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Biossegurança e Ergonomia

Autor: Profa. Paula de Sousa e Castro


Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo
Profa. Raquel Machado Cavalca Coutinho
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professora conteudista: Paula de Sousa e Castro

Professora‑adjunta da UNIP (Universidade Paulista) no curso de graduação em Enfermagem. Coordenadora


auxiliar do curso de Enfermagem no campus Norte da UNIP. Autora de livros‑textos para a EaD da UNIP‑Interativa.
Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein (1996). Mestre em
Ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP (2011), na área de Fundamentos e Práticas de
Gerenciamento em Enfermagem e em Saúde. Possui Aprimoramento em Saúde Pública pela Faculdade de Medicina da
Unesp‑Botucatu e especialização em Gerenciamento de Serviços de Enfermagem, Saúde da Família e Autogestão em
Saúde. Enfermeira do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C355b Castro, Paula de Sousa e.

Biossegurança e Ergonomia. / Paula de Sousa e Castro. – São


Paulo: Editora Sol, 2017.

164 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-009/17, ISSN 1517-9230.

1. Biossegurança. 2. Ergonomia. 3. Riscos ocupacionais. I. Título.

CDU 614:331.827

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Unip Interativa – EaD

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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Marcilia Brito
Lucas Ricardi
Sumário
Biossegurança e Ergonomia

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 BIOSSEGURANÇA................................................................................................................................................9
1.1 Definição......................................................................................................................................................9
1.2 Lei nº 11.105/2005................................................................................................................................. 11
1.3 Norma Regulamentadora 32 – NR‑32......................................................................................... 12
1.3.1 NR‑32 e quimioterapia.......................................................................................................................... 14
1.4 Engenharia genética............................................................................................................................ 15
1.5 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)............................................................................ 17
1.6 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)....................................................... 18
2 SIMBOLOGIA EM BIOSSEGURANÇA......................................................................................................... 21
2.1 Norma Regulamentadora 26 – NR-26......................................................................................... 21
2.2 Rotulagem e simbologia de risco................................................................................................... 28
2.2.1 Rotulagem em fracionamentos......................................................................................................... 29
2.3 Diamante de Hommel......................................................................................................................... 33
3 BOAS PRÁTICAS E NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA.................................................................................. 36
3.1 Segurança e saúde no trabalho....................................................................................................... 36
3.2 Boas práticas........................................................................................................................................... 37
3.2.1 Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 63........................................................................... 38
3.3 Boas práticas de laboratório............................................................................................................. 39
3.4 Boas práticas no atendimento à saúde........................................................................................ 43
3.5 Boas práticas na manipulação de alimentos............................................................................. 45
3.6 Higiene ocupacional............................................................................................................................ 48
3.7 Higienização das mãos........................................................................................................................ 49
3.8 Manual de boas práticas e procedimento operacional padrão.......................................... 55
4 RISCOS AMBIENTAIS E RISCOS OCUPACIONAIS.................................................................................. 56
4.1 Riscos mecânicos................................................................................................................................... 58
4.2 Riscos físicos........................................................................................................................................... 61
4.3 Riscos químicos...................................................................................................................................... 68
4.4 Riscos biológicos.................................................................................................................................... 72
4.5 Equipamento de segurança (barreiras primárias).................................................................... 76
4.6 Projeto e construção das instalações (barreiras secundárias)............................................. 77
4.7 Avaliações de riscos.............................................................................................................................. 77
4.8 Riscos ergonômicos.............................................................................................................................. 78
4.9 Níveis de biossegurança..................................................................................................................... 82
4.9.1 Níveis de biossegurança laboratorial............................................................................................... 83
4.9.2 Contenção................................................................................................................................................... 83
4.9.3 Nível de biossegurança 1 (NB‑1)....................................................................................................... 83
4.9.4 Nível de biossegurança 2 (NB‑2)....................................................................................................... 84
4.9.5 Nível de biossegurança 3 (NB‑3)....................................................................................................... 85
4.9.6 Nível de biossegurança 4 (NB‑4)....................................................................................................... 86
4.10 Mapa de riscos..................................................................................................................................... 87
4.10.1 Classificação dos riscos....................................................................................................................... 94

Unidade II
5 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA................................................................ 99
5.1 Medidas de proteção administrativa............................................................................................. 99
5.2 Medidas de proteção coletiva........................................................................................................100
5.3 Equipamento de proteção individual (EPI)...............................................................................100
5.3.1 Equipamentos de proteção à cabeça.............................................................................................104
5.3.2 Equipamentos de proteção para os membros superiores.....................................................107
5.3.3 Equipamentos de proteção para os membros inferiores.......................................................108
5.3.4 Equipamentos de proteção para o tronco...................................................................................109
6 CLASSIFICAÇÃO DE ARTIGOS MÉDICOS HOSPITALARES................................................................110
6.1 Conceitos gerais...................................................................................................................................110
6.2 Limpeza...................................................................................................................................................113
6.3 Desinfecção............................................................................................................................................115
6.3.1 Processos físicos de desinfecção.....................................................................................................115
6.3.2 Processos químicos de desinfecção................................................................................................116
6.4 Esterilização...........................................................................................................................................117
6.4.1 Processos físicos de esterilização....................................................................................................117
6.4.2 Processos químicos de esterilização..............................................................................................118
6.4.3 Monitoramento do processo de esterilização............................................................................ 118
6.5 Classificação dos artigos médico‑hospitalares.......................................................................119
7 PGRRS.................................................................................................................................................................120
8 ERGONOMIA.....................................................................................................................................................131
8.1 Ergonomia..............................................................................................................................................131
8.2 Vigilância ocupacional......................................................................................................................137
8.3 Risco ocupacional...............................................................................................................................140
8.4 LER/Dort..................................................................................................................................................144
8.4.1 Ginástica laboral................................................................................................................................... 146
APRESENTAÇÃO

A disciplina Biossegurança e Ergonomia tem como objetivo oferecer subsídios para o profissional
da área da saúde analisar sua conduta no que diz respeito às questões de segurança durante sua
atuação profissional.

Essas questões de segurança dizem respeito ao próprio profissional, à comunidade, ao meio ambiente
e ao seu próprio objeto de trabalho, seja ele um paciente, um animal ou um organismo geneticamente
modificado, tanto na prática clínica e hospitalar quanto na pesquisa. Nesta disciplina, o profissional da
área da saúde se capacitará a identificar os principais agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos
que causam risco tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente.

Essa análise é a base de todo o conhecimento em biossegurança e é aplicável a qualquer ambiente de


trabalho. O profissional também conhecerá a simbologia de risco e o uso de equipamentos de proteção
individual e coletiva, a fim de se realizarem práticas laboratoriais e clínicas adequadas com relação à
segurança da saúde humana.

Além disso, aprenderá sobre a Lei de Biossegurança, no que diz respeito à manipulação de organismos
geneticamente modificados, e terá noções sobre infecções hospitalares e níveis de biossegurança
laboratorial, com suas aplicações e requisitos.

A disciplina também inclui dados sobre procedimentos de descontaminação e como aplicá‑los a


artigos médico‑hospitalares, sobre o manejo de resíduos de serviços de saúde e sobre algumas questões
de legislação trabalhista.

INTRODUÇÃO

Toda e qualquer atividade humana nos expõe a esforços físicos e riscos de acidentes, mas, se
considerarmos que passamos mais tempo no ambiente de trabalho que em qualquer outro, precisamos
pensar nos efeitos que a atividade profissional nos causa à saúde.

Dependendo da atividade profissional, pela própria característica do trabalho, o trabalhador é exposto


a produtos químicos, radiações, doenças e solicitações físicas repetitivas em níveis acima do aceitável,
que provocam deteriorações no corpo em curto, médio e longo prazos, muitas vezes incapacitando o
indivíduo para exercer sua profissão.

Nas ciências da saúde, os profissionais estão expostos a condições especiais, cujo estudo se
chama Biossegurança.

A Biossegurança é uma ciência interdisciplinar cujo objetivo é proteger tanto o trabalhador


como o objeto de trabalho dos riscos inerentes à atividade do profissional. Entenda como objeto de
trabalho o paciente, o material de pesquisa, o alimento processado, os animais e plantas tratados
e o meio ambiente.

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Como objetiva a proteção de indivíduos, em alguns momentos, a Biossegurança também esbarra em
questões relacionadas à bioética.

A Lei nº 11.105/2005, conhecida como Lei da Biossegurança, deixa essa característica muito clara.
O estudo da Biossegurança visa, sempre, à prevenção de riscos ou, se não for possível, à contenção dos
agentes perigosos.

Para isso, busca‑se o estudo dos mecanismos de ação desses agentes e, então, estabelecem‑se
procedimentos seguros de ação. Antes de aprofundarmo‑nos no estudo da Biossegurança, vale a pena
ressaltar que a maioria dos acidentes de trabalho é decorrente de imperícia, negligência e, até mesmo,
imprudência dos operadores, portanto, a regra de ouro na prevenção de acidentes é atenção e bom senso.

Uma expressão muito citada nos meios profissionais é “boas práticas”. Dá‑se o nome de boas práticas
aos procedimentos seguros de trabalho.

Esses procedimentos são estabelecidos com antecedência, baseando‑se em normas técnicas, na


legislação vigente, no histórico da atividade ou, simplesmente, na prática e no bom senso.

É muito importante que o estabelecimento de regras de boas práticas seja feito com antecedência,
pois a função principal de qualquer procedimento de segurança é evitar o acidente. Qualquer atividade
após o acidente serve somente para reduzir prejuízos.

As atividades profissionais na área da saúde possuem riscos inerentes ao ramo, já que frequentemente
o profissional está exposto a microrganismos patogênicos, substâncias perigosas ou animais agressivos.

Executar o trabalho seguindo rigorosamente os procedimentos estabelecidos pelas boas práticas,


além de tornar a atividade segura, torna‑a repetitiva, reduzindo a variação nos resultados.

A expressão “boas práticas” vem geralmente associada a uma identificação do ramo de trabalho
– boas práticas de fabricação, boas práticas de laboratório, boas práticas de preparação etc., porém o
conceito é o mesmo, o que muda são as técnicas específicas para cada ramo.

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BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Unidade I
1 BIOSSEGURANÇA

1.1 Definição

A Biossegurança é uma disciplina nova, surgida no século XX, voltada para o controle e a minimização
de riscos advindos da prática de diferentes ramos do conhecimento humano relacionados à saúde e ao
meio ambiente, seja em laboratório, produção de alimentos ou, quando aplicada, a trabalhos de campo.

A biossegurança é regulada em vários países no mundo por um conjunto de leis, procedimentos ou


diretivas específicas. No Brasil, a primeira legislação de biossegurança foi criada em 1995, enfocando
apenas questões relacionadas com a engenharia genética, que é a tecnologia do DNA ou RNA
recombinante, estabelecendo os requisitos para o manejo de organismos geneticamente modificados,
para permitir o desenvolvimento sustentado da biotecnologia.

O fundamento básico da biossegurança é assegurar o avanço dos processos tecnológicos e proteger


a saúde humana e animal e o meio ambiente. Sendo assim, as tecnologias baseadas em DNA ou
RNA recombinantes são tratadas, pela biossegurança, sob três aspectos – o primeiro diz respeito aos
procedimentos empregados para garantir a segurança imediata dos manipuladores; o segundo, ao
futuro, já que é muito difícil prever os efeitos de manipulações genéticas em populações e no meio
ambiente em longo prazo; já o terceiro é o questionamento sobre quais manipulações genéticas são
adequadas em relação à ética. Nesse último aspecto, esbarramos em outra área do conhecimento,
chamada bioética.

Observação

Biossegurança é uma ciência multidisciplinar. Envolve conhecimentos


de Física, Química, Microbiologia, Antropometria, Fisiologia, Legislação
Trabalhista e qualquer outra disciplina que se faça necessária.

Com relação ao aspecto relacionado ao trabalhador em sua atividade cotidiana, as normas tradicionais
de segurança laboratorial enfatizam o uso de boas práticas de trabalho, equipamentos de contenção
adequados, dependências bem projetadas e controles administrativos que minimizem os riscos de uma
infecção acidental ou ferimentos em trabalhadores de laboratório, e ainda que evitem a contaminação
do meio ambiente.

Porém, medidas de biossegurança específicas precisam ser discutidas e adotadas por laboratórios de
pesquisa, aliadas a um amplo plano de educação baseado nas normas nacionais e internacionais quanto
9
Unidade I

ao transporte, à conservação e à manipulação de microrganismos geneticamente modificados e seus


produtos derivados.

Embora os laboratórios clínicos e de pesquisas possam conter uma variedade de materiais biológicos,
químicos e radioativos perigosos, até o momento existem poucos relatórios sobre o uso intencional de
quaisquer desses materiais de forma a causar prejuízos a outros. Entretanto, há crescente preocupação
sobre o possível uso de materiais biológicos, químicos e radioativos como agentes para o terrorismo. Em
resposta a essas preocupações, há normas que orientam essas questões de segurança laboratorial, como
a prevenção da entrada de pessoas não autorizadas em áreas laboratoriais e da remoção não autorizada
de agentes biológicos perigosos, entre outras.

O conceito de biossegurança surgiu na década de 1970, na reunião de Asilomar, na Califórnia, quando


a comunidade científica iniciou a discussão sobre os impactos da engenharia genética na sociedade
(COSTA; COSTA, 2002).

A partir daí, o termo “biossegurança” foi sofrendo alterações. Na década de 1970, a Organização
Mundial da Saúde a definia como “práticas preventivas para o trabalho com agentes patogênicos para
o homem” (WHO apud COSTA; COSTA, 2002).

O foco voltava‑se para a saúde do trabalhador frente aos riscos biológicos no ambiente ocupacional.
Já na década de 1980, a própria OMS incorporou a essa definição os chamados riscos periféricos
presentes em ambientes laboratoriais que trabalhavam com agentes patogênicos para o homem, como
os riscos químicos, físicos, radioativos e ergonômicos.

Nos anos 1990, verificamos que a definição de biossegurança sofreu mudanças significativas. Em
um seminário realizado no Instituto Pasteur, em Paris, foi observada a inclusão de temas, como ética
em pesquisa, meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante, em
programas de biossegurança (COSTA; COSTA, 2002).

No Brasil, por iniciativa do então senador Marco Antônio Maciel, um Projeto de Lei de Biossegurança foi
submetido à aprovação do Congresso Nacional em 1989. O conhecimento e o interesse por essa área, no
entanto, só foram fortalecidos com a Convenção sobre a Diversidade Biológica, aprovada em 1992 durante
a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92 ou Rio 92.

Um maior interesse por normas definidas para o manuseio e uso de organismos geneticamente
modificados (OGM), mais conhecidos como organismos transgênicos, partiu de instituições de pesquisa
que desenvolviam atividades de engenharia genética. Em maio de 1994, a Embrapa Recursos Genéticos
e Biotecnologia (Cenargen), com apoio da Unido/ICGEB, organizou o primeiro workshop internacional
sobre organismos transgênicos no Brasil. Participantes de instituições de pesquisa e empresas privadas
do Brasil e de outros países da América Latina receberam instruções sobre aspectos de biossegurança
de organismos transgênicos e debateram o desenvolvimento de regulamentação desse setor na região.

Foi formado um grupo de trabalho que incluía a Embrapa, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a
Associação Brasileira de Empresas de Biotecnologia (Abrabi) para acompanhar as discussões do Projeto
10
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

de Lei de Biossegurança no Congresso Nacional, com o apoio do seu relator na Câmara dos Deputados,
o deputado Sérgio Arouca.

O resultado desse trabalho, que também contou com o apoio de empresas privadas, culminou com
a aprovação da Lei de Biossegurança em dezembro de 1994, a qual veio a ser a primeira lei sancionada
pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, a Lei nº 8.794, de 6 de janeiro de
1995. O decreto regulamentador da lei, Decreto nº 1.974, elaborado por uma comissão interministerial
presidida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, foi publicado em dezembro de 1995.

A Lei de Biossegurança de 1995 regulava todos os aspectos da manipulação e uso de OGM no


Brasil, incluindo pesquisa em contenção, experimentação em campo, transporte, importação, produção,
armazenamento e comercialização.

Seu escopo limitou‑se ao uso da engenharia genética, ou uso da técnica do DNA/RNA recombinante,
para a troca de material genético entre organismos vivos. Outras técnicas biotecnológicas, como fusão
celular e cultura de tecidos, não foram incluídas. Porém, por não abordar assuntos polêmicos, como
o uso terapêutico de células‑tronco embrionárias e a autorização para o uso comercial de alimentos
transgênicos, a Lei nº 8.794/95 foi revogada e substituída pela Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005.

Observação

A biossegurança compreende um conjunto de ações destinadas a


prevenir, controlar, mitigar ou eliminar riscos inerentes às atividades que
possam interferir ou comprometer a qualidade de vida, a saúde humana
e o meio ambiente. Desta forma, a biossegurança caracteriza‑se como
estratégica e essencial para a pesquisa e o desenvolvimento sustentável
sendo de fundamental importância para avaliar e prevenir os possíveis
efeitos adversos de novas tecnologias à saúde.

1.2 Lei nº 11.105/2005

Esta lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo,
a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento,
a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de OGMs e seus
derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia,
a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal e a observância do princípio da precaução para a
proteção do meio ambiente.

Ela regulamenta os incisos II, IV e V do § 1, do art. 225 da Constituição Federal. Esse artigo diz
que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo‑se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê‑lo
e preservá‑lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).

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Unidade I

Para assegurar a efetividade desse direito, é incumbido ao Poder Público:

• Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades


dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.

• Controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que


comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

1.3 Norma Regulamentadora 32 – NR‑32

A Norma Regulamentadora 32, conhecida como NR‑32, é uma legislação do Ministério do Trabalho e
Emprego, que tem como objetivo principal prevenir os acidentes e o adoecimento causado pelo trabalho
nos profissionais de saúde, através da eliminação ou do controle das condições de risco presentes nos
serviços de saúde.

Essa norma estabelece quais são as medidas necessárias para proteger a segurança e a saúde dos
trabalhadores de saúde, em qualquer serviço de saúde, inclusive aqueles que trabalham em escolas,
realizando pesquisas ou na atividade direta de docência. Dessa maneira, esta legislação abrange todas
as instituições que sejam destinadas às ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, assistência
e recuperação, além das atividades de pesquisa e ensino em saúde.

A NR‑32 recomenda a capacitação dos trabalhadores para o trabalho seguro, além de determinar a
adoção de medidas preventivas para cada situação de risco.

Essa regulamentação deve ser seguida dentro da instituição de saúde, não apenas pelos seus
trabalhadores próprios, mas também por empregados de empresas terceirizadas, cooperativas e
prestadores de serviço.

A implantação da NR‑32 deve fazer com que os funcionários e os empregadores tenham


uma participação conjunta, em que os empregadores devem ter compromisso em aplicar todas
as recomendações, controlar as ações, fazer uma gestão efetiva e fiscalizar que todos apliquem
adequadamente as recomendações. Já aos funcionários cabe se conscientizar sobre a necessidade e
importância em seguir a norma, exigir e participar de capacitações e ter uma participação ativa nas
avaliações necessárias a respeito da segurança do ambiente de trabalho.

Lembrete

A NR‑32 dispõe que a responsabilidade é solidária, ou seja, compartilhada


entre a empresa e seus funcionários quanto ao seu cumprimento.

A NR‑32 faz interações com outras normas regulamentadoras, complementando e integralizando


diversas recomendações, em especial com:

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BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• NR‑04 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT.

• NR‑05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – Cipa.

• NR‑06 – Equipamento de Proteção Individual – EPI.

• NR‑07 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO.

• NR‑09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA.

• NR‑15 – Atividades e Operações Insalubres.

• NR‑16 – Atividades e Operações Perigosas.

• NR‑17 – Ergonomia.

• NR‑24 – Condições Sanitárias e de Conforto.

• NR‑26 – Sinalização de Segurança.

Além da interação com outras Normas, a NR‑32, também se relaciona com outros programas, como:
Plano de Proteção Radiológica (PPR); Programa de Gerenciamento de Resíduos nos Serviços de Saúde
(PGRSS); Programa Nacional de Imunização (PNI‑MS); Programa de Controle de Infecção Hospitalar, e
com a RDC‑50 da Anvisa, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação,
elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.

Saiba mais

Para complementar seus estudos, busque a leitura de todas essas


normas, bem como de outras legislações disponíveis no site do Ministério
do Trabalho e Emprego:

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Legislação. Brasília, 2008.


Disponível em: <http://acesso.mte.gov.br/legislacao/>. Acesso em: 21
nov. 2016.

A NR‑32 regulamenta quais devem ser os cuidados após acidentes perfurocortantes, e em relação a
esses acidentes, os profissionais mais expostos são os de enfermagem, pois:

• São a maior categoria dos serviços de saúde.

• Têm contato direto na assistência aos pacientes.

13
Unidade I

• A frequência e o tipo de tarefas realizadas os colocam em maior susceptibilidade.

Para a diminuição desse tipo de acidente, a NR‑32 determina que são vedados o reencape e a
desconexão manual das agulhas, visto o alto risco de transmissão pelos vírus da Hepatite B e C e do HIV.

A NR‑32 também determina que os trabalhadores, de qualquer categoria, com feridas ou lesões nos
membros superiores só poderão ter suas atividades liberadas após avaliação médica obrigatória com
emissão de documento de liberação para o trabalho.

De acordo com a norma é obrigatório ao empregador vedar:

• A utilização de pias de trabalho para fins diversos dos previstos.

• O ato de fumar.

• O uso de adornos e o manuseio de lentes de contato em local de trabalho.

• O consumo de alimentos e bebidas nos postos de trabalho.

• A guarda de alimentos e bebidas em locais não destinados para esse fim.

• O uso de calçados abertos.

O empregador ainda deve providenciar locais apropriados para o fornecimento de vestimentas limpas
e para a deposição de usadas, e o empregado não deve deixar o local de trabalho com os equipamentos
de proteção individual, bem como as vestimentas utilizadas nos locais de trabalho.

A responsabilidade pela higienização das vestimentas utilizadas em centros cirúrgicos, serviços de


tratamento intensivo e quando em unidades de doenças infectocontagiosas, em que a vestimenta tenha
contato com material orgânico, é de responsabilidade do empregador.

1.3.1 NR‑32 e quimioterapia

Com relação aos quimioterápicos, a NR‑32 determina como acidente:

• Ambiental – contaminação do ambiente devido à saída do medicamento do envase no qual esteja


acondicionado, seja por derramamento ou por aerodispersóides sólidos ou líquidos.

