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Preventivas em Saúde
Autor: Prof. Alexandre Cavalcante de Queiroz
Colaboradoras: Profa. Roberta Pasqualucci Ronca
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professor conteudista: Alexandre Cavalcante de Queiroz
Graduado em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1996. Especialista em Endodontia
pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Mestre em Ciências Biológicas (Microbiologia) pela Universidade de São
Paulo (USP), em 2001. Doutor em Patologia Ambiental e Experimental pela Universidade Paulista (UNIP), em 2017.
Desde 2005, é gestor do Instituto Karis, órgão que atua na promoção da saúde de forma gratuita, atendendo muitas
crianças da região da zona leste da cidade de São Paulo. Atualmente, é professor titular da UNIP.
CDU 614
U505.60 – 20
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Vitor Andrade
Ingrid Lourenço
Sumário
Fundamentos de Ações Preventivas em Saúde
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS.......................................................................................................... 11
1.1 O conceito de saúde e doença......................................................................................................... 11
1.2 O processo saúde-doença.................................................................................................................. 11
1.2.1 Teoria mística............................................................................................................................................ 12
1.2.2 Teoria dos miasmas................................................................................................................................. 12
1.2.3 Teoria unicausal........................................................................................................................................ 13
1.2.4 Teoria multicausal................................................................................................................................... 13
1.2.5 Teoria da determinação social do processo saúde-doença.................................................... 14
2 SURGIMENTO DO MODELO DE HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS (HND)............................. 15
2.1 O modelo de história natural da doença..................................................................................... 16
2.2 Período pré-patogênico...................................................................................................................... 17
2.2.1 Agente.......................................................................................................................................................... 18
2.2.2 Hospedeiro.................................................................................................................................................. 18
2.2.3 Meio.............................................................................................................................................................. 18
2.3 Período patogênico.............................................................................................................................. 19
2.3.1 Período patogênico pré-clínico.......................................................................................................... 19
2.3.2 Período patogênico clínico.................................................................................................................. 20
2.4 Desfecho................................................................................................................................................... 20
3 NÍVEIS DE PREVENÇÃO.................................................................................................................................. 20
3.1 Prevenção primária............................................................................................................................... 21
3.1.1 Promoção da saúde................................................................................................................................ 21
3.1.2 Proteção específica................................................................................................................................. 22
3.2 Prevenção secundária.......................................................................................................................... 22
3.2.1 Diagnóstico precoce e tratamento imediato................................................................................ 22
3.2.2 Limitação de incapacidade.................................................................................................................. 23
3.3 Prevenção terciária............................................................................................................................... 23
3.4 Ações de prevenção e prática médica.......................................................................................... 24
3.5 Uma nova promoção da saúde........................................................................................................ 25
3.6 Origens da nova promoção da saúde (NPS)............................................................................... 25
3.7 Princípios da nova promoção da saúde....................................................................................... 26
4 EPIDEMIOLOGIA GERAL DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS.............................................................. 27
4.1 Patologia, infecção e doença............................................................................................................ 27
4.2 Etiologia das doenças infecciosas.................................................................................................. 27
4.3 Fatores predisponentes....................................................................................................................... 28
4.4 Desenvolvimento da doença............................................................................................................ 28
4.4.1 Período de incubação............................................................................................................................. 28
4.4.2 Período prodrômico................................................................................................................................ 29
4.4.3 Período de doença................................................................................................................................... 29
4.4.4 Período de declínio.................................................................................................................................. 29
4.4.5 Período de convalescência................................................................................................................... 29
4.5 Disseminação da infecção................................................................................................................. 29
4.5.1 Reservatórios de infecção.................................................................................................................... 29
4.6 Transmissão de doenças..................................................................................................................... 31
4.6.1 Transmissão por contato....................................................................................................................... 31
4.6.2 Transmissão por veículo........................................................................................................................ 31
4.7 Vetores....................................................................................................................................................... 32
4.8 Como os microrganismos infectam o hospedeiro................................................................... 33
4.9 Portas de entrada.................................................................................................................................. 33
4.9.1 Membranas mucosas.............................................................................................................................. 33
4.9.2 Pele................................................................................................................................................................ 34
4.9.3 Via parenteral............................................................................................................................................ 34
4.9.4 As portas de entrada preferenciais................................................................................................... 34
4.10 Portas de saída..................................................................................................................................... 35
4.11 Tipos de imunidade............................................................................................................................ 36
4.12 Conceito de imunidade.................................................................................................................... 36
4.13 Primeira linha de defesa: pele e membranas mucosas....................................................... 37
4.13.1 Fatores físicos......................................................................................................................................... 37
4.13.2 Fatores químicos.................................................................................................................................... 39
4.14 Segunda linha de defesa................................................................................................................. 40
4.14.1 Elementos constituintes do sangue.............................................................................................. 40
4.14.2 O sistema linfático................................................................................................................................ 42
4.14.3 Fagócitos................................................................................................................................................... 43
4.14.4 Inflamação............................................................................................................................................... 43
4.14.5 Febre........................................................................................................................................................... 44
4.15 Imunidade adaptativa....................................................................................................................... 45
4.15.1 Natureza dupla do sistema imune adaptativo.......................................................................... 46
4.16 Antígenos............................................................................................................................................... 48
4.17 Anticorpos............................................................................................................................................. 48
4.18 Tipos de imunidade adaptativa..................................................................................................... 48
Unidade II
5 PROCESSO EPIDÊMICO E PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS................................. 55
5.1 Processo epidêmico.............................................................................................................................. 55
5.2 Variações temporais dos fenômenos epidemiológicos.......................................................... 55
5.3 Variações temporais que ocorrem em intervalos curtos de tempo.................................. 55
5.3.1 Endemias e epidemias............................................................................................................................ 56
5.4 Detecção de epidemias....................................................................................................................... 58
5.5 Prevenção das doenças transmissíveis......................................................................................... 59
5.5.1 Medidas de proteção individual........................................................................................................ 60
5.5.2 Imunização ativa (vacinação)............................................................................................................. 60
5.5.3 Imunização passiva................................................................................................................................. 60
5.5.4 Quimioprofilaxia....................................................................................................................................... 60
5.5.5 Medidas de barreira química ou física............................................................................................ 61
5.5.6 Diagnóstico precoce e tratamento................................................................................................... 61
5.5.7 Medidas de intervenção no ambiente............................................................................................. 61
5.5.8 Vigilância..................................................................................................................................................... 61
6 FONTES DE DADOS DEMOGRÁFICOS E DE MORBIDADE: INDICADORES DE SAÚDE............ 63
6.1 Dados de registro contínuo............................................................................................................... 63
6.2 Censo populacional e sua evolução no Brasil........................................................................... 64
6.3 Sistemas de informação em saúde................................................................................................ 65
6.3.1 Dados............................................................................................................................................................ 65
6.4 Definição de indicador........................................................................................................................ 66
6.5 Morbidade: importância no diagnóstico de saúde da coletividade................................. 66
6.6 Obtenção de dados de morbidade................................................................................................. 67
6.6.1 Análise dos indicadores de morbidade: fontes de dados........................................................ 68
6.7 Acesso e qualidade das estatísticas de saúde............................................................................ 70
6.8 Indicadores de morbidade................................................................................................................. 70
6.8.1 Incidência.................................................................................................................................................... 70
6.8.2 Prevalência................................................................................................................................................. 71
6.8.3 Expectativa de vida................................................................................................................................. 72
6.8.4 Taxa de fecundidade............................................................................................................................... 73
6.9 Indicadores de mortalidade.............................................................................................................. 74
6.9.1 Mortalidade geral.................................................................................................................................... 75
6.9.2 Mortalidade por causas......................................................................................................................... 75
6.9.3 Mortalidade infantil................................................................................................................................ 76
6.9.4 Mortalidade materna............................................................................................................................. 76
7 REGISTRO DE EVENTOS VITAIS E CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL
DE DOENÇAS.......................................................................................................................................................... 77
7.1 Nascimentos............................................................................................................................................ 77
7.2 Óbitos......................................................................................................................................................... 79
7.3 Classificação Internacional das Doenças: importância nas taxas
de mortalidade............................................................................................................................................... 81
7.3.1 Mortalidade específica por causa..................................................................................................... 81
7.3.2 Coeficiente de mortalidade geral...................................................................................................... 81
8 PRINCIPAIS ÍNDICES, PROPORÇÕES E COEFICIENTES RELACIONADOS
AO NÍVEL DE SAÚDE DA POPULAÇÃO (GLOBAIS E ESPECÍFICOS)..................................................... 82
8.1 Situação de saúde no mundo.......................................................................................................... 82
8.2 Indicadores de desenvolvimento social....................................................................................... 83
8.2.1 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)................................................................................... 83
8.2.2 Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH)........................................................................... 84
8.2.3 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) no Brasil...................................... 84
8.3 Esperança de vida.................................................................................................................................. 87
8.4 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)................................................................... 88
8.5 Violência no campo da saúde.......................................................................................................... 92
8.5.1 Mortalidade: o impacto fatal da violência.................................................................................... 93
APRESENTAÇÃO
O fisioterapeuta não deve ser o profissional que atua exclusivamente no momento em que a doença ou
a disfunção já se estabeleceram. É indiscutível que o fisioterapeuta possui um importante papel no campo
da reabilitação física, principalmente quando atua em conjunto com outras profissões do campo da saúde,
agindo de forma interdisciplinar. Com a solidificação do conhecimento científico e a expansão do perfil
profissional, o fisioterapeuta continua a ampliar seu mercado de trabalho, estando presente tanto nos
cenários já tradicionais (hospitais e clínicas) como em outros cenários (centros hípicos, indústrias, escolas,
entidades filantrópicas, centros universitários, centros de pesquisa, empresas comerciais).
INTRODUÇÃO
Este livro destina-se a servir como instrumento de aprendizagem para os estudantes a respeito das
ações preventivas em saúde de modo atrativo e didático. O material exposto tem por objetivo apresentar
de forma clara e concisa os conceitos mais relevantes da saúde. Assim, o estudante deverá estar apto a
reconhecer os mecanismos de fiscalização e controle da qualidade relacionados à saúde e os desvios do
estado de saúde, reconhecer e interpretar a evolução das doenças e elaborar um plano preventivo, além
de ter um procedimento terapêutico.
Depois, o foco será o processo epidêmico: endemia, epidemia e pandemia. Serão ilustrados os seguintes
elementos: aspectos diferenciais dos níveis de intervenção; prevenção das doenças transmissíveis;
medidas referentes à fonte de infecção, às vias de transmissão e ao hospedeiro; levantamentos, fontes de
dados demográficos e de morbidade; importância no diagnóstico de saúde da coletividade; indicadores
de saúde; registros dos eventos vitais (nascimentos e óbitos): documentos e fluxos; classificação
internacional de doenças. Por fim, serão vistos os principais índices, as proporções e os coeficientes
relacionados ao nível de saúde da população (globais e específicos).
9
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Unidade I
1 HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS
A conceituação de saúde e doença é complexa. Muitas foram as tentativas para defini-las, por
isso em cada período histórico é possível encontrar as mais diferentes interpretações. A saúde já foi
considerada uma espécie de silêncio orgânico, ou seja, do ponto de vista fisiológico existe um estado
de harmonia e equilíbrio funcional em que os diversos sistemas e aparelhos não apresentam sinal de
irregularidade. Essa é uma forma de conceber a questão de um ponto de vista apenas individual e
clínico, que deixa de lado as dimensões mental e social. Além disso, é óbvio que não é possível considerar
saudável uma pessoa que esteja com uma infecção ou com qualquer doença em estágio subclínico. O
conceito de saúde no dicionário é “o estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se
acham em situação normal”. Contudo, vêm à tona as seguintes questões: o que é uma situação normal?
Qual é a linha divisória entre a normalidade e a anormalidade, entre a sanidade e a insanidade?
