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Gestão de Resíduos

Sólidos, Efluentes e
Emissões
Autoras: Profa. Daniela da Cunha Souza Patto
Profa. Olivia Beloto da Silva
Colaboradores: Profa. Ana Paula Zaccaria dos Santos
Prof. Adilson Rodrigues Camacho
Professoras conteudistas: Daniela da Cunha Souza Patto/Olivia Beloto da Silva

Daniela da Cunha Souza Patto

Nascida em São Paulo, é engenheira química formada pela Escola de Engenharia de Lorena – EEL – USP, mestre
em química pelo Instituto de Química da Unicamp, doutora em ciências na área de química orgânica pelo Instituto de
Química da Unicamp e pós‑doutora pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Atuou como química de pesquisa na Indústria Farmoquímica, com o desenvolvimento de produtos farmacêuticos
e cosméticos, trabalhando também como auditora interna do sistema de gestão da qualidade (ISO 9001. ISO 14000
e OHSAS 18000). Atualmente é professora titular da Universidade Paulista e ministra aulas nos cursos de Farmácia,
Engenharia Civil e Elétrica. A partir de 2014, assumiu a coordenação auxiliar do curso de Gestão Ambiental. Além disso,
é conteudista de materiais para o ensino a distância, incluindo gravações de aulas.

Olivia Beloto da Silva

É bacharel em Enfermagem pelo Centro Universitário de Santo André – Unia (concluído em 2005), especialista
em Enfermagem em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp (concluído em 2007), mestre em
Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia Renal) pela Universidade de São Paulo – USP (concluído em 2009),
doutora em Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia Renal) pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica Humana
da Universidade de São Paulo – USP (concluído em 2012) e, no momento, pós‑doutoranda em Ciências Humanas
(Laboratório de Fisiologia de Epitélios) pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica Humana da Universidade de São
Paulo – USP (início em 2012).

Durante toda a graduação, dedicou‑se à iniciação científica no Laboratório de Fisiologia Renal do Departamento
de Fisiologia e Biofísica Humana da Universidade de São Paulo – USP (de 2003 a 2007), participando de diversos
congressos nacionais e internacionais, além de fazer estágio no exterior (Universidade da Califórnia – Estados Unidos).
Atualmente, é docente titular da Universidade Paulista (UNIP), sendo a disciplina de Saúde Ambiental e Vigilância
Sanitária uma das que ministra para a área da saúde. É consultora ad hoc da Revista Acta de Enfermagem (Unifesp) e
do Journal of the Health Sciences Institute (UNIP).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P322e Patto, Daniela da Cunha Souza.

Gestão de resíduos sólidos, efluentes e emissões / Daniela da


Cunha Souza Patto. – São Paulo: Editora Sol, 2015.

200 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-022/15, ISSN 1517-9230.

1. Tratamento de água. 2. Sistemas de tratamento. 3. Meio


ambiente. I. Título.

CDU 658.8

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Profa. Elisabete Brihy


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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Cristina Z. Fraracio
Lucas Ricardi
Sumário
Gestão de Resíduos Sólidos, Efluentes e Emissões

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE...........................................................9
1.1 Discussões internacionais e nacionais sobre meio ambiente.............................................. 15
1.2 Sustentabilidade.................................................................................................................................... 21
2 RESÍDUOS SÓLIDOS......................................................................................................................................... 25
2.1 Considerações gerais............................................................................................................................ 25
2.2 Resíduos de construção e demolição............................................................................................ 31
2.3 Resíduos de serviços de saúde (RSS)............................................................................................. 32
2.4 Resíduos sólidos e doenças............................................................................................................... 33
2.5 Destinação final dos resíduos sólidos........................................................................................... 35
2.6 Gerenciamento dos resíduos sólidos............................................................................................. 41

Unidade II
3 ÁGUA..................................................................................................................................................................... 58
3.1 Tratamento da água............................................................................................................................. 60
3.2 Esgoto sanitário..................................................................................................................................... 67
3.2.1 Tratamento de esgoto............................................................................................................................ 68
3.2.2 Estação de tratamento de esgoto..................................................................................................... 70
3.2.3 Tratamento terciário............................................................................................................................... 79
4 SISTEMAS ALTERNATIVOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO E REÚSO DA ÁGUA......................... 89
4.1 Sistemas alternativos de tratamento de esgoto....................................................................... 89
4.1.1 Leitos cultivados....................................................................................................................................... 90
4.1.2 Filtros lentos............................................................................................................................................... 96
4.1.3 Lagoas de estabilização.......................................................................................................................103
4.2 Reúso da água......................................................................................................................................105
4.2.1 A experiência mundial em RPDs......................................................................................................112

Unidade III
5 ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS.......................................................................................................120
5.1 Seleção de processos de tratamento...........................................................................................121
5.1.1 Tratamento de águas residuárias biodegradáveis................................................................... 123
5.1.2 Tratamento de águas residuárias não biodegradáveis.......................................................... 138
5.1.3 Novas tendências...................................................................................................................................141
6 REATORES BIOLÓGICOS E SISTEMAS DE TRATAMENTO..................................................................145
6.1 Consequências da falta de tratamento de esgoto no meio ambiente..........................149
6.1.1 Doenças de causa biológica relacionadas à água....................................................................151
6.1.2 Doenças relacionadas à água causadas por substâncias inorgânicas e orgânicas...............156

Unidade IV
7 CONSIDERAÇÕES GERAIS...........................................................................................................................166
7.1 Energia, desenvolvimento e contaminação do ar..................................................................166
8 AÇÕES EFETIVAS A FAVOR DO AR............................................................................................................172
APRESENTAÇÃO

A disciplina Gestão de Resíduos Sólidos, Efluentes e Emissões tem como objetivo abordar os três
pilares básicos do gerenciamento ambiental: a gestão de resíduos sólidos, a caracterização das fontes
emissoras e o monitoramento de efluentes.

Vamos estudar os impactos ambientais causados pelos resíduos sólidos, princípios de reciclagem,
classificação, projetos e operação de aterros sanitários. Ainda serão estudadas classificação e características
de efluentes, como esgoto doméstico e industrial, funcionamento das estações de tratamento de água
(ETA) e esgoto (ETE), bem como o reúso da água. Analisaremos também a utilização de equipamentos
para o controle das fontes de poluição atmosférica.

Este livro‑texto será dividido em quatro unidades: a primeira abordará o conceito de resíduos
sólidos, seu gerenciamento, acondicionamento, tratamento e disposição final; na segunda unidade,
veremos o tratamento de efluentes domésticos, sistemas de tratamento de esgoto alternativo e reúso
da água; na terceira, estudaremos o tratamento de efluentes industriais; e na quarta unidade, veremos
os mecanismos de controle das emissões atmosféricas.

Com este material, esperamos despertar em você, aluno do curso de Gestão Ambiental, a consciência
ambiental e a necessidade de gerenciamento da poluição causada por resíduos sólidos, efluentes
domésticos e industriais e de emissões gasosas.

Boa leitura!

INTRODUÇÃO

Começaremos este livro‑texto com diversas perguntas, como: todos os seres humanos do planeta
segregam adequadamente os resíduos sólidos? Como utilizamos os resíduos que produzimos? Sabemos
o que acontece com os resíduos após destiná‑los para os locais adequados? O consumo desenfreado
prejudica a saúde de todos os seres vivos do planeta? Podemos realizar ações que prejudiquem menos
o meio ambiente? É importante estudar sobre o meio ambiente na graduação? Mas a nossa pergunta
principal é: você seria capaz de responder a todas essas perguntas sem dificuldades?

As respostas para essas questões são complexas e a maioria das ações a favor do meio ambiente
depende do coletivo. No entanto, não pense que quando você faz algo sozinho em prol do meio
ambiente, está sozinho de fato. Pelo contrário, existem milhões de pessoas no mundo tentando mudar
algo e, na verdade, a vontade de mudar transformada em ação é o que impulsiona a todos para vivermos
dias melhores, com maiores perspectivas.

Com toda a informação dos dias atuais, no que diz respeito ao meio ambiente, realizar ações sem
pensar no futuro é uma atitude intolerável, pois elas interferirão seriamente na geração futura, a qual
pode ter estreita ligação com você, como seus filhos, netos e sobrinhos, dentre outros. Dessa forma, o
que menos importa é a área de atuação do aluno de graduação, ou seja, o importante é a forma como
ele atuará (tanto como profissional quanto como cidadão), pois é nosso dever zelar pelo meio ambiente
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e fiscalizar todas as ações que vão contra a sua proteção, para que as gerações futuras possam usufruir
tudo de mais maravilhoso que nosso mundo pode oferecer.

Assim, esse livro‑texto é mais que livro, pois colabora com a reflexão profunda sobre a Gestão
de Resíduos Sólidos, Efluentes e Emissões, permitindo esclarecer alguns aspectos da relação do meio
ambiente e do comportamento humano atrelado principalmente ao consumo, colaborando para um
mundo melhor.

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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Unidade I
RESÍDUOS SÓLIDOS

1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE

Antes de falarmos a respeito dos resíduos sólidos, sua segregação e destinação final e da poluição da
água e do ar, discorreremos sobre a importância do meio ambiente na saúde das pessoas e revisaremos
alguns conceitos básicos. Assim, a primeira reflexão desta unidade é sobre a definição de meio ambiente.
Você saberia conceituá‑lo adequadamente?

Meio ambiente é tudo o que é vivo e não vivo da Terra, que interage entre si e afeta os ecossistemas
e a vida dos seres humanos.

Aproveitando a ideia de revisão de alguns assuntos, a saúde e a doença são situações que interferem
na vida dos seres humanos e que estão intimamente ligadas. A tentativa de explicar o que é doença
e o que a causa acontece desde os primórdios da civilização. Todas as tentativas de explicação são
consideradas teorias pelos estudiosos e, como você deve saber, caro aluno, existem quatro delas.

Para facilitar o aprendizado, essas teorias podem ser observadas no quadro 1. A primeira teoria
de explicação do surgimento da doença foi a Teoria Mística, onde as doenças estavam vinculadas
ao sobrenatural. Por exemplo, as pessoas acreditavam que todos aqueles que adoeciam “deviam”
algo aos deuses, que era um castigo etc. Anos mais tarde, a observação do homem e sua relação
com o meio ambiente favoreceu o surgimento de uma nova explicação sobre a origem das
doenças. Essa teoria foi denominada Teoria dos Miasmas, e nela o adoecimento estava atrelado
aos gases e odores vindos do solo ou do ar, os quais poderiam ser espalhados com o vento e
atingir o indivíduo, que adoeceria. Em 1860, com o avanço da ciência e dos estudos, Louis Pasteur
descobriu os agentes etiológicos, como vírus e bactérias, e criou uma nova concepção sobre o
surgimento das doenças. Assim, a Teoria da Unicausalidade era a que explicava o adoecimento
ocasionado por esses agentes, mas, infelizmente, ela não era capaz de descrever todas as causas
das doenças, pois muitas vezes as doenças não dependiam somente do agente etiológico, como
ocorre na depressão. Mesmo assim, essa teoria prevaleceu por longo tempo. Considerando
que muitas doenças ainda não eram explicadas pela Teoria da Unicausalidade, estudos mais
avançados sobre o assunto foram necessários, principalmente no campo da epidemiologia. Esses
estudos permitiram que o homem observasse com maior dedicação tudo o que estava ao seu
redor, ou seja, o seu meio ambiente. Essa teoria foi denominada Teoria da Multicausalidade, a
qual permite que o conceito de doença esteja para além do agente etiológico, como em diversos
outros fatores: físicos, psíquicos, químicos, ambientais e sociais. Por exemplo, se um indivíduo
não destina adequadamente seu resíduo sólido, este atrai diversos vetores, os quais possuem
doenças que acometem a população no geral.
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Unidade I

Portanto, quando pensamos em meio ambiente e saúde, atos individuais podem estar
relacionados aos acometimentos coletivos. Um exemplo disso é a dengue: se você cuida do seu
jardim e caixa d’água, evitando acúmulo de líquido, e, consequentemente, não permite a procriação
do mosquito, mas o seu vizinho não o faz, o mosquito poderá replicar‑se e contaminar você e
sua família também. Desse modo, ações individuais refletem no coletivo, tanto de forma positiva
quanto negativa. Por isso, compreender que o ser humano é formado não somente pela ausência
de doenças, mas também por tudo o que está ao seu redor permite que comecemos a entender o
papel do meio ambiente nesse processo.

Quadro 1 – Esquema das teorias que explicam o surgimento das doenças

Teoria Significado
Mística As doenças eram causadas por fenômenos sobrenaturais.
As doenças apareciam como uma consequência de gases ou odores
Miasmas provenientes do solo ou atmosfera.
Unicausalidade As doenças eram causadas por um agente etiológico.
As doenças eram causadas pelo agente etiológico e uma série de outros
Multicausalidade fatores, como físicos, psíquicos, químicos, ambientais e sociais.

A evolução histórica da humanidade favoreceu modificações no ecossistema e, consequentemente,


as mudanças na vida e na saúde da população estão associadas à ela. Essas modificações criaram uma
forma de identificar essas relações, conhecida como Campo de Saúde, onde saúde e a doença estão
intimamente ligadas e dependem de fatores como: o meio ambiente ao redor, estilo de vida, biologia
humana e serviços de saúde prestados à comunidade. Assim, o Campo de Saúde da população será
saudável ou não de acordo com a relação desta com seu meio.

Para exemplificar a importância dessas relações, a figura 1 esquematiza o homem sofrendo


interferência de tudo que está ao seu redor, inclusive do seu estilo de vida, como alimentação, esporte,
cultura e lazer. Contudo, o estilo de vida nem sempre é uma opção, pois esse é um processo que depende
de ascensão pessoal, social e cultural que está vinculado à realidade vivenciada pelo indivíduo. Por isso,
se um governo não é capaz de oferecer condições para que sua população possua um estilo de vida
saudável, essa população adoecerá mais cedo.

Com essa discussão, até o momento compreendemos que o meio ambiente não deve ser considerado
somente o ecossistema. Temos de considerar meio ambiente como todas as coisas vivas e não vivas da
Terra que interferem no ecossistema e, consequentemente, na vida dos seres humanos. Assim, meio
ambiente é concebido como tudo aquilo que é exógeno (fatores extrínsecos) ao ser humano e que
interfere em sua saúde. Contudo, não podemos deixar de ter em conta os fatores intrínsecos, como os
genéticos, os quais também interferem no estilo de vida e, consequentemente, na saúde do homem,
lembrando que quando os fatores extrínsecos se somam aos intrínsecos, as consequências à saúde do
homem são piores. Por exemplo, se um indivíduo possui uma carga genética para desenvolver câncer
e ele fuma demasiadamente, a chance de que ele desenvolva câncer de pulmão ou laringe aumenta
muitas vezes mais.

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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Saneamento básico

Saúde; moradia
Meio ambiente

Trabalho; educação Homem

Dor; estresse

Doença; ecossistema

Figura 1 – Interferência do meio ambiente na vida e saúde do homem

Até este ponto, discutimos como o meio ambiente interfere na vida do homem. Porém, o
homem também é capaz de interferir significantemente no meio ambiente. Ao longo da história do
desenvolvimento da humanidade e até os dias atuais, a humanidade utiliza recursos naturais de forma
desenfreada, sem pensar nas próximas gerações. Um exemplo é o uso da água. Até pouco tempo atrás,
utilizava‑se água desperdiçando‑a, pois muitos acreditavam ser um recurso infinito, principalmente
no Brasil. No entanto, recentemente, vivemos um período de escassez desse recurso, e campanhas de
racionamento são imprescindíveis para a conscientização da população, como o simples ato de desligar
a torneira da pia do banheiro enquanto se escovam os dentes.

