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CURSO DE MEDICINA

DISCIPLINA DE ANATOMIA HUMANA II

Prof. Gilberto Valente Machado


Prof. Lucio Flávio Sleutjes
Prof. Alexandre Almeida Lima

Matipó - 2022DISCIPLINA DE ANATOMIA


HUMANA II
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1. INTRODUÇÃO

O sistema digestório é formado por um conjunto de órgãos


responsáveis pela transformação e absorção dos alimentos, bem como pela
eliminação de resíduos não absorvidos. Portanto, este sistema destina-se ao
aproveitamento pelo organismo, de substâncias ditas alimentares, que
asseguram a manutenção de seus processos vitais.

Atua nas seguintes etapas:

a) digestão – transformação mecânica e química das macromoléculas


alimentares ingeridas (proteínas, carboidratos etc.) em moléculas de tamanhos
e formas adequadas para serem absorvidas pelo intestino;

b) absorção – transporte de alimentos digeridos, água e sais minerais da luz


intestinal para os capilares sanguíneos da mucosa intestinal; e

c) eliminação de resíduos – material não digerido e não absorvido, juntamente


com restos de células descamadas da parte do trato gastrointestinal e
substâncias secretadas na luz do intestino.

São componentes anatômicos do sistema digestório: boca, faringe,


esôfago, estômago, intestino e ânus; e componentes anexos, tais como os
dentes, língua, glândulas salivares, fígado e pâncreas.

2. BOCA
A boca constitui a parte inicial do trato digestório, se comunica com o meio
externo pela rima oral, e com a orofaringe pelo istmo das fauces. Possui dois
compartimentos, sendo o vestíbulo oral o espaço situado internamente aos
lábios e bochechas e externamente às gengivas e arcadas dentárias, e cavidade
oral propriamente dita, é aquele espaço ocupado por grande parte da língua.

São componentes da boca: os lábios, bochechas, palato duro, palato


mole, gengivas, língua, dentes e glândulas salivares.

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Figura 01 – Divisões e comunicações da boca. 1 – Rima oral; 2 – Vestíbulo oral;


3 – Cavidade oral; 4 – Arco palatoglosso (que delimita o istmo das fauces).

2.1 Lábios
Os lábios, superior e inferior, são formações músculo-membranosas
que constituem a parede anterior do vestíbulo oral. A sobreposição dos lábios
origina uma abertura em fenda, a rima oral, cujas extremidades são os ângulos
da boca. Nas suas extremidades, os lábios se fundem, configurando as
comissuras labiais.

Os lábios possuem duas faces, externa e interna, sendo a face externa


recoberta pela pele, e a face interna revestida pela membrana mucosa da boca.
Na face externa do lábio superior, na linha mediana, observa-se um sulco largo,
o filtro (Philtrum). As faces labiais se unem na margem dos lábios, cuja
amplitude é variável entre indivíduos.

Na face interna dos lábios observam-se pregas verticais da mucosa,


denominadas frênulos labiais. O ponto de encontro entre a mucosa labial e a
mucosa da gengiva constitui os fórnices do vestíbulo, superior e inferior.

A estrutura dos lábios compreende cinco camadas: a pele, tela


subcutânea, músculo orbicular da boca, submucosa e mucosa.

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Figura 02 – Face interna do
lábio superior e gengiva. 7 –
Mucosa gengival; 8 - Fórnice
superior do vestíbulo; 9 –
Frênulo labial superior; 10 –
Frênulo labial lateral.

Figura 03 – Face interna do


lábio inferior e gengiva. 7 –
Mucosa gengival; 8 - Fórnice
inferior do vestíbulo; 9 –
Frênulo labial inferior; 10 –
Frênulo labial lateral.

2.2 Bochechas

As bochechas constituem as paredes laterais da boca; são importantes


auxiliares da língua na movimentação do bolo alimentar durante a mastigação e
ensalivação. Assim como os lábios, as bochechas possuem uma face externa,
recoberta pelo tegumento da face, e uma face interna revestida pela mucosa
oral.

Na face interna das bochechas, na altura do segundo dente molar


superior, encontra-se a papila do ducto parotídeo, local de desembocadura do
ducto excretor da glândula salivar parótida.

A estrutura da bochecha é dotada de cinco camadas: a pele, tela subcutânea,


músculo bucinador (responsável pelos movimentos da bochecha), camadas
submucosa e mucosa. Na fáscia superficial que encobre o músculo bucinador

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encontra-se, numa disposição horizontal, o ducto parotídeo que, após transpor
a margem anterior do músculo masseter, atravessa o músculo bucinador para
abrir-se na papila parotídea. Entre o ducto parotídeo e o músculo bucinador
encontra-se um agrupamento de tecido adiposo, corpo adiposo da bochecha
(de Bichat), que se aprofunda entre os músculos bucinador e masseter.

Figura 04 – Estrutura das bochechas (à esquerda) e papila do ducto parotídeo.

Figura 05 – Corpo adiposo


da bochecha (de Bichat).

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2.3 Palato

Palato é o termo que designa o teto da boca e orofaringe. Sua parte rostral
se caracteriza por uma túnica mucosa firme, o palato duro, apoiada sobre os
processos palatinos dos ossos maxilares e porção horizontal dos ossos
palatinos, e uma submucosa intensamente vascularizada.

O palato duro apresenta uma prega mediana, rafe palatina e, no seu terço
rostral, uma sequência de dobras transversais, as denominadas rugas
palatinas. Na extremidade rostral da rafe palatina acha-se um pequeno relevo,
a papila incisiva.

Figura 06 – Vista inferior do palato (teto da boca) e suas divisões.

Logo após o último dente molar superior, a parede se torna macia,


constituindo-se o palato mole. Trata-se de uma formação laminar, músculo-
membranosa, com uma margem anterior aderente (presa aos ossos palatinos) e
uma margem posterior livre, voltada para a faringe. Nesta última, observa-se
uma projeção mediana, com mobilidade própria, a úvula.