Outra maneira de conceituar saúde foi apresentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em
1948: “Saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
doenças” (SEGRE; FERRAZ, 1997, p. 539). Esse conceito tem o mérito de incluir as dimensões mental e
social, mas do ponto de vista prático é pouco operacional. O que é um completo estado de bem-estar?
Como avaliar esse estado?
É muito difícil definir o que é saúde e estabelecer os limites, definindo onde começa a enfermidade.
Saúde e enfermidade são dois estados entre os quais o indivíduo flutua por toda a sua vida, são duas
condições estreitamente ligadas por conexões recíprocas.
A visão de mundo é um sistema de pontos de vista sobre a realidade que leva o homem a elaborar
uma atitude diante dessa realidade. As diferentes visões de mundo nada mais são do que diferentes
compreensões e, consequentemente, ações do homem.
As teorias que interpretam o processo saúde-doença são meramente as diferentes formas de pensar
do ser humano em relação aos fatos sociais, sejam eles determinados pelo desenvolvimento das forças
produtivas, das relações de produção, das relações de poder, ou seja, tudo aquilo relacionado ao trabalho
e à organização da sociedade.
11
Unidade I
Essa forma de interpretação dos fatos sociais se manteve até que surgiu a necessidade de outro tipo
de conhecimento para ajudar nas transformações sociais. Desenvolveu-se então a ciência positivista, que
trouxe a interpretação racional dos fenômenos, cujo avanço cooperou com o desenvolvimento das ciências
naturais e da tecnologia. As concepções acerca do mundo e da saúde-doença foram modificadas e as
explicações passaram a utilizar a interpretação dos fenômenos do ponto de vista químico/físico/mecânico.
Observação
Durante a Idade Média, prevaleceu a teoria dos miasmas, que considerava que a doença era
causada por certos odores venenosos, gases ou resíduos nocivos, que se originavam na atmosfera
ou a partir do solo. Essas substâncias seriam posteriormente arrastadas pelo vento até um indivíduo,
que acabaria por adoecer.
No início do século XIX, no Rio de Janeiro, alguns médicos acreditavam que as epidemias eram
provocadas pelos navios estrangeiros, que traziam doenças como cólera, febre amarela e varíola.
Concluíram que as enfermidades eram causadas por miasmas, pelo ar corrompido, que, vindo do mar,
dos respectivos navios, pairava sobre a cidade.
O termo “malária” tem origem em mala aria (maus ares): acreditava-se que essa doença era causada
pela presença de “mau ar”, pois as populações que mais adoeciam de malária moravam nas zonas
pantanosas, que produziam gases.
O conceito miasmático foi responsável por medidas de saúde pública que são aplicadas atualmente,
tais como o enterro dos mortos, o aterro de excrementos humanos e a coleta de lixo. Obviamente, hoje
estudos demonstram que essas medidas sanitárias são necessárias para combater inúmeras doenças
e manter a qualidade da vida da população, ao evitar a contaminação do solo e da água, assim como
manter a limpeza das cidades com o recolhimento do lixo, que, se acumulado, pode servir de alimento
e moradia para roedores e outros animais e insetos.
12
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
No fim do século XIX, o advento da bacteriologia foi crítico para a epidemiologia e para as discussões
no aspecto social. As pesquisas voltaram-se para essa teoria, diminuindo muito o interesse pelos
problemas sociais.
A concepção unicausal demonstrou de imediato suas limitações, pois manter a qualidade de vida, e,
portanto, as pessoas saudáveis, era imprescindível para que os trabalhadores tivessem condições
plenas de desempenhar seu papel no trabalho.
Esse novo olhar atribui não só aos fatores biológicos a responsabilidade pelas doenças, mas também
à organização social, ressaltando que as doenças ocorrem por uma somatória de causas, e não apenas
pela ação de um agente etiológico.
O modelo de intervenção implementado a partir dessa teoria busca respostas práticas aos problemas,
mas ainda não às verdadeiras causas, pois não pretende fazer modificações estruturais e profundas que
interfiram no sistema, na organização da sociedade; de fato, apenas executa ações de intervenção para
as diferentes causas, sem alterar as desigualdades sociais da população.
Buscando uma explicação profunda e relacionada às diferentes condições de vida das diferentes
populações, surgiu a teoria da determinação social do processo saúde-doença.
A denominação dessa teoria já diz que a saúde-doença se determina socialmente. Baseada no
realismo, essa teoria interpreta o fenômeno saúde-doença com duplo caráter: biológico e social, tendo
em vista que a natureza humana, além de seu componente biológico, é determinada pela forma de viver
nas sociedades.
As formas de produção (de trabalho) e as formas de reprodução social (de viver) são essenciais
para definir a qualidade de vida das populações, nos diferentes grupos sociais, segundo as
diferentes condições econômicas de cada um. Cada grupo social (representado por categorias
como classe social, gênero, raça/etnia ou geração) apresenta condições consideradas negativas
(riscos de adoecer ou morrer) ou consideradas positivas (possibilidades de sobrevivência). Essas
condições são consequências das formas que, no decorrer da história, foram sendo adotadas pela
sociedade para conduzir a sua vida social.
Essa teoria permite compreender como cada sociedade cria um determinado padrão de desgaste
ou potencialidades conforme o consumo e o gasto de energia dos indivíduos no processo de
reprodução social. O desgaste relacionado ao trabalho corresponde ao número de horas de trabalho,
ao estresse que este gera, entre outros; quanto ao desgaste advindo da forma de viver, estão todas
as ações necessárias para ser incluído socialmente, para fazer parte de um determinado grupo. As
potencialidades estão relacionadas a todos os fatores que favorecem o desenvolvimento dessas
atividades, como morar perto do trabalho, gostar do que faz e ter um grupo para socialização.
14
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Assim, o perfil epidemiológico passa a ser analisado não apenas por números de mortes e doentes,
e sim por um conjunto de formas de viver e trabalhar que levam as pessoas a diferentes condições de
qualidade de vida, portanto, de saúde.
Observação
Leavell e Clark defendiam, em primeiro lugar, a superação dos limites disciplinares entre clínica médica
e saúde pública e entre medidas curativas e preventivas. A perspectiva da prevenção, segundo esses
autores, devia estar presente em todos os momentos em que fosse possível algum tipo de intervenção
que evitasse o adoecimento ou suas consequências, compondo diferentes níveis de prevenção (NP), desde
transformações de condições ambientais e sociais que predispusessem ao surgimento das doenças até
a redução de seus piores efeitos sobre aqueles que já tivessem adoecido. Para sustentar essas posições,
adotaram a tese da multicausalidade das doenças. Segundo essa tese, o conhecimento e a intervenção
sobre os determinantes das doenças exigem uma construção interdisciplinar, com contribuições das
ciências biomédicas e das ciências humanas, sob a mediação do método epidemiológico e das técnicas
de análise estatística. No Brasil, o conceito de Leavell e Clark sobre HND/NP chegou nos anos 1970, por
meio de seminários organizados pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e pela Organização
Mundial da Saúde (OMS).
15
Unidade I
Um passo decisivo para sua difusão foi a publicação do livro-texto de Leavell e Clark em português,
em tradução de Cecília Donnangelo, Moisés Goldbaum e Uraci Ramos, professores do Departamento
de Medicina Preventiva da FMUSP. Nessa época, o Brasil, como a América Latina de modo geral, vivia
a saúde pública marcada por forte politização, com a resistência às ditaduras militares, o combate às
desigualdades sociais e de saúde e sob a forte influência das ideias da medicina social.
Nesse contexto, o modelo de HND/NP foi objeto de severas críticas. O conceito passou a ser
questionado quanto às limitações no modo como a multicausalidade e os determinantes sociais
e políticos eram (mal) incorporados ao modelo, a começar pela expressão HND. É possível falar de
história “natural” dos processos saúde-doença? O próprio modelo não quer justamente apontar o fato
de que as doenças não são fenômenos naturais? O modo como os grupamentos humanos organizam
socialmente sua vida não altera o que seria um curso natural, já que as diferentes formas de organização
social estão implicadas na determinação de quem, como, quando e quanto adoece? De outro lado, a
ocorrência e a evolução desses processos não dependem também das formas como essas sociedades
interferem tecnicamente sobre o adoecimento, ao desenvolverem e utilizarem saberes e instrumentos
para preveni‑los e tratá‑los? Ainda em relação à multicausalidade, é possível tratar aspectos como
virulência de um agente infeccioso e nível socioeconômico dos hospedeiros, por exemplo, como fatores
com mesmo peso no modelo causal? É possível definir um modelo de HND válido para qualquer tempo
e lugar? Apesar de seus limites, o modelo de HND/NP, com adaptações e aperfeiçoamentos, acabou
por ser definitivamente incorporado à medicina e à saúde pública no mundo e no Brasil, e tem sido
amplamente utilizado para a sistematização de conhecimentos, para a organização de ações preventivas
em programas e serviços de saúde e para o ensino das relações entre epidemiologia, prevenção e
promoção da saúde na formação de profissionais em diferentes áreas do campo da saúde.
Compreendido o sentido geral do conceito de HND/NP, é importante entender como o seu modelo
teórico está estruturado e como fundamenta ações como as exemplificadas no início deste capítulo.
Para isso, um primeiro aspecto a ser considerado é que se trata de um esquema conceitual, isto é, uma
sistematização simplificada de um conjunto de elementos e suas relações em interações dinâmicas.
Como todo esquema, o modelo HND/NP é uma representação superficial da complexidade real dos
fenômenos, mas que tem a vantagem de orientar uma propedêutica especificamente voltada para
identificar oportunidades e ações de prevenção, seja no plano individual, seja no de coletividades. Deve
ficar claro que, na sistematização do modelo a ser apresentado, o foco não será apenas a reprodução
do modo como o formularam seus primeiros propositores. Para simplificar o andamento da discussão,
os aperfeiçoamentos, as complementações e os meios que foram sendo incorporados ao modelo, sem
modificá-lo substancialmente, serão incluídos nessa sistematização.
• A patologia precoce, após a doença transpor o horizonte clínico, isto é, após o aparecimento de
sintomas e/ou sinais perceptíveis à observação comum.
Ao estudar a HND de uma doença, a primeira tarefa é buscar identificar os vários aspectos que podem
estar relacionados à sua ocorrência, isto é, à sua determinação – agente(s) etiológico(s), condições
predisponentes, facilitadoras, protetoras etc. Esse componente do modelo refere-se ao momento em
que ainda não há doença instalada em indivíduos e populações, mas há condições para que ela venha
a ocorrer e que, portanto, devem ser controladas. Para identifcar essas condições, algumas disciplinas
podem contribuir. Entre a diversidade de conhecimento, o papel essencial é atribuído à epidemiologia,
já que as técnicas de investigação epidemiológica permitem identificar a associação entre os inúmeros
eventos de interesse para a saúde, examinando a possibilidade de essas associações terem um sentido
causal. Assim, dada uma doença cuja HND se busca conhecer, é a epidemiologia, fundamentalmente,
que vai identificar, entre os aspectos estudados pelas diversas disciplinas, aqueles que, por critérios
probabilísticos, lógicos e segundo a plausibilidade frente ao conjunto dos conhecimentos disponíveis,
podem ser considerados efetivamente relacionados à determinação e à evolução da doença.
17
Unidade I
prática, esses fatores se confundem e estão mutuamente relacionados. Algumas vezes, um dado agente
só se torna agressor por causa do modo como o hospedeiro reage a ele – vale lembrar, por exemplo, dos
portadores assintomáticos; outras vezes, um fator atribuído ao hospedeiro pode ser, na verdade, mais
bem explicado se for analisado o meio em que ele vive, por exemplo, um comportamento alimentar
que produz distúrbios nutricionais pode ser interpretado como um estilo pessoal que, na verdade, pode
obedecer a fortes coerções culturais ou limitações econômicas do meio social em que o indivíduo vive;
ou ainda a situação em que o hospedeiro age sobre seu meio, gerando o agente que será seu agressor –
como no caso da transformação do ambiente nas grandes cidades com a emissão de poluentes aéreos
que aumentam a morbidade e a mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares.
