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Biossegurança

Autora: Profa. Nádia Fátima Gibrim


Colaboradores: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro
Prof. Flávio Buratti Gonçalves
Profa. Christiane Mazur Doi
Professora conteudista: Nádia Fátima Gibrim

Nutricionista e docente titular da Universidade Paulista (UNIP) Jundiaí-SP, ministrando disciplinas para os cursos da
área da saúde. Graduação em Nutrição pela UNIP e em Economia Doméstica (Universidade Federal de Viçosa (UFV‑MG).
Mestrado em Tecnologia de Alimentos (UFV-MG) e doutorado em Alimentos e Nutrição pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp-SP). Especialista em Qualidade e Segurança Alimentar pelo Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai-SP) e especialista em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul‑SP).
Foi consultora do Senai-SP em segurança alimentar e implantação de sistemas de qualidade. Nutricionista da Atenção
Básica na Prefeitura de Jundiaí.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G447b Gibrim, Nádia Fátima.

Biossegurança / Nádia Fátima Gibrim. – São Paulo: Editora Sol,


2022.

120 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Legislação. 2. Equipamentos. 3. Processos. I. Título.

CDU 614.4

U514.42 – 22

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Reitor

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Reitora em Exercício

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Vice-Reitora de Graduação

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Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa

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Vice-Reitora de Administração

Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia


Vice-Reitor de Extensão

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento e Finanças

Profa. Melânia Dalla Torre


Vice-Reitora de Unidades do Interior

Unip Interativa

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático

Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Angélica L. Carlini
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. Deise Alcantara Carreiro

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Aline Ricciardi
Vitor Andrade
Sumário
Biossegurança

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 BIOSSEGURANÇA................................................................................................................................................9
1.1 Níveis de biossegurança .................................................................................................................... 10
2 PERIGOS............................................................................................................................................................... 15
2.1 Perigos físicos......................................................................................................................................... 19
2.2 Perigos químicos.................................................................................................................................... 22
2.3 Perigos biológicos.................................................................................................................................. 25
2.4 Perigos ergonômicos............................................................................................................................ 28
3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO.................................................................................................................. 33
3.1 Equipamentos de proteção individual (EPI)............................................................................... 33
3.2 Equipamentos de proteção coletiva (EPCs)................................................................................ 38
4 LEGISLAÇÃO EM BIOSSEGURANÇA........................................................................................................... 42
4.1 Histórico.................................................................................................................................................... 43
4.2 Lei n. 11.105/2005................................................................................................................................. 44
4.3 Engenharia genética............................................................................................................................ 45
4.4 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)............................................................................ 46
4.5 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)....................................................... 47
4.6 Qualidade em biossegurança............................................................................................................ 51
4.7 Boas Práticas de Laboratório (BPL) e Procedimento Operacional Padrão (POPs)...........51

Unidade II
5 SEGURANÇA COM RADIOISÓTOPOS......................................................................................................... 60
5.1 Radioisótopos mais utilizados na medicina (CARDOSO, s.d.).............................................. 60
5.2 Efeitos biológicos das radiações ionizantes............................................................................... 63
5.3 Eliminação de rejeitos......................................................................................................................... 64
6 BIOTERISMO....................................................................................................................................................... 64
6.1 Necessidades básicas de um biotério............................................................................................ 66
6.2 Biossegurança em biotérios de experimentação...................................................................... 70
7 LEVANTAMENTO DE RISCOS NO AMBIENTE DE TRABALHO............................................................ 72
7.1 Avaliação qualitativa........................................................................................................................... 73
7.2 Avaliação quantitativa........................................................................................................................ 74
7.3 Limites de tolerância............................................................................................................................ 74
7.4 Mapa de riscos........................................................................................................................................ 74
7.5 Risco ocupacional – acidentes com materiais perfurocortantes...................................... 76
7.6 Gerenciamento de resíduos em serviços de saúde.................................................................. 78

8 PROCEDIMENTOS GERAIS DE DESCONTAMINAÇÃO.......................................................................... 82


8.1 Graus de descontaminação............................................................................................................... 83
8.2 Processos físicos de desinfecção..................................................................................................... 83
8.3 Processos químicos de desinfecção............................................................................................... 85
8.4 Esterilização............................................................................................................................................. 86
8.5 Classificação dos artigos médico-hospitalares......................................................................... 89
8.6 Recolhimento e desativação de resíduos do laboratório...................................................... 90
8.7 Rotulagem de resíduos de laboratório......................................................................................... 92
8.8 Prevenção de incêndios...................................................................................................................... 99
APRESENTAÇÃO

A disciplina Biossegurança tem como objetivo oferecer subsídios para o profissional da área da saúde
analisar sua conduta no que diz respeito às questões de segurança durante sua atuação profissional.
Essa segurança é em relação a si mesmo, à comunidade, ao meio ambiente e ao seu próprio objeto
de trabalho, seja ele um paciente, um animal ou um organismo geneticamente modificado, tanto na
prática clínica e hospitalar quanto na pesquisa.

A partir das informações apresentadas, o profissional terá condição de diferenciar perigos aos quais
está exposto bem como a probabilidade de sua ocorrência. Aprenderá sobre o sistema APPCC (Análise
de Perigos e Pontos Críticos de Controle), que utiliza muito esses conceitos.

Apresentamos as legislações importantes para avaliação e controle das exposições ocupacionais


a agentes físicos, químicos e biológicos, bem como o programa de gerenciamento de riscos, a fim de
elaborar o mapa de riscos.

O profissional da área da saúde se capacitará a identificar os principais agentes físicos, químicos,


biológicos e ergonômicos que causam risco tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente. Essa
análise é a base de todo o conhecimento em biossegurança e é aplicável a qualquer ambiente de trabalho.

O profissional também conhecerá a simbologia de risco e o uso de equipamentos de proteção


individual e coletiva a fim de realizar práticas laboratoriais e clínicas adequadas em relação à segurança
da saúde humana.

Além disso, aprenderá sobre a Lei de Biossegurança no que diz respeito à manipulação de organismos
geneticamente modificados, e terá noções sobre infecções hospitalares e níveis de biossegurança
laboratorial, com suas aplicações e requisitos.

A disciplina também inclui dados sobre procedimentos de descontaminação e como aplicá-los a


artigos médico-hospitalares, bem como sobre o manejo de resíduos de serviços de saúde.

INTRODUÇÃO

Esta disciplina abordará conteúdos importantes para a biossegurança, apresentados em duas unidades.

Na unidade I, são abordados conceitos de biossegurança, os níveis de classificação, bem como ações
e barreiras necessárias. Apresentamos os perigos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos associados
às atividades laborais exercidas por profissionais da área da saúde. A seguir, estão os conceitos de
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).

São também abordados, nessa unidade, os equipamentos de proteção individual (EPIs) e de proteção
coletiva (EPCs); boas práticas de laboratório e os procedimentos operacionais padronizados (POPs).

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Na unidade II, são abordados os seguintes temas: segurança de radioisótopos, seu uso em medicina,
os efeitos biológicos e cuidados na eliminação de rejeitos; bioterismo e biossegurança em biotérios de
experimentação; levantamento de riscos no ambiente de trabalho, avaliações qualitativas e quantitativas
dos riscos, limites de tolerância e mapa de riscos. Além desses tópicos, são apresentados o gerenciamento
de resíduos dos serviços de saúde; os procedimentos e graus de descontaminação, bem como seu
monitoramento. Os artigos médico-hospitalares são apresentados considerando sua classificação, forma
de recolhimento e desativação, quando pertinente. São abordados, também, rotulagem adequada dos
resíduos de laboratório, símbolos de risco químico e, por fim, tópicos importantes associados à prevenção
de incêndios.

Toda e qualquer atividade humana expõe os indivíduos a esforços físicos e riscos de acidentes.
Assim, se considerarmos que passamos mais tempo no ambiente de trabalho que em qualquer outro,
precisaremos pensar nos efeitos que a atividade profissional causa à saúde.

Dependendo da atividade profissional e considerando características inerentes ao tipo de trabalho,


há exposição do trabalhador a produtos químicos, radiações, doenças e solicitações físicas repetitivas
em níveis acima do aceitável, podendo provocar desgastes ao corpo em curto, médio e longo prazos,
muitas vezes, incapacitando o indivíduo ao exercício da profissão. Desse modo, nas ciências da saúde,
os profissionais estão expostos a condições especiais para as quais há que se ter conhecimento dos
requisitos de biossegurança.

A biossegurança é uma área interdisciplinar da ciência cujo objetivo é proteger tanto o trabalhador
como o objeto de trabalho dos riscos inerentes à atividade do profissional. São objetos de trabalho
o paciente, o material de pesquisa, o alimento processado, os animais e plantas tratados, bem como o
meio ambiente.

Como pretende a proteção de indivíduos, em alguns momentos, a biossegurança também esbarra


em questões relacionadas à bioética, segundo Goldim (1997). A Lei n. 11.105/2005, mais conhecida
como Lei da Biossegurança, deixa essa característica muito clara.

O estudo da biossegurança visa, sempre, à prevenção de riscos ou, se não for possível, à contenção
dos agentes perigosos. A partir do estudo dos mecanismos de ação desses agentes, são estabelecidos os
procedimentos seguros de ação.

Antes de prosseguirmos no estudo da biossegurança, vale a pena ressaltar que a maioria dos
acidentes de trabalho é decorrente de imperícia, negligência e, até mesmo, imprudência dos operadores,
portanto, a regra de ouro na prevenção de acidentes é atenção e bom senso.

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BIOSSEGURANÇA

Unidade I
1 BIOSSEGURANÇA

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (BRASIL, 2010) define biossegurança como
condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir
ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o
meio ambiente.

Compreende um conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos


inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de
serviços, visando a saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos
resultados (TEIXEIRA; VALLE, 1996).

As “boas práticas”, expressão muito citada por profissionais, referem-se aos procedimentos seguros
de trabalho. Esses procedimentos são estabelecidos com antecedência, baseando-se em normas técnicas,
na legislação vigente, no histórico da atividade ou, simplesmente, na prática e no bom senso.

É muito importante que o estabelecimento de regras de boas práticas seja feito com antecedência,
pois a função principal de qualquer procedimento de segurança é evitar o acidente. Qualquer atividade
após o acidente serve somente para a redução de danos.

As atividades desempenhadas por profissionais na área da saúde apresentam riscos associados ao


próprio trabalho, com exposição a microrganismos patogênicos, materiais perfurocortantes, produtos
químicos e farmacêuticos, entre outros. Trabalhar seguindo os procedimentos estabelecidos pelas boas
práticas é fundamental para a segurança do profissional e para a qualidade da atividade desempenhada,
reduzindo os desvios e a variabilidade dos resultados.

O conceito de “boas práticas” vale para qualquer ramo de atividade, ajustando-se conforme os
requisitos específicos: boas práticas de fabricação, boas práticas de laboratório, boas práticas de
preparação etc. Todos os procedimentos são descritos no Manual de Boas Práticas, em que também
estão os Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs).

Lembrete

Biossegurança é uma área multidisciplinar da ciência. Envolve


conhecimentos de física, química, microbiologia, antropometria, fisiologia,
legislação trabalhista e qualquer outra disciplina que se faça necessária.

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Unidade I

Saiba mais

O capítulo 1 do livro indicado a seguir trata de biossegurança e boas


práticas laboratoriais:

BORBA, C. M. et al. Biossegurança e boas práticas laboratoriais. In:


MOLINARO, E. M.; CAPUTO, L. F. G.; AMENDOEIRA, M. R. R. (orgs.). Conceitos
e métodos para a formação de profissionais em laboratórios de saúde. Rio
de Janeiro: EPSJV, 2009. p. 21-66. (v. 1). Disponível em: https://rb.gy/tqdriu.
Acesso em: 17 jan. 2022.

1.1 Níveis de biossegurança

Existem quatro níveis de biossegurança: NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4. São apresentados em ordem
crescente, considerando o maior grau de contenção e complexidade do nível de proteção. Cada um
desses níveis requer ações e técnicas aliadas às barreiras físicas nos espaços de manipulação, pesquisa e
ensino, de forma a garantir proteção integral para as pessoas e para o ambiente.

Consistem em combinações de práticas e técnicas de laboratório, instalações e equipamentos de


segurança, adequados às atividades realizadas, considerando as vias de transmissões documentadas ou
suspeitas de agentes infecciosos, bem como a dinâmica das atividades desempenhadas no local.

A cada nova informação que possa sugerir a virulência, a patogenicidade, bem como os padrões de
resistência a antibióticos, as práticas usuais deverão ser ajustadas com maior ou menor rigidez, visando
a qualidade do processo de trabalho e a redução dos riscos de contaminação.

Observação

Aqui serão apresentadas algumas características para diferenciar cada


nível de biossegurança. Caso seja preciso projetar um laboratório completo,
é necessário consultar normas específicas para isso.

Nível de Biossegurança 1 (NB-1)

Nesse nível, estão dispensadas as indicações de barreiras de tipo primárias ou secundárias, com
exceção de uma pia para higienizar antebraços e mãos. É considerado um nível básico de contenção,
sendo priorizadas as medidas padrões de microbiologia.

Os laboratórios classificados como NB-1 são projetados para trabalhos com agentes biológicos
de classe de risco 1. São locais apropriados para o treinamento educacional ou para o treinamento de
técnicos e de professores nas técnicas laboratoriais.
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BIOSSEGURANÇA

As boas práticas de laboratório consistem na principal contenção para esses laboratórios, incluindo
a especificação adequada do uso de equipamento de proteção individual (EPI), como aventais de manga
comprida e luvas descartáveis. As cabines de segurança biológica (CSB) e fluxo laminar não são exigidas
nesse nível de biossegurança. O Manual de Boas Práticas deve conter a especificação dos desinfetantes
e produtos de limpeza, com a respectiva concentração de uso.

As salas devem ser separadas da área de passagem de pessoas por portas simples, com revestimentos
feitos com materiais que facilitem a limpeza, laváveis e não podem ser porosos. O esgoto do laboratório
pode ser descartado na rede pública.

