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CAROLINA CHONG E SILVA-80122000154-T1A

AEPs M8

AEP HISTOLOGIA: língua e cavidade nasal

● Descrever o epitélio da superfície dorsal e ventral da língua


Os músculos da língua são tanto extrínsecos (com inserção fora da língua) quanto intrínsecos (confinados
inteiramente à língua, sem inserção externa). O músculo estriado da língua está disposto em feixes, que geralmente
seguem o seu percurso em três planos, cada um deles disposto em ângulos retos aos outros dois. Esse arranjo das
fibras musculares possibilita enorme flexibilidade e precisão para os movimentos da língua, que são essenciais para
a fala humana, bem como para o seu papel na digestão e na deglutição. Essa forma de organização muscular é
encontrada somente na língua, o que possibilita uma fácil identificação desse tecido como músculo da língua. Há
quantidades variáveis de tecido adiposo entre os grupos de fibras musculares.
Macroscopicamente, a superfície dorsal da língua é dividida em dois terços anteriores e em um terço posterior por
uma depressão em formato de V, denominada sulco terminal da língua (Figura 16.4). O ápice do V aponta para a
região posterior e constitui a localização do forame cego, o remanescente do ponto a partir do qual ocorreu uma
evaginação do assoalho da faringe embrionária para formar a glândula tireoide.

A língua é uma massa de músculo estriado esquelético revestida por uma camada mucosa cuja estrutura varia de
acordo com a região. As fibras musculares se entrecruzam em três planos; estão agrupadas em feixes, geralmente
separados por tecido conjuntivo. A camada mucosa está fortemente aderida à musculatura, porque o tecido
conjuntivo da lâmina própria penetra os espaços entre os feixes musculares. A superfície ventral (inferior) da língua
é lisa, enquanto a superfície dorsal é irregular, recoberta anteriormente por uma grande quantidade de eminências
pequenas, denominadas papilas. O terço posterior da superfície dorsal da língua é separado dos dois terços
anteriores por uma região em forma de “V”. Posteriormente a essa região, a superfície da língua apresenta
saliências compostas principalmente por dois tipos de agregados linfoides: pequenos grupos de nódulos e tonsilas
linguais, nas quais os nódulos linfoides se agregam ao redor de invaginações da camada mucosa, denominadas
criptas (Figura 15.2).

A tonsila lingual consiste em acúmulos de tecido linfóide na base da língua.


A tonsila lingual está localizada na lâmina própria da raiz ou base da língua. É encontrada posteriormente ao sulco
terminal (ver Figura 16.4). A tonsila lingual contém tecido linfóide difuso com nódulos linfáticos que apresentam
centros germinativos. Essas estruturas são discutidas no Capítulo 14, Sistema Imune e Órgãos e Tecidos Linfáticos.
Em geral, as criptas epiteliais invaginam-se na tonsila lingual. No entanto, pode ser difícil distinguir a estrutura do
epitélio, devido ao número extremamente grande de linfócitos que geralmente o invadem. Entre os nódulos, o
epitélio lingual exibe as características do epitélio de revestimento. As glândulas salivares linguais mucosas podem
ser observadas dentro da tonsila lingual e podem se estender até o músculo da base da língua.

O complexo suprimento nervoso da língua é fornecido pelos nervos cranianos e pelo sistema nervoso
autônomo.
•A sensibilidade geral para os dois terços anteriores da língua (anteriormente ao sulco terminal) é transmitida na
divisão mandibular do nervo trigêmeo (nervo craniano V). A sensibilidade geral para o terço posterior da língua é
transmitida no nervo glossofaríngeo (nervo craniano IX) e no nervo vago (nervo craniano X)
•A sensação do paladar é transmitida pela corda do tímpano, um ramo do nervo facial (nervo craniano VII)
localizado anteriormente ao sulco terminal da língua, e pelo nervo glossofaríngeo (nervo craniano IX) e nervo vago
(nervo craniano X) posteriormente ao sulco
•A inervação motora para a musculatura da língua é suprida pelo nervo hipoglosso (nervo craniano XII)
•A inervação vascular e glandular é fornecida pelos nervos simpáticos e parassimpáticos. Esses nervos suprem os
vasos sanguíneos e as pequenas glândulas salivares da língua. Com frequência, são observadas células ganglionares
dentro da língua. Essas células pertencem aos neurônios parassimpáticos pós-sinápticos e são destinadas às
glândulas salivares menores dentro da língua. Os corpos celulares dos neurônios simpáticos pós-sinápticos estão
localizados no gânglio cervical superior.

● Descrever os tipos de papilas linguais e citar sua constituição


A superfície dorsal da língua é coberta por papilas.
Numerosas irregularidades e elevações da mucosa, denominadas papilas linguais, cobrem a superfície dorsal da
língua na porção anterior ao sulco terminal da língua. As papilas linguais e seus botões gustativos associados
constituem a mucosa especializada da cavidade oral. São descritos quatro tipos de papilas: as papilas filiformes,
fungiformes, circunvaladas e folhadas:
•As papilas filiformes são as menores e as mais numerosas nos seres humanos. São projeções cônicas e alongadas
de tecido conjuntivo, que são recobertas por epitélio estratificado pavimentoso altamente queratinizado (Figura
16.5A e Prancha 49, página 598). Esse epitélio é desprovido de botões gustativos. As papilas desempenham apenas
um papel mecânico. As papilas filiformes estão distribuídas por toda a superfície dorsal anterior da língua, com
suas extremidades apontando para trás. Formam fileiras que divergem para a esquerda e para a direita a partir da
linha média e que seguem um curso paralelo aos braços do sulco terminal da língua
•As papilas fungiformes, como o próprio nome indica, são projeções em formato de cogumelo, localizadas na
superfície dorsal da língua (Figura 16.5B). Projetam-se acima das papilas filiformes, entre as quais estão dispersas,
e são visíveis a olho nu apenas como pequenos pontos (ver Figura 16.4 e Prancha 50, página 600). As papilas
fungiformes tendem a ser mais numerosas nas proximidades da ponta da língua. Os botões gustativos são
encontrados no epitélio estratificado pavimentoso da superfície dorsal dessas papilas
•As papilas circunvaladas são estruturas grandes em formato de cúpula que são encontradas na mucosa,
imediatamente anterior ao sulco terminal da língua (ver Figura 16.4). A língua humana contém 8 a 12 dessas
papilas. Cada papila é circundada por uma invaginação semelhante a uma vala revestida por epitélio estratificado
pavimentoso, que contém numerosos botões gustativos (Figura 16.5D). Os ductos das glândulas salivares linguais
(de von Ebner) liberam suas secreções serosas na base das valas. Essa secreção presumivelmente elimina o material
da vala para possibilitar que os botões gustativos respondam rapidamente a mudanças de estímulos
•As papilas folhadas consistem em cristas baixas paralelas, intercaladas por fendas mucosas profundas (Figura
16.5C e Prancha 50, página 600), que estão alinhadas em ângulos retos ao eixo longo da língua. Ocorrem na
margem lateral da língua. Nos indivíduos mais velhos, as papilas folhadas podem não ser identificadas; nos
indivíduos mais jovens, são facilmente encontradas na superfície lateral posterior da língua e contêm numerosos
botões gustativos no epitélio das paredes das papilas vizinhas (ver Figura 16.4). Pequenas glândulas serosas
desembocam dentro das fendas. Em alguns animais, como o coelho, as papilas folhadas constituem o principal local
de agregação dos botões gustativos.
A superfície dorsal da base da língua exibe protuberâncias lisas, que refletem a existência de tonsila lingual na
lâmina própria (ver Figura 16.4).

● Ilustrar um botão gustativo e citar seus constituintes


Os botões gustativos são encontrados nas papilas fungiformes, folhadas e circunvaladas.
Em cortes histológicos, os botões gustativos são vistos como corpúsculos ovais de coloração pálida, que se
estendem pela espessura do epitélio (Figura 16.6). Uma pequena abertura na superfície epitelial no ápice do botão
gustativo é denominada poro gustativo.
São encontrados três tipos principais de células nos botões gustativos:
•As células neuroepiteliais (sensitivas) são as células mais numerosas no botão gustativo. Essas células alongadas
estendem-se a partir da lâmina basal do epitélio até o poro gustativo, através do qual a superfície apical afunilada de
cada célula emite microvilosidades (ver Figura 16.6). Próximo de sua superfície apical, essas células estão
conectadas com células neuroepiteliais ou células de sustentação unidas por zônulas de oclusão. Em sua base,
formam uma sinapse com os prolongamentos de neurônios sensitivos aferentes dos nervos facial (nervo craniano
VII), glossofaríngeo (nervo craniano IX) ou vago (nervo craniano X). O tempo de renovação das células
neuroepiteliais é de cerca de 10 dias
•As células de sustentação são menos numerosas. São também células alongadas que se estendem a partir da
lâmina basal até o poro gustativo. Assim como as células neuroepiteliais, as células de sustentação apresentam
microvilosidades em sua superfície apical e zônulas de oclusão, mas não fazem sinapse com outras células
nervosas. O tempo de renovação das células de sustentação também é de aproximadamente 10 dias
•As células basais são pequenas células localizadas na porção basal do botão gustativo, próximo da lâmina basal.
São as células-tronco para os outros dois tipos de células.

Além daqueles associados às papilas, os botões gustativos também são encontrados no arco palatoglosso, no
palato mole, na superfície posterior da epiglote e na parede posterior da faringe até o nível da cartilagem cricóidea.
O paladar é uma sensação química, na qual diversas substâncias químicas desencadeiam estímulos das células
neuroepiteliais dos botões gustativos.
O paladar caracteriza-se por uma sensação química em que vários saborizantes (substâncias estimuladoras do
paladar) contidos no alimento ou em bebidas interagem com os receptores gustativos localizados na superfície
apical das células neuroepiteliais. Essas células reagem a cinco estímulos básicos: doce, salgado, amargo, azedo e
umami. A ação molecular dos saborizantes pode envolver a abertura e a passagem através de canais iônicos (i. e.,
salgado e azedo), o fechamento dos canais iônicos (azedo) ou a ação sobre um receptor gustativo específico
acoplado à proteína G (i. e., amargo, doce e umami).
A estimulação dos receptores de sabor amargo, doce e umami ativa receptores gustativos acoplados à proteína G
que pertencem às famílias dos receptores quimiossensitivos T1R e T2R.
Os sabores amargo, doce e umami são detectados por uma variedade de proteínas receptoras codificadas por dois
genes dos receptores gustativos (T1R e T2R). Seus produtos são caracterizados como receptores gustativos
acoplados à proteína G:
•O sabor amargo é detectado por cerca de 30 tipos diferentes de receptores quimiossensoriais T2R. Cada receptor
representa uma única proteína transmembrana acoplada à sua própria proteína G. Após a ativação do receptor pelo
saborizante, a proteína G estimula a enzima fosfolipase C, levando à produção intracelular aumentada de inositol
1,4,5-trifosfato (IP3; do inglês, inositol 1,4,5-trisphosphate), uma molécula de segundo mensageiro. Por sua vez, o
IP3 ativa canais de Na+ específicos do paladar, causando o influxo de íons Na+, com consequente despolarização
da célula neuroepitelial. A despolarização da membrana plasmática provoca a abertura dos canais de Ca2+
regulados por voltagem nas células neuroepiteliais. Um aumento dos níveis intracelulares de Ca2+, seja pelo
influxo de Ca2+ extracelular para dentro da célula (o efeito da despolarização), seja por sua liberação das reservas
intracelulares (estimulação direta pelo IP3), resulta na liberação de moléculas de neurotransmissores, que geram
impulsos nervosos ao longo da fibra nervosa aferente gustativa (Figura 16.7A)

● Descrever o epitélio da mucosa nasal em suas diferentes porções


CAVIDADES NASAIS
As cavidades nasais são formadas por um par de câmaras entremeadas por um septo nasal ósseo e cartilaginoso;
são espaços alongados com uma base larga que repousa sobre o palato duro e o palato mole. Seu ápice é estreito e
aponta em direção à fossa anterior do crânio. O arcabouço esquelético das cavidades nasais é formado por ossos e
cartilagens; a maioria desse arcabouço é localizada no crânio, exceto por uma pequena região anterior que está
contida na parte externa do nariz. Cada cavidade ou câmara comunica-se por sua porção anterior com o ambiente
externo por meio das narinas anteriores; posteriormente, com a parte nasal da faringe por meio dos cóanos; e
lateralmente com os seios paranasais e o ducto lacrimonasal, que drena as lágrimas dos olhos para a cavidade nasal
(Figura 19.2). As câmaras são divididas em três regiões:
•Vestíbulo do nariz, um espaço dilatado da cavidade nasal, imediatamente dentro das narinas e revestido por pele
•Região respiratória, a maior parte (os dois terços inferiores) das cavidades nasais e é revestida por mucosa
respiratória
Vestíbulo do nariz
O vestíbulo do nariz faz parte da parte externa do nariz e comunica-se, anteriormente, com o ambiente externo. É
revestido por epitélio estratificado pavimentoso, uma continuação da pele da face, e contém um número variável de
vibrissas, que aprisionam materiais particulados antes que sejam transportados na corrente de ar para o restante da
cavidade. Observa-se também a existência de glândulas sebáceas, cujas secreções ajudam no aprisionamento do
material particulado. Posteriormente, onde o vestíbulo termina, o epitélio estratificado pavimentoso torna-se mais
fino e sofre uma transição para o epitélio pseudoestratificado, que caracteriza a região respiratória. Nesse local, não
há glândulas sebáceas.

● Diferenciar epitélio respiratório X epitélio olfatório


Região respiratória da cavidade nasal
A região respiratória constitui a maior parte do volume das cavidades nasais. É revestida pela mucosa respiratória,
que contém um epitélio pseudoestratificado colunar ciliado em sua superfície. A área de superfície da mucosa
respiratória é de aproximadamente 100 a 200 cm2. A lâmina própria subjacente está firmemente aderida ao
periósteo e ao pericôndrio do osso ou da cartilagem adjacente.
A parede medial da região respiratória, o septo nasal, é lisa, mas as paredes laterais são pregueadas devido à
existência de três (em raros casos, quatro) projeções ósseas semelhantes a prateleiras, denominadas conchas. Estas
dividem cada cavidade nasal em câmaras de ar separadas e têm dupla função: aumentam a área de superfície e
provocam turbulência no fluxo de ar e, assim, possibilitam o condicionamento mais eficiente do ar inspirado.
O epitélio ciliado colunar pseudoestratificado da mucosa respiratória é composto por cinco tipos de células:
•Células ciliadas, que são células colunares altas com cílios que se projetam no muco que cobre a superfície do
epitélio. Elas são as células mais abundantes (até 70%) no epitélio
•Células caliciformes, que sintetizam e secretam muco; elas representam 5 a 15% de todas as células no epitélio
•Células em escova, um termo geral para descrever as células no sistema respiratório que apresentam
microvilosidades arredondadas e curtas; representam as células receptoras quimiossensitivas e estão intimamente
conectadas às fibras nervosas sensitivas
•Células de grânulos pequenos (células de Kulchitsky), que se assemelham às células basais, mas que contêm
grânulos secretores; são células endócrinas do sistema neuroendócrino difuso (SNED) (ver Capítulo 17, Boxe 17.4)
•Células basais, que se apoiam na membrana basal e não têm contato com a superfície epitelial; são células-tronco a
partir das quais se originam outros tipos de células.
O epitélio da região respiratória da cavidade nasal é essencialmente igual ao epitélio que reveste a maioria das
partes do sistema condutor. Como o epitélio respiratório da traqueia é estudado e examinado em relação ao da
cavidade nasal, os tipos celulares citados anteriormente serão discutidos no tópico referente à traqueia (página 711).
A mucosa da região respiratória aquece, umedece e filtra o ar inspirado; também contém células que produzem
uma resposta imune local contra antígenos estranhos inalados.
A lâmina própria da mucosa respiratória contém uma rica rede vascular, que inclui um conjunto complexo de alças
capilares. O arranjo dos vasos possibilita o aquecimento pelo sangue do ar inalado que flui através da parte da alça
mais próxima da superfície. Os capilares localizados próximo à superfície estão dispostos em fileiras; o sangue flui
perpendicularmente ao fluxo de ar, de maneira semelhante ao que pode ser encontrado em um sistema mecânico de
troca de calor. Esses mesmos vasos podem se tornar ingurgitados e permeáveis durante reações alérgicas ou
infecções virais, como o resfriado comum. A lâmina própria torna-se então distendida pelo líquido, resultando em
acentuado intumescimento da mucosa, com consequente restrição da passagem de ar, o que promove dificuldade na
respiração.
A lâmina própria também contém glândulas mucosas, muitas das quais exibem meias-luas serosas. Essas
glândulas têm ductos que se abrem em pequenas criptas na superfície epitelial. Os ductos são revestidos por duas
camadas de epitélio cuboide estratificado. Suas secreções suplementam as das células caliciformes no epitélio
respiratório.
Por aumentarem a área de superfície, as conchas aumentam a eficiência com que o ar inspirado é aquecido. As
conchas também aumentam a eficiência de filtração do ar inspirado por um processo de precipitação por
turbulência. A corrente de ar é dividida em turbilhões pelas conchas nasais. Partículas suspensas na corrente de ar
são retiradas da corrente e aderem à parede da cavidade nasal revestida por muco. As partículas aprisionadas nessa
camada de muco são transportadas até a faringe por meio de movimentos de varredura coordenados dos cílios e, em
seguida, são deglutidas. Elas também são vigorosamente removidas da cavidade nasal por espirros. O reflexo do
espirro é, em geral, provocado por partículas de material estranho retidas no muco da cavidade nasal. Essas
partículas estimulam receptores sensitivos que transmitem impulsos para o centro do espirro no bulbo. Primeiro,
uma inspiração rápida enche os pulmões com ar; então, as pregas (cordas) vocais, as pregas vestibulares e a
epiglote da laringe se fecham, de modo a reter o ar inspirado nos pulmões. Isso é seguido por contração súbita e
vigorosa do diafragma e de outros músculos respiratórios acessórios com aumento adicional da pressão nos
pulmões. Quando pressão suficientemente alta for atingida, as pregas vocais, as pregas vestibulares e a epiglote se
abrem abruptamente e o ar é expelido rapidamente dos pulmões através do nariz. Gotículas de líquido e partículas
estranhas são projetadas do nariz em uma velocidade de aproximadamente 50 m/s (180 km/h).
A mucosa respiratória da cavidade nasal também contém células envolvidas na imunidade de mucosa, Essas
células são representadas por várias populações de linfócitos localizadas no epitélio respiratório e na lâmina
própria. A maioria das células encontradas nessas regiões consiste em linfócitos T gama/delta que expressam
receptor de linfócitos T (TCR), que têm participação importante na imunidade local contra antígenos estranhos
inalados (ver Capítulo 14, Sistema Imune e Órgãos e Tecidos Linfáticos). Na lâmina própria, também são
encontrados acúmulos de outros tipos de células, tais como linfócitos T auxiliares, linfócitos T reguladores
(supressores), linfócitos B, neutrófilos, macrófagos e mastócitos.

Região olfatória da cavidade nasal


A região olfatória está localizada em parte da cúpula de cada cavidade nasal e, em grau variável, nas paredes
nasais lateral e medial contíguas. Essa região é revestida por mucosa olfatória especializada. No tecido vivo, essa
mucosa caracteriza-se pela sua ligeira coloração castanho-amarelada causada pelo pigmento do epitélio olfatório e
glândulas olfatórias associadas. Nos seres humanos, a área de superfície total da mucosa olfatória é de apenas cerca
de 10 cm2; nos animais com sentido agudo do olfato, a área de superfície total da mucosa olfatória é
consideravelmente mais extensa. Por exemplo, a área de superfície total da mucosa olfatória em certas espécies de
cães é superior a 150 cm2.
A lâmina própria da mucosa olfatória é
diretamente contígua com o periósteo do osso
subjacente (Prancha 69, página 730). Esse
tecido conjuntivo contém numerosos vasos
sanguíneos e linfáticos, nervos olfatórios não
mielinizados, nervos mielinizados e glândulas
olfatórias.
O epitélio olfatório, assim como o epitélio da
região respiratória, também é
pseudoestratificado, mas contém tipos de
células muito diferentes. Além disso, carecem
de células caliciformes (Figura 19.3 e Prancha
69, página 730).
O epitélio olfatório é formado pelos seguintes
tipos de células:
•As células receptoras olfatórias são neurônios olfatórios bipolares, que se estendem pela espessura do epitélio e
entram no sistema nervoso central
•As células de sustentação (sustentaculares) são colunares e semelhantes às células neurogliais e fornecem suporte
mecânico e metabólico às células receptoras olfatórias. Sintetizam e secretam proteínas de ligação de odores
•As células basais são células-tronco a partir das quais se diferenciam novas células receptoras olfatórias e células
de sustentação
•As células em escova são o mesmo tipo celular que ocorre no epitélio respiratório.
As células receptoras olfatórias são neurônios bipolares que apresentam projeção apical com cílios.
O domínio apical de cada célula receptora olfatória apresenta um único prolongamento dendrítico, que se projeta
acima da superfície epitelial como uma estrutura semelhante a uma maçaneta, denominado vesícula olfatória.
Vários cílios finos e longos (10 a 23) com corpúsculos basais típicos originam-se da vesícula olfatória e
estendem-se radialmente, em um plano paralelo à superfície epitelial (ver Figura 19.3). Os cílios costumam ter 200
μm de comprimento e podem sobrepor-se aos cílios das células receptoras olfatórias adjacentes. Esses cílios são
considerados imóveis; algumas pesquisas, no entanto, sugerem que eles podem apresentar motilidade limitada. O
domínio basal da célula dá origem a um prolongamento axônico não mielinizado, que deixa o compartimento
epitelial. Coleções de axônios das células receptoras olfatórias não se reúnem em um único nervo; em vez disso,
agrupam-se em feixes que atravessam a lâmina cribriforme delgada do etmoide, seguem o seu trajeto através da
dura-máter e da aracnoide-máter e, por fim, são circundados pela pia-máter, entrando no bulbo olfatório do cérebro.
As coleções de axônios das células receptoras olfatórias formam o nervo olfatório (nervo craniano I). Os axônios
olfatórios são muito frágeis e podem ser danificados durante um traumatismo cranioencefálico. Podem ser
permanentemente rompidos, resultando em anosmia (perda da olfação).

AEP - HISTOLOGIA DO OLHO


Descrever a organização estrutural, tamanho e função do olho humano
O olho é um órgão sensitivo complexo, responsável pelo sentido da visão. De muitas maneiras, assemelha-se a
uma câmera digital. Assim como o sistema óptico de uma câmera, a córnea e o cristalino (lente, segundo a
Terminologia Anatômica [TA]) capturam a luz e focalizam-na automaticamente, enquanto a íris ajusta, também de
maneira automática, o diâmetro da pupila às diferenças na iluminação. O detector de luz de uma câmera digital, o
dispositivo de carga acoplada (CCD; do inglês, charge-coupled device), é composto de fotodiodos muito próximos
que capturam, coletam e convertem a imagem luminosa em uma série de impulsos elétricos. Do mesmo modo, as
células fotorreceptoras na retina detectam a
intensidade da luz e a cor (comprimentos de
onda de luz visível, refletidos por diferentes
objetos) e codificam esses parâmetros em
impulsos elétricos, que são transmitidos ao
encéfalo pelo nervo óptico. Além daquelas de
um CCD, a retina também tem outras
capacidades: ela é capaz de extrair e modificar
impulsos específicos da imagem visual, antes
de enviá-los ao sistema nervoso central (SNC).
Em suma, o sistema óptico do olho é muito
mais elaborado e complexo que uma câmera.
Por exemplo, o olho consegue acompanhar
objetos móveis, graças a seus movimentos
coordenados. Além disso, o olho também protege, mantém, autorrepara e limpa seu sistema óptico transparente.
Por se tratar de estruturas pares e separadas no espaço, os olhos enviam ao encéfalo duas imagens discretamente
diferentes e superpostas (campos visuais). O encéfalo, então, integra essas duas imagens diferentes, provenientes de
cada olho, em uma imagem tridimensional (3D) única, por meio de um processo denominado estereopsia. O córtex
visual primário, localizado nos lobos occipitais, processa as diferenças entre as duas imagens, a fim de criar a
percepção de profundidade. Em seguida, a imagem final é projetada para o córtex visual. Além disso, outros
mecanismos neurais complexos coordenam os movimentos oculares, possibilitando aprimoramentos na percepção
da profundidade e da distância. Portanto, nossa percepção do mundo ao redor depende muito de impulsos
processados na retina, e da análise e interpretação desses impulsos pelo SNC.
O olho tem diâmetro aproximado de 25 mm. Seis músculos extrínsecos, que controlam seu movimento, o mantêm
suspenso na cavidade orbital óssea. Durante sua movimentação nessa órbita, uma camada espessa de tecido adiposo
envolve parcialmente o olho e também o protege. Os músculos extraoculares são coordenados de maneira que o
movimento dos olhos seja simétrico ao redor dos próprios eixos centrais.

Discutir como a idade afeta os olhos


O envelhecimento causa a perda gradual da elasticidade e da capacidade de acomodação do cristalino. Essa
condição, conhecida como presbiopia, geralmente ocorre na quarta década de vida. Ela é corrigida com facilidade
com o uso de óculos de leitura ou lupa.
A perda de transparência do cristalino ou de sua cápsula também é uma condição relativamente comum, associada
ao envelhecimento. Essa condição, denominada catarata, pode ser causada por alterações da conformação ou por
ligação cruzada das proteínas. O surgimento da catarata também pode estar relacionado com processos mórbidos,
condições metabólicas ou hereditárias, traumatismo ou exposição a um agente nocivo (como a radiação
ultravioleta). Em geral, a catarata que causa prejuízo significativo para a visão pode ser corrigida, cirurgicamente,
por retirada do cristalino e substituição por uma lente de plástico implantada na câmara posterior.

Identificar e descrever a estrutura microscópica da córnea


No seu sexto anterior, a túnica fibrosa é transparente e recebe o nome de córnea. Em um corte transversal da
córnea, distinguem-se cinco regiões: epitélio anterior, membrana de Bowman, estroma, membrana de Descemet e
epitélio posterior ou endotélio. Algumas dessas regiões estão apresentadas na Figura 23.4. O epitélio corneano
anterior é estratificado pavimentoso não queratinizado, constituído por cinco a seis camadas celulares. Ele contém
numerosas terminações nervosas livres, o que explica a grande sensibilidade da córnea. Habitualmente, são
observadas mitoses na camada basal do epitélio, que é dotado de
elevada capacidade de regeneração - em 7 dias, todas as células
do epitélio anterior da córnea são renovadas. As células mais
superficiais desse epitélio apresentam microvilos e micropregas
mergulhados em um fluido protetor que contém lipídios e
glicoproteínas.
Abaixo do epitélio e de sua membrana basal, observa-se uma
camada homogênea e relativamente espessa (7 a 12 μm),
constituída por delgadas fibras colágenas cruzadas em todas as
direções, a membrana de Bowman (ver Figura 23.4). Este é um
componente de grande resistência, que contribui para reforçar a
estrutura da córnea.
O estroma da córnea situa-se no interior dessa estrutura; é
avascular e apresenta-se constituído por múltiplas camadas de
fibras colágenas (ver Figura 23.4), cada uma com fibras
orientadas paralelamente entre si. De uma camada para outra,
porém, a direção das fibras é diferente, formando vários ângulos.
Frequentemente, algumas fibras passam de uma camada para outra, mantendo-as firmemente unidas. Entre as
várias camadas de fibras colágenas, encontram-se fibroblastos. O conjunto de células e fibras encontra-se imerso
em uma substância fundamental gelatinosa, constituída por um complexo que contém glicoproteínas e condroitim
sulfato, e que, após certas colorações, apresenta-se metacromático. Observam-se também, com frequência,
leucócitos, principalmente linfócitos, migrando no estroma corneano. A membrana de Descemet, que delimita
internamente o estroma, é uma camada com 5 a 10 μm de espessura, constituída de fibrilas colágenas organizadas
como uma rede tridimensional. O epitélio posterior, também chamado de endotélio da córnea, é do tipo
pavimentoso simples.

Descrever a estrutura microscópica e funcional da íris


A íris é um prolongamento da coroide que cobre parte do cristalino (ver Figuras 23.6 e 23.9) e tem um orifício
circular central, a pupila (ver Figura 23.1). Sua superfície anterior é irregular, com fendas e elevações, ao contrário
da superfície posterior, que é lisa.
A face anterior da íris é revestida por epitélio pavimentoso simples, continuação do endotélio da córnea. Segue-se
um tecido conjuntivo pouco vascularizado, com poucas fibras e grande quantidade de fibroblastos e células
pigmentares, seguido, por sua vez, de uma camada rica em vasos sanguíneos, imersos em um tecido conjuntivo
frouxo (ver Figuras 23.6 e 23.8). A íris é coberta, na sua superfície posterior, pela mesma camada epitelial dupla
que recobre o corpo ciliar e seus processos. Nessa região, entretanto, a camada com melanina é mais rica. A
abundância de células com melanina em várias porções do olho tem como função principal impedir a entrada de
raios luminosos, exceto os que atravessam a íris e formam a imagem na retina. Dessa maneira, o globo ocular se
comporta como uma câmara escura.
Os melanócitos da íris influenciam a cor dos olhos (na realidade, a cor da íris). Quando a pessoa tem poucas
células pigmentares na íris, a luz refletida aparece como azul, devido à absorção do seu componente vermelho
durante o trajeto iridiano. À medida que maiores quantidades de melanina se acumulam no trajeto, a cor da íris vai
passando a cinza, a verde e a castanho. Em albinos não há melanina, e a cor rósea é devida à reflexão da luz pelos
vasos sanguíneos da íris.

