolongam até que eles sejam removidos do sangue.
Finalizando, imaginemos que nosso corpo é uma grande orquestra: inúmeros
músicos e instrumentos que devem funcionar harmoniosamente. Para que isso acon-
teça, dois regentes importantes devem tomar conta dos músicos: o sistema nervoso
e o sistema endócrino. Ambos estão intimamente associados e garantem um espetá-
culo: o funcionamento do corpo humano.
55

Referências
APPLEGATE, E. J. Anatomia e Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DRAKE, R. L.; VOGL, A. W.; MITCHELL, A. W. M. Gray’s Anatomia Básica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2013.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo Humano: fundamentos de anatomia e fisio-
logia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
7 Proteção e defesas do corpo humano
O corpo humano está exposto ao ambiente que o cerca, dessa forma, é suscetível às
alterações desse ambiente e deve responder às agressões ambientais que possa sofrer.
Pele e mucosas, o sistema imunológico e o sistema linfático contribuem com
parcelas significativas para a manutenção da homeostasia corporal, isto é, o equilí-
brio interno, frente a essas agressões, controlando, por exemplo, a temperatura do
corpo ou em resposta a agentes infecciosos que conseguem passar pelas barreiras de
defesa, como bactérias, vírus ou fungos. A interação entre esses sistemas de defesa,
que estudaremos ao longo deste capítulo, garante um ambiente fisiológico ideal para
o funcionamento celular.

7.1 Pele e mucosas


A pele reveste a parte externa do corpo humano, por isso é considerada o maior
órgão no sentido de extensão, e é contínua com as membranas mucosas do sistema
digestório, respiratório e urinário. Como é externa, sofre continuamente com agressões,
mas é resistente, e seu poder de reparação é grande.
Nesta seção, estudaremos a estrutura da pele, suas camadas e funções,
compreenderemos o que são anexos cutâneos e, por fim, veremos as mucosas, respon-
sáveis pelo revestimento de cavidades em nosso organismo.

7.1.1 Estrutura da pele


A pele é formada pela epiderme e pela derme subjacente, ambas apoiadas em
uma terceira camada, a tela subcutânea ou hipoderme. Essa divisão pode ser visuali-
zada na imagem a seguir.

Camadas que formam a pele


Haste do pelo

Glândula
sebácea Epiderme

Derme

Glândula
sudorífera Hipoderme
© FabriCO

Tecido Musculo eretor Folículo piloso


adiposo do pelo

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 73. (Adaptado).


58

A epiderme é a camada mais externa, visível, com espessura que varia entre 0,07
e 1,4 mm, dependendo da região do corpo. É composta por um epitélio estratificado
pavimentoso queratinizado avascular que contém quatro tipos de células distintas:
queratinócitos, células de Langerhans, melanócitos e células de Merkel, espa-
lhadas entre os estratos espinhoso, granuloso, lúcido e córneo. Em sua camada mais
profunda, é separada da derme pela membrana basal.

Melanócitos são células que produzem melanina, responsável pela pigmentação da pele.
Sardas são pontos de hiperpigmentação devido ao aumento na produção de melanina.

A derme se localiza abaixo da epiderme, é vascularizada por capilares, possui


tecido conjuntivo frouxo com fibras de colágeno I, III e IV e fibras elásticas e contém
várias células, tais como macrófagos, plasmócitos e mastócitos. A interface entre
derme e epiderme é formada por projeções do tecido conjuntivo da derme, denomi-
nadas cristas ou papilas dérmicas, que avançam sobre a epiderme. Da mesma forma,
projeções da epiderme avançam sobre a derme, formando invaginações que mantém
derme e epiderme intimamente associadas.
Abaixo das duas camadas, aparece a hipoderme, formada por tecido conjuntivo
frouxo com certa quantidade de tecido adiposo. Em pessoas obesas, é nessa camada
que há acúmulo de gordura.

7.1.2 Funções da pele


Entre as funções atribuídas à pele, podem ser destacadas as seguintes:

proteção contra microrganismos, lesões e desidratação;

regulação da temperatura corporal;

percepção de sensações;

eliminação de metabólitos;
59

absorção de substâncias externas;

síntese de vitamina D;

barreira mecânica que pode iniciar as respostas imunológicas primárias.

Existe uma variedade de funções atribuídas à pele, por isso é extremamente


importante cuidar desse órgão. Protegê-la contra ressecamento, raios solares, subs-
tâncias químicas, entre outros, garantirá que ela preserve suas características mesmo
durante o envelhecimento.

7.1.3 Anexos cutâneos


Ao tocarmos diferentes pontos de nosso corpo, podemos perceber diferenças de
espessura e textura na pele. Nas mãos, ela é mais espessa; na face, em alguns locais,
existem pelos enquanto em outros há secreções oleosas, por exemplo. Essas dife-
renças são evidentes e não ocorrem por acaso: existem anexos cutâneos que garantem
características únicas à pele. São eles: as glândulas, os folículos pilosos e as unhas.

Mãos e dedos possuem sulcos e cristas bem definidos chamados dermatoglifos ou impressões
digitais, que são únicos em cada indivíduo e, por isso, podem ser utilizados para identificação.

As glândulas da pele podem ser classificadas em glândulas sudoríparas, glân-


dulas sebáceas e glândulas mamárias, e sua localização e principais caraterísticas
estão listadas no quadro a seguir.

Resumo das principais glândulas do corpo, suas características e localização


Glândulas Características Localização

Sudoríparas
Atuam principalmente na regu- São abundantes no corpo todo, e seus
• Écrinas lação da temperatura corporal por ductos se projetam da derme para a
meio da evaporação. epiderme.
São encontradas nas axilas, mamas e região
São estimuladas durante situações inguinal, suas porções secretoras se encon-
• Apócrinas
de estresse ou excitação sexual. tram na hipoderme, e seus ductos se abrem
nos folículos pilosos.
60

Glândulas Características Localização


Secretam substâncias oleosas que
São abundantes na face e no couro
previnem a evaporação e resseca-
Sebáceas cabelo, e suas porções secretoras ficam
mento da pele, deixando-a macia,
na derme.
e possui ação antibacteriana.
Funcionam como uma barreira Estão presentes no meato acústico
Ceruminosas
protetora para o conduto auditivo. externo.
Até a puberdade, desenvolvem-se da
mesma maneira em meninos e meninas.
Secretam leite, fluido com alto teor
Mamárias Após essa fase, alterações hormonais nas
de proteínas, lipídios e lactose.
meninas provocam alterações significa-
tivas na estrutura da glândula.
Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2012, p. 106. (Adaptado).

O folículo piloso é o órgão que origina os pelos, que garantem certa proteção
contra radiação solar, bactérias e outras substâncias. Um pelo é dividido em duas
partes distintas: a haste, visível na superfície da pele, e a raiz, que penetra na derme
e hipoderme. O músculo liso responsável por elevar o pelo é denominado músculo
eretor do pelo. Essa estrutura pode ser vista na imagem a seguir.

Estrutura de um pelo
Haste
do pelo

Músculo
eretor do pelo
Glândula
sebácea
Raiz do pelo

Bulbo piloso
do folículo Raiz do pelo
(cutícula, córtex, medula)
Bainha radícular
interna
Bainha radícular
externa
Membrana vítrea
Medula
Baínha de
tecido conjunto da raiz
Córtex
Matriz
Melanócito
Papila dêrmica
© FabriCO

Tecido
adiposo

Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 146. (Adaptado).


61

Os folículos pilosos são inervados, dessa forma, se a haste se mover, a raiz será
sensibilizada. Há uma região denominada bulbo, onde está a papila dérmica, que
contém vasos sanguíneos e é circundada por melanócitos, responsáveis pela produção
de melanina. A alteração de cor na haste do pelo, por exemplo, quando ele fica
grisalho, deve-se ao declínio na produção de melanina.
Os últimos anexos cutâneos são as unhas, situadas nos dedos e formadas por
placas de células altamente queratinizadas da epiderme.

7.1.4 Mucosas
As mucosas, também chamadas de membranas mucosas, revestem as cavidades
do corpo que se abrem para o exterior, tais como os órgãos do sistema digestório,
respiratório e urogenital. Com exceção do sistema urogenital, que é lavado pela urina,
as membranas mucosas possuem glândulas que secretam um fluido lubrificante e pega-
joso chamado muco que reveste, lubrifica, protege e umedece as cavidades corporais.
Por ser pegajoso, esse fluido retém bactérias e substâncias estranhas, funcionando
assim como mecanismo de defesa.

O muco reveste a superfície do estômago, protegendo-o contra a ação do suco gástrico. Caso
exista algum tipo de lesão na membrana mucosa, a exposição do estômago a seus próprios
ácidos pode causar úlceras.

Algumas mucosas ainda possuem cílios que atuam como filtros, cujo movimento
em ondas contínuas impede a propagação de bactérias, empurrando-as para fora do
corpo. Dessa forma, partículas aspiradas pelas vias aéreas são impedidas de chegar
aos pulmões, por exemplo.

7.2 Sistema imunológico


Imaginemos um castelo da Idade Média, que, em meio a guerras, disputas por
terras e invasão de territórios, precisaria de sentinelas para percorrer todo o trajeto
das muralhas, identificando, prendendo ou repelindo invasores e soldados e prote-
gendo assim os habitantes do castelo e dos arredores dele.
Como o castelo reagiria se fosse nosso corpo? As muralhas, sentinelas e soldados
correspondem ao sistema imunológico e sistema linfático. Assim, as barreiras
formadas pela pele e mucosas formam a primeira linha de defesa do corpo, a imunidade
inespecífica ou inata. Caso os patógenos passem por ela, como no caso de um corte
na pele, que causa febre e inflamação, o sistema imunológico responde de outra forma.
Nesse caso, a exposição ao agente agressor faz com que sejam produzidos anticorpos
62

que ajudarão na defesa, processo conhecido como imunidade específica, celular ou


adaptativa, que requer proteínas antimicrobianas e células especializadas em defesa.
Essa é a segunda linha de defesa e nos protege de uma variedade de agentes infecciosos.
O sistema imunológico é formado por glóbulos brancos ou leucócitos e suas células
derivadas, glândulas, vasos linfáticos e linfonodos, e possui um grau de especialização
que lhe permite reconhecer e destruir substâncias estranhas ao corpo, os antígenos.
Discutiremos inicialmente as características dos leucócitos e das células teciduais
derivadas desses leucócitos. Glândulas, vasos linfáticos e linfonodos serão abordados
posteriormente neste mesmo capítulo.

