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PATOLOGIA ORAL

E MAXILOFACIAL
Cistos odontogênicos
do desenvolvimento
Camila Batista de Oliveira Silva Rossi

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Caracterizar a etiologia dos cistos odontogênicos do desenvolvimento.


> Identificar os cistos odontogênicos do desenvolvimento mais prevalentes
nos ossos gnáticos.
> Exemplificar o manejo terapêutico para cistos odontogênicos.

Introdução
Os cistos são descritos como estruturas ou cavidades preenchidas por material
líquido ou semissólido, com revestimento de células epiteliais e uma mem-
brana de tecido conjuntivo fibroso (BILODEAU; COLLINS, 2017). São encontrados
na região intraóssea da mandíbula e maxilares. Por isso, são comumente
diagnosticados de maneira acidental em exames radiográficos de rotina. De
maneira geral, apresentam características clínicas, radiográficas e histológicas
semelhantes, mas podem se diferenciar no seu comportamento biológico,
apresentando padrões de crescimento e malignidade distintos. Por isso, o
diagnóstico diferencial é necessário, para o tratamento e o manejo clínico
adequados a cada caso (JAAFARI-ASHKAVANDI; ASHRAF; ABBASPOORFARD, 2019).
Neste capítulo, você vai estudar os cistos odontogênicos de desenvolvi-
mento, as principais características, a etiopatogenia e o correto tratamento
para essas lesões.
2 Cistos odontogênicos do desenvolvimento

Etiologia dos cistos de desenvolvimento


Os cistos são patologias comuns e benignas que acometem com frequência a
região da cabeça e do pescoço. Na odontologia, essas patologias são descritas
como lesões provenientes da odontogênese, isto é, das células primárias de
desenvolvimento do órgão dental. O surgimento de cistos é possível porque
as células multipotentes (células-tronco) remanescentes na lâmina dental
são capazes de se desenvolver, causando diversas doenças. Essas células
embriogênicas remanescentes dão origem a tipos diferentes de cistos, co-
nhecidos como cistos odontogênicos inflamatórios e cistos odontogênicos
do desenvolvimento (BILODEAU; COLLINS, 2017).
A odontogênese é o processo de formação do dente. O germe dentário ou
folículo dentário passa por diferentes fases de proliferação ou crescimento
e por fases de diferenciação celular em que as células primárias (epitélio
primário e ectomesenquima) dão origem a novas estruturas. Normalmente,
esse processo inicia entre a sexta e a sétima semana de desenvolvimento
intrauterino e é responsável por revestir toda a cavidade oral, que formará
estruturas da face e da boca (MENDITTI et al., 2009).
Durante a embriogênese, diversas etapas devem ser concluídas e, para
isso, é necessária a ação conjunta de epitélio e mesênquima celular, para que
as células se transformem em odontoblastos e ameloblastos, responsáveis
pela formação da dentina e do esmalte dentário. Durante esses processos
de formação, as lâminas dentárias sofrem diferenciação celular. No entanto,
em alguns locais, em razão da expansão de novos tecidos, algumas células
primárias (células remanescentes de Malassez) são contidas próximo às
raízes dentárias (MENDITTI et al., 2009). Todo o desenvolvimento de novas
tumefações celulares pode ser causado pela proliferação dessas células
primárias remanescentes, podendo originar diferentes patologias de compor-
tamentos biológicos distintos, como os casos de tumores e cistos de origem
odontogênica, ou seja, de origem primária. Todas as células primárias, por
sua natureza, têm grande potencial proliferativo, além de função adaptativa
(SANTOSH, 2020).
Diferentemente dos cistos odontogênicos inflamatórios, a etiopatogenia
dos cistos de desenvolvimento não está relacionada à presença de inflamação
pós-traumas ou cárie dentária. A etiopatogenia dos cistos de desenvolvimento
é pouco compreendida, porém sabe-se que há relação com a proliferação
de epitélio remanescente associado à odontogênese. Teorias mais aceitas
sugerem que, com a interação entre as estruturas remanescentes e o micro-
ambiente, ocorre a proliferação de células, que vão gerar uma grande quan-
Cistos odontogênicos do desenvolvimento 3

