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CDU 614:331.827
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Marcilia Brito
Lucas Ricardi
Sumário
Biossegurança e Ergonomia
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 BIOSSEGURANÇA................................................................................................................................................9
1.1 Definição......................................................................................................................................................9
1.2 Lei nº 11.105/2005................................................................................................................................. 11
1.3 Norma Regulamentadora 32 – NR‑32......................................................................................... 12
1.3.1 NR‑32 e quimioterapia.......................................................................................................................... 14
1.4 Engenharia genética............................................................................................................................ 15
1.5 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)............................................................................ 17
1.6 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)....................................................... 18
2 SIMBOLOGIA EM BIOSSEGURANÇA......................................................................................................... 21
2.1 Norma Regulamentadora 26 – NR-26......................................................................................... 21
2.2 Rotulagem e simbologia de risco................................................................................................... 28
2.2.1 Rotulagem em fracionamentos......................................................................................................... 29
2.3 Diamante de Hommel......................................................................................................................... 33
3 BOAS PRÁTICAS E NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA.................................................................................. 36
3.1 Segurança e saúde no trabalho....................................................................................................... 36
3.2 Boas práticas........................................................................................................................................... 37
3.2.1 Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 63........................................................................... 38
3.3 Boas práticas de laboratório............................................................................................................. 39
3.4 Boas práticas no atendimento à saúde........................................................................................ 43
3.5 Boas práticas na manipulação de alimentos............................................................................. 45
3.6 Higiene ocupacional............................................................................................................................ 48
3.7 Higienização das mãos........................................................................................................................ 49
3.8 Manual de boas práticas e procedimento operacional padrão.......................................... 55
4 RISCOS AMBIENTAIS E RISCOS OCUPACIONAIS.................................................................................. 56
4.1 Riscos mecânicos................................................................................................................................... 58
4.2 Riscos físicos........................................................................................................................................... 61
4.3 Riscos químicos...................................................................................................................................... 68
4.4 Riscos biológicos.................................................................................................................................... 72
4.5 Equipamento de segurança (barreiras primárias).................................................................... 76
4.6 Projeto e construção das instalações (barreiras secundárias)............................................. 77
4.7 Avaliações de riscos.............................................................................................................................. 77
4.8 Riscos ergonômicos.............................................................................................................................. 78
4.9 Níveis de biossegurança..................................................................................................................... 82
4.9.1 Níveis de biossegurança laboratorial............................................................................................... 83
4.9.2 Contenção................................................................................................................................................... 83
4.9.3 Nível de biossegurança 1 (NB‑1)....................................................................................................... 83
4.9.4 Nível de biossegurança 2 (NB‑2)....................................................................................................... 84
4.9.5 Nível de biossegurança 3 (NB‑3)....................................................................................................... 85
4.9.6 Nível de biossegurança 4 (NB‑4)....................................................................................................... 86
4.10 Mapa de riscos..................................................................................................................................... 87
4.10.1 Classificação dos riscos....................................................................................................................... 94
Unidade II
5 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA................................................................ 99
5.1 Medidas de proteção administrativa............................................................................................. 99
5.2 Medidas de proteção coletiva........................................................................................................100
5.3 Equipamento de proteção individual (EPI)...............................................................................100
5.3.1 Equipamentos de proteção à cabeça.............................................................................................104
5.3.2 Equipamentos de proteção para os membros superiores.....................................................107
5.3.3 Equipamentos de proteção para os membros inferiores.......................................................108
5.3.4 Equipamentos de proteção para o tronco...................................................................................109
6 CLASSIFICAÇÃO DE ARTIGOS MÉDICOS HOSPITALARES................................................................110
6.1 Conceitos gerais...................................................................................................................................110
6.2 Limpeza...................................................................................................................................................113
6.3 Desinfecção............................................................................................................................................115
6.3.1 Processos físicos de desinfecção.....................................................................................................115
6.3.2 Processos químicos de desinfecção................................................................................................116
6.4 Esterilização...........................................................................................................................................117
6.4.1 Processos físicos de esterilização....................................................................................................117
6.4.2 Processos químicos de esterilização..............................................................................................118
6.4.3 Monitoramento do processo de esterilização............................................................................ 118
6.5 Classificação dos artigos médico‑hospitalares.......................................................................119
7 PGRRS.................................................................................................................................................................120
8 ERGONOMIA.....................................................................................................................................................131
8.1 Ergonomia..............................................................................................................................................131
8.2 Vigilância ocupacional......................................................................................................................137
8.3 Risco ocupacional...............................................................................................................................140
8.4 LER/Dort..................................................................................................................................................144
8.4.1 Ginástica laboral................................................................................................................................... 146
APRESENTAÇÃO
A disciplina Biossegurança e Ergonomia tem como objetivo oferecer subsídios para o profissional
da área da saúde analisar sua conduta no que diz respeito às questões de segurança durante sua
atuação profissional.
Essas questões de segurança dizem respeito ao próprio profissional, à comunidade, ao meio ambiente
e ao seu próprio objeto de trabalho, seja ele um paciente, um animal ou um organismo geneticamente
modificado, tanto na prática clínica e hospitalar quanto na pesquisa. Nesta disciplina, o profissional da
área da saúde se capacitará a identificar os principais agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos
que causam risco tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente.
Além disso, aprenderá sobre a Lei de Biossegurança, no que diz respeito à manipulação de organismos
geneticamente modificados, e terá noções sobre infecções hospitalares e níveis de biossegurança
laboratorial, com suas aplicações e requisitos.
INTRODUÇÃO
Toda e qualquer atividade humana nos expõe a esforços físicos e riscos de acidentes, mas, se
considerarmos que passamos mais tempo no ambiente de trabalho que em qualquer outro, precisamos
pensar nos efeitos que a atividade profissional nos causa à saúde.
Nas ciências da saúde, os profissionais estão expostos a condições especiais, cujo estudo se
chama Biossegurança.
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Como objetiva a proteção de indivíduos, em alguns momentos, a Biossegurança também esbarra em
questões relacionadas à bioética.
A Lei nº 11.105/2005, conhecida como Lei da Biossegurança, deixa essa característica muito clara.
O estudo da Biossegurança visa, sempre, à prevenção de riscos ou, se não for possível, à contenção dos
agentes perigosos.
Para isso, busca‑se o estudo dos mecanismos de ação desses agentes e, então, estabelecem‑se
procedimentos seguros de ação. Antes de aprofundarmo‑nos no estudo da Biossegurança, vale a pena
ressaltar que a maioria dos acidentes de trabalho é decorrente de imperícia, negligência e, até mesmo,
imprudência dos operadores, portanto, a regra de ouro na prevenção de acidentes é atenção e bom senso.
Uma expressão muito citada nos meios profissionais é “boas práticas”. Dá‑se o nome de boas práticas
aos procedimentos seguros de trabalho.
É muito importante que o estabelecimento de regras de boas práticas seja feito com antecedência,
pois a função principal de qualquer procedimento de segurança é evitar o acidente. Qualquer atividade
após o acidente serve somente para reduzir prejuízos.
As atividades profissionais na área da saúde possuem riscos inerentes ao ramo, já que frequentemente
o profissional está exposto a microrganismos patogênicos, substâncias perigosas ou animais agressivos.
A expressão “boas práticas” vem geralmente associada a uma identificação do ramo de trabalho
– boas práticas de fabricação, boas práticas de laboratório, boas práticas de preparação etc., porém o
conceito é o mesmo, o que muda são as técnicas específicas para cada ramo.
8
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Unidade I
1 BIOSSEGURANÇA
1.1 Definição
A Biossegurança é uma disciplina nova, surgida no século XX, voltada para o controle e a minimização
de riscos advindos da prática de diferentes ramos do conhecimento humano relacionados à saúde e ao
meio ambiente, seja em laboratório, produção de alimentos ou, quando aplicada, a trabalhos de campo.
Observação
Com relação ao aspecto relacionado ao trabalhador em sua atividade cotidiana, as normas tradicionais
de segurança laboratorial enfatizam o uso de boas práticas de trabalho, equipamentos de contenção
adequados, dependências bem projetadas e controles administrativos que minimizem os riscos de uma
infecção acidental ou ferimentos em trabalhadores de laboratório, e ainda que evitem a contaminação
do meio ambiente.
Porém, medidas de biossegurança específicas precisam ser discutidas e adotadas por laboratórios de
pesquisa, aliadas a um amplo plano de educação baseado nas normas nacionais e internacionais quanto
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Unidade I
Embora os laboratórios clínicos e de pesquisas possam conter uma variedade de materiais biológicos,
químicos e radioativos perigosos, até o momento existem poucos relatórios sobre o uso intencional de
quaisquer desses materiais de forma a causar prejuízos a outros. Entretanto, há crescente preocupação
sobre o possível uso de materiais biológicos, químicos e radioativos como agentes para o terrorismo. Em
resposta a essas preocupações, há normas que orientam essas questões de segurança laboratorial, como
a prevenção da entrada de pessoas não autorizadas em áreas laboratoriais e da remoção não autorizada
de agentes biológicos perigosos, entre outras.
A partir daí, o termo “biossegurança” foi sofrendo alterações. Na década de 1970, a Organização
Mundial da Saúde a definia como “práticas preventivas para o trabalho com agentes patogênicos para
o homem” (WHO apud COSTA; COSTA, 2002).
O foco voltava‑se para a saúde do trabalhador frente aos riscos biológicos no ambiente ocupacional.
Já na década de 1980, a própria OMS incorporou a essa definição os chamados riscos periféricos
presentes em ambientes laboratoriais que trabalhavam com agentes patogênicos para o homem, como
os riscos químicos, físicos, radioativos e ergonômicos.
Nos anos 1990, verificamos que a definição de biossegurança sofreu mudanças significativas. Em
um seminário realizado no Instituto Pasteur, em Paris, foi observada a inclusão de temas, como ética
em pesquisa, meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante, em
programas de biossegurança (COSTA; COSTA, 2002).
No Brasil, por iniciativa do então senador Marco Antônio Maciel, um Projeto de Lei de Biossegurança foi
submetido à aprovação do Congresso Nacional em 1989. O conhecimento e o interesse por essa área, no
entanto, só foram fortalecidos com a Convenção sobre a Diversidade Biológica, aprovada em 1992 durante
a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92 ou Rio 92.
Um maior interesse por normas definidas para o manuseio e uso de organismos geneticamente
modificados (OGM), mais conhecidos como organismos transgênicos, partiu de instituições de pesquisa
que desenvolviam atividades de engenharia genética. Em maio de 1994, a Embrapa Recursos Genéticos
e Biotecnologia (Cenargen), com apoio da Unido/ICGEB, organizou o primeiro workshop internacional
sobre organismos transgênicos no Brasil. Participantes de instituições de pesquisa e empresas privadas
do Brasil e de outros países da América Latina receberam instruções sobre aspectos de biossegurança
de organismos transgênicos e debateram o desenvolvimento de regulamentação desse setor na região.
Foi formado um grupo de trabalho que incluía a Embrapa, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a
Associação Brasileira de Empresas de Biotecnologia (Abrabi) para acompanhar as discussões do Projeto
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BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
de Lei de Biossegurança no Congresso Nacional, com o apoio do seu relator na Câmara dos Deputados,
o deputado Sérgio Arouca.
O resultado desse trabalho, que também contou com o apoio de empresas privadas, culminou com
a aprovação da Lei de Biossegurança em dezembro de 1994, a qual veio a ser a primeira lei sancionada
pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, a Lei nº 8.794, de 6 de janeiro de
1995. O decreto regulamentador da lei, Decreto nº 1.974, elaborado por uma comissão interministerial
presidida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, foi publicado em dezembro de 1995.
Seu escopo limitou‑se ao uso da engenharia genética, ou uso da técnica do DNA/RNA recombinante,
para a troca de material genético entre organismos vivos. Outras técnicas biotecnológicas, como fusão
celular e cultura de tecidos, não foram incluídas. Porém, por não abordar assuntos polêmicos, como
o uso terapêutico de células‑tronco embrionárias e a autorização para o uso comercial de alimentos
transgênicos, a Lei nº 8.794/95 foi revogada e substituída pela Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005.
Observação
Esta lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo,
a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento,
a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGMs e seus
derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia,
a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal e a observância do princípio da precaução para a
proteção do meio ambiente.
Ela regulamenta os incisos II, IV e V do § 1, do art. 225 da Constituição Federal. Esse artigo diz
que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo‑se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê‑lo
e preservá‑lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).
11
Unidade I
A Norma Regulamentadora 32, conhecida como NR‑32, é uma legislação do Ministério do Trabalho e
Emprego, que tem como objetivo principal prevenir os acidentes e o adoecimento causado pelo trabalho
nos profissionais de saúde, através da eliminação ou do controle das condições de risco presentes nos
serviços de saúde.
Essa norma estabelece quais são as medidas necessárias para proteger a segurança e a saúde dos
trabalhadores de saúde, em qualquer serviço de saúde, inclusive aqueles que trabalham em escolas,
realizando pesquisas ou na atividade direta de docência. Dessa maneira, esta legislação abrange todas
as instituições que sejam destinadas às ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, assistência
e recuperação, além das atividades de pesquisa e ensino em saúde.
A NR‑32 recomenda a capacitação dos trabalhadores para o trabalho seguro, além de determinar a
adoção de medidas preventivas para cada situação de risco.
Essa regulamentação deve ser seguida dentro da instituição de saúde, não apenas pelos seus
trabalhadores próprios, mas também por empregados de empresas terceirizadas, cooperativas e
prestadores de serviço.
Lembrete
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BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• NR‑17 – Ergonomia.
Além da interação com outras Normas, a NR‑32, também se relaciona com outros programas, como:
Plano de Proteção Radiológica (PPR); Programa de Gerenciamento de Resíduos nos Serviços de Saúde
(PGRSS); Programa Nacional de Imunização (PNI‑MS); Programa de Controle de Infecção Hospitalar, e
com a RDC‑50 da Anvisa, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação,
elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.
Saiba mais
A NR‑32 regulamenta quais devem ser os cuidados após acidentes perfurocortantes, e em relação a
esses acidentes, os profissionais mais expostos são os de enfermagem, pois:
13
Unidade I
Para a diminuição desse tipo de acidente, a NR‑32 determina que são vedados o reencape e a
desconexão manual das agulhas, visto o alto risco de transmissão pelos vírus da Hepatite B e C e do HIV.
A NR‑32 também determina que os trabalhadores, de qualquer categoria, com feridas ou lesões nos
membros superiores só poderão ter suas atividades liberadas após avaliação médica obrigatória com
emissão de documento de liberação para o trabalho.
• O ato de fumar.
O empregador ainda deve providenciar locais apropriados para o fornecimento de vestimentas limpas
e para a deposição de usadas, e o empregado não deve deixar o local de trabalho com os equipamentos
de proteção individual, bem como as vestimentas utilizadas nos locais de trabalho.
A recomendação da Anvisa pela RDC 220 é que em casos de acidentes com quimioterápicos deve‑se:
• Proibir que os trabalhadores expostos realizem atividades com possibilidade de exposição aos
agentes ionizantes.
• Fornecer aos trabalhadores avental confeccionado com material impermeável, com frente resistente
e fechado nas costas, mangas compridas e com punho justo, quando no preparo e administração.
No artigo das definições, a Lei nº 11.105/2005 explica diversos termos técnicos como:
• Organismo – toda entidade biológica capaz de reproduzir ou transferir material genético, inclusive
vírus e outras classes que venham a ser conhecidas.
• ADN e ARN – material genético que contém informações determinantes dos caracteres
hereditários transmissíveis à descendência.
15
Unidade I
Essa lei não se aplica quando a modificação genética for obtida por meio de diversas técnicas de
manipulação celular, desde que não impliquem a utilização de OGM como receptor ou doador.
Note que, para ser um OGN, o organismo deve ser resultado de técnicas utilizando ADN/ARN
recombinante.
Essa lei também permite, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células‑tronco embrionárias
obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo
procedimento, atendidas as seguintes condições:
IV – clonagem humana;
16
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Compete ao CNBS:
[...]
17
Unidade I
A CTNBio é o órgão que acompanha o desenvolvimento e o progresso técnico e científico nas áreas
de biossegurança, biotecnologia, bioética e afins, com o objetivo de aumentar sua capacitação para a
proteção da saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.
c) Ministério da Saúde;
18
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
g) Ministério da Defesa;
[...]
Compete à CTNBio:
2 SIMBOLOGIA EM BIOSSEGURANÇA
O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho
acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente.
21
Unidade I
26.1.4 O uso de cores deve ser o mais reduzido possível, a fim de não
ocasionar distração, confusão e fadiga ao trabalhador (BRASIL, 2011b).
• Vermelho.
• Amarelo.
• Branco.
• Preto.
• Azul.
• Verde.
• Lilás.
• Cinza.
• Alumínio.
• Marrom.
• Púrpura.
22
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
O quadro a seguir faz um resumo de qual é a indicação de cada cor e suas características:
Quadro 1
A seguir apresentamos alguns símbolos que devem ser padronizados e de fácil visualização, de
maneira a prevenir acidentes e minimizar riscos e danos.
Sinais de perigo
• Em formato triangular.
23
Unidade I
24
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Forma circular.
25
Unidade I
• Forma circular.
Figura 20 – Proteção obrigatória para os olhos Figura 21 – Proteção obrigatória para a cabeça
Figura 22 – Proteção obrigatória nos ouvidos Figura 23 – Proteção obrigatória nas mãos
26
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Figura 26 – Ducha de segurança Figura 27 – Indicação de direção para uma saída de emergência
27
Unidade I
Quando um laboratório adquire um produto químico no Brasil, o recipiente desse produto deve
possuir um rótulo contendo informações de acordo com o especificado na norma NBR 14725.
Essas informações devem ser breves, precisas, redigidas em terminologia simples e de fácil
compreensão. Essas informações são necessárias para que se evitem riscos resultantes de uso,
manipulação e armazenagem inadequadas do produto.
Para que quaisquer tipos de riscos e danos advindos da manipulação de diversos produtos sejam
minimizados, é importante que o rótulo do produto sempre contenha:
• Perigo.
• Cuidado.
• Atenção.
• Indicação de risco.
• Medidas preventivas.
Primeiros socorros
A rotulagem sempre deve ser instituída como garantia de que com o uso de símbolos e textos de
avisos adequados as precauções de segurança serão aplicadas corretamente.
A NR‑32 determina que deve ser mantida a rotulagem original do fabricante nas embalagens dos
produtos químicos utilizados em serviços de saúde.
28
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Normalmente, esses produtos vêm em frascos de grande porte, o que torna impraticável o seu uso
em bancadas de trabalho. Nesse caso, o trabalhador precisará fracionar o material e acondicioná‑lo em
um novo frasco.