7.2.1 Antígenos
Nosso corpo está continuamente exposto a substâncias estranhas: bactérias, vírus,
fungos, agentes químicos, entre outros, chamados genericamente de antígenos. Por
definição, antígeno é toda substância que, ao penetrar em um organismo, desencadeia
uma resposta imunológica, ou seja, os antígenos são capazes de provocar a reação de
células de defesa e de anticorpos.
Para combater os antígenos, o sistema imunológico utiliza células de defesa, que
serão discutidas posteriormente, e anticorpos, que são proteínas denominadas globulinas
produzidas pelos linfócitos do sistema imunológico adaptativo, portanto, são também
conhecidas como imunoglobulinas. Estão presentes nos líquidos corporais (humores), tais
como sangue, linfa e saliva, e são classificadas em cinco tipos: IgG, IgA, IgM, IgD e IgE.
Quando encontram antígenos, ligam-se a eles, garantindo imunidade humoral.
Tanto as células de defesa quanto os anticorpos reconhecem estruturas especí-
ficas na superfície do antígeno. Essas estruturas são chamadas os determinantes anti-
gênicos. A figura a seguir mostra que os antígenos possuem vários determinantes
antigênicos em sua superfície, de modo que vários anticorpos podem se ligar a eles.

Antígeno e determinantes antigênicos


Sítio de
ligação do Determinantes
antígeno antigênicos
Anticorpo A

Antígeno
© FabriCO

Anticorpo B
Anticorpo C

Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 702. (Adaptado).


63

Todas as células de nosso corpo também possuem estruturas de superfície deno-


minadas proteínas do MHC (Major Histocompatibility Complex, Complexo Principal
de Histocompatibilidade em português), que são reconhecidas como antígenos e
provocam rejeição quando uma pessoa doa sangue ou órgãos para outra, por exemplo.

7.2.2 Células do sistema imunológico


As células do sistema imunológico e proteínas antimicrobianas fazem parte da imuni-
dade específica, celular ou adaptativa. As células envolvidas são os linfócitos B, linfócitos T
(produzidos na medula óssea vermelha) e células apresentadoras de antígenos.
Esse tipo de imunidade consiste em células de defesa de nosso corpo atacando
células estranhas e é particularmente efetivo contra micro-organismos que se alojam
dentro de células do corpo, células neoplásicas e em tecidos transplantados.
O mecanismo de ação dos linfócitos T funciona da seguinte forma:

Imunidade mediada por células


Antígenos

Macrófago
Macrófagos
ingerem antígenos

Macrófagos processa
antígenos e os
apresenta para célula T

Célula T
Célula T produz
clones

Célula T assassina Célula T auxiliar Célula T supressora Célula T de memória


© FabriCO

Destrói os Estimula Inibe Lembra do


antígenos células T e B Células T e B antígeno para
diretamente futuros encontros

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 275. (Adaptado).

• Antígenos invadem o corpo e são fagocitados por macrófagos e apresentados


às células T.
• Células T possuem receptores em sua superfície que reconhecem os antígenos,
e, nesse momento, são ativadas.
64

• Células T ativadas produzem outras células T: células T assassinas, que des-


troem diretamente os antígenos; células T auxiliares, que induzem a formação
de outras células T e também de células B; células T supressoras, que ameni-
zam a resposta imunológica pela inibição de linfócitos ativos; e células T de
memória, que se lembram do antígeno e desencadeiam uma resposta imune
rápida e eficaz se ele for encontrado novamente.
Já as células B são responsáveis pela imunidade humoral, e seu mecanismo de
ativação é semelhante ao das células T, como pode ser visto na imagem a seguir.

Imunidade humoral.
Antígenos

Macrófago

Macrófago ingere
e processa antígenos

Antígenos são apresentados


para células auxiliares T e B

Célula T auxiliar Célula B

Célula auxiliar T
estimula célula B

Célula B de memória
Células lembram o antígeno.
plasmáticas Subsequente exposição ao
produzem mesmo antígeno modifica
anticorpos as células B de memória
para células plasmáticas.

Anticorpos
© FabriCO

inativam
os antígenos

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 276. (Adaptado).

A sequência de ativação é a mesma: macrófagos fagocitam antígenos e os apre-


sentam para as células T auxiliares, que induzem a produção de células B. A diferença
é que os antígenos são apresentados simultaneamente para células B, que produzem
anticorpos específicos e os lançam nos líquidos corporais (humores). Dessa forma, as
células B não atacam diretamente os antígenos. Os anticorpos produzidos por elas é
que são responsáveis por isso.
65

A imunidade específica, além das células, depende da ação de proteínas, que


bloqueiam a capacidade de reprodução de microrganismos. Duas são as proteínas
antimicrobianas mais importantes: interferons (IFNs) e proteínas do complemento.
Os IFNs são produzidos por células do corpo que já foram infectadas por microrga-
nismos e auxiliam células saudáveis na defesa contra o agressor. Um de seus papeis
é ativar células de defesa e mobilizar as células chamadas de natural killer (NK). As
proteínas do complemento incluem inúmeras proteínas que circulam no sangue em
estado inativo, tais como as proteínas C1 até C9, proteínas regulatórias, fatores B, D e
P. Sua função é complementar as respostas de defesa do corpo.
As proteínas do complemento podem ser ativadas de duas maneiras diferentes:
pela via clássica ou pela via alternativa, mostradas na figura a seguir.

Ativação das proteínas do complemento


Via clássicca
Via alternativa
Complexo antígeno-
anticorpo Polissacarídeos da parede
+ celular de microorganismos
+
C1 C4 C2
Fator B, fator D
e fator P (properdina)
Complexo

C3

C3b C3a

C3b
Opsonização: Causa inflamação:
C5b C5a Estimula a liberação de
Superfície bacteriana C6 histamina, aumenta a
MAC

recoberta, aumentando C7 permeabilidade dos vasos


a fagocitose sanguíneos, a atração
C8
quimiotáxica
C9 dos fagócitos, etc.

Inserção do MAC e lise celular


(canais na membrana da célula-alvo)

Poro

Proteínas do
complemento
(C5b-C9)

Membrana
da célula-alvo
© FabriCO

Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 699. (Adaptado).


66

Na via clássica, antígenos invadem o corpo e são reconhecidos por anticorpos.


Forma-se, então, o complexo antígeno-anticorpo (Ag/Ac) sobre o qual se ligam sequen-
cialmente as proteínas do complemento C1, C4 e C2. Esse é o sinal para ativar a
proteína do complemento C3, que é clivada em C3a e C3b, responsáveis pela resposta
inflamatória e pela opsonização do antígeno, respectivamente. A opsonização funciona
como uma espécie de sinalização extracelular do antígeno: nesses sinais, os macrófagos
e neutrófilos podem se aderir e destruí-lo. C3b também desencadeia a ativação em
série das proteínas C5b, C6, C7, C8 e C9, chamadas de complexo de ataque à membrana
(MAC, do inglês Membrane Attack Complex), que promovem uma abertura em forma de
canal na membrana do antígeno, provocando a entrada de água nele.
A via alternativa é desencadeada quando as proteínas do sangue, chamadas de
fatores B, D e P, interagem diretamente com estruturas de superfície dos microrga-
nismos. A partir daí, essa via se desenrola da mesma forma que a via clássica.

7.2.3 Resposta imunológica


A resposta imunológica adaptativa depende da exposição do corpo aos antí-
genos e do reconhecimento deles, o que demora um certo tempo e poderia ser uma
desvantagem para o sistema imunológico, mas não o é. Isso porque, uma vez que os
antígenos são reconhecidos, a resposta imunológica adaptativa garante uma série
de vantagens. Ela é direcionada especificamente para o agente agressor, é sistêmica,
ou seja, cobre o corpo todo, e tem memória. Este último item é importante porque
quando o agressor é reconhecido, o sistema imunológico montará defesas mais fortes
contra uma nova agressão: os anticorpos.

7.2.4 Hipersensibilidades
O corpo humano, ao longo da vida, vai adquirindo imunidade à medida que é
exposto a agentes agressores. Dessa forma, quando uma criança contrai uma doença
ou é vacinada, por exemplo, seu sistema imunológico é estimulado e produz anti-
corpos e assim o indivíduo fica sensibilizado. Isso é bom porque garante imunidade
contra doenças durante anos, às vezes durante toda a vida.
Entretanto, nos casos de alergias ou hipersensibilidades, ocorre uma reação
desproporcional do sistema imunológico frente a um agressor que, de certa forma, é
inofensivo. Células de defesa, especificamente os basófilos, liberam a histamina, que
desencadeia uma série de respostas desagradáveis, e em alguns momentos, perigosas,
como mostra o quadro a seguir.
67

Principais eventos desencadeados pela histamina


durante uma hipersensibilidade
Local afetado Características
Pele e mucosas Coceira, manchas no corpo, conjuntivite, coriza, náuseas, vômitos e diarreia.
Sistema respiratório Chiado, tosse, dispneia e edema de laringe.
Sistema cardiovascular Taquicardia, hipotensão arterial, arritmia, desmaio e parada cardíaca.

Há uma evolução perigosa nas respostas causadas pela histamina: uma coceira
inicial pode culminar com uma parada cardíaca.
Substâncias causadoras de alergia são denominadas alérgenos. São exemplos:
proteínas obtidas na alimentação, pó e materiais sintéticos como a borracha.

7.3 Sistema linfático


O sistema linfático é responsável pela defesa especializada do corpo. Retomando
a analogia do castelo, esse sistema pode ser comparado a soldados especializados que
bloquearão minuciosamente o ataque dos invasores, fechando os portões. Possui três
funções básicas:

drenar o excesso de líquido intersticial para o sangue;

transportar as gorduras e vitaminas absorvidas no intestino delgado;

realizar a defesa contra microrganismos e reposta imunológica.

Esse sistema é formado pela linfa, vasos linfáticos, células e tecidos linfáticos e
linfonodos, que estudaremos ao longo desta seção.

7.3.1 Linfa
A linfa se assemelha ao plasma sanguíneo, que é filtrado nas paredes das arteríolas,
nas proximidades das vênulas. Esse filtrado é denominado líquido intersticial, fica depo-
sitado ao redor das células e nos espaços teciduais e deve ser devolvido para o sangue
venoso para não se acumular nos tecidos causando edema, hipotensão e hipovolemia.
A remoção do líquido intersticial do tecido é realizada pelos capilares linfáticos, e quando
68

esse líquido entra nos vasos linfáticos é denominado linfa. Esse trajeto pode ser visuali-
zado na figura a seguir.

Troca de líquidos entre arteríolas e vênulas

Arteríola

Espaços no tecido
Capilar
Células do tecido Vênula

Capilar linfático

Vaso

© FabriCO
linfático

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 268. (Adaptado).

A figura mostra que o líquido intersticial liberado no encontro entre arteríolas e


vênulas é direcionado para os capilares linfáticos. Uma vez dentro do capilar linfático,
o líquido passa a se chamar linfa e é transportado em direção ao coração.