• Pessoal – contaminação gerada por contato ou inalação dos medicamentos da terapia


quimioterápica antineoplásica em qualquer das etapas do processo.

A recomendação da Anvisa pela RDC 220 é que em casos de acidentes com quimioterápicos deve‑se:

• Registrar todos os acidentes em formulário específico.


14
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Remover o vestuário imediatamente quando houver contaminação.

• Lavar com água e sabão as áreas da pele atingidas.

• Lavar com água ou solução isotônica em abundância e providenciar acompanhamento médico


quando da contaminação dos olhos ou de outras mucosas,.

• Promover a descontaminação de toda a superfície interna da cabine.

A NR‑32 determina que o empregador deve:

• Proibir fumar, comer ou beber, bem como portar adornos ou maquiar‑se.

• Afastar das atividades as trabalhadoras gestantes e nutrizes.

• Proibir que os trabalhadores expostos realizem atividades com possibilidade de exposição aos
agentes ionizantes.

• Fornecer aos trabalhadores avental confeccionado com material impermeável, com frente resistente
e fechado nas costas, mangas compridas e com punho justo, quando no preparo e administração.

• Fornecer aos trabalhadores dispositivos de segurança que minimizem a geração de aerossóis e a


ocorrência de acidentes durante a manipulação e administração dos quimioterápicos.

1.4 Engenharia genética

No artigo das definições, a Lei nº 11.105/2005 explica diversos termos técnicos como:

• Organismo – toda entidade biológica capaz de reproduzir ou transferir material genético, inclusive
vírus e outras classes que venham a ser conhecidas.

• ADN e ARN – material genético que contém informações determinantes dos caracteres
hereditários transmissíveis à descendência.

• ADN/ARN recombinante – as moléculas manipuladas fora das células vivas mediante a


modificação de segmentos de ADN/ARN natural ou sintético e que possam multiplicar‑se em uma
célula viva, ou ainda as moléculas de ADN/ARN resultantes dessa multiplicação; consideram‑se
também os segmentos de ADN/ARN sintéticos equivalentes aos de ADN/ARN natural.

• Engenharia genética – atividade de produção e manipulação de moléculas de ADN/ARN recombinante.

• Organismo geneticamente modificado (OGM) – organismo cujo material genético (ADN/ARN)


tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética.

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Unidade I

Essa lei não se aplica quando a modificação genética for obtida por meio de diversas técnicas de
manipulação celular, desde que não impliquem a utilização de OGM como receptor ou doador.

Note que, para ser um OGN, o organismo deve ser resultado de técnicas utilizando ADN/ARN
recombinante.

Essa lei também permite, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células‑tronco embrionárias
obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo
procedimento, atendidas as seguintes condições:

I – sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três)


anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data
da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a
partir da data de congelamento.

§ 1. Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2. Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou


terapia com células‑tronco embrionárias humanas deverão submeter seus
projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em
pesquisa.

§ 3. É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este


artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de
4 de fevereiro de 1997.

Art. 6. Fica proibido:

I – implementação de projeto relativo a OGM sem a manutenção de registro


de seu acompanhamento individual;

II – engenharia genética em organismo vivo ou o manejo in vitro de ADN/


ARN natural ou recombinante, realizado em desacordo com as normas
previstas nesta Lei;

III – engenharia genética em célula humana;

IV – clonagem humana;

V – destruição ou descarte no meio ambiente de OGM e seus derivados


em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio, pelos órgãos e
entidades de registro e fiscalização (BRASIL, 2005).

16
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

1.5 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS)

O Conselho Nacional de Biossegurança é um órgão de assessoramento do Presidente da República


para a formulação e implementação da Política Nacional de Biossegurança (PNB).

Compete ao CNBS:

I – fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e


entidades federais;

II – analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e


oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de
liberação para uso comercial de OGM e seus derivados;

[...]

O CNBS é composto pelos seguintes membros:

I – Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República, que


o presidirá;

II – Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia;

III – Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário;

IV – Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

V – Ministro de Estado da Justiça;

VI – Ministro de Estado da Saúde;

VII – Ministro de Estado do Meio Ambiente;

VIII – Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

IX – Ministro de Estado das Relações Exteriores;

X – Ministro de Estado da Defesa;

XI – Secretário Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República


(BRASIL, 2005).

17
Unidade I

1.6 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança é uma comissão multidisciplinar, de caráter consultivo


e deliberativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação,
atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados, bem como no estabelecimento de
normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que
envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco
zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente.

A CTNBio é o órgão que acompanha o desenvolvimento e o progresso técnico e científico nas áreas
de biossegurança, biotecnologia, bioética e afins, com o objetivo de aumentar sua capacitação para a
proteção da saúde humana, dos animais e das plantas e do meio ambiente.

Art. 11. A CTNBio, composta de membros titulares e suplentes, designados


pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, será constituída por 27
(vinte e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de
notória atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com
destacada atividade profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia,
biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente, sendo:

I – 12 (doze) especialistas de notório saber científico e técnico, em efetivo


exercício profissional, sendo:

a) 3 (três) da área de saúde humana;

b) 3 (três) da área animal;

c) 3 (três) da área vegetal;

d) 3 (três) da área de meio ambiente;

II – um representante de cada um dos seguintes órgãos, indicados pelos


respectivos titulares:

a) Ministério da Ciência e Tecnologia;

b) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

c) Ministério da Saúde;

d) Ministério do Meio Ambiente;

e) Ministério do Desenvolvimento Agrário;

18
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

f) Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

g) Ministério da Defesa;

h) Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República;

i) Ministério das Relações Exteriores;

III – um especialista em defesa do consumidor, indicado pelo Ministro da


Justiça;

IV – um especialista na área de saúde, indicado pelo Ministro da Saúde;

V – um especialista em meio ambiente, indicado pelo Ministro do Meio


Ambiente;

VI – um especialista em biotecnologia, indicado pelo Ministro da Agricultura,


Pecuária e Abastecimento;

VII – um especialista em agricultura familiar, indicado pelo Ministro do


Desenvolvimento Agrário;

VIII – um especialista em saúde do trabalhador, indicado pelo Ministro do


Trabalho e Emprego.

§ 1. Os especialistas de que trata o inciso I do caput deste artigo serão


escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada com a participação das
sociedades científicas, conforme disposto em regulamento.

§ 2. Os especialistas de que tratam os incisos III a VIII do caput deste artigo


serão escolhidos a partir de lista tríplice, elaborada pelas organizações da
sociedade civil, conforme disposto em regulamento.

§ 3. Cada membro efetivo terá um suplente, que participará dos trabalhos


na ausência do titular.

§ 4. Os membros da CTNBio terão mandato de 2 (dois) anos, renovável por


até mais 2 (dois) períodos consecutivos.

[...]

Compete à CTNBio:

I – estabelecer normas para as pesquisas com OGM e derivados de OGM;


19
Unidade I

II – estabelecer normas relativamente às atividades e aos projetos


relacionados a OGM e seus derivados;

III – estabelecer, no âmbito de suas competências, critérios de avaliação e


monitoramento de risco de OGM e seus derivados;

IV – proceder à análise da avaliação de risco, caso a caso, relativamente a


atividades e projetos que envolvam OGM e seus derivados;

V – estabelecer os mecanismos de funcionamento das Comissões Internas


de Biossegurança – CIBio, no âmbito de cada instituição que se dedique ao
ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produção
industrial que envolvam OGM ou seus derivados;

VI – estabelecer requisitos relativos à biossegurança para autorização de


funcionamento de laboratório, instituição ou empresa que desenvolverá
atividades relacionadas a OGM e seus derivados;

VII – relacionar‑se com instituições voltadas para a biossegurança de OGM


e seus derivados, em âmbito nacional e internacional;

VIII – autorizar, cadastrar e acompanhar as atividades de pesquisa com OGM


ou derivado de OGM, nos termos da legislação em vigor;

IX – autorizar a importação de OGM e seus derivados para atividade de pesquisa;

X – prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao CNBS na


formulação da PNB de OGM e seus derivados;

XI – emitir Certificado de Qualidade em Biossegurança – CQB para o


desenvolvimento de atividades com OGM e seus derivados em laboratório,
instituição ou empresa e enviar cópia do processo aos órgãos de registro e
fiscalização referidos no art. 16 desta Lei;

XII – emitir decisão técnica, caso a caso, sobre a biossegurança de OGM e


seus derivados no âmbito das atividades de pesquisa e de uso comercial de
OGM e seus derivados, inclusive a classificação quanto ao grau de risco e
nível de biossegurança exigido, bem como medidas de segurança exigidas e
restrições ao uso;

XIII – definir o nível de biossegurança a ser aplicado ao OGM e seus usos, e


os respectivos procedimentos e medidas de segurança quanto ao seu uso,
conforme as normas estabelecidas na regulamentação desta Lei, bem como
quanto aos seus derivados;
20
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

XIV – classificar os OGM segundo a classe de risco, observados os critérios


estabelecidos no regulamento desta Lei;

XV – acompanhar o desenvolvimento e o progresso técnico‑científico na


biossegurança de OGM e seus derivados;

XVI – emitir resoluções, de natureza normativa, sobre as matérias de sua


competência;

XVII – apoiar tecnicamente os órgãos competentes no processo de prevenção


e investigação de acidentes e de enfermidades, verificados no curso dos
projetos e das atividades com técnicas de ADN/ARN recombinante;

XVIII – apoiar tecnicamente os órgãos e entidades de registro e fiscalização,


referidos no art. 16 desta Lei, no exercício de suas atividades relacionadas a
OGM e seus derivados;

XX – identificar atividades e produtos decorrentes do uso de OGM e seus


derivados potencialmente causadores de degradação do meio ambiente ou
que possam causar riscos à saúde humana;

XXI – reavaliar suas decisões técnicas por solicitação de seus membros


ou por recurso dos órgãos e entidades de registro e fiscalização,
fundamentado em fatos ou conhecimentos científicos novos, que sejam
relevantes quanto à biossegurança do OGM ou derivado, na forma desta
Lei e seu regulamento;

XXII – propor a realização de pesquisas e estudos científicos no campo da


biossegurança de OGM e seus derivados (BRASIL, 2005).

2 SIMBOLOGIA EM BIOSSEGURANÇA

2.1 Norma Regulamentadora 26 – NR-26

As Normas Regulamentadoras (NR), relativas à segurança e saúde do trabalho, são de observância


obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta,
bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho
acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente.

21
Unidade I

A Norma Regulamentadora 26 determina:

26.1 Cor na segurança do trabalho.

26.1.1 Devem ser adotadas cores para segurança em estabelecimentos ou


locais de trabalho, a fim de indicar e advertir acerca dos riscos existentes.

26.1.2 As cores utilizadas nos locais de trabalho para identificar os


equipamentos de segurança, delimitar áreas, identificar tubulações
empregadas para a condução de líquidos e gases e advertir contra riscos,
devem atender ao disposto nas normas técnicas oficiais.

26.1.3 A utilização de cores não dispensa o emprego de outras formas de


prevenção de acidentes.

26.1.4 O uso de cores deve ser o mais reduzido possível, a fim de não
ocasionar distração, confusão e fadiga ao trabalhador (BRASIL, 2011b).

As cores utilizadas e padronizadas são:

• Vermelho.

• Amarelo.

• Branco.

• Preto.

• Azul.

• Verde.

• Lilás.

• Cinza.

• Alumínio.

• Marrom.

• Púrpura.

22
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

O quadro a seguir faz um resumo de qual é a indicação de cada cor e suas características:

Quadro 1

Cor Cor Indicação


Distinguir e indicar equipamentos e aparelhos de proteção e combate a
Vermelho incêndio.
Deve ser usado em canalizações para identificar gases não liquefeitos.
Amarelo Também utilizado para indicar “cuidado” em partes baixas de escadas,
parapeitos, pisos e faixas de pisos de entradas de elevadores, por exemplo.
Usado para sinalizar a direção ou a circulação em determinada área.
Branco Sinalizar locais onde estão coletores de resíduos e bebedouros, além de
áreas determinadas para armazenagem.

Preto Indicar canalizações de gases inflamáveis e combustíveis de alta


viscosidade (óleo lubrificante, asfalto e óleo combustível).
Cuidado! – limitado o seu emprego a avisos contra o uso e
Azul movimentação de equipamentos, que deverão permanecer fora do
serviço.
Segurança – deverá ser empregado para identificar macas, localização de
Verde EPI, dispositivo de segurança e mangueiras de oxigênio.

Lilás Utilizar em canalizações que contenham álcalis.

Tonalidade clara – canalizações em vácuo.


Cinza
Tonalidade escura – identificar eletrodutos.
Canalização de gases liquefeitos, inflamáveis e de baixa viscosidade –
Alumínio óleo diesel, gasolina e querosene, por exemplo.
A critério da empresa para qualquer fluído não identificável por outras
Marrom cores.
Canalização contendo ácidos.
Laranja
Dispositivos de corte, borda de serras e prensas.
Para indicar perigo conveniente das radiações eletromagnéticas
Púrpura penetrantes e partículas nucleares.

A seguir apresentamos alguns símbolos que devem ser padronizados e de fácil visualização, de
maneira a prevenir acidentes e minimizar riscos e danos.

Sinais de perigo

É importante que os sinais de perigo sejam padronizados:

• Em formato triangular.

• Com um pictograma negro sobre fundo amarelo, com margem negra.

23
Unidade I

Figura 1 – Perigo de eletrocussão Figura 2 – Perigo – queda com desnível

Figura 3 – Perigo – carga suspensa Figura 4 – Perigo – vários

Figura 5 – Perigo – veículos de movimentação de cargas Figura 6 – Perigo – substâncias tóxicas


cancerígenas, mutagênicas

Figura 7 – Substâncias radioativas Figura 8 – Perigo – raios laser

Figura 9 – Perigo – radiações não ionizantes Figura 10 – Perigo – substâncias comburentes

24
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Figura 11 – Perigo – forte campo eletromagnético Figura 12 – Perigo – tropeçamento

Figura 13 – Perigo – baixas temperaturas

Os sinais de proibição devem possuir as seguintes características:

• Forma circular.

• Pictograma negro sobre o fundo branco.

• Margem e faixa na diagonal, sempre descendente da esquerda para a direita, ao longo do


pictograma, a 45º e na cor vermelha.

Figura 14 – Proibido fumar Figura 15 – Proibida a entrada de pessoas não autorizadas

Figura 16 – Proibido fazer lume e fumar Figura 17 – Água não potável

25
Unidade I

Figura 18 – Proibida a passagem de pedestre Figura 19 – Não tocar

Os sinais de obrigação devem possuir as seguintes características:

• Forma circular.

• Pictograma branco sobre fundo azul.

Figura 20 – Proteção obrigatória para os olhos Figura 21 – Proteção obrigatória para a cabeça

Figura 22 – Proteção obrigatória nos ouvidos Figura 23 – Proteção obrigatória nas mãos

Para os sinais de padronização de salvamento e de orientação, a sinalização deve ser:

• De forma quadrada ou retangular.

• Cor de fundo – cor de segurança – verde.

• Cor do símbolo – cor de contraste – fotoluminescente.

• Margem opcional – fotoluminescente.

26
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Figura 24 – Primeiros socorros Figura 25 – Primeiros socorros

Figura 26 – Ducha de segurança Figura 27 – Indicação de direção para uma saída de emergência

Para a sinalização de equipamentos, a padronização é:

• Forma quadrada ou retangular.

• Cor de fundo – segurança – vermelha.

• Cor de símbolo – cor de contraste – fotoluminescente.

• Margem opcional – fotoluminescente.

Figura 28 – Telefone Figura 29 – Extintor

Figura 30 – Seta indicativa de localização de equipamentos Figura 31 – Abrigo de mangueira e hidrante


de combate a incêndio ou alarme

27
Unidade I

2.2 Rotulagem e simbologia de risco

Quando um laboratório adquire um produto químico no Brasil, o recipiente desse produto deve
possuir um rótulo contendo informações de acordo com o especificado na norma NBR 14725.

Essas informações devem ser breves, precisas, redigidas em terminologia simples e de fácil
compreensão. Essas informações são necessárias para que se evitem riscos resultantes de uso,
manipulação e armazenagem inadequadas do produto.

Para que quaisquer tipos de riscos e danos advindos da manipulação de diversos produtos sejam
minimizados, é importante que o rótulo do produto sempre contenha:

• Nome técnico do produto.

• Palavra de advertência – segundo o grau de risco.

• Perigo.

• Cuidado.

• Atenção.

• Indicação de risco.

• Medidas preventivas.

• Mantenha afastado do calor.

Primeiros socorros

• Informações para médicos e outros profissionais de saúde.

• Instruções especiais em caso de fogo, derrame ou vazamento.

A rotulagem sempre deve ser instituída como garantia de que com o uso de símbolos e textos de
avisos adequados as precauções de segurança serão aplicadas corretamente.

A NR‑32 determina que deve ser mantida a rotulagem original do fabricante nas embalagens dos
produtos químicos utilizados em serviços de saúde.

28
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

2.2.1 Rotulagem em fracionamentos

Quando um laboratório compra um produto químico, dificilmente o faz em pequenas quantidades.

Normalmente, esses produtos vêm em frascos de grande porte, o que torna impraticável o seu uso
em bancadas de trabalho. Nesse caso, o trabalhador precisará fracionar o material e acondicioná‑lo em
um novo frasco.

Da mesma forma, quando é necessário fazer uma mistura, uma solução ou qualquer outro tipo
de preparação, também pode ser preciso o acondicionamento dos produtos em frascos específicos
para uso posterior.

Esses frascos podem se tornar um grande perigo, pois, com o acúmulo de vários frascos, o trabalhador
poderá não identificar mais seus conteúdos.

Cada laboratório possui, especificado nas suas rotinas de trabalho, algum procedimento de rotulagem
de fracionamentos, porém algumas informações são fundamentais. Todos esses frascos devem conter
um rótulo com as seguintes informações:

• Nome do produto.

• Quem o preparou.

• Data de preparo.

• Data de validade.

Observação

Ao se reutilizar um frasco, é necessário que se remova completamente


a etiqueta inicial antes de colocar uma etiqueta nova. Caso seja encontrado
um frasco sem rótulo de identificação, não se deve tentar adivinhar o que
há em seu interior; se não houver possibilidade de identificação, o produto
deve ser descartado.

É perigoso reutilizar o frasco de um produto rotulado para guardar qualquer outro diferente, ou
mesmo colocar outra etiqueta sobre a original. Isso pode causar acidentes.

De acordo com a NR‑32, todo recipiente que contenha produto químico que tenha sido manipulado
ou fracionado deve ser identificado, de forma legível, por etiqueta com o nome do produto, composição
química, concentração, data do envasamento e sua validade, além do nome do responsável pela
manipulação ou fracionamento.

29
Unidade I

A NR‑32 ainda veda o procedimento de reutilização das embalagens de produtos químicos.

A seguir vamos encontrar os principais símbolos que devem ser padronizados nas embalagens
e rotulagens.

Símbolo de risco biológico

Todo material contaminado deve ser coletado em separado do lixo comum. Esse material deve ser
recolhido em sacos plásticos brancos com o símbolo de risco biológico. Esse símbolo é internacional e,
no Brasil, é reconhecido na norma NBR 7500:2003.

Figura 32

Caso haja necessidade de armazenamento desses resíduos, estes devem ser depositados em baldes
de lixo que apresentem a indicação de lixo contaminado não autoclavado.

Resíduos líquidos devem conter a descrição da natureza do soluto e do solvente, com respectivas
concentrações. A informação deve ser a mais exata possível.

Símbolos de riscos químicos

A rotulagem por intermédio de símbolos e textos de avisos é precaução essencial de segurança.

Os rótulos ou etiquetas aplicados sobre uma embalagem devem conter em seu texto as informações
necessárias para que o produto ali contido seja tratado com toda a segurança possível.

• Facilmente inflamável (F):

— Classificação: determinados peróxidos orgânicos; líquidos com pontos de inflamação inferior


a 21 °C; substâncias sólidas fáceis de inflamar, de continuar queimando por si só; liberam
substâncias facilmente inflamáveis por ação da umidade.

— Precaução: evitar contato com o ar e a formação de misturas inflamáveis gás‑ar e manter


afastadas de fontes de ignição.

30
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Figura 33

• Extremamente inflamável (F+):

— Classificação: líquidos com ponto de inflamabilidade inferior a 0 °C e ponto máximo de ebulição


a 35 °C; gases e misturas de gases (presentes em forma líquida) que, com o ar e a pressão
normal, podem se inflamar facilmente.

— Precaução: manter longe de chamas abertas e fontes de ignição.

• Tóxicos (T):

— Classificação: são agentes químicos que, ao serem introduzidos no organismo por inalação,
absorção ou ingestão, podem causar efeitos graves e/ou mortais.

— Precaução: evitar qualquer contato com o corpo humano e observar cuidados especiais com
produtos cancerígenos, teratogênicos ou mutagênicos.

Figura 34

• Muito tóxico (T+):

— Classificação: a inalação, ingestão ou absorção através da pele provoca danos muito graves à
saúde na maior parte das vezes ou mesmo a morte.

— Precaução: evitar qualquer contato com o corpo humano e observar cuidados especiais com
produtos cancerígenos, teratogênicos ou mutagênicos.

31
Unidade I

• Corrosivo (C):

— Classificação: esses produtos químicos causam destruição de tecidos vivos e/ou materiais inertes.

— Precaução: não inalar os vapores e evitar o contato com a pele, os olhos e o vestuário.

Figura 35

• Oxidante (O):

— Classificação: são agentes que desprendem oxigênio e favorecem a combustão. Podem inflamar
substâncias combustíveis ou acelerar a propagação de incêndio.

— Precaução: evitar qualquer contato com substâncias combustíveis. Há perigo de incêndio. O


incêndio pode ser favorecido, dificultando a sua extinção.

5.1

Figura 36

• Nocivo (Xn):

— Classificação: são agentes químicos que, por inalação, absorção ou ingestão, produzem efeitos
de menor gravidade.

— Precaução: evitar qualquer contato com o corpo humano e observar cuidados especiais com
produtos cancerígenos, teratogênicos ou mutagênicos.

32
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Figura 37

• Irritante (Xi):

— Classificação: esse símbolo indica substâncias que podem desenvolver ação irritante sobre a
pele, os olhos e o trato respiratório.