2.2.1 Agente
Esse grupo de fatores refere-se aos elementos externos ao organismo humano que, ao interagirem
com ele, podem provocar algum dano ou alteração. O termo, que nas primeiras formulações de história
natural referia-se basicamente a agentes infecciosos, passou progressivamente a indicar um espectro
mais amplo de fatores – substâncias químicas, toxinas, radiação, temperaturas extremas, alterações na
qualidade do ar, acidentes, violência etc.
2.2.2 Hospedeiro
Esse segundo grupo refere-se a aspectos relacionados à suscetibilidade dos indivíduos humanos
aos agentes agressores. Refere-se a aspectos como herança genética, traços congênitos, sexo, idade,
estado nutricional, condicionamento físico, atividade de trabalho, atividades de lazer, vida sexual,
características pessoais de sociabilidade, padrão alimentar, uso de tabaco, álcool ou outras substâncias
químicas (psicoativas, farmacológicas), práticas de autocuidado, grau de instrução, características
cognitivo-intelectuais, características psicoemocionais, história patológica pregressa, estado de saúde
atual etc. Esse amplo conjunto de aspectos, na totalidade que conformam em cada indivíduo e no
grau e modo como se distribuem em termos familiares, comunitários e populacionais, são vitais para o
conhecimento de quanto, como e quando determinados fatores identificados como agentes agressores
podem provocar dano ou perturbação da saúde.
2.2.3 Meio
Esse grupo diz respeito ao ambiente que põe em contato os agentes agressores e seus potenciais
hospedeiros. Nas primeiras formulações da HND, mais próximas à noção de constituição epidêmica,
esse grupo de fatores se referia fundamentalmente a aspectos ambientais em um sentido mais restrito,
seja como um conjunto bem definido de condições climáticas, topográficas e socioestruturais (tipo de
ocupação do espaço urbano e domiciliar, composição e dinâmica demográfica e familiar, condições
médico-sanitárias da população), seja como veículo de transmissão de um agente infeccioso (água,
ar, alimentos, vetores). A partir das contribuições da medicina social, passou-se a admitir um sentido
mais abrangente de meio, incorporando-se às análises aspectos como desenvolvimento econômico,
padrões culturais (valores e normas sociais), modo de vida (urbano, rural), condições de trabalho,
alimentação etc.
18
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
O conhecimento dos aspectos relativos a agente, hospedeiro e meio é, como pode ser visto,
fundamental para a prevenção. Quanto mais bem conhecidos, maior a chance de intervirem
positivamente, evitando a ocorrência de agravos e favorecendo modos de vida mais saudáveis.
Contudo, as oportunidades de prevenção não se encerram aí, portanto, a necessidade de saberes
interdisciplinares também não se esgota no período pré-patogênico. Mesmo nas populações e nos
indivíduos já afetados por algum dano ou alteração à saúde, um conhecimento acurado sobre os
processos patológicos e suas possibilidades de evolução e desfecho podem favorecer uma intervenção
que restabeleça da melhor forma possível a saúde ou reduza seus danos individuais e coletivos. Por
isso, o modelo de HND define um segundo componente de sistematização do período patogênico.
Como o nome indica, esse componente do esquema produz e relaciona conhecimentos sobre um
processo patogênico em toda sua extensão e dimensões, desde as primeiras alterações funcionais
e morfológicas até seus possíveis desfechos. Nessa perspectiva, o modelo de HND distingue dois
subcomponentes. No primeiro, já existe algum tipo de alteração patológica em curso, mas ainda sem
expressão clínica (período patogênico precoce). No segundo, a doença já é perceptível pelo indivíduo
afetado, com sinais e sintomas que caracterizam um quadro clínico (patologia precoce). Divide esses
dois períodos o chamado “horizonte clínico”, que, uma vez ultrapassado, muda substantivamente o
modo como o processo patológico é experimentado pelas pessoas e trabalhado nas práticas de saúde.
Esse subcomponente relaciona-se às alterações celulares, teciduais e funcionais que ocorrem nos indivíduos
afetados por uma doença antes de se produzirem sinais ou sintomas observáveis. Antes de ultrapassar o
horizonte clínico, um processo patogênico instalado já conduz a uma nova condição as relações entre um
organismo individual e suas interações com o meio, com outros indivíduos, com agentes de outras doenças.
Do ponto de vista da evolução clínica do caso individual, ele é de suma importância, pois os eventos ocorridos
nesse momento podem determinar diferentes condições de reação, reversão, adaptação e recuperação no
processo de adoecimento, com repercussões sobre o grau de comprometimento morfofuncional do organismo,
sobre o sofrimento físico e mental do doente e seus circundantes, sobre custos de diferentes ordens com o
tratamento e/ou reabilitação, isto é, sobre o prognóstico. Do ponto de vista epidemiológico, o conhecimento
dessa etapa da HND é fundamental. Processos patogênicos precoces são períodos nos quais pode ocorrer a
transmissão de agentes infecciosos sem que se saiba, retardando a interrupção da cadeia de transmissão.
Em algumas doenças conhecidas, parte dos indivíduos acometidos evolui dessa fase de patogenia
precoce para uma resolução do problema sem ultrapassar o horizonte clínico, isto é, progride
espontaneamente para a remissão ou o controle total da doença. Entre os inúmeros exemplos, tem-se a
grande maioria dos que entram em contato com o bacilo da tuberculose e desenvolvem apenas alterações
patogênicas locais, contendo o agente com uma reação tecidual que impede a progressão da doença. É
possível também que haja uma série de reações patogênicas a agentes até desconhecidos, pelo fato de não
produzirem sinais e sintomas. Grande parte das doenças que se conhece, contudo, levam certo contingente
de pessoas acometidas a apresentarem alterações patológicas que ultrapassam o horizonte clínico, com
cursos mais ou menos típicos, representados no segundo componente do período patogênico.
19
Unidade I
Abrangendo as fases que Leavell e Clark chamavam de “lesões precoces” e “doença avançada”, esse
momento do esquema busca identificar a síndrome característica de uma doença, com os sinais e os
sintomas mais frequentes e seus possíveis desdobramentos clínicos. Os conhecimentos epidemiológicos,
clínicos, fisiopatológicos e imunológicos continuam concorrendo aqui para formar um quadro que
permita reconhecer melhor e intervir mais rapidamente sobre as diversas doenças, suas variantes, suas
respostas às diferentes formas de intervenção terapêutica. Como visto no início deste capítulo, a simples
presença de determinado conjunto de sinais e sintomas pode levar à hipótese diagnóstica de uma
doença que tenha sua história natural bem conhecida. Em algumas situações de prática, nas quais não
se disponha de exames complementares, a síndrome característica de uma doença pode ser a única
ferramenta em mãos para o diagnóstico.
2.4 Desfecho
Toda as doenças caminham para algum desfecho. Como visto, ela pode evoluir das primeiras reações
orgânicas diretamente para remissão ou controle. Uma segunda situação possível é que, mesmo havendo
a evolução para um quadro sintomático, um processo patogênico caminhe para a remissão completa.
Vale lembrar, por exemplo, da quantidade de vezes que um indivíduo fica resfriado ao longo da vida,
com completa recuperação. Outras possibilidades de desfecho podem ocorrer no curso de uma doença.
Evoluir para remissão, deixando sequelas; evoluir para a cronificação; nesse caso, não há remissão ou
controle total da doença, mas ela segue como uma condição disfuncional que pode exigir cuidados para
o resto da vida. Por fim, há o desfecho indesejado: o óbito. Conhecer a letalidade de uma doença, as
condições de sua ocorrência e a frequência e características de sua distribuição populacional é também
tarefa de relevância prática no conhecimento da HND.
Observação
3 NÍVEIS DE PREVENÇÃO
Leavell e Clark articularam ao modelo de HND a sistematização das diferentes formas de prevenção
que se abrem a cada momento da evolução de uma doença.
Tais pesquisadores agruparam as ações de prevenção segundo três fases, correspondentes a cada um
dos períodos de evolução da doença definidos no modelo de HND, conforme representado na figura a
seguir. Essas três fases da prevenção – primária, secundária e terciária – admitem ainda subdivisões,
a partir das quais definem-se cinco níveis de prevenção.
20
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Doença
avançada Morte
Agente
Cronificação
Sequela
Horizonte
Meio clínico
Cura
Hospedeiro
Patogenia precoce
Figura 1 – Esquema gráfico do modelo teórico de história natural da doença e níveis de prevenção
A prevenção primária subdivide-se, por sua vez, em dois níveis: a promoção da saúde e a proteção
específica. Os limites entre esses dois níveis, como aliás entre os diversos componentes do modelo de
HND/NP, são relativamente arbitrários.
Esse primeiro nível de prevenção refere-se a ações que incidem sobre melhorias gerais nas condições
de vida de indivíduos, famílias e comunidades, beneficiando a saúde e a qualidade de vida de modo geral,
dificultando um grande número de processos patogênicos. Saneamento básico, com distribuição de água
potável e esgoto sanitário, disposição e coleta de lixo adequadas, boas condições de moradia, nutrição,
trabalho e transporte, acesso a serviços, informações e insumos em educação, saúde, lazer e cultura,
controle da qualidade do ar e de outras fontes de poluição ambiental, regulação dos espaços públicos
em relação à segurança quanto a acidentes e violências, promoção e proteção dos direitos humanos
são exemplos de ações de promoção da saúde que, ao longo do tempo, foram sendo incorporadas às
práticas de prevenção.
21
Unidade I
Esse nível de prevenção se refere a ações que incidem no período pré-patogênico, isto é, ações
que querem se antecipar à instalação dos processos patogênicos. A diferença é que, aqui, as ações são
dirigidas a grupos específicos de processos saúde-doença. As ações de proteção específica também
podem ser dirigidas ao agente, ao hospedeiro ou ao meio.
O exemplo clássico de ação preventiva para proteção específica é a vacinação, que imuniza os
suscetíveis contra um agente infeccioso, reduzindo as chances de os indivíduos serem infectados,
adoecerem ou desenvolverem formas graves da doença ao entrarem em contato com esse agente.
Algumas vacinas são recomendadas rotineiramente e outras podem ser necessárias apenas para grupos
específicos, como a vacina de febre amarela, indicada para quem vive em área endêmica ou viajará para
essa região, ou situações específicas, como campanhas de vacinação para conter surtos ou epidemias
de doença meningocócica.
Outra ação de proteção específica voltada para agentes infecciosos é a quimioprofilaxia, como a
prescrição de isoniazida a alguns contactantes de pacientes com tuberculose pulmonar, ou rifampicina para
os contactantes de doença meningocócica, ou de AZT para recém-nascidos de mães infectadas pelo HIV etc.
Outras medidas relevantes de proteção específica são: combate aos criadouros domiciliares do Aedes
aegypti para o controle da dengue; controle biológico das larvas dos anopheles (mosquitos-pregos) para a
prevenção da malária; fluoração da água para o combate à cárie dentária; adição de iodo ao sal para
combate do bócio endêmico; distribuição de preservativos para a prevenção das doenças sexualmente
transmissíveis; fornecimento de material de injeção descartável a usuários de drogas para reduzir a
transmissão de aids e hepatites; controle de bancos de sangue para prevenir doenças transmitidas por
sangue e hemoderivados; medidas ergonômicas no ambiente de trabalho para reduzir a ocorrência de
acidentes; obrigatoriedade do uso do cinto de segurança para redução de morbidade e mortalidade
em acidentes de trânsito; adoção de legislação punitiva específica para coibir a violência doméstica etc.
