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Controle Ambiental e

Recursos Naturais
Autora: Profa. Daniela da Cunha Souza Patto
Colaboradores: Prof. Ricardo Calasans
Profa. Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo
Professora conteudista: Daniela da Cunha Souza Patto

Mestre e doutora em Química pelo Instituto de Química da Unicamp. Possui graduação em Engenharia Química
pela Escola de Engenharia de Lorena (EEL – USP). Também concluiu pós‑doutorado na área de Controle de Qualidade
de Produtos Farmacêuticos e Cosméticos pela Universidade de São Paulo (USP).

Atuou como química de pesquisa na indústria farmoquímica no desenvolvimento de produtos farmacêuticos e


cosméticos, atuando também como auditora interna do sistema de gestão da qualidade (ISO 9001, ISO 14000 e Oshas
18000). Atualmente, é professora titular da Universidade Paulista – UNIP, ministra aulas nos cursos de Farmácia,
Engenharia Civil e Elétrica. A partir de 2014, assumiu a coordenação auxiliar do curso de Gestão Ambiental.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P294c Patto, Daniela da Cunha Souza.

Controle ambiental e recursos naturais. / Daniela da Cunha


Souza Patto. – São Paulo: Universidade Paulista - UNIP, 2016.

132 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-013/16, ISSN 1517-9230.

1. Controle ambiental. 2. Recursos naturais. 3. Segurança


do trabalho. I. Patto, Daniela da Cunha Souza. II. Título.

CDU 504.06

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Carla Moro
Lucas Ricardi
Sumário
Controle Ambiental e Recursos Naturais

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS...........................................................................9
1.1 Histórico e eventos............................................................................................................................... 20
1.2 Marcos significativos da legislação ambiental.......................................................................... 25
2 CONCEITOS DE GESTÃO AMBIENTAL........................................................................................................ 31
3 TÉCNICAS DE GESTÃO AMBIENTAL........................................................................................................... 39
4 CONTROLE DE POLUIÇÃO.............................................................................................................................. 42
4.1 Controle de poluição da água.......................................................................................................... 42
4.1.1 Controle de poluição do ar.................................................................................................................. 48
4.2 Controle ambiental de resíduos...................................................................................................... 57
4.2.1 Resíduos sólidos urbanos..................................................................................................................... 61
4.2.2 Resíduos de serviços de saúde (RSS)............................................................................................... 66
4.3 Importância da reciclagem para o meio ambiente................................................................. 71

Unidade II
5 COMPROMISSOS MUNDIAIS....................................................................................................................... 82
5.1 Protocolo de Quioto............................................................................................................................. 85
5.2 Rio+20....................................................................................................................................................... 86
5.3 Panorama da degradação da terra no Brasil.............................................................................. 88
5.3.1 A poluição, causas e consequências................................................................................................ 90
6 INSTRUMENTOS DE GESTÃO E CONTROLE AMBIENTAL..................................................................100
6.1 ISO 14000...............................................................................................................................................100
6.1.1 Normas sobre o Sistema de Gestão Ambiental – SGA (ISO 14001, ISO 14004,
ISO 14005)...........................................................................................................................................................103
6.1.2 Normas sobre as Auditorias Ambientais (ISO 14015, ISO 19011)......................................104
6.1.3 Norma sobre a Avaliação do Desempenho Ambiental (ISO 14031)..................................104
6.1.4 Norma sobre a Rotulagem Ambiental (ISO 14020 e seguintes).........................................104
6.1.5 Norma sobre a Avaliação do Ciclo de Vida (ISO 14040 e seguintes)................................105
6.1.6 Norma sobre os Aspectos Ambientais nos Produtos (ISO Guia 64, ISO TR 14062)..............106
6.1.7 Outras normas da série.......................................................................................................................106
7 FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL........................................................................................................................106
8 AUDITORIA AMBIENTAL...............................................................................................................................111
8.1 Auditores e seus papéis....................................................................................................................115
8.2 Aplicações e limitações das auditorias ambientais...............................................................115
8.3 Auditorias ambientais como ferramentas de gestão............................................................116
8.4 Análise de risco e medidas emergenciais..................................................................................117
APRESENTAÇÃO

A disciplina Controle Ambiental e Recursos Naturais propõe o estudo das relações da sociedade
com o meio ambiente, a utilização racional dos recursos naturais, o crescimento populacional e
suas consequências sobre o meio ambiente e a saúde do Homem. Temos como objetivo desenvolver
procedimentos técnicos e administrativos voltados para elevar a qualidade de vida da população,
aumentando a compreensão da relação do ser humano com o meio ambiente.

Este livro‑texto abordará a evolução histórica das questões ambientais, compromissos mundiais,
apresentando as conferências mais importantes, entre elas a Rio‑92, na qual foram escritos documentos
como a Carta da Terra e a Agenda 21. Vamos estudar ainda a polêmica Conferência de Quioto, marcos
significativos da legislação ambiental e conceitos e técnicas de gestão. Estudaremos a poluição, suas
causas e consequências e medidas para seu controle, como a importância da reciclagem. Por fim, veremos
os instrumentos de gestão ambiental, como ISO 14000 e auditoria ambiental, fiscalização ambiental, EIA
e Rima e análise de riscos e medidas emergenciais.

Com este material, esperamos despertar em você, aluno do curso de Segurança do Trabalho, a
consciência ambiental e a necessidade de gestão dos fatores ambientais inseridos no ambiente de
trabalho como ferramenta para melhoria da qualidade de vida.

INTRODUÇÃO

A questão ambiental vem ganhando importância nas últimas décadas. O homem, inicialmente,
mantinha uma relação de equilíbrio com a natureza. Para a sua sobrevivência, ele plantava e caçava
apenas o necessário para o seu consumo.

As atividades humanas começaram a gerar impactos ao meio ambiente quando a humanidade se


tornou sedentária e passou a viver em vilas, aldeias e cidades.

A natureza passou a ser um objeto de manipulação para satisfazer aos desejos do ser humano após
a Revolução Industrial, na segunda metade do século XVII. A partir disso, a comercialização de produtos
em grandes quantidades foi incentivada, aumentando o consumo excessivo de recursos naturais e,
simultaneamente, gerando resíduos nos processos de produção industrial, que causaram a poluição
do solo, da água e do ar. O respeito que o homem tinha pela natureza foi substituído pela exploração
predatória, levando à crise ambiental.

A população rural começou a migrar para as cidades devido ao desenvolvimento industrial,


buscando trabalho e melhoria da sua condição econômica, o que gerou uma concentração humana
das áreas urbanas. A exploração de recursos naturais utilizados como matéria‑prima foi necessária para
suprir à demanda de produtos para o consumo, além do consumo de energia não renovável, causando
grandes impactos ambientais, como a geração de resíduos e poluição. Essa mudança de estilo de vida da
humanidade, com o consumo irresponsável, gerou a crise ecológica.

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Atualmente, estamos tentando remediar essa situação e utilizamos várias ferramentas de gestão
ambiental para desempenharmos uma tarefa tão complexa. Os fatos mais importantes e as ferramentas
de gestão ambiental serão apresentados ao longo deste livro‑texto.

Boa leitura!

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CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Unidade I
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS

Começaremos nosso estudo descrevendo uma sequência de eventos que promoveram os moldes da
sociedade em que vivemos hoje e os danos causados ao meio ambiente. A História revela momentos da
capacidade humana de ações brilhantes e outras desastrosas.

10000 a.C.: a humanidade começou a plantar e cultivar alimentos no “crescente fértil”, ao leste do
Mediterrâneo (norte da Turquia, sul do Egito).

6000 a.C.: na Mesopotâmia, a irrigação apareceu como nova forma de cultivar alimentos.

4000 a.C.: o desenvolvimento das aldeias na Mesopotâmia ocorreu com a construção de muralhas,
distinguindo‑as do resto.

2000 a.C.: os impactos gerados por suas atividades humanas não provocavam prejuízos na natureza.
Eram 27 milhões de pessoas vivendo no planeta.

Ano zero: aproximadamente 100 milhões de pessoas viviam na Terra.

1500 d.C.: os portugueses chegaram ao Brasil, invadiram uma praia e, poucos dias depois, para
realizar uma missa, iniciaram o desmatamento, abrindo uma clareira na mata e derrubando árvores
para construir uma cruz gigantesca. Gaspar Lemos, ao voltar para Portugal, levou a carta de Pero Vaz
de Caminha falando sobre a exuberância da “nova” terra. Dessa forma, começou o contrabando dos
recursos naturais, a princípio pau‑brasil e espécies de papagaios.

1503: deu‑se início ao comércio do pau‑brasil: 200 mil km de Mata Atlântica original foram extraídos,
sobrando apenas 7%, que continuam ameaçados.

1542: a Carta Régia do Brasil estabeleceu regras para o corte de madeira.

1543: Copérnico provou matematicamente que a Terra gira em torno do Sol, publicando a teoria
heliocêntrica.

1667: Newton publicou as leis básicas da mecânica, óptica e gravitação universal. Era o início
da descoberta de que existem leis que regem o universo. Na Inglaterra, morreu quase um terço da
população infectada por peste bubônica.

1825: um bilhão de pessoas habitavam o planeta Terra.


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Unidade I

1827: por meio da Carta de Outubro, o império português delegou poderes aos juízes das províncias
para fiscalização das florestas.

1840: com o aparecimento da primeira praga agrícola, aproximadamente 1 milhão de pessoas


morreram de fome na Irlanda; a plantação de batata foi contaminada por um fungo.

1850: a exploração florestal das terras brasileiras foi proibida pela Lei nº 601 (BRASIL, 1850), editada
por D. Pedro II. A lei ainda forneceu poderes às províncias para a sua execução. Ela foi ignorada e houve
grande devastação de florestas, principalmente para o cultivo de café para exportações. Foi utilizada
uma das piores técnicas de plantio do ponto de vista do impacto ambiental: as queimadas. Na Europa,
Estados Unidos, Inglaterra e Japão, a maior parte da população se concentrava nas cidades.

1859: em A Origem das Espécies, Darwin afirmou que todas as vidas são produtos do ambiente e
publicou sua teoria da seleção natural.

1864: Marsh documentou como os recursos do planeta estão sendo devastados e prevê que essa
exploração vai exaurir os recursos naturais do planeta em seu livro O Homem e a Natureza: a Geografia
Física Modificada pela Ação do Homem. Foi o primeiro exame detalhado da agressão humana à natureza.

1872: a inauguração da primeira empresa especializada no corte de madeira foi autorizada pela
princesa Isabel.

1875: foi encerrado o ciclo do pau‑brasil. Como resultado, notou‑se o abandono e a devastação
das matas.

1889: a educação ambiental teve como princípio colocar os indivíduos em contato com a realidade de
seu ambiente, focando prioritariamente nas crianças e estimulando o desenvolvimento da criatividade
para solucionar problemas.

1891: até essa data não existia nenhuma lei na Constituição Brasileira, revisada no mesmo ano,
que promovesse a preservação das florestas e da fauna. Nesse período, os recursos naturais brasileiros
estavam sob forte pressão do extrativismo europeu.

1905: a ciência sofreu uma revolução com a Teoria da Relatividade, de Einstein.

1908: a política americana iniciou a discussão de temas de conservação ambiental. O presidente


Roosevelt promoveu uma conferência dos governadores para discutir o tema.

1920: o pau‑brasil foi extinto. Mesmo com tantas floretas, o Brasil não possuía um código florestal.

1923: a produção dos automóveis de Henry Ford aumentou muito devido à nova maneira de
produção em linha de montagem, chegando a 12 milhões de unidades em 1925.

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CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

1934: o ensino e pesquisa de ecologia foi implantado por Rawitscher nas escolas brasileiras; inicia‑se
o movimento ecológico no Brasil. O Decreto nº 23.793 (BRASIL, 1934) foi o anteprojeto do Código
Florestal; foi criada a primeira unidade de conservação, o Parque Nacional de Itatiaia.

1939: o Parque Nacional Iguaçu foi criado por meio do Decreto‑lei nº 1.035 (BRASIL, 1939).

1945: os Estados Unidos lançaram sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, as bombas atômicas. Na
Grã‑Bretanha, surgiu o termo “environmental studies” (estudos ambientais).

1947: foi fundada, na Suíça, a União Internacional de Conservação da Natureza (IUNC), que tinha
como objetivo a conservação ambiental. Foi considerada referência até 1972, quando o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) foi criado.

1952: a morte de 1.600 pessoas em Londres foi provocada pelo smog, ar extremamente poluído. Em
1956, foi aprovada a Lei do Ar Puro pelo parlamento inglês, devido à conscientização sobre a melhoria
da qualidade do ar.

Observação

Smog é um termo geral usado, desde 1905, para uma mistura de


fumaça (smoke) e neblina (fog) que produz um ar urbano insalubre. Nessas
condições, são liberadas na atmosfera partículas de NOx e hidrocarbonetos.

1962: foi publicado o livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, que se tornou um clássico do
movimento ambientalista.

Saiba mais

Para saber mais sobre os danos causados pelo ser humano ao meio
ambiente, leia:

CARSON, R. Primavera silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1968.

1965: o Prêmio Nobel da Paz foi para Schweitzer, por tornar popular a ética ambiental. A educação
ambiental começou a fazer parte da educação nas escolas da Grã‑Bretanha.

1966: o Pacto Internacional sobre Direitos Humanos pela Assembleia Geral da ONU foi estabelecido
neste ano.

1968: foi fundado o Clube de Roma, liderado por Aurelio Peccei e mais trinta especialistas de
várias áreas. Os integrantes passaram a se reunir para discutir a crise e o futuro da humanidade. Na

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Unidade I

ONU, a delegação da Suécia chamou atenção da comunidade internacional para a crise ambiental,
sendo considerada a primeira observação oficial e incentivando a busca de soluções contra a piora dos
problemas ambientais.

1970: as primeiras leis sobre educação ambiental foram promulgadas nos Estados Unidos. Os ideais
sobre meio ambiente foram disseminados pela revista Ecologist. Os projetos que provocaram grandes
impactos ambientais, com os quais convivemos até hoje, foram iniciados neste ano: o projeto Grande
Carajás (sudeste do Pará, norte de Tocantins e sudoeste do Maranhão), construção de 900 km de ferrovia
(Pará e Maranhão) e a usina hidrelétrica de Tucuruí.

1971: na assembleia das Nações Unidas, os países desenvolvidos propuseram que as reservas
ambientais fossem controladas pelo fundo mundial. O primeiro exemplar do Bulletin of Environmental
Education foi publicado na Grã‑Bretanha. Seus artigos divulgavam estudos ambientais que promoviam
o entendimento das relações da sociedade no contexto urbano.

1972: o relatório publicado pelo Clube de Roma, Limites do Crescimento, estabeleceu modelos
do planeta baseados nas técnicas de análise de sistemas, prevendo como seria o futuro se não
houvesse alterações nos modelos de desenvolvimento econômico. O relatório indica que o consumo
excessivo e o descarte de produtos e embalagens, o crescimento da sociedade a qualquer custo e
o objetivo de se tornar cada vez maior, mais rica e poderosa, não considerando o custo final desse
crescimento, podiam levar a humanidade a um possível colapso. Certamente, a classe política
negou essas observações.

Foi realizada em Estocolmo uma conferência da ONU sobre o meio ambiente, que reuniu chefes de
estado de 113 países. A conferência gerou um documento, a Declaração sobre o Ambiente Humano, que
estabeleceu um plano de ação mundial para melhoria da qualidade de vida dos povos e a preservação
ambiental. A base dessas ações é a educação ambiental, que sempre foi e continua sendo considerada
uma etapa crítica no combate à crise ambiental.

Houve muitas controvérsias durante essa conferência, pois os representantes dos países menos
desenvolvidos culpavam os representantes dos países desenvolvidos de limitar seu desenvolvimento
industrial alegando como desculpa a poluição. Os representantes do Brasil afirmavam ser favoráveis à
poluição, não dando importância para a degradação ambiental gerada, desde que aumentasse o Produto
Nacional Bruto (PNB). Um cartaz dizia que a poluição era bem‑vinda e que o País receberia com prazer
as empresas que trouxessem dólares e que gerassem empregos e desenvolvimento. O Brasil estava na
contramão da História: enquanto o mundo se preocupava com a redução da poluição, o País abria‑se
para as empresas interessadas na exploração predatória da natureza e ao modelo de desenvolvimento
insustentável (DIAS, 2004).

1974: primeiro alerta sobre a diminuição da camada de ozônio devido ao uso do gás CFC em sistemas
de refrigeração.

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CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Observação

Os gases clorofluorcarbonos (CFCs) são utilizados como propelentes dos


aerossóis em latas de sprays e como gases de refrigeração. O gás reage com
o ozônio, ajudando na destruição da camada de ozônio.

1975: a Conferência de Belgrado foi um encontro promovido pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para formular um programa internacional de educação
ambiental a ser implantado no mundo todo. O estudo deve ser feito de maneira contextualizada,
levando em conta os problemas regionais, com o objetivo de resolver problemas de interesse nacional.
Essa conferência publicou a Carta de Belgrado, que trata do desenvolvimento do ambientalismo.

1976: a reunião sub‑regional de educação ambiental para o ensino secundário ocorreu no Peru; foi
ressaltada a questão do meio ambiente na América Latina ligada às condições básicas de sobrevivência.
O Ministério de Educação e Cultura (MEC) assinou o protocolo de intenções, que visava implantar no
currículo escolar temas ecológicos, mas o estudo foi restrito à ecologia descritiva sem contextualização.

A I Conferência Intergovernamental sobre a Educação Ambiental, promovida pelo Pnuma e pela


Unesco, ocorreu em Tbilisi, na Georgia. Esse encontro foi uma extensão da Conferência de Belgrado
e representou o ponto inicial do programa de educação ambiental; foram definidos os objetivos mais
importantes e traçados planos de implantação nacionais e internacionais.

1979: no Brasil, uma proposta de ensino de Ecologia para 1º e 2º graus, cuja ementa era reducionista,
foi implantada, mas não levava em conta problemas sociais, econômicos, políticos e culturais, como
recomendado em Tbilisi.

1980: após o Seminário Regional Europeu para Educação Ambiental para Europa e América do
Norte, organizado pela Unesco, chegou‑se à conclusão de que era necessário maior intercâmbio de
informações e experiências entre os países. Infelizmente, apenas 20 países compareceram à reunião. A
Agência de Proteção Ambiental americana (EPA) calcula que 70 mil produtos químicos eram fabricados
nos Estados Unidos e cerca de 1.000 produtos novos eram produzidos por ano.

1981: 2 milhões de hectares de florestas, no período de dois anos, foram desmatados para o
crescimento de Rondônia e Roraima; esse empreendimento foi custeado pelo Banco Mundial. Nem
o governo brasileiro nem a Constituição de 1891 faziam referência ao meio ambiente; os projetos
ambientais nunca saíam do papel, eram demagógicos e estavam sempre na contramão dos planos do
governo brasileiro (DIAS, 2004).

1984: o governo mostrou a sua indiferença em relação às resoluções da conferência de Tbilisi quando
retirou da pauta de votação a proposta do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabeleceu
diretrizes para a educação ambiental. Esse projeto não voltou mais para votação em plenário. No mesmo
ano, em Bhopal, na Índia, o metilisocianato, um gás venenoso, vazou de uma fábrica, matou mais de 2 mil

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Unidade I

pessoas e feriu outras duzentas. Esse acidente industrial foi o mais grave do mundo até então e mostrou
as sérias consequências quando uma população não tem informação ambiental.

1986: a resolução 001/86 do Conama foi aprovada, o que promoveu as bases e as diretrizes gerais
para implementar a avaliação de impacto ambiental.

No mesmo ano, ocorreu o acidente em Chernobyl, na Ucrânia, uma explosão de um dos reatores
da usina nuclear, deixando escapar de 60% a 90% do combustível atômico; aproximadamente 10
mil pessoas morreram. O acidente afetou cerca de 4 milhões de pessoas, pois a nuvem radioativa se
espalhou pelas Repúblicas Soviéticas e por cinco países da Europa. Acredita‑se que cerca de 20 mil
pessoas morrerão de câncer nos próximos cinquenta anos devido à radiação absorvida (DIAS, 2004).

Foi realizado o primeiro curso de especialização em educação ambiental, em Brasília, organizado pela
Secretaria do Meio Ambiente (Sema), Fundação Universidade de Brasília (FUB), Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com o objetivo de formar
pessoas para a implantação dos programas ambientais no Brasil e fomentar uma consciência crítica para o
desenvolvimento do projeto. Infelizmente, o governo rapidamente boicotou e encerrou a iniciativa.

1987: foi divulgado o relatório da Comissão Mundial, “Nosso Futuro Comum”, que ressaltava o
desenvolvimento sustável, a função da economia internacional, a elaboração de propostas reais para
resolver os problemas ambientais, sem comprometer os recursos naturais para as gerações futuras.

No mesmo ano, em Goiânia, ocorre mais um acidente ambiental: uma cápsula de césio‑137 foi
retirada de um equipamento de radioterapia em um ferro‑velho sem os cuidados necessários, levando
quatro pessoas a óbito, contaminadas pela radiação. Mais um acidente que mostra como a sociedade
está despreparada para resolver e conviver com problemas desse tipo.

No Congresso Internacional de Moscou, organizado pela Unesco – Pnuma, sobre educação e formação
ambientais, foram apresentadas as dificuldades e conquistas relacionadas ao tema desde a conferência
de Tbilisi e determinadas novas estratégias de ação para os próximos anos. Os países apresentaram um
relatório de evolução de acordo com o que foi estabelecido em Tbilisi. Os representantes do Brasil não
levaram nada para apresentar.

O Protocolo de Montreal tinha como objetivo diminuir a emissão de poluição, evitando o aumento
do “buraco” da camada de ozônio. Essa proposta foi baseada no encerramento da fabricação e uso dos
gases CFCs até o ano 2000.

1988: em São Paulo, os 4,5 milhões de automóveis que circulavam pela cidade causavam 90% da
poluição do ar. Nessa época, a Cetesb e a Secretaria do Meio Ambiente promoveram um alerta sobre
a qualidade do ar e elaboraram uma campanha de coletivização com a participação da população.
Duzentos mil veículos pararam de circular pelo centro expandido da cidade em resposta à alta degradação
do meio ambiente. Na Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, existem capítulos que destacam
preocupações com o meio ambiente.
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CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

1989: a Lei nº 7.735 (BRASIL, 1989a) criou o Ibama, que tem como objetivo estabelecer, coordenar e
executar a política de conservação e preservação dos recursos naturais em todo o país. Essa criação foi
vista como mais um incentivo à educação ambiental.

O petroleiro Exxon Valdex, americano, colidiu com rochas e derramou quarenta e duas mil toneladas
de óleo cru no mar do Alasca, mais um acidente ambiental de grande porte, produzindo uma mancha de
250 km2 e gerando prejuízos ambientais a 1.700 km de costa. O acidente matou 34 mil aves, 980 lontras
e milhares de peixes e outros animais marinhos.

A lista de animais em extinção, em território brasileiro, chegou a 25 espécies, segundo a sociedade


Brasileira de Zoologia, contra 60 espécies em 1973 (DIAS, 2004).

O Fundo Nacional de Meio Ambiente foi criado por meio da Lei nº 7.797 (BRASIL, 1989b). Ele é a
principal fonte de verba de projetos relacionado para o meio ambiente.

1991: todos os sistemas de ensino deveriam implantar em seus currículos temas relacionados com a
educação ambiental, segundo a portaria do MEC.

O Projeto de Informações sobre Educação Ambiental do Ibama – MEC foi publicado como um encarte,
com orientações básicas sobre Educação Ambiental, possuindo objetivos, recomendações e limitações
em relação às necessidades nacionais (DIAS, 2004). Esse encarte foi o primeiro documento divulgado
formalmente pelo governo brasileiro baseado nas recomendações de Tbilisi.

Durante a Guerra do Golfo, sete milhões de barris de petróleo foram jogados no oceano, o que gerou
prejuízos incalculáveis ao meio ambiente marinho. Após a guerra, 590 poços de petróleo do Kuwait
foram incendiados, acarretando aparecimento de nuvens de fumaça negra espalhadas por toda a região.
Mais uma ação irresponsável do homem em relação à natureza.

1992: a conferência da ONU sobre meio ambiente foi sediada no Rio de Janeiro e 170 países
participaram. Nesse encontro, também conhecido como Rio‑92, foram discutidos: a situação ambiental
do mundo e as mudanças, os progressos realizados desde a Conferência de Estocolmo, a determinação
de estratégias globais e ações para solucionar as questões ambientais mais impactadas, estabelecendo
diretrizes para medidas de proteção e preservação ambiental através do desenvolvimento sustentável,
otimizando a legislação ambiental internacional e promovendo estratégias de desenvolvimento
ambiental. Foi também estabelecida a necessidade de alteração do modelo de desenvolvimento atual
para o desenvolvimento sustentável. O encontro gerou vários documentos que foram publicados, entre
eles a Agenda 21, na qual foram estabelecidos planos de ação para o desenvolvimento sustentável.
Dessa forma, a educação ambiental foi considerada como ponto estratégico para uma mudança de
comportamento para um novo estilo de vida.

Em Toronto (Canadá), ocorreu o Congresso Mundial de Educação e Comunicação sobre o Meio


Ambiente e Desenvolvimento, no qual foram determinadas e promovidas ações mais realistas para
melhorar a educação ambiental.

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Unidade I

1993: o MEC implantou centros de excelência em meio ambiente, nacionais e estaduais, seguindo
as diretrizes da Agenda 21. Os centros tinham como função principal a formação ambiental de recursos
humanos numa determinada região por meio de ações capacitando e informando os cidadãos na
questão ambiental. Foi inaugurado pela Universidade do Rio Grande (RS), um Centro de Educação
e Formação Ambiental Marinha. Podemos ainda citar outros centros que funcionam em Porto
Seguro (BA), Manaus (AM), Foz do Iguaçu (PR) e Fernando de Noronha (PE). A falta de continuidade
administrativa do governo provocou prejuízos ao desenvolvimento dos programas ambientais no
Brasil. Como exemplo, temos o Ibama que, em menos de três anos, teve oito presidentes. O governo
mostrou uma falta de vontade em considerar a questão ambiental como uma prioridade, destinando
apenas 0,03% do seu orçamento para este fim.

1995: ocorreu em Berlim a Primeira Conferência das Partes para a Convenção sobre Mudanças
Climáticas. A conferência foi um fracasso total, pois visava alcançar adesões voluntárias a um programa
de reduções das emissões nos países industrializados. Como resultado ficou estabelecido o Mandato de
Berlim, que tinha como objetivo específico a redução das emissões.