Ainda considerando as instalações, devem existir pias para limpeza das mãos, lava-olhos e um
chuveiro de emergência. As bancadas não podem ter emendas na superfície e devem ser resistentes ao
ataque de produtos químicos. Deve existir um local para armazenamento de produtos de uso imediato,
e o espaço entre as bancadas deve permitir a circulação de pessoas. Os funcionários devem ter local
específico para guardar objetos pessoais e aventais.

O símbolo de risco biológico deve ser colocado na porta do laboratório, conforme apresentado na
figura seguinte:

Risco Biológico
Entrada permitida somente para pessoal autorizado
Nível de segurança biológica: ..........1
Profissional responsável: ..................1
Em caso de emergência, chamar por:
Telefone interno:
Telefone residencial:
A permissão para entrar no laboratório deve ser solicitada
ao responsável acima citado

Figura 1 – Símbolo de risco biológico colocado em portas de laboratório

Adaptada de: http://tiny.cc/8emnuz. Acesso em: 17 jan. 2022.

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Unidade I

Nível de Biossegurança 2 (NB-2)

Estão presentes nesse nível agentes de risco moderado que podem estar associados a patologias de
gravidade variável em humanos. Sangue e demais líquidos corporais estão presentes. Utilizam-se os EPIs
indicados no NB-1 e barreiras primárias e secundárias.

É aplicável aos laboratórios clínicos, de diagnóstico e outros laboratórios onde o trabalho é realizado
com maior espectro de agentes nativos de risco moderado, presentes na comunidade e que estejam
associados a uma patologia humana de gravidade variável. Os laboratórios NB-2 são projetados para
trabalhar com agentes biológicos de classe de risco 2.

Com boas técnicas de microbiologia, esses agentes podem ser usados de maneira segura em atividades
conduzidas sobre uma bancada aberta, uma vez que o potencial para a produção de borrifos e aerossóis
é baixo. Também deve ser dada atenção especial para procedimentos que envolvam a manipulação de
objetos perfurocortantes.

Os procedimentos envolvendo alto potencial para a produção de salpicos ou aerossóis que possam
aumentar o risco de exposição desses funcionários devem ser conduzidos com a CSB. Outras barreiras
primárias, como escudos para borrifos, proteção facial, aventais e luvas, devem ser utilizadas de
maneira adequada.

O laboratório de NB-2 deve atender a todos os requisitos indicados para o NB-1, com mais algumas
exigências. Deve ser instalado longe da área de passagem pública e suas portas devem ter fechamento
automático. O acesso de pessoas deve ser restrito, e os indivíduos que têm acesso devem ter um controle
maior sobre sua saúde, por meio do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

Os cantos entre paredes, piso e teto devem ser arredondados, e os revestimentos devem ser não
porosos e resistentes ao uso de desinfetantes. É permitido que exista recirculação de ar no sistema
de ventilação e ar-condicionado, entretanto, esse ar deve ser filtrado e descartado longe de prédios
habitados e de locais de circulação de pessoas.

Devem ser evitadas as tubulações aparentes, todavia, caso isso não seja possível, os suportes de
tubulação devem garantir espaço suficiente para a limpeza de todas as superfícies.

As bancadas de trabalho devem estar engastadas na parede, de modo a não ser possível o acúmulo
de sujidades entre ambas. As pias e os lavatórios devem possuir sistema automático de acionamento.

A CSB deve ser de classe II e é necessário que se mantenha o registro de seu uso. Assim, toda
manipulação que tenha a possibilidade de geração de aerossol, como o uso de centrífuga, moinho
e a manipulação de frascos pressurizados, deve ser feita dentro da CBS.

Os técnicos que trabalham nesses laboratórios passam por treinamento específico no manejo de
patógenos e são supervisionados por profissionais qualificados para a função. Durante os procedimentos
ali realizados, o acesso ao laboratório é limitado.
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BIOSSEGURANÇA

Nível de Biossegurança 3 (NB-3)

Os laboratórios NB-3, ou de contenção, destinam-se ao trabalho com agentes de risco biológico da


classe 3. São microrganismos que acarretam elevado risco individual e baixo risco para a comunidade.
É aplicável para laboratórios clínicos, de diagnósticos, de pesquisa ou de produção. Apresenta requisitos
de controle e segurança mais rígidos em relação aos níveis 1 e 2.

Nesses laboratórios só devem ser admitidos funcionários com experiência em NB-2. A equipe
profissional deve ser treinada para manejo de agentes patogênicos, além de ser supervisionada por
profissional altamente qualificado, com grande experiência com esses agentes. Outra questão muito
importante refere-se à manutenção do laboratório, a ser feita por empresas especializadas e com o
acompanhamento dos funcionários.

Nesses locais, são realizados trabalhos com agentes nativos ou exóticos, com potencial de transmissão
por via respiratória e que podem causar infecções sérias e potencialmente fatais. Os riscos primários
causados aos trabalhadores que lidam com esses agentes incluem a autoinoculação, a ingestão e a
exposição aos aerossóis infecciosos.

Esse nível de contenção exige a intensificação dos programas de boas práticas laboratoriais e de
segurança, além da existência obrigatória de dispositivos de segurança e de sistema de pressão negativa
para a exaustão e filtração do ar do interior do laboratório.

Considerando que envolve o risco de infecções graves e potencialmente fatais, que podem ser
contraídas pelas vias respiratórias, todas as manipulações devem ser conduzidas com barreiras
primárias e secundárias. Os pesquisadores devem usar roupas de proteção específicas para essa área e
equipamentos de proteção individual. Todos os envolvidos no processo de manipulação devem passar
por exames sorológicos periódicos.

Todas as manipulações laboratoriais deverão ser realizadas em uma CSB ou em outro equipamento
de contenção, como uma câmara hermética de geração de aerossóis. As barreiras secundárias para esse
nível incluem acesso controlado ao laboratório e sistemas de ventilação que minimizem a liberação de
aerossóis infecciosos do laboratório.

O laboratório NB-3 deve ser posicionado em uma área isolada do edifício, com uma antessala com portas
duplas, com acesso controlado por fechaduras de segurança. Deve ser incluída no projeto uma sala específica
para troca de roupas. O sistema de ventilação e ar-condicionado é projetado de modo a permitir seu isolamento
e as janelas devem ser herméticas para que seja possível uma desinfecção gasosa, se necessário.

Nos acessos ao laboratório, são necessárias pias para lavagem das mãos, providas de torneiras de
acionamento automático. Os sistemas de água e esgoto apresentam válvulas antirrefluxo. O esgoto deve
ser tratado com desinfetante antes de ser lançado no sistema público.

Nesses laboratórios, a autoclave deve ser instalada dentro do laboratório, e as centrífugas e bombas
de vácuo devem ser equipadas com filtros de ar de alta capacidade.
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Unidade I

Vale ressaltar a importância da existência de planos de emergência, formalizando procedimentos


contra derramamentos e escapes, sendo esses acidentes de notificação obrigatória.

Nível de Biossegurança 4 (NB-4)

Esses laboratórios são projetados para manipular agentes biológicos com classe de risco 4. Trata‑se
de alto risco e de mais difícil tratamento em caso de contágio. O isolamento do ambiente e dos
trabalhadores em relação aos organismos infecciosos deve ser completo.

O planejamento e a construção das dependências, bem como as práticas e os equipamentos de


segurança, são aqueles aplicáveis às atividades que envolvam agentes exóticos perigosos com alto risco
de provocarem doenças fatais em indivíduos. Vale lembrar que esses agentes podem ser transmitidos
via aerossóis e que para alguns deles ainda não existem vacinas ou terapia disponível até o momento.

Os riscos primários aos trabalhadores que manuseiam agentes do NB-4 incluem exposição respiratória
aos aerossóis infecciosos, exposição da membrana mucosa ou da pele com algum tipo de lesão às
gotículas infecciosas e à autoinoculação.

Todas as manipulações de materiais potencialmente infecciosos utilizados para efetuar diagnósticos,


substâncias isoladas e animais natural ou experimentalmente infectados apresentam alto risco de
exposição e infecção aos funcionários de laboratório, à comunidade e ao meio ambiente.

O completo isolamento dos trabalhadores de laboratórios em relação aos materiais infecciosos


contidos nos aerossóis é realizado em CSB ou com um macacão individual suprido com pressão de ar
positivo, conforme apresentado a seguir.

Figura 2 – Procedimento efetuado em cabine de segurança biológica em laboratório de nível de


biossegurança 4 (NB-4)

Disponível em: http://tiny.cc/aemnuz. Acesso em: 17 jan. 2022.

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BIOSSEGURANÇA

Instalações de nível de biossegurança 4 são construídas em um prédio separado ou em uma área


completamente isolada, contando com ventilação e sistemas de gerenciamento de lixo que evitem a
liberação de agentes viáveis no meio ambiente.

Os sistemas de ar-condicionado devem oferecer pressão do ar negativa dentro do prédio, o que visa
garantir, em caso de vazamento, que o ar interno não saia do edifício. O acesso às áreas controladas
deve ser feito por portas duplas e antessala com controle da pressurização do ambiente.

Saiba mais

Microrganismos de classe de risco 4 ou instalações com procedimentos


de segurança semelhantes ao NB-4 sempre foram inspiração para filmes.
Vale assistir:

CONTÁGIO. Direção: Steven Soderbergh. Estados Unidos: Warner Bros,


2011. 116 min.

EPIDEMIA. Direção: Wolfgang Petersen. Estados Unidos: Warner Bros,


1995. 127 min.

2 PERIGOS

Antes do estabelecimento das normas de boas práticas, é muito importante conhecer os perigos
associados ao tipo de atividade laboral a serem prevenidos com a adoção dessas práticas.

Para exemplificar, é de conhecimento de todos a importância de lavar as mãos, embora o bom


senso indique que o procedimento de lavar as mãos, usado por um mecânico, seja diferente daquele
executado por um médico antes de iniciar uma cirurgia.

Isso parece óbvio, considerando as atividades executadas pelos dois profissionais. Se o médico
não lavar as mãos adequadamente, vai expor o paciente a risco aumentado de infecção durante
e após a cirurgia, até mesmo com possibilidade de complicações e óbito. No caso do mecânico, o
fato de não lavá-las adequadamente poderá, na pior das hipóteses, deixá-las sujas de graxa. Assim,
o procedimento para higienização das mãos executado pelo médico deve ser bem mais rigoroso do
que o utilizado pelo mecânico.

Ainda considerando a lavagem das mãos, esse procedimento foi relembrado continuamente
durante a pandemia do coronavírus (Covid-19) como forma de prevenção do contágio. É um
procedimento de fácil execução e uma maneira efetiva de prevenir a disseminação de doenças,
tendo em vista que pode interromper a disseminação de pessoa a pessoa, bem como para a
comunidade etc.

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Unidade I

O Michaelis – Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa online (PERIGO, 2022) define o verbete
perigo como “situação que ameaça a existência ou integridade de uma pessoa ou coisa; risco”. Para
melhor entendimento, faremos uma diferenciação entre perigo e risco:

• Perigo: qualquer agente que cause danos à saúde ou à integridade física das pessoas, podendo
ser classificado, quanto à severidade, em baixo, médio ou alto.

• Risco: refere-se à probabilidade de ocorrência do perigo, podendo também ser classificado em


baixo, médio ou alto.

Considerando perigo e risco, veja a situação a seguir: ao atravessar a rua, existe o perigo do
atropelamento. Se for uma rua com pouco movimento (probabilidade baixa), na qual os carros passam
em baixa velocidade (severidade do atropelamento baixa), o risco de atravessar a rua é baixo. Porém,
se for uma rodovia muito movimentada, com carros em alta velocidade, o risco da travessia é alto, e a
severidade também.

Essa diferenciação entre perigo e risco é útil particularmente para quem trabalha com alimentos.
Na área de alimentos, existe um sistema de controle de higiene e segurança alimentar chamado APPCC
(Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), que utiliza muito esses conceitos.

Trata-se de uma ferramenta de gestão da qualidade com caráter preventivo, com abordagem
sistemática que visa identificar pontos críticos de controle dos perigos biológicos, químicos e físicos
durante as etapas de produção de alimentos, para os quais existem medidas corretivas a serem aplicadas
em caso de desvio dos parâmetros esperados de segurança.

Os princípios do sistema APPCC são aceitos e reconhecidos internacionalmente. Todos os perigos


associados ao processo produtivo são analisados considerando risco de ocorrência e severidade. Para
cada ponto crítico de controle identificado, existem ações corretivas a serem aplicadas em caso de desvios
do que seria a situação adequada, possibilitando o retorno aos padrões de qualidade estabelecidos e a
garantia de segurança do alimento produzido.

Existem sistemas adaptados para diferentes linhas produtivas: APPCC Mesa, para produção de
refeições; o APPCC Indústria, aplicável às indústrias de alimentos e o APPCC Campo, para o controle das
atividades agrícolas de produção. Para o seguimento Mesa, o plano é feito por conjunto de preparações
com características similares, enquanto no seguimento Indústria de Alimentos existe um plano para
cada tipo de alimento produzido.

Vale ressaltar que os sete princípios do sistema APPCC são os mesmos para os diferentes setores
produtivos e são executados de modo sequencial, conforme apresentado a seguir:

• Análise de perigos e medidas preventivas.

• Identificação dos pontos críticos de controle.

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BIOSSEGURANÇA

• Estabelecimento dos limites críticos.

• Estabelecimento dos procedimentos de monitoração.

• Estabelecimento das ações corretivas.

• Estabelecimento dos procedimentos de verificação.

• Estabelecimento dos procedimentos de registro.

O sistema APPCC é uma ferramenta muito importante utilizada no gerenciamento de riscos de


segurança de alimentos. Permite identificar riscos e implantar controles para gerenciá-los em toda a
sua cadeia de suprimentos durante a produção. Atende aos requisitos do Codex Alimentarius, comissão
estabelecida pela Organização Mundial da Saúde e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação
e Agricultura, reunindo normas, diretivas e códigos de práticas alimentares internacionais para garantir
o comércio justo.