Além disso, o desmatamento para extração de riquezas era muito utilizado, sem pensar nas
consequências desse ato, como a incapacidade da natureza se recompor em contrapartida à sua
destruição.

Todos esses fatores humanos contra a natureza nada mais são do que equívocos de ordem cultural.
A maior comprovação dessa verdade é o simples fato de que as ações individuais interferem no coletivo
e, mesmo assim, algumas pessoas não se dão conta disso. Isso ocorre porque, por séculos, o homem agiu
dessa forma, sendo incapaz de garantir progresso e manutenção da natureza. Contudo, trouxe consigo
todas as consequências ao meio ambiente e à saúde humana, além da não garantia do uso dela pelas
gerações futuras.

O consumo humano também é um assunto que se discute com maior importância nos últimos
anos. A criação de tecnologias, atrelada ao aumento da quantidade de fábricas e formas de criação
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Unidade I

de produtos, aumentou o desenvolvimento e criou oportunidade de negócios, barateando o produto,


mas não de forma sustentável. A priori, foi pensado no quanto a natureza poderia contribuir para o
desenvolvimento, sem ter‑se em conta os danos que se causava à ela.

Muitos produtos, ao serem produzidos (desde o seu início), geram danos ao meio ambiente. Muitas
vezes, esses danos são irreversíveis. Vamos pensar na criação do carro, a qual está esquematizada na
figura a seguir.
Fábrica de
produção de carro
Recursos naturais
utilizados: Contaminação:
ar Produção de
Minério matéria‑prima:

Borracha água Carro

Petróleo solo

Destruição de árvores, Exemplos de doenças:


utilização do solo: Bronquite
diminuição de áreas Cólera
verdes, degradação do Leptospirose
solo

Interferência no ecossistema = Prejuízo à saúde do homem

Figura 2 – Interferência da fabricação de matéria‑prima sobre o ecossistema e saúde do homem

No esquema da figura 2 temos dois eixos: o horizontal e o vertical. No eixo horizontal podemos
observar que os recursos naturais como a borracha, o petróleo e o minério são extraídos da natureza
para a fabricação do carro. Além disso, essa fabricação pode contaminar o ar, a água e o solo, mas no
final, o produto (carro) está pronto. No eixo vertical temos a interferência de todos esses processos no
ecossistema e na saúde do homem. Por exemplo, a utilização de recursos naturais para a fabricação do
carro implica a destruição de áreas verdes e de solo, enquanto a contaminação do ar, da água e do solo
pode prejudicar a saúde do homem, pelo surgimento de várias doenças por essa contaminação, como
bronquite, cólera e leptospirose.

Dessa forma, precisamos pensar em uma maneira de fabricarmos produtos que, no decorrer do
seu processo e até mesmo no seu final, prejudique menos o meio ambiente e, consequentemente,
o homem. Alguns estudiosos apostam na produção de materiais mais duradouros, diminuindo a
geração de resíduos sólidos do produto final. Já outros acreditam que podemos, durante a fabricação

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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

do produto, diminuir os resíduos gerados durante o processo. Independentemente da maneira pela


qual a empresa decide cuidar do meio ambiente e da saúde do homem, ela precisa conhecer o ciclo
de vida do produto.

E você conhece o significado de ciclo de vida de um produto?

Ciclo de vida de um produto é a vida útil que esse produto possui (esquematizado na figura 3).
Quando passamos a avaliar o ciclo de vida de um produto, observamos para além do produto final, ou
seja, tudo o que está associado à sua produção, desde a extração dos recursos naturais até o impacto da
sua utilização para o meio ambiente e para a saúde humana. Assim, esse ciclo nos permite perceber o
impacto sobre o uso dos recursos naturais, mas também sobre todo o processamento do produto, como:
fabricação, distribuição, utilização, reutilização, reciclagem, recuperação energética e eliminação dos
resíduos, considerando que este último deve ser produzido o mínimo possível. Isso tem como objetivo
diminuir os impactos ambientais globais gerados pelo aumento do consumismo humano das últimas
décadas.

Vamos refletir sobre a fabricação do carro, que descrevemos anteriormente. Qual o impacto
ambiental sobre a retirada dos recursos naturais descritos? Todos os componentes do carro são passíveis
de reutilização, reciclagem e recuperação energética? E a produção de resíduos durante a fabricação é
baixa? Infelizmente, essas perguntas ainda não são respondidas em sua maioria com a resposta “sim”.
No entanto, muitas mudanças já estão sendo requeridas e realizadas para mudar essas condições,
principalmente no Brasil.

Exemplo de aplicação

Caro aluno, convidamos você a um exercício de reflexão:

Gostaríamos que você pesquisasse sobre a fabricação de carros, comparando o século XVIII e o
século XXI.

Em seguida, compare a extração de recursos naturais, o processo de fabricação, a produção de


resíduos e a poluição ambiental gerada no processo.

Depois, comente a respeito da preocupação das empresas em melhorar todos esses processos neste
século.

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Unidade I

Matérias-primas

Tr
an
Energia Mudanças climáticas

sp
em o/

o
rte
lag açã
cic er
Re cup
Re

Produção
Materiais Eutrofização
Uso

rte
o
sp
an
Tr
Tr
an

Uso do solo Pressão tóxica


sp
o
rte

Armazenamento
no varejo

Figura 3 – Esquema do ciclo de vida do produto

Portanto, a humanidade consumindo de forma desordenada aumenta a escassez de recursos naturais,


prejudica o meio ambiente e ainda causa prejuízos à saúde. Mas, como resolver esse problema, uma vez
que o consumo também está atrelado ao desenvolvimento?

Para responder essa pergunta é necessário entender que quando o meio ambiente é utilizado de
forma não sustentável, ele perde sua capacidade de regeneração. Assim, as pessoas precisam adquirir
o hábito de refletir diariamente sobre o consumo de forma sustentável, evitando uma crise ambiental,
como a que vivemos nos dias atuais.

A forma de reflexão mais produtiva é a educação e, nesse caso, a educação ambiental. Ela é a única
forma de fazer com que a população entenda que precisa modificar seus costumes e valores. Para isso,
a comunicação é uma ferramenta essencial na educação ambiental.

É necessário que as pessoas sejam capazes de reconhecer que o ambiente faz parte do ser humano e não
somente é algo exógeno a ele. Portanto, ele exige que as pessoas tenham, antes da ação, o conhecimento,
pois, dependendo do grau de relação do ser humano com o meio ambiente, o processo saúde‑doença pode
ou não ser afetado. Por isso, somente compreender a relação de saúde e meio ambiente não é o suficiente
sem que exista o conhecimento de todas as variáveis e realidades envolvidas nesses processos e, claro, a ação.
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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Contudo, muitos fatores colaboram para que as pessoas não interajam com o meio ambiente
ou mesmo não percebam sua importância, como: déficit de recursos financeiros, desinformação da
população e uma resistência em relação à divisão de responsabilidades.

Observação

A humanidade, consumindo de forma desordenada, aumenta a escassez de


recursos naturais, prejudica o meio ambiente e, ainda, causa prejuízos à saúde.

Quando as pessoas são estimuladas para a resolução dos problemas da sua comunidade, elas
passam a cuidar do meio ambiente. Assim, a discussão da questão sanitária básica tem sido substituída
por uma abordagem mais ambiental, favorecendo a promoção da saúde e a conservação de todos
os aspectos do meio ambiente. Essa abordagem permite que ações primordiais para a promoção e
prevenção de riscos, tanto ao ambiente quanto à humanidade, sejam tomadas antes que os efeitos
deletérios possam surgir.

No próximo título falaremos sobre as discussões que foram realizadas no Brasil e no mundo ao redor
do tema saúde e meio ambiente, os quais contribuem para a educação da população.

1.1 Discussões internacionais e nacionais sobre meio ambiente

Todas as discussões mundiais e nacionais sobre meio ambiente e saúde são realizadas por meio
das conferências, que são encontros periódicos que discutem assuntos de extrema importância para
a sociedade. Elas podem ser internacionais ou nacionais. Contudo, as conferencias nacionais sempre
sofrem ação das conferências internacionais, ou seja, o Brasil discute assuntos internamente após a
discussão mundial deles.

Além disso, foram criados órgãos públicos brasileiros fiscalizadores de diversos atos contra o meio
ambiente e, consequentemente, contra a saúde da população. Agora, falaremos a respeito deles, mas
não utilizaremos uma ordem cronológica para isso, seguiremos por temas.

Em 2005, ocorreu o I Seminário da Política Nacional de Saúde Ambiental, no qual foi redefinido o
documento denominado Subsídios para Construção da Política Nacional de Saúde Ambiental, fruto de
diversos debates entre os principais órgãos controladores do meio ambiente.

No Brasil, os principais órgãos controladores do meio ambiente são: Sistema Nacional de


Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh),
Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM) da Secretaria de Vigilância em Saúde
do Ministério da Saúde; Comissão Permanente de Saúde Ambiental (Copesa); Conselho Nacional
de Saúde (CNS), que é subsidiado pela Comissão Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente
(Cisama). Além desses, existe a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da
Saúde (MS) e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis),
que contribuem com a fiscalização.
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Unidade I

Em relação à água, diversas conferências internacionais discutiram a seu respeito e sua qualidade
como parâmetros para a qualidade de vida das pessoas. No entanto, somente em 22 de março de 1992,
durante a Conferência Eco‑92, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial da Água
e a assinatura de um documento denominado Agenda 21, que debate sobre a qualidade de vida no
planeta e a divulgação da Declaração Universal dos Direitos da Água.

No Brasil, houve o reconhecimento dessa iniciativa pela Política Nacional de Recursos Hídricos, por
meio da Lei das Águas (Lei nº 9.433, de janeiro de 1997), que afirma que a água é um bem de domínio
público, um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. A lei também assevera que devemos
ter como diretrizes de ação a articulação dos recursos hídricos concomitante com a gestão ambiental,
uso do solo e proteção das bacias hidrográficas.

Ainda em relação à água, em 2005, houve um marco histórico alusivo ao seu controle, para garantir o
consumo adequado à humanidade. Nesse mesmo ano, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama
(Resolução nº 357/2005) estabeleceu a necessidade de avaliações toxicológicas e controle de despejos em
corpos d’água (que representam qualquer acumulação significativa de água como mananciais), visando ao
manejo sustentável dos recursos hídricos e garantido os padrões de qualidade dentro da sua bacia hidrográfica.

Mas e em relação ao ar que respiramos? Como aconteceram essas discussões? Considerando que a
qualidade do ar se enquadra como outro fator importante para a saúde humana e que esse é um dos
temas da discussão deste livro‑texto, iniciaremos falando sobre a descoberta de Joe Farman.

Joe Farman era pesquisador e, em meados de 1980, na Antártida, observou um dano importante na
camada de ozônio, o que gerou uma crise mundial no âmbito do meio ambiente e fez com que os olhos
das principais organizações mundiais se voltassem sobre o tema. Uma discussão mais aprofundada
sobre a camada de ozônio e as consequências de sua destruição será discutida posteriormente.

Basicamente, duas medidas importantes foram tomadas a respeito da temática provocada por
Joe Farman. Foram elas: a criação dos Protocolos de Montreal (de 1987) e de Quioto (ou Kyoto, de
1997). De forma geral, esses protocolos visam à defesa do meio ambiente e não permitem que ações
humanas sejam capazes de degradá‑lo ou poluí‑lo. Esses protocolos também permitem a criação de um
pensamento ambientalista em diversos países (desenvolvidos ou não), favorecendo a aplicação de ações
que visam à educação ambiental com ênfase na utilização desses protocolos na íntegra.

Saiba mais

Recomendamos, caro aluno, a leitura do texto a seguir, para saber mais


sobre a Agenda 21:

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21. [s.d.]. Disponível em:


<http://www.mma.gov.br/responsabilidade‑socioambiental/agenda‑21>.
Acesso em: 9 set. 2014.

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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Mas afinal, o que se discutiu nos protocolos de Montreal e de Quioto?

Falaremos primeiramente sobre o Protocolo de Montreal. Ele foi criado em 1987 com o intuito de
controlar as emissões de gases ou outras substâncias envolvidas na destruição da camada de ozônio. Vale
ressaltar que, ainda nesse ano, foi realizada a Comissão de Brundtland, que discutiu o desenvolvimento
sustentável e, em 1988, foi criado o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas ONU (IPCC),
atualizado anualmente.

O financiamento de todas as ações para o cumprimento das exigências do Protocolo de


Montreal é proveniente do Fundo Multilateral – FML –, criado em 1990, o qual é administrado
por um comitê de caráter executivo e recebe fomento de países desenvolvidos. No mesmo ano,
o Brasil aderiu à Convenção de Viena e assinou o Protocolo de Montreal; de acordo com esse
documento, os países desenvolvidos que utilizaram substâncias envolvidas na destruição da
camada de ozônio para desenvolvimento da sua nação devem financiar a sua erradicação em
países em desenvolvimento.

Assim, o Brasil é um dos países que recebe apoio financeiro do FML para o desenvolvimento de suas
ações contra a destruição da camada de ozônio. No entanto, para que todas as ações fossem realizadas
com seriedade, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) passou a fiscalizar, controlando e
regulamentando, em primeira instância, os rótulos dos produtos que não continham CFCs. Em 1991, o
Governo Federal criou o Grupo de Trabalho do Ozônio (GTO) para a implementação do Protocolo no país.
Concomitantemente, ações no Ministério da Saúde intervindo na produção e venda desses produtos,
como cosméticos e produtos higiênicos contendo CFCs, favoreceram as ações impostas pelo Protocolo
no país.

Com a regulação e aprovação do Conama, em 1995, foram criadas prioridades para eliminação
dos CFCs dos produtos industrializados e o Governo Federal criou o Prozon (Comitê Executivo
Interministerial para a Proteção da Camada de Ozônio), sendo que o Ministério do Meio Ambiente
passou a coordená‑lo.

Em relação ao Protocolo de Quioto, ele foi criado em 1997, a fim de fixar metas para diminuir
a poluição por queima de produtos fósseis, os quais também são responsáveis pelo efeito estufa.
Discutiremos sobre o efeito estufa com mais detalhes posteriormente.

A criação do Protocolo de Quioto propunha a redução da emissão dos gases do efeito


estufa em cerca de 5,2% de 2008 para 2012. Ademais, os países que assinaram esse Protocolo
se comprometeram a investir em projetos de redução das emissões em outras nações, além
de estimular atividades que favoreçam o plantio de árvores e conservação do solo, a fim de
aumentar a absorção de carbono do ambiente. No entanto, esse protocolo é bastante limitado em
suas ações de forma global, considerando que grandes nações não o assinaram, como os Estados
Unidos da América, um dos países que mais emitem poluentes na atmosfera, principalmente
CO2. Já o Brasil é um os países que tem maior número de iniciativas a respeito do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo, que diminui as consequências do processo de geração de poluentes em
países em desenvolvimento.
17
Unidade I

Saiba mais

Para conhecer mais a respeito do Painel Intergovernamental para


Mudanças climáticas ONU, leia:

ONUBR. Nações Unidas no Brasil. A ONU e as mudanças climáticas. 2014.