1997: visando estabelecer um acordo, os líderes dos oito países mais ricos, que são responsáveis por
metade das emissões de gases de efeito estufa, se encontraram em Denver, no Colorado. Os Estados
Unidos não mostraram comprometimento com a causa, não estabelecendo metas significativas para
reduzir a poluição.

O Presidente dos Estados Unidos na época, Bill Clinton, anunciou a sua posição para a Conferência
de Quioto. Os Estados Unidos tinham o objetivo de estabilizar as emissões nos níveis de 1990 até o
ano 2012. Entretanto, todos esperavam reduções mais significativas, devido à crise global causada pelo
efeito estufa.

Questões ambientais são incorporadas aos currículos escolares de forma transversal e os conteúdos
reducionistas são retirados dos currículos. O MEC divulga os novos parâmetros curriculares nacionais – PCN.

Foi realizada no Japão, em 11 de dezembro, a Conferência de Quioto, com a participação de 38 países


industrializados, que concordaram com a redução, até 2012, de suas emissões de gases causadores de
efeito estufa a níveis abaixo dos detectados em 1990. Os Estados Unidos concordaram com 7% de
redução, a União Europeia, com 8%, e o Japão, com 6%. Muitas questões ficaram sem resolução. Os
maiores poluidores do planeta não queriam abrir mão de seu desenvolvimento predatório. Ainda existia
uma negociação para “cotas de emissões”: os países que não batessem a sua cota de emissões ficariam
com créditos, que podiam ser vendidos para países que ultrapassassem suas metas de poluição. Pode‑se
dizer que os resultados dessa conferência foram decepcionantes.

Na Alemanha, foi promulgada uma lei que responsabilizava os fabricantes de produtos por todo o
material de embalagem que geravam, o que levou ao aumento da reciclagem de materiais.

1998: a Lei dos Crimes Ambientais (BRASIL, 1998) sofreu todos os tipos de boicotes na Câmara
e no Senado, tanto pelo governo quanto por aqueles que utilizavam os recursos naturais de forma
predatória, mas representou uma vitória quando foi publicada no diário oficial.
16
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Em Buenos Aires, Argentina, ocorreu a IV Conferência das Partes para a Convenção das Mudanças
Climáticas. O encontro visava acompanhar os resultados obtidos desde a Rio‑92. Os representantes
dos países participantes determinaram um plano de ação, estipulando prazos sobre a implantação de
medidas sobre o comércio de emissões e mecanismos de produção limpa. Dessa vez, os Estados Unidos
assinaram o protocolo.

Observação

Os Estados Unidos, governados pelo presidente Bill Clinton, se negaram


a assinar o Protocolo de Quioto em 1997.

O fenômeno El Niño provocou sérias alterações climáticas, causando as maiores inundações da


história da humanidade.

1999: segundo a Organização Mundial de Saúde, o estresse é a doença que mais mata pessoas no
mundo, tornando‑se uma epidemia global.

O Seminário Internacional de Biodiversidade e Transgênicos foi realizado em Brasília e teve como


objetivo chamar a atenção não somente para o problema do uso dessa nova tecnologia, mas também
para o seu controle. Ainda não existia uma avaliação das consequências causadas pela sua utilização,
nem para os seres vivos nem para os ecossistemas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial queriam promover a redução da distância
entre as classes sociais, na Conferência das Nações Unidas para o Comércio. Essa ação foi justificada
pelos resultados apresentados pelo relatório do Banco Mundial, “Informe do Desenvolvimento Mundial
1999/2000”. O relatório apontou que existiam 1,5 bilhões de pessoas, cerca de 23,5% da população
mundial, vivendo com menos de um dólar por dia, sendo esta uma condição considerada de miséria.
Aproximadamente quarenta milhões de pessoas morrem de fome por ano no mundo (DIAS, 2004).

A Lei dos Crimes Ambientais (BRASIL, 1998), regulamentada pela Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro
de 1998, e pelo Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999, revogado pelo Decreto nº 6.514, de 22
de julho de 2008 (BRASIL, 2008), estabeleceram multas por crimes e infrações ambientais no valor de
R$ 50 a R$ 50 milhões, de acordo com o impacto negativo causado ao meio ambiente.

Nessa época, existiam 43 milhões de indigentes (indivíduo que ganha menos que R$73 por mês),
representando 28% da população no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(Ipea). Um estudo da OMS mostrou que 50,2% da população brasileira possuía renda menor que
R$ 149 por mês e era considerada pobre. Bahia e Maranhão são considerados os estados mais pobres.
A distribuição da renda brasileira é extremamente desigual: 20% da população arrecadam 63% da
renda nacional, enquanto 50% da população arrecadam apenas 11% da renda.

A Empresa de Proteção Ambiental do Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, foi premiada pelo
então presidente Fernando Henrique Cardoso com o Prêmio Nacional de Qualidade, pois apresentou uma
17
Unidade I

iniciativa notável e padrões elevados de ecoeficiência, possuindo um programa de educação ambiental


reconhecido.

Um furacão destruiu a Índia e matou quase dez mil pessoas na região de Bengala. Devido às altas
concentrações de fosfato e amônia presentes na água, provenientes das indústrias da região, os corpos
retirados da água estavam mumificados.

A energia eólica (proveniente do vento) é uma realidade e é considerada a forma de energia mais
limpa do mundo. Países como Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos, Índia e Espanha já estavam
utilizando esse tipo de energia para fins comerciais e industriais. No estado do Ceará, aproximadamente
160 mil pessoas também estavam utilizando a energia eólica (DIAS, 2004).

O Brasil é o recordista da América Latina em malária, a terceira doença infecciosa que mais mata no
mundo, com 40% dos 1,2 milhões de infectados. A maior parte dos infectados estão na África (80%).
Em 1999, ainda foram registrados mais de 200 mil casos de dengue e quase 5 mil de cólera, doenças
infecciosas promovidas pela falta de saneamento e condições básicas de higiene. Entretanto, o Brasil
ainda estava entre os dez países mais ricos do mundo.

2000: mais acidentes ambientais aconteceram, como o vazamento de petróleo da Refinaria Duque
de Caxias, jogando 1,3 milhões de litros de óleo na baía da Guanabara e atingindo uma área de 50
km2. Logo em seguida, em outro vazamento no duto da Refinaria Getúlio Vargas, 4 milhões de litros de
óleo cru vazaram nos rios Barigui e Iguaçu, causando prejuízos à captação de água para os municípios
vizinhos e muitos impactos ao meio ambiente. O aumento da população do Rio de Janeiro e a chegada
dos turistas superlotou a cidade. Assim, 216 milhões de litros de esgoto diários foram jogados nas lagoas
de Camorim, Tijuca, Jacarepaguá, Lagoinha e Marapendi, sem nenhum tratamento. No carnaval, como
consequência de tanta poluição e descaso, foram retirados da Lagoa Rodrigo de Freitas 130 toneladas
de peixes mortos. Isso mostrou a incapacidade e a falta de vontade dos governantes com relação à
organização da sociedade, principalmente em relação ao saneamento básico.

No município de Palmas, no Paraná, foi inaugurada uma usina eólico‑elétrica que produzia 6,5
milhões de kW/h, o suficiente para abastecer cerca de 4 mil residências.

Devido à falta de chuvas, a cidade de São Paulo viveu a maior seca do século e os reservatórios
atingiram quantidades críticas de água. Essa situação foi gerada graças ao desperdício e à ocupação
desordenada do solo, provocando o racionamento de água. Mais de cinco milhões de pessoas mantêm
residência em condições irregulares, dos quais quase três milhões não têm saneamento e infraestrutura
adequados. As áreas verdes estão sumindo e a cidade está cheia de pragas, como baratas, ratos e
formigas. A seca atingiu o estado do Paraná e as cidades de Recife e Belém, que também sofreram com
o racionamento de água.

Produzimos 240 mil toneladas de lixo por dia, 75% dos quais não têm a destinação final adequada:
são despejados em lixões. Somente 15% do plástico é reciclado, enquanto a reciclagem de alumínio
ultrapassa os números de reciclagem da Alemanha, Inglaterra e Japão graças à ação de catadores de lixo,
evidenciando a miséria e a falta de empregos.
18
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

A comissão mista do congresso nacional, em 10 de maio, aprovou mais uma vergonha nacional:
a alteração do Código Florestal, aumentando de 20% para 80% a área que pode ser explorada na
Amazônia. Assim, a vegetação em cima dos morros e nascentes e margens de rios ficavam desprotegidas
por lei. Após comoção e revolta internacional e muita discussão, a proposta foi abandonada. No mesmo
ano, propôs‑se transformar os manguezais brasileiros em áreas de criação de camarões para comércio.
Felizmente, esse projeto também foi rejeitado.

A frota de automóveis do mundo só cresce e consumimos cerca de 67 milhões de barris de petróleo


por dia. O carro é o símbolo do prestígio e do status da sociedade moderna e, ao mesmo tempo, também
é o grande vilão poluidor das grandes cidades.

As ONGs internacionais passaram a comprar áreas para a preservação depois que a política ambiental
internacional perdeu a credibilidade devido à falta de ética dos legisladores. Assim, por exemplo, a The
Nature Conservancy comprou o Atol Palmyra, no Havaí. A Conservation International comprou uma
fazenda no Rio Negro, no Pantanal. Existiam, em 2000, 420 propriedades particulares destinadas à
preservação ambiental no Brasil (DIAS, 2004).

Orientadas por organizações não governamentais, comunidades nos Estados Unidos e Europa
alcançaram a redução de 42% na produção de resíduos, economia de 16% de água e 15% de redução
no consumo de combustível. As ONGs reuniram os cidadãos comuns para discutir e determinar maneiras
de reduzir a produção de resíduos, reduzir o consumo de água e energia e consumir produtos verdes.

A violência é gerada por um sistema insustentável e equivocado de desenvolvimento econômico,


que produz riquezas que não são distribuídas de forma homogênea, causando a exclusão social. No
Brasil, em 2000, 74 mil pessoas foram mortas, número superior aos 57 mil soldados mortos na Guerra
do Vietnã, por exemplo (DIAS, 2004).

Os estados do Pará e Mato Grosso são os campeões em devastação ambiental no País. As questões ambientais
foram muito agravadas nos últimos 20 anos no Pantanal. Houve a introdução de pastagens artificiais na
criação de gado, exploração predatória das florestas, inauguração de polos turísticos sem infraestrutura básica,
contaminação dos rios com esgoto e lixo, pesca predatória, mineração ilegal e a navegação irresponsável.
Esses fatos mostram o quadro de insustentabilidade vivida e o descaso das autoridades locais.

A miséria contempla 1/4 da população do mundo, 1/3 dos adultos são analfabetos, 1/3 não possui
acesso à água potável, 1/3 das crianças estão abaixo do peso normal e o desemprego aumenta, sem
mencionarmos o número de brasileiros que trabalham informalmente e não têm nenhuma proteção
social e trabalhista. Mais dados mostram que a insustentabilidade do sistema e a saúde da população
estão intimamente ligados a esses fatores.

Ao mesmo tempo, na Áustria, Dinamarca, Bélgica, Alemanha, Suíça, Suécia e Luxemburgo, a


porcentagem de lixo orgânico reciclado cresce para 85%. A Alemanha declarou que vai desativar as
nove usinas nucleares em funcionamento até 2021, de forma progressiva, adotando novas formas
de energia limpa. Mesmo com essas medidas, o país ainda terá que resolver o problema gerado pelo
armazenamento de resíduo das usinas nucleares.
19
Unidade I

Quais fatores a OMS levou em consideração para classificar o Brasil como 12º colocado entre 191
países em relação ao atendimento à saúde? Afinal, nós, brasileiros, sabemos que o sistema de saúde é
precário e ineficiente.

Especialistas brasileiros de várias áreas se reuniram para discutir temas como: diminuição da
desigualdade social, gerenciamento dos recursos naturais, ciência e tecnologia para o desenvolvimento
sustentável, infraestrutura, agricultura sustentável e cidades sustentáveis e elaboraram um documento
que foi nomeado Base para a Discussão da Agenda 21 Brasileira. A mídia não deu importância ao fato.

A Embrapa desenvolveu uma nova tecnologia que revolucionou o plantio de soja na Dakota
do Norte, nos Estados Unidos, aumentando a produção e proteção do ambiente. O novo método
proposto emprega bactérias para fixar o nitrogênio nas raízes das plantas, não sendo necessário o uso
de fertilizantes (DIAS, 2004).

Os países mais ricos (20%) consomem quase 2/3 da energia mundial, enquanto os mais pobres
utilizam apenas 4%. Nos 40 países mais pobres do mundo, ainda se utiliza madeira como combustível.
Os Estados Unidos consomem aproximadamente 25% dos recursos energéticos do mundo com apenas
5% da população do planeta (DIAS, 2004).

A devastação da floresta amazônica não para e, dos 600 km2 desmatados para produção de produtos
agrícolas, no chamado “arco do desflorestamento”, 165 km2 apresentaram baixa produtividade e foram
abandonados. Segundo Dias (2004), utiliza‑se a ética de todos contra todos: devastamos a floresta,
exaurimos o solo e, por fim, abandonamos a área para erosão.

Atualmente, a ordem é economizar água diante das perspectivas da falta de água potável no planeta
em breve. Em 2000, cada mil litros de água tratada na Alemanha custam 2,36 dólares; na França, 1,35;
na Inglaterra, 1,28; e no Brasil, 0,77. Esse fato explica por que os brasileiros desperdiçam tanto: a água
custa pouco.

O consumo de papel só cresce no mundo. Ainda que haja aumento de sua reciclagem para 36%
do total da oferta de fibras, os benefícios gerados pelo processo são anulados, lembrando que o papel
apenas pode ser reciclado seis vezes, pois suas fibras se tornam muito frágeis (DIAS, 2004).

1.1 Histórico e eventos

Durante a década de 1970, os brasileiros viviam uma ditadura militar, cujos governantes não
mostravam muito interesse em questões que pudessem limitar seu crescimento econômico. Na mesma
época, apresentavam à mídia o Projeto Carajás e a usina hidrelétrica de Tucuruí, dois empreendimentos
com alto impacto ambiental. Apesar do cenário nacional desfavorável, foi criada a Associação Gaúcha
de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), pioneira dos movimentos ambientalistas no Brasil.

O relatório Os Limites do Crescimento, do Clube de Roma, denunciava: o crescimento a qualquer


custo e o consumismo selvagem levariam a humanidade a um colapso.

20
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Na Conferência de Estocolmo estabeleceram‑se princípios globais que inspiraram e orientaram a


humanidade na preservação e melhoria do meio em que vivemos. Reunindo 113 países na Suécia, a
conferência publicou o documento Declaração do Ambiente Humano (ONU, 1972), que estabeleceu um
plano de ação mundial e recomendou a criação do Programa Internacional de Educação Ambiental. A
educação ambiental foi considerada como um elemento crítico para o combate da crise ambiental, de
acordo com a resolução no 96 da Conferência de Estocolmo.

Quando foram propostos índices de diminuição para poluição atmosférica, os países em


desenvolvimento não aceitaram as propostas apresentadas na conferência, acusando os países
desenvolvidos de limitar o seu desenvolvimento industrial. Os representantes do Brasil, que só estavam
interessados no desenvolvimento econômico e não tinham o menor interesse na questão ambiental, não
se importavam em pagar o preço da poluição e da devastação ambiental, desde que houvesse a entrada
de dólares no País (DIAS, 2004).

Neste momento, foi criada a Secretaria do Meio Ambiente (Sema). Devido à dedicação de seus
funcionários, em pouco tempo tornou‑se conhecida. O legado deixado pela Sema foi utilizado como
base para a legislação ambiental, estabelecendo um programa das estações ecológicas e conquistas na
área das normatizações. Sua atuação na área da educação ambiental foi muito limitada devido à falta
de interesses políticos da época.

Na conferência de Belgrado, em 1975, foram estabelecidos os princípios e orientações para um


programa de educação ambiental (EA) global. Determinou‑se que essa ação deveria ser contínua,
multidisciplinar, integrada aos problemas regionais e direcionada para os problemas nacionais. Foi
estabelecido um prazo de dois anos para que esses mesmos países se reunissem outra vez para o
acompanhamento dos avanços e dificuldades encontrados e para discutir novos conceitos e métodos
para o desenvolvimento da educação ambiental.

A humanidade teria que utilizar os recursos naturais para o seu benefício, visando melhorar a
qualidade de vida. Diante da realidade mundial, a Carta de Belgrado estabeleceu a necessidade de
eliminação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição e da exploração humana.

Lembrete

Em 1975, o Brasil era governado pelo presidente Geisel. O País se


encontrava sob regime militar e aquilo que não estava de acordo com os
ideais governistas era considerado subversivo.

A classe política boicotava qualquer assunto que não fosse do seu interesse, principalmente programas
de educação ambiental. Não havia uma política educacional definida, muito menos uma política de
educação ambiental. O ecologismo foi implantado e crescia, mas havia conceitos deturpados. Mesmo
estando relacionados à educação ambiental e à natureza, os conceitos não eram contextualizados levando
em consideração os aspectos sociais, políticos e econômicos, apenas pregavam o “verde pelo verde”.

21
Unidade I

A Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada em Tbilisi (1977), foi


considerada a mais importante para o desenvolvimento da educação ambiental no mundo. Pregavam‑se
visões deturpadas da educação ambiental. Os países ricos não concordavam com os discursos que
comprovassem que as diferenças socioeconômicas, políticas, ecológicas, culturais e éticas eram resultado
do modelo de desenvolvimento adotado nos últimos anos. A conferência de Tbilisi marcou o início
do programa internacional de educação ambiental. Também alertou a comunidade internacional, que
deveria incluir políticas de educação ambiental em seus currículos escolares, e chamou as autoridades
de educação à reflexão, pesquisa e inovação na área ambiental. Propôs também um intercâmbio de
informações e experiências, serviços de formação de recursos humanos, principalmente professores,
entre os países (DIAS, 2004).

Levar em consideração aspectos políticos, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos, culturais


e éticos era a recomendação principal para o desenvolvimento da educação ambiental. Para que os
indivíduos pudessem entender a complexidade do mundo natural, o ensino, nas escolas e universidades,
deveria informar e orientar as várias disciplinas para integração da visão ambiental, mostrando ainda as
interdependências políticas, econômicas e ecológicas do mundo moderno (DIAS, 2004).

As questões ambientais não devem ser analisadas de forma isolada, devendo considerar os aspectos
sociais, políticos e econômicos. A educação ambiental pode ser aplicada para trazer informação e
conhecimento para a população, visando instruir sobre as atitudes necessárias para melhorar, proteger,
conservar a qualidade do meio ambiente e promover uma mudança de comportamento, deixando a
sociedade capaz de solucionar os problemas ambientais, como melhoria da qualidade de vida.

No Brasil, foram elaboradas e divulgadas propostas para ensino de 1º e 2º graus com abordagem
reducionista, nas quais a educação ambiental ficaria limitada às ciências biológicas, como propuseram
os países ricos, não levando em consideração os principais aspectos que envolviam a questão ambiental
e não permitindo a formação de uma consciência crítica. Esse fato proporcionou revolta entre os
ambientalistas e educadores envolvidos nos assuntos ambientais (DIAS, 2004).

A Política Nacional do Meio Ambiente foi promulgada com a Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981), pelo
presidente João Figueiredo. Era o começo do desenvolvimento da educação ambiental e, infelizmente,
os boicotes tornaram‑se mais evidentes.

Passados oito anos após a Conferência de Tbilisi, o Brasil nada tinha feito em relação às diretrizes
para educação ambiental devido à falta de conceituação e política. O MEC e a Sema, com os boicotes
políticos, não conseguiam promover discussões e aprofundamentos sobre o tema.

O Conama apresentou diretrizes para a educação ambiental, definindo‑a como:

[...] o processo de formação e informação social, orientado para o


desenvolvimento da consciência crítica sobre a problemática ambiental;
de habilidades necessárias à solução de problemas ambientais, de atitudes
que levem à participação das comunidades de preservação do equilíbrio
ambiental (CONAMA, 2012, p. 8‑9)
22
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Para evitar a formação de consciência crítica dos indivíduos, essa resolução foi boicotada e retirada
da pauta, pois não era de interesse dos governantes.

Sempre houve iniciativa para a criação de cursos voltados para a educação ambiental e meio
ambiente, por exemplo, o oferecido pela Universidade de Brasília (1º Curso de Especialização em
Educação Ambiental), para formar profissionais para implantação de programas ambientais. O curso
foi oferecido durante dois anos, mas devido aos fortes boicotes de setores extrativista, industrial e
político, foi fechado. No entanto, o fechamento foi justificado com dificuldades financeiras. Mesmo
assim, alguns profissionais foram formados; eles desenvolviam papéis importantes em seus estados e os
objetivos do curso foram atingidos, formando a “nata da educação ambiental”.

Devido a tantos boicotes, quase dez anos após Tbilisi, o Brasil ainda não havia feito nada, pois os
professores não tinham recebido nenhuma instrução sobre a educação ambiental. Um assunto tão
importante como esse foi confundido com ecologia e ensinado nas escolas de forma banal (DIAS, 2004).

Às vésperas da Conferência de Moscou, na qual havia o acompanhamento dos resultados da


educação ambiental, é que o Conselho Federal de Educação, finalmente, aprovaria o Parecer 226/87,
que determinava a inserção da educação ambiental entre os conteúdos estudados nas escolas. Esse foi
o primeiro documento oficial do MEC baseado na recomendação de Tbilisi. Em outras palavras, o Brasil
levou dez anos para conseguir iniciar o estudo sobre o tema. Contudo, não tínhamos resultados para
discutir na Conferência de Moscou, que ocorreu em 1987 (DIAS, 2004).

Grandes catástrofes mundiais viraram manchete nos jornais, como os acidentes em Chernobyl e
Bophal, atos terroristas e revoluções, a diminuição da camada de ozônio, efeito estufa, as alterações
climáticas, o desmatamento acelerado, as safras agrícolas frustradas, as queimadas (consequência do
calor excessivo), a desertificação, o crescimento populacional desordenado, a erosão de áreas desmatadas,
a diminuição da população de peixes, a poluição do solo, das águas e do ar, as pragas e doenças tropicais,
a Aids, o aumento do número de espécies ameaçadas de extinção e da pobreza, da miséria e da fome
no mundo.

As previsões de especialistas estavam virando realidade. Muitas empresas procuravam novos acordos
para firmar regimes internacionais, como o Protocolo de Montreal, que visava à proteção da camada
de ozônio, dando continuidade à Convenção de Viena (1985), que teria aperfeiçoamento na Emenda de
Londres (1990). Graças às pesquisas realizadas para obtenção do conhecimento científico aplicado às
questões ambientais, a comunidade científica, juntamente com os produtores de CFC, determinou quais
eram os principais problemas e estabeleceram políticas de diminuição de emissão de poluentes adotadas
para minimizar o problema (DIAS, 2004).

Em 1988 foi promulgada a nova Constituição Federal. No Capítulo IV, artigo 223, ficou declarado
que o governo tem o papel de promover a educação ambiental dentro e fora das escolas, estimulando a
conscientização pública e promovendo a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988a).

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), criado em
1989, visava formular, coordenar e executar a política nacional do meio ambiente. O instituto tem
23
Unidade I

a função de incentivar a preservação, o fomento e o controle dos recursos naturais renováveis no


Brasil. O Ibama nasceu da junção de quatro órgãos que se relacionavam com as questões ambientais:
Sema, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), Superintendência de Pesca (Sudepe) e
Superintendência da Borracha (Sudhevea). Entre eles, apenas o Sema tinha recursos humanos com
capacitação na temática ambiental. O instituto tornou‑se uma divisão sem autonomia, engessada em
sua burocracia, não promovendo nenhuma ação na temática ambiental, muito menos na educação
ambiental (DIAS, 2004).

O Curso de Especialização Ambiental da Universidade de Brasília fomentou a formação da consciência


crítica como um exercício multidisciplinar de análise de temas ambientais, com o objetivo de aumentar
a qualidade de vida e a conservação ambiental. O curso foi banido da Universidade de Brasília e recebido
na Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá, onde foi oferecido por mais quatro vezes até ser
fechado pelos mesmos interesses políticos e econômicos já apresentados.

Muitos documentos foram gerados, muitas propostas e tratados não passaram de festividades e
nada em relação à educação ambiental havia sido colocado em prática, mesmo após quatorze anos da
conferência de Tbilisi. Nessa época, alguns funcionários do Ibama e do MEC redigiram uma proposta
de divulgação/informação das diretrizes básicas da educação ambiental, direcionada aos professores de
Ensino Fundamental, com um encarte distribuído à revista Nova Escola. Junto ao encarte, os professores
recebiam um questionário com postagem paga para a resposta. O documento foi publicado por ordem
do presidente Fernando Collor de Melo e foram distribuídos 140 mil encartes em todo o País, chamados
de Projeto de Informações sobre a Educação Ambiental. De todos os professores que receberam o
encarte, 85% responderam afirmando que aquele era o primeiro material que recebiam sobre educação
ambiental, isto é, existia uma ignorância absoluta sobre o tema.

O MEC criou um grupo de trabalho para a educação ambiental e, a partir daí, várias iniciativas foram
implantadas, principalmente depois da Rio‑92, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, que reuniu 170 países.

A Rio‑92 reforçou as propostas de Tbilisi e Moscou sobre a questão da educação ambiental, visando
concentrar esforços na eliminação da ignorância ambiental e na formação de pessoal.

Com o objetivo de colocar em prática as recomendações aprovadas na Rio‑92, o MEC reuniu de forma
permanente um grupo de trabalho para se dedicar à implantação da educação ambiental nos sistemas de
Ensino Fundamental, Médio e Superior. Esse grupo organizou encontros em todas as regiões do País com
as Secretarias de Educação para formular, em conjunto, programas de educação ambiental que foram
impactados pela falta de informação sobre o assunto por parte dos participantes. Esse grupo realizou, em
apenas dois anos, o que o governo brasileiro não teve interesse em fazer desde 1977 (DIAS, 2004).

Nos anos seguintes, as atividades do grupo foram reduzidas, principalmente devido a boicotes
financeiros. Sabemos, por exemplo, que a verba destinada à educação ambiental é de apenas 0,03%,
mesmo os governantes afirmando que o tema é uma prioridade e um sistema importante de gestão
ambiental. Podemos observar que existem poucos profissionais que atuam na área e uma carência na
capacitação de novos profissionais.
24
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, foi resultado
do Programa Nacional de Educação Ambiental, redigido pelo Ministério da Educação e do Desporto
(MEC), o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos da Amazônia Legal (MMA), o Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT) e o Ministério da Cultura (MinC).