Descrever os músculos da íris e indicar seu suprimento nervoso


Na sua espessura, a íris tem feixes de fibras musculares lisas que se originam do músculo ciliar e prosseguem em
direção radial para as bordas da pupila. Um pouco antes de alcançá-la, esses feixes se bifurcam, formando um Y de
haste alongada. Os ramos dessa bifurcação se entrelaçam, formando um anel muscular com fibras circulares, ao
qual se deu o nome de esfíncter da pupila. As hastes alongadas do Y formam o músculo dilatador da pupila, que
tem uma ação oposta à do esfíncter. Este tem inervação parassimpática, e o dilatador da pupila é inervado pelo
simpático.

Descrever a estrutura do corpo ciliar


O corpo ciliar é uma dilatação da coroide
na altura do cristalino. Tem o aspecto de
um anel espesso, contínuo, revestindo a
superfície interna da esclera. Em um corte
transversal (ver Figura 23.1), é visto como
um triângulo, em que uma das faces está
voltada para o corpo vítreo; a outra, para a
esclera; e a terceira, para o cristalino e
para a câmara posterior do olho. Esta
última face apresenta contornos
irregulares com pregas salientes, que
recebem o nome de processos ciliares (Figuras 23.5 e 23.6).

Explicar a estrutura do músculo ciliar e indicar sua função


O componente básico dessa região é tecido conjuntivo (rico em fibras elásticas, células pigmentares e capilares
fenestrados), no interior do qual se encontra o músculo ciliar (ver Figura 23.2). Esse músculo é constituído por três
feixes de fibras musculares lisas, que se inserem, de um lado, na esclera e, do outro, em diferentes regiões do corpo
ciliar. Um desses feixes tem a função de distender a coroide, enquanto o outro, quando contraído, relaxa a tensão do
cristalino. Essas contrações musculares são importantes no mecanismo de acomodação visual para focalizar objetos
situados em diferentes distâncias, pela alteração da curvatura do cristalino.

Identificar e descrever a estrutura dos processos ciliares e indicar sua função


As duas faces do corpo ciliar – uma que está de frente para o corpo vítreo e outra que está de frente para o
cristalino e para a câmara posterior – são revestidas por um prolongamento da retina, o qual é constituído por duas
camadas celulares, uma que se liga ao corpo ciliar e outra que cobre a primeira camada. A camada diretamente
aderente ao corpo ciliar é formada por células colunares ricas em melanina e corresponde à projeção anterior da
camada pigmentar da retina. A segunda camada, que cobre a primeira, é derivada da camada sensorial da retina e é
formada por epitélio simples colunar.
Os processos ciliares são extensões de uma das faces do corpo ciliar.
São formados por um eixo conjuntivo recoberto por camada dupla de
células epiteliais (Figuras 23.7 e 23.8). A camada externa, sem
pigmento, recebe o nome de epitélio ciliar, e a camada interna é
constituída por células com melanina.

Descrever os tipos de epitélio dos processos ciliares


A camada externa, ou epitélio ciliar, apresenta, ao microscópio
eletrônico, grande número de invaginações da porção basal da
membrana celular. Essa disposição é característica de epitélios que
transportam íons e água (ver Capítulo 4, Tecido Epitelial). O humor
aquoso é produzido nos processos ciliares com a participação do
epitélio ciliar.

Os processos ciliares são espessamentos da região vascular interna do


corpo ciliar. Eles são contínuos com as camadas vasculares da corioide.
Esses processos têm macrófagos dispersos contendo grânulos de melanina e fibras elásticas (ver Prancha 106,
página 978). Os processos ciliares e o corpo ciliar são cobertos por uma dupla camada de células epiteliais
colunares, o epitélio ciliar, originalmente derivado das duas camadas do cálice óptico. O epitélio ciliar apresenta
três funções principais:
•Secreção de humor aquoso
•Participação na barreira hematoaquosa (parte da barreira hemato-ocular)
•Secreção e fixação das fibras zonulares que formam o ligamento suspensor do cristalino.
A camada celular interna do epitélio ciliar tem uma lâmina basal voltada para as câmaras posterior e vítrea. As
células nessa camada não são pigmentadas. No entanto, a camada celular, que tem sua lâmina basal voltada para o
estroma de tecido conjuntivo do corpo ciliar, contém intensa pigmentação e está em continuidade direta com a
camada epitelial pigmentada da retina. O epitélio ciliar bilaminar continua sobre a íris, na qual se converte em
epitélio pigmentar posterior e mioepitélio pigmentar anterior. As fibras zonulares, por sua vez, se estendem da
lâmina basal das células epiteliais não pigmentadas dos processos ciliares, e se inserem na cápsula do cristalino (a
lâmina basal espessada do cristalino).
Descrever a estrutura e função do canal de Schlemm
O canal de Schlemm (ver Figura 23.2), revestido por células endoteliais. Esse canal se comunica com pequenas
veias da esclera, para as quais o humor aquoso é drenado. O processo é contínuo e explica a renovação constante do
conteúdo aquoso das câmaras do olho.

Explicar a produção e circulação do humor aquoso


O humor aquoso é produzido pelos processos ciliares que margeiam o cristalino na câmara posterior do olho. Esse
líquido passa da câmara posterior para a câmara anterior através da abertura virtual valvulada entre a íris e o
cristalino. Em seguida, ele atravessa as aberturas da trama trabecular na região do limbo, e então chega ao seio
venoso da esclera. Vasos coletores da esclera – denominados veias aquosas, pelo fato de conduzirem humor aquoso
em vez de sangue – transportam o humor aquoso até veias (sanguíneas) na esclera.
Há diversos mecanismos para o transporte de água por canais de água (aquaporinas) e de íons (por
transportadores de íons), além do transporte resultante de forças osmóticas. A enzima anidrase carbônica, presente
nas células pigmentares e nas células epiteliais, age sobre bicarbonato e libera HCO3 e prótons. Esse humor flui
para a câmara posterior do olho em direção ao cristalino, passa entre o cristalino e a íris, e chega à câmara anterior,
onde a direção do seu fluxo muda 180°, dirigindo-se ao ângulo formado pela íris com a zona de transição
esclerocorneal, ou limbo. Nesse ângulo, o humor aquoso penetra os espaços labirínticos (espaços de Fontana) e
finalmente alcança o canal de Schlemm (ver Figura 23.2), revestido por células endoteliais. Esse canal se comunica
com pequenas veias da esclera, para as quais o humor aquoso é drenado. O processo é contínuo e explica a
renovação constante do conteúdo aquoso das câmaras do olho

Indicar a função do humor vítreo


O corpo vítreo é constituído por uma substância gelatinosa transparente que preenche a câmara vítrea. Ele absorve
os choques, protege a frágil retina durante os movimentos oculares rápidos, e ajuda a manter o formato do olho. É
composto quase totalmente (próximo de 99%) de água com proteínas solúveis, ácido hialurônico (também
conhecido como hialuronano), glicoproteínas, fibrilas colágenas muito dispersas e traços de outras proteínas
insolúveis. O componente líquido do corpo vítreo é denominado humor vítreo.

Descrever a estrutura microscópica do cristalino


O cristalino é uma estrutura biconvexa sem vasos ou nervos quase totalmente desprovida de tecido conjuntivo,
com exceção de uma cápsula de lâmina basal. Ele está suspenso entre as margens do corpo ciliar pelas fibras
zonulares. A tração das fibras zonulares mantém o cristalino achatado. Em contrapartida, a liberação da tensão
promove a dilatação (acomodação) do cristalino para refratar os raios luminosos originados perto do olho, de modo
que ocorra focalização na retina.
O cristalino tem três componentes principais: cápsula do cristalino, epitélio subcapsular, fibras secundárias do
cristalino

Descrever a função do epitélio do cristalino


•A cápsula do cristalino é uma lâmina basal espessa que circunda a superfície externa do cristalino; ela origina-se
como lâmina basal da vesícula embrionária do cristalino. A parte anterior da cápsula é espessa, com cerca de 10 a
20 μm, e produzida pelas células anteriores do cristalino. Já a parte posterior da cápsula é bem mais delgada, com
aproximadamente 5 a 10 μm. A cápsula do cristalino, sendo composta principalmente de colágeno tipo IV e
proteoglicanos, é elástica. Igualmente, ela é mais espessa no equador, onde as fibras zonulares se inserem.
•O epitélio subcapsular provém das células epiteliais da parte anterior da vesícula embrionária do cristalino; ele
representa uma camada cuboide de células epiteliais que só existe na superfície anterior do cristalino. As células
epiteliais da parte posterior da vesícula se alongam anteriormente e formam as fibras primárias do cristalino, que
preenchem a cavidade da vesícula óptica.
•As fibras secundárias do cristalino são formadas na periferia, próximo do equador do cristalino. Aqui, as células
epiteliais proliferam e migram ao longo da região posterior da cápsula, a fim de se diferenciarem em fibras do
cristalino maduro
•No centro do cristalino, as células epiteliais são quiescentes. As fibras do cristalino são derivadas das células
epiteliais do cristalino. À medida que se diferenciam, elas sofrem alongamento substancial e perdem todas as
organelas, inclusive os núcleos, ocorrendo a formação da zona sem organelas.

Identificar os tipos de fibras do cristalino e explicar sua formação


Junções comunicantes unem as células cuboides do epitélio subcapsular, que têm poucas organelas citoplasmáticas
e coloração pálida. A região apical da célula está voltada para a face interna do cristalino e para as fibras do
cristalino, com as quais formam os complexos juncionais. O cristalino aumenta de tamanho durante o crescimento
normal e, depois, continua a produzir novas fibras, em ritmo cada vez menor durante toda a vida. As fibras novas se
desenvolvem a partir das células do epitélio subcapsular localizadas perto do equador (ver Figura 24.16), e são
depositadas perifericamente como lamelas concêntricas (semelhantes às camadas de uma cebola). As células dessa
região aumentam em altura e se diferenciam em fibras do cristalino.
À medida que se desenvolvem, as fibras do cristalino se alongam muito e são observadas como estruturas
delgadas e achatadas. Elas perdem os núcleos e outras organelas conforme são preenchidas por proteínas
denominadas cristalinas. As fibras do cristalino maduras alcançam 7 a 10 mm de comprimento, 8 a 10 μm de
largura e 2 μm de espessura. No cristalino do adulto, apenas as fibras da região mais externa preservam seus
núcleos e organelas. Perto do centro, no núcleo do cristalino, as fibras estão comprimidas e condensadas em grau tal
que é impossível distingui-las individualmente. O núcleo do cristalino é uma zona sem organelas, composta de
fibras primárias depositadas durante o desenvolvimento embrionário e fetal. Junções especializadas, denominadas
suturas, unem as fibras do cristalino nas extremidades apicais e basais. Apesar de sua densidade e do teor de
proteínas, o cristalino normal é transparente (ver Figura 24.16). Por último, vale notar que a alta densidade de fibras
dificulta a obtenção de cortes histológicos de rotina do cristalino sem artefatos.

Descrever detalhadamente o fenômeno da acomodação ocular


O corpo ciliar é um espessamento anular que se estende para dentro, imediatamente posterior ao nível da junção
corneoescleral. Nele está o músculo ciliar, um músculo liso responsável pela acomodação do cristalino. A contração
desse músculo ciliar modifica o formato da lente, o que possibilita a focalização na retina de raios luminosos,
provenientes de diferentes distâncias.

Descrever a organização estrutural e funcional da coroide


A coroide é uma camada rica em vasos sanguíneos, daí ser chamada também de túnica vascular. Entre os vasos há
um tecido conjuntivo frouxo, que é rico em células e fibras colágenas e elásticas. É frequente a presença de células
contendo o pigmento melanina, que confere cor escura a essa camada. A porção mais interna da coroide é muito
rica em capilares sanguíneos, o que lhe valeu o nome de coriocapilar. Desempenha papel importante na nutrição da
retina; inclusive, lesões na coriocapilar podem levar a alterações na retina. Separando essa subcamada da retina,
observa-se uma fina membrana (3 a 4 μm) de aspecto hialino, chamada de membrana de Bruch.
A coroide é uma camada de tecido conjuntivo que possui muitos vasos sanguíneos (pontas de seta) e células com
pigmento melanina. Grande parte dos nutrientes da retina vem dos vasos sanguíneos da coroide.
Os vasos sanguíneos e o pigmento melanina são responsáveis pelo tom castanho-escuro da corioide. Esse
pigmento absorve a luz dispersa e refletida, a fim de minimizar a ocorrência de halos no olho e seu ofuscamento. A
corioide contém numerosos plexos venosos e camadas de capilares, além de estar firmemente fixada na retina (ver
Figura 24.1).

Identificar e descrever as camadas da coroide em imagens transversais


A corioide é uma lâmina vascular em tom castanho-escuro, com espessura de apenas 0,25 mm na porção posterior,
e de 0,1 mm na porção anterior. Ela está situada entre a esclera e a retina (ver Figura 24.1).
A corioide dispõe de duas camadas:
•Camada coriocapilar, uma camada vascular interna
•Membrana de Bruch, uma membrana hialina delgada e amorfa.
A corioide está firmemente aderida à esclera na margem do nervo óptico. Um espaço virtual, o espaço
pericorióideo (entre a esclera e a retina), é atravessado por lamelas ou filamentos delgados e ramificados,
semelhantes a fitas, e que vão da esclera até a corioide. Essas lamelas se originam na lâmina supracorioide (lâmina
fosca) e são compostas de melanócitos planos e grandes, dispersos entre elementos de tecido conjuntivo, que inclui
fibras colágenas e elásticas, fibroblastos, macrófagos, linfócitos, plasmócitos e mastócitos. As lamelas seguem
internamente e circundam vasos do restante da camada da corioide. Esse tecido contém células musculares lisas,
não associadas a vasos sanguíneos. A lâmina supracorióidea também contém canais linfáticos, denominados
espaços linfáticos epicorióideos, vasos ciliares posteriores longos e curtos, além de nervos em seu trajeto até a
região anterior do olho.

Explicar a barreira hemato-retiniana


A maior parte dos vasos sanguíneos diminui de calibre à medida que se aproxima da retina. Já os vasos maiores
prosseguem além da ora serrata e entram no corpo ciliar. É possível ver esses vasos em exame com oftalmoscópio.
Os vasos maiores são, em sua maioria, veias com trajetória espiralada antes de atravessarem obliquamente a esclera
como veias vorticosas. A camada interna de vasos, organizados em um só plano, é denominada camada
coriocapilar. Os vasos dessa camada levam nutrientes para as células da retina. Os capilares fenestrados apresentam
lumens grandes e de formato irregular. Na região da fóvea, a camada coriocapilar é mais espessa e a rede capilar é
mais densa. Essa camada termina na ora serrata.
A membrana de Bruch, também conhecida como lâmina vítrea (lâmina basilar da corioide, segundo a TA), tem
espessura de 1 a 4 μm e está situada entre a camada coriocapilar e o epitélio pigmentar da retina. Ela estende-se do
nervo óptico até a ora serrata, onde sofre modificações antes de continuar até o corpo ciliar. A membrana de Bruch
é uma camada delgada, amorfa e refringente. A microscopia eletrônica de transmissão (MET) mostra que ela é
constituída por múltiplas lâminas, com uma camada central de fibras elásticas e colágenas. Cinco diferentes
camadas são identificadas na membrana de Bruch:
•A lâmina basal das células endoteliais da camada coriocapilar
•Uma camada de fibras colágenas com espessura aproximada de 0,5 μm
•Uma camada de fibras elásticas com espessura aproximada de 2 μm
•Uma segunda camada de fibras colágenas (que forma um “sanduíche” ao redor da camada interposta de tecido
elástico)
•A lâmina basal das células do epitélio pigmentar da retina.
Na ora serrata, as camadas de fibras colágena e elástica desaparecem do estroma ciliar, e a membrana de Bruch
então se torna contínua com a lâmina basal do EPR do corpo ciliar.

Identificar as camadas da retina em imagens transversais


A retina, derivada das camadas interna e externa do cálice óptico, é a mais interna das três camadas concêntricas
do olho (ver Figura 24.1). Ela é formada por duas camadas básicas:
•A camada neural da retina, ou retina propriamente dita, é a camada interna que contém as células fotorreceptoras
•O epitélio pigmentar da retina (EPR) é a camada externa, localizada sobre a camada coriocapilar da corioide e
aderida firmemente a ela por meio da membrana de Bruch.

Duas regiões ou porções com funções diferentes são reconhecidas na camada neural da retina:
•A região não fotossensível (parte cega), localizada anteriormente à ora serrata, reveste a face interna do corpo
ciliar e a superfície posterior da íris (essa porção da retina é descrita na seção sobre a íris e o corpo ciliar)
•A região fotossensível (parte óptica) reveste a superfície interna do olho, posterior à ora serrata, exceto no local em
que é perfurada pelo nervo óptico (ver Figura 24.1).

O local de junção do nervo óptico à retina é denominado disco do nervo óptico ou papila óptica. Como o disco do
nervo óptico não tem células fotorreceptoras, é um ponto cego no campo visual. A fóvea central é uma depressão
superficial localizada cerca de 2,5 mm lateralmente ao disco do nervo óptico. Trata-se da área de máxima acuidade
visual. O eixo visual do olho atravessa a fóvea, que é circundada por uma área de pigmentação amarela,
denominada mácula lútea. Em termos relativos, a fóvea é a região da retina que contém a concentração máxima de
elementos visuais, e onde estes estão organizados com maior precisão

Camadas da retina
Dez camadas de células e seus prolongamentos formam a retina.
Antes de descrever as dez camadas da retina, é importante identificar os tipos celulares encontrados – isso ajuda a
compreender as relações funcionais das células. Estudos da retina realizados em primatas identificaram, no mínimo,
15 tipos de neurônios, que formam pelo menos 38 tipos diferentes de sinapses. Por questões de conveniência, os
neurônios e as células de sustentação são classificados em quatro grupos de células (Figura 24.9):
•Células fotorreceptoras – bastonetes e cones da retina
•Neurônios condutores – neurônios bipolares e células ganglionares
•Neurônios de associação e outros – neurônios horizontais, centrífugos, interplexiformes e amácrinos
•Células de sustentação (neuróglia) – células de Müller, células da micróglia e astrócitos.
A disposição e as associações específicas dos
núcleos e prolongamentos dessas células
formam dez camadas retinianas, que podem ser
observadas com o auxílio do microscópio
óptico. As camadas da retina também podem
ser visualizadas em indivíduos vivos, por meio
da tomografia de coerência óptica (TCO) de
domínio espectral (Boxe 24.4). As dez
camadas da retina, de fora para dentro, são as
seguintes (ver Figura 24.9):
 1.Epitélio pigmentar da retina (EPR): camada
externa da retina que, na verdade, não pertence
à camada neural da retina, mas está associada a
ela.
 2.Camada de bastonetes e cones: contém os
segmentos externo e interno das células
fotorreceptoras.
 3.Membrana limitante externa: limite apical
das células de Müller.
 4.Camada nuclear externa: contém os corpos celulares (núcleos) de bastonetes e cones da retina.
 5.Camada plexiforme externa: contém os prolongamentos dos bastonetes e cones da retina, além dos
prolongamentos das células horizontais, amácrinas e bipolares que os conectam.
6. Camada nuclear externa: contém os corpos celulares (núcleos) de células horizontais, amácrinas, bipolares e de
Müller.
 7.Camada plexiforme interna: contém os prolongamentos de células horizontais, amácrinas, bipolares e
ganglionares que se interconectam.
 8.Camada de células ganglionares: contém os corpos celulares (núcleos) de células ganglionares.
 9.Camada de fibras do nervo óptico (neurofibras, segundo a TA): contém prolongamentos de células ganglionares
que vão da retina ao encéfalo.
10.Membrana limitante interna: formada pela lâmina basal das células de Müller.
Cada camada é descrita com mais detalhes nas próximas seções (ver números correspondentes).

Descrever os bastonetes e cones do olho e indicar sua função


Os bastonetes e cones são os segmentos externos das células fotorreceptoras, cujos núcleos formam a camada
nuclear externa da retina (Figuras 24.9 e 24.10). A luz que alcança as células fotorreceptoras precisa, primeiro,
atravessar todas as camadas internas da retina neural. Os bastonetes e cones estão dispostos em paliçada; portanto,
ao microscópio óptico, são observados como estriações verticais.
A retina contém cerca de 120 milhões de bastonetes e 7 milhões de cones, que não estão distribuídos igualmente
em toda a sua parte fotossensível. A densidade de cones mais elevada é detectada na fóvea central, que corresponde
à acuidade visual máxima e à melhor visão das cores (Figura 24.11). Por outro lado, a maior densidade dos
bastonetes está fora da fóvea central, e essa densidade diminui continuamente em direção à periferia da retina. Os
bastonetes não estão presentes na fóvea central nem no disco do nervo óptico, que não contém fotorreceptores (ver
Figura 24.11). Os bastonetes têm cerca de 2 μm de espessura e 50 μm de comprimento (com variação de 60 μm na
fóvea a 40 μm na periferia). Já o comprimento dos cones varia de 85 μm na fóvea a 25 μm na periferia da retina.
Os bastonetes são sensíveis a pouca luz e produzem imagens em preto e branco, enquanto os cones são menos
sensíveis quando há pouca luz e produzem imagens coloridas.
Do ponto de vista funcional, os bastonetes são mais sensíveis à luz e são os receptores usados durante períodos de
baixa intensidade luminosa (p. ex., no crepúsculo ou à noite). A absorção máxima dos pigmentos dos bastonetes
ocorre em 496 nm do espectro visual, e a imagem obtida é composta de tons de cinza (uma “fotografia em preto e
branco”). Por outro lado, existem três classes de cones: L, M e S (respectivamente sensíveis a comprimentos de
onda longos, médios e curtos [do inglês, long, middle e short]) cuja distinção morfológica não é possível. Eles são
menos sensíveis a baixas intensidades de luz, porém mais sensíveis às regiões vermelha, verde e azul do espectro
visual. Cada classe de cones contém uma molécula diferente de pigmento visual, que é ativada pela absorção de luz
nos comprimentos de onda do azul (420 nm), verde (531 nm) e vermelho (588 nm) do espectro de cores. Os cones
produzem uma imagem colorida constituída pela mistura de adequadas proporções de vermelho, verde e azul. O
Boxe 24.5 descreve os diferentes tipos de discromatopsia.
Cada fotorreceptor (cone e bastonete) é formado por três partes:
•O segmento externo do fotorreceptor tem formato aproximadamente cilíndrico ou cônico (daí as denominações
descritivas bastonete ou cone). Essa parte do fotorreceptor
está muito próxima das microvilosidades que se projetam
das células do epitélio pigmentar adjacente
•O pedículo de conexão contém um cílio formado por nove
pares de microtúbulos periféricos que se estendem a partir de
um corpo basal. O pedículo de conexão é a região estreitada
da célula que une o segmento interno ao segmento externo.
Nessa região, um prolongamento delgado e afunilado,
denominado processo calicial, se origina da extremidade
distal do segmento interno para circundar a porção proximal
do segmento externo (ver Figura 24.10)
•O segmento interno é dividido em uma porção elipsoide
externa e uma porção mioide interna. Esse segmento contém
um conjunto típico de organelas associadas a uma célula
ativa na síntese de proteínas. Na região mioide, estão
concentrados o proeminente complexo de Golgi, o RER e os
ribossomos livres. As mitocôndrias são mais numerosas na
região elipsoide. Os microtúbulos estão distribuídos em todo o segmento interno. Na porção elipsoide externa,
radículas fibrosas, com estriações transversais e originadas do corpo basal, podem se estender entre as
mitocôndrias.

Ao MET, observam-se 600 a 1.000 discos membranáceos horizontais, distribuídos a intervalos regulares no
segmento externo (Figura 24.12). Nos bastonetes, esses discos são estruturas limitadas por membrana e medem
cerca de 2 μm de diâmetro. Eles são envolvidos pela membrana plasmática do segmento externo (ver Figura
24.12A). As membranas paralelas dos discos têm cerca de 6 nm de espessura e são contínuas nas extremidades. O
espaço central mede em torno de 8 nm no sentido transversal. Tanto nos cones quanto nos bastonetes, os discos
membranáceos são formados por invaginações transversais da membrana plasmática, na região do segmento
externo perto do cílio. Exames autor radiográficos demonstraram que, durante toda a vida, os bastonetes formam
novos discos por invaginação da membrana plasmática. Nos cones, os discos são formados de maneira semelhante,
mas não são substituídos com regularidade.
Os discos dos bastonetes perdem a continuidade com a membrana plasmática de origem logo depois de formados.
Seguem, então, como uma pilha de pratos, da região proximal para a distal, ao longo da extensão da porção
cilíndrica do segmento externo até serem, por fim, eliminados e fagocitados pelas células do epitélio pigmentar.
Portanto, cada disco de um bastonete é um compartimento delimitado por membrana dentro do citoplasma. Dentro
dos cones, os discos preservam a continuidade com a membrana plasmática (Figura 24.12B).
Os bastonetes contêm o pigmento visual rodopsina; os cones contêm o pigmento visual iodopsina.
A rodopsina (também conhecida como púrpura visual) é uma proteína com 39 kDa nos bastonetes que inicia o
estímulo visual quando é descorada pela luz. A rodopsina é encontrada na forma globular sobre a superfície externa
da dupla camada lipídica (na face citoplasmática) dos discos membranáceos. Nos cones, o pigmento visual
(proteína) encontrado nos discos membranáceos é o fotopigmento iodopsina. Cada cone é especializado para
produzir resposta máxima a uma destas três cores: vermelho, verde ou azul. Tanto a rodopsina quanto a iodopsina
contêm uma subunidade ligada à membrana, denominada opsina, e um segundo pequeno componente, que absorve
a luz, conhecido como cromóforo. A opsina dos bastonetes é a escotopsina; as opsinas dos cones são as fotopsinas.
O cromóforo dos bastonetes é o retinal, um carotenoide derivado da vitamina A. Portanto, a ingestão satisfatória de
vitamina A é essencial para a visão normal. Já a deficiência prolongada de vitamina A na dieta causa incapacidade
de enxergar na penumbra (cegueira noturna).

Explicar o significado estrutural e funcional da fóvea


A fóvea é uma pequena região situada no eixo óptico da retina, para onde a imagem é projetada com maior
nitidez. Trata-se de uma depressão rasa, em cuja porção central a espessura da retina é ainda menor. Isso ocorre em
função de um afastamento das células bipolares e ganglionares para a periferia da fóvea, ficando o centro apenas
com cones, região denominada fovéola (ver Figura 23.2). Na fóvea, portanto, a luz atinge as células fotorreceptoras
diretamente, sem atravessar as outras camadas da retina, o que contribui para a nitidez da imagem lá formada. A luz
não absorvida pelos cones e bastonetes é absorvida pelo pigmento do epitélio e pela coroide.
A estrutura da retina é variável de acordo com a região estudada. Já foram referidos os pormenores da fóvea e do
ponto cego. A fóvea tem somente cones e bastonetes (na sua parte central, apenas cones), e o ponto cego não tem
receptores. Além disso, observam-se outras variações histológicas de significado fisiológico evidente, como, por
exemplo, a densidade das células ganglionares. Na região periférica da retina, essas células são escassas,
alcançando apenas algumas centenas por milímetro quadrado. Já a região que envolve a fóvea chega a ter centenas
de milhares de células ganglionares por milímetro quadrado. É por isso que a visão na periferia da retina (visão
periférica) é pouco nítida, contrastando com o que se observa na fóvea ou nos seus arredores.

Descrever as características histológicas do nervo óptico


Os neurônios da camada das células ganglionares estabelecem sinapse com as células bipolares. Os outros polos
dessas células enviam axônios em direção a uma região da retina para onde convergem todos os axônios das células
ganglionares, chamada de papila do nervo óptico (ver Figura 23.2). Neste local, os axônios se agrupam e formam o
nervo óptico.
O nervo óptico não tem mais do que 1 milhão de fibras. Assim, a informação recebida pelos receptores é
selecionada e agrupada, durante o seu trajeto, pelas células da própria retina. Essas células codificam e integram a
informação fornecida pelos fotorreceptores, enviando-a ao córtex cerebral
Camada das fibras do nervo óptico (9), contendo os axônios das células ganglionares;

Identificar os componentes do nervo óptico em imagens transversais


O nervo óptico é uma projeção do prosencéfalo. O revestimento fibroso do nervo óptico é uma extensão das
meninges encefálicas.
As fibras que formam o nervo óptico originam-se na retina, mais especificamente na camada de células
ganglionares (ver acima). Elas atravessam a esclera por meio de vários orifícios para formar o nervo óptico. A
região da esclera que contém esses orifícios é chamada de lâmina crivosa ou placa cribiforme (15). O nervo óptico
apresenta a artéria e a veia central da retina (não mostrado aqui) que também atravessam a lâmina crivosa. Ramos
da artéria e da veia central da retina (16) proveem a porção interna da retina.