Disponível em: <http://www.onu.org.br/a‑onu‑em‑acao/a‑onu‑em‑acao/
a‑onu‑e‑as‑mudancas‑climaticas/>. Acesso em: 9 set. 2014.

Em 2003, foi criada a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, que ficou
responsável pela coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e, vinculada a ela, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), atuando a favor da saúde da população brasileira.

Dentre as estratégias de ação da Vigilância Sanitária estão:

• A regulamentação dos procedimentos de serviços e produtos de interesse da saúde, pela elaboração


de leis, decretos, portarias e normas técnicas baseadas nos riscos sanitários à saúde da população,
a fim de determinar diretrizes, além de organizar serviços e práticas da vigilância em saúde.

• A comunicação e educação em saúde, pois são essenciais para as ações com foco em problemas
sanitários encontrados em empresas e/ou estabelecimentos, esclarecendo suas responsabilidades
sanitárias, bem como a conscientização e participação da sociedade nesse processo.

• A articulação e integração com diversos órgãos que podem ou não ter ação direta com a saúde.

• A inspeção e fiscalização para que as ações da Vigilância Sanitária sejam sustentadas, favorecendo
o conhecimento real da problemática que afeta a saúde da população. Assim, existe a possibilidade
de definir estratégias e ações que promovam a resolução desses problemas.

Para colaborar no processo e educação em saúde, voltado para o tema meio ambiente, a Anvisa tem
como missão, por lei (nº 9.782/99), proteger e promover a saúde da população, garantindo a segurança
sanitária de produtos e serviços e participando da construção de seu acesso.

A Anvisa possui, além da ação regulatória, o encargo de coordenar o Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária (SNVS), que tem função de controlar, normatizar e fiscalizar ações em vigilância sanitária, bem
como no âmbito nacional, estar vinculada ao Ministério da Saúde e integrar o SUS, absorvendo seus
princípios e diretrizes. Assim, é possível considerá‑la um instrumento de que o SUS dispõe para atingir
seu objetivo de prevenção de doenças e promoção da saúde.

Alguns aspectos contribuíram para que a Anvisa pudesse atuar fortemente na saúde. Um deles
foi a criação do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), em 1990, que treinou o pessoal técnico
responsável vinculado aos serviços municipais e estaduais de epidemiologia e permitiu a participação
18
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

de instituições de ensino e pesquisa, o financiamento das pesquisas e a integralização de serviços, para


a implantação do monitoramento de doenças não transmissíveis, em relação às ações de proteção e
promoção da saúde no âmbito da vigilância. Além disso, houve um forte financiamento por parte do
governo para as ações de educação e saúde do SUS e existiram outros eventos e/ou convenções que
discutiram questões tanto sobre o meio ambiente quanto sobre a saúde humanas dando destaque para
o pré‑Rio‑92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento).

Na Conferência Rio‑92, os governos se uniram na tentativa de integrar o meio ambiente e o


desenvolvimento, criando diversos documentos, como a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a Carta da Terra e a Agenda 21, já discutida anteriormente. A Carta da Terra declarou
os princípios éticos e fundamentais para a formação de uma sociedade justa, sustentável e, além disso,
pacífica. Essa carta demonstrou a ânsia de uma ação concreta em relação à sustentabilidade e pautou
alguns desafios para o futuro, como mudanças de valores e modos de vida.

No ano de 2012, ocorreu a Rio+20, cujo tema foi o desenvolvimento sustentável e a erradicação da
pobreza; esta faz parte da sustentabilidade, pois está associada a programas de desenvolvimento sustentável.
A redução da pobreza no Brasil diminuiu de 12 para 4,8% de 2003 a 2012, devido aos programas do governo,
como o Bolsa Família. Adicionalmente, há outros programas, como a Bolsa Verde, que atrela sustentabilidade
e erradicação da pobreza. O nome oficial da Bolsa Verde é Programa de Apoio a Conservação Ambiental e
ela é coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), o qual incentiva a conservação do ecossistema
(manutenção e uso sustentável do meio ambiente), por meio da concessão de uma bolsa mensal e
participação dessa população em ações de capacitação ambiental, social, educacional, técnica e profissional.

Saiba mais

Conheça mais a respeito da Rio+20 acessando o site:

<http://www.rio20.gov.br/>.

A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) foi criada para diminuir a fragmentação de todas as
ações, colaborando para que ocorresse uma organização adequada do órgão e, consequentemente, do
SUS. Além da área epidemiológica, a SVS atua na promoção da saúde, vigilância de doenças e agravos
não transmissíveis, vigilância em saúde ambiental e monitoramento da saúde da população, como
demonstrado no esquema da figura 4.

Existem algumas políticas específicas de incentivo voltadas para a ação da SVS, como:

• Ações do Programa Nacional de DST/Aids – representa um instrumento de fundamental


importância para a descentralização das ações em saúde para Aids pelo SUS.

• Rede de Laboratórios em Saúde Pública – realiza diagnóstico de patógenos e desempenha função


primordial nas áreas de vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária.

19
Unidade I

• Centros de Controle de Zoonoses – que exercem atividades voltadas: aos vetores, como Aedes; aos
hospedeiros, como cães e gatos; aos animais sinantrópicos (que convivem junto e se adaptam ao
homem), como roedores, baratas e pulgas; e aos animais peçonhentos, como escorpiões, aranhas
e abelhas.

Vigilância epidemiológica de Programa de prevenção e


doenças transmissíveis e controle de doenças
não transmissíveis

Imunizações Promoção da saúde

Secretaria de
vigilância em saúde

Laboratórios de saúde pública Vigilância em saúde ambiental

Investigação e resposta a Informações epidemiológicas e


surtos de referência nacional situações da saúde

Figura 4 – Áreas de atuação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)

Lembrete

A Anvisa tem como missão proteger e promover a saúde da população,


garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e participando da
construção de seu acesso.

Vale a pena ressaltar que as autoridades sanitárias (formadas por pessoas credenciadas e que formam
a equipe de Vigilância Sanitária) exercem atividades de inspeção e fiscalização e, ao considerarem risco
à saúde, podem desempenhar o papel de polícia, como a aplicação de intimação e infração, interdição
de estabelecimentos e apreensão de produtos e equipamentos, dentre outros, exercendo a autoridade
sanitária. A Anvisa atua em: locais de produção e comercialização de alimentos, saneamento básico,
lojas e áreas de lazer, locais públicos, fábricas, medicamentos, controle de vetores e pragas urbanas e
zoonoses.

A Constituição Brasileira de 1988 descreve que o meio ambiente é um direito de todos, portanto, é
um dever de todos os cidadãos fiscalizar as atitudes contra ele, principalmente as humanas. Além disso,
o Brasil conta com órgãos governamentais que colaboram com essa fiscalização, como: o Ministério
Público, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Delegacia
de Meio Ambiente e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Além disso, a Constituição, em seu
20
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Artigo 225, parágrafo 3º, estabelece que, independentemente de quem causar danos ao meio ambiente,
deverão reparar os danos, de acordo com a Lei de Crime Ambiental (Lei nº 9.605, de 1998), que prevê
pena de reclusão de um a cinco anos a quem causar poluição de qualquer natureza que resultam em
danos à saúde humana ou de animais ou da flora.

Vale ressaltar que os danos como lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, detritos, óleos
ou substâncias oleosas no meio ambiente também entram nessa lei, uma vez que as ações de reversão
do dano são mais difíceis e mais custosas do que a prevenção dele. Mesmo com essa lei, em âmbito
federal, não existe um documento legal que estabeleça critérios rígidos para o descarte dos resíduos
sólidos.

Dessa forma, para a gestão adequada desses resíduos, seguem‑se os preceitos da Política Nacional de
Meio Ambiente (PNMA – Lei nº 6.938, de 1981), mas o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama)
publicou uma resolução (nº 313, de 2002) que institui o Inventário Nacional de Resíduos, o qual
estabelece critérios para o tratamento de alguns tipos de resíduos, como: a regulação do tratamento
térmico de resíduos e o licenciamento ambiental.

O quadro 2 traz as Conferências das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento que colaboraram para
a proteção do meio ambiente.

Quadro 2 – Conferências das Nações Unidas sobre Desenvolvimento

Ano Conferências
1990 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre a Criança
1992 Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento
1993 Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos
1994 Conferência das Nações Unidas sobre Populações e Desenvolvimento
1995 Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Social
1996 Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos
1996 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Alimentação
2000 Cúpula do Milênio: Declaração e Objetivos do Milênio
2002 Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento
2002 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável Rio +10
2005 Cúpula do Milênio II
2010 Cúpula do Milênio III
2012 Rio+20

Fonte: Buss et. al. (2012, p. 1481).

1.2 Sustentabilidade

Mesmo com as conferências internacionais e nacionais sobre saúde e meio ambiente, diversas ações
para a melhoria da saúde da população ainda são necessárias. Em relação à saúde ambiental, todas as

21
Unidade I

pessoas têm de pensar que a ação do outro influencia na saúde dele e da comunidade. Por esse motivo,
ações comunitárias voltadas para saúde ambiental são extremamente importantes para que os objetivos
de promoção da saúde sejam alcançados.

A Educação Popular é uma das alternativas para que exista sucesso nas ações comunitárias, no que
diz respeito à saúde ambiental. A Educação Popular está respaldada pela Carta de Ottawa (1986), que
considera as causas ou fatores de risco mais relevantes quando estão relacionados com comportamentos
humanos pessoais e coletivos, estilos de vida ou tipos de trabalho e, certamente, com o meio ambiente.
Assim, capacitar pessoas para que aprendam a lidar com as situações rotineiras colabora para a superação
desses desafios no meio ambiente.

Paulo Freire (pesquisador da área de Pedagogia) foi um grande defensor da Educação Popular
e afirmava que o aprendizado é um processo interativo horizontal entre professor (profissionais do
meio ambiente ou saúde) e aluno (comunidade), os quais trocam informações e aprendem uns com os
outros. Essa troca favorece a melhoria da condição de vida das pessoas que convivem nesse local e que
dependem dos serviços de saúde. Assim, é importante que, na Educação Popular voltada para a saúde
ambiental, exista uma interface que reúna os conhecimentos e práticas médicas com o pensar e fazer
cotidiano da população. Portanto, a Educação em Saúde refletirá na saúde da comunidade, que atuará
a favor do meio ambiente, pois ele interfere em sua saúde.

A Educação Popular baseada na problematização, também defendida por Paulo Freire, favorece o
entendimento sobre o direito de saúde. Assim, quando a comunidade identifica um problema, ela é capaz
de pensar em soluções práticas que podem ajudar a todos; nesse contexto, é pautada a importância da
escuta, da fala e da compreensão de ambas as partes.

Lembrete

A Carta de Ottawa (1986) considera que as causas ou fatores de risco


mais relevantes estão relacionados com comportamentos humanos pessoais e
coletivos, estilos de vida ou tipos de trabalho e, certamente, com o meio ambiente.

Portanto, educar vai além do termo em si e, se ao longo da vida um indivíduo recebeu o processo
educativo de forma crítica, ou seja, se foi capaz de raciocinar a respeito de diversos assuntos e problemas,
ele se tornará um adulto crítico, participativo e criativo para enfrentar a vida e todas as circunstâncias
que são atribuídas a ela, diferentemente de um indivíduo que não foi educado dessa maneira. Assim,
atribuir ao indivíduo desde a sua infância um tipo de educação que forma pessoas críticas contribui para
que as pessoas, independentemente da sua classe social, possam participar ativamente da comunidade,
em todos os seus aspectos: político, social e de saúde.

Adicionalmente, para que o processo educativo aconteça, é necessário que os seus atores estejam
em sintonia e a comunicação é uma ferramenta importante nesse contexto. E você, aluno, sabe como a
comunicação precisa ser? Ela deve ser clara e, assim como o processo educativo, precisa ser horizontal,
com troca de experiências.
22
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

O modelo mais indicado de comunicação é aquele capaz de agir sempre no coletivo, denominado
de comunicação participativa, que segue o modelo baseado no diálogo (comunicação dialógica). E,
quando pensamos em sustentabilidade, a comunicação participativa é a principal ferramenta, pois
tanto a educação quanto as informações corretas (a respeito do tema) favorecem ações adequadas.
Também é importante que a comunicação e a informação não sejam somente instrutivas, mas também
motivadoras, ou seja, estimulem a comunidade a ser ativa.

Exemplo de aplicação

Descreva situações que reflitam positivamente na vida da comunidade, as quais envolvam o


comprometimento dela em prol do meio ambiente.

É fundamental que as ações educativas estejam sempre associadas à situação real vivida pela
comunidade e, claro, que as soluções sejam praticáveis. Aos profissionais preparados cabe fazer o
indivíduo compreender os aspectos epidemiológicos e/ou patológicos que o fizeram adoecer e permitir
que ele conheça todos os seus direitos, como usuário dos serviços de saúde e como cidadão.

Alguns exemplos podem ser aplicáveis nesse modelo, como é o caso da dengue, já citada
anteriormente. Em relação a essa doença, é de extrema importância o cuidado e a conscientização, pois
é fundamental que a população conheça o ambiente em que vive, já que ele interfere consideravelmente
no surgimento dessa patologia. Portanto, o modelo participativo de educação, que leva o indivíduo a se
envolver, pensar e, por fim, agir, favorece a saúde e a sustentabilidade.

Lembrete

Comunicação é uma ferramenta importante para que aconteça um


processo de Educação Popular para a saúde e meio ambiente com eficiência.

Mas afinal, o que significa sustentabilidade?

Sustentabilidade significa a habilidade de sustentar uma ou demais condições mostradas por alguém.
Em relação ao meio ambiente, o uso dos recursos naturais não pode comprometer as necessidades
das gerações futuras. Assim, para que um empreendimento humano seja sustentável, ele precisa ser
ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente diverso.

Mas, você conseguiria imaginar estratégias de utilização dos recursos naturais sem comprometer o
seu uso pelas gerações futuras?

Para isso, diversas ações podem ser realizadas de forma sustentável, como exploração dos
recursos naturais de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio, preservação das
áreas verdes, incentivo da produção e do consumo de produtos orgânicos e exploração dos recursos
minerais de forma controlada, racionalizada e planejada. Em relação à energia, é possível criar

23
Unidade I

fontes de energia limpas e renováveis, como a eólica, a geotérmica e a hidráulica. Quando falamos
de resíduos sólidos, a sua reciclagem e gestão sustentável nas empresas são alguns exemplos;
há ainda alternativas para a sustentabilidade, como o consumo consciente de água, a adoção de
medidas que não permitam a poluição dos recursos hídricos e a despoluição daqueles que já foram
contaminados.

Assim, a educação para uma vida sustentável torna‑se uma pedagogia que facilita o entendimento
dos fundamentos básicos da ecologia, respeitando a natureza em um contexto multidisciplinar. Dessa
forma, as comunidades sustentáveis podem ser uma excelente alternativa para os diversos problemas
enfrentados pela humanidade, uma vez que elas utilizam os recursos naturais de forma consciente sem
reduzir a possibilidade de sua utilização pelas gerações futuras.

Lembrete

Sustentabilidade significa a capacidade de usar os recursos naturais,


a fim de satisfazer as necessidades do momento, sem comprometer o
bem‑estar das gerações futuras.

Uma alternativa para sustentabilidade é o ecocapitalismo, que ancora o capitalismo à


sustentabilidade, garantindo um consumo racional dos recursos naturais, importantes para as
gerações futuras. Diversas empresas têm associado a sustentabilidade com a responsabilidade social,
baseadas no ecocapitalismo.

