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Nutricionista e docente titular da Universidade Paulista (UNIP) Jundiaí-SP, ministrando disciplinas para os cursos da
área da saúde. Graduação em Nutrição pela UNIP e em Economia Doméstica (Universidade Federal de Viçosa (UFV‑MG).
Mestrado em Tecnologia de Alimentos (UFV-MG) e doutorado em Alimentos e Nutrição pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp-SP). Especialista em Qualidade e Segurança Alimentar pelo Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai-SP) e especialista em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul‑SP).
Foi consultora do Senai-SP em segurança alimentar e implantação de sistemas de qualidade. Nutricionista da Atenção
Básica na Prefeitura de Jundiaí.
CDU 614.4
U514.42 – 22
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quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Unip Interativa
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Angélica L. Carlini
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. Deise Alcantara Carreiro
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Aline Ricciardi
Vitor Andrade
Sumário
Biossegurança
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 BIOSSEGURANÇA................................................................................................................................................9
1.1 Níveis de biossegurança .................................................................................................................... 10
2 PERIGOS............................................................................................................................................................... 15
2.1 Perigos físicos......................................................................................................................................... 19
2.2 Perigos químicos.................................................................................................................................... 22
2.3 Perigos biológicos.................................................................................................................................. 25
2.4 Perigos ergonômicos............................................................................................................................ 28
3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO.................................................................................................................. 33
3.1 Equipamentos de proteção individual (EPI)............................................................................... 33
3.2 Equipamentos de proteção coletiva (EPCs)................................................................................ 38
4 LEGISLAÇÃO EM BIOSSEGURANÇA........................................................................................................... 42
4.1 Histórico.................................................................................................................................................... 43
4.2 Lei n. 11.105/2005................................................................................................................................. 44
4.3 Engenharia genética............................................................................................................................ 45
4.4 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)............................................................................ 46
4.5 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)....................................................... 47
4.6 Qualidade em biossegurança............................................................................................................ 51
4.7 Boas Práticas de Laboratório (BPL) e Procedimento Operacional Padrão (POPs)...........51
Unidade II
5 SEGURANÇA COM RADIOISÓTOPOS......................................................................................................... 60
5.1 Radioisótopos mais utilizados na medicina (CARDOSO, s.d.).............................................. 60
5.2 Efeitos biológicos das radiações ionizantes............................................................................... 63
5.3 Eliminação de rejeitos......................................................................................................................... 64
6 BIOTERISMO....................................................................................................................................................... 64
6.1 Necessidades básicas de um biotério............................................................................................ 66
6.2 Biossegurança em biotérios de experimentação...................................................................... 70
7 LEVANTAMENTO DE RISCOS NO AMBIENTE DE TRABALHO............................................................ 72
7.1 Avaliação qualitativa........................................................................................................................... 73
7.2 Avaliação quantitativa........................................................................................................................ 74
7.3 Limites de tolerância............................................................................................................................ 74
7.4 Mapa de riscos........................................................................................................................................ 74
7.5 Risco ocupacional – acidentes com materiais perfurocortantes...................................... 76
7.6 Gerenciamento de resíduos em serviços de saúde.................................................................. 78
A disciplina Biossegurança tem como objetivo oferecer subsídios para o profissional da área da saúde
analisar sua conduta no que diz respeito às questões de segurança durante sua atuação profissional.
Essa segurança é em relação a si mesmo, à comunidade, ao meio ambiente e ao seu próprio objeto
de trabalho, seja ele um paciente, um animal ou um organismo geneticamente modificado, tanto na
prática clínica e hospitalar quanto na pesquisa.
A partir das informações apresentadas, o profissional terá condição de diferenciar perigos aos quais
está exposto bem como a probabilidade de sua ocorrência. Aprenderá sobre o sistema APPCC (Análise
de Perigos e Pontos Críticos de Controle), que utiliza muito esses conceitos.
Além disso, aprenderá sobre a Lei de Biossegurança no que diz respeito à manipulação de organismos
geneticamente modificados, e terá noções sobre infecções hospitalares e níveis de biossegurança
laboratorial, com suas aplicações e requisitos.
INTRODUÇÃO
Esta disciplina abordará conteúdos importantes para a biossegurança, apresentados em duas unidades.
Na unidade I, são abordados conceitos de biossegurança, os níveis de classificação, bem como ações
e barreiras necessárias. Apresentamos os perigos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos associados
às atividades laborais exercidas por profissionais da área da saúde. A seguir, estão os conceitos de
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).
São também abordados, nessa unidade, os equipamentos de proteção individual (EPIs) e de proteção
coletiva (EPCs); boas práticas de laboratório e os procedimentos operacionais padronizados (POPs).
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Na unidade II, são abordados os seguintes temas: segurança de radioisótopos, seu uso em medicina,
os efeitos biológicos e cuidados na eliminação de rejeitos; bioterismo e biossegurança em biotérios de
experimentação; levantamento de riscos no ambiente de trabalho, avaliações qualitativas e quantitativas
dos riscos, limites de tolerância e mapa de riscos. Além desses tópicos, são apresentados o gerenciamento
de resíduos dos serviços de saúde; os procedimentos e graus de descontaminação, bem como seu
monitoramento. Os artigos médico-hospitalares são apresentados considerando sua classificação, forma
de recolhimento e desativação, quando pertinente. São abordados, também, rotulagem adequada dos
resíduos de laboratório, símbolos de risco químico e, por fim, tópicos importantes associados à prevenção
de incêndios.
Toda e qualquer atividade humana expõe os indivíduos a esforços físicos e riscos de acidentes.
Assim, se considerarmos que passamos mais tempo no ambiente de trabalho que em qualquer outro,
precisaremos pensar nos efeitos que a atividade profissional causa à saúde.
A biossegurança é uma área interdisciplinar da ciência cujo objetivo é proteger tanto o trabalhador
como o objeto de trabalho dos riscos inerentes à atividade do profissional. São objetos de trabalho
o paciente, o material de pesquisa, o alimento processado, os animais e plantas tratados, bem como o
meio ambiente.
O estudo da biossegurança visa, sempre, à prevenção de riscos ou, se não for possível, à contenção
dos agentes perigosos. A partir do estudo dos mecanismos de ação desses agentes, são estabelecidos os
procedimentos seguros de ação.
Antes de prosseguirmos no estudo da biossegurança, vale a pena ressaltar que a maioria dos
acidentes de trabalho é decorrente de imperícia, negligência e, até mesmo, imprudência dos operadores,
portanto, a regra de ouro na prevenção de acidentes é atenção e bom senso.
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BIOSSEGURANÇA
Unidade I
1 BIOSSEGURANÇA
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (BRASIL, 2010) define biossegurança como
condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir
ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o
meio ambiente.
As “boas práticas”, expressão muito citada por profissionais, referem-se aos procedimentos seguros
de trabalho. Esses procedimentos são estabelecidos com antecedência, baseando-se em normas técnicas,
na legislação vigente, no histórico da atividade ou, simplesmente, na prática e no bom senso.
É muito importante que o estabelecimento de regras de boas práticas seja feito com antecedência,
pois a função principal de qualquer procedimento de segurança é evitar o acidente. Qualquer atividade
após o acidente serve somente para a redução de danos.
O conceito de “boas práticas” vale para qualquer ramo de atividade, ajustando-se conforme os
requisitos específicos: boas práticas de fabricação, boas práticas de laboratório, boas práticas de
preparação etc. Todos os procedimentos são descritos no Manual de Boas Práticas, em que também
estão os Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs).
Lembrete
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Unidade I
Saiba mais
Existem quatro níveis de biossegurança: NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4. São apresentados em ordem
crescente, considerando o maior grau de contenção e complexidade do nível de proteção. Cada um
desses níveis requer ações e técnicas aliadas às barreiras físicas nos espaços de manipulação, pesquisa e
ensino, de forma a garantir proteção integral para as pessoas e para o ambiente.
A cada nova informação que possa sugerir a virulência, a patogenicidade, bem como os padrões de
resistência a antibióticos, as práticas usuais deverão ser ajustadas com maior ou menor rigidez, visando
a qualidade do processo de trabalho e a redução dos riscos de contaminação.