Considerando que o sistema APPCC fornece ferramentas de gestão de riscos, ele pode ser utilizado
para atender aos requisitos da ISO 22000, norma para Gestão de Segurança de Alimentos.

A Portaria n. 6.735, de 10 de março de 2020 aprova a nova redação da Norma Regulamentadora n. 9


(NR-9) para Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos,
conforme segue:

Art. 1º A Norma Regulamentadora n. 09 (NR-09) – Avaliação e Controle das


Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos passa a
vigorar com a redação constante do Anexo I desta Portaria.

Art. 2º Determinar que a Norma Regulamentadora n. 09 seja interpretada


com a tipificação de NR Geral.

Art. 3º Na data da entrada em vigor desta Portaria, fica revogado o art. 1º da


Portaria SSST n. 25, de 29 de dezembro de 1994 (BRASIL, 2020b).

A NR-9 do Ministério do Trabalho estabelece os requisitos para a avaliação das exposições ocupacionais
a agentes físicos, químicos e biológicos quando identificados no Programa de Gerenciamento de
Riscos (PGR), previsto na NR-1, e subsidiá-lo quanto às medidas de prevenção para os riscos ocupacionais.

Para efeito dessa NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos
existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e
tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador.

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Unidade I

Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os
trabalhadores, tais como ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações
ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom.

Os agentes químicos são substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo
pela via respiratória, como poeiras, fumaças, névoas, neblinas, gases e vapores, ou, a depender da
natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou serem absorvidos pelo organismo através
da pele ou por ingestão.

Ainda, para efeito dessa norma, consideram-se agentes biológicos bactérias, fungos, bacilos,
parasitas, protozoários, vírus, entre outros.

Já a Portaria n. 25/1994, do Ministério do Trabalho (BRASIL, 1994), ao regulamentar a elaboração do


mapa de riscos, considera a existência de cinco categorias de riscos: agentes físicos, químicos, biológicos,
ergonômicos e de acidentes (mecânicos).

Já os agentes ergonômicos são caracterizados pela falta de adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas do trabalhador.

Os agentes de acidentes são os arranjos físicos inadequados ou deficientes, máquinas e equipamentos,


ferramentas defeituosas, inadequadas ou inexistentes, eletricidade, sinalização, perigo de incêndio ou
explosão, transporte de materiais, edificações, armazenamento inadequado etc.

A maior parte dos autores apresenta os perigos e os classifica sem dar maiores explicações sobre os
critérios utilizados para sua classificação. Além disso, dependendo da área de trabalho, os perigos são
considerados de maneira diferente. Exemplificando, um biólogo não considera um inseto da mesma
forma que um nutricionista, o que pode gerar divergências quanto à classificação de alguns perigos.
Vale ressaltar que essa classificação é didática e existe para facilitar o raciocínio sobre a execução da
atividade profissional. Identificar a presença do perigo é muito mais importante do que classificá-lo.

Para este estudo, consideraremos os perigos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. Nos critérios
de classificação foram consideradas as medidas preventivas.

Saiba mais

Você aprenderá mais sobre a utilização de APPCC na indústria de


alimentos conhecendo o artigo:

RIBEIRO-FURTINI, L. G.; ABREU, L. R. Utilização de APPCC na indústria de


alimentos. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 30, n. 2, p. 358-363, mar./abr.
2006. Disponível em: https://bit.ly/33oxHGr. Acesso em: 17 jan. 2022.

18
BIOSSEGURANÇA

2.1 Perigos físicos

São considerados perigos físicos:

• Qualquer sólido estranho à atividade exercida, encontrado em níveis e dimensões inaceitáveis.

• Objetos e ferramentas perfurocortantes.

• Ruídos intensos, radiações ionizantes, temperaturas excessivas, pressão e ambiente anormal.

• Insetos e outros.

Essa classe de perigos possui como característica principal provocar a ruptura da pele e de tecidos.
A pele é a principal barreira de proteção do corpo humano, sendo impermeável tanto a fluidos quanto
a microrganismos. Com a sua ruptura, existe a possibilidade de contaminações por esses perigos, que
costumam ser muito mais graves.

Os perigos físicos podem ser prevenidos por meio de barreiras físicas que impedem a ação do agente
como apresentado a seguir: telas nas janelas impedem a entrada de insetos; tampas de panela impedem
a queda de fragmentos na comida; superfícies espelhadas impedem a propagação da radiação; luvas
grossas impedem que as mãos se queimem, entre outras.

O que normalmente causa estranheza a quem está iniciando o estudo da biossegurança é a


classificação de insetos como perigos físicos, e não como perigos biológicos. Para melhor esclarecer, os
insetos podem representar perigo de três formas:

• Como vetores de doenças, sendo considerado como perigo o microrganismo causador da doença,
e não o inseto que provoca a ruptura da pele.

• Como agente transmissor, no momento da picada, de substâncias irritantes ou venenosas.

• Quando está presente no alimento pode, na maior parte dos casos, provocar uma engasgadura.

Vale lembrar que o principal perigo provocado por um animal é a ruptura da pele provocada pela
mordida ou por arranhões, o que permitirá a entrada de veneno ou de microrganismos.

Os perigos físicos têm diversas origens. Vamos apresentar algumas delas a seguir:

Pedaços de vidro

São gerados por quebra de utensílios de cozinha ou vidraria de laboratório. Como maneira de
prevenir esse perigo, é necessário sempre verificar a existência de trincas, principalmente em vidrarias
que sofrerão choques térmicos por variações bruscas de temperatura. No caso, o vidro sofrerá variações
dimensionais não uniformes, podendo provocar estilhaçamento. Os fragmentos de borosilicato, material
19
Unidade I

muito utilizado na confecção de vidraria de laboratório, são muito cortantes e devem ser manuseados
com muito cuidado.

Joias, objetos de adorno, fios de cabelo e esmalte

Esse perigo é típico da manipulação de alimentos. Em algumas operações, os trabalhadores


dependem do tato e não podem usar luvas, por exemplo, na determinação do ponto de corte
durante a fabricação de queijos. Nesse tipo de operação, o esmalte pode soltar fragmentos no
alimento, e anéis, brincos ou colares podem se soltar sobre o alimento, representando um perigo para
quem for consumi-lo.

A Resolução n. 216/2004 (ANVISA, 2004) e a Portaria CVS 5 (SÃO PAULO, 2013) proíbem que
manipuladores de alimentos utilizem qualquer tipo de adornos no trabalho. O trabalhador não deve
fazer uso desses adornos no ambiente de trabalho, além disso, pelos, fios de cabelo ou de bigode devem
ser contidos com o uso de toucas e máscaras faciais, também conhecidas como bigodeiras, e aventais
com mangas compridas. Para homens com muitos pelos no braço, recomenda-se o uso de mangotes.

Fragmentos metálicos, parafusos, porcas

Os parafusos foram criados para permitir a desmontagem dos equipamentos. Assim, é bom lembrar
que nenhum parafuso fica apertado para sempre. É muito importante que todos os equipamentos
passem por manutenções preventivas para verificação do aperto de parafusos. Esse perigo pode
estar associado a vários tipos de equipamentos, tendo em vista os sucessivos ciclos de aquecimento
e resfriamento, com dilatação e retração das peças, levando ao afrouxamento de parafusos.

Pragas

Incluem-se nesse grupo os insetos, roedores, parasitas externos (pulgas e carrapatos), pássaros e
morcegos. Os programas de controles de pragas, sob responsabilidade de empresas qualificadas, previnem
a presença de pragas. Além disso, são bastante efetivas as barreiras físicas como telas de proteção nas
janelas, ralos sifonados e telas entre as telhas e as paredes. Essas últimas para impedir que pombos e
morcegos se alojem sob os telhados das edificações.

Superfícies aquecidas e geradores de chama

A presença de fornos e chapas aquecidas é comum, tanto em laboratórios quanto em cozinhas.


Tendo em vista que é fácil para pessoas desavisadas se queimarem em superfícies aquecidas, tais
equipamentos devem ser isolados termicamente e serem instalados em áreas de pouca circulação de
pessoas, ventiladas e livres de materiais voláteis ou termossensíveis.

Para fogões e bicos de Bunsen, é muito importante também a manutenção preventiva, com
verificação constante da integridade das válvulas e mangueiras de gás. O sistema de tubulações que
alimentam esses equipamentos deve ser dotado de diversas válvulas de bloqueio nos ramais, bem como
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BIOSSEGURANÇA

de válvula geral para isolar o fornecimento de gás, caso necessário. Na operação desse sistema, as
válvulas devem ser abertas, em sequência, a partir do ponto fornecedor até o ponto consumidor e
depois devem serem fechadas na ordem inversa. Torna-se necessário ter atenção redobrada para nunca
inverter esse procedimento.

Superfícies refrigeradas, trabalhos com nitrogênio líquido ou com despressurização rápida


de gases

A identificação visual dessas superfícies é facilitada pelo acúmulo de condensado e por formação
de neve, o que não diminui o perigo de acidentes graves. O congelamento da água contida dentro das
células provoca a formação de cristais de gelo que rompem a parede celular, provocando a destruição
do tecido. A manipulação dessas superfícies deve ser feita com muito cuidado, utilizando-se luvas
específicas e pinças.

Radiação ionizante

Considera-se radiação ionizante toda forma de radiação com energia suficiente para arrancar os
elétrons dos átomos, como as radiações alfa, beta, gama e os raios X. As reações do indivíduo à exposição
de radiação são dependentes de vários fatores, entre os quais, estão a quantidade de radiação recebida,
os efeitos cumulativos de várias exposições, do estado geral do indivíduo, bem como do dano físico
provocado, como as queimaduras.

É bom lembrar que as radiações ionizantes podem provocar alterações no DNA ou em substâncias
associadas ao metabolismo. Caso essa alteração não leve à morte celular ou não possa ser reparada
pelos sistemas celulares, será propagada para as próximas gerações de células. Nos locais onde se
trabalha com esse tipo de radiação, as portas e paredes devem ser revestidas de materiais que absorvem
a radiação, enquanto os operadores devem utilizar aventais específicos para essa finalidade. Os acessos a
essas áreas devem ser adequadamente sinalizados. Vale ressaltar que gestantes não podem trabalhar
nesse tipo de atividade.

Laser

O laser está se disseminando em diversas áreas, entre as quais, estão a medicina e os procedimentos
estéticos. Mesmo sabendo que o feixe de laser é bastante direcionado, é preciso considerar algumas
questões importantes para a segurança de todos os envolvidos em sua utilização. Devido ao espalhamento
da luz quando passa por coloides, efeito Tyndall, ou pelo reflexo da luz em superfícies polidas, parte da
luz pode chegar aos olhos do trabalhador. A principal proteção contra os efeitos do laser é o uso
de óculos de proteção coloridos para bloquear comprimentos de onda específicos.

Perfurocortantes

A manipulação desses materiais só deve ser feita por pessoas capacitadas, equipadas com
proteções adequadas, como é o caso da luva cota de malha de aço. A superfície cortante ou a ponta do
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Unidade I

instrumento nunca deve ser apontada na direção do trabalhador, e sua atenção não deve ser desviada
durante a operação. Como material clínico, os perfurocortantes devem ser descartados em recipientes
exclusivamente destinados a esse fim.

2.2 Perigos químicos

Considerando-se apenas o descrito na NR-9 e na Portaria n. 25/1994, para ser considerada um


perigo químico, a substância deve penetrar no organismo. Porém, serão incluídos nessa análise os riscos
de explosão e incêndios provocados pela má manipulação dos produtos químicos.

Se os perigos químicos são originados de manipulação errada de produtos químicos, então, para
prevenir-se dessa classe de perigos, é muito importante que o trabalhador conheça as características
dos produtos manipulados.

Segundo a Chemical Abstract Service (ACS, 2022), uma divisão da American Chemical Association
responsável por coletar informações sobre produtos químicos, existem cerca de 70 milhões de substâncias
químicas diferentes e, por melhor que o profissional esteja preparado, é impossível conhecer todos os
detalhes sobre a manipulação de todos esses produtos.

A Lei n. 6.514/1977, no art. 197, estabelece que:

Os materiais e substâncias empregados, manipulados ou transportados nos


locais de trabalho, quando perigosos ou nocivos à saúde, devem conter, no
rótulo, sua composição, recomendações de socorro imediato e o símbolo de
perigo correspondente, segundo a padronização internacional (BRASIL, 1977).

Essa padronização foi fixada pela ABNT na norma NBR 14725 (ABNT, 2012a; 2012b). Nas partes 3 e 4
desta norma, estão estabelecidas as informações que devem constar no rótulo e na Ficha de Informações
de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). A FISPQ é um documento que traz as informações necessárias
para a criação de procedimentos adequados de manipulação de produtos químicos, em outras
palavras, para boas práticas de laboratório.

Os perigos químicos são avaliados de acordo com suas características físico-químicas, reatividade,
toxidade, condições de manipulação, possibilidade de exposição e vias de penetração no organismo.
Trata‑se de uma análise bem completa e complexa (BINSFELD, 2004). Nesse estudo, chamaremos a atenção
para quatro dessas características: a difusividade no ar, a inflamabilidade, a toxidade e a ecotoxidade.

A difusividade no ar é a capacidade de uma substância de se espalhar pelo ar. Se o produto químico


se espalhar facilmente pelo ar, ele se torna muito difícil de ser contido, e um incêndio ou uma nuvem
tóxica pode tomar grandes dimensões. Dois parâmetros dão uma indicação de como um produto vai se
difundir pelo ar:

• Pressão de vapor: é a pressão que o vapor faz quando está em equilíbrio com o líquido em uma
evaporação. Quanto maior a pressão de vapor, mais volátil o produto e maior é a difusão.
22
BIOSSEGURANÇA

• Densidade relativa do vapor: refere-se à densidade da substância em relação à densidade do ar,


na mesma temperatura. Vapores menos densos que o ar são facilmente carregados por correntes
de ar e se dissipam na atmosfera. Vapores mais densos tendem a ficar concentrados no ambiente
e apresentam maior risco.