7.3.2 Vasos linfáticos


Os vasos linfáticos se originam de capilares linfáticos, que são vasos localizados
nos espaços teciduais e entre células. Sua estrutura permite que o fluxo de líquido
intersticial ocorra somente para dentro, e não para fora dele.
Os vasos linfáticos formam vasos com calibres maiores, denominados troncos
linfáticos, que se fundem para formar o ducto linfático direito e o ducto linfá-
tico torácico. O primeiro drena a linfa do lado superior direito do corpo enquanto o
segundo recebe a linfa do lado esquerdo da cabeça, pescoço, tórax membro supe-
rior esquerdo e de todo o corpo abaixo das costelas. Finalmente, a linfa drenada por
esses ductos é direcionada para a veia subclávia esquerda, a veia jugular direita e a veia
subclávia direita, assim, toda a linfa drenada volta ao sangue venoso.
69

7.3.3 Células e tecidos linfáticos


O sistema linfático é extremamente organizado. As células e tecidos que fazem
parte dele estão distribuídos por todo o corpo e serão descritos a seguir.
Tonsilas são grupos de tecidos linfáticos localizados nas mucosas que revestem
o nariz, a boca e a faringe. Existem três grandes grupos: tonsilas faríngeas, tonsilas
palatinas e tonsilas linguais. Células de defesa localizadas nessas tonsilas desempe-
nham papel eficiente na defesa contra patógenos.
O timo é um órgão dividido em duas partes denominadas lobos, localizado atrás
do osso esterno e na frente da porção ascendente da aorta. Possui uma grande quan-
tidade de linfócitos T imaturos provenientes da medula óssea vermelha que, quando
maduros, são levados ao linfonodos.
O baço é o maior órgão linfático do corpo, formado por um tecido branco repleto
de macrófagos e linfócitos e por um tecido vermelho rico em plasmócitos e leucócitos,
além de macrófagos e linfócitos. Linfócitos e plasmócitos atuam na resposta imune,
enquanto os macrófagos destroem patógenos.

7.3.4 Linfonodos
Durante seu trajeto, os vasos linfáticos são interrompidos por pequenas estru-
turas chamadas linfonodos ou pequenos gânglios, que atuam como filtros eficientes,
prendendo partículas que estão circulando junto com a linfa, especialmente antígenos.
São formados por nódulos linfáticos repletos de macrófagos e linfócitos, com isso,
possuem alta capacidade para destruir bactérias e células danificadas.
Os linfonodos se distribuem por todo o corpo, mas estão mais densamente
concentrados em certos locais, tais como axilas, virilhas e glândulas mamárias. A figura
a seguir mostra os locais de maior concentração de linfonodos no corpo humano.
70

Principais grupos de linfonodos no corpo humano

Linfonodos Entrada do ducto


regionais: linfático direito
na veia subclávia
direita
Linfonodos
cervicais
Veia jugular
interna
Entrada do
ducto torácico
na veia sub-
Linfonodos clávia esquerda
axilares Ducto torácico
Aorta
Cisterna
do quilo
Vasos
Linfonodos linfáticos
inguinais coletores

© FabriCO
Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 679. (Adaptado).

Linfonodos são pequenos e podem ser percebidos com uma palpação minuciosa
da pele. Como atuam como filtros, quando há um processo infeccioso, inflamatório
ou neoplasia, patógenos ou células tumorais podem ficar retidas neles, causando um
aumento de volume. Nesses casos, eles ficarão duros, palpáveis e sensíveis, assim,
podem ser utilizados para monitorar doenças.

7.4 Resistência do corpo à infecção


O corpo humano é agredido de muitas formas: desde exposição ao sol, vento e
alterações de temperatura até inflamações e infecções provocadas por vírus, bactérias
ou outros patógenos, cuja entrada pode alterar significativamente a homeostasia do
corpo. A capacidade do organismo de repelir os agressores é denominada resistência,
que pode ser por meio da imunidade inespecífica ou da imunidade específica.
Os mecanismos de defesa inespecíficos são inatos e representam a defesa
inicial do corpo contra quaisquer substâncias que o agridam e podem ser divididos da
seguinte forma: primeira linha de defesa, composta por barreiras da superfície, tais
71

como pele e mucosas, e segunda linha de defesa, que inclui células especializadas em
fagocitose (fagócitos), células NK, proteínas antimicrobianas, febre e inflamação.
Já a imunidade específica ou adaptativa diz respeito a mecanismos de defesa com
ações coordenadas muito específicas e envolvem linfócitos B e linfócitos T.

Componentes das defesas inatas e adaptativas


Barreiras da superfície
Imunidade humoral
• Pele
• Células B
• Membranas mucosas

Defesas internas
Defesas Defesas
inatas • Fagócitos adaptativas
• Febre
• Células NK
• Proteínas Imunidade humoral

© FabriCO
antimicrobianas
• Células T
• Inflamação

Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 691.

Nesta seção, estudaremos os mecanismos que agem nessas linhas de defesa: os


leucócitos, os macrófagos e os processos de inflamação.

7.4.1 Leucócitos
O sangue é um tecido conjuntivo formado por uma parte líquida, o plasma, e por
elementos figurados: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Os glóbulos
brancos, também chamados de leucócitos, são formados na medula óssea ou no tecido
linfático e possuem núcleos e outras organelas, mas não são capazes de transportar
oxigênio. Eles são transportados pelo sangue para locais nos quais precisam atuar, geral-
mente locais de infecção e de inflamação, promovendo defesa rápida contra antígenos.
Os leucócitos são produzidos e ficam armazenados na medula óssea até que,
por algum motivo, precisem ser recrutados para atuar em processos inflamatórios
ou infecciosos. Suas principais funções são fagocitar invasores, produzir anticorpos e
limpar os resíduos celulares do combate entre células de defesa e invasores.
Alguns leucócitos possuem grânulos com mediadores químicos em seu interior:
os granulócitos, divididos em neutrófilos, eosinófilos e basófilos, que serão discutidos
posteriormente neste capítulo. Outros não possuem grânulos, sendo portanto conhe-
cidos como agranulócitos. São eles: monócitos e linfócitos (B, T e NK).
72

Leucócitos agranulócitos
Tipos de
Função Características
Leucócitos
São mediadores da resposta imunoló-
Linfócitos gica, incluindo as reações Ag/Ac.
Células T atacam vírus, células cance- São as células T, células B e as natural
rosas, entre outras. killer (NK).
© FabriCO

Células B se transformam em plasmó- Seu núcleo esférico ocupa quase todo


citos, que produzem anticorpos. o citoplasma.
As células NK atacam uma ampla
variedade de antígenos.

Monócitos
Têm núcleo grande em forma de
Realizam a fagocitose e destruição de ferradura.
© FabriCO

patógenos.
Originam os macrófagos.

Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2012, p. 361. (Adaptado).

Os linfócitos T e linfócitos B fazem parte da imunidade específica ou adaptativa,


ou seja, respondem especificamente ao antígeno que está agredindo o corpo. Mas há
uma diferença entre linfócitos T e B: os linfócitos T são produzidos na medula óssea
vermelha, mas amadurecem no timo e posteriormente são transportados para os órgãos
linfoides, especialmente onde trabalham efetivamente. Os linfócitos B amadurecem na
medula óssea, local onde são produzidos, e são transportados para os órgãos linfoides.

7.4.2 Granulócitos
Como já mencionamos, leucócitos que possuem grânulos no seu interior são
denominados granulócitos. Neutrófilos, eosinófilos e basófilos são exemplos. Todos
possuem aparência granular e são polimorfonucleados. Células polimorfonucleadas
possuem núcleos com vários lóbulos, e seu citoplasma é rico em grânulos, por isso, são
também chamadas de granulócitos. 
73

Leucócitos granulócitos
Tipos de Leucócitos Função Características
Neutrófilos
Têm núcleo com lobos conectados por
Executam a fagocitose e
pontes de cromatina e possuem grânulos no
© FabriCO

destruição de bactérias.
citoplasma com enzimas poderosas

Eosinófilos Atuam fundamentalmente Possuem dois núcleos grandes conec-


nas reações alérgicas, tados por uma ponte de cromatina.
combatendo os efeitos
© FabriCO

da histamina. Fagocitam Seus grânulos são diminutos, mas em


complexos Ag/Ac. grande quantidade.

Basófilos
Têm dois grandes núcleos.
Atuam nas reações alérgicas Contém grânulos com grande quantidade
© FabriCO

e inflamatórias. de histamina, serotonina e histamina em


seu interior.

Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2012, p. 361. (Adaptado).

7.4.3 Sistema monocítico macrofágico


Os monócitos são produzidos na medula óssea vermelha, são lançados no sangue
e funcionam como sentinelas que patrulham o corpo em busca de agentes agressores.
Sempre que houver um patógeno infectando um tecido, os monócitos são direcio-
nados para esse local. Nas proximidades do local infectado, deixam os vasos sanguí-
neos e entram nos tecidos. Nesse momento, diferenciam-se em macrófagos, células
fagocíticas que possuem uma capacidade de defesa excepcional: destroem pató-
genos e são importantes na ativação de linfócitos que iniciam a resposta imunológica.
Observemos a figura a seguir:
74

Migração de monócitos

Células endoteliais

Lúmen vascular
Monócito

Lâmina Basal
Pericito NG2
Macrófago

© FabriCO
Fonte: GERHARDT; LEY, 2015, p. 326. (Adaptado).

A figura mostra que os monócitos presentes no interior do vaso sanguíneo se


aderem à parede do vaso e passam por entre as células endoteliais, processo conhe-
cido como diapedese. Uma vez do lado de fora do vaso, ou seja, no tecido, as células
passam a se chamar macrófagos.

7.4.4 Inflamação
Inflamação é uma resposta de um tecido vivo vascularizado frente a um agente
agressor. Caracteriza-se por cinco sinais: edema, tumor, rubor, calor e perda da função
e ainda pode ser acompanhada por uma resposta sistêmica generalizada, a febre.
Febre é a elevação da temperatura corporal em decorrência da invasão do corpo
por parte de microrganismos e é desencadeada pelo próprio agente agressor ou por
agentes liberados por leucócitos e macrófagos durante o processo de defesa do corpo.
É importante salientar que a febre, se não for muito elevada, é uma defesa adaptativa
que beneficia o corpo.
75

Resposta inflamatória

Entrada de bactéria
ou partícula estranha 1

Tecido lesionado 2

libera 3
mediadores químicos
(complemento,
4a histamina etc.)
Neutrófilos e
Aumento da
macrófagos
permeabilidade capilar
atraídos para
4b (inchaço dor) 4c
a área (quimiotaxia)
Vasodilatação aumenta
o fluxo sanguínio
(vermelhidão e calor)

lesão continuada do tecido


Inflamação crônica com
Aumento do número
de fagócitos na área 5 9

6 Agentes
agressivos fagocitados

7 Não restam bactérias Algumas


bactérias
permanecem
© FabriCO

8 Reparo do tecido

Fonte: APPLEGATE, 2012, p. 272.