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Próximo à margem livre do palato mole observam-se, bilateralmente, duas
dobras transversais da mucosa, denominadas arco palatoglosso (destinado à
margem da língua) e arco palatofaríngeo que, numa trajetória póstero-inferior,
percorre a parede lateral da faringe até às imediações da entrada do esôfago.
Os arcos palatoglossos, direito e esquerdo, delimitam o estreito entre a boca e a
faringe, o denominado istmo das fauces. Entre os arcos palatoglosso e
palatofaríngeo acha-se a parede lateral da orofaringe, onde se encontra,
bilateralmente, a tonsila palatina (na fossa tonsilar).

Os movimentos do palato mole são importantes nos mecanismos da


deglutição e da fonação, assim como sobre o ingresso de ar nas tubas auditivas,
e são proporcionados pelos músculos levantador do véu palatino, tensor do
véu palatino e o músculo da úvula.

Figura 07 – Vista em corte mediano do palato (palato duro e palato mole). Em


destaque os arcos palatoglosso e palatofaríngeo, entre eles a tonsila palatina (na
fossa tonsilar).

2.4 Assoalho da boca

O assoalho da boca, em sua parte rostral, oferece inserção para o


frênulo lingual. Rostralmente a este, a cada lado do plano mediano, acha-se um
relevo da mucosa, com um pequeno orifício, as carúnculas sublinguais, local
de desembocadura de ductos excretores de glândulas salivares (Ver glândulas
salivares). O assoalho da boca continua-se caudalmente, entre as margens da

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língua e a gengiva inferior, pelos chamados recessos sublinguais laterais.
Neste assoalho encontra-se, bilateralmente, uma prega sublingual, onde se
abrem numerosos pequenos orifícios para a desembocadura dos ductos
menores da glândula salivar sublingual.

Figura 08 – Face inferior da língua e assoalho da boca. 1. Língua; 2. Frênulo


lingual; 3. Carúnculas sublinguais; 4. Prega sublingual; 5. Mucosa do assoalho.

2.5 Gengivas

As gengivas, superior e inferior, são elevações da mucosa oral, que


encobrem os processos alveolares maxilares e mandibular, respectivamente.
São caracterizadas por um revestimento de mucosa bastante densa, e são
perfuradas pelos dentes em sua implantação nos alvéolos dentários.
Apresentam uma margem gengival, que envolve os dentes em seu colo, de
onde se destacam as papilas gengivais (interdentárias), por sua vez formadas
por projeções gengivais pontiagudas entre dentes vizinhos. Entre o colo do dente
e a gengiva ao seu redor, encontra-se um sulco pouco profundo, o sulco
gengival.

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2.6 Língua

A língua é um órgão músculo-membranoso que tem grande parte de seu


corpo situado na cavidade oral; porém, sua raiz encontra-se na orofaringe. É
unida, através de músculos, ao osso hióide, à mandíbula, à faringe e ao palato
mole.
Estruturalmente, a língua é formada por musculatura estriada esquelética,
tecidos conjuntivo e adiposo, glândulas e tecido linfático, e sua superfície é
recoberta por membrana mucosa. Trata-se de um órgão com grande mobilidade,
envolvido diretamente na recepção de estímulos sensoriais da gustação, e
essencial no auxílio à mastigação, deglutição e na vocalização.

Para facilitar a descrição dos seus detalhes anatômicos, divide-se a língua


em três partes, raiz, corpo e ápice, duas faces, superior (dorso da língua) e
inferior, e duas margens.

A raiz da língua situa-se inteiramente no assoalho da orofaringe e seu


limite rostral, com o corpo da língua, é marcado por dois sulcos, sulcos
terminais, que convergem para um fundo cego mediano, o forame cego. No
dorso da raiz da língua acha-se um agrupamento de tecido linfoide, com
inúmeros pequenos orifícios (criptas) abrindo-se na superfície, a tonsila lingual.

O corpo da língua ocupa inteiramente a cavidade oral, e considera-se o


seu limite rostral a inserção, na face inferior, do frênulo lingual. A partir deste
ponto caracteriza-se o ápice da língua.

Além dos sulcos terminais, observa-se ainda, no dorso da língua, o sulco


lingual mediano.

A mucosa que recobre o dorso e as margens da língua se apresenta mais


espessa que a da face inferior, e ali se encontram as papilas linguais, que são
pequenas projeções, com diferentes formas e funções. Funcionalmente, as
papilas linguais se apresentam em dois grupos: mecânicas e gustativas.

As papilas com função mecânica são assim classificadas por dar a


aspereza necessária à função que a língua exerce ao movimentar o bolo
alimentar durante a mastigação; apresentam-se pontiagudas, são as mais
numerosas, e são denominadas papilas filiformes. As papilas com função

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gustativa são assim denominadas por apresentar, em suas margens,
agrupamentos de células sensoriais, ciliadas, os corpúsculos gustativos,
receptores de estímulos da gustação. A este grupo pertencem as papilas
fungiformes (semelhantes a pequenas colônias de fungos), papilas valadas
(são maiores e contornadas por um sulco) e papilas folhadas; estas últimas têm
formato laminar e encontram-se agrupadas nas margens da língua, bem próximo
à junção do arco palaglosso.

Figura 09 – Vista do dorso da língua, suas conexões, sulcos e papilas.

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Figura 10 – Papilas linguais.

A musculatura da língua, toda ela estriada, divide-se em dois grupos:


intrínseca e extrínseca.

A musculatura intrínseca compõe a maior parte da estrutura da


língua e suas fibras estão arranjadas em três grupos: 1. M. longitudinal,
superficial e profundo, 2. M. transverso da língua; e 3. M. vertical da língua.
Estes grupos musculares confundem-se, às vezes, pela presença de outros
tecidos, como o adiposo e glândulas, interpostos entre suas fibras.

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Figura 11 – Musculatura intrínseca da língua.

A musculatura extrínseca da língua é formada pelos músculos que a


movimentam em diferentes sentidos, que são:

a) M. genioglosso - cuja origem se dá na face interna da parte incisiva do


corpo da mandíbula e a inserção ao longo do corpo da língua e no osso hioide;
apresenta-se como um leque de fibras posicionadas verticalmente, cuja ação
consiste em baixar e protrair a língua;

b) M. hioglosso - origina-se na face inferolateral do osso hióide, e sua


inserção ocorre nos dois terços posteriores da língua; promove a retração e o
abaixamento da língua;

c) M. estiloglosso - tem sua origem no processo estiloide e sua inserção


ocorre em diferentes níveis da língua; promove a retração da língua e, quando
age unilateralmente, a movimenta para os lados.