A educação ambiental tem o objetivo de preparar a sociedade para um novo paradigma do


desenvolvimento sustentável, utilizando como estratégia princípios de responsabilidade individual de
atuação para solucionar os desafios ambientais, que englobam a recuperação da natureza e valores
éticos de sobrevivência.

O desenvolvimento sustentável deixa de ser considerado uma utopia e passa a ser crucial para a
sobrevivência da raça humana. A educação ambiental é a sua principal ferramenta; por meio dela, a
população será instruída a buscar novas alternativas de vida sustentável. A seguir, veja o discurso de
Mikhail Gorbachev no Encontro Rio +5, realizado em 1997 (apud DIAS, 2004, p. 97):

[...] o maior desafio tanto da nossa época como do próximo século é


salvar o planeta da destruição. Isso vai exigir uma mudança nos próprios
fundamentos da civilização moderna, o relacionamento do ser humano com
a natureza.

A Comissão Interministerial afirmou que a educação ambiental incorporava aspectos políticos,


culturais, socioeconômicos e históricos, que não deviam ser analisados isoladamente, levando em
consideração a realidade de cada região ou país. A educação ambiental deve fomentar o entendimento
do meio ambiente e suas interações com os diversos elementos da sociedade, utilizando os recursos de
forma sustentável. Assim, a educação ambiental é um processo de aprendizagem contínua, baseado no
respeito entre todas as formas de vida.

1.2 Marcos significativos da legislação ambiental

A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) foi estabelecida a partir da Lei nº 6.938 (BRASIL,
1981) e foi um marco na evolução da gestão ambiental no Brasil. A PNMA foi escrita a partir de uma
reflexão crítica sobre muitos pontos de vistas e várias características importantes na evolução da gestão
ambiental praticada no País por muitas décadas (CALIJURI; CUNHA, 2013).

A lei expressa claramente o reconhecimento da relação do desenvolvimento social e econômico


com a questão ambiental como sendo um dos objetivos da Política Ambiental. Estabelece em seu
artigo 2º:

[...] A Política Nacional do meio ambiente tem por objetivo a preservação,


melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana
[...] (BRASIL, 1981).

25
Unidade I

Para o comprimento da PNMA, a lei determina também os seguintes princípios norteadores:

I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando


o meio ambiente como um patrimônio a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI – incentivos ao estudo e a pesquisa de tecnologias orientadas para o uso


racional e para a proteção de recursos ambientais;

VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII – recuperação de áreas degradadas [...];

IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X – educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da


comunidade, objetivando capacitá‑la para participação ativa na defesa do
meio ambiente (BRASIL, 1981).

Podemos notar que a perspectiva do desenvolvimento sustentável já se manifesta nos propósitos


dessa lei, no artigo 4º: “A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I ‑ à compatibilização do
desenvolvimento econômico‑social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio
ecológico [...]” (BRASIL, 1981).

Para a implementação da PNMA foi criado o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), com
o objetivo de promover uma abordagem integrada no tratamento da questão ambiental nas diversas
instâncias governamentais. Assim, a estrutura organizacional foi constituída da seguinte forma:

I – órgão superior. Conselho do governo: com a função de assessorar o


Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes
governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais;

II – órgão consultivo e deliberativo. Conselho Nacional do Meio Ambiente


(Conama), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os
recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas
26
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e


essencial à sadia qualidade de vida;

III – órgão central. O Ministério de Meio Ambiente, com a finalidade de


planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política
nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

IV – órgão executor. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos


Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como
órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas pelo meio
ambiente;

V – órgão setoriais. Os integrantes da Administração Federal direta e indireta,


bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, cujas atividades
estejam associadas às de proteção da qualidade ambiental ou àquelas que
disciplinam o uso de recursos ambientais;

VI – órgãos seccionais. Os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela


execução de programas projetos e pelo controle e fiscalização de atividades
capazes de provocar a degradação ambiental;

VII – órgãos locais. Os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo


controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições
(BRASIL, 1981).

A estrutura foi reproduzida nas esferas estaduais e municipais, com os ajustes necessários às
operações exigidas nesses níveis governamentais e as relativas competências institucionais. Temos que
destacar a competência dos conselhos estaduais como instância decisória do licenciamento ambiental
e a maior participação de membros da sociedade civil na sua composição.

O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) é o órgão colegiado instituído com o propósito de
articular os diversos setores e instâncias governamentais, bem como os agentes sociais e empresariais,
na formulação de diretrizes de política ambiental.

O Conama constitui uma importante instância de interação entre representantes da União, dos
estados e municípios, da iniciativa privada e de organizações da sociedade civil. Assim, torna‑se um
mecanismo de participação social e uma alternativa de cooperação propícia para a resolução dos
conflitos ambientais. A relevância do perfil da composição do Conama está associada às funções e
competências institucionais que esse conselho representa. O Conama é presidido pelo órgão central
(Ministério do Meio Ambiente). Suas competências mais relevantes são:

I – Estabelecer normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva


ou potencialmente poluidoras [...];

27
Unidade I

III – Decidir, como última instância administrativa em grau de recurso,


mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas
pelo Ibama [...];

V – Determinar, mediante representação do Ibama, a perda ou restrição


de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral
ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de
financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

VI – Estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle


da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante
audiência dos ministérios competentes;

VII – Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à


manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos
recursos ambientais, principalmente os hídricos [...] (BRASIL, 1990b).

Devemos esclarecer que as deliberações do Conama devem ser consideradas diretrizes e normas
gerais da política nacional. Contudo, os estados e os municípios, na esfera de suas competências e nas
áreas de sua jurisdição, podem elaborar normas supletivas e complementares e padrões relacionados
com o meio ambiente, desde que sejam observados os que forem estabelecidos pelo Conama. Para a
implementação dos princípios e objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, foram estabelecidos
instrumentos de atuação e condução da gestão ambiental:

I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II – o zoneamento ambiental;

III – a avaliação de impactos ambientais;

IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente


poluidoras;

V – os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou


absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder


Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;

VII – o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII – cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa


Ambiental;
28
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não comprimento


das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiente;

X – A instituição do Relatório de Qualidade de Meio Ambiente, a ser divulgado


anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis – Ibama;

XI – A garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,


obrigando‑se o Poder Público a produzi‑las, quando inexistentes;

XII – O cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/


ou utilizadoras dos recursos ambientais;

XIII – instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão


ambiental, seguro ambiental e outros (BRASIL,1990b).

Podemos observar que os instrumentos estabelecidos na Política Nacional de Meio Ambiente se


caracterizam pelas várias maneiras de sua aplicação:

• instrumentos que incidem diretamente nas atividades e agentes potencialmente impactantes,


como licenciamento ambiental, padrões de efluentes e emissão e avaliação de impactos ambientais;

• instrumentos que subsidiam a aplicação e o acompanhamento dos demais como relatório de


qualidade, penalidades, entre outros.

Dessa forma, podemos afirmar que os instrumentos estabelecidos na política abrangem o perfil
básico de maneiras de aplicação, havendo ainda outros mecanismos subsidiários de acompanhamento
do desempenho e de resultados de sua aplicação (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Os instrumentos estabelecidos na nova abordagem de gestão ambiental adotada pela Política Nacional de
Meio Ambiente rompem com a visão tradicional de órgão ambiental fiscalizador e incorporam a perspectiva
do planejamento de ações de gestão ambiental. Como exemplo, podemos citar a inclusão do zoneamento
ambiental e da avaliação de impactos ambientais. O mesmo poderia ser válido para os padrões ambientais.
Além de cumprirem as funções de fiscalização, esses instrumentos incluem também uma perspectiva de
planejamento e exercem um papel de relevância ao integrarem os programas de médio e longo prazo e
determinando a classificação de rios. Devemos salientar que, à medida que a efetividade de cada instrumento
precisa do suporte dos demais, é impossível eleger algum como determinante. Assim, a efetividade da gestão
ambiental é determinada pela capacidade de integração da aplicação desses instrumentos previstos na
Política Nacional entre si e com outros disponíveis nas políticas setoriais, como na política de gestão de águas.
Portanto, a gestão ambiental precisa de uma atuação integrada das várias políticas públicas, que se tornam
corresponsáveis da efetivação dos objetivos da política ambiental. Devemos ressaltar que a aplicação desses
instrumentos deve considerar mecanismos de participação pública. Assim, os procedimentos de aplicação
desses instrumentos são estabelecidos pelos conselhos de meio ambiente nas suas diferentes esferas de
atuação, o que torna possível uma participação sistemática da sociedade civil.
29
Unidade I

Os objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente foram estabelecidos com a promulgação da


Constituição Federal de 1988, que incorpora e amplia vários princípios e objetivos fundamentais dessa
política e explica alguns dos seus instrumentos no texto constitucional. Podemos destacar alguns dos
principais elementos de consolidação da PNMA:

a) A consideração do ambiente como bem de uso do povo e de que, como


tal, a sua apropriação deve se subordinar ao interesse público, exigindo
responsabilidade e ação determinante de planejamento do poder público.

b) A participação pública nas instâncias decisórias, a partir da determinação


da responsabilidade coletiva na sua gestão.

c) A perspectiva da sustentabilidade quando está prevista a preservação


para as presentes e futuras gerações.

d) A explicação das responsabilidades do poder público, envolvendo o poder


executivo, judiciário e legislativo.

e) A exigência da avaliação de impactos ambientais como instrumento


preventivo fundamental para a gestão ambiental.

f) A exigência de recuperação de áreas degradadas pelas atividades de


mineração.

g) A ampliação e o fortalecimento da ação de fiscalização na atividades


lesivas ao meio ambiente (CALIJURI; CUNHA, 2013, p. 711).

As principais leis ambientas são do tipo ordinárias, como a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,
a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – LPNMA, a Lei nº 9.605, de 12 de agosto de 1998, e
a Lei de Crimes Ambientais. Essas leis infraconstitucionais são regulamentadas por decretos, como o
Decreto nº 99.274 (BRASIL, 1990b), que dispõe sobre a LPNMA, e o Decreto nº 3.179, que regulamenta
a LCA. Devemos citar também o Decreto nº 99.733, que dispõe sobre a inclusão, no orçamento, de
projetos federais, de recursos destinados a prevenir ou corrigir os prejuízos de natureza ambiental e
social decorrentes da execução desses projetos e obras.

Entre as leis ambientais brasileiras de peso, sem desconsiderar a contribuição de todas as outras,
como a Lei sobre Responsabilidade Civil e Criminal por Danos Nucleares (BRASIL, 1977) e a Lei sobre
Parcelamento Urbano (BRASIL, 1979a), é importante citar a Lei nº 6.803 (BRASIL, 1980), que dispõe
sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição e estabelece
outras providências. Temos que mencionar a Lei nº 7.661 (BRASIL, 1988b), que institui o Plano Nacional
de Gerenciamento, prevendo o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira, regulamentada pelo
Decreto nº 9.193, de 27 de março de 1990, que dispõe sobre a atividade relacionada ao zoneamento
ecológico‑econômico, e Decreto nº 99.540 (BRASIL, 1990c), que institui a Comissão Coordenadora do
Zoneamento Ecológico‑econômico do Território Nacional, que foi revogado pelo Decreto de 28 de
30
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

dezembro de 2001 (BRASIL, 2001a); a Lei nº 8.171 (BRASIL, 1991), que dispõe sobre a política agrícola,
determinando a realização de zoneamento agroecológicos; a Lei nº 10.257 (BRASIL, 2001b), que institui
o Estatuto da Cidade; a Lei nº 10.650 (BRASIL, 2003), a Lei de Acesso à Informação Ambiental.

Algumas vezes, os municípios ignoram o macrozoneamento, os gerenciamentos transmunicipais


e as diretrizes gerais estabelecidas por outros entes federativos na realização de suas funções, como
os estados ignoram as particularidades dos municípios. As duas situações trazem conflitos entre as
autoridades, provocando falhas no sistema de gerenciamento ambiental local e regional, o que repercute
no fracasso das políticas nacionais.

Por esse motivo, é importante a extração, no Princípio de Desenvolvimento Sustentável, da orientação


de se optar pela abordagem integrada. A edição de normas que coadunam a gestão ambiental local
com a regional e a nacional é uma importante medida a esse respeito. Um exemplo é a Lei do Estatuto
das Cidades, Lei nº 10.257 (BRASIL, 2001b), que estabelece diretrizes gerais da política urbana e outras
providências. Essa lei reforça o papel dos municípios na avaliação dos fatores ambientais da cidade, a
partir das exigências de realização de Estudos de Impacto de Vizinhança, integrando‑se à organização da
cidade como um todo que seja parte em planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território
e de desenvolvimento econômico e social, bem como no planejamento das regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões.

2 CONCEITOS DE GESTÃO AMBIENTAL

O campo da gestão ambiental é muito extenso. Essa extensão se explica porque o tema meio
ambiente precisa ser entendido em sua complexidade como um conjunto de fatores que constituem o
todo. O que acontece, na realidade, é que a extensão dos problemas costuma não ser conhecida como
decorrência das diversas facetas que compõem as questões ambientais como se fossem compartimentos
independentes, cuja importância e emergência dependem do problema a ser resolvido.

A condução de uma gestão é formada por um conjunto de ações e medidas articuladas e regidas
por um determinado objetivo e orientação. A gestão torna‑se indispensável em qualquer atividade e
processo que envolva e precise de um equacionamento entre fatores favoráveis e desfavoráveis. A gestão
empresarial busca um retorno satisfatório do investimento, o lucro, com medidas que potencializem
os fatores favoráveis e minimizem os fatores desfavoráveis – os custos. Assim, a gestão sempre está
vinculada à busca de equacionar, de maneira favorável, os assuntos conflitantes. A gestão ambiental é
regida por uma lógica analítica (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Equacionar os problemas é uma função imediata da gestão ambiental. Para solucionar problemas
ambientais, precisamos de ações preventivas, direcionando esforços para fatores que realmente causam
prejuízos ao meio ambiente.

A humanidade explora o ambiente gerando alterações nas condições, na disponibilidade e na


qualidade do meio apenas para satisfazer suas necessidades básicas. A compreensão da problemática
ambiental passa pela identificação das motivações e ações motrizes geradoras dessas modificações
ambientais. Assim, é indispensável o entendimento do processo de geração dos impactos ambientais
31
Unidade I

ocasionados pela sociedade na busca da satisfação de suas necessidades e de suas aspirações sociais
(CALIJURI; CUNHA, 2013).

As necessidades sociais estão ligadas ao desenvolvimento de uma sociedade, determinado pelas


pretensões de padrões e consumo. Esses padrões estão ligados aos bens e produtos consumidos ou
produzidos por uma determinada parte da sociedade e estão associados à necessidade de recursos
naturais e intervenções na natureza. A realidade ambiental é o resultado de processos interativos e
dinâmicos que acontecem entre os componentes da natureza e da sociedade.

Dependendo das mudanças impostas pelo homem, o meio ambiente reage em resposta aos
impactos causados, gerando situações indesejáveis como catástrofes naturais. Assim, o processo de
geração dos impactos ambientais ocorre mediante as seguintes ações: as demandas sociais, movidas
pelas necessidades, e as aspirações da sociedade levam à condução de determinadas intervenções que
constituem o conjunto de atividades sociais e econômicas para a produção de bens e serviços. Para
isso, são feitas alterações nos sistemas ambientais e utilizados recursos dos sistemas, o que resulta em
diferentes possibilidades de impactos ambientais, favoráveis e desfavoráveis. As atividades humanas
refletem as demandas sociais que impõem determinados usos de recursos e intervenções nos sistemas
ambientais. O desafio da gestão ambiental consiste em atingir resultados benéficos necessários para
a sociedade sem prejuízo e comprometimento da disponibilidade das condições humanas (CALIJURI;
CUNHA, 2013).

Torna‑se fundamental que as ações da gestão ambiental sejam direcionadas para atuar nas
necessidades sociais prioritárias, bem como na forma e nas alternativas de desenvolver as atividades
humanas, visando evitar as alterações e situações indesejáveis nas condições ambientais. Essas mudanças
e situações não desejáveis são resultado das intervenções ou maneiras de uso de um determinado
recurso natural, podendo comprometer outras utilizações ou outros recursos e sistemas ambientais.
Assim, pode‑se observar, como exemplo, que a qualidade da água de um rio pode ser considerada
imprópria para uso e consumo humano quando o rio é usado para lançamento de esgotos urbanos
ou efluentes industriais. O mesmo pode ocorrer quando utilizamos certa quantidade de água para
irrigação na agricultura que prejudique a disponibilidade para o uso industrial ou geração de energia.
Outro exemplo semelhante acontece quando um ecossistema com relevantes atributos ecológicos
e paisagísticos, destinado ao turismo, é ocupado pela população urbana ou por obras portuárias. Os
conflitos de uso da Amazônia envolvem a relevância da sua biodiversidade, do seu potencial como
reserva extrativista e da sua importância florestal, enquanto a defesa do seu uso para a agropecuária
evidencia o debate entre as visões sobre o modelo de desenvolvimento que se planeja para a região.
Logo, os conflitos de utilização aparecem a partir das necessidades da própria sociedade na destinação
dos recursos naturais. A questão ambiental se originou a partir da utilização conflitante gerada pelas
necessidades da sociedade em relação a um recurso natural e pelas próprias alterações das condições
ambientais (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Os problemas ambientais surgem da falta de adequação ou insustentabilidade dos padrões de produção


e de consumo que formam o modelo de desenvolvimento. Dessa maneira, os impactos ambientais
são diferenciados de acordo com as intervenções realizadas nos recursos naturais correspondentes às
necessidades sociais de cada modelo de desenvolvimento. A problemática ambiental é muito grave e
32
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

mostra o esgotamento de um modelo de desenvolvimento muito predatório, socialmente perverso e


politicamente injusto. Nesse contexto, surge o conceito de desenvolvimento sustentável.

Podemos ressaltar que a problemática ambiental é consequência do modelo de desenvolvimento


adotado em cada região ou sociedade, refletindo nos seus padrões de produção e consumo. Essa percepção
foi reconhecida internacionalmente na Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
a partir da Rio‑92, quando o desenvolvimento sustentável se tornou uma referência conceitual para a
gestão ambiental.

Existem várias explicações para os acontecimentos históricos, sociais e religiosos que determinaram
a postura e as condutas do homem em relação ao meio ambiente. A visão antropocêntrica da civilização
ocidental foi algo incontestável até alguns anos atrás. A noção de civilização estava associada ao grau
de intervenção humana com o saber e sua convicção de superioridade absoluta sobre o meio ambiente.
Com o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais poderosas de apropriação dos recursos naturais,
a noção de civilização se agrega à perspectiva da produção de riqueza, entendida como a capacidade
da sociedade de dispor dos bens considerados indispensáveis ao homem civilizado. A capacidade de
produzir bens tornou‑se um indicador de riqueza, e os incrementos sucessivos dessa produção passaram
a indicar o progresso ou grau de desenvolvimento das sociedades ou países. A ideia de crescimento
da produção de bens materiais emergiu como sinônimo de desenvolvimento. Com essa conotação
econômica, todos os esforços foram destinados ao incremento crescente de meios capazes de elevar os
níveis de crescimento econômico como sinônimo de desenvolvimento (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Lembrete

O desenvolvimento industrial propiciou à humanidade o acesso e


o consumo de bens materiais jamais atingidos na sua história. Com as
tecnologias resultantes, houve facilidades e melhorias significativas nas
condições de vida do homem.

O desenvolvimento econômico veio acompanhado da exigência de elevadas magnitudes de recursos


naturais finitos e da geração de efeitos indesejáveis aos bens públicos, sobretudo à qualidade ambiental.
Sem falar nos benefícios que foram distribuídos sem equidade social. Se levarmos em consideração os
dados do Brasil sobre a evolução econômica nas décadas de 1970 e 1980, notamos grande desigualdade
social e, mesmo após um significativo crescimento econômico nesse período, não foi observada nenhuma
melhoria nas condições de pobreza e na renda (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Esse desenvolvimento mostrou‑se socialmente injusto, perverso e ecologicamente insustentável.


Dessa forma, ficou evidente o outro lado da moeda. Sugiram vários questionamentos sobre a postura
da humanidade em relação à apropriação dos recursos naturais e controvérsias quanto ao grau de
determinação que o crescimento econômico representa na obtenção de um desenvolvimento pleno em
suas várias dimensões: sociais, ecológicas e outras além da econômica. Ficou evidente que os recursos
naturais eram finitos em relação à sustentação do desenvolvimento, o que nos remete à questão dos
limites do crescimento como requisito indispensável à sustentabilidade do desenvolvimento desejado.
33
Unidade I

Assim, destaca‑se o relatório Os Limites do Crescimento (MEADOWS et al., 1978), elaborado pelo Clube
de Roma, que prognosticava um colapso no planeta em um futuro próximo se mantidas as tendências
de crescimento da população do mundo. Diante das discussões e preocupações, a ONU promoveu, em
Estocolmo, a Primeira Conferência Mundial sobre o Ambiente Humano.

Apesar das controvérsias e da heterogeneidade dos interesses envolvidos, os princípios e


recomendações resultantes dessa conferência representaram um marco no enfoque conceitual do
desenvolvimento. Declara‑se a falência do modelo de desenvolvimento existente e preconiza‑se a
necessidade de alternativas que privilegiem a qualidade do crescimento e reconheçam o ambiente como
dimensão fundamental e base de sua sustentação. Foi introduzido, então, o conceito de desenvolvimento
ecologicamente sustentável e socialmente justo, o chamado “desenvolvimento sustentável”.

A partir disso, a comunidade científica e os governantes têm se esforçado para explicar os desvios
conceituais do desenvolvimento sustentável, com o objetivo de configurar estratégias para atingir
essa meta. Apesar de existirem visões contrárias a quaisquer limites ao crescimento econômico, sob
o argumento de que a evolução tecnológica tem se mostrado capaz de atender às demandas da
sociedade, predominou a convergência da percepção da necessidade de que se imponham limites ao
sistema econômico e de que o crescimento é um requisito insuficiente para atingir o desenvolvimento.
Paralelamente à intensificação do debate pelas autoridades governamentais e a comunidade científica
para explicitar os desvios conceituais e os objetivos e estratégias para configurar a condução do
desenvolvimento sustentável, tornam‑se mais evidentes os dados sobre as relações do desenvolvimento
com as questões sociais e das mudanças climáticas.

As iniciativas e manifestações internacionais evoluíram para a criação da Comissão Mundial sobre


o Meio Ambiente (Cima), instituída pela ONU, que resultou no relatório Nosso Futuro Comum, em que
se propõe a seguinte definição de desenvolvimento sustentável: é aquele que atende as necessidades
das gerações atuais sem comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras (CALIJURI;
CUNHA, 2013).

Vários eventos internacionais e a Conferência da Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento


– CNUMAD Rio‑92, consagraram o conceito de desenvolvimento sustentável. Os compromissos
firmados na Rio‑92 pelos governos nacionais consolidaram a perspectiva de se redirecionarem os
processos de crescimento econômico vigentes para um novo modelo de desenvolvimento regido
pela integração e sustentabilidade nas suas dimensões sociais, econômicas, ecológicas, geopolíticas e
culturais. Postula‑se uma nova modalidade de desenvolvimento: o que esteja comprometido em utilizar
os recursos naturais prioritariamente para a satisfação das necessidades da população como forma de
elevar a qualidade de vida das atuais e futuras gerações. Essa perspectiva está expressa no 3º Princípio
da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento: o direito ao desenvolvimento deve
ser exercido de forma que responda equitativamente às necessidades de desenvolvimento ambientais
das gerações presentes e futuras (SÃO PAULO, 1993).

A busca por um desenvolvimento sustentável reflete o consenso internacional, sobretudo quanto


à íntima relação entre pobreza e degradação, o que permitiu a superação da visão tradicional que
opõe a melhoria da qualidade ambiental ao desenvolvimento. Consolida‑se, assim, uma nova visão: os
34
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

problemas ambientais e sociais são resultantes da dinâmica e da estratégia de um determinado modelo de


desenvolvimento, ou seja, um modelo de crescimento econômico que não promove o desenvolvimento
social e se revela nefasto na apropriação do patrimônio natural. Assim, preconiza‑se a necessidade da
adoção de novas estratégias de condução do processo de desenvolvimento, privilegiando a sua qualidade
de crescimento como uma dimensão a ser respeitada e valorizando os recursos ambientais como base
fundamental de sua sustentação (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Conforme ressalta o relatório da ONU (2012), a conceituação do desenvolvimento sustentável ocasiona


questões essenciais relativas ao conceito de necessidades e aos limites de intervenção ambiental, que são
função do estágio atual da organização social, da tecnologia disponível e da capacidade de assimilação de
impactos pela biosfera. O atendimento das necessidades essenciais das populações pobres é certamente
a perspectiva social preconizada pelo desenvolvimento. Mesmo assim, essas necessidades não poderão
ser atendidas se forem mantidos os padrões de produção e consumo vigentes, sobretudo pelos países
mais industrializados, sem comprometimento com os limites ambientais. Impõe‑se uma maior equidade
no acesso aos recursos não renováveis, como também as buscas de alternativas tecnológicas de produção
que se enquadrem nos limites de sustentação da biosfera. Forma‑se um consenso de que a condução do
desenvolvimento sustentável abrange, simultaneamente, as dimensões sociais, econômicas e ecológicas.
Esse desenvolvimento considera, como suas características fundamentais, a equidade na distribuição
dos bens econômicos e ecológicos, o consenso social dos seus propósitos econômicos e a prudência na
apropriação dos recursos ambientais (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Segundo Sachs (1993), o planejamento do desenvolvimento deve considerar as seguintes dimensões


de sustentabilidade:

• a sustentabilidade social, visando à construção de uma civilização com maior equidade na


distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e
dos pobres;

• a sustentabilidade cultural, incluindo a procura de raízes endógenas de processos de modernização


e de sistemas agrícolas integrados, e processos que busquem mudanças dentro da comunidade
cultural e que traduzam o conceito normativo de ecodesenvolvimento em um conjunto de
soluções específicas para a região, ecossistema e cultura;

• a sustentabilidade espacial, que deve ser direcionada para a obtenção de uma configuração
rural‑urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos
humanos e das atividades econômicas, com ênfase na proteção da biodiversidade, na redução
da concentração excessiva das áreas metropolitanas, na reversão da destruição de ecossistemas
frágeis, na exploração do potencial da industrialização descentralizada, acoplada à nova geração
de tecnologias;

• a sustentabilidade econômica, que deve ser viabilizada pelo gerenciamento mais eficiente dos
recursos de um fluxo constante de investimentos. A eficiência econômica deve ser avaliada em
termos macrossociais, e não apenas através do critério de rentabilidade empresarial de caráter
microeconômico;
35
Unidade I

• a sustentabilidade ecológica, que pode ser melhorada pela ampliação da capacidade de carga
da Terra e pela intensificação do uso do potencial de recursos dos diversos ecossistemas, com
um mínimo de danos aos sistemas de sustentação da vida; pela limitação do consumo de
combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos que são facilmente esgotáveis ou danosos
ao meio ambiente, substituindo‑os por recursos ou produtos renováveis e abundantes, usados de
forma não agressiva; pela redução do volume de resíduos e de poluição, por meio da conservação
da energia e de recursos e da reciclagem; pelo estímulo à pesquisa para a obtenção de tecnologia
de baixo teor de resíduos e eficientes no uso de recursos.