Contudo, a sustentabilidade ainda atinge uma pequena massa da população: a maioria ainda tem
uma visão consumista que não aplica a sustentabilidade. Assim, a única saída é a educação ambiental,
pois ela trabalha a sustentabilidade na comunidade, favorecendo um meio ambiente adequado,
independente da classe social.

Saiba mais

Para saber um pouco mais a respeito do ecocapitalismo, sugerimos a


leitura do seguinte texto:

SILVA, M. G.; ARAUJO, N. M. S.; SANTOS, J. S. Conscious Consumption:


Ecocapitalism as Ideology. Rev. Katálysis [on-line], Florianópolis, v. 15, n. 1,
p. 95‑11, jan./jun. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pi
d=S1414‑49802012000100010&script=sci_arttext&tlng=en>. Acesso em:
10 set. 2014.

24
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

2 RESÍDUOS SÓLIDOS

2.1 Considerações gerais

Existe uma pergunta com a qual podemos iniciar este título: por que devemos nos preocupar
com a produção dos resíduos? Por dois motivos básicos: o primeiro é o fato de a maioria representar
um desperdício dos recursos naturais; o segundo diz respeito à produção dos produtos que geram os
resíduos, pois geralmente poluem o ar, o solo e a água, além de degradar o planeta. Contudo, com
diversas condutas é possível diminuir de 75 a 90% a produção de resíduos.

A cultura do tratamento de esgotos, resíduos industriais, coleta de lixo e reciclagem veio muito
depois na história da humanidade, pois todas as ações do homem eram despejadas nos leitos dos rios
ou no solo. Como a população foi crescendo, essas ações geraram consequências pouco ecológicas, as
quais interferiram diretamente no meio ambiente e na saúde do homem.

Problemas ambientais associados aos resíduos estão mais envolvidos com os resíduos sólidos do que
com os gasosos e líquidos, pois a dispersão daqueles é bem menor que destes. Além disso, grande parte
do total dos resíduos sólidos está nas residências das pessoas, indicando que a sociedade tem grande
influência no efeito deles para o meio ambiente. Dessa forma, a segregação adequada dos resíduos
sólidos para o seu reaproveitamento se torna essencial para a população.

Com o passar do tempo, com o aumento da produção de resíduos e sua implicação no meio ambiente,
juntamente com o conhecimento de que o ambiente é importante para o processo saúde‑doença da
população, passou‑se a exigir uma nova qualificação para esse tipo de problema.

Considerando a importância de qualificar os problemas associados ao resíduo sólido com a


saúde da população, a primeira etapa foi determinar o significado de lixo e resíduo. A principal
diferença entre eles é o fato de que lixo não possui valor, pois deve ser somente descartado, ao
passo que resíduo sólido possui valor econômico, pois pode ser reaproveitado, mesmo que durante
o processo produtivo.

No Brasil, a resolução de diversos problemas associados aos resíduos sólidos foi iniciada com o
surgimento da Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2 de agosto de 2010, que definiu
sólidas bases para uma gestão adequada dos resíduos por meio da Lei nº 12.305/2010; essa lei teve o
intuito de gerenciar e administrar de forma adequada os resíduos sólidos, não incluindo os rejeitos
radioativos.

Ainda com o objetivo de sanar os problemas provenientes dos resíduos, aplicam‑se as normas
estabelecidas pelo Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária (SNVS), Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e Sistema Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro).

Ademais, o Ministério do Interior publicou uma Portaria (Portaria Minter nº 53, de 01/03/1979) que
estabeleceu condutas para o descarte de resíduos sólidos domiciliares, de natureza industrial, de saúde
25
Unidade I

e demais resíduos no país. Outras políticas nacionais também estão envolvidas com o tema, além da
Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31/08/1981), como:

• a Política Nacional de Saúde (Lei nº 8.080, de 19/09/90);

• a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795, de 27/04/1994);

• a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433, de 08/01/1997);

• a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605, de 12/02/1998);

• o Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257, de 10/07/2001);

• a Política Nacional de Saneamento Básico (Lei nº 11.445, de 05/01/2007);

• e, claro, a PNRS, descrita anteriormente.

A PNRS estabelece diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos, incluindo: não geração de resíduos;
redução de resíduos gerados; melhor utilização dos produtos; separação das frações e processamento
dos resíduos em usinas de reciclagem; ações para recuperar a energia contida nos resíduos quando eles
não puderem ser reciclados; tratamento e disposição de resíduos com tecnologia e com custo acessível
à população.

Enquanto não existia a PNRS, no Brasil eram utilizadas as normas técnicas (NBRs) que foram
publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para definir resíduos sólidos. Contudo,
na atualidade, prevalece a definição de resíduos estabelecida pela lei.

Desse modo, a PNRS define resíduos sólidos como:

Todo material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades


humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe
proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido,
bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades
tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010).

Antes de falarmos da divisão dos resíduos sólidos, vamos discutir como os resíduos são produzidos.
De forma geral, os resíduos são derivados da produção de matéria‑prima. Contudo, dependendo do
tipo de matéria‑prima utilizada, é possível gerar resíduos que podem ser perigosos ou não perigosos
durante o processo de fabricação ou no processo final do produto. Esse processo pode ser mais bem
acompanhado na figura 5.

26
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Matérias-primas

Processos produtivos

Produto Resíduo

Inerte

Não perigosos

Não inerte

Perigosos

Inflamável Tóxico Corrosivo Reativo

Figura 5 – Produção de matéria‑prima e geração de resíduos sólidos

Agora vamos discutir sobre a classificação dos resíduos. Segundo a PNRS, os resíduos sólidos podem
ser classificados de acordo a sua origem e periculosidade. Essa divisão pode ser mais bem compreendida
por meio da figura a seguir.

Classificação dos resíduos sólidos

Perigosos
Quanto à
periculosidade
Não perigosos

Quanto à origem

Sólidos Serviços Serviços


Doméstica Agrossilvopastoris Mineração
urbanos públicos de de saúde
saneamento
Limpeza básico Construção Transporte
urbana civil
Sólidos Resíduos
comerciais e industriais
prestadores
de serviços

Figura 6 – Classificação dos resíduos quanto a sua periculosidade e origem

27
Unidade I

Quanto à classificação da periculosidade, os resíduos podem ser divididos em perigosos (classe I) e


não perigosos (classe II), sendo esses últimos subdivididos em inertes e não inertes. A divisão dos RSU
(resíduos sólidos urbanos) perigosos pode ser observada no quadro seguinte.

Quadro 3 – Classificação dos resíduos de acordo com a periculosidade

Classificação dos resíduos de acordo com a periculosidade


Classe I: Classe II:
Perigosos Não perigosos (que podem ser):
a) Inertes
b) Não inertes

Saiba mais

Para conhecer com detalhes a Política Nacional de Resíduos Sólidos,


sugerimos a leitura a seguir:

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional


de Resíduos Sólidos; altera a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá
outras providências. Brasília, 2010a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2007‑2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 10 set. 2014.

E quanto aos resíduos não perigosos? Os resíduos da Classe II são considerados não perigosos e
podem ser divididos em não inertes (Classe II A) ou inertes (Classe II B). Os resíduos não inertes são
aqueles capazes de se biodegradar, serem combustíveis ou solúveis em água. O lixo comum (proveniente
de restaurantes, banheiros, escritórios, dentre outros) é um dos exemplos desse tipo de resíduo. Já os
resíduos inertes são aqueles que não podem se solubilizar em água, ou seja, não sofrem transformações
de qualquer tipo (física, química ou biológica). Resíduos obtidos de obra civil (entulho) são um dos
exemplos de resíduos inertes e serão discutidos posteriormente.

Além desses, existem os de transporte (que incluem os resíduos gerados em terminais de transporte,
navios, aviões, ônibus e trens), os agrossilvopastoris (que são gerados nas atividades agropecuárias e
silviculturais, incluindo os insumos utilizados nessas atividades) e os de mineração (que são os gerados
na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios).

Lembrete

A Política Nacional de Resíduos (PNRS) define resíduos sólidos como todo


material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas
em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos
em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento
28
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções


técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Quanto aos resíduos perigosos, os da Classe I, podemos acrescentar que são de ordem física, química ou
infectocontagiosa e que podem acarretar danos à saúde das pessoas e prejuízos graves ao meio ambiente, quando
não são manipulados da forma adequada ou dentro dos preceitos legais. Assim, para que um resíduo seja classificado
como perigoso, ele precisa ser inflamável, corrosivo, reativo, tóxico, patogênico, carcinogênico, teratogênico e/ou
mutagênico. São exemplos de resíduos perigosos: óleo lubrificante usado ou contaminado, óleo de corte e usinagem
usado, equipamentos descartados e contaminados com óleo, lodos de galvanoplastia (tratamento superficial em
metais), lodos gerados no tratamento de efluentes líquidos de pintura industrial, efluentes líquidos ou resíduos
originados do processo de preservação da madeira, acumuladores elétricos à base de chumbo (baterias), lâmpada
com vapor de mercúrio (lâmpadas fluorescentes) e todos os resíduos provenientes dos serviços de saúde.

Ainda em relação aos resíduos perigosos, destacam‑se os metais pesados e os biológicos infectantes, os quais
são capazes de contaminar água, solo e ar, mas não são produzidos exclusivamente pelas indústrias ou clínicas
médicas. Alguns resíduos sólidos perigosos também são descartados em domicílios e comércios. Os metais pesados
estão associados à poluição e toxicidade e são utilizados na indústria eletrônica, maquinários e utensílios diários
da vida cotidiana, como pilhas, baterias, equipamentos eletrônicos em geral, lâmpadas fluorescentes, pigmentos
e tintas e medicamentos, dentre outros. Já os biológicos são aqueles pertencentes à microbiota natural do corpo
humano, como a Escherichia coli, e podem estar presentes nos resíduos sólidos urbanos.

Lembrete

Os resíduos sólidos podem ser classificados segundo a sua origem e


periculosidade. Em relação à periculosidade, podem ser divididos em
perigosos e não perigosos, sendo que esse último ainda pode ser dividido
em inertes e não inertes.

O contato com os agentes contaminantes presentes nos resíduos sólidos pode infectar os seres vivos por
inalação, por contato direto através da pele e mucosas e por ingestão. Portanto, é muito importante que
exista um sistema público de limpeza urbana, que inclua coleta, tratamento e disposição final dos resíduos
sólidos de forma adequada, pois, uma vez que todas as práticas humanas refletem na geração de resíduos,
a administração e o planejamento do seu descarte é um grande desafio para as políticas públicas. É possível
diminuir os impactos do descarte de resíduos para o meio ambiente e para a saúde humana, utilizando um
adequado plano de gerenciamento de resíduos, que será discutido em detalhes mais adiante.

No entanto, a destinação final inadequada dos resíduos não é a única forma de geração de doenças. O
desenvolvimento urbano crescente e a falta de planejamento comprometem a qualidade e a quantidade
de água potável, além de aumentar o despejo de esgotos a céu aberto. O lixo depositado em áreas não
próprias acaba se tornando fonte de alimento para diversos vetores que causam doenças. Os vetores
ainda podem transferir um agente infeccioso de uma população animal portadora de doença aos seres
humanos. Exemplo: um inseto pica um animal contaminado e em seguida pica uma pessoa sadia.
Discutiremos a respeito das doenças com mais detalhes, posteriormente.
29
Unidade I

Saiba mais

Para conhecer um pouco mais a respeito dos resíduos sólidos e poluição


ambiental, sugerimos a leitura do artigo a seguir:

OLIVEIRA, W. E. de. Resíduos sólidos e poluição ambiental. Revista DAE, n.


101, p. 46‑56, 1975. Disponível em: <http://www.revistadae.com.br/artigos/
artigo_edicao_101_n_324.pdf>. Acesso em: 11 set. 2014.

Além disso, a prevalência das doenças é maior na população carente que, por falta de recursos,
instala sua moradia em locais de risco, sem abastecimento de água, sem coleta de esgoto e, na maioria
dos casos, em locais que deveriam ser destinados à preservação ambiental. As condições precárias
favorecem a destinação inadequada dos resíduos sólidos e colaboram para a poluição ambiental. As
pessoas de renda superior, por sua vez, acabam contribuindo para o consumismo e produção de resíduos
e lixo, cuja a destinação também constitui um grande problema ambiental.

Atualmente, a consciência ambiental permite que exista uma preocupação no que diz respeito à
quantidade de resíduos produzidos desde a fonte geradora. Assim, com o passar dos anos, modelos de gestão
de resíduos sólidos têm sido incentivados, o que favorece o seu reaproveitamento e diminui a sua disposição.

No entanto, pesquisas demonstram que no Brasil as taxas de geração e coleta dos resíduos sólidos
urbanos superam o índice de crescimento populacional, indicando que estamos gerando mais RSU do
que a natureza pode suportar. Além disso, mesmo que ainda se tenham buscado alternativas para a
disposição adequada dos resíduos, a ameaça sanitária e ambiental dos lixões e a disposição dos resíduos
de forma inadequada ainda são avassaladoras. Esse aumento da geração de RSU pode ser observado na
figura seguinte, que compara a geração no ano de 2011 e 2012.
Geração de RSU
(t/ano)
62.730.096
61.936.368

1,3%

2011 2012

Figura 7 – Figura representativa da geração de resíduos sólidos urbanos (RSU),


comparando o ano de 2011 e 2012; t/ano = tonelada por ano

30
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Dados recentes demonstram que, apesar de haver aumento na geração de resíduos sólidos, houve
também aumento em sua coleta no País no mesmo período (figura a seguir). Vale ressaltar que a
quantidade de resíduos coletados de 2011 a 2012 aumentou em todas as regiões do Brasil, mas a Região
Sudeste é responsável por mais de 50% dessa quantidade, mesmo sendo a região de maior índice de
abrangência da coleta. Porém, apesar de a produção de produtos colaborar altamente para a geração de
resíduos, ela não é a única responsável. Podemos atribuir a outra parcela de culpa ao consumo desses
produtos, ou seja, existe um alto grau de descarte deles, os quais muitas vezes não sofrem degradação.

No entanto, esse aumento da coleta de resíduos reflete na sua destinação adequada? Apesar
de observar uma queda desse número em relação há 20 anos, os dados atuais ainda demonstram a
precariedade do sistema de descarte e acondicionamento dos resíduos, e isso está estreitamente
relacionado à cultura, à educação e à consciência da população.
Coleta de RSU
(t/ano)
56.561.856
55.534.440

1,9%

2011 2012

Figura 8 – Gráfico representativo do aumento da coleta dos resíduos sólidos no Brasil de 2011 a 2012

A destinação final dos resíduos sólidos será discutida com maiores detalhes posteriormente.

2.2 Resíduos de construção e demolição

Fazem parte dos resíduos de construção e demolição aqueles gerados nas construções, reformas,
reparos, demolições e escavação de terrenos, sendo de responsabilidade da esfera municipal o seu
recolhimento.

No Brasil, de 2011 para 2012, houve um aumento de 5% na quantidade desse tipo de resíduo,
conforme esquematizado na figura a seguir. O destaque foi para a Região Centro‑Oeste, que obteve o
maior índice desse tipo de resíduo coletado, sendo a Região Norte a que obteve o menor índice.

