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CISTOS DO COMPLEXO ORAL E MAXILOFACIAL

Definição de Cistos:

a) É uma cavidade patológica;

b) Sempre tem revestimento epitelial;

c) Conteúdo líquido.

Sem epitélio, não é cisto. Pode até ser pseudocisto, mas nunca será cisto.

01. Qual a fonte do EPITÉLIO DOS CISTOS ORAIS?

R) São os remanescentes epiteliais de Malassez, que é o remanescente epitelial com maior


potencial proliferativo.

02. Como os cistos crescem?

R) O epitélio dos cistos é semi-permeável, o que significa que a água circula livremente; como
o interior do cisto tem maior concentração, a água vai entrando e o cisto vai crescendo.

03. Qual a característica radiográfica dos cistos?

R) O halo não é a característica da lesão cisto. Halo radiopaco indica apenas que o crescimento
é lento. O halo NÃO É PARTE da lesão cisto.

04. Qual o aspecto histológico do cisto?

R) O patologista verifica o epitélio e só será cisto se for ESTRATIFICADO PAVIMENTOSO.


Vamos estudar cistos odontogênicos (inflamatórios e de desenvolvimento) e cistos
não odontogênicos, que serão os seguintes:

I. CISTOS ODONTOGÊNICOS (CO):

I.a) CO inflamatórios (COI): (R-R-PD)

1) COI radicular

2) COI residual

3) COI paradental

I.b) CO de desenvolvimento (COD): (D-E-Q-PL)

1) COD dentígero

2) COD erupção

3) COD ortoqueratinizado

4) |COD periodontal lateral

II. CISTOS NÃO ODONTOGÊNICOS (CÑO):

1) CÑO nasoductopalatino

2) CÑO dermóide/paradermóide
I.a.1) COI RADICULAR:
É o mais comum. Tem como pressuposto NECROSE PULPAR.

Sem necrose pulpar, não há CISTO RADICULAR. O teste de vitalidade é


negativo. Logo, não vai ocorrer em dente que tenha tratamento de canal.

O mais comum é antes ter um GRANULOMA e depois um CISTO


RADICULAR, mas nem sempre isso ocorre, pois REMANESCENTES DE
MALASSEZ podem estar em G-0 (repouso) e sempre têm potencial regenerativo e
são capazes de divisão a partir do estímulo adequado.

Ocorrendo inflamação no periápice, há citocinas pró-inflamatórias e fatores


de crescimento.

A região mais afetada é a região anterior da maxila, sendo mais comum em


mulheres, entre as 3ª e 6ª décadas.

CISTO PERIAPICAL (CISTO RADICULAR; CISTO PERIODONTAL


APICAL)

O epitélio no ápice de um dente não vital presumivelmente pode ser estimulado pela
inflamação, formando um verdadeiro cisto revestido por epitélio, ou cisto periapical.
A origem do epitélio normalmente é um resíduo de Malassez.
COMO OS CISTOS CRESCEM?
Os cistos periapicais representam uma parede de tecido conjuntivo fibroso
revestido por epitélio com um lúmen contendo fluido e resíduos celulares.
Teoricamente, à medida que o epitélio descama no lúmen, o teor de proteína é
maior. O fluido entra no lúmen em uma tentativa para equalizar a pressão
osmótica, ocorrendo uma dilatação lenta. A maioria dos cistos periapicais cresce
lentamente e não atinge um tamanho grande.

O tecido inflamatório periapical que não é curetado no momento da remoção do


dente pode originar um cisto inflamatório chamado cisto periapical residual.
Com o tempo, muitos desses cistos exibem uma redução global de tamanho e a
resolução espontânea pode ocorrer pela falta de estímulo inflamatório permanente.

I.a.2) COI RESIDUAL:


É arredondado. Trata-se de sobras do COI-radicular.