Observação
Nesse nível, estão dispensadas as indicações de barreiras de tipo primárias ou secundárias, com
exceção de uma pia para higienizar antebraços e mãos. É considerado um nível básico de contenção,
sendo priorizadas as medidas padrões de microbiologia.
Os laboratórios classificados como NB-1 são projetados para trabalhos com agentes biológicos
de classe de risco 1. São locais apropriados para o treinamento educacional ou para o treinamento de
técnicos e de professores nas técnicas laboratoriais.
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BIOSSEGURANÇA
As boas práticas de laboratório consistem na principal contenção para esses laboratórios, incluindo
a especificação adequada do uso de equipamento de proteção individual (EPI), como aventais de manga
comprida e luvas descartáveis. As cabines de segurança biológica (CSB) e fluxo laminar não são exigidas
nesse nível de biossegurança. O Manual de Boas Práticas deve conter a especificação dos desinfetantes
e produtos de limpeza, com a respectiva concentração de uso.
As salas devem ser separadas da área de passagem de pessoas por portas simples, com revestimentos
feitos com materiais que facilitem a limpeza, laváveis e não podem ser porosos. O esgoto do laboratório
pode ser descartado na rede pública.
Ainda considerando as instalações, devem existir pias para limpeza das mãos, lava-olhos e um
chuveiro de emergência. As bancadas não podem ter emendas na superfície e devem ser resistentes ao
ataque de produtos químicos. Deve existir um local para armazenamento de produtos de uso imediato,
e o espaço entre as bancadas deve permitir a circulação de pessoas. Os funcionários devem ter local
específico para guardar objetos pessoais e aventais.
O símbolo de risco biológico deve ser colocado na porta do laboratório, conforme apresentado na
figura seguinte:
Risco Biológico
Entrada permitida somente para pessoal autorizado
Nível de segurança biológica: ..........1
Profissional responsável: ..................1
Em caso de emergência, chamar por:
Telefone interno:
Telefone residencial:
A permissão para entrar no laboratório deve ser solicitada
ao responsável acima citado
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Unidade I
Estão presentes nesse nível agentes de risco moderado que podem estar associados a patologias de
gravidade variável em humanos. Sangue e demais líquidos corporais estão presentes. Utilizam-se os EPIs
indicados no NB-1 e barreiras primárias e secundárias.
É aplicável aos laboratórios clínicos, de diagnóstico e outros laboratórios onde o trabalho é realizado
com maior espectro de agentes nativos de risco moderado, presentes na comunidade e que estejam
associados a uma patologia humana de gravidade variável. Os laboratórios NB-2 são projetados para
trabalhar com agentes biológicos de classe de risco 2.
Com boas técnicas de microbiologia, esses agentes podem ser usados de maneira segura em atividades
conduzidas sobre uma bancada aberta, uma vez que o potencial para a produção de borrifos e aerossóis
é baixo. Também deve ser dada atenção especial para procedimentos que envolvam a manipulação de
objetos perfurocortantes.
Os procedimentos envolvendo alto potencial para a produção de salpicos ou aerossóis que possam
aumentar o risco de exposição desses funcionários devem ser conduzidos com a CSB. Outras barreiras
primárias, como escudos para borrifos, proteção facial, aventais e luvas, devem ser utilizadas de
maneira adequada.
O laboratório de NB-2 deve atender a todos os requisitos indicados para o NB-1, com mais algumas
exigências. Deve ser instalado longe da área de passagem pública e suas portas devem ter fechamento
automático. O acesso de pessoas deve ser restrito, e os indivíduos que têm acesso devem ter um controle
maior sobre sua saúde, por meio do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).
Os cantos entre paredes, piso e teto devem ser arredondados, e os revestimentos devem ser não
porosos e resistentes ao uso de desinfetantes. É permitido que exista recirculação de ar no sistema
de ventilação e ar-condicionado, entretanto, esse ar deve ser filtrado e descartado longe de prédios
habitados e de locais de circulação de pessoas.
Devem ser evitadas as tubulações aparentes, todavia, caso isso não seja possível, os suportes de
tubulação devem garantir espaço suficiente para a limpeza de todas as superfícies.
As bancadas de trabalho devem estar engastadas na parede, de modo a não ser possível o acúmulo
de sujidades entre ambas. As pias e os lavatórios devem possuir sistema automático de acionamento.
A CSB deve ser de classe II e é necessário que se mantenha o registro de seu uso. Assim, toda
manipulação que tenha a possibilidade de geração de aerossol, como o uso de centrífuga, moinho
e a manipulação de frascos pressurizados, deve ser feita dentro da CBS.
Os técnicos que trabalham nesses laboratórios passam por treinamento específico no manejo de
patógenos e são supervisionados por profissionais qualificados para a função. Durante os procedimentos
ali realizados, o acesso ao laboratório é limitado.
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BIOSSEGURANÇA
Nesses laboratórios só devem ser admitidos funcionários com experiência em NB-2. A equipe
profissional deve ser treinada para manejo de agentes patogênicos, além de ser supervisionada por
profissional altamente qualificado, com grande experiência com esses agentes. Outra questão muito
importante refere-se à manutenção do laboratório, a ser feita por empresas especializadas e com o
acompanhamento dos funcionários.
Nesses locais, são realizados trabalhos com agentes nativos ou exóticos, com potencial de transmissão
por via respiratória e que podem causar infecções sérias e potencialmente fatais. Os riscos primários
causados aos trabalhadores que lidam com esses agentes incluem a autoinoculação, a ingestão e a
exposição aos aerossóis infecciosos.
Esse nível de contenção exige a intensificação dos programas de boas práticas laboratoriais e de
segurança, além da existência obrigatória de dispositivos de segurança e de sistema de pressão negativa
para a exaustão e filtração do ar do interior do laboratório.
Considerando que envolve o risco de infecções graves e potencialmente fatais, que podem ser
contraídas pelas vias respiratórias, todas as manipulações devem ser conduzidas com barreiras
primárias e secundárias. Os pesquisadores devem usar roupas de proteção específicas para essa área e
equipamentos de proteção individual. Todos os envolvidos no processo de manipulação devem passar
por exames sorológicos periódicos.
Todas as manipulações laboratoriais deverão ser realizadas em uma CSB ou em outro equipamento
de contenção, como uma câmara hermética de geração de aerossóis. As barreiras secundárias para esse
nível incluem acesso controlado ao laboratório e sistemas de ventilação que minimizem a liberação de
aerossóis infecciosos do laboratório.
O laboratório NB-3 deve ser posicionado em uma área isolada do edifício, com uma antessala com portas
duplas, com acesso controlado por fechaduras de segurança. Deve ser incluída no projeto uma sala específica
para troca de roupas. O sistema de ventilação e ar-condicionado é projetado de modo a permitir seu isolamento
e as janelas devem ser herméticas para que seja possível uma desinfecção gasosa, se necessário.
Nos acessos ao laboratório, são necessárias pias para lavagem das mãos, providas de torneiras de
acionamento automático. Os sistemas de água e esgoto apresentam válvulas antirrefluxo. O esgoto deve
ser tratado com desinfetante antes de ser lançado no sistema público.
Nesses laboratórios, a autoclave deve ser instalada dentro do laboratório, e as centrífugas e bombas
de vácuo devem ser equipadas com filtros de ar de alta capacidade.
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Unidade I
Esses laboratórios são projetados para manipular agentes biológicos com classe de risco 4. Trata‑se
de alto risco e de mais difícil tratamento em caso de contágio. O isolamento do ambiente e dos
trabalhadores em relação aos organismos infecciosos deve ser completo.
Os riscos primários aos trabalhadores que manuseiam agentes do NB-4 incluem exposição respiratória
aos aerossóis infecciosos, exposição da membrana mucosa ou da pele com algum tipo de lesão às
gotículas infecciosas e à autoinoculação.
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BIOSSEGURANÇA
Os sistemas de ar-condicionado devem oferecer pressão do ar negativa dentro do prédio, o que visa
garantir, em caso de vazamento, que o ar interno não saia do edifício. O acesso às áreas controladas
deve ser feito por portas duplas e antessala com controle da pressurização do ambiente.