Todo processo inflamatório começa com uma agressão, que pode ser química, física
1 ou biológica. No exemplo da imagem, bactérias invadem a derme após uma perfuração
com um objeto.

2 Tecidos são lesionados.


76

Há liberação de mediadores da inflamação no local da lesão, entre eles, as proteínas


3 do complemento e histamina.

Os mediadores da inflamação têm papéis específicos: atraem células de defesa para o


local agredido (4a); provocam a vasodilatação de vasos sanguíneos próximos da lesão
4 (4b); aumentam a permeabilidade dos vasos sanguíneos; (4c) provocam o extravasa-
mento de proteínas do plasma e água em direção ao local da lesão, causando o inchaço.

Além disso, os mediadores da inflamação sinalizam para que mais células de defesa, os
5 fagócitos, migrem para a área lesionada.

6 Haverá destruição de bactérias com formação de secreções purulentas.

7 A área lesionada é descontaminada.

8 Os tecidos são reparados.

Caso as etapas 3, 4, 5, e 6 continuem indefinidamente, sem remoção do agente


agressor, haverá uma inflamação persistente, denominada de inflamação crônica, indi-
cada na imagem pelo número 9.
O processo descrito enfatiza uma região específica do corpo, isto é, a inflamação
está localizada, como quando cortamos um dedo. Caso as bactérias sejam extrema-
mente patogênicas e se espalhem pelo corpo, inicia-se uma inflamação sistêmica, e a
resposta do corpo será um pouco diferente:
• maiores quantidades de leucócitos serão produzidos;
• mediadores da inflamação atuarão no hipotálamo, provocando aumento da
temperatura corporal (febre);
• haverá vasodilatação generalizada com perda de água do sangue e queda
acentuada da pressão sanguínea.
Essa situação é grave e requer cuidados médicos imediatos.
77

Pele, mucosas, o sistema imunológico e o sistema linfático participam decisiva-


mente da defesa do organismo. Em conjunto, formam linhas de defesa intimamente
associadas e que trabalham simultaneamente para responder às agressões, cada uma
delas contribuindo com uma parcela na proteção do corpo humano.
Nosso organismo dispõe de mecanismos eficientes para enfrentar e repelir
agentes agressores de todos os tipos, mas não podemos esquecer que suas defesas
são fortemente influenciadas pelos dois principais sistemas controladores do corpo: o
sistema endócrino e o sistema nervoso. Dessa forma, sentimentos desagradáveis, tais
como tristeza, raiva e irritação podem contribuir para diminuir significativamente suas
possibilidades de defesa.
78

Referências
APPLEGATE, E. J. Anatomia e Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
DRAKE, R. L.; VOGL, A. W.; MITCHELL, A. W. M. Gray’s Anatomia Básica. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.  
GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em Cores. 3. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.
GERHARDT, T.; LEY, K. Monocyte trafficking across the vessel wall. Cardiovascular
Research, Oxford, v. 107, n. 3, ago. 2015. Disponível em: <cardiovascres.oxfordjournals.
org/content/cardiovascres/107/3/321.full.pdf>. Acesso em: 28/12/2015.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
HERLIHY, B.; MAEBIUS, N. K. Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano Saudável e
Enfermo. 1. ed. Barueri: Manole, 2002.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo Humano: fundamentos de Anatomia e
Fisiologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
8 Aparelho genitourinário
Estudaremos neste capítulo três sistemas que formam o aparelho genitourinário.
O primeiro deles é o sistema urinário, que desempenha funções vitais para nossa
sobrevivência e cujas pequenas falhas podem ter consequências graves em nosso equi-
líbrio interno, levando inclusive ao óbito em situações mais extremas. Os outros dois
sistemas são o genital masculino e genital feminino, também chamados de sistemas
reprodutores, que possuem funções muito especializadas para garantir a reprodução de
nossa espécie.
Iniciaremos nossos estudos pelo sistema urinário, que é formado por dois rins,
dois ureteres, a bexiga urinária e a uretra, como mostra a figura a seguir.

Órgãos do sistema urinário e detalhe do rim


Artéria
renal
Veia
renal Cápsula
renal
Medula

© Andrea Danti; © Lightspring / / Shutterstock. (Adaptado).


renal
Rim Córtex
renal

Ureter Hilo
renal
Coluna
renal

Bexiga
urinária Pirâmide
renal
Pelve Cálice
Uretra renal renal

Esses órgãos exercem uma função excretora, vital para manter a homeostase,
uma vez que produtos das reações celulares podem ser tóxicos ou alterar vários fatores
do equilíbrio interno. Ententedemos como ocorre esse processo e os órgãos envolvidos
a seguir.

8.1 Órgãos excretores


Vários sistemas do corpo humano exercem uma função excretora: sistemas diges-
tório, respiratório, tegmentar e urinário. Este último, foco de nossos estudos, contribui
com a manutenção do equilíbrio hídrico, mantendo o volume sanguíneo dentro dos
parâmetros de normalidade ao agregar água ou eliminar seus excessos, que poderiam
aumentar a pressão arterial.
80

O sistema urinário ainda mantém o equilíbrio eletrolítico, ajustando os níveis


de vários íons, como sódio, potássio, cálcio, cloreto e fosfato. Além disso, regula o
pH do sangue por meio do controle da concentração de íons hidrogênio (H+), elimi-
nando os excessos na urina e contribuindo para manutenção do equilíbrio ácido-básico
dos fluidos corporais (que depende das concentrações de H+), mantendo os níveis
adequados de íons bicarbonato, que servem como tampão do H+ para conservar o
nível fisiológico adequado desses íons.

De acordo com Tortora e Grabowsi (2006), o pH do sangue de uma pessoa saudável em está
em torno de 7,35 e 7,45 de acordo com seus níveis de H+. Tampão é uma substância que age
rapidamente, realizando uma ligação temporária com H+ para retirar o excesso desse íon dos
fluidos corporais.

Por fim, por meio da filtração do sangue realizada pelos rins, são eliminados do
corpo componentes de drogas ingeridas, derivados tóxicos, como a amônia, creatinina,
ácido úrico e ureia, e ainda outros resíduos tóxicos resultantes de atividade bacteriana.
Nesta seção, compreenderemos a anatomia dos órgãos excretores do sistema
urinário, iniciando pelos rins.

8.1.1 Rins
Os rins são dois órgãos considerados retroperitoniais, por estarem posicionados
atrás do peritônio parietal, na parte posterior da cavidade abdominal, na altura das
vértebras lombares, mais precisamente entre a segunda e a terceira vértebras. São
frequentemente comparados a um grão de feijão de cor marrom avermelhada, e como
o rim direito fica abaixo do fígado, órgão que ocupa uma parte significativa da região,
fica um pouco abaixo do rim esquerdo.

Nefrolitíase é uma condição patológica que pode provocar dores intensas. Nela, formam-se cálcu-
los ou pedras no rim a partir de depóstitos de cálcio, sais de magnésio ou cristais de ácido úrico.
Vários tratamentos são recomendados de acordo com o tamanho e a quantidade dos cálculos.

Segundo Van de Graaff (2003), os rins estão envoltos em três camadas teciduais,
que formam uma bolsa fibroadiposa disposta da seguinte forma:
• a cápsula renal, mais interna, de constituição fibrosa e diretamente aderida à
superfície renal, protege de traumatismos e disseminação bacteriana;
81

• a cápsula adiposa envolve a cápsula renal, acolchoando e fornecendo susten-


tação aos rins;
• a fáscia renal, na parte mais externa, fixa os rins ao peritônio e à parede
abdominal.
Cada rim possui um polo superior, onde está situada a glândula suprarrenal; um
polo inferior; uma borda lateral e uma borda medial, onde está situado o hilo renal,
que é a porta do rim, por onde várias estruturas entram ou saem deles. Essas estru-
turas em conjunto formam o pedículo renal, composto pela artéria renal, que conduz
o sangue para ser filtrado nos rins; a veia renal, que conduz o sangue já filtrado de
volta à circulação; o ureter, vasos linfáticos e nervos. Esses detalhes podem ser vistos
na imagem a seguir.

Anatomia externa do rim (face anterior do rim direito)


Polo superior
Cápsula renal
(seccionada
e tracionada)

Borda
medial
Artéria
renal

Borda
lateral Hilo
renal

Veia
renal

Pelve
Veias estelares renal
visíveis através
da cápsula fibrosa Ureter
© FabriCO

Glândula suprarrenal
e rim lobado de criança
Polo inferior

Fonte: NETTER, 2008, p. 334. (Adaptado).

Quando se observa um rim interiormente, duas regiões podem ser vistas: o


córtex renal, situado na periferia do órgão e que contém os néfrons, que são as
menores estruturas do rim que participam da filtração do sangue; e a medula renal
numa posição mais interna e medial e formada pelas pirâmides renais. Essas pirâ-
mides conduzem a urina produzida pela filtração do sangue para os cálices renais
menores, que se unem e formam os cálices maiores, originam a pelve renal, que, por
fim, conduz a urina para os ureteres.
82

Anatomia interna do rim


Cápsula renal

Córtex renal
Plano Néfron
frontal Via de drenagem
através
do rim
direito Ductor papilar
Medula renal pirâmide

Artéria renal Cálice renal


Coluna renal
menor
Pirâmide renal Cálice renal
na medula renal maior
Veia renal
Papila renal
Pelve renal
da pirâmide renal

Seio renal
(toda a área rosa-claro)

Ureter

© FabriCO
Bexiga urinária

Corte frontal do rim direito

Fonte: TORTORA, 2007, p. 863. (Adaptado).

Veremos na sequência como os ureteres são constituídos e que fatores influen-


ciam na maneira como eles exercem sua função ao conduzir a urina formada pela
filtração sanguínea nos rins.

8.1.2 Ureteres
Os ureteres são dois órgãos cilíndricos com aproximadamente 1 cm de diâmetro
e 25 cm de comprimento e começam a partir da pelve renal em direção descendente,
atravessando a cavidade abdominal e terminando na região pélvica ao desembocar na
bexiga nos óstios ureterais.
Cada ureter é constituído de uma musculatura lisa que realiza contrações peristál-
ticas para conduzir a urina até a bexiga, embora a força da gravidade também influencie
no transporte da urina. Essas contrações são fortes o suficiente para manter o fluxo de
urina mesmo, por exemplo, em pessoas acamadas por muito tempo, que ficam numa
posição horizontal na qual a força da gravidade não consegue auxiliar no processo.
Interiormente, os ureteres possuem células produtoras de muco para proteção
contra substâncias presentes na urina e variações de pH.