Esse aumento está vinculado à elevação do número de construções civis e obras na área civil.
Contudo, a destinação final desses resíduos ainda tem sido um desafio para as autoridades e para a
população. Discutiremos a respeito da destinação dos resíduos de construção e demolição com mais
detalhes, posteriormente.
31
Unidade I

1,55
1,5
1,45
1,35
1,3
1,25
1,2
1,15
1,1
(kg/hab./dia)
1,05
Índice

1
0,9 5%
0,95
0,85
0,8
0,75
0,7
0,65
0,6
0,55
0,5
2011 2012

Figura 9 – Gráfico comparativo sobre a geração de resíduos sólidos de construção


e demolição (RC&D) de 2011 a 2012 por dia no Brasil. Kg = quilo; hab. = habitante

2.3 Resíduos de serviços de saúde (RSS)

Em relação aos resíduos de serviços de saúde, dados da Abrelpe e IBGE de 2012 demonstraram que
dos 5.565 municípios do Brasil, somente 4.282 prestam serviços adequados para a gestão dos resíduos
sólidos de serviços de saúde (RSS). Esse mesmo estudo demonstrou que houve um aumento de 3% na
geração anual desse tipo de resíduo no país.
1,9

1,7

1,5
(kg/hab./ano)

1,3
Índice

1,1

0,9

0,7 3%
0,5
2011 2012

Figura 10 – Gráfico comparativo sobre a geração de resíduos sólidos de saúde de 2011 a 2012 por ano no Brasil

Tendo em conta que os resíduos de serviços de saúde (RSS) são considerados resíduos perigosos, eles
são divididos em grupos que vão do A ao E, os quais estão descritos em detalhes a seguir e sumarizados
no quadro 3.

• Grupo A – resíduos com presença de agentes biológicos que, por suas características de maior
virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Exemplos: peças anatômicas,
32
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

bolsas transfusionais, resíduos de atendimento de saúde, meios de cultura, resíduos de laboratórios,


dentre outros.

• Grupo B – resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou
ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e
toxicidade. Exemplos: produtos hormonais, desinfetantes, reagentes para laboratório, dentre outros.

• Grupo C – materiais radioativos resultantes de laboratórios de pesquisa e ensino na área de saúde


e de laboratórios de análises clínicas e serviços de medicina nuclear e radioterapia que contenham
radionuclídeos em quantidade superior aos limites de eliminação.

• Grupo D – materiais que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao
meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Exemplos: sobras de alimentos,
papel sanitário e fralda, resíduos da parte administrativa, dentre outros.

• Grupo E – materiais perfurocortantes e escarificantes. Exemplos: lâminas de bisturi, agulhas,


dentre outros.

Quadro 4 – Referente aos grupos resíduos sólidos de saúde (RSS) e seus exemplos

Grupo Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) Exemplos


Peças anatômicas, bolsas transfusionais, resíduos de
A Resíduos com presença de agentes biológicos. atendimento de saúde, meios de cultura, resíduos de
laboratórios.
Resíduos com características de Produtos hormonais, desinfetantes, reagentes para
B inflamabilidade, corrosividade, reatividade e laboratório.
toxicidade.
Radioativos resultantes de laboratórios de pesquisa e
ensino na área de saúde, laboratórios de análises clínicas
C Materiais radioativos. e serviços de medicina nuclear e radioterapia que
contenham radionuclídeos em quantidade superior aos
limites de eliminação.
Materiais que não apresentam risco biológico, Sobras de alimentos, papel sanitário e fralda, resíduos da
D químico ou radiológico, equiparados aos parte administrativa.
resíduos domiciliares.
E Materiais perfurocortantes e escarificantes. Lâminas de bisturi, agulhas.

Discutiremos posteriormente com mais detalhes o tratamento adequado desses resíduos bem como
a sua destinação adequada.

2.4 Resíduos sólidos e doenças

A falta de coleta e a disposição inadequada dos resíduos e do lixo são fontes de alimento, abrigo e
proliferação de macrovetores de doenças. Ratos, baratas, suínos e aves são considerados os macrovetores
mais comuns em ambientes urbanos com pouca estrutura de saneamento básico e contribuem para a
propagação de diferentes doenças. No quadro a seguir, você pode acompanhar as principais doenças
associadas ao lixo e aos vetores.
33
Unidade I

• Leptospirose, peste bubônica, tifo murinho: são transmitidas por ratos e pelas pulgas que
vivem no corpo do rato, através da mordida, urina e fezes desses roedores.

• Febre tifoide, cólera, amebíase, disenteria, giardíase, ascaridíase, amebíase, salmonelose:


são transmitidas por moscas, por via mecânica, através de asas, patas e corpo, e pelas fezes e
saliva desses insetos.

• Malária, febre amarela, leishmaniose, dengue, filariose: são transmitidas por mosquitos,
através da picada das fêmeas.

• Febre tifoide, giardíase, cólera: também podem ser transmitidas por baratas, por via mecânica,
através das asas, patas, corpo e pelas fezes desses insetos.

• Cisticercose, toxoplasmose, triquinelose, teníase: são transmitidas por suínos e gado, através
da ingestão de carne contaminada.

• Toxoplasmose: transmitida por cães, gatos e aves através de sua urina e fezes.

Para que os macrovetores sejam contaminados, eles precisam entrar em contato com o agente
infeccioso e, então, transportam esse agente em seu corpo, asas, patas e penas. Adicionalmente, eles
podem ter ingerido material contaminado e, da mesma forma, transmitem o agente infeccioso através
de sua saliva, picada, urina e fezes. Em relação aos mosquitos, apenas as fêmeas transmitem a doença
através da picada, enquanto os machos se alimentam de néctar de flores e sucos de vegetais.

Quadro 5 – Referente aos grupos de doenças veiculadas por vetores

Doença Vetor Transmissão

Leptospirose, peste bubônica e tifo murinho Ratos e pulgas que Mordida, pela urina e pelas fezes desses
vivem no corpo do rato. roedores.

Febre tifoide, cólera, amebíase, disenteria, Via mecânica, por meio de asas, patas
giardíase, ascaridíase, amebíase, salmonelose Moscas, insetos. e corpo, e pelas fezes e saliva desses
insetos.
Malária, febre amarela, leishmaniose, dengue e
filariose Mosquitos. Picada das fêmeas.

Febre tifoide, giardíase e cólera Por via mecânica, através das asas, patas,
Baratas, insetos. corpo e pelas fezes desses insetos.
Cisticercose, toxoplasmose, triquinelose, teníase Suínos e gado. Ingestão de carne contaminada.
Toxoplasmose Cão, gato e aves. Urina e fezes.

Lembrete

Resíduo pode ser considerado qualquer material que sobra após


uma ação ou processo produtivo. Somente quando esgotamos todas as
possibilidades com o resíduo é que podemos defini‑lo como lixo.

34
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

2.5 Destinação final dos resíduos sólidos

Falaremos agora sobre a destinação final dos resíduos sólidos. A incineração é um dos tipos
de tratamento dos resíduos sólidos para que depois se possa dar um destino adequado a eles.
Diversos locais do mundo, como Japão e Suíça, queimam seus resíduos sólidos em incineradores,
no entanto, essa prática tem perdido força devido à preocupação dos outros países do mundo
com a poluição do ar. Além disso, a maior parte dos resíduos sólidos urbanos quando são
queimados e despejados em locais impróprios podem contaminar o solo e, consequentemente,
o lençol freático.

Em relação aos locais de destinação dos resíduos sólidos, temos os lixões a céu aberto, que são
locais que possuem buracos no solo onde o lixo é colocado e coberto com terra. São raros em países
desenvolvidos, mas não nos em desenvolvimento. Já os aterros sanitários são preparados para receber
os resíduos. Os resíduos são espalhados em finas camadas, compactados e cobertos com argila e espuma
plástica. Geralmente, são localizados em áreas distantes de leitos d’água e recebem camada de argila e
plástico antes de acomodarem os resíduos. O fundo do aterro é coberto com um material impermeável
(argila, plástico espesso e areia) e é capaz de coletar o chorume (água da chuva contaminada pelo
contato com os resíduos), prevenindo o seu vazamento nos lençóis freáticos. O chorume é bombeado
para tanques e logo em seguida para uma usina de tratamento de esgoto comum ou para área de
tratamento local.

Além disso, os aterros sanitários possuem uma rede de tubos ventiladores que coletam os gases
do aterro (metano e CO2) liberados pela decomposição dos resíduos e evitam seu escape para a
atmosfera. Em relação ao metano, ele é queimado para produzir eletricidade ou revendido para servir
de combustível.

Os resíduos perigosos podem perder a sua toxicidade. Existem algumas estratégias para
isso, como a biorremediação, na qual bactérias e enzimas ajudam a destruir substâncias
toxicas. Outra é a fitorremediação, em que a utilização de plantas naturais ou modificadas
geneticamente podem absorver, filtrar e remover contaminantes da água ou solo poluídos.
Além disso, é possível incinerar os resíduos sólidos perigosos, mas isso pode contaminar o
ar. Outra opção é o descarte deles em poços subterrâneos profundos, mas eles podem vazar
e contaminar a água e o solo. Também, para esse tipo de resíduo, existem os aterros seguros,
que são projetados e monitorados. Esses aterros podem ser feitos de concreto reforçado, que
é mais apropriado para esse tipo de resíduo.

Os principais locais de destinação final para os resíduos sólidos encontrados no Brasil estão descritos
em detalhes a seguir e sumarizados no quadro 5.

• Aterro controlado: local onde se despeja o lixo coletado pelo serviço de limpeza urbana, em que,
após a jornada de trabalho, todos os resíduos são cobertos com camadas de terra, evitando danos
ao meio ambiente, à saúde pública e à segurança das pessoas.

35
Unidade I

• Aterro de resíduos da construção civil e de resíduos inertes: instalações onde se


aplicam técnicas e princípios de engenharia para a disposição de resíduos de construção
civil e inertes no solo. Essa disposição não permite danos ao ambiente e à saúde humana,
pois todos esses resíduos são confinados e reduzidos ao menor volume possível. Esse
procedimento visa à segregação (ato de separar ou isolar contato, de algo ou alguém)
dos materiais, possibilitando o seu uso no futuro, ou mesmo a utilização da área aterrada
para outros objetivos.

• Aterro sanitário: nessas instalações, os resíduos sólidos urbanos são depositados no solo
(sob controle técnico e operacional permanentes), garantindo que tanto os resíduos como os
seus líquidos e gases não causem danos à saúde e ao meio ambiente. Dessa forma, esse tipo
de instalação deve ser localizado, projetado, instalado, operado e monitorado de acordo com a
legislação ambiental.

• Aterro sanitário industrial: instalações de destinação final ou transitória de resíduos


industriais por meio de sua adequada disposição, evitando o contado tanto dos resíduos
quanto dos seus líquidos e gases no solo, diminuindo os riscos ao meio ambiente e à saúde
humana. Uma vez que o potencial de agressão ambiental e a saúde dos resíduos de origem
industrial dependem das características desses resíduos, dos processos industriais e do estado
físico em que se apresentam, cada aterro sanitário industrial deverá ser projetado, operado
e monitorado de acordo com os tipos de resíduos. Além disso, esses aterros têm de estar
credenciados para receber, processar e estocar os resíduos tanto de forma provisória como
definitiva sobre o solo ou em estanques distintos entre si, prevenindo a interação ou reação
entre os resíduos.

Quadro 6 – Referente aos tipos de destinação final para os resíduos sólidos

Local de destinação final Tipo de resíduo Características do local


Os resíduos são cobertos com camadas de terra, evitando
Aterro controlado Lixo de limpeza urbana. danos ao meio ambiente, à saúde pública e à segurança
das pessoas.
Aterro de resíduos da
construção civil e de Resíduos de construção civil Todos os resíduos são confinados e reduzidos ao menor
resíduos inertes e inertes no solo. volume possível.

Os resíduos sólidos urbanos são depositados no solo (sob


Aterro sanitário Resíduos sólidos urbanos. controle técnico e operacional permanentes).
Instalações de destinação final ou transitória de resíduos
industriais por meio de sua adequada disposição,
Aterro sanitário industrial Resíduos industriais. evitando o contado tanto dos resíduos quanto dos seus
líquidos e gases com o solo, diminuindo os riscos ao meio
ambiente e à saúde humana.

Em 2008 o IBGE demonstrou que, infelizmente, 50% dos municípios brasileiros ainda utilizam os
lixões como forma de destinação final dos resíduos.

36
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

100
Vazadouro a céu aberto (lixões)

80
Aterro controlado
Aterro sanitário

Porcentagem (%)
60

40

20

0
1989 2000 2008

Figura 11 – Destino final dos resíduos sólidos,


por unidades de destino dos resíduos. Brasil – 1989/2008

Em relação à disposição inadequada dos resíduos sólidos, dados do IBGE de 2008 apontam que as
Regiões Nordeste e Norte se destacaram por possuírem o maior índice de destinação do lixo aos lixões
(89 e 85%, respectivamente), enquanto as Regiões Sul e Sudeste possuem a menor destinação desses
resíduos aos lixões (15 e 18%, respectivamente). Em 2012, a pesquisa da Abrelpe e IBGE demonstrou
que as Regiões Norte e Nordeste continuam se destacando por serem as que mais destinam resíduos
sólidos para lixões, enquanto as Regiões Sudeste e Sul são as que mais utilizam aterros sanitários para
destinarem os resíduos.

Apesar das Regiões Sudeste e Sul se destacarem positivamente frente à disposição final dos
resíduos entre as regiões, cada uma possui seus estados que se evidenciam positivamente e
negativamente frente à sua destinação. Na Região Sudeste, o estado que se destaca positivamente
é São Paulo (76,3% em aterros sanitários) e negativamente, Minas Gerais (16,9% em lixões). Já na
Região Sul, o estado com destaque positivo é Santa Catarina (71,6%) e negativo, Rio Grande do Sul
(12,5% em lixões).

37
Unidade I

100
Aterro sanitário
90
N ND CO SD S
80
Aterro controlado
70
N ND CO SD S
Lixão
Porcentagem (%)

60
N ND CO SD S
50

40

30

20

10

Figura 12 – Gráfico comparativo sobre a destinação final dos resíduos sólidos urbanos
(RSU) de 2011 a 2012, por regiões do país. N = Região Norte; ND = Região Nordeste;
CO = Região Centro‑Oeste; SD = Região Sudeste; S = Região Sul

Até o momento, destacamos as peculiaridades dos resíduos e onde eles podem ser descartados. Além
disso, discutimos as particularidades de cada região do Brasil sobre a destinação final desses resíduos.
No entanto, ainda precisamos discutir a respeito dos resíduos de construção e demolição (RC&D) e os
resíduos de serviços de saúde (RSS).

De modo geral, os resíduos sólidos são destinados a locais específicos que devem ser cuidados para
que não contaminem o solo e o lençol freático, como vimos anteriormente. Em relação aos RC&D, eles
podem ser reutilizados pelos fabricantes para gerar novos produtos ou para complementar outras obras.
Já os RSS, por serem perigosos, antes de serem desprezados ao destino final, como os aterros sanitários,
têm de passar por um tratamento específico, como a incineração, por exemplo.

Em 2012, dos 5.656 municípios do Brasil, somente 4.282 têm responsabilidade por destinar os RSS,
total ou parcialmente, a locais adequados. Contudo, mesmo que esses resíduos sejam considerados
perigosos, não se descartam os lixões como uma das formas de destinação final para esse tipo de resíduo.
Cerca de 13,3% dos 4.282 municípios do país utilizam o lixão para descartar os RSS, comprometendo
o meio ambiente e a saúde da população. O tratamento dos RSS pode acontecer anteriormente à sua
disposição final, como é o caso da incineração. Aproximadamente 37,4% dos municípios utilizam a
incineração antes da destinação dos RSS, 16,6% utilizam a autoclave e 5,2% utilizam micro‑ondas e,
para destinação final, 5,8% dos municípios utilizam vala séptica e 21,7%, aterro sanitário.