Indicar a função da pálpebra e descrever a sua estrutura histológica + Identificar e descrever as glândulas
da pálpebra
São dobras flexíveis de tecidos, que protegem o globo ocular. As pálpebras são constituídas, do exterior para o
interior, pelas seguintes estruturas (Figura 23.18):
● Pele com epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e derme de conjuntivo frouxo
● Feixes de músculos estriados que formam o músculo orbicular do olho
● Uma camada de tecido conjuntivo que apresenta um espessamento de tecido conjuntivo denso na extremidade
das pálpebras – a placa palpebral ou tarso –, em cujo interior se encontram glândulas sebáceas alongadas e
dispostas verticalmente, as chamadas glândulas de Meibomius ou tarsais (ver Figura 23.18)
● Camada mucosa, constituída pela conjuntiva anteriormente descrita (epitélio prismático estratificado e tecido
conjuntivo frouxo).

Descrever a estrutura das glândulas lacrimais


Localizadas na borda superoexterna da órbita, são glândulas serosas do tipo tubuloalveolar composto.
Desembocam por meio de 8 a 10 canais no fundo de saco superior, formado pela confluência da conjuntiva que
reveste o olho com a conjuntiva que cobre internamente a pálpebra.
As glândulas lacrimais são constituídas por células serosas, que contêm no seu ápice grânulos de secreção que se
coram fracamente (Figura 23.19). Sua porção secretora é envolvida por células mioepiteliais, que produzem uma
secreção salina com a mesma concentração de cloreto de sódio que a do sangue. É um fluido pobre em proteínas e
contém uma única enzima, a lisozima, que digere a cápsula de certas bactérias.
A secreção lacrimal, continuamente produzida por essas glândulas, dirige-se para as carúnculas lacrimais, que são
elevações situadas no canto interno dos olhos. Nessa região, ela penetra em um sistema de ductos lacrimais
revestidos por epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado, que desembocam no meato nasal inferior.

AEP - FISIOLOGIA SISTEMA SENSORIAL

● Descrever os diferentes tipos de receptores dos sentidos somáticos e especiais.


Os receptores são divididos em quatro grupos principais, com base no tipo de estímulo a que são mais sensíveis
(TAB. 10.2). Os quimiorreceptores respondem a ligantes químicos que se ligam ao receptor (p. ex., olfação e
gustação). Os mecanorreceptores respondem a diversas formas de energia mecânica, incluindo pressão, vibração,
gravidade, aceleração e som (p. ex., audição). Os termorreceptores respondem à temperatura, e os fotorreceptores
da visão respondem ao estímulo luminoso.
cinco tipos básicos de receptores sensoriais: (1)
mecanorreceptores, que detectam a compressão
mecânica ou o estiramento do receptor ou tecidos
a ele adjacentes, (2) termorreceptores, que
detectam alterações da temperatura, alguns
percebendo o frio e outros, o calor, (3)
nociceptores (receptores da dor), que detectam
lesão física ou química dos tecidos, (4) receptores
eletromagnéticos, que detectam luz na retina do
olho e (5) quimiorreceptores, que detectam o sabor
na boca, odor no nariz, nível de oxigênio no
sangue arterial, osmolaridade dos líquidos
corporais, concentração de dióxido de carbono e
outros fatores que compõem a química do
organismo.

● Explicar como os receptores convertem estímulos físicos em sinais elétricos, utilizando os seguintes termos:
transdução, limiar, estímulo adequado, campo receptivo, potencial receptor
Como os receptores convertem os diversos estímulos físicos, como a luz ou o calor, em sinais elétricos? O
primeiro passo é a transdução, a conversão da energia do estímulo em informação que pode ser processada pelo
sistema nervoso (p. 171). Em muitos receptores, a abertura ou fechamento de canais iônicos converte a energia
mecânica, química, térmica ou luminosa diretamente em uma mudança no potencial de membrana. Alguns
mecanismos de transdução sensorial envolvem a transdução do sinal e sistemas de segundos mensageiros, que
iniciam a mudança no potencial de membrana.
Cada receptor sensorial tem um estímulo adequado, uma forma particular de energia à qual ele é mais responsivo.
Por exemplo, os termorreceptores são mais sensíveis a modificações na temperatura do que na pressão, e os
mecanorreceptores respondem preferencialmente a estímulos que deformem a membrana celular. Embora os
receptores sejam específicos para uma forma de energia, eles podem responder a muitas outras formas se a
intensidade for suficientemente alta. Os fotorreceptores do olho respondem mais prontamente à luz, contudo, um
soco no olho pode nos fazer “ver estrelas”, um exemplo de energia mecânica com força suficiente para estimular os
fotorreceptores.
Os receptores sensoriais podem ser inacreditavelmente sensíveis a sua forma preferencial de estímulo. Por
exemplo, um único fóton de luz estimula certos fotorreceptores, e uma única molécula odorífera pode ativar
quimiorreceptores envolvidos no sentido da olfação. O estímulo mínimo necessário para ativar um receptor é
conhecido como limiar, assim como a despolarização mínima necessária para disparar um potencial de ação é
chamada também de limiar (p. 242).
Como um estímulo físico ou químico é convertido em uma mudança no potencial de membrana? O estímulo abre
ou fecha canais iônicos na membrana do receptor, direta ou indiretamente (via segundo mensageiro). Em muitas
situações, a abertura de canais provoca influxo de Na+ ou de outros cátions no receptor, despolarizando a
membrana. Em alguns casos, a resposta ao estímulo é uma hiperpolarização, quando o K+ deixa a célula. No caso da
visão, o estímulo (luz) fecha canais catiônicos, hiperpolarizando a membrana do receptor.
A mudança no potencial de membrana do receptor sensorial é um potencial graduado (p. 240), chamado de
potencial receptor. Em algumas células, o potencial receptor desencadeia um potencial de ação que percorre a fibra
sensorial até o SNC. Em outras células, o potencial receptor influencia a secreção de neurotransmissores pela célula
receptora, o que, por sua vez, altera a atividade elétrica do neurônio sensorial associado.
Um neurônio sensorial tem um campo receptivo
Os neurônios somatossensoriais e visuais são ativados pelos estímulos que ocorrem dentro de uma área física
específica, conhecida como campo receptivo do neurônio. Por exemplo, um neurônio da pele sensível ao tato
responde à pressão que ocorre dentro do seu campo receptivo. No caso mais simples, um campo receptivo está
associado a um neurônio sensorial (o neurônio sensorial primário na via), o qual, por sua vez, faz sinapse com um
neurônio do SNC (o neurônio sensorial secundário). (Os neurônios sensoriais primários e secundários são também
conhecidos como neurônios de primeira ordem e de segunda ordem.) Os campos receptivos frequentemente se
sobrepõem aos campos receptivos vizinhos.
Além disso, os neurônios sensoriais de campos receptivos vizinhos podem apresentar convergência (p. 260), ou
seja, diversos neurônios pré-sinápticos enviam sinais para um menor número de neurônios pós-sinápticos (FIG.
10.2). A convergência permite que vários
estímulos sublimiares simultâneos se somem no
neurônio pós-sináptico (secundário). Quando
diversos neurônios sensoriais primários
convergem para um único neurônio sensorial
secundário, seus campos receptivos individuais
fundem-se em um único grande campo
receptivo secundário, como mostrado na Figura
10.2a.
O tamanho dos campos receptivos secundários
determina o quanto uma dada área é sensível a
um estímulo. Por exemplo, a sensibilidade tátil
é demonstrada pelo teste da discriminação entre
dois pontos. Em algumas regiões da pele, como
os braços e as pernas, dois alfinetes colocados a
uma distância de 20 mm um do outro são interpretados pelo encéfalo como uma única alfinetada. Nessas áreas,
muitos neurônios primários convergem para um único neurônio secundário, de modo que o campo receptivo
secundário é muito grande (Fig. 10.2a). Em contrapartida, áreas da pele mais sensíveis, como a ponta dos dedos,
possuem campos receptivos menores, com uma proporção entre neurônios sensoriais primários e secundários de 1:1
(Fig. 10.2b). Nessas áreas, dois alfinetes separados por uma distância de apenas 2 mm podem ser percebidos como
dois toques separados.

● Explicar como o sistema nervoso central é capaz de determinar modalidade, localização, intensidade e
duração de um estímulo.
A informação sensorial de grande parte do corpo entra na medula espinal e segue por vias ascendentes até o
encéfalo. Algumas informações sensoriais vão diretamente para o tronco encefálico pelos nervos cranianos (p.
288). As informações sensoriais que iniciam os reflexos viscerais são integradas no tronco encefálico ou na medula
espinal, e, em geral, não chegam à percepção consciente. Um exemplo de reflexo visceral inconsciente é o controle
da pressão sanguínea por centros do tronco encefálico.
Cada uma das principais divisões do encéfalo processa um ou mais tipos de informação sensorial (FIG. 10.3). Por
exemplo, o mesencéfalo recebe informação visual, e o bulbo recebe aferências geradas a partir dos sons e do gosto.
As informações do equilíbrio são processadas principalmente no cerebelo. Estas vias, junto àquelas que levam
informações do sistema somatossensorial, projetam-se ao tálamo, o qual atua como uma estação de retransmissão e
processamento antes que a informação seja repassada ao cérebro.
Apenas a informação olfatória não passa pelo tálamo. O sentido da olfação, um tipo de quimiorrecepção, é
considerado um dos sentidos mais antigos, e mesmo os encéfalos de vertebrados mais primitivos possuem regiões
bem desenvolvidas para o processamento da informação olfatória. A informação sobre o odor vai do nariz para o
bulbo olfatório, pelo primeiro nervo craniano (p. 288), e daí ao córtex olfatório, no cérebro. É provável que essa
aferência direta ao cérebro seja a causa de os odores serem tão intimamente vinculados à memória e à emoção. A
maioria das pessoas já experimentou sentir um cheiro que subitamente traz à memória um fluxo de lugares ou
pessoas do passado.
Um aspecto interessante do processamento da informação sensorial pelo SNC é o limiar perceptivo, ou seja, a
intensidade do estímulo necessária para que você tome consciência de uma determinada sensação. Os estímulos
bombardeiam constantemente seus receptores sensoriais, mas seu cérebro pode filtrar e “desligar” alguns estímulos.
Você vivencia uma mudança no limiar de percepção quando “ignora” o rádio enquanto está estudando, ou quando
você fica “desligado” durante uma palestra. Em ambos os casos, o som é adequado para estimular os neurônios
sensoriais na orelha interna, porém os neurônios superiores da via bloqueiam os sinais recebidos, não deixando que
cheguem à consciência. A diminuição da percepção de um estímulo, ou habituação, é obtida por modulação
inibidora (p. 263). A modulação inibidora diminui um estímulo que atingiu o limiar até que o mesmo fique abaixo
do limiar perceptivo. Em geral, ela ocorre em neurônios secundários e superiores da via sensorial. Se o estímulo
modulado se torna subitamente importante, como quando o professor lhe pergunta algo, você pode conscientemente
focar a sua atenção e interromper a modulação inibidora. Neste ponto, seu cérebro consciente procura recuperar e
lembrar o som aferente recente a partir do seu inconsciente, para que você possa responder à questão.

A codificação e o processamento distinguem as propriedades do estímulo


Se todos os estímulos são convertidos em potenciais de ação nos neurônios sensoriais, e todos os potenciais de
ação são idênticos, como o SNC pode diferenciar, por exemplo, calor e pressão, ou uma alfinetada no dedo do pé
ou da mão? Os atributos do estímulo devem ser preservados de alguma maneira quando o estímulo entra no sistema
nervoso para ser processado. Isso significa que o SNC deve distinguir quatro propriedades de um estímulo: (1) sua
natureza, ou modalidade, (2) sua localização, (3) sua intensidade e (4) sua duração.

Modalidade sensorial
A modalidade de um estímulo é indicada pelos neurônios sensoriais que são ativados e por onde as vias dos
neurônios ativados terminam no encéfalo. Cada tipo de receptor é mais sensível a uma modalidade particular de
estímulo. Por exemplo, alguns neurônios respondem mais fortemente ao toque; outros respondem a mudanças na
temperatura. Cada modalidade sensorial pode ser subdividida em qualidades. Por exemplo, a visão colorida é
dividida em vermelho, azul e verde, de acordo com o comprimento de onda que estimular mais fortemente os
diferentes receptores visuais.
Além disso, o encéfalo associa um sinal proveniente de um grupo específico de receptores com uma modalidade
específica. A associação 1:1 de um receptor com uma sensação é denominada código de linha “exclusiva”. O
estímulo de um receptor para o frio sempre é percebido como frio, se o estímulo real for frio ou se ocorrer uma
despolarização artificial do receptor. Uma pancada no olho que faz com que se “veja” um flash de luz é outro
exemplo de código de linha “exclusiva”.

Localização do estímulo
A localização de um estímulo também é codificada de acordo com quais campos receptivos são ativados. As
regiões sensoriais do cérebro são muito organizadas em relação aos sinais de entrada, e os sinais provenientes de
receptores sensoriais adjacentes são processados em regiões adjacentes do córtex. Esse arranjo preserva a
organização topográfica dos receptores da pele, dos olhos ou de outras regiões nos centros de processamento
cerebral.
Por exemplo, receptores táteis presentes na mão projetam-se para uma
área específica do córtex cerebral. A estimulação experimental dessa
área do córtex durante uma cirurgia cerebral é interpretada como um
toque na mão, ainda que não tenha havido contato real. De forma
similar, a dor do membro fantasma relatada por amputados ocorre
quando neurônios sensoriais secundários da medula espinal se tornam
hiperativos, resultando em sensação dolorosa em um membro que não está mais lá.
Todavia, a informação auditiva é uma exceção à regra da localização. Os neurônios das orelhas internas são
sensíveis a diferentes frequências sonoras, mas eles não têm campos receptivos e sua ativação não fornece
informações sobre a localização do som. Em vez disso, o encéfalo utiliza a temporização da ativação do receptor
para computar a localização, como mostrado na FIGURA 10.4.
Um som originado exatamente na frente da pessoa chega simultaneamente às duas orelhas. Um som originado em
um lado do corpo chega na orelha mais próxima alguns milissegundos antes do que na outra orelha. A diferença de
tempo que o estímulo sonoro leva para chegar aos dois lados do córtex auditivo é registrada pelo cérebro e essa
informação é usada para determinar a origem do som.
A inibição lateral, a qual aumenta o contraste entre os campos receptivos ativados e seus campos receptivos
vizinhos que estão inativos, é outra forma pela qual um estímulo pode ser localizado. A FIGURA 10.5 mostra este
processo para um estímulo de pressão na pele. Um toque do alfinete na pele ativa três neurônios sensoriais
primários, cada um liberando neurotransmissores aos seus neurônios secundários correspondentes.
Entretanto, os três neurônios sensoriais secundários não respondem da mesma maneira. O neurônio secundário
mais próximo do estímulo (neurônio B) suprime a resposta dos neurônios secundários laterais a ele (i.e., de cada
lado), onde o estímulo é mais fraco, e, simultaneamente, permite que a sua própria via prossiga sem interferência. A
inibição dos neurônios mais distantes do estímulo aumenta o contraste entre o centro e a periferia do campo
receptivo, e, assim, a sensação é localizada mais facilmente. A inibição lateral também é utilizada no sistema visual
para aguçar nossa percepção das bordas.
A via mostrada na Figura 10.5 também é um exemplo de código populacional, em que muitos receptores
trabalham juntos para enviar ao SNC mais informação do que seria possível a partir de um único receptor.
Comparando os sinais gerados a partir de diversos receptores, o SNC pode fazer cálculos complexos sobre a
qualidade e as características espaciais e temporais de um estímulo.

Intensidade do estímulo
A intensidade de um estímulo não pode ser diretamente
calculada a partir de um único potencial de ação de um neurônio
sensorial, pois o potencial de ação é “tudo ou nada”. Assim, a
intensidade do estímulo é codificada em dois tipos de
informações: o número de receptores ativados (outro exemplo
de código populacional) e a frequência de potenciais de ação
provenientes desses receptores, chamada de código de
frequência.
O código populacional para intensidade ocorre pelo fato de o
limiar para o estímulo preferencial não ser o mesmo para todos
os receptores. Somente os receptores mais sensíveis (aqueles
com limiares mais baixos) respondem a um estímulo de baixa
intensidade. Quando a intensidade de um estímulo aumenta, são ativados mais receptores. Assim, o SNC traduz o
número de receptores ativados em uma medida de intensidade do estímulo.
Para neurônios sensoriais individuais, a discriminação da intensidade começa no receptor. Se um estímulo está
abaixo do limiar, o neurônio sensorial primário não responde. Assim que a intensidade do estímulo atinge o limiar,
o neurônio sensorial primário começa a disparar potenciais de ação. À medida que a intensidade do estímulo
aumenta, a amplitude do potencial receptor aumenta proporcionalmente, e a frequência de potenciais de ação no
neurônio sensorial primário aumenta, até uma frequência máxima (FIG. 10.6).

Duração do estímulo
A duração do estímulo é codificada pela duração da série de potenciais de ação no neurônio sensorial. Em geral,
um estímulo mais longo gera uma série mais duradoura de potenciais de ação no neurônio sensorial primário.
Entretanto, se o estímulo persiste, alguns receptores se adaptam, ou deixam de responder.
Os receptores dividem-se em duas classes, dependendo de como eles se adaptam a uma estimulação contínua ou
sustentada. Os receptores tônicos são receptores de adaptação lenta que disparam rapidamente no início da
ativação, depois diminuem e mantêm seus disparos enquanto o estímulo estiver presente (FIG. 10.7A). Os
barorreceptores sensíveis à pressão, os receptores de irritação e alguns receptores táteis e proprioceptivos são
classificados nessa categoria. Em geral, os estímulos que ativam os receptores tônicos são parâmetros que devem
ser monitorados continuamente no corpo.
Já os receptores fásicos são receptores de adaptação rápida que disparam quando recebem um estímulo, mas
param de disparar se a intensidade do estímulo permanecer constante (Fig. 10.7b). Os receptores fásicos sinalizam
especificamente as alterações em um parâmetro. Assim que o estímulo estiver em uma intensidade estável, os
receptores fásicos adaptam-se a esse novo estado e se desligam. Esse tipo de resposta permite que o
corpo ignore a informação que foi avaliada e considerada como não ameaçadora à homeostasia ou ao bem-estar.
Nosso sentido da olfação é um exemplo de sentido que emprega receptores fásicos. Por exemplo, você pode sentir
seu perfume quando o coloca pela manhã, mas, à medida que o dia passa, os seus receptores olfatórios se adaptam e
não são mais estimulados pelas moléculas do perfume. Você não sente mais a fragrância, ainda que outras pessoas
possam comentar sobre ela.
A adaptação de receptores fásicos permite que você filtre informações sensoriais irrelevantes e se concentre nas
informações novas, diferentes ou essenciais. Em geral, assim que ocorre a adaptação em um receptor fásico, a única
maneira de gerar um novo sinal é aumentar a intensidade do estímulo excitatório ou remover completamente o
estímulo para permitir que o receptor volte às suas condições iniciais.

● Explicar como receptores tônicos e fásicos se adaptam a um estímulo contínuo.


O mecanismo molecular da adaptação de um receptor sensorial depende do tipo de receptor. Em alguns receptores
há abertura de canais de K+ repolarização da membrana e à finalização do sinal. Em outros receptores ocorre rápida
inativação de canais de Na+ na membrana do receptor, levando à . Já em outros receptores, vias bioquímicas
alteram a capacidade de resposta dos receptores.
As estruturas acessórias também podem reduzir a quantidade de estímulo que chega ao receptor. Na orelha, por
exemplo, músculos muito pequenos se contraem e diminuem a vibração dos ossículos em resposta a sons altos,
diminuindo o sinal sonoro antes que ele chegue aos receptores auditivos. Resumindo, a especificidade das vias
sensoriais é estabelecida de diversas formas:
1. Cada receptor é mais sensível a um tipo particular de estímulo.
2. Um estímulo que atinja o limiar desencadeia potenciais de ação em um neurônio sensorial que se projeta ao
SNC.
3. A intensidade e a duração do estímulo são codificadas pelo padrão de potenciais de ação que chegam ao SNC.
4. A localização e a modalidade do estímulo são codificadas de acordo com quais receptores são ativados ou (no
caso do som) pela temporização da ativação do receptor.
5. Cada via sensorial se projeta para uma região específica do córtex cerebral dedicada a um campo receptivo
particular. O cérebro pode, então, determinar a origem de cada sinal de entrada.

● Traçar as vias da sensação somática do receptor ao córtex somatossensorial.


Os receptores dos sentidos somáticos são encontrados tanto na pele quanto nas vísceras. A ativação dos receptores
desencadeia potenciais de ação no neurônio sensorial primário associado. Na medula espinal, muitos dos neurônios
sensoriais primários fazem sinapse com interneurônios, que funcionam como neurônios sensoriais secundários. A
localização da sinapse entre os neurônios primário e secundário varia de acordo com o tipo de receptor (FIG. 10.8).
Os neurônios associados aos receptores da nocicepção, temperatura e tato grosseiro fazem sinapse com seus
neurônios secundários assim que entram na medula espinal. Contudo, a maior parte dos neurônios do tato
discriminativo,* da vibração e da propriocepção possuem axônios muito longos, os quais se projetam para cima, da
medula espinal até o bulbo.
Todos os neurônios sensoriais secundários
cruzam a linha média do corpo em algum
ponto, de modo que as sensações do lado
esquerdo do corpo são processadas pelo
hemisfério direito do cérebro, e vice-versa.
Os neurônios secundários da nocicepção,
temperatura e tato grosseiro cruzam a linha
média na medula espinal e se projetam para o
encéfalo. Os neurônios do tato
discriminativo, da vibração e da
propriocepção cruzam a linha média no
bulbo. No tálamo, os neurônios sensoriais
secundários fazem sinapse com os
neurônios sensoriais terciários, os quais,
por sua vez, projetam-se para a região
somatossensorial do córtex cerebral. Além
disso, muitas vias sensoriais enviam ramos para o cerebelo, o que permite que ele possa usar a informação para
coordenar equilíbrio e movimentos.
O córtex somatossensorial (p. 293) é a parte do cérebro que reconhece de onde se originam os tratos sensoriais
ascendentes. Cada um dos tratos sensoriais possui uma região correspondente no córtex, seu campo sensorial.
Todas as vias sensoriais da mão esquerda finalizam em uma área, todas as vias do pé esquerdo finalizam em outra
área, e assim por diante (FIG. 10.9). Na região cortical destinada a uma parte específica do corpo, colunas de
neurônios são dedicadas a tipos particulares de receptores.

AEP - FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO E SISTEMA


VESTIBULAR
● Descrever a via anatômica pela qual a energia sonora segue desde o ar até sua transformação em potencial
de ação em um neurônio sensorial primário.
A orelha externa é constituída da orelha (aurícula), ou pina, e do meato acústico externo (canal auditivo) (FIG.
10.15). A orelha é outro exemplo de uma importante estrutura acessória de um sistema sensorial, e ela varia em
forma e localização de espécie para espécie,
dependendo das necessidades do animal para a
sobrevivência. O meato acústico externo (canal
auditivo) é fechado em sua extremidade
interna por uma camada membranosa fina de
tecido, chamada de membrana timpânica, ou
tímpano.
A membrana timpânica separa a orelha
externa da orelha média, uma cavidade
preenchida com ar que se conecta com a
faringe através da tuba auditiva (tuba de
Eustáquio). A tuba auditiva normalmente está
colapsada, isolando a orelha média, mas se abre temporariamente durante a mastigação, o bocejo e a deglutição, a
fim de permitir que a pressão da orelha média se equilibre com a pressão atmosférica. Os resfriados ou outras
infecções que causam inchaço (edema) podem bloquear a tuba auditiva e resultar no acúmulo de líquido na orelha
média. Se bactérias ficarem retidas no líquido da orelha média, ocorrerá uma infecção, conhecida como otite média.
Três pequenos ossos da orelha média conduzem o som do meio externo para a orelha interna: martelo, bigorna e
estribo. Os três ossos estão conectados um ao outro por estruturas semelhantes a dobradiças. Uma das extremidades
do martelo está fixada à membrana timpânica, e a base do estribo se prende a uma fina membrana, que separa a
orelha média da orelha interna.
A orelha interna possui duas estruturas sensoriais principais. O aparelho vestibular, com seus canais
semicirculares, é o transdutor sensorial para o nosso sentido do equilíbrio, que será descrito na próxima seção. A
cóclea da orelha interna possui os receptores sensoriais da audição. Em uma vista externa, a cóclea é um tubo
membranoso que se enrola como uma concha de caracol dentro da cavidade óssea. Dois discos membranosos, a
janela do vestíbulo ou janela oval (à qual o estribo se fixa) e a janela da cóclea ou janela redonda, separam o líquido
que preenche a cóclea do ar que preenche a orelha média. Os ramos do nervo craniano VIII, o nervo
vestibulococlear, vão da orelha interna até o encéfalo.

● Descrever a via neural da transmissão sonora – da cóclea ao córtex auditivo.


A audição é um sentido complexo que envolve várias traduções. A energia das ondas sonoras no ar se torna
vibrações mecânicas e, depois, ondas no líquido da cóclea. As ondas do líquido abrem canais iônicos nas células
pilosas (ciliadas)*, os receptores da audição. O fluxo de íons para dentro das células gera um sinal elétrico que
libera um neurotransmissor (sinal químico), que, por sua vez, dispara potenciais de ação nos neurônios auditivos
primários.

Esses passos da transdução são mostrados na FIGURA 10.17. As ondas sonoras que chegam à orelha externa são
direcionadas para dentro do meato acústico externo e atingem a membrana timpânica, onde provocam vibrações na
membrana (primeira transdução). As vibrações da membrana timpânica são transferidas ao martelo, à bigorna e ao
estribo, nesta ordem. A disposição dos três ossos da orelha média conectados cria uma “alavanca” que multiplica a
força da vibração (amplificação), de modo que muito
pouca energia sonora é perdida devido ao atrito. Se um
som é muito alto, podendo causar danos à orelha
interna, os pequenos músculos da orelha média puxam
os ossos para reduzir seus movimentos, diminuindo,
assim, a transmissão sonora em algum grau.
Quando o estribo vibra, ele empurra e puxa a fina
membrana da janela oval à qual está conectado. As
vibrações da janela oval geram ondas nos canais cheios
de líquido da cóclea (segunda transdução). À medida
que as ondas se movem pela cóclea, elas empurram as
membranas flexíveis do ducto coclear, curvando as
células ciliadas sensoriais, que estão dentro do ducto. A
energia da onda se dissipa de volta para o ar da orelha média na janela redonda.
O movimento do ducto coclear abre ou fecha canais iônicos na membrana das células ciliadas, gerando sinais
elétricos (terceira transdução). Esses sinais elétricos alteram a liberação do neurotransmissor (quarta transdução). A
ligação do neurotransmissor aos neurônios sensoriais auditivos inicia potenciais de ação (quinta transdução), que
transmitem a informação codificada sobre o som pelo ramo coclear do nervo vestibulococlear (nervo craniano VIII)
até o encéfalo.

● Explicar como as células ciliadas (pilosas) convertem energia sonora em potencial de ação.
Como já mencionado, a transdução da energia sonora em potenciais de ação ocorre na cóclea da orelha interna.
Desenrolada, a cóclea pode ser vista como três canais paralelos cheios de líquido: (1) a rampa do vestíbulo, ou
escala vestibular; (2) o ducto coclear central, ou escala média; e (3) a rampa do tímpano, ou escala timpânica (FIG.
10.18). As rampas do vestíbulo e do tímpano são contínuas uma à outra e se conectam na extremidade da cóclea por
uma pequena abertura, chamada de helicotrema. O ducto coclear é um tubo com extremidade cega, mas que se
conecta ao vestíbulo através de uma pequena abertura.
O líquido presente nas rampas do vestíbulo e do tímpano tem composição iônica similar à do plasma, sendo
conhecido como perilinfa. O ducto coclear é
preenchido com endolinfa, secretada pelas células
epiteliais do ducto. A endolinfa é incomum por sua
composição ser mais parecida à do líquido intracelular
do que à do extracelular, possuindo alta concentração
de K⫹ e baixa concentração de Na+.
O ducto coclear possui o órgão espiral (órgão de
Corti), que contém as células receptoras pilosas
(ciliadas) e células de sustentação. O órgão espiral (de
Corti) se situa sobre a membrana basilar e está
parcialmente coberto pela membrana tectória, ambas
tecidos flexíveis que se movem em resposta às ondas
que percorrem a rampa do vestíbulo (Fig. 10.18). À
medida que as ondas percorrem a cóclea, elas
movimentam as membranas basilar e tectória, gerando
oscilações para cima e para baixo, que curvam as
células pilosas (ciliadas).
As células pilosas, assim como as células receptoras
gustatórias, são receptores não neurais. A superfície
apical de cada célula ciliada é modificada, formando
de 50 a 100 cílios rígidos, chamados de estereocílios,
os quais estão dispostos em tamanhos crescentes (FIG.
10.19a). Os estereocílios das células pilosas (ciliadas) estão inseridos na membrana tectória acima deles. Se a
membrana tectória se movimenta, os cílios abaixo dela também se movem.
Quando as células pilosas se movem em resposta às ondas sonoras, seus estereocílios se curvam, primeiro em uma
direção, depois na outra. Os estereocílios estão ligados uns aos outros por pontes proteicas, chamadas de filamentos
de ligação. Os filamentos de ligação atuam como pequenas molas conectadas a com-portas (portões) que abrem e
fecham canais iônicos na membrana dos estereocílios. Quando as células pilosas e seus estreocílios estão na
posição de repouso, cerca de 10% dos canais iônicos estão
abertos, e existe uma baixa liberação tônica do
neurotransmissor no neurônio sensorial primário.
Quando as ondas provocam uma deflexão na membrana
tectória, de modo que os cílios se curvam em direção aos
membros mais altos do feixe, os filamentos de ligação abrem
um número maior de canais iônicos, e entram cátions (K+ e
Ca2+ ) na célula, que, então, despolariza (Fig. 10.19b). Os
canais de Ca2+ dependentes de voltagem se abrem, a liberação
de neurotransmissor aumenta, e os neurônios sensoriais
aumentam sua frequência de disparo. Quando a membrana
tectória empurra os estereocílios para longe dos membros mais
altos, a tensão nas molas elásticas relaxa, e todos os canais
iônicos se fecham. O influxo de cátions diminui, a membrana hiperpolariza, e menos neurotransmissor é liberado,
reduzindo os potenciais de ação no neurônio sensorial (Fig. 10.19c).
O padrão de vibração das ondas que chegam à orelha interna é, então, convertido em um padrão de potenciais de
ação que vão para o SNC.
Uma vez que as vibrações da membrana tectória refletem a frequência da onda sonora aferente, as células pilosas
e os neurônios sensoriais devem ser capazes de responder a sons com cerca de 20 mil ondas por segundo, a mais
alta frequência audível pelo ser humano.