tidade de lesões, com comportamentos biológicos distintos, como os cistos


odontogênicos. No entanto, ainda não é possível afirmar a veracidade de tais
teorias. São necessários mais estudos de caráter molecular para identificar o
que induz o surgimento de um cisto odontogênico de desenvolvimento e se
há interação de demais fatores intrínsecos capazes de estimular e determinar
o início da proliferação dos remanescentes. Poucos estudos conseguiram
determinar fatores de surgimento para cistos de desenvolvimento até o
presente momento (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; SANTOSH, 2020).

Os cistos odontogênicos são lesões orais e maxilofaciais comuns em


adultos. Segundo casuísticas nacionais, representam aproximada-
mente 25% dos casos diagnosticados, sendo o tipo dentígero mais comum entre
eles, com incidência de 70% (SILVA et al., 2020).

Os cistos odontogênicos, por apresentarem diferentes etiopatogenias,


podem apresentar diferentes grau de malignidade, variando de casos mais
agressivos, a casos com crescimento mais acerelado ou crescimento lento
sem demais sinais. Por isso, o manejo terapêutico adotado deve ser específico
para cada caso. O profissional deve sempre ponderar as escolhas de acordo
com o bem-estar do paciente, bem como com suas avaliações clínicas e radio-
gráficas. A análise microscópica (avaliação anatomopatológica) é considerada
alicerce para um diagnóstico final, sendo fundamental no estabelecimento
da melhor conduta terapêutica.

Principais tipos de cistos do


desenvolvimento
Para que os tumores e cistos fossem estudados de maneira única em diferentes
localidades do mundo, estudiosos e especialistas vinculados à Organização
Mundial da Saúde (OMS) desenvolveram classificações oficiais baseadas na
histologia celular, a fim de auxiliar na realização de diagnósticos e na unificação
de tratamentos, norteando as futuras pesquisas nessas áreas. Para a classi-
ficação específica de cistos odontogênicos de desenvolvimento, são descritos
os seguintes tipos: dentígero, gengival, periodontal lateral, botrióide, calci-
ficante, ortoqueratinizado, queratocisto odontogênico e glandular (SPEIGHT
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et al., 2017). A seguir, serão descritos os tipos de cistos de desenvolvimento


mais frequentes na literatura.

Os cistos devem ser avaliados atentamente, já que uma ampla varie-


dade de lesões benignas e malignas ocorre na cavidade oral, muitas
vezes com características semelhantes, dificultando a clareza do diagnóstico e
o direcionamento do tratamento.

Cisto dentígero
O cisto do desenvolvimento mais frequente é o dentígero. Os dentes molares
são os mais afetados, principalmente os terceiros. É raro em dentes decíduos
(de leite). É comum em adultos e crianças e costuma se apresentar com fre-
quência até a terceira década de vida, além de ter crescimento mais rápido
em pacientes jovens (BILODEAU; COLLINS, 2017). Tem progressão silenciosa,
podendo ocupar parte considerável do seio maxilar, afinando as paredes
ósseas. Além disso, pode causar desbalanço da simetria facial, deslocamento
de dentes e reabsorção de raízes (THOMPSON, 2018).
A teoria mais aceita sobre sua etiopatogenia está relacionada ao acúmulo
de fluido entre o epitélio reduzido do esmalte e a coroa dental. Em exames
de radiografia, esses cistos são visualizados como estruturas radiolúcidas,
uniloculares, com bordas escleróticas, associadas a um dente impactado ou
parcialmente irrompido (SPEIGHT et al., 2017). Somente após a confirmação
mediante análise histopatológica e avaliação das demais características
clínicas, é possível distinguir o cisto dentígero de outras lesões importantes,
como folículos dentais aumentados, queratocistos, ameloblastoma tipo
unicístico e tumor odontogênico adenomatóide. Isso porque esses tipos de
patologias apresentam uma imagem radiográfica muito semelhante. Alguns
autores sugerem que, quando o espaço radiolúcido envolvendo a coroa for
menor do que 3 mm, pode se tratar de um caso de folículo aumentado. No
entanto, todo cuidado deve ser tomado, pois a imagem não basta para con-
firmação diagnóstica e pode também se tratar de um cisto ou um tumor em
estágio inicial (BILODEAU; COLLINS, 2017; THOMPSON, 2018).
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Outro diagnóstico diferencial que deve ser avaliado envolve o tumor odon-
togênico adenomatoide, que apresenta as mesmas características radiográ-
ficas, porém a imagem radiolúcida pode se estender até a região apical do
dente ou conter em seu interior opacidade (semelhante a flocos de neve). Isso
não ocorre quando há cisto dentígero (BILODEAU; COLLINS, 2017). Observe na
Figura 1 o exemplo de um exame mostrando um cisto do desenvolvimento
do tipo dentígero.