A causa é uma IATROGÊNIA, quer dizer, houver uma extração dentária sem a
devida curetagem. O tecido inflamatório periapical que não é curetado no
momento da remoção do dente pode originar um cisto inflamatório chamado
cisto periapical residual.

I.a.3) COI paradental (bifurcação vestibular):


É a tal da “mochilinha”, comum em jovens e adultos jovens.

No tratamento, não precisa extrair o dente, basta retirar o cisto.

Há uma inflamação denominada PERICORONARITE.


Tratamento é a ULECTOMIA, quer dizer, apenas remover a mucosa em volta da
coroa.

---------- FIM DOS COIs ----------

I.b - CISTOS ODONTOGÊNICOS de DESENVOLVIMENTO

(COD)

Estudaremos 4 CODs (D-E-Q-PL): dentígero-erupção-queratinizado-periodontal lateral

I.b.1) COD dentígero;


I.b.2) COD de erupção (só tecidos moles);

I.b.3) COD queratinizado/ortoqueratinizado;

I.b.4) COD periodontal lateral (canino-1ºpm ou 1ºpm-2ºpm);

I.b.1) COD dentígero


O cisto dentígero é definido como um cisto que tem origem pela separação do folículo que
circunda a coroa de um dente não erupcionado. Este é o tipo mais comum de cisto odontogênico de
desenvolvimento, totalizando cerca de 20% de todos os cistos com revestimento epitelial nos ossos gnáticos.
O cisto dentígero envolve a coroa de um dente incluso e está aderido ao dente em sua junção
amelocementária. A patogênese desse cisto é incerta; entretanto, aparentemente se desenvolve a partir do
acúmulo de fluido entre o epitélio reduzido do esmalte e a coroa do dente.

CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS:

As características histopatológicas dos cistos dentígeros variam, dependendo se o cisto está


inflamado ou não. No cisto dentígero não inflamado, o tecido conjuntivo fibroso da parede cística é
organizado frouxamente e contém substâncias compostas de glicosaminoglicanos. Pequenas ilhas ou
cordões de restos epiteliais odontogênicos de aspecto inativo podem estar presentes na cápsula fibrosa.
Ocasionalmente, esses restos podem ser numerosos e, algumas vezes, os patologistas que não são
familiarizados com as lesões orais interpretam de maneira errada esse achado como um ameloblastoma. O
revestimento epitelial consiste em duas a quatro camadas de células achatadas não queratinizadas, e a
interface entre o epitélio e o tecido conjuntivo é plana.

No cisto dentígero inflamado, que é bastante comum, a parede fibrosa da cavidade cística possui
mais colágeno, apresentando uma variação de infiltrado de inflamatório crônico. A camada epitelial pode
demonstrar quantidade variável de hiperplasia com o desenvolvimento de cristas epiteliais e características
escamosas mais definidas (Fig. 15-7). Algumas vezes pode ser encontrada superfície queratinizada, contudo
essas modificações devem ser diferenciadas daquelas observadas no queracisto. Podem-se achar áreas
focais de células mucosas na camada epitelial do cisto dentígero (Fig. 15-8). É raro haver células colunares
ciliadas. Pequenos ninhos de células sebáceas podem ser notados raramente dentro da parede cística.
Acredita-se que essas células mucosas, ciliadas e sebáceas representem a multipotencialidade do
revestimento epitelial odontogênico em um cisto dentígero.

O exame macroscópico da parede de um cisto dentígero pode revelar uma ou muitas áreas de
espessamento na superfície do lúmen. Essas áreas devem ser examinadas microscopicamente para excluir a
presença de alteração neoplásica precoce.

Como uma delgada camada de epitélio reduzido do esmalte costuma revestir o folículo dentário
que envolve a coroa de um dente não erupcionado, pode ser difícil distinguir um pequeno cisto dentígero
de um folículo dentário normal ou aumentado com base apenas nos aspectos microscópicos. Mais uma
vez, essa distinção geralmente representa, em grande parte, um exercício acadêmico; a consideração mais
importante a ser feita é assegurar que a lesão não representa uma outra lesão (p.ex., um queratocisto ou um
ameloblastoma).