● Explicar como os órgãos otolíticos e cúpula (canais semicirculares) transmitem ao nervo vestibular as
informações de movimento e a posição da cabeça.
O sistema auditivo processa as ondas sonoras, de modo que elas possam ser discriminadas quanto à localização,
tom e altura (amplitude). A localização do som é um processo complexo que requer entrada sensorial de ambas as
orelhas associada a uma computação sofisticada feita pelo encéfalo (ver Fig. 10.4). Todavia, o processamento
inicial do tom e da amplitude ocorre na cóclea de cada orelha.
A codificação para o tom do som é primariamente uma função da membrana basilar. Próximo de onde se fixa,
entre a janela oval e a janela redonda, essa membrana é rígida e estreita, mas se torna alargada e flexível à medida
que se aproxima de sua extremidade distal (FIG. 10.20a).
Ondas de alta frequência, quando entram na rampa vestibular, criam um deslocamento máximo da porção da
membrana basilar próxima à janela oval e, consequentemente, não são transmitidas muito longe ao longo da cóclea.
As ondas de baixa frequência percorrem toda a membrana basilar e geram seu deslocamento máximo próximo à
extremidade distal flexível.
Esta resposta à frequência transforma o aspecto temporal da frequência (número de ondas sonoras por segundo)
em uma codificação espacial para o tom, indicada pela sua localização ao longo da membrana basilar (Fig. 10.20b).
Uma boa analogia é o teclado de um piano, onde a localização de uma tecla indica seu tom. A codificação espacial
da membrana basilar é preservada no córtex auditivo quando os neurônios se projetam das células pilosas às regiões
cerebrais correspondentes. A amplitude do som, ou intensidade, é codificada pela orelha da mesma maneira que a
intensidade do sinal é codificada pelos receptores somáticos. Quanto mais intenso o som, mais frequente o disparo
de potenciais de ação no neurônio sensorial.
Após a cóclea transformar as ondas sonoras em sinais
elétricos, os neurônios sensoriais transferem essa
informação para o encéfalo. O nervo coclear (auditivo) é
um ramo do nervo craniano VIII, o nervo
vestibulococlear (p. 288). Os neurônios auditivos
primários projetam-se da cóclea para os núcleos
cocleares do bulbo (FIG. 10.21). Alguns desses
neurônios conduzem informações que são processadas
na temporização do som, e outros conduzem
informações que são processadas como qualidade do
som.
Do bulbo, os neurônios sensoriais secundários
projetam-se para dois núcleos superiores, um ipsilateral
(no mesmo lado do corpo) e outro contralateral (no lado
oposto). A divisão dos sinais gerados pelo som em dois
tratos ascendentes significa que cada lado do cérebro recebe informação de ambas as orelhas. Esses tratos
ascendentes fazem sinapses em núcleos no mesencéfalo e no tálamo, antes de se projetarem para o córtex auditivo
(ver Fig. 10.3). Vias colaterais enviam informações à formação reticular e ao cerebelo.
A localização da origem de um som é uma tarefa inte-0 0 3 10 400 Hz 20 30 grada, a qual requer a entrada
simultânea dos sinais de ambas as orelhas. A não ser que o som esteja vindo diretamente da frente da pessoa, ele
não chegará ao mesmo tempo nas duas orelhas. O encéfalo registra a diferença no tempo de chegada do som às
orelhas e usa uma computação complexa para criar uma representação tridimensional da origem do som.

AEP - FISIOLOGIA DO OLFATO E DO PALADAR


● Descrever os receptores, a transdução sensorial e as vias neurais da olfação.
Vias olfatórias O sistema olfatório humano consiste de um epitélio olfatório revestindo a cavidade nasal, no qual
estão inseridos os neurônios sensoriais primários, chamados de neurônios sensoriais olfatórios. Os axônios dos
neurônios sensoriais olfatórios formam o nervo
olfatório, ou nervo craniano I (p. 288). O nervo
olfatório faz sinapse com neurônios sensoriais
secundários no bulbo olfatório, localizado na parte
inferior do lobo frontal (Fig. 10.13b). Os neurônios
secundários e de ordem superior se projetam do
bulbo olfatório, através do trato olfatório, para o
córtex olfatório (Fig. 10.13a). O trato olfatório, ao
contrário da maioria das outras vias sensoriais, não
passa pelo tálamo.
Esse arranjo parece muito simples, mas ocorre um
processamento complexo antes de os sinais
passarem para o córtex. As evidências atuais
sugerem que a modulação da informação sensorial
inicia no epitélio olfatório. Um processamento
adicional ocorre no bulbo olfatório. Algumas vias
descendentes de modulação provenientes do córtex
terminam no bulbo olfatório, e existem conexões
moduladoras recíprocas dentro e entre os dois
bulbos olfatórios.
Vias ascendentes do bulbo olfatório também levam
à amígdala e ao hipocampo, partes do sistema
límbico envolvidas na emoção e na memória. Um
aspecto surpreendente da olfação é a sua ligação com a gustação, a memória e a emoção. Um perfume especial ou o
aroma de um alimento pode desencadear memórias e criar uma onda de nostalgia em relação ao tempo, espaço ou
pessoa com quem o aroma está associado. De algum modo que não compreendemos, o processamento dos odores
no sistema límbico cria memórias olfatórias profundamente escondidas. Combinações particulares de receptores
olfatórios são associadas a outros padrões de experiência sensorial, de modo que, quando uma via é estimulada,
todas o são.

O epitélio olfatório
Em seres humanos, os neurônios sensoriais olfatórios estão concentrados em cerca de 3 cm2 do epitélio olfatório,
localizado na parte superior da cavidade nasal (Fig. 10.13a). Os neurônios sensoriais olfatórios possuem um único
dendrito, que se estende do corpo celular para a superfície do epitélio olfatório, e um único axônio, que se estende
até o bulbo olfatório. Os neurônios sensoriais olfatórios, diferentemente de outros neurônios do corpo, têm vida
muito curta, sendo substituídos aproximadamente a cada dois meses (Fig. 10.13c).
As células-tronco da camada basal do epitélio olfatório se dividem continuamente para criar novos neurônios. O
axônio de cada novo neurônio deve encontrar o seu caminho até o bulbo olfatório e fazer as conexões sinápticas
adequadas. Os cientistas estão estudando como esses neurônios conseguem repetir toda vez a mesma conexão, a
fim de aprofundar nosso conhecimento de como os neurônios em desenvolvimento encontram seus alvos.
Em roedores, uma estrutura olfatória acessória na cavidade nasal, o órgão vomeronasal (OVN), é conhecida por
estar envolvida em respostas comportamentais a feromônios sexuais (p. 198). Estudos anatômicos e genéticos
sugerem que não há um OVN funcional em seres humanos, porém os experimentos realizados com compostos que
se acredita atuarem como feromônios humanos sugerem que os seres humanos possam se comunicar por sinais
químicos.

Transdução do sinal olfatório


A superfície do epitélio olfatório possui os terminais protuberantes dos dendritos dos neurônios sensoriais
olfatórios, onde de cada protuberância emergem vários cílios imóveis (Fig. 10.13c). Os cílios estão embebidos em
uma camada de muco, produzido pelas glândulas olfatórias (glândulas de Bowman) situadas no epitélio e na lâmina
própria.
As moléculas odoríferas devem, inicialmente, se dissolver e penetrar no muco antes que possam se ligar a uma
proteína receptora olfatória no cílio olfatório. Cada proteína receptora olfatória é sensível a uma faixa limitada de
substâncias odoríferas. Os receptores para substâncias odoríferas são receptores de membrana acoplados à proteína
G (p. 174).
Os genes dos receptores para substâncias odoríferas formam a maior família de genes nos vertebrados (cerca de
1.000 genes, ou 3-5% do genoma), mas somente cerca de 400 proteínas receptoras de substâncias odoríferas são
expressas nos seres humanos. A combinação da maioria das moléculas odoríferas com seus receptores olfatórios
ativa uma proteína G especial, a Golf, que, por sua vez, aumenta o AMPc intracelular. O aumento na concentração
de AMPc abre canais catiônicos dependentes de AMPc, despolarizando a célula. Se o potencial receptor graduado
resultante for suficientemente forte, ele dispara um potencial de ação que percorre o axônio do neurônio sensorial
até o bulbo olfatório.
O que ocorre em nível celular e molecular que nos permite discriminar milhares de odores diferentes? As
pesquisas atuais sugerem que cada neurônio olfatório individual contém um único tipo de receptor olfatório, que
responde a uma faixa limitada de moléculas odoríferas. Os axônios das células com os mesmos receptores
convergem para poucos neurônios secundários do bulbo olfatório, os quais podem modificar a informação antes de
enviá-la para o córtex olfatório. O cérebro utiliza informações provenientes de centenas de neurônios sensoriais
olfatórios, em diferentes combinações, para criar a percepção de muitos odores diferentes, exatamente como as
combinações de letras criam palavras diferentes. Esse é outro exemplo de código populacional no sistema nervoso
(p. 315).

● Descrever os receptores, a transdução sensorial e as vias neurais das cinco sensações gustatórias primárias.
O nosso sentido do paladar, ou gustação,* está intimamente relacionado com o olfato. De fato, muito do que
chamamos de sabor do alimento é, na verdade, o aroma, como você pode perceber quando tem um resfriado muito
forte. Embora o cheiro seja detectado por centenas de tipos de receptores, acredita-se atualmente que a gustação é
uma combinação de cinco qualidades: doce, azedo (ácido), salgado, amargo e umami, um gosto associado ao
aminoácido glutamato e alguns nucleotídeos. O umami, um nome derivado da palavra japonesa para “delicioso”, é
um sabor básico que aumenta o gosto dos alimentos. Por essa razão, o glutamato monossódico (MSG) é utilizado
como um aditivo alimentar em alguns países.
Cada uma das cinco qualidades gustatórias reconhecidas atualmente está associada a um processo fisiológico. O
sabor azedo (ácido) é desencadeado pela presença de H+ presença de Na+. As concentrações desses dois íons nos
líquidos corporais são precisamente reguladas devido à sua importância no equilíbrio do pH e no volume do líquido
extracelular. As outras três qualidades gustatórias resultam de moléculas orgânicas. Os sabores doce e umami estão
associados a alimentos nutritivos. O sabor amargo é reconhecido pelo corpo como um aviso da possível presença de
componentes tóxicos. É por isso que para alguns sabores amargos a nossa primeira reação muitas vezes é cuspir.
Vias gustatórias
Os receptores gustatórios estão localizados primariamente nos botões gustatórios, agrupados na superfície da
língua (FIG. 10.14a). Um botão gustatório é composto de 50 a 150 células receptoras gustatórias (CRGs),
juntamente com células de sustentação e células basais regenerativas. Os receptores gustatórios também estão
espalhados em outras regiões da cavi-dade oral, como o palato.
Para que uma substância (gustante) seja detectada, ela deve primeiro se dissolver na saliva e no muco da boca. Os
ligantes gustatórios dissolvidos interagem
com uma proteína localizada na membrana
apical (receptora ou canal) da célula
receptora gustatória (Fig. 10.14b). A
interação do ligante gustatório com a
proteína de membrana inicia uma cascata de
transdução de sinal, que termina com a
liberação de um mensageiro químico pela
CRG. Os detalhes da transdução de sinal
para as cinco sensações gustatórias ainda
são controversos, devido parcialmente ao
fato de que alguns dos mecanismos diferem
em seres humanos e em camundongos, o
principal modelo para a pesquisa gustatória
de mamíferos.
Os sinais químicos liberados das células
receptoras gustativas ativam neurônios
sensoriais primários (neurônios
gustatórios), cujos axônios seguem nos
nervos cranianos VII, IX e X para o bulbo,
onde fazem sinapse. A informação
sensorial, então, vai ao córtex gustatório
através do tálamo (ver Fig. 10.3). O
processamento central da informação
sensorial compara a entrada de várias
células receptoras gustatórias e interpreta a
sensação gustatória com base nas
populações neuronais com respostas mais
fortes (outro exemplo de código
populacional). Os sinais provenientes dos neurônios sensoriais também iniciam respostas comportamentais, como o
comportamento alimentar, e respostas antecipatórias (p. 17), que ativam o sistema digestório.

A transdução gustatória usa proteínas receptoras e canais


Os detalhes da transdução de sinal da célula receptora gustatória, antes considerados relativamente simples, são
mais complexos do que os pesquisadores imaginaram inicialmente. Os sabores doce, amargo e umami estão
associados à ativação de receptores acoplados, e o salgado, pela dos à proteína G. Os mecanismos de transdução
para o salgado e o azedo (ácido), por sua vez, parecem ser mediados por canais iônicos.
Os botões gustatórios possuem quatro tipos celulares morfologicamente distintos, denominados I, II e III, mais as
células basais. As células tipo I são células de sustentação do tipo glial. As células do tipo II, ou células receptoras,
e células do tipo III, ou células pré-sinápticas, são células receptoras gustatórias.
Cada célula receptora gustatória é uma célula epitelial não neural polarizada (p. 150) que está inserida dentro do
epitélio, de modo que apenas uma pequena ponta de uma extremidade se estende para a cavidade oral através do
poro gustatório (Fig. 10.14a). Em um dado botão gustatório, junções de oclusão unem as extremidades apicais de
células vizinhas, o que limita o movimento de moléculas entre as células. A membrana apical da CRG é modificada
em microvilosidades, as quais aumentam a área de superfície em contato com o ambiente.

Sabores doce, amargo e umami


As células receptoras gustatórias tipo II respondem aos sabores doce, amargo e umami. Essas células expressam
vários receptores acoplados à proteína G (RCPG) em suas superfícies apicais (Fig. 10.14b). Os sabores doce e
umami estão associados aos receptores T1R com diferentes combinações de subunidades. O sabor amargo utiliza
cerca de 30 variantes de receptores T2R.
As células receptoras do tipo II ativam uma proteína G especial, chamada de gustducina, que, por sua vez, ativa
várias vias de transdução de sinal. Algumas dessas vias liberam Ca2+ de
estoques intracelulares, ao passo que outras abrem canais catiônicos e permitem a entrada de Ca2+ então, iniciam a
liberação de ATP das células do tipo II. O ATP nas células do tipo II não é liberado a partir de vesículas secretoras.
Em vez disso, ele deixa a célula por canais semelhantes a junções comunicantes.
O ATP, então, atua como um sinal parácrino em neurônios sensoriais e células pré-sinápticas vizinhas. Esta
comunicação entre células receptoras gustatórias vizinhas estabelece interações complexas.

Sabor azedo (ácido)


As células pré-sinápticas tipo III respondem ao sabor azedo. Os modelos de estudo dos mecanismos de transdução
para o sabor azedo são complicados pelo fato de que aumentando o H+ é modificado. Há evidências de que o H+ , o
sinal para o sabor ácido, o pH também atua em canais iônicos das células pré-sinápticas, tanto na face intracelular
como na extracelular da membrana. A via intracelular permanece incerta. Por fim, a despolarização mediada pelo
H+ da célula pré-sináptica resulta na liberação de serotonina por exocitose. A serotonina, por sua vez, excita o
neurônio sensorial primário.

Sabor salgado
As células responsáveis pelo sabor salgado não foram ainda identificadas, mas, algumas evidências sugerem que a
recepção do sabor salgado pode envolver as células de sustentação tipo I. Do mesmo modo, a transdução de sinal
para o sabor salgado em seres humanos é igualmente obscura, complicada pelo fato de que os camundongos
possuem dois diferentes mecanismos, ao passo que os seres humanos parecem ter apenas um. No modelo atual para
o sabor salgado, o Na+ entra na célula receptora gustatória através de canal iônico apical, como o canal de Na+
epitelial (ENaC). A entrada de sódio despolariza a célula, desencadeando uma série de eventos que culminam no
disparo de um potencial de ação no neurônio sensorial primário. Os mecanismos de transdução da gustação são um
bom exemplo de como nossos modelos de função fisiológica devem periodicamente ser revisados, à medida que
novos dados de pesquisas são publicados. Por muitos anos, a visão amplamente aceita da transdução gustatória era
de que uma célula gustatória individual poderia detectar mais de um sabor, sendo que as células diferiam em sua
sensibilidade. Contudo, a pesquisa da gustação com técnicas de biologia molecular e camundongos nocaute
atualmente indicam que cada célula receptora gustatória é sensível a apenas um sabor.

AEP - FISIOLOGIA DA VISÃO


Descrever a função e características do humor aquoso e do humor vítreo
A câmara anterior na frente da lente é preenchida com o humor aquoso, um líquido com baixa concentração de
proteínas, similar ao plasma, que é secretado pelo epitélio ciliar que sustenta a lente. Atrás da lente, está uma
câmara muito maior, a câmara postrema (câmara vítrea), preenchida principalmente pelo humor vítreo, uma matriz
clara gelatinosa que ajuda a manter a forma do bulbo do olho. A parede externa do bulbo do olho, a esclera, é
constituída de tecido conectivo.
O olho é preenchido com líquido intraocular, o que mantém
pressão suficiente no globo ocular para mantê-lo distendido. A
Figura 50.18 demonstra que esse líquido pode ser dividido em
duas porções – humor aquoso, que fica na frente do cristalino, e
humor vítreo, que fica entre a superfície posterior do cristalino e a
retina. O humor aquoso é um líquido que flui livremente,
enquanto o humor vítreo, algumas vezes chamado de corpo vítreo,
é massa viscosa e gelatinosa que se mantém coesa por uma rede
fibrilar fina, composta primariamente de moléculas de
proteoglicanos bastante alongadas. Tanto água quanto substâncias
dissolvidas podem se difundir lentamente no humor vítreo, mas há
pouco fluxo de líquido.
O humor aquoso é continuamente formado e reabsorvido. O
balanço entre formação e reabsorção do humor aquoso regula o
volume total e a pressão do líquido intraocular.

Descrever a função e características do cristalino


A lente (cristalino), suspensa por ligamentos, denominados zônulas ciliares, é um disco transparente que focaliza a
luz.
Nas crianças, a potência refrativa do cristalino pode ser aumentada voluntariamente de 20 dioptrias para
aproximadamente 34 dioptrias, constituindo uma “acomodação” de 14 dioptrias. Para fazer essa acomodação, o
formato do cristalino é alterado, de uma lente moderadamente convexa para uma lente muito convexa.
Em uma pessoa jovem, o cristalino é composto de uma cápsula altamente elástica preenchida com um líquido
viscoso e rico em proteínas, mas totalmente transparente. Quando o cristalino está em seu estado relaxado, sem
nenhuma tensão sobre sua cápsula, ele assume um formato quase esférico, principalmente em virtude da retração
elástica de sua cápsula. No entanto, como mostra a Figura 50.10, cerca de 70 ligamentos suspensores se fixam
radialmente ao redor do cristalino, puxando suas bordas em direção ao círculo externo do globo ocular. Esses
ligamentos são constantemente tensionados por suas fixações na borda anterior da coroide e da retina. A tensão
sobre os ligamentos faz com que o cristalino permaneça relativamente plano sob condições normais do olho.

Resumir o mecanismo que permite o ajuste do cristalino + Resumir o mecanismo neuromuscular responsável
pelo ajuste do tamanho da pupila e explicar como esse mecanismo pode ser alterado por agentes
farmacológicos

Os músculos ciliares também estão localizados nas fixações laterais dos ligamentos do cristalino ao globo ocular.
Esses músculos apresentam dois conjuntos separados de fibras musculares lisas – fibras meridionais e fibras
circulares. As fibras meridionais estendem-se das extremidades periféricas dos ligamentos suspensores para as
junções corneoesclerais. Quando essas fibras musculares se contraem, as inserções periféricas dos ligamentos do
cristalino são puxadas medialmente em direção às bordas da córnea, liberando, assim, a tensão dos ligamentos
sobre o cristalino. As fibras circulares são dispostas circularmente em todo o contorno das fixações do ligamento,
de modo que, quando elas se contraem, ocorre uma ação semelhante à de um esfíncter, reduzindo o diâmetro do
círculo de fixações do ligamento; essa ação também possibilita que os ligamentos exerçam menor tração sobre a
cápsula do cristalino.
Assim, a contração de qualquer um dos conjuntos de fibras musculares lisas no músculo ciliar relaxa os
ligamentos da cápsula do cristalino que, por sua vez, assume um formato mais esférico, como o de um balão, por
causa da elasticidade natural de sua cápsula.
A acomodação é controlada por nervos
parassimpáticos. A musculatura ciliar é
controlada quase completamente por sinais transmitidos pelos nervos parassimpáticos para o olho através do
terceiro par de nervos cranianos (nervo oculomotor) provenientes do núcleo do III par craniano, no tronco
encefálico, como explicado no Capítulo 52. A estimulação dos nervos parassimpáticos contrai os dois conjuntos de
fibras da musculatura ciliar, o que relaxa os ligamentos do cristalino, permitindo, então, que ele se torne mais
abaulado e aumente sua potência refrativa. Com essa potência refrativa aumentada, o olho focaliza os objetos mais
proximamente do que quando o olho tem uma potência refrativa menor. Consequentemente, à medida que um
objeto distante se move em direção ao olho, o número de impulsos parassimpáticos que incidem sobre a
musculatura ciliar precisa aumentar progressivamente para que o olho mantenha o objeto em foco constante. A
estimulação simpática tem um efeito adicional no relaxamento da musculatura ciliar, mas esse efeito é tão fraco que
quase não exerce nenhum papel no mecanismo da acomodação normal; a neurofisiologia desse mecanismo será
discutida no Capítulo 52.

Resumir o caminho da luz através das camadas da retina em direção ao epitélio pigmentar
Na primeira etapa da via visual, a luz proveniente do meio externo entra no olho. Contudo, antes de chegar à
retina, a luz sofre desvio de duas maneiras. Primeiro, a quantidade de luz que chega aos fotorreceptores é modulada
por modificações no diâmetro da pupila. Segundo, a luz é focalizada por meio de alterações na forma da lente.
Além da regulação da quantidade de luz que chega à retina, as pupilas contribuem para o que é conhecido como
profundidade de campo. Um exemplo simples é uma fotografia. Imagine uma foto de um filhote de cão sentado em
primeiro plano no meio de um campo de flores silvestres. Se somente o filhote e as flores imediatamente em torno
dele estão no foco, a foto apresentará uma
profundidade de campo pequena. Se o filhote e as
flores silvestres e todo o espaço até o horizonte
estiverem em foco, a foto apresentará uma
profundidade de campo total.
A profundidade do campo total é criada pela
constrição da pu-pila (ou o diafragma de uma
máquina fotográfica), de modo que somente um
estreito feixe de luz entra no olho. Desse modo, uma
maior profundidade da imagem é focalizada na
retina.
O campo da física que descreve o comportamento e
as propriedades da luz é chamado de óptica. Quando
os raios de luz passam do ar para um meio com
densidade diferente, como o vidro ou a água, eles
sofrem encurvamento, ou seja, refratam. A luz que
entra no olho é refratada duas vezes: primeiro quando
passa pela córnea e, novamente, ao passar através da
lente. Cerca de dois terços da refração total (curvatura) ocorrem na córnea, e o terço restante, na lente. Aqui, será
considerada somente a refração que acontece quando a luz passa pela lente, pois a lente é capaz de mudar a sua
forma para focalizar a luz.
Quando a luz passa de um meio para outro, o ângulo de refração (o quanto o raio de luz será encurvado) é
influenciado por dois fatores: (1) a diferença na densidade dos dois meios e (2) o ângulo no qual o raio de luz
encontra a superfície do meio em que ele está passando. Para a luz passando através da lente do olho, assumiremos
que a lente tem a mesma densidade do ar, de modo que este fator será desconsiderado. O ângulo no qual a luz
encontra a superfície da lente depende da curvatura da superfície da lente e da direção do feixe de luz.
Imagine raios de luz paralelos incidindo sobre a superfície de uma lente transparente. Se a superfície da lente é
perpendicular aos raios, a luz passa por ela sem nenhuma curvatura. Contudo, se a superfície não é perpendicular,
os raios de luz se encurvarão. Os raios de luz paralelos que chegam a uma lente côncava, como a mostrada na
FIGURA 10.27a, são refratados em um feixe mais largo. Os raios paralelos que incidem em uma lente convexa se
curvam para dentro e são focalizados em um ponto – lentes convexas convergem os raios de luz (Fig. 10.27b). Você
pode demonstrar as propriedades de uma lente convexa utilizando uma lente de aumento para focalizar a luz solar
em um pedaço de papel ou em outra superfície. Quando raios de luz paralelos passam através de uma lente
convexa, o ponto único para onde os raios convergem é denomina-do ponto focal (Fig. 10.27b). A distância do
centro de uma lente até seu ponto focal é conhecida como comprimento focal (ou distância focal) da lente. Para
qualquer lente, a distância focal é fixa. Para mudar a distância focal, a forma da lente deve ser alterada.
Quando a luz de um objeto passa através da lente do olho, o ponto focal e a imagem do objeto devem incidir
precisamente na retina para que o objeto esteja em foco. Na Figura 10.27c, os raios de luz paralelos incidem na
lente, cuja superfície é relativamente plana. Para essa lente, o ponto focal é na retina. O objeto está, portanto, em
foco. Para o olho humano normal, qualquer objeto que está a 6 metros ou mais do olho emite raios de luz paralelos,
que estarão em foco quando a lente estiver mais plana.
Atrás da porção fotossensível da retina humana há uma
camada escura de epitélio pigmentado (estrato pigmentoso). Sua função é absorver qualquer raio de luz que não
chegue aos fotorreceptores, evitando que essa luz seja refletida no interior do olho e provoque distorção na imagem.
A cor escura das células epiteliais é devida aos grânulos do pigmento melanina.

Comparar as estruturas celulares dos 2 tipos primários de fotorreceptores


Os bastonetes funcionam na presença de pouca luz e são responsáveis pela visão noturna, em que os objetos são
vistos em preto e branco, em vez de em cores. Os bastonetes
são mais numerosos que os cones, em uma proporção de 20:1,
exceto na fóvea central, onde se encontra apenas cones.
Os cones são os responsáveis pela visão de alta acuidade e
pela visão colorida durante o dia, quando a quantidade de luz é
alta. Acuidade significa “apurada” e deriva do latim, acuere,
que significa “aguçar”. A fóvea, que é a região de maior
acuidade visual, possui alta densidade de cones.
Os dois tipos de fotorreceptores possuem a mesma estrutura
básica (FIG. 10.30): (1) um segmento externo, cuja
extremidade está em contato com o epitélio pigmentado da
retina, (2) um segmento interno, onde se encontra o núcleo da
célula e as organelas responsáveis pela formação de ATP e pela
síntese proteica, e (3) um segmento basal, com um terminal sináptico que libera glutamato para as células bipolares.