Os processos de intervenções ou de apropriação dos recursos ambientais para o atendimento das


necessidades básicas das gerações atuais e futuras devem ser priorizados e regidos pelo enfoque da
sustentabilidade. Mesmo assim, o advento da sustentabilidade como parte integrante do desenvolvimento
torna‑se um desafio na lógica da formulação e implementação das intervenções públicas. Esse desafio
consiste em identificar alternativas sustentáveis de produção social, isto é, aquelas que compatibilizem
as demandas sociais com as potencialidades e restrições ambientais. Assim, a noção de sustentabilidade
pressupõe a integração simultânea de objetivos sociais, econômicos e ecológicos; e o desafio primordial
para a implementação dessa forma de desenvolvimento reside na efetivação dessa perspectiva de
integração. Essa efetivação exige a adoção e aplicação de novos enfoques metodológicos de condução
do processo de planejamento governamental (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Ainda de acordo com Calijuri e Cunha (2013), ao promover o desenvolvimento a partir dessa
perspectiva, insere‑se uma nova questão relativa às ações necessárias para a sua condução e para
configuração da natureza e características dos limites exigidos. Estabelece‑se uma clivagem relativa
à capacidade ou disponibilidade de que as margens dos limites se ampliem com o desenvolvimento
tecnológico ou com a reorientação dos padrões de consumo. Assim, uma vertente de pensamento
argumenta que a ultrapassagem desses limites pode ser postergada, ou mesmo evitada, com medidas
conjugadas de esforços tecnológicos bem direcionados e gerenciamento do crescimento; outra vertente,
por acreditar na margem desses limites ou mesmo que alguns deles já tenham sido ultrapassados,
defende uma abordagem mais absoluta, considerando a necessidade de uma ação mais contundente
para evitar aumento nas taxas de crescimento.

Esse debate reflete a existência de racionalidades distintas sobre a noção de sustentabilidade. A


noção de sustentabilidade pressuposta em qualquer planejamento está sempre associada a uma
concepção de mundo e a determinados valores sociais. O debate conceitual abrange essencialmente
duas racionalidades básicas (ACSELRAD, 1997):

• a razão prática foi estabelecida na teoria da utilidade e na lógica da vantagem material na relação
entre meios e fins; ela constrói a sustentabilidade como um princípio de conservação social,
articulando duas matrizes conceituais: o discurso da eficiência da economia de meios para o
mesmo fim e o discurso da escala, propondo limites quantitativos dos mesmos fins;

• a razão cultural, regida pela sustentabilidade no campo da transformação social, entendendo


que a ação do homem no mundo foi divulgada por um projeto cultural que ordena a experiência
prática para além da simples lógica utilitária e que comporta projetos de mudança social na
36
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

direção de valores como equidade, democracia, diversidade cultural, autossuficiência, ética e


outras temáticas que dirigem o debate para além.

À medida que a incorporação da sustentabilidade no processo de desenvolvimento requer a


identificação de alternativas de produção mais compatíveis com a realidade social e ambiental, ela se
torna um mecanismo abrangente e indutor de busca de oportunidades e um propulsor na busca de
maior conhecimento das potencialidades locais e regionais. Nesse contexto, impõe‑se uma abordagem
que permita, mais do que observar as restrições, identificar e maximizar as potencialidades. Assim,
a incorporação da sustentabilidade representa uma mudança de conduta dos agentes econômicos
e governamentais. A efetivação da sustentabilidade compreende o atendimento a essas condições
e o enfrentamento dessas demandas. O seu desenvolvimento operativo constitui‑se em um desafio
primordial (CALIJURI; CUNHA, 2013).

A preocupação da sociedade com os problemas relacionados ao meio ambiente tem nos levado
a avanços importantes quando nos referimos às medidas tomadas pelos governos para solucionar
os problemas ambientais. A gestão ambiental é indispensável para um equacionamento correto da
problemática ambiental. Para conseguirmos solucionar o problema, é necessário um conjunto de ações
visando promover uma atuação efetiva.

Uma das maiores preocupações da gestão ambiental é conseguir resolver as mazelas ambientais. A
visão convencional da gestão ambiental ressalta a ação de limitar a utilização dos recursos ambientais.
Assim, é comum encontrarmos o conceito de gestão ambiental baseado em termos de controle como
(CALIJURI; CUNHA, 2013):

a) o governo conduzindo, dirigindo e controlando o uso dos recursos naturais mediante determinados
instrumentos, incluindo medidas econômicas, regulamentos e normalização, investimentos
públicos e financiamentos;

b) administrar a utilização de um recurso renovável sem diminuir a produtividade e a qualidade


ambiental, geralmente em conjunto com o desenvolvimento de uma atividade;

c) para manter as comunidades biológicas e para o benefício continuado do homem, é necessário o


controle eficaz do meio ambiente, garantindo sua utilização sem abuso.

A gestão ambiental tem como tarefa controlar os limites de utilização dos recursos naturais, além
de definir e fiscalizar as restrições de utilização da qualidade ambiental que devem ser levadas em
consideração nas interações promovidas pelas atividades humanas. A partir do entendimento de que
as mazelas ambientais são determinadas pelas ações que fazem parte do conjunto de atividades da
sociedade para suprir os padrões de produção e consumo, as interações, que representam o modelo
de desenvolvimento estipulado, tornaram‑se fundamentais para se desfrutar dos propósitos da gestão
ambiental. Uma ação limitada da utilização diminui a abrangência da gestão ambiental na medida em
que a desvincula da interação necessária nas dimensões e formas da exploração dos recursos ambientais,
diminuindo a importância de induzir uma racionalização de usos que leve em consideração as incertezas
desse limite e promova a identificação de alternativas mais condizentes com a disponibilidade dos
37
Unidade I

recursos em questão. Assim, a gestão ambiental precisa envolver ações que possam evitar os impactos não
desejáveis diante das limitações de usos e deve induzir a atividades que colaborem para sustentabilidade
do modelo de desenvolvimento.

Atualmente, as necessidades sociais exigem muito dos recursos naturais e dos ecossistemas para o
desenvolvimento e econômico. Precisamos otimizar a conservação das suas condições de uso para a
compatibilização desses fatos potencialmente conflitantes, ou seja, a gestão ambiental.

A atuação da gestão ambiental consiste no direcionamento harmonioso dos vários processos de


interação humana, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável. A gestão ambiental
implementa um processo de desenvolvimento adequado às capacidades ecológicas do meio ambiente
com as aspirações de qualidade de vida da população.

Assim, os objetivos da gestão ambiental devem englobar ações destinadas a garantir a manutenção,
ou otimização, das condições indispensáveis a um ambiente saudável, usando ações que ressaltem a
condução de alternativas de desenvolvimento social com sustentabilidade. A gestão ambiental envolve
ações para garantir as condições da qualidade ambiental indispensável para a vida em todas as suas
formas, como também a indução de produções de bens e serviços sustentáveis para atender às reais
demandas da sociedade.

Nesse universo de atuação, a condução da gestão ambiental não pode se restringir às ações
governamentais e muito menos estar limitada a uma agência governamental específica. Ao contrário,
conduzir a gestão ambiental torna‑se um desafio para diversos agentes e atores sociais e gera uma
responsabilidade coletiva. Assim, uma gestão ambiental atuante deve superar o ponto de vista
convencional de contrapor ambiente natural com ambiente social e focar na construção coletiva de
desenvolvimento sustentável em suas distintas dimensões.

Uma gestão ambiental concentrada na sustentabilidade deve atuar na orientação dos processos de
intervenção no meio ambiente visando promover a execução de alternativas ambientalmente sustentáveis
para o desenvolvimento social sem comprometer o meio ambiente. Atuar a partir da perspectiva de fazer
a sustentabilidade ambiental acontecer no desenvolvimento significa solucionar as demandas e formas de
interações sociais. A necessidade de identificar alternativas que compatibilizem essas duas dimensões tem
promovido o surgimento de visões e proposições estratégicas. A compatibilização dessas dimensões requer
uma estratégia de harmonização do processo de desenvolvimento com a gestão ambiental, envolvendo
áreas críticas de ação: o padrão de consumo, o sistema sociopolítico, as tecnologias utilizadas a partir de
recursos naturais e de energia, o padrão de uso do espaço e a população. Esse equacionamento requer
determinações orientadas pelas seguintes variáveis‑chave (CALIJURI; CUNHA, 2013):

• estrutura de produção e consumo, definida como as necessidades e os bens essenciais para a


sociedade. Essa variável está ligada ao regime sociopolítico e suas implicações que levam aos
padrões de produção e consumo que se pretende promover;

• fatores locacionais, que são determinados a partir da ocupação do território, apontando onde as
interações podem ser desenvolvidas;
38
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

• opções tecnológicas, que determinam como fazer as intervenções; são os fatores tecnológicos
necessários na definição de tecnologias para economia de recursos naturais ou que gerem
pequenas perdas de materiais e não geradoras de resíduos.

A definição de um modelo de desenvolvimento baseado em sustentabilidade ambiental precisa


escolher uma trajetória de desenvolvimento baseada nas potencialidades de uso e nos pontos fracos
ambientais de cada território objeto de intervenção social. É fundamental levar em consideração as
potencialidades territoriais no desenvolvimento. Dessa forma, a busca de sustentabilidade para os
processos de desenvolvimento é guiada pelos seguintes fatores, determinantes e inter‑relacionados:
padrão de produção e consumo, condições e potencialidades territoriais e tecnologias apropriadas com
a sustentabilidade (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Ainda de acordo com Calijuri e Cunha (2013), a gestão ambiental não se limita ao gerenciamento
dos problemas da qualidade ambiental. Ela precisa atuar nos componentes determinados pelo modelo de
desenvolvimento, exercido na estrutura de consumo, na organização espacial e nas opções tecnológicas.
Assim, o processo de gestão ambiental necessita de uma atuação sistêmica que possa direcionar as diversas
decisões da sociedade e os vários processos de decisões governamentais nas suas esferas de competência
(federal, estadual e municipal). É necessária uma atuação conjunta das políticas de interação e de utilização
dos recursos naturais, de maneira tal que se leve a uma convergência entre objetivo e coordenação das
atuações dos vários setores que agem direta ou indiretamente no meio ambiente.

3 TÉCNICAS DE GESTÃO AMBIENTAL

Diante dessa perspectiva, as ações de gestão ambiental devem se voltar para a incorporação da
questão ambiental na formulação e execução das diversas políticas setoriais e regionais, assim como
nos seus desdobramentos normativos e, consequentemente, indutores das atividades específicas. Essas
políticas precisam estar associadas ao grau de conhecimento das potencialidades e disponibilidades
existentes. Para o estabelecimento dessas políticas, é indispensável a legitimidade pública das prioridades
e necessidades da sociedade. Logo, é fundamental o envolvimento da sociedade nos sistemas de decisão
da gestão ambiental.

A perspectiva da sustentabilidade ambiental impõe novas concepções de atuação das instituições


responsáveis, com o objetivo de superar as concepções vigentes, orientadas essencialmente para ações
reativas aos problemas ambientais e constituídas pelas características a seguir (CALIJURI; CUNHA, 2013):

• gestão segmentada e restrita aos efeitos incidentes nos elementos do ambiente (água, ar, matas
e florestas);

• busca pelo atendimento dos diversos tipos de demanda com o menor custo, restrito aos interesses
organizados da sociedade;

• desenvolvimento de ações após as definições sobre as opções de desenvolvimento;

• atuação centrada nas adaptações da oferta à demanda.


39
Unidade I

Para efetivar a gestão ambiental regida pela sustentabilidade, essa concepção reativa deve ser
substituída pela concepção global e prospectiva de caráter proativo, cuja característica fundamental
compreende a abordagem dos princípios da precaução e da prevenção, integrando os diferentes
componentes do ambiente natural e social e os agentes intervenientes no processo de desenvolvimento.
Assim, torna‑se indispensável uma abrangência maior do universo de atuação que compreenda outros
aspectos, como (CALIJURI; CUNHA, 2013):

• inter‑relações entre sistemas socioeconômicos e sistemas naturais;

• participação nas definições sobre as opções de desenvolvimento;

• planejamento inscrito em um contexto mais amplo de gestão permanente de recursos, de espaço


e da qualidade do ambiente natural e construído;

• estratégias buscando modular as demandas sociais;

• inserção no processo de desenvolvimento sustentável;

• adoção do enfoque sistêmico como alternativa de interação e integração dos diferentes enfoques
de gestão e das ações dos diferentes níveis de governo;

• incorporação da dimensão ambiental nos processos decisórios;

• responsabilidade setorial (gestão responsável);

• materialização da participação pública;

• participação na formulação das políticas públicas;

• conhecimento e dimensionamento da realidade ambiental.

A gestão ambiental proativa requer um esforço de coordenação e integração do poder público


e a efetivação satisfatória da participação pública. Logo, a gestão ambiental demanda um arranjo
institucional que determine a responsabilidade de todas as instituições públicas e estabeleça mecanismos
de participação pública nas suas instâncias decisórias (CALIJURI; CUNHA, 2013).

Atualmente, existem necessidades emergentes e problemas crônicos que demandam estudos


relacionados com formas de gestão ambiental. A mesma coisa acontece na esfera do governo quando
se focaliza certa legislação e suas diretrizes, regulamentos e formas de controle. Muitas vezes, esse
controle desejado não é alcançado.

A gestão ambiental tem uma abordagem integrada, que procura abranger simultaneamente as
questões que interferem no meio ambiente (natural ou não), bem como as interações envolvendo
diferentes sistemas, como o abastecimento de água e suas relações com o sistema de recursos hídricos.
40
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

O método cartesiano de conhecimento mostra que é fundamental dividir o todo em partes para
uma melhor compreensão, embora o comportamento do todo seja distinto daquele das partes,
mostrando a importância da visão holística. A contribuição desse método é de valor inegável quando
aplicado às múltiplas facetas da problemática ambiental. Podemos ressaltar que esses problemas
sempre se manifestaram historicamente por meio das questões setoriais separadas de uma visão
integrada e abrangente.

Devido à complexidade das questões ambientais, o método cartesiano embute o risco de perder a
visão holística. Quando se trata do ambiente, por mais importante que seja o entendimento das partes,
todas elas mantêm um vínculo de relacionamento vital entre si; por isso a importância da visão do
todo, que deve orientar o estudo das questões ambientais no planeta, seja no Brasil, nos estados ou
nas cidades. A visão sistêmica mostra várias inter‑relações entre as diferentes escalas mencionadas,
desde partes desérticas até outras densamente ocupadas, ou ainda, áreas de florestas que têm sofrido
modificações, em grande parte com invasões de moradia ou desmatamento para criação de gado
(PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004).

O fato de diversas áreas que compõem o complexo ambiental estarem estreitamente correlacionadas
fornece bases para dar início à elaboração de uma proposta de gestão ambiental que abranja as
complexidades do meio ambiente fundamentadas numa integração físico‑territorial, social, política,
econômica e cultural.

A visão global interliga os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais de forma


interdependente. Ela abandona a visão cartesiana e passa a ser tratada numa perspectiva ecológica, isto
é, uma nova visão da realidade, baseada em pensamentos, percepções e valores.

A abordagem da gestão ambiental exige ainda mais dois olhares. O primeiro se refere à compreensão
do significado da expressão meio ambiente, abrangendo tanto o meio natural como o construído, ou
seja, aquele alterado pela ação do homem, o espaço identificado como urbano ou agrícola ou aquele com
a natureza em seu estado primitivo ou recomposto. O segundo diz respeito à característica abrangente
da gestão ambiental, que envolve a saúde pública e o planejamento territorial.

Devemos tomar cuidado quanto ao reducionismo que limita o campo do conhecimento ambiental
apenas àqueles ambientes que se identificarem como estado natural do planeta, onde é dada uma ênfase
à fauna e à flora como objetos de preservação ou de conservação. Há que se ampliar reflexões e estudos
sobre o espaço urbano em seu sentido ecológico. Afinal, a cidade é, por excelência, o ambiente do
homem, e é nesse ambiente construído que são encontrados os indicadores mais graves do desequilíbrio
provocado pelo estado de degradação dos elementos da natureza e que exige uma atuação urgente da
gestão ambiental.

A promoção da qualidade de vida, último escopo da gestão ambiental, tem fortes vínculos com a
saúde pública e o planejamento territorial. Tema de inquietações para vários segmentos da comunidade,
os problemas da sociedade industrial e tecnológica são responsáveis por vastos estragos. Temos que
equacionar os problemas da convivência humana com todos os seus impactos negativos sobre a saúde
pública e o meio ambiente, por isso a gestão ambiental é tão importante.
41
Unidade I

Para melhor entendermos a abrangência e o alcance dessa definição, destacamos que a gestão
ambiental é o ato de administrar, dirigir ou reger os ecossistemas naturais e sociais em que se insere o
homem, individual e socialmente, num processo de interação entre as atividades que exerce, buscando
a preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno de acordo com padrões
de qualidade. O objetivo é estabelecer, recuperar ou manter o equilíbrio entre a natureza e o homem.

Se o vocábulo gestão é entendido como sendo o ato de gerir, o conceito de “ato” conduz à ideia de
que a administração do meio ambiente só acontece quando há de fato o equilíbrio ambiental, ou seja,
quando se dá a harmonia entre o homem e a natureza.

Podemos citar como exemplo a cidade, que está em mudança contínua e apresenta diversas
potencialidades que só se realizarão à medida que houver ação. Com o que se costuma chamar gestão
ambiental pode ocorrer o mesmo fenômeno da não realização: gestão ambiental potencial e gestão
ambiental ação.

Gestão ambiental potencial é realizada com a existência de leis, normas, decretos, regulamentos,
escritos dirigidos e determinados com o objetivo de solucionar as questões do ambiente. Sua mera
existência não constitui a gestão propriamente dita. Para que realmente aconteça e se concretize, é
preciso que a potencialidade se transforme em ação concreta, deixando de ser apenas leis e normas,
tornando‑se gestos transformadores resultantes da aplicação daqueles instrumentos (PHILIPPI JR.,
ROMERO; BRUNA, 2004).

Os métodos modernos, que têm como base conceitos de eficiência e eficácia distintos, se apoiam
na lição filosófica dos conceitos teóricos de potencial e ação. Dessa forma, a gestão ambiental eficiente
corresponde à existência e à utilização de um conjunto de instrumentos, que será eficaz apenas quando
esse conjunto se transformar em ações que se traduzam em problemas resolvidos.

Enquanto a sociedade se desenvolve apenas na direção meramente econômica, privilegiando uns


em detrimento da maioria, não se pode dizer que existia gestão ambiental, mesmo que em nome dela
se elaborem leis e decretos, se produzam normas e estratégias, ou se estabeleçam diretrizes políticas. Na
verdade, nada muda automaticamente apenas com novos instrumentos de controle ambiental ou com
declaração de princípios.

4 CONTROLE DE POLUIÇÃO

4.1 Controle de poluição da água

A utilização da água, tanto para as necessidades do homem como para a preservação da vida, pode ser
separada em grandes grupos: abastecimento público; abastecimento industrial; atividades agropastoris,
incluindo a irrigação e a dessedentação de animais; preservação da fauna e da flora aquática; recreação;
geração de energia elétrica; navegação, diluição e transporte de efluentes. As fontes de poluição das
águas, pelos seus diversos usos, podem ser agrupadas em: poluição natural; poluição causada por
esgotos domésticos; poluição causada por efluentes domésticos e industriais e poluição causada pela
drenagem de áreas agrícolas e urbanas (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004).
42
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Essas fontes estão associadas ao tipo de uso e ocupação do solo, possuindo características próprias
quanto aos poluentes. Por exemplo, esgotos domésticos possuem características biodegradáveis, pois
são compostos por material orgânico, nutrientes e bactérias. Já o esgoto industrial apresenta grande
variedade de contaminantes, pois cada etapa do processo industrial apresenta efluentes de composição
diferente e que nem sempre são biodegradáveis.

A engenharia sanitária e ambiental evolui diariamente no desenvolvimento de métodos de


tratamento de esgotos devido às exigências dos órgãos públicos de controle do meio ambiente. Isso tem
acontecido devido ao interesse dos governos com a saúde pública e os prejuízos gerados pelas descargas
de águas residuárias. Podemos dizer que a própria sociedade tem cobrado uma atuação mais efetiva da
classe política.

Para projetarmos uma estação de tratamento de águas residuárias é necessário conhecer as


características do esgoto, as exigências legais, a área disponível e os custos de implantação e operação.
Muitas vezes, uma estação de tratamento de baixo custo pode ser tecnicamente viável: como lagoas de
estabilização, que não são construídas por falta de área disponível. Geralmente, o sistema de tratamento
de esgoto é formado por várias operações e processos que são usados para retirada de substâncias
indesejáveis da água.

Para o tratamento da água são necessários processos físicos, químicos e biológicos. A retirada de
substâncias da água, por meio de qualquer um dos processos citados, pode envolver a alteração de suas
características físicas, químicas e biológicas.

Os processos físicos são usados na degradação de poluentes das águas residuárias. Geralmente, são
utilizados para separar sólidos em suspensão no esgoto, mas também podem ser usados para neutralizar
e homogeneizar um efluente. Podemos citar as seguintes operações:

• retirada de sólidos grosseiros;

• retirada de sólidos sedimentáveis;

• retirada de sólidos flutuantes;

• retirada da umidade do lodo;

• homogeneização e equalização de efluentes;

• diluição de águas residuárias.

Para esses processos físicos serem realizados, são necessários dispositivos ou unidades de tratamento como:

• grades de limpeza manual ou mecanizada;

• peneiras estáticas, vibratórias ou rotativas;


43
Unidade I

• caixas de areia simples ou aeradas;

• tanques de retenção de materiais flutuantes;

• decantadores;

• flotadores a ar dissolvido;

• leitos de secagem de lodo;

• filtro prensa e a vácuo;

• centrífugas;

• filtros de areia;

• adsorção em carvão ativado.

Esses dispositivos possuem funções bem definidas e podem substituir ou incorporar outras funções,
dependendo das características do esgoto.

As grades e peneiras são utilizadas para remoção de sólidos grandes visando à proteção de
equipamentos, tubulações e unidades do sistema de tratamento. Os tipos de grades e peneiras são
determinados baseados nas características dos sólidos a serem removidos. As peneiras apresentam
aberturas na ordem de 0,25 a 1,0 mm e podem substituir as unidades de sedimentação.

As caixas de areia são utilizadas como filtros por gravidade para a retirada de partículas de areia; seu uso
visa à proteção de equipamentos e tubulações contra abrasão. Os tanques de retenção de materiais flutuantes
são utilizados para retirada de gorduras, óleos, graxas e outras substâncias com densidade menor que a água.

Os decantadores promovem a remoção de sólidos sedimentáveis em suspensão no esgoto. Podem


ser colocados no início do sistema ou como unidade de depuração final, depois de todos os processos
físico‑químicos ou biológicos. O material retirado pode ser biodegradável ou não e, de acordo com o seu
objetivo no processo, pode ser chamado de primário, secundário ou terciário.

Para os flotadores a ar dissolvido é necessária a pressurização prévia do efluente e a posterior


dissolução de ar em quantidade proporcional à concentração de sólidos nos efluentes. As microbolhas
de ar formadas com a despressurização do efluente levam os sólidos em suspensão para a superfície.
Esse processo é utilizado quando os sólidos possuem densidades semelhantes à da água, impedindo a
sua remoção por sedimentação.

Os leitos de secagem de lodo são usados para pequenos volumes, sendo unidades de desidratação
parcial do lodo. Quando se trata do lodo biológico, para digestão aeróbia e anaeróbia ou quando existe
um grande volume de lodo, é recomendada a utilização de filtros‑prensa a vácuo.
44
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Os filtros de areia são pouco usados em tratamento de esgoto, mas podem ser empregados para
remoção de sólidos em suspensão em soluções diluídas, antes de serem despejados no corpo receptor.

A remoção de sólidos dissolvidos no esgoto pode ser realizada por adsorção em carvão ativo. Os
sólidos podem ser orgânicos, coloridos ou inorgânicos como metais pesados.

Os tanques de homogeneização ajudam no tratamento do esgoto, reduzindo a capacidade necessária


das bombas e o tamanho dos tanques e evitando choques de carga na unidade de tratamento.

Os processos químicos precisam de produtos químicos para otimizar a eficiência do processo de


remoção de substâncias, modificando seu estado, características ou estrutura. Geralmente, esses
processos físicos e químicos são usados de forma conjugada e algumas vezes com processos biológicos
também (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004):

• coagulação‑floculação;

• precipitação química;

• oxidação;

• cloração;

• neutralização ou correção do pH.

Esses processos são utilizados para separação de sólidos em suspensão coloidal ou dissolvidos,
substâncias que provocam cor e turbidez, substâncias malcheirosas, metais pesados e óleos emulsionados.
Podemos ressaltar a utilização de processos químicos combinados com processos físicos ou biológicos para:

• ajustar pH de um efluente para tratamento biológico;

• eliminar micro‑organismos patogênicos por meio da cloração;

• auxiliar o processo de floculação, adicionando polieletrólitos;

• utilizar O2 ou H2O2 para oxidação de sulfetos.