Da mesma forma, quando é necessário fazer uma mistura, uma solução ou qualquer outro tipo
de preparação, também pode ser preciso o acondicionamento dos produtos em frascos específicos
para uso posterior.
Esses frascos podem se tornar um grande perigo, pois, com o acúmulo de vários frascos, o trabalhador
poderá não identificar mais seus conteúdos.
Cada laboratório possui, especificado nas suas rotinas de trabalho, algum procedimento de rotulagem
de fracionamentos, porém algumas informações são fundamentais. Todos esses frascos devem conter
um rótulo com as seguintes informações:
• Nome do produto.
• Quem o preparou.
• Data de preparo.
• Data de validade.
Observação
É perigoso reutilizar o frasco de um produto rotulado para guardar qualquer outro diferente, ou
mesmo colocar outra etiqueta sobre a original. Isso pode causar acidentes.
De acordo com a NR‑32, todo recipiente que contenha produto químico que tenha sido manipulado
ou fracionado deve ser identificado, de forma legível, por etiqueta com o nome do produto, composição
química, concentração, data do envasamento e sua validade, além do nome do responsável pela
manipulação ou fracionamento.
29
Unidade I
A seguir vamos encontrar os principais símbolos que devem ser padronizados nas embalagens
e rotulagens.
Todo material contaminado deve ser coletado em separado do lixo comum. Esse material deve ser
recolhido em sacos plásticos brancos com o símbolo de risco biológico. Esse símbolo é internacional e,
no Brasil, é reconhecido na norma NBR 7500:2003.
Figura 32
Caso haja necessidade de armazenamento desses resíduos, estes devem ser depositados em baldes
de lixo que apresentem a indicação de lixo contaminado não autoclavado.
Resíduos líquidos devem conter a descrição da natureza do soluto e do solvente, com respectivas
concentrações. A informação deve ser a mais exata possível.
Os rótulos ou etiquetas aplicados sobre uma embalagem devem conter em seu texto as informações
necessárias para que o produto ali contido seja tratado com toda a segurança possível.
30
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Figura 33
• Tóxicos (T):
— Classificação: são agentes químicos que, ao serem introduzidos no organismo por inalação,
absorção ou ingestão, podem causar efeitos graves e/ou mortais.
— Precaução: evitar qualquer contato com o corpo humano e observar cuidados especiais com
produtos cancerígenos, teratogênicos ou mutagênicos.
Figura 34
— Classificação: a inalação, ingestão ou absorção através da pele provoca danos muito graves à
saúde na maior parte das vezes ou mesmo a morte.
— Precaução: evitar qualquer contato com o corpo humano e observar cuidados especiais com
produtos cancerígenos, teratogênicos ou mutagênicos.
31
Unidade I
• Corrosivo (C):
— Classificação: esses produtos químicos causam destruição de tecidos vivos e/ou materiais inertes.
— Precaução: não inalar os vapores e evitar o contato com a pele, os olhos e o vestuário.
Figura 35
• Oxidante (O):
— Classificação: são agentes que desprendem oxigênio e favorecem a combustão. Podem inflamar
substâncias combustíveis ou acelerar a propagação de incêndio.
5.1
Figura 36
• Nocivo (Xn):
— Classificação: são agentes químicos que, por inalação, absorção ou ingestão, produzem efeitos
de menor gravidade.
— Precaução: evitar qualquer contato com o corpo humano e observar cuidados especiais com
produtos cancerígenos, teratogênicos ou mutagênicos.
32
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Figura 37
• Irritante (Xi):
— Classificação: esse símbolo indica substâncias que podem desenvolver ação irritante sobre a
pele, os olhos e o trato respiratório.
• Explosivo (E):
— Classificação: são agentes químicos que, pela ação de choque, percussão ou fricção, produzem
centelhas ou calor suficiente para iniciar um processo destrutivo por meio de violenta liberação
de energia.
Figura 38
Essa simbologia foi proposta pela NFPA – Associação Nacional dos EUA para proteção contra
incêndios – por meio da norma NFPA 704 e é adotada internacionalmente.
• Riscos específicos.
• Risco à saúde.
• Reatividade.
• Inflamabilidade.
Inflamabilidade
Riscos específicos
Riscos à saúde:
Riscos específicos:
COR – Corrosivo.
Inflamabilidade:
4 – Gases inflamáveis, líquidos muito voláteis (ponto de fulgor abaixo de 23 ºC, gás propano).
3 – Substâncias que entram em ignição à temperatura ambiente (ponto de fulgor abaixo de 38 ºC, gasolina).
2 – Substâncias que entram em ignição quando aquecidas moderadamente (ponto de fulgor abaixo
de 93 ºC, diesel).
1 – Substâncias que precisam ser aquecidas para entrar em ignição (ponto de fulgor acima de 93 ºC,
óleo de milho).
0 – Substâncias que não queimam (água).
Reatividade:
4 – Pode explodir.
3 – Pode explodir com choque mecânico ou calor.
2 – Reação química violenta.
1 – Instável se aquecido (fósforo branco ou vermelho).
0 – Estável (nitrogênio líquido).
Por exemplo:
Se estiverem contidos em um frasco álcool etílico (cujos números referentes a riscos são – azul =
0, vermelho = 3 e amarelo = 0) e acetonitrila (azul = 2, vermelho = 3 e amarelo = 0), constata‑se, por
meio desses números, que a substância mais perigosa delas é a acetonitrila e que os números com os
quais deve ser preenchido o diamante são os referentes a esta substância, mesmo que esteja presente
em menor quantidade no frasco. Como a acetonitrila não possui riscos específicos, o diamante deve
ficar da seguinte forma:
2 0
35
Unidade I
Risco de fogo
4 - Abaixo de 22 ºC
3 - Abaixo de 38 ºC
2 - Abaixo de 94 ºC
1 - Acima de 94 ºC
0 - Não é inflamável
Risco específico
Oxidente OX
Ácido ACID
Álcalis ALK
Corrosivo COR
Não use água W
Radiotivo
Figura 41
Existe uma crescente preocupação com a maneira pela qual o ambiente físico
influi no comportamento humano – tanto o construído como o natural, [e]
determinadas qualidades associadas a um ambiente particular podem ter
amplo efeito sobre o comportamento e a personalidade do indivíduo.
36
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Entendendo que o ambiente é uma somatória de diversos subsistemas, todas as suas dimensões –
físicas, estruturais, materiais, humanas – tanto em qualidade quanto em quantidade poderão ser fatores
determinantes e desencadeantes de alterações no comportamento humano.
A criação de um programa responsável pela segurança e saúde no trabalho deve ser de interesse das
empresas privadas e públicas. Com o objetivo de prevenir afastamentos, aposentadorias e indenizações,
é menos custoso à empresa, já que deve ter como objetivo principal ser um projeto educativo dentro
da instituição, para que o funcionário também tenha a consciência de sua responsabilidade pela sua
segurança, de seus colegas e de sua família.
Boas práticas são procedimentos seguros de trabalho, tanto para o trabalhador quanto para o objeto de
trabalho. Isso é muito importante quando estamos tratando de atividades profissionais na área da saúde.
Todas as atividades relacionadas à saúde possuem riscos inerentes, pois expõem tanto o profissional
quanto o objeto de trabalho a microrganismos patogênicos, substâncias perigosas ou animais agressivos.
A expressão “boas práticas” vem geralmente associada a uma identificação do ramo de trabalho
– boas práticas de fabricação, boas práticas de laboratório, boas práticas de preparação etc. Porém, o
conceito é o mesmo, sofrendo adaptações de acordo com as necessidades de cada ramo profissional.
Essas práticas são sempre preventivas e incluem todos os aspectos da cadeia operacional, e, apesar
de alguns procedimentos serem específicos de cada tipo de operação, alguns fatores são universais e
sempre devem ser observados, como:
• Higiene pessoal.
Essa resolução tem como principal objetivo “estabelecer requisitos de boas práticas para
funcionamento de serviços de saúde, fundamentados na qualificação, na humanização da atenção e
gestão, e na redução e controle de riscos aos usuários e meio ambiente” (BRASIL, 2011a).
A regulamentação deve ser aplicada a todos os serviços de saúde do país, sejam eles públicos, privados,
filantrópicos, civis ou militares, incluindo aqueles que exerçam as atividades de ensino e pesquisa.
o serviço de saúde deve ser capaz de ofertar serviços dentro dos padrões
de qualidade exigidos, atendendo aos requisitos das legislações e
regulamentos vigentes.
38
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
b) ambientes identificados;
Dentro de um laboratório químico, encontram‑se vários elementos de risco aos seus usuários, tais
como: máquinas, manuseio de materiais de vidro, uso da eletricidade, incêndio, explosão e exposição a
substâncias químicas nocivas ao organismo humano.
Sendo assim, a prática de laboratório exige que regras de segurança sejam rigorosamente seguidas,
a fim de se evitarem prejuízos materiais e, principalmente, riscos à integridade física sua e dos outros à
sua volta.
O profissional em ação deve, portanto, adotar sempre uma atitude atenciosa, cuidadosa e metódica
em tudo o que faz. Deve, particularmente, concentrar‑se no seu trabalho e não permitir qualquer
distração enquanto trabalha. Da mesma forma, não deve distrair os demais desnecessariamente.
Um acidente em um laboratório químico quase nunca fica restrito apenas a uma pessoa. O trabalhador
deve estar ciente de que é responsável tanto pela sua segurança quanto pela dos seus colegas.
Use um avental
• Use um avental de mangas compridas, na altura dos joelhos e fechado, calças compridas e calçados
fechados de modo a proteger pelo menos até o peito do pé
• As roupas são a primeira linha de defesa do corpo contra os acidentes. São uma barreira
física, principalmente, contra respingos e derramamentos de líquidos. Imagine, por exemplo, o
tombamento de uma proveta contendo ácido clorídrico sobre o tórax do trabalhador. Obviamente,
o tecido do avental não suportará o ataque do ácido por muito tempo, mas este será suficiente
39
Unidade I
para que o trabalhador retire o avental antes que o líquido se propague pelo seu corpo. O mesmo
vale para a calça comprida e o calçado.
• Pela mesma razão, não faz sentido usar o avental aberto e com as mangas arregaçadas.
• Não use relógios, pulseiras, anéis ou quaisquer ornamentos durante o trabalho no laboratório, e
cabelos compridos devem ser presos na forma de coque ou recobertos por touca.
• Vários produtos químicos são voláteis, mesmo à temperatura ambiente. Os vapores liberados
por eles podem se depositar entre os adornos e a pele do trabalhador, provocando alergias ou
queimaduras mais graves.
• O cabelo também absorve esses vapores, podendo se danificar ou ficar com cheiros desagradáveis.
• Os metais de relógios e outros tipos de adornos podem mudar de cor devido ao ataque de
produtos químicos.
• Considerando o que esses vapores podem fazer com a pele e com os metais, imagine o que podem
fazer com uma lente de contato nos olhos. Como agravante, alguns produtos, como os ácidos e
a amônia, são hidrofílicos, ou seja, são atraídos para a água. Isso significa que a umidade natural
dos olhos vai atrair esses vapores e potencializar seus efeitos.
Lembrete
Não use avental, luvas ou qualquer outro EPI fora do lugar de trabalho
• Ir a refeitórios e restaurantes ou, ainda, usar o transporte coletivo vestindo aventais e luvas gera o
risco de contaminar esses ambientes, a comida ou outros usuários com esses produtos químicos.
A NR‑6 é muito clara sobre esse impedimento ao afirmar, no item 6.7.1, que é obrigação do empregado
usar o EPI “apenas para a finalidade a que se destina” (BRASIL, 1978).
40
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
A NR‑32 também trata do assunto no item 32.2.4.6.2, afirmando que “os trabalhadores não devem
deixar o local de trabalho com os equipamentos de proteção individual e as vestimentas utilizadas em
suas atividades laborais” (BRASIL, 2005).
Além disso, no estado de São Paulo vigora a Lei nº 14.466, de 8 de junho de 2011, conhecida como
Lei do Jaleco, que proíbe o uso de EPIs fora do local de trabalho para trabalhadores da área da saúde,
sob pena de multa.
• A pele e as mucosas são as vias de acesso das contaminações por produtos químicos, por isso,
nunca teste amostras ou reagentes pelo sabor ou odores, nem leve a mão à boca ou aos olhos
quando estiver manuseando produtos químicos.
Um acidente comum é o trabalhador se esquecer de que está de luvas e que está manipulando
produtos perigosos e coçar os olhos, atender o celular, manipular maçanetas ou cumprimentar pessoas.
Ao fazê‑lo, pode contaminar as superfícies com traços do produto químico manipulado. Por isso, é
sempre muito importante lavar as mãos após a manipulação de qualquer produto químico.
Uma simples mistura de produtos de limpeza doméstica pode resultar em gases tóxicos ou explosões.
Nunca jogue reagentes ou resíduos de reações na pia. Ao final de cada trabalho, as vidrarias utilizadas
devem ser esvaziadas nos frascos de descarte e enxaguadas antes de ser enviadas para limpeza.
Todo acidente com reagentes deve ser limpo imediatamente, protegendo‑se, se necessário. No caso
de ácidos e bases, devem‑se neutralizá‑los antes da limpeza. O esquecimento de uma poça de algum
reagente pode resultar em queimaduras graves.
É perigoso reutilizar o frasco de um produto rotulado para guardar qualquer outro diferente, ou
mesmo colocar outra etiqueta sobre a original. Isso pode causar acidentes, e quando for encontrada
uma embalagem sem rótulo, não tente adivinhar o que há em seu interior. Se não houver possibilidade
de identificação, descarte o produto.
41
Unidade I
• Certifique‑se, ao acender uma chama, de que não existem solventes próximos e destampados,
especialmente aqueles mais voláteis (éter etílico, éter de petróleo, hexano, dissulfeto de carbono,
benzeno, acetona, álcool etílico, acetato de etila). Mesmo uma chapa ou manta de aquecimento pode
ocasionar incêndios quando em contato com solventes como éter, acetona ou dissulfeto de carbono.
Observação
• Seja cuidadoso sempre que misturar dois ou mais compostos. Muitas misturas são exotérmicas (como
H2SO4 + H2O), ou inflamáveis (como sódio metálico + H2O), ou ainda podem liberar gases tóxicos.
Misture os reagentes vagarosamente e, se necessário, em resfriamento e dentro de uma capela.
• Para temperaturas de trabalho inferiores a 100 °C, use preferencialmente banho‑maria ou banho
a vapor. Para temperaturas superiores a 100 °C, use banhos de óleo. Parafina aquecida funciona
bem para temperaturas de até 220 °C; glicerina pode ser aquecida até 150 °C sem desprendimento
apreciável de vapores desagradáveis. Banhos de silicone são os melhores, mas também os mais caros.
• Uma alternativa quase tão segura quanto os banhos são as mantas de aquecimento. O
aquecimento é rápido, mas o controle da temperatura não é tão eficiente como no uso de banhos
de aquecimento. Mantas de aquecimento não são recomendadas para a destilação de produtos
muito voláteis e inflamáveis, como éter de petróleo e éter etílico.
• Aquecimento direto com chamas sobre a tela de amianto só é recomendado para líquidos não
inflamáveis (por exemplo, água). Todas as substâncias possuem um ponto de fulgor, e a chama
pode inflamar o produto aquecido.
Observação
• Devem ser tomados alguns cuidados especiais com as vidrarias. Vidrarias trincadas, lascadas ou
quebradas devem ser descartadas, pois, apesar de suportar altas temperaturas, o vidro utilizado
em equipamentos de laboratório é muito duro, e os esforços mecânicos provocados por uma
dilatação irregular em uma trinca podem resultar na propagação dessa trinca.
42
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Não deixe vidros, metais ou qualquer outro material, em temperatura elevada, em lugares nos
quais possam ser tocados inadvertidamente; não aqueça tubos de ensaios com a boca virada para
o seu lado ou para o lado de outra pessoa.
• Caso aconteça algum acidente mais grave, como um ferimento nos olhos, um desmaio ou um
derramamento de produtos sobre o corpo, alguém deve estar disponível para promover o socorro
ou acionar as equipes de resgate.
O trabalhador, na área da saúde, está sempre exposto a uma carga contaminante enorme, o que
acaba acarretando um desgaste psicológico. Esse desgaste psicológico pode ser agravado, dependendo
das crenças pessoais e do nível de informação do profissional.
Por isso, antes de qualquer questionamento sobre boas práticas na área da saúde, é de importância
fundamental que o profissional esteja qualificado para a execução do serviço. Mesmo os profissionais de
níveis mais básicos de atuação, como o pessoal de limpeza e hotelaria de hospitais, devem ser capacitados
para lidar com os perigos biológicos.
O uso adequado dos EPIs também é outro problema. Em geral, os EPIs são feios, desconfortáveis
e acabam sendo negligenciados ou, pior ainda, usados de maneira errada, dando uma sensação falsa
de segurança.
• É importante que se lavem as mãos antes e após cada atividade, mesmo que se tenham usado
luvas durante o trabalho. Dependendo do tipo de atividade executada, pode ser que existam
recomendações específicas quanto a esse procedimento.
• Não se pode manipular nada que não seja relacionado ao objeto de trabalho usando luvas. Isso
significa que o trabalhador deve retirar a luva toda vez que precisar abrir uma porta, atender um
telefone ou, principalmente, coçar o olho.
• Perfumes e desodorantes fortes podem causar reações alérgicas em pacientes. Não podem ser usados.
43
Unidade I
• Por melhor que seja a higiene pessoal do trabalhador, cabelos, fios de barba ou pelos são o hábitat
natural de milhões de bactérias. Os cabelos compridos devem ser presos e contidos com rede de
proteção. Pelos expostos e barba não são admissíveis, devendo ser recobertos por protetores de
bigode ou mangotes.
• Esses EPIs, juntamente com o avental, devem ser vestidos imediatamente antes de se entrar na
área de trabalho e retirados imediatamente após a saída. Não se deve circular com EPIs fora das
áreas de trabalho.
• Alguns desses EPIs são descartáveis e devem ser trocados a cada paciente ou cada vez que forem
retirados. Por exemplo: um auxiliar de enfermagem entra em um quarto para trocar a fralda de um
paciente geriátrico. Ele põe a luva descartável e inicia o procedimento. No meio do procedimento,
é chamado para ajudar em um caso mais grave. O auxiliar deve retirar a luva descartável, jogá‑la
no lixo, calçar um novo par de luvas, atender à nova ocorrência, descartar esse segundo par de
luvas e, então, calçar um terceiro par e dar continuidade ao trabalho com o paciente geriátrico.
• Protetores faciais sempre devem ser usados em trabalhos que gerem aerossóis ou respingos.
• Podem existir milhares de microrganismos em uma minúscula gotícula de água, que, quando
aspergida pelo ar, pode entrar no sistema respiratório do profissional e provocar uma infecção.