Explicar as etapas da fotorrecepção dentro dos bastonetes


O processo de fototransdução é similar para a rodopsina (nos bastonetes) e para os três pigmentos coloridos (nos
cones). A rodopsina é composta por
duas moléculas: a opsina, uma proteína
inserida na membrana dos discos do
bastonete, e o retinal, uma molécula
derivada da vitamina A, que é a porção
do pigmento que absorve luz (ver Fig.
10.30). Na ausência de luz, o retinal está
ligado ao sítio de ligação na opsina
(FIG. 10.32). Quando ativado, mesmo
que por apenas um único fóton de luz, o
retinal muda sua conformação para uma
nova configuração. O retinal ativado não
mais se liga à opsina e, então, é liberado do pigmento em um processo denominado descoramento.
Como o descoramento da rodopsina gera potenciais de ação que seguem pela via óptica? Para entendermos esse
mecanismo, devemos conhecer outras propriedades dos bastonetes. Os sinais elétricos nas células ocorrem como
resultado do movimento de íons entre os compartimentos intracelular e extracelular. Os bastonetes possuem três
tipos principais de canais catiônicos: canais dependentes de nucleotídeo cíclico (CNG), que permitem que Na+ e
Ca2+ entrem no bastonete; canais de K+, que permitem que o K+ saia do bastonete; e canais de Ca2+ dependentes de
voltagem no terminal sináptico, que participam na regulação da exocitose do neurotransmissor.
Quando um bastonete está no escuro e a rodopsina não está ativa, a concentração de GMP cíclico (GMPc) no
bastonete é alta e ambos os canais CNG e de K+ (Fig. 10.32 1 ). O influxo de íons sódio e de Ca2+ que o efluxo de
K+ estão abertos é maior do , de modo que o bastonete permanece despolarizado com uma média de potencial de
membrana de − 40 mV (em vez do mais frequente − 70 mV). Neste potencial de membrana levemente
despolarizado, os canais de Ca2+ dependentes de voltagem estão abertos e há liberação tônica (contínua) do
neurotransmissor glutamato da porção sináptica do bastonete para a célula bipolar vizinha.
Quando a luz ativa a rodopsina, uma cascata de segundo mensageiro é iniciada a partir da proteína G transducina
(Fig. 10.32 2 ). (A transducina é relacionada à gustducina, a proteína G encontrada nas células receptoras
gustatórias do tipo II.) A cascata de segundo mensageiro da transducina diminui a concentração de GMPc, o que
fecha os canais CNG. Consequentemente, o influxo de cátions diminui ou cessa.
Com o menor influxo de cátions e o efluxo sustentado de K+ o interior do bastonete se hiperpolariza, e a liberação
de glutamato para os neurônios bipolares diminui. A luz intensa fecha todos os canais CNG e bloqueia a liberação
de neurotransmissor. A luz fraca provoca uma resposta graduada proporcional à intensidade da luz.
Após a ativação, o retinal difunde-se para fora do bastonete e é transportado para o epitélio pigmentado. Neste
local, ele é convertido a sua forma inativa antes de voltar para o bastonete e se recombinar à opsina (Fig. 10.32 3 ).
A recuperação da rodopsina do descoramento pode levar algum tempo, sendo o principal motivo da adaptação lenta
dos olhos quando saímos de um ambiente com luz intensa para o escuro.

Identificar os efeitos da luz e da escuridão na polarização da membrana dos fotorreceptores

Descrever o processo de término do sinal nas células dos bastonetes e explicar como esse processo é regulado
nos estados de luz e escuridão

Indicar a função dos cones e identificar os tipos de cones responsáveis por cada parte do espectro de cores
Os pigmentos visuais dos cones são excitados por diferentes comprimentos de onda da luz, o que nos permite a
visão colorida. A luz branca é uma combinação de cores, como você pode observar quando separa a luz branca
passando-a através de um prisma. O olho contém cones para as luzes vermelha, verde e azul. Cada tipo de cone é
estimulado por uma faixa de comprimentos de onda, porém, é mais sensível a um comprimento de onda específico
(FIG. 10.31). O vermelho, o verde e o azul são as três cores primárias que formam as cores da luz visível, assim
como o vermelho, o azul e o amarelo são as três cores primárias que formam as diferentes cores das tintas.
A cor de qualquer objeto que você esteja olhando depende do
comprimento de onda da luz refletida pelo objeto. As folhas verdes
refletem a luz verde, e bananas refletem a luz amarela. Os objetos
brancos refletem a maior parte dos comprimentos de onda. Os objetos
pretos absorvem a maior parte dos comprimentos de onda, razão pela
qual esquentam mais quando expostos à luz do sol, ao passo que objetos
brancos permanecem frios.
Nosso cérebro reconhece a cor de um objeto interpretando a combinação
de sinais provenientes dos três diferentes tipos de cones. Os detalhes da
visão colorida ainda não estão completamente compreendidos, e existem
algumas controvérsias sobre como a cor é processada no córtex cerebral.
Comparar os tamanhos dos campos receptivos dos bastonetes e cones e identificar como a diferença afeta a
acuidade visual + Resumir as respostas on e off (centro e periferia) dentro da retina e explicar por que elas
são importantes para a discriminação fina entre objetos
Agora, passaremos do mecanismo celular da transdução da luz para o processamento dos sinais luminosos pela
retina e pelo cérebro, a terceira e última etapa da nossa via visual. O processamento do sinal na retina é um
excelente exemplo de convergência (p. 260), na qual vários neurônios fazem sinapse com uma única célula
pós-sináptica (FIG. 10.33a). Dependendo da localização na retina, até 15 a 45 fotorreceptores podem convergir para
um neurônio bipolar.
Vários neurônios bipolares, por sua vez, inervam uma única célula ganglionar, de modo que a informação de
centenas de milhões de fotorreceptores da retina é condensada em apenas um milhão de axônios que deixam o olho
em cada nervo óptico.
A convergência é mínima na fóvea, onde alguns fotorreceptores têm uma relação 1:1 com os neurônios bipolares,
e máxima nas porções externas da retina.
O processamento do sinal na retina é modulado por sinais provenientes de dois conjuntos de células ainda não
abordados aqui (Fig. 10.29f). As células horizontais fazem sinapse com os fotorreceptores e com as células
bipolares. As células amácrinas modulam a informação que flui entre as células bipolares e as células ganglionares.

Células bipolares O glutamato liberado de fotorreceptores para os neurônios bipolares inicia o processamento do
sinal. Há dois tipos de células bipolares, luz-ligada (células bipolares ON) e luz-desligada (células bipolares OFF).
As células bipolares ON são ativadas na luz quando a secreção de glutamato pelos fotorreceptores diminui. No
escuro, as células bipolares ON estão inibidas pela liberação de glutamato. As células bi-polares OFF são excitadas
pela liberação de glutamato no escuro. Na luz, com menos glutamato, as células bipolares OFF são inibidas. Por
usar dois receptores diferentes para o glutamato, um estímulo (luz) gera duas respostas diferentes com um único
neurotransmissor.
Se o glutamato é excitatório ou inibitório depende do tipo de receptor de glutamato presente no neurônio bipolar.
As células bipolares ON possuem receptor de glutamato do tipo metabotrópico, denominado mGluR6, que
hiperpolariza a célula quando o glutamato se liga ao receptor no escuro. Quando o mGluR6 não está ativado, a
célula bipolar ON despolariza. As células bipolares OFF possuem receptor de glutamato do tipo ionotrópico, que
abre canais iônicos e despolariza a célula bipolar OFF no escuro. O processamento do sinal na célula bipolar
também é modificado por aferências das células horizontais e das células amácrinas.

Células ganglionares As células bipolares


fazem sinapse com as células ganglionares, os
próximos neurônios na via. Sabemos mais
sobre as células ganglionares devido à sua
disposição na superfície da retina, onde seus
axônios estão mais acessíveis a estudos.
Muitos estudos foram realizados para avaliar a
resposta das células ganglionares à estimulação
da retina com luz cuidadosamente localizada.
Cada célula ganglionar recebe informação de
uma área particular da retina. Essas áreas,
denominadas campos visuais, são similares aos
campos receptivos do sistema
somatossensorial (p. 293). O campo visual de
uma célula ganglionar próxima à fóvea é muito
pequeno. Somente alguns fotorreceptores estão associados a cada célula ganglionar, e, assim, a acuidade visual é
maior nessas áreas. Na periferia da retina, muitos fotorreceptores convergem para uma única célula ganglionar, e a
visão não é tão acurada (Fig. 10.33a).
Os campos visuais das células ganglionares são aproximadamente circulares (diferentemente da forma irregular
dos campos receptivos somatossensoriais) e estão divididos em duas porções: um centro circular e uma periferia em
forma de "rosquinha" (Fig. 10.33b). Essa organização permite que cada célula ganglionar use o contraste entre o
centro e a sua periferia para interpretar a informação visual. Um contraste forte entre o centro e a periferia produz
uma resposta excitatória intensa (uma série de potenciais de ação) ou uma resposta inibidora intensa (sem
potenciais de ação) na célula ganglionar. Um contraste fraco entre o centro e a periferia gera uma resposta
intermediária.
Existem dois tipos de campo visual na célula ganglionar. No campo centro on/periferia off, a célula ganglionar
responde de forma mais intensa quando a luz incide no centro do campo (Fig. 10.33c). Se a luz incidir na região
periférica off do campo, a célula ganglionar centro on/periferia off é fortemente inibida e para de disparar
potenciais de ação. O inverso ocorre com campos centro off/periferia on.
O que acontece se a luz é uniforme no campo visual? Nesse caso, a célula ganglionar responde fracamente. Assim,
a retina utiliza o contraste, e não a intensidade absoluta de luz, para reconhecer objetos do ambiente. A vantagem de
usar o contraste é a melhor detecção de estímulos fracos.
Os cientistas identificaram vários tipos de células ganglionares na retina de primatas. Os dois tipos predominantes,
que correspondem a 80% das células ganglionares da retina, são as células M e as células P. As células ganglionares
magnocelulares, ou células M, são grandes e respondem à informação de movimento. As células ganglionares
parvocelulares menores, ou células P, são responsivas a sinais relativos à forma e a detalhes finos, como a textura
de objetos que estão no campo visual. Recentemente, foi descoberto um subtipo de célula ganglionar, a célula
ganglionar da retina que contém melanopsina, que aparentemente também atua como um fotorreceptor que
transmite informação acerca de ciclos de luz para o núcleo supraquiasmático, o qual controla ritmos circadianos (p.
17).

AEP - EMBRIOLOGIA DO OLHO


● Descrever o desenvolvimento e a extensão das vesículas
ópticas
Os olhos começam a se desenvolver em embriões de 22
dias quando os sulcos ópticos aparecem (Figura 18.1A e B).
Os olhos são derivados de quatro fontes:
•Neuroectoderma do prosencéfalo
•Ectoderma superficial da cabeça
•Mesoderma entre as duas camadas anteriores
•Células da crista neural.
O neuroectorderma diferencia-se em retina, camadas
posteriores da íris e nervo óptico. O ectoderma superficial
forma a lente do olho, a esclera e o epitélio corneano. O
mesoderma entre o neuroectoderma e o ectoderma
superficial dá origem aos revestimentos fibroso e vascular
do olho. Três ondas de células da crista neural oriundas do
prosencéfalo e do mesencéfalo migram para o mesênquima
e diferenciam-se em uma parte do endotélio corneano e do
estroma da córnea, do corpo ciliar, dos músculos ciliares e da malha trabecular.
O desenvolvimento inicial dos olhos resulta de uma série de sinais indutores. Os genes que contêm homeobox,
incluindo o regulador de transcrição PAX6, fatores de crescimento de fibroblastos e outros fatores indutores, como
o gene PITX2, desempenham papéis importantes no desenvolvimento molecular do olho.
A primeira evidência do desenvolvimento ocular é o surgimento dos sulcos ópticos nas pregas neurais na
extremidade cranial (ou craniana, ou cefálica) do embrião (ver Figura 18.1A e B). À medida que as pregas neurais
se fundem para formar o prosencéfalo, os sulcos ópticos evaginam-se (projetam-se) a partir do futuro diencéfalo
para formar divertículos ocos (evaginações) denominados vesículas ópticas, que se projetam da parede do
prosencéfalo para o interior do mesênquima adjacente. As vesículas logo entram em contato com o ectoderma
superficial (Figura 18.1C e D). As cavidades das vesículas ópticas dão continuidade à cavidade do prosencéfalo. A
formação das vesículas ópticas é induzida pelo mesênquima adjacente ao encéfalo.

● Explicar o processo de desenvolvimento do cristalino


À medida que as vesículas ópticas crescem, as suas partes distais se expandem e as suas conexões com o
prosencéfalo sofrem uma constrição para formar pedículos ópticos ocos (ver Figura 18.1D). Concomitantemente, o
ectoderma superficial adjacente às vesículas se espessa para formar os placoides da lente, que são os primórdios da
lente (ver Figura 18.1C e D). A formação dos placoides em um campo precursor (região pré-placoide) é induzida
pelas vesículas ópticas após o condicionamento do ectoderma superficial pelo mesênquima subjacente. Uma
mensagem indutiva se transmite a partir das vesículas, estimulando as células do ectoderma superficial para formar
os primórdios da lente. Os placoides da lente invaginam-se à medida que se aprofundam no ectoderma superficial,
formando as fossetas da lente (Figura 18.2; ver 18.1D). As margens das fossetas da lente se aproximam uma da
outra e se fundem, formando as vesículas esféricas da lente (ver Figuras 18.1F e H), que perdem gradativamente a
sua conexão com o ectoderma superficial.

● Descrever o processo de maturação do cristalino


A lente desenvolve-se a partir da vesícula da lente, derivada do ectoderma superficial (ver Figura 18.1F e H). A
parede anterior da vesícula, composta pelo epitélio cuboide, passa a ser o epitélio da lente (ver Figura 18.8C). Os
núcleos das células colunares altas formadoras da parede posterior da vesícula da lente sofrem dissolução (ver
Figura 18.4). Essas células alongam-se consideravelmente para formar células epiteliais altamente transparentes, as
fibras primárias da lente. À medida que se desenvolvem, essas fibras obliteram gradativamente a cavidade da
vesícula da lente (ver Figuras 18.8A a C e 18.9). A expressão de PAX6 e SOX2 é necessária para a indução da
lente. Os fatores de transcrição PITX3, GATA3 e FOXE3 regulam a formação e a diferenciação das fibras da lente.

A margem da lente é denominada zona equatorial por estar localizada em uma posição intermediária entre os
polos anterior e posterior da lente (ver Figuras 18.8C e 18.9). As células da zona equatorial são cuboides. À medida
que se alongam, essas células perdem seus núcleos, transformando-se em fibras secundárias da lente. Essas novas
fibras da lente são adicionadas externamente às fibras primárias da lente. Embora as fibras secundárias continuem a
se formar na idade adulta e a lente aumente de diâmetro, as fibras primárias devem durar a vida toda.
A artéria hialóidea é responsável pela irrigação sanguínea da lente em desenvolvimento (ver Figuras 18.4 e 18.8).
Entretanto, a lente torna-se avascular no período fetal, quando essa parte da artéria hialóidea sofre degeneração. Daí
em diante, a lente passa a depender da difusão do humor aquoso na câmara anterior do olho (ver Figura 18.8C), que
banha a sua superfície anterior, e do humor vítreo (componente líquido do corpo vítreo) em outras partes. A lente
em desenvolvimento é recoberta por uma camada mesenquimal vascular, a túnica vascular da lente (ver Figura
18.8C). A parte anterior dessa cápsula é a membrana pupilar (ver Figura 18.8B).
A membrana pupilar desenvolve-se a partir do mesênquima posterior à córnea em continuidade com o
mesênquima que se desenvolve na esclera. A parte da artéria hialóidea que irriga a túnica vascular da lente
desaparece no fim do período fetal (ver Figura 18.8A e D). A túnica vascular da lente e a membrana pupilar
degeneram-se (ver Figura 18.8C e D), mas a cápsula da lente produzida pelo epitélio anterior da lente e pelas fibras
da lente persiste. Essa cápsula representa uma membrana basal muito espessada e possui uma estrutura lamelar em
virtude de seu desenvolvimento. O local originalmente ocupado pela artéria hialóidea é indicado pelo canal
hialóideo no corpo vítreo (ver Figura 18.8D), que normalmente é imperceptível no olho vivo.
O corpo vítreo se forma na cavidade da escavação fisiológica (ver Figuras 18.4 e 18.8C) e é composto por humor
vítreo, que é o seu componente líquido. O humor vítreo primário é derivado das células mesenquimais originárias
da crista neural, que secreta matriz gelatinosa; essa substância circundante é denominada corpo vítreo primário. O
humor vítreo primário é posteriormente circundado por um humor vítreo secundário gelatinoso, que se acredita ter
origem na camada interna da escavação do disco do nervo óptico. O humor vítreo secundário consiste em hialócitos
primitivos (células vítreas), material colagenoso e traços de ácido hialurônico.

● Descrever o desenvolvimento da retina


Sulcos lineares (fissuras retinianas) desenvolvem-se na superfície anterior da escavação do disco do nervo óptico e
ao longo dos pedículos ópticos (ver Figuras 18.1E a H e 18.3A a D). O centro da escavação fisiológica, onde a
fissura retiniana é mais profunda, forma o disco óptico, no qual a retina neural é contínua com o pedículo óptico
(ver Figuras 18.2 e 18.3C e D). Os axônios em desenvolvimento das células ganglionares adentram diretamente o
pedículo óptico e o convertem no nervo óptico (ver Figura 18.3B e C). A mielinização das fibras nervosas inicia-se
no período tardio do desenvolvimento fetal e se estende pelo primeiro ano pós-natal.
A retina se desenvolve a partir das paredes da escavação fisiológica, uma evaginação do prosencéfalo (ver Figuras
18.1C a F e 18.2). As paredes da escavação fisiológica se desenvolvem e transformam nas duas camadas da retina:
a fina camada externa da escavação fisiológica passa a ser a camada pigmentar da retina, enquanto a espessa
camada interna (neural) diferencia-se e passa a constituir a camada neural da retina (ver Figuras 18.1H, 18.4 e
18.8A). A proliferação e a diferenciação das células precursoras da retina são reguladas por fatores de transcrição
forkhead. Lhx2, Six2, Pax6 e Rax são fatores de transcrição específicos das pálpebras envolvidos na neurogênese
da retina. Na 6a semana, a melanina aparece no epitélio pigmentar da retina (ver Figura 18.8A).
Durante os períodos embrionário e fetal precoce, as duas camadas da retina são separadas por um espaço
intrarretiniano (ver Figuras 18.4 e 18.8A e B), derivado da escavação fisiológica. Esse espaço desaparece
gradativamente à medida que as duas camadas da retina se fundem (ver Figuras 18.7 e 18.8D), mas a fusão não é
forte. Como a escavação do disco do nervo óptico é uma protuberância do prosencéfalo, suas camadas são
contínuas com a parede do encéfalo (ver Figura 18.1H).
Sob a influência da lente em desenvolvimento, a camada interna da escavação fisiológica prolifera e forma um
espesso neuroepitélio (ver Figuras 18.2 e
18.4). Subsequentemente, as células dessa
camada diferenciam-se em retina neural, a
região fotossensível da retina. Essa região
contém fotorreceptores (bastonetes e cones)
e o corpo celular dos neurônios (p. ex.,
células bipolares, células ganglionares). A
sinalização do FGF regula a diferenciação
das células ganglionares da retina.
Como a vesícula óptica se invagina quando
forma a escavação do disco do nervo óptico,
a parte neural da retina é invertida; as partes
fotossensíveis das células fotorreceptoras são
adjacentes ao epitélio pigmentar da retina
(camada externa). Consequentemente, a luz
atravessa a parte mais espessa da retina antes
de alcançar os fotorreceptores. Entretanto,
por ser transparente, a retina neural não
constitui uma barreira à luz. Os axônios das células ganglionares na camada superficial da retina neural crescem
próximo à parede do pedículo óptico (ver Figuras 18.3B a D e 18.4). Por conseguinte, a cavidade do pedículo
óptico é gradativamente obliterada à medida que os axônios das muitas células ganglionares formam o nervo óptico
(ver Figura 18.3E e F).
O nervo óptico é envolvido por três bainhas que se evaginam com a vesícula e o pedículo ópticos.
Consequentemente, essas bainhas formam um contínuo com as meninges do encéfalo (ver Figura 18.3F).
•A bainha dural externa, derivada da dura-máter, é espessa e fibrosa e se funde à esclera
•A bainha intermediária, derivada da aracnoide-máter, é fina
•A bainha interna, derivada da pia-máter, é vascular e envolve intimamente o nervo óptico e os vasos arteriais e
venosos centrais da retina até o disco óptico.
O líquido cerebrospinal está presente no espaço subaracnóideo entre as bainhas intermediária e interna do nervo
óptico.
A mielinização dos axônios no interior dos nervos ópticos tem início no fim do período fetal. Após a exposição
dos olhos à luz por aproximadamente 10 semanas, a mielinização é concluída, mas o processo geralmente cessa
antes de alcançar o disco óptico, onde o nervo óptico sai do bulbo do olho. Com 26 semanas, os fetos piscam em
resposta à luz. A percepção de cor começa até a 34a semana aproximadamente. Os recém-nascidos normais
conseguem enxergar, mas não muito bem, porque são hipermetropes e conseguem focalizar somente até cerca 25
cm. Eles respondem a mudanças na iluminação e são capazes de fixar pontos de contraste. A acuidade visual
melhora rapidamente no decorrer do primeiro ano da infância, atingindo praticamente os níveis normais de um
adulto.

● Descreva como se dá a irrigação da retina


As fissuras retinianas contêm mesênquima vascular, a partir do qual os vasos sanguíneos hialóideos se
desenvolvem (ver Figura 18.3C e D). A artéria hialóidea, um ramo da artéria oftálmica, irriga a camada interna da
escavação fisiológica, a vesícula da lente e o mesênquima na escavação do disco do nervo óptico (ver Figuras
18.1H e 18.3C). A veia hialóidea se encarrega do retorno sanguíneo dessas estruturas. À medida que as margens da
fissura retiniana se fundem, os vasos hialóideos são inseridos no nervo óptico primordial (ver Figuras 18.3 C a F).
As partes distais dos vasos hialóideos posteriormente se degeneram, mas as suas partes proximais persistem como
artéria e veia centrais da retina (ver Figura 18.3E e 18.8D). A proteína morfogenética óssea (BMP), sonic hedgehog
(SHH) e o fator de crescimento fibroblástico (FGF) são essenciais para a sinalização da vesícula óptica e o
fechamento da fissura retiniana.

● Resumir o desenvolvimento das câmaras do olho


Corpo ciliar
O corpo ciliar é uma extensão cuneiforme da corioide (ver Figura 18.4). A sua superfície medial projeta-se em
direção à lente, formando os processos ciliares (ver Figura 18.8C e D). A parte pigmentada do epitélio ciliar é
derivada da camada externa da escavação fisiológica do nervo óptico, que é contínuo com a camada pigmentar da
retina (Figuras 18.7 e 18.8D). A retina não visual é o epitélio ciliar não pigmentado, que representa o
prolongamento anterior da retina neural em que não se desenvolve nenhum elemento neural (Figura 18.9).
O músculo ciliar (músculo liso do corpo ciliar) é responsável pela focalização da lente. O tecido conjuntivo do
corpo ciliar desenvolve-se a partir do mesênquima localizado na margem da escavação fisiológica do nervo óptico,
na região entre a condensação escleral anterior e o epitélio pigmentar do corpo ciliar.

Íris
A íris se desenvolve a partir da margem da escavação do disco do nervo óptico (ver Figura 18.3A), que cresce
para dentro e cobre parcialmente a lente (ver Figuras 18.7 e 18.8). As duas camadas da escavação do disco do nervo
óptico permanecem finas nessa área. O epitélio da íris representa ambas as camadas da escavação do disco do nervo
óptico; é contínuo com o epitélio de camada dupla do corpo ciliar e com o epitélio pigmentar da retina e a retina
neural. O tecido conjuntivo de sustentação (estroma) da íris é derivado das células da crista neural que migram para
a íris.
Os músculos dilatador das pupilas e esfíncter das pupilas da íris são derivados do neuroectoderma da escavação
fisiológica do nervo óptico e parecem originar-se das células do epitélio anterior da íris. Esses músculos lisos
resultam da transformação das células epiteliais em células musculares lisas.

Câmaras aquosas
A câmara anterior do olho desenvolve-se a partir de um espaço em fenda que se forma no mesênquima localizado
entre a lente e a córnea em desenvolvimento (ver Figuras 18.8A a C e 18.9). O mesênquima superficial desse
espaço forma a substância própria (tecido conjuntivo transparente) da córnea e o mesotélio da câmara anterior.
Depois que se desenvolve, a lente induz o ectoderma superficial a desenvolver-se para formar o epitélio da córnea e
da conjuntiva.
A câmara posterior do olho desenvolve-se a partir de um espaço que se forma no mesênquima posterior da íris em
desenvolvimento, na posição anterior à lente em desenvolvimento. Quando a membrana pupilar desaparece e a
pupila se forma (ver Figura 18.8C e D), as câmaras anterior e posterior do olho conseguem se comunicar uma com
a outra através do seio venoso da esclera (ver Figura 18.8D). Essa estrutura vascular que circunda a câmara anterior
do olho é o ponto de efluxo do humor aquoso da câmara anterior para o sistema venoso.

Córnea
A córnea é induzida pela vesícula da lente. A influência indutiva resulta na transformação do ectoderma
superficial na córnea avascular e transparente com multicamadas. A córnea se forma a partir de três fontes:
•Epitélio externo da córnea, derivado do ectoderma superficial
•Mesênquima, derivado do mesoderma contínuo à esclera em desenvolvimento
•Células da crista neural que migram da escavação do disco do nervo óptico, do epitélio da córnea e da camada
média do estroma da matriz extracelular rica em colágeno.

Corioide e esclera
O mesênquima que circunda a escavação do disco do nervo óptico (em grande parte, originário da crista neural)
reage à influência indutiva do epitélio pigmentar da retina, diferenciando-se em uma camada vascular interna, a
corioide, e uma camada fibrosa externa, a esclera (ver Figura 18.8C e D). A esclera desenvolve-se a partir de uma
condensação do mesênquima externo à corioide e é contínua ao estroma (tecido de sustentação) da córnea. Em
direção à margem da escavação do disco do nervo óptico, a corioide se modifica e forma os núcleos (massas
centrais) dos processos ciliares (ver Figura 18.8D), que consistem principalmente de capilares sustentados por um
delicado tecido conjuntivo. Os primeiros vasos sanguíneos da corioide aparecem durante a 15a semana; na 23a
semana, é possível distinguir facilmente as artérias e veias.

Pálpebras
As pálpebras desenvolvem-se durante a 6a semana a partir do mesênquima derivado das células da crista neural
(contribuem para a placa tarsal, o músculo levantador, o músculo orbicular, o septo orbital e o músculo tarsal) e de
duas dobras cutâneas do ectoderma superficial (contribuem para a conjuntiva, o epitélio cutâneo, os folículos
pilosos e as glândulas) que crescem sobre a córnea (ver Figura 18.8B e C). A aderência das pálpebras superiores e
inferiores ocorre antes do início da função renal, protegendo o olho em desenvolvimento contra produtos da urina
no líquido amniótico. As pálpebras permanecem aderidas até a 26a a 28a semanas (ver Figura 18.8C). Enquanto
aderidas, há um saco conjuntival fechado anterior à córnea. Quando as pálpebras se abrem, a túnica conjuntiva do
bulbo se reflete sobre a parte anterior da esclera e o epitélio superficial da córnea (ver Figura 18.8D). A túnica
conjuntiva da pálpebra reveste a superfície interna das pálpebras. A sinalização do receptor do fator de crescimento
epidérmico (EGFR) e outras vias correlatas regulam a formação das pálpebras.
Os cílios e as glândulas das pálpebras são oriundos do ectoderma superficial, de maneira semelhante à descrita
para outras partes do tegumento (ver Capítulo 9, Figura 19.1). O tecido conjuntivo e as placas tarsais (placas
fibrosas das pálpebras) desenvolvem-se a partir do mesênquima das pálpebras em desenvolvimento.

Glândulas lacrimais
Nos ângulos superolaterais das órbitas, as glândulas lacrimais desenvolvem-se a partir de vários brotos sólidos do
ectoderma superficial. Os canais lacrimais escoam para o saco lacrimal e, posteriormente, para o ducto
lacrimonasal. As glândulas são pequenas por ocasião do nascimento e não funcionam plenamente, razão pela qual
os recém-nascidos não produzem lágrimas quando choram. As lágrimas geralmente só são produzidas durante o
choro quando as glândulas estão mais desenvolvidas, depois 1 a 3 meses do nascimento

AEP- EMBRIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO


● Explicar a formação do tubo neural e das células da crista neural.
As primeiras indicações do desenvolvimento do sistema nervoso
aparecem durante a 3a semana, à medida que a placa neural e o sulco
neural se desenvolvem no lado posterior do disco embrionário trilaminar
(Figura 17.1A). A notocorda e o mesênquima paraxial induzem o
ectoderma sobrejacente a diferenciar-se na placa neural. Essa
transformação (indução neural) envolve as moléculas sinalizadoras
intercelulares, como os membros da família do fator transformador de
crescimento β, Wnts, sonic hedgehog (SHH) e as proteínas
morfogênicas ósseas (BMPs). A formação das pregas neurais, da crista
neural e do tubo neural está ilustrada nas Figuras 17.1B a F e 17.2.
•O tubo neural diferencia-se no SNC
•A crista neural origina as células que formam a maior parte do SNP e
do SNA.
A neurulação (formação da placa neural e do tubo neural) começa
durante a 4a semana (22 a 23 dias) na região entre o quarto e o sexto
pares de somitos (ver Figura 17.1C e D). Nesse estágio, os dois terços
craniais da placa e do tubo neurais, chegando até o quarto par de
somitos, representam o futuro encéfalo, e o terço caudal da placa e do
tubo representa a futura medula espinal.
A fusão das pregas neurais e a formação do tubo neural começam no
quinto somito e prosseguem em múltiplos locais até que apenas
pequenas áreas do tubo permaneçam abertas em ambas as extremidades
(Figura 17.3A e B). O lúmen do tubo neural torna-se o canal neural,
que se comunica livremente com a cavidade amniótica (ver Figura
17.3C). A abertura cranial (neuróporo rostral) fecha-se
aproximadamente no 25o dia, e o neuróporo caudal fecha-se
aproximadamente no 27o dia (ver Figura 17.3D).
O fechamento dos neuróporos coincide com o estabelecimento da
circulação vascular para o tubo neural. As proteínas syndecan 4
(SDC4) e tipo van-gogh 2 (VANGL2) parecem estar envolvidas no
fechamento do tubo neural. As células neuroprogenitoras da parede
do tubo neural engrossam para formar o encéfalo e a medula espinal (Figura 17.4). O canal neural forma o sistema
ventricular do encéfalo e o canal central da medula espinal.