TRATAMENTO E PROGNÓSTICO

O tratamento mais comum para o cisto dentígero é a enucleação cuidadosa do cisto junto com a
remoção do dente não erupcionado. Se a erupção do dente acometido é considerada possível, então se
opta por deixar o dente na posição após a remoção parcial da parede cística. Alguns pacientes podem
necessitar de tratamento ortodôntico para auxiliar no processo de erupção do dente. Extensos cistos
dentígeros podem também ser tratados pela marsupialização. Esta técnica permite a descompressão do
cisto, que tem como resultado a redução do tamanho do defeito ósseo. O cisto pode ser removido em
momento posterior, em um procedimento cirúrgico menos extenso.

O prognóstico para a maior parte dos cistos dentígeros é excelente, e a recidiva é rara após a
remoção completa do cisto.

Entretanto, diversas complicações potenciais devem ser consideradas. Muito já foi descrito sobre a
possibilidade de o revestimento de um cisto dentígero sofrer transformação neoplásica para um
ameloblastoma. Embora sem dúvida isto possa acontecer, a frequência de tal transformação neoplásica é
baixa. Dificilmente, o carcinoma epidermoide pode surgir do revestimento do cisto dentígero (p. 651). É
provável que alguns carcinomas mucoepidermoides intraósseos (p. 457) se desenvolvam a partir das células
mucosas no revestimento de um cisto dentígero.

I.b.2) COD de erupção:

O cisto de erupção é um análogo, do tecido mole, do cisto dentígero. O cisto se desenvolve a partir
do resultado da separação do folículo dentário que envolve a coroa de um dente em erupção que está
recoberto pelos tecidos moles do osso alveolar sobrejacente.

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS:

O cisto de erupção aparece como um pequeno aumento de volume, muitas vezes translúcido na
mucosa gengival que se sobrepõe à coroa de um dente decíduo ou um dente permanente em estágio de
erupção.
A maioria dos exemplos é observada em crianças com menos de 10 anos de idade. Embora o cisto
possa ocorrer em qualquer dente em erupção, a lesão é mais comumente associada aos incisivos centrais
inferiores decíduos, aos primeiros molares permanentes e aos incisivos superiores decíduos.

Trauma na região pode resultar em uma considerável quantidade de sangue na cavidade cística, que
confere uma coloração de aspecto azulado a marrom-arroxeada. Tais lesões são, por vezes, referidas como
hematomas de erupção (Fig. 15-9).

CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS:

Cistos de erupção intactos raramente são enviados para o laboratório de patologia oral e maxilofacial
e a maioria dos exemplos consiste no teto cístico que foi removido para facilitar a erupção do dente.

Eles exibem o epitélio oral de superfície na porção superior.

A lâmina própria mostra infiltrado inflamatório variável.

A porção profunda do espécime, que representa o teto do cisto, mostra uma fina camada de epitélio
pavimentoso não queratinizado (Fig. 15-10).

TRATAMENTO E PROGNÓSTICO:

Pode não ser necessário tratamento, pois o cisto em geral se rompe de forma espontânea, permitindo
a erupção do dente. Se isto não acontecer, uma simples incisão no teto do cisto geralmente permite a
aceleração no processo de erupção do dente.

I.b.3) COD queratinizado/ortoqueratinizado:

A designação do cisto odontogênico ortoqueratinizado não significa um tipo específico de cisto


odontogênico, porém se refere apenas a um cisto odontogênico que microscopicamente possui um
revestimento epitelial ortoqueratinizado.

Apesar de essas lesões terem sido originalmente denominadas como a variante ortoqueratinizada do
queratocisto, é aceito que são entidades clínico-patológicas diferentes do queratocisto, que é mais comum e
devem ser colocados em uma categoria diferente.