— Precaução: não inalar os vapores e evitar o contato com a pele e os olhos.

• Explosivo (E):

— Classificação: são agentes químicos que, pela ação de choque, percussão ou fricção, produzem
centelhas ou calor suficiente para iniciar um processo destrutivo por meio de violenta liberação
de energia.

— Precaução: evitar atrito, choque, fricção, formação de faísca e ação do calor.

Figura 38

2.3 Diamante de Hommel

Outra simbologia bastante aplicada é o Diamante de Hommel. Diferentemente das placas de


identificação, ele não informa qual é a substância, mas indica todos os graus de risco.

Essa simbologia foi proposta pela NFPA – Associação Nacional dos EUA para proteção contra
incêndios – por meio da norma NFPA 704 e é adotada internacionalmente.

Os números necessários para o preenchimento do Diamante de Hommel variam de 1 a 4 conforme


os riscos apresentados pela substância química perigosa, podendo também constar no diagrama os
riscos específicos dessa substância:
33
Unidade I

• Riscos específicos.
• Risco à saúde.
• Reatividade.
• Inflamabilidade.

Inflamabilidade

Riscos à saúde Reatividade

Riscos específicos

Figura 39 – Diamante de Hommel

Riscos à saúde:

4 – Substância letal (cianureto de potássio).

3 – Substância severamente perigosa (gás cloro).

2 – Substância moderadamente perigosa (amônia).

1 – Substância levemente perigosa (aguarrás).

0 – Substância não perigosa ou de risco mínimo (óleo de cozinha).

Riscos específicos:

OXY – Oxidante forte.

ACID – Ácido forte.

ALK – Alcalino (base) forte.

COR – Corrosivo.

W – Não misture com água.


34
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Inflamabilidade:

4 – Gases inflamáveis, líquidos muito voláteis (ponto de fulgor abaixo de 23 ºC, gás propano).
3 – Substâncias que entram em ignição à temperatura ambiente (ponto de fulgor abaixo de 38 ºC, gasolina).
2 – Substâncias que entram em ignição quando aquecidas moderadamente (ponto de fulgor abaixo
de 93 ºC, diesel).
1 – Substâncias que precisam ser aquecidas para entrar em ignição (ponto de fulgor acima de 93 ºC,
óleo de milho).
0 – Substâncias que não queimam (água).

Reatividade:

4 – Pode explodir.
3 – Pode explodir com choque mecânico ou calor.
2 – Reação química violenta.
1 – Instável se aquecido (fósforo branco ou vermelho).
0 – Estável (nitrogênio líquido).

Por exemplo:

Se estiverem contidos em um frasco álcool etílico (cujos números referentes a riscos são – azul =
0, vermelho = 3 e amarelo = 0) e acetonitrila (azul = 2, vermelho = 3 e amarelo = 0), constata‑se, por
meio desses números, que a substância mais perigosa delas é a acetonitrila e que os números com os
quais deve ser preenchido o diamante são os referentes a esta substância, mesmo que esteja presente
em menor quantidade no frasco. Como a acetonitrila não possui riscos específicos, o diamante deve
ficar da seguinte forma:

2 0

Figura 40 – Diamante de Hommel

35
Unidade I

Risco de fogo
4 - Abaixo de 22 ºC
3 - Abaixo de 38 ºC
2 - Abaixo de 94 ºC
1 - Acima de 94 ºC
0 - Não é inflamável

Risco de vida Reação


4 - Mortal 1 4 - Pode detonar
3 - Extremamente perigoso 3 - Choque e calor podem detonar
2 - Perigoso 2 - Reação química violenta
1 - Pequeno risco 1 - Instável quando aquecido
0 - Material normal 0 - Estável
0 0

Risco específico
Oxidente OX
Ácido ACID
Álcalis ALK
Corrosivo COR
Não use água W
Radiotivo

Figura 41

3 BOAS PRÁTICAS E NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA

3.1 Segurança e saúde no trabalho

Segundo Chiavenato (2010, p. 448), a segurança do trabalho:

[...] é o conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e psicológicas,


empregadas para prevenir acidentes, quer eliminando as condições inseguras
do ambiente, quer instruindo ou convencendo as pessoas da implantação
de práticas preventivas [...] é o conjunto de atividades relacionadas com
a prevenção de acidentes e com a eliminação de condições inseguras de
trabalho.

Segundo Heimstra (apud MULATINHO, 2001, p. 26):

Existe uma crescente preocupação com a maneira pela qual o ambiente físico
influi no comportamento humano – tanto o construído como o natural, [e]
determinadas qualidades associadas a um ambiente particular podem ter
amplo efeito sobre o comportamento e a personalidade do indivíduo.

36
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Entendendo que o ambiente é uma somatória de diversos subsistemas, todas as suas dimensões –
físicas, estruturais, materiais, humanas – tanto em qualidade quanto em quantidade poderão ser fatores
determinantes e desencadeantes de alterações no comportamento humano.

Segundo Chiavenato (apud MULATINHO, 2001, p. 30):

[...] a empresa constitui o ambiente dentro do qual as pessoas trabalham


e vivem a maior parte de suas vidas. Nesse contexto as pessoas dão algo
de si mesmas e esperam algo em troca, seja em curto ou em longo prazo.
A maneira pela qual esse ambiente é moldado e estruturado influencia
poderosamente na qualidade de vida das pessoas. Mais do que isso, influencia
o próprio comportamento e os objetivos pessoais de cada ser humano. E
isso, consequentemente, afeta o funcionamento da empresa.

A criação de um programa responsável pela segurança e saúde no trabalho deve ser de interesse das
empresas privadas e públicas. Com o objetivo de prevenir afastamentos, aposentadorias e indenizações,
é menos custoso à empresa, já que deve ter como objetivo principal ser um projeto educativo dentro
da instituição, para que o funcionário também tenha a consciência de sua responsabilidade pela sua
segurança, de seus colegas e de sua família.

A finalidade da Segurança do Trabalho será estabelecer normas e procedimentos, de maneira que


a integridade física e psíquica do trabalhador seja mantida e garantida, mantendo condições seguras
em todas as atividades laborais e controlando os riscos profissionais em cada processo de trabalho nos
diversos setores da empresa.

3.2 Boas práticas

Boas práticas são procedimentos seguros de trabalho, tanto para o trabalhador quanto para o objeto de
trabalho. Isso é muito importante quando estamos tratando de atividades profissionais na área da saúde.

Todas as atividades relacionadas à saúde possuem riscos inerentes, pois expõem tanto o profissional
quanto o objeto de trabalho a microrganismos patogênicos, substâncias perigosas ou animais agressivos.

A expressão “boas práticas” vem geralmente associada a uma identificação do ramo de trabalho
– boas práticas de fabricação, boas práticas de laboratório, boas práticas de preparação etc. Porém, o
conceito é o mesmo, sofrendo adaptações de acordo com as necessidades de cada ramo profissional.

Essas práticas são sempre preventivas e incluem todos os aspectos da cadeia operacional, e, apesar
de alguns procedimentos serem específicos de cada tipo de operação, alguns fatores são universais e
sempre devem ser observados, como:

• Higiene pessoal.

• Uso de roupas adequadas.


37
Unidade I

• Limpeza de equipamentos e utensílios.

• Controle de pragas, como baratas, ratos, entre outros.

• Controle da qualidade da água etc.

3.2.1 Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 63

A Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 63, de 25 de novembro de 2011, dispõe sobre os


requisitos de boas práticas de funcionamento em serviços de saúde.

Essa resolução tem como principal objetivo “estabelecer requisitos de boas práticas para
funcionamento de serviços de saúde, fundamentados na qualificação, na humanização da atenção e
gestão, e na redução e controle de riscos aos usuários e meio ambiente” (BRASIL, 2011a).

A regulamentação deve ser aplicada a todos os serviços de saúde do país, sejam eles públicos, privados,
filantrópicos, civis ou militares, incluindo aqueles que exerçam as atividades de ensino e pesquisa.

De acordo com a Seção I – Do gerenciamento da qualidade, estão definidos os seguintes artigos:

Art. 5º O serviço de saúde deve desenvolver ações no sentido de estabelecer


uma política de qualidade envolvendo estrutura, processo e resultado na sua
gestão dos serviços.

Parágrafo único. O serviço de saúde deve utilizar a Garantia da Qualidade


como ferramenta de gerenciamento.

Art. 6º As Boas Práticas de Funcionamento (BPF) são os componentes da


Garantia da Qualidade que asseguram que os serviços são ofertados com
padrões de qualidade adequados.

§ 1º As BPF são orientadas primeiramente à redução dos riscos inerentes à


prestação de serviços de saúde.

§ 2º Os conceitos de Garantia da Qualidade e Boas Práticas de Funcionamento


(BPF) estão inter‑relacionados estando descritos nesta resolução de forma
a enfatizar as suas relações e sua importância para o funcionamento dos
serviços de saúde.

Art. 7º As BPF determinam que:

o serviço de saúde deve ser capaz de ofertar serviços dentro dos padrões
de qualidade exigidos, atendendo aos requisitos das legislações e
regulamentos vigentes.
38
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

o serviço de saúde deve fornecer todos os recursos necessários, incluindo:

a) quadro de pessoal qualificado, devidamente treinado e identificado;

b) ambientes identificados;

c) equipamentos, materiais e suporte logístico; e

d) procedimentos e instruções aprovados e vigentes.

III – as reclamações sobre os serviços oferecidos devem ser examinadas,


registradas e as causas dos desvios da qualidade, investigadas e
documentadas, devendo ser tomadas medidas com relação aos serviços
com desvio da qualidade e adotadas as providências no sentido de prevenir
reincidências (BRASIL, 2011, p. 4).

3.3 Boas práticas de laboratório

Dentro de um laboratório químico, encontram‑se vários elementos de risco aos seus usuários, tais
como: máquinas, manuseio de materiais de vidro, uso da eletricidade, incêndio, explosão e exposição a
substâncias químicas nocivas ao organismo humano.

Sendo assim, a prática de laboratório exige que regras de segurança sejam rigorosamente seguidas,
a fim de se evitarem prejuízos materiais e, principalmente, riscos à integridade física sua e dos outros à
sua volta.

O profissional em ação deve, portanto, adotar sempre uma atitude atenciosa, cuidadosa e metódica
em tudo o que faz. Deve, particularmente, concentrar‑se no seu trabalho e não permitir qualquer
distração enquanto trabalha. Da mesma forma, não deve distrair os demais desnecessariamente.

Um acidente em um laboratório químico quase nunca fica restrito apenas a uma pessoa. O trabalhador
deve estar ciente de que é responsável tanto pela sua segurança quanto pela dos seus colegas.

Seguem algumas recomendações básicas de boas práticas de laboratório:

Use um avental

• Use um avental de mangas compridas, na altura dos joelhos e fechado, calças compridas e calçados
fechados de modo a proteger pelo menos até o peito do pé

• As roupas são a primeira linha de defesa do corpo contra os acidentes. São uma barreira
física, principalmente, contra respingos e derramamentos de líquidos. Imagine, por exemplo, o
tombamento de uma proveta contendo ácido clorídrico sobre o tórax do trabalhador. Obviamente,
o tecido do avental não suportará o ataque do ácido por muito tempo, mas este será suficiente
39
Unidade I

para que o trabalhador retire o avental antes que o líquido se propague pelo seu corpo. O mesmo
vale para a calça comprida e o calçado.

• Pela mesma razão, não faz sentido usar o avental aberto e com as mangas arregaçadas.

Não use ornamentos

• Não use relógios, pulseiras, anéis ou quaisquer ornamentos durante o trabalho no laboratório, e
cabelos compridos devem ser presos na forma de coque ou recobertos por touca.

• Nunca use lentes de contato em laboratórios.

• Vários produtos químicos são voláteis, mesmo à temperatura ambiente. Os vapores liberados
por eles podem se depositar entre os adornos e a pele do trabalhador, provocando alergias ou
queimaduras mais graves.

• O cabelo também absorve esses vapores, podendo se danificar ou ficar com cheiros desagradáveis.

• Os metais de relógios e outros tipos de adornos podem mudar de cor devido ao ataque de
produtos químicos.

• Considerando o que esses vapores podem fazer com a pele e com os metais, imagine o que podem
fazer com uma lente de contato nos olhos. Como agravante, alguns produtos, como os ácidos e
a amônia, são hidrofílicos, ou seja, são atraídos para a água. Isso significa que a umidade natural
dos olhos vai atrair esses vapores e potencializar seus efeitos.

Lembrete

É importante nunca usar lentes de contato em laboratórios.

Não use avental, luvas ou qualquer outro EPI fora do lugar de trabalho

• Conforme descrito no item anterior, muitas vezes, o trabalhador é exposto a respingos e


vapores de produtos químicos, e o avental é a barreira de proteção contra esses produtos.
Portanto, o avental e as luvas são equipamentos de proteção individual (EPIs) que estão
constantemente contaminados.

• Ir a refeitórios e restaurantes ou, ainda, usar o transporte coletivo vestindo aventais e luvas gera o
risco de contaminar esses ambientes, a comida ou outros usuários com esses produtos químicos.

A NR‑6 é muito clara sobre esse impedimento ao afirmar, no item 6.7.1, que é obrigação do empregado
usar o EPI “apenas para a finalidade a que se destina” (BRASIL, 1978).

40
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

A NR‑32 também trata do assunto no item 32.2.4.6.2, afirmando que “os trabalhadores não devem
deixar o local de trabalho com os equipamentos de proteção individual e as vestimentas utilizadas em
suas atividades laborais” (BRASIL, 2005).

Além disso, no estado de São Paulo vigora a Lei nº 14.466, de 8 de junho de 2011, conhecida como
Lei do Jaleco, que proíbe o uso de EPIs fora do local de trabalho para trabalhadores da área da saúde,
sob pena de multa.

Não teste produtos utilizando o tato, o olfato ou o paladar

• A pele e as mucosas são as vias de acesso das contaminações por produtos químicos, por isso,
nunca teste amostras ou reagentes pelo sabor ou odores, nem leve a mão à boca ou aos olhos
quando estiver manuseando produtos químicos.

Um acidente comum é o trabalhador se esquecer de que está de luvas e que está manipulando
produtos perigosos e coçar os olhos, atender o celular, manipular maçanetas ou cumprimentar pessoas.

Ao fazê‑lo, pode contaminar as superfícies com traços do produto químico manipulado. Por isso, é
sempre muito importante lavar as mãos após a manipulação de qualquer produto químico.

O uso de pipetadores é requerido em qualquer circunstância ao se utilizarem pipetas. As pipetas


comuns foram, originalmente, projetadas para ser manipuladas com a boca, mas o risco de acidentes
devido à distração do trabalhador ou a produtos voláteis é muito grande.

Todos os produtos devem ser muito bem identificados

• Os reagentes e soluções devem ser claramente identificados, e as soluções necessitam apresentar


data de preparo, validade e o nome do analista que a preparou. Não use produto algum que não
esteja devidamente rotulado. Antes de manipular qualquer reagente, deve‑se ter conhecimento
de suas características com relação à toxidade, inflamabilidade e explosividade.

Uma simples mistura de produtos de limpeza doméstica pode resultar em gases tóxicos ou explosões.
Nunca jogue reagentes ou resíduos de reações na pia. Ao final de cada trabalho, as vidrarias utilizadas
devem ser esvaziadas nos frascos de descarte e enxaguadas antes de ser enviadas para limpeza.

Todo acidente com reagentes deve ser limpo imediatamente, protegendo‑se, se necessário. No caso
de ácidos e bases, devem‑se neutralizá‑los antes da limpeza. O esquecimento de uma poça de algum
reagente pode resultar em queimaduras graves.

É perigoso reutilizar o frasco de um produto rotulado para guardar qualquer outro diferente, ou
mesmo colocar outra etiqueta sobre a original. Isso pode causar acidentes, e quando for encontrada
uma embalagem sem rótulo, não tente adivinhar o que há em seu interior. Se não houver possibilidade
de identificação, descarte o produto.

41
Unidade I

Cuidados com processos de aquecimento

• Certifique‑se, ao acender uma chama, de que não existem solventes próximos e destampados,
especialmente aqueles mais voláteis (éter etílico, éter de petróleo, hexano, dissulfeto de carbono,
benzeno, acetona, álcool etílico, acetato de etila). Mesmo uma chapa ou manta de aquecimento pode
ocasionar incêndios quando em contato com solventes como éter, acetona ou dissulfeto de carbono.

Observação

Temperatura de ignição é aquela na qual o produto químico entra em


combustão sem o auxílio de uma fonte de ignição. Quanto mais baixo o
ponto de fulgor, maior o risco de combustão espontânea.

• Seja cuidadoso sempre que misturar dois ou mais compostos. Muitas misturas são exotérmicas (como
H2SO4 + H2O), ou inflamáveis (como sódio metálico + H2O), ou ainda podem liberar gases tóxicos.
Misture os reagentes vagarosamente e, se necessário, em resfriamento e dentro de uma capela.

• Para temperaturas de trabalho inferiores a 100 °C, use preferencialmente banho‑maria ou banho
a vapor. Para temperaturas superiores a 100 °C, use banhos de óleo. Parafina aquecida funciona
bem para temperaturas de até 220 °C; glicerina pode ser aquecida até 150 °C sem desprendimento
apreciável de vapores desagradáveis. Banhos de silicone são os melhores, mas também os mais caros.

• Uma alternativa quase tão segura quanto os banhos são as mantas de aquecimento. O
aquecimento é rápido, mas o controle da temperatura não é tão eficiente como no uso de banhos
de aquecimento. Mantas de aquecimento não são recomendadas para a destilação de produtos
muito voláteis e inflamáveis, como éter de petróleo e éter etílico.

• Aquecimento direto com chamas sobre a tela de amianto só é recomendado para líquidos não
inflamáveis (por exemplo, água). Todas as substâncias possuem um ponto de fulgor, e a chama
pode inflamar o produto aquecido.

Observação

Ponto de fulgor é a temperatura na qual um produto químico liberta


vapor suficiente para entrar em combustão com ajuda de uma fonte de
calor externa. Sem essa fonte, a chama se extingue. Quanto mais baixo o
ponto de fulgor, maior o risco de combustão.

• Devem ser tomados alguns cuidados especiais com as vidrarias. Vidrarias trincadas, lascadas ou
quebradas devem ser descartadas, pois, apesar de suportar altas temperaturas, o vidro utilizado
em equipamentos de laboratório é muito duro, e os esforços mecânicos provocados por uma
dilatação irregular em uma trinca podem resultar na propagação dessa trinca.
42
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Não deixe vidros, metais ou qualquer outro material, em temperatura elevada, em lugares nos
quais possam ser tocados inadvertidamente; não aqueça tubos de ensaios com a boca virada para
o seu lado ou para o lado de outra pessoa.

• Nunca aqueça reagentes em sistemas fechados. A dilatação de líquido ou a expansão de um vapor


pode resultar na fragmentação do vidro.

Jamais trabalhe sozinho em um laboratório

• Caso aconteça algum acidente mais grave, como um ferimento nos olhos, um desmaio ou um
derramamento de produtos sobre o corpo, alguém deve estar disponível para promover o socorro
ou acionar as equipes de resgate.

3.4 Boas práticas no atendimento à saúde

Nessa área profissional, o grande problema são os riscos de origem biológica.

O trabalhador, na área da saúde, está sempre exposto a uma carga contaminante enorme, o que
acaba acarretando um desgaste psicológico. Esse desgaste psicológico pode ser agravado, dependendo
das crenças pessoais e do nível de informação do profissional.

Por isso, antes de qualquer questionamento sobre boas práticas na área da saúde, é de importância
fundamental que o profissional esteja qualificado para a execução do serviço. Mesmo os profissionais de
níveis mais básicos de atuação, como o pessoal de limpeza e hotelaria de hospitais, devem ser capacitados
para lidar com os perigos biológicos.

O uso adequado dos EPIs também é outro problema. Em geral, os EPIs são feios, desconfortáveis
e acabam sendo negligenciados ou, pior ainda, usados de maneira errada, dando uma sensação falsa
de segurança.

Seguem algumas recomendações básicas de boas práticas de atendimento à saúde:

Recomendações quanto à higiene e ao asseio pessoal

• É importante que se lavem as mãos antes e após cada atividade, mesmo que se tenham usado
luvas durante o trabalho. Dependendo do tipo de atividade executada, pode ser que existam
recomendações específicas quanto a esse procedimento.

• Não se pode manipular nada que não seja relacionado ao objeto de trabalho usando luvas. Isso
significa que o trabalhador deve retirar a luva toda vez que precisar abrir uma porta, atender um
telefone ou, principalmente, coçar o olho.

• Perfumes e desodorantes fortes podem causar reações alérgicas em pacientes. Não podem ser usados.

43
Unidade I

• Como o profissional da saúde está exposto a diversos contaminantes biológicos, é fundamental


que mantenha sua carteira de vacinações em dia e que tenha um controle médico periódico
rigoroso. Esse acompanhamento médico é determinado segundo o PCMSO (Programa de Controle
Médico e de Saúde Ocupacional) conforme especificado pela NR 7.

Recomendações quanto ao uso de toucas, luvas e outros EPIs

• Por melhor que seja a higiene pessoal do trabalhador, cabelos, fios de barba ou pelos são o hábitat
natural de milhões de bactérias. Os cabelos compridos devem ser presos e contidos com rede de
proteção. Pelos expostos e barba não são admissíveis, devendo ser recobertos por protetores de
bigode ou mangotes.

• Esses EPIs, juntamente com o avental, devem ser vestidos imediatamente antes de se entrar na
área de trabalho e retirados imediatamente após a saída. Não se deve circular com EPIs fora das
áreas de trabalho.

• Alguns desses EPIs são descartáveis e devem ser trocados a cada paciente ou cada vez que forem
retirados. Por exemplo: um auxiliar de enfermagem entra em um quarto para trocar a fralda de um
paciente geriátrico. Ele põe a luva descartável e inicia o procedimento. No meio do procedimento,
é chamado para ajudar em um caso mais grave. O auxiliar deve retirar a luva descartável, jogá‑la
no lixo, calçar um novo par de luvas, atender à nova ocorrência, descartar esse segundo par de
luvas e, então, calçar um terceiro par e dar continuidade ao trabalho com o paciente geriátrico.

• Protetores faciais sempre devem ser usados em trabalhos que gerem aerossóis ou respingos.