● Descrever a migração da células crista neural.


À medida que as pregas neurais se fundem para formar o tubo neural, algumas células neuroectodérmicas situadas
ao longo da margem interna de cada prega neural perdem suas afinidades epiteliais e inserções em células vizinhas
(ver Figura 4.11). Conforme o tubo neural se separa do ectoderma superficial, as células da crista neural formam
massa achatada irregular, a crista neural, entre o tubo neural e o ectoderma superficial sobrejacente (ver Figura
4.11E). A sinalização por Wnt/β-catenina ativa o gene homeobox GBX2 e é fundamental para o desenvolvimento
da crista neural.
A crista neural logo se divide em partes direita e esquerda, e estas se deslocam para as faces dorsolaterais do tubo
neural; nesse local dão origem aos gânglios sensoriais dos nervos espinais e cranianos. Em seguida, as células da
crista neural se movem tanto para dentro quanto sobre a superfície dos somitos. Embora essas células sejam difíceis
de identificar, técnicas de traçadores especiais revelaram que as células da crista neural se disseminam amplamente,
mas, em geral, ao longo de vias predefinidas. A diferenciação e a migração das células da crista neural são
reguladas por interações moleculares de genes específicos (p. ex., FOXD3, SNAIL2, SOX9 e SOX10), moléculas
de sinalização e fatores de transcrição.
As células da crista neural dão origem aos gânglios espinais (gânglios da raiz dorsal) e aos gânglios do sistema
nervoso autônomo. Os gânglios dos nervos cranianos V, VII, IX e X também são parcialmente derivados das
células da crista neural. Além de formar as células ganglionares, as células da crista neural formam as bainhas de
neurilema dos nervos periféricos e contribuem para a formação das leptomeninges, a aracnoide-máter e a pia-máter
(ver Capítulo 17, Figura 17.10). As células da crista neural também contribuem para a formação das células
pigmentares, da medula da glândula suprarrenal e muitos outros tecidos e órgãos.
Estudos laboratoriais indicam que interações celulares no epitélio de superfície e entre ele e o mesoderma
subjacente são necessárias para estabelecer os limites da placa neural e especificar os locais onde ocorrerá a
transformação epiteliomesenquimal. Essas interações são mediadas pelas proteínas morfogenéticas ósseas e pelos
sistemas de sinalização Wnt, Notch e FGF. Moléculas como as efrinas também são importantes para orientar os
fluxos específicos da migração das células da crista neural. Muitas doenças humanas resultam de defeitos na
migração e/ou diferenciação das células da crista neural.

● Pontuar as funções das células da crista neural na região da cabeça e pescoço.


Células da crista neural
Conforme as pregas neurais se elevam e se fundem, as células na borda lateral da crista do neuroectoderma
começam a se dissociar de suas vizinhas. Essa população celular, a crista neural (Figuras 6.5 e 6.6), sofrerá uma
transição epiteliomesenquimal à medida que deixar o neuroectoderma por meio de migração e deslocamento ativo e
penetrar o mesoderma subjacente. (Mesoderma se refere às células derivadas do epiblasto e dos tecidos
extraembrionários. Mesênquima se refere ao tecido conjuntivo organizado frouxamente independentemente de sua
origem.) As células da crista neural da região do tronco deixam o neuroectoderma após o fechamento do tubo
neural e migram ao longo de duas vias: (1) uma via dorsal através da derme, de onde adentram o ectoderma para
dar origem aos melanócitos da pele e dos folículos pilosos; e (2) uma via ventral através da metade anterior de cada
somito para se tornarem gânglios sensoriais, neurônios simpáticos e entéricos, células de Schwann e células da
medula suprarrenal (ver Figura 6.5). Na região cranial, as células da crista neural também se formam e migram das
pregas da crista neural, deixando o tubo neural antes de seu fechamento (Figura 6.6). Essas células contribuem para
a formação do esqueleto craniofacial, dos neurônios dos gânglios craniais, das células gliais, de melanócitos e de
outros tipos celulares (Quadro 6.1). As células da crista neural também são fundamentais, contribuem para a
formação de muitos órgãos e tecidos, e são, muitas vezes, também chamadas de quarto folheto embrionário. Elas
também estão envolvidas em pelo menos um terço de todos os defeitos congênitos e muitos cânceres, como
melanomas, neuroblastomas e outros. Em termos evolutivos, essas células apareceram nos primórdios do
desenvolvimento dos vertebrados e formaram a base para as características dos vertebrados, incluindo gânglios
sensoriais e estruturas craniofaciais que expandiram o sucesso dos vertebrados, aperfeiçoando um estilo de vida
predatório.

Durante a elevação da placa neural, aparece um grupo celular ao longo de cada margem (a crista) das pregas
neurais (ver Figura 18.2). Essas células da crista neural têm origem ectodérmica e se estendem ao longo de todo o
comprimento do tubo neural. As células da crista migram lateralmente e dão origem aos gânglios sensoriais
(gânglios da raiz dorsal) dos nervos espinais e de outros tipos celulares (ver Figura 18.2).
Com o avanço do desenvolvimento, os neuroblastos dos gânglios sensoriais formam dois prolongamentos (ver
Figura 18.10A). Os prolongamentos que crescem centralmente penetram a porção dorsal do tubo neural. Na medula
espinal, eles terminam no corno dorsal ou ascendem através da camada marginal para um dos centros cerebrais
superiores. Esses prolongamentos são conhecidos coletivamente como a raiz sensorial dorsal do nervo espinal (ver
Figura 18.10B). Os prolongamentos que crescem lateralmente juntam-se a fibras das raízes motoras ventrais e
participam, assim, da formação do tronco do nervo espinal. Eles terminam nos órgãos sensoriais receptores. Assim,
os neuroblastos dos gânglios sensoriais derivados das células da crista neural originam os neurônios da raiz dorsal.
Além de formarem os gânglios sensoriais, as células da crista neural se diferenciam em neuroblastos autônomos,
células de Schwann, células pigmentares, odontoblastos, meninges e mesênquima dos arcos faríngeos (ver Quadro
6.1).

Derivados da crista neural.


● Tecido conjuntivo e ossos da face e do crânio
● Gânglios dos nervos cranianos (ver Quadro 18.3)
● Células C da glândula tireoide
● Septo conotruncal do coração
● Odontoblastos
● Derme da face e do pescoço
● Gânglios espinais (da raiz dorsal)
● Gânglios da cadeia simpática e pré-aórticos
● Gânglios parassimpáticos do sistema digestório
● Medula suprarrenal
● Células de Schwann
● Células gliais
● Meninges (prosencéfalo)
● Melanócitos
● Células musculares lisas dos vasos sanguíneos da face e do prosencéfalo

● Citar a importância das células de Schwann e dos oligodendrócitos.


As células de Schwann mielinizam os nervos periféricos; cada célula mieliniza apenas um único axônio. Essas
células são originadas da crista neural, migram perifericamente e se enrolam ao redor dos axônios, formando a
bainha de neurolema (Figura 18.12). A partir do quarto mês da vida fetal, muitas fibras nervosas adquirem uma
aparência esbranquiçada como resultado da deposição de mielina, que é formada pelo enrolamento repetido da
membrana das células de Schwann ao redor do axônio (Figura 18.12C).
A bainha de mielina que reveste as fibras nervosas na medula espinal tem uma origem completamente diferente, a
partir das células oligodendrogliais (ver Figura 18.12B e C). Ao contrário das células de Schwann, um único
oligodendrócito pode mielinizar até 50 axônios. Embora a mielinização das fibras nervosas da medula espinal
comece por volta do quarto mês da vida intrauterina, algumas das fibras motoras que descem de centros cerebrais
superiores até a medula espinal não se tornam mielinizadas até o primeiro ano da vida pós-natal. Os tratos do
sistema nervoso se tornam mielinizados por volta do momento em que começam a funcionar.
● Citar a importância do espaço dentro do tubo neural.

● Descrever a diferenciação das vesículas e o aparecimento dos ventrículos cerebrais.


Com o desenvolvimento, as pregas neurais continuam a se elevar, aproximando-se uma da outra na linha média, e
finalmente se fusionam, formando o tubo neural (Figuras 18.2 e 18.3). A fusão começa na região cervical e ocorre
nos sentidos cefálico e caudal (Figura 18.3A). Uma vez que a fusão se inicia, as extremidades abertas do tubo
neural formam os neuróporos cranial e caudal, que se comunicam com a cavidade amniótica sobrejacente (ver
Figura 18.3B). O fechamento do neuróporo cranial se dá cranialmente de seu local inicial de fechamento na região
cervical (ver Figura 18.3A) e de um local do prosencéfalo que
se formará mais tarde. Esse local mais tardio progride
cranialmente para fechar a região mais rostral do tubo neural e
caudalmente para encontrar o fechamento vindo do local
cervical que avança (Figura 18.3B). O fechamento final do
neuróporo cranial ocorre no estágio de 18 a 20 somitos (25o
dia); o fechamento do neuróporo caudal se dá
aproximadamente 3 dias mais tarde.
A extremidade cefálica do tubo neural apresenta três
dilatações, as vesículas encefálicas primárias: (1) o
prosencéfalo; (2) o mesencéfalo; e (3) o rombencéfalo (Figura
18.4). Simultaneamente, ela forma duas flexuras: (1) a flexura
cervical na junção entre o rombencéfalo e a medula espinal; e
(2) a flexura cefálica na região do mesencéfalo (Figura 18.4).
Após 5 semanas de desenvolvimento, as vesículas cerebrais primárias diferenciaram-se em cinco vesículas
secundárias. O prosencéfalo forma o telencéfalo e o diencéfalo, o mesencéfalo permanece, e o rombencéfalo forma
o metencéfalo e o mielencéfalo (Figura 18.5). Uma fenda profunda, o istmo rombencefálico, separa o mesencéfalo
do metencéfalo, e a flexura pontina marca a fronteira
entre o metencéfalo e o mielencéfalo (ver Figura 18.5).
Cada uma das vesículas secundárias contribuirá para
uma parte diferente do encéfalo. Os derivados
principais das vesículas são indicados na Figura 18.5 e
incluem telencéfalo (hemisférios cerebrais), diencéfalo
(vesícula óptica, tálamo, hipotálamo, glândula
hipófise), mesencéfalo (colículos anterior [visual] e
posterior [auditivo]), metencéfalo (cerebelo, ponte) e
mielencéfalo (bulbo).
O lúmen da medula espinal, o canal central, é
contínuo com o lúmen das vesículas encefálicas. A
cavidade do rombencéfalo é o quarto ventrículo, a do
diencéfalo é o terceiro ventrículo, e a dos hemisférios
cerebrais são os ventrículos laterais (ver Figura 18.5). O lúmen do mesencéfalo conecta os terceiro e quarto
ventrículos. Esse lúmen se torna bastante estreito e é conhecido como aqueduto de Sylvius. Cada ventrículo lateral
se comunica com o terceiro ventrículo através dos forames intraventriculares de Monro (ver Figura 18.5).

● Definir hidrocefalia e descrever suas apresentações clínicas em fetos, neonatos e adultos.


O aumento significativo da cabeça resulta do desequilíbrio entre a produção e a absorção do líquido cerebrospinal
(LCS); como resultado, há excesso de LCS no sistema ventricular do encéfalo (Figura 17.38). A hidrocefalia resulta
de comprometimento da circulação e da absorção do LCS e, em casos raros, do aumento de sua produção por um
adenoma do plexo corióideo (tumor benigno). Um prematuro pode desenvolver hemorragia intraventricular levando
à hidrocefalia por meio da obstrução da abertura lateral do quarto ventrículo (forame de Luschka) e da abertura
mediana do quarto ventrículo (forame de Magendie). Raramente, a circulação debilitada do LCS resulta de estenose
aquedutal congênita (Figura 17.39; ver Figura 17.38); o aqueduto do mesencéfalo é estreito ou consiste em vários
canais minúsculos. Em poucos casos, a estenose resulta da transmissão de um traço recessivo ligado ao
cromossomo X, mas a maioria dos casos parece resultar de infecção viral fetal (p. ex., citomegalovírus) ou por T.
gondii (ver Capítulo 20, Tabela 20.6). Sangue no espaço subaracnóideo pode causar a obliteração das cisternas ou
das granulações aracnóideas (membrana fina, limitante).
O bloqueio da circulação do LCS resulta em dilatação dos ventrículos próximos à obstrução, acúmulo interno do
LCS e compressão dos hemisférios cerebrais (ver Figura 17.39). Isso comprime o encéfalo entre o líquido
ventricular e o neurocrânio. Nos lactentes, a pressão interna resulta em expansão acelerada do encéfalo e do
neurocrânio, porque a maioria das suturas fibrosas não está fusionada. O termo hidrocefalia geralmente se refere à
hidrocefalia obstrutiva ou não comunicante, na qual todo ou parte do sistema ventricular está dilatado. Todos os
ventrículos estão dilatados se as aberturas do quarto ventrículo ou dos espaços subaracnóideos estiverem
bloqueadas, enquanto os ventrículos laterais e o terceiro ventrículo estão dilatados quando apenas o aqueduto do
mesencéfalo está obstruído (ver Figura 17.39). A obstrução de um forame interventricular pode provocar a
dilatação de um ventrículo.
A hidrocefalia resultante da obliteração das cisternas subaracnóideas ou de disfunção das granulações aracnóideas
é denominada hidrocefalia não obstrutiva ou comunicante. Embora a hidrocefalia possa estar associada à espinha
bífida cística, o aumento da cabeça pode não estar nítido ao nascimento. A hidrocefalia frequentemente provoca
afinamento dos ossos da calvária, proeminência da fronte (testa), atrofia do córtex cerebral e da substância branca
(ver Figura 17.38B e C) e compressão dos núcleos da base e do diencéfalo.

Sintomas
Recém-nascidos e bebés:
● Irritabilidade
● Vómitos
● Má alimentação
● Convulsões
Crianças:
● Má evolução estaturo-ponderal
● Alterações comportamentais → alteração do estado de consciência
● Atrasos no desenvolvimento
● Cefaleia severa
● Náuseas e vômitos persistentes
● Sonolência
● Marcha anormal
Adultos:
● Dor de cabeça persistente e com piora progressiva
● Vômitos não relacionados com alimentação
● Dificuldade para manter-se acordado (sonolência)
● Agitação
● Perda de coordenação ou equilíbrio
● Tonturas
● Perda de controle da bexiga
● Declínio da memória, concentração e outras habilidades de pensamento

● Descrever a proliferação de células neuroepiteliais no desenvolvimento do tubo neural.


Inicialmente, a parede do tubo neural é composta por um neuroepitélio espesso, pseudoestratificado e colunar (ver
Figura 17.5D). Essas células neuroepiteliais constituem a zona ventricular
(camada ependimal), que origina todos os neurônios e as células da macróglia na
medula espinal (Figura 17.6; ver Figura 17.5E). As células da macróglia são os
maiores membros da família de células da neuróglia, que incluem os astrócitos e
os oligodendrócitos. Em pouco tempo, a zona marginal, composta das partes
externas das células neuroepiteliais, torna-se reconhecível (ver Figura 17.5E). À
medida que os axônios crescem na zona marginal, a partir dos corpos das células
nervosas na medula espinal, nos gânglios espinais e no encéfalo, essa zona
gradualmente torna a substância branca da medula espinal.
Algumas células neuroepiteliais em divisão na zona ventricular diferenciam-se
nos neurônios primordiais (neuroblastos). Essas células embrionárias formam uma
zona intermediária (camada do manto) entre as zonas ventricular e marginal. Os
neuroblastos tornam-se neurônios à medida que desenvolvem os prolongamentos citoplasmáticos (ver Figura 17.6).
As células de suporte do SNC, denominadas glioblastos (espongioblastos), diferenciam-se das células-tronco
progenitoras neuroepiteliais, principalmente após o fim da formação dos neuroblastos. Os glioblastos migram da
zona ventricular para as zonas intermediária e marginal. Alguns glioblastos tornam-se astroblastos e posteriormente
astrócitos, enquanto outros (células progenitoras dos oligodendrócitos) tornam-se oligodendroblastos e, por fim,
oligodendrócitos (ver Figura 17.6). Quando as células neuroepiteliais deixam de produzir os neuroblastos e os
glioblastos, elas se diferenciam em células ependimárias, que formam o epêndima (epitélio ependimário) que
reveste o canal central da medula espinal. A sinalização hélice-alça-hélice básica SHH e Olig2 controla a
proliferação, sobrevida e padronização das células progenitoras neuroepiteliais, regulando os fatores de transcrição
GLI (ver Figura 17.2).
A micróglia (células microgliais), que está espalhada por toda
a substância cinzenta e branca da medula espinal, é constituída
por pequenas células derivadas das células mesenquimais (ver
Figura 17.6). A micróglia invade o SNC mais tarde no período
fetal, depois de o tecido ter sido penetrado pelos vasos
sanguíneos. A micróglia origina-se na medula óssea e faz parte
da população de células fagocitárias mononucleares.
A proliferação e a diferenciação das células neuroepiteliais na
medula espinal em desenvolvimento produzem paredes
espessas e finas placas no teto e no assoalho (ver Figura
17.5B). O espessamento diferencial das paredes laterais da
medula espinal logo produz um sulco longitudinal raso de cada
lado, o sulco limitante (Figura 17.7; ver Figura 17.5B). Esse
sulco separa a parte dorsal (placa alar) da parte ventral (placa
basal). As placas alar e basal produzem protuberâncias longitudinais, que se estendem pela maior parte do
comprimento da medula espinal em desenvolvimento. Essa separação regional é de fundamental importância, pois
as placas alar e basal são posteriormente associadas às funções aferente e eferente, respectivamente.

● Identificar os limites anteriores e posteriores do tubo neural e suas características.

● Identificar as estruturas embriológicas e anatômicas do SNC, SNA e SNP e compará-las com o indivíduo
adulto.
Algumas vezes, o encéfalo é dividido em tronco encefálico (constituído pelo mielencéfalo, a ponte do metencéfalo
e o mesencéfalo) e em centros superiores (cerebelo e hemisférios cerebrais). O tronco encefálico é uma continuação
direta da medula espinal e tem uma organização semelhante. Assim, são encontradas placas basal e alar distintas,
representando, respectivamente, as áreas motoras e sensoriais em cada lado da linha média. Entretanto, os centros
superiores refletem quase nada desse padrão básico; em vez disso, apresentam acentuação das placas alares e
regressão das placas basais.

Rombencéfalo
O rombencéfalo consiste no mielencéfalo, a vesícula encefálica mais caudal, e no metencéfalo, que se estende da
flexura pontina até o istmo do rombencéfalo (Figura 18.17; ver Figura 18.5).

Mielencéfalo
O mielencéfalo dá origem ao bulbo, uma zona transicional entre o encéfalo e a medula espinal. Ele difere da
medula espinal porque suas paredes laterais são evertidas (Figura 18.18). Placas alar e basal separadas pelo sulco
limitante podem ser distinguidas claramente. A placa basal, de modo semelhante ao que ocorre na medula espinal,
contém núcleos motores. Esses núcleos são divididos em três grupos, a saber: (1) um grupo eferente somático
medial; (2) um grupo eferente visceral especial intermediário; e (3) um grupo eferente visceral geral lateral (Figura
18.18C; Quadro 18.1)
O grupo eferente somático contém neurônios motores, que formam a continuação encefálica das células do corno
anterior. Na medida em que esse grupo continua rostralmente no mesencéfalo, ele é chamado de coluna motora
eferente somática. No mielencéfalo, ele inclui
neurônios do nervo hipoglosso (NC XII), que
inervam a musculatura da língua. No metencéfalo e
no mesencéfalo, a coluna contém neurônios dos
nervos abducente (NC VI) (Figura 18.19), troclear
(NC IV) e oculomotor (NC III) (ver Figura 18.23),
respectivamente. Esses nervos abastecem a
musculatura ocular.
O grupo eferente visceral especial se estende para o
metencéfalo, formando a coluna motora eferente
visceral especial. Seus neurônios motores inervam os
músculos estriados dos arcos faríngeos. No
mielencéfalo, a coluna é representada por neurônios
dos nervos acessório (NC XI), vago (NC X) e
glossofaríngeo (NC IX).
.O grupo eferente visceral geral contém neurônios
motores que abastecem a musculatura involuntária do sistema respiratório, do sistema digestório e do coração.
A placa alar contém três grupos de núcleos de retransmissão sensorial (ver Figura 18.18C e Quadro 18.1). O mais
lateral deles, o grupo aferente somático (sensorial geral), recebe sensações de dor, temperatura e de toque da faringe
pelo nervo glossofaríngeo (NC IX). O grupo intermediário, ou aferente especial, recebe impulsos das papilas
gustativas da língua, do palato, da orofaringe, da epiglote e do nervo vestibulococlear (NC VIII) para audição e
equilíbrio. Ao grupo medial, ou aferente visceral geral, é enviada informação interoceptiva do sistema digestório e
do coração.
A placa do assoalho do mielencéfalo consiste em uma única camada de células ependimárias cobertas por
mesênquima vascular, a pia-máter (ver Figura 18.18C). A combinação das duas é conhecida como tela coroide. Por
causa da proliferação ativa do mesênquima vascular, diversas invaginações saculiformes se projetam para a
cavidade ventricular subjacente (ver Figura 18.18C). Essas invaginações semelhantes a tufos formam o plexo
coroide, que produz o líquido cerebrospinal.

Metencéfalo
O metencéfalo, como o mielencéfalo, é caracterizado pelas placas basal e alar (ver Figura 18.19). Dois novos
componentes se formam: (1) o cerebelo, que deriva das lâminas alares e atua como centro de coordenação para a
postura e o movimento (Figura 18.20); e (2) a ponte, que provém das lâminas basais e serve como via para as fibras
nervosas entre a medula espinal e os córtices cerebral e cerebelar.
Cada placa basal do metencéfalo (ver Figura 18.19 e Quadro 18.1) contém três grupos de neurônios motores: (1)
grupo eferente somático medial, que origina o núcleo do nervo abducente; (2) grupo eferente visceral especial, que
contém núcleos dos nervos trigêmeo e facial, que inervam a musculatura dos primeiro e segundo arcos faríngeos; e
(3) grupo eferente visceral geral, com axônios que abastecem as glândulas submandibular e sublingual.
Cada placa basal do metencéfalo (ver Figura 18.19 e Quadro 18.1) contém três grupos de neurônios motores: (1)
grupo eferente somático medial, que origina o núcleo do nervo abducente; (2) grupo eferente visceral especial, que
contém núcleos dos nervos trigêmeo e facial, que inervam a musculatura dos primeiro e segundo arcos faríngeos; e
(3) grupo eferente visceral geral, com axônios que abastecem as glândulas submandibular e sublingual.
A camada marginal das placas basais do metencéfalo se expande à medida que forma uma ponte para as fibras
nervosas que conectam o córtex cerebral e o córtex cerebelar com a medula espinal. Essa porção do metencéfalo,
que, por conseguinte, chama-se ponte, além das fibras nervosas, contém os núcleos pontinos, os quais se originam
nas placas alares do metencéfalo e do mielencéfalo (ver Figura 18.19, setas).
As placas alares do metencéfalo contêm três grupos de núcleos sensoriais: (1) um grupo aferente somático lateral,
que contém neurônios no nervo trigêmeo; (2) o grupo aferente especial; e (3) o grupo aferente visceral geral (ver
Figura 18.19 e Quadro 18.1).

Cerebelo
As porções dorsolaterais das placas alares se dobram medialmente e formam os lábios rômbicos (ver Figura
18.18). Na porção caudal do metencéfalo, os lábios rômbicos estão bem separados, mas se aproximam um do outro
na linha média, imediatamente abaixo do mesencéfalo (ver Figura 18.20). Como resultado do aprofundamento
adicional da flexura pontina, os lábios rômbicos se comprimem cefalocaudalmente e formam a placa cerebelar (ver
Figura 18.20). Em um embrião de 12 semanas, essa placa apresenta uma pequena porção na linha média, o vérmis,
e duas porções laterais, os hemisférios. Uma fissura transversal separa logo o nódulo do verme e o flóculo lateral
dos hemisférios (ver Figura 18.20B). Esse lobo floculonodular é, filogeneticamente, a porção mais primitiva do
cerebelo.
Inicialmente, a placa cerebelar consiste em camadas neuroepitelial, do manto e marginal (Figura 18.21A). Com o
desenvolvimento, células formadas pela camada neuroepitelial migram para a superfície do cerebelo e formam a
camada granular externa. As células dessa camada conservam sua capacidade de dividir-se e formam uma zona
proliferativa na superfície do cerebelo (Figura 18.21B e C).
No sexto mês do desenvolvimento, a camada granular externa origina vários tipos celulares. Algumas dessas
células migram na direção das células de Purkinje em processo de diferenciação, que estão migrando no sentido
oposto enquanto se deslocam para a superfície (Figura 18.22) e dão origem à camada interna de células granulares,
posteriormente denominada camada granulosa no cerebelo plenamente diferenciado. As células em cesto e as
células estreladas são produzidas pelas células proliferativas na substância branca cerebelar. O córtex do cerebelo,
que consiste em células de Purkinje, neurônios de Golgi II e neurônios produzidos pela camada granular externa,
alcança seu tamanho definitivo após o nascimento (Figura 18.22B). Os núcleos cerebelares profundos, como o
núcleo denteado, alcançam sua posição final antes do nascimento (ver Figura 18.21D).

Mesencéfalo
No mesencéfalo (Figura 18.23), cada placa basal contém dois grupos de núcleos motores: (1) um grupo somático
eferente medial, representado pelos nervos oculomotor e troclear, que inervam a musculatura ocular; e (2) um
pequeno grupo eferente visceral geral, representado pelo núcleo de Edinger-Westphal, que inerva o músculo
esfíncter da pupila (Figura 18.23B). A camada marginal de cada placa basal aumenta e forma o pilar do cérebro.
Esses pilares servem como vias para as fibras
nervosas que descem do córtex cerebral para os
centros inferiores na ponte e na medula espinal.
Inicialmente, as placas alares do mesencéfalo
aparecem como duas elevações longitudinais
separadas por uma depressão oca na linha média
(ver Figura 18.23). Com o desenvolvimento, um
sulco transversal divide cada elevação em
colículos anterior (superior) e posterior (inferior)
(ver Figura 18.23B). O colículo posterior
funciona como estação de retransmissão
sináptica para os reflexos auditivos; e o colículo
anterior, como centros de correlação e de reflexo
para os impulsos visuais. Os colículos são formados por ondas de neuroblastos migrando para a zona marginal
sobrejacente. Ali, eles são organizados em camadas (ver Figura 18.23B).

Prosencéfalo
O prosencéfalo consiste no telencéfalo, que forma os hemisférios cerebrais, e no diencéfalo, que forma a escavação
óptica e o pedúnculo óptico, a hipófise, o tálamo, o hipotálamo e a glândula pineal.

Diencéfalo
Placa do assoalho e glândula pineal
Acredita-se que o diencéfalo, que se desenvolve da porção mediana do prosencéfalo (ver Figuras 18.5 e 18.17),
consista em uma placa do teto e em duas placas alares, mas não tenha placas do assoalho e basal (é interessante
mencionar que SHH, um marcador da linha média ventral, é expresso no assoalho do diencéfalo, sugerindo que
realmente exista uma placa do assoalho). A placa do teto do diencéfalo consiste em uma única camada de células
ependimárias recobertas por mesênquima vascular. Juntas, essas camadas originam o plexo coroide do terceiro
ventrículo (ver Figura 18.30). A porção mais caudal da placa do teto se desenvolve em corpo pineal. Inicialmente,
esse corpo aparece como um espessamento epitelial na linha média, mas, até a sétima semana, ele começa a
evaginar (Figuras 18.24 e 18.25). Por fim, ele se torna um órgão sólido no teto do mesencéfalo (ver Figura 18.30),
que funciona como um canal através do qual a luz e a escuridão afetam os ritmos endócrino e comportamental. No
adulto, frequentemente há deposição de cálcio na glândula pineal; esse é um marco nas radiografias do crânio.