• Quando se pensa em perfurocortantes, as primeiras coisas que vêm à mente são agulhas e cacos
de vidro. De fato, a maioria dos materiais perfurocortantes gerados em um atendimento à saúde
são agulhas e vidros, mas não são os únicos. Escalpes, conexões, lâminas e diversos dispositivos de
uso odontológico como brocas e limas fazem parte desse grupo.
• Nunca reencape agulhas. Elas não devem ser removidas ou entortadas. Caso o procedimento
exija manipulação mais prolongada de agulhas, ele deve ser feito com o máximo de atenção,
evitando‑se distrações.
• Cacos de vidro devem ser recolhidos com o auxílio de vassouras. Nunca utilize panos ou as mãos,
mesmo que protegidas por luvas. Os cacos de vidro cortam a borracha facilmente.
44
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Jamais trabalhe em um ambiente junto com o pessoal da limpeza. O processo de limpeza pode
gerar aerossóis. Aguarde alguns minutos antes de retomar o trabalho no local, para que os
aerossóis se depositem nas superfícies novamente.
A Resolução da Anvisa RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004, trata especificamente das boas
práticas para serviços de alimentação. Essa resolução é, por si só, um manual básico de boas práticas de
manipulação de alimentos para restaurantes e similares.
Para a indústria, funciona a Portaria SVS/MS nº 326, de 30 de julho de 1997, baseada em normas
internacionais e atende os pré‑requisitos para exportação no Mercosul. Essa Portaria estabelece as
condições sanitárias e de boas práticas para indústrias de alimentos.
Seguem algumas recomendações de pré‑requisitos, ou seja, não lidam diretamente com o alimento,
mas fazem parte das boas práticas de sua fabricação.
• A água utilizada para cozinhar, beber, fazer gelo, lavar frutas, legumes e verduras deve ser
sempre potável.
• Além disso, a caixa d’água deve ser limpa periodicamente e suas condições sempre verificadas –
se está totalmente tampada, se não há rachaduras ou infiltrações e se está afastada de fossas e
depósitos de lixo.
• Pragas, como baratas, formigas, ratos e moscas, devem ser sempre eliminadas do local onde se
manipulam alimentos e, principalmente, se deve evitar a presença delas, não deixando restos de
alimentos expostos nem lixeiras abertas próximas ou no local em que se manipulam alimentos.
• Tomar banho e trocar de roupas diariamente, lavar a cabeça, escovar os dentes após as refeições,
manter unhas curtas, limpas e sem esmalte, manter os cabelos presos e não usar adornos são
hábitos que devem ser praticados por todos.
• Além disso, lavar as mãos sempre após usar o banheiro, quando mexer no lixo ou trocar de tarefa
previne contra contaminantes biológicos.
• Todo o ambiente de uma empresa que produz ou manipula alimentos deve estar sempre limpo.
• Pessoas doentes, com feridas nas mãos, diarreias ou disenteria não devem manipular alimentos
até que fiquem melhores.
46
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Todas as matérias‑primas devem ser adquiridas de fornecedores idôneos, ou seja, sua origem deve
ser conhecida. Caso contrário, os riscos de o consumidor vir a adquirir uma doença ou morrer são
muito grandes.
• Por isso, alguns itens devem ser avaliados quando se compra um alimento:
— As embalagens não devem estar amassadas, estufadas, com espuma, apresentando vazamento,
trincadas ou rasgadas.
• Na área de circulação, não pode haver cruzamento dos fluxos das áreas sujas e das áreas limpas.
• As áreas sujas são aquelas com critérios menos rigorosos de limpeza; as áreas limpas, por sua vez,
possuem critérios mais rigorosos nesse sentido.
• Para saber qual lote deve ser recolhido do mercado, alguns pontos devem ser considerados:
— a identificação do lote;
47
Unidade I
A higiene ocupacional pode ser entendida como uma disciplina da área tecnológica, voltada para
o estudo e a aplicação de métodos para a prevenção de acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e
outras formas de agravos à saúde do trabalhador. Cabe à higiene ocupacional, juntamente com outros
conhecimentos, por exemplo, o de ergonomia, identificar os fatores de riscos que levam à ocorrência
de acidentes e doenças ocupacionais, avaliar seus efeitos na saúde do trabalhador e propor medidas de
intervenção técnica a serem implantadas nos ambientes de trabalho.
Entretanto, não existem ainda diretrizes para que haja uma formação padronizada de profissionais
que possam ser qualificados como higienistas ocupacionais.
De qualquer forma, é fato que os profissionais que estão diretamente ligados a atividades de
segurança devem ser familiarizados aos conhecimentos necessários sobre a higiene ocupacional para
sua formação e experiência nesse campo.
Prever (antecipar) fatores de risco para a saúde e o meio ambiente que podem
estar associados aos diferentes tipos de trabalho e atuar para preveni‑los já
nas etapas de planejamento e projeto de processos (incluindo equipamentos,
matérias‑primas, produtos químicos etc.) e locais de trabalho.
Ainda segundo a autora, os higienistas ocupacionais devem ter atenção especial para que aconteça
principalmente a prevenção primária de riscos, sempre com a participação dos trabalhadores e com o
desenvolvimento de uma política de gestão participativa para a resolução dos problemas encontrados,
para que as soluções possam ser aplicáveis.
Os primeiros registros sobre infecção hospitalar remontam ao ano de 325 d.C., quando os
bispos do Concílio de Niceia, sob a liderança do imperador Constantino, determinaram que se
construísse um hospital em cada catedral. Nesses ambientes, percebeu‑se que a concentração de
pessoas doentes facilitava a disseminação de doenças. O atendimento aos enfermos ficou a cargo
da Igreja durante toda a Idade Média, quando a prática médica era executada sem vínculos com
o hospital (LACERDA et al., 1992).
Porém, somente na segunda metade do século XIX, com o trabalho de Semmelweis sobre o problema
da febre puerperal no Hospital Geral de Viena, é que se começou uma abordagem científica sobre a
questão da infecção. Esse hospital possuía duas alas muito próximas uma da outra. Uma era a escola,
frequentada por estudantes de medicina e parteiras. A outra ala era atendida apenas por parteiras. A ala
escola possuía uma incidência de febre puerperal muito maior do que a outra. Essa incidência superava
até mesmo a das mulheres que davam à luz em casa ou mesmo na rua.
Esse fato ocorreu algumas décadas antes dos trabalhos de Pasteur e Koch, que lançaram as bases
da microbiologia, então ainda não se tinha ideia sobre os perigos biológicos, e as hipóteses levantadas
49
Unidade I
sobre as causas das diferentes taxas de mortalidade foram as mais diversas, incluindo questionamentos
sobre o trajeto que o padre fazia antes de chegar ao leito das mulheres moribundas.
A luz sobre o assunto surgiu em 1847, quando um dos alunos que trabalhava no hospital se feriu ao
fazer uma necropsia e morreu com sintomas semelhantes ao da febre puerperal. Semmelweis atribuiu
essa mortalidade à introdução de material cadavérico na corrente sanguínea das pacientes e passou a
obrigar os médicos e estudantes a lavarem as mãos com uma solução de cal clorada antes de proceder
a qualquer exame. Apesar dos protestos feitos pelos médicos e estudantes, a mortalidade caiu de 11,4%,
em 1846, para 1,27%, em 1848 (OLIVEIRA; FERNANDEZ, 2007).
Segundo Lacerda et al. (1992), historicamente, a prática no controle de infecções está focada em
ações exógenas, isto é, considerando‑se causas externas, o que resultou na criação de inúmeras técnicas
de assepsia, desinfecção e esterilização que, muitas vezes, carecem de comprovação científica. Para essa
autora, isso abre um mercado enorme para as indústrias de produtos químicos e farmacêuticos, o que
pode resultar em riscos ocupacionais decorrentes da toxidade dos produtos se ações publicitárias forem
associadas a profissionais pouco preparados.
Além disso, as causas exógenas não são as únicas que podem provocar infecções hospitalares. Então,
a questão das doenças infecciosas não é a simples falta de higiene. O corpo humano é o hábitat natural
de diversos microrganismos, alguns deles patogênicos. Muitos deles estão do lado de fora do indivíduo,
sobre a pele e cabelos, por exemplo, mas existem microrganismos dentro do nosso corpo também – no
intestino, no estômago, nas vias aéreas etc. Em um indivíduo sadio, esses microrganismos estão em
equilíbrio com o meio e a sua população não cresce. Mas, se por alguma razão tal equilíbrio é rompido,
essa população pode crescer e se desenvolver, resultando numa infecção.
Dessa maneira, a higienização das mãos é a medida individual mais simples e menos dispendiosa
para prevenir a propagação das infecções relacionadas à assistência à saúde.
O termo “lavagem das mãos” foi substituído por “higienização das mãos” devido à maior abrangência
desse procedimento, pois engloba a higienização simples, a higienização antisséptica, a fricção
antisséptica e a antissepsia cirúrgica das mãos.
Conforme discutido, as infecções em ambiente hospitalar estão, na maioria das vezes, associadas a
procedimentos inadequados que levam microrganismos para dentro do corpo.
• Quando as mãos estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com sangue e outros fluidos corporais.
• Após ir ao banheiro.
A higienização simples das mãos tem como finalidade remover os microrganismos que colonizam as
camadas superficiais da pele, assim como o suor, a oleosidade e as células mortas, retirando a sujidade
propícia à permanência e à proliferação de microrganismos. Sua duração deve ser de 40 a 60 segundos.
É importante que no caso de torneiras com contato manual para fechamento, sempre se utilize
papel‑toalha. O uso coletivo de toalhas de tecido é contraindicado, pois estas permanecem úmidas,
favorecendo a proliferação bacteriana. Deve‑se evitar água muito quente ou muito fria na higienização
das mãos, a fim de prevenir o ressecamento da pele.
• Antes de calçar luvas para inserção de dispositivos invasivos que não requeiram preparo cirúrgico:
• Ao mudar de um sítio corporal contaminado para outro, limpo, durante o cuidado ao paciente:
— Ressalta‑se que esta situação não deve ocorrer com frequência na rotina profissional. Devem‑se
planejar os cuidados ao paciente iniciando a assistência na sequência: sítio menos contaminado
para o mais contaminado.
52
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
— As luvas previnem a contaminação das mãos dos profissionais de saúde e ajudam a reduzir a
transmissão de patógenos. Entretanto, elas podem ter microfuros ou perder sua integridade
sem que o profissional perceba, possibilitando a contaminação das mãos.
• Outros procedimentos:
Lembrete
É essencial que o uso de luvas aconteça apenas quando indicado, pois o seu uso não substitui
a higienização das mãos. Nunca toque desnecessariamente superfícies e materiais (como telefone,
maçanetas) quando estiver com as luvas.
• Degermação da pele:
— No pré‑operatório, antes de qualquer procedimento cirúrgico (indicado para toda equipe cirúrgica).
53
Unidade I
A figura a seguir apresenta os locais que frequentemente são mais esquecidos na higienização
das mãos:
Figura 42
A próxima figura apresenta a formas corretas de higienização das mãos com a utilização de
preparação alcoólica e com água e sabão.
54
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Figura 43
Apesar de a maioria dos procedimentos de boas práticas ser simples e derivada do bom senso, é de
importância fundamental que seja padronizada, de modo que o processo operacional seja mantido sob
rigoroso controle.
55
Unidade I
Essa padronização aparece dentro do ambiente de trabalho na forma de dois documentos: o Manual
de boas práticas e o Procedimento Operacional Padronizado.
O Manual de boas práticas é um documento que descreve, em linhas gerais, o trabalho executado
no estabelecimento e as diretrizes para a forma correta de fazê‑lo. Nele, podem‑se ter informações
gerais sobre como é feita a limpeza, o controle de pragas, a água utilizada, os procedimentos de higiene
e controle de saúde dos funcionários, o treinamento de funcionários, o que fazer com o lixo e como
garantir a produção de alimentos seguros e saudáveis.
Essa documentação tem que estar acessível a todos os envolvidos no procedimento operacional, de
modo que, perante a menor dúvida na operação, todos possam consultar os manuais.
O Michaelis – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa define o verbete perigo como “situação que
ameaça a existência ou integridade de uma pessoa ou coisa; risco, inconveniente” (MICHAELIS, 2008).
Porém, dentro deste estudo, faremos uma diferenciação entre perigo e risco:
• Perigo é qualquer agente que cause dano à saúde ou à integridade física das pessoas.
Por exemplo, ao se atravessar a rua, existe o perigo do atropelamento. Se for uma rua com pouco
movimento (probabilidade baixa), na qual os carros passam em baixa velocidade (severidade do
atropelamento baixa), o risco de se atravessar a rua é baixo. Se for uma rodovia muito movimentada,
com carros em alta velocidade, o risco da travessia é alto.
Essa diferenciação entre perigo e risco é útil particularmente para quem trabalha com alimentos.
O conceito de risco deve ser observado sob duas vertentes: o risco quantitativo, que é o risco
matemático, indicando qual é a probabilidade de acontecer, no qual iremos numerar quantos acidentes
podemos ter em uma determinada situação; e o risco qualitativo, que será indicado pela condição do
processo de trabalho (MATTOS; MASCULO, 2011).
56
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Para classificar o tipo de um risco, precisamos primeiro entender que estes podem ser classificados
de maneiras diferentes. Segundo Odonne (apud MATTOS; MASCULO, 2011), os riscos em um ambiente
podem ser classificados em quatro grupos:
• Fatores ambientais – que podem interferir na condição de trabalho no ambiente interno e externo,
por exemplo, o calor e a luz.
• Atividade muscular.
Outra forma de classificação é aquela descrita nas legislações, e que são recomendadas para a
formação dos Mapas de Risco, estabelecendo quais são os riscos mecânicos, físicos, químicos, biológicos
e ergonômicos.
• Agentes físicos – são as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores,
tais como ruídos, vibração, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes,
radiações não ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom.
57
Unidade I
• Agentes biológicos – são os bacilos, bactérias, fungos, protozoários, parasitas, vírus, entre outros.
• Agentes ergonômicos – são os agentes caracterizados pela falta de adaptação das condições de
trabalho às características psicofisiológicas do trabalhador.
A maioria dos autores define a classificação dos perigos por meio de exemplos, sem se aprofundar
em explicações sobre os critérios de classificação. Além disso, dependendo da sua área de trabalho, o
autor pode priorizar uma ou outra necessidade – um biólogo não considera um inseto da mesma forma
que um nutricionista. Isso acaba causando divergências quanto à classificação de alguns perigos. Porém,
é importante ressaltar que essa classificação é didática e existe apenas para facilitar o raciocínio sobre
a atividade profissional. Identificar a presença do perigo é muito mais importante do que classificá‑lo.
Para este estudo, consideraremos os perigos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos, e seu critério
de classificação levará em consideração, principalmente, as medidas preventivas.
Risco mecânico pode ser definido como aquela condição que é gerada pelo contato físico do
trabalhador com o agente que pode ser nocivo.
Podemos citar como exemplo de um risco mecânico, a presença de um estilete em uma mesa de
escritório. Esse estilete pode ser utilizado para apontar um lápis ou cortar um papel, mas pelo simples
fato de estar presente no ambiente, já gera um risco para qualquer pessoa que esteja ali.
riscos mecânicos, existem também alterações na estrutura física arquitetônica de um ambiente, como
irregularidades em pisos que, apesar de não causarem uma lesão direta no trabalhador, podem provocar
um acidente, por exemplo, uma queda. Em um ambiente de trabalho, além da estrutura física, a forma
como os ambientes são montados, por exemplo, a disposição dos móveis, a altura de bancadas e armários,
também pode provocar acidentes e lesões se não estiverem dispostos corretamente.
Dessa forma, podemos definir que os riscos mecânicos são todos os fatores que colocam em perigo o
trabalhador ou que afetam sua integridade física ou moral durante o expediente de trabalho. São causas
de acidentes com origens mecânicas que, quando não são fatais, causam a perda de um membro ou, em
casos mais leves, escoriações e queimaduras, mas que podem ocasionar desconfortos morais e psíquicos.
Nos termos da Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994, em seu Anexo 6 da NR5‑Cipa, são
considerados riscos geradores de acidentes: arranjo físico inadequado ou deficiente, máquinas e
equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inadequada,
eletricidade, probabilidade de incêndio ou explosão, animais peçonhentos, armazenamento inadequado
e outras situações de risco que podem contribuir para a ocorrência de acidentes (BRASIL, 1994).
Iluminação inadequada
Ambientes com baixa iluminação, de maneira imprópria para o tipo de atividade profissional, ou de
maneira excessiva que possa causar ofuscamento nos olhos.
Eletricidade
Acidentes originados com energia elétrica por instalação imprópria, com defeito ou exposta, fios
desencapados, falta de sinalização e falta de manutenção.
59
Unidade I
São as áreas com armazenamento inadequado de inflamáveis e/ou gases, manipulação e transporte
inadequado de produtos inflamáveis e perigosos, sobrecarga em rede elétrica, falta de sinalização, falta
de equipamentos de combate a incêndios ou defeituosos, falta da brigada de incêndio, bem como a falta
de seu treinamento e simulados.
Animais peçonhentos
São os acidentes envolvendo animais venenosos com dispositivos inoculadores de veneno, como
cobras, escorpiões, aranhas, lacraias, taturanas, vespas, formigas, abelhas e marimbondos.
Armazenamento inadequado
Para a prevenção de riscos de acidentes, é necessário uma atenção especial e complexa dos
profissionais envolvidos com a segurança do trabalho, devendo‑se observar cada tipo de risco e propor
a respectiva medida de prevenção.
• Todos os trabalhadores devem conhecer os riscos a que estão expostos, bem como serem treinados
quanto às respectivas formas de prevenção e controle.
• Todos os trabalhadores devem estar em perfeitas condições de saúde, a ponto de exercer suas
atividades com total atenção, zelo e profissionalismo.
60
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Além disso:
• As limalhas e as aparas resultantes de processos de maquinação nunca devem ser retiradas com
as mãos; para tal, devem ser utilizados um pincel ou similar, quando elas estiverem secas e, uma
escova de borracha, quando estiverem úmidas ou com gordura.
• Não devem ser utilizados, em nenhuma hipótese, acessórios e adornos pessoais durante o
expediente de trabalho, como anéis, pulseiras, brincos e colares.
• Os cabelos compridos devem ser usados sempre presos e protegidos por uma touca, chapéu ou similar.
• Os trabalhadores não devem utilizar a barba comprida, pois pode ficar presa em elementos da
máquina dotados de movimento, bem como pode atrapalhar o uso da máscara de proteção
respiratória.
Para evitar acidentes com animais peçonhentos, devem‑se verificar as vestimentas antes de
usá‑las, principalmente os trabalhadores da indústria da construção civil, de obras inacabadas, ou
seja, onde houver entulhos e materiais de construção, pois esses animais podem estar presentes
nesse tipo de ambiente.
