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E MAXILOFACIAL
Cistos odontogênicos
do desenvolvimento
Camila Batista de Oliveira Silva Rossi
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Os cistos são descritos como estruturas ou cavidades preenchidas por material
líquido ou semissólido, com revestimento de células epiteliais e uma mem-
brana de tecido conjuntivo fibroso (BILODEAU; COLLINS, 2017). São encontrados
na região intraóssea da mandíbula e maxilares. Por isso, são comumente
diagnosticados de maneira acidental em exames radiográficos de rotina. De
maneira geral, apresentam características clínicas, radiográficas e histológicas
semelhantes, mas podem se diferenciar no seu comportamento biológico,
apresentando padrões de crescimento e malignidade distintos. Por isso, o
diagnóstico diferencial é necessário, para o tratamento e o manejo clínico
adequados a cada caso (JAAFARI-ASHKAVANDI; ASHRAF; ABBASPOORFARD, 2019).
Neste capítulo, você vai estudar os cistos odontogênicos de desenvolvi-
mento, as principais características, a etiopatogenia e o correto tratamento
para essas lesões.
2 Cistos odontogênicos do desenvolvimento
Cisto dentígero
O cisto do desenvolvimento mais frequente é o dentígero. Os dentes molares
são os mais afetados, principalmente os terceiros. É raro em dentes decíduos
(de leite). É comum em adultos e crianças e costuma se apresentar com fre-
quência até a terceira década de vida, além de ter crescimento mais rápido
em pacientes jovens (BILODEAU; COLLINS, 2017). Tem progressão silenciosa,
podendo ocupar parte considerável do seio maxilar, afinando as paredes
ósseas. Além disso, pode causar desbalanço da simetria facial, deslocamento
de dentes e reabsorção de raízes (THOMPSON, 2018).
A teoria mais aceita sobre sua etiopatogenia está relacionada ao acúmulo
de fluido entre o epitélio reduzido do esmalte e a coroa dental. Em exames
de radiografia, esses cistos são visualizados como estruturas radiolúcidas,
uniloculares, com bordas escleróticas, associadas a um dente impactado ou
parcialmente irrompido (SPEIGHT et al., 2017). Somente após a confirmação
mediante análise histopatológica e avaliação das demais características
clínicas, é possível distinguir o cisto dentígero de outras lesões importantes,
como folículos dentais aumentados, queratocistos, ameloblastoma tipo
unicístico e tumor odontogênico adenomatóide. Isso porque esses tipos de
patologias apresentam uma imagem radiográfica muito semelhante. Alguns
autores sugerem que, quando o espaço radiolúcido envolvendo a coroa for
menor do que 3 mm, pode se tratar de um caso de folículo aumentado. No
entanto, todo cuidado deve ser tomado, pois a imagem não basta para con-
firmação diagnóstica e pode também se tratar de um cisto ou um tumor em
estágio inicial (BILODEAU; COLLINS, 2017; THOMPSON, 2018).
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Outro diagnóstico diferencial que deve ser avaliado envolve o tumor odon-
togênico adenomatoide, que apresenta as mesmas características radiográ-
ficas, porém a imagem radiolúcida pode se estender até a região apical do
dente ou conter em seu interior opacidade (semelhante a flocos de neve). Isso
não ocorre quando há cisto dentígero (BILODEAU; COLLINS, 2017). Observe na
Figura 1 o exemplo de um exame mostrando um cisto do desenvolvimento
do tipo dentígero.
Cisto de erupção
O cisto de erupção é considerado um análogo do cisto dentígero, mas que
acomete os tecidos moles. Ocorre com mais frequência nos primeiros molares
permanentes ou incisivos superiores. É descrito como uma tumefação de
caráter mole que recobre a coroa dentária em pacientes pediátricos (menores
de 10 anos de idade). Resulta da separação do folículo dentário que envolve
a coroa de um dente em erupção presente nos tecidos moles (BILODEAU;
COLLINS, 2017).
É um cisto que pode acontecer mediante algum trauma na região oral, po-
dendo apresentar sangue em seu interior. Nesse caso, é chamado é hematoma
de erupção. Embora o diagnóstico costume ser clínico, histologicamente, é
composto por uma fina camada de células epiteliais não queratinizadas. Por
ser uma lesão cística simples, pode ser facilmente removida para promover
a erupção do dente envolvido. Às vezes, a intervenção não é necessária,
podendo ser naturalmente rompido durante o processo de erupção natural
(NEVILLE et al., 2016).
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Ceratocisto odontogênico
A etiologia do ceratocisto está associada à proliferação de remanescentes
epiteliais da lâmina dentária. É normalmente assintomático e descoberto
de maneira acidental, com quadros agudos de dor na presença de lesão
secundária. A localização mais comum é a região mandibular, acometendo
adultos de 25 a 35 anos, mas há relatos em populações mais velhas. Apresenta
crescimento lento e, quando diagnosticado de maneira tardia, provoca extensa
osteólise, isto é, destruição óssea.
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