Saiba mais
2 PERIGOS
Antes do estabelecimento das normas de boas práticas, é muito importante conhecer os perigos
associados ao tipo de atividade laboral a serem prevenidos com a adoção dessas práticas.
Isso parece óbvio, considerando as atividades executadas pelos dois profissionais. Se o médico
não lavar as mãos adequadamente, vai expor o paciente a risco aumentado de infecção durante
e após a cirurgia, até mesmo com possibilidade de complicações e óbito. No caso do mecânico, o
fato de não lavá-las adequadamente poderá, na pior das hipóteses, deixá-las sujas de graxa. Assim,
o procedimento para higienização das mãos executado pelo médico deve ser bem mais rigoroso do
que o utilizado pelo mecânico.
Ainda considerando a lavagem das mãos, esse procedimento foi relembrado continuamente
durante a pandemia do coronavírus (Covid-19) como forma de prevenção do contágio. É um
procedimento de fácil execução e uma maneira efetiva de prevenir a disseminação de doenças,
tendo em vista que pode interromper a disseminação de pessoa a pessoa, bem como para a
comunidade etc.
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Unidade I
O Michaelis – Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa online (PERIGO, 2022) define o verbete
perigo como “situação que ameaça a existência ou integridade de uma pessoa ou coisa; risco”. Para
melhor entendimento, faremos uma diferenciação entre perigo e risco:
• Perigo: qualquer agente que cause danos à saúde ou à integridade física das pessoas, podendo
ser classificado, quanto à severidade, em baixo, médio ou alto.
Considerando perigo e risco, veja a situação a seguir: ao atravessar a rua, existe o perigo do
atropelamento. Se for uma rua com pouco movimento (probabilidade baixa), na qual os carros passam
em baixa velocidade (severidade do atropelamento baixa), o risco de atravessar a rua é baixo. Porém,
se for uma rodovia muito movimentada, com carros em alta velocidade, o risco da travessia é alto, e a
severidade também.
Essa diferenciação entre perigo e risco é útil particularmente para quem trabalha com alimentos.
Na área de alimentos, existe um sistema de controle de higiene e segurança alimentar chamado APPCC
(Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), que utiliza muito esses conceitos.
Trata-se de uma ferramenta de gestão da qualidade com caráter preventivo, com abordagem
sistemática que visa identificar pontos críticos de controle dos perigos biológicos, químicos e físicos
durante as etapas de produção de alimentos, para os quais existem medidas corretivas a serem aplicadas
em caso de desvio dos parâmetros esperados de segurança.
Existem sistemas adaptados para diferentes linhas produtivas: APPCC Mesa, para produção de
refeições; o APPCC Indústria, aplicável às indústrias de alimentos e o APPCC Campo, para o controle das
atividades agrícolas de produção. Para o seguimento Mesa, o plano é feito por conjunto de preparações
com características similares, enquanto no seguimento Indústria de Alimentos existe um plano para
cada tipo de alimento produzido.
Vale ressaltar que os sete princípios do sistema APPCC são os mesmos para os diferentes setores
produtivos e são executados de modo sequencial, conforme apresentado a seguir:
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BIOSSEGURANÇA
Considerando que o sistema APPCC fornece ferramentas de gestão de riscos, ele pode ser utilizado
para atender aos requisitos da ISO 22000, norma para Gestão de Segurança de Alimentos.
A NR-9 do Ministério do Trabalho estabelece os requisitos para a avaliação das exposições ocupacionais
a agentes físicos, químicos e biológicos quando identificados no Programa de Gerenciamento de
Riscos (PGR), previsto na NR-1, e subsidiá-lo quanto às medidas de prevenção para os riscos ocupacionais.
Para efeito dessa NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos
existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e
tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador.
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Unidade I
Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os
trabalhadores, tais como ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações
ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom.
Os agentes químicos são substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo
pela via respiratória, como poeiras, fumaças, névoas, neblinas, gases e vapores, ou, a depender da
natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou serem absorvidos pelo organismo através
da pele ou por ingestão.
Ainda, para efeito dessa norma, consideram-se agentes biológicos bactérias, fungos, bacilos,
parasitas, protozoários, vírus, entre outros.
Já os agentes ergonômicos são caracterizados pela falta de adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas do trabalhador.
A maior parte dos autores apresenta os perigos e os classifica sem dar maiores explicações sobre os
critérios utilizados para sua classificação. Além disso, dependendo da área de trabalho, os perigos são
considerados de maneira diferente. Exemplificando, um biólogo não considera um inseto da mesma
forma que um nutricionista, o que pode gerar divergências quanto à classificação de alguns perigos.
Vale ressaltar que essa classificação é didática e existe para facilitar o raciocínio sobre a execução da
atividade profissional. Identificar a presença do perigo é muito mais importante do que classificá-lo.
Para este estudo, consideraremos os perigos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. Nos critérios
de classificação foram consideradas as medidas preventivas.
Saiba mais
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BIOSSEGURANÇA
• Insetos e outros.
Essa classe de perigos possui como característica principal provocar a ruptura da pele e de tecidos.
A pele é a principal barreira de proteção do corpo humano, sendo impermeável tanto a fluidos quanto
a microrganismos. Com a sua ruptura, existe a possibilidade de contaminações por esses perigos, que
costumam ser muito mais graves.
Os perigos físicos podem ser prevenidos por meio de barreiras físicas que impedem a ação do agente
como apresentado a seguir: telas nas janelas impedem a entrada de insetos; tampas de panela impedem
a queda de fragmentos na comida; superfícies espelhadas impedem a propagação da radiação; luvas
grossas impedem que as mãos se queimem, entre outras.
• Como vetores de doenças, sendo considerado como perigo o microrganismo causador da doença,
e não o inseto que provoca a ruptura da pele.
• Quando está presente no alimento pode, na maior parte dos casos, provocar uma engasgadura.
Vale lembrar que o principal perigo provocado por um animal é a ruptura da pele provocada pela
mordida ou por arranhões, o que permitirá a entrada de veneno ou de microrganismos.
Os perigos físicos têm diversas origens. Vamos apresentar algumas delas a seguir:
Pedaços de vidro
São gerados por quebra de utensílios de cozinha ou vidraria de laboratório. Como maneira de
prevenir esse perigo, é necessário sempre verificar a existência de trincas, principalmente em vidrarias
que sofrerão choques térmicos por variações bruscas de temperatura. No caso, o vidro sofrerá variações
dimensionais não uniformes, podendo provocar estilhaçamento. Os fragmentos de borosilicato, material
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Unidade I
muito utilizado na confecção de vidraria de laboratório, são muito cortantes e devem ser manuseados
com muito cuidado.
A Resolução n. 216/2004 (ANVISA, 2004) e a Portaria CVS 5 (SÃO PAULO, 2013) proíbem que
manipuladores de alimentos utilizem qualquer tipo de adornos no trabalho. O trabalhador não deve
fazer uso desses adornos no ambiente de trabalho, além disso, pelos, fios de cabelo ou de bigode devem
ser contidos com o uso de toucas e máscaras faciais, também conhecidas como bigodeiras, e aventais
com mangas compridas. Para homens com muitos pelos no braço, recomenda-se o uso de mangotes.
Os parafusos foram criados para permitir a desmontagem dos equipamentos. Assim, é bom lembrar
que nenhum parafuso fica apertado para sempre. É muito importante que todos os equipamentos
passem por manutenções preventivas para verificação do aperto de parafusos. Esse perigo pode
estar associado a vários tipos de equipamentos, tendo em vista os sucessivos ciclos de aquecimento
e resfriamento, com dilatação e retração das peças, levando ao afrouxamento de parafusos.
Pragas
Incluem-se nesse grupo os insetos, roedores, parasitas externos (pulgas e carrapatos), pássaros e
morcegos. Os programas de controles de pragas, sob responsabilidade de empresas qualificadas, previnem
a presença de pragas. Além disso, são bastante efetivas as barreiras físicas como telas de proteção nas
janelas, ralos sifonados e telas entre as telhas e as paredes. Essas últimas para impedir que pombos e
morcegos se alojem sob os telhados das edificações.