Figura 1. Cisto do desenvolvimento tipo dentígero.


Fonte: Consolaro e Hadaya (2021, documento on-line).

Cisto de erupção
O cisto de erupção é considerado um análogo do cisto dentígero, mas que
acomete os tecidos moles. Ocorre com mais frequência nos primeiros molares
permanentes ou incisivos superiores. É descrito como uma tumefação de
caráter mole que recobre a coroa dentária em pacientes pediátricos (menores
de 10 anos de idade). Resulta da separação do folículo dentário que envolve
a coroa de um dente em erupção presente nos tecidos moles (BILODEAU;
COLLINS, 2017).
É um cisto que pode acontecer mediante algum trauma na região oral, po-
dendo apresentar sangue em seu interior. Nesse caso, é chamado é hematoma
de erupção. Embora o diagnóstico costume ser clínico, histologicamente, é
composto por uma fina camada de células epiteliais não queratinizadas. Por
ser uma lesão cística simples, pode ser facilmente removida para promover
a erupção do dente envolvido. Às vezes, a intervenção não é necessária,
podendo ser naturalmente rompido durante o processo de erupção natural
(NEVILLE et al., 2016).
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Ceratocisto odontogênico
A etiologia do ceratocisto está associada à proliferação de remanescentes
epiteliais da lâmina dentária. É normalmente assintomático e descoberto
de maneira acidental, com quadros agudos de dor na presença de lesão
secundária. A localização mais comum é a região mandibular, acometendo
adultos de 25 a 35 anos, mas há relatos em populações mais velhas. Apresenta
crescimento lento e, quando diagnosticado de maneira tardia, provoca extensa
osteólise, isto é, destruição óssea.

O ceratocisto, ou queratocisto, odontogênico é considerado de baixa


frequência (aproximadamente 12% de todos os cistos odontogênicos).
Esses dados, porém, podem ser imprecisos, porque a sua transição de cisto
para tumor em 2005 e, novamente, sua reclassificação como cisto em 2017,
possivelmente alteraram a casuística.