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d) M. palatoglosso – tem origem nas margens laterais do palato mole,
configura o arco palatoglosso, e sua função harmoniza as ações conjuntas do
palato mole e língua, em especial na deglutição.

Figura 12 – Musculatura extrínseca da língua.

Inervação da língua

A inervação da língua é proporcionada por cinco pares de nervos


cranianos. O nervo hipoglosso (XII) inerva toda a musculatura da língua, exceto
o m. palatoglosso. O nervo trigêmeo (V), através do nervo lingual, que é ramo
do nervo mandibular, juntamente com o nervo facial (VII), através do seu ramo
corda do tímpano, fazem a inervação sensitiva (sensibilidade dolorosa e
corpúsculos gustativos) dos dois terços rostrais da língua; já o terço caudal da
língua é inervado (sensibilidade dolorosa e corpúsculos gustativos) pelos nervos
glossofaríngeo (IX) e vago (X).

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Figura 13 – Representação da inervação da língua.

2.7 Glândulas salivares

As glândulas salivares cumprem importante papel na digestão dos


alimentos, em especial pela ação de sua secreção, a saliva. Entretanto, ainda
pela ação da saliva, contribuem também para favorecer a deglutição.

As glândulas salivares se enquadram em dois grupos:

a) glândulas salivares menores – se encontram na submucosa de toda


a boca, e são estudadas na disciplina de Histologia como glândulas labiais,
bucais, linguais e palatinas; e

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b) glândulas salivares maiores – localizam-se à distância da mucosa oral, se
apresentam aos pares, e sua secreção é conduzida por ductos excretores até à
mucosa. Por serem observadas macroscopicamente, são aqui estudadas.

Estas glândulas salivares, pela sua localização, são assim denominadas:


1. Glândulas parótidas; 2. Glândulas submandibulares; e 3. Glândulas
sublinguais.

A glândula salivar parótida (para + otis) se encontra logo abaixo da


orelha, tem formato piramidal, com o ápice inferiormente disposto, e seu ducto
excretor, que surge na margem anterior da glândula, transita horizontalmente
na face externa do músculo masseter e, após transpor a margem anterior desse
músculo, mergulha na parede da bochecha, atravessando o corpo adiposo da
bochecha e o músculo bucinador, se abrindo na mucosa desta parede, em um
pequeno relevo denominado papila do ducto parotídeo. Eventualmente, no
trajeto do ducto excretor da glândula parótida surge uma pequena massa
glandular, que se abre no próprio ducto, referida como glândula parótida
acessória.

Figura 14 – Glândula salivar parótida com seu ducto excretor e glândula salivar
acessória.

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A glândula salivar submandibular, que possui um corpo e um processo
sublingual, situa-se medialmente nas imediações do ângulo da mandíbula. Seu
ducto excretor, conduzindo-se sobre o músculo miloióideo, orienta-se
rostralmente até atingir, no assoalho da boca, a carúncula sublingual, onde
desemboca mediante um pequeno orifício.

Figura 15 – Glândula salivar submandibular e sua sintopia.

A glândula salivar sublingual situa-se logo abaixo da mucosa do recesso


sublingual lateral. Seu formato alongado lhe permite desembocar, mediante
vários ductos excretores menores, em orifícios dispostos ao longo daquele
recesso, na prega sublingual. Porém, esta glândula possui um ducto mais
rostral e desenvolvido que os demais, ducto excretor maior, que irá se abrir na
carúncula sublingual do mesmo lado.

Portanto, vale ressaltar, cada carúncula sublingual é local de abertura de


dois ductos excretores salivares: das glândulas submandibular e sublingual (esta
última mediante seu ducto excretor maior).

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Figura 16 – Glândulas salivares submandibular e sublingual e seus ductos
excretores.

Figura 17 – Glândulas salivares submandibulares e sublinguais e carúnculas


sublinguais.

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2.8 Dentes

Os dentes são formações mineralizadas, implantadas em cavidades dos


ossos maxilares e mandíbula, denominadas alvéolos dentários, aos quais se
prendem mediante uma camada de tecido conjuntivo, membrana periodôntica,
que lhes permite uma certa mobilidade à mastigação.

A disposição em arco dos dentes nos processos alveolares maxilares e


mandibular lhes garante a melhor eficiência à mastigação. Por outro lado, a
morfologia dos dentes é justificada pelas funções que exercem, o que os
classificam em grupos morfo-funcionais distintos, dispostos simetricamente nas
hemi-arcadas, quais sejam: dentes incisivos (2), caninos (1), pré-molares (2)
e molares (3). O número total de dentes em cada arcada dentária, portanto, é
de 16 dentes.

Figura 18 – Disposição dos dentes nas arcadas dentárias, superior e inferior.

O surgimento (erupção) dos dentes ocorre logo no início da primeira


infância, numa sequência que inicia pelos incisivos até os molares, ressaltando-
se, no entanto, que ocorrem duas dentições (Difiodontia): uma primeira
dentição, decídua, em que estarão ausentes os dentes molares e, portanto,

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exibirá apenas 20 dentes em cada arcada; e uma segunda dentição,
permanente, que substituirá, pela ordem do seu surgimento, os elementos da
primeira dentição. Ressalte-se, no entanto, que nesta segunda dentição surgem
os dentes molares, sendo em número de 3 (três) para cada hemi-arcada,
totalizando, portanto, 32 dentes após finalizada a segunda dentição. Os últimos
dentes molares, entretanto, surgem apenas no início da fase adulta das pessoas.

Figura 19 – Dentição
decídua, com 20 dentes, que
será substituída pela
dentição permanente.

2.8.1 Anatomia do dente

Macroscopicamente, cada dente possui três partes: coroa, colo e


raiz.
A coroa é a parte visível do dente, o colo é a parte encoberta pela
gengiva, e a raiz é a parte do dente inserida no compartimento ósseo (alvéolo
dentário).