Para fogões e bicos de Bunsen, é muito importante também a manutenção preventiva, com
verificação constante da integridade das válvulas e mangueiras de gás. O sistema de tubulações que
alimentam esses equipamentos deve ser dotado de diversas válvulas de bloqueio nos ramais, bem como
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BIOSSEGURANÇA
de válvula geral para isolar o fornecimento de gás, caso necessário. Na operação desse sistema, as
válvulas devem ser abertas, em sequência, a partir do ponto fornecedor até o ponto consumidor e
depois devem serem fechadas na ordem inversa. Torna-se necessário ter atenção redobrada para nunca
inverter esse procedimento.
A identificação visual dessas superfícies é facilitada pelo acúmulo de condensado e por formação
de neve, o que não diminui o perigo de acidentes graves. O congelamento da água contida dentro das
células provoca a formação de cristais de gelo que rompem a parede celular, provocando a destruição
do tecido. A manipulação dessas superfícies deve ser feita com muito cuidado, utilizando-se luvas
específicas e pinças.
Radiação ionizante
Considera-se radiação ionizante toda forma de radiação com energia suficiente para arrancar os
elétrons dos átomos, como as radiações alfa, beta, gama e os raios X. As reações do indivíduo à exposição
de radiação são dependentes de vários fatores, entre os quais, estão a quantidade de radiação recebida,
os efeitos cumulativos de várias exposições, do estado geral do indivíduo, bem como do dano físico
provocado, como as queimaduras.
É bom lembrar que as radiações ionizantes podem provocar alterações no DNA ou em substâncias
associadas ao metabolismo. Caso essa alteração não leve à morte celular ou não possa ser reparada
pelos sistemas celulares, será propagada para as próximas gerações de células. Nos locais onde se
trabalha com esse tipo de radiação, as portas e paredes devem ser revestidas de materiais que absorvem
a radiação, enquanto os operadores devem utilizar aventais específicos para essa finalidade. Os acessos a
essas áreas devem ser adequadamente sinalizados. Vale ressaltar que gestantes não podem trabalhar
nesse tipo de atividade.
Laser
O laser está se disseminando em diversas áreas, entre as quais, estão a medicina e os procedimentos
estéticos. Mesmo sabendo que o feixe de laser é bastante direcionado, é preciso considerar algumas
questões importantes para a segurança de todos os envolvidos em sua utilização. Devido ao espalhamento
da luz quando passa por coloides, efeito Tyndall, ou pelo reflexo da luz em superfícies polidas, parte da
luz pode chegar aos olhos do trabalhador. A principal proteção contra os efeitos do laser é o uso
de óculos de proteção coloridos para bloquear comprimentos de onda específicos.
Perfurocortantes
A manipulação desses materiais só deve ser feita por pessoas capacitadas, equipadas com
proteções adequadas, como é o caso da luva cota de malha de aço. A superfície cortante ou a ponta do
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Unidade I
instrumento nunca deve ser apontada na direção do trabalhador, e sua atenção não deve ser desviada
durante a operação. Como material clínico, os perfurocortantes devem ser descartados em recipientes
exclusivamente destinados a esse fim.
Se os perigos químicos são originados de manipulação errada de produtos químicos, então, para
prevenir-se dessa classe de perigos, é muito importante que o trabalhador conheça as características
dos produtos manipulados.
Segundo a Chemical Abstract Service (ACS, 2022), uma divisão da American Chemical Association
responsável por coletar informações sobre produtos químicos, existem cerca de 70 milhões de substâncias
químicas diferentes e, por melhor que o profissional esteja preparado, é impossível conhecer todos os
detalhes sobre a manipulação de todos esses produtos.
Essa padronização foi fixada pela ABNT na norma NBR 14725 (ABNT, 2012a; 2012b). Nas partes 3 e 4
desta norma, estão estabelecidas as informações que devem constar no rótulo e na Ficha de Informações
de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). A FISPQ é um documento que traz as informações necessárias
para a criação de procedimentos adequados de manipulação de produtos químicos, em outras
palavras, para boas práticas de laboratório.
Os perigos químicos são avaliados de acordo com suas características físico-químicas, reatividade,
toxidade, condições de manipulação, possibilidade de exposição e vias de penetração no organismo.
Trata‑se de uma análise bem completa e complexa (BINSFELD, 2004). Nesse estudo, chamaremos a atenção
para quatro dessas características: a difusividade no ar, a inflamabilidade, a toxidade e a ecotoxidade.
• Pressão de vapor: é a pressão que o vapor faz quando está em equilíbrio com o líquido em uma
evaporação. Quanto maior a pressão de vapor, mais volátil o produto e maior é a difusão.
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BIOSSEGURANÇA
• Ponto de fulgor: é a temperatura na qual um produto químico liberta vapor suficiente para
entrar em combustão com a ajuda de uma fonte de calor externa. Sem essa fonte, a chama se
extingue. Quanto mais baixo o ponto de fulgor, maior o risco de combustão.
A toxidade é a capacidade de um produto químico produzir efeitos nocivos, tanto no meio ambiente
quanto nos organismos vivos. A ABNT, na norma NBR 14725, diferencia as informações sobre a toxidade
entre informações toxicológicas e informações ecológicas.
A FISQP pode fornecer diversos parâmetros de informações toxicológicas, sendo os mais comuns:
• Toxidade aguda: faz referência a exposições de curta duração, na ordem de segundos, minutos
ou horas. Normalmente, é apresentada a DL50, por via oral, para ratos. Esse parâmetro indica
a dose mínima necessária para matar 50% de uma população de cobaias. A DL50 não fornece
detalhes sobre os mecanismos de ação do produto em humanos, mas serve como comparativo
entre os diversos produtos químicos. Quanto menor a DL50, mais letal é o produto.
• Toxidade crônica: refere-se a exposições de longo prazo, com duração de dias, meses ou anos.
São indicados os sintomas provocados pela longa exposição ao produto.
A ecotoxidade é a ação dos produtos químicos quando liberados no meio ambiente, sobre os
constituintes vivos dos ecossistemas. O Ibama, na Portaria n. 84 de 1996, indica os seguintes parâmetros
para avaliação do potencial de dano ao meio ambiente (IBAMA, 1996):
23
Unidade I
• Transporte: refere-se aos processos físicos de transporte de massa. A difusão no solo e na água e
a solubilidade influenciam esse parâmetro.
• Toxidade a diversos organismos: DL50 aplicada a organismos típicos de cada meio, por exemplo,
de organismos aquáticos.
• Potencial mutagênico: capacidade de um produto químico causar no DNA danos que não se
conseguem reparar no momento da replicação celular, portanto, a alteração é transmitida para as
gerações seguintes.
Quem for analisar os perigos químicos associados à produção de alimentos deve considerar toda a
cadeia produtiva, conforme apresentado a seguir. Por exemplo, a produção de um iogurte com frutas
pode ser contaminada por várias fontes:
• Se o leite vier de um produtor que não isola as vacas que estão passando por tratamento
veterinário, aquele vai conter traços de antibiótico.
• Se os lubrificantes da máquina de envase não forem adequados para o uso alimentício, o iogurte
terá traços de hidrocarbonetos.
Não adianta executar ações preventivas apenas na manipulação do alimento, sendo também muito
importante considerar a seleção do fornecedor. O fornecedor deve ter qualidade assegurada e ser
auditado pelo contratante, com frequência determinada conforme a necessidade.
24
BIOSSEGURANÇA
No caso de alimentos, os perigos químicos podem ser introduzidos ainda no campo por meio de
práticas inadequadas na aplicação, acondicionamento e descarte de agrotóxicos e antibióticos ou no
desrespeito à legislação que regulamenta o uso desses produtos. Além disso, considerando o processo
produtivo dos alimentos, se acontecerem falhas na limpeza e sanitização dos equipamentos utilizados,
restarão resíduos que se tornarão contaminantes do processo seguinte que utilizarão a mesma linha
de produção.
• metais pesados (chumbo, cobre, cádmio, mercúrio, entre outros), que podem ser incorporados aos
alimentos por meio da água de irrigação;
• conservantes em excesso;
• antibióticos;
• pesticidas.