8.1.3 Vesícula urinária


A bexiga ou vesícula urinária é uma víscera oca constituída de músculo liso, deno-
minado músculo detrusor de bexiga, e revestida internamente por uma mucosa que forma
pregas, que permitem uma distensão para acumular volumes entre 500 mL até 2 L.
83

Nas mulheres, a bexiga está situada posteriormente à sínfise púbica, inferior-


mente ao útero e anteriormente ao canal vaginal, o que diminui sua capacidade de
armazenamento em comparação à bexiga masculina, que está localizada apenas entre
a sínfise púbica e o reto. As imagens a seguir mostram os componentes dos sistemas
urinário e genital feminino e masculino.

Sistemas urinário e genital masculino


Bexiga urinária

Ducto deferente

Sacro Próstata

Escavação Glândula bulbouretal


retovesical (de Cowper)
Sínfise púbica
Vesícula
seminal Ligamento suspensor
do pênis
Diafragma urogenital
Cóccix
Corpo cavernoso
Reto
do pênis
Ampola do ducto deferente Parte esponjosa
da uretra
Ductor
ejaculatório Pênis

Parte Corpo esponjo


prostática do pênis
da uretra Coroa do
pênis
Ânus Glande do
pênis
Parte Bulbo do pênis
membranácea

© FabriCO
Epidímio Prepúcio
da uretra Testículo Escroto Óstio externo
Plano sagital
da uretra

Fonte: TORTORA, 2007, p. 888. (Adaptado).

Sistemas urinário e genital feminino

Plano sagital

Tuba uterina (de Falópio)


Fímbrias
Sacro
Ovário
Ligamento uterossacral Útero
Fórnice posterior da vagina Ligamento redondo
do útero
Escavação retouterina
(fundo de saco de Douglas) Colo do útero
Escavação vesicouterina
Bexiga urinária
Cóccix
Síntese púbica
Reto Monte do púbis

Vagina Clitóris

Uretra
Ânus Lábio maior
© FabriCO

Óstio externo
da uretra
Lábio menor

Fonte: TORTORA, 2007, p. 902. (Adaptado).


84

O formato da bexiga depende do volume de urina que contém, sendo que apre-
senta uma forma piramidal quando está quase vazia e esférica conforme distende até
um formato ovóide quando está muito cheia, chegando até a cavidade abdominal.

8.1.4 Uretra masculina e uretra feminina


A porção final do sistema urinário é um canal, chamado de uretra, que conduz a
urina para o meio externo.
A uretra masculina faz parte também do sistema genital masculino, por permitir a
passagem do sêmem durante a ejaculação, enquanto a uretra feminina conduz apenas
urina. Além dessa diferença funcional, a uretra masculina difere da feminina anato-
micamente, em função do comprimento: nas mulheres, ela mede aproximadamente
4 cm, e, nos homens, em torno de 20 cm. Em função de seu comprimento, a uretra
masculina é subdivida em três porções de acordo com sua localização: porção prostá-
tica, quando atravessa a próstata; porção membranosa, quando atravessa o assoalho
da pelve; e porção esponjosa, quando atravessa o corpo esponjoso do pênis.
Essas diferenças, bem como os componentes da uretra, podem ser visualizadas
na imagem a seguir.

Uretras masculina e feminina


Óstios
Bexiga do ureter
urinária
Próstata Trigono
Bexiga
da bexiga
Ótios dos ductos urinária
ejaculatórios
interno da uretra
Parte prostática
Uretra
da uretra
externo da uretra
Parte
membranácea Diafragma
da uretra urogenital Bulbo de
Bulbo do pênis vestíbulo

Glândula Músculo
Ramo do pênis bulboterial bulboesponjoso

Óstios das Lábio maior


glândulas Óstios da uretra do pudendo
bulboteriais

Lábio menor
do pudendo
Corpo
cavernoso
do pênis

Parte
esponjosa
da uretra

Corpo
esponjoso
do pênis

Glande
do pênis
© FabriCO

Óstio externo
da uretra

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 686. (Adaptado).


85

A uretra começa a partir de uma abertura na saída da bexiga, chamada de óstio


interno da uretra, que é controlado pelo esfíncter interno da uretra, e termina no
óstio externo da uretra, por meio do qual a urina é expelida para o meio externo.
O ato de urinar é denominado micção e resulta de ações musculares involuntá-
rias e voluntárias. Quando a bexiga enche, o reflexo da micção é desencadeado nas
porções finais da medula espinhal, o que determina a contração involuntária do
músculo detrusor da bexiga e o relaxamento do esfíncter interno da uretra. O controle
voluntário da micção é aprendido no início da infância e exercido sobre o músculo
esfíncter externo da uretra e certos músculos do assoalho pélvico, principalmente os
localizados no diafragma urogenital.

8.2 Sistema genital masculino


Embora os sistemas genitais masculino e feminino não sejam vitais para o corpo, a
sobrevivência da espécie humana depende de seu funcionamento adequado. Ambos têm
seu funcionamento mais ativado durante e a partir da puberdade, e suas funções compar-
tilhadas incluem a produção e condução de gametas, produção e secreção de hormônios
que definem as características e os órgãos sexuais, e a resposta sexual, denominada libido.
Estudaremos inicialmente o sistema genital masculino, composto por vários
órgãos, como as gônadas, que são produtoras dos gametas e conhecidas como testí-
culos; as vias condutoras de gametas, que são o epidídimo, ducto deferente, ducto
ejaculatório e uretra; as glândulas acessórias, produtoras de sêmem; e as estruturas
que constituem a genitália externa: pênis e bolsa escrotal.

8.2.1 Testículos
Os testículos são duas glândulas com formato ovoide que medem em torno de
4 a 5 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro. Sua formação ocorre na cavidade
abdominal do feto e sua descida para ocupar a bolsa escrotal, atravessando o canal
inguinal, só ocorre em torno do 7.° mês de desenvolvimento.
Os testículos são responsáveis pela produção de espermatozoides e também do
principal andrógeno (hormônio sexual masculino): o hormônio sexual testosterona.
Cada um deles é recoberto por uma cápsula fibrosa densa e esbranquiçada, a túnica
albugínea, que se projeta para o interior dos testículos e os subdivide em 250 a 300
pequenas partes, chamadas de lóbulos do testículo, que contêm de um a três túbulos
seminíferos, que serão estudados a seguir.
86

8.2.2 Túbulos e ductos seminíferos


As unidades anatomofuncionais dos testículos, ou seja, as menores porções que
cumprem as funções do órgão, são os túbulos seminíferos, que produzem os esper-
matozóides no processo de espermatogênese. Segundo Van de Graaff (2003), essa
produção ocorre numa proporção de milhares por segundo e mais de 100 milhões por
dia ao longo da vida de um homem saudável.
Os espermatozoides se direcionam para uma rede de túbulos denominada rede
dos testículos, de onde saem pelos dúctulos eferentes para o epidídimo. Durante esse
movimento, os espermatozoides sofrem um processo de maturação, que pode levar
de oito a dez semanas, e, a partir do epidídimo, são conduzidos por meio de contra-
ções peristálticas pelos ductos deferentes direito e esquerdo, que penetra na cavidade
pélvica pelo canal inguinal. Vasos sanguíneos, nervos e vasos linfáticos também atra-
vessam esse canal inguinal formam, com o ducto deferente, o funículo espermático.
Todas essas estruturas podem ser vistas na imagem a seguir.

Ductos, glândulas acessórias, epidídimo e testículo


Ureter Ducto
Bexiga
Canal urinária deferente
inguinal

Glândula seminal

Ducto
ejaculatório Ducto excretor
© Malic Sergiu / / Shutterstock. (Adaptado).

da glândula seminal

Glândula
bulbouretral Próstata

Uretra
Pênis

Epidídimo

Testículo

Estudaremos agora as estruturas que fazem parte da genitália externa do sistema


genital masculino, com as peculiaridades de sua constituição e suas funções.

8.2.3 Pênis
A genitália externa masculina é composta pelo pênis e a bolsa escrotal. O pênis
é constituído de tecido erétil e dividido em raiz, corpo e glande. A raiz, formada pelo
bulbo e ramos do pênis, é a porção de fixação à parte isquiática do osso do quadril.
87

O corpo é disposto em duas partes laterais, chamadas de corpos cavernosos, e uma


parte menor e central, atravessada pela uretra, o corpo esponjoso. A parte final e dila-
tada é a glande, constituída pelo corpo esponjoso e com uma abertura para passagem
do sêmem ou da urina, chamada de óstio externo da uretra e coberta por uma camada
de pele frouxa, o prepúcio. Essas estruturas podem ser visualizadas na imagem
“Sistemas urinário e genital masculino”.
A ereção do pênis acontece por intermédio do comando do sistema nervoso autô-
nomo, pelo componente parassimpático, que causa a vasodilatação de artérias que
suprem o pênis, provocando o preenchimento dos espaços dos corpos cavernosos e
esponjoso. A ejaculação, por sua vez, ocorre graças à ação do componente simpático.
A bolsa escrotal é constituída principalmente por pele frouxa, com coloração mais
escura e coberta de pelos esparsos e camadas musculares, representadas pela túnica
dartos, composta de fibras musculares lisas, e pelo músculo cremaster, ilustrado na
imagem a seguir, que é um feixe de fibras musculares esqueléticas.

Bolsa escrotal

Músculo oblíquo interno


do abdome
Aponeurose do músculo
oblíquo externo (corte) Funículo espermático

Ligamento fundiforme do pênis Músculo cremaster


Ligamento Canal inguinal
suspensor
do pênis
Corte transversal do pênis: Ducto deferente
Corpos cavernosos do pênis Nervo autônomo
Parte esponjosa da uretra
Artéria testicular
Corpo esponjoso do pênis

Vaso linfático
Plexo pampiniforme
Septo do escroto das veias testiculares

Músculo cremaster
Epidídimo

Túnica albugínea
do testículo
Fáscia espermática externa
Tunica vaginal
(peritônio)
Fáscia espermática
Músculo dartos
interna
© FabriCO

Pele do escroto Rafe

Fonte: TORTORA, 2007, p. 890. (Adaptado).

A espermatogênese requer uma temperatura adequada abaixo da temperatura


corporal (em torno dos 35°C), por isso, os testículos estão contidos na bolsa escrotal,
situada fora da cavidade pélvica. Desse modo, as fibras musculares relaxam para
afastar os testículos do corpo quando a temperatura está alta e contraem quando a
temperatura está baixa, para aproximar os testículos do corpo e da temperatura
88

corporal. Além disso, o septo do escroto, de constituição fibrosa, divide a bolsa


escrotal em dois compartimentos, na tentativa de evitar a disseminação de processos
infecciosos ou cancerígenos.
Após sua produção, maturação e ejaculação, os espermatozoides precisam
percorrer um grande percurso até as tubas uterinas para encontrar um óvulo e realizar
a fecundação. Esse transporte é realizado pelo sêmen, produzido pelas glândulas aces-
sórias, que serão estudadas na sequência.