Quando dividimos os municípios do Brasil em regiões, constatamos que a Região Sul é a única que
não deposita seus resíduos de serviços de saúde em lixões, mas a Região Centro‑Oeste também tem
seu valor, por ter diminuído consideravelmente a deposição dos RSS em lixão (1,4%), como pode ser
observado na figura a seguir. Desse modo, as regiões do país devem desenvolver métodos que colaborem
para que, na destinação dos RSS, não haja dano ao meio ambiente e prejuízo à saúde humana.
38
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Os medicamentos também são considerados RSS e, pensando que eles são considerados
perigosos (do Grupo B), sua destinação final tem de ser cuidadosa. Pesquisas realizadas em rios na
Alemanha e Reino Unido e esgotos da Itália demonstraram que ali existe grande quantidade de
fármacos, dentre eles antilipêmicos, anti‑hipertensivos, anti‑inflamatórios e analgésicos. Quando
esses fármacos são despejados nos meios aquáticos, comprometem o ecossistema, incluindo a
saúde do homem.

Os antibióticos encontrados em outras regiões do mundo devem ter uma atenção especial,
principalmente para o crescimento bacteriano, pois podem favorecer o crescimento de
bactérias resistentes. Outro fármaco de importante atenção são os estrogênios, pois afetam
o sistema reprodutivo dos animais que têm contato com essa água. Já os antineoplásicos e
imunossupressores podem causar mutação. Portanto, o descarte ideal de fármacos bem como de
suas sobras deve ser uma conduta essencial para que o meio ambiente e os seres humanos não
sofram as consequências.

Em 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disponibilizou um guia que contém recomendações
para os resíduos gerados pelas atividades de saúde e outro para descarte de medicamentos.

Norte Nordeste Centro-Oeste


Lixão Lixão Aterro sanitário Lixão
Aterro sanitário 8% 11,5% 6,4% 1,4%
12,1% Aterro
Vala séptica
sanitário
15,9%
7,8%

Vala séptica
32,8% Vala séptica Autoclave Incineração
Incineração 21,8% Incineração
19,8% 56,5%
Autoclave 45,8% Autoclave 54,2%
1,3% 4,7%

Sudeste Sul
Microondas Aterro sanitário
Lixão
Incineração 1,5% 1,6%
16,3%
31,0%

Aterro
sanitário
28,3%

Autoclave Incineração
Autoclave
Vala séptica 16,7% 43%
Microondas 53,9%
0,3%
7,4%

Figura 13 – Gráficos que demonstram porcentagem de tratamentos (incineração, autoclave e micro‑ondas) e


destinos finais (aterro sanitário, vala séptica e lixão) para resíduos serviços de saúde (RSS) por região do Brasil

39
Unidade I

Saiba mais

Para conhecer o manual da OMS para descarte de medicamentos


(Guidelines for Safe Disposal of Unwanted Pharmaceuticals in and after
Emergencies), sugerimos acessar o seguinte link:

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for Safe Disposal of


Unwanted Pharmaceuticals in and after Emergencies: Interagency
Guidelines. Geneva: World Health Organization, 1999. Disponível
em: <http://www.who.int/water_sanitation_health/medicalwaste/
unwantpharm.pdf>. Acesso em: 11 set. 2014.

No Brasil, não existe legislação específica para o gerenciamento e destinação final de medicamentos.
O Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Saúde (RDC 306, de 07 de
dezembro de 2004) e a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 358 (de 4 de
maio de 2005) para o tratamento e destinação final dos RSS, juntamente com a Lei Nacional de RSU,
favorecem o gerenciamento desses resíduos de forma adequada.

Assim, é importante que se conheça a respeito dos prejuízos que o lançamento de medicamentos no
lixo comum pode causar ao meio ambiente e à saúde humana, sendo que deve existir um programa de
gerenciamento para esse tipo de resíduo que seja eficiente.

Saiba mais

Para conhecer mais a respeito da RDC 306 e da Resolução 358, sugerimos


acessar os links:

• BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução da Diretoria Colegiada –


RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.
Brasília, 2004b. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/
wcm/connect/10d6dd00474597439fb6df3fbc4c6735/RDC+N%C2
%BA+306,+DE+7+DE+DEZEMBRO+DE+2004.pdf?MOD=AJPERES>.
Acesso em: 11 set. 2014.

• BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução Conama nº 358, de


29 de abril de 2005. Publicada no DOU nº 84, de 4 de maio de 2005,
Seção 1, páginas 63‑65. Brasília, 2005b. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=462>. Acesso
em: 11 set. 2014.

40
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

2.6 Gerenciamento dos resíduos sólidos

Antes de falarmos sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos, é importante relembrarmos alguns
aspectos sobre os resíduos. A quantidade de resíduos sólidos no Brasil aumentou mais do que o crescimento
populacional, mas o serviço de coleta desse tipo de resíduo também aumentou consideravelmente.
Infelizmente, a coleta dos resíduos não seguiu o mesmo crescimento em relação à destinação adequada
deles. Quando dividimos esses dados por região, a Região Sudeste (96,87%) se destaca por possuir maior
índice de abrangência de coleta de resíduos e a Região Nordeste (77,43%), por possuir menor índice de
abrangência, como discutido anteriormente.

No Brasil, existem resoluções que ditam que os geradores de RSS são os responsáveis por sua coleta,
tratamento e destinação final. Assim, municípios com sistemas de saúde devem ser responsáveis pelos RSS.
De 2011 a 2012 houve um aumento na quantidade de RSS coletados em todas as regiões do país. Contudo,
infelizmente, 12,5% dos RSS coletados ainda vão para lixões a céu aberto, sem nenhum tratamento prévio. Essa
condição é extremamente preocupante, uma vez que esses resíduos podem contaminar o solo e o lençol freático.

Em se tratando de resíduos sólidos, a primeira opção para diminuir os danos ao meio ambiente e
à saúde da população é o gerenciamento desse resíduo, que tem como função garantir que todos os
resíduos sejam gerados e destinados a locais adequados de forma segura e apropriada. Discutiremos a
partir de agora mais sobre o assunto.

Assim, o gerenciamento e redução de resíduos são ótimas alternativas para a sua diminuição.
Basicamente, o gerenciamento se baseia na premissa de que não existe um crescimento econômico
que não esteja atrelado à produção de dejetos, mas defende que, com um gerenciamento adequado, é
possível uma diminuição no dano ambiental. Já a redução de resíduos foca a baixa produção de detritos,
ou seja, incentiva reaproveitar, reciclar e compostar.

Alguns autores defendem os seis passos da sustentabilidade para resíduos sólidos. São eles:
1)  Consumir menos; 2) Fabricar produtos com menos materiais e energia; 3) Elaborar artigos com
menor produção de resíduos e menos poluição; 4) Gerar produtos que sejam fáceis de reaproveitar,
compostar e reciclar; 5) Produzir mercadorias de maior durabilidade; 6) Eliminar ou reduzir embalagens.

O processo do planejamento da gestão dos resíduos sólidos deve ter como ferramenta o conceito
de gestão integrada e sustentável de resíduos e o conhecimento de barreiras e motivações da gestão de
resíduos sólidos. É importante ressaltar que o planejamento depende da visão individual e coletiva sobre
a real importância da gestão dos resíduos sólidos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) possui princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes da
Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos (GIRS), incluindo os resíduos perigosos, bem como a responsabilidade
de todos os geradores, governantes e população e as soluções para uma adequada gestão dos resíduos.

Essa PNRS tem como pilares cinco principais ações, demonstradas na figura seguinte, como proteção
à saúde pública, gestão integrada e ambiental eficiente, qualidade ambiental, adoção, desenvolvimento
e melhoria das tecnologias limpas e redução resíduos.
41
Unidade I

Proteger a saúde pública

Gestão integrada/ambiental
eficiente

Gerenciamento
de RSU Qualidade ambiental

Adotar, desenvolver,
melhorar tecnologias limpas

Reduzir resíduos

Figura 14 – Figura representativa dos objetivos da


Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)

Além das etapas para o gerenciamento seguro dos resíduos sólidos, há uma teoria que sustenta essa
gestão, denominada teoria dos três Rs (3Rs), descrita em detalhes a seguir e esquematizada na figura a
seguir.

• Redução da geração de fonte – essa ação visa à diminuição da produção desses resíduos, por meio
de procedimentos que podem ser implantados, tanto em residências quanto em empresas. Esses
procedimentos podem ser simplesmente operacionais ou ajustados a tecnologias de ponta para
melhorar a produção dos produtos.

• Reutilização dos resíduos – tem por objetivo a reutilização do produto sem alterar sua estrutura.
Exemplo: utilizar os dois lados da folha de papel.

• Reciclagem dos resíduos – com esse procedimento, os resíduos são utilizados para criar outros
tipos de materiais. Exemplo: reciclagem das latas de alumínio para bebidas (as latas podem ser
reutilizadas no processo para a criação de novas latas).

Redução de geração da fonte

3Rs Reutilização dos resíduos

Reciclagem dos resíduos

Figura 15 – Figura representativa da teoria dos 3 Rs


para o gerenciamento seguro dos resíduos sólidos

42
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Ainda, segundo a PNRS, existe uma prioridade na gestão de resíduos que desestimula a sua disposição
e favorece a sua não geração e minimização. As prioridades seguem a seguinte ordem: redução, reúso,
reciclagem, tratamento e disposição. Para isso, a PNRS possui três áreas básicas de atuação:

• Preparação de Planos para Resíduos Sólidos.

• Princípio de Responsabilidade Compartilhada entre governo, empresas e população, de acordo


com a duração dos produtos.

• Participação dos catadores de produtos recicláveis e reutilizáveis no Sistema de Logística Reversa.

É importante ressaltar que é dever dos governos federal e estadual oferecerem uma política de
estímulos aos governos municipais, os quais devem buscar soluções conjuntas e regionalizadas para
colocar em prática a PNRS. Assim, deve existir um plano de resíduos sólidos em todas as esferas
de governo. Esse plano é preparado de acordo com a área de abrangência e com o objetivo a ser
realizado. Portanto, a PNRS também estipula que algumas entidades privadas têm de preparar planos
de gerenciamento de resíduos sólidos, estando enquadradas nesse quesito:

• empresas geradoras de resíduos de saneamento básico, resíduos industriais, resíduos dos serviços
de saúde e resíduos de mineração;

• empresas comerciais ou que prestam serviços que geram resíduos perigosos ou administram resíduos
perigosos ou não perigosos, os quais não são tratados pelos municípios como resíduos domésticos;

• empresas construtoras, em conformidade com as regras ou normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama;

• empresas e órgãos responsáveis pelos resíduos produzidos em serviços de transporte, como


portos, aeroportos, dentre outros – eles devem estar em conformidade com as regras ou normas
estabelecidas pelo Sisnama e, se aplicável, pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária;

• empresas e responsáveis pelas atividades agropastoris, se exigido pelo órgão competente do


Sisnama, do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária ou da Suasa.

Observação

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) preconiza a responsabilidade


compartilhada entre o governo (nas três esferas de governo), empresas e
população sobre o ciclo de vida dos produtos, indicando a importância de
existir uma gestão adequada dos resíduos sólidos e uma abordagem separada
para todos que participam do ciclo de vida do produto.

É muito importante que os problemas de uma fase não cheguem à fase seguinte. Por exemplo,
deve‑se atentar para que, ao reduzir o impacto no meio ambiente durante a produção do produto, não
43
Unidade I

se aumente a quantidade de resíduos sólidos a serem produzidos sem que estes possam ser aproveitados
posteriormente, por meio da reciclagem. Assim, caso essa transferência exista, os impactos sobre o
meio ambiente ainda continuam a existir ou podem ser até mais avassaladores. Dessa forma, a gestão
de resíduos deve ser considerada sempre, mas tendo o cuidado para que ela esteja de acordo com as
condições locais de geração do produto. Por exemplo: é preferível reciclar o lixo ou extrair energia dele?
Questões simples como essa devem ser realizadas a todo instante.

Podemos observar na figura mais adiante, de forma resumida, as etapas e as teorias para o gerenciamento
dos resíduos sólidos, citados anteriormente. Nessa figura podemos ver um fluxograma com todas as etapas,
considerando a redução, reutilização e reciclagem dos resíduos, até a destinação final deles.

Como podemos observar no fluxograma apresentado anteriormente, alguns resíduos precisam passar
por tratamentos. Discutiremos agora os principais tipos de tratamentos utilizados antes da destinação
final de alguns resíduos sólidos. São eles: tratamentos térmicos e químicos.

Os resíduos sólidos que passam por tratamento térmico sofrem processos de incineração (por
combustão), coprocessamento (reutilização em outros processos), pirólise (decomposição química por
calor) e plasma (gás ionizado por temperatura acima de 3000º). São exemplos de resíduos que passam
por esse processo: óleo usado, plástico e borracha, tintas e solventes e cinzas de fornos, dentre outros. Já
os resíduos sólidos que passam por tratamento químico sofrem centrifugação, separação gravitacional
e redução de partículas.

Processo

Resíduo gerado

Armazenamento temporário
Caracterização/classificação
Sim
Precisa de tratamento?
Periculosidade?
Não Sim
Reciclagem/ Pré-tratamento
reutilização Armazenamento
interna temporário
Não
Sim Realizado/
reciclado? Destinação
final
Não
Reciclagem/ Sim
reutilização Pré-tratamento? Pré-tratamento
interna Não
Destinação final

Figura 16 – Fluxograma do gerenciamento dos resíduos sólidos

44
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

O fluxograma da figura anterior também demonstra outro parâmetro, que é a reciclagem


e reutilização dos resíduos. O aproveitamento dos resíduos e a reciclagem são extremamente
importantes, pois são capazes de gerar benefícios para o meio ambiente e, consequentemente,
para a saúde humana. Além disso, essas ações realizadas para os resíduos sólidos geram benefícios
para a redução da utilização dos aterros sanitários, diminuição dos gastos com transporte dos
resíduos, redução da utilização dos recursos naturais e diminuição dos riscos ao meio ambiente,
gerados pelo acondicionamento desses resíduos. Para isso, esses resíduos precisam ser segregados
corretamente e de acordo com a lei.

Para facilitar o processo de manuseio e acondicionamento, três pontos envolvidos com a separação
dos resíduos devem ser recomendados, independentemente de seu local de origem. A figura a seguir os
esquematiza:

Separação de resíduos

Deve evitar a junção


Deve ser realizada no de resíduos sólidos
local de origem do que podem gerar
resíduo algum tipo de perigo

Deve evitar a mistura de


resíduos de classes distintas
de periculosidade ou
incompatibilidade entre si

Figura 17 – Esquema de dicas que envolvem a separação dos resíduos sólidos

O reaproveitamento de produtos diminui o uso de recursos, o desperdício e a poluição nos


países economicamente mais desenvolvidos, mas pode prejudicar aqueles em desenvolvimento. O
reaproveitamento visa, principalmente, ao uso de materiais de forma contínua, ou seja, deixa a vida
do produto mais longa. Tudo isso diminui a utilização de matéria e de recursos energéticos e reduz a
poluição. Um exemplo clássico de reutilização é a garrafa de vidro para bebidas.