É importante ressaltar que as toxinas geradas por microrganismos presentes nos alimentos podem
ser consideradas perigos biológicos. Apesar de serem substâncias químicas, sua prevenção depende da
prevenção dos microrganismos geradores.
Os perigos biológicos são aqueles que causam infecções, caracterizadas pela invasão e multiplicação
de organismos indesejáveis no objeto de trabalho ou no próprio trabalhador.
Lembrete
Para a identificação correta de uma infecção, vários fatores precisam ser avaliados:
Note que somente a presença do organismo indesejável não é suficiente para caracterizar uma
infecção. O problema maior é a multiplicação desse organismo.
Isso vale tanto para microrganismos quanto para parasitas internos e em qualquer objeto de
trabalho, mas, para facilitar o entendimento, vamos analisar essa questão para microrganismos no
corpo humano saudável.
Existem duas razões para que a multiplicação dos microrganismos seja considerada o maior problema:
• O corpo humano possui uma capacidade de combate a essas infecções, então, uma inoculação
pequena não representaria risco.
• Alguns microrganismos produzem toxinas que são termorresistentes. Essas toxinas vão se
acumulando e não podem ser eliminadas de alimentos ou meios de cultura por processos térmicos.
Por melhor que seja o processo de descontaminação, existe sempre uma probabilidade de
sobrevivência de microrganismos. Esse tema será mais bem analisado quando forem apresentadas as
técnicas de descontaminação.
A prevenção dos perigos biológicos é fundamental para evitar a multiplicação dos microrganismos
e a inoculação.
Na área de alimentos, também podem ser considerados como perigos biológicos os parasitas
internos e as toxinas produzidas por alguns tipos de fungos e bactérias.
26
BIOSSEGURANÇA
Em pH maior que 4,5, pode ocorrer crescimento do Clostridium botulinum, bactéria esporulada
que produz uma neurotoxina de elevada letalidade ao homem, quando encontra condições ideais
no alimento processado. Essas condições são pH maior do que 4,5, ambiente anaeróbico, presença
de umidade e nutrientes. As características de resistência térmica dos esporos desse microrganismo
são bem conhecidas e são utilizadas para o cálculo do processo de esterilização na indústria de
alimentos. Vale ressaltar que as toxinas produzidas por todos os subgrupos são destruídas nas
seguintes utilizando-se aquecimento a 80 ºC durante 20 a 30 minutos, 85 ºC durante 5 minutos,
ou 90 ºC durante alguns segundos. As células vegetativas, os esporos e as toxinas de C. botulinum
não são destruídos pela congelação.
A ocorrência desses perigos é evitada criando condições no alimento ou ambiente para que
o microrganismo gerador da toxina não se desenvolva. Então, por facilidade, considera-se esse
perigo como sendo biológico.
• Via de exposição: os mecanismos mais comuns são a inoculação direta (por acidentes com
agulhas), a inalação de aerossóis (quando alguém espirra ou tosse), o contato com membranas ou
mucosas e a ingestão.
• Tipo de atividade executada: se a atividade executada, por exemplo, o uso de ultrassom, gerar
aerossóis, o risco de contaminação e o raio de ação do agente são maiores.
27
Unidade I
Os microrganismos também são classificados de acordo com o potencial de risco que apresentam:
• Classe 1: os microrganismos que não apresentam nenhum risco de causar doenças. Contudo, isso
não significa que eles não apresentam riscos, pois, no caso de alimentos, por exemplo, eles podem
ser deteriorantes.
• Classe 2: agentes patogênicos que não causam doenças graves em humanos ou animais. Essas
doenças possuem um tratamento eficaz, e o risco de a infecção se alastrar é pequeno.
• Classe 3: microrganismos que causam doenças graves que podem levar à morte tanto em homens
como em animais, mas cuja propagação é limitada. Existem tratamentos e medidas de prevenção.
• Classe 4: agentes patogênicos que causam doenças graves, com risco de morte para humanos ou
animais, e que são transmitidos facilmente, principalmente por via aérea.
A medicina do trabalho foi criada no século XVII com os trabalhos do médico italiano Bernardino
Ramazzini, que descreveu as primeiras doenças de origem profissional em uma série de monografias que
tratavam de problemas oculares, auditivos e de postura.
Em 1914, o francês Jules Amar publica o livro O motor humano, a primeira obra a fornecer as bases
fisiológicas do trabalho muscular e sua relação com as atividades profissionais. Esse livro é considerado
a primeira obra sobre ergonomia.
Atividade profissional é uma série de relações, estímulos e respostas que o trabalhador estabelece
com o objeto de seu trabalho. Essas relações ocorrem tanto no âmbito mental quanto no físico; quando
essas solicitações ultrapassam a capacidade do trabalhador, aumenta-se o risco de acidente ou de
danos na saúde.
Portanto, a análise ergonômica não pode ser restrita apenas a um aspecto. Ela tem que ser
multidisciplinar e deve incluir as características pessoais de cada trabalhador.
28
BIOSSEGURANÇA
A atividade sensorial e mental não é tão óbvia quanto a atividade física, mas existe em toda ação
humana, por mais simples que pareça. Na atividade mental, a psicofisiologia e a psicologia do trabalho
forneceram parâmetros para a análise do trabalho a serem avaliados:
• Interpretação da informação: a informação deve ser clara, não pode dar margem a ambiguidades
e deve satisfazer a expectativa do trabalhador.
• Tempo de resposta: um ser humano não consegue memorizar muitas informações simultâneas,
correndo o risco de esquecimentos ou de alterações na resposta.
• O ritmo de trabalho: pausas curtas e frequentes são mais eficientes que pausas longas e mais
raras na recuperação física.
29
Unidade I
• mobiliário: o local de trabalho deve ser planejado para garantir as distâncias recomendadas de
mãos, pés, pernas, olhos e ser compatível com a movimentação necessária ao trabalho;
• organização do trabalho: nos locais onde haja trabalhos que exijam concentração e atividade
intelectual, como salas de controle, laboratórios e escritórios, recomenda-se o controle do ruído e
das condições de conforto térmico.
Desde a sua publicação, a norma passou por uma ampla revisão em 1990, e, posteriormente,
por quatro alterações pontuais.
A primeira revisão foi publicada pela Portaria MTPS n. 3.751, de 23 de novembro de 1990, que
conferiu nova redação à norma.
A última alteração da norma foi realizada por meio da Portaria MTB n. 876, de 24 de outubro
de 2018, para ajuste do subitem 17.5.3.3, referente à disposição sobre iluminância, em função do
cancelamento da norma técnica ABNT NBR 5413 (BRASIL, 2021). A partir dessa publicação, a
norma passou a referenciar a Norma de Higiene Ocupacional n. 11 (NHO 11) – Avaliação dos Níveis
de Iluminamento em Ambientes de Trabalho Internos.
Conforme agenda regulatória definida, a NR-17 foi atualizada, com sua nova redação válida a
partir de 3 de janeiro de 2022.
LER/Dort
A expressão LER (Lesões por Esforços Repetitivos) surgiu oficialmente no Brasil em 1997, com a
publicação da Portaria n. 4.062/1987, que reconheceu a tenossinovite como uma doença relacionada
ao trabalho. A tenossinovite é uma inflamação dos tendões e das membranas que recobrem os tendões,
provocando dor, falta de força e inchaço no local. Essa doença foi chamada, muitas vezes, de tenossinovite
do digitador (BRASIL, 2001a).
30
BIOSSEGURANÇA
Aqui, vale fazer uma diferenciação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (apud BRASIL,
2001a), os distúrbios de saúde relacionados à atividade laboral se dividem em duas categorias: doença
profissional e doença relacionada ao trabalho.
As doenças profissionais são aquelas inerentes à atividade profissional, pois não há como o
trabalhador atuar sem estar exposto ao agente causador da doença. Um exemplo disso é o cantor de
rock: não é possível cantar em uma apresentação sem estar exposto a um som extremamente alto, o que
ocasiona perdas auditivas. Aqui, há uma relação direta entre causa e efeito.
No caso das doenças relacionadas ao trabalho, não é possível identificar um agente específico
entre os que estão relacionados à atividade profissional. É o caso do professor, que usa a voz como
instrumento de trabalho. A utilização da voz está condicionada ao comportamento da classe, à matéria
dada, à hidratação da garganta, à umidade relativa do ar, ao seu período de descanso, enfim, a uma
gama enorme de fatores.