Placa alar, tálamo e hipotálamo


As placas alares formam as paredes laterais do diencéfalo. Um sulco, o sulco hipotalâmico, divide a placa em uma
região dorsal e em uma ventral, o tálamo e o hipotálamo, respectivamente (ver Figuras 18.24 e 18.25).
Como resultado da atividade proliferativa, o tálamo se projeta
gradualmente para o lúmen do diencéfalo. Com frequência, essa
expansão é tão grande que as regiões talâmicas dos lados direito e
esquerdo se fusionam na linha média, formando a massa
intermediária, ou aderência intertalâmica.
O hipotálamo, que forma a porção inferior da placa alar,
diferencia-se em inúmeras áreas nucleares que regulam as
funções viscerais, o que inclui o sono, a digestão, a temperatura
corporal e o comportamento emocional. Um desses grupos, o
corpo mamilar, forma uma protuberância distinta sobre a
superfície ventral do hipotálamo, de cada lado da linha média
(ver Figuras 18.24A e 18.25A).
Hipófise
A hipófise desenvolve-se de duas porções completamente diferentes, a saber: (1) uma evaginação ectodérmica do
estomodeu (cavidade oral primitiva), imediatamente em frente à membrana orofaríngea, conhecida como bolsa de
Rathke; e (2) uma extensão do diencéfalo que se projeta para baixo, o infundíbulo (Figura 18.26).
Quando o embrião tem cerca de 3 semanas de idade, a bolsa de Rathke aparece como uma evaginação da cavidade
oral e subsequentemente cresce no sentido dorsal para o infundíbulo. No fim do segundo mês, ela perde sua
conexão com a cavidade oral e, então, fica em contato íntimo com o infundíbulo.
Com o desenvolvimento, as células na parede anterior da bolsa de Rathke crescem rapidamente em número e
formam o lobo anterior da hipófise, ou adeno-hipófise (ver Figura 18.26B). Uma pequena extensão desse lobo, a
porção tuberal, cresce ao redor do pedúnculo do infundíbulo e, por fim, o cerca (ver Figura 18.26C). A parede
posterior da bolsa de Rathke se desenvolve na porção intermediária, que, nos seres humanos, tem pouca
importância.
O infundíbulo dá origem ao pedúnculo e à parte nervosa, ou lobo posterior da hipófise (neuro-hipófise) (ver
Figura 18.26C). Ele é composto por células neurogliais. Além disso, contém inúmeras fibras nervosas da área
hipotalâmica.

Telencéfalo
O telencéfalo, a vesícula encefálica mais rostral, consiste em duas evaginações laterais, os hemisférios cerebrais, e
uma porção mediana, a lâmina terminal (ver Figuras 18.5, 18.24 e 18.25). As cavidades dos hemisférios, os
ventrículos laterais, comunicam-se com o lúmen do diencéfalo por meio dos forames interventriculares de Monro
(ver Figura 18.24).

Hemisférios cerebrais
Os hemisférios cerebrais surgem no início da quinta semana do desenvolvimento como evaginações bilaterais da
parede lateral do prosencéfalo (ver Figura 18.24). Até a metade do segundo mês, a porção basal dos hemisférios (i.
e., a porção que inicialmente formou a extensão anterógrada do tálamo) (ver Figura 18.24A) começa a crescer e se
projeta para o lúmen do ventrículo lateral e para o assoalho do forame de Monro (ver Figuras 18.24B e 18.25A e
B). Em cortes transversais, a região que cresce rapidamente tem aparência estriada e é conhecida, por conseguinte,
como corpo estriado (ver Figura 18.25B).
Na região em que a parede do hemisfério está ligada ao teto do diencéfalo, esta não consegue desenvolver
neuroblastos e permanece muito fina (ver Figura 18.24B). Nesse local, a parede do hemisfério consiste em uma
única camada de células ependimárias recobertas por mesênquima vascularizado, que, juntos, compõem o plexo
coroide em cada um dos ventrículos laterais. Os plexos corioides deveriam ter se formado no teto de cada
hemisfério; porém, como resultado do crescimento desproporcional de várias partes dos hemisférios, cada plexo se
projeta para o ventrículo lateral ao longo da fissura corioide (Figura 18.27; ver Figura 18.25). Imediatamente acima
da fissura corioide, a parede do hemisfério se espessa, formando o hipocampo (ver Figuras 18.24B e 18.25B). A
função primária do hipocampo, que se projeta para o ventrículo lateral, é o olfato.
Com o avanço da expansão, os hemisférios cobrem as áreas laterais do diencéfalo e do mesencéfalo, e a porção
cefálica do metencéfalo (Figura 18.28; ver Figura 18.27). De maneira semelhante, o corpo estriado (ver Figura
18.24B), sendo parte da parede do hemisfério, expande-se posteriormente e se divide em duas partes: (1) uma parte
dorsomedial, o núcleo caudado; e (2) uma parte ventrolateral, o núcleo lentiforme, que é constituído pelo putame e
pelo globo pálido (ver Figura 18.27B). Essa divisão é acompanhada por axônios que passam indo e vindo do córtex
do hemisfério, atravessando a massa nuclear do corpo estriado. O feixe de fibras formado desse modo é conhecido
como cápsula interna (ver Figura 18.27B). Os núcleos caudado e lentiforme (putame e globo pálido) fazem parte de
um conjunto de núcleos denominados núcleos da base. Esses núcleos estão substancialmente conectados ao córtex
cerebral, ao tálamo e ao tronco encefálico e são importantes no controle de movimentos voluntários, no
comportamento rotineiro, na cognição, na emoção, no aprendizado processual e nos movimentos oculares.
O crescimento contínuo dos hemisférios cerebrais nos sentidos anterior, dorsal e inferior resulta na formação dos
lobos frontal, temporal e occipital, respectivamente. Entretanto, à medida que diminui o crescimento da região
sobrejacente ao corpo estriado, a área entre os lobos frontal e temporal forma uma depressão conhecida como ínsula
(ver Figura 18.28A). Essa região, mais tarde, é coberta pelos lobos adjacentes e, no momento do nascimento, está
quase completamente coberta. Ao fim da vida fetal, a superfície dos hemisférios cerebrais cresce tão rapidamente
que aparecem muitas convoluções (giros) separadas por fissuras e sulcos (ver Figura 18.28B).

AEP - Ritmos biológicos e Reações ao medo e ansiedade


● Ilustrar o lobo límbico

● Relacionar a emoção medo com a amígdala


A Anatomia da Amígdala
A amígdala situa-se no polo do lobo temporal, logo abaixo do córtex, do lado medial. O seu nome deriva da
palavra grega para “amêndoa”, devido à sua forma. A amígdala humana é um complexo de núcleos, os quais são
comumente divididos em três grupos: os núcleos basolaterais, os núcleos corticomediais e o núcleo central
(Figura 18.8). Os aferentes à amígdala têm diversas origens, incluindo o neocórtex em todos os lobos do cérebro e
os giros hipocampal e cingulado. De particular
interesse aqui é o fato de que a informação
proveniente de todos os sistemas sensoriais alimenta a
amígdala, sobretudo os núcleos basolaterais. Cada
sistema sensorial apresenta um padrão de projeção
diferente para os núcleos da amígdala, e interconexões
dentro da amígdala permitem a integração de
informações provenientes de diferentes modalidades
sensoriais. Duas vias principais conectam a amígdala
ao hipotálamo: a via amigdalofugal ventral e a estria
terminal.
As relações entre a amígdala e o hipotálamo estão intimamente ligadas às sensações de medo e raiva. A
amígdala é responsável pela detecção, geração e manutenção das emoções relacionadas ao medo, bem como pelo
reconhecimento de expressões faciais de medo e coordenação de respostas apropriadas à ameaça e ao perigo. A
lesão da amígdala em humanos produz redução da emocionalidade e da capacidade de reconhecer o medo. Por
outro lado, a estimulação da amígdala pode levar a um estado de vigilância ou atenção aumentada, ansiedade e
medo. A amígdala é uma estrutura que exerce ligação essencial entre as áreas do córtex cerebral, recebendo
informações de todos os sistemas sensoriais. Estas, por sua vez, projetam-se de forma específica aos núcleos
amigdalianos, permitindo a integração da informação proveniente das diversas áreas cerebrais, através de
conexões excitatórias e inibitórias a partir de vias corticais e subcorticais. Os núcleos basolaterais são as
principais portas de entrada da amígdala, recebendo informações sensoriais e auditivas; já a via amigdalofugal
ventral e a estria terminal estabelecem conexão com o hipotálamo, permitindo o desencadeamento do medo. A
estria terminal está relacionada à liberação dos hormônios de estresse das glândulas hipófise e supra-renal durante
o condicionamento. Aferências sensoriais à amígdala são recebidas pelo núcleo lateral. As aferências auditivas
provêm do tálamo auditivo e do córtex auditivo e chegam ao núcleo lateral da amígdala, estimulando-a nos
processos de medo condicionado (conforme descrito adiante). Tal fato é confirmado por estudos de ressonância
magnética funcional (fRMI) em humanos, nos quais, durante o condicionamento, se observou atividade da
amígdala e atividade correlata no tálamo. Além do córtex e do tálamo auditivos, áreas ventrais do hipotálamo
projetam se para os núcleos basolateral e basomedial da amígdala, havendo, em casos de lesão dessas áreas,
interferência na geração do condicionamento.
Essa técnica consistia em oferecer um estímulo emocionalmente neutro, como a emissão de um tom sonoro
(estímulo condicionado), e associá-lo a um estímulo aversivo, como um choque elétrico (estímulo
incondicionado). Depois da aplicação repetida desses estímulos associados, notou-se que o estímulo condicionado
foi capaz de provocar respostas observadas, tipicamente, na presença de perigo, como comportamento de defesa
(respostas de fuga ou luta), ativação do sistema nervoso autônomo (alterações no fluxo sangüíneo e freqüência
cardíaca), respostas neuroendócrinas (liberação de hormônios hipofisários e supra-renais), entre outros. Situações
como exposição a sons fortes e súbitos, altura elevada e estímulos visuais grandes não identificados – que surgem
na parte superior do campo visual de modo repentino –, produzem o chamado medo incondicionado, presente em
vários animais. Na espécie humana, o medo incondicionado pode ser produzido, por exemplo, pela escuridão. O
medo condicionado, ou aprendido, é causado pela maioria dos estímulos, que se tornam “avisos” de que situações
ameaçadoras podem acontecer novamente.

● Descrever o circuito neural para o medo aprendido


Experimentos em animais e em seres humanos, bem como introspecção, indicam que memórias de eventos
emocionais são particularmente vívidas e duradouras. Isso é, indubitavelmente, verdadeiro para o medo
aprendido. Por meio da socialização ou de experiências dolorosas, todos aprendemos a evitar certos
comportamentos pelo medo de sermos feridos. Se, quando criança, você recebeu um choque doloroso após
colocar um clipe de papel em uma tomada, você provavelmente nunca mais repetiu tal procedimento. Memórias
associadas ao medo podem ser rapidamente formadas e durarem muito. Como veremos no Capítulo 22, no
transtorno do estresse pós-traumático, o medo intenso que resulta de uma experiência traumática pode interferir
com a vida normal durante muitos anos. Embora não se acredite que a amígdala seja um sítio de armazenamento
primário da memória, alterações sinápticas na amígdala parecem estar envolvidas na formação de memórias para
eventos emocionais.
Diversos experimentos sugerem que
neurônios na amígdala possam
"aprender" a responder a estímulos
associados à dor, e, após tal
aprendizado, esses estímulos passam a
evocar uma resposta de medo. Em um
experimento realizado por Bruce Kapp e colaboradores, na Universidade de Vermont, coelhos foram
condicionados para associar um certo tom a uma dor leve. Um sinal normal de medo nos coelhos é uma alteração
na frequência cardíaca. No experimento, um animal era colocado em uma gaiola e, em diferentes tempos, ele
ouvia um dentre dois tipos de tons. Um dos tons era seguido por um leve choque elétrico nas patas, aplicado
através do soalho metálico da gaiola; o outro tom não produzia qualquer sensação desagradável. Após o treino, o
grupo de Kapp verificou que a frequência cardíaca do coelho apresentava uma resposta de medo ao tom associado
à dor, mas não ao tom benigno. Antes do condicionamento, os neurônios no núcleo central da amígdala não
respondiam aos tons usados no experimento. Após o condicionamento, contudo, os neurônios no núcleo central
da amígdala respondiam ao tom relacionado ao choque (mas não ao tom benigno). Joseph LeDoux, da
Universidade de Nova Iorque, mostrou que, após esse tipo de condicionamento envolvendo medo, lesões da
amígdala eliminam as respostas viscerais aprendidas, como alterações de frequência cardíaca e de pressão arterial.
Parece que a resposta condicionada na amígdala se origina de mudanças sinápticas nos núcleos basolaterais.
A Figura 18.10 mostra um circuito proposto para explicar o medo aprendido. A informação sensorial, por
exemplo, o tom que o animal ouve e o choque elétrico que ele sente, é enviada para a região basolateral da
amígdala, onde células, por sua vez, enviam axônios ao núcleo central. O pareamento de um tom neutro com um
estímulo doloroso leva a alterações na eficácia sináptica, que aumentam a resposta da amígdala ao tom após o
condicionamento (os Capítulos 24 e 25 dis- cutem as alterações neurais que ocorrem com o condicionamento).
Eferentes do núcleo central projetam-se ao hipotálamo, que pode alterar o estado do sistema nervoso visceral em
qualquer de suas divisões, simpática, parassimpática ou enté- rica, e à substância cinzenta periaquedutal no tronco
encefálico, que pode evocar reações comportamentais via sistema motor somático. Acredita-se que a experiência
emocional tenha base na atividade do córtex cerebral.
Estudos recentes sugerem que o papel da amígdala no medo aprendido, inicialmente estudado em coelhos e
ratos, verifica-se também em seres humanos. Em um estudo, foram apresentados diversos estímulos visuais aos
participantes, que foram condicionados a esperar por um leve choque elétrico, quando um determinado estímulo
era apresentado. Um aparelho de diagnóstico por imagem utilizando IRMf monitorava a atividade encefálica. As
imagens de RMf mostram que o estímulo visual temido ativava a amígdala significativamente mais do que os
estímulos visuais não associados ao choque.
Em um outro estudo utilizando imageamento da atividade encefálica por TEP, realizado por Hamann e
colaboradores, os participantes inicialmente observavam uma série de fotografias. Algumas das fotos eram
agradáveis (ani- maizinhos simpáticos, cenas sexualmente excitantes, alimentos apetitosos), algumas fotos eram
assustadoras ou aversivas (animais ameaçadores, corpos mutilados, violência) e algumas eram neutras (cenas de
ambientes domésti- cos, plantas). Comparados com objetos neutros, tanto os estímulos prazerosos quanto os
desagradáveis afetaram medidas fisiológicas, como a frequência cardíaca e a condutância da pele, e evocaram
maior atividade na amígdala. Essas medidas confirmam o papel da amígdala no processamento emocional, como
já discutimos. Na segunda fase do experimento, os participantes foram colocados novamente no aparelho de TEP,
e várias figuras foram-lhes mostradas. Foi, então, pedido aos participantes que utilizassem a memória e
identificassem quais das fotos haviam visto na sessão inicial de condicionamento. Como esperado, os
participantes recordaram melhor as fotos com conteúdo emocional do que as neutras. O aumento na memória para
figuras emocionais apresentou correlação com a atividade registrada na amígdala (Figura 18.11). Não houve tal
correlação para figuras neutras.

● Entender os efeitos da estimulação e de Lesões da Amígdala


Os pesquisadores têm demonstrado, em diferentes espécies, que lesões da amígdala atenuam as emoções de
modo semelhante à síndrome de Klüver-Bucy. A amigdalectomia bilateral em animais pode reduzir
profundamente o medo e a agressividade. Há relatos de que ratos submetidos a esse tratamento se aproximam de
um gato sedado e mordiscam suas orelhas, e que um lince selvagem se torna tão dócil quanto um gato doméstico.
Numerosos estudos em seres humanos têm examinado os efeitos de lesões que incluem a amígdala sobre a
capacidade de reconhecer expressões faciais de emoção. Muito embora seja consenso que essas lesões
prejudiquem o reconhecimento da expressão emocional, os pesquisadores discordam sobre quais emoções são
afetadas. Em diferentes estudos, déficits associados a medo, raiva, tristeza e desgosto têm sido relatados. A
variedade de déficits provavelmente reflete, em parte, diferenças nas lesões: duas lesões raramente são iguais e,
em geral, incluem lesões a outras estruturas além da amígdala. Ainda assim, o sintoma mais comumente relatado
para as lesões que incluem a amígdala é uma incapacidade de reconhecer o medo em expressões faciais.
Se a remoção da amígdala reduz a expressão e o reconhecimento do medo, o que ocorre quando a amígdala
intacta é estimulada eletricamente? Dependendo do sítio de estimulação, isso pode levar a efeitos diferentes,
incluindo um estado de vigilância ou atenção aumentados. A estimulação da porção lateral da amígdala em gatos
pode produzir uma combinação de medo e agressividade violenta. Tem sido relatado que a estimulação elétrica da
amígdala em seres humanos leva à ansiedade e ao medo. Não é de surpreender, então, que a amígdala figure
sempre em destaque nas teorias atuais sobre transtornos de ansiedade, como veremos no Capítulo 22.
Estudos utilizando imageamento funcional encefálico demonstram que a atividade neural na amígdala é
consistente com seu papel no medo, como pode ser visto na Figura 18.6. Em um experimento realizado por
Breiter e colabora- dores, os participantes eram posicionados em uma máquina de IRMf (ressonân- cia magnética
funcional), e a atividade encefálica era monitorada enquanto lhes eram mostradas fotos de faces neutras, felizes
ou amedrontadas (Figura 18.9a). A atividade encefálica em resposta às faces amedrontadas mostrava maior
atividade da amígdala do que em resposta às expressões neutras (Figura 18.9b). A ativação da amígdala era
específica para o medo, uma vez que não houve diferença na atividade em resposta a expressões felizes ou neutras
(Figura 18.9c). Outros estudos relataram ativação da amígdala em resposta a outras expressões faciais, incluindo
felicidade, tristeza e raiva. A função que a amígdala desempe- nha nessas várias emoções não foi ainda
esclarecida, mas todas as evidências em conjunto sugerem que a amígdala tenha um papel-chave na detecção de
estímu- los amedrontadores e ameaçadore

● Descrever os ritmos biológicos


Durante um dia normal, você experimenta dois tipos muito diferentes e notáveis de comportamento: a vigília e o
sono. Muito menos óbvio é que seu sono também tem distintas fases, ou estados. Várias vezes durante uma noite,
você entra em um estado chamado de sono de movimento rápido dos olhos, ou sono REM, quando seu EEG se
parece mais com o estado acordado do que com o estado adormecido, seu corpo (exceto para os músculos dos
olhos e os respiratórios) está imobilizado e você invoca ilusões detalhadas e vívidas, que chamamos de sonhos. O
resto do tempo você gasta em um estado chamado de
sono não REM, no qual o encéfalo geralmente não gera
sonhos complexos. (O sono não REM é também chamado
às vezes de sono de ondas lentas, pois o EEG é dominado
por ritmos amplos e lentos.) Esses estados
comportamentais fundamentais – vigília, sono não REM e
sono REM – são produzidos por três estados distintos da
função encefálica (Tabela 19.1). Cada estado também está
acompanhado por grandes mudanças na função corporal.
O sono não REM parece ser um período de repouso. A
tensão muscular está reduzida em todo o corpo, e o
movimento é mínimo. O corpo é capaz de movimentos
durante o sono não REM, mas só o faz raramente, sob o
comando ence- fálico, geralmente para ajustar a posição
corporal. A temperatura e o consumo de energia do corpo
estão reduzidos. Devido a um aumento na atividade da
divisão parassimpática do SNV, as frequências cardíaca e
respiratória e a função renal diminuem e os processos
digestórios são acelerados.
Durante o sono não REM, o encéfalo também parece repousar. A sua taxa de uso de energia e as frequências de
disparo de seus neurônios, em geral, estão no nível mais baixo de todo o dia. Os ritmos lentos e de grande
amplitude do EEG indicam que os neurônios do córtex estão oscilando em sincronia relativamente alta, e
experimentos sugerem que a maioria dos sinais sensoriais aferentes não pode alcançar o córtex. Embora não
exista uma maneira de se saber com certeza o que as pessoas estão pensando quando elas estão dormindo, os
estudos indicam que os processos mentais também atingem seu nível diário mais baixo durante o estágio não
REM. Quando acordadas, as pessoas frequentemente não lembram de nada, ou lembram apenas de pensamentos
plausíveis breves, fragmentados, com poucas imagens visuais. Durante o sono não REM, são raros os sonhos
detalhados, irracionais e elaborados, embora não estejam completamente ausentes. William Dement, da
Universidade Stanford, um pioneiro na pesquisa do sono, caracteriza o sono não REM como um encéfalo
indolente em um corpo em movimento.
Em contrapartida, Dement chamou o sono REM de um encéfalo ativo e alucinando em um corpo paralisado. O
sono REM é o sono em que se sonha. Embora os períodos REM sejam responsáveis somente por uma pequena
parte de nosso sono, é a parte acerca da qual muitos pesquisadores são entusiasmados (e esse é o estado que mais
excita o encéfalo), provavelmente porque os sonhos são tão intrigantes e enigmáticos. Se você acordar alguém
durante o sono REM, como Dement, Eugene Aserinsky e Nathaniel Kleitman fizeram em meados da década de
1950, essa pessoa provavelmente relatará episódios visualmente deta- lhados, animados, frequentemente com
histórias bizarras – o tipo de sonhos acerca dos quais gostamos de falar e que tentamos interpretar.
A fisiologia do sono REM também é especial. O EEG parece quase indistinguível daquele de um encéfalo ativo,
em vigília, com oscilações rápidas e de baixa voltagem. Essa é a razão pela qual o sono REM é, às vezes,
chamado de sono paradoxal. De fato, o consumo de oxigênio pelo encéfalo (uma medida de sua utilização de
energia) é mais elevado no sono REM do que quando estamos acordados e concentrados em problemas
matemáticos difíceis. A paralisia que ocorre durante o sono REM é causada por uma perda quase total do tônus
muscular esquelético, ou atonia. A maior parte do corpo é, na verdade, inca- paz de se mover. Os músculos
respiratórios continuam a funcionar, mas apenas tenuamente. Os músculos que controlam o movimento dos olhos
e os pequenos músculos do ouvido interno são exceções; eles estão nitidamente ativos. Com as pálpebras
fechadas, os olhos ocasionalmente se movem com rapidez de um lado para o outro. Estas rajadas de movimentos
oculares rápidos são os melhores indicadores de sonhos vívidos, e pelo menos 90% das pessoas que são acordadas
durante ou após essa fase relatam sonhos.
Os sistemas fisiológicos de controle são dominados pela atividade simpática durante o sono REM.
Inexplicavelmente, o sistema de controle da temperatura corporal simplesmente se desliga, e a temperatura interna
começa a ser direcionada para níveis mais baixos. As frequências cardíaca e respiratória aumentam, mas
tornam-se irregulares. Em pessoas saudáveis, o clitóris ou o pênis ficam preenchidos por sangue e eretos durante
o sono REM, embora isso geralmente não tenha qualquer relação com o conteúdo sexual dos sonhos. De uma
maneira geral, durante o sono REM, o encéfalo parece estar fazendo qualquer coisa, exceto repousa
O sono não REM está geralmente dividido em quatro estágios distintos. Durante uma noite normal, passamos ao
longo dos estágios do não REM, depois pelo REM e então de volta aos estágios não REM, repetindo o ciclo
aproximadamente a cada 90 minutos. Esses ciclos são exemplos de ritmos ultradianos, os quais têm períodos mais
rápidos do que os ritmos circadianos.
Os ritmos do EEG durante os estágios de sono são mostrados na Figura 19.16. Em média, adultos saudáveis
tornam-se sonolentos e adormecem, entrando primeiro no estágio 1 do sono não REM. O estágio 1 é um sono de
transição, quando os ritmos alfa do EEG da vigília relaxada se tornam menos regulares e se desvanecem e os
olhos fazem movimentos circulares lentos. O estágio 1 é fugaz, geralmente durando apenas uns poucos minutos.
É também o estágio de sono mais leve, significando que podemos ser facilmente acordados durante essa fase. O
estágio 2 é um pouco mais profundo e pode durar de 5 a 15 minutos. As suas características incluem a oscilação
ocasional de 8 a 14 Hz do EEG, chamada de fuso do sono, que é gerada por um marca-passo talâmico (ver Figura
19.12). Além disso, uma onda aguda de alta amplitude, chamada de complexo K é observada algumas vezes. Os
movimentos oculares quase cessam. Na sequência, segue o estágio 3, e o EEG inicia ritmos delta lentos, de
grande amplitude. Há poucos movimentos oculares e corporais. O estágio 4 é o estágio de sono mais profundo,
com ritmos do EEG de grande amplitude, de 2 Hz ou menos. Durante o primeiro ciclo de sono, o estágio 4 pode
persistir por 20 a 40 minutos. O sono, então, começa a tornar-se mais leve novamente, ascende através do estágio
3 para o estágio 2 por 10 a 15 minutos e subitamente entra em um breve período de sono REM, com seus rápidos
ritmos beta e gama do EEG e movimentos oculares agudos e frequentes.
À medida que a noite progride, ocorre uma redução geral na duração do sono não REM, particularmente dos
estágios 3 e 4, e um aumento dos períodos REM. Metade do sono REM de uma noite ocorre durante o seu último
terço, e os ciclos REM mais longos podem durar de 30 a 50 minutos. Ainda assim, parece haver um período
refratário obrigatório, de aproximadamente 30 minutos, entre os períodos de REM; em outras palavras, cada
período REM é seguido por, pelo menos, 30 minutos de sono não REM antes que o próximo período de sono
REM possa iniciar.

● Entender o papel do núcleo supraquiasmático no controle dos ritmos biológicos + Descrever como a luz
afeta os ritmos biológicos do ser humano e descrever os mecanismos envolvidos
Um relógio biológico que produz ritmos circadianos consiste em vários componentes:
Sensor de luz → Relógio → Via eferente
Uma ou mais vias aferentes são sensíveis à luz e à escuridão, e estas regulam o relógio e mantêm seu ritmo
coordenado com os ritmos circadianos do meio. O relógio continua a funcionar e mantém seu ritmo básico
mesmo quando a via aferente for removida. As vias eferentes do relógio permitem controlar certas funções
cerebrais e corporais, de acordo com a precisão temporal do relógio.
Os mamíferos têm um par de minúsculos grupos de neurônios no hipotálamo, que servem como um relógio
biológico: os núcleo supraquiasmáticos (NSQ), introduzidos no Capítulo 15. Cada NSQ tem um volume de menos
de 0,3 mm3, e seus neurônios estão entre os menores no encéfalo. Eles estão localizados em cada lado da linha
média, nas bordas do terceiro ventrículo (Figura 19.24). Quando o NSQ é estimulado eletricamente, ritmos
circadianos podem ser alterados de maneira previsível. A remoção de
ambos os núcleos abole a ritmicidade circadiana da atividade física, do
sono e da vigília, do ato de comer e de beber (Figura 19.25). Nos hamsters,
o transplante de um novo NSQ pode restaurar os ritmos em 2 a 4 semanas
(Quadro 19.5). Os ritmos encefálicos internos nunca retornam sem um
NSQ. Entretanto, lesões no NSQ não abolem o sono, e os animais
continuam a coordenar seu sono e sua vigília com ciclos claro-escuro se
estes estiverem presentes. O sono parece ser regulado por um outro
mecanismo distinto do relógio circadiano e depende fundamentalmente da
quantidade de tempo e do horário do sono prévio.
Pelo fato de o comportamento estar normalmente sincronizado com
ciclos claro-escuro, deve haver também um mecanismo fotossensível para
regular o relógio encefálico. O NSQ realiza este acoplamento via tracto
retino-hipotalâmico: os axônios de células ganglionares na retina
estabelecem sinapses diretamente com dendritos dos neurônios do NSQ.
Essa aferência oriunda da retina é necessária e suficiente para arrastar os
ciclos sono-vigília para a noite e o dia. Quando são feitos registros de
neurônios do NSQ, observa-se que muitos são, de fato, fotossensíveis.
Diferentemente dos neurônios mais familiares da via visual (ver Capítulo
10), os neurônios do NSQ possuem campos receptivos muito grandes, não
seletivos e respondem mais à luminosidade do que à orientação e ao
movimento do estímulo luminoso.
Surpreendentemente, pesquisas realizadas na última década sugerem que
as células da retina que fazem a sincronia com o NSQ não são cones ou
bastonetes. Sabe-se há bastante tempo que camundongos sem olhos não podem usar a luz para ajustar seus
relógios internos, mas camundongos mutantes com retinas intactas e que não possuem bastonetes nem cones
podem fazê-lo. Uma vez que cones e bastonetes eram os únicos fotorreceptores conhecidos nos mamíferos, a
maneira como a luz podia afetar o relógio circadiano sem essas células era um mistério.
Esse mistério foi solucionado por David Berson e colaboradores, da Universidade Brown. Eles descobriram um
novo fotorreceptor na retina, nada semelhante aos cones ou aos bastonetes, mas que era, notavelmente, um tipo
muito especializado de célula ganglionar. Lembre-se, do Capítulo 9, que células ganglionares são neurônios da
retina cujos axônios enviam informação visual para o resto do encéfalo. Acreditava-se que as células
ganglionares, assim como quase todos os demais neurônios no encéfalo, não eram diretamente fotossensíveis. As
células ganglionares sensíveis à luz, contudo, expressam um tipo singular de fotopigmento, denominado
melanopsina, que não está presente nos cones e bastonetes. Esses neurônios são excitados muito lentamente pela
luz, e seus axônios enviam sinais diretamente ao NSQ, que pode reajustar o relógio circadiano que ali reside.
Os axônios eferentes do NSQ inervam principalmente partes próximas do hipotálamo, mas alguns também se
projetam ao mesencéfalo e a outras partes do diencéfalo. Pelo fato de quase todos os neurônios do NSQ usarem
GABA como seu principal neurotransmissor, esses neurônios presumivelmente ini- bem os neurônios que
inervam. Ainda não está claro como o NSQ estabelece a precisão temporal de tantos comportamentos
importantes. Extensas lesões das vias eferentes do NSQ perturbam os ritmos circadianos. Além das vias eferentes
axonais, os neurônios do NSQ podem secretar ritmicamente o peptídeo neuro- modulador vasopressina (ver
Capítulo 15)

AEP - SONO E MEMÓRIA


SONO
● Explicar o ciclo do sono
O ciclo vigília-sono é regulado basicamente pela ação recíproca de sistemas circadianos e homeostáticos.
Alexander Borbély foi o primeiro a descrever um modelo que explicasse a interação entre esses sistemas em 1982,
denominando-o de “modelo de 2 processos de regulação do sono”.No modelo de Borbély, o componente circadiano
foi definido como processo C, e o homeostático, como processo S. De modo geral, o processo S é responsável pela
propensão ao sono, enquanto o processo C é caracterizado pela manutenção da vigília. Sendo assim, para que
ocorra o sono, o processo S deve atingir um limiar superior e o processo C deve estar abaixo de seu limite inferior.
O processo S é constituído por mecanismos envolvidos na regulação da pressão para o sono. Ao longo do dia, a
pressão para o sono progressivamente se eleva, atinge um pico máximo próximo ao horário de dormir e se dissipa
ao longo da noite (Figura 1). O metabolismo energético neuronal é o principal responsável pela promoção do
processo S. Durante a vigília, o consumo energético de trifosfato de adenosina (ATP) pelos neurônios libera
adenosina nas fendas sinápticas. A adenosina acumula-se progressivamente durante o dia em diferentes estruturas
do sistema nervoso central, especialmente no prosencéfalo basal, com frequência denominado “homeostato do
sono”.2,3 A ligação da adenosina aos seus receptores
promove a inibição de neurônios colinérgicos e a ativação
secundária de neurônios gabaérgicos (inibitórios),
levando a uma propensão para o início do sono NREM
(do inglês non-rapid eye movement).
Paralelamente ao processo S, os mecanismos de
regulação circadiana do processo C promovem os estados
de vigília e alerta. Dessa maneira, o processo C apresenta
uma variação oposta ao processo S ao longo do dia, tendo
seu pico no início da manhã e uma redução próxima ao
horário de dormir (Figura 1). O processo C é
principalmente mediado pelo ciclo claro-escuro de 24 horas, e sua ritmicidade depende de fatores tanto biológicos
como ambientais.1 Diversas pistas ambientais, especialmente o estímulo luminoso, são processadas na retina e
enviadas para o “relógio biológico” no sistema nervoso central, o núcleo supraquiasmático. As informações
referentes ao dia, por um lado, processadas no núcleo supraquiasmático levam à ativação de estruturas relacionadas
à vigília, proporcionando a elevação na temperatura corporal central, a inibição na liberação de melatonina e o
aumento nas concentrações séricas de cortisol. Por outro lado, pistas ambientais do período noturno produzem um
efeito inverso, levando a uma inibição global das estruturas relacionadas à regulação da vigília, o que favorece a
redução na temperatura corporal central, a liberação de melatonina na corrente sanguínea e a redução de hormônios
corticosteróides.

