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E MAXILOFACIAL
Cistos dos maxilares
de natureza não
odontogênica
Sabrina Moreira Paes
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
> Identificar a origem embriológica dos cistos não odontogênicos (de de-
senvolvimento e fissurais).
> Reconhecer as manobras semiotécnicas e os exames complementares
indicados.
> Definir as condutas terapêuticas recomendáveis para cistos não odon-
togênicos (de desenvolvimento e fissurais).
Introdução
O cisto é uma cavidade patológica revestida por epitélio e preenchida com
conteúdo fluido ou semifluido. Pode localizar-se em tecidos moles ou dentro do
osso maxilar, originando-se em tecidos odontogênicos ou não odontogênicos.
Os ossos maxilares têm predileção por cistos odontogênicos, enquanto cistos
não odontogênicos são incomuns.
Tanto os cistos odontogênicos quanto os não odontogênicos produzem
defeitos radiolúcidos, causando a destruição da estrutura óssea. É funda-
mental, portanto, entender o seu comportamento clínico e as estratégias
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nasolabial;
do ducto nasopalatino;
palatino mediano;
linfoepitelial oral;
palatino do recém-nascido;
dermoide.
Cistos nasolabiais
Os cistos nasolabiais advêm do desenvolvimento. Atualmente, existem duas
hipóteses para a patogênese desses cistos (BOUYA; SARFI; YAHYA, 2022):
Cistos dermoides
A etiologia dos cistos dermoides permanece, em grande parte, desconhe-
cida. De fato, a causa dessa anomalia congênita do desenvolvimento ainda não
foi determinada. Cistos dermoides são verdadeiros hamartomas, que ocorrem
quando a pele e as suas estruturas ficam presas durante o desenvolvimento
fetal. Assim, eles resultam de uma alteração que ocorre devido ao sequestro
anormal e à inclusão do ectoderma superficial ao longo das linhas de fusão
da pele durante o desenvolvimento embriológico (SANTOS et al., 2020). Devido
a essa anormalidade, um cisto dermoide geralmente pode ser encontrado
ao longo das suturas cranianas ou da fontanela anterior (LEE et al., 2018).
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No passado, havia uma lesão que era considerada um cisto não odon-
togênico dos maxilares: o cisto globulomaxilar. Essa denominação,
porém, tem ficado de lado, pois a localização globulomaxilar é muito improvável.
De fato, os cistos encontrados nessa região devem receber uma perspectiva
diagnóstica odontogênica como cisto radicular, queratocisto odontogênico ou
cisto periodontal lateral. Afinal, a região globulomaxilar (entre incisivo lateral
e canino) não é abrangida na sua totalidade quando os cistos estão presentes.
Portanto, a recomendação é que se investigue a qual dente o cisto está mais
associado, o que geralmente acontece nas apresentações clínicas.
A B
C D
E F
G H
I J
Figura 1. Características clínicas e achados histopatológicos dos principais cistos não odon-
togênicos. (a) Aspecto clínico do cisto nasolabial, que provoca o desaparecimento do sulco
vestibular em decorrência do aumento de volume. (b) Achado histopatológico do cisto nasola-
bial, com presença de células ciliadas e mucosas junto com um epitélio pseudoestratificado.
(c) Crescimento tecidual em região anterior de palato duro, apontando para cisto do ducto
nasopalatino. (d) achado histopatológico característico do cisto do ducto nasopalatino,
apontando para a presença de ácinos de glândulas mucosas e ducto excretor. (e) Caracte-
rística clínica do cisto palatino mediano, com aumento de volume no palato duro. (f) Achado
histopatológico do cisto palatino mediano, demonstrando um epitélio colunar ciliado pseu-
doestratificado. (g) Características clínicas de cisto linfoepitelial oral na região da língua,
demarcado por um aumento nodular esbranquiçado. (h) Achado histopatológico do cisto
linfoepitelial oral, com tecido linfoide difuso e epitélio pseudoestratificado. (i) Características
clínicas de cisto dermoide em assoalho bucal. (j) Achado histopatológico de cisto dermoide,
com epitélio pavimentoso estratificado queratinizado e glândulas sebáceas associadas.
Fonte: Adaptada de Neville et al. (2020), Almeida (2016), Rangaswamy, Singh e Yumnum (2018).
Cistos dos maxilares de natureza não odontogênica 7
Cistos nasolabiais
Os cistos nasolabiais são cistos de tecidos moles raros, não odontogênicos,
que se desenvolvem entre o lábio superior e o vestíbulo nasal, com incidência
global de 0,7% entre todos os cistos maxilofaciais. Medem de 1 a 5 cm de diâ-
metro e apresentam-se, predominantemente, como um aumento localizado
indolor com vários graus de obstrução nasal (ALMUTAIRI et al., 2020). Além
disso, não demonstram achados radiográficos.
Diversas modalidades de tratamento têm sido descritas no manejo do
cisto nasolabial (LEE et al., 2018). No Quadro 1, constam a epidemiologia,
as características clínicas, os achados histopatológicos, o tratamento e o
prognóstico dos cistos nasolabiais.
Fonte: Adaptado de Perez e Castle (2013), Uchoa-Vasconcelos et al. (2014), Narain (2015) e Lee
et al. (2018).
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Fonte: Adaptado de Mesquita et al. (2014), Uchoa-Vasconcelos et al. (2014), Barros et al. (2018),
Cavalcante et al. (2021) e Kaur et al. (2021).
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(Continuação)
Fonte: Adaptado de Queiroz et al. (2011), Bacci et al. (2011) e Franklin et al. (2021).
Fonte: Adaptado de Uchoa-Vasconcelos et al. (2014), Sykara et al. (2017), Joshi et al. (2018) e
Ansari et al. (2021).
Fonte: Adaptado de Uchoa-Vasconcelos et al. (2014), Diaz de Ortiz e Mendez (2021) e Kaul et al.
(2022).
Cistos dermoides
Os cistos dermoides são lesões de desenvolvimento, ou fissurais, como tam-
bém são conhecidos. Ocorrem em todo o corpo. Na cavidade oral, geralmente
estão localizados no assoalho anterior da boca na linha média. Acredita-se que
a causa das lesões no assoalho da boca seja o aprisionamento de desenvolvi-
mento de células multipotentes ou a implantação de epitélio (LEE et al., 2018).
As lesões são prevalentes em cabeça e pescoço, com uma variação de 1,6
a 6,9%, e são extremamente raras na cavidade oral, representando menos
de 0,01% de todos os cistos de cavidade. Ainda, não têm apresentação ra-
diográfica (LE et al., 2021).
O Quadro 6 exibe a epidemiologia, as características clínicas, os achados
histopatológicos, o tratamento e o prognóstico do cisto dermoide.
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Fonte: Adaptado de Uchoa-Vasconcelos et al. (2014), Lee et al. (2018) e Le et al. (2021).
cisto radicular;
abscesso periapical;
cisto do ducto nasopalatino;
tumores mesenquimais benignos;
tumores de glândulas salivares menores.
Referências
ALMEIDA, O. P. Patologia oral. São Paulo: Artes Médicas, 2016. (ABENO: Odontologia
Essencial: Parte Básica).
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Leituras recomendadas
BETTONI, C. H. et al. Cisto nasolabial: revisão da literatura e relato de caso clínico.
Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirugia Maxilofacial, v. 52,
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Eletrônica Interdisciplinar, v. 12, p. 155-159, 2020.