Os cistos odontogênicos ortoqueratinizados representam de 7% a 17% de todos os cistos


queratinizantes dos ossos gnáticos.

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS:


Os cistos odontogênicos ortoqueratinizados ocorrem com predominância em adultos jovens e
mostram uma proporção de 2:1 entre homens e mulheres.

A lesão acomete mais frequentemente a mandíbula do que a maxila (proporção de 3:1), com uma
tendência maior de envolver as regiões posteriores dos ossos gnáticos.

Eles não possuem características clínicas e radiográficas que os diferenciem de outros cistos de
desenvolvimento ou inflamatórios.

A lesão em geral surge como uma radiolucidez unilocular, porém às vezes podem se apresentar
multilocular. Embora dois terços dos cistos odontogênicos ortoqueratinizados sejam encontrados em lesões
que aparentam clínica e radiologicamente representar um cisto dentígero; eles acometem com mais
frequência o terceiro molar inferior incluso (Figs. 15-20 e 15-21).

O tamanho pode variar de menos de 1 cm até lesões extensas maiores que 7 cm no seu maior
diâmetro.

CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS:

O revestimento cístico é composto por epitélio pavimentoso estratificado, que mostra uma superfície
ortoqueratinizada de espessura variada.

Os grânulos de querato-hialinos podem ser proeminentes na camada superficial do epitélio


subjacente à ortoqueratina.

O revestimento epitelial pode ser relativamente delgado, e não existe uma camada basal em paliçada
proeminente, característica do queratocisto (Fig. 15-22).

TRATAMENTO E PROGNÓSTICO:

A enucleação seguida de curetagem é o tratamento usual para os cistos odontogênicos


ortoqueratinizados. As recidivas raramente têm sido observadas, e a frequência relatada está em torno de
2%, o que contrasta com a taxa de recidiva de 30% ou mais associada aos queratocistos.

Foi sugerido que os cistos com uma superfície ortoqueratinizada podem apresentar um risco
levemente aumentado para transformação maligna, mas as evidências para esse fato são escassas.

Os cistos odontogênicos ortoqueratinizados não são normalmente associados à síndrome do


carcinoma nevoide basocelular.
A região posterior da mandíbula é muito ativa biologicamente, pois nessa região o epitélio é
mais ativo. Aliás, é onde se forma o último dente, por volta dos 13 anos de idade. É a região
mais ativa da odontogênese, com alto poder biológico. O pico de crescimento do ÂNGULO
DA MANDÍBULA ocorre aos 18 anos de idade. Em suma, é uma região especial. 90% das
vezes está relacionada ao 3º molar. Aparentemente, confunde-se com o CISTO DENTÍGERO,
mas é a patologia que os distingue. Mas o tratamento é exatamente o mesmo.

O epitélio produz ORTOQUERATINA. Não precisa fazer tratamento ENDODÔNTICO. Não


tem qualquer relação com a Síndrome de Gorlin-Goltz.

O tratamento é ENUCLEAÇÃO e CURETAGEM.

I.b.4) COD periodontal lateral (canino-1ºpm ou 1ºpm-2ºpm):

Sua origem parece ser a LÂMINA DENTÁRIA dos dentes decíduos.

Não ocorre na região dos molares, mas entre o canino e o 1º pré-molar ou entre os dois pré-
molares.

O dente está inteiro, não existe polpa morta. Mas pode ser confundido com o CISTO
DENTÍGERO (polpa morta). Por isso, para diferenciá-los basta realizar o “teste de vitalidade”. Inclusive a
LÂMINA DURA está íntegra.

Segundo Neville:

O cisto periodontal lateral é um tipo incomum de cisto odontogênico de desenvolvimento que ocorre
ao longo da superfície radicular lateral de um dente. Acredita-se que surja dos restos da lâmina dentária e
represente a contraparte intraóssea do cisto gengival do adulto. O cisto periodontal lateral é responsável por
menos de 2% de todos os cistos dos ossos gnáticos revestidos por epitélio.