A prevenção secundária atua já no período patogênico, isto é, nas situações em que o processo
saúde-doença já está instaurado. Ela visa, fundamentalmente, a dois objetivos. Um deles é propiciar a
melhor evolução clínica para os indivíduos afetados, conduzindo ao máximo o processo para os melhores
desfechos, de preferência evitando a transposição do horizonte clínico ou, pelo menos, minimizando a
sintomatologia. O outro é interromper ou reduzir a disseminação do problema a outros indivíduos. Para
alcancar esses objetivos, são definidos também dois níveis de prevenção de fase secundária.
As medidas de diagnóstico precoce e tratamento imediato, como o próprio nome indica, devem
detectar o mais rapidamente possível processos patogênicos já instalados. Assim, mesmo antes de um
agravo em curso cruzar o horizonte clínico, já é possível, em muitos casos, diagnosticá-lo e adotar
medidas protetoras para os indivíduos afetados e para terceiros.
22
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Exemplos de ações de diagnóstico precoce são os rastreamentos ou screenings. Nesse sentido, vale
lembrar a busca ativa e a realização de exame bacterioscópico de escarro nos chamados sintomáticos
respiratórios – indivíduos que tossem há mais de três semanas sem outra razão conhecida – visando
diagnosticar precocemente a tuberculose pulmonar. Essa medida favorece não apenas a evolução clínica
do indivíduo infectado precocemente diagnosticado e tratado como também sua comunidade, seja
pela redução do número de pacientes bacilíferos no ambiente, seja pela possibilidade de localização
e avaliação dos contactantes domiciliares dos doentes, entre os quais há significativa probabilidade
de encontrar outros infectados em fase inicial e indivíduos altamente suscetíveis à infecção. Por isso,
deve-se lembrar que a busca ativa de outros casos ou suscetíveis a partir de um diagnóstico de doença
infecciosa é também uma relevante medida de prevenção secundária.
Há ainda diversos rastreamentos além daqueles vinculados à vigilância epidemiológica de doenças
infecciosas, que, com maior ou menor grau de evidência, demonstram beneficiar a prevenção de agravos
entre indivíduos e comunidades, como o exame de papanicolaou entre mulheres sexualmente ativas, a
mamografia e o exame físico das mamas em mulheres acima de 50 anos ou de alto risco (história prévia
ou familiar próxima), dosagem de glicemia e colesterol em indivíduos obesos ou com história de risco
aumentado para doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2, aferição da pressão arterial em adultos etc.
É preciso lembrar que esse nível de prevenção é extremamente importante para a saúde pública. Embora,
em termos ideais, o período pré-patogênico constitua o melhor momento para a prevenção, o fato é que ações
de prevenção primária são, muitas vezes, de uma amplitude e natureza tais que implicam investimentos caros
e retornos de longo prazo. Nessas situações, a prevenção secundária pode assumir um caráter estratégico,
permitindo focalizar locais e pessoas mais suscetíveis, o que favorece a efetividade das ações de saúde
enquanto não se logra realizar os controles mais radicais, relacionados à prevenção primária.
Esse nível de prevenção refere-se às medidas aplicadas aos casos que já ultrapassaram o horizonte
clínico, encontrando-se o processo de adoecimento plenamente instalado. O impacto das ações de
prevenção nesse nível tende a ser menor, mas nem por isso menos relevante. Aqui o objetivo é cuidar
dos casos com os mais eficazes e adequados recursos para que o curso clínico possa tender, o máximo
possível, para a cura total ou com poucas sequelas, ou reduzir e retardar ao máximo as complicações
clínicas, nos casos de condições crônicas (como hipertensão, diabetes mellitus, entre outros) ou
cronificadas com recurso a suportes terapêuticos (como a aids ou algumas doenças autoimunes).
Dessa forma, um cuidado integral, acessível, de alta qualidade técnica, sensível às necessidades e
condições físicas, emocionais e sociais dos indivíduos, famílias e comunidades torna-se um instrumento
de relevância incontestável, demonstrando a estreita relação entre assistência à saúde e prevenção.
Esse quinto nível de prevenção refere-se, finalmente, ao momento em que o processo saúde-doença
alcançou um fim ou uma forma estável de longo prazo, a cura com sequelas ou a cronificação, as
quais também necessitam de cuidados preventivos específicos. Nesse plano, o objetivo é conseguir que
23
Unidade I
as limitações impostas pela condição provocada pelo adoecimento ou agravo prejudiquem o mínimo
possível o cotidiano e a qualidade de vida das pessoas, famílias e comunidades afetadas.
O alcance desse objetivo requer esforços que podem passar por medidas de reabilitação física, como
no caso de restrições funcionais, sequelas neuromotoras ou necessidade de uso de próteses; apoios de
caráter psicoemocional, como em mutilações físicas, alterações psicomotoras ou dificuldades emocionais
que interfiram na autoimagem, na identidade, no equilíbrio mental ou na sociabilidade dos afetados;
até apoio de alcance social, como readaptação no trabalho, apoio previdenciário, ajustes no ambiente
doméstico, suporte jurídico contra ações discriminatórias etc.
Como já foram acentuados exemplos de ações preventivas com o modelo de HND/NP, agora será
feita uma referência às diferentes situações de práticas em que ações dessa natureza podem ser
desenvolvidas.
Se for considerado o caráter das ações de prevenção, será quase intuitivo compreender que as
unidades básicas de saúde devem constituir o espaço privilegiado para seu desenvolvimento. Esse
privilégio se deve a uma série de características da atenção básica:
• Basear-se no contato direto e continuado dos profissionais de saúde com as famílias e a comunidade.
• Permitir maior integração cotidiana entre ações de cuidado e prevenção articuladas de modo
interdisciplinar e intersetorial, como saúde, educação, bem-estar social, cultura, justiça etc.
A chamada atenção primária à saúde constitui-se em uma área na qual a prevenção de agravos é
um dos principais objetivos e um espaço de ricas oportunidades, o que, como visto a partir da discussão
do modelo de HND/NP, não prescinde de cuidadosa assistência médica, muito ao contrário, guarda na
integração com esta uma sinergia fundamental.
24
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Como visto, por promoção da saúde entende-se, segundo o modelo de Leavell e Clark, o primeiro
nível de prevenção, o mais abrangente e não específico da fase primária. A partir da década de 1970,
contudo, promoção da saúde passou a ser também a expressão utilizada como o norte de um importante
movimento de ideias e ações com vistas à renovação das práticas de saúde. Em sua nova acepção, a
promoção da saúde guardou estreita relação com os aspectos relacionados ao nível de prevenção do
modelo HND/NP, mas introduziu mudanças significativas. Primeiro porque expandiu o alcance das ações
originariamente associadas a esse nível e depois porque buscou modificar os próprios fundamentos e
métodos dessas ações. É o que será examinado a seguir.
Pouco tempo depois, em 1978, a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
organizaram a 1a Conferência sobre Cuidados Primários em Saúde, na cidade de Alma-Ata. Na Declaração
de Alma-Ata, essa orientação na direção do fortalecimento das práticas de prevenção e atenção primária,
especialmente no que se refere ao nível da promoção da saúde, foi reforçada pelas recomendações feitas
para as políticas de saúde dos países signatários. Essas recomendações priorizavam oito itens:
• Educação dirigida aos problemas de saúde prevalentes e métodos para sua prevenção e controle.
25
Unidade I
O impulso decisivo para a consolidação das propostas da NPS veio das Conferências Internacionais
sobre Promoção da Saúde – Ottawa, 1986; Adelaide, 1988; Sundsvall, 1991; Jacarta, 1997; México, 2000;
Bangkok, 2006. Ao longo dessas conferências, que reuniram técnicos, gestores, políticos e ativistas,
foram sendo consolidados os conceitos e as estratégias para uma efetiva mudança de paradigma na
orientação das práticas de saúde e melhoria das condições de saúde das populações em todo o mundo,
especialmente entre as nações mais pobres. Em cada uma dessas conferências, o debate de ideias e
experiências dos diversos países participantes, seus sucessos e seus fracassos, seus avanços e suas
dificuldades foram, pouco a pouco, constituindo uma série de princípios e métodos que têm conferido
novo sentido às práticas de saúde, sobretudo no campo da prevenção.
Sistematiza-se no quadro a seguir o resultado obtido até os dias de hoje em sete princípios para
essa prática.
Quadro 2
Concepção holística A saúde é entendida como bem-estar físico, mental, social e espiritual, dizendo respeito não
de saúde a grupos de riscos, mas à população como um todo, e não apenas a questões médicas, mas a
necessidades relacionadas ao dia a dia dessas populações
Para responder às necessidades de saúde em sua concepção holística, é necessária a
articulação de diferentes setores de atividade social, envolvendo ações de legislação,
tributação e controle fiscal, educação, habitação, serviço social, cuidados primários em
Intersetorialidade saúde, trabalho, alimentação, lazer, agricultura, transporte, planejamento urbano etc. Isso
leva as propostas da NPS a identificar no compromisso e envolvimento governamental um
papel central. Há aqui já algum contraste com o sentido predominantemente centrado no
setor saúde da promoção da saúde no modelo clássico de HND
Neologismo que busca traduzir o termo inglês empowerment; trata-se da ideia de que
Empoderamento é preciso que os indivíduos tenham efetivo poder para transformar as diversas situações
sociais que restringem ou ameaçam sua saúde, o que remete a questões como direitos de
cidadania, apoio jurídico, autoestima, suporte social etc.
De modo articulado ao empoderamento dos diversos sujeitos sociais, espera-se que a
definição de prioridades para a promoção da saúde e dos meios mais adequados para
alcançá-las sejam frutos de discussões e ações coletivamente construídas. Isso requer
Participação social a produção e a circulação democrática das informações e o desenvolvimento de canais
acessíveis e efetivos de participação política. Essa forte politização é, talvez, o ponto de
maior distância em relação ao modelo de HND/NP, no qual predomina uma leitura mais
técnica e individual dos problemas e de sua solução, não obstante haver já referência à
necessidade de ação por meio da organização social e estatal nos trabalhos de Leavell e Clark
Desde a Carta de Ottawa, esse é um princípio fundamental da NPS. Refere-se à ideia de
que a efetividade de um acesso universal à saúde depende de estratégias que contemplem
as especificidades dos diferentes grupos sociais, as condições desiguais das quais são
Equidade constituídas suas necessidades de saúde e suas possibilidades de cuidado. Também nesse
aspecto observam-se mudanças substantivas em relação à promoção da saúde tradicional.
De fato, foi só a partir da década de 1990 que se fortaleceu a noção de que objetivos e
métodos para a boa saúde não são universais, mas implicam, inclusive, políticas assentadas
em desigualdades para que se possa alcançar a equidade em termos de distribuição da saúde
26
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Patologia é o estudo científico das doenças, e a palavra deriva do grego pathos (sofrimento) e logos
(ciência). A patologia interessa-se primeiro pela causa, ou etiologia, de uma doença. Em segundo lugar,
ela lida com a patogênese, a maneira pela qual uma doença se desenvolve. Por fim, a patologia analisa
as mudanças estruturais e funcionais decorrentes de uma doença e seus efeitos no organismo.
Embora os termos infecção e doença sejam muitas vezes utilizados como sinônimos, eles
apresentam diferenças em seus significados. Infecção consiste na invasão ou colonização do corpo
por microrganismos patogênicos; a doença ocorre quando uma infecção leva à alteração no estado de
saúde. A doença é um estado anormal, no qual parte ou todo o organismo encontra-se incapaz
de realizar as suas funções normais. Uma infecção pode existir na ausência de doença detectável. Por
exemplo, o corpo pode estar infectado pelo vírus que causa a aids sem que haja a manifestação de
qualquer sintoma da doença.