A inflamabilidade é a capacidade de o produto químico incendiar-se. Essa capacidade pode ser


avaliada baseando-se em três parâmetros:

• Inflamabilidade no ar: refere-se aos limites superior e inferior de concentração (porcentagem


em massa) dentro dos quais o produto torna-se inflamável. Fora desses limites, o produto não se
incendeia; dentro deles, qualquer fonte de calor é suficiente para provocar um incêndio.

• Ponto de fulgor: é a temperatura na qual um produto químico liberta vapor suficiente para
entrar em combustão com a ajuda de uma fonte de calor externa. Sem essa fonte, a chama se
extingue. Quanto mais baixo o ponto de fulgor, maior o risco de combustão.

• Temperatura de ignição: é a temperatura na qual o produto químico entra em combustão


sem o auxílio de uma fonte de ignição. Quanto mais baixo o ponto de fulgor, maior o risco de
combustão espontânea.

A toxidade é a capacidade de um produto químico produzir efeitos nocivos, tanto no meio ambiente
quanto nos organismos vivos. A ABNT, na norma NBR 14725, diferencia as informações sobre a toxidade
entre informações toxicológicas e informações ecológicas.

A FISQP pode fornecer diversos parâmetros de informações toxicológicas, sendo os mais comuns:

• Toxidade aguda: faz referência a exposições de curta duração, na ordem de segundos, minutos
ou horas. Normalmente, é apresentada a DL50, por via oral, para ratos. Esse parâmetro indica
a dose mínima necessária para matar 50% de uma população de cobaias. A DL50 não fornece
detalhes sobre os mecanismos de ação do produto em humanos, mas serve como comparativo
entre os diversos produtos químicos. Quanto menor a DL50, mais letal é o produto.

• Toxidade crônica: refere-se a exposições de longo prazo, com duração de dias, meses ou anos.
São indicados os sintomas provocados pela longa exposição ao produto.

• Limite de exposição ocupacional: concentração máxima de um produto químico no meio


ambiente sem que ocorram prejuízos à saúde do trabalhador. Existem várias definições em relação
ao tempo de exposição do trabalhador, resultando em diversos parâmetros. O mais comum é o
TLV-TWA (Threshold Limit Value – Time Weighted Average), parâmetro de origem americana que
indica a concentração para uma jornada de 8 horas diárias e 40 horas semanais.

A ecotoxidade é a ação dos produtos químicos quando liberados no meio ambiente, sobre os
constituintes vivos dos ecossistemas. O Ibama, na Portaria n. 84 de 1996, indica os seguintes parâmetros
para avaliação do potencial de dano ao meio ambiente (IBAMA, 1996):
23
Unidade I

• Bioacumulação: descreve a capacidade de um produto apresentar concentrações nos


organismos mais elevadas do que no meio. Isso significa que os organismos estão acumulando o
produto químico.

• Persistência: está relacionada à degradabilidade do produto no ambiente. Essa degradação pode


se dar pela ação de microrganismos (biótica) ou por processos químicos de oxidação, hidrólise ou
outros (abiótica).

• Transporte: refere-se aos processos físicos de transporte de massa. A difusão no solo e na água e
a solubilidade influenciam esse parâmetro.

• Toxidade a diversos organismos: DL50 aplicada a organismos típicos de cada meio, por exemplo,
de organismos aquáticos.

• Potencial mutagênico: capacidade de um produto químico causar no DNA danos que não se
conseguem reparar no momento da replicação celular, portanto, a alteração é transmitida para as
gerações seguintes.

• Potencial teratogênico: capacidade de um produto químico provocar danos em fetos em


desenvolvimento. Esses danos podem ser malformações, alterações neurológicas ou mesmo a
perda da gravidez.

• Potencial carcinogênico: capacidade de um produto químico causar câncer.

No trabalho rotineiro no laboratório, conhecem-se os produtos químicos que serão manipulados.


Esses produtos são adquiridos junto aos fabricantes ou distribuidores, que são obrigados a fornecer a
FISPQ. Já na produção de alimentos, a bioacumulação e a persistência são parâmetros fundamentais, e
nem o manipulador nem o consumidor final do alimento tem controle sobre isso.

Quem for analisar os perigos químicos associados à produção de alimentos deve considerar toda a
cadeia produtiva, conforme apresentado a seguir. Por exemplo, a produção de um iogurte com frutas
pode ser contaminada por várias fontes:

• Se o leite vier de um produtor que não isola as vacas que estão passando por tratamento
veterinário, aquele vai conter traços de antibiótico.

• Se a geleia de frutas adicionada ao iogurte contiver uma quantidade grande de sorbato de


potássio, o iogurte terá uma quantidade deste fungicida acima do limite de tolerância legal.

• Se os lubrificantes da máquina de envase não forem adequados para o uso alimentício, o iogurte
terá traços de hidrocarbonetos.

Não adianta executar ações preventivas apenas na manipulação do alimento, sendo também muito
importante considerar a seleção do fornecedor. O fornecedor deve ter qualidade assegurada e ser
auditado pelo contratante, com frequência determinada conforme a necessidade.

24
BIOSSEGURANÇA

No caso de alimentos, os perigos químicos podem ser introduzidos ainda no campo por meio de
práticas inadequadas na aplicação, acondicionamento e descarte de agrotóxicos e antibióticos ou no
desrespeito à legislação que regulamenta o uso desses produtos. Além disso, considerando o processo
produtivo dos alimentos, se acontecerem falhas na limpeza e sanitização dos equipamentos utilizados,
restarão resíduos que se tornarão contaminantes do processo seguinte que utilizarão a mesma linha
de produção.

São considerados perigos químicos associados à produção e manipulação de alimentos:

• metais pesados (chumbo, cobre, cádmio, mercúrio, entre outros), que podem ser incorporados aos
alimentos por meio da água de irrigação;

• fertilizantes inadequados ou em excesso;

• lubrificantes e aditivos de caldeiras;

• conservantes em excesso;

• traços de produtos de limpeza e sanitização de utensílios;

• antibióticos;

• pesticidas.

É importante ressaltar que as toxinas geradas por microrganismos presentes nos alimentos podem
ser consideradas perigos biológicos. Apesar de serem substâncias químicas, sua prevenção depende da
prevenção dos microrganismos geradores.

2.3 Perigos biológicos

Os perigos biológicos são aqueles que causam infecções, caracterizadas pela invasão e multiplicação
de organismos indesejáveis no objeto de trabalho ou no próprio trabalhador.

Lembrete

Os perigos biológicos têm de ser conhecidos na mesma proporção que


as medidas de prevenção de sua ocorrência devem ser implantadas.

Para a identificação correta de uma infecção, vários fatores precisam ser avaliados:

• o tipo de agente infeccioso;

• a quantidade inoculada desse agente;


25
Unidade I

• a resistência natural do ambiente a esse agente;

• o estado de saúde do sujeito contaminado.

Note que somente a presença do organismo indesejável não é suficiente para caracterizar uma
infecção. O problema maior é a multiplicação desse organismo.

Isso vale tanto para microrganismos quanto para parasitas internos e em qualquer objeto de
trabalho, mas, para facilitar o entendimento, vamos analisar essa questão para microrganismos no
corpo humano saudável.

Existem duas razões para que a multiplicação dos microrganismos seja considerada o maior problema:

• O corpo humano possui uma capacidade de combate a essas infecções, então, uma inoculação
pequena não representaria risco.

• Alguns microrganismos produzem toxinas que são termorresistentes. Essas toxinas vão se
acumulando e não podem ser eliminadas de alimentos ou meios de cultura por processos térmicos.

O processamento de higienização de materiais e equipamentos inclui a limpeza, desinfecção e


esterilização, sendo fundamental conhecer e saber classificar os materiais a serem higienizados, bem
como os desinfetantes químicos e seus potenciais de ação. Vale lembrar que para o bom processamento
dos artigos utilizados, a limpeza é fundamental (HIRATA; MANCINI FILHO, 2002; MASTROENI, 2005).

Em alguns procedimentos biotecnológicos industriais, a eliminação parcial dos microrganismos de


equipamentos e do ambiente garante, sem nenhum prejuízo, a qualidade do produto.

Por melhor que seja o processo de descontaminação, existe sempre uma probabilidade de
sobrevivência de microrganismos. Esse tema será mais bem analisado quando forem apresentadas as
técnicas de descontaminação.

A prevenção dos perigos biológicos é fundamental para evitar a multiplicação dos microrganismos
e a inoculação.

Na área de alimentos, também podem ser considerados como perigos biológicos os parasitas
internos e as toxinas produzidas por alguns tipos de fungos e bactérias.

Um dos parâmetros mais importantes no estabelecimento da vida útil de um alimento é o


binômio tempo/temperatura de processamento. Os alimentos com pH acima de 4,5 e atividade
de água superior a 0,85, chamados alimentos de baixa acidez, normalmente, exigem tratamentos
térmicos muito mais rigorosos do que para alimentos com pH menor do que 4,5, nos quais não
ocorre desenvolvimento de patógenos.

26
BIOSSEGURANÇA

Em pH maior que 4,5, pode ocorrer crescimento do Clostridium botulinum, bactéria esporulada
que produz uma neurotoxina de elevada letalidade ao homem, quando encontra condições ideais
no alimento processado. Essas condições são pH maior do que 4,5, ambiente anaeróbico, presença
de umidade e nutrientes. As características de resistência térmica dos esporos desse microrganismo
são bem conhecidas e são utilizadas para o cálculo do processo de esterilização na indústria de
alimentos. Vale ressaltar que as toxinas produzidas por todos os subgrupos são destruídas nas
seguintes utilizando-se aquecimento a 80 ºC durante 20 a 30 minutos, 85 ºC durante 5 minutos,
ou 90 ºC durante alguns segundos. As células vegetativas, os esporos e as toxinas de C. botulinum
não são destruídos pela congelação.

A ocorrência desses perigos é evitada criando condições no alimento ou ambiente para que
o microrganismo gerador da toxina não se desenvolva. Então, por facilidade, considera-se esse
perigo como sendo biológico.

O Manual de Segurança em Laboratório, da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004), sugere


que sejam considerados os seguintes parâmetros na avaliação dos perigos biológicos:

• Patogenicidade do agente: capacidade de o microrganismo causar doenças. Outro parâmetro


semelhante a ser considerado é a virulência, associada à mortalidade causada por esse agente.

• Dose infecciosa: quantidade mínima inoculada de um microrganismo capaz de provocar


uma doença.

• Via de exposição: os mecanismos mais comuns são a inoculação direta (por acidentes com
agulhas), a inalação de aerossóis (quando alguém espirra ou tosse), o contato com membranas ou
mucosas e a ingestão.

• Concentração do agente: uma grande quantidade de material contaminado a ser manipulado


significa uma grande concentração do agente infeccioso e, portanto, maior risco de contaminação.

• Informação disponível: agentes infecciosos exóticos ou pouco conhecidos implicam


riscos maiores.

• Tipo de atividade executada: se a atividade executada, por exemplo, o uso de ultrassom, gerar
aerossóis, o risco de contaminação e o raio de ação do agente são maiores.

• Disponibilidade de profilaxia: agentes infecciosos cujas doenças possuem algum tipo de


tratamento ou vacina apresentam menores riscos que os microrganismos cujas doenças não
possuem tratamento.

27
Unidade I

Os microrganismos também são classificados de acordo com o potencial de risco que apresentam:

• Classe 1: os microrganismos que não apresentam nenhum risco de causar doenças. Contudo, isso
não significa que eles não apresentam riscos, pois, no caso de alimentos, por exemplo, eles podem
ser deteriorantes.

• Classe 2: agentes patogênicos que não causam doenças graves em humanos ou animais. Essas
doenças possuem um tratamento eficaz, e o risco de a infecção se alastrar é pequeno.

• Classe 3: microrganismos que causam doenças graves que podem levar à morte tanto em homens
como em animais, mas cuja propagação é limitada. Existem tratamentos e medidas de prevenção.

• Classe 4: agentes patogênicos que causam doenças graves, com risco de morte para humanos ou
animais, e que são transmitidos facilmente, principalmente por via aérea.

2.4 Perigos ergonômicos

A medicina do trabalho foi criada no século XVII com os trabalhos do médico italiano Bernardino
Ramazzini, que descreveu as primeiras doenças de origem profissional em uma série de monografias que
tratavam de problemas oculares, auditivos e de postura.

No final do século XIX, Frederick W. Taylor introduziu o conceito de administração científica,


preocupando-se com a forma mais eficiente de execução do trabalho, demonstrando a importância da
antropometria no projeto do ambiente de trabalho.

Em 1914, o francês Jules Amar publica o livro O motor humano, a primeira obra a fornecer as bases
fisiológicas do trabalho muscular e sua relação com as atividades profissionais. Esse livro é considerado
a primeira obra sobre ergonomia.

A definição da Associação Internacional de Ergonomia (IEA) para ergonomia é, conforme tradução


retirada do site da Abergo (Associação Brasileira de Ergonomia):

[...] uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações


entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de
teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar
humano e o desempenho global do sistema (ABERGO, s.d.).

Atividade profissional é uma série de relações, estímulos e respostas que o trabalhador estabelece
com o objeto de seu trabalho. Essas relações ocorrem tanto no âmbito mental quanto no físico; quando
essas solicitações ultrapassam a capacidade do trabalhador, aumenta-se o risco de acidente ou de
danos na saúde.

Portanto, a análise ergonômica não pode ser restrita apenas a um aspecto. Ela tem que ser
multidisciplinar e deve incluir as características pessoais de cada trabalhador.
28
BIOSSEGURANÇA

A atividade sensorial e mental não é tão óbvia quanto a atividade física, mas existe em toda ação
humana, por mais simples que pareça. Na atividade mental, a psicofisiologia e a psicologia do trabalho
forneceram parâmetros para a análise do trabalho a serem avaliados:

• Detecção da informação: a informação deve ser fornecida acima do limiar de percepção do


trabalhador e deve permanecer por tempo suficiente para que se torne um estímulo.