Em 1998, por meio da Ordem de Serviço INSS/DSS n. 606, foi adotada a terminologia Doença
Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (Dort), equiparando-a à LER, para respeitar a literatura já
existente na época. A partir daí, as expressões LER e Dort aparecem juntas, na forma LER/Dort.
Apesar dessa equiparação, para efeito de continuidade histórica da literatura publicada, a Ordem de
serviço DSS n. 606/1998 justifica a mudança de terminologia afirmando que
Com todas essas limitações, o que se pode dizer é que as Lesões causadas
por Esforços Repetitivos são patologias, manifestações ou síndromes
patológicas que se instalam insidiosamente em determinados segmentos
do corpo, em consequência de trabalho realizado de forma inadequada.
Assim, o nexo é parte indissociável do diagnóstico que se fundamenta numa
boa anamnese ocupacional e em relatórios de profissionais que conhecem
a situação de trabalho, permitindo a correlação do quadro clínico com a
atividade ocupacional efetivamente desempenhada pelo trabalhador, donde
a proposta da nova terminologia Distúrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho – Dort (BRASIL, 1998).
31
Unidade I
• fadiga muscular;
• dor;
• parestesia;
• sensação de peso;
• mal-estar;
Esses fatores de riscos são determinados por meio de anamnese feita pelo médico do trabalho,
procurando identificar as interações entre os possíveis fatores de riscos e se essa interação é capaz de
ultrapassar a capacidade de regeneração do tecido muscular, mesmo se o funcionamento deste esteja
parcialmente mantido.
• a intensidade do esforço;
• o conforto ambiental;
• a carga estática;
• a invariabilidade da tarefa;
32
BIOSSEGURANÇA
A CAT é um documento utilizado pelo INSS para a obtenção de dados relativos aos acidentes
do trabalho e às doenças ocupacionais. O objetivo dessa captação é fornecer informações para o
enquadramento das empresas segundo os graus de risco no ambiente do trabalho para o cálculo da
contribuição da empresa ao INSS, destinada ao financiamento dos benefícios concedidos em razão
do grau de incidência dos acidentes e subsidiar políticas de prevenção e fiscalização das empresas.
Observação
A sigla Dort foi introduzida para substituir a sigla LER por dois motivos:
primeiro porque a maioria dos trabalhadores com sintomas no sistema
musculoesquelético não apresenta evidências de lesão em qualquer
estrutura; a segunda razão é que além do esforço repetitivo, outros tipos
de sobrecargas podem ser nocivas para o trabalhador.
3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO
A CLT surgiu como necessidade institucional após a criação da Justiça do Trabalho em 1939. Ela é
chamada de Consolidação das Leis Trabalhistas, em vez de Código das Leis Trabalhistas, porque seu objetivo
foi apenas reunir a esparsa legislação trabalhista já existente na época, consolidando-a. A assinatura do
documento foi em 1º de maio de 1943.
Os equipamentos de proteção individual (EPIs) e de proteção coletiva (EPCs) para laboratórios são
de uso obrigatório. O uso de EPIs no Brasil é regulamentado pela NR-6 da Portaria n. 3.214/1978,
do Ministério do Trabalho e Emprego. No universo das NRs, quem regulamenta os equipamentos de
proteção individual é a NR-6.
33
Unidade I
Um EPI é um dispositivo de uso individual do trabalhador. Seu objetivo é proteger a saúde e manter
a segurança dos colaboradores de todas as áreas do laboratório. Constitui medida contra substâncias
irritantes e tóxicas, agentes infecciosos, materiais perfurocortantes e materiais submetidos a aquecimento
ou congelamento. O uso de EPIs é um direito do profissional de saúde e seu uso de maneira correta deve
ser orientado.
Esses equipamentos podem ser descartáveis ou não e devem estar à disposição dos profissionais
em número suficiente, de forma que seja garantido o imediato fornecimento ou reposição. Os itens
obrigatórios para os colaboradores de laboratórios de análises clínicas são jalecos, luvas, máscaras ou
respiradores, óculos de segurança ou protetores faciais. Se houver ruídos além dos níveis permitidos,
deve haver também protetores de ouvido para trabalhos muito demorados.
Uma situação que ocorre constantemente em estabelecimentos de saúde, e que expõe outras pessoas
a riscos desnecessários, é o uso dos equipamentos de proteção individual fora do ambiente para o qual o
seu uso está previsto. Essa situação vai contra a NR-6, que indica a importância de usá-los apenas para
a finalidade a que se destinam e responsabilizar-se por sua guarda e conservação. Os EPIs não devem
ser utilizados fora da área técnica.
Os EPIs devem apresentar o Certificado de Aprovação (CA) comprovando que esse equipamento
foi devidamente testado e está apto para comércio e uso. Antes de ser destinado à comercialização,
todo o equipamento de proteção deve passar por testes de conforto, resistência, durabilidade etc. É um
processo que deve ser realizado pelas empresas fabricantes e/ou importadoras de EPIs.
Após ser aprovado nesses testes por laboratórios credenciados, o EPI recebe o Certificado de
Aprovação (CA), o que garante que o equipamento fornecido aos trabalhadores é de qualidade e será
efetivo na hora de protegê-los.
Vale ressaltar que só podem ser comercializados no Brasil aqueles que possuam um CA; o fabricante
só obtém esse certificado se tiver um laudo fornecido por um laboratório credenciado pelo Inmetro para
sua avaliação.
A touca de proteção serve tanto para proteger o usuário quanto o produto manuseado. Protege o
usuário por evitar o contato do cabelo com máquinas que possam colocar em perigo o trabalhador ao ter
contato e, eventualmente, sugar, puxar ou enroscar-se nos cabelos. Já no caso de proteção de produto,
a touca capilar evita que cabelos caiam no produto manuseado, o que gera o risco de contaminação.
34
BIOSSEGURANÇA
A) B)
Os óculos de segurança servem para proteger o trabalhador em atividades que possam causar
ferimentos nos olhos provenientes de impacto de partículas, respingos; em trabalhos que possam
causar irritação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de líquidos agressivos e da ação de
radiações perigosas.
A figura a seguir mostra um modelo de óculos de segurança. Vale ressaltar que a diversidade de
formas dos óculos corresponde à diversidade de aplicações de segurança. A aplicação dos óculos
de segurança é específica, e a utilização de um modelo em uma aplicação para o qual ele não tenha sido
projetado não garante a segurança.
35
Unidade I
As máscaras são proteções para as vias respiratórias. Da mesma forma que os óculos de proteção,
as máscaras são específicas para o tipo de contaminante. Elas também apresentam diversas formas
construtivas, e sua especificação depende de diversos fatores.
Quando o profissional atuar em procedimentos com risco de geração de aerossol nos pacientes com
infecção suspeita ou confirmada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2019), deve utilizar a máscara de
proteção respiratória (respirador particulado) com eficácia mínima na filtração de 95% de partículas
de até 0,3 (tipo N95, N99, N100, PFF2 ou PFF3) (BRASIL, 2020d).
A máscara deverá estar bem ajustada à face e nunca deve ser compartilhada entre profissionais.
Acentua-se que forma de uso, manipulação e armazenamento deve seguir as recomendações
do fabricante.
A) B)
36
BIOSSEGURANÇA
Alguns tipos de máscaras trabalham filtrando o ar exterior, conforme os modelos mostrados nas
figuras a seguir.
Aventais, capas e outras vestimentas especiais de proteção para trabalhos em que haja perigo de
lesões provocadas por riscos de origem radioativa, biológica ou química.
37
Unidade I
Os profissionais não podem renunciar aos equipamentos de proteção individual. Como o próprio
nome diz, os EPCs dizem respeito ao coletivo, devendo proteger todos os trabalhadores expostos a
determinado risco.
Os EPCs essenciais aos laboratórios são capela, coletores de resíduos, chuveiro de emergência,
extintores de incêndio, lava-olhos e saída de emergência.
Vale ressaltar que todos são igualmente importantes, até porque todos os modelos citados podem
impedir complicações à saúde do indivíduo e salvar vidas.