No passado, o termo cisto periodontal lateral era usado para descrever qualquer cisto que se
desenvolvia ao longo da superfície radicular lateral, incluindo os cistos radiculares laterais (p. 119) e os
queratocistos (p. 636).

Contudo, o cisto periodontal lateral apresenta características clínicas e microscópicas distintivas que
o diferem de outras lesões que algumas vezes se desenvolvem na mesma localização.

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS:


O cisto periodontal lateral é mais frequentemente uma lesão assintomática que é detectada apenas
durante um exame radiográfico.

Ocorre com maior frequência em pacientes da quinta à sétima década de vida, raramente
acometendo pessoas com menos de 30 anos de idade.

Cerca de 75% a 80% dos casos ocorre na região de pré-molares, canino e incisivo lateral inferiores.
Os exemplos na maxila em geral também envolvem essa mesma região dentária (Fig. 15-36).

CISTOS NÃO-ODONTOGÊNICOS

I.) CñO ductonasopalatino:

Acredita-se que ele se origine de remanescentes do ducto nasopalatino, uma estrutura


embrionária que liga a cavidade nasal e oral na região do canal incisivo.

O cisto do ducto nasopalatino é o cisto não odontogênico mais comum da cavidade oral, ocorrendo
em cerca de 1% da população.

Na sétima semana de vida intrauterina, o palato em desenvolvimento consiste no palato primário, o


qual é formado pela fusão dos processos nasais medianos. Atrás do palato primário, o crescimento
descendente do septo nasal produz duas comunicações entre a cavidade nasal e oral, as coanas nasais
primitivas. A formação do palato secundário começa por volta da oitava semana de vida intrauterina, com o
crescimento descendente das partes médias dos processos maxilares (processos palatinos) localizando-se
de cada lado da língua.

Conforme a mandíbula se desenvolve e a língua desce, os processos palatinos crescem


horizontalmente, fusionando-se com o septo nasal na linha média e com o palato primário ao longo da sua
superfície anterior.

Dois trajetos persistem na linha média entre o palato primário e o secundário (os canais incisivos). Os
ductos nasopalatinos são estruturas epiteliais que também se formam por essa fusão e se encontram dentro
dos canais incisivos. Normalmente, tais ductos regridem nos humanos, mas podem deixar remanescentes
epiteliais nos canais incisivos.

Os canais incisivos começam no assoalho da cavidade nasal em cada lado do septo nasal, dirigindo-
se para baixo e para frente, saindo no osso palatino através de um forame comum na região da papila
incisiva. Além dos ductos nasopalatinos, esses canais contêm o nervo nasopalatino e os ramos
anastomosados da artéria palatina descendente e artéria esfenopalatina. Em alguns casos, dois pequenos
forames, levando os nervos nasopalatinos — os canais de Scarpa — são encontrados dentro do forame
incisivo.

Em alguns mamíferos, remanescentes dos ductos nasopalatinos permanecem visíveis e promovem a


comunicação entre a cavidade nasal e a oral. Em raras ocasiões, ductos nasopalatinos visíveis ou
parcialmente visíveis podem ser encontrados em humanos. Nos mamíferos, os ductos nasopalatinos
podem se comunicar com o órgão de Jacobson vômer-nasais, atuando como um órgão olfativo acessório.
Entretanto, em humanos, o órgão de Jacobson geralmente regride na vida intrauterina e se torna um
órgão vestigial.

Pesquisadores têm sugerido que o cisto do ducto nasopalatino possa surgir do epitélio do órgão de
Jacobson, porém isso parece pouco provável. Trauma, infecção do ducto e retenção de muco das glândulas
salivares menores adjacentes também já foram mencionados como possíveis fatores etiológicos.