• Interpretação da informação: a informação deve ser clara, não pode dar margem a ambiguidades
e deve satisfazer a expectativa do trabalhador.

• Frequência de decisões: em um trabalho monótono, o nível de atenção do trabalhador cai


drasticamente, resultando em omissões; por outro lado, em um trabalho que exige muitas
decisões, a capacidade de o trabalhador reconhecer informações e resolver problemas decai ao
longo do tempo.

• Tempo de resposta: um ser humano não consegue memorizar muitas informações simultâneas,
correndo o risco de esquecimentos ou de alterações na resposta.

Já para a análise da atividade física, precisam ser considerados:

• O limiar de força do trabalhador: os músculos executam trabalhos dinâmicos (estendendo ou


flexionando) ou estáticos (imobilizando segmentos ósseos). Para cada tipo de esforço, o músculo
tem uma capacidade máxima. Utilizam-se, durante o trabalho, apenas 15 a 20% da força máxima.
Quando esse limiar é ultrapassado, surge a fadiga, caracterizada por dores, tremores ou dificuldades
na precisão dos movimentos.

• O ritmo de trabalho: pausas curtas e frequentes são mais eficientes que pausas longas e mais
raras na recuperação física.

• A postura de trabalho: significa imobilização de partes do corpo para a execução da atividade


física. Algumas posturas resultam em um esforço físico maior, porém são necessárias para viabilizar
o trabalho devido à exigência de força física, precisão de movimentos, ritmo de execução ou
disponibilidade de espaço.

• As condições de conforto ambiental: o trabalhador só pode conservar sua integridade física se


seu organismo suportar as condições impostas pelo ambiente. Temperatura, umidade e velocidade
do ar afetam diretamente a sudorese e a regulagem de temperatura do corpo. O nível de ruídos
pode provocar danos ao sistema auditivo (risco físico), mas também interfere na execução de
tarefas mentais mais complexas. A luminosidade também interfere na quantidade de informações
obtidas pelo olho. Sob vibrações, o equilíbrio é perturbado e a acuidade visual diminui.

A NR-17, do Ministério do Trabalho, trata da ergonomia no ambiente de trabalho, mas se concentra


apenas em seu aspecto físico. O objetivo dessa norma é “estabelecer parâmetros que permitam a

29
Unidade I

adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a


proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (BRASIL, 2021).

Essa norma apresenta parâmetros de controle para:

• levantamento, transporte e descarga de materiais pesados: o trabalhador deve receber


treinamento adequado, a carga especificada para mulheres e menores deve ser menor que a carga
especificada para homens, e a carga deve ser compatível com a força do trabalhador;

• mobiliário: o local de trabalho deve ser planejado para garantir as distâncias recomendadas de
mãos, pés, pernas, olhos e ser compatível com a movimentação necessária ao trabalho;

• equipamentos: os equipamentos que formam um posto de trabalho devem ser adequados às


condições psicofisiológicas do trabalhador e à natureza do trabalho;

• organização do trabalho: nos locais onde haja trabalhos que exijam concentração e atividade
intelectual, como salas de controle, laboratórios e escritórios, recomenda-se o controle do ruído e
das condições de conforto térmico.

Desde a sua publicação, a norma passou por uma ampla revisão em 1990, e, posteriormente,
por quatro alterações pontuais.

A primeira revisão foi publicada pela Portaria MTPS n. 3.751, de 23 de novembro de 1990, que
conferiu nova redação à norma.

A última alteração da norma foi realizada por meio da Portaria MTB n. 876, de 24 de outubro
de 2018, para ajuste do subitem 17.5.3.3, referente à disposição sobre iluminância, em função do
cancelamento da norma técnica ABNT NBR 5413 (BRASIL, 2021). A partir dessa publicação, a
norma passou a referenciar a Norma de Higiene Ocupacional n. 11 (NHO 11) – Avaliação dos Níveis
de Iluminamento em Ambientes de Trabalho Internos.

Conforme agenda regulatória definida, a NR-17 foi atualizada, com sua nova redação válida a
partir de 3 de janeiro de 2022.

LER/Dort

A expressão LER (Lesões por Esforços Repetitivos) surgiu oficialmente no Brasil em 1997, com a
publicação da Portaria n. 4.062/1987, que reconheceu a tenossinovite como uma doença relacionada
ao trabalho. A tenossinovite é uma inflamação dos tendões e das membranas que recobrem os tendões,
provocando dor, falta de força e inchaço no local. Essa doença foi chamada, muitas vezes, de tenossinovite
do digitador (BRASIL, 2001a).

30
BIOSSEGURANÇA

Aqui, vale fazer uma diferenciação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (apud BRASIL,
2001a), os distúrbios de saúde relacionados à atividade laboral se dividem em duas categorias: doença
profissional e doença relacionada ao trabalho.

As doenças profissionais são aquelas inerentes à atividade profissional, pois não há como o
trabalhador atuar sem estar exposto ao agente causador da doença. Um exemplo disso é o cantor de
rock: não é possível cantar em uma apresentação sem estar exposto a um som extremamente alto, o que
ocasiona perdas auditivas. Aqui, há uma relação direta entre causa e efeito.

No caso das doenças relacionadas ao trabalho, não é possível identificar um agente específico
entre os que estão relacionados à atividade profissional. É o caso do professor, que usa a voz como
instrumento de trabalho. A utilização da voz está condicionada ao comportamento da classe, à matéria
dada, à hidratação da garganta, à umidade relativa do ar, ao seu período de descanso, enfim, a uma
gama enorme de fatores.

A expressão LER passou a ser usada indiscriminadamente, abrangendo os distúrbios ou doenças do


sistema músculo-esquelético-ligamentar, relacionadas ou não ao trabalho. Nesse panorama, a expressão
se tornou imprecisa, e os diagnósticos muitas vezes deixaram de ser tendinite ou bursite e passaram a
ser LER (BARBOSA, 2009).

Em 1998, por meio da Ordem de Serviço INSS/DSS n. 606, foi adotada a terminologia Doença
Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (Dort), equiparando-a à LER, para respeitar a literatura já
existente na época. A partir daí, as expressões LER e Dort aparecem juntas, na forma LER/Dort.

Apesar dessa equiparação, para efeito de continuidade histórica da literatura publicada, a Ordem de
serviço DSS n. 606/1998 justifica a mudança de terminologia afirmando que

[...] o termo LER é genérico, e o médico deve sempre procurar determinar


o diagnóstico específico. Como se refere a diversas patologias distintas,
torna‑se difícil estabelecer o tempo necessário para uma lesão persistente
passar a ser considerada como crônica. Além disso, até a mesma patologia pode
se instalar e evoluir de forma diferente, dependendo dos fatores etiológicos.

Com todas essas limitações, o que se pode dizer é que as Lesões causadas
por Esforços Repetitivos são patologias, manifestações ou síndromes
patológicas que se instalam insidiosamente em determinados segmentos
do corpo, em consequência de trabalho realizado de forma inadequada.
Assim, o nexo é parte indissociável do diagnóstico que se fundamenta numa
boa anamnese ocupacional e em relatórios de profissionais que conhecem
a situação de trabalho, permitindo a correlação do quadro clínico com a
atividade ocupacional efetivamente desempenhada pelo trabalhador, donde
a proposta da nova terminologia Distúrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho – Dort (BRASIL, 1998).

31
Unidade I

As doenças enquadradas nesse grupo compreendem uma heterogeneidade de distúrbios funcionais


e/ou orgânicos, que manifestam em seu portador sintomas comuns, muitas vezes, inespecíficos, como:

• fadiga muscular;

• dor;

• parestesia;

• sensação de peso;

• mal-estar;

• processos inflamatórios em tendões, ligamentos e bursas sinoviais;

• contraturas musculares etc.

O desenvolvimento da LER/Dort está relacionado a diversas causas. Então, é muito importante


analisar cada caso e determinar quais os fatores de risco envolvidos de forma direta ou indireta
na ocorrência.

Esses fatores de riscos são determinados por meio de anamnese feita pelo médico do trabalho,
procurando identificar as interações entre os possíveis fatores de riscos e se essa interação é capaz de
ultrapassar a capacidade de regeneração do tecido muscular, mesmo se o funcionamento deste esteja
parcialmente mantido.

Nesta caracterização, é importante observar alguns elementos, como:

• a região anatômica e a biomecânica associada a ela;

• a intensidade do esforço;

• a organização temporal do trabalho (a duração do ciclo de trabalho e a distribuição das pausas);

• a adequação do posto de trabalho;

• o conforto ambiental;

• a carga estática;

• a invariabilidade da tarefa;

32
BIOSSEGURANÇA

• as exigências de atenção, provocando aumento de tensão muscular ou reação mais generalizada


de estresse;

• os fatores psicossociais ligados ao trabalho, como percepções relativas à carreira, à carga e ao


ritmo de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho.

As LER/Dort são doenças de notificação obrigatória. Quando o médico do trabalho suspeitar de


uma LER/Dort, deve emitir uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para o INSS, mesmo que a
doença não provoque a incapacitação do trabalhador ou gere o seu afastamento.

A CAT é um documento utilizado pelo INSS para a obtenção de dados relativos aos acidentes
do trabalho e às doenças ocupacionais. O objetivo dessa captação é fornecer informações para o
enquadramento das empresas segundo os graus de risco no ambiente do trabalho para o cálculo da
contribuição da empresa ao INSS, destinada ao financiamento dos benefícios concedidos em razão
do grau de incidência dos acidentes e subsidiar políticas de prevenção e fiscalização das empresas.

Observação

A sigla Dort foi introduzida para substituir a sigla LER por dois motivos:
primeiro porque a maioria dos trabalhadores com sintomas no sistema
musculoesquelético não apresenta evidências de lesão em qualquer
estrutura; a segunda razão é que além do esforço repetitivo, outros tipos
de sobrecargas podem ser nocivas para o trabalhador.

3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO

3.1 Equipamentos de proteção individual (EPI)

A CLT surgiu como necessidade institucional após a criação da Justiça do Trabalho em 1939. Ela é
chamada de Consolidação das Leis Trabalhistas, em vez de Código das Leis Trabalhistas, porque seu objetivo
foi apenas reunir a esparsa legislação trabalhista já existente na época, consolidando-a. A assinatura do
documento foi em 1º de maio de 1943.

Os equipamentos de proteção individual (EPIs) e de proteção coletiva (EPCs) para laboratórios são
de uso obrigatório. O uso de EPIs no Brasil é regulamentado pela NR-6 da Portaria n. 3.214/1978,
do Ministério do Trabalho e Emprego. No universo das NRs, quem regulamenta os equipamentos de
proteção individual é a NR-6.

A empresa é obrigada a fornecer gratuitamente aos empregados EPIs adequados ao risco e em


perfeito estado de conservação e funcionamento. Cabe ao empregador orientar e treinar o trabalhador
sobre o uso adequado, a guarda e conservação e, principalmente, exigir seu uso.

33
Unidade I

Um EPI é um dispositivo de uso individual do trabalhador. Seu objetivo é proteger a saúde e manter
a segurança dos colaboradores de todas as áreas do laboratório. Constitui medida contra substâncias
irritantes e tóxicas, agentes infecciosos, materiais perfurocortantes e materiais submetidos a aquecimento
ou congelamento. O uso de EPIs é um direito do profissional de saúde e seu uso de maneira correta deve
ser orientado.

Esses equipamentos podem ser descartáveis ou não e devem estar à disposição dos profissionais
em número suficiente, de forma que seja garantido o imediato fornecimento ou reposição. Os itens
obrigatórios para os colaboradores de laboratórios de análises clínicas são jalecos, luvas, máscaras ou
respiradores, óculos de segurança ou protetores faciais. Se houver ruídos além dos níveis permitidos,
deve haver também protetores de ouvido para trabalhos muito demorados.

Uma situação que ocorre constantemente em estabelecimentos de saúde, e que expõe outras pessoas
a riscos desnecessários, é o uso dos equipamentos de proteção individual fora do ambiente para o qual o
seu uso está previsto. Essa situação vai contra a NR-6, que indica a importância de usá-los apenas para
a finalidade a que se destinam e responsabilizar-se por sua guarda e conservação. Os EPIs não devem
ser utilizados fora da área técnica.

Os EPIs devem apresentar o Certificado de Aprovação (CA) comprovando que esse equipamento
foi devidamente testado e está apto para comércio e uso. Antes de ser destinado à comercialização,
todo o equipamento de proteção deve passar por testes de conforto, resistência, durabilidade etc. É um
processo que deve ser realizado pelas empresas fabricantes e/ou importadoras de EPIs.

Após ser aprovado nesses testes por laboratórios credenciados, o EPI recebe o Certificado de
Aprovação (CA), o que garante que o equipamento fornecido aos trabalhadores é de qualidade e será
efetivo na hora de protegê-los.

Vale ressaltar que só podem ser comercializados no Brasil aqueles que possuam um CA; o fabricante
só obtém esse certificado se tiver um laudo fornecido por um laboratório credenciado pelo Inmetro para
sua avaliação.

Equipamentos de proteção à cabeça

A touca de proteção serve tanto para proteger o usuário quanto o produto manuseado. Protege o
usuário por evitar o contato do cabelo com máquinas que possam colocar em perigo o trabalhador ao ter
contato e, eventualmente, sugar, puxar ou enroscar-se nos cabelos. Já no caso de proteção de produto,
a touca capilar evita que cabelos caiam no produto manuseado, o que gera o risco de contaminação.

34
BIOSSEGURANÇA

Figura 3 – Touca descartável

Disponível em: https://bit.ly/3IHanTl. Acesso em: 17 jan. 2022.

Os protetores faciais protegem o rosto do trabalhador contra impactos, respingos, substâncias


nocivas, fagulhas e outros materiais biológicos. Também podem proteger contra radiações, dependendo
do material, espessura e cor do visor.