A presença de um tipo particular de microrganismo em uma parte do corpo onde ele normalmente
não é encontrado também é chamada de infecção e pode acarretar o surgimento de doença. Por
exemplo, embora grandes quantidades de E. coli normalmente estejam presentes no intestino saudável,
sua infecção do trato urinário, geralmente, leva à doença.
Algumas doenças, como a pólio e a tuberculose, têm uma etiologia claramente definida. Contudo,
outras doenças têm uma etiologia não totalmente compreendida, como a relação entre determinados
vírus e câncer. A doença de Alzheimer, por exemplo, tem sua etiologia desconhecida. Obviamente, nem
todas as doenças são causadas por microrganismos. A hemofilia é uma doença hereditária (genética), e a
osteoartrite é degenerativa. Existem ainda várias outras categorias de doenças, mas discutiremos apenas
as doenças infecciosas, ou seja, aquelas causadas por microrganismos.
27
Unidade I
Alguns fatores predisponentes também afetam a ocorrência de uma doença. Um fator predisponente
é aquele que torna o corpo mais suscetível a uma doença e pode alterar seu curso. O sexo algumas vezes é
um fator predisponente. As mulheres, por exemplo, apresentam maior incidência de infecções urinárias
e depressão do que os homens. Por outro lado, os homens denotam maiores taxas de ocorrência de
pneumonia e meningite. Outros aspectos de origem genética podem desempenhar um papel semelhante.
A anemia falciforme, por exemplo, é uma forma grave e muitas vezes fatal de anemia que ocorre quando
os genes responsáveis pela doença são herdados de ambos os pais. Indivíduos que carreiam apenas um
gene da anemia falciforme apresentam uma condição denominada traço falciforme e são considerados
normais, a não ser que sejam realizados testes especiais para afirmar o contrário. No entanto, esses
indivíduos são resistentes à forma mais grave da malária. Nesses casos, a possibilidade de que indivíduos
possam herdar uma doença potencialmente letal em uma população é contrabalanceada pela proteção
contra malária entre os portadores do gene para o traço falciforme. É claro que, em países onde a
malária não está presente, o traço falciforme é uma condição inteiramente negativa.
As condições climáticas parecem ter algum efeito na incidência de doenças infecciosas. Em regiões
temperadas, a incidência de doenças respiratórias aumenta durante o inverno. Esse aumento pode estar
relacionado ao fato de que, quando as pessoas permanecem em ambientes fechados, o contato íntimo
entre elas facilita a disseminação dos patógenos respiratórios.
Outros fatores predisponentes incluem nutrição inadequada, fadiga, idade, meio ambiente, hábitos,
estilo de vida, ocupação, doenças preexistentes e quimioterapia. Normalmente, é difícil saber a
importância relativa exata dos vários fatores predisponentes.
Observação
Uma vez que o microrganismo supera as defesas do hospedeiro, o desenvolvimento da doença tem
uma sequência, que tende a ser similar, independentemente de a doença ser aguda ou crônica.
O período de incubação consiste no intervalo entre a infecção inicial e o surgimento dos primeiros
sinais ou sintomas. Em algumas doenças, o período de incubação é sempre o mesmo; em outras, ele
pode variar consideravelmente. O tempo de incubação depende do microrganismo específico que está
envolvido, de sua virulência (grau de patogenicidade), do número de microrganismos infectantes e da
resistência do hospedeiro.
28
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Durante o período de doença, o quadro da doença é mais grave. O paciente exibe sinais e sintomas
claros, como febre, calafrios, dores musculares (mialgia), sensibilidade à luz (fotofobia), dor de garganta
(faringite), edema dos linfonodos (linfadenopatia) e distúrbios gastrintestinais. Nessa fase, o número de
leucócitos pode aumentar ou diminuir. Em geral, as respostas imunes e outros mecanismos de defesa
do paciente destroem o patógeno, o que demarca o fim do período de doença. Quando a doença não é
controlada (ou tratada) com sucesso, o paciente vai a óbito.
No período de convalescência, a pessoa restaura a sua força e o corpo retorna ao estado anterior à
doença. Segue a recuperação.
Durante o período de doença, as pessoas podem atuar como reservatórios do patógeno, podendo
disseminar rapidamente a infecção para outras pessoas. Entretanto, elas podem transmitir infecções
durante os períodos de incubação e convalescência. Esse fato é especialmente verdadeiro nos casos
de doenças como a cólera e a febre tifoide, em que os pacientes convalescentes podem carrear os
microrganismos patogênicos por meses ou até anos.
Para que uma doença se perpetue, é necessária a existência de uma fonte contínua do organismo
causador da doença. Essa fonte pode ser um organismo vivo ou um objeto inanimado que fornece ao
patógeno condições adequadas de sobrevivência e multiplicação, assim como a oportunidade de ser
transmitido. Essa fonte é chamada de reservatório de infecção. Esses reservatórios podem ser seres
humanos, animais ou inanimados.
29
Unidade I
Reservatórios humanos
O principal reservatório vivo de doenças humanas é o próprio corpo humano. Muitas pessoas
abrigam patógenos e os transmitem direta ou indiretamente para outros indivíduos. Pessoas que
apresentam sinais e sintomas de uma doença são capazes de transmiti-la; além disso, alguns
indivíduos podem abrigar e transmitir patógenos para outros indivíduos sem apresentarem nenhum
sinal de doença. Essas pessoas, denominadas portadoras, são importantes reservatórios vivos de
infecção. Alguns portadores possuem infecções inaparentes, sem nunca exibir sinais ou sintomas
de doença. Outras, como aquelas que apresentam infecções latentes, carreiam a doença durante os
estágios livres de sintomas – durante o período de incubação (antes do aparecimento dos sintomas)
ou durante o período de convalescência (recuperação).
Observação
Reservatórios animais
Tanto animais domésticos quanto silvestres podem ser reservatórios vivos de microrganismos que
causam doenças em seres humanos. As doenças que ocorrem principalmente em animais domésticos e
silvestres e podem ser transmissíveis aos seres humanos são chamadas de zoonoses. A raiva (encontrada
em morcegos, gambás, raposas, cães e coiotes) e a doença de Lyme (em camundongos do campo) são
exemplos de zoonoses.
Atualmente, são conhecidas cerca de 150 zoonoses. A transmissão aos seres humanos pode ocorrer
de várias formas: por contato direto com animais infectados; por contato direto com detritos de animais
domésticos (como ao limpar uma caixa de areia ou gaiola); pela contaminação de água ou alimentos;
pelo ar, através de couros, pelos ou penas contaminadas; pelo consumo de produtos derivados de
animais infectados; ou por insetos vetores (que transmitem patógenos).
Reservatórios inanimados
Os dois principais reservatórios inanimados de doenças infecciosas são a água e o solo. O solo
contém patógenos, como os fungos, que causam micoses, incluindo as tíneas e as infecções sistêmicas;
o Clostridium botulinum, a bactéria que causa o botulismo; e o Clostridium tetani, agente etiológico
do tétano. Como ambas as espécies de Clostridium fazem parte da microbiota normal do intestino de
cavalos e gado, essas bactérias são encontradas principalmente em solos onde as fezes desses animais
são usadas como fertilizante.
30
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
A água contaminada por fezes de seres humanos e de outros animais é um reservatório para diversos
patógenos, especialmente para aqueles responsáveis por doenças gastrintestinais, entre eles o Vibrio
cholerae, que causa a cólera; o Cryptosporidium, a diarreia; e a Salmonella typhi, a febre tifoide. Outros
reservatórios inanimados são os alimentos preparados ou armazenados de modo inadequado. Eles
podem ser fonte de doenças como a salmonelose.
Os agentes etiológicos das doenças podem ser transmitidos do reservatório de infecção para um
hospedeiro suscetível por três vias principais: contato, veículos e vetores.
A transmissão por contato é a disseminação de uma doença por contato direto, indireto ou através
de gotículas. A transmissão por contato direto, também conhecida como transmissão pessoa a pessoa,
consiste na transmissão direta de um agente via contato físico entre sua fonte e um hospedeiro
suscetível, sem o envolvimento de nenhum objeto intermediário. As formas mais comuns de transmissão
por contato direto são toque, beijo e relação sexual. Entre as doenças que podem ser transmissíveis
desse modo estão as doenças virais do trato respiratório (gripes e resfriados comuns), a hepatite A, o
sarampo, a febre escarlatina e as doenças sexualmente transmissíveis (sífilis, gonorreia e herpes genital).
O contato direto também é uma forma de transmissão da aids e da mononucleose infecciosa. Para
se proteger contra a transmissão pessoa a pessoa, profissionais da saúde devem usar luvas e outras
medidas protetoras. Patógenos potenciais também podem ser transmitidos por contato direto entre
animais (ou produtos de origem animal) e seres humanos. Os patógenos causadores da raiva (contato
direto no local da mordida) e do antraz são exemplos.
A transmissão por contato indireto ocorre quando o agente da doença infecciosa é transmitido de
seu reservatório a um hospedeiro suscetível através de um objeto inanimado. O termo geral que se refere
a qualquer objeto inanimado envolvido na disseminação de uma infecção é fômite. Exemplos de fômites
incluem tecidos, lenços, toalhas, roupas de cama, copos, talheres, brinquedos, dinheiro e termômetros.
Seringas contaminadas atuam como fômites na transmissão da aids e da hepatite B. Outros fômites
podem transmitir doenças, como o tétano.
A transmissão por gotículas é o terceiro tipo de transmissão por contato, no qual os micróbios se
disseminam através de perdigotos (gotículas de muco), que percorrem apenas distâncias curtas. Essas
gotículas são eliminadas no ar por tosse, espirro, fala ou risada e percorrem menos de 1 metro do reservatório
ao novo hospedeiro. Um único espirro pode produzir até 20 mil perdigotos. Não se considera que os agentes
de doenças que percorrem distâncias curtas sejam transmissíveis pelo ar. Exemplos de doenças transmissíveis
por gotículas são a gripe, a pneumonia e a coqueluche (tosse comprida).
Consiste na transmissão de agentes de doenças através de meios como a água, os alimentos ou o ar.
Outros meios incluem o sangue e outros líquidos corporais, os fármacos e os fluidos intravenosos.
31
Unidade I
Na transmissão pela água, os patógenos, em geral, são disseminados por águas contaminadas com
esgoto não tratado ou tratado de maneira inadequada. Doenças transmissíveis dessa forma incluem
a cólera, a shigelose e a leptospirose. Na transmissão por alimentos, os patógenos, comumente, são
transmissíveis por alimentos malcozidos, mal refrigerados ou preparados em condições sanitárias
impróprias. Os patógenos transmissíveis por alimentos contaminados causam doenças, como a
intoxicação alimentar e a infestação de tênia.
4.7 Vetores
Os artrópodes formam o grupo mais importante de vetores de doenças – animais que transportam
patógenos de um hospedeiro para outro. Os vetores artrópodes podem transmitir doenças por dois
mecanismos. A transmissão mecânica é o transporte passivo de patógenos nas patas ou em outras partes
do corpo do inseto. Se o inseto entrar em contato com o alimento de um hospedeiro, os patógenos
podem ser transferidos ao alimento e, posteriormente, serem ingeridos pelo hospedeiro. As moscas
domésticas, por exemplo, podem transferir os patógenos causadores da febre tifoide e da disenteria
bacilar (shigelose) de fezes contaminadas para os alimentos.
A transmissão biológica é um processo ativo e mais complexo. O artrópode pica uma pessoa ou
animal infectado e ingere sangue contaminado. Os patógenos, então, reproduzem-se no vetor, e
o aumento do número de patógenos multiplica as chances de eles serem transmitidos para outro
hospedeiro. Alguns parasitos se reproduzem no intestino do artrópode e podem ser eliminados com
as fezes. Se o artrópode defeca ou vomita enquanto pica o hospedeiro em potencial, o parasito pode
entrar no ferimento gerado pela picada. Outros parasitos reproduzem-se no intestino do vetor e
migram para as glândulas salivares, podendo ser diretamente injetados no novo hospedeiro via picada.