Embora a patogênese dessa lesão ainda permaneça desconhecida, é provável que ela represente
uma degeneração cística espontânea de remanescentes do ducto nasopalatino.

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS:

O cisto do ducto nasopalatino pode se desenvolver praticamente em qualquer idade, porém é mais
comum entre a quarta e a sexta década de vida. Apesar de ser um cisto do “desenvolvimento”, o cisto do
ducto nasopalatino é raramente observado durante a primeira década de vida. A maioria dos estudos mostrou
uma predileção pelo gênero masculino.

Os sintomas mais comuns incluem tumefação da região anterior do palato, drenagem e dor (Fig. 1-
54). Às vezes, os pacientes relatam uma história longa desses sintomas, provavelmente devido à sua
natureza intermitente. Contudo, muitas lesões são assintomáticas, sendo identificadas em radiografias de
rotina. Em raros casos, um cisto grande pode produzir uma expansão “completamente” flutuante, envolvendo
a região anterior do palato e a mucosa alveolar.

As radiografias geralmente exibem uma lesão radiolúcida bem circunscrita próxima ou na linha média
da região anterior de maxila, entre os ápices dos incisivos centrais (Figs. 1-55 e 1-56). A reabsorção radicular
é raramente notada. A lesão em geral é redonda ou oval, com uma borda esclerótica. Alguns cistos podem ter
um formato de pêra invertida, possivelmente devido à resistência das raízes dos dentes adjacentes. Outros
casos podem exibir o formato clássico de coração, como resultado da sobreposição da espinha nasal ou pela
chanfradura causada pelo septo nasal.

CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS:

O epitélio de revestimento dos cistos do ducto nasopalatino é bastante variável (Figs. 1-58 e 1-59).
Pode ser constituído de:
•Epitélio pavimentoso estratificado

•Epitélio colunar pseudoestratificado

•Epitélio colunar simples

•Epitélio cúbico simples

Muitas vezes, mais de um tipo de epitélio é encontrado no mesmo cisto. O epitélio pavimentoso
estratificado é o mais comum, estando presente em 75% de todos os cistos. O epitélio colunar
pseudoestratificado tem sido observado com frequência que varia desde um terço até três quartos de todos
os casos. O epitélio cúbico simples e o epitélio colunar são mais raramente observados.

Células caliciformes e cílios podem ser encontrados em associação com o epitélio colunar. O tipo de
epitélio pode estar relacionado com a posição vertical do cisto dentro do canal incisivo.

Cistos que se desenvolvem mais superiormente no canal, próximos à cavidade nasal, tendem a
apresentar epitélio respiratório; enquanto aqueles localizados próximos à cavidade oral, em geral exibem
epitélio pavimentoso.

Os componentes da parede do cisto podem auxiliar no diagnóstico. Em virtude de o cisto do ducto


nasopalatino se originar do canal incisivo, nervos de tamanho moderado, arteríolas e veias são
frequentemente encontrados na parede do cisto (Fig. 1-60). Pequenas glândulas mucosas têm sido
observadas em um terço dos casos. Em alguns casos, podem ser encontradas pequenas ilhas de cartilagem
hialina. Uma resposta inflamatória é notada com frequência na parede cística e pode variar de leve a intensa.
Tal inflamação em geral é de natureza crônica e composta por linfócitos, plasmócitos e histiócitos. Algumas
vezes, células inflamatórias agudas (neutrófilos) podem ser observadas.

TRATAMENTO E PROGNÓSTICO:

Os cistos do ducto nasopalatino são tratados por enucleação cirúrgica.