• Podem existir milhares de microrganismos em uma minúscula gotícula de água, que, quando
aspergida pelo ar, pode entrar no sistema respiratório do profissional e provocar uma infecção.

• Nunca lave ou recicle materiais descartáveis.

Recomendações quanto à manipulação de perfurocortantes

• Quando se pensa em perfurocortantes, as primeiras coisas que vêm à mente são agulhas e cacos
de vidro. De fato, a maioria dos materiais perfurocortantes gerados em um atendimento à saúde
são agulhas e vidros, mas não são os únicos. Escalpes, conexões, lâminas e diversos dispositivos de
uso odontológico como brocas e limas fazem parte desse grupo.

• Nunca reencape agulhas. Elas não devem ser removidas ou entortadas. Caso o procedimento
exija manipulação mais prolongada de agulhas, ele deve ser feito com o máximo de atenção,
evitando‑se distrações.

• Cacos de vidro devem ser recolhidos com o auxílio de vassouras. Nunca utilize panos ou as mãos,
mesmo que protegidas por luvas. Os cacos de vidro cortam a borracha facilmente.

44
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Todo objeto perfurocortante deve ser descartado em um recipiente rígido e corretamente


identificado. O profissional deve estar sempre atento à capacidade máxima desse recipiente.

Recomendações quanto ao ambiente de trabalho

• O ambiente de trabalho deve sempre estar limpo e organizado segundo um procedimento


operacional, que é um documento que especifica todas as ações que o trabalhador deve executar
para cumprir suas obrigações.

• Nunca corra no local de trabalho. Os resultados de uma queda ou de um derramamento acidental


só aumentarão os prejuízos de uma emergência. Se há possibilidade de atendimento a emergências,
então deve haver um planejamento para que os materiais estejam sempre à mão. Nada justifica
correr no ambiente de trabalho.

• Qualquer derramamento requer providências imediatas.

• Jamais trabalhe em um ambiente junto com o pessoal da limpeza. O processo de limpeza pode
gerar aerossóis. Aguarde alguns minutos antes de retomar o trabalho no local, para que os
aerossóis se depositem nas superfícies novamente.

3.5 Boas práticas na manipulação de alimentos

A abordagem da biossegurança na manipulação de alimentos tem características diferentes da dos


demais ramos, pois, além da proteção do trabalhador, existe a necessidade de se protegerem o alimento
(o objeto de trabalho) e o consumidor final. Além disso, existem algumas diferenças entre os requisitos
de qualidade e segurança para restaurantes e para indústrias de alimentos.

A Resolução da Anvisa RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004, trata especificamente das boas
práticas para serviços de alimentação. Essa resolução é, por si só, um manual básico de boas práticas de
manipulação de alimentos para restaurantes e similares.

Para a indústria, funciona a Portaria SVS/MS nº 326, de 30 de julho de 1997, baseada em normas
internacionais e atende os pré‑requisitos para exportação no Mercosul. Essa Portaria estabelece as
condições sanitárias e de boas práticas para indústrias de alimentos.

No estado de São Paulo, a Portaria CVS‑6, de 10 de março de 1999, estabelece diversos


parâmetros para o controle higiênico em restaurantes e outros estabelecimentos similares. Essa
portaria descreve desde temperaturas e tempo para o controle da conservação dos alimentos até
detalhes de construção civil.

Algumas indústrias de alimentos também procuram atender às recomendações do sistema APPCC


(Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). O APPCC não é uma norma, mas um sistema de
qualidade baseado em recomendações do Codex Alimentarius e, no Brasil, da Resolução da Anvisa RDC
nº 275, de 21 de outubro de 2002.
45
Unidade I

Seguem algumas recomendações de pré‑requisitos, ou seja, não lidam diretamente com o alimento,
mas fazem parte das boas práticas de sua fabricação.

Recomendações quanto à qualidade da água

• A água utilizada para cozinhar, beber, fazer gelo, lavar frutas, legumes e verduras deve ser
sempre potável.

• Além disso, a caixa d’água deve ser limpa periodicamente e suas condições sempre verificadas –
se está totalmente tampada, se não há rachaduras ou infiltrações e se está afastada de fossas e
depósitos de lixo.

Recomendações quanto ao controle de pragas

• Pragas, como baratas, formigas, ratos e moscas, devem ser sempre eliminadas do local onde se
manipulam alimentos e, principalmente, se deve evitar a presença delas, não deixando restos de
alimentos expostos nem lixeiras abertas próximas ou no local em que se manipulam alimentos.

Recomendações quanto à higiene

• A higiene do trabalhador na área da saúde é de extrema importância.

• Tomar banho e trocar de roupas diariamente, lavar a cabeça, escovar os dentes após as refeições,
manter unhas curtas, limpas e sem esmalte, manter os cabelos presos e não usar adornos são
hábitos que devem ser praticados por todos.

• Além disso, lavar as mãos sempre após usar o banheiro, quando mexer no lixo ou trocar de tarefa
previne contra contaminantes biológicos.

• Todo o ambiente de uma empresa que produz ou manipula alimentos deve estar sempre limpo.

• Limpar e desinfetar os utensílios, equipamentos e mesas previne que microrganismos prejudiciais


contaminem os alimentos.

Recomendações quanto à saúde do manipulador

• A saúde de quem manipula alimentos é muito importante.

• Pessoas doentes, com feridas nas mãos, diarreias ou disenteria não devem manipular alimentos
até que fiquem melhores.

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BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Recomendações quanto a matérias‑primas e fornecedores

• Todas as matérias‑primas devem ser adquiridas de fornecedores idôneos, ou seja, sua origem deve
ser conhecida. Caso contrário, os riscos de o consumidor vir a adquirir uma doença ou morrer são
muito grandes.

• Por isso, alguns itens devem ser avaliados quando se compra um alimento:

— A rotulagem da embalagem deve ter registro no órgão fiscalizador, informações do prazo de


validade e informações nutricionais, como o produto deve ser armazenado depois de aberto,
entre outros.

— As embalagens não devem estar amassadas, estufadas, com espuma, apresentando vazamento,
trincadas ou rasgadas.

— Os alimentos devem ter registro de origem.

— Os alimentos devem apresentar aparência, odor, cor, textura e sabor característicos.

— Os estoques de alimentos devem ser acondicionados exatamente como é recomendado pelo


Centro de Vigilância Sanitária local.

Recomendações quanto à estrutura física da empresa

• Na área de circulação, não pode haver cruzamento dos fluxos das áreas sujas e das áreas limpas.

• As áreas sujas são aquelas com critérios menos rigorosos de limpeza; as áreas limpas, por sua vez,
possuem critérios mais rigorosos nesse sentido.

• Essa preocupação deve envolver também a circulação de correntes de ar.

Recomendações quanto ao recall

• As empresas – especificamente, as indústrias de alimentos – devem estabelecer procedimentos


para recolher um produto das prateleiras caso este apresente problemas e, eventualmente, tenha
seguido para o mercado com alguma falha na sua segurança.

• Quando se identifica a ocorrência de algum problema com um produto, por exemplo, de


contaminação, ele deve ser recolhido do mercado o mais rápido possível, bem como todo o lote,
para que não haja o risco de contaminar o consumidor.

• Para saber qual lote deve ser recolhido do mercado, alguns pontos devem ser considerados:

— a identificação do lote;
47
Unidade I

— a quantidade do produto fabricado que foi distribuída no mercado;

— o que será feito com o produto recolhido.

3.6 Higiene ocupacional

Segundo Barsano e Barbosa (2012, p. 73):

[A] higiene do trabalho – ou higiene industrial, como também é conhecida


por muitos – tem papel fundamental no vasto campo da segurança do
trabalho e da qualidade de vida, pois é nos preceitos dessa ciência que os
membros do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina
do Trabalho (SESMT), por meio de seus conhecimentos técnicos e com o uso
de instrumentos de medição específicos, conseguem garantir na prática que
o funcionário labore em um ambiente de trabalho saudável, ou seja, em um
lugar onde lhe seja garantida, na medida do possível, sua integridade física
e psíquica.

A higiene ocupacional pode ser entendida como uma disciplina da área tecnológica, voltada para
o estudo e a aplicação de métodos para a prevenção de acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e
outras formas de agravos à saúde do trabalhador. Cabe à higiene ocupacional, juntamente com outros
conhecimentos, por exemplo, o de ergonomia, identificar os fatores de riscos que levam à ocorrência
de acidentes e doenças ocupacionais, avaliar seus efeitos na saúde do trabalhador e propor medidas de
intervenção técnica a serem implantadas nos ambientes de trabalho.

Em 2014, houve a inclusão da higiene ocupacional na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO),


sendo, desta forma, reconhecida oficialmente no Brasil como ciência.

Entretanto, não existem ainda diretrizes para que haja uma formação padronizada de profissionais
que possam ser qualificados como higienistas ocupacionais.

De qualquer forma, é fato que os profissionais que estão diretamente ligados a atividades de
segurança devem ser familiarizados aos conhecimentos necessários sobre a higiene ocupacional para
sua formação e experiência nesse campo.

Segundo Goelzer (2015), os higienistas ocupacionais devem:

Prever (antecipar) fatores de risco para a saúde e o meio ambiente que podem
estar associados aos diferentes tipos de trabalho e atuar para preveni‑los já
nas etapas de planejamento e projeto de processos (incluindo equipamentos,
matérias‑primas, produtos químicos etc.) e locais de trabalho.

Reconhecer agentes e fatores de risco (produtos químicos e poeiras, agentes


físicos e biológicos, fatores ergonômicos e psicossociais) que podem estar
48
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

presentes em locais de trabalho, determinar as condições de exposição e


entender seus possíveis efeitos na saúde e bem estar dos trabalhadores.

Avaliar a exposição dos trabalhadores a agentes e fatores de risco, por meio


de métodos qualitativos e/ou quantitativos, e interpretar os resultados
obtidos, com vistas a eliminar a exposição, ou reduzi‑la a níveis aceitáveis.

Projetar e/ou recomendar medidas de prevenção e controle de riscos, eficientes e


econômicas, e integrá‑las a programas bem gerenciados e sustentáveis.

Reconhecer agentes que podem ter impacto sobre o meio ambiente e


contribuir para a proteção ambiental.

Ainda segundo a autora, os higienistas ocupacionais devem ter atenção especial para que aconteça
principalmente a prevenção primária de riscos, sempre com a participação dos trabalhadores e com o
desenvolvimento de uma política de gestão participativa para a resolução dos problemas encontrados,
para que as soluções possam ser aplicáveis.

3.7 Higienização das mãos

Infecções hospitalares são as infecções adquiridas durante a internação do paciente em um hospital


ou depois, se essas infecções tiverem relação com algum procedimento executado na internação.

Os primeiros registros sobre infecção hospitalar remontam ao ano de 325 d.C., quando os
bispos do Concílio de Niceia, sob a liderança do imperador Constantino, determinaram que se
construísse um hospital em cada catedral. Nesses ambientes, percebeu‑se que a concentração de
pessoas doentes facilitava a disseminação de doenças. O atendimento aos enfermos ficou a cargo
da Igreja durante toda a Idade Média, quando a prática médica era executada sem vínculos com
o hospital (LACERDA et al., 1992).

Com o final do feudalismo e o surgimento do capitalismo, um contingente enorme de pessoas


abandonou o trabalho rural para se tornar mão de obra nas manufaturas em cidades, e a questão da
saúde se tornou um problema de política pública, com o Estado assumindo, aos poucos, seu controle.
Surgiram aí os primeiros hospitais gerais.

Porém, somente na segunda metade do século XIX, com o trabalho de Semmelweis sobre o problema
da febre puerperal no Hospital Geral de Viena, é que se começou uma abordagem científica sobre a
questão da infecção. Esse hospital possuía duas alas muito próximas uma da outra. Uma era a escola,
frequentada por estudantes de medicina e parteiras. A outra ala era atendida apenas por parteiras. A ala
escola possuía uma incidência de febre puerperal muito maior do que a outra. Essa incidência superava
até mesmo a das mulheres que davam à luz em casa ou mesmo na rua.

Esse fato ocorreu algumas décadas antes dos trabalhos de Pasteur e Koch, que lançaram as bases
da microbiologia, então ainda não se tinha ideia sobre os perigos biológicos, e as hipóteses levantadas
49
Unidade I

sobre as causas das diferentes taxas de mortalidade foram as mais diversas, incluindo questionamentos
sobre o trajeto que o padre fazia antes de chegar ao leito das mulheres moribundas.

A luz sobre o assunto surgiu em 1847, quando um dos alunos que trabalhava no hospital se feriu ao
fazer uma necropsia e morreu com sintomas semelhantes ao da febre puerperal. Semmelweis atribuiu
essa mortalidade à introdução de material cadavérico na corrente sanguínea das pacientes e passou a
obrigar os médicos e estudantes a lavarem as mãos com uma solução de cal clorada antes de proceder
a qualquer exame. Apesar dos protestos feitos pelos médicos e estudantes, a mortalidade caiu de 11,4%,
em 1846, para 1,27%, em 1848 (OLIVEIRA; FERNANDEZ, 2007).

Segundo Lacerda et al. (1992), historicamente, a prática no controle de infecções está focada em
ações exógenas, isto é, considerando‑se causas externas, o que resultou na criação de inúmeras técnicas
de assepsia, desinfecção e esterilização que, muitas vezes, carecem de comprovação científica. Para essa
autora, isso abre um mercado enorme para as indústrias de produtos químicos e farmacêuticos, o que
pode resultar em riscos ocupacionais decorrentes da toxidade dos produtos se ações publicitárias forem
associadas a profissionais pouco preparados.

Além disso, as causas exógenas não são as únicas que podem provocar infecções hospitalares. Então,
a questão das doenças infecciosas não é a simples falta de higiene. O corpo humano é o hábitat natural
de diversos microrganismos, alguns deles patogênicos. Muitos deles estão do lado de fora do indivíduo,
sobre a pele e cabelos, por exemplo, mas existem microrganismos dentro do nosso corpo também – no
intestino, no estômago, nas vias aéreas etc. Em um indivíduo sadio, esses microrganismos estão em
equilíbrio com o meio e a sua população não cresce. Mas, se por alguma razão tal equilíbrio é rompido,
essa população pode crescer e se desenvolver, resultando numa infecção.

Dessa maneira, a higienização das mãos é a medida individual mais simples e menos dispendiosa
para prevenir a propagação das infecções relacionadas à assistência à saúde.

O termo “lavagem das mãos” foi substituído por “higienização das mãos” devido à maior abrangência
desse procedimento, pois engloba a higienização simples, a higienização antisséptica, a fricção
antisséptica e a antissepsia cirúrgica das mãos.

Conforme discutido, as infecções em ambiente hospitalar estão, na maioria das vezes, associadas a
procedimentos inadequados que levam microrganismos para dentro do corpo.

As mãos constituem a principal via de transmissão de microrganismos durante a assistência


prestada ao paciente, de maneira direta ou indireta, pois a pele é um possível reservatório de diversos
microrganismos, que podem se transferir de uma superfície para outra, por meio de contato direto ou
por contato com objetos e superfícies contaminadas.

A higienização das mãos tem como principais finalidades:

• Remoção de sujidade, suor, oleosidade, pelos, células descamativas e da microbiota da pele,


interrompendo, assim, a transmissão de infecções veiculadas pelo contato.
50
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Prevenção e redução das infecções causadas pelas transmissões cruzadas.

Higienização das mãos com água e sabão

• Quando as mãos estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com sangue e outros fluidos corporais.

• Ao iniciar o turno de trabalho.

• Após ir ao banheiro.

• Antes e depois das refeições.

• Antes do preparo de alimentos.

• Antes do preparo e manipulação de medicamentos.

A higienização simples das mãos tem como finalidade remover os microrganismos que colonizam as
camadas superficiais da pele, assim como o suor, a oleosidade e as células mortas, retirando a sujidade
propícia à permanência e à proliferação de microrganismos. Sua duração deve ser de 40 a 60 segundos.

É importante que no caso de torneiras com contato manual para fechamento, sempre se utilize
papel‑toalha. O uso coletivo de toalhas de tecido é contraindicado, pois estas permanecem úmidas,
favorecendo a proliferação bacteriana. Deve‑se evitar água muito quente ou muito fria na higienização
das mãos, a fim de prevenir o ressecamento da pele.

Higienização com o uso de preparação alcoólica

• Quando as mãos não estiverem visivelmente sujas.

Devem‑se higienizar as mãos em todas as situações descritas a seguir:

• Antes de contato com o paciente:

— Objetivo – proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos oriundos das mãos


do profissional de saúde.

— Exemplos – exames físicos (determinação do pulso, da pressão arterial, da temperatura


corporal); contato físico direto (aplicação de massagem, realização de higiene corporal); e
gestos de cortesia e conforto.

• Após contato com o paciente:

— Objetivo – proteção do profissional e das superfícies e objetos imediatamente próximos ao


paciente, evitando a transmissão de microrganismos do próprio paciente.
51
Unidade I

• Antes de realizar procedimentos assistenciais e manipular dispositivos invasivos:

— Objetivo – proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos oriundos das mãos


do profissional de saúde.

— Exemplos – ao contato com membranas mucosas (administração de medicamentos pelas vias


oftálmica e nasal); com pele não intacta (realização de curativos, aplicação de injeções); e com
dispositivos invasivos (cateteres intravasculares e urinários, tubo endotraqueal).

• Antes de calçar luvas para inserção de dispositivos invasivos que não requeiram preparo cirúrgico:

— Objetivo – proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos oriundos das mãos


do profissional de saúde.

— Exemplo – inserção de cateteres vasculares periféricos.

• Após risco de exposição a fluidos corporais:

— Objetivo – proteção do profissional e das superfícies e objetos imediatamente próximos


ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do paciente a outros profissionais
ou pacientes.

• Ao mudar de um sítio corporal contaminado para outro, limpo, durante o cuidado ao paciente:

— Objetivo – proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos de uma determinada


área para outras áreas de seu corpo.

— Exemplo – troca de fraldas e subsequente manipulação de cateter intravascular.

— Ressalta‑se que esta situação não deve ocorrer com frequência na rotina profissional. Devem‑se
planejar os cuidados ao paciente iniciando a assistência na sequência: sítio menos contaminado
para o mais contaminado.

• Após contato com objetos inanimados e superfícies imediatamente próximas ao paciente:

— Objetivo – proteção do profissional e das superfícies e objetos imediatamente próximos


ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do paciente a outros profissionais
ou pacientes.

— Exemplos – manipulação de respiradores, monitores cardíacos, troca de roupas de cama, ajuste


da velocidade de infusão de solução endovenosa.

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BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Antes e após remoção de luvas (sem talco):

— Objetivo – proteção do profissional e das superfícies e objetos imediatamente próximos ao paciente,


evitando a transmissão de microrganismos do paciente a outros profissionais ou pacientes.

— As luvas previnem a contaminação das mãos dos profissionais de saúde e ajudam a reduzir a
transmissão de patógenos. Entretanto, elas podem ter microfuros ou perder sua integridade
sem que o profissional perceba, possibilitando a contaminação das mãos.

• Outros procedimentos:

— Exemplo – manipulação de invólucros de material estéril.

Lembrete

O perigo biológico não é a presença do microrganismo, mas a


possibilidade dessa população de microrganismos se desenvolver acima de
um nível aceitável. Cerca de 70% das infecções hospitalares têm causas
endógenas (TURRINI, 2000), e dentro do ambiente hospitalar o controle das
infecções de origem exógena é quase sempre possível com a utilização de
boas práticas no ambiente de trabalho.

É essencial que o uso de luvas aconteça apenas quando indicado, pois o seu uso não substitui
a higienização das mãos. Nunca toque desnecessariamente superfícies e materiais (como telefone,
maçanetas) quando estiver com as luvas.

Higienização antisséptica das mãos

A higienização com uso de antissépticos se destina às seguintes situações:

• Nos casos de precaução de contato, recomendada para pacientes portadores de microrganismos


multirresistentes.

• Nos casos de surtos.

• Degermação da pele:

— No pré‑operatório, antes de qualquer procedimento cirúrgico (indicado para toda equipe cirúrgica).

— Antes da realização de procedimentos invasivos. Exemplos: inserção de cateter intravascular


central, punções, drenagens de cavidades, instalação de diálise, pequenas suturas, endoscopias
e outros.

53
Unidade I

A figura a seguir apresenta os locais que frequentemente são mais esquecidos na higienização
das mãos:

Figura 42

A próxima figura apresenta a formas corretas de higienização das mãos com a utilização de
preparação alcoólica e com água e sabão.

54
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Figura 43

3.8 Manual de boas práticas e procedimento operacional padrão

Apesar de a maioria dos procedimentos de boas práticas ser simples e derivada do bom senso, é de
importância fundamental que seja padronizada, de modo que o processo operacional seja mantido sob
rigoroso controle.

55
Unidade I

Essa padronização aparece dentro do ambiente de trabalho na forma de dois documentos: o Manual
de boas práticas e o Procedimento Operacional Padronizado.

O Manual de boas práticas é um documento que descreve, em linhas gerais, o trabalho executado
no estabelecimento e as diretrizes para a forma correta de fazê‑lo. Nele, podem‑se ter informações
gerais sobre como é feita a limpeza, o controle de pragas, a água utilizada, os procedimentos de higiene
e controle de saúde dos funcionários, o treinamento de funcionários, o que fazer com o lixo e como
garantir a produção de alimentos seguros e saudáveis.

O Procedimento Operacional Padronizado, também chamado de POP, é um documento que descreve


passo a passo como executar as tarefas no estabelecimento. É como uma receita de bolo, que deve ser
seguida rigorosamente para que tudo corra bem. O POP destaca as etapas da tarefa, os responsáveis por
fazê‑la, os materiais necessários e a frequência com que deve ser feita. Como os POP são documentos
aprovados pelo estabelecimento, por meio do responsável, é dever de cada manipulador segui‑los.

Essa documentação tem que estar acessível a todos os envolvidos no procedimento operacional, de
modo que, perante a menor dúvida na operação, todos possam consultar os manuais.

4 RISCOS AMBIENTAIS E RISCOS OCUPACIONAIS

O Michaelis – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa define o verbete perigo como “situação que
ameaça a existência ou integridade de uma pessoa ou coisa; risco, inconveniente” (MICHAELIS, 2008).

Porém, dentro deste estudo, faremos uma diferenciação entre perigo e risco:

• Perigo é qualquer agente que cause dano à saúde ou à integridade física das pessoas.