● Detalhar a interrelação entre os neurônios do tronco encefálico que contêm noradrenalina, serotonina e
acetilcolina, bem como GABA e histamina, na mediação das transições entre o sono e a vigília
As redes neurais da regulação do ciclo vigília-sono são complexas e envolvem diferentes sistemas de
neurotransmissão. Assim como para os processos
S e C, diversos modelos teóricos foram descritos
de maneira a esquematizar a ativação e a inibição
dos centros de controle dos estados de sono e
vigília. Um dos mais conhecidos é o “modelo da
interação recíproca”, que preconiza a
classificação dos neurônios envolvidos na
regulação do ciclo vigília-sono em dois tipos,
diferenciando suas atividades durante a
vigília e o sono REM (do inglês rapid eye
movement): REM-on ou REM-off. Nesse
modelo, estabelece-se que a vigília é um
estágio predominantemente modulado por
monoaminas (REM-off), enquanto o sono
REM seria principalmente colinérgico
(REM-on) (Figura 2). Nesse sentido, para o
início e a manutenção da vigília, é necessário,
por um lado, que a neurotransmissão
monoaminérgica REM-off esteja ativada
concomitantemente com a inibição do sistema
REM-on colinérgico. Por outro lado, para que ocorra a transição para o sono, especificamente o sono REM, deve
haver uma atividade oposta, na qual as
células REM-on sejam ativadas e as
REM-off sejam inibidas
Uma das principais vias neurais
responsáveis pela promoção e pela
manutenção do estado de vigília é o
sistema ativador reticular ascendente
(SARA), que se localiza na formação
reticular no tronco encefálico. O SARA é
constituído por um conjunto de fibras
nervosas que se comunicam com
diferentes estruturas do sistema nervoso
central, incluindo prosencéfalo basal,
mesencéfalo e hipotálamo lateral. As projeções ascendentes do SARA são compostas especialmente por neurônios
monoaminérgicos (dopamina, noradrenalina e serotonina) e colinérgicos (acetilcolina). Essas fibras convergem em
um sistema de ativação do córtex cerebral por meio da ativação de neurônios glutamatérgicos (excitatórios) na
região (Figura 3), levando a um consequente estado de alerta.
O início do sono NREM, como supracitado, está diretamente relacionado
à ação recíproca dos processos S e C ao longo do dia. As pistas ambientais de fotoperíodo bem como o acúmulo
progressivo de adenosina são fatores envolvidos nas vias de indução de sono NREM. Essas informações são
processadas em diversas estruturas do sistema nervoso
central e estimulam uma ação inibitória global dos
neurônios do SARA. O sistema gabaérgico do núcleo
pré--óptico ventrolateral (VLPO) localizado no
hipotálamo anterior é o principal responsável pela
ação inibitória das projeções colinérgicas e
monoaminérgicas da formação reticular (Figura 4)
A característica mais marcante na transição entre o
sono NREM e o sono REM é a mudança no padrão
eletroencefalográfico das ondas cerebrais, passando de
uma atividade sincronizada para uma dessincronização
cortical. O início e a manutenção do sono REM são
mediados pela ativação de neurônios colinérgicos nos
núcleos tegmental pedunculopontino (PPT) e tegmental dorsolateral (LDT) no tronco encefálico (Figura 5). Essas
fibras colinérgicas ascendem ao tálamo e estimulam o córtex cerebral (projeções talamocorticais), produzindo
frequências mistas de ondas cerebrais, que se assemelham ao estado de vigília.

● Descrever um polissonograma
A polissonografia (PSG) ainda é um exame amplamente utilizado no diagnóstico de diversos distúrbios do sono,
sendo, por exemplo, considerado o método padrão-ouro para diagnóstico dos distúrbios respiratórios do sono
(DRS) pela Academia Americana de Medicina do Sono (AAMS).
Na PSG realizada no laboratório de sono, recomenda-se o registro das variáveis descritas na Tabela 1,2 porém a
montagem pode ser modificada em situações especiais, como na titulação de pressão positiva contínua nas vias
aéreas (CPAP) ou na avaliação de epilepsias, parassonias, distúrbios de movimento, entre outros exemplos.
O exame é geralmente realizado à noite, procurando seguir o horário habitual de ir para a cama e de levantar do
paciente, permitindo o registro de aproximadamente de 7 a 8 horas. Durante o registro, o técnico de PSG
acompanha a gravação do exame, atende as chamadas do paciente e corrige artefatos que normalmente ocorrem. Na
Figura 1, observa-se uma época de polissonografia no momento em que as luzes foram apagadas e o exame foi
iniciado.
Além desses canais, é recomendado utilizar um sistema de áudio e vídeo sincronizado ao registro das variáveis
descritas anteriormente, para a avaliação de movimentos e sons emitidos durante o sono.
Após a realização do exame, é possível acessar o registro e efetuar as análises sugeridas pela AAMS, como
estagiamento do sono, marcação de despertares, eventos respiratórios e movimentos, e descrever os resultados
relacionados a esses parâmetros, assim como a achados associados a outros parâmetros, como alterações cardíacas,
neurológicas ou comportamentais. Essa análise é feita por um profissional especializado, em maior parte de forma
manual, baseando-se em diferentes regras para adultos e crianças.

● Descrever (1) as características comportamentais e eletrofisiológicas, (2) os movimentos musculares


esqueléticos e (3) o movimentos dos olhos, em cada um dos estágios do sono
Em adultos humanos que estão acordados, porém em repou- so, com a mente divagando e os olhos fechados, o
componente mais notável do EEG é um padrão bastante regular de ondas em uma frequência de 8 a 13 Hz e uma
amplitude de 50 a 100 μV, quando registrado através do couro cabeludo. Este padrão é o ritmo alfa (Figura 14–5).
Ele é mais acentuado nos lobos parietal e occipital e está associado a uma diminuição dos níveis de atenção. Um
ritmo semelhante tem sido observado em uma grande variedade de espécies de mamíferos. Há algumas variações
menores de espécie para espécie, mas em todos os
mamíferos o padrão é notadamente semelhante (ver
Quadro Clínico 14–1).
Quando a atenção está focada em algo, o ritmo alfa é
substituído por uma atividade irregular de baixa voltagem
de 13 a 30 Hz, o ritmo beta. Este fenômeno é chamado de
bloqueio alfa e pode ser produzido por qualquer forma de
estimulação sensorial ou concentração mental, como na
resolução de problemas aritméticos. Outro termo para
esse fenômeno é resposta de alerta, porque está
correlacionada ao estado desperto, alerta. Ele também foi
chamado de dessincronização, pois representa a
interrupção da atividade neural sincronizada óbvia
necessária para produzir ondas regulares. Entretanto, a
atividade rápida do EEG observada no estado de alerta é
também sincronizada, mas em uma frequência mais
elevada. Portanto, o termo dessincronização não é bem
empregado. As osci­ lações gama de 30 a 80 Hz são
muitas vezes observadas quando um indivíduo está
acordado e tem a atenção focada em algum
acontecimento. Essas são frequentemente substituídas por uma frequência irregular rápida à medida que o
indivíduo inicia a atividade motora em resposta a um estímulo.
O ritmo teta (4 a 7 Hz) pode ser observado nesse estágio inicial do sono de ondas lentas. Ao longo do sono
NREM, há alguma atividade da musculatura esquelética, mas não ocorrem movimentos dos olhos. O estágio 2 do
sono NREM é marcado pelo aparecimento de ondas sinusoidais chamadas de fusos do sono (12 a 14 Hz) e ondas
bifásicas ocasionais de alta voltagem chamadas de complexos K. No estágio 3 do sono NREM, um ritmo delta de
alta amplitude (0,5 a 4 Hz) domina as ondas no EEG. A lentidão máxima do traçado com ondas de grande
amplitude é observada no estágio 4 do sono NREM. Assim, a característica do sono profundo é um padrão de ondas
lentas rítmicas, indicado por uma acentuada sincronização; ele é algumas vezes referido como sono de ondas lentas.
Enquanto a ocorrência de ritmos teta e delta é normal durante o sono, seu aparecimento durante a vigília é sinal de
disfunção cerebral.

● Identificar o estágio do sono em que ocorrem os sonhos


Em contrapartida, o sono do movimento rápido dos olhos (REM) (estágio 1) é marcado por um padrão de ECG
mais próximo ao de uma pessoa acordada, com ondas de baixa amplitude e alta frequência. Durante o sono REM, a
atividade do encéfalo inibe os neurônios motores que se dirigem para os músculos esqueléticos, paralisando-os. As
exceções a esse padrão são os músculos que movimentam os olhos e os que controlam a respiração. O controle das
funções homeostáticas é deprimido durante o sono REM, e a temperatura do corpo diminui, aproximando-se da
temperatura ambiente.
O sono REM é o período durante o qual ocorre a maioria dos sonhos. Os olhos movem-se atrás das pálpebras
fechadas, como se acompanhassem a ação do sonho. As pessoas são mais propensas a acordar espontaneamente nos
períodos de sono REM.

● Comparar dissonias e parassonias


Dissonias, que incluem os transtornos intrÌnsecos do sono, os transtornos extrÌnsecos do sono e os transtornos
relacionados com o ritmo circadiano; 2. Parassonias, incluindo transtornos do despertar, transtornos da transição
vigÌlia/sono, relacionadas com o sono REM e outras
parassonias.
Dissonias são transtornos que produzem dificuldades
para iniciar ou manter o sono, ou sonolência excessiva e,
constituem os transtornos do sono mais importantes
associados com o sono noturno perturbado ou com a
vigÌlia transtornada.
Parassonias é o nome que se dá às manifestações e
comportamentos peculiares que ocorrem durante o sono e
que geralmente não acarretam distúrbios do tipo
sonolência diurna ou sono não reparador.

● Definir insônia e identificar seus tratamentos


Dentro das dissonias se encontra a insônia primária, cujas características fundamentais são a dificuldade para
iniciar ou manter o sono e a sensação de não ter tido um sono reparador durante perÌodo não inferior a 1 mês. O
transtorno do sono pode dar lugar a um mal-estar clinicamente significativo ou a uma deterioração social no
trabalho ou em outras áreas importantes de atividade do paciente (MONTI, 2000).
Paralelamente, caracteriza-se como o sono inadequado e/ou não-restaurador, com consequências diurnas,
incluindo irritabilidade, fadiga e déficit de concentração de memória. Em relação à temporalidade, tem sido
preconizada que a persistência da insônia por mais de seis meses indica sua comorbidade a transtornos clÌnicos e
psiquiátricos, sendo a forma mais freq¸ente a insÙnia comÛrbida ‡ depress„o (CHELLAPPA e ARA⁄JO, 2007).
De acordo com Monti (2000), a insÙnia prim·ria se associa habitualmente a um aumento do nÌvel de alerta
fisiolÛgico e psicolÛgico durante a noite, junto a um condicionamento negativo para dormir. A preocupação
intensa e o mal-estar relacionados com a impossibilidade de dormir dão lugar a um círculo vicioso, pois quanto
mais o paciente tenta dormir, mais frustrado e incomodado se sente, o que acaba dificultando ainda mais o sono.
Com frequência os pacientes dizem dormir melhor fora do seu quarto e do seu ambiente. A insônia crônica pode
acarretar uma diminuição da sensação de bem-estar durante o dia, caracterizada pela alteração do estado de ânimo e
da motivação diminuição da atenção da energia e da concentração aumento da sensação de fadiga e mal-estar.

LÍLIAN, A. et al. UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E


SOCIAIS CURSO DE PSICOLOGIA TRANSTORNOS DO SONO, QUALIDADE DE VIDA E TRATAMENTO
PSICOLÓGICO. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<http://www.pergamum.univale.br/pergamum/tcc/Transtornosdosonoqualidadedevidaetratamentopsicologico.pdf>.


MEMÓRIA
● Descrever as diversas formas de memória
Os psicólogos, investigando meticulosamente a memória e o aprendizado, conseguiram distinguir o que parece se
tratar de diferentes tipos de memória. Uma
distinção útil aos nossos propósitos é a que
distingue memórias declarativas de não
declarativas.
No decurso de nossas vidas, aprendemos
muitos fatos – por exemplo, que a capital da
Tailândia é Bangcoc, ou que Darth Vader é o
pai de Luke Skywalker. Também armazenamos
memórias de eventos em nossas vidas – por
exemplo, “a prova de neurociências de ontem estava muito divertida!”, ou “quando eu tinha 5 anos, fui nadar com
Axônio, meu cãozinho de estimação”. A memória para fatos e eventos é chamada de memória declarativa (Figura
24.1). Mais tarde, distinguiremos seus subtipos, as memórias episódicas, autobiográficas, de nossas experiências de
vida, e as memórias semânticas, de fatos. Memória declarativa é o tipo de registro que temos em mente quando
utilizamos no dia a dia a palavra “memória”, embora, de fato, também recordemos de muitas outras coisas. Essas
memórias não declarativas são divididas em diversas categorias, sendo que o tipo que mais nos interessa é a
chamada memória procedural, ou seja, a memória para habilidades, hábitos e comportamentos. Aprendemos a tocar
piano, a jogar bola, ou a amarrar os cadarços de nossos sapatos, e essa informação ficará armazenada em algum
lugar de nosso encéfalo.
De modo geral, as memórias declarativas estão disponíveis para evocação consciente, ao passo que as memórias
não declarativas, não. Tarefas motoras que adquirimos, bem como reflexos e associações emocionais que
estabelecemos, funcionam perfeitamente sem necessidade de percepção consciente. Como diz o dito popular,
ninguém esquece como andar de bicicleta. Você pode até não se lembrar explicitamente do primeiro dia em que
conseguiu andar sozinho em um veículo de duas rodas (a parte declarativa da memória), mas seu encéfalo lembrará
do que fazer quando você estiver sentando em um deles (o compo- nente da memória que denominamos
“procedural”). A memória não declara- tiva é também frequentemente chamada de memória implícita, pois resulta
dire- tamente da experiência, e a memória
declarativa é frequentemente chamada de
memória explícita, pois resulta de um esforço
mais consciente*.
Uma outra diferença é que as memórias
declarativas são frequentemente fáceis de
formar e, também, facilmente esquecidas. Em
contrapartida, a formação de memórias não
declarativas exige repetição e prática durante
um período mais longo, mas essas memórias
são menos prováveis de ser esquecidas. Considere a diferença entre memorizar os nomes de pessoas em uma festa
(declarativa) e aprender a esquiar (não declarativa). Ainda que não haja um limite claro para o número de memórias
declarativas que o encéfalo possa armazenar, pode haver grande variação na facilidade e na velocidade com que
novas informações são adquiridas. Estudos em seres humanos com memórias excepcionalmente boas sugerem que
o limite para o armazenamento de informações declarativas seja notavelmente alto (Quadro 24.1).

A memória explícita é a do conhecimento factual sobre as pessoas, os lugares e os objetos. Ela é dividida em
memória semântica para fatos (p. ex., palavras, regras e linguagem) e memória episódica para eventos. Memórias
explícitas que são inicialmente exigidas para atividades como andar de bicicleta podem se tornar implícitas, uma
vez que a tarefa seja completamente aprendida.
A memória implícita é importante para o treinamento re- flexivo motor ou para habilidades de percepção e é
subdividida e do neocórtex. Um exemplo de priming é a melhor recordação de uma palavra quando esta é
apresentada com as suas primeiras letras. A memória processual inclui habilidades e hábitos, que, uma vez
adquiridos, se tornam inconscientes e automáticos. Esse tipo de memória é processado no estriado. A aprendizagem
associativa está relacionada aos condicionamentos clássico e operante, nos quais se aprende sobre a relação entre
um estímulo e outro. Esse tipo de memória é dependente da amígdala para suas respostas emocionais e do cerebelo
para as respostas motoras. A aprendizagem não associativa inclui a habituação e a sensibilização e é dependente de
várias vias reflexas.
A memória explícita e várias formas de memória implícita envolvem (1) memória de curta duração, que leva de
segundos a horas, na qual o processamento no hipocampo e em outros lugares estabelece mudanças de longo prazo
na força sináptica; e (2) memória de longa duração, que armazena memórias por anos e, algumas vezes, por toda a
vida. Durante a memória de curta duração, os traços de memória estão sujeitos à ruptura por trauma e diversas
substâncias químicas, enquanto os traços de memória de longa duração são muito mais resistentes à ruptura. A
memória de trabalho é uma forma de memória de curta duração que mantém as informações disponíveis, em geral,
por períodos curtos de tempo, enquanto os planos individuais atuam sobre ela.

● Identificar as partes do cérebro envolvidas no processamento e armazenamento da memória + Comentar a


importância do hipocampo
De um ponto de vista fisiológico, a memória é dividida em explícita e implícita (Figura 15–2). A memória
explícita ou declarativa está associada à consciência, ou pelo menos à capacidade de percepção, e é dependente do
hipocampo e de outras partes dos lobos temporais mediais do cérebro para a sua retenção. O Quadro Clínico 15–2
descreve como o acompanhamento de um paciente com lesão cerebral levou ao reconhecimento do papel do lobo
temporal na memória declarativa. A memória implícita ou não declarativa não envolve a capacidade de percepção,
e sua retenção, em geral, não envolve o processamento pelo hipocampo.

● Relacionar memória com as emoções (sob o ponto de vista anatômico e fisiológico)


A aprendizagem está ancorada em diversas habilidades e eventos cognitivos, tais como percepção, atenção,
motivação e interesse. Entretanto, uma das funções mentais que mais favorece a aprendizagem é a memória, a qual
também se relaciona intimamente com as emoções. A memória é o processo pelo qual o conhecimento acerca do
mundo aprendido é codificado, armazenado e posteriormente evocado. Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2015). De
acordo com Willingham (2009), a memória é um produto sobre o que se pensa, sendo que aqueles acontecimentos
envolvidos com carga emocional relevante serão lembrados mais facilmente do que aqueles desprovidos de
emoções. É prudente enfatizar que as emoções não são um pré-requisito obrigatório para se formar memórias de
longo prazo.
Pode-se classificar a memória a partir de dois critérios: (1) o curso temporal do armazenamento e (2) a natureza da
informação armazenada. Considerando o curso temporal do armazenamento, a memória pode ser classificada em
imediata, curta duração e longa duração. Já a classificação referente à natureza do que foi armazenado abrange os
seguintes tipos de memória: explícita ou declarativa (pode ser evocada por meio de palavras e outros símbolos),
implícita ou não declarativa (não há necessidade de ser descrita verbalmente) e memória operacional ou memória
de trabalho (armazenamento temporário de informações úteis para um raciocínio imediato).
Os fenômenos mnemônicos se constituem de vários processos (Figura 19). O primeiro deles é a aquisição, em que
há a entrada de um evento qualquer nos sistemas neurais relacionados à memória. Os eventos podem ter uma
origem externa, sendo conduzidos ao sistema nervoso central pelos órgãos de sentido ou podem ser originados
internamente por meio de pensamentos e emoções. Posteriormente, haverá a retenção de alguns aspectos
selecionados dos eventos. Nesse segundo processo, a duração da retenção é variável e alguns desses aspectos
estarão sujeitos ao esquecimento. O esquecimento é uma propriedade normal da memória e muito útil para se evitar
a sobrecarga dos sistemas cerebrais responsáveis pela memorização, além de permitir a filtragem dos conteúdos
mais importantes de cada evento. Quando a memorização de um evento durante um tempo bastante prolongado ou
indefinidamente acontece, ocorre o processo conhecido por consolidação. O evento ficará disponível para a
ocorrência do último processo que é a evocação, o qual permite o acesso à informação armazenada que poderá ser
utilizada mentalmente na cognição e emoção ou para promover algum comportamento (IZQUIERDO, 1989).
A memória, assim como todas as funções do sistema nervoso, pode ser modulada. A emoção é capaz de embutir
aos eventos lembrados valências positivas ou negativas. Os estados emocionais são importantes moduladores da
memória, embora não sejam os únicos. Modulações endógenas neuroquímicas são promovidas por eferências
originadas em regiões do cérebro para os locais onde ocorre a consolidação da memória de longa duração após o
processo de aprendizagem (ERK et al., 2003; IZQUIERDO, 1989; IZQUIERDO et al., 2006).
A condição de alerta e atenção também são responsáveis por atuar sobre ela. Outro modulador da memória são os
hormônios, principalmente aqueles envolvidos nos fenômenos emocionais, como os hormônios do estresse
(MCGAUGH, 1989; CAHILL; MCGAUGH, 1996). Os primeiros indicadores de que havia moduladores de
memória surgiram da constatação experimental de que a aprendizagem dos animais pode ser alterada após o treino
de uma tarefa. Alterar a aprendizagem após o treino significa modular os processos de consolidação.
De todos os sistemas moduladores, o que atua de maneira mais marcante sobre a memória é a amígdala,
exatamente por se relacionar às emoções (Figura 20). A amígdala está situada em posição rostral ao hipocampo, no
lobo temporal medial e, como já descrito anteriormente, é formada por um complexo de núcleos. Um dos
componentes desse complexo, o grupo basolateral, é hoje reconhecido como o modulador emocional da memória,
que atua via neurotransmissores, como as aminas e a acetilcolina. Os neurônios dessa região enviam projeções
especialmente para o hipocampo e o córtex entorrinal. Tais regiões participam do processo de consolidação da
memória explícita. A partir de estudos clínicos com o 67 paciente H.M que sofreu ablação bilateral do lobo
temporal medial, constatou-se que o hipocampo, o qual se localiza no lobo temporal, era o responsável por
converter memória de curto prazo em memória de longo prazo. Esta seria então armazenada nas mesmas regiões
corticais que participam do seu processamento.
Por meio de estudos experimentais, ficou comprovado que a amígdala recebe as informações que apresentam
alguma associação emocional e as conecta com informações mnemônicas em processo de consolidação
fortalecendo ou depauperando a retenção das informações.

● Definir amnésia
Como todos sabemos, em nossa vida diária o esquecimento acontece quase tão frequentemente quanto o
aprendizado. Com menos frequência, certas doenças e lesões do encéfalo causam uma perda séria da memória e/ou
da capacidade de aprender, que é chamada de amnésia. Concussão, alcoolismo crônico, encefalite, tumor cerebral e
acidente vascular encefálico, todas essas condições podem causar prejuízos à memória. Você provavelmente já viu
algum filme ou programa de televisão em que uma pessoa sofre um grande trauma e desperta no dia seguinte sem
saber quem é e sem lembrar de seu passado. Esse tipo de amnésia absoluta para eventos e informações passados é,
na verdade, bastante rara. É mais comum que um trauma cause uma amnésia limitada juntamente com outros
déficits não relacionados com a memória. Se a amnésia não for acompanhada por qualquer outro déficit cognitivo,
é conhecida como amnésia dissociativa (i.e., os problemas de memória estão dissociados de quaisquer outros
problemas). Enfocaremos casos de amnésia dissociativa porque, nestes, uma relação clara pode ser estabelecida
entre os déficits de memória e a lesão cerebral.
Após um trauma encefálico, podem ocorrer dois tipos distintos de perda de memória: amnésia retrógrada e
amnésia anterógrada (Figura 24.5). A amnésia retrógrada é caracterizada por perda de memórias de eventos que
ocorreram antes do trauma; você esquece coisas que já sabia. Em casos graves, pode haver completa amnésia para
toda informação declarativa aprendida antes do trauma. Frequentemente, porém, a amnésia retrógrada segue um
padrão em que eventos ocorridos nos meses ou anos que precedem o trauma são esquecidos, porém a memória é
progressivamente mais forte à medida que os fatos são mais antigos. Essa perda gradual de memórias antigas ao
longo do tempo reflete, aparentemente, a natureza mutável do armazenamento da memória, um tópico que
estudaremos no Capítulo 25. A amnésia anterógrada, por sua vez, é a incapacidade de formar novas memórias após
um trauma cerebral. Se a amnésia anterógrada é grave, uma pessoa pode ficar completamente incapaz de aprender e
lembrar qualquer coisa nova. Em casos menos graves, o aprendizado torna-se lento e requer mais repetição do que
o normal. Em casos clínicos, frequentemente há um misto de amnésias retrógradas e anterógradas de diferentes
graus de gravidade.
Um exemplo pode ajudar a tornar mais claro esse ponto. Suponha que em seu último dia de aula, no primeiro ano
da faculdade, você está caminhando próximo ao dormitório de um amigo. Em um momento de empolgação com o
final do semestre, seu amigo atira os livros pela janela, e eles caem em sua cabeça. Se esse trauma causar amnésia
retrógrada, você poderá não lembrar do exame final que realizou no dia anterior ou, em um caso mais grave, de
qualquer das disciplinas que fez naquele semestre. Se você tiver uma amnésia ante- rógrada, poderia lembrar dos
exames que fez antes do acidente, mas quando se graduar, você poderia ser incapaz de se lembrar da corrida na
ambulância até o hospital após o acidente, das desculpas sem fim de seu amigo, ou mesmo do verão que passou se
recuperando do acidente.
Uma forma de amnésia que envolve um período de tempo muito mais curto é chamada de amnésia global
transitória. Essa amnésia se dá com um ataque súbito de amnésia anterógrada, que dura apenas por um período de
minutos a dias, frequentemente acompanhada por amnésia retrógrada para os eventos que precederam o ataque. A
fala do sujeito pode parecer desorientada, com constantes repetições da mesma questão, mas ele permanece
consciente; além disso, o exame da memória de trabalho, como o teste da lista de números ao acaso, mostra
resultados normais. Em questão de horas, esses sintomas normalmente cedem, restando uma lacuna permanente em
sua memória.
A amnésia global transitória pode ser perturbadora, tanto para a pessoa que a experimenta quanto para aqueles que
a testemunham. Embora sua causa não tenha sido claramente estabelecida, esse tipo de amnésia pode resultar de
uma breve isquemia cerebral, em que o aporte de sangue ao encéfalo é temporaria- mente reduzido, ou de uma
concussão craniana por trauma, como, por exem- plo, em um acidente automobilístico ou ao receber um golpe
violento durante um jogo de futebol. Há relatos de amnésia global transitória disparada por convulsões, estresse
físico, drogas, banhos frios e mesmo atividade sexual, presumivelmente devido ao fato de que todos esses fatores
afetam o fluxo sanguíneo encefálico. Muitos casos foram ligados ao uso de clioquinol, um fármaco antidiarreico
(que foi retirado do mercado para essa indicação)*. Embora não saibamos exatamente o que causa a amnésia global
transitória, ela pode ser decorrente de uma privação temporária de sangue nas estruturas essenciais para o
aprendizado e a memória. Outras formas de amnésia temporária podem ter como causa doenças, trauma encefálico
e toxinas do ambiente

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