As características mais relevantes na análise microscópica são a for-


mação de uma cápsula fibrosa com revestimento de epitélio estratificado
paraquenizado e camada de células basais em paliçada. Tem pouco infiltrado
inflamatório no seu estroma e contém conteúdo líquido claro seroso com a
presença de ceratinócitos no lúmen da lesão. Entretanto, quando há foco de
inflamação, são observadas alterações em suas características típicas, como
ausência do epitélio paraquenizado e formação de cristais, modificando a
camada basal em forma de paliçada (NEVILLE et al., 2016).
O comportamento biológico do ceratocisto está relacionado com seu
epitélio. Tem alta taxas de recorrência pós-tratamento, associadas com a
presença de cistos-filhos, ou satélites, em seu interior e ao desprendimento da
cápsula cística do epitélio. Também é relatada sua presença em multiplicidade
em algumas síndromes genéticas, como a síndrome de carcinoma nevóide
basocelular, ou síndrome de Gorlin.
Em exame de imagem, mostra-se como uma área radiolúcida uni ou multi-
locular, exibindo ou não borda esclerótica. Suas características radiográficas
e clínicas podem ser semelhantes a outras lesões orais de diferentes compor-
tamentos biológicos. Seu diagnóstico diferencial em relação ao cisto dentígero
está ligado à presença de sintomas e não expansão óssea, porque se trata
de um cisto que causa maior desconforto quando em grande proporção, com
o crescimento voltado para os espaços medulares (HASEGAWA et al., 2017).
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O ceratocisto tem padrão alto de recorrência, necessitando maior


acompanhamento clínico e radiográfico, com realização de exames a
cada seis meses por aproximadamente cinco anos. Para o diagnóstico dessa lesão
cística, a análise conjunta dos achados clínicos, de imagem e histopatológicos
é de grande importância, em razão dos desafios do tratamento.

Cisto gengival do adulto


O cisto gengival do adulto é considerado de relato incomum, ocorrendo em
menos de 1% dos casos. É extraósseo, acometendo o tecido gengival. Sua
etiologia é pouco compreendida, mas também está associada, assim como
os demais cistos odontogênicos do desenvolvimento, a remanescentes da
lâmina dentária ou da proliferação do epitélio reduzido do esmalte. Acomete
preferencialmente os dentes caninos e pré-molares mandibulares inferiores
(60–75%) entre a quinta e sexta décadas de vida, com maior ocorrência em
mulheres. É mais frequente na mandíbula, principalmente nas mucosas al-
veolares (SPEIGHT et al., 2017).
Microscopicamente, o cisto gengival do adulto é formato por epitélio fino,
não queratinizado, estratificado e escamoso. Apresenta tecido conjuntivo sem
inflamação e algumas áreas espessas. Tem semelhança, histologicamente,
com o cisto periodontal lateral. Clinicamente, é um cisto de crescimento lento
e assintomático, apresentando-se como um pequeno aumento de volume na
região acometida. Pode causar reabsorção do osso vestibular. Por acometer
os tecidos moles, não apresenta imagem radiográfica, uma vez contido na
gengiva, mas pode ocorrer erosão óssea adjacente à lesão.

Cisto periodontal lateral


O cisto periodontal lateral é considerado raro, com menos de 1% de frequência.
É observado próximo e lateralmente a uma raiz. A etiopatogenia desse cisto é
pouco compreendida, mas acredita-se ter origem nos remanescentes da lâmina
dentária ou da descamação de porções laterais do epitélio do esmalte em
direção apical antes da erupção da coroa dentária (BUCHHOLZER et al., 2021).
Frequentemente, ocorre na mandíbula entre as raízes de pré-molares e
caninos. É comum no gênero masculino, entre a quarta e a sétima década
de vida. Não tem sintomatologia típica. Seu padrão de crescimento é lento
(FRIEDRICH; SCHEUER; ZUSTIN, 2014). Histologicamente, é descrito como uma
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cápsula fibrosa delgada, com revestimento composto de epitélio pavimentoso


estratificado ou cuboidal não queratinizado, com espessamento voltado para
o lúmen. Observa-se, em seu revestimento, a presença de placas epiteliais
contendo células claras compostas por glicogênio (BUCHHOLZER et al., 2021).
Confira na Figura 2 a imagem de um cisto periodontal lateral com característica
radiolúcida, localizado na lateral da raiz de um dente vital.

Figura 2. Cisto periodontal lateral.


Fonte: Cistos odontogênicos (2022, documento on-line).