Os extintores de incêndio vão ajudar a exterminar o fogo ou mesmo fazer com que as labaredas não
se espalhem.
38
BIOSSEGURANÇA
As saídas de emergência vão funcionar como rota alternativa, uma vez que a porta principal pode
estar emperrada, e todos poderão sair do ambiente que apresenta perigo com segurança.
Os coletores de resíduos ajudarão os trabalhadores a separar o que deverá ser descartado, respeitando
normas internas e as regras que minimizam os impactos ao meio ambiente.
Os chuveiros de emergência vão proteger os indivíduos do contato da pele com produtos químicos,
por isso, quando acontecer o incidente, a pessoa deverá chegar a ele nos primeiros 10 segundos, já que,
assim, não haverá tempo hábil para machucar a pele. Já os lava-olhos, como o próprio nome diz, servem
para proteger a visão.
39
Unidade I
A função primária de uma capela de exaustão é exaurir vapores, gases e fumos, mas serve também
como uma barreira física entre as reações químicas e o ambiente de laboratório, oferecendo proteção
aos usuários e ao ambiente contra a exposição de gases nocivos, tóxicos, derramamento de produtos
químicos e fogo. É considerado um equipamento de segurança que por si só não garante proteção se o
operador não estiver familiarizado com as técnicas corretas de uso.
Dentro dos laboratórios químicos, podem ser encontrados diversos tipos de contaminantes
potencialmente prejudiciais à saúde dos profissionais. Outros equipamentos muito importantes são as
capelas de fluxo laminar e de segurança biológica. Ambas são utilizadas para reduzir ou eliminar os riscos
dentro dos laboratórios de modo a proteger os usuários e as amostras durante os procedimentos.
A escolha entre os dois tipos deve ser feita de acordo com a necessidade a ser suprida, pois cada um
possui uma especificação diferente.
A capela de fluxo laminar é utilizada dentro dos laboratórios para promover a recirculação de 100%
do ar, criando áreas de trabalho estéreis para o manuseio de materiais biológicos que não podem
sofrer contaminação do meio externo, garantindo a proteção das amostras manipuladas. Existem duas
categorias, conforme apresentado:
• Fluxo laminar horizontal: realiza 100% da renovação do ar e oferece proteção apenas para
os materiais a serem manipulados. É constituído por um filtro Hepa (High Efficiency Particulate
40
BIOSSEGURANÇA
• Fluxo laminar vertical: 100% da recirculação do ar, oferecendo proteção tanto para o operador
quanto para o ambiente contra possíveis agentes contaminantes de risco. O filtro Hepa é localizado
na parte superior do equipamento, tendo a função de direcionar o ar filtrado para baixo, e de
forma vertical.
41
Unidade I
• Classe II A2: apresenta dois filtros Hepa e promove a recirculação de 70% do ar e a renovação de
30%, utilizando para cada técnica um filtro diferente. O ar filtrado é despejado e conduzido para
a área externa do ambiente por meio de um sistema de duto instalado do equipamento.
• Classe II B2: promove 100% da renovação do ar, com dois filtros Hepa, que são utilizados um
para o insuflamento e outro para exaustão, em que o ar é conduzido para fora do laboratório
através de um sistema de dutos. Esse modelo renova mais 30% do ar, formando uma cortina
protetora na parte frontal do equipamento.
4 LEGISLAÇÃO EM BIOSSEGURANÇA
A biossegurança é uma disciplina nova, surgida no século XX, voltada para o controle e a minimização
de riscos advindos da prática de diferentes ramos do conhecimento humano relacionados à saúde e ao
meio ambiente, seja em laboratório, produção de alimentos ou quando aplicadas a trabalhos de campo.
A biossegurança é regulada em vários países no mundo por um conjunto de leis, procedimentos ou
diretivas específicas.
No Brasil, a primeira legislação de biossegurança foi criada em 1995, focando apenas questões
relacionadas com a engenharia genética, que é a tecnologia do DNA ou RNA recombinante, estabelecendo
os requisitos para o manejo de organismos geneticamente modificados, para permitir o desenvolvimento
sustentado da biotecnologia.
Com relação ao aspecto relacionado ao trabalhador em sua atividade cotidiana, as normas tradicionais
de segurança laboratorial enfatizam o uso de boas práticas de trabalho, equipamentos de contenção
adequados, dependências bem projetadas e controles administrativos que minimizem os riscos de uma
infecção acidental ou ferimentos em trabalhadores de laboratório e, ainda, que evitem a contaminação
do meio ambiente.
Porém, medidas de biossegurança específicas precisam ser discutidas e adotadas por laboratórios de
pesquisa, aliadas a um amplo plano de educação baseado nas normas nacionais e internacionais quanto
42
BIOSSEGURANÇA
Embora os laboratórios clínicos e de pesquisas possam conter uma variedade de materiais biológicos,
químicos e radioativos perigosos, até o momento, existem poucos relatórios sobre o uso intencional de
quaisquer desses materiais de forma a causar prejuízos a outros.
A partir daí, o termo “biossegurança” foi sofrendo alterações. Na década de 1970, a Organização
Mundial da Saúde a definia como “práticas preventivas para o trabalho com agentes patogênicos para
o homem” (WHO apud COSTA; COSTA, 2002). O foco voltava-se para a saúde do trabalhador frente aos
riscos biológicos no ambiente ocupacional. Já na década de 1980, a própria Organização Mundial da
Saúde incorporou a essa definição os chamados riscos periféricos presentes em ambientes laboratoriais
que trabalhavam com agentes patogênicos para o homem, como os riscos químicos, físicos, radioativos
e ergonômicos.
4.1 Histórico
No Brasil, por iniciativa do então senador Marco Antônio Maciel, um projeto de lei de biossegurança
foi submetido à aprovação do Congresso Nacional em 1989.
O conhecimento e o interesse por essa área, no entanto, só foram fortalecidos com a Convenção
sobre a Diversidade Biológica, aprovada em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92 ou Rio 92.
Um maior interesse por normas definidas para o manuseio e uso de organismos geneticamente
modificados (OGMs), mais conhecidos como organismos transgênicos, partiu de instituições de pesquisa
que desenvolviam atividades de engenharia genética.
Porém, por não abordar assuntos polêmicos, como o uso terapêutico de células-tronco embrionárias
e a autorização para o uso comercial de alimentos transgênicos, a Lei n. 8.794/1995 foi revogada e
substituída pela Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005.
Essa lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo,
a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a
pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGMs e seus
derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia,
a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal e a observância do princípio da precaução para a
proteção do meio ambiente.
Ela regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal. Esse artigo diz
que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).
No artigo das definições, a Lei n. 11.105/2005 (BRASIL, 2005a) explica diversos termos técnicos como:
• Organismo: toda entidade biológica capaz de reproduzir ou transferir material genético, inclusive
vírus e outras classes que venham a ser conhecidas.
• DNA e RNA: material genético que contém informações determinantes dos caracteres hereditários
transmissíveis à descendência.
• DNA/RNA recombinante: as moléculas manipuladas fora das células vivas mediante a modificação
de segmentos de DNA/RNA natural ou sintético e que possam multiplicar-se em uma célula viva,
ou, ainda, as moléculas de DNA/RNA resultantes dessa multiplicação; consideram-se também os
segmentos de DNA/RNA sintéticos equivalentes aos de DNA/RNA natural.
Essa lei não se aplica quando a modificação genética for obtida por meio de diversas técnicas de
manipulação celular, desde que não impliquem a utilização de OGMs como receptor ou doador.
É preciso destacar que, para ser um OGM, o organismo deve ser resultado de técnicas utilizando
DNA/RNA recombinante.
45
Unidade I
IV – clonagem humana;
• Fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e entidades federais.