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No que tange à sua estrutura, cada dente possui uma substância própria,
a dentina, que é recoberta, na coroa, pelo esmalte, e na raiz pelo cemento.

A dentina é o componente mais profundo do dente, sua estrutura é


configurada em microtúbulos mineralizados superpostos, que abrigam
terminações nervosas e capilares sanguíneos, constituindo, portanto, a parte
sensível e vascularizada do dente. A dentina engloba uma cavidade, cavidade
dentária (pulpar), ocupada pela polpa dentária. A cavidade dentária na coroa é
denominada cavidade coronal que, ao se estender para a(s) raiz(es), passa a
se chamar canal radicular. Este último se abre no ápice de cada raiz, como
forames apicais, que dão acesso aos vasos e nervos destinados à polpa
dentária.

Figura 20 – Estrutura dos dentes.

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A polpa dentária, que ocupa a cavidade dentária, é formada por uma
matriz de tecido conjuntivo, contendo vasos sanguíneos, linfáticos e nervos, os
quais têm passagem pelo forame apical. Na face interna da dentina, aquela em
contato com a polpa dentária, encontra-se uma camada de odontoblastos, cuja
diferenciação garante a reposição da dentina quando desgastada.

O esmalte é a parte mais dura do dente e forma uma camada protetora


especial para a dentina da coroa. Sua função portanto é dificultar o desgaste da
coroa. O cemento constitui uma camada mineralizada porosa que envolve a raiz
do dente, servindo de ancoragem para as fibras da membrana periodôntica.

Figura 21 – A denominação das faces dos dentes.

Com finalidades específicas, identificam-se 6 faces na coroa dos dentes.


A face de mastigação, que entra em contato com a arcada oposta, é denominada
oclusal; a face voltada para o vestíbulo oral é denominada vestibular; aquela
que faz contato com a língua é a face lingual; a face em contato com o dente
que a antecipa é a face mesial; a face oposta à face mesial é a face distal da
coroa; finalmente, aquela parte da coroa que se une ao colo do dente é
considerada face cervical do dente.

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3. FARINGE

A faringe é um órgão tubular, músculo-membranoso, de formato


aproximadamente cônico, comum aos sistemas digestório e respiratório.
Sua parte mais ampla se comunica amplamente com a boca e cavidade nasal,
mediante suas divisões superiores, orofaringe e nasofaringe, respectivamente.
A faringe possui ainda uma terceira divisão, a laringofaringe, através da qual
se comunica com a laringe e o esôfago.

Estende-se desde a base do crânio até a quarta vértebra cervical, onde


faz contato, anteriormente, com a laringe, com a qual se comunica pelo ádito da
laringe. Se fixa, através de músculos, às cartilagens cricoide e tireoide da
laringe, aos ossos palatinos, processos pterigóideos e ao osso hioide.

Figura 22 – Divisões e comunicações da faringe.

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A nasofaringe é a divisão da faringe situada dorsalmente ao palato mole
e se comunica, rostralmente, por meio das coanas, com a cavidade nasal e,
posteriormente, através do óstio intrafaríngico, com a laringofaringe. Na
parede lateral da nasofaringe encontra-se o óstio faríngico da tuba auditiva,
que é um orifício com abertura em funil, cercado por tecido linfoide, que constitui
a tonsila tubária. Acima do óstio verifica-se o toro tubário, anteriormente
observa-se a prega salpingopalatina e, posteriormente ao óstio, a prega
salpingofaríngea. Na parede da parte mais alta da nasofaringe encontra-se a
tonsila faríngea.

Figura 23 – Divisões e comunicações da faringe.

O óstio intrafaríngico é delimitado pelos arcos palatofaríngeos, mais a


margem livre do palato mole, incluindo-se a úvula. Sua abertura e fechamento

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são promovidos pela ação dos músculos do palato mole e funciona como uma
válvula, fechando-se por ocasião da deglutição e mantendo-se aberta para a
respiração.

A orofaringe é o compartimento da faringe situado abaixo do palato mole,


tendo como assoalho o dorso da raiz da língua. Comunica-se anteriormente com
a cavidade oral, através do istmo das fauces, que é delimitado pelos arcos
palatoglossos (direito e esquerdo) e, caudalmente, de forma ampla, com a
laringofaringe, tendo como limites laterais os arcos palatofaríngeos (direito e
esquerdo). O limite caudal do assoalho da orofaringe são dois fundos cegos,
valéculas epiglóticas, situadas a cada lado da prega glossoepiglótica
mediana e margeadas pelas pregas glossoepiglóticas laterais.

Nas paredes laterais da orofaringe, portanto entre os arcos palatoglosso e


palatofaríngeo, observa-se a fossa tonsilar, ocupada pela tonsila palatina.

A laringofaringe, limitada com a orofaringe pelo arco palatofaríngeo,


comunica-se anteriormente com a laringe através do ádito da laringe.
Inferiormente e na altura da cartilagem cricoide da laringe, a laringofaringe
continua-se com o esôfago, através do óstio faringoesofágico.

3.1 Músculos da faringe

A musculatura da faringe consiste de dois grupos funcionais, extrínsecos


e intrínsecos. Os músculos extrínsecos da faringe promovem movimentos de
deslocamento da faringe, aproximando-a ou afastando-a da raiz da língua, nos
ações da deglutição. Já os músculos intrínsecos são aqueles implicados nos
movimentos próprios, em especial na constrição do órgão.

Os músculos extrínsecos da faringe são: m. estilofaríngeo, m.


palatofaríngeo e m. salpingofaríngeo.

Os músculos intrínsecos da faringe são: m. constritor superior, m.


constritor médio e m. constritor inferior.

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Músculos extrínsecos da faringe

M. estilofaríngeo M. palatofaríngeo M. salpingofaríngeo

O músculo estilofaríngeo tem origem no processo estiloide e inserção


na parede lateral da faringe. Sua ação consiste em elevar a faringe e aproximá-
la da raiz da língua. O músculo palatofaríngeo tem origem no palato mole e
inserção na parede posterior da faringe. Sua ação é de elevar e dilatar a faringe.
O músculo salpingofaríngeo tem origem na cartilagem da tuba auditiva e sua
inserção na faringe ocorre próximo ao óstio faríngeo da tuba auditiva. Auxilia no
mecanismo de ingresso de ar na tuba auditiva.