• Risco é um conceito que combina a probabilidade de ocorrência com a severidade da ocorrência.

Por exemplo, ao se atravessar a rua, existe o perigo do atropelamento. Se for uma rua com pouco
movimento (probabilidade baixa), na qual os carros passam em baixa velocidade (severidade do
atropelamento baixa), o risco de se atravessar a rua é baixo. Se for uma rodovia muito movimentada,
com carros em alta velocidade, o risco da travessia é alto.

Essa diferenciação entre perigo e risco é útil particularmente para quem trabalha com alimentos.

Na área de alimentos, existe um sistema de controle de higiene e segurança alimentar chamado


APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) que utiliza muito esses conceitos.

O conceito de risco deve ser observado sob duas vertentes: o risco quantitativo, que é o risco
matemático, indicando qual é a probabilidade de acontecer, no qual iremos numerar quantos acidentes
podemos ter em uma determinada situação; e o risco qualitativo, que será indicado pela condição do
processo de trabalho (MATTOS; MASCULO, 2011).

56
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Para classificar o tipo de um risco, precisamos primeiro entender que estes podem ser classificados
de maneiras diferentes. Segundo Odonne (apud MATTOS; MASCULO, 2011), os riscos em um ambiente
podem ser classificados em quatro grupos:

• Fatores ambientais – que podem interferir na condição de trabalho no ambiente interno e externo,
por exemplo, o calor e a luz.

• Fatores ambientais específicos do ambiente de trabalho.

• Atividade muscular.

• Condições que podem determinar efeitos estressantes.

Outra forma de classificação é aquela descrita nas legislações, e que são recomendadas para a
formação dos Mapas de Risco, estabelecendo quais são os riscos mecânicos, físicos, químicos, biológicos
e ergonômicos.

A Norma Regulamentadora 9 do Ministério do Trabalho indica:

9.1.5. Para efeito desta NR, consideram‑se riscos ambientais os agentes


físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em
função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição,
são capazes de causar danos à saúde do trabalhador.

9.1.5.1. Consideram‑se agentes físicos as diversas formas de energia a


que possam estar expostos os trabalhadores, tais como – ruído, vibrações,
pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, bem como
o infrassom e o ultrassom.

9.1.5.2. Consideram‑se agentes químicos as substâncias, compostos ou


produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas
formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela
natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido
pelo organismo através da pele ou por ingestão.

9.1.5.3. Consideram‑se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos,


parasitas, protozoários, vírus, entre outros (BRASIL, 1978c).

Já a Portaria nº 25/1994, do Ministério do Trabalho, ao regulamentar a elaboração do Mapa de


Riscos, considera a existência de cinco categorias de riscos:

• Agentes físicos – são as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores,
tais como ruídos, vibração, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes,
radiações não ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom.
57
Unidade I

• Agentes químicos – são as substâncias, os compostos ou os produtos que possam penetrar no


organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores,
ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo
organismo através da pele ou por ingestão.

• Agentes biológicos – são os bacilos, bactérias, fungos, protozoários, parasitas, vírus, entre outros.

• Agentes ergonômicos – são os agentes caracterizados pela falta de adaptação das condições de
trabalho às características psicofisiológicas do trabalhador.

• Agentes de acidentes (mecânicos) – são arranjos físicos inadequados ou deficientes, máquinas e


equipamentos, ferramentas defeituosas, inadequadas ou inexistentes, eletricidade, sinalização,
perigo de incêndio ou explosão, transporte de materiais, edificações, armazenamento inadequado
etc. (BRASIL, 1994).

A maioria dos autores define a classificação dos perigos por meio de exemplos, sem se aprofundar
em explicações sobre os critérios de classificação. Além disso, dependendo da sua área de trabalho, o
autor pode priorizar uma ou outra necessidade – um biólogo não considera um inseto da mesma forma
que um nutricionista. Isso acaba causando divergências quanto à classificação de alguns perigos. Porém,
é importante ressaltar que essa classificação é didática e existe apenas para facilitar o raciocínio sobre
a atividade profissional. Identificar a presença do perigo é muito mais importante do que classificá‑lo.

Para este estudo, consideraremos os perigos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos, e seu critério
de classificação levará em consideração, principalmente, as medidas preventivas.

4.1 Riscos mecânicos

Risco mecânico pode ser definido como aquela condição que é gerada pelo contato físico do
trabalhador com o agente que pode ser nocivo.

Esse tipo de risco é caracterizado pelas seguintes condições:

• Podem atuar em pontos específicos do ambiente de trabalho.

• Agem, de modo geral, diretamente sobre o trabalhador.

• Podem ocasionar lesões agudas e imediatas.

Podemos citar como exemplo de um risco mecânico, a presença de um estilete em uma mesa de
escritório. Esse estilete pode ser utilizado para apontar um lápis ou cortar um papel, mas pelo simples
fato de estar presente no ambiente, já gera um risco para qualquer pessoa que esteja ali.

Materiais com características de corte, aquecidos, perfurantes, em movimento ou energizados


também são exemplos de riscos mecânicos. Além dos materiais que diretamente podem ser considerados
58
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

riscos mecânicos, existem também alterações na estrutura física arquitetônica de um ambiente, como
irregularidades em pisos que, apesar de não causarem uma lesão direta no trabalhador, podem provocar
um acidente, por exemplo, uma queda. Em um ambiente de trabalho, além da estrutura física, a forma
como os ambientes são montados, por exemplo, a disposição dos móveis, a altura de bancadas e armários,
também pode provocar acidentes e lesões se não estiverem dispostos corretamente.

Dessa forma, podemos definir que os riscos mecânicos são todos os fatores que colocam em perigo o
trabalhador ou que afetam sua integridade física ou moral durante o expediente de trabalho. São causas
de acidentes com origens mecânicas que, quando não são fatais, causam a perda de um membro ou, em
casos mais leves, escoriações e queimaduras, mas que podem ocasionar desconfortos morais e psíquicos.

Nos termos da Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994, em seu Anexo 6 da NR5‑Cipa, são
considerados riscos geradores de acidentes: arranjo físico inadequado ou deficiente, máquinas e
equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inadequada,
eletricidade, probabilidade de incêndio ou explosão, animais peçonhentos, armazenamento inadequado
e outras situações de risco que podem contribuir para a ocorrência de acidentes (BRASIL, 1994).

Arranjo físico inadequado

É resultante de prédios com área de trabalho insuficiente, localização imprópria de máquinas e


equipamentos, desorganização de móveis, ferramentas e maquinários de trabalho, sinalização incorreta
e inexistente e pisos fracos, escorregadios e irregulares.

Máquinas e equipamentos sem proteção

É o caso de máquinas obsoletas, sem proteção em pontos de transmissão e operação, com as


engrenagens expostas, com comando de liga/desliga fora do alcance do operador ou máquinas e
equipamentos com defeitos ou inadequados, sem dispositivos de segurança.

Ferramentas inadequadas ou defeituosas

Ferramentas em mau estado de conservação, usadas de forma incorreta ou fornecidas


inadequadamente para aquele tipo de trabalho.

Iluminação inadequada

Ambientes com baixa iluminação, de maneira imprópria para o tipo de atividade profissional, ou de
maneira excessiva que possa causar ofuscamento nos olhos.

Eletricidade

Acidentes originados com energia elétrica por instalação imprópria, com defeito ou exposta, fios
desencapados, falta de sinalização e falta de manutenção.

59
Unidade I

Probabilidade de incêndio ou explosão

São as áreas com armazenamento inadequado de inflamáveis e/ou gases, manipulação e transporte
inadequado de produtos inflamáveis e perigosos, sobrecarga em rede elétrica, falta de sinalização, falta
de equipamentos de combate a incêndios ou defeituosos, falta da brigada de incêndio, bem como a falta
de seu treinamento e simulados.

Animais peçonhentos

São os acidentes envolvendo animais venenosos com dispositivos inoculadores de veneno, como
cobras, escorpiões, aranhas, lacraias, taturanas, vespas, formigas, abelhas e marimbondos.

Armazenamento inadequado

O armazenamento inadequado de produtos, utensílios e ferramentas de trabalho costuma trazer


acidentes, pelo mau armazenamento de caixas em prateleiras, estantes mal posicionadas, falta de
sinalização, mau uso de empilhadeiras durante o processo de armazenagem e andaimes mal posicionados.

Para a prevenção de riscos de acidentes, é necessário uma atenção especial e complexa dos
profissionais envolvidos com a segurança do trabalho, devendo‑se observar cada tipo de risco e propor
a respectiva medida de prevenção.

Alguns procedimentos de segurança podem ajudar a evitar futuros acidentes de trabalho:

• Todos os trabalhadores devem conhecer os riscos a que estão expostos, bem como serem treinados
quanto às respectivas formas de prevenção e controle.

• Todos os trabalhadores devem estar em perfeitas condições de saúde, a ponto de exercer suas
atividades com total atenção, zelo e profissionalismo.

• Todos os trabalhadores devem obedecer rigorosamente às normas de segurança do trabalho


em vigor, bem como as ordens de serviços expedidas pelo empregador e os pareceres técnicos
emitidos pelos profissionais de segurança do trabalho.

• Todos os trabalhadores devem utilizar os EPIs adequados como:

— Óculos ou viseiras de proteção contra a projeção de limalhas, aparas ou fragmentos de


máquinas, em especial quando há o manuseio de metais muito duros, frágeis ou quebradiços.

— Luvas adequadas ao tipo de trabalho a se realizar na empresa.

60
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Além disso:

• As limalhas e as aparas resultantes de processos de maquinação nunca devem ser retiradas com
as mãos; para tal, devem ser utilizados um pincel ou similar, quando elas estiverem secas e, uma
escova de borracha, quando estiverem úmidas ou com gordura.

• Não devem ser utilizados, em nenhuma hipótese, acessórios e adornos pessoais durante o
expediente de trabalho, como anéis, pulseiras, brincos e colares.

• Os cabelos compridos devem ser usados sempre presos e protegidos por uma touca, chapéu ou similar.

• Os trabalhadores não devem utilizar a barba comprida, pois pode ficar presa em elementos da
máquina dotados de movimento, bem como pode atrapalhar o uso da máscara de proteção
respiratória.

Para evitar acidentes com animais peçonhentos, devem‑se verificar as vestimentas antes de
usá‑las, principalmente os trabalhadores da indústria da construção civil, de obras inacabadas, ou
seja, onde houver entulhos e materiais de construção, pois esses animais podem estar presentes
nesse tipo de ambiente.

4.2 Riscos físicos

Os riscos físicos são aqueles causados por agentes que em um ambiente podem alterar suas características
físicas, e que depois dessa alteração podem causar lesões em quem estiver presente no ambiente.

São características dos riscos físicos:

• A possibilidade de transmissão, propagando sua nocividade.

• Causar lesões mesmo que não haja contato direto com sua fonte.

• Geralmente causa lesões crônicas, mediatas.

Como exemplos de riscos físicos, podemos citar os ruídos, a iluminação, o calor, vibrações, radiações
e pressão.

Nesse tipo de risco é importante destacar que a condição de causar a agressão ou a lesão estará diretamente
ligada à exposição àquele risco. Esses agentes precisam ter a característica de uma fonte propagadora
progressiva de alterações de sua intensidade, de forma a causar uma lesão transitória ou permanente.

Ruídos

Os ruídos são os incômodos sonoros que afetam a saúde do trabalhador. As máquinas e os


equipamentos utilizados pelas indústrias produzem ruídos que podem atingir níveis excessivos, podendo
61
Unidade I

provocar graves prejuízos à saúde do trabalhador em curto, médio e longo prazos. Dependendo do
tempo de exposição, do nível sonoro e da sensibilidade individual, as alterações danosas podem se
manifestar imediatamente ou gradualmente.

De acordo com a NR-15, os ruídos se dividem em:

• Ruídos contínuos ou intermitentes.

• Ruídos de impacto.

Os ruídos contínuos ou intermitentes são aqueles em que se avalia o limite de tolerância. Esses
ruídos são medidos em decibéis (dB), utilizando instrumentos de nível de pressão sonora, com leituras
feitas próximas ao ouvido do trabalhador, operando circuito de compensação “A”.

Sem a proteção necessária, não é permitido que a exposição a ruídos ultrapassem o valor de 115dB (A).

Figura 44

Caso o trabalhador seja exposto a uma atividade com ruídos sonoros superiores a esses valores, se
ele não estiver devidamente protegido, estará exposto a um risco grave e iminente.

Já os ruídos de impacto são aqueles que apresentam picos de energia acústica de duração inferior a
um segundo, com intervalos maiores que um segundo. Nesses casos o limite de tolerância para os ruídos
de impacto é de 130 dB.

Esses ruídos são medidos operando circuitos de compensação “C”.

62
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

De acordo com o Anexo 1 da NR-15, quanto maior o nível de ruído menor deve ser o tempo
de exposição.

Conforme o mesmo documento, os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente são:

Tabela 1

Nível de ruído dB (A) Máxima exposição diária – permissível


85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos

Fonte: Brasil, (1978e).

Temperaturas extremas

A exposição a temperaturas extremas também pode oferecer riscos à saúde do trabalhador.

A exposição a baixas temperaturas pode oferecer riscos diretos, em especial à pele do trabalhador,
provocando feridas, rachaduras e até necrose da pele, e de forma indireta, causando agravamento de
doenças reumáticas, além de aumentar a predisposição para acidentes e doenças respiratórias.

Já as altas temperaturas podem provocar desidratação, câimbras, fadiga física, distúrbios


psiconeuróticos, insolação e feridas.

63
Unidade I

Figura 45

Observação

As medições devem ser efetuadas no local onde permanece o trabalhador,


à altura da região do corpo mais atingida, e os períodos de descanso serão
considerados tempo de serviço para todos os efeitos legais.

Vibrações

Especialmente na indústria é comum o uso de máquinas que causam vibrações, e estas podem ser
nocivas ao trabalhador. Podemos classificar as vibrações em:

• Localizadas – que atingem apenas uma parte ou partes do corpo. Estas são provocadas por
ferramentas manuais, elétricas ou pneumáticas. Como principais consequências a uma exposição
inadequada, contínua e sem proteção, temos alterações neurovasculares nas mãos e nos braços.
É possível também que o funcionário tenha perda óssea, podendo levar à osteoporose.

• Generalizadas – que atingem o corpo inteiro do trabalhador. Estas acontecem com o uso de
máquinas de grande porte, além de ônibus, tratores e caminhões. Nesses casos, as principais
consequências estão relacionadas a lesões na coluna vertebral.
64
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Como principal medida de proteção e controle para que se possam minimizar os danos é recomendado
que o trabalhador tenha o menor tempo possível de exposição contínua, havendo revezamento dos
trabalhadores durante a execução destas atividades.

Pressões anormais

O Anexo 6 da Norma Regulamentadora 15 do TEM, criada pela Portaria GM nº 3.214, de 8 de junho


de 1978, e alterada pela Portaria SIT nº 291, de 8 de dezembro de 2011, define quais são os trabalhos
regulamentados sob condições hiperbáricas.

As pressões atmosféricas anormais no ambiente de trabalho podem prejudicar a saúde do trabalhador,


seja ela menor ou maior que o normal, definidas como pressão hipobárica e pressão hiperbárica.

A pressão hiperbárica acontece quando o ser humano está sujeito a pressões maiores que a pressão
atmosférica. É o caso dos trabalhadores nas plataformas de petróleo e nas tubulações submersas em
oceanos, bem como os mergulhadores.

Figura 46

Já a pressão hipobárica acontece quando o ser humano está sujeito a pressões menores que a
pressão atmosférica. Essas condições acontecem quando o trabalhador está em elevadas altitudes, por
exemplo, os trabalhadores que fazem a manutenção e limpeza de arranha‑céus.
65
Unidade I

Figura 47

Radiações

Nas nossas atividades diárias as radiações estão presentes em todas as suas formas, em diversos
produtos, até mesmo aquelas provenientes da luz solar. Podemos citar como algumas aplicações
tecnológicas das radiações: o rádio, a televisão, os radares, os celulares e as comunicações Wi‑Fi, bem
como as fibras ópticas e os fornos de micro‑ondas.

Classificamos as radiações em ionizantes e não ionizantes.

Radiação ionizante

As radiações ionizantes possuem um poder de penetração maior e se caracterizam pela habilidade


de ionizar átomos da matéria-prima com as quais interagem.

Essa radiação é parte integrante da vida humana, tendo a sua aplicação desde a área médica até a
sua utilização em armas bélicas.

Atualmente, sua metodologia é de extremo auxílio, em especial, para o uso médico, pelo método
de sua aplicação controlada de radiação controlada, sendo o seu método mais utilizado na radiografia
comum. Entretanto, os efeitos da radiação podem ser maléficos, e sua interação pode levar à teratogênese
e até à morte.

Dessa forma, os operadores de raio X e de radioterapia estão frequentemente expostos a esse tipo de
radiação, que pode afetar o organismo ou se manifestar nos descendentes das pessoas expostas.

66
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Os exemplos dessas radiações são:

• Radiação alfa (α) = que possui poder de penetração no papel.

• Radiação beta (β) = que possui poder de penetração no papel e no corpo humano.

• Radiação gama (γ) = que possui poder de penetração no papel, no corpo humano e no aço.

• Raios X = que possui poder de penetração no papel, no corpo humano, no aço e no chumbo.

Figura 48

Radiação não ionizante

Ao contrário da radiação ionizante, a não ionizante não possui energia capaz de produzir emissão
de elétrons de átomos. Geralmente, essas radiações podem ser divididas em sônicas e eletromagnéticas.

Os principais exemplos deste tipo de radiação são:

• Radiação ultravioleta (UV), proveniente da luz solar.

• Radiação infravermelha (IV), proveniente de fornos, de solda elétrica e de operações que envolvem
raios laser e micro‑ondas.

Os principais efeitos colaterais à exposição a este tipo de radiação são alterações visuais (por exemplo,
conjuntivites e catarata) e lesões diretamente na pele do trabalhador (como queimaduras).

Dentre as principais medidas de controle e prevenção das radiações ionizantes e não ionizantes estão:

• Uso de dosímetro de bolso para trabalhadores de raio X.

• Realização de exames periódicos.

• Isolamento da radiação com a utilização de biombos protetores para operação de soldas e


enclausuramento da fonte de radiação, como revestimento de chumbo em pisos e paredes.

• Fornecimento de EPI adequado pela empresa.

67
Unidade I

ATENÇÃO
RADIAÇÕES
NÃO IONIZANTES

Figura 49

4.3 Riscos químicos

São riscos químicos aqueles causados por agentes que em um ambiente sofrem alteração da sua
composição química. Esses agentes podem causar lesões através do seu contato direto ou não, por
exemplo, através da inalação de um determinado produto, ou mesmo pela saturação do produto no ar
daquele ambiente.

Esses agentes se apresentam em diversos estados – gasoso, líquido, sólido – ou na forma de partículas
suspensas – neblina, poeira, fumaça. Quando esses agentes estão em suspensão, são denominados
aerodispersoides.

Por serem agentes que podem apresentar formas diversas e que podem causar lesão por contato
direto ou não, as principais vias de entrada no ser humano são de modo direto, pela pele, e de modo
indireto, pelos sistemas respiratório e digestório.

Esses agentes químicos podem penetrar no organismo de maneira acidental ou por exposição
crônica. O contato com esses riscos pode gerar diversos efeitos no organismo humano, como doenças
em diversos sistemas, mutações celulares e até câncer.

Segundo Mattos e Másculo (apud BARSANO; BARBOSA, 2014), apesar de quase todos os
trabalhadores estarem sujeitos à exposição química, esse tema ganha mais relevância em alguns
setores em virtude da presença mais intensa desses componentes, como nas indústrias química,
petroquímica e petrolífera, na produção de cloro‑soda, amianto, baterias na metalurgia e na
siderurgia, entre outros.

A NR-9 do Ministério do Trabalho e Emprego define como agentes químicos:

[...] as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no


organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas,
neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição,
possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por
ingestão (BRASIL, 1978c).

68
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Considerando‑se apenas o descrito na NR‑9 e na Portaria nº 25/94, para ser considerada um perigo
químico, a substância deve penetrar no organismo.

Porém, serão incluídos nessa análise os riscos de explosão e incêndios provocados pela má
manipulação dos produtos químicos.

Se os perigos químicos são originados de manipulação errada de produtos químicos, então, para se
prevenir dessa classe de perigos, é muito importante que o trabalhador conheça as características dos
produtos manipulados.

Segundo a Chemical Abstract Service, uma divisão da American Chemical Association responsável
por coletar informações sobre produtos químicos, existem cerca de 70 milhões de substâncias químicas
diferentes e, mesmo que o profissional esteja preparado, é impossível conhecer todos os detalhes sobre
a manipulação de todos esses produtos.

A Lei nº 6.514/77, no art. 197, estabelece que:

Os materiais e substâncias empregados, manipulados ou transportados nos


locais de trabalho, quando perigosos ou nocivos à saúde, devem conter, no
rótulo, sua composição, recomendações de socorro imediato e o símbolo de
perigo correspondente, segundo a padronização internacional (BRASIL, 1977).

Essa padronização foi estabelecida pela ABNT na norma NBR 14725 (ABNT, 2012a; 2012b). Nas partes
3 e 4 desta norma, estão estabelecidas as informações que devem constar no rótulo e na FISPQ (Ficha
de Informações de Segurança de Produtos Químicos). A FISPQ é um documento que traz as informações
necessárias para a criação de procedimentos adequados de manipulação de produtos químicos, em
outras palavras, para boas práticas de laboratório.

Binsfeld (2004) sugere que os perigos químicos sejam avaliados de acordo com as características
físico‑químicas, reatividade, toxidade, condições de manipulação, possibilidade de exposição e vias de
penetração no organismo. Trata‑se de uma análise bem completa e complexa. Dentre essas características,
será dada atenção a quatro delas – a difusividade no ar, a inflamabilidade, a toxidade e a ecotoxidade.

A difusividade no ar é a capacidade de uma substância de se espalhar pelo ar. Se o produto químico


se espalhar facilmente pelo ar, ele se torna muito difícil de ser contido, e um incêndio ou uma nuvem
tóxica pode tomar grandes dimensões.

Dois parâmetros da FISPQ dão uma indicação de como um produto vai se difundir pelo ar:

• Pressão de vapor – é a pressão que o vapor faz quando está em equilíbrio com o líquido em uma
evaporação. Quanto maior a pressão de vapor, mais volátil o produto e maior é a difusão.