O cisto gengival do adulto, o cisto periodontal lateral e o cisto odon-


togênico botrióide são cistos odontogênicos raros, considerados
variantes de uma mesma entidade, que compartilham algumas características
clínicas e histopatológicas. Portanto, o diagnostico só pode ser concluído após
a análise total das informações clínicas, radiográficas e histopatológicas de
cada paciente (CHRCANOVIC; GOMEZ, 2017).

O cisto gengival do adulto, o cisto periodontal lateral e o cisto odontogê-


nico botrióide se apresentam de maneira semelhante em relação à imagem
e características clínicas. Não é possível, portanto, realizar um diagnóstico
somente avaliando esses dados. Em casos de cisto periodontal lateral, por
sua localização lateral a raízes de um dente não rompido, pode-se realizar
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o diagnóstico diferencial com o cisto inflamatório radicular, em razão da


presença de infecção nos canais laterais. Em relação ao cisto botrióide, o com-
portamento clínico agressivo o difere dos demais, mas pode mimetizar outros
cistos, como o queratocisto e, até mesmo, tumores, como o ameloblastoma
(BILODEAU; COLLINS, 2017). Por isso, cada caso deve ser tratado de maneira
individual, buscando associar algumas características epidemiológicas e o
comportamento biológico do cisto, como presença ou ausência de demais
sintomas. A realização do diagnóstico diferencial em casos de investigação
de lesões císticas é de grande importância, pois é comum que alguns tumores
malignos da cavidade oral apresentem perfil silencioso e/ou crescimento
lento, sem sintomatologia aparente, tornando seu diagnóstico precoce mais
desafiador para o profissional.

Tipos de tratamento para cistos


odontogênicos de desenvolvimento
Os cistos do desenvolvimento, assim como as demais lesões císticas, devem
ser avaliados com cuidado pelos profissionais, principalmente porque podem
mimetizar lesões de caráter mais agressivo e de malignidade elevada. Por
isso, os tratamentos escolhidos devem ser ponderados individualmente,
considerando todas as informações clínicas importantes, como idade, sin-
tomas, tamanho, local da lesão, proximidade com estruturas adjacentes de
importância, presença de outras patologias associadas e sensibilidade da
região. Além disso, deve-se contar com o comprometimento do paciente na
realização das condutas pós-operatórias, a fim de evitar infecções e novos
procedimentos invasivos (NEVILLE et al., 2016).
Destaca-se, entre as informações clínicas relevantes, o tamanho da lesão.
Os cistos têm padrão de crescimento lento e normalmente são assintomáticos,
mas, quando alcançam grandes dimensões, podem se estender para o interior
dos tecidos moles e adjacentes, além de levar a grande comprometimento
mandibular e perda de tecido ósseo (SILVA et al., 2020). Outro destaque na
terapêutica de cistos odontogênicos é o envolvimento de elementos dentários,
comum em cistos dentígeros. Nesses casos, devem ser realizados testes de
vitalidade pulpar, para identificar a presença de circulação vascular e, se
necessário, extrair o dente associado ao cisto. Porém, se a erupção do dente
envolvido é considerada viável, deve-se remover a parede que envolve o cisto
e manter o dente no local até sua erupção (SOARES et al., 2018).
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Como vimos, todos os cistos devem ser avaliados cuidadosamente e,


somente após a realização de uma biópsia incisional, removendo apenas uma
porção do tecido, ou de uma biópsia excisional, removendo todo o tecido,
poderá ser realizado o diagnóstico final ou confirmatório. Como também já
vimos neste capítulo, os cistos podem apresentar características histológicas
e radiográficas semelhantes, sendo preciso considerar outras informações ao
comportamento biológico como diagnóstico diferencial, como sintomatologia
e localização da lesão (BILODEAU; COLLINS, 2017).
As técnicas empregadas no tratamento dos cistos odontogênicos do de-
senvolvimento são voltadas para remoção da lesão cística e da extração
do dente envolvido. Para isso, é realizada a enucleação, que consiste na
remoção completa ou inteira da lesão. É indicada para casos em que o cisto
é de pequena dimensão facilitando sua remoção total com um procedimento
único (SILVA et al., 2020). Em casos de grande dimensão, recomenda-se o tra-
tamento endodôntico, seguido do tratamento de remoção cirúrgica. Nesses
casos, primeiramente, pode-se optar pela marsupialização, que consiste na
remoção parcial do cisto, seguida da remoção total do cisto (enucleação) com
exodontia ou preservação do dente incluso, porque a remoção parcial facilita
a execução da enucleação total da lesão (NEVILLE et al., 2016).