A) B)

Figura 4 – Protetor facial

Disponível em: A) http://tiny.cc/eemnuz; B) http://tiny.cc/gemnuz. Acesso em: 17 jan. 2022.

Os óculos de segurança servem para proteger o trabalhador em atividades que possam causar
ferimentos nos olhos provenientes de impacto de partículas, respingos; em trabalhos que possam
causar irritação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de líquidos agressivos e da ação de
radiações perigosas.

A figura a seguir mostra um modelo de óculos de segurança. Vale ressaltar que a diversidade de
formas dos óculos corresponde à diversidade de aplicações de segurança. A aplicação dos óculos
de segurança é específica, e a utilização de um modelo em uma aplicação para o qual ele não tenha sido
projetado não garante a segurança.

35
Unidade I

Figura 5 – Óculos de segurança

Disponível em: http://tiny.cc/iemnuz.


Acesso em: 17 jan. 2022.

As máscaras são proteções para as vias respiratórias. Da mesma forma que os óculos de proteção,
as máscaras são específicas para o tipo de contaminante. Elas também apresentam diversas formas
construtivas, e sua especificação depende de diversos fatores.

Quando o profissional atuar em procedimentos com risco de geração de aerossol nos pacientes com
infecção suspeita ou confirmada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2019), deve utilizar a máscara de
proteção respiratória (respirador particulado) com eficácia mínima na filtração de 95% de partículas
de até 0,3 (tipo N95, N99, N100, PFF2 ou PFF3) (BRASIL, 2020d).

A máscara deverá estar bem ajustada à face e nunca deve ser compartilhada entre profissionais.
Acentua-se que forma de uso, manipulação e armazenamento deve seguir as recomendações
do fabricante.

A) B)

Figura 6 – Máscara cirúrgica (A) e KN-95 (B)

Disponível em: A) https://bit.ly/3fKfkOI; B) http://tiny.cc/kemnuz.


Acesso em: 17 jan. 2022.

36
BIOSSEGURANÇA

Alguns tipos de máscaras trabalham filtrando o ar exterior, conforme os modelos mostrados nas
figuras a seguir.

Figura 7 – Máscara filtrante

Disponível em: https://bit.ly/3rFv23f. Acesso em: 17 jan. 2022.

Equipamentos de proteção para o tronco

Aventais, capas e outras vestimentas especiais de proteção para trabalhos em que haja perigo de
lesões provocadas por riscos de origem radioativa, biológica ou química.

Figura 8 – Avental para proteção contra radiação

Disponível em: Avental RX Panorâmico para Paciente Adulto - CSR (dentalcremer.com.br).


Acesso em: ?

37
Unidade I

Figura 9 – Jaleco descartável para uso em laboratórios e serviços de saúde

3.2 Equipamentos de proteção coletiva (EPCs)

É importante ressaltar que a responsabilidade coletiva é um conceito que todos os colaboradores


de um laboratório precisam respeitar, independentemente dos tipos de produtos manipulados no local.
Todos os participantes do grupo são igualmente responsáveis pelo uso dos equipamentos de proteção
coletiva, quando necessário.

Os profissionais não podem renunciar aos equipamentos de proteção individual. Como o próprio
nome diz, os EPCs dizem respeito ao coletivo, devendo proteger todos os trabalhadores expostos a
determinado risco.

Os EPCs essenciais aos laboratórios são capela, coletores de resíduos, chuveiro de emergência,
extintores de incêndio, lava-olhos e saída de emergência.

Vale ressaltar que todos são igualmente importantes, até porque todos os modelos citados podem
impedir complicações à saúde do indivíduo e salvar vidas.

Os extintores de incêndio vão ajudar a exterminar o fogo ou mesmo fazer com que as labaredas não
se espalhem.

38
BIOSSEGURANÇA

Figura 10 – Extintores de incêndio

Disponível em: http://tiny.cc/lemnuz. Acesso em: 17 jan. 2022.

Figura 11 – Chuveiro de emergência e lava-olhos

Disponível em: https://bit.ly/3fQT2e2. Acesso em: 17 jan. 2022.

As saídas de emergência vão funcionar como rota alternativa, uma vez que a porta principal pode
estar emperrada, e todos poderão sair do ambiente que apresenta perigo com segurança.

Os coletores de resíduos ajudarão os trabalhadores a separar o que deverá ser descartado, respeitando
normas internas e as regras que minimizam os impactos ao meio ambiente.

Os chuveiros de emergência vão proteger os indivíduos do contato da pele com produtos químicos,
por isso, quando acontecer o incidente, a pessoa deverá chegar a ele nos primeiros 10 segundos, já que,
assim, não haverá tempo hábil para machucar a pele. Já os lava-olhos, como o próprio nome diz, servem
para proteger a visão.
39
Unidade I

A capela de exaustão é um equipamento de proteção coletiva essencial em todos os laboratórios que


tenham algum tipo de trabalho com manipulações de produtos químicos, tóxicos, vapores agressivos,
partículas ou líquidos em quantidades e concentrações perigosas, prejudiciais para a saúde. Sua presença
é importante no laboratório e seu uso é obrigatório para todas as manipulações que possam ocasionar
uma reação perigosa.

A função primária de uma capela de exaustão é exaurir vapores, gases e fumos, mas serve também
como uma barreira física entre as reações químicas e o ambiente de laboratório, oferecendo proteção
aos usuários e ao ambiente contra a exposição de gases nocivos, tóxicos, derramamento de produtos
químicos e fogo. É considerado um equipamento de segurança que por si só não garante proteção se o
operador não estiver familiarizado com as técnicas corretas de uso.

Figura 12 – Capela para exaustão de gases

Disponível em: https://bit.ly/3InrB7W. Acesso em: 17 jan. 2022.

Dentro dos laboratórios químicos, podem ser encontrados diversos tipos de contaminantes
potencialmente prejudiciais à saúde dos profissionais. Outros equipamentos muito importantes são as
capelas de fluxo laminar e de segurança biológica. Ambas são utilizadas para reduzir ou eliminar os riscos
dentro dos laboratórios de modo a proteger os usuários e as amostras durante os procedimentos.
A escolha entre os dois tipos deve ser feita de acordo com a necessidade a ser suprida, pois cada um
possui uma especificação diferente.

A capela de fluxo laminar é utilizada dentro dos laboratórios para promover a recirculação de 100%
do ar, criando áreas de trabalho estéreis para o manuseio de materiais biológicos que não podem
sofrer contaminação do meio externo, garantindo a proteção das amostras manipuladas. Existem duas
categorias, conforme apresentado:

• Fluxo laminar horizontal: realiza 100% da renovação do ar e oferece proteção apenas para
os materiais a serem manipulados. É constituído por um filtro Hepa (High Efficiency Particulate
40
BIOSSEGURANÇA

Arrestance – Alta Eficiência na Retenção de Partículas), localizado na parede ao fundo da capela,


direcionando o ar filtrado de forma horizontal.

• Fluxo laminar vertical: 100% da recirculação do ar, oferecendo proteção tanto para o operador
quanto para o ambiente contra possíveis agentes contaminantes de risco. O filtro Hepa é localizado
na parte superior do equipamento, tendo a função de direcionar o ar filtrado para baixo, e de
forma vertical.

Figura 13 – Capela de fluxo laminar

Disponível em: https://bit.ly/3fN9A6M. Acesso em: 17 jan. 2022.

A cabine de segurança biológica ou capela de segurança biológica é utilizada para promover


proteção tanto dos usuários quanto das amostras manipuladas e do meio externo, com renovação de
100% do ar. Esse processo acontece porque a cabine opera com pressão negativa, evitando a saída do ar
contaminado para o ambiente. Vale destacar que esse efeito é possível apenas com substâncias de baixo
e moderado risco biológico, não comportando o manuseio de produtos tóxicos ou voláteis. A figura
seguinte apresenta uma capela de segurança biológica.

Figura 14 – Capela de segurança biológica

Disponível em: http://tiny.cc/nemnuz. Acesso em: 17 jan. 2022.

41
Unidade I

Essas cabines são encontradas em três tipos, conforme apresentado:

• Classe II A1: promove a recirculação de 70% do ar e renovação de 30%, despejando-os já filtrados


para dentro do laboratório.

• Classe II A2: apresenta dois filtros Hepa e promove a recirculação de 70% do ar e a renovação de
30%, utilizando para cada técnica um filtro diferente. O ar filtrado é despejado e conduzido para
a área externa do ambiente por meio de um sistema de duto instalado do equipamento.

• Classe II B2: promove 100% da renovação do ar, com dois filtros Hepa, que são utilizados um
para o insuflamento e outro para exaustão, em que o ar é conduzido para fora do laboratório
através de um sistema de dutos. Esse modelo renova mais 30% do ar, formando uma cortina
protetora na parte frontal do equipamento.

4 LEGISLAÇÃO EM BIOSSEGURANÇA

A biossegurança é uma disciplina nova, surgida no século XX, voltada para o controle e a minimização
de riscos advindos da prática de diferentes ramos do conhecimento humano relacionados à saúde e ao
meio ambiente, seja em laboratório, produção de alimentos ou quando aplicadas a trabalhos de campo.
A biossegurança é regulada em vários países no mundo por um conjunto de leis, procedimentos ou
diretivas específicas.

No Brasil, a primeira legislação de biossegurança foi criada em 1995, focando apenas questões
relacionadas com a engenharia genética, que é a tecnologia do DNA ou RNA recombinante, estabelecendo
os requisitos para o manejo de organismos geneticamente modificados, para permitir o desenvolvimento
sustentado da biotecnologia.

O fundamento básico da biossegurança é assegurar o avanço dos processos tecnológicos e proteger


a saúde humana e animal e o meio ambiente. Sendo assim, as tecnologias baseadas em DNA ou
RNA recombinantes são tratadas, pela biossegurança, sob três aspectos: o primeiro diz respeito aos
procedimentos empregados para garantir a segurança imediata dos manipuladores; o segundo aspecto,
ao futuro, já que é muito difícil prever os efeitos de manipulações genéticas em populações e no meio
ambiente em longo prazo; o terceiro aspecto é o questionamento sobre quais manipulações genéticas
são adequadas em relação à ética. Nesse último aspecto, esbarramos em outra área do conhecimento,
chamada bioética.

Com relação ao aspecto relacionado ao trabalhador em sua atividade cotidiana, as normas tradicionais
de segurança laboratorial enfatizam o uso de boas práticas de trabalho, equipamentos de contenção
adequados, dependências bem projetadas e controles administrativos que minimizem os riscos de uma
infecção acidental ou ferimentos em trabalhadores de laboratório e, ainda, que evitem a contaminação
do meio ambiente.

Porém, medidas de biossegurança específicas precisam ser discutidas e adotadas por laboratórios de
pesquisa, aliadas a um amplo plano de educação baseado nas normas nacionais e internacionais quanto
42
BIOSSEGURANÇA

ao transporte, à conservação e à manipulação de microrganismos geneticamente modificados e seus


produtos derivados.

Embora os laboratórios clínicos e de pesquisas possam conter uma variedade de materiais biológicos,
químicos e radioativos perigosos, até o momento, existem poucos relatórios sobre o uso intencional de
quaisquer desses materiais de forma a causar prejuízos a outros.

Entretanto, há crescente preocupação sobre o possível uso de materiais biológicos, químicos e


radioativos como agentes para o terrorismo. Em resposta a essas preocupações, há normas que orientam
essas questões de segurança laboratorial, como a prevenção da entrada de pessoas não autorizadas em
áreas laboratoriais e da remoção não autorizada de agentes biológicos perigosos, entre outras.

O conceito de biossegurança surgiu na década de 1970, na reunião de Asilomar, na Califórnia, quando


a comunidade científica iniciou a discussão sobre os impactos da engenharia genética na sociedade
(COSTA; COSTA, 2002).

A partir daí, o termo “biossegurança” foi sofrendo alterações. Na década de 1970, a Organização
Mundial da Saúde a definia como “práticas preventivas para o trabalho com agentes patogênicos para
o homem” (WHO apud COSTA; COSTA, 2002). O foco voltava-se para a saúde do trabalhador frente aos
riscos biológicos no ambiente ocupacional. Já na década de 1980, a própria Organização Mundial da
Saúde incorporou a essa definição os chamados riscos periféricos presentes em ambientes laboratoriais
que trabalhavam com agentes patogênicos para o homem, como os riscos químicos, físicos, radioativos
e ergonômicos.

Nos anos 1990, a definição de biossegurança sofreu mudanças significativas. Em um seminário


realizado no Instituto Pasteur, em Paris, foi observada a inclusão de temas como ética em pesquisa,
meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante, em programas de
biossegurança (COSTA; COSTA, 2002).

4.1 Histórico

No Brasil, por iniciativa do então senador Marco Antônio Maciel, um projeto de lei de biossegurança
foi submetido à aprovação do Congresso Nacional em 1989.

O conhecimento e o interesse por essa área, no entanto, só foram fortalecidos com a Convenção
sobre a Diversidade Biológica, aprovada em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92 ou Rio 92.

Um maior interesse por normas definidas para o manuseio e uso de organismos geneticamente
modificados (OGMs), mais conhecidos como organismos transgênicos, partiu de instituições de pesquisa
que desenvolviam atividades de engenharia genética.

Em maio de 1994, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), com apoio da


Unido/ICGEB, organizou o primeiro workshop internacional sobre organismos transgênicos no Brasil.
43
Unidade I

Participantes de instituições de pesquisa e empresas privadas do Brasil e de outros países da América


Latina receberam instruções sobre aspectos de biossegurança de organismos transgênicos e debateram
o desenvolvimento de regulamentação desse setor na região.