A CTNBio é o órgão que acompanha o desenvolvimento e o progresso técnico e científico nas áreas
de biossegurança, biotecnologia, bioética e afins com o objetivo de aumentar sua capacitação para a
proteção da saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.
c) Ministério da Saúde;
g) Ministério da Defesa;
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BIOSSEGURANÇA
Compete à CTNBio:
49
Unidade I
A Anvisa, por meio da RDC n. 11, de 16 de fevereiro de 2012, dispõe sobre o funcionamento de
laboratórios analíticos que realizam análises em produtos sujeitos à vigilância sanitária e dá outras
providências. A RDC n. 512, de 27 de maio de 2021, dispõe sobre as boas práticas para laboratórios de
controle de qualidade. De acordo com essas resoluções, a validação é feita por comprovação através
de fornecimento de evidência objetiva de que os requisitos para uma aplicação ou uso específicos
pretendidos foram atendidos.
Os laboratórios estão mais propensos a situações que envolvam riscos ocupacionais e são
considerados locais com alto potencial de acidentes, tendo em vista a natureza dos reagentes e
materiais utilizados, os equipamentos que podem expor os indivíduos a temperaturas extremas
e radiações, o contato com agentes patogênicos, entre outros fatores que são capazes de causar
danos à saúde dos trabalhadores e romper o equilíbrio físico, mental e social dos indivíduos
(BENATTI; NISHIDE, 2000; BRANDALIZE, 2013).
Para que esse sistema funcione de forma adequada e segura, torna-se necessário: disciplina;
respeito às normas e legislações pertinentes; trabalhar no contexto da qualidade e da biossegurança;
consciência ética. O ambiente laboratorial deve ser entendido como um sistema complexo, onde
existem interações constantes entre os fatores humanos, ambientais, tecnológicos, educacionais e
normativos. Essas interações, muitas vezes, favorecem a ocorrência de acidentes (BORBA et al., 2009).
As Boas Práticas de Laboratório (BPL) podem ser definidas como um conjunto de normas,
procedimentos e atitudes de segurança que têm como objetivo minimizar acidentes graves,
lesões e contaminações que possam comprometer a saúde das pessoas em ambiente laboratorial,
aumentando assim a segurança no local de trabalho. Objetivam avaliar o potencial de riscos e o
nível de toxidade dos produtos visando a promoção à saúde humana, animal e ao meio ambiente.
Renunciar aos cuidados com as BPL pode ocasionar riscos iminentes à saúde dos funcionários, bem
como à segurança e qualidade do trabalho ali desempenhado.
A Organization for Economic Co-operation and Development (OECD) define as BPL como um
sistema da qualidade relativo ao processo organizacional e às condições sob as quais estudos
não clínicos, ou seja, estudos biomédicos não realizados em humanos, referentes a saúde e meio
ambiente, são planejados, realizados, monitorados, registrados, arquivados e relatados.
Os princípios das BPL são aplicáveis em estudos que dizem respeito ao uso seguro de produtos
relacionados à saúde humana, vegetal e animal e ao meio ambiente. Com o intuito de garantir a
aplicação dos princípios das BPL, um dos instrumentos utilizados são os POPs.
O POP é um documento que expressa o planejamento do trabalho com vistas a padronizar e minimizar
a ocorrência de desvios na execução das atividades e, assim, garantir aos usuários serviços ou produtos
livres de variáveis indesejáveis, independentemente de quem as realize. Tem como meta garantir que a
qualidade da atividade prestada seja a mesma em todas as etapas do processo, em qualquer momento.
Serve para padronizar a execução de tarefas fundamentais, minimizando a ocorrência de erros durante
as atividades.
O objetivo principal do POP é garantir o funcionamento correto dos processos internos. Se ele for
coerente, o usuário do serviço, qualquer que seja o momento em que se relacione com o negócio,
poderá receber qualidade de atendimento ou serviços. Considerando as atividades executadas em um
laboratório, por exemplo, o serviço prestado pela manhã será o mesmo executado em outros turnos,
praticados por profissionais diferentes. O POP possibilita maior previsibilidade de resultados, além de
minimizar variações causadas por imperícia e aleatoriedades.
Entre os pontos mais comuns que constam no POP para laboratórios, estão instruções sequenciais
de operações; frequência de execução; especificação do responsável pelo trabalho; listagem dos
52
BIOSSEGURANÇA
equipamentos, peças e materiais utilizados na tarefa; descrição dos procedimentos da tarefa por
atividades críticas e de operação; roteiro de inspeção periódica dos equipamentos de produção.
Vale ressaltar que, internamente, o POP é um excelente instrumento de auditorias internas. Por
meio dele, a gerência de qualidade pode analisar a execução do trabalho dos diversos setores. Com o
documento, ela tem em mãos subsídios técnicos para indagar e verificar a eficácia da metodologia e sua
familiarização entre os auditados.
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Unidade I
Resumo
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BIOSSEGURANÇA
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Unidade I
Exercícios
“A necessidade de práticas de biossegurança nunca foi globalmente tão enfatizada como nas
circunstâncias atuais da pandemia. Biossegurança é a ciência voltada para a prevenção, o controle, a
minimização ou a eliminação de riscos de dano ou acidente advindos da prática em laboratório para
proteção da saúde humana, animal, do meio ambiente e da qualidade dos trabalhos desenvolvidos.
Práticas de biossegurança laboratorial são a aplicação de conhecimentos, técnicas e equipamentos
para mitigar o risco, nesse caso envolvido no manuseio da amostra biológica, e propiciar um ambiente
laboral seguro.
A) Laboratórios como esses trabalham com agentes de risco moderado, onde sangue e demais
líquidos corporais podem estar presentes, sendo, portanto, indispensável o uso de EPIs e
barreiras primárias e secundárias.
B) Esses laboratórios são classificados como locais de contenção, pois lidam com microrganismos
que representam alto risco individual e baixo risco para a comunidade. É o caso de laboratórios
clínicos, de diagnósticos, de pesquisa ou de produção. Seus controles de segurança são mais
rígidos e devem contar com equipe profissional com treinamento específico, supervisionada por
profissional altamente capacitado e com manutenção feita por empresas especializadas.
C) Esses laboratórios têm capacidade de manipular agentes biológicos com classe de risco 4, ou
seja, a mais elevada, como é o caso do SARS-CoV-2, considerado de alto risco e de mais difícil
tratamento em caso de contágio. Assim, o isolamento do ambiente e dos trabalhadores em relação
aos organismos infecciosos deve ser completo.
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BIOSSEGURANÇA
E) Esses laboratórios devem estar localizados em uma área isolada do prédio, com uma antessala
com portas duplas e com acesso controlado por fechaduras de segurança, além de sala específica
para troca de roupas. Há especificidades quanto ao sistema de ventilação e ar-condicionado para
que seja garantido o isolamento, e as janelas devem ter fechamento hermético.
A) Alternativa correta.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: sendo um laboratório classificado como NB-2, ele não atende a agentes biológicos
de classe de risco 1, mas, sim, mais elevados, o que faz com que sua configuração deva contar com
equipamentos compatíveis com esse risco.
E) Alternativa incorreta.
I – Os EPIs são, conforme a própria definição, individuais, sendo de responsabilidade dos trabalhadores
o custeio, a aquisição, a manutenção, a substituição e o descarte adequado.
III – Os EPIs têm como função neutralizar ou atenuar os agentes agressivos ao corpo do trabalhador,
evitando lesões ou diminuindo sua gravidade. Portanto, pode-se considerar que esses equipamentos são
importantes para a garantia da segurança durante a manipulação de equipamentos, de produtos ou de
alimentos, o que contribui para a qualidade das preparações e do fornecimento de alimentos.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: com a referida norma, tornou-se obrigatório que toda a empresa (e não o trabalhador)
forneça, gratuitamente, EPIs adequados ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento,
a todos os colaboradores e que se faça a substituição imediata caso estejam danificados ou tenham sido
extraviados. Além disso, a empresa deve cumprir e fazer cumprir as normas de segurança oficiais.
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BIOSSEGURANÇA
II – Afirmativa correta.
Justificativa: para sua própria segurança, assim como para a segurança dos demais trabalhadores,
cabe aos funcionários o conhecimento das normas de segurança do local de trabalho e a utilização dos
EPIs, cobrando da instituição o fornecimento, a manutenção e a substituição, quando isso for necessário.
Justificativa: de fato, o uso de EPIs ocorre no sentido de contribuir para a segurança do trabalhador
especialmente na diminuição dos riscos e dos acidentes, em diversas profissões.
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