A biopsia é recomendada porque não é possível diagnosticar a lesão pela radiografia, e existem
outras lesões benignas e malignas semelhantes ao cisto do ducto nasopalatino. O melhor acesso cirúrgico é
realizado com um retalho palatino rebatido após uma incisão ao longo da margem gengival lingual dos dentes
anteriores superiores. A recidiva é rara. Foi relatada transformação maligna em alguns casos escassos, mas
esta é uma complicação extremamente rara.
II.) CñO dermóide/epidermóide:

O cisto dermoide consiste em uma malformação cística do desenvolvimento incomum. Tal cisto é
revestido por epitélio semelhante à epiderme, e na parede, contém estruturas anexas da derme. Geralmente
é considerado uma forma cística benigna do teratoma.

Por definição, um teratoma verdadeiro é um tumor do desenvolvimento composto por tecidos


derivados de um ou mais folhetos germinativos: (1) ectoderma, (2) mesoderma e (3) endoderma. Acredita-se
que tais tumores se originem de células germinativas ou blastômeros totipotentes retidos, que podem produzir
derivados das três camadas germinativas.

Os cistos dermoides são mais simples na estrutura que os teratomas complexos ou cistos teratoides.
Embora não contenham tecido dos três folhetos germinativos, eles provavelmente representam uma forma
frustra de um teratoma.

Na cavidade oral podem ser observados cistos semelhantes revestidos por epitélio idêntico à
epiderme, porém anexos cutâneos não são observados na parede do cisto.

Tais lesões têm sido chamadas de cistos epidermoides e representam a menor expressão do
espectro do teratoma.

Esses cistos epidermoides intraorais não devem ser confundidos com a forma mais comum, cisto
epidermoide da pele (ver seção anterior neste capítulo), uma lesão não teratomatosa que se origina do
folículo piloso.

Uma vez que o espectro formado pelo cisto teratoide, cisto dermoide e cisto epidermoide representa
um defeito de desenvolvimento embrionário, essas lesões, algumas vezes, são chamadas coletivamente
de cistos disontogênicos.

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E RADIOGRÁFICAS:

Os cistos dermoides ocorrem com mais frequência na linha média do assoalho da boca (Fig. 1-68),
ainda que às vezes estejam deslocados lateralmente no assoalho bucal ou em outras localizações.

Quando o cisto se desenvolve abaixo do músculo gênio-hióideo, uma tumefação sublingual pode
deslocar a língua superiormente e causar dificuldades na deglutição, na fonação ou até na respiração. Os
cistos que surgem acima do músculo gênio-hioideo produzem, muitas vezes, uma tumefação submentoniana,
com aparência de “queixo duplo”.

CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS:
Os cistos dermoides são revestidos por epitélio pavimentoso estratificado ortoqueratinizado, com uma
camada granulosa proeminente. É comum encontrar abundante queratina no interior da luz do cisto. Em raras
ocasiões, pode-se ver áreas de epitélio respiratório. A parede cística é composta por tecido conjuntivo fibroso
que contém um ou mais anexos cutâneos, tais como glândulas sebáceas, folículos pilosos ou glândulas
sudoríparas (Fig. 1-69).

Os cistos dermóides da cavidade oral podem variar de alguns poucos milímetros até 12 cm de
diâmetro. São mais frequentes em crianças e adultos jovens; 15% dos casos relatados são de origem
congênita. Geralmente, a lesão cresce aos poucos sem provocar dor, se apresentando como uma massa
borrachoide ou pastosa, que em geral retém a marca dos dedos após pressão digital. Pode haver infecção
secundária, e a lesão pode drenar para o interior da cavidade oral ou para a pele. A fim de delinear a
extensão da lesão, IRM, TC ou radiografias com utilização de contraste podem ser úteis.

TRATAMENTO E PROGNÓSTICO:

Os cistos dermoides são tratados por remoção cirúrgica. Aqueles localizados abaixo do músculo gênio-
hioideo podem ser removidos por incisão intraoral, e os situados abaixo do músculo gênio-hióideo podem
necessitar de um acesso extraoral. A recidiva é incomum. São raros os relatos de transformação maligna em
carcinoma epidermoide.

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