Músculos intrínsecos da faringe

M. Constritor superior M. Constritor médio M. Constritor inferior

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Deglutição

A deglutição é a transferência do alimento da boca ao esôfago,


passando pela faringe, e dali ao estômago. Sua primeira etapa, que consiste na
passagem do alimento da boca à orofaringe, é de determinação voluntária;
porém a partir dali, ocorre por ação reflexa, sob o controle de centros nervosos
situados no tronco encefálico.

Após a mastigação e suficiente insalivação, com a boca fechada, a língua,


por ação dos músculos miloióideo, hioglosso e estiloglosso, tem seu dorso
comprimido contra o palato e é deslocada posteriormente, impelindo desta
maneira o bolo alimentar para a orofaringe. Durante este primeiro movimento da
língua, o palato mole é elevado, o que proporciona o fechamento do óstio
intrafaríngico, com a consequente manutenção das pressões geradas. O
movimento de retração da língua coincide, na deglutição, com o de elevação da
laringofaringe, o que aproxima o óstio faringoesofágico da raiz da língua, ao
mesmo tempo que, sob ação direta da raiz da língua, a epiglote é forçada a
encobrir o ádito da laringe. Esta fase é acompanhada por breve interrupção da
respiração. Na sequência, o esvaziamento da faringe é proporcionado pela ação
coordenada dos seus músculos constritores (m. constritor superior, m. constritor
médio e m. constritor inferior), cuja ação se faz numa sequência súpero-inferior,
encontra aberto o óstio faringoesofágico. Imediatamente abaixo do músculo
constritor inferior, inicia-se, por ação de estímulo local, a onda de contração que
percorrerá o esôfago, conduzindo o alimento ao estômago.

4. ESÔFAGO

O esôfago é um órgão tubular longo, mede de 25 a 30cm de comprimento,


e une a faringe ao estômago. Apresenta-se como um tubo relativamente estreito,
cujo calibre é ligeiramente reduzido no ponto em que cruza a bifurcação da
traqueia (constrição bronco-aórtica) e, ainda, ao atravessar o diafragma
(constrição diafragmática). Tem início no óstio faringoesofágico, na altura da
margem inferior da lâmina da cricoide (C6), e termina no óstio cárdico (T11).

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Apresenta, portanto, uma parte cervical, uma torácica e uma pequena parte
abdominal.

A parte cervical do esôfago, com início no óstio faringoesofágico,


Inicialmente coloca-se entre a traqueia e os músculos longos do pescoço; após
a quarta vértebra cervical, o esôfago desvia-se ligeiramente para a esquerda,
aproximando-se um pouco mais da artéria carótida comum esquerda, posição
esta mantida em toda a sua trajetória cervical. Importantes relações anatômicas
desta parte do esôfago são: a artéria carótida comum esquerda, o nervo vago
esquerdo, veia jugular interna, tronco traqueal (linfático) e nervo laríngeo
recorrente.

Figura 26 – O esôfago e suas divisões.

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Vascularização sanguínea do esôfago

Figura 27 – Irrigação e drenagem sanguínea do esôfago.

A parte cervical do esôfago é irrigada por ramos esofágicos das artérias


faríngeas e artérias cervicais profundas; as veias esofágicas drenam para
as veias tireóideas. A parte torácica do esôfago é irrigada pelas artérias
esofágicas, que são ramos diretos da aorta torácica ou da artéria bronco-
esofágica; já a drenagem sanguínea é feita para o sistema ázigos e, na região
mais próxima do diafragma, para a veia gástrica esquerda. A parte abdominal
do esôfago é irrigada pelas artérias frênica inferior esquerda e gástrica
esquerda; a drenagem é feita para a veia gástrica esquerda, destinada ao
sistema porta hepático.

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5. ESTÔMAGO

É uma dilatação do canal alimentar que se segue ao esôfago e se continua


no intestino. Está situado logo abaixo do diafragma, com sua maior porção à
esquerda do plano mediano. Apresenta dois orifícios: um, proximal, de
comunicação com o esôfago, o óstio cárdico, e outro distal, óstio pilórico, que se
comunica com a porção inicial do intestino delgado, o duodeno. Neste nível
ocorre uma condensação de feixes de fibras musculares longitudinais e
circulares que constituem um mecanismo de abertura e fechamento do óstio para
regular o trânsito do alimento, o esfíncter pilórico. O óstio pilórico mais o esfíncter
constituem o piloro; dispositivo semelhante é também encontrado ao nível do
óstio cárdico, sendo responsável pela abertura e fechamento ativos da
comunicação esofagogástrica, constitui o cárdia.

A forma, o volume e a posição do estômago variam de acordo com a idade,


tipo constitucional, tipo de alimentação, posição do indivíduo e o estado
fisiológico do órgão.

Descrevem-se no estômago as seguintes partes:

Figura 28 – O estômago in situ e suas partes.

29
As partes anatômicas do estômago são: uma região em fundo cego,
situada no antímero esquerdo do abdome, denominada fundo do estômago; o
ângulo formado entre o esôfago e o fundo do estômago é a incisura cárdica. A
parte do estômago que se segue ao fundo é o corpo do estômago, cujo eixo
longitudinal é inclinado ínfero-medialmente e cruza a linha mediana do abdome;
a terceira parte do estômago, denominada parte pilórica, encontra-se no
antímero direito, sua forma lembra um funil, e é constituída pelo antro pilórico
e canal pilórico, que termina no óstio pilórico. A parede anterior do
estômago é voltada para a parede anterior do abdome, já a sua parede
posterior faz contato com vísceras mais profundas, tais como o fígado e o
pâncreas. No corpo do estômago transita, internamente, junto à curvatura
menor, o canal gástrico, que une o fundo do estômago à parte pilórica.