Alguns protozoários e helmintos parasitos utilizam o vetor como hospedeiro para o desenvolvimento
de determinados estágios de seu ciclo de vida.
Lembrete
32
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
As portas de entrada para os patógenos incluem as membranas mucosas, a pele e a deposição direta
sob a pele ou as membranas (via parenteral).
Muitas bactérias e vírus têm acesso ao corpo pela penetração das membranas mucosas que revestem
os tratos respiratório, gastrintestinal, urogenital e a conjuntiva, a membrana delicada que recobre o
globo ocular e reveste as pálpebras. A maioria dos patógenos entra no hospedeiro via mucosas dos
tratos gastrintestinal e respiratório.
O trato respiratório é a porta de entrada mais fácil e frequentemente utilizada pelos microrganismos
infecciosos. Micróbios são inalados para dentro da cavidade nasal ou boca em gotículas de umidade e
partículas de pó. As doenças mais comumente adquiridas através do trato respiratório incluem resfriado
comum, pneumonia, tuberculose, gripe (influenza) e sarampo.
Os microrganismos podem ter acesso ao trato gastrintestinal através de água, alimentos ou dedos
contaminados. A maioria dos micróbios que entra no corpo por essa via é destruída pelo ácido clorídrico
(HCl) e pelas enzimas presentes no estômago ou pela bile e enzimas no intestino delgado. Aqueles que
sobrevivem podem causar doença. Os micróbios no trato gastrintestinal podem causar poliomielite,
hepatite A, febre tifoide, disenteria amebiana, giardíase, shigelose (disenteria bacilar) e cólera. Esses
patógenos são eliminados nas fezes e podem ser transmitidos a outros hospedeiros pela água e por
alimentos ou dedos contaminados.
O trato urogenital é a porta de entrada de patógenos que são sexualmente transmissíveis (DSTs).
Alguns micróbios que causam DSTs podem entrar no organismo através das membranas mucosas
íntegras. Outros precisam da presença de cortes ou abrasões de algum tipo. Exemplos de DSTs incluem
a infecção pelo HIV, verrugas genitais, clamídia, herpes, gonorreia e sífilis.
33
Unidade I
4.9.2 Pele
A pele é o maior órgão do corpo humano em termos de área de superfície e peso, constituindo
uma importante barreira defensiva contra doenças. A pele íntegra é impenetrável para a maioria dos
microrganismos. Alguns micróbios podem ter acesso ao corpo através de aberturas na pele, como
folículos pilosos e ductos sudoríparos. As larvas de ancilóstomos podem perfurar a pele intacta e alguns
fungos podem crescer na queratina da pele ou infectar a pele em si.
A conjuntiva é uma membrana mucosa delicada que resveste as pálpebras e cobre a parte branca
dos globos oculares. Embora seja uma barreira relativamente eficiente contra infecções, certas doenças
como a conjuntivite e o tracoma podem ser adquiridas pela conjuntiva.
Alguns microrganismos podem ter acesso ao corpo quando são depositados diretamente nos
tecidos sob a pele ou nas membranas mucosas, quando essas barreiras são penetradas ou danificadas.
Essa rota é chamada de via parenteral. Perfurações, injeções, mordidas, cortes, ferimentos, cirurgias e
rompimento da pele ou das membranas mucosas por edemas ou ressecamentos podem estabelecer
vias parenterais. O HIV, os vírus que causam hepatites e as bactérias que causam tétano podem ser
transmitidos parenteralmente.
Muitos patógenos têm uma porta de entrada preferencial, a qual é um pré-requisito para serem capazes
de causar doença. Se eles entrarem no organismo por outra porta de entrada, a doença talvez não ocorra.
Por exemplo, a bactéria que causa a febre tifoide, Salmonella typhi, produz todos os sinais e sintomas da
doença quando engolida (via preferencial), mas se a mesma bactéria é esfregada na pele não ocorre reação
(talvez apenas uma leve inflamação). Os estreptococos que são inalados (via preferencial) podem causar
pneumonia. Já aqueles que são engolidos geralmente não produzem sinais ou sintomas. Alguns patógenos,
como a bactéria Yersinia pestis, o microrganismo causador da peste, e Bacillus anthracis, o agente causador
do antraz, podem iniciar um processo de doença por mais de uma porta de entrada.
Saiba mais
Da mesma forma que os microrganismos penetram no corpo através de uma via preferencial, eles
também deixam o organismo através de vias específicas, chamadas de portas de saída, em secreções,
excreções, corrimentos ou tecidos que descamam. Em geral, as portas de saída estão relacionadas à
parte do corpo que foi infectada, e os micróbios tendem a usar a mesma porta para entrada e saída.
As portas de saída permitem que os patógenos se disseminem por uma população, movendo-se de um
hospedeiro suscetível para outro. Esse tipo de informação sobre a disseminação de uma doença é muito
importante para os epidemiologistas.
As portas de saída mais comuns são os tratos gastrintestinais e respiratório. Muitos patógenos
que vivem no trato respiratório deixam o organismo através de descargas nasais e bucais,
expelidas durante a tosse ou o espirro. Esses microrganismos são encontrados em gotículas
formadas por muco. Os patógenos que causam tuberculose, coqueluche, pneumonias, meningite
meningocócica, varicela, sarampo, varíola e gripe são eliminados pela via respiratória. Outros
patógenos saem pela via gastrintestinal, nas fezes ou na saliva. As fezes podem estar contaminadas
com patógenos associados a salmonelose, cólera, febre tifoide, shigelose, disenteria amebiana e
poliomielite. A saliva também pode conter patógenos, como os que causam a raiva, a caxumba
e a mononuclose infecciosa.
O trato urogenital também é uma importante via de saída. Microrganismos responsáveis por
infecções sexualmente transmissíveis são encontrados em secreções provenientes do pênis e da
vagina. A urina pode conter os patógenos responsáveis pela febre tifoide e pela brucelose, que
podem deixar o corpo pelo trato urinário. A pele ou os ferimentos podem representar outra porta
de saída. Infecções transmissíveis pela pele incluem bouba, impetigo, tíneas, herpes simples e
verrugas. Drenos em ferimentos podem disseminar infecções para outras pessoas diretamente
ou pelo contato com um fômite contaminado. O sangue infectado pode ser removido e,
então, reinjetado em outra pessoa por picadas de insetos ou agulhas e seringas contaminadas,
disseminando infecções em uma população. Exemplos de doenças transmissíveis por picada de
insetos incluem a febre amarela e a malária. A aids e a hepatite B podem ser transmitidas por
seringas e agulhas contaminadas.
Saiba mais
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35
Unidade I
Imunidade inata
Todos os dias o corpo humano trava uma batalha com pátogenos microbianos que precisam de um
lugar para viver.
A primeira linha de defesa mantém os patógenos fora do corpo ou os neutraliza antes que uma
infecção se inicie. A pele, as membranas mucosas e determinadas substâncias antimicrobianas são parte
dessas defesas.
A segunda linha de defesa retarda ou limita as infecções quando a primeira linha de defesa falha.
Ela inclui proteínas que produzem inflamação, a febre, além de fagócitos e células NK que atacam e
destroem as células tumorais e aquelas infectadas por vírus.
A terceira linha de defesa inclui os linfócitos, que têm como alvo a destruição de patógenos específicos,
quando as defesas de segunda linha falham em controlar as infecções. Incluem um componente de
memória que permite ao corpo responder de forma mais eficiente ao mesmo patógeno no futuro.
A primeira e a segunda linha de defesas fazem parte do sistema imune inato, enquanto a terceira linha
de defesa é chamada de sistema imune adaptativo. Muitos leucócitos (glóbulos brancos) coordenam os
esforços no controle das infecções na segunda e na terceira linhas da defesa imune.
Quando os patógenos atacam nossos corpos, nos defendemos utilizando vários mecanismos de
imunidade. A imunidade, também chamada de resistência, é a capacidade de prevenir o surgimento de
doenças causadas por micróbios ou por seus produtos e de proteger contra agentes ambientais, como
pólen, substâncias químicas e pelos de animais. A ausência de imunidade é chamada de suscetibilidade.
Em geral, existem dois tipos de imunidade: inata e adaptativa.
A imunidade inata diz respeito às defesas que estão presentes no nascimento. Elas estão sempre
disponíveis para proporcionar respostas rápidas e nos proteger contra as doenças. A imunidade inata
não envolve o reconhecimento de um micróbio específico. Além disso, a imunidade inata não apresenta
resposta de memória, isto é, uma reação imune mais rápida e mais forte ao mesmo micróbio em outro
momento. A primeira linha de defesa da imunidade inata inclui a pele e as membranas mucosas, e a
segunda linha de defesa inclui as células natural killer, os fagócitos, a inflamação, a febre e as substâncias
antimicrobianas. As respostas imunes inatas representam o sistema de alerta precoce da imunidade e
36
FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
são projetadas para impedir que os micróbios tenham acesso ao corpo e para ajudar a eliminar aqueles
que tiverem acesso.
A imunidade adaptativa tem como base uma resposta específica a um determinado microrganismo
caso ele tenha rompido as defesas da imunidade inata. Ela se ajusta para atacar um patógeno em
particular. Diferentemente da imunidade inata, a imunidade adaptativa é mais lenta na sua resposta,
contudo apresenta um componente de memória que permite ao corpo responder de maneira mais
efetiva aos mesmos patógenos no futuro. A imunidade adaptativa envolve linfócitos (um tipo de glóbulo
branco), chamados de células T (linfócitos T), e células B (linfócitos B).
As respostas do sistema inato são ativadas por proteínas receptoras presentes na membrana
plasmática das células defensivas. Entre esses ativadores estão os receptores semelhantes ao Toll (TLRs –
Toll like receptors). Esses TLRs se ligam a vários componentes geralmente encontrados nos patógenos
que são chamados de padrões moleculares associados a patógenos (Pamps – pathogen-associated
molecular patterns). Exemplos incluem o lipopolissacarídeo (LPS) da membrana externa de bactérias
gram‑negativas, a flagelina dos flagelos de bactérias móveis, o peptideoglicano da parede celular de
bactérias gram‑positivas, o DNA de bactérias, e o DNA e o RNA de vírus. Os TLRs também se ligam a
componentes de fungos e parasitos.
A pele e as membranas mucosas são a primeira linha de defesa do corpo contra os patógenos do
ambiente. Essa função resulta de fatores químicos e físicos.
Entretanto, quando a superfície epitelial é rompida como resultado de uma queimadura, um corte,
perfurações ou outras condições, uma infecção subcutânea se desenvolve. As bactérias que mais
causam as infecções são os estafilococos, que normalmente habitam a epiderme, os folículos pilosos e
as glândulas sudoríparas e sebáceas da pele.
As células epiteliais, chamadas de células endoteliais, que revestem os vasos sanguíneos e linfáticos,
não são tão unidas como as encontradas na epiderme. Esse arranjo permite que as células defensivas
se movimentem do sangue para os tecidos durante a inflamação, mas também permite que os
microrganismos se movimentem para dentro e para fora do sangue e da linfa.
As membranas mucosas também consistem em uma camada epitelial e uma camada de tecido
conectivo subjacente. Elas são um componente importante da primeira linha de defesa. As membranas
mucosas revestem internamente os tratos gastrintestinal, respiratório e urogenital. A camada
epitelial de uma membrana mucosa secreta um fluido, chamado de muco, substância glicoproteica
ligeiramente viscosa (espessa) produzida pelas células caliciformes de uma membrana mucosa.