Os riscos físicos são aqueles causados por agentes que em um ambiente podem alterar suas características
físicas, e que depois dessa alteração podem causar lesões em quem estiver presente no ambiente.
• Causar lesões mesmo que não haja contato direto com sua fonte.
Como exemplos de riscos físicos, podemos citar os ruídos, a iluminação, o calor, vibrações, radiações
e pressão.
Nesse tipo de risco é importante destacar que a condição de causar a agressão ou a lesão estará diretamente
ligada à exposição àquele risco. Esses agentes precisam ter a característica de uma fonte propagadora
progressiva de alterações de sua intensidade, de forma a causar uma lesão transitória ou permanente.
Ruídos
provocar graves prejuízos à saúde do trabalhador em curto, médio e longo prazos. Dependendo do
tempo de exposição, do nível sonoro e da sensibilidade individual, as alterações danosas podem se
manifestar imediatamente ou gradualmente.
• Ruídos de impacto.
Os ruídos contínuos ou intermitentes são aqueles em que se avalia o limite de tolerância. Esses
ruídos são medidos em decibéis (dB), utilizando instrumentos de nível de pressão sonora, com leituras
feitas próximas ao ouvido do trabalhador, operando circuito de compensação “A”.
Sem a proteção necessária, não é permitido que a exposição a ruídos ultrapassem o valor de 115dB (A).
Figura 44
Caso o trabalhador seja exposto a uma atividade com ruídos sonoros superiores a esses valores, se
ele não estiver devidamente protegido, estará exposto a um risco grave e iminente.
Já os ruídos de impacto são aqueles que apresentam picos de energia acústica de duração inferior a
um segundo, com intervalos maiores que um segundo. Nesses casos o limite de tolerância para os ruídos
de impacto é de 130 dB.
62
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
De acordo com o Anexo 1 da NR-15, quanto maior o nível de ruído menor deve ser o tempo
de exposição.
Conforme o mesmo documento, os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente são:
Tabela 1
Temperaturas extremas
A exposição a baixas temperaturas pode oferecer riscos diretos, em especial à pele do trabalhador,
provocando feridas, rachaduras e até necrose da pele, e de forma indireta, causando agravamento de
doenças reumáticas, além de aumentar a predisposição para acidentes e doenças respiratórias.
63
Unidade I
Figura 45
Observação
Vibrações
Especialmente na indústria é comum o uso de máquinas que causam vibrações, e estas podem ser
nocivas ao trabalhador. Podemos classificar as vibrações em:
• Localizadas – que atingem apenas uma parte ou partes do corpo. Estas são provocadas por
ferramentas manuais, elétricas ou pneumáticas. Como principais consequências a uma exposição
inadequada, contínua e sem proteção, temos alterações neurovasculares nas mãos e nos braços.
É possível também que o funcionário tenha perda óssea, podendo levar à osteoporose.
• Generalizadas – que atingem o corpo inteiro do trabalhador. Estas acontecem com o uso de
máquinas de grande porte, além de ônibus, tratores e caminhões. Nesses casos, as principais
consequências estão relacionadas a lesões na coluna vertebral.
64
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Como principal medida de proteção e controle para que se possam minimizar os danos é recomendado
que o trabalhador tenha o menor tempo possível de exposição contínua, havendo revezamento dos
trabalhadores durante a execução destas atividades.
Pressões anormais
A pressão hiperbárica acontece quando o ser humano está sujeito a pressões maiores que a pressão
atmosférica. É o caso dos trabalhadores nas plataformas de petróleo e nas tubulações submersas em
oceanos, bem como os mergulhadores.
Figura 46
Já a pressão hipobárica acontece quando o ser humano está sujeito a pressões menores que a
pressão atmosférica. Essas condições acontecem quando o trabalhador está em elevadas altitudes, por
exemplo, os trabalhadores que fazem a manutenção e limpeza de arranha‑céus.
65
Unidade I
Figura 47
Radiações
Nas nossas atividades diárias as radiações estão presentes em todas as suas formas, em diversos
produtos, até mesmo aquelas provenientes da luz solar. Podemos citar como algumas aplicações
tecnológicas das radiações: o rádio, a televisão, os radares, os celulares e as comunicações Wi‑Fi, bem
como as fibras ópticas e os fornos de micro‑ondas.
Radiação ionizante
Essa radiação é parte integrante da vida humana, tendo a sua aplicação desde a área médica até a
sua utilização em armas bélicas.
Atualmente, sua metodologia é de extremo auxílio, em especial, para o uso médico, pelo método
de sua aplicação controlada de radiação controlada, sendo o seu método mais utilizado na radiografia
comum. Entretanto, os efeitos da radiação podem ser maléficos, e sua interação pode levar à teratogênese
e até à morte.
Dessa forma, os operadores de raio X e de radioterapia estão frequentemente expostos a esse tipo de
radiação, que pode afetar o organismo ou se manifestar nos descendentes das pessoas expostas.
66
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Radiação beta (β) = que possui poder de penetração no papel e no corpo humano.
• Radiação gama (γ) = que possui poder de penetração no papel, no corpo humano e no aço.
• Raios X = que possui poder de penetração no papel, no corpo humano, no aço e no chumbo.
Figura 48
Ao contrário da radiação ionizante, a não ionizante não possui energia capaz de produzir emissão
de elétrons de átomos. Geralmente, essas radiações podem ser divididas em sônicas e eletromagnéticas.
• Radiação infravermelha (IV), proveniente de fornos, de solda elétrica e de operações que envolvem
raios laser e micro‑ondas.
Os principais efeitos colaterais à exposição a este tipo de radiação são alterações visuais (por exemplo,
conjuntivites e catarata) e lesões diretamente na pele do trabalhador (como queimaduras).
Dentre as principais medidas de controle e prevenção das radiações ionizantes e não ionizantes estão:
67
Unidade I
ATENÇÃO
RADIAÇÕES
NÃO IONIZANTES
Figura 49
São riscos químicos aqueles causados por agentes que em um ambiente sofrem alteração da sua
composição química. Esses agentes podem causar lesões através do seu contato direto ou não, por
exemplo, através da inalação de um determinado produto, ou mesmo pela saturação do produto no ar
daquele ambiente.
Esses agentes se apresentam em diversos estados – gasoso, líquido, sólido – ou na forma de partículas
suspensas – neblina, poeira, fumaça. Quando esses agentes estão em suspensão, são denominados
aerodispersoides.
Por serem agentes que podem apresentar formas diversas e que podem causar lesão por contato
direto ou não, as principais vias de entrada no ser humano são de modo direto, pela pele, e de modo
indireto, pelos sistemas respiratório e digestório.
Esses agentes químicos podem penetrar no organismo de maneira acidental ou por exposição
crônica. O contato com esses riscos pode gerar diversos efeitos no organismo humano, como doenças
em diversos sistemas, mutações celulares e até câncer.
Segundo Mattos e Másculo (apud BARSANO; BARBOSA, 2014), apesar de quase todos os
trabalhadores estarem sujeitos à exposição química, esse tema ganha mais relevância em alguns
setores em virtude da presença mais intensa desses componentes, como nas indústrias química,
petroquímica e petrolífera, na produção de cloro‑soda, amianto, baterias na metalurgia e na
siderurgia, entre outros.
68
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Considerando‑se apenas o descrito na NR‑9 e na Portaria nº 25/94, para ser considerada um perigo
químico, a substância deve penetrar no organismo.
Porém, serão incluídos nessa análise os riscos de explosão e incêndios provocados pela má
manipulação dos produtos químicos.
Se os perigos químicos são originados de manipulação errada de produtos químicos, então, para se
prevenir dessa classe de perigos, é muito importante que o trabalhador conheça as características dos
produtos manipulados.
Segundo a Chemical Abstract Service, uma divisão da American Chemical Association responsável
por coletar informações sobre produtos químicos, existem cerca de 70 milhões de substâncias químicas
diferentes e, mesmo que o profissional esteja preparado, é impossível conhecer todos os detalhes sobre
a manipulação de todos esses produtos.
Essa padronização foi estabelecida pela ABNT na norma NBR 14725 (ABNT, 2012a; 2012b). Nas partes
3 e 4 desta norma, estão estabelecidas as informações que devem constar no rótulo e na FISPQ (Ficha
de Informações de Segurança de Produtos Químicos). A FISPQ é um documento que traz as informações
necessárias para a criação de procedimentos adequados de manipulação de produtos químicos, em
outras palavras, para boas práticas de laboratório.
Binsfeld (2004) sugere que os perigos químicos sejam avaliados de acordo com as características
físico‑químicas, reatividade, toxidade, condições de manipulação, possibilidade de exposição e vias de
penetração no organismo. Trata‑se de uma análise bem completa e complexa. Dentre essas características,
será dada atenção a quatro delas – a difusividade no ar, a inflamabilidade, a toxidade e a ecotoxidade.
Dois parâmetros da FISPQ dão uma indicação de como um produto vai se difundir pelo ar:
• Pressão de vapor – é a pressão que o vapor faz quando está em equilíbrio com o líquido em uma
evaporação. Quanto maior a pressão de vapor, mais volátil o produto e maior é a difusão.
69
Unidade I
Vapores menos densos que o ar são facilmente carregados por correntes de ar e se dissipam na
atmosfera. Vapores mais densos tendem a ficar concentrados no ambiente e apresentam maior risco.
• Ponto de fulgor – é a temperatura na qual um produto químico libera vapor suficiente para
entrar em combustão com a ajuda de uma fonte de calor externa. Sem essa fonte, a chama se
extingue. Quanto mais baixo o ponto de fulgor, maior o risco de combustão.
A toxidade é a capacidade de um produto químico produzir efeitos nocivos, tanto no meio ambiente
quanto nos organismos vivos. A ABNT, na norma NBR 14725, diferencia as informações sobre a toxidade
entre informações toxicológicas e informações ecológicas.
A FISQP pode fornecer diversos parâmetros de informações toxicológicas, sendo os mais comuns:
• Toxidade aguda – faz referência a exposições de curta duração, na ordem de segundos, minutos
ou horas. Normalmente é apresentada a DL50, por via oral, para ratos. Esse parâmetro indica
a dose mínima necessária para matar 50% de uma população de cobaias. A DL50 não fornece
detalhes sobre os mecanismos de ação do produto em humanos, mas serve como comparativo
entre os diversos produtos químicos. Quanto menor a DL50, mais letal é o produto.
• Toxidade crônica – refere‑se a exposições de longo prazo, com duração de dias, meses ou anos.
A ecotoxidade é a ação dos produtos químicos quando liberados no meio ambiente sobre os
constituintes vivos dos ecossistemas. O Ibama, na Portaria nº 84, de 1996, indica os seguintes parâmetros
para avaliação do potencial de dano ao meio ambiente (IBAMA, 1996):
70
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Transporte – refere‑se aos processos físicos de transporte de massa. A difusão no solo e na água
e a solubilidade influenciam esse parâmetro.
• Toxidade a diversos organismos – é a DL50 aplicada a organismos típicos de cada meio, por
exemplo, de organismos aquáticos.
• Potencial mutagênico – é a capacidade de um produto químico causar no DNA danos que não
se conseguem reparar no momento da replicação celular, portanto, a alteração é passada para as
gerações seguintes.
Por exemplo, a produção de um iogurte com frutas pode ser contaminada por várias fontes:
• Se o leite vier de um produtor que não isola as vacas que estão passando por tratamento
veterinário, aquele vai conter traços de antibiótico.
• Se os lubrificantes da máquina de envase não forem adequados para o uso alimentício, o iogurte
terá traços de hidrocarbonetos.
Portanto, não adianta executar ações preventivas apenas na manipulação do alimento; tais ações
devem incluir a seleção do fornecedor. No caso de alimentos, os perigos químicos podem ser introduzidos
71
Unidade I
Além disso, a limpeza e a sanificação de equipamentos, se mal orientadas, podem resultar em resíduos
que se tornarão contaminantes no próximo uso dessas máquinas.
• Metais pesados (chumbo, cobre, cádmio, mercúrio, entre outros) que podem ser incorporados aos
alimentos por meio da água de irrigação.
• Conservantes em excesso.
• Antibióticos.
• Pesticidas.
As toxinas geradas por microrganismos presentes nos alimentos podem ser consideradas
perigo biológico. Apesar de serem substâncias químicas, sua prevenção depende da prevenção dos
microrganismos geradores.
Os perigos biológicos são aqueles que causam infecções, caracterizadas pela invasão e multiplicação
de organismos indesejáveis no objeto de trabalho ou no próprio trabalhador.
Seres vivos, em especial microrganismos, quando introduzidos nos processos de trabalho, como
manipulação de vírus e bactérias, podem ser potencialmente nocivos aos seres humanos, quando não
manipulados com alguns cuidados.
72
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Hoje, os riscos biológicos estão presentes em diversas áreas de atuação, do ambiente hospitalar às
indústrias farmacêuticas e alimentícias, além de centrais de tratamento de dejetos e atividades agrícolas.
Lembrete
Note que somente a presença do organismo indesejável não é suficiente para caracterizar uma
infecção. O problema maior é a multiplicação desse organismo.
Isso vale tanto para microrganismos quanto para parasitas internos e em qualquer objeto de trabalho,
mas, para simplificar, vamos analisar essa questão para microrganismos no corpo humano saudável.
Existem duas razões para que a multiplicação dos microrganismos seja considerada o maior problema:
• O corpo humano possui uma capacidade de combate a essas infecções, então uma inoculação
pequena não representa risco.
• Alguns microrganismos produzem toxinas que são termorresistentes. Essas toxinas vão se
acumulando e não podem ser eliminadas de alimentos ou meios de cultura por processos térmicos.
Acrescente‑se a isso um fato: é impossível garantir esterilidade total. Por melhor que seja o processo
de descontaminação, existe sempre uma probabilidade de sobrevivência de microrganismos.
Por isso, a prevenção dos perigos biológicos está concentrada em se evitarem a multiplicação dos
microrganismos e a inoculação.
Na área de alimentos, também podem ser considerados como perigos biológicos os parasitas internos
e as toxinas produzidas por alguns tipos de fungos e bactérias.
Muitas toxinas são termorresistentes, isto é, não são inativadas por tratamentos térmicos dos
alimentos (cocção, pasteurização, UHT, autoclavagem). Nesse caso, a prevenção desses perigos se faz
pela prevenção do microrganismo gerador da toxina. Então, por facilidade, considera‑se esse perigo
como sendo biológico.
73
Unidade I
O Manual de Segurança em Laboratório, da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004), sugere que
sejam levados em consideração os seguintes parâmetros na avaliação dos perigos biológicos:
• Via de exposição – os mecanismos mais comuns são a inoculação direta (por acidentes com
agulhas), a inalação de aerossóis (quando alguém espirra ou tosse), o contato com membranas ou
mucosas e a ingestão.
• Informação disponível – agentes infecciosos exóticos ou pouco conhecidos implicam riscos maiores.
• Tipo de atividade executada – se a atividade executada, por exemplo, o uso de ultrassom, gerar
aerossóis, o risco de contaminação e o raio de ação do agente são maiores.
Isso porque, apesar de se conhecer o perigo, a existência desses agentes agressores acaba sendo
um conceito muito abstrato, já que não podemos vê‑los. Curiosamente, o profissional consciente dos
riscos biológicos que afetam os homens, os animais e as plantas acaba sendo considerado, em alguns
momentos, um maníaco por limpeza, em outros, como excessivamente relaxado.
Lembrete
74
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Os microrganismos também são classificados de acordo com o potencial de risco que apresentam:
Classe 1 – são os microrganismos que não apresentam nenhum risco de causar doenças. Contudo,
isso não significa que eles não apresentam riscos, pois, no caso de alimentos, por exemplo, eles podem
ser deteriorantes. Considerado de baixo risco individual e para a comunidade: “inclui os agentes
biológicos conhecidos por não causarem doenças no homem ou nos animais adultos sadios. Exemplos:
Lactobacillus sp. e Bacillus subtilis” (BRASIL, 2010, p. 15).
Classe 2 – são agentes patogênicos que não causam doenças graves em humanos ou animais. Essas
doenças possuem um tratamento eficaz, e o risco de a infecção se alastrar é pequeno. Considerado
moderado risco individual e limitado risco para a comunidade.
Classe 3 – são os microrganismos que causam doenças graves que podem levar à morte tanto
homens como animais, mas cuja propagação é limitada. Existem tratamentos e medidas de prevenção.
Considerados de alto risco individual e moderado para a comunidade.
Classe 4 – são os agentes patogênicos que causam doenças graves, com risco de morte para
humanos ou animais, e que são transmitidos facilmente, principalmente por via aérea. Considerado de
alto risco individual e para a comunidade.
Classe de risco especial – são os agentes biológicos não existentes no país e que, embora não
obrigatoriamente patógenos de importância para o homem, podem gerar graves perdas econômicas
75
Unidade I
e/ou na produção de alimentos. Um agente de classe de risco especial deverá ser manipulado seguindo
os mesmos critérios da classe de risco 4 enquanto ainda não circular em território nacional. Após o
primeiro caso diagnosticado no país, deverá ser classificado dentro das demais categorias.
Para o manuseio seguro de agentes biológicos, durante as atividades de trabalho, é necessário que
sejam seguidas algumas recomendações:
• Em todos os locais de trabalho deve haver um manual de segurança e/ou procedimentos, que
deve ser divulgado para que todos os funcionários adotem as medidas necessárias.
• A pessoa responsável pelo local onde há a manipulação de agentes biológicos deve assegurar que
todos os funcionários tenham conhecimento das práticas descritas no manual.
• Para os funcionários que fazem uso de lentes de contato, estas devem ser evitadas.
O equipamento de segurança também pode incluir itens para a proteção pessoal, como luvas,
aventais, gorros, proteção para sapatos, botas, respiradores, escudo ou protetor facial, máscaras
faciais ou óculos de proteção. O equipamento de proteção pessoal frequentemente é usado em
combinação com as CSBs e outros dispositivos que façam a contenção dos agentes, animais ou
materiais que estão sendo manipulados.
Em casos nos quais é impossível trabalhar em CSBs, o equipamento de segurança pessoal deve
formar a barreira primária entre os trabalhadores e os materiais infecciosos. Os exemplos incluem certos
estudos sobre animais, necropsia, atividades de produção em grande escala do agente e atividades
relacionadas à manutenção, serviços ou suporte da instalação do laboratório.
76
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Essas barreiras podem incluir o isolamento da área de trabalho ao acesso público, a disponibilidade de
uma dependência para descontaminação (por exemplo, uma autoclave) e de dependências para lavagem
das mãos, sistemas de ventilação especializados, sistemas de tratamento de ar para a descontaminação,
zonas de acesso controlado, câmaras pressurizadas como entradas de laboratório, separada, ou módulos
para isolamento do laboratório.
Ao realizar a avaliação do risco qualitativo, todos os fatores de risco deverão ser identificados e
explorados. Informações relacionadas deverão estar disponíveis na forma de um manual.