A forma arqueada do estômago lhe proporciona duas margens, uma


convexa denominada curvatura maior, e uma margem côncava denominada
curvatura menor do estômago. Na curvatura maior do estômago prende-se uma
lâmina dupla de peritônio, impregnada de pequenas coleções de tecido adiposo,
denominada omento maior (ou “grande epíplon”), que se estende entre a
parede anterior da cavidade peritoneal e as alças intestinais, até às imediações
da bexiga urinária, na entrada da pelve. Prega semelhante se desprende da
curvatura menor, dirigida à face visceral do fígado, e é denominada omento
menor (ou “pequeno epíplon”); nas suas margens, onde se incorporam fibras
conjuntivas, formam-se os ligamentos hepatoduodenal e hepatogástrico.

Na sua estrutura, a parede do estômago possui cinco camadas: uma


túnica serosa externamente (peritônio); uma tela subserosa; uma túnica
muscular, com três camadas de fibras musculares (longitudinal, circular (que
forma o esfíncter pilórico) e oblíqua); uma tela submucosa; e uma túnica
mucosa.

A túnica mucosa do estômago apresenta-se pregueada, pregas


gástricas, movimentadas pela lâmina muscular da mucosa, esta pertencente
à túnica mucosa.

30
Figura 29 – Configuração estrutural do estômago.

Vascularização sanguínea do estômago

A vascularização do estômago é feita pelos seguintes vasos:

. Artérias gástrica esquerda (ramo da artéria celíaca), gástrica direita (ramo


da a. hepática), gastroepiploica (ramo da a. hepática), e artérias gástricas
curtas (ramos da a. gastroepiploica);

. Veias gástrica esquerda, gástrica direita, gastroepiploica e gástricas


curtas; todas elas, direta ou indiretamente, drenam para a veia porta hepática.

31
1

Figura 30 – Irrigação sanguínea do estômago. 1. A. gástrica esquerda; 2. A.


gástrica direita; 3. A. gastroepiploica; 4. Aa. Gástricas curtas.

4
3

Figura 30 – Drenagem sanguínea do estômago. 1. Veia gástrica esquerda; 2. V.


gástrica direita; 3. V. gastroepiploica; 4. Vv. Gástricas curtas.

32
6. INTESTINO

É a parte do trato digestivo que se estende do piloro ao ânus; sua estrutura


é especialmente adaptada para as funções de digestão e absorção, para tal
contribuem a sua grande extensão – cerca de 9 metros após a morte – cuja área
de mucosa é ampliada pela presença de pregas circulares, vilosidades e
microvilosidades.

Sua primeira parte é mais estreita e constitui o intestino delgado,


medindo cerca de 7 metros de comprimento, seguida de uma parte mais dilatada
e curta, com cerca de 1,8 a 2 metros de comprimento, o intestino grosso.

O intestino delgado é subdividido em duodeno, jejuno e íleo, e se estende


do piloro até a junção ileocecal; o intestino grosso é constituído pelo ceco, cólon
e reto.

O duodeno é a primeira porção do intestino delgado, mede cerca de 25


cm, desde o piloro até a flexura duodeno-jejunal. Após o piloro, parte superior,
o duodeno apresenta-se ligeiramente dilatado, ampola duodenal, orienta-se
para a direita e se dobra inferiormente, flexura superior e parte descendente;
em seguida, com a flexura inferior, volta-se para a esquerda, constituindo a
parte horizontal e, já no antímero direito, forma a parte ascendente; esta última
termina na flexura duodeno-jejunal.

Figura 31 – Duodeno
in situ e suas divisões.
1. Parte superior; 2.
Parte descendente; 3.
Parte horizontal; e 4.
Parte ascendente.

33
A mucosa da parte descendente do duodeno é rica em pregas circulares
e ali se encontram as papilas duodenais, maior e menor. Na papila duodenal
maior desembocam os ductos colédoco (biliar) e pancreático principal; a papila
duodenal menor, posicionada logo acima da maior, serve de desembocadura
para o ducto pancreático acessório.

Figura 32 – Mucosa duodenal, com destaque das papilas duodenais.

Vascularização sanguínea do duodeno

A irrigação sanguínea do duodeno é feita pelas artérias


pancreaticoduodenais, superior e inferior, ambas contendo dois ramos,
anterior e posterior. A a. pancreaticoduodenal superior é proveniente da artéria
celíaca, ao passo que a inferior provém da a. mesentérica superior (Fig. 33).

A drenagem sanguínea do duodeno é feita por veias satélites das artérias


mencionadas acima, e drenam para a veia porta hepática Fig. 34).

34
Figura 33 – Irrigação sanguínea do duodeno e pâncreas.

Figura 34 – Drenagem
sanguínea do duodeno.

35
O jejuno é a parte do intestino delgado contínua ao duodeno, recebe este
nome porque sempre que é aberto se apresenta vazio. Quando comparado com
o íleo, o duodeno é mais dilatado, sua parede é mais espessa, mais
vascularizada e sua mucosa, além de apresentar um número maior de pregas
circulares, é de cor rósea mais forte.

O íleo é o último segmento do intestino delgado e configura a continuação


do jejuno. É mais estreito e suas túnicas são mais finas e menos vascularizadas
que o jejuno. Distalmente, o íleo desemboca no intestino grosso num orifício que
recebe o nome de óstio ileocecal, localizado no centro da papila ileocecal.

Figura 35 – Características anatômicas do jejuno.

36
Figura 36 – Características anatômicas do íleo.

Vascularização sanguínea do jejuno e íleo

A irrigação sanguínea do jejuno e do íleo é feita pelas artérias jejunais e


ileais, que são ramos da artéria mesentérica superior (Fig. 37).

A drenagem sanguínea do jejuno e íleo é realizada pelas veias jejunais e


ileais, que drenam para a veia mesentérica superior; esta última auxilia na
formação da veia porta hepática (Fig. 38).

Juntos, o jejuno e o íleo medem de 6 a 7 metros de comprimento. A maior


parte do jejuno situa-se no quadrante inferior esquerdo, enquanto a maior parte
do íleo situa-se no quadrante inferior direito do abdome. O jejuno e o íleo, ao
contrário do duodeno, são móveis.

37
Figura 37 – Irrigação
sanguínea do intestino
delgado.

Figura 38 – Drenagem sanguínea do intestino delgado.

38
Intestino grosso

O intestino grosso, assim como o intestino delgado, também é composto


de três partes: ceco, cólon e reto.