Entre outras funções, o muco impede o ressecamento dos tratos. Alguns patógenos que podem se
desenvolver nas secreções úmidas são capazes de penetrar a membrana se o microrganismo estiver
presente em quantidades suficientes. O Treponema pallidum é um desses patógenos. Essa penetração
pode ser facilitada por substâncias tóxicas produzidas pelo microrganismo, lesão prévia por infecção
viral ou irritação da mucosa.
Além da barreira física da pele e das membranas mucosas, vários outros fatores físicos ajudam a
proteger algumas superfícies epiteliais. Um mecanismo que protege os olhos é o aparelho lacrimal,
um grupo de estruturas que produz e drena as lágrimas. As glândulas lacrimais, localizadas em
direção à parte superior externa de cada órbita ocular, produzem as lágrimas e as fazem escorrer
sob a pálpebra superior. Após, as lágrimas seguem em direção ao canto do olho próximo ao nariz
e para dentro de pequenas aberturas que conduzem dos tubos (canais lacrimais) até o nariz. Ao
piscar, as lágrimas são espalhadas sobre a superfície do globo ocular. Normalmente, elas evaporam
ou passam para dentro do nariz tão rápido quanto são produzidas. Essa ação de lavagem contínua
impede que os microrganismos se estabeleçam sobre a superfície do olho. Se uma substância
irritante ou um número considerável de microrganismos entra em contato com o olho, as glândulas
lacrimais começam a secretar excessivamente, e as lágrimas se acumulam mais rapidamente do
que podem ser eliminadas. Essa produção excessiva é um mecanismo de proteção, uma vez que
o excesso de lágrimas dilui e lava a substância irritante ou os microrganismos antes que uma
infecção possa se desenvolver.
A saliva desempenha uma ação de limpeza similar àquela realizada pelas lágrimas. Produzida pelas
glândulas salivares, ajuda a diluir uma grande quantidade de microrganismos e os remove da superfície
dos dentes e da membrana mucosa da boca. Isso ajuda a impedir a colonização pelos micróbios.
Os tratos respiratório e gastrintestinal têm muitas formas físicas de defesa. O muco retém
muitos dos microrganismos que penetram nesses tratos. A membrana mucosa do nariz apresenta
pelos recobertos de muco que filtram o ar inalado e retêm microrganismos, poeira e poluentes.
As células da membrana mucosa do trato respiratório inferior são recobertas por cílios. Por meio
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FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
A limpeza da uretra pelo fluxo de urina constitui outro fator físico que previne a colonização
microbiana no trato urogenital. Quando o fluxo de urina é obstruído – por cateteres, por exemplo –,
infecções do trato urinário podem desenvolver-se. Da mesma maneira, as secreções vaginais movimentam
os microrganismos para fora do corpo feminino.
Os fatores físicos isoladamente não são os únicos responsáveis pelo alto grau de resistência
apresentado pela pele e pelas membranas mucosas contra a invasão microbiana. Alguns fatores químicos
também desempenham funções importantes.
As glândulas sebáceas da pele produzem uma substância oleosa, chamada de sebo, que impede que
os pelos fiquem ressecados ou quebradiços. O sebo também forma um filme protetor sobre a superfície
da pele. Um dos componentes do sebo consiste em ácidos graxos insaturados, que inibem o crescimento
de certas bactérias e fungos patogênicos. O baixo pH da pele, entre 3 e 5, é causado, em parte, pela
secreção de ácidos graxos e ácido láctico. A acidez da pele provavelmente inibe o crescimento de muitos
outros microrganismos.
A cera de ouvido, além de atuar como barreira física, funciona como proteção química. Ela
consiste em uma mistura de secreções das glândulas produtoras de cera, bem como das glândulas
sebáceas, que produzem sebo. As secreções são ricas em ácidos graxos, conferindo ao canal auditivo
um pH baixo, entre 3 e 5, que inibe o crescimento de muitos micróbios patogênicos. A cera de ouvido
também possui muitas células mortas oriundas do revestimento do canal auditivo.
A saliva não contém apenas a enzima amilase salivar que digere o amido, ela também apresenta
várias substâncias que inibem o crescimento microbiano, entre elas a lisozima, a ureia e o ácido úrico.
39
Unidade I
O pH ligeiramente ácido da saliva (6,55-6,85) inibe alguns micróbios. Além disso, a saliva contém
um anticorpo (lgA) que impede a aderência microbiana, evitando a penetração dos micróbios nas
membranas mucosas.
O suco gástrico é produzido pelas glândulas do estômago. Ele é uma mistura de ácido hidroclorídrico,
enzimas e muco. A acidez bastante elevada do suco gástrico (pH 1,2-3,0) é suficiente para destruir as
bactérias e a maioria das toxinas bacterianas, exceto as de Clostridium botulinum e Staphylococcus
aureus. Entretanto, muitos patógenos entéricos são protegidos por partículas de alimento e podem
entrar nos intestinos via trato gastrintestinal. Em contrapartida, a bactéria Helicobacter pylori neutraliza
o ácido estomacal, permitindo, desse modo, que a bactéria cresça no estômago. Seu crescimento inicia
uma resposta imune, a qual resulta em gastrite e úlcera.
A urina, além de conter a enzima lisozima, tem pH ácido (em média, 6), que inibe os micróbios.
Quando os patógenos ultrapassam a primeira linha de defesa, encontram uma segunda linha, que
inclui células defensivas, como as células fagocíticas, inflamação, febre e substâncias antimicrobianas.
O sangue é formado por um fluido, denominado plasma, e por elementos constituintes, isto é, células
e fragmentos celulares suspensos no plasma. Os elementos constituintes incluem as hemácias ou os
eritrócitos; os leucócitos, ou glóbulos brancos (WBCs – white blood cells); e as plaquetas. Os elementos
constituintes são produzidos na medula óssea vermelha por células-tronco em um processo chamado de
hematopoiese. Esse processo se inicia quando uma célula, denominada célula-tronco pluripotente, gera
dois tipos de células, chamadas de células-tronco mieloides e células-tronco linfoides. Todos os elementos
constituintes se desenvolvem a partir desses dois tipos de células-tronco.
Os leucócitos são divididos em duas categorias principais com base em sua aparência ao microscópio
óptico: granulócitos e agranulócitos. Os granulócitos têm esse nome devido à presença de grandes
grânulos em seu citoplasma, os quais podem ser vistos ao microscópio óptico após coloração. São
diferenciados em três tipos de células com base na coloração dos grânulos: neutrófilos, basófilos e
eosinófilos. Os neutrófilos coram-se em lilás-claro com uma mistura de corantes ácidos e básicos. Os
neutrófilos também são comumente chamados de leucócitos polimorfonucleares (PMNs) ou polimorfos.
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FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Observação
Os neutrófilos, que são altamente fagocíticos e móveis, são ativos nos estágios iniciais de uma infecção.
Eles têm a capacidade de deixar o sangue, chegar ao tecido infectado e destruir os microrganismos e
partículas estranhas.
Os basófilos coram-se em azul-púrpura com o corante básico azul de metileno. Eles liberam
substâncias, como a histamina, que são importantes na inflamação e nas respostas alérgicas.
Os eosinófilos coram-se em vermelho ou laranja com o corante ácido eosina. Eles são de algum modo
fagocíticos e também têm a capacidade de deixar o sangue. Sua principal função é produzir proteínas
tóxicas contra certos parasitos, como os helmintos. Embora os eosinófilos sejam fisicamente muito
pequenos para ingerir e destruir os helmintos, eles podem fixar-se à superfície externa dos parasitos e
liberar íons peróxido que os destroem. Sua quantidade aumenta significativamente durante infecções
por vermes parasitários e nas reações de hipersensibilidade (alergia).
Os agranulócitos também têm grânulos em seu citoplasma, porém os grânulos não são visíveis ao
microscópio óptico após coloração. Existem três tipos de agranulócitos: monócitos, células dendríticas
e linfócitos. Os monócitos não são ativamente fagocíticos até que eles deixem o sangue circulante,
entrem nos tecidos do corpo e se diferenciem em macrófagos. Na verdade, a proliferação dos linfócitos
é um fator responsável pelo aumento dos linfonodos durante uma infecção. Quando o sangue e a
linfa que contêm microrganismos passam pelos órgãos contendo macrófagos, os microrganismos são
removidos por fagocitose. Os macrófagos também eliminam células velhas do sangue.
Acredita-se que as células dendríticas sejam derivadas das mesmas células precursoras dos monócitos.
Elas apresentam longos prolongamentos que se assemelham aos dendritos das células nervosas, daí o
seu nome. As células dendríticas são, sobretudo, abundantes na epiderme da pele, nas membranas
mucosas, no timo e nos linfonodos. As células dendríticas destroem os micróbios por fagocitose e
iniciam a resposta imune adaptativa.
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Unidade I
enzimas que digerem proteínas, que induzem a célula-alvo a sofrer apoptose, ou autodestruição. Esse
tipo de ataque destrói as células infectadas, mas não os micróbios dentro das células; os micróbios
liberados, que podem ou não estar intactos, podem ser destruídos pelos fagócitos.
As células T e B geralmente não são fagocíticas, mas exercem uma função importante na imunidade
adaptativa. Elas estão presentes nos tecidos linfoides do sistema linfático e também circulam no sangue.
Em vários tipos de infecções, principalmente nas infecções bacterianas, o número total de leucócitos
aumenta como resposta protetora para combater os microrganismos; esse aumento é chamado de
leucocitose. Durante o estágio ativo da infecção, a contagem de leucócitos pode dobrar, triplicar ou
quadruplicar, dependendo da gravidade da infecção. As doenças que podem causar uma elevação
na contagem de leucócitos incluem meningite, mononucleose infecciosa, apendicite e pneumonia
pneumocócica. Outras doenças, como a salmonelose, e algumas infecções virais e por riquétsias podem
ocasionar diminuição na contagem de leucócitos, chamada de leucopenia.
Os vasos linfáticos iniciam-se como capilares linfáticos microscópicos localizados nos espaços entre
as células. Os capilares linfáticos permitem que o líquido intersticial derivado do plasma sanguíneo
flua para dentro deles, e não para fora. Dentro dos capilares linfáticos, o líquido é chamado de linfa.
Os capilares linfáticos convergem para formar vasos linfáticos maiores. Esses vasos, de modo similar às
veias, apresentam válvulas unidirecionais para que o fluxo da linfa seja mantido em uma única direção.
Nos intervalos ao longo dos vasos linfáticos, a linfa flui pelos linfonodos. Por fim, toda a linfa passa para
dentro do ducto torácico (linfático esquerdo) e do ducto linfático direito e, após, para dentro de suas
respectivas veias subclávias, onde o líquido agora é chamado de plasma sanguíneo. O plasma sanguíneo
percorre o sistema circulatório e, por fim, torna-se líquido intersticial entre as células teciduais, quando,
então, outro ciclo se inicia.
Os tecidos e os órgãos linfoides estão espalhados por todas as partes das membranas mucosas
que revestem os tratos gastrintestinal, respiratório, urinário e reprodutivo. Eles protegem contra
os micróbios que são ingeridos ou inalados. Vários agregados grandes de tecido linfoide estão
localizados em partes específicas do corpo. Entre eles estão as tonsilas, na garganta, e as placas de
Peyer, no intestino delgado.
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FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
O baço contém linfócitos e macrófagos que monitoram o sangue para a presença de micróbios
e produtos secretados, como as toxinas, de modo muito semelhante aos linfonodos ao monitorar a
linfa. O timo atua como um local de maturação de células T. Ele também contém células dendríticas
e macrófagos.
4.14.3 Fagócitos
A fagocitose consiste na ingestão de microrganismos ou outras substâncias por uma célula. Aqui, a
fagocitose é discutida como um meio pelo qual as células do corpo humano se opõem à infecção como
parte da segunda linha de defesa.
As células que realizam fagocitose são denominadas fagócitos. Todos os fagócitos são tipos ou
derivados de leucócitos. Quando ocorre uma infecção, os granulócitos (principalmente os neutrófilos,
mas também os eosinófilos e as células dendríticas) e os monócitos migram para a área infectada.