O desafio da avaliação do risco se encontra naqueles casos em que uma informação completa sobre
esses fatores não está à nossa disposição.
Quanto mais grave a potencialidade da doença adquirida, maior será o risco. Por exemplo, o
Sthaphylococcus aureus raramente provoca uma doença grave ou fatal em um indivíduo contaminado
77
Unidade I
num laboratório e está relegado ao NB‑2. Por outro lado, um vírus como o Ebola, que provoca doenças com
alta taxa de mortalidade e para as quais não existem vacinas ou tratamentos, é trabalhado em um NB‑4.
Porém, a gravidade da doença precisa ser amenizada por outros fatores. O trabalho com um vírus
humano de imunodeficiência (HIV) e com o vírus da hepatite B também é feito em um NB‑2. Embora
eles possam causar uma doença potencialmente fatal, esses vírus não são transmitidos por meio de
aerossóis, e a incidência de uma infecção adquirida em laboratório é extremamente baixa para o HIV. No
caso da hepatite B, já existe uma vacina eficaz.
Em alguns casos, a imunização pode afetar o nível de biossegurança (por exemplo, o vírus Junin, do
grupo NB‑4, pode ser trabalhado no NB‑3 por um trabalhador imunizado).
A medicina do trabalho foi criada no século XVII com os trabalhos do médico italiano Bernardino
Ramazzini, que descreveu as primeiras doenças de origem profissional em uma série de monografias que
tratavam de problemas oculares, auditivos e de postura.
Em 1914, o francês Jules Amar publica o livro O motor humano, a primeira obra a fornecer as bases
fisiológicas do trabalho muscular e sua relação com as atividades profissionais. Esse livro é considerado
a primeira obra sobre ergonomia.
Atividade profissional é uma série de relações, estímulos e respostas que o trabalhador estabelece com
o objeto de seu trabalho. Essas relações ocorrem tanto no âmbito mental quanto no físico; quando essas
solicitações ultrapassam a capacidade do trabalhador, aumenta‑se o risco de acidente ou de danos na saúde.
Portanto, a análise ergonômica não pode ser restrita apenas a um aspecto. Ela tem que ser
multidisciplinar e deve incluir as características pessoais de cada trabalhador.
A atividade sensorial e mental não é tão óbvia quanto a atividade física, mas existe em toda atividade
humana, por mais simples que pareça. Na atividade mental, a Psicofisiologia e a Psicologia do Trabalho
forneceram parâmetros para análise do trabalho.
78
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Da interpretação da informação – a informação deve ser clara, não pode dar margem a
ambiguidades e deve satisfazer a expectativa do trabalhador.
— O ritmo de trabalho – pausas curtas e frequentes são mais eficientes que pausas longas e
mais raras na recuperação física.
79
Unidade I
• Mobiliário – o local de trabalho deve ser planejado para garantir as distâncias recomendadas de
mãos, pés, pernas e olhos e ser compatível com a movimentação necessária ao trabalho.
• Organização do trabalho – nos locais onde haja trabalhos que exijam concentração e atividade
intelectual, como salas de controle, laboratórios e escritórios, recomenda‑se o controle do ruído e
das condições de conforto térmico.
Observação
As características dos riscos ergonômicos estão sempre diretamente ligadas à condição de trabalho
de cada pessoa, em razão do uso individual de cada equipamento, que, na sua maioria, são adquiridos de
maneira generalizada, sem levar em consideração as características antropométricas de cada indivíduo.
Outra condição importante que pode afetar ergonomicamente o indivíduo é a carga de estresse dentro
do seu ambiente de trabalho.
Os riscos ergonômicos são aqueles que podem gerar distúrbios psicológicos e fisiológicos nos
trabalhadores, como esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de
postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em
turnos diurno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e repetitividade, situações de
estresse que podem levar a quadros mais graves como a depressão.
A Ergonomia é entendida como uma ciência e está regulamentada pela NR 17 do MET, e visa estabelecer
parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, de modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
80
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Figura 50
É importante salientar que esses riscos, além de provocar danos à saúde, por produzirem alterações
nos estados emocional e físico, podem diretamente comprometer a produtividade, a saúde e a
segurança do trabalhador. Podemos citar como principais exemplos destes danos: LER/Dort (lesão por
esforço repetitivo/doenças osteoarticulares relacionadas ao trabalho), cansaço físico e psíquico, dores
musculares, hipertensão arterial, alteração do sono, diabetes, doenças nervosas, taquicardia, doenças do
aparelho digestivo, tensão, ansiedade, problemas de coluna, agressividade e várias outras doenças que
ainda desconhecemos.
Podemos, dessa forma, perceber que os riscos ergonômicos estão presentes em nossas vidas. Para
evitar que eles possam comprometer as atividades e a saúde dos trabalhadores é necessário que o
ambiente de trabalho tenha aspectos de praticidade e conforto físico e psíquico. A modernização de
máquinas e equipamentos, a melhoria dos processos de trabalho, a alteração no ritmo de trabalho são
fundamentais para a promoção e manutenção da ergonomia.
Para que possam ser minimizados os eventos adversos causados por esses riscos ergonômicos,
algumas práticas devem efetivadas:
• Prática de ouvidoria para os funcionários, de maneira simplificada, e que, na maioria das vezes,
podem trazer soluções práticas e efetivas.
81
Unidade I
• Implantar programas de prevenção de lesões e de preparo para o trabalho, como a ginástica laboral.
• Realizar pausas durante o período de trabalho para que haja a recuperação do trabalhador das
atividades repetitivas e desconfortantes.
• Melhorar as condições para que o trabalhador melhore a sua hidratação durante o expediente.
Quando temos uma informação específica disponível que possa sugerir a virulência, a patogenicidade,
os padrões de resistência a antibióticos, a vacina e a disponibilidade de tratamento ou outros fatores
significativamente alterados, práticas mais rígidas poderão ser adotadas.
Observação
82
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
A avaliação do perigo biológico é composta da identificação do agente biológico e do dano que esse
agente pode causar.
Para uma avaliação correta, diversos fatores têm que ser analisados, como a via de transmissão
disponível, o treinamento dos profissionais que vão ter contato com esse agente, o tipo de trabalho a
ser executado, as espécies animais afetadas pelo agente infeccioso, o nível de conhecimento sobre esse
agente, a existência de alguma profilaxia, a infraestrutura no local de trabalho, enfim, fatores que não
dizem respeito apenas ao agente infeccioso.
Isso quer dizer que as exigências de segurança no trabalho perante um perigo biológico variam de
um local para outro, por causa da diversidade dos recursos disponíveis. Serão analisados aqui alguns
desses fatores.
4.9.2 Contenção
A contenção secundária, proteção do meio ambiente externo ao laboratório contra a exposição aos
materiais infecciosos, é oferecida pela combinação de um projeto das instalações e das práticas operacionais.
Dessa forma, os três elementos de contenção incluem as boas práticas, o equipamento de segurança
e o projeto da instalação.
Os laboratórios classificados como NB‑1 são projetados para trabalhos com agentes biológicos de
classe de risco 1. São locais apropriados para o treinamento educacional ou para o treinamento de
técnicos e de professores de técnicas laboratoriais.
No manual de boas práticas, deve constar a especificação dos desinfetantes e produtos de limpeza,
com a respectiva concentração.
83
Unidade I
As salas devem ser separadas da área de passagem de pessoas por portas simples e os revestimentos
devem ser feitos com materiais que facilitem a limpeza. Esses revestimentos devem ser laváveis e não
podem ser porosos. O esgoto do laboratório pode ser descartado na rede pública.
Devem existir pias para limpeza das mãos, lava‑olhos e um chuveiro de emergência. As bancadas não
podem ter emendas na superfície e devem ser resistentes ao ataque de produtos químicos. Deve existir
um local para armazenamento de produtos de uso imediato, e o espaço entre as bancadas deve permitir
a circulação de pessoas.
O laboratório deve ter acesso a uma autoclave para a esterilização de vidrarias e instrumentos e
possuir um local específico para a colocação de objetos pessoais e de aventais.
Com boas técnicas de microbiologia, esses agentes podem ser usados de maneira segura em atividades
conduzidas sobre uma bancada aberta, uma vez que o potencial para a produção de borrifos e aerossóis
é baixo. Também deve ser dada atenção especial para procedimentos que envolvam a manipulação de
perfurocortantes.
Os procedimentos envolvendo alto potencial para a produção de salpicos ou aerossóis que possam aumentar
o risco de exposição desses funcionários devem ser conduzidos com a CSB. Outras barreiras primárias, como
escudos para borrifos, proteção facial, aventais e luvas, devem ser utilizadas de maneira adequada.
O laboratório de NB‑2 deve atender a todos os requisitos indicados para o NB‑1, com mais
algumas exigências.
Ele deve ser instalado longe da área de passagem pública, e suas portas devem ter fechamento
automático. O acesso de pessoas deve ser restrito, e os indivíduos que têm acesso devem ter um controle
maior sobre sua saúde, por meio do PCMSO.
Os cantos entre paredes, piso e teto devem ser arredondados, e os revestimentos devem ser não
porosos e resistentes ao uso de desinfetantes. É permitido que exista recirculação de ar no sistema de
ventilação e ar‑condicionado, mas esse ar deve ser filtrado e descartado longe de prédios habitados e de
locais de circulação de pessoas.
Devem ser evitadas as tubulações aparentes, todavia, caso isso não seja possível, os suportes de
tubulação devem garantir espaço suficiente para a limpeza de todas as superfícies.
84
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
As bancadas de trabalho devem estar engastadas na parede, de modo a não ser possível o acúmulo
de sujidades entre ambas. As pias e os lavatórios devem possuir sistema automático de acionamento.
A CSB deve ser de classe II e é necessário que se mantenha o registro de seu uso. Toda manipulação
que tenha a possibilidade de geração de aerossol, como o uso da centrífuga, do moinho e a manipulação
de frascos pressurizados, devem ser feitos dentro da CBS.
São os laboratórios preparados para trabalhos com agentes biológicos de classe de risco 3. É aplicável
para laboratórios clínicos, de diagnósticos, de pesquisa ou de produções. O NB‑3 possui requisitos
intensificados em relação aos níveis 1 e 2.
Nesses locais, realiza‑se o trabalho com agentes nativos ou exóticos que possuam potencial de
transmissão por via respiratória e que podem causar infecções sérias e potencialmente fatais.
Os riscos primários causados aos trabalhadores que lidam com esses agentes incluem a autoinoculação,
a ingestão e a exposição aos aerossóis infecciosos.
Por exemplo, todas as manipulações laboratoriais deverão ser realizadas em uma CSB ou em
outro equipamento de contenção, como uma câmara hermética de geração de aerossóis. As barreiras
secundárias para esse nível incluem acesso controlado ao laboratório e sistemas de ventilação que
minimizam a liberação de aerossóis infecciosos do laboratório.
O laboratório NB‑3 deve ser posicionado em uma área isolada do edifício, com uma antessala com
portas duplas, com acesso controlado por fechaduras de segurança. Deve ser incluída no projeto uma
sala específica para troca de roupas.
Devem ser instaladas pias para lavagem de mãos nos acessos ao laboratório NB‑3, providas de
torneiras de acionamento automático, e o sistema de água e esgoto deve ser provido de válvulas
antirrefluxo. O esgoto deve ser tratado com desinfetante antes de ser lançado no sistema público.
A autoclave que atende o NB‑3 deve ser instalada dentro do laboratório, e as centrífugas e bombas
de vácuo devem ser equipadas com filtros de ar de alta capacidade.
85
Unidade I
Os laboratórios com nível de biossegurança 4 são projetados para manipular agentes biológicos com
classe de risco 4.
Os riscos primários aos trabalhadores que manuseiam agentes do nível de biossegurança 4 incluem
exposição respiratória aos aerossóis infecciosos, exposição da membrana mucosa e/ou da pele lesionada
às gotículas infecciosas e autoinoculação.
O sistema de ar‑condicionado deve oferecer pressão do ar negativa dentro do prédio, para garantir
que, em caso de vazamento, o ar interno não saia do edifício. O acesso às áreas controladas deve ser
feito por portas duplas e antessala com controle da pressurização do ambiente.
86
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Saiba mais
Vale assistir:
CONTÁGIO. Dir. Steven Soderbergh. EUA: Warner Bros., 2011. 106 min.
EPIDEMIA. Dir. Wolfgang Petersen. EUA: Warner Bros., 1995. 127 min.
Dentro das Diretrizes do Plano de Ação de Saúde do Trabalhador da Renast, a Vigilância da Saúde
dos Trabalhadores – Visat compreende:
[...] conjunto de ações que visa conhecer a magnitude dos acidentes e doenças
relacionados ao trabalho, identificar os fatores de riscos ocupacionais,
estabelecer medidas de controle e prevenção e avaliar os serviços de saúde
de forma permanente, visando a transformação das condições de trabalho e
a garantia da qualidade da assistência à saúde do trabalhador (AYRES, 2002
apud JAKOBI, 2008, p. 19).
No que diz respeito ao reconhecimento dos riscos presentes em todos os locais de trabalho, bem
como as atividades laborativas que podem comprometer a segurança e a saúde das pessoas, a vigilância
do meio ambiente deve acompanhar todas as variáveis e tendência de cada fator identificado, de
maneira a realizar a descrição, a distribuição, a análise, a avaliação e a interpretação dos eventos e, por
fim, quais as recomendações para a prevenção e para a resolução dos problemas já acontecidos.
Esse acompanhamento será então apresentado por uma representação gráfica, denominado Mapa
de Riscos, no qual a identificação dos fatores e riscos prejudiciais são identificados e relacionados ao
conjunto de variáveis originadas em cada ambiente, de acordo com cada processo da organização do
trabalho, e que podem interferir no processo de saúde‑doença do trabalhador.
De acordo com Rodrigues (1991 apud JAKOBI, 2008, p. 20), o mapeamento de riscos pode ser feito
a partir da utilização de algumas técnicas, cuja complexidade pode ser gradativamente crescente nas
etapas sequenciais do trabalho de vigilância, como as de geoprocessamento, sendo entendido como
“um conjunto de técnicas de coleta, exibição e tratamento de informações espacializadas” que permite
a análise conjunta de uma gama de variáveis socioambientais.
Com auxílio de ferramentas de análise espacial, aumenta‑se a compreensão da dinâmica dos dados,
pois essas ferramentas contribuem para a identificação de agrupamentos contínuos e áreas de transição,
87
Unidade I
determinando áreas de risco para além dos limites políticos administrativos, ao detectar situações de
risco diferenciadas.
O Mapa de Riscos é uma técnica que resulta numa representação gráfica, de identificação dos
riscos e fatores prejudiciais à saúde e à segurança do trabalhador, relacionados ao conjunto de variáveis
originadas no ambiente de trabalho, no processo de trabalho, na forma de organização do trabalho e
nos demais fatores implicados na relação entre o trabalho e o processo saúde‑doença do trabalhador
(ODDONE et al., 1986 apud JAKOBI, 2008).
O mapeamento de riscos pode ser feito a partir da utilização de algumas técnicas, cuja complexidade
pode ser gradativamente crescente nas etapas sequenciais do trabalho de vigilância (AYRES, 2002 apud
JAKOBI, 2008). Dentro do amplo espectro do que é denominado Mapa de Risco, encontram‑se mapas
que têm como conteúdo desde a presença de agentes ambientais de risco até suas consequências,
previstas ou medidas, sobre a população.
Os possíveis danos à saúde humana causados por atividades poluidoras são precedidos por processos
de uso de substâncias químicas, por sua emissão para o ambiente, pela exposição de uma população e
pela dose a que será submetida esta população (BARCELOS, 1996 apud JAKOBI, 2008).
Com a evolução industrial e tecnológica, o ambiente sofre constantes agressões que levam ao
aumento de agressões e lesões à população, em especial pela falta de tratamento adequado dos dejetos
industriais, que são liberados na atmosfera, em leitos de rios e muitas vezes diretamente no solo.
irritação, e todo o fator que influencie de forma negativa a relação do trabalhador com o seu
ambiente laboral.
— Quais as queixas mais frequentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos?
• Elaborar o Mapa de Riscos, sobre o layout da empresa, indicando por meio do círculo:
— A intensidade do risco de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser representado
por tamanhos proporcionalmente diferentes dos círculos.
O Mapa de Riscos deve ser feito de forma setorial e também de forma geral englobando toda a
empresa, e depois afixado no local de trabalho, de maneira visível e de fácil acesso a todos os trabalhadores.
Ele foi criado para que as empresas representem graficamente os riscos existentes nos diversos
ambientes de trabalho, sendo um dos métodos mais simples para a avaliação qualitativa dos riscos
existentes nos locais de trabalho.
É a representação gráfica dos riscos por meio de círculos de diferentes cores e tamanhos que
permite a fácil visualização do mapa. Ele deve ser elaborado pelos próprios trabalhadores, portanto, é
um instrumento participativo e adequado às suas sensibilidades. Serve como instrumento preliminar de
levantamento de riscos, como informação para os demais empregados e visitantes e como planejamento
para as ações preventivas que serão adotadas pela Cipa.
O objetivo do Mapa de Riscos é reunir as informações básicas para estabelecer o diagnóstico da situação
de informações entre os trabalhadores, bem como estimular sua participação nas atividades de prevenção.
• Identificação prévia dos riscos existentes nos locais de trabalho aos quais os trabalhadores poderão
estar expostos.
• Conscientização quanto ao uso adequado das medidas e dos equipamentos de proteção coletiva
e individual.
• Facilitação da gestão de saúde e segurança no trabalho com aumento da segurança interna e externa.
Para a elaboração do Mapa de Riscos são utilizadas cores para identificar o tipo de risco, conforme
a tabela de classificação dos riscos ambientais. A gravidade é representada pelo tamanho dos círculos:
• Círculo pequeno – risco pequeno por sua essência ou por ser risco médio já protegido.
• Círculo médio – risco que gera relativo incômodo, mas que pode ser controlado.
90
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Círculo grande – risco que pode matar, mutilar e gerar doenças e que não dispõe de mecanismos
para redução, neutralização ou controle.
Figura 51
Para a elaboração do Mapa de Riscos deve‑se conhecer o processo de trabalho do local avaliado,
conforme a tabela de classificação dos riscos ambientais, bem como identificar as medidas preventivas
existentes e sua eficácia referentes à:
• Proteção coletiva.
• Organização do trabalho.
• Proteção individual.
• Higiene e ao conforto – banheiro, lavatórios, vestiários, armários, bebedouros, refeitórios, área de lazer.
91
Unidade I
Identificar os indicadores de saúde também é de extrema importância, dentre eles podemos citar:
• Queixas mais frequentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos.
Quanto à elaboração do Mapa de Riscos, sobre uma planta ou desenho do local de trabalho, é
importante identificar através do círculo:
• O número de trabalhadores expostos ao risco, o qual deve ser anotado dentro do círculo.