Os processos biológicos precisam da ação de micro‑organismos aeróbios ou anaeróbios para


acontecerem. Esses processos são determinantes nas transformações da matéria orgânica, em compostos
de degradação mais simples, como sais minerais, gás carbônico, água, entre outros. Os processos
biológicos procuram imitar os fenômenos biológicos naturais e dividem‑se em aeróbios e anaeróbios. Os
processos mais utilizados são (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004):

• lodos ativados e suas variações;

45
Unidade I

• filtros biológicos aeróbios ou anaeróbios;

• lagoas aeradas;

• lagoas de estabilização facultativas e anaeróbias;

• digestores anaeróbios de fluxo ascendente.

O processo de lodos ativados consiste em um sistema no qual uma massa biológica que cresce e
flocula é recirculada constantemente, colocando‑a em contato com a matéria orgânica do esgoto em
presença de oxigênio.

O oxigênio é proveniente das bolhas de ar e é injetado por meio de difusores dentro da mistura
lodo/líquido, em condições de turbulência ou por aeradores mecânicos de superfície. O processo tem
como função a separação de sólidos, no qual o lodo separado é continuamente despejado no tanque
de aeração para se misturar com o esgoto, sendo descartado quando estiver em excesso. Forma‑se uma
grande quantidade de lodo biológico que, quando mantido no tanque de aeração, propicia a ocorrência
do processo de tratamento num curto período de tempo, se comparado com o processo natural de
degradação que ocorre num rio, por exemplo.

As lagoas de estabilização anaeróbias consistem em grandes tanques cavados no solo, nos quais o
esgoto sofre tratamento por processos naturais controlados pela vazão dos líquidos. Eventualmente,
podemos usar uma dosagem de produtos químicos para ajuste de pH ou dosagem de nutrientes. As lagoas
anaeróbias são planejadas para receber grandes cargas orgânicas e funcionam sem adição de oxigênio
dissolvido. As lagoas facultativas são constituídas de uma camada superior para o desenvolvimento
de algas e micro‑organismos aeróbios. Enquanto as algas fazem fotossíntese, usando o gás carbônico
e liberando oxigênio, os micro‑organismos degradam a matéria orgânica através da sua oxidação,
consumindo oxigênio e liberando gás carbônico.

As lagoas aeradas possuem equipamentos para introduzir oxigênio, substituindo as algas que não se
reproduzem nesse meio devido à intensa agitação da massa líquida.

Os tanques que funcionam como filtros biológicos possuem pedras ou elementos plásticos para
o seu enchimento. Ali ocorre o desenvolvimento de uma fina camada de micro‑organismos aeróbios.
O esgoto que passa pelo filtro entra em contato com o filme biológico, no qual a matéria orgânica é
adsorvida pela massa biológica e, então, estabilizada pelos micro‑organismos.

Os sistemas de tratamento de esgoto englobam mais de um processo de transformação e podem ser


classificados conforme o tipo de material a ser removido (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004):

• tratamento preliminar: tem como objetivo a remoção de sólidos grandes e pode ser aplicado a
qualquer tipo de esgoto. É formado por grades, peneiras, caixas de areia, caixas de retenção de
óleos e graxas;

46
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

• tratamento primário: é chamado dessa maneira em sistemas de tratamento de esgoto


biodegradáveis, mas pode ser aplicado a qualquer tipo de efluente. Tem como objetivo a remoção
de resíduos finos em suspensão nos esgotos. É formado por tanques de flotação, decantadores e
fossas sépticas;

• tratamento secundário: é aplicado no tratamento de esgotos por processos biológicos e tem o


objetivo de eliminar o teor da matéria orgânica solúvel nos efluentes. É formado por tanques de
lodos ativados e suas variações, filtros biológicos, lagoas aeradas, lagoas de estabilização, digestor
anaeróbico de fluxo ascendente e sistemas de disposição no solo;

• tratamento terciário: é considerado como tratamento avançado do esgoto e tem como finalidade
remover substâncias não eliminadas nos tratamentos anteriores, como nutrientes, patógenos e
substâncias que geram cor às águas. É formado por numa lagoa de maturação, cloração, ozonização,
radiações ultravioletas, filtros de carvão ativado e precipitação química em alguns casos;

• tratamento de lodos: tem como finalidade a desidratação ou redução do seu volume para
disposição final. É composto por leitos de secagem, centrífugas, filtros‑prensa, filtros a vácuo,
prensas desaguadoras, digestão anaeróbia ou aeróbia, incineração e disposição no solo e pode ser
usado para todos os tipos de lodos.

Quando falamos de qualidade da água, podemos citar como exemplo a Rede de Monitoramento da
Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo, que foi criada em 1974. De acordo com Philippi
Jr., Romero e Bruna (2004), seus principais objetivos eram:

• avaliar a evolução da qualidade das águas interiores dos rios e reservatórios do estado;

• propiciar o levantamento das áreas prioritárias para o controle da poluição das águas;

• subsidiar o diagnóstico da qualidade das águas doces usadas para o abastecimento público e
outros usos;

• dar subsídio técnico para a elaboração dos Relatórios de Situação dos Recursos Hídricos, realizados
pelos Comitês de Bacias Hidrográficas;

• identificar trechos de rios onde a qualidade da água possa estar pior, possibilitando ações
preventivas e de controle da agência de proteção ambiental do estado, a Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental (Cetesb), envolvendo a construção de estações de tratamento de
esgotos nos municípios, ou adequando lançamentos industriais.

A operação da rede de monitoramento da Cetesb foi iniciada com a seleção de 47 pontos de


amostragem. Desde então, buscando uma melhor representatividade e atendendo às necessidades
inerentes aos programas de controle de poluição das águas desenvolvidos pela Cetesb, muitas
modificações foram feitas, entre elas o número de pontos de amostragem aumentou para 135 e as
frequências de coletas e os parâmetros de qualidade foram reavaliados.
47
Unidade I

A Lei estadual nº 7.663 (SÃO PAULO, 1991), que instituiu a política estadual de recursos hídricos
e o sistema integrado de gerenciamento de recursos hídricos, dividiu o estado em 22 Unidades de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI). Assim, a avaliação de qualidade da água está estruturada
em função dessa divisão e apresenta, para cada UGRHI, os parâmetros monitorados (físicos, químicos e
biológicos), bem como uma análise sucinta dos corpos de água correspondentes.

Outras modificações foram feitas nesse documento, como a introdução de determinações dos
seguintes parâmetros de qualidade da água: teste de Ames, para avaliação de mutagenicidade, potencial
de formação de trihalometanos, carbono orgânico dissolvido, absorbância no ultravioleta, clorofila‑a,
Giardia sp., Cryptosporidium sp., Clostridium perfringens e estreptococos fecais. A avaliação desses
parâmetros possibilita à Cetesb examinar de maneira mais detalhada os 28 pontos de amostragem que
são coincidentes com as captações superficiais usadas para o abastecimento público.

É impossível analisar todos os poluentes que possam estar presentes na água após o seu tratamento.
Por isso, a Cetesb utiliza 43 parâmetros de qualidade de água (físicos, químicos, hidrobiológicos,
microbiológicos e ecotoxicológicos), considerando os mais importantes. Resumidamente, apresentaremos
o significado sanitário desses parâmetros (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004):

• parâmetros físicos: temperatura da água e do ar, série de resíduos (filtráveis ou não filtráveis),
absorbância no ultravioleta, turbidez e coloração da água;

• parâmetros químicos: pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20),


demanda química de oxigênio (DQO), carbono orgânico dissolvido, potencial de formação de
trihalometano, série de nitrogênio (Kjejdahl, amonial, nitrato, nitrito), fósforo total, ortofostato
solúvel, condutividade específica, surfactantes, cloretos, fenóis, ferro total, manganês, alumínio,
bário, cádmio, chumbo, cobre, cromo total, níquel, mercúrio e zinco;

• parâmetros microbiológicos: coliformes fecais, Giardia sp., Cryptosporidium sp., Clostridium


perfringens e estreptococos fecais;

• parâmetros hidrobiológicos: clorofila‑a;

• parâmetros ecotoxicológicos: teste de toxicidade crônica a Ceriodaphnia dubia, teste de Ames


para avaliação da mutagenicidade e sistema Microtox.

Quando necessário, estudos específicos de qualidade da água são realizados em determinados


trechos de rios ou reservatórios, com vistas a diagnósticos mais detalhados ou outros parâmetros que
possam ser determinados, tanto em função da utilização e da ocupação do solo na bacia contribuinte,
atuais ou pretendidos, quanto da ocorrência de algum evento excepcional na área em estudo.

4.1.1 Controle de poluição do ar

A poluição do ar provavelmente acompanha a humanidade desde os tempos mais remotos, mas só


passou a ser sentida de forma acentuada quando as pessoas passaram a viver em centros urbanos em
consequência da Revolução Industrial.

48
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

O ar é um elemento essencial para o ser humano, do qual não se pode prescindir por mais de
alguns minutos, utilizado como fonte de oxigênio para troca térmica e como receptor dos gases de
respiração, principalmente gás carbônico, da transpiração, de gases corporais e de gases e partículas de
suas atividades diárias, como cozimento de alimentos ou tabagismo.

O ar que respiramos é composto por: 78% de nitrogênio, 20,9% de oxigênio, 0,9% de argônio,
0,035% de dióxido de carbono e vários outros gases em pequenas concentrações. A atmosfera contém
quantidades bastante variáveis de vapor de água, dependendo do local, da hora e da estação do ano,
podendo chegar a 0,02% nas regiões mais áridas e a 4% nas regiões equatoriais úmidas. A atmosfera
também pode conter partículas sólidas e líquidas em suspensão, de composição química e concentrações
variáveis, inclusive material vivo como pólen, vírus e bactérias (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004).

O conceito de ar limpo é relativo, considerando que os seres vivos já estão acostumados com
concentrações normais de substâncias na atmosfera. No entanto, quando ocorrem modificações nos
níveis atmosféricos, alguns efeitos poderão ser observados pelo ser humano, por outras formas de vida
e mesmo por materiais inertes.

A poluição do ar ocorre quando a modificação da composição qualitativa ou quantitativa da


atmosfera resulta em danos reais ou potenciais. Dessa maneira, pressupõe‑se a existência de níveis
de referência para diferenciar a atmosfera poluída da atmosfera não poluída. O nível de referência
deveria ser o nível máximo de poluentes na atmosfera que não causasse efeitos prejudiciais aos seres
humanos e ao meio ambiente. Geralmente, esses níveis são estabelecidos a partir de dados científicos
de dose‑resposta, obtidos por estudos toxicológicos e epidemiológicos, ou mesmo por estudos de efeito
em vegetais de materiais inertes.

O padrão de qualidade do ar define limites máximos para concentrações de componentes atmosféricos


que garantam a preservação da saúde e do bem‑estar dos indivíduos. Normalmente, os padrões de
qualidade do ar são baseados em estudos científicos dos efeitos causados por poluentes específicos e
estabelecidos em níveis que têm como objetivo preservar a saúde dos cidadãos.

Por meio da Portaria Normativa no 38 (IBAMA, 1990), o Ibama estabeleceu padrões nacionais de
qualidade do ar, aumentando o número de parâmetros já regulamentados. A portaria foi submetida
ao Conama e transformada na Resolução no 3 (CONAMA, 1990), em que foram definidos dois tipos de
padrões de qualidade do ar: primários e secundários.

Os padrões primários são definidos quando as concentrações de poluentes superiores às estabelecidas


podem afetar a saúde da população e ser entendidas como níveis máximos toleráveis de concentração de
poluentes atmosféricos. Os padrões secundários levam em consideração as concentrações de poluentes
atmosféricos abaixo das quais se prevê algum efeito adverso sobre o bem‑estar da população, prejuízos
à flora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podemos considerar esses níveis de
concentração como metas a serem atingidas em longo prazo.

Os parâmetros de regulamentação são: partículas totais em suspensão (material particulado), dióxido


de enxofre e monóxido de carbono, como podemos observar na tabela a seguir:
49
Unidade I

Tabela 1 – Padrões nacionais de qualidade do ar

Tempo de Padrão primário Padrão secundário


Poluente Método de medição
amostragem mg/m3 mg/m3
24 horas * 240 150 Amostragem em grandes
Partículas em suspensão Mga 80 60 volumes
24 horas* 150 150
Partículas inaláveis Separação inercial/filtração
Maa 50 50
1 hora * 365 100
Dióxido de enxofre Pararosanilina
Maa 80 40
1 hora* 40.000 (35 ppm) 40.000 (35 ppm) Infravermelho não
Monóxido de Carbono 8 horas (mga) 1.000 (9ppm) 1.000 (9ppm) dispersivo
Ozônio 1 hora * 160 160 Quimioluminescência
24 horas* 150 100
Fumaça Refletância
Maa 60 40
24 horas* 320 190
Dipoxido de nitrogênio Quimioluminescência
Maa 100 100

*Não deve ser excedido mais que uma vez ao ano; Mga média geometria anual, Maa média aritmética anual.

Fonte: Conama (1990).

A mesma resolução determina critérios para episódios agudos de poluição do ar. Esses critérios são
apresentados na tabela a seguir.

Tabela 2 – Critérios para episódios agudos de poluição do ar

Parâmetros Atenção Alerta Emergência


Dióxido de enxofre (SO2 mg/m ) 24h3
800 1.600 2.100
Partículas totais em suspensão PTS ou material particulado MP (mg/m ) 24h
3
375 625 875
SO2 x PTS ou SO2 x MP 65.000 261.000 393.000
Partículas inaláveis (mg/m ) ‑24 horas
3
250 420 500
Fumaça (mg/m ) ‑24 horas
3
250 420 500
Monóxido de carbono (mg/m ) ‑8 horas
3
17000 34000 46000
Ozônio (mg/m ) ‑1 hora
3
400 800 1.000
Dióxido de nitrogênio (mg/m ) ‑1 hora
3
1.130 2.260 3.000

Fonte: Conama (1990).

Para informar o público sobre a qualidade do ar, bem como sobre as situações críticas quando
algum padrão é atingido, a legislação brasileira utiliza o Índice de Qualidade do Ar (IQA). Para se obter
o IQA, divide‑se a concentração de um poluente pelo seu padrão primário e multiplica‑se por 100. Será
considerado o poluente com maior resultado para definição do IQA.

IQA = Concentração do poluente / Padrão primário

50
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Tabela 3 – Relação do IQA com a qualidade do ar

Índice de Qualidade do Ar (IQA) Qualidade do ar


0 – 50 Boa
50 – 100 Aceitável
101 – 199 Inadequada
200 – 299 Má
300 – 399 Péssima
Maior que 400 Crítica

Fonte: São Paulo (1976).

Poluente atmosférico é toda e qualquer forma de matéria sólida, líquida ou gasosa e de energia
que, presente na atmosfera, pode torná‑la poluída. Ondas sonoras e eletromagnéticas são exemplos de
poluentes atmosféricos na forma de energia. Os poluentes na forma de matéria são classificados, de
acordo com Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), em material particulado, gases e vapores.

Material particulado: as partículas sólidas ou líquidas emitidas por fontes de poluição do ar,
ou mesmo aquelas formadas na atmosfera, como partículas de sulfatos, são denominadas material
particulado e, quando suspensas no ar, aerossóis. As partículas de maior interesse para a saúde pública são
chamadas partículas inaláveis, aquelas que têm poder de penetração maior que 50% no trato respiratório
médio inferior e diâmetro aerodinâmico equivalente a 10 micrômetros. O material particulado pode ser
classificado, segundo o método de formação, em poeiras (poeira de cimento, de amianto, de algodão
e de rua); fumos (fumos de chumbo, de alumínio, de zinco e de cloretos de amônio); fumaça (material
particulado da queima de combustíveis fósseis como carvão mineral, combustíveis provenientes do
petróleo e do gás natural, biomassa como a madeira, entre outros materiais combustíveis, envolvendo
fuligem, partículas líquidas e no caso de biomassa e carvão, uma fração mineral importante, que são as
cinzas); névoas (partículas líquidas).

Gases e vapores: são poluentes na forma molecular, que podem ser gases permanentes, como
o dióxido de enxofre, o monóxido de carbono, o ozônio ou os óxidos nitrosos. Podem estar na forma
transitória de vapor, com vapores orgânicos em geral (vapores da gasolina, vapores de solventes).
Dependendo de sua origem, esses poluentes podem ser classificados em poluentes primários emitidos já
na forma de poluentes, e poluentes secundários, que são formados na atmosfera por reações químicas ou
fotoquímicas, como é o caso do ozônio no smog fotoquímico. Nenhum poluente é totalmente primário
ou secundário, havendo aqueles que se enquadram predominantemente em um outro tipo. Podemos
citar o exemplo do ozônio, que é origem secundária, predominantemente, enquanto o monóxido de
carbono e o dióxido de enxofre são primários. Um exemplo de reação fotoquímica produzindo poluentes
secundários envolve a formação de oxidantes fotoquímicos, especialmente o ozônio. As emissões de
NO, resultantes principalmente da combustão, convertem‑se de forma total ou parcial em dióxido de
nitrogênio na atmosfera. Em condições propícias para ocorrência de reação fotoquímica (insolação
forte e temperaturas altas), o dióxido de nitrogênio é quebrado por fotólise, o que produz oxidantes
fotoquímicos, entre eles o ozônio, que é o que está presente em maior quantidade.

51
Unidade I

Os poluentes também podem ser classificados em orgânicos e inorgânicos, independentemente do


estado físico. Também são importantes sua subclassificações, como: substâncias causadoras de odores
incômodos (gás sulfídrico H2S), mercaptanas, solventes orgânicos e os poluentes altamente tóxicos (como
as dioxinas e furanos, alguns compostos orgânicos aromáticos como o benzeno, os hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos HPAs, metais pesados como cádmio, mercúrio, cromo hexavalente, níquel, entre
outros que causam carcinogênese ou mutagênese ou apresentam suspeitas).

Dioxinas e furanos: as dibenzo‑p‑dioxinas policloradas – PCDDs e os dibenzofuranos policlorados – PCDFs,


geralmente chamados de dioxinas e furanos, são duas classes de compostos aromáticos tricíclicos de função
éter, com estrutura quase planar e que possuem propriedades físicas e químicas semelhantes. Os átomos de cloro
se ligam aos anéis benzênicos, possibilitando a formação de um grande número de compostos semelhantes,
75 dioxinas e 135 furanos, somando 210 compostos. Pesquisas têm mostrado que esses compostos ocorrem
naturalmente, mas são frutos da era industrial, formados como subprodutos não intencionais de vários processos
envolvendo o cloro ou substâncias que o contenham – por exemplo, a produção de diversos produtos químicos,
como pesticidas, branqueamento de papel e celulose, os incêndios e os processos de combustão (incineração
de resíduos de serviços de saúde, incineração de lixo urbano, incineração de resíduos industriais e combustão
dos veículos automotores). A toxicidade aguda mais elevada é para a 2,3,7,8‑tetraclorodibenzo‑p‑dioxina, que
é ultrapassada apenas por algumas outras toxinas de origem natural.

Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs): são compostos formados por dois ou mais anéis
aromáticos condensados, contendo apenas átomos de carbono e hidrogênio e que podem estar arranjados
em linha reta, retangular ou na forma de cluster. Quando contêm átomos de outros elementos como
o nitrogênio, oxigênio e enxofre, passam então a ser chamados de compostos policíclicos aromáticos.
Sua formação ocorre por combustão incompleta ou pirólise de matéria orgânica. Entre todos os HPAs,
a Agência de Proteção Ambiental americana considera 17 deles mais tóxicos, pois são carcinogênicos.
São eles: acenafteno, acenaftileno, antraceno, fenantreno, benzo[a]antraceno, benzo[a]pireno, benzo[e]
pireno, benzo[b]fluoranteno, benzo[k]fluoranteno, benzo[ghi]pirileno, criseno, dibenzo[a,h]antraceno,
fluoranteno, fluoreno, indeno[1,2,3‑cd]pireno, pireno e naftaleno.

Qualquer processo, equipamento, sistema, máquina, empreendimento, ou outra atividade humana que
possa liberar ou emitir matéria ou energia para atmosfera de forma a torná‑la poluída, pode ser considerada
uma fonte de poluição do ar. Essas fontes podem ser móveis ou fixas. As emissões atmosféricas podem
ser de ações naturais ou antrópicas. As emissões naturais provêm de: erupções vulcânicas que lançam
partículas e gases para a atmosfera, como compostos de enxofre (gás sulfídrico e dióxido de enxofre),
decomposição de vegetais ou animais, ação do vento, causando ressuspensão da poeira do solo e da
areia, ação biológica de microorganismos no solo, formação de metano, principalmente nos pântanos
(gás grisu), aerossóis marinhos, descargas elétricas na atmosfera, formando ozônio, incêndios florestais
naturais, que lançam grandes quantidades de material particulado, gás carbônico, monóxido de carbono
hidrocarbonetos e outros gases orgânicos e óxidos de nitrogênio (NOx); outros processos naturais, como
reações na atmosfera entre substâncias de origem natural. As emissões naturais são muito significativas
quando comparadas com as antropogênicas, e em muitos casos são bem maiores que as últimas.

Podemos destacar algumas emissões antropogênicas como: os vários processos e operações


industriais, a queima de combustível na indústria, para fins de transporte nos veículos a gasolina, a
52
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

álcool, a diesel ou movidos por qualquer outro tipo de combustível e para aquecimento em geral e
cozimento de alimentos, queimadas, queima de lixo ao ar livre, incineração de lixo, limpeza de roupas
a seco, poeira fugitiva, geralmente provocada pela movimentação de veículos, principalmente em vias
sem pavimentação, poeiras provenientes de demolições na construção civil e movimentação de terra em
geral, comercialização e armazenamento de produtos voláteis como gasolina e solventes, equipamentos
de refrigeração e ar‑condicionado e embalagens tipo aerossol, pinturas em geral, estações de tratamento
de esgotos domésticos e indústrias e aterros de resíduos sólidos.

Os veículos, nos dias atuais, são a principal fonte de emissão de poluentes para a atmosfera,
principalmente nas grandes cidades. Na América Latina, merece destaque a poluição do ar na Cidade
do México, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Santiago. Na região metropolitana de São Paulo, os
veículos contribuem com cerca de 98% da emissão de monóxido de carbono, 97% dos hidrocarbonetos
e 96% de óxidos de nitrogênio, além de serem importantes contribuintes na emissão de dióxido de
enxofre e material particulado inalável. A poluição causada por veículos é tão significativa que na
cidade de São Paulo, e em alguns municípios vizinhos, acontece a operação denominada rodízio de
veículos. Isso também tem ocorrido em outras grandes cidades, como na cidade do México, Santiago,
Roma e Paris. Em Londres, desde de 2003, foi adotado o sistema de pedágio para a circulação de
carros no centro da cidade.

Veículos automotores a álcool e a gasolina (motor do ciclo Otto) são emissores importantes de
monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos, enquanto os veículos com motor de ciclo
diesel, em especial os caminhões e ônibus, que são emissores importantes de óxido de enxofre, óxidos
de nitrogênio e material particulado (fuligem), também emitem, em menor grau, monóxido de carbono
e hidrocarbonetos.

A poluição dos automóveis é controlada por legislação federal, dentro do programa de Controle da
Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), com legislação iniciada pela Resolução Conama
nº 18 (BRASIL, 1986a).

O movimento dos poluentes na atmosfera é determinado, principalmente, pelas correntes


meteorológicas, como a turbulência mecânica provocada pelo vento e a turbulência térmica resultante
de parcelas de ar aquecido (que ascendem da superfície terrestre, sendo substituídas pelo ar mais frio
em sentido descendente, no perfil vertical de temperatura da atmosfera) e também pela topografia e
rugosidade do terreno da região.

Os poluentes lançados na atmosfera sofrem o efeito de processos complexos, sujeitos a vários fatores,
que determinam a concentração do poluente no tempo e no espaço. Assim, emissões com conteúdos
idênticos sob as mesmas condições de lançamento no ar podem produzir concentrações diferentes num
mesmo local, dependendo das condições meteorológicas presentes, como chuva, condições de inversão
térmica, rugosidade e característica do terreno e de outras condições locais.

Os fatores meteorológicos que influenciam a dispersão de poluentes são a velocidade e a direção


dos ventos, o gradiente vertical de temperatura, a intensidade da radiação solar e o regime de chuvas.

53
Unidade I

As chuvas influenciam a qualidade do ar de maneira acentuada e são um importante agente de


autodepuração da atmosfera em relação às partículas presentes, bem como aos gases solúveis ou reativos
com a água. Não se deve esquecer, no entanto, que a lavagem da atmosfera significa a transposição dos
poluentes para o solo e águas superficiais, podendo ocasionar efeitos deletéricos, em especial as águas
de chuvas ácidas.

Geralmente, podemos observar diferentes formatos de fumaça que saem de uma chaminé, mesmo
para a mesma condição de emissão. Isso se deve a várias condições de estabilidade da atmosfera. Os
movimentos verticais de massa de ar dependem, fundamentalmente, do perfil vertical de temperatura,
isto é, da variação da temperatura do ar com a altitude. O ar seco resfria‑se à taxa de 1 ºC para cada
100 m de subida da atmosfera. O ar úmido resfria‑se à taxa de cerca de 0,65 ºC para cada 1000 m de
subida na atmosfera. Quando a temperatura do ar aumenta com a altitude, diz‑se que há inversão
térmica, fenômeno de origem natural, não decorrente da poluição do ar.

A reatividade dos poluentes é outro fator importante para sua transformação no ar, modificando sua
concentração e ao mesmo tempo produzindo outras substâncias ou radicais livres. Podemos citar como
exemplo a reação fotoquímica entre os óxidos de nitrogênio e os hidrocarbonetos presentes na atmosfera
sob ação da radiação solar, principalmente os raios ultravioleta, produzindo substâncias conhecidas
como oxidantes fotoquímicos, em especial o ozônio, muito comuns na atmosfera das grandes cidades
como São Paulo. A reação dos óxidos de enxofre com amônia forma partículas de sulfato de amônia,
aerossóis desse composto, de tamanho pequeno, próximo do comprimento de onda da luz visível, com
grande capacidade de reduzir a visibilidade da atmosfera.

A topografia da região exerce um papel importante no comportamento dos poluentes na atmosfera.


Fundos de vale são locais propícios para o aprisionamento dos poluentes, principalmente quando ocorrem
inversões térmicas que impedem a subida dos poluentes, transformando esses locais em verdadeiras
câmaras de concentração e de reação, principalmente na ocorrência do smog fotoquímico.

A concentração do poluente na atmosfera ocorre em função da quantidade das características


e condições da emissão, das condições meteorológicas, da topografia da região, da rugosidade dos
terrenos, da presença de edificações próximas à fonte de emissão, da reatividade do poluente e da
ocorrência de chuvas.