8.2.4 Glândulas acessórias


As glândulas ou vesículas seminais, a próstata e as glândulas bulbouretrais,
ilustradas na figura “Ductos, glândulas acessórias, epidídimo e testículo”, são as princi-
pais glândulas acessórias secretoras do sêmem.

O câncer de próstata tem sido causa de morte significativa em muitos homens. Um teste sanguí-
neo, o PSA, pode fornecer indícios importantes sobre a saúde dessa glândula. Se o PSA estiver
aumentado, pode indicar hipertrofia de próstata por infecção, hipertrofia benigna ou câncer.

O sêmen serve como meio de condução para os espermatozóides e os protegem do


pH ácido da uretra e do canal vaginal (uma vez que seu próprio pH é levemente alcalino)
e de certas bactérias, por conter um fator antibiótico que ajuda a controlar a proliferação
de bactérias tanto no próprio sêmem quanto no canal vaginal. Também possui vários
nutrientes que fornecem a energia necessária para a ativação dos espermatozoides.
A condução dos espermatozoides da partir do epidídimo no ducto deferente
acontece por contrações peristálticas. Após o ducto deferente, eles usam sua cauda,
denominada flagelo, para condução através do sêmem, que acontece a partir do ducto
ejaculatório (formado pela união do ducto deferente e o ducto da vesícula seminal) e
prossegue pelas porções prostática, membranosa e esponjosa da uretra.

8.3 Sistema genital feminino


O sistema genital feminino difere do masculino por sua capacidade de gerar,
abrigar e nutrir um feto, além de produzir fortes contrações que propiciarão a saída
dele na hora do parto. Sendo assim, exerce um maior número de funções, que incluem:

realizar a gametogênese, que é a produção dos óvulos pelos ovários, que também secretam os
hormônios progesterona, estrogênio, inibina e relaxina;
89

receber o gameta masculino no canal da vagina por meio do ato sexual;

conduzir os gametas, tanto feminino quanto masculino, pelas tubas uterinas, que servem tam-
bém como local para o encontro desses gametas, isto é, a fecundação;

executar, após a formação do ovo pela união dos gametas, a fixação do ovo (nidação) na camada
mais interna do útero, denominada endométrio;

fornecer nutrientes e condições necessárias para o desenvolvimento fetal;

desencadear e favorecer a saída do bebê por meio das contrações do miométrio durante
o parto;

possibilitar a amamentação por meio das glândulas mamárias.

Ao longo desta seção, estudaremos os órgãos que compõem o sistema genital


feminino, iniciando pelos ovários e as tubas uterinas.

8.3.1 Ovários e tubas uterinas


Os ovários são glândulas em formato oval que provêm do mesmo tecido embrio-
nário dos testículos e ficam situados lateralmente na parte superior da cavidade
pélvica, numa depressão rasa chamada de fossa ovariana, onde são mantidos pelos
ligamentos mesovário, ligamento útero-ovárico e ligamento suspensor do ovário.
As tubas uterinas, conhecidas na nomenclatura antiga como trompas de Falópio,
são divididas nas seguintes partes, da direção do ovário para o útero: infundíbulo,
onde se encontram as fímbrias do infundíbulo, responsáveis por captar o ovócito
secundário após a ovulação; ampola, local onde geralmente ocorre a fecundação; e
istmo, mais próximo do útero. Após ser captado pelas fímbrias, o ovócito secundário
é conduzido no interior das tubas por movimentos dos cílios localizados na mucosa da
tuba e por contrações peristálticas em sua camada de musculatura lisa.
90

8.3.2 Útero
Tanto o sistema genital feminino quanto o masculino possuem gônadas, vias
condutoras de gametas, glândulas anexas e genitália externa com similiaridades
quanto às funções e constituição. Sendo assim, o principal fator que diferencia o
sistema genital feminino é o utero.
O útero está posicionado acima da bexiga e à frente do reto. Pregas do peri-
tônio descem da parede pélvica posterior recobrindo o reto, depois o útero, a bexiga
e por fim, ascendem recobrindo a parede anterior da pelve. Dois espaços importantes
do ponto de vista clínico são formados por esse percurso do peritônio: a escavação
retouterina (também conhecida como fundo de saco de Douglas), onde podem ser
encontrados volumes patológicos de secreção purulenta, sanguinolenta ou do próprio
líquido peritonial aumentado; e a escavação vesicouterina. Ambas podem ser visuali-
zadas na imagem “Sistermas urinário e genital feminino”.
As pregas do peritônio também formam ligamentos que contribuem para a
sustentação do útero: o ligamento largo do útero e ligamento retouterino. Outros
pares de ligamentos também realizam o papel de sustentação do útero: os liga-
mentos transversos do colo, conhecidos como ligamentos cardinais, e os ligamentos
redondos. Mas o principal meio de sustentação, não só do útero, como do reto, da
bexiga e do canal vaginal, é constituído pelos músculos que compõem o soalho da
pelve, em especial a porção formada pelo diafragma da pelve, representada principal-
mente pelo músculo levantador do ânus.
O útero é constituído por três camadas, de fora pra dentro: perimétrio, miomé-
trio e endométrio, ilustradas na figura a seguir. O perimétrio é a prega do peritônio
visceral que recobre o útero e forma o ligamento largo; miométrio é a forte camada
de musculatura lisa que contrai na hora do parto e durante o período menstrual para
ajudar a expelir os resíduos da menstruação; e o endométrio é a camada mucosa que
reveste a cavidade uterina e é subdividido em dois estratos: o estrato basal, que é
permanente, e o estrato funcional, que fica mais espessado e vascularizado durante
o período fértil para alojar o ovo. Caso não ocorra nidação, o endométrio funcional
descama durante a menstruação.
91

Vista posterior do útero e das estruturas associadas


Fímbrias da
Istmo da tuba uterina
Fundo
Ampola tuba uterina
do útero
da tuba
uterina
Infundibulo Tuba uterina
da tuba
Ligamento
uterina
suspensor
Cavidade do útero do ovário
Endométrio
Ovário
Miométrio Ligamento
Perimétrio Ligamento útero-ovárico
largo do útero
Óstio anatômico interno
Corpo do útero
Colo do útero Istmo
Ureter
Canal do Ligamento
colo do útero retouterino
Fórmice lateral Óstio do útero
Vagina

© FabriCO
Vista Rugas

Fonte: TORTORA, 2007, p. 910. (Adaptado).

Segundo Van de Graaff (2003), a forma do útero não gravídico lembra o de uma
pera em posição invertida, com aproximadamente 7 cm de comprimento, 5 cm de
largura e 2,5 cm de diâmetro. Suas partes, ilustradas na imagem anterior, são o fundo,
corpo, istmo e colo ou cérvix uterino, que se projeta póstero e inferiormente em
direção à vagina, que é o canal para penetração do pênis nas relações sexuais, para
passagem do feto durante o parto e para eliminação dos resíduos menstruais. A cavi-
dade uterina é o espaço interno do útero que se estreita na porção do canal do colo do
útero, que se abre para o canal vaginal pelo óstio do útero.
A vagina consiste num tubo muscular com aproximadamente 9 cm, começando
a partir do óstio do colo do útero até o vestíbulo da vagina, onde se abre no óstio da
vagina, na genitália externa, que será estudada adiante. A camada muscular do canal
vaginal é especialmente constituída dentro dos princípios da elasticidade para permitir
grande distensão durante o parto e voltar às dimensões normais no período pós-parto.
Um epitélio mucoso reveste a vagina internamente e forma várias pregas transversais,
denominadas de rugas vaginais, que permitem a distensão da vagina no ato sexual e
no parto. Uma fina prega da membrana mucosa, o hímen, recobre parte do óstio da
vagina, geralmente até a primeira relação sexual. O pH da vagina é mantido ácido no
muco secretado por glândulas da mucosa uterina e da mucosa vaginal para impedir
entrada e proliferação de bactérias.
92

8.3.3 Genitália externa


O conjunto de estruturas e órgãos que compõem a genitália externa feminina
(ou pudendo feminino) recebe a denominação de vulva, composta por: monte púbico
ou monte do púbis, lábios maiores, lábios menores, clitóris, prepúcio do clitóris e
glândulas vestibulares (que ficam sob a pele do vestíbulo, mas seus pequenos ductos
de abertura estão de cada lado do óstio externo da uretra).

Vista inferior da genitália externa feminina


Monte do púbis

Lábios maiores
(afastados) Prepúcio do clitóris
Clitóris

Lábios menores
(afastados expondo
Óstio externo
o vestíbulo)
da uretra
Hímen
Óstio da vagina
(dilatado)
Ânus

Fonte: TORTORA, 2007, p. 916. (Adaptado). © FabriCO

Os óstios da vagina, da uretra e das glândulas vestibulares se abrem no vestíbulo


da vagina. As glândulas vestibulares maiores e menores, também conhecidas como
glândulas de Bartholin, produzem secreção lubrificante para o ato sexual, que desem-
boca ao redor do óstio da vagina.
O clitóris, por sua vez, é uma estrutura constituída de tecido erétil, como o pênis,
que reage à excitação, tornando-se intumescido pelo aumento do volume sanguíneo,
consequente à vasodilatação de artérias que suprem a região da genitália externa.

8.3.4 Glândulas mamárias


As glândulas mamárias, que podem ser consideradas órgãos sexuais secundá-
rios, estão localizadas no interior das mamas ou seios e são glândulas sudoríparas
modificadas, pertencentes ao sistema tegumentar, mas associadas ao sistema genital
feminino por estarem relacionadas com a amamentação no período pós-gravidez.
93

O câncer de mama é a segunda maior causa de morte por câncer em mulheres, e a descoberta
precoce é a melhor maneira de aumentar as chances de sobrevivência. Para tanto, é essencial
realizar o autoexame mensal das mamas e mamografias anuais.

As mamas estão situadas no panículo adiposo da tela subcutânea, no espaço


torácico entre a 2.ª e a 6.ª costela, e se posicionam sobre os músculos peitoral maior,
peitoral menor e porções dos músculos serrátil anterior e oblíquo externo do abdome.
Cada mama possui uma pequena projeção cônica pigmentada, denominada papila
mamária, que apresenta várias aberturas dos ductos lactíferos das glândulas mamá-
rias. Uma porção de pele pigmentada e rugosa pela presença de várias glândulas sebá-
ceas, as aréolas mamárias, contorna cada papila.
De acordo com Tortora (2007), cada glândula mamária consiste em 15 a 20 lobos
organizados radialmente, separados por tecido adiposo e faixas de tecido conjuntivo,
que são os ligamentos suspensores da mama. As glândulas secretoras de leite são
chamadas de alvéolos e estão localizadas em porções menores dos lobos mamários,
chamadas de lóbulos. Pequenos ductos deixam os lóbulos e se unem formando um
único ducto lactífero. Cerca de 15 a 20 seios lactíferos são expansões dos ductos lactí-
feros que armazanam leite e estão localizados próximos às papilas mamárias, abrindo-
-se e liberando leite na superfície delas.