• A intensidade do risco, de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser representada
por tamanhos proporcionalmente diferentes dos círculos.
• Presença de ruídos, podendo provocar cansaço, irritação, dores de cabeça, diminuição da audição,
problemas no aparelho digestivo, taquicardia e perigo de infarto.
• Presença de vibrações, podendo provocar cansaço, irritação, dores nos membros, dores na coluna,
doença do movimento, artrite, problemas digestivos, lesões ósseas e lesões dos tecidos moles.
• Presença de radiação não ionizante, podendo provocar queimaduras, lesões nos olhos, na pele e
em outros órgãos.
92
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Poeiras:
— Fumos metálicos – ocorre intoxicação específica de acordo com o metal. Exemplos: febre dos
fumos metálicos e doença pulmonar obstrutiva.
— Anestésicos – ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos aos diversos órgãos e ao sistema
formador do sangue. Exemplos: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono,
tricloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois e xileno.
• Vírus – podem causar doenças, como hepatite, poliomielite, herpes, varíola, febre amarela, raiva,
aids, rubéola, dengue e meningites.
• Bactérias/bacilos – podem causar hanseníase, tuberculose, tétano, pneumonia, difteria, cólera e leptospirose.
Os riscos ergonômicos podem ser por esforço físico, levantamento e transporte manual de peso,
exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos,
jornada prolongada de trabalho, monotonia, repetitividade e outras situações causadoras de estresse
físico e psíquico.
Eles podem causar cansaço, dores musculares, fraquezas, hipertensão arterial, úlceras, doenças
nervosas, agravamento do diabetes, alterações do sono, da libido e da vida social com reflexos na saúde e
93
Unidade I
• A existência de máquinas e equipamentos sem proteção, podendo levar à ocorrência de acidentes graves.
• O uso de ferramentas inadequadas ou defeituosas, que em sua grande maioria provocam acidentes
com repercussão nos membros superiores.
• O armazenamento inadequado.
De acordo com a Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994, o Mapa de Riscos deve obedecer à
seguinte classificação:
94
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Jardim
Refeitório
Linha de montagem
Cozinha
Tornearia e soldagem Depósito Dispensa
Resumo
Exercícios
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: compete à CTNBIO (art. 14, II) estabelecer normas relativas às atividades e aos projetos
relacionados a OGM (Organismos Geneticamente Modificados) e seus derivados.
B) Alternativa correta.
Justificativa: em seu artigo 11, a CTNBio, composta de membros titulares e suplentes, designados pelo ministro
de Estado da Ciência e Tecnologia, será constituída por 27 cidadãos brasileiros de reconhecida competência
técnica, de notória atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada atividade
profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: de acordo com o art. 40, os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo
humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados deverão conter
informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento.
Questão 2. (BIO‑RIO, 2015) São considerados itens básicos para a elaboração do manual de boas
práticas de manipulação e processamento de alimentos:
98
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Unidade II
5 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA
Para que essa meta seja alcançada é necessário que o Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança do Trabalho (SESMT), conjuntamente com a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(Cipa) conheçam os riscos provenientes das atividades profissionais, em seus diversos aspectos, como
insalubridade do ambiente de trabalho, das máquinas e de equipamentos inadequados, de procedimentos
operacionais ineficientes e das condições inseguras do local de trabalho, bem como outros fatores que
exponham os colaboradores ao risco em suas atividades.
Após a análise desses fatores, devem ser adotadas medidas de proteção no trabalho que visem
à prevenção de acidentes e doenças profissionais, que podem ser alcançadas por meio de medidas
administrativas, de proteção coletiva e de proteção individual.
Garantir as condições ideais de trabalho deve ser uma preocupação a se iniciar com a adoção de
medidas administrativas tomadas pelos profissionais da segurança do trabalho como forma de eliminar
os riscos que colocam em perigo a integridade física e psíquica do trabalhador.
Dentre as medidas de proteção administrativa que devem ser adotadas, podemos citar:
99
Unidade II
Equipamentos de proteção coletiva (EPCs) são procedimentos ou equipamentos utilizados ou, até
mesmo, projetados para a proteção de um grupo de pessoas, a fim de realizar determinada tarefa ou
qualquer atividade.
Essas medidas são para que a segurança coletiva seja alcançada, ou seja, que se atinja a segurança
de diversos trabalhadores envolvidos em uma mesma atividade e/ou procedimento de trabalho.
• Redes de proteção.
A CLT surgiu como necessidade institucional após a criação da Justiça do Trabalho em 1939. Ela
é chamada de Consolidação das Leis Trabalhistas, em vez de Código das Leis Trabalhistas, porque seu
objetivo foi apenas reunir a esparsa legislação trabalhista já existente na época, consolidando‑a. A
assinatura do documento se deu em 1º de maio de 1943.
Como anexos da CLT, as Normas Regulamentadoras, também conhecidas como NRs, regulamentam
e fornecem orientações sobre procedimentos obrigatórios relacionados à medicina e segurança no
trabalho no Brasil e são de observância obrigatória por todas as empresas.
De acordo com essa norma, é considerado equipamento de proteção individual (EPI) todo dispositivo
ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador e destinado à proteção de riscos suscetíveis de
ameaçar a segurança e a saúde no trabalho (BRASIL, 1978a).
100
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
O uso de EPIs como capacetes, calçados de segurança, óculos de proteção contra partículas volantes
e luvas deve ser adotado sempre que todas as medidas de proteção forem utilizadas e mesmo assim
permanecer o risco para o trabalhador acima dos limites toleráveis de segurança, colocando em perigo
a integridade física e psíquica do trabalhador.
Após a avaliação e a caracterização do risco, ele deve ser enfrentado em sua origem para que possa
ser neutralizado ou eliminado. Caso a situação de risco se mantenha, os membros do SESMT deverão
realizar uma ação de proteção coletiva entre a zona de risco e os trabalhadores.
A adoção de medidas de proteção individual relativas ao trabalhador deve se iniciar com a seleção
de EPIs apropriados aos agentes de riscos e à natureza antropométrica do trabalhador, como o tamanho
adequado de calçados e luvas de segurança, que devem ser adequados ao perfil do funcionário.
A NR-6 do TEM foi criada pela Portaria GM nº 3.214, de 8 de junho de 1978, e alterada pela Portaria
SIT nº 292, de 8 de dezembro de 2011. Ela trata das medidas de proteção individual e define como EPI
“todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de
riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho” (BRASIL, 1978a).
De acordo com essa NR, os EPIs, de fabricação nacional ou importada, só podem ser postos à venda
ou utilizados com a indicação do Certificado de Aprovação expedido pelo órgão nacional competente
em matéria de segurança e saúde no trabalho do MET.
A utilização de EPI, também deve ser avaliada como medida de redução de custos, já que a sua não
utilização poderá causar mais danos aos trabalhadores e aumentar as despesas.
• Sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de
acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho.
Uma situação que ocorre constantemente em estabelecimentos de saúde, e que expõe outras
pessoas a riscos desnecessários, é o uso dos equipamentos de proteção individual fora do ambiente
para o qual o seu uso está previsto. Essa situação vai contra a NR‑6, que indica a importância de
usá‑los apenas para a finalidade a que se destinam, e ainda se responsabilizar por sua guarda e
101
Unidade II
conservação, não portá‑los fora da área técnica e comunicar ao empregador qualquer alteração que
o torne impróprio para uso.
• Orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, a guarda e a conservação dos EPIs.
• Registrar o seu fornecimento ao trabalhador, por meio de livros, fichas ou sistema eletrônico.
Porém, nem todo equipamento que parece ser um EPI garante a segurança do trabalhador. Formas
construtivas inadequadas ou materiais impróprios podem prejudicar a sua eficiência. Para garantir a
qualidade do EPI, o Ministério do Trabalho e Emprego instituiu o Certificado de Aprovação de EPI (CA).
Só podem ser comercializados no Brasil aqueles que possuam um CA, e o fabricante só obtém esse
certificado se tiver um laudo fornecido por um laboratório credenciado pelo Inmetro.
102
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Comunicar ao órgão nacional de SST quaisquer alterações dos dados cadastrais fornecidos.
• Comercializar o EPI com instruções técnicas no idioma nacional, orientando sua utilização, sua
manutenção, sua restrição etc.
• Cancelar o CA.
Sempre que julgar necessário, o órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no
trabalho pode requisitar amostras de EPIs, identificadas com o nome do fabricante e o número de
referência, além de qualquer outro requisito.
O TEM também deverá, através de seus órgãos regionais, fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado
e à qualidade do EPI, além de recolher amostras e aplicar as penalidades que forem cabíveis, caso haja
o descumprimento da NR-6.
103
Unidade II
Observação
Pela diversidade dos EPIs, os profissionais de segurança do trabalho ou responsáveis devem atentar
ao fornecimento adequado do equipamento para os trabalhadores.
Portanto, é importante que seja observada, de maneira criteriosa, como a atividade é exercida e qual
o tipo de risco que ela oferece, para que o EPI alcance o seu objetivo principal, que é o de proteger o
trabalhador de acidentes físicos, além de possibilitar conforto em atividades insalubres.
• Capuz de segurança para proteção do crânio e pescoço contra riscos de origem térmica.
• Capuz de segurança para proteção do crânio e pescoço contra respingos de produtos químicos.
A touca de proteção serve para proteger tanto o usuário quanto o produto manuseado.
Protege o usuário por evitar o contato do cabelo com máquinas que possam colocar em perigo o
trabalhador ao terem contato e, eventualmente, sugar, puxar ou enroscar nos cabelos. Já no caso
de proteção de produto, a touca capilar evita que cabelos caíam no produto manuseado, o que
gera o risco de contaminação.
104
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Os óculos de segurança servem para proteger o trabalhador em atividades que possam causar
ferimentos nos olhos provenientes de impacto de partículas e respingos, em trabalhos que possam
causar irritação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de líquidos agressivos e outras lesões
decorrentes da ação de radiações perigosas.
A figura a seguir mostra um modelo de óculos de segurança. Note que a diversidade de formas dos
óculos corresponde à diversidade de aplicações de segurança. A aplicação dos óculos de segurança é
específica e a utilização de um modelo em uma aplicação para o qual ele não tenha sido projetado não
garante a segurança.
Figura 54
105
Unidade II
As máscaras são proteções para as vias respiratórias. Da mesma forma que os óculos de proteção,
as máscaras são específicas para o tipo de contaminante. Elas também possuem diversas formas
construtivas, e sua especificação depende de diversos fatores.
Alguns tipos de máscaras trabalham filtrando o ar exterior, conforme os modelos mostrados nas
figuras a seguir.
Figura 55
Figura 56
106
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Quando o ar exterior está contaminado demais para poder ser filtrado, ou quando o teor de oxigênio
no ar é menor que 18%, se torna necessário o uso de aparelhos de isolamento (autônomo ou de adução
de ar). Os sistemas de respiração autônomos podem ser associados a roupas especiais de segurança.
Figura 57
Os protetores auriculares servem para proteger a audição de barulhos intensos. Eles podem ser do
tipo concha com protetores externos, de inserção e/ou descartáveis.
Figura 58
As luvas e mangas de proteção devem ser usadas em trabalhos em que haja perigo de lesão provocada
por materiais ou objetos escoriantes, abrasivos, cortantes ou perfurantes; produtos químicos corrosivos,
107
Unidade II
cáusticos, tóxicos, alergênicos, oleosos, graxos, solventes orgânicos e derivados de petróleo; materiais ou
objetos aquecidos; choque elétrico; radiações perigosas; frio e agentes biológicos.
As mangas de proteção também servem para proteger o objeto de trabalho contra contaminações
por pelos do trabalhador.
Existem cremes protetores que formam uma película sobre a pele, de modo a protegê‑la contra pó,
solventes ou colas, sem que o trabalhador perca a sensibilidade do tato.
Figura 60
108
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Há uma polêmica sobre se a calça deve ser posicionada por dentro ou por fora do cano da bota para
garantir a segurança do trabalhador. Isso vai depender do tipo de serviço executado.
Se o objetivo é proteger a roupa contra a sujeira, o ideal é que a calça fique por dentro, mas, se o
trabalho envolve o risco de derramamentos de líquidos ou pós a partir de uma posição acima do cano
da bota, o ideal é que a calça esteja por fora do cano, pois, caso contrário, a bota atuará como um
recipiente, agravando o acidente.
Em áreas limpas e secas, é recomendado o uso de pro‑pés. O pro‑pé é uma espécie de touca para ser
colocada sobre o calçado, para que este não transmita contaminantes para o ambiente.
Para a proteção da perna, existem perneiras. Elas protegem contra abrasivos, cortes, impactos e
ataque de cobras.
109
Unidade II
Conforme discutido, os perigos biológicos são os mais presentes entre todos os perigos analisados. A
quase onipresença dos microrganismos reduz a eficiência de medidas para evitar a sua presença e isso
resulta na necessidade de adotar medidas para eliminá‑los.
Lembrete
Eliminação não é uma palavra correta para este caso, pois, conforme será discutido a seguir, não
existe eliminação total. Sempre existirá a probabilidade da sobrevivência de alguns microrganismos,
além disso, qualquer processo de limpeza tem prazo de validade. A palavra adequada para esse processo
é descontaminação.
110
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Os microrganismos se reproduzem por divisão celular. Uma célula dá origem a duas, duas dão origem
a quatro e assim por diante. Dessa forma, depois de se adaptarem ao ambiente onde foram inoculados
(chamada fase lag) os microrganismos começam a se duplicar. Depois de n ciclos, o número inicial de
microrganismos foi multiplicado por 2n (chamada fase log).
O tempo de duração desses ciclos varia conforme a espécie do microrganismo, mas, na prática,
consideram‑se 20 minutos como um valor de referência. Assim, após uma hora de espera, o número de
microrganismos inicial de uma amostra passou por três ciclos de divisão celular, e o número inicial de
microrganismos foi multiplicado por 8.
A técnica matemática mais simples para se trabalhar com fatores exponenciais é o logaritmo. Quando
os dados de número de células em função do tempo são colocados em um gráfico, obtém‑se uma curva
exponencial (a), porém, ao se trabalhar com o logaritmo do número de células em função do tempo, essa
curva torna‑se uma reta, com que é mais fácil de trabalhar.
Quando é aplicado algum processo para provocar a morte dos microrganismos, a taxa de morte
concorre com a taxa de crescimento, o que também resulta em valores exponenciais, portanto, são
valores trabalhados em logaritmo.
Infecções em cirurgias
A pele é a principal barreira que o organismo tem para se proteger contra a invasão de microrganismos,
então as cirurgias podem ser classificadas de acordo com o potencial de contaminação da incisão,
segundo a Portaria nº 2.616/98:
Essa classificação, feita pelo Ministério da Saúde, mostra claramente que muitas vezes o profissional
da área da saúde precisa conviver com a possibilidade de não conseguir eliminar a flora microbiana
existente no paciente. Dependendo de cada situação, existe uma probabilidade maior ou menor de
ocorrência de infecção, e diversos fatores relacionados ao paciente poderão agravar essa probabilidade
– obesidade, tabagismo, diabetes, idade, desnutrição, tempo de internação e extensão da cirurgia.
Dependendo do quadro, o profissional da saúde precisará escolher entre diversas técnicas e recursos para
tentar conter o avanço da infecção. As estratégias mais comuns estão relacionadas com a diminuição do
tamanho da contaminação e a melhora das defesas imunológicas do paciente.
Note que a classificação dada pelo Ministério da Saúde também dá atenção especial a cirurgias nos
tratos digestivo, respiratório e urinário. Esses sistemas possuem, naturalmente, uma flora microbiana
muito numerosa, e o risco da evolução para uma septicemia é muito grande.
Os hospitais foram obrigados a estabelecer uma comissão técnica, formada por profissionais de nível
superior, da área da saúde, com o objetivo de assessorar a alta administração do hospital a estabelecer
ações de controle de infecção hospitalar. Essa comissão é chamada Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH).
O presidente da comissão pode ser qualquer um de seus membros, indicado pela direção do hospital.
112
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
A CCIH tem como função elaborar e implementar um programa para controlar as infecções
hospitalares, contendo:
Essa comissão responde diretamente à alta administração do hospital, que tem também a obrigação
legal de promover as determinações da CCIC.
6.2 Limpeza
Enxágue inicial
Se a pessoa que lavar esse prato partir direto para esfregá‑lo com bucha, vai sujar a bucha e espalhar
resíduos de molho por toda a louça a ser lavada, dificultando todo o processo.
113
Unidade II
Porém, se a pessoa iniciar o processo com um enxágue, vai remover as sujidades mais grossas apenas
pela ação mecânica da água, reduzindo o trabalho futuro e o emprego de sabão.
O enxágue inicial é a principal ação no processo de limpeza. Se benfeito, reduz gastos em tempo
de operação, em produtos químicos e em tratamento de efluentes, além de aumentar a eficiência das
próximas operações.
Ação mecânica
Após o enxágue inicial, a pessoa deve esfregá‑lo utilizando uma esponja com sabão.
O enxágue inicial removeu as sujidades que estavam soltas, mas as sujidades incrustadas precisam
ser removidas por meio do atrito mecânico entre a bucha e a camada superficial da incrustação. O
sabão é um coadjuvante nesse processo, fazendo a solubilização dos lipídios e das proteínas. Existem
microrganismos aderidos a essas incrustações e às paredes do prato, e essa ação mecânica removerá
parte dessa carga.
Porém, como todas essas remoções de microrganismos são proporcionais à quantidade inicial de
microrganismos, qualquer redução na quantidade de microrganismos na etapa anterior quer dizer
aumento significativo na eficiência das etapas posteriores.
Enxágue final
Aqui, continua valendo o conceito: uma operação anterior benfeita reduz os custos operacionais
das operações posteriores e aumenta a eficiência do processo.
Exemplos de limpeza
Discutimos uma aplicação doméstica, mas os conceitos são os mesmos nas mais diversas aplicações.
• Em restaurantes – ocorre o uso de máquinas de lavar louças, logo, o esfregaço com bucha é
substituído por jatos d’água.
114
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Em hospitais – é feita a remoção de resíduos dos instrumentos cirúrgicos com o uso de banhos de
ultrassom. O ultrassom faz a ação mecânica, quebrando as incrustações.
6.3 Desinfecção
Partículas, incrustações, gorduras e qualquer outro tipo de sujidade funcionam como uma camada
protetora dos microrganismos, por isso, antes de se executar uma desinfecção, é fundamental que se
faça uma limpeza.
Quando se aumenta a temperatura, tanto a membrana celular quanto as proteínas são afetadas. Isso
porque os ácidos graxos que compõem a parede celular aumentam sua permeabilidade, permitindo a
entrada de substâncias indesejáveis no interior da célula. Além disso, o aumento da temperatura acelera
as reações dentro das células, atingindo níveis inaceitáveis para o funcionamento celular, ou ainda
desnaturando proteínas.