Os efeitos da poluição do ar caracterizam‑se tanto pela alteração das condições consideradas normais
como pelo aumento de problemas já existentes. Os efeitos podem ocorrer em nível local, regional e global.
Esses efeitos podem se manifestar na saúde, no bem‑estar da população, na vegetação, na fauna, nos
materiais e nas propriedades da atmosfera, passando pela redução de visibilidade, alteração da acidez
das águas das chuvas (chuva ácida), aumento da temperatura da Terra (efeito estufa) e modificação da
intensidade da radiação solar (o aumento da incidência de radiação ultravioleta sobre a Terra, causado
pela redução da camada de ozônio).

Os principais efeitos da poluição do ar na saúde humana são: problemas oftálmicos, doenças


dermatológicas, gastrintestinais, cardiovasculares e pulmonares, além de alguns tipos de câncer. Efeitos
sobre o sistema nervoso central também podem ocorrer após exposição a altos níveis de monóxido de
54
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

carbono no ar. Além disso, efeitos indiretos podem ser notados em decorrência de alterações climáticas
provocadas pela poluição do ar. Um aumento na temperatura do ar provoca impactos na distribuição de
doenças transmitidas por vetores.

A exposição da população pode se dar por inalação, ingestão ou contato com a pele, mas a inalação
pode ser considerada a via mais importante e mais vulnerável. A poluição do ar é caracterizada pela
OMS como um fator de risco para muitas doenças, como infecções respiratórias das vias aéreas
superiores (garganta, nasofaringe, sinus, laringe, traqueia e brônquios). Estudos nacionais verificaram
associações positivas entre a poluição do ar e doenças respiratórias e aumento da mortalidade, afetando
principalmente crianças e idosos.

Medidas de prevenção e correção devem ser tomadas visando atingir o desenvolvimento sustentável.
A busca de soluções para o problema da poluição do ar deve começar pela sua prevenção. Prevenir quer
dizer evitar a geração de poluentes, com a utilização de processos industriais e de combustíveis menos
poluentes, medidas de redução de consumo de produtos poluidores e de energia, enquanto controlar
refere‑se a medidas de tratamento da emissão de poluentes.

Sabe‑se que a poluição significa perda de matéria‑prima e energia. Uma caldeira que emite fumaça
preta está trabalhando com pouca eficiência, desperdiçando combustível e lançando mais poluentes
no ar, como o monóxido de carbono, hidrocarbonetos etc. Um automóvel desregulado emite mais
poluentes e, ao mesmo tempo, consome mais combustível. Dessa forma, para prevenir e controlar a
poluição, podemos reduzir perdas de combustível e matérias‑primas.

É na prevenção que a população pode atuar mais intensamente, reduzindo o uso de veículos
particulares e privilegiando o transporte coletivo, que deve ser do tipo menos poluente e mais disponível
e confortável para que a população possa ficar satisfeita ao usá‑lo. Menos produção de lixo pela
população e o uso de eletrodomésticos e lâmpadas mais eficientes em consumo de energia também são
medidas muito importantes.

Medidas tecnológicas são importantes, mas não têm conseguido resolver o problema, como é o
caso dos carros. Precisamos de uma atitude mais consciente e ecologicamente correta da população.
A evolução da ciência e da tecnologia constitui a própria evolução do Homem desde a Pré‑História,
ajudando na sua adaptação ao meio e na busca de alimentos para sua sobrevivência. No início, o
homem buscou alimento e abrigo das intempéries do tempo, depois combateu as pragas e doenças, até
o conhecimento sobre outras regiões do planeta e do universo.

Para a prevenção e controle da poluição do ar usamos medidas que envolvem desde planejamento
do assentamento de núcleos urbanos e industriais e do sistema viário até a ação direta sobre a fonte
de emissão. A prevenção está ligada à tríade reduzir, reutilizar e reciclar. Podemos considerar o
processo de poluição do ar em fase de geração, emissão, transporte, difusão e transformação e a fase
de recepção. Imagine um incinerador de resíduos na queima do lixo: há formação de poluentes e,
pela chaminé, ocorre a emissão. No ar, esses poluentes são transportados, difundidos, transformados
e finalmente atingem o receptor, que podem ser pessoas, plantas, animais ou bens materiais que
sofrem algum tipo de efeito.
55
Unidade I

A geração de poluentes está intimamente ligada ao consumismo. Quanto mais se consome, mais
poluentes são produzidos, causando um aumento da poluição. O nível de poluição vai depender dos
meios utilizados e dos cuidados envolvidos na produção do bem ou serviço. Existem muitas maneiras
de produzir que minimizam a formação de poluentes. Poderíamos eliminar a poluição totalmente
substituindo combustíveis, matérias‑primas e reagentes e alterando equipamentos e processos. Podemos
citar como exemplo a eliminação do poluente de compostos de chumbo dos automóveis: quando o
chumbo tetraetila parou de ser usado como aditivo antideodante, além de não ser mais adicionado
à gasolina, foi substituído por álcool etílico anidro. A substituição de combustíveis com enxofre por
combustíveis sem esse elemento, como o gás natural, elimina a formação e emissão de compostos de
enxofre na atmosfera.

Na prática, a diminuição da quantidade de poluentes gerados é mais fácil de ser alcançada do que
sua eliminação. Podemos conseguir isso com a adoção de medidas como: operação de equipamentos
dentro de sua capacidade nominal; operação e manutenção adequada de equipamentos produtivos,
caldeiras, fornos, veículos; armazenamento adequado de materiais pulverulentos ou fragmentados,
evitando a ação dos ventos; adequada limpeza do ambiente; utilização de processos, equipamentos,
operações, matérias‑primas, reagentes e combustíveis de menor potencial poluidor.

As medidas citadas precisam de esclarecimento adequado dos responsáveis pelas fontes poluidoras e
a participação da população é de extrema importância no processo. A educação ambiental da população
e dos empresários tem um papel fundamental para que o controle funcione. De nada adiantam boas leis
se a população não estiver engajada no processo e se os empresários não estiverem motivados para a
realização dessa ação.

Quando todos os esforços não surtirem o efeito desejado em relação à diminuição da poluição,
devemos utilizar os equipamentos para tratamento das emissões (equipamentos de controle de
poluentes – filtros). Em conjunto com o equipamento de controle de poluição industrial, existe um
sistema de exaustão (captores, dutos, ventilador e chaminé), cuja função é captar, concentrar e conduzir
os poluentes para serem filtrados, com posterior lançamento residual no ar.

Segundo Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), os equipamentos de controle da poluição do ar podem
ser divididos em função do tipo de poluente a ser considerado, isto é, equipamentos de controle de
material particulado e equipamentos de controle de gases e vapores. Para veículos, podemos usar um
dispositivo de tratamento de emissões muito conhecido, o combustor catalítico, que reduz a emissão de
monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos (compostos orgânicos).

O material particulado pode ser removido do fluxo gasoso poluído por sistemas secos, coletores
mecânicos inerciais e gravitacionais – coletores centrífugos, como ciclones, precipitadores eletrostáticos
secos e filtros de tecido, como filtros de mangas – e sistemas úmidos, por exemplo, lavadores de vários
tipos, como o lavador Venturi e precipitadores eletrostáticos úmidos. Os três tipos de equipamentos mais
eficientes para o controle de material particulado são o filtro de manga, o precipitador eletrostático e
o lavador Venturi, mas com eficiências de retenção de poluentes que podem variar de acordo com o
projeto e com as condições de operação e manutenção.

56
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Os gases e vapores podem ser retirados do fluxo poluído por meio de absorvedores (lavadores
de gases), de adsorvedores, como o carvão ativado, por incineração térmica ou catalítica (como os
combustores catalíticos dos carros) e também por condensadores, biofiltros e processos especiais.

Para cada fonte de poluição deve ser estudada a melhor solução, tanto do ponto de vista ambiental
como do ponto de vista do custo. A tecnologia de controle de poluição do ar disponível permite que a
poluição seja reduzida em até 99%.

O planejamento urbano permite uma melhor distribuição espacial das fontes potencialmente
poluidoras do ar, aumentando a distância entre fonte e receptor, diminuindo a concentração de atividades
poluidoras próximas a núcleos residenciais, proibindo a implantação de fontes de alto potencial poluidor
em regiões críticas, localizando as fontes a jusante dos ventos predominantes na região em relação aos
bairros residenciais, controlando a circulação de veículos em áreas congestionadas, bem como atuando
em melhorias do sistema viário. Assim, é necessário ter cuidado, pois a melhoria do sistema viário pode
incentivar ainda mais o uso do transporte individual, não ocasionando a diminuição de poluição.

Quanto à diluição da poluição, devemos ressaltar que a utilização de chaminés altas tem como
objetivo a redução da concentração do poluente no nível do solo, sem a redução da quantidade emitida.
Trata‑se de uma medida cuja eficiência depende da distribuição espacial das fontes e das condições
meteorológicas e topográficas da região. É uma técnica recomendável como medida adicional para a
melhoria das condições de dispersão dos poluentes residuais na atmosfera, mas somente após a tomada
de outras medidas para reduzir a geração de poluentes ou sua emissão.

4.2 Controle ambiental de resíduos

Acreditamos que o homem é o único agente gerador de resíduos, já que estes são produzidos pelos
padrões de consumo da sociedade atual. Estamos analisando a questão de forma simplista, mas serve
como ponto de partida. De acordo com Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), quando falamos de cadeia
alimentar, acreditávamos que o ciclo era perfeitamente fechado, mas isso não é verdade, pois em
algumas espécies mais simples ocorrem perdas e geração de resíduos e isso não seria contabilizado,
mostrando que o sistema não é perfeito como imaginávamos. Contudo, verificamos que esses eventuais
desequilíbrios são muito pequenos, pois as populações são pequenas, podendo ser considerados como
fenômenos localizados e que não são suficientes para desfazer a harmonia local e causar alterações nos
ciclos e nas cadeias alimentares. Contudo, em muitos casos, o sistema tem mecanismos para, a médio e
longo prazo, estabilizar o desequilíbrio eventual local.

Sendo assim, o ser humano não é o único agente causador de desequilíbrio localizado. O homem tem
uma capacidade que o torna único dentro desse contexto, já que é capaz de transformar em larga escala
os materiais e tornar estáveis substâncias e produtos. Assim, o homem coloca no meio produtos em
formas que o meio ambiente não reconhece e não tem capacidade de absorção, nem mesmo em longo
prazo. Entretanto, ele não seria capaz de gerar uma instabilidade tão grande a ponto de comprometer
sua existência, mas a sua capacidade de transformar recursos naturais por meios de processos em larga
escala não deve ser desprezada.

57
Unidade I

O agravamento fica claro apenas quando se une a essa capacidade o fenômeno do crescimento
populacional observado nas últimas décadas. Houve uma explosão demográfica, o que levou a um
aumento de demanda de suprimentos de matérias‑primas, alimentos e energia. Soma‑se a isso o fato
de que o crescimento populacional ficou concentrado nos grandes centros urbanos.

O progresso da humanidade aumentou a qualidade e a duração da vida; por outro lado, utilizamos
um padrão de consumo que demanda cada vez mais matérias‑primas, o que acaba comprometendo
a qualidade de vida das gerações futuras. Esse compromisso com as gerações futuras é o princípio
do desenvolvimento sustentável. Logo, esperamos que as gerações futuras usem a capacidade de
transformação de materiais, mas de uma maneira sustentável, sem prejudicar o meio ambiente.

Os conceitos de lixo e resíduo são muito próximos e muitas vezes entendemos como sinônimos.
Entretanto, do ponto de vista ambiental, existem três classificações diferentes de poluição: a poluição
atmosférica, a contaminação das águas e os resíduos sólidos.

Resíduos sólidos podem ser definidos como:

Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades


da comunidade, de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial,
agrícola, de serviços e de varrição. Consideram‑se também resíduos
sólidos os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles
gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos, cujas particularidades tornem inviável o
seu USP e lançamento na rede pública de esgoto ou corpo d’água, ou
exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face
da melhor tecnologia disponível (NBR 10004/1987 apud PHILIPPI JR.;
ROMERO; BRUNA, 2004, p. 158).

O conceito de resíduo tem sempre embutido o aspecto de serventia e de valor econômico para
o seu possuidor. Assim, para uma determinada pessoa, a embalagem perde o seu valor a partir do
momento que seu conteúdo foi totalmente consumido, passando a ser resíduo e um problema para o
seu possuidor. Analisando a situação por outro ponto de vista, o resíduo pode ter valor para um terceiro,
que vai tratar o material como matéria‑prima para uma outra aplicação.

Segundo Philippi Jr., Romero e Bruna (2004), os resíduos podem ser classificados levando em
consideração a sua origem em: resíduos industriais, urbanos, de serviços de saúde, de portos, de
aeroportos, de terminais rodoviários e ferroviários, agrícolas, radioativos e entulho.

Resíduos industriais: são resíduos gerados em indústrias. Os resíduos industriais variam entre 65%
a 75% do total de resíduos gerados em regiões mais industrializadas. A responsabilidade pelo manejo
e destinação desse resíduo é sempre da fonte geradora. Dependendo da forma e destinação, a empresa
prestadora de serviço pode ser corresponsável. Quando um resíduo industrial é destinado a um aterro
sanitário, a responsabilidade passa a ser também da empresa que gerencia o aterro. Em função da
periculosidade de alguns resíduos, eles são divididos em três classes:
58
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Resíduos perigosos (classe I) – podem apresentar risco à saúde pública


e ao meio ambiente por causa de suas características de inflamabilidade,
corrosividade, toxidade e patigenicidade;

Resíduos não inertes (classe II) – incluem‑se nesta classe os resíduos


potencialmente biodegradáveis ou combustíveis;

Resíduos inertes (classe III) – perfazem esta classe os resíduos considerados


inertes e não combustíveis (PHILIPPI JR.; ROMERO; BRUNA, 2004, p. 159).

A classificação dos resíduos industriais requer uma série de procedimentos e testes, que estão
descritos nas seguintes normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

• NBR 10004 – Resíduos sólidos – Classificação;

• NBR 10005 – Lixiviação de resíduos – Procedimento;

• NBR 10006 – Solubilização de resíduos – Procedimento;

• NBR 10007 – Amostragem de resíduos – Procedimento.

Resíduos urbanos: são produzidos em menor escala que os resíduos industriais. Estão
incluídos nesta categoria os resíduos domiciliares, o resíduo comercial produzido em escritórios,
lojas, hotéis, supermercados e restaurantes, os resíduos de serviços oriundos de limpeza pública
urbana, como resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de galerias, terrenos, córregos,
praias, feiras e de podas. Os resíduos urbanos são de responsabilidade das prefeituras. Contudo,
no caso de estabelecimentos comerciais, a prefeitura é responsável pela coleta e disposição de
pequenas quantidades, abaixo de 50 kg/dia; acima disso, a responsabilidade fica transferida para
o estabelecimento.

Entulhos: podem ser considerados como resíduos urbanos, mas, em razão de suas características e
volumes, geralmente são classificados separadamente. Constituem‑se de resíduos de construção civil,
como demolições, restos de obras, solos de escavações e materiais afins. Como acontece com os resíduos
urbanos, as prefeituras são corresponsáveis por pequenas quantidades.

Resíduos de serviços de saúde (RSS): são produzidos em hospitais, clínicas médicas e veterinárias,
laboratórios de análises clínicas, farmácias, centros de saúde, consultórios odontológicos, entre outros.
Esses resíduos são separados em resíduos comuns, como restos de alimentos, papeis e embalagens, e
resíduos sépticos, constituídos de resto de material cirúrgico e de tratamento médico. Seu manejo exige
atenção por causa do potencial de risco à saúde pública. O responsável pelo gerenciamento dos resíduos
provenientes de serviços de saúde é o seu gerador.

Resíduos de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: constituem‑se em resíduos


sépticos que podem conter organismos patogênicos, como materiais de higiene e de asseio pessoal e
59
Unidade I

restos de alimentos. Possuem a capacidade de veicular doenças de outras cidades, estados e países. Cabe
ao gerador a responsabilidade pelo seu gerenciamento.

Resíduos agrícolas: correspondem aos resíduos das atividades de agricultura e da pecuária.


Embalagens de adubos, de defensivos agrícolas e de ração, restos de colheita e esterco animal ilustram
esse tipo de resíduo. As embalagens de agroquímicos, pelo alto grau de toxicidade que apresentam, são
alvo de legislação específica. Da mesma forma que os resíduos industriais, o gerador é responsável pelo
gerenciamento e a empresa que faz o tratamento ou disposição final é corresponsável.

Resíduos radioativos: são provenientes dos combustíveis nucleares e de alguns equipamentos que
usam elementos radioativos. A responsabilidade por essa categoria de resíduos é da Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEM).

O Brasil é um país com muitas deficiências no saneamento básico e a questão dos resíduos sólidos
é um reflexo desse quadro. Mesmo com a Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010), que instituiu a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS), esse quadro foi pouco alterado. Ainda existem lixões em todos os estados e
60% dos municípios destinam seus resíduos sólidos para os lixões (ABRELPE, 2014).

De acordo com os estudos realizados em 404 municípios brasileiros (mais de 45% da população)
pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) foram geradas
mais de 76 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2013, o que representa um aumento
de 4,1% em relação a 2012.

O ponto menos eficiente do sistema de gestão de resíduos sólidos brasileiro é a destinação final.
Somente 58% do lixo urbano coletado têm destinação final adequada. Esse quadro não sofreu alterações
significativas desde 2012. O restante dos resíduos sólidos, 28,8 milhões de toneladas, que corresponde
a 41,7% do coletado, é destinado a lixões e aterros controlados, que possuem poucas diferenças em
relação aos lixões, quando levamos em consideração o impacto ambiental.

No Brasil, 3.444 municípios ainda utilizam locais inadequados para a destinação final de seu lixo.
Desse total, 1.569 cidades usam lixões, que do ponto de vista ambiental é a pior forma de destinação,
descartando todo o tipo de material diretamente no solo, sem nenhum tipo de tratamento, nem cuidados
especiais (ABRELPE, 2014).

Devemos salientar que, para que um sistema de gestão de resíduos funcione corretamente, não é
suficiente que possua apenas um sistema de destinação final adequado, várias ações prévias devem ser
implantadas. Podemos citar como exemplo a separação dos resíduos e a coleta seletiva, viabilizando seu
encaminhamento para processos de reciclagem.

No quesito reciclagem, segundo a Abrelpe (2014), o Brasil também não registrou avanços, apesar de
ser uma questão obrigatória na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2012, 60,2% dos municípios
registraram iniciativas nesse setor e, em 2013, pouco mais de 62%. Estudos levantaram que, apesar da
quantidade de cidades com iniciativa de coleta seletiva ser expressiva, essas atividades, na maioria das
vezes, são limitadas a pontos de entrega voluntária ou convênios com cooperativas de catadores.
60
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Segundo a Constituição Federal (BRASIL, 1988a), no artigo 30, cabe ao poder público local a
competência pelos serviços de limpeza pública, incluindo a coleta e destinação final do lixo urbano.
Assim, cabe ao município legislar, gerenciar e definir o sistema de saneamento básico local, bem
como a instituição e arrecadação de tributos de sua competência. Segundo o art. 182 da Constituição
(BRASIL, 1988a), o município deve estabelecer políticas de desenvolvimento urbano, ordenando o pleno
desenvolvimento das funções sociais e garantindo o bem‑estar de seus cidadãos.

Durante décadas, o descarte de resíduos em aterros sanitários foi o único procedimento adotado,
mesmo a incineração era vista apenas como um método de redução de volume dos resíduos e com
única função de aumentar a capacidade dos aterros. O descarte indiscriminado de resíduos tóxicos por
anos seguidos provocou acontecimentos lamentáveis do ponto de vista ambiental. Podemos citar como
exemplo o caso do Love Canal, nos Estados Unidos, que foi um marco na contaminação ambiental por
resíduos tóxicos. A região do Love Canal foi usada na década de 1940, pela Hooker Chemical Co., como
local para descarte de resíduos industriais perigosos. A partir da década de 1960, o local começou a
ser urbanizado, com a construção de casas. Na década de 1970, um odor forte foi sentido na região,
que causava náuseas e ardência nos olhos dos moradores. Pesquisas mostraram que pelo menos uma
centena de doenças atacavam os moradores daquela região, principalmente crianças e idosos. A dioxina
foi identificada como principal contaminante. A United States Environmental Protection Agency
(Usepa) condenou a região para fins habitacionais e, atualmente, ela passa por um processo longo de
descontaminação. Esse episódio levou à revisão da política de descarte de resíduos em aterros, com um
aumento rigoroso na classificação do tipo de resíduo que pode ser descartado diretamente.

A incineração também não é uma solução definitiva: os resíduos incinerados sofrem principalmente
uma redução de volume da parte orgânica pela combustão e evaporação da água, havendo a formação
de cinzas no processo, o que representa a parte inorgânica do resíduo, formada basicamente por metais.
Os metais são oxidados pela combustão, formando resíduos que devem ser descartados com cuidado,
pois durante o processo de incineração contaminantes foram concentrados.

4.2.1 Resíduos sólidos urbanos

O gerenciamento de resíduos sólidos é entendido como conjunto de ações normativas e operacionais,


financeiras e de planejamento que uma administração municipal desenvolve, com base em critérios
sanitários, ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor o lixo de seu município. No quadro a
seguir podemos observar os processos de transformação utilizados no tratamento do lixo domiciliar.

Quadro 1 – Técnicas de manejo de resíduos sólidos urbanos

Processos de transformação Métodos de transformação Principal conversão em produtos


Físicos
Componentes individuais encontrados em
Separação de componentes Manual ou mecânica resíduos domiciliares
Métodos de compactação e
Redução de volume Redução do volume do material original
embasamento
Redução do tamanho Métodos de cominuição Redução de tamanho dos componentes originais

61
Unidade I

Térmicos
COx, SOx, NOx, outros produtos de oxidação, cinzas
Combustão Oxidação térmica e escórias
Esterilização Micro‑ondas Eliminação de micro‑organismos patogênicos
Pirólise Destilação destrutiva PHAs, óleos, alcatrão, gases combustíveis
Biológicos
Compostagem aeróbia Conversão biológica aeróbia Composto humificado
Digestão aeróbia Conversão biológica aeróbia CH4, COx, húmus

Obs.: O termo cominuição é utilizado em mineração para identificar


as etapas de diminuição de tamanho, usando moinhos e britadores.

Fonte: Philippi Jr.; Romero; Bruna (2004, p. 173).

Saiba mais

Para melhor implantação e operação de um sistema de gestão de


resíduos sólidos, leia:

ABRELPE. Resíduos sólidos: manual de boas práticas no planejamento.


São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <www.abrelpe.org.br/manual_apresentacao.
cfm>. Acesso em: 8 out. 2015.

De acordo com Philippi Jr. (2005), a coleta dos resíduos deve ser feita com frequência adequada,
levando em conta que o acúmulo excessivo de resíduos pode aumentar os riscos para o meio ambiente
e para a saúde pública. Os veículos devem ser escolhidos de acordo com quantidade de resíduo, do tipo
de resíduo transportado, das características topográficas e da malha viária da região a ser atendida.

O tratamento de resíduos sólidos procura modificar suas características como quantidade,


toxicidade e patogenia, de forma a diminuir os impactos sobre o ambiente e a saúde pública. As
alternativas tecnológicas são aplicadas de acordo com as características particulares da composição
dos resíduos, do município ou região e dos recursos disponíveis. Nas regiões metropolitanas existe a
tendência de se esgotarem, de forma cada vez mais rápida, os espaços para aterros sanitários. Como
consequência, pode haver o aumento dos custos de disposição final, seja pelo aumento das distâncias
para transporte, pelos custos de novas áreas ou pela necessidade de introdução de outros processos
tecnológicos como a incineração.

Os resíduos sólidos domiciliares são compostos principalmente por matéria orgânica, papel, plástico,
metais, vidros e outros materiais. Devido à presença de matéria orgânica, possuem grande capacidade
de atrair vetores e sua decomposição provoca mau cheiro e um líquido escuro e altamente poluente
conhecido como chorume. A composição varia conforme a época, a cultura, o poder aquisitivo da
população, o tempo, os padrões de consumo da época e o município.

62
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

A coleta é o componente do sistema de resíduos sólidos mais sensível aos olhos da população e, por
isso, mais sujeito a críticas. Falhas no serviço de coleta levam ao acúmulo de resíduos, propiciando a
proliferação de maus odores e de vetores, além de incômodos como a poluição visual. Portanto, a coleta
deve ser feita de uma forma que facilite o comportamento da população e as operações posteriores de
segregação, tratamento e disposição final.

O planejamento e a administração da coleta envolvem algumas características importantes que devem


ser consideradas, entre elas a frequência, o ponto de coleta, o horário de coleta e a forma da coleta. A
frequência da coleta deve ser definida em função do custo e do acúmulo de resíduos. Quanto maior a
frequência, maior o custo, porém quanto menor a frequência, maior o acúmulo de resíduos nos domicílios.
O lixo pode ser coletado na calçada, em frente ao imóvel, ou no interior da casa. Isso depende, entre outros
fatores, da cultura do local e das condições de segurança. A coleta tem um complicador nas épocas de
chuva, uma vez que as águas pluviais podem carregar os sacos de lixo e o material pode entupir as galerias.

A coleta pode ser feita de forma unificada ou com segregação de materiais. A coleta unificada
tem a vantagem de ser mais barata e mais simples de gerenciar, por isso é a mais comum no Brasil. A
coleta com segregação, ou coleta seletiva, facilita o reaproveitamento de materiais e os processos de
tratamento que venham a ser aplicados.

A coleta de materiais recicláveis presentes nos resíduos existiu durante muito tempo de maneira
informal no Brasil, executada pelos próprios garis da coleta ou catadores, que coletavam material
reciclável de porta em porta ou nos lixões, neste último caso em condições subumanas. A coleta seletiva
pode ser feita em sistema de entrega voluntária ou porta a porta. No primeiro caso, são colocados
contêineres em pontos estratégicos ou estabelecem‑se instituições para receber os materiais que em
ambos os casos são levados pela própria população. No segundo caso, os veículos coletores circulam
recolhendo os resíduos de casa em casa, como na coleta regular. Nesse caso, a separação de materiais
pode ser efetuada conforme diferentes critérios.