• Densidade relativa do vapor – é a densidade em relação à densidade do ar, na mesma temperatura.

69
Unidade I

Vapores menos densos que o ar são facilmente carregados por correntes de ar e se dissipam na
atmosfera. Vapores mais densos tendem a ficar concentrados no ambiente e apresentam maior risco.

A inflamabilidade é a capacidade de o produto químico incendiar‑se. Essa capacidade pode ser


avaliada baseando‑se em três parâmetros:

• Inflamabilidade no ar – são os limites superior e inferior de concentração (porcentagem em


massa) dentro dos quais o produto torna‑se inflamável. Fora desses limites, o produto não se
incendeia; dentro deles, qualquer fonte de calor é suficiente para provocar um incêndio.

• Ponto de fulgor – é a temperatura na qual um produto químico libera vapor suficiente para
entrar em combustão com a ajuda de uma fonte de calor externa. Sem essa fonte, a chama se
extingue. Quanto mais baixo o ponto de fulgor, maior o risco de combustão.

• Temperatura de ignição – é a temperatura na qual o produto químico entra em combustão


sem o auxílio de uma fonte de ignição. Quanto mais baixo o ponto de fulgor, maior o risco de
combustão espontânea.

A toxidade é a capacidade de um produto químico produzir efeitos nocivos, tanto no meio ambiente
quanto nos organismos vivos. A ABNT, na norma NBR 14725, diferencia as informações sobre a toxidade
entre informações toxicológicas e informações ecológicas.

A FISQP pode fornecer diversos parâmetros de informações toxicológicas, sendo os mais comuns:

• Toxidade aguda – faz referência a exposições de curta duração, na ordem de segundos, minutos
ou horas. Normalmente é apresentada a DL50, por via oral, para ratos. Esse parâmetro indica
a dose mínima necessária para matar 50% de uma população de cobaias. A DL50 não fornece
detalhes sobre os mecanismos de ação do produto em humanos, mas serve como comparativo
entre os diversos produtos químicos. Quanto menor a DL50, mais letal é o produto.

• Toxidade crônica – refere‑se a exposições de longo prazo, com duração de dias, meses ou anos.

São indicados os sintomas provocados pela longa exposição ao produto.

• Limite de exposição ocupacional – é a concentração máxima de um produto químico no meio


ambiente sem que ocorram prejuízos à saúde do trabalhador.

Existem várias definições em relação ao tempo de exposição do trabalhador, resultando em diversos


parâmetros. O mais comum é o TLV‑TWA (Threshold Limit Value – Time Weighted Average), parâmetro de
origem americana que indica a concentração para uma jornada de 8 horas diárias e 40 horas semanais.

A ecotoxidade é a ação dos produtos químicos quando liberados no meio ambiente sobre os
constituintes vivos dos ecossistemas. O Ibama, na Portaria nº 84, de 1996, indica os seguintes parâmetros
para avaliação do potencial de dano ao meio ambiente (IBAMA, 1996):
70
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Bioacumulação – descreve a capacidade de um produto apresentar concentrações nos


organismos mais elevadas do que no meio. Isso significa que os organismos estão acumulando
o produto químico.

• Persistência – está relacionada à degradabilidade do produto no ambiente. Essa degradação pode


se dar pela ação de microrganismos (biótica) ou por processos químicos de oxidação, hidrólise ou
outros (abiótica).

• Transporte – refere‑se aos processos físicos de transporte de massa. A difusão no solo e na água
e a solubilidade influenciam esse parâmetro.

• Toxidade a diversos organismos – é a DL50 aplicada a organismos típicos de cada meio, por
exemplo, de organismos aquáticos.

• Potencial mutagênico – é a capacidade de um produto químico causar no DNA danos que não
se conseguem reparar no momento da replicação celular, portanto, a alteração é passada para as
gerações seguintes.

• Potencial teratogênico – é a capacidade de um produto químico provocar danos em fetos em


desenvolvimento. Esses danos podem ser malformações, alterações neurológicas ou mesmo a
perda da gravidez.

• Potencial carcinogênico – é a capacidade de um produto químico causar câncer.

No dia a dia de um laboratório, conhecem‑se os produtos químicos que serão manipulados.


Esses produtos são adquiridos junto aos fabricantes ou distribuidores, que são obrigados a
fornecer a FISPQ. Já na produção de alimentos, a bioacumulação e a persistência são parâmetros
fundamentais, e nem o manipulador nem o consumidor final do alimento tem controle sobre
isso. Quem analisar os perigos químicos associados à produção de alimentos deve pensar em
toda a cadeia produtiva.

Por exemplo, a produção de um iogurte com frutas pode ser contaminada por várias fontes:

• Se o leite vier de um produtor que não isola as vacas que estão passando por tratamento
veterinário, aquele vai conter traços de antibiótico.

• Se a geleia de frutas adicionada ao iogurte contiver uma quantidade grande de sorbato de


potássio, o iogurte terá uma quantidade deste fungicida acima do limite de tolerância legal.

• Se os lubrificantes da máquina de envase não forem adequados para o uso alimentício, o iogurte
terá traços de hidrocarbonetos.

Portanto, não adianta executar ações preventivas apenas na manipulação do alimento; tais ações
devem incluir a seleção do fornecedor. No caso de alimentos, os perigos químicos podem ser introduzidos
71
Unidade I

ainda no campo por meio de práticas inadequadas na aplicação, no acondicionamento e no descarte de


agrotóxicos e antibióticos ou no desrespeito à legislação que regulamenta o uso destes produtos.

Além disso, a limpeza e a sanificação de equipamentos, se mal orientadas, podem resultar em resíduos
que se tornarão contaminantes no próximo uso dessas máquinas.

Representam perigos químicos na produção e manipulação de alimentos:

• Metais pesados (chumbo, cobre, cádmio, mercúrio, entre outros) que podem ser incorporados aos
alimentos por meio da água de irrigação.

• Fertilizantes inadequados ou em excesso.

• Lubrificantes e aditivos de caldeiras.

• Conservantes em excesso.

• Traços de produtos de limpeza e sanificação de utensílios.

• Antibióticos.

• Pesticidas.

O nutricionista também deve levar em conta se há alergênicos em um determinado alimento ou


ainda se os utensílios ou aquele local de trabalho tiveram contato com algum tipo de alergênico.

As toxinas geradas por microrganismos presentes nos alimentos podem ser consideradas
perigo biológico. Apesar de serem substâncias químicas, sua prevenção depende da prevenção dos
microrganismos geradores.

4.4 Riscos biológicos

Os perigos biológicos são aqueles que causam infecções, caracterizadas pela invasão e multiplicação
de organismos indesejáveis no objeto de trabalho ou no próprio trabalhador.

Seres vivos, em especial microrganismos, quando introduzidos nos processos de trabalho, como
manipulação de vírus e bactérias, podem ser potencialmente nocivos aos seres humanos, quando não
manipulados com alguns cuidados.

Condições ambientais que favoreçam a proliferação de animais transmissores de doenças, em


especial, pela falta de higiene e de saneamento básico, podem aumentar a proliferação de animais
peçonhentos (como cobras e escorpiões).

72
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Hoje, os riscos biológicos estão presentes em diversas áreas de atuação, do ambiente hospitalar às
indústrias farmacêuticas e alimentícias, além de centrais de tratamento de dejetos e atividades agrícolas.

Lembrete

O objeto de trabalho pode ser o paciente, o material de pesquisa, o alimento


processado, os animais e plantas tratados e o meio ambiente. Para que a
infecção seja identificada como tal, vários fatores precisam ser avaliados:

• O tipo de agente infeccioso.

• A quantidade inoculada desse agente.

• A resistência natural do ambiente a esse agente.

• O estado de saúde do sujeito contaminado.

Note que somente a presença do organismo indesejável não é suficiente para caracterizar uma
infecção. O problema maior é a multiplicação desse organismo.

Isso vale tanto para microrganismos quanto para parasitas internos e em qualquer objeto de trabalho,
mas, para simplificar, vamos analisar essa questão para microrganismos no corpo humano saudável.
Existem duas razões para que a multiplicação dos microrganismos seja considerada o maior problema:

• O corpo humano possui uma capacidade de combate a essas infecções, então uma inoculação
pequena não representa risco.

• Alguns microrganismos produzem toxinas que são termorresistentes. Essas toxinas vão se
acumulando e não podem ser eliminadas de alimentos ou meios de cultura por processos térmicos.

Acrescente‑se a isso um fato: é impossível garantir esterilidade total. Por melhor que seja o processo
de descontaminação, existe sempre uma probabilidade de sobrevivência de microrganismos.

Por isso, a prevenção dos perigos biológicos está concentrada em se evitarem a multiplicação dos
microrganismos e a inoculação.

Na área de alimentos, também podem ser considerados como perigos biológicos os parasitas internos
e as toxinas produzidas por alguns tipos de fungos e bactérias.

Muitas toxinas são termorresistentes, isto é, não são inativadas por tratamentos térmicos dos
alimentos (cocção, pasteurização, UHT, autoclavagem). Nesse caso, a prevenção desses perigos se faz
pela prevenção do microrganismo gerador da toxina. Então, por facilidade, considera‑se esse perigo
como sendo biológico.
73
Unidade I

O Manual de Segurança em Laboratório, da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004), sugere que
sejam levados em consideração os seguintes parâmetros na avaliação dos perigos biológicos:

• Patogenicidade do agente – é a capacidade de o microrganismo causar doenças. Outro parâmetro


semelhante a ser considerado é a virulência, associada à mortalidade causada por esse agente.

• Dose infecciosa – é a quantidade mínima inoculada de um microrganismo capaz de provocar


uma doença.

• Via de exposição – os mecanismos mais comuns são a inoculação direta (por acidentes com
agulhas), a inalação de aerossóis (quando alguém espirra ou tosse), o contato com membranas ou
mucosas e a ingestão.

• Concentração do agente – uma grande quantidade de material contaminado a ser manipulado


significa uma grande concentração do agente infeccioso e, portanto, maior risco de contaminação.

• Informação disponível – agentes infecciosos exóticos ou pouco conhecidos implicam riscos maiores.

• Tipo de atividade executada – se a atividade executada, por exemplo, o uso de ultrassom, gerar
aerossóis, o risco de contaminação e o raio de ação do agente são maiores.

• Disponibilidade de profilaxia – agentes infecciosos cujas doenças possuem algum tipo de


tratamento ou vacina apresentam menores riscos que os microrganismos cujas doenças não
possuem tratamento.

Os microrganismos patogênicos, ou seja, os causadores de doenças são responsáveis pelos maiores


problemas enfrentados pelos profissionais da área da saúde.

Isso porque, apesar de se conhecer o perigo, a existência desses agentes agressores acaba sendo
um conceito muito abstrato, já que não podemos vê‑los. Curiosamente, o profissional consciente dos
riscos biológicos que afetam os homens, os animais e as plantas acaba sendo considerado, em alguns
momentos, um maníaco por limpeza, em outros, como excessivamente relaxado.

Lembrete

São agentes biológicos tanto os microrganismos quanto os parasitas.

A divisão dos agentes biológicos em classes de risco leva em consideração


dois fatores: o primeiro é que a classificação refere‑se à fase mais perigosa
da vida do organismo contaminante e o segundo é que essa contaminação
é avaliada em indivíduos adultos e sadios.

74
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Os microrganismos também são classificados de acordo com o potencial de risco que apresentam:

Classe 1 – são os microrganismos que não apresentam nenhum risco de causar doenças. Contudo,
isso não significa que eles não apresentam riscos, pois, no caso de alimentos, por exemplo, eles podem
ser deteriorantes. Considerado de baixo risco individual e para a comunidade: “inclui os agentes
biológicos conhecidos por não causarem doenças no homem ou nos animais adultos sadios. Exemplos:
Lactobacillus sp. e Bacillus subtilis” (BRASIL, 2010, p. 15).

Classe 2 – são agentes patogênicos que não causam doenças graves em humanos ou animais. Essas
doenças possuem um tratamento eficaz, e o risco de a infecção se alastrar é pequeno. Considerado
moderado risco individual e limitado risco para a comunidade.

[...] inclui os agentes biológicos que provocam infecções no homem ou nos


animais, cujo potencial de propagação na comunidade e de disseminação
no meio ambiente é limitado, e para os quais existem medidas terapêuticas
e profiláticas eficazes. Exemplos: Schistosoma mansoni e Vírus da Rubéola
(BRASIL, 2010, p. 15).

Classe 3 – são os microrganismos que causam doenças graves que podem levar à morte tanto
homens como animais, mas cuja propagação é limitada. Existem tratamentos e medidas de prevenção.
Considerados de alto risco individual e moderado para a comunidade.

[...] inclui os agentes biológicos que possuem capacidade de transmissão


por via respiratória e que causam patologias humanas ou animais,
potencialmente letais, para as quais existem usualmente medidas de
tratamento e/ou de prevenção. Representam risco se disseminados
na comunidade e no meio ambiente, podendo se propagar de pessoa
a pessoa. Exemplos: Bacillus anthracis e Vírus da Imunodeficiência
Humana (HIV) (BRASIL, 2010, p. 15).

Classe 4 – são os agentes patogênicos que causam doenças graves, com risco de morte para
humanos ou animais, e que são transmitidos facilmente, principalmente por via aérea. Considerado de
alto risco individual e para a comunidade.

[...] inclui os agentes biológicos com grande poder de transmissibilidade


por via respiratória ou de transmissão desconhecida. Até o momento não
há nenhuma medida profilática ou terapêutica eficaz contra infecções
ocasionadas por estes. Causam doenças humanas e animais de alta
gravidade, com alta capacidade de disseminação na comunidade e no meio
ambiente. Esta classe inclui principalmente os vírus. Exemplos: Vírus Ebola e
Vírus Lassa (BRASIL, 2010, p. 15).

Classe de risco especial – são os agentes biológicos não existentes no país e que, embora não
obrigatoriamente patógenos de importância para o homem, podem gerar graves perdas econômicas
75
Unidade I

e/ou na produção de alimentos. Um agente de classe de risco especial deverá ser manipulado seguindo
os mesmos critérios da classe de risco 4 enquanto ainda não circular em território nacional. Após o
primeiro caso diagnosticado no país, deverá ser classificado dentro das demais categorias.

Para o manuseio seguro de agentes biológicos, durante as atividades de trabalho, é necessário que
sejam seguidas algumas recomendações:

• Em todos os locais de trabalho deve haver um manual de segurança e/ou procedimentos, que
deve ser divulgado para que todos os funcionários adotem as medidas necessárias.

• A pessoa responsável pelo local onde há a manipulação de agentes biológicos deve assegurar que
todos os funcionários tenham conhecimento das práticas descritas no manual.

• Os equipamentos de proteção individual devem ser utilizados em toda e qualquer situação de


exposição (óculos de segurança, máscaras, viseiras e aventais).

• Para os funcionários que fazem uso de lentes de contato, estas devem ser evitadas.

• No local de trabalho, sempre utilizar sapatos adequados para a proteção.

• Manter o ambiente sempre limpo e organizado.

4.5 Equipamento de segurança (barreiras primárias)

O equipamento de segurança inclui cabines de segurança biológica (CSB), recipientes adequados


e outros controles da engenharia de segurança projetados para remover ou minimizar exposições aos
materiais biológicos perigosos.

A CSB é o dispositivo principal utilizado para proporcionar a contenção de borrifos ou aerossóis


infecciosos provocados por inúmeros procedimentos microbiológicos.

O equipamento de segurança também pode incluir itens para a proteção pessoal, como luvas,
aventais, gorros, proteção para sapatos, botas, respiradores, escudo ou protetor facial, máscaras
faciais ou óculos de proteção. O equipamento de proteção pessoal frequentemente é usado em
combinação com as CSBs e outros dispositivos que façam a contenção dos agentes, animais ou
materiais que estão sendo manipulados.

Em casos nos quais é impossível trabalhar em CSBs, o equipamento de segurança pessoal deve
formar a barreira primária entre os trabalhadores e os materiais infecciosos. Os exemplos incluem certos
estudos sobre animais, necropsia, atividades de produção em grande escala do agente e atividades
relacionadas à manutenção, serviços ou suporte da instalação do laboratório.

76
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

4.6 Projeto e construção das instalações (barreiras secundárias)

O planejamento e a construção das instalações contribuem para a proteção da equipe do laboratório,


proporcionando uma barreira de proteção para as pessoas que se encontram do lado de fora e para indivíduos
ou animais da comunidade contra agentes infecciosos que podem ser liberados acidentalmente.

As barreiras secundárias recomendadas dependerão do risco de transmissão dos agentes específicos.

Essas barreiras podem incluir o isolamento da área de trabalho ao acesso público, a disponibilidade de
uma dependência para descontaminação (por exemplo, uma autoclave) e de dependências para lavagem
das mãos, sistemas de ventilação especializados, sistemas de tratamento de ar para a descontaminação,
zonas de acesso controlado, câmaras pressurizadas como entradas de laboratório, separada, ou módulos
para isolamento do laboratório.

4.7 Avaliações de riscos

Ao realizar a avaliação do risco qualitativo, todos os fatores de risco deverão ser identificados e
explorados. Informações relacionadas deverão estar disponíveis na forma de um manual.

Consultas às normas do NIH de DNA recombinante, normas de biossegurança em laboratórios


canadenses e normas de segurança da Organização Mundial de Saúde deverão ser consideradas.

O desafio da avaliação do risco se encontra naqueles casos em que uma informação completa sobre
esses fatores não está à nossa disposição.

Uma abordagem conservadora é geralmente aconselhada quando as informações forem insuficientes,


nos forçando a um julgamento subjetivo.

Os fatores observados em uma avaliação dos riscos incluem:

• A patogenicidade do agente infeccioso ou suspeito, incluindo a incidência e gravidade da doença.


• A via de transmissão (por exemplo, parenteral, via aérea ou por ingestão).
• A estabilidade do agente (por exemplo, de bactérias formadoras de esporos).
• A dose infecciosa do agente.
• A concentração e o volume de material a ser manipulado.
• A disponibilidade de dados como a patogenicidade, a infectividade e a via de transmissão.
• A disponibilidade de uma profilaxia eficaz estabelecida ou de uma intervenção terapêutica.

Quanto mais grave a potencialidade da doença adquirida, maior será o risco. Por exemplo, o
Sthaphylococcus aureus raramente provoca uma doença grave ou fatal em um indivíduo contaminado
77
Unidade I

num laboratório e está relegado ao NB‑2. Por outro lado, um vírus como o Ebola, que provoca doenças com
alta taxa de mortalidade e para as quais não existem vacinas ou tratamentos, é trabalhado em um NB‑4.

Porém, a gravidade da doença precisa ser amenizada por outros fatores. O trabalho com um vírus
humano de imunodeficiência (HIV) e com o vírus da hepatite B também é feito em um NB‑2. Embora
eles possam causar uma doença potencialmente fatal, esses vírus não são transmitidos por meio de
aerossóis, e a incidência de uma infecção adquirida em laboratório é extremamente baixa para o HIV. No
caso da hepatite B, já existe uma vacina eficaz.

Em alguns casos, a imunização pode afetar o nível de biossegurança (por exemplo, o vírus Junin, do
grupo NB‑4, pode ser trabalhado no NB‑3 por um trabalhador imunizado).

4.8 Riscos ergonômicos

A medicina do trabalho foi criada no século XVII com os trabalhos do médico italiano Bernardino
Ramazzini, que descreveu as primeiras doenças de origem profissional em uma série de monografias que
tratavam de problemas oculares, auditivos e de postura.

No final do século XIX, Frederick W. Taylor introduziu o conceito de administração científica,


preocupando‑se com a forma mais eficiente de execução do trabalho, demonstrando a importância da
antropometria no projeto do ambiente de trabalho.

Em 1914, o francês Jules Amar publica o livro O motor humano, a primeira obra a fornecer as bases
fisiológicas do trabalho muscular e sua relação com as atividades profissionais. Esse livro é considerado
a primeira obra sobre ergonomia.

A definição da IEA (Associação Internacional de Ergonomia) para Ergonomia é, conforme tradução


retirada do site da Abergo (Associação Brasileira de Ergonomia):

[...] uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações


entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de
teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem‑estar
humano e o desempenho global do sistema (ABERGO, [s.d.]).

Atividade profissional é uma série de relações, estímulos e respostas que o trabalhador estabelece com
o objeto de seu trabalho. Essas relações ocorrem tanto no âmbito mental quanto no físico; quando essas
solicitações ultrapassam a capacidade do trabalhador, aumenta‑se o risco de acidente ou de danos na saúde.

Portanto, a análise ergonômica não pode ser restrita apenas a um aspecto. Ela tem que ser
multidisciplinar e deve incluir as características pessoais de cada trabalhador.

A atividade sensorial e mental não é tão óbvia quanto a atividade física, mas existe em toda atividade
humana, por mais simples que pareça. Na atividade mental, a Psicofisiologia e a Psicologia do Trabalho
forneceram parâmetros para análise do trabalho.
78
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Deve‑se fazer uma avaliação:

• Da detecção da informação – a informação deve ser fornecida acima do limiar de percepção do


trabalhador e deve permanecer por tempo suficiente para que se torne um estímulo.

• Da interpretação da informação – a informação deve ser clara, não pode dar margem a
ambiguidades e deve satisfazer a expectativa do trabalhador.

• Da frequência de decisões – em um trabalho monótono, o nível de atenção do trabalhador


cai drasticamente, resultando em omissões; por outro lado, em um trabalho que exige muitas
decisões, a capacidade de o trabalhador reconhecer informações e resolver problemas decai ao
longo do tempo.

• Do tempo de resposta – um ser humano não consegue memorizar muitas informações


simultâneas, correndo o risco de esquecimentos ou de alterações na resposta. Na atividade física,
precisam ser considerados:

— O limiar de força do trabalhador – os músculos executam trabalhos dinâmicos (estendendo


ou flexionando) ou estáticos (imobilizando segmentos ósseos). Para cada tipo de esforço, o
músculo tem uma capacidade máxima. Utilizam‑se, durante o trabalho, apenas de 15% a 20%
da força máxima. Quando esse limiar é ultrapassado, surge a fadiga, caracterizada por dores,
tremores ou dificuldades na precisão dos movimentos.

— O ritmo de trabalho – pausas curtas e frequentes são mais eficientes que pausas longas e
mais raras na recuperação física.