Consideram‑se altas as temperaturas acima de 60 ºC. O tempo de exposição vai depender do tipo de
microrganismo e da quantidade de células a serem eliminadas. Cada microrganismo tem características
próprias na determinação desses parâmetros.
Lembrete
Após a exposição à alta temperatura, um recurso muito utilizado é a redução da temperatura, para
que os microrganismos sobreviventes não voltem a se multiplicar.
O processo mais conhecido de desinfecção por meios físicos é a pasteurização do leite. Até 1952, o
leite era vendido de porta em porta, vindo diretamente da fazenda produtora. Porém, nessa mesma época,
ocorria no Brasil um surto de tuberculose. A bactéria responsável por esse surto era a Micobacterium
bovis, a da tuberculose bovina.
115
Unidade II
Ao perceber essa relação, foi instituída a obrigação da pasteurização do leite, proibindo o comércio
in natura (Decretos nº 39.093/56 e 66.183/70). Os parâmetros de pasteurização são fixados por lei nos
seguintes valores:
Esses valores são calculados para a eliminação da M. bovis. Note que a variação desses não é linear.
Nem todos os materiais suportam temperaturas elevadas. Para esses casos, é necessário lançar mão
de produtos químicos para fazer a desinfecção, tomando muito cuidado na avaliação da compatibilidade
química com os utensílios. A desinfecção química acontece porque algumas substâncias têm a capacidade
de danificar a parede celular.
A desinfecção por produtos químicos pode ser dividida em três níveis, dependendo da resistência do
microrganismo a ser combatido:
• Desinfecção de baixo nível – é quando objetiva eliminar bactérias vegetativas, vírus médios ou lipídicos.
Um dos produtos mais comuns nesse processo é o quaternário de amônia, utilizado na limpeza de
superfícies, paredes e mobiliários; tem a vantagem de ser pouco tóxico para humanos, mas pode causar
irritações na pele e ataca borrachas sintéticas, cimento e alumínio.
• Desinfecção de nível médio – o objetivo é eliminar, além dos microrganismos citados no baixo
nível, os fungos e alguns tipos de vírus. Álcool etílico a 70%, compostos fenólicos entre 2% e 5%
e hipoclorito de sódio a 1% são produtos utilizados nesse processo.
O hipoclorito a 1%, além de outros compostos clorados, tem ação rápida e baixo custo, mas é corrosivo
para metais, inclusive o aço inox. É irritante das vias respiratórias e inativado por matéria orgânica.
O álcool etílico a 70% também é de ação rápida e de baixo custo, mas ataca plásticos, borrachas e
verniz, além de ser inflamável. Curiosamente, o aumento da concentração do álcool reduz a eficiência
do produto, pois ele evapora antes de degradar a parede celular dos microrganismos.
• Desinfecção de alto nível – elimina microbactérias e esporos, além dos microrganismos citados
anteriormente. Os produtos mais usados são o glutaraldeído a 2% e o ácido peracético.
116
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
O ácido peracético a 0,2% precisa de tempo de exposição de 5 a 10 minutos, é pouco tóxico, mas
bastante irritante das vias aéreas. É corrosivo para metais (aço, bronze, latão, ferro galvanizado).
Observação
6.4 Esterilização
Observação
O principal processo físico de esterilização também é relacionado com o binômio tempo versus
temperatura, porém as condições de processo são mais severas.
O processo de esterilização mais conhecido é a produção do leite longa vida ou UHT. Nesse processo,
o leite cru é centrifugado (limpeza mecânica), a temperatura é elevada até cerca de 80 °C e mantida
durante alguns segundos (desinfecção), para depois ter sua temperatura elevada a cerca de 150 °C e
mantida por alguns segundos (esterilização).
117
Unidade II
Outro processo de esterilização bastante difundido é aquele que ocorre por meio de radiações. As
mais usadas são a radiação gama, as micro‑ondas e a radiação ultravioleta.
A radiação gama, emitida pelo cobalto‑60 ou pelo césio‑137, é utilizada em materiais sensíveis
ao calor, mas sua eficiência é condicionada à densidade do material, que irá determinar o grau de
penetração da radiação.
Ela afeta diretamente alguns processos fisiológicos, eliminando microrganismos e inativando enzimas.
As micro‑ondas são ondas eletromagnéticas com frequência em torno de 2,5 GHz. Elas afetam
diretamente a água, elevando sua temperatura.
Existem duas formas de esterilização com produtos químicos: com produtos líquidos e com
produtos gasosos.
A esterilização com produtos líquidos é feita por meio da imersão do utensílio num banho contendo
o produto. Os esterilizantes mais utilizados nesse processo são o glutaraldeído a 2%, o ácido peracético
a 0,2% e o peróxido de hidrogênio a 6%. São produtos semelhantes aos da desinfecção, mas o tempo
de exposição é maior.
Essa imersão deve ser feita com extremo cuidado para que não fiquem bolhas de ar adsorvidas
nas superfícies dos utensílios, já que essas bolhas não permitem o contato entre a superfície a ser
esterilizada e o produto esterilizante. Por essa razão, não é recomendável utilizar‑se a esterilização por
produtos líquidos. Esse problema não ocorre com o uso de produtos químicos gasosos.
O produto gasoso de esterilização mais comum, muito usado em hospitais, é o óxido de etileno (EtO).
Ele é inflamável e carcinogênico, mas, se misturado com dióxido de carbono (8,5% de EtO e 91,5% de
CO2), torna‑se seguro para trabalhar.
O grande problema dos riscos biológicos é que não vemos os microrganismos. Por isso, é necessário
que se façam testes para verificar se a esterilização foi eficiente de fato.
O teste mais seguro para garantir que o produto foi esterilizado é promover a cultura dos
microrganismos, mas se trata de um procedimento que leva dias para apresentar algum resultado. Em
um hospital onde se fazem milhares de esterilizações por mês, isso seria inviável.
118
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Para resolver a essa questão, fazem‑se avaliações práticas periódicas dos procedimentos e dos
equipamentos, colocando‑se indicadores químicos ou biológicos da eficiência da esterilização.
Por exemplo: um laboratório comprou uma autoclave úmida nova. Apesar de nova, não dá para
garantir que o equipamento é eficiente, pois, se a distribuição de temperaturas no interior dele não for
uniforme, alguma região do equipamento pode não ser esterilizada. Algo semelhante acontece no forno
de um fogão doméstico: um lado do assado sempre queima mais que o outro.
Se, após alguns dias, o equipamento continuar eficiente, o tempo entre os testes pode ser estendido,
já que o equipamento tem se mostrado confiável.
• Tiras indicadoras – são tiras impregnadas com tinta termoquímica que muda de coloração
quando exposta à temperatura. São colocadas sobre todos os produtos a serem esterilizados.
• Teste Bowie e Dick – é um teste semelhante às tiras indicadoras que avalia remoção de ar,
penetração do vapor, tempo e temperatura. Normalmente, é usado na primeira operação do dia.
• Artigos não críticos – são os que não entram em contato com pacientes ou que interagem
apenas com a pele íntegra. Apesar de apresentarem baixo risco de transmissão de infecções,
119
Unidade II
• Artigos semicríticos – são os artigos que entram em contato com a membrana mucosa que
reveste os órgãos internos, como tubo digestivo, intestino ou pulmões, ou com a pele não
íntegra. A pele íntegra é impermeável a microrganismos, mas, se estiver rompida, permitirá
o ingresso destes. Estão incluídos nessa categoria endoscópios, equipamentos de terapia
respiratória etc.
• Artigos críticos – são aqueles que penetram em tecidos ou têm contato com o sangue, portanto,
possuem alto risco de infecção. Por exemplo – agulhas hipodérmicas, instrumentos cirúrgicos,
cateteres etc.
Note que entender e aplicar o critério de classificação é muito mais importante do que generalizar.
Dessa forma, uma comadre que venha a ser utilizada por um paciente com queimaduras na região dos
glúteos, por exemplo, deve ser tratada como um artigo semicrítico e não como um artigo não crítico,
como seria normalmente.
Observação
7 PGRRS
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2004), a saúde ambiental “se refere aos aspectos
da saúde e qualidade de vida humana determinados por fatores ambientais, sejam físicos, químicos,
biológicos ou sociais”.
Ainda destaca a teoria e a prática de avaliação, correção, controle e prevenção daqueles fatores que
presentes no ambiente podem afetar potencialmente de forma adversa a saúde humana de gerações
presentes e futuras.
120
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
A Resolução Conama nº 005/1993 define resíduos sólidos como resíduos nos estados sólido e
semissólido que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola
e de serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de
tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face
à melhor tecnologia disponível (BRASIL, 1993a).
No entanto, as normas e resoluções existentes classificam os resíduos sólidos em função dos riscos
potenciais ao meio ambiente e à saúde, como também em função da natureza e origem.
Com relação aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, a NBR 10.004/2004 classifica
os resíduos sólidos em duas classes: classe I e classe II.
Os resíduos classe I, denominados perigosos, são aqueles que, em função de suas propriedades
físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar riscos à saúde e ao meio ambiente. São caracterizados
por possuírem uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
toxicidade e patogenecidade.
Os resíduos classe II denominados não perigosos são subdivididos em duas classes: classe II‑A e
classe II‑B.
• Os resíduos classe II‑A – não inertes podem ter as seguintes propriedades: biodegradabilidade,
combustibilidade ou solubilidade em água.
• Os resíduos classe II‑B – inertes não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a
concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, com exceção dos aspectos cor,
turbidez, dureza e sabor.
Com relação à origem e à natureza, os resíduos sólidos são classificados em: domiciliar, comercial,
varrição e feiras livres, serviços de saúde, portos, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários,
industriais, agrícolas e resíduos de construção civil.
Com relação à responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos, pode‑se dividi‑los em dois
grandes grupos.
121
Unidade II
• Resíduos comerciais.
• Resíduos públicos.
• Resíduos industriais.
• Rejeitos radioativos.
• Resíduos agrícolas.
Assim, toda instituição deve ter o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde
(PGRSS), garantindo a exposição mínima dos trabalhadores bem como de outras pessoas e do ambiente.
Os órgãos responsáveis pelas normas e regulamentações no manejo dos resíduos dos serviços de
saúde são:
Ainda, quando houver o manejo de resíduos químicos, também haverá a fiscalização da Cetesb –
Companhia Elétrica de Tecnologia de Saneamento Ambiental.
122
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Saiba mais
De acordo com a RDC Anvisa nº 306/04 e a Resolução Conama nº 358/2005, são definidos como
geradores de RSS todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive
os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos
para a saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento;
serviços de medicina legal, drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos
de ensino e pesquisa na área da saúde; centro de controle de zoonoses; distribuidores de produtos
farmacêuticos, importadores e distribuidores produtores de materiais e controles para diagnóstico in
vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, dentre
outros similares.
Os resíduos do serviço de saúde ocupam um lugar de destaque, pois merecem atenção especial
em todas as suas fases de manejo (segregação, condicionamento, armazenamento, coleta, transporte,
tratamento e disposição final) em decorrência dos imediatos e graves riscos que podem oferecer, por
apresentarem componentes químicos, biológicos e radioativos.
Dentre os componentes biológicos destacam‑se os que contêm agentes patogênicos que possam
causar doença e dentre os componentes radioativos utilizados em procedimentos de diagnóstico e
terapia, os que contêm materiais emissores de radiação ionizante.
123
Unidade II
Para a comunidade científica e entre os órgãos federais responsáveis pela definição das políticas
públicas pelos resíduos de serviços saúde (Anvisa e Conama) esses resíduos representam um potencial
de risco em duas situações:
• Para a saúde ocupacional de quem manipula esse tipo de resíduo, seja o pessoal ligado à assistência
médica ou médico‑veterinária, seja o pessoal ligado ao setor de limpeza e manutenção.
• Para o meio ambiente, como decorrência da destinação inadequada de qualquer tipo de resíduo,
alterando as características do meio.
Observação
A Resolução RDC 306/2004 (BRASIL, 2004), que dispõe sobre a obrigatoriedade do Plano de
Gerenciamento de Resíduos em Serviços de Saúde, descreve que as ações de manejo dos resíduos sólidos
deve conter ações de:
• Geração.
• Segregação.
• Acondicionamento.
• Coleta.
• Armazenamento.
• Transporte.
• Destino final.
O momento da geração é quando o profissional inicia um processo de trabalho que irá finalizar
com um resíduo a ser descartado. Nesse momento o profissional já deve ter planejado ações para
que a geração deste resíduo não cause nenhum impacto ou risco a sua saúde ou a do paciente ou
dano ao ambiente.
124
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
RISCO INFECTANTE
Figura 64
RISCO RISCO
BIOLÓGICO QUÍMICO
Figura 65 Figura 66
Figura 67
125
Unidade II
O armazenamento temporário dos resíduos deve ser feito em local específico e apropriado, pois visa
a guarda dos recipientes com os resíduos já acondicionados. Deve ser um local em ambiente externo,
exclusivo, e com acesso para os veículos coletores.
A coleta final é o transporte até a unidade de tratamento ou destinação final. Nesse momento, se
devem utilizar técnicas de preservação da integridade física do pessoal designado para essa atividade,
da população e do ambiente, e estar de acordo com as normas dos órgãos de limpeza urbana.
O tratamento final é o processo realizado dentro dos padrões de segurança que modifica as características
físicas, químicas ou biológicas dos resíduos eliminando ou minimizando o risco associado a estes.
• Substituir os materiais perigosos, sempre que possível, por outros de menor periculosidade.
A equipe de trabalho a ser responsável pelo plano será composta de membros da CCIH e do SESMT,
sendo suas atividades:
A Resolução Conama 358/2005 (BRASIL, 2005), que dispõe sobre o tratamento e a disposição final
dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências, classifica os resíduos provenientes de
serviços de saúde como:
I – Grupo A – resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características
de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção.
A1
A2
A3
• Peças anatômicas (membros) do ser humano; produto de fecundação sem sinais vitais, com
peso menor que 500 gramas ou estatura menor que 25 cm ou idade gestacional menor que 20
semanas, que não tenham valor científico ou legal e não tenha havido requisição pelo paciente
ou familiares.
A4
• Sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções, provenientes
de pacientes que não contenham e nem sejam suspeitos de conter agentes Classe de Risco 4, e
nem apresentem relevância epidemiológica e risco de disseminação, ou microrganismo causador
de doença emergente que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de
transmissão seja desconhecido ou com suspeita de contaminação com príons.
128
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
• Recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, que não contenha sangue
ou líquidos corpóreos na forma livre.
• Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais não submetidos a
processos de experimentação com inoculação de microrganismos, bem como suas forrações.
A5
II – Grupo B – resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública
ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade
e toxicidade.
III – Grupo C – quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos
em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de
Energia Nuclear‑CNEN e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista.
129
Unidade II
IV – Grupo D – resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao
meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares.
• Papel de uso sanitário e fralda, absorventes higiênicos, peças descartáveis de vestuário, resto
alimentar de paciente, material utilizado em antissepsia e hemostasia de venóclises, equipo de
soro e outros similares não classificados como A1.
Grupo A – deve ser acondicionado em saco plástico branco leitoso, resistente e impermeável. Devem
ainda possuir a identificação com o símbolo de substância infectante, sendo o desenho e seu contorno
na cor preta e o fundo branco.
Grupo E – devem ser acondicionados em recipientes rígidos preenchidos somente até 2/3 da sua
capacidade. Devem ser identificados com símbolo de substância infectante, com rótulos de fundo
130
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
8 ERGONOMIA
8.1 Ergonomia
A expressão “análise ergonômica do trabalho” começou a ser utilizada após a publicação de uma
nova versão de uma das normas que disciplinam as matérias de segurança e saúde do trabalhador no
Brasil, a qual dizia textualmente que “cabe aos empregadores realizar a análise ergonômica do trabalho”.
Trata‑se da Norma Regulamentadora de Ergonomia 17, ou NR-17, do Ministério do Trabalho e Emprego
(BRASIL, 1978e), que, em sua nova versão, ampliava o campo normativo da ergonomia.
Essa ampliação normativa da ergonomia muda a responsabilidade, que era restrita a conselhos sobre
como levantar e carregar pesos, e passa a incluir mais quatro itens:
• O mobiliário de trabalho.
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) deve ser uma análise feita em campo, baseada naquilo que
é realizado pelos trabalhadores nas situações de trabalho.
131
Unidade II
A AET tem como característica avaliar as situações de trabalho, privilegiando a relação entre as
condições de execução do trabalho e as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores (GUERIN et al.,
2001 apud SIMONELLI et al., 2010).
A realização da análise ergonômica do trabalho deve levar em consideração que este é, por natureza,
uma atividade social e econômica, assim, sua condição é indissociável da organização. Dessa maneira,
essa análise deve contemplar três aspectos:
• A atividade para a realização das tarefas com a utilização do corpo e da inteligência do homem.
Realizando a AET de maneira adequada é possível observar o trabalho real, compreendendo como o
trabalhador utilizava suas habilidades intelectuais e cognitivas para entender o ambiente do processo
de trabalho e assim realizar as ações para completar a tarefa.
Entretanto, essa prática de observação acaba sendo muito peculiar de cada observador, pois é
subjetiva à determinação “do que” e “como” observar. Para que não aconteça nenhum ou o menor
número possível de viés de observação, a definição de uma sistematização determinando quais serão os
objetivos dessa análise poderá auxiliar na conclusão da AET. Segundo Simonelli et al. (2010), essa análise
deve observar as seguintes categorias:
A AET garante a melhora das condições de trabalho através de seu objetivo principal, que é garantir o
aumento da produtividade e a qualidade dos produtos. Com as modificações das condições de trabalho, o
seu objetivo acaba se justificando em si mesmo, promovendo finalmente uma mudança real e duradoura
dos comportamentos dos trabalhadores.
Foi a partir da década de 80 que começou o desenvolvimento real da AET, contribuindo adequadamente
para os problemas de saúde associados ao trabalho. Nessa época, estava acontecendo uma epidemia de
tenossinovites entre digitadores, e a metodologia da AET surgiu como uma estratégia adequada para
avaliar as condições de trabalho, buscando por alternativas de melhoria daquele ambiente.
Com essa ação, houve um efeito muito positivo, a publicação de nova versão da Norma
Regulamentadora 17 (NR‑17) no início dos anos de 1990, fundamentada nos princípios da AET e
que, pela primeira vez, incorporava na legislação brasileira a questão da organização do trabalho
(BRASIL, 2002).
Apenas a publicação da NR‑17 não foi suficiente para a melhoria dos ambientes de trabalho, mas
serviu como instrumento para a apropriação da AET, principalmente em diversas instituições públicas –
na saúde, no trabalho ou na justiça –, na academia e até em algumas empresas particulares. A prática
de uma análise ergonômica que atendia aos requisitos qualitativos da norma serviu para fazer avançar a
compreensão da ergonomia da atividade, e não apenas melhorar a condição para evitar punições fiscais
por órgãos de fiscalização.