Figura 39 – O intestino grosso


projetado na parede anterior do
abdome. Ao ceco segue-se o
cólon ascendente, a flexura
cólica direita, o cólon transverso,
a flexura cólica esquerda, o cólon
descendente, o cólon sigmoide
(com duas partes, ilíaca e
pélvica), a flexura
retossigmóidea e o reto.
O intestino grosso mede cerca de 6,5 centímetros de diâmetro e 1,5 metro
de comprimento. Se estende do íleo até o ânus e está fixo à parede posterior do
abdome pelo mesocólon. Absorve a água com tanta rapidez que, em cerca de
14 horas, o conteúdo intestinal toma a consistência típica do bolo fecal. O
intestino grosso apresenta algumas diferenças em relação ao intestino delgado:
o seu maior calibre, a presença das tênias (mesocólica, omental e livre) e dos
haustros (ou saculações cólicas).

As tênias do cólon (fitas longitudinais) são três faixas de


aproximadamente um centímetro de largura e que percorrem o intestino grosso
em toda sua extensão. São mais evidentes no ceco e no cólon ascendente. Os
haustros do cólon (ou saculações cólicas) são abaulamentos ampulares
separados por sulcos transversais. Verificam-se ainda no cólon os apêndices
omentais do cólon, que são pequenos pingentes amarelados, constituídos por
tecido conjuntivo rico em tecido adiposo. Aparecem principalmente no cólon
sigmoide. Na mucosa do cólon observam-se as pregas semilunares do cólon
(Fig. 40).

39
Figura 40 – Vista geral do intestino grosso, suas divisões e componentes
anatômicos.

O ceco é a parte inicial do intestino grosso, começa em fundo cego, daí a


origem do seu nome, e está localizado no quadrante inferior direito do abdome,
bem junto à fossa ilíaca direita. No fundo do ceco acha-se um estreito e tortuoso
recesso, o apêndice vermiforme, que se comunica com a luz do ceco pelo óstio
do apêndice vermiforme. A parede do apêndice é rica em nódulos linfáticos
agregados.

40
Junto à transição cecocólica, internamente, encontra-se a papila ileal e,
no centro desta, o óstio ileal, onde se dá a desembocadura do íleo. As margens
da papila ileal formam os lábios ileocólico e ileocecal; na comissura desses
dois lábios observa-se o frênulo do óstio ileal.

Figura 41 – Vista do ceco, com ênfase para os óstios do apêndice vermiforme e


ileal, lábios ileocólico e ileocecal, e frênulo do óstio ileal.

Vascularização do intestino grosso

A irrigação sanguínea do intestino grosso é feita pelas artérias


mesentéricas superior e inferior, ramos diretos da aorta abdominal (Fig. 42).

A drenagem sanguínea do intestino grosso é feita para as veias


mesentéricas superior e inferior, que drenam para a veia porta hepática, e
pelas veias retais média e inferior, que drenam para as veias ilíacas internas
(Fig. 43).

41
Figura 42 – Irrigação
sanguínea do intestino
grosso.

Figura 43 – Drenagem
sanguínea do intestino
grosso.

42
A porção seguinte do intestino grosso é o cólon, segmento que se
prolonga do ceco até o ânus, com as seguintes partes: cólon ascendente, cólon
transverso, cólon descendente e cólon sigmoide.

O cólon ascendente é a segunda parte do intestino grosso. Acha-se no


antímero direito do abdome, a partir do ceco até às imediações do lobo direito
do fígado, onde se curva para a esquerda, na flexura direita do cólon (ou
flexura hepática).

O cólon transverso é a parte mais larga e mais móvel do intestino grosso.


A partir da flexura direita do cólon ele cruza a linha mediana do abdome até a
flexura esquerda do cólon (esta última no antímero esquerdo do abdome),
onde curva-se inferiormente para tornar-se cólon descendente. A flexura
esquerda do cólon (ou flexura esplênica) é normalmente mais superior, mais
aguda e menos móvel do que a flexura direita do cólon.

O cólon descendente passa retroperitonealmente a partir da flexura


esquerda do cólon até a fossa ilíaca esquerda, onde é contínuo com o cólon
sigmoide.
O cólon sigmoide é caracterizado pela sua alça em forma de “S”, de
comprimento variável e possui uma parte ilíaca e uma parte pélvica. O cólon
sigmoide une o colo descendente ao reto. O término das tênias do cólon, a
aproximadamente 15cm do ânus, indica a junção retossigmóidea.
O reto, que recebe este nome por ser quase retilíneo, constitui o segmento
do intestino grosso que termina ao perfurar o diafragma pélvico (músculos
levantadores do ânus), quando então passa a se chamar de canal anal. Este
último, apesar de bastante curto (3 centímetros de comprimento), é importante
por apresentar algumas formações essenciais para o funcionamento intestinal,
dentre as quais citamos os esfíncteres anais, externo e interno.

O esfíncter anal interno é o mais profundo, e resulta de uma


condensação de fibras musculares lisas circulares, contínuas com a camada
helicoidal interna do reto. O esfíncter anal externo é constituído por fibras
musculares estriadas que se dispõem circularmente em torno do esfíncter anal

43
interno; apresenta três disposições de suas fibras musculares, que são:
subcutâneo, superficial e profundo.

Figura 44 – Parte final do intestino grosso e ânus.

44
Figura 45 – Reto e canal anal, em corte longitudinal, e seus componentes
estruturais.

Vascularização do reto e canal anal

A irrigação sanguínea da região do reto e canal anal é feita pelas artérias


mesentérica inferior e sacral mediana, através dos seus ramos retais
superiores, e pelas artérias retais médias e inferiores, que são ramificações
das artérias ilíacas internas, direita e esquerda (Fig. 46).

A drenagem venosa da região é feita por veias satélites das artérias


citadas acima (Fig. 47).

45
Figura 46 – Irrigação sanguínea da porção final do intestino grosso.

46
Figura 47 – Drenagem sanguínea do reto e canal anal.

7. FÍGADO

O fígado é a maior glândula do organismo, e é também a mais volumosa


víscera abdominal. Sua localização é na região superior do abdome, logo abaixo
do diafragma, ocupando mais o antímero direito; normalmente 2/3 do volume do
fígado estão à direita da linha mediana e 1/3 à esquerda. Pesa cerca de 1.500g
no indivíduo adulto e responde por aproximadamente 1/40 do peso corporal.