— A postura de trabalho – isso significa imobilização de partes do corpo para a execução da


atividade física. Algumas posturas resultam em um esforço físico maior, porém são necessárias
para viabilizar o trabalho, devido à exigência de força física, precisão de movimentos, ritmo de
execução ou disponibilidade de espaço.

• As condições de conforto ambiental – o trabalhador só pode conservar sua integridade física se


seu organismo suportar as condições impostas pelo ambiente. Temperatura, umidade e velocidade
do ar afetam diretamente a sudorese e a regulagem de temperatura do corpo. O nível de ruídos
pode provocar danos ao sistema auditivo (risco físico), mas também interfere na execução de
tarefas mentais mais complexas. A luminosidade também interfere na quantidade de informações
obtidas pelo olho. Sob vibrações, o equilíbrio é perturbado e a acuidade visual diminui.

A Norma Regulamentadora 17 (NR‑17), do Ministério do Trabalho, trata da ergonomia no ambiente de


trabalho, mas se concentra apenas em seu aspecto físico. O objetivo desta norma é “estabelecer parâmetros
que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (BRASIL, 1978e).

79
Unidade I

A NR‑17 especifica parâmetros de controle para:

• Levantamento, transporte e descarga de materiais pesados – o trabalhador deve receber


treinamento adequado, a carga especificada para mulheres e menores deve ser menor que a carga
especificada para homens, a carga deve ser compatível com a força do trabalhador.

• Mobiliário – o local de trabalho deve ser planejado para garantir as distâncias recomendadas de
mãos, pés, pernas e olhos e ser compatível com a movimentação necessária ao trabalho.

• Equipamentos – os equipamentos que formam um posto de trabalho devem ser adequados às


condições psicofisiológicas do trabalhador e à natureza do trabalho.

• Organização do trabalho – nos locais onde haja trabalhos que exijam concentração e atividade
intelectual, como salas de controle, laboratórios e escritórios, recomenda‑se o controle do ruído e
das condições de conforto térmico.

Observação

Os conceitos de perigo físico, químico, biológico e ergonômico são os


fundamentos básicos para a compreensão da biossegurança.

As características dos riscos ergonômicos estão sempre diretamente ligadas à condição de trabalho
de cada pessoa, em razão do uso individual de cada equipamento, que, na sua maioria, são adquiridos de
maneira generalizada, sem levar em consideração as características antropométricas de cada indivíduo.
Outra condição importante que pode afetar ergonomicamente o indivíduo é a carga de estresse dentro
do seu ambiente de trabalho.

Os riscos ergonômicos são aqueles que podem gerar distúrbios psicológicos e fisiológicos nos
trabalhadores, como esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de
postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em
turnos diurno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e repetitividade, situações de
estresse que podem levar a quadros mais graves como a depressão.

A Ergonomia é entendida como uma ciência e está regulamentada pela NR 17 do MET, e visa estabelecer
parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, de modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.

80
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Figura 50

Aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, mobiliários, equipamentos


e quais são as condições ambientais do trabalho, bem como sua organização, são incluídos como
aspectos ergonômicos a serem estudados e avaliados.

É importante salientar que esses riscos, além de provocar danos à saúde, por produzirem alterações
nos estados emocional e físico, podem diretamente comprometer a produtividade, a saúde e a
segurança do trabalhador. Podemos citar como principais exemplos destes danos: LER/Dort (lesão por
esforço repetitivo/doenças osteoarticulares relacionadas ao trabalho), cansaço físico e psíquico, dores
musculares, hipertensão arterial, alteração do sono, diabetes, doenças nervosas, taquicardia, doenças do
aparelho digestivo, tensão, ansiedade, problemas de coluna, agressividade e várias outras doenças que
ainda desconhecemos.

Podemos, dessa forma, perceber que os riscos ergonômicos estão presentes em nossas vidas. Para
evitar que eles possam comprometer as atividades e a saúde dos trabalhadores é necessário que o
ambiente de trabalho tenha aspectos de praticidade e conforto físico e psíquico. A modernização de
máquinas e equipamentos, a melhoria dos processos de trabalho, a alteração no ritmo de trabalho são
fundamentais para a promoção e manutenção da ergonomia.

Para que possam ser minimizados os eventos adversos causados por esses riscos ergonômicos,
algumas práticas devem efetivadas:

• Reconhecimento e valorização do capital humano.

• Prática de ouvidoria para os funcionários, de maneira simplificada, e que, na maioria das vezes,
podem trazer soluções práticas e efetivas.

81
Unidade I

• Eliminação de movimentos ou de posturas críticas com treinamentos sobre relacionamento


interpessoal e de melhoria de processos de trabalho.

Adequações e melhorias ambientais

• Criar projetos ergonômicos, de maneira a melhorar o bem‑estar dos trabalhadores.

• Ter como prática o revezamento de funcionários e o rodízio de tarefas, evitando o excesso de


atividades repetitivas.

• Implantar programas de prevenção de lesões e de preparo para o trabalho, como a ginástica laboral.

• Supervisionar e orientar os trabalhadores sobre a necessidade de postura correta, utilização de EPI


e manuseio adequado de máquinas e instrumentos.

• Realizar pausas durante o período de trabalho para que haja a recuperação do trabalhador das
atividades repetitivas e desconfortantes.

• Melhorar as condições para que o trabalhador melhore a sua hidratação durante o expediente.

• Proporcionar momentos de interação entre a equipe.

4.9 Níveis de biossegurança

Os quatro níveis de biossegurança (NB) consistem em combinações de práticas e técnicas de


laboratório, equipamento de segurança e instalações do laboratório.

Cada combinação é especificamente adequada para as operações realizadas, vias de transmissões


documentadas ou suspeitas de agentes infecciosos e funcionamento ou atividade do laboratório.

Quando temos uma informação específica disponível que possa sugerir a virulência, a patogenicidade,
os padrões de resistência a antibióticos, a vacina e a disponibilidade de tratamento ou outros fatores
significativamente alterados, práticas mais rígidas poderão ser adotadas.

Observação

Aqui serão apresentadas algumas características para diferenciar cada


nível de biossegurança. Caso seja preciso projetar um laboratório completo,
consulte normas específicas para isso.

82
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

4.9.1 Níveis de biossegurança laboratorial

A avaliação do perigo biológico é composta da identificação do agente biológico e do dano que esse
agente pode causar.

Para uma avaliação correta, diversos fatores têm que ser analisados, como a via de transmissão
disponível, o treinamento dos profissionais que vão ter contato com esse agente, o tipo de trabalho a
ser executado, as espécies animais afetadas pelo agente infeccioso, o nível de conhecimento sobre esse
agente, a existência de alguma profilaxia, a infraestrutura no local de trabalho, enfim, fatores que não
dizem respeito apenas ao agente infeccioso.

Isso quer dizer que as exigências de segurança no trabalho perante um perigo biológico variam de
um local para outro, por causa da diversidade dos recursos disponíveis. Serão analisados aqui alguns
desses fatores.

4.9.2 Contenção

O termo “contenção” é usado para descrever os métodos de segurança utilizados na manipulação


de materiais infecciosos em um laboratório. O objetivo da contenção é o de reduzir ou eliminar a
exposição da equipe de um laboratório, de outras pessoas e do meio ambiente em geral aos agentes
potencialmente perigosos.

A contenção primária, proteção da equipe do laboratório e do meio de trabalho contra a exposição


aos agentes infecciosos, é proporcionada pela adoção de procedimentos de boas práticas de operação e
pelo uso de um equipamento de segurança adequado.

A contenção secundária, proteção do meio ambiente externo ao laboratório contra a exposição aos
materiais infecciosos, é oferecida pela combinação de um projeto das instalações e das práticas operacionais.

Dessa forma, os três elementos de contenção incluem as boas práticas, o equipamento de segurança
e o projeto da instalação.

4.9.3 Nível de biossegurança 1 (NB‑1)

Os laboratórios classificados como NB‑1 são projetados para trabalhos com agentes biológicos de
classe de risco 1. São locais apropriados para o treinamento educacional ou para o treinamento de
técnicos e de professores de técnicas laboratoriais.

A principal contenção, em um laboratório NB‑1, é o conjunto de boas práticas de laboratório, o que


inclui a especificação adequada do uso de EPI, como aventais de manga comprida e luvas descartáveis,
não sendo fundamental a existência de CSBs (fluxo laminar).

No manual de boas práticas, deve constar a especificação dos desinfetantes e produtos de limpeza,
com a respectiva concentração.
83
Unidade I

As salas devem ser separadas da área de passagem de pessoas por portas simples e os revestimentos
devem ser feitos com materiais que facilitem a limpeza. Esses revestimentos devem ser laváveis e não
podem ser porosos. O esgoto do laboratório pode ser descartado na rede pública.

Devem existir pias para limpeza das mãos, lava‑olhos e um chuveiro de emergência. As bancadas não
podem ter emendas na superfície e devem ser resistentes ao ataque de produtos químicos. Deve existir
um local para armazenamento de produtos de uso imediato, e o espaço entre as bancadas deve permitir
a circulação de pessoas.

O laboratório deve ter acesso a uma autoclave para a esterilização de vidrarias e instrumentos e
possuir um local específico para a colocação de objetos pessoais e de aventais.

Deve ser colocado o símbolo de risco biológico na porta do laboratório.

4.9.4 Nível de biossegurança 2 (NB‑2)

É aplicável aos laboratórios clínicos e de diagnóstico e a outros laboratórios onde o trabalho é


realizado com maior espectro de agentes nativos de risco moderado, presentes na comunidade e que
estejam associados a uma patologia humana de gravidade variável. Os laboratórios NB‑2 são projetados
para trabalhar com agentes biológicos de classe de risco 2.

Com boas técnicas de microbiologia, esses agentes podem ser usados de maneira segura em atividades
conduzidas sobre uma bancada aberta, uma vez que o potencial para a produção de borrifos e aerossóis
é baixo. Também deve ser dada atenção especial para procedimentos que envolvam a manipulação de
perfurocortantes.

Os procedimentos envolvendo alto potencial para a produção de salpicos ou aerossóis que possam aumentar
o risco de exposição desses funcionários devem ser conduzidos com a CSB. Outras barreiras primárias, como
escudos para borrifos, proteção facial, aventais e luvas, devem ser utilizadas de maneira adequada.

O laboratório de NB‑2 deve atender a todos os requisitos indicados para o NB‑1, com mais
algumas exigências.

Ele deve ser instalado longe da área de passagem pública, e suas portas devem ter fechamento
automático. O acesso de pessoas deve ser restrito, e os indivíduos que têm acesso devem ter um controle
maior sobre sua saúde, por meio do PCMSO.

Os cantos entre paredes, piso e teto devem ser arredondados, e os revestimentos devem ser não
porosos e resistentes ao uso de desinfetantes. É permitido que exista recirculação de ar no sistema de
ventilação e ar‑condicionado, mas esse ar deve ser filtrado e descartado longe de prédios habitados e de
locais de circulação de pessoas.

Devem ser evitadas as tubulações aparentes, todavia, caso isso não seja possível, os suportes de
tubulação devem garantir espaço suficiente para a limpeza de todas as superfícies.
84
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

As bancadas de trabalho devem estar engastadas na parede, de modo a não ser possível o acúmulo
de sujidades entre ambas. As pias e os lavatórios devem possuir sistema automático de acionamento.

A CSB deve ser de classe II e é necessário que se mantenha o registro de seu uso. Toda manipulação
que tenha a possibilidade de geração de aerossol, como o uso da centrífuga, do moinho e a manipulação
de frascos pressurizados, devem ser feitos dentro da CBS.

4.9.5 Nível de biossegurança 3 (NB‑3)

São os laboratórios preparados para trabalhos com agentes biológicos de classe de risco 3. É aplicável
para laboratórios clínicos, de diagnósticos, de pesquisa ou de produções. O NB‑3 possui requisitos
intensificados em relação aos níveis 1 e 2.

Nesses locais, realiza‑se o trabalho com agentes nativos ou exóticos que possuam potencial de
transmissão por via respiratória e que podem causar infecções sérias e potencialmente fatais.

Os riscos primários causados aos trabalhadores que lidam com esses agentes incluem a autoinoculação,
a ingestão e a exposição aos aerossóis infecciosos.

No nível de biossegurança 3, enfatizamos mais as barreiras primárias e secundárias para protegermos


os funcionários de áreas contíguas, a comunidade e o meio ambiente contra a exposição aos aerossóis
potencialmente infecciosos.

Por exemplo, todas as manipulações laboratoriais deverão ser realizadas em uma CSB ou em
outro equipamento de contenção, como uma câmara hermética de geração de aerossóis. As barreiras
secundárias para esse nível incluem acesso controlado ao laboratório e sistemas de ventilação que
minimizam a liberação de aerossóis infecciosos do laboratório.

O laboratório NB‑3 deve ser posicionado em uma área isolada do edifício, com uma antessala com
portas duplas, com acesso controlado por fechaduras de segurança. Deve ser incluída no projeto uma
sala específica para troca de roupas.

O sistema de ventilação e ar‑condicionado deve ser projetado de modo a permitir o isolamento do


laboratório NB‑3, e as janelas devem ser herméticas para que seja possível uma desinfecção gasosa,
se necessário.

Devem ser instaladas pias para lavagem de mãos nos acessos ao laboratório NB‑3, providas de
torneiras de acionamento automático, e o sistema de água e esgoto deve ser provido de válvulas
antirrefluxo. O esgoto deve ser tratado com desinfetante antes de ser lançado no sistema público.

A autoclave que atende o NB‑3 deve ser instalada dentro do laboratório, e as centrífugas e bombas
de vácuo devem ser equipadas com filtros de ar de alta capacidade.

85
Unidade I

Só devem ser admitidos em um laboratório NB‑3 funcionários com experiência em NB‑2. A


manutenção do laboratório deve ser feita por empresas especializadas e com o acompanhamento dos
funcionários do NB‑3.

Devem ser elaborados planos de emergência, formalizando procedimentos contra derramamentos e


escapes, sendo esses acidentes de notificação obrigatória.

4.9.6 Nível de biossegurança 4 (NB‑4)

Os laboratórios com nível de biossegurança 4 são projetados para manipular agentes biológicos com
classe de risco 4.

As práticas, o equipamento de segurança, o planejamento e a construção das dependências são


aplicáveis para trabalhos que envolvam agentes exóticos perigosos que representam alto risco por
provocarem doenças fatais em indivíduos. Esses agentes podem ser transmitidos via aerossóis, e até o
momento não há nenhuma vacina ou terapia disponível.

Os riscos primários aos trabalhadores que manuseiam agentes do nível de biossegurança 4 incluem
exposição respiratória aos aerossóis infecciosos, exposição da membrana mucosa e/ou da pele lesionada
às gotículas infecciosas e autoinoculação.

Todas as manipulações de materiais de diagnósticos potencialmente infecciosos, substâncias isoladas


e animais naturalmente ou experimentalmente infectados apresentam alto risco de exposição e infecção
aos funcionários de laboratório, à comunidade e ao meio ambiente.

O completo isolamento dos trabalhadores de laboratórios em relação aos materiais infecciosos


contidos nos aerossóis é realizado em CSBs ou com um macacão individual suprido com pressão
de ar positivo.

A instalação do nível de biossegurança 4 é geralmente construída em um prédio separado ou


em uma zona completamente isolada, com uma complexa e especializada ventilação e sistemas de
gerenciamento de lixo que evitem a liberação de agentes viáveis no meio ambiente.

O sistema de ar‑condicionado deve oferecer pressão do ar negativa dentro do prédio, para garantir
que, em caso de vazamento, o ar interno não saia do edifício. O acesso às áreas controladas deve ser
feito por portas duplas e antessala com controle da pressurização do ambiente.

86
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Saiba mais

Microrganismos de classe de risco 4 ou instalações com procedimentos


de segurança semelhantes ao NB‑4 sempre foram inspiração para filmes.

Vale assistir:

CONTÁGIO. Dir. Steven Soderbergh. EUA: Warner Bros., 2011. 106 min.

EPIDEMIA. Dir. Wolfgang Petersen. EUA: Warner Bros., 1995. 127 min.

4.10 Mapa de riscos

Dentro das Diretrizes do Plano de Ação de Saúde do Trabalhador da Renast, a Vigilância da Saúde
dos Trabalhadores – Visat compreende:

[...] conjunto de ações que visa conhecer a magnitude dos acidentes e doenças
relacionados ao trabalho, identificar os fatores de riscos ocupacionais,
estabelecer medidas de controle e prevenção e avaliar os serviços de saúde
de forma permanente, visando a transformação das condições de trabalho e
a garantia da qualidade da assistência à saúde do trabalhador (AYRES, 2002
apud JAKOBI, 2008, p. 19).

No que diz respeito ao reconhecimento dos riscos presentes em todos os locais de trabalho, bem
como as atividades laborativas que podem comprometer a segurança e a saúde das pessoas, a vigilância
do meio ambiente deve acompanhar todas as variáveis e tendência de cada fator identificado, de
maneira a realizar a descrição, a distribuição, a análise, a avaliação e a interpretação dos eventos e, por
fim, quais as recomendações para a prevenção e para a resolução dos problemas já acontecidos.

Esse acompanhamento será então apresentado por uma representação gráfica, denominado Mapa
de Riscos, no qual a identificação dos fatores e riscos prejudiciais são identificados e relacionados ao
conjunto de variáveis originadas em cada ambiente, de acordo com cada processo da organização do
trabalho, e que podem interferir no processo de saúde‑doença do trabalhador.

De acordo com Rodrigues (1991 apud JAKOBI, 2008, p. 20), o mapeamento de riscos pode ser feito
a partir da utilização de algumas técnicas, cuja complexidade pode ser gradativamente crescente nas
etapas sequenciais do trabalho de vigilância, como as de geoprocessamento, sendo entendido como
“um conjunto de técnicas de coleta, exibição e tratamento de informações espacializadas” que permite
a análise conjunta de uma gama de variáveis socioambientais.

Com auxílio de ferramentas de análise espacial, aumenta‑se a compreensão da dinâmica dos dados,
pois essas ferramentas contribuem para a identificação de agrupamentos contínuos e áreas de transição,
87
Unidade I

determinando áreas de risco para além dos limites políticos administrativos, ao detectar situações de
risco diferenciadas.

O Mapa de Riscos é uma técnica que resulta numa representação gráfica, de identificação dos
riscos e fatores prejudiciais à saúde e à segurança do trabalhador, relacionados ao conjunto de variáveis
originadas no ambiente de trabalho, no processo de trabalho, na forma de organização do trabalho e
nos demais fatores implicados na relação entre o trabalho e o processo saúde‑doença do trabalhador
(ODDONE et al., 1986 apud JAKOBI, 2008).

O mapeamento de riscos pode ser feito a partir da utilização de algumas técnicas, cuja complexidade
pode ser gradativamente crescente nas etapas sequenciais do trabalho de vigilância (AYRES, 2002 apud
JAKOBI, 2008). Dentro do amplo espectro do que é denominado Mapa de Risco, encontram‑se mapas
que têm como conteúdo desde a presença de agentes ambientais de risco até suas consequências,
previstas ou medidas, sobre a população.

Os possíveis danos à saúde humana causados por atividades poluidoras são precedidos por processos
de uso de substâncias químicas, por sua emissão para o ambiente, pela exposição de uma população e
pela dose a que será submetida esta população (BARCELOS, 1996 apud JAKOBI, 2008).

Através da união entre os processos desencadeadores de riscos ambientais, pode‑se estabelecer


uma sequência de passos metodológicos que permitem a análise globalizada de riscos à saúde. Esta
metodologia foi recentemente utilizada na avaliação de riscos à saúde dos trabalhadores de uma
indústria que utiliza mercúrio em seu processo produtivo (MELO; BARCELLOS, 1993 apud JAKOBI, 2008).

Com a evolução industrial e tecnológica, o ambiente sofre constantes agressões que levam ao
aumento de agressões e lesões à população, em especial pela falta de tratamento adequado dos dejetos
industriais, que são liberados na atmosfera, em leitos de rios e muitas vezes diretamente no solo.

Também devemos considerar o descuido com o armazenamento, transporte e destino final de


resíduos, podendo sofrer outras alterações físico‑químicas dos seus compostos, aumentando o risco de
exposição das pessoas e do ambiente.

Como já discutimos anteriormente, o Mapa de Riscos é a representação gráfica de como os trabalhadores


percebem o seu ambiente de trabalho, e deve ser simples e objetivo, a fim de que os trabalhadores mais
leigos consigam interpretá‑lo sem o auxílio técnico. O Mapa de Riscos tem como principais objetivos:

• Reunir as informações necessárias para estabelecer o diagnóstico da situação de segurança e


saúde no trabalho das empresas.

• Possibilitar, durante a sua elaboração, a troca e a divulgação de informações entre os trabalhadores,


bem como estimular sua participação nas atividades de prevenção.

Dentro da empresa, a responsável pela elaboração do Mapa de Riscos é a Cipa. Os integrantes


devem ouvir os trabalhadores a respeito dos agentes que causam desconforto, mal‑estar,
88
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

irritação, e todo o fator que influencie de forma negativa a relação do trabalhador com o seu
ambiente laboral.

Os critérios que devem ser observados para a elaboração do mapa são:

• Conhecer o processo de trabalho no local analisado:

— Quanto aos trabalhadores – número, sexo, jornada, horas de treinamentos profissionais e


indicadores de saúde.

— Quanto aos instrumentos e os materiais de trabalho.

— Quanto às atividades exercidas.

— Quanto às características do ambiente.

• Identificar os agentes de riscos existentes no local analisado.

• Identificar as medidas preventivas existentes e a sua eficácia:

— Quais as medidas de proteção coletiva?

— Quais as medidas de organização do trabalho?

— Quais as medidas de proteção individual?

— Quais as medidas de higiene e conforto – banheiro, lavatórios, vestiário, armários, bebedouros,


refeitórios, área de lazer.

• Identificar os indicadores de saúde:

— Quais as queixas mais frequentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos?

— Qual o número de acidentes de trabalhos ocorridos?

— Quais as doenças profissionais já diagnosticadas?

— Quais as causas mais frequentes de ausência ao trabalho?

— Quais os levantamentos ambientais já realizados no local?

• Elaborar o Mapa de Riscos, sobre o layout da empresa, indicando por meio do círculo:

— O grupo a que pertence o risco.


89
Unidade I

— O número de trabalhadores expostos ao risco, dentro do círculo.