A ergonomia da atividade quando aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) apresenta como
fundamentos teóricos e metodológicos programas que operacionalizam práticas assistencialistas que
buscam compensar os desgastes vivenciados pelos trabalhadores nos ambientes corporativos.
A ergonomia tem por objetivo adaptar o trabalho ao ser humano, e considerando a abordagem da
QVT, deve identificar as causas mais profundas do mal‑estar no trabalho.
Sob a ótica das organizações, a QVT é um preceito de gestão organizacional que se expressa por
um conjunto de normas, diretrizes e práticas no âmbito das condições, da organização e das relações
133
Unidade II
Já sob a ótica dos trabalhadores, ela se expressa por meio das representações globais (contexto
organizacional) e específicas (situações de trabalho) que estes constroem, indicando o predomínio de
experiências de bem‑estar no trabalho, de reconhecimento institucional e coletivo, de possibilidade de
crescimento profissional e de respeito às características individuais (FERREIRA, 2012).
Qualidade de vida
Risco de adoecimento no trabalho (QVT)
Nível microergonômico
Relações Reconhecimento
Condições Organização Elo trabalho e
socioprofissionais do e crescimento
de trabalho de trabalho vida escolar
trabalho profissional
Cultura organizacional
134
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Já na figura a seguir é abordado um modelo de investigação da qualidade de vida, que tem como
ponto de partida a demanda que levou àquela investigação. Tem destaque neste tipo de avalição a
compreensão da causa dos indicadores positivos e negativos e de que maneira influenciam a qualidade
de vida no ambiente de trabalho.
135
Unidade II
Observação
• Intervir nos ambientes, processos e condições de trabalho – através da identificação dos fatores
de risco e cargas de trabalho e da caracterização dos agravos relacionados com o trabalho.
Essas duas ações devem seguir o cumprimento das normas e legislações existentes, nacionais ou, na
ausência destas, internacionais, e da negociação coletiva em saúde do trabalhador, com participação dos
trabalhadores, seus representantes e afins e com a divulgação das informações sobre riscos e agravos,
maior participação e conscientização dos trabalhadores.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, a atenção integral à saúde do trabalhador define
o atendimento integral como o conjunto de ações com prioridade das atividades preventivas, sem
prejuízo para as atividades assistenciais. A Lei nº 8.080, de 1990, estabelece ainda que o princípio da
integralidade deve abranger todas as ações necessárias em todos os níveis de atenção, permitindo desse
modo atividades mais resolutivas.
137
Unidade II
Já de acordo com a PNSST, devem ser consideradas como indissociáveis as ações de promoção e
proteção da saúde, a prevenção de agravos e do adoecimento e as ações assistenciais, que incluem
a reabilitação, em nível individual e coletivo, considerando os aspectos biológicos, sociopolíticos
e culturais envolvidos.
Como já discutido anteriormente, os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas
ao trabalho, por consequência das atividades que exercem em suas profissões ou pelas condições
adversas em que seu trabalho foi realizado. Assim, o perfil de adoecimento e morte pode ser sintetizado
conforme o quadro a seguir:
Grupo Descrição
Doenças “comuns” Aparentemente sem qualquer relação com o trabalho.
Eventualmente modificadas no aumento da frequência de
Doenças “comuns” – sua ocorrência, ou na precocidade de seu surgimento em
crônico‑degenerativas, infecciosas, trabalhadores, sob determinadas condições de trabalho. A
neoplásicas, traumáticas etc. hipertensão arterial em motoristas de ônibus urbanos, nas
grandes cidades, exemplifica essa possibilidade.
A asma brônquica, a dermatite de contato alérgica, a
Doenças “comuns” – têm o perda auditiva induzida pelo ruído (ocupacional), doenças
espectro de sua etiologia ampliado musculoesqueléticas e alguns transtornos mentais exemplificam
ou tornado mais complexo pelo essa possibilidade, à qual, em decorrência do trabalho, somam‑se
trabalho (efeito aditivo) ou multiplicam‑se (efeito sinérgico) as condições
provocadoras ou desencadeadoras desses quadros nosológicos.
Tipificados pelos acidentes do trabalho e pelas doenças
Agravos à saúde específicos profissionais. A silicose e as asbestose exemplificam este grupo de
agravos específicos.
Os Grupos 2, 3 e 4 constituem a família das doenças relacionadas com o trabalho, e a natureza dessa
relação é sutilmente distinta em cada grupo, conforme o quadro a seguir:
Grupo Descrição
Doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas doenças
I profissionais e pelas intoxicações agudas de origem ocupacional.
Doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco contributivo, mas
não necessário, exemplificadas pelas “doenças comuns” mais frequentes ou
mais precoces em determinados grupos ocupacionais, e para as quais o nexo
II causal é de natureza eminentemente epidemiológica. A hipertensão arterial e
as neoplasias malignas em determinados grupos ocupacionais ou profissões
constituem exemplo típico.
Doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente ou
agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa,
III tipificadas pelas doenças alérgicas de pele e respiratórias e pelos distúrbios
mentais, em determinados grupos ocupacionais ou profissões.
138
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Observação
Concausa significa ação, omissão ou fato que concorre com uma conduta
humana para a prática da infração penal. Tudo o que contribui para o acidente
de trabalho é a causa, concausa ou condição. A concausa ocorre quando
há contribuição multifatorial para o acometimento do resultado, que, neste
caso, é a ocorrência do acidente do trabalho (típico ou atípico).
A saúde do trabalhador, através de suas formas de intervenção nos ambientes de trabalho, sempre
buscou por superar o efeito de causa e efeito e o do processo saúde e doença. A Vigilância em Saúde do
Trabalhador deve, então, abordar não só apenas os riscos, mas os agravos e os efeitos à saúde. Devem
ser avaliados os processos de trabalho e os determinantes das condições dentro do ambiente de trabalho
que possam favorecer a promoção da saúde.
139
Unidade II
Muita confusão ainda acontece em relação às diferentes vigilâncias determinadas nas legislações atuais:
• A Vigilância Epidemiológica tem a atuação no limite técnico das informações sobre a ocorrência
das doenças.
• A Vigilância Sanitária tem atuação na intervenção dos fatores que contribuem para a ocorrência
de doenças e que podem colocar em risco a saúde de uma população.
• A Vigilância em Saúde do Trabalhador deve superar essa dicotomia e integrar as diferentes ações,
identificando o problema de saúde, e realizar as intervenções necessárias para as mudanças no
processo de trabalho.
Saiba mais
Para a avaliação do risco ocupacional é preciso primeiro entender a diferença entre o conceito de
risco e de perigo. Conforme dissemos anteriormente, risco é a probabilidade de perigo, geralmente, com
ameaça física para o homem e/ou para o ambiente, enquanto perigo é a situação em que a existência
ou a integridade de uma pessoal, um animal ou um objeto se encontra sob ameaça.
Como o risco está relacionado com a probabilidade de eventos ou falhas de componentes em processos
produtivos, a avaliação de risco deve servir para a identificação da probabilidade de ocorrência de perigos,
desenvolvendo cenários e analisando consequências dos acidentes, em especial particularmente nos casos
que resultam em exposição de trabalhadores e emissões de poluentes para o meio ambiente.
Avaliação de risco é a atividade científica que analisa as propriedades tóxicas de uma substância e
as condições de exposição em humanos, tanto para verificar a possibilidade de que os humanos expostos
se vejam afetados adversamente como para caracterizar a natureza dos efeitos que podem experimentar.
140
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
A avaliação de risco permite maior compreensão dos problemas ocupacionais e ambientais que podem
ocasionar efeitos adversos à saúde. A metodologia de avaliação de risco foi sendo aprimorada, e de acordo
com o entendimento de que as condições, as formas de trabalho e os processos produtivos são determinantes
para a relação saúde‑doença e para contaminação ambiental, passou a ser um instrumento utilizado
de maneira interdisciplinar e intersetorial, garantindo a participação dos trabalhadores e das populações
envolvidas nas áreas de vigilância em saúde do trabalhador, vigilância ambiental e epidemiológica, com o
objetivo de resultar em ações de prevenção, minimização e eliminação de riscos à saúde.
• Identificação do perigo.
• Avaliação da exposição.
Somente a partir da caracterização dos riscos é que são tomadas as decisões para o desenvolvimento
de estratégias de gerenciamento de riscos, que serão afetadas diretamente por fatores culturais, sociais,
políticos e econômicos.
• Estabelecer as condições de exposição e doses que causem formas específicas de danos ou doenças.
• Verificar a natureza e a evolução específica das doenças produzidas por uma substância.
141
Unidade II
Na avaliação da relação dose‑resposta, deverão ser levantadas todas as informações sobre a substância,
estabelecendo as concentrações que produzem um determinado efeito adverso ou efeito tóxico. Essas
doses de exposição estarão relacionadas às concentrações no ambiente e a duração e frequência, além de
fatores temporais que possam ser determinantes da exposição. Essas características da exposição e de todo
o espectro de efeitos que podem advir dela são correlacionados e conhecidos como dose‑resposta.
Assim, é possível identificar que em uma população geral há indivíduos que respondem a doses
muito baixas (os hipersensíveis), e aqueles que são mais resistentes e irão apresentar efeitos apenas com
doses muito mais elevadas. Nessa etapa de avaliação, é preciso determinar níveis aceitáveis de exposição
à substância. Essa dose considerada como aceitável é a dose de referência (DRf), uma estimativa da
exposição diária em uma população humana, que pode se apresentar sem riscos aparentes ou efeitos
deletérios durante a vida.
Na terceira etapa, de avaliação da exposição são considerados três tipos de exposição – de consumo,
ambiental e ocupacional. A exposição a uma substância pode acontecer por intermédio de alimentos
contaminados, produtos de higiene, cosméticos e por acidente.
Para a avaliação da exposição é importante que algumas questões sejam levadas em consideração:
• Quais são as vias de absorção (inalatória, dérmica ou oral) e quais as rotas de exposição (solo,
água ou ar)?
• Como as pessoas estão expostas? Em que situação (diretamente no seu processo de trabalho,
indiretamente ligadas ao processo de trabalho)? Há quanto tempo?
Na última etapa, a de caracterização do risco, se faz uma análise integrada dos resultados, reunindo
as informações das etapas anteriores. Assim o objetivo principal passa a ser a realização de um relatório,
com o maior nível possível de detalhamento dos resultados, das abordagens utilizadas e dos cenários de
exposição identificados na avaliação.
A proposta final do gerenciamento de riscos é dar subsídios para a tomada de decisões normativas,
que podem incluir:
• Redução de riscos para a saúde pública, o meio ambiente, visando ao bem‑estar geral.
• Tomada de decisão no sentido de não intervir. A sociedade pode assumir que o risco não deve ser
eliminado nesse momento.
• Combinação de decisões.
143
Unidade II
Lembrete
8.4 LER/Dort
A expressão LER (Lesões por Esforços Repetitivos) surgiu oficialmente no Brasil em 1997, com a
publicação da Portaria nº 4.062, que reconheceu a tenossinovite como uma doença relacionada ao
trabalho. A tenossinovite é uma inflamação dos tendões e das membranas que recobrem os tendões,
provocando dor, falta de força e inchaço no local. Essa doença foi chamada, muitas vezes, de tenossinovite
do digitador (BRASIL, 2001b).
Aqui, vale fazer uma diferenciação: segundo a Organização Mundial da Saúde, os distúrbios de
saúde relacionados à atividade laboral se dividem em duas categorias – doença profissional e doença
relacionada ao trabalho.
As doenças profissionais são aquelas inerentes à atividade profissional, pois não há como o
trabalhador atuar sem estar exposto ao agente causador da doença. Um exemplo disso é o cantor de
rock – não é possível cantar em uma apresentação sem estar exposto a um som extremamente alto, o
que ocasiona perdas auditivas. Aqui, há uma relação direta entre causa e efeito.
No caso das doenças relacionadas ao trabalho, não é possível identificar um agente específico
entre os que estão relacionados à atividade profissional. É o caso do professor, que usa a voz como
instrumento de trabalho. A utilização da voz está condicionada ao comportamento da classe, à matéria
dada, à hidratação da garganta, à umidade relativa do ar, ao seu período de descanso, enfim, a uma
gama enorme de fatores.
Em 1998, por meio da Ordem de Serviço INSS/DSS nº 606, foi adotada a terminologia Doença
Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (Dort), equiparando‑a à LER para respeitar a literatura já
existente na época. A partir daí, as expressões LER e Dort aparecem juntas, na forma LER/Dort.
Apesar dessa equiparação, para efeito de continuidade histórica da literatura publicada, a OS nº 606
justifica a mudança de terminologia afirmando que:
144
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
Com todas essas limitações, o que se pode dizer é que as lesões causadas por esforços repetitivos são
patologias, manifestações ou síndromes patológicas que se instalam insidiosamente em determinados
segmentos do corpo, em consequência de trabalho realizado de forma inadequada.
• Fadiga muscular.
• Dor.
• Parestesia.
• Sensação de peso.
• Mal‑estar.
• Contraturas musculares.
Esses fatores de riscos são determinados por meio de anamnese feita pelo médico do trabalho,
procurando identificar as interações entre os possíveis fatores de riscos e se essa interação é capaz de
ultrapassar a capacidade de regeneração do tecido muscular, mesmo que o funcionamento deste esteja
parcialmente mantido.
145
Unidade II
• A intensidade do esforço.
• O conforto ambiental.
• A carga estática.
• A invariabilidade da tarefa.
A CAT é um documento utilizado pelo INSS para a obtenção de dados relativos aos acidentes
do trabalho e às doenças ocupacionais. O objetivo dessa captação é fornecer informações para o
enquadramento das empresas segundo os graus de risco no ambiente do trabalho, para o cálculo da
contribuição da empresa ao INSS, destinada ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do
grau de incidência dos acidentes, e subsidiar políticas de prevenção e fiscalização das empresas.
A ginástica laboral começou na indústria com o objetivo de dar repouso ativo aos operários por alguns
períodos durante sua jornada de trabalho. A primeira referência bibliográfica de que se tem notícia sobre esse tipo
de experiência é um manual editado na Polônia, em 1925. Posteriormente, surgiram também outras publicações
na Holanda e na Rússia. Neste último país, milhões de operários em milhares de empresas passaram a praticar a
ginástica laboral, adaptada a cada ocupação, nas décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial.
Nos anos 1960, já com o nome ora apresentado, a ginástica laboral renasceu na Bulgária, na
Alemanha, na Suécia e no Japão, sendo que, neste último, consolidou‑se sua obrigatoriedade com
relação a determinadas tarefas industriais. Nos EUA, desde 1974, trabalhadores de empresas estão
envolvidos em programas diários de ginástica durante a jornada de trabalho.
146
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
A ginástica laboral visa à promoção da saúde e melhora das condições de trabalho, além da
preparação biopsicossocial dos participantes. Contribui direta ou indiretamente para a redução de lesões
por esforços repetitivos, consequentemente proporcionando aumento da produtividade com qualidade.
• Ginástica de pausa – praticada no meio do expediente, tem como meta aliviar as tensões e
fortalecer os músculos do trabalhador.
Saiba mais
O uso da ginástica laboral foi adotado nos anos 1980 pela indústria
automotiva japonesa, então em franca expansão no mercado americano. A
comédia Fábrica de Loucuras retrata os conflitos entre o modo de produção
oriental e o ocidental na época e mostra aplicações de ginástica laboral.
Certas empresas, setores de escritório e outros, muitas vezes, colocam o indivíduo em inatividade
motora, causando‑lhe grandes problemas. Exemplo disso são trabalhadores com problema de coluna,
pressão arterial etc. Algumas empresas renomadas já constataram resultados positivos na prevenção
de acidentes de trabalho, promoção da saúde e lazer para os trabalhadores, proporcionando melhor
rendimento no trabalho.
É de grande importância que a maioria das empresas adote o programa para melhoria da qualidade
de vida (ginástica laboral) dos funcionários contratando um profissional especializado. Com certeza, não
só teremos melhor produtividade, mas melhor relacionamento recíproco nas atividades diárias.
Resumo
147
Unidade II
Exercícios
Questão 1. (FCC, 2008) Os materiais utilizados nos procedimentos de enfermagem são submetidos
a processos diferenciados que visam a não disseminação de infecção. Um desses processos é a:
A) Esterilização: método utilizado para destruir todas as formas de vida microbiana, por meio do uso
de agentes físicos ou químicos.
C) Desinfecção de alto nível: método capaz de eliminar todos os microrganismos e esporos bacterianos,
exceto os esporos virais.
E) Desinfecção de baixo nível: método de remoção de sujidades por meio de fricção e uso de água e
sabão ou soluções detergentes.
148
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA
A) Alternativa correta.
Justificativa: esterilização é o processo que visa destruir todas as formas de vida e seu desenvolvimento.
Pode ser pelo processo físico ou físico‑químico.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: desinfecção de nível intermediário elimina a maioria das bactérias vegetativas, alguns
vírus e fungos.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: desinfecção de alto nível não elimina todos os microoorganismos. Elimina Mycobacterium
tuberculosis, Enterovirus, bactérias vegetativas, fungos e vírus pouco resistentes.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: na pasteurização o processo não destrói esporos bacterianos. Não se trata de desinfecção
de baixo nível e sim de limpeza.
E) Alternativa incorreta.
149
Unidade II
150
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 39
Figura 40
Figura 42
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Cartilha sobre boas práticas para serviços de
alimentação. Resolução‑RDC nº 216/2004. Brasília, 2004. Disponível em: <http://saude.es.gov.br/
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Figura 43
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=f85c494b‑2b32‑4109‑b8c1‑083cca2b7db6&method=download&args[0]=902de2b3965a183e39cf8
054f88695ff>. Acesso em: 22 dez. 2016.
Figura 46
Figura 47
Figura 50
Grupo Unip‑Objetivo.
Figura 56
Figura 58
Figura 59
Figura 60
Figura 61
Figura 62
Figura 63
Figura 68
FERREIRA, M. C. Qualidade de vida no trabalho: uma abordagem centrada no olhar dos trabalhadores.
2. ed. Brasília: Paralelo 15, 2012. p. 177.
Figura 69
FERREIRA, M. C. Qualidade de vida no trabalho: uma abordagem centrada no olhar dos trabalhadores.
2. ed. Brasília: Paralelo 15, 2012. Adaptado.
152
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158
Exercícios
Unidade I – Questão 1: CETRO. ANVISA 2013: Especialista em regulação – Vigilância sanitária – Área 1.
Unidade II – Questão 1: FCC. TRT 2ª REGIÃO (SP) 2008: Técnico Judiciário – Enfermagem.
159
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162
163
164
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000