A reciclagem é outra forma de reduzir a quantidade de resíduos, pois coleta os materiais residuais e os
transforma em materiais úteis novamente. Para isso, tem de transformar materiais sólidos descartáveis
em novos e, claro, úteis para o consumo. Os principais materiais que podem ser reproduzidos, ou seja,
reciclados, são: vidro, plástico, papel, alumínio e aço.

Basicamente, a reciclagem pode ser de dois tipos: primária, que consiste no reaproveitamento do
produto para a produção de um novo, mas sendo da mesma linha de produto original; e secundária, em
que o produto é novo, mas forma outro diferente do seu original.

Além disso, existem dois tipos de processo de reciclagem: a interna (pré‑consumo), na qual durante a
produção do produto há a reciclagem dele antes de ser descartado; e a externa (pós‑consumo), em que
o produto já foi utilizado e pode ser reciclado.
45
Unidade I

A compostagem é outro método que se baseia na natureza para reciclar alguns produtos orgânicos
biodegradáveis. O produto orgânico pode ser acondicionado no solo para gerar nutriente para as
plantações, diminuir a erosão e reter a água. Contudo, deve‑se ter cuidado com esse processo e controlar
os seus odores.

Para exercer a reciclagem, os resíduos podem ser enviados para instalações de recuperação de
materiais, onde máquinas e trabalhadores separam (segregam) os resíduos para revenda. Alguns
resíduos combustíveis como papel e plástico podem ser reaproveitados pelas empresas que
adquirem esses produtos ou ser queimados para produção de energia, e as cinzas são depositadas
em aterros sanitários. No entanto, as usinas não são fáceis de serem criadas e operadas. Caso
sejam inadequadas, podem contaminar o ar pela emissão de gases tóxicos. Assim, para que
o sistema de reciclagem funcione adequadamente, muitas cidades implantaram o sistema de
coleta seletiva.

Para que exista o aproveitamento e a reciclagem dos resíduos, é necessário um tipo de coleta
especial, como dito anteriormente, denominado de coleta seletiva, que tem como função separar o
lixo para que ele seja enviado para a reciclagem, impedindo que materiais recicláveis se misturem
com o restante do lixo. Essa ação pode ser realizada por um cidadão ou organizada em comunidades:
condomínios, empresas, escolas, clubes, cidades, dentre outros. Para facilitar esse processo, o Conselho
Nacional de Meio Ambiente (Conama – Resolução 275/01) orientou cores‑padrão, normatizando
a identificação e a segregação dos resíduos sólidos. A figura seguinte esquematiza essas cores, de
acordo com o tipo de resíduo.
Amarelo Azul Branco Cinza Laranja

Metal Papel Saúde Geral Perigoso


(não reciclável)

Marrom Preto Roxo Verde Vermelho

Orgânicos Madeira Radioativos Vidro Plástico

Figura 18 – Esquema de cores para a separação dos resíduos sólidos

Historicamente, o IBGE demonstrou as primeiras informações oficiais sobre a existência de coleta


seletiva no Brasil, que ocorreu em 1989, com 58 programas. Dentre elas, incluía‑se a realizada em

46
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

São Paulo, na Vila Madalena. Segundo dados do IBGE 2008, nos dias atuais, esse tipo de ação já está
implantada em cerca de 50% dos municípios do país. Inicialmente, todos os resíduos coletados por esse
tipo de ação eram enviados para o Centro de Triagem e Reciclagem em Pinheiros e lá eram separados.
Atualmente, esse tipo de Centro de Triagem e Reciclagem se multiplicou e, para aqueles municípios que
ainda não possuem o serviço de coleta seletiva, há os Postos de Entrega Voluntária (PEVs), para onde a
população se desloca e deposita o seu lixo.

Os processos de coleta seletiva e reciclagem têm crescido fortemente no país desde os primeiros
dados de 1989, não somente por uma questão de meio ambiente, mas também financeira, pois esses
procedimentos são fundamentais para o gerenciamento de resíduos sólidos e também podem contribuir
para a geração de emprego e aumento da arrecadação do município. Destacam‑se como os principais
produtos para a reciclagem alumínio, papel, plástico e vidro, os quais participam consideravelmente do
aporte financeiro do país nesse quesito.

Em 2008, o IBGE (IBGE, 2010) demonstrou que dos 5.565 municípios brasileiros, somente 3.263
municípios possuem coleta seletiva, sendo que as regiões do Sul e do Sudeste contribuem mais com
essa prática do que as outras regiões do país. Dados mais recentes da Abrelpe e IBGE (ABRELPE, 2012)
demonstram que esses dados se modificaram e em 2012 o número de municípios que possuem coleta
seletiva aumentou de 3.263 para 3.326, mas as regiões Sudeste e Sul ainda são referência com o maior
índice de coleta (80,5 e 79,5%, respectivamente). Assim, fica evidente a necessidade de se implantar essa
prática em outras localidades do Brasil, com urgência.

A PNRS preconiza a responsabilidade compartilhada entre o governo (nas três esferas de governo),
empresas e população sobre o ciclo de vida dos produtos, indicando a importância de existir uma
gestão adequada dos resíduos sólidos e uma abordagem separada para todos que participam do
ciclo de vida do produto. Por exemplo, as autoridades nacionais devem comprometer‑se com a
limpeza pública urbana, coleta e destinação final dos resíduos. A coleta seletiva e os sistemas
de compostagem devem ser estabelecidos pelo município, favorecendo a diminuição de resíduos
depositados em aterros, o que aumenta a renda do município e contribui com o meio ambiente e
com a vida da população.

A população tem de participar e contribuir, segregando adequadamente os resíduos


sólidos recicláveis e reutilizáveis. Já as empresas devem utilizar o conceito de responsabilidade
compartilhada por meio da logística reversa, na qual o produto, ao atingir o final da sua vida útil, é
devolvido ao fabricante ou importador para que possa ser reciclado ou reutilizado, ou ainda passar
por algum tratamento especializado. Esse sistema tem de ser estimulado pelo governo, por meio
de medidas legais e incentivos fiscais. Nem todos os produtos podem ter o conceito de logística
reversa, mas agrotóxicos (seus resíduos e embalagens), pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes
(seus resíduos e suas embalagens), lâmpadas fluorescentes, aparelhos eletrônicos e embalagens de
produtos que são considerados (após o uso) como perigosos são resíduos tidos como passíveis de
logística reversa.

47
Unidade I

Exemplo de aplicação

Convidamos você, caro aluno, a refletir se essas condutas existem no seu dia a dia, respondendo a
simples questões:

• Você separaria os resíduos sólidos gerados em sua residência, mesmo que seu município não
realizasse a coleta seletiva?

• Você disponibilizaria tempo para levar esses resíduos separados até um local pré‑determinado
para o descarte deles?

Os serviços de limpeza urbana também fazem parte do processo de gerenciamento dos RSU, pois
são capazes de medir o funcionamento da gestão dos resíduos sólidos nos municípios do Brasil, que têm
investido nos serviços e na qualidade deles com o passar dos anos.

Em média, no ano de 2012, o Brasil investiu cerca de R$ 133,56 por pessoa/ano na coleta de RSU e
limpeza urbana, índice maior que o de 2011. É importante ressaltar que os serviços de limpeza urbana
colaboram não somente para a qualidade da saúde pública urbana, mas também para a criação de
empregos e diminuição do desequilíbrio social. Em 2012, os serviços de limpeza urbana cresceram 3%
em relação a 2011, criando cerca de 320 mil empregos diretos. Além disso, o mercado de limpeza urbana
tem se mostrado aquecido, pois aumentou cerca de 7% no país, superando a margem financeira de 23
bilhões de reais.

Anteriormente à PNRS, os catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis (equivalendo a um


milhão de pessoas) eram considerados parte de um setor informal do mercado de trabalho brasileiro,
principalmente no que tange à logística de reversa. A legislação está favorecendo a capacitação e
integração desses indivíduos na GIRS para a atuação segura, humanizada e ecologicamente favorável a
partir da ação das autoridades políticas públicas.

Assim, com a PNRS, diversos fatores foram modificados sobre a GIRS, como responsabilidades e
deveres do governo, catadores, população em geral e empresas para com os RS. O quadro seguinte
demonstra as modificações que ocorreram antes e depois da Lei NRS.

48
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Quadro 7 – Comparação das atividades e responsabilidades das autoridades públicas,


catadores de resíduos, empresas e população sobre os resíduos sólidos antes e
após a Lei Nacional de Resíduos Sólidos (NRS – Lei nº 12.305/2010)

Público Antes da Lei NRS Após a Lei NRS


• Definição de metas pelos municípios junto
• Falta de prioridades com os resíduos com cooperativas de catadores de resíduos.
sólidos.
Autoridades • Erradicação dos lixões em 4 anos.
• Existência de lixões em muitos municípios.
públicas • Início da compostagem.
• Falta de uso de resíduos orgânicos.
• Controle de custo e avaliação da qualidade do
• Coleta seletiva dispendiosa e ineficiente. serviço de coleta seletiva.
• Por meio das cooperativas, há diminuição dos
• Exploração do trabalho por intermediários riscos à saúde e aumento de renda.
e riscos à saúde.
• Contratação de cooperativas de coleta e
• Informalidade.
Catadores de reciclagem pelos municípios.
resíduos • Problemas com a qualidade e quantidade • Aumento da quantidade e qualidade do
de materiais. material a ser reciclado.
• Falta de qualificação e de visão de • Trabalhadores treinados e capacitados para
mercado. aumentar a produção.
• Não existia lei que orientasse as empresas. • A lei orienta as ações empresariais.
• Não existia incentivos financeiros. • Existência de novos instrumentos financeiros
para orientar a reciclagem.
Empresas • Baixo retorno pós‑consumo de produtos
eletroeletrônicos. • Maior reciclagem de produtos pós‑consumo.
• A falta de reciclagem gera desperdício • A reciclagem impulsiona negócios, gera outros
econômico. e impacta a geração de renda.
• Falta de segregação dos resíduos sólidos • Separação dos resíduos com mais eficiência.
nas residências.
• Campanhas educacionais acerca do tema.
• Falta de informação.
População • Melhoria dos serviços da coleta seletiva.
• Serviço de coleta seletiva ineficiente.
• Exercícios dos direitos de cidadãos para
• Poucas exigências das autoridades pressionar os governos.
governamentais.

Adaptado de: Abrelpe (2012).

Lembrete

O aproveitamento dos resíduos e reciclagem são extremamente


importantes, pois são capazes de gerar benefícios para o meio ambiente
e, consequentemente, para a saúde humana. Além disso, essas ações
realizadas para os resíduos sólidos geram benefícios para a redução da
utilização dos aterros sanitários, diminuição dos gastos com transporte
dos resíduos, redução da utilização dos recursos naturais e diminuição dos
riscos ao meio ambiente gerado pelo acondicionamento desses resíduos.

Em relação aos resíduos de serviços de saúde (RSS), sua classificação está de acordo com as
suas características físicas, químicas, biológicas e estado de matéria e origem, para o manejo e
49
Unidade I

acondicionamento adequado desses resíduos. Lembrando que essas características classificam os RSS
como perigosos.

Antes de qualquer ação em relação aos RSS, é necessário o cadastramento da unidade de saúde
na prefeitura. Depois disso, todos os estabelecimentos de saúde devem elaborar e implantar um Plano
de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, atendendo a todos os requisitos legais e critérios
técnicos para o planejamento, desde o manejo até a segregação e disposição final desses resíduos.

Em relação ao manejo dos RSS, a ação visa ao gerenciamento dentro e fora da instituição de
saúde, incluindo as etapas de: classificação, segregação, embalagem/segregação, identificação, coleta
e transporte interno, armazenamento interno (temporário), transporte interno para o armazenamento
externo, armazenamento externo (temporário), transporte externo, tratamento e disposição final.

A segregação inclui a separação dos resíduos no momento e local da sua geração, de acordo com suas
características, já o acondicionamento inclui o embalo desses resíduos segregados. Para entender esse
acondicionamento, precisamos revisar as classes de resíduos de saúde, que foram citadas anteriormente.

O acondicionamento dos resíduos do Grupo A deve ser realizado em sacos plásticos com descrição
de contaminante, os quais devem estar dentro de recipientes com cantos vivos, tampa articulada e
acondicionamento por pedal, feito de material liso, resistente, lavável e impermeável e ser identificados
como substâncias infectantes com fundo branco. O acondicionamento dos resíduos do Grupo B devem
ser isolados em recipientes próprios para a atividade química/física do resíduo. Os resíduos do Grupo
C devem ser acondicionados de acordo com as exigências do Conselho Nacional de Energia Nuclear,
sendo que o saco plástico de acondicionamento tem de ser de cor roxa, com o símbolo da radiação. Os
resíduos do Grupo D, por sua vez, precisam ser acondicionados de acordo com os resíduos de limpeza
urbana e devem ser identificados de acordo com o símbolo da substância. Já os resíduos de Grupo E têm
de ser acondicionados em recipientes rígidos, com tampa, resistentes à punctura, ruptura e vazamento,
e devem ser devidamente identificados com o símbolo de infectante e perfurocortante, contendo a
identificação “perfurocortantes”. A figura a seguir esquematiza essas identificações.

ATENÇÃO

MATERIAL RADIOATIVO

Grupo A e E Grupo B Grupo C Grupo D

Figura 19 – Esquema de símbolos para identificação dos resíduos sólidos perigosos

Os resíduos químicos, também considerados perigosos, não podem ser desprezados no lixo comum
e devem ter um tratamento prévio antes do destino final. São exemplos: hidrocarboneto halogenado;
composto inflamável em água; explosivos, como azidas e peróxidos; polímeros que se solubilizam em
água formando gel; materiais que possuem reatividade com a água; produtos químicos malcheirosos;
50
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

nitrocompostos; brometo de etídio; formol; e materiais contaminados com produtos químicos perigosos,
como: materiais de vidro, papel de filtro, luvas e outros materiais descartáveis.

Levando em conta que todos os resíduos considerados perigosos causam danos ao meio ambiente
e à saúde humana, foi adotada uma simbologia relativa ao risco que esses resíduos podem gerar. Essa
simbologia foi criada pela National Fire Protection Association (NFPA), dos EUA, também conhecida como
Diagrama de Hommel. Este diagrama, demonstrado na figura a seguir, caracteriza e sinaliza o risco que
aquele resíduo apresenta para o meio ambiente e para a saúde e deve ser fixado na embalagem em que
os resíduos forem desprezados, a fim de facilitar o seu manuseio, diminuindo riscos de contaminação
com o produto que será desprezado. Ainda na mesma figura, podemos observar a classificação (números
ou letras) de cada risco que deve compor o centro de cada losango, de acordo com o resíduo perigoso
a ser desprezado.
Inflamabilidade
4 - Abaixo de 23 ºC
3 - Abaixo de 38 ºC
2 - Abaixo de 93 ºC
1 - Acima de 93 ºC
0 - Não inflamável

Inflamabilidade
Riscos saúde Reatividade
4 - Letal 4 - Pode explodir
3 - Muito perigoso Risco à 3 - Pode explodir com
Reatividade choque mecânico
2 - Perigoso saúde
1 - Risco leve 2 - Reação química violenta
0 - Material normal 1 - Instável se aquecido
Riscos 0 - Estável
específicos

Riscos específicos
OX - Oxidante
ACID - Ácido
ALK - Álcali (Base)
COR - Corrosivo
W - Não misture com água

Figura 20 – Diagrama de Hommel e as classificações de cada risco

Já os rejeitos radioativos precisam ter um controle preciso do tipo de material, quantidade,


planejamento de uso e conhecimento do tipo de rejeito radioativo que será produzido, tudo antes
mesmo de ser utilizado (Planejamento e Gerenciamento de Rejeitos Radioativos). Assim, é necessário
conhecer o material que será utilizado, a sua meia‑vida, a atividade inicial do material radioativo e a
estimativa de atividade radioativa e também organizar o local de uso e de armazenamento, tendo um
controle diário da quantidade de uso e de rejeito.