A Embrapa, a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e a Associação Brasileira de Empresas de Biotecnologia


(Abrabi) criaram um grupo de trabalho para acompanhar as discussões do projeto de lei de biossegurança
no Congresso Nacional, com o apoio do seu relator na Câmara dos Deputados, o deputado Sérgio Arouca.
O resultado desse trabalho, que também contou com o apoio de empresas privadas, culminou com a
aprovação da Lei de Biossegurança em dezembro de 1994, a qual veio a ser a primeira lei sancionada
pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, a Lei n. 8.794, de 6 de janeiro de
1995. O decreto regulamentador da lei, Decreto n. 1.974, elaborado por uma comissão interministerial
presidida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, foi publicado em dezembro de 1995.

A Lei de Biossegurança de 1995 regulava todos os aspectos da manipulação e uso de OGM


no Brasil, incluindo pesquisa em contenção, experimentação em campo, transporte, importação,
produção, armazenamento e comercialização. Seu escopo limitou-se ao uso da engenharia genética,
ou uso da técnica do DNA/RNA recombinante, para a troca de material genético entre organismos
vivos. Outras técnicas biotecnológicas, como fusão celular e cultura de tecidos, não foram incluídas.

Porém, por não abordar assuntos polêmicos, como o uso terapêutico de células-tronco embrionárias
e a autorização para o uso comercial de alimentos transgênicos, a Lei n. 8.794/1995 foi revogada e
substituída pela Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005.

4.2 Lei n. 11.105/2005

Essa lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo,
a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a
pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGMs e seus
derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia,
a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal e a observância do princípio da precaução para a
proteção do meio ambiente.

Ela regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal. Esse artigo diz
que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).

Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

• preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades


dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

• controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que


comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
44
BIOSSEGURANÇA

4.3 Engenharia genética

No artigo das definições, a Lei n. 11.105/2005 (BRASIL, 2005a) explica diversos termos técnicos como:

• Organismo: toda entidade biológica capaz de reproduzir ou transferir material genético, inclusive
vírus e outras classes que venham a ser conhecidas.

• DNA e RNA: material genético que contém informações determinantes dos caracteres hereditários
transmissíveis à descendência.

• DNA/RNA recombinante: as moléculas manipuladas fora das células vivas mediante a modificação
de segmentos de DNA/RNA natural ou sintético e que possam multiplicar-se em uma célula viva,
ou, ainda, as moléculas de DNA/RNA resultantes dessa multiplicação; consideram-se também os
segmentos de DNA/RNA sintéticos equivalentes aos de DNA/RNA natural.

• Engenharia genética: trata-se de atividade de produção e manipulação de moléculas de


DNA/RNA recombinante.

• Organismo geneticamente modificado (OGM): organismo cujo material genético (DNA/RNA)


tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética.

Essa lei não se aplica quando a modificação genética for obtida por meio de diversas técnicas de
manipulação celular, desde que não impliquem a utilização de OGMs como receptor ou doador.

É preciso destacar que, para ser um OGM, o organismo deve ser resultado de técnicas utilizando
DNA/RNA recombinante.

Ainda, de acordo com essa lei, é permitido:

[...] para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias


obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não
utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:

I – sejam embriões inviáveis; ou

II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação


desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de
completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.

§ 1. Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2. Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa


ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter

45
Unidade I

seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de


ética em pesquisa.

§ 3. É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este


artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei n. 9.434, de
4 de fevereiro de 1997.

Art. 6. Fica proibido:

I – implementação de projeto relativo a OGM sem a manutenção de registro


de seu acompanhamento individual;

II – engenharia genética em organismo vivo ou o manejo in vitro de ADN/ARN


natural ou recombinante, realizado em desacordo com as normas previstas
nesta Lei;

III – engenharia genética em célula humana;

IV – clonagem humana;

V – destruição ou descarte no meio ambiente de OGM e seus derivados


em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio, pelos órgãos e
entidades de registro e fiscalização (BRASIL, 2005a).

4.4 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)

O Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) é um órgão de assessoramento do Presidente da


República para a formulação e implementação da Política Nacional de Biossegurança (PNB).
São de competência do CNBS:

• Fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e entidades federais.

• Analisar, a pedido da CTNBio quanto aos aspectos da conveniência e oportunidade socioeconômicas


e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial de OGM e seus derivados.

O CNBS é composto pelos seguintes membros:

• Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República, que o presidirá.

• Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia.

• Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário.

• Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


46
BIOSSEGURANÇA

• Ministro de Estado da Justiça.

• Ministro de Estado da Saúde.

• Ministro de Estado do Meio Ambiente.

• Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

• Ministro de Estado das Relações Exteriores.

• Ministro de Estado da Defesa.

• Secretário Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República.

4.5 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança é uma comissão multidisciplinar, de caráter consultivo


e deliberativo, que presta apoio técnico e de assessoramento ao governo federal na formulação,
atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados, bem como no estabelecimento de
normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que
envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco
zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente.

A CTNBio é o órgão que acompanha o desenvolvimento e o progresso técnico e científico nas áreas
de biossegurança, biotecnologia, bioética e afins com o objetivo de aumentar sua capacitação para a
proteção da saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.

Art. 11. A CTNBio, composta de membros titulares e suplentes, designados


pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, será constituída por 27 (vinte
e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de notória
atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada
atividade profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia,
saúde humana e animal ou meio ambiente, sendo:

I – 12 (doze) especialistas de notório saber científico e técnico, em efetivo


exercício profissional, sendo:

a) 3 (três) da área de saúde humana;

b) 3 (três) da área animal;

c) 3 (três) da área vegetal;

d) 3 (três) da área de meio ambiente;


47
Unidade I

II – um representante de cada um dos seguintes órgãos, indicados pelos


respectivos titulares:

a) Ministério da Ciência e Tecnologia;

b) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

c) Ministério da Saúde;

d) Ministério do Meio Ambiente;

e) Ministério do Desenvolvimento Agrário;

f) Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

g) Ministério da Defesa;

h) Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República;

i) Ministério das Relações Exteriores;

III – um especialista em defesa do consumidor, indicado pelo Ministro


da Justiça;

IV – um especialista na área de saúde, indicado pelo Ministro da Saúde;

V – um especialista em meio ambiente, indicado pelo Ministro do Meio


Ambiente;

VI – um especialista em biotecnologia, indicado pelo Ministro da Agricultura,


Pecuária e Abastecimento;

VII – um especialista em agricultura familiar, indicado pelo Ministro do


Desenvolvimento Agrário;

VIII – um especialista em saúde do trabalhador, indicado pelo Ministro do


Trabalho e Emprego.

§ 1º Os especialistas de que trata o inciso I do caput deste artigo serão


escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada com a participação das
sociedades científicas, conforme disposto em regulamento.

48
BIOSSEGURANÇA

§ 2º Os especialistas de que tratam os incisos III a VIII do caput deste artigo


serão escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada pelas organizações da
sociedade civil, conforme disposto em regulamento.

§ 3º Cada membro efetivo terá um suplente, que participará dos trabalhos


na ausência do titular.

§ 4º Os membros da CTNBio terão mandato de 2 (dois) anos, renovável por


até mais 2 (dois) períodos consecutivos (BRASIL, 2005a).

Compete à CTNBio:

I – estabelecer normas para as pesquisas com OGM e derivados de OGM;

II – estabelecer normas relativamente às atividades e aos projetos


relacionados a OGM e seus derivados;

III – estabelecer, no âmbito de suas competências, critérios de avaliação e


monitoramento de risco de OGM e seus derivados;

IV – proceder à análise da avaliação de risco, caso a caso, relativamente a


atividades e projetos que envolvam OGM e seus derivados;

V – estabelecer os mecanismos de funcionamento das Comissões Internas


de Biossegurança – CIBio, no âmbito de cada instituição que se dedique ao
ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produção
industrial que envolvam OGM ou seus derivados;

VI – estabelecer requisitos relativos à biossegurança para autorização de


funcionamento de laboratório, instituição ou empresa que desenvolverá
atividades relacionadas a OGM e seus derivados;

VII – relacionar-se com instituições voltadas para a biossegurança de OGM


e seus derivados, em âmbito nacional e internacional;

VIII – autorizar, cadastrar e acompanhar as atividades de pesquisa com OGM


ou derivado de OGM, nos termos da legislação em vigor;

IX – autorizar a importação de OGM e seus derivados para atividade de pesquisa;

X – prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao CNBS na


formulação da PNB de OGM e seus derivados;

49
Unidade I

XI – emitir Certificado de Qualidade em Biossegurança – CQB para o


desenvolvimento de atividades com OGM e seus derivados em laboratório,
instituição ou empresa e enviar cópia do processo aos órgãos de registro e
fiscalização referidos no art. 16 desta Lei;

XII – emitir decisão técnica, caso a caso, sobre a biossegurança de OGM e


seus derivados no âmbito das atividades de pesquisa e de uso comercial
de OGM e seus derivados, inclusive a classificação quanto ao grau de risco e
nível de biossegurança exigido, bem como medidas de segurança exigidas
e restrições ao uso;

XIII – definir o nível de biossegurança a ser aplicado ao OGM e seus usos, e


os respectivos procedimentos e medidas de segurança quanto ao seu uso,
conforme as normas estabelecidas na regulamentação desta Lei, bem como
quanto aos seus derivados;

XIV – classificar os OGM segundo a classe de risco, observados os critérios


estabelecidos no regulamento desta Lei;

XV – acompanhar o desenvolvimento e o progresso técnico-científico na


biossegurança de OGM e seus derivados;

XVI – emitir resoluções, de natureza normativa, sobre as matérias de


sua competência;

XVII – apoiar tecnicamente os órgãos competentes no processo de prevenção


e investigação de acidentes e de enfermidades, verificados no curso dos
projetos e das atividades com técnicas de ADN/ARN recombinante;

XVIII – apoiar tecnicamente os órgãos e entidades de registro e fiscalização,


referidos no art. 16 desta Lei, no exercício de suas atividades relacionadas a
OGM e seus derivados;

XIX – divulgar no Diário Oficial da União, previamente à análise, os extratos


dos pleitos e, posteriormente, dos pareceres dos processos que lhe forem
submetidos, bem como dar ampla publicidade no Sistema de Informações em
Biossegurança – SIB a sua agenda, processos em trâmite, relatórios anuais,
atas das reuniões e demais informações sobre suas atividades, excluídas as
informações sigilosas, de interesse comercial, apontadas pelo proponente e
assim consideradas pela CTNBio;

XX – Identificar atividades e produtos decorrentes do uso de OGM e seus


derivados potencialmente causadores de degradação do meio ambiente ou
que possam causar riscos à saúde humana;
50
BIOSSEGURANÇA

XXI – reavaliar suas decisões técnicas por solicitação de seus membros ou


por recurso dos órgãos e entidades de registro e fiscalização, fundamentado
em fatos ou conhecimentos científicos novos, que sejam relevantes quanto
à biossegurança do OGM ou derivado, na forma desta Lei e seu regulamento;

XXII – propor a realização de pesquisas e estudos científicos no campo da


biossegurança de OGM e seus derivados (BRASIL, 2005a).

4.6 Qualidade em biossegurança

As atividades de biossegurança e biosseguridade laboratoriais são fundamentais para a proteção


da força de trabalho laboratorial e da comunidade contra exposições ou liberações não intencionais de
agentes biológicos patogênicos.

Essas atividades são implementadas a partir da utilização de um esquema de avaliação de risco e do


desenvolvimento de uma cultura de segurança, fundamental para garantir um local de trabalho seguro
onde medidas adequadas sejam aplicadas para minimizar a probabilidade e gravidade de qualquer
exposição em potencial a agentes biológicos.

A Anvisa, por meio da RDC n. 11, de 16 de fevereiro de 2012, dispõe sobre o funcionamento de
laboratórios analíticos que realizam análises em produtos sujeitos à vigilância sanitária e dá outras
providências. A RDC n. 512, de 27 de maio de 2021, dispõe sobre as boas práticas para laboratórios de
controle de qualidade. De acordo com essas resoluções, a validação é feita por comprovação através
de fornecimento de evidência objetiva de que os requisitos para uma aplicação ou uso específicos
pretendidos foram atendidos.

4.7 Boas Práticas de Laboratório (BPL) e Procedimento Operacional Padrão (POPs)

Os laboratórios estão mais propensos a situações que envolvam riscos ocupacionais e são
considerados locais com alto potencial de acidentes, tendo em vista a natureza dos reagentes e
materiais utilizados, os equipamentos que podem expor os indivíduos a temperaturas extremas
e radiações, o contato com agentes patogênicos, entre outros fatores que são capazes de causar
danos à saúde dos trabalhadores e romper o equilíbrio físico, mental e social dos indivíduos
(BENATTI; NISHIDE, 2000; BRANDALIZE, 2013).

Para que esse sistema funcione de forma adequada e segura, torna-se necessário: disciplina;
respeito às normas e legislações pertinentes; trabalhar no contexto da qualidade e da biossegurança;
consciência ética. O ambiente laboratorial deve ser entendido como um sistema complexo, onde
existem interações constantes entre os fatores humanos, ambientais, tecnológicos, educacionais e
normativos. Essas interações, muitas vezes, favorecem a ocorrência de acidentes (BORBA et al., 2009).

As atividades realizadas em laboratório requerem do profissional uma série de cuidados,


justificados pelo risco à saúde, em função do manuseio de material biológico contaminado, bem como
da utilização de vidrarias, equipamentos e produtos químicos. As boas práticas são fundamentais
51
Unidade I

e referem-se às normas de conduta que regem os trabalhos, de modo a garantir a segurança


individual e coletiva, bem como a reprodutibilidade da metodologia dos resultados obtidos.

As Boas Práticas de Laboratório (BPL) podem ser definidas como um conjunto de normas,
procedimentos e atitudes de segurança que têm como objetivo minimizar acidentes graves,
lesões e contaminações que possam comprometer a saúde das pessoas em ambiente laboratorial,
aumentando assim a segurança no local de trabalho. Objetivam avaliar o potencial de riscos e o
nível de toxidade dos produtos visando a promoção à saúde humana, animal e ao meio ambiente.
Renunciar aos cuidados com as BPL pode ocasionar riscos iminentes à saúde dos funcionários, bem
como à segurança e qualidade do trabalho ali desempenhado.