Estruturas da mama

Ligamento suspensor
da mama (ligamento
de Cooper)
Costela
Lóbulo contendo
Fáscia profunda
alvéolos

Músculos Túbulo secundário


intercostais

Ducto mamário
Aréola
Músculo peitoral maior Seio lactífero
Papila mamária
Ducto
lactífero
Papila mamária

Aréola
© FabriCO

Tecido adiposo
na fáscia superficial

Plano sagital

Fonte: TORTORA, 2007, p. 918. (Adaptado).


94

Finalizamos nosso estudo sobre os órgãos e estruturas do sistema genital femi-


nino; agora, compreenderemos com mais detalhes sua principal diferença em relação
ao masculino: a possibilidade de gerar uma nova vida, por meio da gravidez.

8.4 Gravidez
Quando o espermatozoide se encontra com o óvulo na ampola da tuba uterina,
ou seja, se ocorre fertilização, o ovo ou zigoto passa por vários processos de divisão
celular que formarão o blastocisto, uma formação celular oca e esferóide que se fixa
numa cavidade do endométrio por meio de um processo conhecido como implan-
tação. Desde sua chegada ao útero, o blastocisto recebe nutrientes: no primeiro
momento antes da implatação, absorve secreções de glândulas do interior da cavidade
uterina; após a implantação, obtém nutrientes via endométrio; e na sequência, após
a formação da placenta, recebe todo o material necessário para seu desenvolvimento
por meio da via placentária.
Para que a gravidez seja mantida, algumas mudanças hormonais precisam acon-
tecer, e a placenta se encarrega de atuar como um órgão endócrino, produzindo alguns
hormônios. O hormônio gonadotrofina coriônica, que aparece no sangue da mãe logo
após a fixação do ovo no endométrio, mantém o corpo lúteo (que estudaremos mais
adiante) por vários meses até sua degeneração, que poderia causar a interrupção da
gravidez; e para que isso não aconteça, a placenta ja estará produzindo os hormônios
estrógeno e progesterona, necessários para manter a gravidez até a hora do parto.

Testes de gravidez que detectam a presença de gonadotrofina coriônica na urina podem iden-
tificar a gravidez cerca de 14 dias após a fertilização.

De acordo com Martini (2009), dois outros hormônios necessários no período


gravídico são secretados pela placenta: o hormônio relaxina, que favorece um
aumento na flexibilidade de estruturas pélvicas, principalmente na sínfise púbica
(união cartilaginosa dos dois ossos púbicos na região anterior da pelve) e conduz à dila-
tação do colo do útero; e o hormônio lactogênio placentário humano, que favorece a
preparação das glândulas mamárias para a lactação. Dessa forma, ficam estabelecidos
os fatores esenciais para que a gravidez ocorra sem transtornos.
95

8.4.1 Ciclo menstrual


O ciclo reprodutivo feminino inclui o ciclo ovariano e o ciclo menstrual com as
alterações hormonais que os regulam. O ciclo ovariano apresenta as alterações nos
ovários durante e após a maturação do ovócito. O ciclo menstrual compreende prin-
cipalmente as alterações no endométrio, começa, por convenção, no primeiro dia da
menstruação e dura normalmente 28 dias, mas pode variar de 22 a 35 dias. Ocorre
quando não houve fecundação, ou seja, o encontro dos gametas nas tubas uterinas,
e portanto não ocorreu também a nidação, que é implantação do ovo (zigoto/ blasto-
cisto) no endométrio.
O desenvolvimento dos óvulos ou gametas femininos ocorre a partir de estruturas
especiais chamadas de folículos ováricos e ocorre da seguinte forma: o hipotálamo
secreta hormônios GnRH (do inglês, gonadotropin releasing hormone, isto é, hormônio
liberador de gonadotrofina) que estimulam a adeno-hipófise a secretar os hormônios
FSH (hormônio folículo estimulante ou  follicle-stimulating hormone) e LH (hormônio
luteinizante ou luteinizing hormone), que desencadeiam a ovulação. O FSH inicia o cres-
cimento folicular e a secreção de estrogênio pelo folículo em crescimento, e o LH esti-
mula ainda mais o desenvolvimento do folículo e a secreção de estrogênio. Desse modo,
ambos desencadeiam a ovulação no meio do ciclo, o folículo secundário se rompe e
ocorre uma hemorragia mínima no folículo rompido. As células que revestem esse folí-
culo formam uma massa denominada corpo lúteo, que absorve a hemorragia e secreta
progesterona em grande quantidade, estrogênio em menor quantidade e relaxina.

Ciclo ovariano
GnRH Hipotálamo

GnRH estimula a liberação Adenoipófise


de FSH e LH

FSH LH

FSH estimula LH estimula


Folículos em
crescimento Ovários Corpo lúteo
Secreção inicial de estrogênios, Ovulação
Desenvolvimento adicional Secreção de progesterona, estrogênios,
pelos folículos ovarianos em
dos folículos ovarianos e relaxina e inibina pelo corpo lúteo
crescimento
sua secreção de estrônios,
progesterona
© FabriCO

Estrogênios Progesterona Relaxina

Fonte: TORTORA, 2007, p. 921. (Adaptado).


96

Após a ovulação, pode ocorrer ou não a fecundação. Em caso positivo, acon-


tecem a nidação e a secreção do hormônio gonadotrofina coriônica, que impede a
regressão do corpo lúteo. Dessa forma, continua a produção de estrogênio e progeste-
rona, não ocorre menstruação, e a gestação se desenvolve com a placenta assumindo
a produção de estrogênio e progesterona a partir do 3° mês de gravidez.
Se não houve fecundação, ocorre queda do LH com regressão do corpo lúteo e
diminuição de estrogênio e progesterona, o que desencadeia a menstruação. Com a
queda dos níveis desses hormônios, novas quantidades de FSH e LH são secretadas
pela adenohipófise, e um novo ciclo ovariano tem início.

8.4.2 Fertilização
O processo no qual um espermatozóide penetra um ovócito ou oócito secun-
dário (óvulo) unindo os fatores genéticos de cada um é chamado de fertilização, que
produz um zigoto ou óvulo fertilizado e ocorre geralmente na porção da ampola da
tuba uterina um dia após a ovulação. Na fertilização, os 23 cromossomos presentes no
espermatozoide se unem aos 23 cromossomos do óvulo e formam um zigoto com 46
cromossomos, no qual já estão definidos o sexo e a herança genética de uma pessoa.
A fertilização é um processo natural resultante de corpos saudáveis e férteis, mas
as possibilidades para que se concretize dependem de vários fatores cruciais:

O ovócito secundário liberado pelo ovário deverá ser captado pelas fímbrias do infundíbulo e
ser conduzido por movimentos de cílios presentes na mucosa e por contrações peristálticas,
percorrendo uns poucos centímetros até ser alcançado pelos espermatozoides.

Os espermatozoides percorrem um longo caminho desde as vias condutoras de gametas mas-


culinos até serem liberados no canal vaginal para chegar à ampola da tuba, movendo-se no
sêmen com o auxílio do flagelo e de contrações peristálticas que aceleram a sua passagem.
Segundo Tortora, aproximadamente 200 a 500 milhões de espermatozoides estão presentes
no sêmem que adentra ao canal vaginal; destes, apenas 2 milhões alcançam o colo do útero e
apenas em torno de 100 a 200 chegam até o ovócito secundário na tuba uterina.

A ejaculação e a chegada dos espermatozóides à tuba uterina deve ocorrer normalmente em


questão de minutos, mas os espermatozóides deverão permanecer, geralmente na tuba ute-
rina, passando por um processo denominado capacitação, no qual ocorrem várias adaptações,
que incluem maior motilidade do flagelo e preparação de sua membrana plasmática para fusão
com a membrana plasmática do óvulo.
97

Os espermatozoides podem permanecer viáveis para fertilização por cerca de 48


horas após a ejaculação, mas o ovócito secundário permanece viável por apenas 24 horas.
De acordo com Van de Graaff (2003), um ovócito secundário é revestido por uma
zona pelúcida, que é uma camada delgada de polissacarídeos e proteína, e a coroa
radiata, uma camada de células granulosas, que funcionam como um escudo protetor
para o ovócito que chega até a tuba uterina, como pode ser visto na imagem a seguir.

Espermatozoide penetrando no oócito secundário

Espermatozóide
Trajeto seguido pelo
espermatozóide:

Coroa radiada

Zona pelúcida

© Designua // Shutterstock. (Adaptado).


Membrana
plasmática do
oócito secundário

Citoplasma do
oócito secundário

Fuso da meiose II Primeiro corpo polar

Para penetrar no óvulo, o espermatozoide tem que atravessar as camadas prote-


toras da coroa radiata e da zona pelúcida, por intermédio do acrossomo, uma organela
localizada na em sua própria cabeça, que libera a enzima hialuronidase, responsável
por digerir o ácido hialurônico presente na coroa radiata, abrindo o caminho.
Vários espermatozoides podem se ligar à zona pelúcida, mas apenas o primeiro
a atravessá-la e chegar à membrana plasmática do óvulo poderá fertilizá-lo. A partir
da fusão entre seu núcleo e o do óvulo, a penetração de outros espermatozoides será
impedida.

8.4.3 Desenvolvimento e funções da placenta


Todas as estruturas, órgãos e sistemas que formam o corpo humano começam
a se formar e desenvolver a partir do zigoto. Esse processo de crescimento e diferen-
ciação celular determinando e relacionando os aspectos funcionais de cada órgão e
sistema é denominado morfogênese.
98

Após a fertilização, 38 semanas são necessárias para o desenvolvimento do feto


até o parto, e esse desenvolvimento passa pelas seguintes fases: período pré-embrio-
nário, desencadeado pela fertilização do ovócito secundário e que dura duas semanas;
período embrionário, que ocorre desde o início da 3ª semana até o final da 8ª, no qual
os órgãos e estruturas são constituídos; e período fetal, que começa na 9ª semana e
é o momento em que ocorre um maior crescimento e definição das estruturas anatô-
micas até o momento do parto.
Segundo de Van de Graaff (2003), durante o período pré-embrionário, ocorrem a
fertilização, o transporte do zigoto no interior da tuba uterina por movimentos ciliares
e contrações peristálticas em direção à cavidade uterina, divisões celulares, implan-
tação do zigoto e desenvolvimento do tecido embrionário primordial.
As divisões celulares começam em torno de 30 horas após a fertilização e terminam
no contato do zigoto com o endométrio. A primeira etapa é uma divisão mitótica
chamada de clivagem que origina duas células, os blastômeros. Após a formação dos
blastômeros, ocorrem clivagens sequenciais que originam 16 ou mais células, que se
unem numa massa sólida de células em forma circular, a mórula, que fica flutuando na
cavidade uterina por aproximadamente três dias. Depois, ela se desenvolve, tornando-se
uma estrutura multicelular com células progressivamente menores: o blastocisto, cons-
tituído de uma camada externa de células, o trofoblasto; e um aglomerado interno de
células, denominado embrioblasto. A placenta é formada a partir da diferenciação do
trofoblasto em cório, sua porção fetal, por onde nutrientes e resíduos serão transpor-
tados entre a mãe e o feto; e o embrião se desenvolve a partir do embrioblasto.
99

Eventos do período pré-embrionário


Blastômeros

Zona pelúcida
(a) Clivagem,
estágio de 2
células (36 horas)

Núcleo Citoplasma

(b) Clivagem
estágio de 4
células (48 horas)

(c) Mórula
(96 horas)

Zona pelúcida

(d) Blastocisto,
vista externa
(5 dias)

Embrioblasto

Trofoblasto
© FabriCO

(e) Blastocisto Blastocele


vista interna
(5 dias)

Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 595. (Adaptado).