A marsupialização é uma técnica cirúrgica de pequeno porte. Consiste


na criação de uma “janela óssea” que possibilita a descompressão
da cavidade onde se encontra o cisto.

Em cistos do desenvolvimento, é relatada recorrência, mas não em todos


os casos e tipos. Considera-se mais provável de recorrência dentro de um
curto período o ceratocisto odontogênico. É considerado, também, o mais
desafiador para remover. De modo geral, porém, as técnicas de remoção,
quando executadas corretamente e quando tomados os devidos cuidados
pós-operatórios, são de excelente prognóstico. Em sua maioria, representam
a cura da patologia (ACIOLE et al., 2010).
Por fim, independentemente da técnica que será realizada, o profissional
e a equipe são responsáveis pela tomada de decisão final. Devem, portanto,
sempre ponderar entre as necessidades fisiológicas, como alívio da dor,
diminuição da sensibilidade, estética, entre outros, e a disponibilidade do
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paciente para cuidado pós-operatório, já que se trata de um procedimento


invasivo que pode gerar desconforto considerável (BILODEAU; COLLINS, 2017).
A remoção da lesão cística deve considerar as características clínicas e radio-
lógicas. As técnicas de remoção mais utilizadas incluem a marsupialização e
a enucleação, bem como os tratamentos endodônticos e de extração. Além
disso, deve-se avaliar a necessidade de extração do dente envolvido.

Paciente do gênero feminino, de 43 anos, chegou ao consultório após


a realização de um exame de imagem de rotina em que se observou
um possível cisto (caracterizando um diagnóstico acidental). No exame físico, não
foram observadas alterações. Porém, no exame intraoral, foi possível localizar
abaulamento na região do dente 48. Foram solicitados exames radiográficos
complementares e tomografia computadorizada. Nesses exames, foi observada
uma lesão radiolúcida com características e localização comuns em casos de
cistos dentígeros. Como vimos, somente após a análise histopatológica é pos-
sível concluir um diagnóstico para cistos. Portanto, nesse caso, inicialmente
foi realizada uma punção aspirativa para identificar o conteúdo da lesão, que
reforçou a hipótese diagnóstica de cisto dentígero. Em seguida, foi realizada
enucleação com anestesia local, e o material coletado foi encaminhado para
o médico patologista. Os achados histopatológicos confirmaram o diagnóstico
de cisto dentígero.

Neste capítulo, estudamos os processos celulares que envolvem a forma-


ção do dente e como se dá o surgimento dos cistos de origem odontogênica,
em especial, cistos odontogênicos do desenvolvimento. Vimos, também,
os principais tipos relatados, suas características radiográficas e clínicas
mais relevantes e como realizar alguns dos diagnósticos diferenciais mais
importantes no diagnóstico dessas lesões. Para finalizar, foram abordados
os métodos terapêuticos mais utilizados no âmbito dessas patologias, como
os processos de enucleação e marsupialização. Mais estudos são necessários
para entender com mais clareza quais são os mecanismos acionados para que
os cistos se desenvolvam, bem como se existem outros fatores intrínsecos ou
extrínsecos relacionados à sua evolução. O conhecimento desse tema é de
grande importância para profissionais de saúde envolvidos no atendimento
da saúde oral da população em geral, porque, com um diagnóstico precoce,
é possível promover mais qualidade de vida, evitando infecções e a perda de
elementos importantes para a mastigação e a estética.
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Referências
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Leituras recomendadas
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