51
Unidade I

Em se tratando de medicamentos descartados no meio ambiente, o Ministério da Saúde e o do Meio


Ambiente possuem diferentes papéis na fiscalização do descarte desses resíduos. Para medicamentos, o
Princípio da Precaução também é atribuído, sendo que os dois ministérios devem preocupar‑se com o
descarte.

As ações de saúde em relação ao descarte de medicamentos que estejam relacionadas ao


Ministério da Saúde devem ser efetuadas pela Anvisa. Já o Ministério do Meio Ambiente tem
atribuições ligadas às políticas de recursos hídricos, de preservação, de conservação e de utilização
sustentável do ecossistema.

As indústrias farmacêuticas também têm responsabilidade sobre aquilo que produzem, segundo as
Boas Práticas de Fabricação (RDC nº 210), ou seja, tratamento de efluentes líquidos e gasosos antes do
lançamento e destinação adequada dos resíduos sólidos urbanos (RSU).

Outro aspecto importante é que de 50 a 90% dos fármacos são excretados pela urina ou fezes e vão
ainda ativos para o esgoto, mas, no Brasil, poucos estudos têm sido realizados nessa área. Considerando
que esses resíduos pertencem à classe dos perigosos, eles devem receber um tratamento específico antes
da destinação final, incluindo os que estão no esgoto, que cabem ao responsável legal.

A sociedade deve ser encorajada a todo instante a participar da destinação adequada de medicamentos,
por meio de denúncias contra municípios que não realizam coletas separadas, ou seja, coleta seletiva,
que será discutida em detalhes posteriormente.

Se utilizarmos todas essas fontes de forma segura ao meio ambiente, os danos e agravos à saúde
serão minimizados e um dos elementos que sofrerá menos com esse tipo de ação é o solo. Como
vimos anteriormente, muitos fatores contribuem para a contaminação do solo, incluindo a disposição
inadequada dos resíduos sólidos. Assim, para preservar a qualidade do solo devemos tratar os resíduos
de origem residencial e industrial, acondicionar os resíduos em recipientes próprios e seguros, colaborar
com a reciclagem e o reúso dos resíduos, cultivar organicamente (sem uso de agrotóxicos) e proteger as
florestas, em todos os aspectos.

No entanto, quando o solo já está contaminado, existe a possibilidade de realizar a sua


descontaminação. Para isso, antes do ato de descontaminação, é necessário remover os indivíduos do
local, retirar a fonte de contaminação e bloquear as vias de interferência, isolando a área. Após esses
procedimentos, a descontaminação pode acontecer in situ, que se trata da descontaminação do local
removendo os contaminantes do solo através de meios de transporte como água e o ar. Esses veículos
de transporte são então tratados por via química, biológica ou mecânica e novamente introduzidos no
local descontaminado. Outro tipo de descontaminação é o ex‑situ, o qual remove o solo contaminado,
de modo que ele possa ser submetido a uma descontaminação.

Agora, caro aluno, que já discutimos sobre os resíduos sólidos e seu gerenciamento, é importante
lembrar que, em relação à história, isso nem sempre foi assim. Para que possamos compreender todos
os aspectos discutidos anteriormente, é preciso entender que, historicamente, muitas coisas mudaram,
inclusive a visão do homem sobre a geração de resíduos.
52
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

Como já mencionado, para que exista o processo de reaproveitamento do resíduo, diferenciando‑o de


lixo, é necessário que haja um plano de gerenciamento dos resíduos sólidos (PGRS). Ao longo dos anos, o
PGRS foi sendo modificado, de acordo com o processo de conscientização ambiental dos consumidores,
dos distribuidores e dos fabricantes dos produtos, todos discutidos previamente. Lembrando que a
gestão dos resíduos sólidos inclui as diferentes etapas, como: coleta, tratamento e disposição adequada
dos subprodutos e produtos finais.

Os países desenvolvidos têm sido modelo para as políticas de Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil;
são países que fazem parte da OCDE (Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico).
Estes, durante 20 anos, identificaram três fases de prioridades em relação à política de gerenciamento
de resíduos sólidos, que será descrita em detalhes a seguir.

A primeira fase, que durou até o início da década de 1970, foi um período em que prevaleceu
somente a garantia de disposição dos resíduos, ou seja, onde eles seriam colocados.

Adicionalmente, nos países desenvolvidos, tanto o crescimento da utilização dos recursos naturais
quanto o aumento do consumo favoreceram a elevação rápida da produção de resíduos sólidos. No
entanto, infelizmente, a criação de políticas a favor da redução da produção dos resíduos não cresceu
na mesma velocidade. O ponto positivo é que entre as décadas de 1960 e 1970 esses países acabaram
com os lixões a céu aberto, levando os resíduos para aterros sanitários e incineradores.

Após a década de 1970, a destinação final de resíduos em aterros sanitários começou a ser questionada,
mesmo que ainda nos dias de hoje esse tipo de aterro seja o mais utilizado no mundo todo como destino
final dos resíduos sólidos. As críticas giravam em torno da falta de espaço físico, além da contaminação do
lençol freático, indicando que essa não era a melhor alternativa para destinação dos resíduos.

A incineração, por outro lado, parecia resolver o problema de espaço, pois esse processo é capaz de
reduzir o volume e espaço em cerca de 90%. Além disso, a presença de alguns materiais (como papel
e plástico) eleva o calor no processo, tornando‑o mais eficiente, mas aumenta a emissão na atmosfera
de poeira, ácido clorídrico (HCl), monóxido de carbono (CO), óxido de nitrogênio (ON) e metais pesados,
por exemplo. Até o momento da incineração, esse processo não é capaz de reduzir o volume de resíduos,
não tornando o processo mais barato do que o convencional (aterro sanitário). Assim, esse processo
desestimula a diminuição da produção de resíduos pelas empresas, principalmente durante o processo
produtivo, pois elas não veem possibilidade de lucro.

Diversas mudanças no cenário ambiental e de educação favoreceram a publicação (em 1975) das
prioridades para execução da gestão dos resíduos sólidos por países desenvolvidos, as quais se acentuaram
mais a partir da década 1980. São elas: redução da produção de resíduos, reciclagem do material,
incineração com reaproveitamento da energia e disposição dos resíduos em aterros controlados. Essas
prioridades começaram a ser colocadas em prática (aos poucos) com criação de legislação, instrumentos
econômicos viáveis (estimulando o uso de produtos recicláveis) e participação da população, começando
pela compreensão da importância do tema. Todas essas medidas tornaram mais rentável o comércio de
produtos recicláveis.

53
Unidade I

Para garantir sucesso nessa nova etapa, foi necessário criar novas relações entre consumidores finais
e produtores e entre distribuidores e consumidores.

Quando a reciclagem acontece em diferentes etapas do processo de produção de um produto, isso


indica um crescimento mais lento na utilização de recursos naturais e de volume de resíduos final.
Contudo, o processo de reciclagem também foi criticado, uma vez que, para utilizar produtos reciclados
para produção de novos artigos, é necessário um consumo de energia e matérias‑primas de forma
considerável, ou seja, não era um processo tão trivial, além de haver falta de legislação para produtos
tóxicos.

Considerando todas essas críticas, novas metas foram traçadas, pois antes da produção do produto
final era necessário que os resíduos não fossem gerados, ou seja, fossem reutilizados e não reciclados.
Um exemplo é a utilização de energia proveniente da queima dos resíduos pelos incineradores.

Com essa nova visão, a prioridade passou a ser a redução do volume de resíduos desde o início
da sua produção. Outro ponto importante é a devolução de produtos difíceis de serem reciclados aos
fabricantes, os quais serão responsáveis por seu tratamento e disposição final.

Também é importante mencionar que o sucesso dessa nova visão na geração de resíduos depende
das mudanças na produção do produto, nas embalagens, na distribuição e no consumidor. E, quando
alcançadas com sucesso, essas mudanças são positivas, porque reduzem o consumo de material, energia
e recursos da natureza e diminuem a poluição e o volume de resíduos.

Portanto, as alterações ao longo da história permitiram a criação da gestão de resíduos sólidos


que conhecemos nos dias atuais, constituída de: diminuição da produção de resíduos, reutilização e
reciclagem deles, utilização da energia proveniente dos resíduos e sua inertização, para a busca do
desenvolvimento sustentável.

Resumo

Iniciamos a unidade esclarecendo que a Organização Mundial da Saúde


(OMS) define o termo “saúde” como bem‑estar físico, mental e social de
um indivíduo ou população. Portanto, o meio ambiente envolve todas
as coisas vivas e não vivas da Terra que interferem no ecossistema e,
consequentemente, na vida dos seres humanos.

Pudemos compreender que a evolução da saúde e a interação do homem


com o meio ambiente acompanhou as mudanças políticas e econômicas
mundiais. O desenvolvimento da humanidade permitiu a criação de novas
tecnologias, as quais induzem um crescimento populacional atrelado ao
crescimento do consumo de uma forma não consciente, o que prejudica
potencialmente o meio ambiente. Assim, a reflexão a respeito do consumo
de forma sustentável precisa ser um hábito diário em nossas vidas, pois o
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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

desenvolvimento industrial desenfreado permite que o meio ambiente perca


sua capacidade de regeneração, como aquela que acontecia anteriormente
à fase industrial, favorecendo uma crise ambiental grave, idêntica a que
presenciamos atualmente.

Vimos que, quando relacionamos o ser humano com o meio ambiente,


torna‑se pertinente o pensamento de que o uso dos recursos naturais
(para satisfazer as necessidades do momento) não pode comprometer o
bem‑estar das gerações futuras. Isso se deve ao fato de que, em se tratando
da saúde ambiental, o contexto vai além do eu, ou seja, a conduta do
outro influencia na minha saúde. Por esse motivo, ações comunitárias são
extremamente importantes para que os objetivos de promoção da saúde
sejam alcançados. Dessa forma, para relacionarmos a ação do outro na
nossa saúde é imprescindível o entendimento de que a Educação Popular é
capaz de modificar o processo saúde‑doença, no que diz respeito à saúde
ambiental.

Em relação à produção de energia, podemos destacar como uma


ação efetiva a utilização de fontes renováveis, como a hidráulica, a
eólica e a proveniente do etanol, que são extremamente importantes
para a preservação do meio ambiente e, consequentemente, diminuem
os prejuízos à saúde da humanidade. Vários encontros internacionais
ocorreram para discutir a diminuição da poluição do ar e geraram tratados
como o Protocolo de Montreal, que tem como função a substituição
das substâncias que afetam a camada de ozônio e, consequentemente,
aumentam o efeito estufa, e o Protocolo de Kyoto ou Quioto (1997), que
fixa metas para diminuir a poluição por queima de produtos fósseis, os
quais também são responsáveis pelo efeito estufa.

Exercícios

Questão 1. (ENEM 2011) Como os combustíveis energéticos, as tecnologias da informação são, hoje
em dia, indispensáveis em todos os setores econômicos. Através delas, um maior número de produtores
é capaz de inovar e a obsolescência de bens e serviços se acelera. Longe de estender a vida útil dos
equipamentos e a sua capacidade de reparação, o ciclo de vida desses produtos diminui, resultando em
maior necessidade de matéria-prima para a fabricação de novos. (GROSSARD, C. Le Monde Diplomatique
Brasil, ano 3, n. 36, 2010. Adaptado).

A postura consumista de nossa sociedade indica a crescente produção de lixo, principalmente nas
áreas urbanas, o que, associado a modos incorretos de deposição,

A) Provoca a contaminação do solo e do lençol freático, ocasionando assim graves problemas


socioambientais, que se adensarão com a continuidade da cultura do consumo desenfreado.
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Unidade I

B) Produz efeitos perversos nos ecossistemas, que são sanados por cadeias de organismos
decompositores que assumem o papel de eliminadores dos resíduos depositados em lixões.

C) Multiplica o número de lixões a céu aberto, considerados atualmente a ferramenta capaz de


resolver de forma simplificada e barata o problema de deposição de resíduos nas grandes cidades.

D) Estimula o empreendedorismo social, visto que um grande número de pessoas, os catadores, têm
livre acesso aos lixões, sendo assim incluídos na cadeia produtiva dos resíduos tecnológicos.

E) Possibilita a ampliação da quantidade de rejeitos que podem ser destinados a associações e


cooperativas de catadores de materiais recicláveis, financiados por instituições da sociedade civil
ou pelo poder público.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: pode-se justificar a escolha dessa alternativa por meio da seguinte citação:

Há uma relação direta entre os padrões de consumo e a geração de lixo;


este, como subproduto das relações de mercado, avoluma-se cada vez mais
nos grandes centros urbanos. A ampliação de lixões (depósitos de lixo ao
céu aberto) inutiliza o solo, consolida uma área de disseminação de gases
tóxicos e de proliferação de vetores de doenças, além de gerar poluição dos
recursos hídricos atingidos pelo chorume (OBJETIVO, 2011).

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: não há controle biológico envolvido. Os problemas não são resolvidos, seja pela falta de
ritmo e de investimentos em pesquisa e desenvolvimento nessa área, seja pela natureza dos materiais (a
exemplo do ciclo de vida longo de materiais de descarte de difícil decomposição, como as embalagens
PET e plásticos em geral), seja pela imensa quantidade de resíduos produzidos por nossas sociedades.
Ocorre o aumento do ciclo de vida das embalagens, ao mesmo tempo em que há diminuição desse ciclo
no caso de mecanismos e serviços.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: acreditou-se que os lixões eram a saída para a imensa produção de resíduos antes que
os problemas associados a eles saíssem de controle da administração pública, dadas as suas dimensões
colossais, as condições de seu armazenamento e manejo em geral e as terríveis consequências dessa
situação à saúde pública.

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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a inclusão desse contingente populacional é por demais precária para ser considerada
satisfatória; esse arremedo de solução não passa pelas cadeias de alto valor agregado. É preciso mudar
a perspectiva assistencialista e liberal com relação aos catadores, qualificando e valorizando cultural,
educacional e economicamente esses ramos das cadeias produtivas.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: o aumento da quantidade de produtos e serviços resulta da lógica da produção e da


obsolescência, não sendo eles reaproveitados em toda a gama de materiais, pois os valores de mercado
que permitem reciclar são seletivos quanto à oferta. Não há organização suficiente e valorizada do setor
produtivo para reabsorver o produto descartado dos bens produzidos.

Questão 2. (ENEM 2012, adaptada) Para diminuir o acúmulo de lixo e o desperdício de materiais
de valor econômico e, assim, reduzir a exploração de recursos naturais, vem se adotando, em escala
internacional, a política de Reutilização e Reciclagem.

Um exemplo de reciclagem é a utilização de:

A) Garrafas de vidro retornáveis para cerveja ou refrigerante.

B) Latas de alumínio como material para fabricação de lingotes.

C) Sacos plásticos de supermercado como acondicionantes de lixo caseiro.

D) Embalagens plásticas vazias e limpas para acondicionar outros alimentos.

E) Garrafas PET recortadas em tiras para fabricação de cerdas de vassouras.

Resolução desta questão na plataforma.

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