Além da coleta institucionalizada promovida pelos órgãos de limpeza pública, existe também
a possibilidade da atividade informal de catadores e sucateiros que coletam resíduos seletivamente.
Como os dados de geração de resíduos são levantados com base nessa coleta, a quantidade coletada
informalmente não costuma fazer parte da estatística. Os resíduos coletados são transportados para
unidades de tratamento ou para locais de disposição final.

O transporte constitui geralmente parte importante do custo do sistema de resíduos. No caso


da coleta seletiva, os resíduos recicláveis apresentam uma densidade média cinco vezes inferior aos
resíduos misturados. Alguns fatores contribuem para o alto custo, como a baixa adesão aos programas,
que leva a uma baixa eficiência operacional, e a falta de vontade política das administrações em ampliar
efetivamente a escala dos trabalhos e baixar os custos.

Como já estudamos, na maioria dos municípios brasileiros, os resíduos sólidos domiciliares destinam‑se
a aterros adequados ou não, sem tratamento prévio. Existem diversas iniciativas de reciclagem de
resíduos e de compostagem, que por enquanto representam uma quantidade pouco significativa de
resíduos tratados na maioria dos casos.
63
Unidade I

Alguns municípios possuem um processo de triagem, que tem o objetivo de separar os materiais
que se deseja recuperar, aqueles prejudiciais à qualidade do processamento ou à durabilidade do
equipamento. Pode ser executada manualmente em pátios, esteiras rolantes ou mesas ou de maneira
automatizada, com equipamentos magnéticos ou peneiras. A operação de triagem pode ser realizada em
usinas, aterros, lixões e em outros locais. Quando realizada nos sacos à espera da coleta pelos catadores
de lixo, tem o inconveniente de causar sujidade no local.

Após a triagem, os materiais podem ser prensados a fim de baratear o transporte até os locais onde
serão industrializados. A eficiência da mão de obra de triagem pode ser avaliada pela quantidade de
resíduos triados por pessoa, por hora.

Os principais tipos de tratamento de resíduos sólidos domiciliares são (PHILIPPI JR.; ROMERO;
BRUNA, 2004):

a) a reciclagem de resíduos constitui o reprocessamento de materiais, permitindo novamente a


sua utilização. Assim, materiais descartados são reintroduzidos num ciclo produtivo por meio de sua
transformação. A reciclagem possibilita que materiais considerados resíduos para o gerador passem a
ser matérias‑primas secundárias para outro indivíduo.

A reciclagem difere da reutilização porque exige um maior grau de processamento, excedendo


a simples triagem e limpeza do material. A reciclagem de alumínio economiza 95% da energia em
relação à utilização do minério. O vidro também é fundido em novas peças, com economia de 50% no
consumo de água em relação à fabricação a partir das matérias‑primas primárias. Plásticos são fundidos
e transformados em grânulos, que são usados como matéria‑prima para fabricação de novos produtos
com economia de 78,7% de energia elétrica. Na reciclagem do papel, o material é desagregado em água
e as fibras podem passar ainda por um processo de refinamento antes da utilização. Há ainda soluções
criativas, como fabricação de lixeiras a partir de pneus.

A reciclagem traz benefícios para o meio ambiente, mas deve‑se levar em consideração a análise
do ciclo de vida do produto para existir uma visão clara das vantagens e desvantagens ambientais
envolvidas no processo de reciclagem.

A reciclagem de materiais pela indústria depende muito da viabilidade econômica. Sobre esse processo
pesa também a dificuldade de desenvolvimento de mercado para os produtos reciclados, que muitas vezes
são vistos como produtos de qualidade inferior. Diversos produtos já fabricados com material reciclado não
se utilizam ainda do fato de conter material reciclado como vantagem competitiva no mercado, preferindo
omitir essa informação. Existem ainda produtos artesanais feitos com material reciclado que alcançam
alto valor de mercado pelo seu caráter artístico ou social, quando produzidos em instituições voltadas à
reintegração de crianças, adolescentes e outras pessoas com necessidades especiais.

b) a compostagem é um processo biológico de decomposição controlada de matéria orgânica contida


em restos de origem animal ou vegetal, que produz um composto útil para melhorar as propriedades físicas
do solo, além de ter propriedades fertilizantes. O processo promove a inativação da maioria dos agentes
patogênicos, normalmente presentes nos resíduos sólidos domésticos, porque numa das etapas eles ficam
64
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

expostos a temperaturas da ordem de 65 ºC a 70 oC. Não se aconselha o uso em culturas que são ingeridas
cruas, por causa de existência de certas formas de ovos e cistos que resistem a essas temperaturas.

Existem várias alternativas de processos tecnológicos, desde os mais simples, como a compostagem
em montes periodicamente revirados, até instalações de grande porte com tambores rotativos. A
compostagem pode ser realizada por meio de processos aeróbicos, anaeróbios ou mistos, mas é um
processo lento, que dependendo da tecnologia empregada pode levar de 45 a 180 dias. Em geral, exige
áreas grandes de pátio para a etapa de cura.

c) a incineração constitui um processo de redução de peso e volume dos resíduos por intermédio de
queima controlada. Os resíduos são reduzidos a cinzas, que representam de 5% a 15% do peso inicial.
Os agentes patogênicos são destruídos, por isso ela é muito utilizada para tratamentos de resíduos de
serviços de saúde, já que essa solução destrói também diversos compostos químicos tóxicos presentes.
Alguns incineradores são projetados de modo a permitir o aproveitamento do calor gerado da queima
para a produção de energia elétrica. Uma das desvantagens desse processo está no risco de produção
e emissão de dioxinas e furanos, substâncias cancerígenas, que se emitidas com os gases da queima
podem depositar‑se no solo, entrar na cadeia alimentar via vegetais e provocar danos ambientais graves.

Tecnicamente, existem formas de minimizar bastante essa possibilidade, como o resfriamento mais
rápido dos gases e filtragem de materiais particulados. Contudo, a percepção dos riscos associados
ao processo e à segurança da tecnologia varia de comunidade para comunidade, o que tem tornado
politicamente difícil e desgastante as decisões sobre a instalação de novos incineradores e provocado a
desativação de equipamentos antigos. As cinzas ainda devem ser aterradas, sendo necessário que haja
um aterro para a sua disposição, mas a principal desvantagem está no custo elevado.

Um estudo sobre as alternativas para o município de São Paulo mostra que a incineração de alguns
componentes dos resíduos sólidos domésticos pode ser economicamente mais interessante que a coleta
seletiva e reciclagem, embora investimentos mais expressivos em educação ambiental possam inverter
essa situação. Considerando o ponto de vista ambiental e tendo como parâmetro o efeito estufa e o
aumento da temperatura da superfície da Terra devido a uma maior emissão de gases na atmosfera, a
reciclagem torna‑se mais vantajosa.

Onde há escassez de áreas para aterro ou fontes de energia, a incineração de resíduos sólidos
domésticos é muito utilizada. No Japão, 70% do lixo doméstico é incinerado. Na Alemanha, as exigências
com a qualidade do ar têm inviabilizado novos investimentos em incineradores e, assim, vem aumentando
a fração do lixo tratada por compostagem. Por outro lado, tem sido admitida a incineração de plásticos,
pois o mercado de reciclagem não é suficiente para processar todo o material recolhido.

d) os aterros sanitários são obras de engenharia destinadas a acomodar os resíduos sobre o solo,
minimizando os impactos ambientais e os riscos à saúde. Os resíduos não tratados e os rejeitos dos diversos
processos de tratamento precisam ser finalmente dispostos no solo; a solução mais frequentemente
indicada é o aterro sanitário. É importante ressaltar que nenhum sistema de resíduos sólidos dispensa o
aterro sanitário. A existência de alguma forma de disposição final se faz sempre necessária para absorver
os rejeitos gerados pelos processos de tratamento e reciclagem.
65
Unidade I

Os aterros devem possuir drenos para os líquidos percolados que se formam na decomposição
natural da matéria orgânica e impermeabilização adequada para evitar a contaminação de aquíferos.
Também precisam dispor de drenos para o escoamento dos gases que se formam no processo de
fermentação da matéria orgânica. A operação deve incluir compactação do lixo e cobertura diária dos
resíduos com terra, que ajuda a evitar a emanação de maus odores e o crescimento de vetores. Além
disso, precisam ser cercados para evitar a atividade de catadores.

Quando a capacidade do aterro se esgota, a área deve ser recuperada do ponto de vista paisagístico
e de utilização pela sociedade, respeitando‑se as limitações técnicas inerentes às características dos
terrenos aterrados com resíduos. Por fim, eles devem ter um sistema de drenagem de águas pluviais,
tratamento adequado para o chorume e também sistema de monitoramento de lençol freático.

Entre as soluções sanitárias e ambientalmente adequadas, os aterros sanitários são considerados a


forma mais barata, no curto prazo, para solucionar a questão do lixo doméstico em cidades médias e
grandes. Com o passar do tempo, as áreas disponíveis tendem a se esgotar, provocando aumento de
custo devido ao preço dos novos terrenos ou às maiores distâncias em relação aos centros geradores.

As formas de disposição, nas quais não há qualquer cuidado para redução do impacto ambiental,
são normalmente chamadas de lixão. Os lixões são inadequados do ponto de vista sanitário porque
propiciam a proliferação de vetores e o aparecimento de doenças. Podem provocar a poluição do solo,
das águas e do ar e diversos problemas ambientais. Do ponto de vista social, acabam refletindo a miséria
encontrada na região, porque são fonte de renda e alimento para catadores. Os lixões dão a forma mais
numerosa de locais de destinação final no Brasil, sendo quase 50 mil ton./dia dispostas em locais com
essa classificação.

4.2.2 Resíduos de serviços de saúde (RSS)

Até o final da década de 1980, os RSS eram denominados lixo hospitalar. Em 1987, a ABNT
alterou a terminologia para resíduos de serviço de saúde, considerando que esse tipo de resíduo
não é exclusivamente gerado em hospitais, mas também provenientes de ambulatórios, consultórios
médicos e odontológicos, clínicas veterinárias, farmácias, laboratórios de análises clínicas e
patológicas, bancos de sangue ou leite, além das estações rodoferroviárias, portos e aeroportos e
locais de grande fluxo de pessoas.

A Resolução 283 (CONAMA, 2001) acrescentou algumas outras fontes geradoras desses resíduos,
como centros de pesquisa, desenvolvimento ou experimentação na área de farmacologia e saúde,
medicamentos e imunoterápicos vencidos ou deteriorados, resíduos provenientes de necrotérios,
funerárias e serviços de medicina legal e provenientes de barreiras sanitárias.

Atualmente, a Anvisa (2004), por meio da RDC33/03, acrescenta e especifica novos serviços àqueles
já previstos nas legislações anteriores, passando a incluir: serviços de apoio à preservação da vida;
indústrias; unidades de controle de zoonoses; serviços de tatuagem e acupuntura; serviços radiológicos,
de radioterapia e medicina nuclear; serviços de tratamento quimioterápico e de hemoterapia; unidades
de produção de hemoderivados e serviços de embalsamamento.
66
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

No Brasil, os resíduos gerados nos serviços de saúde ficaram sem uma classificação legal específica
até o início da década de 1990. Então, a ABNT passou a editar uma série de normas, como a NBR 12.808
(1993), que classificava em três categorias os RSS, segundo a mesma direção do Centro de Vigilância
Sanitária (CVS) em 1989: infectantes, especiais (incluindo os farmacêuticos, radioativos e químicos
perigosos) e comuns. Nesse período, não havia um consenso sobre a classificação dos RSS no Brasil, até
que fosse editada em 1993 a Resolução nº 5 (CONAMA, 1993), que representou a primeira norma legal
de classificação dos RSS. Eles passaram a ser divididos em quatro grupos:

Grupo A – Infectantes: constituído pelos resíduos que apresentam risco em potencial à saúde
pública e ao meio ambiente devido à presença de agentes biológicos. Fazem parte desse grupo sangue e
hemoderivados, animais usados em experimentação, excreções, secreções e fluidos orgânicos e animais,
meios de cultura, tecidos e órgãos, fetos e peças anatômicas, filtros de gases aspirados em áreas
contaminadas, resíduos em geral e restos alimentares de áreas de isolamento, resíduos de laboratórios
de análises clínicas, resíduos de ambulatórios, de sanitários de unidades de internação e enfermarias e
animais mortos a bordo de meios de transporte.

Grupo B – Químicos: materiais que apresentam risco em potencial à saúde pública e meio
ambiente devido às suas características químicas. Incluem‑se drogas quimioterápicas e produtos por
elas contaminados, resíduos farmacêuticos (medicamentos vencidos, contaminados, interditados, ou
não utilizados) e demais produtos perigosos, conforme a classificação nacional de resíduo sólido – NBR
10004 da ABNT (tóxicos, inflamáveis, corrosivos e reativos).

Grupo C – Radioativos: constituídos por rejeitos radioativos, como material contaminado com
radionuclídeos, provenientes de laboratórios de análises clínicas e serviços de medicina nuclear e
radioterapia, segundo a resolução 6.05 da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN, 1985).

Grupo D – Comuns: constituído pelos demais tipos de resíduos que não se enquadram nos anteriores.

A Resolução 283 (CONAMA, 2001) partiu do princípio da necessidade de aprimoramento, atualização


e complementação da resolução 05/93 do Conama. Em relação à classificação dos RSS, foram mantidas
as quatro categorias, acrescentando‑se aos resíduos do grupo A: vacina vencida ou inutilizada, membrana
filtrante de equipamento médico hospitalar e de pesquisa, objetos perfurocortantes, provenientes de
estabelecimentos prestadores de serviços de saúde, resíduos contaminados por excreções e líquidos
orgânicos procedentes de pacientes, resíduos de sanitários de pacientes, materiais descartáveis que tenham
entrado em contato com paciente, lodo de Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de estabelecimento de
saúde e resíduos provenientes de áreas endêmicas definidas pela autoridade de saúde competente.

A partir de março de 2003, por definição da RDC 33/03 da Anvisa, os RSS passaram a ser classificados
em cinco grupos, separando‑se os resíduos perfurocortantes, antes incluídos no grupo de infectantes,
em um novo grupo:

Grupo A – Potencialmente infectantes: resíduos com possibilidades de conter agentes biológicos


que podem causar risco de infecção devido a características de maior virulência ou concentração. São
subdivididos em sete categorias, denominadas de A1 a A7, de acordo com os diferentes tipos de resíduos.
67
Unidade I

Grupo B – Químicos: apresentam, em sua composição, substâncias químicas, independentemente


das características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxidade. Subdividem‑se em oito
categorias de B1 a B8.

Grupo C – Rejeitos radioativos: contaminados com radionuclídeos, devendo seguir determinações


técnicas e legais da CNEN.

Grupo D – Resíduos comuns: qualquer resíduo não contaminado e que não possa provocar acidentes.

Grupo E – Perfurocortantes: esta categoria inclui objetos e instrumentos que possuem cantos e
bordas, pontos de protuberâncias rígidas e agudas, cortantes ou perfurantes.

No final da década de 1960 já havia uma tímida preocupação quanto à importância e aos cuidados
especiais a serem dispensados com os RSS, principalmente com o aumento do consumo de produtos
descartáveis. Atualmente, procura‑se proporcionar uma solução segura e eficiente para esses resíduos que
são um dos maiores problemas, pois não há fundamentação científica que assegure um melhor método de
tratamento e destinação final para os RSS sem que causem danos à saúde humana e ao ambiente.

O sistema de tratamento de RSS é definido pela legislação como um conjunto de unidades, técnicas,
processos e procedimentos que alteram as características físicas, físico‑químicas, químicas e biológicas
dos resíduos e conduzem à minimização do risco à saúde pública e à qualidade do meio ambiente
(CONAMA, 1993).

De acordo com a Resolução nº 5 (CONAMA, 1993), os resíduos infectantes (grupo A) não podem ser
dispostos no ambiente sem tratamento prévio, sendo também proibida sua reciclagem. Após tratamento,
esse resíduo passa a ser considerado do tipo comum (grupo D) e deve seguir as recomendações dos
órgãos ambientais.

Resíduos do grupo B (de origem química) devem ser submetidos a tratamento e destinação
específicos, de acordo com os seus subgrupos, enquanto os radioativos (grupo C) devem seguir as
exigências definidas pela CNEN. Já os do grupo D (do tipo comum) podem entrar no mesmo sistema
dos resíduos domiciliares, desde que não sejam misturados aos demais tipos de resíduos, devendo ser
coletados pelo órgão municipal.

Para a RDC 33/03 da Anvisa (2004), os resíduos do grupo A e B devem seguir diferentes tipos de
tratamentos ou descontaminação na própria unidade geradora antes do seu encaminhamento para
tratamento ou destino final, devendo envolver os fabricantes no processo; os do grupo E devem ter
tratamento prévio ou ser encaminhados diretamente para aterro sanitário, e as recomendações para os
resíduos dos grupos C e D assemelham‑se às contidas nas resoluções anteriormente vigentes.

Recomenda‑se que instalações de tratamento de resíduos obedeçam à legislação específica,


sempre privilegiando opções consorciadas pela extensão dos benefícios à comunidade e ao ambiente.
A responsabilidade pelo manuseio, tratamento e disposição final dos RSS é do estabelecimento gerador,
com exceção dos resíduos comuns – grupo D.
68
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Alguns autores recomendam a reciclagem dos resíduos de saúde do tipo comum, como papel,
papelão, latas de alumínio e vidros, desde que não tenham tido contato com áreas de atendimento de
pacientes, com o objetivo de proteger o meio ambiente, conservar os recursos da natureza, diminuir o
volume dos resíduos e aumentar a vida útil dos aterros sanitários.

Estudaremos de maneira resumida cada um dos tratamentos aplicados aos resíduos de serviços de
saúde atualmente (PHILIPPI JR., 2005):

• Desinfecção química

É um processo em que os RSS são submetidos à ação de substâncias químicas para a destruição de
agentes infecciosos. Os resíduos líquidos resultantes desse processo podem ser despejados em sistemas
de esgoto e os resíduos sólidos secos dispostos em aterro sanitário. No entanto, as recomendações para
seu uso referem‑se mais à desinfecção de utensílios e superfícies do que de resíduos, sendo necessário um
monitoramento de cada lote dos produtos utilizados para maior garantia. O maior inconveniente é que
esse processo deixa resíduos tão ou mais perigosos para o meio ambiente do que antes do tratamento.

• Esterilização a vapor (em autoclave)

É um método de tratamento amplamente utilizado para descontaminação de resíduos microbiológicos


e outros de laboratórios antes da disposição final. Como é um processo que deve permitir a penetração
de vapor e condução de calor por toda a massa a ser esterilizada para ser eficiente, torna‑se impróprio
para o tratamento de grandes volumes de resíduos pela espessura e estado físico do RSS.

O uso de autoclave exige desenvolvimento de uma tecnologia razoavelmente sofisticada, que precisa
de treinamento para ser operada. Os resíduos devem ir para aterros sanitários e jamais reciclados, pois
não há garantia de destruição dos organismos patogênicos.

• Esterilização por gases

Trata‑se de um processo que consiste na injeção de um agente químico, sob a forma de gás, numa
câmara fechada. Comumente têm sido utilizados óxido de etileno e formaldeído. Admite‑se o uso de
gases no tratamento de resíduos de serviços de saúde, porém lembrando os efeitos cancerígenos ligados
ao óxido de etileno. Devido a esses riscos, é um método que requer uma estrutura especial do serviço
para sua utilização e os serviços devem seguir as recomendações legais específicas.

• Inativação térmica

É um processo de aquecimento do resíduo em temperaturas que destroem grandes volumes de


resíduos líquidos, que são colocados sobre uma chama, em temperaturas predeterminadas, por um
período de tempo específico. É um método muito utilizado em indústrias, mas não muito difundido no
Brasil, sendo semelhante ao sistema de esterilização por vapor.

69
Unidade I

• Incineração

A incineração é o método mais utilizado nas últimas décadas, sendo preconizado até recentemente
como o mais adequado para assegurar a eliminação de microrganismos patogênicos presentes na
massa de resíduos infectantes do grupo A, desde que atendidas as necessidades de projeto e operação
adequadas ao controle do processo.

Uma de suas vantagens é quanto à intensa redução do volume (cerca de 90%) e peso (15%), além
da descaracterização do aspecto inicial dos resíduos. A instalação de um sistema de incineração requer
um espaço físico bem reduzido em relação à sua capacidade de recepção e pode resultar em quatro
produtos: gases, destacando‑se as dioxinas e furanos, energia, resíduos sólidos (cinzas e escórias) e
efluentes líquidos, dependendo do tipo de incinerador.

Como desvantagens, a incineração não elimina totalmente os resíduos e pode emitir gases
poluentes na atmosfera, como furanos e dioxinas, além de metais pesados, se os equipamentos forem
inadequadamente projetados e/ou operados. Uma outra desvantagem é a carência de estudos de testes
de eficiência periódicos para monitorar o sistema.

A possibilidade de emissão de gases nocivos à saúde humana e ambiental é uma das principais
justificativas de alguns órgãos governamentais e pesquisadores para não optar ou não recomendar a
incineração de resíduos.

No Brasil, a Portaria nº 53 (BRASIL, 1979b) do Ministério do Interior, que no item VI tornava obrigatória
a incineração de resíduos de serviços de saúde, teve esse item revogado, por intermédio da Resolução
nº 6 (CONAMA, 1991), com base nessa inconveniência de operação. Atualmente, a legislação específica
para esse tema não determina o tipo de tratamento a ser eleito pelos geradores, mas exige que atenda
às normas de controle da poluição do solo, das águas e do ar. O uso da incineração tem sido reduzido,
dando espaço à utilização de novas tecnologias para tratamento dos RSS, como micro‑ondas e, mais
recentemente, tocha de plasma.

• Radiações ionizantes

É uma tecnologia recente para o tratamento dos resíduos de serviços de saúde, que utiliza radiações
gama a partir do cobalto (Co) 60 e ultravioleta para destruir os micro‑organismos infecciosos. A
radiação ultravioleta tem sido empregada mais no tratamento de água residuária. É recomendado um
monitoramento quinzenal com testes bacteriológicos e há no Brasil uma legislação específica.

• Uso de micro‑ondas

A utilização de micro‑ondas para destruir agentes infecciosos tem sido empregada com sucesso em
alguns serviços de saúde da Europa e foi introduzido no Brasil mais recentemente. Consiste na trituração
dos resíduos, que são umedecidos com água aquecida entre 90 °C e 150 oC, passando para outra câmara
em que sofrerão a ação de micro‑ondas, com um tempo de permanência de quinze a trinta minutos.

70
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Esse processo reduz o volume dos resíduos entre 60% e 90%, deixando‑os descaracterizados.
Pode oferecer risco ocupacional durante o manuseio dos resíduos, principalmente na etapa inicial de
trituração, anterior à aplicação de micro‑ondas, embora haja uma expectativa de que se represente uma
tecnologia que possibilitará a redução de custos e ajudará a controlar a poluição ambiental decorrente
de outras práticas. É um processo pouco conhecido no Brasil.

• Uso de tocha de plasma

O sistema de plasma pirólise ou plasma térmico é a mais recente tecnologia introduzida para
o tratamento dos RSS. O processo envolve a introdução de um gás ionizado – nitrogênio, argônio
ou monóxido de carbono (CO) – que se transforma em tocha de plasma por meio da aplicação de
energia elétrica, dentro de um forno revestido de sílica, alumina e magnesita para resistir às altíssimas
temperaturas que são produzidas.

Uma tocha de plasma de 0,2 m de diâmetro por 0,8 m de comprimento, com 500 kW de potência,
trata cerca de 800 kg de resíduo por hora. Esse sistema necessita ser ligado à corrente elétrica 30
minutos antes do início do processo. É um método limpo gerador de um produto que, após gaseificado
a temperaturas em torno de 1600 oC, funde‑se, tornando‑se vitrificado e de extrema dureza, podendo
ser utilizado em construções ou outros fins. Outra vantagem é a elevada redução de seu volume e a
não emissão de dioxina. No entanto, essa tecnologia exige alto investimento, sendo ainda necessários
estudos mais ampliados.

De acordo com a Resolução 283 (CONAMA, 2001), o sistema de destinação final de RSS constitui‑se
no conjunto das instalações, processos e procedimentos que objetivam a destinação ambientalmente
adequada dos resíduos, em consonância com as exigências dos órgãos ambientais competentes,
procurando assegurar a proteção ao meio ambiente e à saúde pública.

A disposição final dos RSS deve ser precedida pelo tratamento prévio desses resíduos, dependendo do
seu potencial de risco, e é de responsabilidade do gerador, embora, historicamente, tenha sido atribuição
do poder público municipal.

A partir da coleta externa, que transporta os RSS do estabelecimento gerador ao local onde serão
dispostos, os resíduos de serviços de saúde devem ter como destinação final um aterro sanitário, que
se constitui em solução aceita por autoridades governamentais e científicas, desde que os resíduos dos
tipos infecciosos e químicos (grupos A e B) tenham sido submetidos a tratamentos prévios específicos.

4.3 Importância da reciclagem para o meio ambiente

Atualmente, a sociedade encara a reciclagem como uma possibilidade de recuperar resíduos sólidos
de forma lucrativa, reinserindo o material no circuito de consumo de mercadorias e com ganhos
ambientais a partir dessa atitude. Infelizmente, numa sociedade capitalista, o principal objetivo é a
obtenção de lucro. A preservação ambiental ainda está em segundo plano. Vivemos numa realidade
contraditória: como preservar a natureza e ao mesmo tempo estimular o consumo?

71
Unidade I

A separação do material reciclado no lixo é feita por catadores que trabalham em lixões ou nas ruas
coletando resíduos. Isso mostra o alto grau de exclusão dessa parcela da população, que é obrigada
a trabalhar em condições sub‑humanas para obtenção de seu sustento. O trabalho dos catadores de
lixo faz parte de uma engrenagem ampla e complexa do sistema produtivo da reciclagem. O catador
de material para reciclagem é extremamente importante para o processo, mas trabalha em condições
precárias e seus ganhos não são suficientes para garantir a sua sobrevivência (LEAL et al., 2002).

A reciclagem é vista como uma ação benéfica ao meio ambiente, pois ajuda a diminuir os danos
causados pelo homem ao ambiente, aproveita parte do resíduo sólido doméstico e, ainda, colabora com
a solução de problemas urbanos como a destinação do lixo, não sobrecarregando os aterros sanitários.
Contudo, ela é extremamente lucrativa para quem controla parte da reindustrialização de resíduos
sólidos recicláveis, transformando‑os em matéria‑prima novamente.