A fase de implantação do zigoto ocorre em torno do 5.° ao 7.° dia pós-fertili-


zação, quando o trofoblato libera enzimas proteolíticas que começam a digerir porções
do endométrio, criando uma cavidade na qual o blastocisto se aloja, sendo coberto na
sequência por células endometriais. Para evitar seu deslocamento, o que caracteri-
zaria um aborto, o blastocisto secreta o hormônio gonadotrofina coriônica, que evita
a menstruação pela manutenção da secreção dos estrógenos e da progesterona, que
posteriormente (entre a 5.ª e a 6.ª semana da gravidez) será assumida pela placenta.
A formação do tecido embrionário ocorre a partir da diferenciação do embrio-
blasto, que assume uma forma achatada, o disco embrionário, a partir do qual serão
formadas as camadas geminativas primárias em torno da 2.ª semana: primeira-
mente, originam-se o ectoderma e o endoderma, seguidos da formação da terceira
camada, localizada entre eles e conhecida como mesoderma. Assim, encerra-se o
período pré-embrionário e se inicia a fase embrionária.
100

Vista interna do útero, aproximadamente 14 dias após a fertilização

Âmnio
Cavidade amniótica
Disco embrionário:
ECTODERMA
MESODERMA
ENDODERMA
Saco vitelino
Cavidade
do útero Pendúnculo corporal
(futuro cordão umbilical)

Vilosidade coriônica
Mesoderma extra-embrionário

© FabriCO
Espaço interviloso

Fonte: TORTORA; GRABOWSKI, 2006, p. 598. (Adaptado).

De acordo com Van de Graaff (2003), durante o período embrionário, os órgãos


e tecidos vão sendo formados a partir da diferenciação das camadas germinativas. O
sistema nervoso, a epiderme e seus anexos (pelos, unhas, glândulas), o tecido epitelial
das cavidades nasal, vaginal e anal, o esmalte dos dentes, a glândula hipófise e a glân-
dula suprarrenal surgem a partir do ectoderma. A derme, o esqueleto ósseo e cartila-
ginoso, os músculos em geral, o sangue, o epitélio dos vasos sanguíneos e linfáticos,
o revestimento interno das cavidades viscerais e articulares, órgãos genitais internos,
rins e ureteres são oriundos do mesoderma. Os órgãos dos sistemas digestório e respi-
ratório e partes de seus revestimentos internos, a bexiga, uretra, vagina, glândulas
tireóide e paratireóide, fígado e pâncreas se desenvolvem a partir do endoderma.
Durante o período embrionário, formam-se também a placenta, o cordão umbi-
lical e as membranas extraembrionárias: âmnio, saco vitelino, alantoide e cório, que
garantem a sobrevivência do feto ao manter as funções básicas necessárias para seu
desenvolvimento saudável, que incluem proteção, fornecimento dos gases respirató-
rios e nutrientes e meios de excreção.
Âmnio é a fina membrana que envolve o embrião, formando o saco amnió-
tico, que contém líquido amniótico continuamente renovado e absorvido com as
funções de proteger o feto, amortecendo choques, permitir a mobilidade e servir
de meio de eliminação de resíduos. O saco vitelino é o meio de condução de sangue
para o embrião, o alantoide produz sangue para o embrião, formando as artérias
e veias umbilicais, e o cório é a membrana externa que participa da constituição da
placenta. Segundo Tortora e Grabowski (2006), o cordão umbilical é a conexão entre
a placenta e o embrião e, posteriormente, o feto. Ele é formado por duas artérias
101

que transportam sangue fetal desoxigenado para a placenta e uma veia umbilical que
conduz sangue materno oxigenado para o feto.
Unindo o feto à parede do útero, a placenta é um tecido embrionário formado por
vilosidades coriônicas, e sua principal função é servir de meio pelo qual todo o material
metabólico necessário para o desenvolvimento do feto chegue até ele. Sendo assim,
a placenta armazena nutrientes, como proteínas, carboidratos, ferro e cálcio, que
serão conduzidos para circulação fetal quando forem necessários, e também permite
que todo resíduo prejudicial seja removido. A placenta ainda secreta hormônios este-
róides e hormônios glicoprotéicos, que contribuem para a manutenção da gravidez e
garantem a nutrição ideal para o feto.
A placenta também serve como uma barreira, impedindo que a maioria dos
micro-organismos possa chegar ao feto. Contudo, vários vírus, como do HIV, sarampo,
poliomielite e encefalite, conseguem atravessá-la, em função de suas características
estrturais e funcionais. Algumas drogas como álcool também podem cruzar a placenta
e causar prejuízos na formação fetal.
Após o período embrinonário, durante o período fetal, o principal acontecimento
é o crescimento do feto, principalmente entre a 9.ª e a 16.ª semana, período em que o
desenvolvimento das vísceras fetais e a diferenciação dos tecidos já apresentam uma
certa desaceleração.

8.4.4 O feto e a mãe


Segundo Van de Graaff (2003), entre a 9.ª e a 12.ª semana, aparecem os centros
de ossificação do feto, os órgãos genitais externos são formados, e os sistemas diges-
tório, urinário, respiratório e muscular já apresentam atividade funcional. Entre a 13.ª e
a 16ª semana, os caracteres faciais são formados, e os batimentos cardíacos podem
ser auscutados pelo estetoscópio. Entre a 17.ª e a 20.ª semana, a mãe já pode perceber
os movimentos fetais, e entre a 26.ª e a 29.ª, olhos do feto se abrem, e caso haja parto
prematuro, o feto já está apto a sobreviver. Na 38.ª semana, o feto estará pronto
anatômica e funcionalmente para nascer, e o trabalho de parto será desencadeado
naturalmente.
As mulheres grávidas, por sua vez, começam a apresentar várias mudanças desde
as primeiras semanas de gestação, incluindo mudanças de humor, maior sonolência e
aumento do apetite. Além disso, as aréolas mamárias se tornam mais pigmentadas,
resultando num escurecimento, inclusive da papila mamária.
O aumento progressivo do útero faz com que ele ocupe toda a cavidade pélvica,
provocando, logo no 1.° trimestre, micções frequentes pela compressão da bexiga
urinária. Conforme continua crescendo, passa a ocupar praticamente toda cavidade
102

abdominal, empurrando para cima e comprimindo intestinos, fígado e estômago. A


imagem a seguir mostra a compressão da bexiga urinária, dos intestinos e do estô-
mago, lembrando que os outros órgãos abdominais e pélvicos também podem ser
comprimidos conforme a gestação avança.

Posicionamento dos órgãos em uma gestante, no final da gravidez

© mmutlu / / Shutterstock

Esse deslocamento causa desconforto e, algumas vezes, alterações da motilidade


das vísceras, produzindo azia pela compressão do estômago, que pode causar refluxos
para o esôfago, náuseas, vômitos e constipação intestinal. Além disso, o músculo
diafragma pode não completar sua descida durante a inspiração, diminuindo a capaci-
dade respiratória da gestante e produzindo desconforto respiratório e dispneia.
Algumas mulheres apresentam alterações na pigmentação da pele do rosto e
abdome, e a maioria apresenta ganho de peso devido ao aumento do útero, à persença
do feto, da placenta e do líquido amniótico e à retenção de líquidos. As mamas
aumentam de tamanho, respondendo aos estímulos hormonais para prover a amamen-
tação adequada. Ocorrem alterações na marcha pelo deslocamento do centro de gravi-
dade, em função do abdome protuberante, e, como consequência, surgem dores
lombares, uma vez que a musculatura da região tenta compensar o desvio postural,
mantendo-se tensa.
Várias adaptações necessárias acontecem no sistema circulatório para corres-
ponder às necessidades de maior transporte de nutrientes, gases e materiais de
excreção a serem eliminados, entre elas aumento da frequência e do débito cardíaco.
103

Da mesma forma, ocorrem adequações do sistema respiratório para suprir o aumento


do consumo de oxigênio.
Algumas gestantes ainda podem apresentar frouxidão ligamentar decorrente
das alterações homonais, principalmente em função do hormônio relaxina, o que pode
facilitar torções e luxações articulares, agravadas pelo aumento do peso e desvio do
centro de gravidade. Esse hormônio tem a função de relaxar a sínfise púbica para
aumentar a área de passagem do feto na pelve e ainda atua sobre os ligamentos das
articulações para torná-las mais flexíveis e móveis durante o parto, além de auxiliar na
dilatação do colo do útero.
Atualmente, existem vários programas desenvolvidos por profissionais da saúde,
incluindo principalmente fisioterapeutas que acompanham as gestantes, prevenindo
e minimizando transtornos que possam ocorrer durante a gestação e preparando e
fortalecendo a musculatura envolvida com o parto.
O estudo deste capítulo demonstrou a importância de dois sistemas: o urinário
e o genital. O sistema urinário realiza a filtração do sangue para manter a homeos-
tase, garantindo tanto o equilíbrio hídrico quanto o e eletrolítico de nosso organismo.
O sistema genital, por sua vez, está envolvido na interação das estruturas relacionadas
à formação e condução de gametas; à fertilização, que ocorre quando os gametas
masculino e feminino se encontram; e à implantação e ao desenvolvimento do zigoto,
que dá origem a todas as estruturas que formam o corpo humano.
104

Referências
HERLIHY, B.; MAEBIUS, N. K. Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano Saudável e
Enfermo. Barueri: Manole, 2002.
MARTINI, F. H. Anatomia Humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia Orientada para a Clínica. 5. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2007.
NETTER, F. H. Atlas de Anatomia Humana. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
SOBOTTA, J.; PUTZ, R.; PABST, R. Atlas de Anatomia Humana. 22. ed. rev. e atual. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
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