Durante essa migração, os monócitos aumentam de tamanho e se diferenciam em macrófagos
ativamente fagocíticos. Essas células deixam o sangue e seguem para os tecidos, onde se tornam
maiores e se desenvolvem em macrófagos. Alguns macrófagos, chamados de macrófagos fixos, ou
histiócitos, residem em determinados tecidos e órgãos do corpo. Macrófagos fixos são encontrados no
fígado (células de Kupffer), nos pulmões (macrófagos alveolares), no sistema nervoso (microgliócitos),
nos brônquios, no baço (macrófagos esplênicos), nos linfonodos, na medula óssea vermelha e na
cavidade peritoneal que circunda os órgãos abdominais (macrófagos peritoneais). Outros macrófagos
são móveis, sendo chamados de macrófagos livres (errantes), que perambulam pelos tecidos e chegam
aos locais da infecção ou inflamação. Os vários macrófagos do corpo constituem o sistema fagocítico
mononuclear (retículo endotelial).
Durante o curso de uma infecção, ocorre uma mudança no tipo de leucócito que predomina na
corrente sanguínea. Os granulócitos, sobretudo os neutrófilos, caracterizam a fase inicial de uma infecção
bacteriana, momento em que são ativamente fagocíticos; essa dominância pode ser constatada por
meio dos números elevados dessa célula em uma contagem diferencial de leucócitos. Contudo, à medida
que a infecção progride, os macrófagos predominam; eles procuram por alimento e fagocitam bactérias
vivas remanescentes, bactérias em fase de morte ou aquelas já mortas. O número de monócitos (que
se desenvolvem em macrófagos) também é demonstrado em uma contagem diferencial de leucócitos.
4.14.4 Inflamação
O dano causado aos tecidos do corpo desencadeia uma resposta defensiva local, chamada de
inflamação, outro componente da segunda linha de defesa. O dano pode ser causado por uma infecção
microbiana, por agentes físicos (eletricidade ou objetos pontiagudos) ou por agentes químicos (ácidos,
bases e gases). Em geral, a inflamação é caracterizada por quatro sinais e sintomas: rubor, dor, calor e
edema. Algumas vezes, um quinto sintoma, a perda de função, está presente; sua ocorrência depende
do local e da extensão do dano.
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Unidade I
Todas as células envolvidas na inflamação apresentam receptores para TNF-α e são ativadas
por ele para produzirem mais de seu próprio TNF-α. Isso amplifica a resposta inflamatória.
Infelizmente, a produção excessiva de TNF-α pode resultar em distúrbios, como a artrite
reumatoide e a doença de Crohn. Anticorpos monoclonais são utilizados terapeuticamente no
tratamento desses distúrbios inflamatórios.
4.14.5 Febre
Enquanto a inflamação é uma resposta local do corpo a uma lesão, existem também respostas
sistêmicas ou generalizadas. Uma das mais importantes é a febre, elevação anormal da temperatura
corporal, um terceiro componente da segunda linha de defesa. A causa mais frequente de febre é a
infecção por bactérias (ou por suas toxinas) ou vírus.
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FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Imagine que o corpo seja invadido por patógenos e que o ajuste do termostato seja aumentado
para 39 °C (102,2 °F). Para ajustar a nova programação termostática, o corpo responde constringindo
os vasos sanguíneos, aumentando a taxa de metabolismo; então, produz tremores, todos elevando a
temperatura corporal. Muito embora a temperatura corporal possa se elevar acima do normal, a pele
permanece fria. Essa condição, chamada de calafrio, é um sinal claro de que a temperatura corporal está
aumentando. Quando a temperatura alcança o ponto de ajuste do termostato, o calafrio desaparece.
O corpo continuará a manter sua temperatura em 39 °C até que as citocinas sejam eliminadas. O
termostato, então, é reajustado para 37 °C. À medida que a infecção diminui, mecanismos de perda de
calor, como a vasodilatação e o suor, entram em ação. A pele aquece-se e a pessoa começa a suar. Essa
fase da febre, chamada de crise, indica que a temperatura corporal está diminuindo.
Até certo ponto, a febre é considerada uma defesa contra a doença. A interleucina 1 ajuda a estabelecer
a produção de células T. A alta temperatura corporal intensifica o efeito dos antivirais interferons e
aumenta a produção das transferrinas, que diminuem o ferro disponível para os microrganismos. Além
disso, uma vez que a alta temperatura acelera as reações do corpo, ela também pode auxiliar para que
a reparação dos tecidos corporais seja realizada mais rapidamente.
A febre tem algumas complicações como taquicardia (aumento dos batimentos cardíacos), que pode
comprometer pessoas idosas com doenças cardiopulmonares; taxa metabólica elevada, que pode produzir
acidose; desidratação; desequilíbrio eletrolítico; convulsões em crianças; delírio e coma. Como regra geral,
a morte ocorre quando a temperatura corporal se eleva acima de 44 °C a 46 °C (112 °F a 114 °F).
A imunidade adaptativa consiste em uma variedade de fases microbianas que tem como alvos patógenos
específicos. Ao contrário das defesas inatas, as defesas do sistema imune adaptativo são adquiridas por
meio de uma infecção ou vacinação e são altamente específicas. Sabe-se há muito tempo que a imunidade
a algumas doenças infecciosas pode ser adquirida durante a vida. Se um indivíduo se recupera de varíola
ou sarampo, quase sempre ele se torna imune a essa doença, em particular quando exposto novamente a
ela. De alguma forma, o corpo adquire uma memória da infecção, permitindo a sua adaptação, o que reduz
efetivamente o desenvolvimento de infecções originadas de exposições repetidas. Com a evolução da
medicina ao longo dos séculos, foram descobertos métodos para mimetizar a imunidade adaptativa contra
determinadas doenças por meio da exposição intencional das pessoas a versões inofensivas dos patógenos,
tornando-as imunes. Atualmente, chamamos essa prática de imunização ou vacinação. A aplicação da
vacina contra a varíola, a primeira doença para a qual a vacinação foi desenvolvida, ocorreu quase cem
anos antes de qualquer conhecimento sobre patógenos microscópicos.
O sistema imune adaptativo entra em ação apenas quando as defesas inatas – barreiras físicas,
como a pele e as membranas mucosas, células fagocíticas, como macrófagos no sangue, e inflamação –
falham na neutralização de um patógeno. Enquanto as respostas do sistema inato são as mesmas,
independentemente da substância estranha, o sistema adaptativo combate os patógenos microbianos,
toxinas ou outras substâncias específicas em questão. As defesas do sistema adaptativo levam vários
dias ou mais para se desenvolverem completamente, ao passo que os efeitos das respostas do sistema
inato são mais imediatos.
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Unidade I
A primeira vez que o sistema imune adaptativo encontra e combate uma substância estranha
específica é chamada de resposta primária. Interações posteriores com a mesma célula ou substância
desencadearão uma resposta secundária, que será mais rápida e mais efetiva devido à “memória” da
primeira infecção. Esse componente de memória é importante e exclusivo ao sistema imune adaptativo.
Isso também explica por que um indivíduo que contrai e se recupera de varíola ou sarampo pode adquirir
uma imunidade de longo prazo contra essas doenças em particular.
Lembrete
Desde a Antiguidade até o século XIX, a comunidade médica acreditava que a saúde dependia
de quatro fluidos corporais diferentes ou humores: o sangue, a fleuma, a bile preta e a bile amarela.
A nova ciência da imunologia adotou o termo imunidade humoral ao descrever a imunidade
conferida por moléculas protetoras, chamadas de anticorpos. Os anticorpos combatem moléculas
estranhas, denominadas antígenos. A imunidade humoral envolve os linfócitos B, mais comumente
conhecidos como células B, os quais removem vírus, bactérias e toxinas dos fluidos teciduais do
corpo e do sangue pelo reconhecimento de antígenos e da produção de anticorpos contra eles.
O reconhecimento de diferentes antígenos depende dos receptores de células B, que revestem a
superfície das células B.
Os linfócitos T, ou células T, são a base da imunidade celular. Essa forma de imunidade também
é chamada de imunidade mediada por células. As células T não se ligam diretamente aos antígenos,
no entanto, elas reconhecem peptídeos antigênicos após o seu processamento por células fagocíticas,
como os macrófagos.
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FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
As células-tronco
desenvolvem-se na medula
óssea ou no fígado fetal
Célula-tronco
Medula óssea vermelha (diverge em duas
de adultos linhagens celulares)
Timo
Célula B Célula T
Migram para os
tecidos linfoides,
como o braço, mas
especialmente para
os linfonodos
Tanto as células T como as células B são encontradas principalmente no sangue e nos órgãos
linfoides. As respostas da imunidade celular são direcionadas ao combate de antígenos que
se concentram no interior das células, ao passo que as respostas da imunidade humoral são
direcionadas aos antígenos extracelulares (como aqueles encontrados no sangue ou em outros
fluidos corporais). Isso significa que a imunidade celular geralmente apresenta um melhor
desempenho no combate aos vírus que infectam uma célula, bem como em algumas infecções
fúngicas e parasitárias, que normalmente envolvem patógenos muito maiores do que as bactérias
e os vírus. Uma vez que a imunidade humoral combate invasores localizados fora das células,
seus esforços tendem a ser direcionados para bactérias e suas toxinas, bem como para os vírus
antes de sua penetração nas células-alvo.
As células T (do mesmo modo que as células B) respondem aos antígenos por meio de receptores
localizados em suas superfícies – os receptores de células T (TCRs – T cell receptors). O contato de um
antígeno complementar a um TCR pode induzir certos tipos de células T a se proliferarem e secretarem
citocinas em vez de anticorpos. A seguir, serão discutidos esses mensageiros químicos que transmitem
instruções para outras células realizarem determinadas funções.
47
Unidade I
4.16 Antígenos
Em geral, os anticorpos reconhecem e interagem com regiões específicas dos antígenos, chamadas
de epítopos ou determinantes antigênicos. A natureza dessa interação depende do tamanho, da forma
e da estrutura química do sítio de ligação na molécula de anticorpo.
4.17 Anticorpos
Os anticorpos são proteínas chamadas de imunoglobulinas (Ig). As proteínas globulinas são compactas
e relativamente solúveis. Os anticorpos são produzidos em resposta a um antígeno e podem reconhecer e
se ligar a ele. Uma bactéria ou vírus pode apresentar vários epítopos, os quais desencadeiam a produção
de diferentes anticorpos.
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FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Resumo
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FUNDAMENTOS DE AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE
Exercícios
Questão 1. (Ipred/SP 2018, adaptada) Leia as afirmativas a seguir sobre o tema processo saúde-doença.
II – Uma nova maneira de pensar a saúde e a doença deve incluir explicações para os achados
universais de que a mortalidade e a morbidade obedecem a um gradiente, que atravessa as classes
socioeconômicas, de modo que menores rendas ou status social estão associados a uma pior condição
em termos de saúde.
III – É contemporânea a crença de que a saúde é dádiva e a doença castigo dos deuses.
IV – A Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Organização Mundial da Saúde (OMS),
composta por técnicos de vários países, com o objetivo de estudar e sugerir alternativas para melhorar
a saúde mundial.
A) II e IV.
B) I, II e IV.
C) III.
D) I e III.
E) II.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a dimensão de bem-estar deve ser incluída, visto que é um fator primordial.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: os grupos sociais economicamente privilegiados estão menos sujeitos à ação dos
fatores ambientais que ocasionam ou que estimulam a ocorrência de certos tipos de doenças, pois a
incidência é extremamente elevada nos grupos economicamente desprivilegiados.
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Unidade I
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: a OMS, subordinada à ONU, atua em prol do desenvolvimento da saúde em nível mundial.
Análise da questão
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