A Organization for Economic Co-operation and Development (OECD) define as BPL como um
sistema da qualidade relativo ao processo organizacional e às condições sob as quais estudos
não clínicos, ou seja, estudos biomédicos não realizados em humanos, referentes a saúde e meio
ambiente, são planejados, realizados, monitorados, registrados, arquivados e relatados.

O mundo vive em permanente desenvolvimento e muitas são as atividades científicas que se


apresentam repletas de incertezas. Nesse sentido, coerência e responsabilidade se fazem necessárias
para reconhecer e tratar com afinco essas questões (CARVALHO, 2012). A busca permanente da
qualidade total nas atividades científicas remete à necessidade de treinamento, aquisição e domínio
de conhecimentos para a execução das atividades, assegurando a precisão, a validade, a qualidade
dos resultados e a manutenção da integridade das pessoas, das instalações, dos instrumentos e dos
equipamentos (BORBA et al., 2009).

Os princípios das BPL são aplicáveis em estudos que dizem respeito ao uso seguro de produtos
relacionados à saúde humana, vegetal e animal e ao meio ambiente. Com o intuito de garantir a
aplicação dos princípios das BPL, um dos instrumentos utilizados são os POPs.

O POP é um documento que expressa o planejamento do trabalho com vistas a padronizar e minimizar
a ocorrência de desvios na execução das atividades e, assim, garantir aos usuários serviços ou produtos
livres de variáveis indesejáveis, independentemente de quem as realize. Tem como meta garantir que a
qualidade da atividade prestada seja a mesma em todas as etapas do processo, em qualquer momento.
Serve para padronizar a execução de tarefas fundamentais, minimizando a ocorrência de erros durante
as atividades.

O objetivo principal do POP é garantir o funcionamento correto dos processos internos. Se ele for
coerente, o usuário do serviço, qualquer que seja o momento em que se relacione com o negócio,
poderá receber qualidade de atendimento ou serviços. Considerando as atividades executadas em um
laboratório, por exemplo, o serviço prestado pela manhã será o mesmo executado em outros turnos,
praticados por profissionais diferentes. O POP possibilita maior previsibilidade de resultados, além de
minimizar variações causadas por imperícia e aleatoriedades.

Entre os pontos mais comuns que constam no POP para laboratórios, estão instruções sequenciais
de operações; frequência de execução; especificação do responsável pelo trabalho; listagem dos
52
BIOSSEGURANÇA

equipamentos, peças e materiais utilizados na tarefa; descrição dos procedimentos da tarefa por
atividades críticas e de operação; roteiro de inspeção periódica dos equipamentos de produção.

Vale ressaltar que, internamente, o POP é um excelente instrumento de auditorias internas. Por
meio dele, a gerência de qualidade pode analisar a execução do trabalho dos diversos setores. Com o
documento, ela tem em mãos subsídios técnicos para indagar e verificar a eficácia da metodologia e sua
familiarização entre os auditados.

53
Unidade I

Resumo

Estudamos conceitos e níveis de biossegurança. São quatro níveis de


biossegurança: NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4. São apresentados em ordem
crescente, considerando o maior grau de contenção e complexidade do
nível de proteção. Cada um desses níveis requer ações e técnicas aliadas às
barreiras físicas nos espaços de manipulação, pesquisa e ensino, de forma a
garantir proteção integral para as pessoas e para o ambiente.

Discutimos também sobre perigo e risco. Essa diferenciação entre


perigo e risco é muito útil para quem trabalha com alimentos. Na área de
alimentos, existe um sistema de controle de higiene e segurança alimentar
chamado APPCC, que utiliza muito esses conceitos. É uma ferramenta de
gestão da qualidade com caráter preventivo, com abordagem sistemática
que tem o intuito de identificar pontos críticos de controle dos perigos
biológicos, químicos e físicos durante as etapas de produção de alimentos,
para os quais existem medidas corretivas a serem aplicadas em caso de
desvio dos parâmetros esperados de segurança.

Apresentamos os perigos físicos, químicos e biológicos. A Portaria


n. 6.735, de 10 de março de 2020, aprovou a nova redação da NR-9 para
Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos,
Químicos e Biológicos. Estabelece os requisitos para a avaliação das
exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos quando
identificados no PGR.

A Portaria n. 25/1994, do Ministério do Trabalho (BRASIL, 1994), ao


regulamentar a elaboração do mapa de riscos, considera a existência de
cinco categorias de riscos: agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos
e de acidentes (mecânicos).

Estudamos também a importância dos equipamentos de proteção


individual (EPIs) e de proteção coletiva (EPCs) para laboratórios, de uso
obrigatório. O uso de EPIs no Brasil é regulamentado pela NR-6 da Portaria
n. 3.214/1978, do Ministério do Trabalho e Emprego.

A Anvisa, por meio da Resolução RDC n. 11, de 16 de fevereiro de 2012,


dispõe sobre o funcionamento de laboratórios analíticos que realizam
análises em produtos sujeitos à Vigilância Sanitária e dá outras providências
(ANVISA, 2012).

54
BIOSSEGURANÇA

A Resolução RDC n. 512, de 27 de maio de 2021, dispõe sobre as


Boas Práticas para Laboratórios de Controle de Qualidade (BRASIL, 2021).
Conforme essas resoluções, a validação é feita por comprovação, através de
fornecimento de evidência objetiva de que os requisitos para uma aplicação
ou uso específicos pretendidos foram atendidos.

Sobre a legislação em biossegurança, vimos que a Lei n. 8.794, de 5


de janeiro de 1995, foi a primeira lei brasileira que tratou sobre questões
pertinentes à biossegurança. Ela enfocava apenas questões relacionadas
com tecnologias derivadas de DNA ou RNA recombinantes, também
conhecidas como engenharia genética. Essa lei estabelecia parâmetros
para trabalhos com OGMs, garantindo o desenvolvimento sustentado da
biotecnologia. Entretanto, essa lei não cobria assuntos polêmicos, como
o uso terapêutico de células-tronco embrionárias e o uso comercial de
alimentos transgênicos. Então foi revogada e substituída pela Lei n. 11.105,
de 24 de março de 2005.

A Lei n. 11.105/2005 cria dois órgãos responsáveis pela biossegurança


relacionada a OGMs: o CNBS e o CNTBio.

O CNBS é um órgão de assessoramento do Presidente da República para


a formulação e implementação da Política Nacional de Biossegurança. Ele é
composto por ministros e seu objetivo é estabelecer diretrizes para a ação
administrativa dos órgãos e entidades federais.

A CNTBio é uma comissão multidisciplinar, de caráter consultivo e


deliberativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao governo
federal. A CTNBio é o órgão que acompanha o desenvolvimento e o progresso
técnico e científico nas áreas de biossegurança, biotecnologia, bioética
e afins, com o objetivo de aumentar sua capacitação para a proteção da
saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.

55
Unidade I

Exercícios

Questão 1. Leia o texto a seguir.

“A necessidade de práticas de biossegurança nunca foi globalmente tão enfatizada como nas
circunstâncias atuais da pandemia. Biossegurança é a ciência voltada para a prevenção, o controle, a
minimização ou a eliminação de riscos de dano ou acidente advindos da prática em laboratório para
proteção da saúde humana, animal, do meio ambiente e da qualidade dos trabalhos desenvolvidos.
Práticas de biossegurança laboratorial são a aplicação de conhecimentos, técnicas e equipamentos
para mitigar o risco, nesse caso envolvido no manuseio da amostra biológica, e propiciar um ambiente
laboral seguro.

O SARS-CoV-2, à semelhança dos demais membros da família Coronaviridae, é classificado como


microrganismo de Classe de Risco 3. [...] No caso do SARS-CoV-2, testes laboratoriais de rotina em
espécimes de soro ou sangue, manipulação de vírus lisados, fixados, partes não infecciosas do genoma,
embalo de amostras biológicas para diagnóstico e outras atividades não propagativas (por exemplo,
sequenciamento, teste de amplificação de ácidos nucleicos) requerem que o laboratório apresente
estrutura equivalente ao NB2”.

MARTINELLO, F. Biossegurança laboratorial na pandemia do SARS-CoV-2. A Tempestade do Coronavírus,


v. 52, n. 2, p. 109-116. 2020 (com adaptações). Disponível em: https://bityli.com/XUurK.
Acesso em: 17 dez. 2021.

Assim como destacado no texto, diferentes atividades necessitam de níveis de biossegurança


específicos. O fato de os laboratórios que trabalham com o SARS-CoV-2 serem classificados como NB-2
significa que:

A) Laboratórios como esses trabalham com agentes de risco moderado, onde sangue e demais
líquidos corporais podem estar presentes, sendo, portanto, indispensável o uso de EPIs e
barreiras primárias e secundárias.

B) Esses laboratórios são classificados como locais de contenção, pois lidam com microrganismos
que representam alto risco individual e baixo risco para a comunidade. É o caso de laboratórios
clínicos, de diagnósticos, de pesquisa ou de produção. Seus controles de segurança são mais
rígidos e devem contar com equipe profissional com treinamento específico, supervisionada por
profissional altamente capacitado e com manutenção feita por empresas especializadas.

C) Esses laboratórios têm capacidade de manipular agentes biológicos com classe de risco 4, ou
seja, a mais elevada, como é o caso do SARS-CoV-2, considerado de alto risco e de mais difícil
tratamento em caso de contágio. Assim, o isolamento do ambiente e dos trabalhadores em relação
aos organismos infecciosos deve ser completo.

56
BIOSSEGURANÇA

D) Esse nível de biossegurança não necessita de barreiras primárias ou secundárias, embora


deva existir uma pia para higienizar antebraços e mãos. Tais laboratórios são projetados para
trabalhos com agentes biológicos de classe de risco 1, o que não oferece muitos ricos à saúde
e, por isso, são locais apropriados para o treinamento educacional ou para o treinamento de
técnicas laboratoriais.

E) Esses laboratórios devem estar localizados em uma área isolada do prédio, com uma antessala
com portas duplas e com acesso controlado por fechaduras de segurança, além de sala específica
para troca de roupas. Há especificidades quanto ao sistema de ventilação e ar-condicionado para
que seja garantido o isolamento, e as janelas devem ter fechamento hermético.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: de fato, as especificações de um laboratório NB-2 devem ser adequadas a um agente


de risco associado a patologias de gravidade variável entre humanos. Isso causa uma demanda
maior da população por diagnósticos. Além disso, o contato com amostras de fluidos corporais exige
cuidado e proteção com EPIs indicados no NB-1 e barreiras primárias e secundárias. Trata-se, portanto,
de laboratórios clínicos, de diagnóstico e outros tipos de laboratórios.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: o laboratório descrito na alternativa corresponde a um ambiente preparado para


lidar com agentes biológicos que representem risco maior do que o SARS-CoV-2 e, por isso, demanda
especificações mais rigorosas do que aquelas necessárias a um laboratório NB-2.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: conforme mencionado no texto de introdução, o SARS-CoV-2 é de classe de risco 3


e, portanto, não necessita de um laboratório NB-4. Para um agente biológico dessa classificação, a
depender dos procedimentos, laboratórios NB-2 e NB-3 são suficientes.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: sendo um laboratório classificado como NB-2, ele não atende a agentes biológicos
de classe de risco 1, mas, sim, mais elevados, o que faz com que sua configuração deva contar com
equipamentos compatíveis com esse risco.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: as características apontadas na alternativa correspondem a um laboratório NB-3.


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Unidade I

Questão 2. A Norma Regulamentadora n. 6 (NR-6), Portaria n. 3.214/1978, do Ministério do


Trabalho, define que um equipamento de proteção individual (EPI) é todo dispositivo ou produto de uso
individual utilizado pelos trabalhadores, determinado a protegê-los de riscos suscetíveis que possam
ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. O uso de tais materiais tem-se mostrado fundamental para
proteger a saúde e manter a segurança dos colaboradores de todas as áreas e todos os locais de trabalho.
Exemplo disso é a importância da segurança e da saúde dos manipuladores de alimentos de Unidades
de Alimentação e Nutrição (UAN) para a qualidade do produto.

Tendo em vista a definição e a importância dos EPIs, avalie as afirmativas.

I – Os EPIs são, conforme a própria definição, individuais, sendo de responsabilidade dos trabalhadores
o custeio, a aquisição, a manutenção, a substituição e o descarte adequado.

II – Os trabalhadores devem conhecer as normas de segurança do local de trabalho e utilizar os EPIs


sempre que a função ou a tarefa oferecer possíveis riscos à sua integridade física.

III – Os EPIs têm como função neutralizar ou atenuar os agentes agressivos ao corpo do trabalhador,
evitando lesões ou diminuindo sua gravidade. Portanto, pode-se considerar que esses equipamentos são
importantes para a garantia da segurança durante a manipulação de equipamentos, de produtos ou de
alimentos, o que contribui para a qualidade das preparações e do fornecimento de alimentos.

Assinale a alternativa correta.

A) Apenas a afirmativa I é correta.

B) Apenas a afirmativa II é correta.

C) Apenas as afirmativas II e III são corretas.

D) Todas as afirmativas são corretas.

E) Nenhuma afirmativa é correta.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: com a referida norma, tornou-se obrigatório que toda a empresa (e não o trabalhador)
forneça, gratuitamente, EPIs adequados ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento,
a todos os colaboradores e que se faça a substituição imediata caso estejam danificados ou tenham sido
extraviados. Além disso, a empresa deve cumprir e fazer cumprir as normas de segurança oficiais.

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BIOSSEGURANÇA

II – Afirmativa correta.

Justificativa: para sua própria segurança, assim como para a segurança dos demais trabalhadores,
cabe aos funcionários o conhecimento das normas de segurança do local de trabalho e a utilização dos
EPIs, cobrando da instituição o fornecimento, a manutenção e a substituição, quando isso for necessário.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: de fato, o uso de EPIs ocorre no sentido de contribuir para a segurança do trabalhador
especialmente na diminuição dos riscos e dos acidentes, em diversas profissões.

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