O fígado apresenta duas faces: diafragmática e visceral. A face


diafragmática é convexa e lisa, relacionando-se com a face abdominal,

47
côncava, do diafragma, à qual se fixa pelo ligamento coronário e pelos
ligamentos triangulares, direito e esquerdo. A face visceral é irregularmente
côncava pela presença de impressões viscerais.

Em sua estrutura, o fígado é dividido em quatro lobos, que são assim


denominados: lobo direito, lobo quadrado, lobo esquerdo e lobo caudado;
este último é formado por dois processos, caudado e papilar. O lobo direito é
pelo menos duas vezes maior que o lobo esquerdo. A divisão entre os lobos
esquerdo e quadrado é estabelecida pelo ligamento falciforme, em cuja
margem verifica-se um cordão fibroso, resultante da obliteração da veia
umbilical, denominado ligamento redondo do fígado. Pela face visceral
podem-se identificar com facilidade os quatro lobos hepáticos.

Figura 48 – Vista da face diafragmática do fígado.

48
Figura 49 – Vista da face visceral do fígado.

O fígado apresenta em sua face diafragmática uma área isenta de


peritônio (por estar em contato direto com o diafragma), denominada área nua
do fígado, onde se encontra o sulco da veia cava.

Na face visceral do fígado observa-se, entre o lobo esquerdo e o lobo


quadrado, a fissura do ligamento redondo, ocupada por este ligamento. Entre
o lobo quadrado e o lobo direito encontra-se a vesícula biliar; logo acima do
lobo quadrado está localizada a porta do fígado, onde se encontram a artéria
hepática própria, a veia porta hepática e a convergência dos ductos
hepáticos direito e esquerdo para formar o ducto hepático comum, além dos
nervos e vasos linfáticos. O limite inferior do fígado é a sua margem inferior.

49
Ainda nesta face visceral do fígado observa-se, logo acima da porta do
fígado, o lobo caudado e suas divisões em processo caudado e processo
papilar (Fig. 49).

A função digestiva do fígado é produzir a bile, uma secreção verde


amarelada, que é enviada ao duodeno. A bile é produzida nos hepatócitos e
armazenada na vesícula biliar, que a libera quando gorduras entram no duodeno.
A bile emulsiona a gordura e a distribui para a parte distal do intestino para a
digestão e absorção.

O transporte da bile através do fígado (vias bilíferas) é feito inicialmente


por finos canalículos biliares, que ao se unirem formam ductos mais calibrosos,
ductos interlobulares (nos espaços porta), em seguida os ductos bilíferos
interlobares. Da união dos ductos bilíferos interlobares surgem os ductos
hepáticos, direito e esquerdo; estes últimos, já na porta do fígado, se unem
para formar o ducto hepático comum; no seu trajeto o ducto hepático comum
se une ao ducto cístico (que comunica com a vesícula biliar) para formar o
ducto colédoco.

A vesícula biliar (7 – 10cm de comprimento) situa-se na fossa da


vesícula biliar, na face visceral do fígado, na junção dos lobos quadrado e
direito. A proximidade da vesícula biliar com o duodeno é tal que a parte superior
do duodeno normalmente é manchada com bile no cadáver. A vesícula biliar tem
capacidade para até 50 ml de bile; seu formato piriforme apresenta um colo,
junto deste verifica-se o infundíbulo, seguidos do corpo e fundo.

O ducto cístico (4 cm de comprimento) exibe uma parte inicial lisa,


seguida de um trajeto com pregas espirais; liga a vesícula biliar ao ducto
hepático comum (união dos ductos hepáticos direito e esquerdo), formando
assim o ducto colédoco. O ducto colédoco (10 a 15cm de comprimento) desce
posterior à parte superior do duodeno e situa-se na face posterior da cabeça do
pâncreas. Na face esquerda da parte descendente do duodeno, o ducto colédoco
entra em contato com o ducto pancreático principal e, lado a lado, atravessam a
parede duodenal para se abrir na cisterna hepatopancreática (de Vater). Esta

50
papila possui, ao redor do seu óstio, um pequeno esfíncter, que controla o fluxo
das secreções que por ali fluem (bile e suco pancreático).

Figura 50 – Vesícula biliar e ductos biliares.

8. PÂNCREAS

O pâncreas é uma glândula de natureza mista, sua atividade exócrina


consiste em produzir o suco pancreático, que é encaminhado ao duodeno
através dos ductos pancreáticos; a parte endócrina secreta glucagon e insulina,
que controlam os níveis de glicose no sangue. O pâncreas produz diariamente
1200 a 1500ml de suco pancreático.

51
A forma do pâncreas é piramidal, achatado no sentido ântero-posterior,
apresenta duas faces, anterior e posterior, e duas margens, superior e
inferior; sua localização é abdominal alta, posterior ao estômago. O
comprimento varia de 12,5 a 15cm e seu peso é de 14,95g, na mulher, e 16,08g
no homem. Divide-se em cabeça (alojada na margem côncava do duodeno),
colo, corpo (dividido em três partes: anterior, posterior e inferior) e cauda (Fig.
51)

Figura 51 – Pâncreas, sua sintopia e divisões.

São dois os ductos excretores do pâncreas: o ducto pancreático


principal, que surge na cauda do pâncreas e corre para sua cabeça, onde se
curva inferiormente e está intimamente relacionado com o ducto colédoco. Já na
parede o duodeno, o ducto pancreático se une ao ducto colédoco e entram na

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ampola hepatopancreática (de Vater), situada na papila duodenal maior, cujo
orifício de desembocadura no duodeno é guarnecido pelo esfíncter da ampola.

O ducto pancreático acessório é uma ramificação do ducto principal, na


altura do colo do pâncreas e, numa trajetória ascendente, cruza anteriormente o
ducto colédoco, atravessa a parede da parte descendente do duodeno, e
desemboca na papila duodenal menor.

Figura 52 – Componentes excretores do pâncreas exócrino.

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