A ideia da reciclagem deve beneficiar a preservação de alguns recursos naturais que seriam gastos
na fabricação de produtos novos. Contudo, a reintrodução dos resíduos sólidos no sistema produtivo
da economia, quando realizada em grande escala, traz benefícios à natureza, mas este não é o objetivo
principal, mas sim a geração de lucro com a economia de matéria‑prima reciclada, muito mais barata
que a matéria‑prima virgem. Não são todos os resíduos recicláveis que chamam a atenção das empresas
recicladoras; elas só investem naqueles materiais que têm lucro garantido, usando os mesmos métodos
que fundamentam e dirigem qualquer atividade industrial que faz parte do capitalismo. A indústria da
reciclagem usa o pretexto da importância de proteger a natureza, valorizando os seus produtos pelo
fato de serem reciclados ou que podem ser reciclados.

A reciclagem é vista de forma distorcida pela sociedade, pois o indivíduo pensa que ele pode ser
beneficiado diretamente, participando do processo como agente ambiental, e esse tipo de atitude é
reforçado pela mídia.

Somente os materiais que apresentam baixo custo, grande disponibilidade e um mercado consumidor
garantido recebem investimento e atenção da indústria da reciclagem. A importância do beneficiamento
ambiental é uma consequência e pode ser usada como marketing. Dessa forma, se o papel é reciclado,
é um negócio garantido; se é um outro material que não dá lucro, o melhor é destiná‑lo ao aterro
sanitário. É com esse pensamento que os resíduos sólidos recicláveis retornam ao processo produtivo,
resgatando o valor daquilo que era considerado inútil.

O sistema da reciclagem é composto pelos catadores, pelos intermediários, que acumulam uma
quantidade maior de material para revenda, e pelas indústrias de reciclagem. Esse sistema acontece nos
grandes centros urbanos, principalmente em países com alto grau de pobreza e desemprego. Os centros
urbanos são locais de alto consumo de produtos e geração de resíduos sólidos, que podem ser reciclados
se descartados em grandes quantidades. Assim, indivíduos vivendo em condições de miséria, sem amparo,
veem‑se obrigados a coletar o material reciclável do lixo e vendê‑lo como forma de sobrevivência.

Podemos perceber um incentivo em aumentar a produção e estimular o consumo, característica do


sistema capitalista. Como resultado, observa‑se a geração de grande quantidade de lixo nos centros
urbanos. Os catadores que trabalham nos lixões, ou perambulando pela cidade recolhendo material
72
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

reciclável, não recolhem lixo, mas sim uma mercadoria dentro de um determinado contexto social, que
é vendida para o intermediário e, em seguida, vendida para a indústria.

A lata, o ferro, o papel e o alumínio são materiais potencialmente recicláveis. Mesmo após virarem
lixo, ainda carregam a síntese do trabalho humano, organizado sob um sistema produtivo de mercadorias
e composto por várias etapas e utilização de matérias‑primas e outras muitas ações socialmente
necessárias para formar o produto final.

No Brasil, o processo de reciclagem explora, em grande parte, uma massa de trabalhadores


miseráveis, que são obrigados, por questões sociais e econômicas, a tirarem o seu sustento do lixo. Um
fato interessante é que nunca são apresentadas as porcentagens de aumento dos resíduos recicláveis
anualmente. Sabemos que esse aumento não tem relação com o aumento da conscientização da
população em relação à geração e destinação do lixo (LEAL et al., 2002).

Não é novidade que o lixo é um dos maiores problemas ambientais da atualidade. Ele tem o seu
lugar nos programas de educação nas escolas, mas o entendimento dessa questão tem que ser feito
integrando questões econômicas, sociais, políticas e ambientais. Assim, formulou‑se a chamada política
dos 3 Rs, que se baseia em técnicas e meios para enfrentarmos a questão do lixo.

A educação ambiental reducionista, tentando resolver o problema local do lixo, torna a reciclagem
uma ação final, ao invés de considerar o tema como gerador de um questionamento de causas e
consequências da problemática do lixo, levando a discussões alienadas apenas dos aspectos técnicos da
reciclagem e fugindo da dimensão política (LAYRARGUES, 2002).

A discussão levantada pela educação ambiental não ajuda na formação da cidadania, pois não existe
uma ação coletiva pública para implementação de alternativas para o tratamento dos resíduos sólidos
urbanos. O lixo ainda não se tornou uma questão que mereça políticas públicas, assim como alguns
movimentos sociais. Nem mesmo as cooperativas de catadores de lixo conseguiram transformar essa
atividade em política pública. O volume de resíduos sólidos cresce a cada dia e os problemas gerados
podem ser divididos em cinco categorias: saúde pública, custos de recolhimento e processamento,
estética, ocupação de espaço em depósitos de lixo e esgotamento dos recursos naturais. A principal
discussão do tema recai sobre a coleta seletiva do lixo como uma alternativa para o tratamento dos
resíduos, baseando‑se na atual lotação dos depósitos de lixo e nas dificuldades encontradas pelas
prefeituras na destinação final do lixo. Vários problemas políticos tornam a coleta tradicional cada vez
mais cara, favorecendo o surgimento da coleta seletiva, que utiliza como incentivo evitar a possibilidade
de esgotamento de recursos naturais não renováveis, principalmente os recursos minerais, que podem
impactar na extinção de alguns materiais a curto prazo.

A sociedade atualmente encara a reciclagem da seguinte forma:

A coleta seletiva é uma alternativa ecologicamente correta que desvia do


destino em aterros sanitários ou lixões, resíduos sólidos que podem ser
reciclados. Com isso, dois objetivos importantes são alcançados. Por um lado,
a vida útil dos aterros sanitários é prolongada e o meio ambiente é menos
73
Unidade I

contaminado. Por outro lado, o uso de matéria‑prima reciclável diminui a


extração dos nossos tesouros naturais. Uma lata velha que se transforma
em uma lata nova é muito melhor que uma lata a mais. E de lata em lata o
planeta vai virando um lixão [...] (LAYRARGUES, 2002, p. 2).

Fazendo uma análise do discurso ambiental do governo brasileiro, existem duas vertentes sobre
os problemas ambientais: a primeira é o discurso ecológico oficial, determinado pelo ambientalismo
governamental, e tem a função de manter os valores culturais da sociedade; a segunda é o discurso
ecológico alternativo, que é ecológico realmente e tem a função de promover os valores que nem
sempre vão de acordo com os interesses sociais e econômicos instituídos. Os empresários brasileiros
possuem a mesma postura do governo, pois divulgam a dominação ideológica, impedindo qualquer
ação fora dos interesses empresariais e governamentais.

Devemos salientar que o ambientalismo alternativo é contrário ao oficial. Assim, cada ideologia
possui uma determinada visão dos problemas relacionados ao lixo, uma determinada interpretação
da política dos 3 Rs e, para a educação ambiental, cada ideologia crê num conjunto de proposições
pedagógicas de acordo com seus interesses.

As mazelas do lixo são um problema cultural, consequência do consumismo selvagem, que é um dos
alvos da crítica à sociedade atual para o ambientalismo alternativo. O consumismo tornou‑se um fator
expressivo da crítica quando se fala de um ambiente sustentável. Nesse contexto, o sistema de produção
e a economia visam aumentar o consumo. Essa sequência de acontecimentos passou a ser vista como
sinônimo de qualidade de vida. Por outro lado, o consumismo também pode ser visto como causa de
muitos problemas ambientais e, logo, não poderia mais ser interpretado como sinônimo de bem‑estar.

Os cidadãos são induzidos a consumir bens materiais sem necessidade, que se tornam obsoletos
em poucos meses. Isso é ainda mais acentuado quando falamos dos eletrodomésticos. Por exemplo, os
eletrodomésticos fabricados na década de 1950 eram muito mais resistentes e passíveis de manutenção
do que os fabricados atualmente, pois tinham o objetivo de durar e não quebravam facilmente; se
quebrassem, seu conserto tinha um custo viável, o que também não ocorre mais. Assim, é importante
eliminarmos a obsolescência planejada para conseguirmos minimizar os resíduos. Fabricar um refrigerador
planejando uma vida útil de doze anos ao invés de oito significa ter 1/3 de refrigeradores a menos sendo
descartados no mesmo período de tempo.

O mercado capitalista cria demandas artificiais por meio de propaganda, estimulando os consumidores
a comprarem produtos novos, mesmo quando os antigos ainda estão funcionando perfeitamente bem,
induzindo a ilusão de que o produto ficou obsoleto. Notamos que a vida útil dos produtos está cada vez
menor, pois ocorre uma união entre a obsolescência planejada e a criação de demandas artificiais no
mercado capitalista. A moda e a propaganda nos levam a um desvio da função primária dos bens. Nos
dias de hoje, a obsolescência planejada e a descartabilidade dos produtos são elementos essenciais para
um estilo de produção que estimula o consumismo selvagem (LAYRARGUES, 2002).

Assim, dentro de uma sociedade consumista, a redução de gastos é a alternativa possível, permitindo
mudar a devoção pelo consumo e buscando outros valores, por exemplo, a educação. Entretanto,
74
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

numa sociedade materialista e consumista ao extremo, a simplicidade é vista como privação, sacrifício,
renúncia, já que a aquisição de bens materiais é tida como a felicidade conquistada com o consumo.
A sociedade moderna está contaminada pelo consumismo e tudo nos faz acreditar que diminuir o
consumo é doloroso, pois precisamos mudar os valores que já estão enraizados.

A Teoria dos 3 Rs, na filosofia ecológica alternativa, incentiva uma sequência lógica que deve ser
seguida: a redução do consumo deve ser prioridade quando comparada à reutilização e reciclagem;
em seguida, a reutilização deve ser prioridade em cima da reciclagem. Reutilizar deve ter relevância
equivalente à redução do consumo. Já a filosofia ecológica oficial prega que o problema do lixo é uma
questão de ordem técnica, e não cultural. Os ideais sobre o consumismo são publicados na Agenda 21,
que determina que o consumo atualmente é insustentável.

Segundo Layrargues (2002), é importante entender as diferenças entre as duas filosofias: a alternativa
é subversiva e radical, mas a oficial é conservadora e moderada na forma como classifica o consumo em
insustentável, afirmando que possa existir uma maneira sustentável de consumir.

O consumo sustentável torna‑se uma alternativa viável quando associado à reciclagem com as
tecnologias limpas e eficientes. Atualmente, podemos criticar a filosofia oficial, pois já existem sociedades
que possuem um consumo sustentável. Entretanto, o consumismo ainda não pode ser criticado, pois a
diminuição do consumo é perigosa para a economia.

Para a filosofia oficial, o maior problema é o consumo insustentável, e não o consumismo. Essa
filosofia não aceita a redução do consumo. A reciclagem serve para transformar o consumo insustentável
em sustentável.

Dessa forma, pode‑se interpretar a teoria dos 3 Rs de duas maneiras: a primeira leva em consideração
a redução e reutilização e mostra‑se como um projeto político‑ideológico progressista; a segunda
ressalta a reciclagem e mostra‑se como um projeto liberal. Se a Agenda 21 não considera o consumismo
um problema, tampouco estimula a redução do consumo no seu texto. Sendo essa cultura o alvo da
alteração de comportamento, enfatizada na filosofia ecológica alternativa, a reciclagem mostra‑se
contraditória em relação à diminuição do consumo e à reutilização, mas essa ideia não traz ameaças
para o sistema dominante uma vez que não questiona o consumismo.

O Clube de Roma (MEADOWS; MEADOWS; RANDERS, 1992) já admitia que o aumento da vida útil
dos produtos, a redução da obsolescência planejada, o conserto dos produtos quebrados e a reutilização
de produtos descartados são maneiras extremamente mais eficientes que a reciclagem, pois necessitam
de menos energia para a transformação. Aumentar a vida útil de bens para o dobro significa reduzir o
consumo de energia, o resíduo e a poluição gerada.

Assim, a filosofia ecológica oficial altera a ordem de prioridade da política dos 3 Rs: dando importância
máxima à reciclagem e minimizando a redução do consumo. Contudo, para não criar uma lacuna,
transforma a relevância da redução de consumo em desperdício e continua o discurso quando incorpora
o interesse na reutilização, mas sem grande interesse (LAYRARGUES, 2002).

75
Unidade I

A Política dos 3 Rs dá prioridade à filosofia ecológica oficial, transformando‑se numa prática de


comportamento, e não de reflexão, pois diminui a política da reciclagem.

A reciclagem, além de permitir o aumento da vida útil dos produtos, ainda incentiva a proteção
ambiental. Segundo Layrargues (2002), para que a reciclagem seja considerada uma solução viável
e real das mazelas ambientais da indústria, ela precisa estar baseada na educação para gerar novos
comportamentos mais adequados diante dos resíduos, incentivando uma disposição correta do lixo,
facilitando sua triagem e, em seguida, a reciclagem.

A função dessas ideias para o ambientalismo alternativo é anestesiar a sociedade, pois a população
enxerga com ingenuidade o papel da reciclagem, que é interpretada como uma conquista gradual, sem
notar a inativação do poder crítico da ideologia contra‑hegemônica. Nesse contexto, podemos entender
a importância da reciclagem nos programas de coleta seletiva de lixo como uma alternativa que é muito
bem vista no modelo econômico atual. Da mesma forma, sua implantação não tem trazido soluções
definitivas, pois poderia causar prejuízos aos representantes da ideologia hegemônica.

A reciclagem pode provocar um efeito ilusório e calmante na população, que começa a consumir
mais, especialmente descartáveis, pois podem ser reciclados e, logo, são considerados ecológicos. As
indústrias que usam símbolos indicando que o produto é reciclável induzem os consumidores à ideia de
reciclabilidade infinita, além de criar a suposição de que a embalagem é fundamentalmente ecológica,
quando, na verdade, o símbolo se transforma no promotor da descartabilidade, reforçando o ato de
consumir (LAYRARGUES, 2002).

Esse processo é conhecido como compensação do risco e pode acontecer quando um risco passa a ser
controlado e aceitamos um outro risco. Se o consumismo leva a um impacto ambiental para os cidadãos
devido à exploração predatória do meio ambiente e ao preenchimento dos depósitos de lixo, é possível
encontrar mecanismos que dirigem esse risco, o que pode ser chamado de reciclabilidade. Ao invés de
diminuirmos o consumo, aproveitamos a oportunidade de manter nosso padrão de vida, pois o risco
foi controlado, e a reciclagem torna‑se uma função de compensação do consumo. Acreditamos numa
falsa segurança: a reciclagem promove a sensação de estarmos adotando um comportamento correto
ambientalmente, contribuindo com a solução do problema, mas, apenas, estimulam‑se as estratégias de
distribuição desigual de renda (LAYRARGUES, 2002).

Em 1991, a Latasa iniciou o Programa Permanente para Reciclagem da Lata de Alumínio e os índices
de reciclagem aumentaram: em 1991, 37% (4.500 toneladas) das latas de alumínio foram recicladas;
em 1999, a porcentagem aumentou para 73%. A cada tonelada de alumínio reaproveitada, deixamos
de consumir cinco toneladas de bauxita. Assim, a proporção de 1:5 torna‑se significativa. Mas o foco
principal se refere ao esgotamento do minério bauxita e precisamos estudar a influência da reciclagem
em suas reservas mundiais. As 86.409 toneladas de latas de alumínio brasileiras recicladas em 1999
propiciaram a economia de 432.045 toneladas de bauxita, o que significa que 0,0179% das reservas
no Brasil e 0,0138% das reservas mundiais foram economizadas. Na verdade, esses números são
insignificantes, pois as latas de alumínio recicladas somam cerca de 327.4 mil toneladas. Dessa forma,
aproximadamente 1.637 mil toneladas de bauxita não foram extraídas pelo Brasil, proporcionando uma
economia de 0,052% das reservas mundiais (LAYRARGUES, 2002).
76
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

O Brasil não deixou de explorar a bauxita, nem reduziu sua produção de alumínio, mesmo levando
em consideração a reciclagem. O investimento na produção de alumínio depende da necessidade interna
ou externa. A produção de alumínio e de aço depende da economia do país: à medida que ela cresce, a
necessidade de alumínio aumenta, e o extrativismo de bauxita vai continuar suprindo a demanda.

Sabemos que o alumínio, juntamente com o ferro, é o metal mais abundante existente na Terra. Os
dois metais são considerados praticamente ilimitados, estimando‑se cerca de 222 anos de exploração
das reservas mundiais de bauxita. Contudo, nos últimos 50 anos, foram usados mais minerais do que em
toda a história da humanidade e muitas minas poderão se esgotar nos próximos anos.

Pouco ouvimos falar da reciclagem de outros metais e suas jazidas podem durar bem menos. Se
existisse uma preocupação genuína com o esgotamento dos recursos naturais não renováveis, seria mais
sensato um esforço empresarial intensivo nessa direção.

Uma alternativa para criação de renda no país foi a coleta seletiva de lata de alumínio. A renda
dos catadores de lixo em alguns casos é maior que o salário mínimo. Assim, aproximadamente 150 mil
catadores de lixo vivem da venda das latas de alumínio para reciclagem e são responsáveis por 50% do
suprimento de sucata de alumínio para a indústria de reciclagem (LAYRARGUES, 2002).

Os catadores e sucateiros são operários terceirizados da indústria de reciclagem, mas sem terem seus
direitos trabalhistas pagos. A indústria coloca preços mínimos à sucata, visando apenas ao seu lucro. Isso
acontece porque os catadores de lixo não têm escolha e vendem sua sucata apenas para uma empresa, a
Latasa, que controla os preços da sucata e das latas recicladas. Desse modo, oficializa‑se a exploração do
trabalho dos sucateiros pelo capital de forma selvagem, ressaltando um dos mecanismos responsáveis
pela má distribuição de renda no país.

A partir do material reciclado, a produção de uma tonelada de alumínio pode economizar


aproximadamente 95% de energia, com cerca de 17.600 kWh. Podemos fabricar somente uma lata de
bebida com a utilização de alumínio extraído de uma determinada quantidade de bauxita, já com a
mesma quantidade de alumínio reciclado, podemos fabricar 20 latas de bebidas.

Se considerarmos que 20 toneladas de lixo são produzidas pela exploração de recursos naturais e
5 toneladas de lixo são geradas na fabricação do produto, acredita‑se que o metabolismo industrial
americano é muito eficiente em produzir lixo, visto que 99,7% dos recursos naturais extraídos viram lixo
sem qualquer possibilidade de reúso ou reciclagem.

O R da reciclagem foi valorizado pela filosofia ecológica oficial para torná‑lo um ato ecológico, retirando
a função social, mas garantindo que as latas de alumínio retornem para a indústria. Assim, elimina‑se a
etapa da coleta dos catadores fazendo um pacto com o consumidor e promovendo a sua adesão voluntária
à coleta seletiva. Assumindo a reciclagem como uma ação ecológica, o consumidor, bem cheio de boas
intenções, não tem conhecimento, mas agrava um problema social (LAYRARGUES, 2002).

Valorizando o papel da reciclagem com o aspecto ambiental, a sucata ganha um valor simbólico de
proteção ambiental, mas ao mesmo tempo camufla o verdadeiro valor comercial do produto.
77
Unidade I

Nem tudo o que pode sofrer reciclagem será necessariamente reciclado. O papel é o produto
reciclável mais presente no lixo no Brasil e o segundo mais valioso economicamente. Cerca de 35% do
papel produzido no país são reciclados, o que equivale a aproximadamente a metade da quantidade de
alumínio reciclado registrado no país.

O papel representa 39% do volume de lixo produzido no Brasil. Esse volume é superior ao volume
das latas de alumínio, mas não existe para o papel a mesma estrutura de reciclagem. Não existe a
mesma consciência ecológica para evitar a derrubada de árvores do mesmo modo como existe para
o esgotamento da bauxita. Os interesses econômicos da indústria de reciclagem são mascarados por
justificativas ambientais ao promover a reciclagem de alumínio, associando essa ação à melhoria da
qualidade ambiental. Com isso, há a ilusão de ser uma atividade ecológica, que fornecerá uma solução
para um problema ambiental, mas na verdade o barateamento da matéria‑prima é o principal interesse.

Sem políticas públicas apropriadas, a reciclagem é apenas mais uma atividade econômica como
qualquer outra. Entretanto, isso é omitido no discurso oficial, camuflando o interesse econômico com a
questão ambiental, pois caso o meio ambiente fosse o motivo central para essa ação, talvez a reciclagem
de latas alumínio não fosse a mesma.

Verificamos que não foi uma mineradora de bauxita que teve a iniciativa da reciclagem da lata de
alumínio, mas a empresa que produz embalagens de alumínio. Entendemos que a mineradora não tem
interesse na diminuição da exploração de alumínio, pois isso provocaria uma redução em seus lucros.
Por outro lado, uma empresa que produz latas de alumínio tem enorme interesse em reduzir custos de
produção e, se a conservação ambiental for compatível com essa ação, melhor.

Para a resolução dos problemas ambientais, a reciclagem tem pouco significado. Contudo, isso não
quer dizer que essa ideia deva ser abandonada, mas mostra o desafio que temos pela frente. Podemos
ressaltar que a destinação do lixo necessita de políticas públicas que são essenciais para otimizar o
metabolismo industrial e não promover a exploração do trabalho pelo lucro.

Resumo

A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) foi estabelecida a partir


da Lei nº 6.938 e foi um marco na evolução da gestão ambiental no Brasil.
A PNMA foi escrita a partir de uma reflexão crítica sobre muitos pontos de
vista e várias características importantes na evolução da gestão ambiental
praticada no país por muitas décadas.

Equacionar os problemas ambientais tem sido a função mais imediata da


gestão ambiental. No entanto, essa percepção estaria mais associada a uma
atuação reativa e a uma ação mais pragmática. Isso não foi considerado
um equacionamento satisfatório dos problemas ambientais. Tais problemas
necessitam de uma atuação mais preventiva com ações direcionadas para
os fatores determinantes causadores da problemática ambiental.
78
CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Os impactos ambientais normalmente se manifestam ou são identificados


dependendo das alterações no meio ambiente ou de situações indesejáveis da
qualidade ou das condições ambientais. Dessa forma, o processo de geração dos
impactos ambientais ocorre mediante as seguintes ações: as demandas sociais
movidas pelas necessidades e as aspirações da sociedade, que levam à condução
de determinadas intervenções que constituem o conjunto de atividades sociais
e econômicas para a produção de bens e serviços.

A efetivação da gestão ambiental consiste na condução harmoniosa dos


diversos processos de intervenções humanas, visando à sustentabilidade do
desenvolvimento.

Os resíduos podem ser classificados levando em consideração a sua


origem em resíduos industriais, urbanos, de serviços de saúde, de portos,
de aeroportos, de terminais rodoviários e ferroviários, agrícolas, radioativos
e entulho.

Devemos salientar que para que um sistema de gestão de resíduos


funcione corretamente, não é suficiente que possua apenas um sistema
de destinação final adequado; várias ações prévias devem ser implantadas
para que a destinação do lixo seja considerada adequada. Podemos citar
como exemplo a separação dos resíduos e a coleta seletiva, viabilizando seu
encaminhamento para processos de reciclagem.

A reciclagem é vista como uma ação benéfica ao meio ambiente, pois


ajuda a diminuir os danos causados pelo homem, aproveitando parte do
resíduo sólido doméstico. Ainda, colabora com a solução de problemas
urbanos como a destinação do lixo, não sobrecarregando os aterros
sanitários. A reciclagem é extremamente lucrativa para quem controla
parte dessa cadeia produtiva, pois a reindustrialização de resíduos sólidos
recicláveis transforma‑os em matéria‑prima novamente.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2014) O nível de eutrofização de um corpo d’água está relacionado ao uso e à
ocupação do solo na bacia hidrográfica. A contribuição da ação antrópica com o aporte de nitrogênio
e fósforo aos mananciais tem trazido, como decorrência, elevação nas populações de algas e plantas.
Conforme a capacidade de assimilação do corpo d’água, a população de algas pode atingir valores elevados,
principalmente em períodos de insolação (energia luminosa para a fotossíntese). As superpopulações
de algas formam uma camada superficial que impede a penetração da energia luminosa nas camadas
inferiores do corpo d’água, o que traz uma série de problemas.

Fonte: VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. DESA-UFMG, 1996 (adaptado).

79
Unidade I

A partir do que foi apresentado nesse fragmento de texto, avalie as seguintes afirmativas:

I – Entre as estratégias para atenuar o processo de eutrofização, pode-se citar: aeração dos corpos
hídricos, sombreamento, remoção de macrófitas e algas.

II – A sedimentação da matéria orgânica e a reduzida penetração do oxigênio provocam predominância


de condições aeróbicas no fundo do corpo d’água, devido à atividade fotossintética das algas.

III – Os esgotos domésticos contêm nitrogênio e fósforo, presentes nas fezes e urina, nos restos de
alimentos, nos detergentes e em outros subprodutos das atividades humanas, o que torna a contribuição
do nitrogênio e fósforo provenientes dos esgotos superior à originada da drenagem urbana.

É correto o que se afirma em:

A) I, apenas.

B) II, apenas.

C) I e III apenas.

D) II e III, apenas.

E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: o processo de eutrofização esgota o oxigênio dos corpos d’água, pois a superfície da
água é coberta por algas e plantas impedindo a penetração da luz. A remoção de plantas e algas da
superfície e aeração reconstituem a oxigenação da água.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a sedimentação de matéria orgânica e a reduzida penetração de oxigênio causam


predominância de condições anaeróbicas.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: o nitrogênio e o fósforo encontrados nas fezes originam-se da quebra das proteínas
que consumimos. São os maiores nutrientes de algas e plantas aquáticas que acabam se proliferando
desordenadamente pelo excesso de esgoto sem tratamento liberado nos corpos de água.
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CONTROLE AMBIENTAL E RECURSOS NATURAIS

Questão 2. (Enade 2013) Em agosto de 2010, foi publicada a Lei nº 12.305, que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre
as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento dos resíduos sólidos.

Acerca desse assunto, o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS):

A) Faculta a atribuição de responsabilidade técnica em suas etapas de elaboração, implementação,


operacionalização, monitoramento e controle da disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos.

B) Permite o lançamento de resíduos sólidos in natura a céu aberto, desde que essa forma de
disposição final seja prevista e descrita no plano original.

C) Requer a apresentação de documentação de passivos ambientais apenas quando houver o


gerenciamento de resíduos.

D) Dispensa a apresentação de ações preventivas e corretivas relacionadas a acidentes de trabalho,


pois esta é uma competência do setor de segurança do trabalho.

E) Deve contemplar diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados, bem como volume
e caracterização de resíduos.

Resolução desta questão na plataforma.

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