— A especificação do agente (químico, ergonômico etc.) também anotado dentro do círculo.

— A intensidade do risco de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser representado
por tamanhos proporcionalmente diferentes dos círculos.

O Mapa de Riscos deve ser feito de forma setorial e também de forma geral englobando toda a
empresa, e depois afixado no local de trabalho, de maneira visível e de fácil acesso a todos os trabalhadores.

Ele foi criado para que as empresas representem graficamente os riscos existentes nos diversos
ambientes de trabalho, sendo um dos métodos mais simples para a avaliação qualitativa dos riscos
existentes nos locais de trabalho.

É a representação gráfica dos riscos por meio de círculos de diferentes cores e tamanhos que
permite a fácil visualização do mapa. Ele deve ser elaborado pelos próprios trabalhadores, portanto, é
um instrumento participativo e adequado às suas sensibilidades. Serve como instrumento preliminar de
levantamento de riscos, como informação para os demais empregados e visitantes e como planejamento
para as ações preventivas que serão adotadas pela Cipa.

O objetivo do Mapa de Riscos é reunir as informações básicas para estabelecer o diagnóstico da situação
de informações entre os trabalhadores, bem como estimular sua participação nas atividades de prevenção.

Os principais benefícios da realização do Mapa de Riscos são:

• Identificação prévia dos riscos existentes nos locais de trabalho aos quais os trabalhadores poderão
estar expostos.

• Conscientização quanto ao uso adequado das medidas e dos equipamentos de proteção coletiva
e individual.

• Redução de gastos com acidentes e doenças, com medicação, indenização, substituição de


trabalhadores e danos patrimoniais.

• Facilitação da gestão de saúde e segurança no trabalho com aumento da segurança interna e externa.

• Melhoria do clima organizacional, maior produtividade, competitividade e lucratividade.

Para a elaboração do Mapa de Riscos são utilizadas cores para identificar o tipo de risco, conforme
a tabela de classificação dos riscos ambientais. A gravidade é representada pelo tamanho dos círculos:

• Círculo pequeno – risco pequeno por sua essência ou por ser risco médio já protegido.

• Círculo médio – risco que gera relativo incômodo, mas que pode ser controlado.
90
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Círculo grande – risco que pode matar, mutilar e gerar doenças e que não dispõe de mecanismos
para redução, neutralização ou controle.

Quanto à simbologia das cores:

Marrom = risco biológico

Vermelho = risco químico

Amarelo = risco ergonômico

Azul = risco mecânico

Verde = risco físico

Figura 51

Quanto ao tamanho da simbologia, deve‑se descrever da seguinte forma:

• Círculo pequeno – risco leve.

• Círculo médio – risco médio.

• Círculo grande – risco elevado.

Para a elaboração do Mapa de Riscos deve‑se conhecer o processo de trabalho do local avaliado,
conforme a tabela de classificação dos riscos ambientais, bem como identificar as medidas preventivas
existentes e sua eficácia referentes à:

• Proteção coletiva.

• Organização do trabalho.

• Proteção individual.

• Higiene e ao conforto – banheiro, lavatórios, vestiários, armários, bebedouros, refeitórios, área de lazer.
91
Unidade I

Identificar os indicadores de saúde também é de extrema importância, dentre eles podemos citar:

• Queixas mais frequentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos.

• Acidentes de trabalho ocorridos.

• Doenças profissionais diagnosticadas.

• Causas mais frequentes de ausência ao trabalho.

Quanto à elaboração do Mapa de Riscos, sobre uma planta ou desenho do local de trabalho, é
importante identificar através do círculo:

• O grupo a que pertence o risco, conforme as cores classificadas.

• O número de trabalhadores expostos ao risco, o qual deve ser anotado dentro do círculo.

• A especificação do agente químico ou ergonômico, também dentro do círculo.

• A intensidade do risco, de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser representada
por tamanhos proporcionalmente diferentes dos círculos.

Dentre os riscos físicos, podemos citar:

• Presença de ruídos, podendo provocar cansaço, irritação, dores de cabeça, diminuição da audição,
problemas no aparelho digestivo, taquicardia e perigo de infarto.

• Presença de vibrações, podendo provocar cansaço, irritação, dores nos membros, dores na coluna,
doença do movimento, artrite, problemas digestivos, lesões ósseas e lesões dos tecidos moles.

• Presença de calor excessivo, podendo provocar taquicardia, cansaço, internação, prostração


térmica, choque térmico, fadiga térmica, perturbação das funções digestivas, hipertensão e
hipotensão.

• Presença de radiação não ionizante, podendo provocar queimaduras, lesões nos olhos, na pele e
em outros órgãos.

• Presença de radiação ionizante, podendo causar alterações celulares, câncer, fadiga e


problemas visuais.

• Presença de umidade em excesso, podendo causar problemas respiratórios, quedas, doenças de


pele e doenças circulatórias.

92
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Dentre os riscos químicos, podemos citar:

• Poeiras:

— Minerais – silicose, asbestose.

— Vegetais – bissinose, bagaçose.

— Alcalinas – enfisema pulmonar por manipulação de cal e cimento.

— Fumos metálicos – ocorre intoxicação específica de acordo com o metal. Exemplos: febre dos
fumos metálicos e doença pulmonar obstrutiva.

• Névoas, neblinas, gases e vapores:

— Irritantes – irritação das vias aéreas superiores. Exemplo: acido clorídrico.

— Asfixiantes – dores de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Exemplos:


hidrogênio, oxigênio, hélio, acetileno, metano, dióxido de carbono e monóxido de carbono.

— Anestésicos – ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos aos diversos órgãos e ao sistema
formador do sangue. Exemplos: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono,
tricloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois e xileno.

— Substâncias, compostos ou produtos químicos em geral.

Dentre os riscos biológicos, podemos citar:

• Vírus – podem causar doenças, como hepatite, poliomielite, herpes, varíola, febre amarela, raiva,
aids, rubéola, dengue e meningites.

• Bactérias/bacilos – podem causar hanseníase, tuberculose, tétano, pneumonia, difteria, cólera e leptospirose.

• Protozoários – podem causar malária, mal de Chagas e toxoplasmose.

• Fungos – podem causar alergias e micoses.

Os riscos ergonômicos podem ser por esforço físico, levantamento e transporte manual de peso,
exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos,
jornada prolongada de trabalho, monotonia, repetitividade e outras situações causadoras de estresse
físico e psíquico.

Eles podem causar cansaço, dores musculares, fraquezas, hipertensão arterial, úlceras, doenças
nervosas, agravamento do diabetes, alterações do sono, da libido e da vida social com reflexos na saúde e
93
Unidade I

no comportamento, acidentes, problemas na coluna vertebral, taquicardia, cardiopatia (angina, infarto),


agravamento da asma, tensão, ansiedade, comportamentos estereotipados e medo.

Dentre os fatores que podem causar riscos de acidente, podemos citar:

• O arranjo físico inadequado, podendo provocar acidentes e desgastes físicos.

• A existência de máquinas e equipamentos sem proteção, podendo levar à ocorrência de acidentes graves.

• O uso de ferramentas inadequadas ou defeituosas, que em sua grande maioria provocam acidentes
com repercussão nos membros superiores.

• O trabalho em locais com iluminação inadequada, o que implica risco de acidentes.

• A eletricidade, quando mal‑empregada.

• A probabilidade de incêndio ou explosão.

• O armazenamento inadequado.

• A existência e a manipulação de animais peçonhentos.

4.10.1 Classificação dos riscos

De acordo com a Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994, o Mapa de Riscos deve obedecer à
seguinte classificação:

Quadro 2 – Classificação de riscos

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5


Riscos físicos Riscos químicos Riscos biológicos Riscos ergonômicos Riscos de acidentes
Verde Vermelho Marrom Amarelo Azul
ruídos; Poeira; Bactérias; Esforço físico intenso; Esforço físico
inadequado;
vibrações; fumos; vírus; levantamento e transporte
de peso; máquinas e
radiações ionizantes; névoas; protozoários; equipamentos sem
exigência de postura proteção;
radiações não neblina; fungos; inadequada;
ionizantes; ferramentas
gases; parasitas; controle rígido de
frio; inadequadas ou
vapores; bacilos. produtividade; defeituosas;
calor; imposição de ritmos
substâncias; iluminação inadequada;
pressões anormais; excessivos;
compostos ou probabilidade de
umidade. produtos químicos em trabalho em turno e incêndio ou explosão;
geral. noturno;
armazenamento
jornadas de trabalho inadequado;
prolongadas;
animais peçonhentos;
monotonia e
repetitividade; outras situações de risco
que poderão contribuir
outras situações para a ocorrência de
causadoras de stress físico acidentes.
e/ou psíquico.

Fonte: Barsano e Barbosa (2014, p. 71).

94
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Administração CPD Almoxarifado BWC

Jardim

Refeitório
Linha de montagem

Cozinha
Tornearia e soldagem Depósito Dispensa

Figura 52 – Exemplo de Mapa de Riscos

Resumo

A biossegurança não é uma ciência por si só. É a aplicação de um


conjunto de conhecimentos objetivando a proteção tanto do trabalhador
da área da saúde quanto do seu objeto de trabalho, com relação aos riscos
que são típicos da atividade profissional.

O objeto de trabalho vai depender da característica do serviço que está sendo


executado. Por exemplo, o objeto de trabalho de um médico pode ser o paciente.

Sendo uma atividade voltada à proteção, em alguns momentos, a


biossegurança também esbarra em questões relacionadas à bioética. Por
mais que ocorram planejamentos e análises de perigos, é impossível cobrir
todas as hipóteses. Além disso, sempre será necessário lidar com fatores
como negligência, imperícia e imprudência dos operadores. Por isso, a regra
de ouro na prevenção de acidentes é atenção e bom senso.

Costuma‑se fazer diferenciação entre perigo e risco. Perigo é qualquer


agente que cause dano à saúde ou à integridade física do objeto de trabalho;
risco é a combinação entre a probabilidade de ocorrência de um fato e a sua
severidade. Em nosso estudo, classificamos os perigos em físicos, químicos,
biológicos e ergonômicos.

Estudamos a respeito da rotulagem e da simbologia de risco.


Aprendemos que produtos químicos vendidos a granel, ou em grandes
volumes, precisam ser fracionados em frascos menores e que todos esses
frascos devem conter um rótulo com as informações que permitam sua
rápida e segura identificação.
95
Unidade I

Os rótulos originais de produtos químicos possuem símbolos


internacionalmente reconhecidos, que indicam seus riscos. Outra maneira
de representar o risco de uma substância química comumente aplicada é o
Diamante de Hommel, que não indica algum risco em particular, mas todos
os graus de riscos envolvidos na manipulação da substância química.

Para perigos biológicos, nenhum material contaminado pode ser


coletado junto do lixo comum. Esse material deve ser recolhido em sacos
plásticos brancos com o símbolo de risco biológico. Também falamos das
infecções hospitalares, que são aquelas que ocorrem durante o período de
internação no hospital, ou posteriormente, se a causa da infecção estiver
relacionada com os procedimentos hospitalares feitos durante a internação.

Historicamente, a prática do controle de infecções hospitalares é


focada em causas exógenas, isto é, no combate a microrganismos que
vêm do exterior do paciente, mas o corpo humano também é o repositório
de muitos microrganismos e, muitas vezes, são esses microrganismos que
causam as infecções hospitalares.

Estudamos sobre as boas práticas, que são práticas recomendadas


para as rotinas de trabalho, visando uma operação isenta de riscos. É de
importância fundamental que os procedimentos sejam padronizados de
modo que o processo operacional seja mantido sob um rigoroso controle.

Também estudamos sobre níveis de biossegurança. A primeira ação para


a avaliação de um perigo biológico é a identificação do agente causador
do perigo e dos danos que este agente pode causar. As classes de risco são
definidas por classes – 1, 2, 3, 4 e risco especial. Vimos que, muitas vezes, o
trabalho implica manipular os microrganismos, não sendo possível eliminar
o risco biológico. Nesses momentos, é necessário promover a contenção
do risco. Nesse sentido, estudamos as contenções primária e secundária.
Além disso, conhecemos os diferentes tipos de laboratório, equipados de
acordo com os níveis de biossegurança necessários – laboratórios NB‑1,
NB‑2, NB‑3 e NB‑4.

Exercícios

Questão 1. (CETRO, 2013) A respeito da Lei de Biossegurança (nº 11.105/2005), assinale a


alternativa correta:

A) Compete à CIBio (Comissão Interna de Biossegurança), no âmbito da instituição onde constituída,


estabelecer normas relativamente às atividades e aos projetos relacionados a OGM (Organismos
Geneticamente Modificados) e seus derivados.
96
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

B) A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), composta de membros titulares e


suplentes, designados pelo ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, será constituída por 27
(vinte e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de notória atuação e saber
científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada atividade profissional nas áreas de
biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente.

C) O CNBS (Conselho Nacional de Biossegurança) é composto por 11 membros e presidido pelo


ministro de Estado da Ciência e Tecnologia.

D) Liberar ou descartar OGM (Organismos Geneticamente Modificados) no meio ambiente, em


desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança)
e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização, acarreta pena de detenção.

E) Os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham


ou sejam produzidos a partir de OGM (Organismos Geneticamente Modificados) ou derivados não
necessitam conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: compete à CTNBIO (art. 14, II) estabelecer normas relativas às atividades e aos projetos
relacionados a OGM (Organismos Geneticamente Modificados) e seus derivados.

B) Alternativa correta.

Justificativa: em seu artigo 11, a CTNBio, composta de membros titulares e suplentes, designados pelo ministro
de Estado da Ciência e Tecnologia, será constituída por 27 cidadãos brasileiros de reconhecida competência
técnica, de notória atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada atividade
profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: o CNBS (Conselho Nacional de Biossegurança) é composto por 11 membros e presidido


pelo ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República (art. 11, I).

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: liberar ou descartar OGM (Organismos Geneticamente Modificados) no meio ambiente,


em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança)
e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização, acarreta reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e
multa (art. 27).
97
Unidade I

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: de acordo com o art. 40, os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo
humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados deverão conter
informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento.

Questão 2. (BIO‑RIO, 2015) São considerados itens básicos para a elaboração do manual de boas
práticas de manipulação e processamento de alimentos:

A) Data de fabricação e validade do produto.

B) Alvará do veículo transportador da matéria-prima e responsabilidade técnica.

C) Transporte e controle integrado de pragas.

D) Distribuição e ações corretivas.

E) Procedimento de verificação da documentação e controle da saúde dos funcionários.

Resolução desta questão na plataforma.

98
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Unidade II
5 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA

O objetivo maior da área de segurança e saúde no trabalho é prever a possibilidade de ocorrência


de situações potencialmente perigosas à integridade física do trabalhador, procurando, ao máximo,
eliminá‑las na sua origem.

Para que essa meta seja alcançada é necessário que o Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança do Trabalho (SESMT), conjuntamente com a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(Cipa) conheçam os riscos provenientes das atividades profissionais, em seus diversos aspectos, como
insalubridade do ambiente de trabalho, das máquinas e de equipamentos inadequados, de procedimentos
operacionais ineficientes e das condições inseguras do local de trabalho, bem como outros fatores que
exponham os colaboradores ao risco em suas atividades.

Após a análise desses fatores, devem ser adotadas medidas de proteção no trabalho que visem
à prevenção de acidentes e doenças profissionais, que podem ser alcançadas por meio de medidas
administrativas, de proteção coletiva e de proteção individual.

5.1 Medidas de proteção administrativa

Garantir as condições ideais de trabalho deve ser uma preocupação a se iniciar com a adoção de
medidas administrativas tomadas pelos profissionais da segurança do trabalho como forma de eliminar
os riscos que colocam em perigo a integridade física e psíquica do trabalhador.

Dentre as medidas de proteção administrativa que devem ser adotadas, podemos citar:

• Ordens de serviço, pareceres e instruções implantadas pelo SESMT.

• Restrições impostas pelo empregador na entrada e na saída de locais de risco.

• Procedimentos de trabalho e execução de serviços.

• Proibição de entrada em espaços confinados.

• Preceitos de segurança e saúde no trabalho.

99
Unidade II

5.2 Medidas de proteção coletiva

Equipamentos de proteção coletiva (EPCs) são procedimentos ou equipamentos utilizados ou, até
mesmo, projetados para a proteção de um grupo de pessoas, a fim de realizar determinada tarefa ou
qualquer atividade.

Essas medidas são para que a segurança coletiva seja alcançada, ou seja, que se atinja a segurança
de diversos trabalhadores envolvidos em uma mesma atividade e/ou procedimento de trabalho.

Alguns exemplos de EPCs:

• Exaustores em uma cozinha industrial.

• Redes de proteção.

• Projeto de enclausuramento acústico de um compressor, para evitar escape de ruídos.

• Proteção de partes móveis de máquinas e equipamentos.

• Grades de proteção contra queda de materiais.

5.3 Equipamento de proteção individual (EPI)

A CLT surgiu como necessidade institucional após a criação da Justiça do Trabalho em 1939. Ela
é chamada de Consolidação das Leis Trabalhistas, em vez de Código das Leis Trabalhistas, porque seu
objetivo foi apenas reunir a esparsa legislação trabalhista já existente na época, consolidando‑a. A
assinatura do documento se deu em 1º de maio de 1943.

Como anexos da CLT, as Normas Regulamentadoras, também conhecidas como NRs, regulamentam
e fornecem orientações sobre procedimentos obrigatórios relacionados à medicina e segurança no
trabalho no Brasil e são de observância obrigatória por todas as empresas.

No universo das NRs, quem regulamenta os equipamentos de proteção individual é a NR‑6.

De acordo com essa norma, é considerado equipamento de proteção individual (EPI) todo dispositivo
ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador e destinado à proteção de riscos suscetíveis de
ameaçar a segurança e a saúde no trabalho (BRASIL, 1978a).

A utilização de EPIs deve ser, em qualquer situação de trabalho, um complemento à


utilização dos EPCs. Para a determinação de qual deve ser o EPI adequado para o trabalhador,
o primeiro passo é identificar de quais os riscos ele deve ser protegido. Essa avaliação deve ser
uma avaliação qualitativa e quantitativa do risco, que definirá qual a potencialidade do dano
ao organismo do colaborador.

100
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

O uso de EPIs como capacetes, calçados de segurança, óculos de proteção contra partículas volantes
e luvas deve ser adotado sempre que todas as medidas de proteção forem utilizadas e mesmo assim
permanecer o risco para o trabalhador acima dos limites toleráveis de segurança, colocando em perigo
a integridade física e psíquica do trabalhador.

Após a avaliação e a caracterização do risco, ele deve ser enfrentado em sua origem para que possa
ser neutralizado ou eliminado. Caso a situação de risco se mantenha, os membros do SESMT deverão
realizar uma ação de proteção coletiva entre a zona de risco e os trabalhadores.

A adoção de medidas de proteção individual relativas ao trabalhador deve se iniciar com a seleção
de EPIs apropriados aos agentes de riscos e à natureza antropométrica do trabalhador, como o tamanho
adequado de calçados e luvas de segurança, que devem ser adequados ao perfil do funcionário.

A NR-6 do TEM foi criada pela Portaria GM nº 3.214, de 8 de junho de 1978, e alterada pela Portaria
SIT nº 292, de 8 de dezembro de 2011. Ela trata das medidas de proteção individual e define como EPI
“todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de
riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho” (BRASIL, 1978a).

De acordo com essa NR, os EPIs, de fabricação nacional ou importada, só podem ser postos à venda
ou utilizados com a indicação do Certificado de Aprovação expedido pelo órgão nacional competente
em matéria de segurança e saúde no trabalho do MET.

A utilização de EPI, também deve ser avaliada como medida de redução de custos, já que a sua não
utilização poderá causar mais danos aos trabalhadores e aumentar as despesas.

A empresa é obrigada a fornecer gratuitamente aos empregados EPIs adequados ao risco e em


perfeito estado de conservação e funcionamento. Cabe ao empregador orientar e treinar o trabalhador
sobre o uso adequado, a guarda e a conservação dos equipamentos. Sendo assim, o empregador deve,
principalmente, exigir seu uso.

É de responsabilidade do SESMT, em conjunto com a avaliação da Cipa e dos próprios trabalhadores,


a recomendação do uso adequado de EPI para cada risco existente de determinada atividade:

• Sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de
acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho.

• Enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas.

• Para atender a situações de emergência.

Uma situação que ocorre constantemente em estabelecimentos de saúde, e que expõe outras
pessoas a riscos desnecessários, é o uso dos equipamentos de proteção individual fora do ambiente
para o qual o seu uso está previsto. Essa situação vai contra a NR‑6, que indica a importância de
usá‑los apenas para a finalidade a que se destinam, e ainda se responsabilizar por sua guarda e
101
Unidade II

conservação, não portá‑los fora da área técnica e comunicar ao empregador qualquer alteração que
o torne impróprio para uso.

O empregador que fornece ao funcionário o EPI deve:

• Exigir seu uso.

• Fornecer EPIs aprovados pelo órgão nacional competente em matéria de SST.

• Orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, a guarda e a conservação dos EPIs.

• Substituir o equipamento imediatamente, quando danificado ou extraviado.

• Responsabilizar‑se pela sua higienização e manutenção periódica.

• Comunicar ao MET qualquer irregularidade observada.

• Registrar o seu fornecimento ao trabalhador, por meio de livros, fichas ou sistema eletrônico.

Ao empregado, a NR-6 determina suas responsabilidades em relação ao EPI:

• Utilizar apenas para a finalidade a que se destina.

• Responsabilizar‑se pela guarda e pela conservação.

• Comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso.

• Cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado.

Porém, nem todo equipamento que parece ser um EPI garante a segurança do trabalhador. Formas
construtivas inadequadas ou materiais impróprios podem prejudicar a sua eficiência. Para garantir a
qualidade do EPI, o Ministério do Trabalho e Emprego instituiu o Certificado de Aprovação de EPI (CA).

Só podem ser comercializados no Brasil aqueles que possuam um CA, e o fabricante só obtém esse
certificado se tiver um laudo fornecido por um laboratório credenciado pelo Inmetro.

Aos fabricantes também incidem algumas obrigações:

• Cadastrar‑se no órgão nacional competente em segurança e saúde no trabalho.

• Solicitar emissão do CA ao órgão nacional competente em segurança e saúde no trabalho.

• Solicitar a renovação do CA quando vencido o prazo de validade estipulado.

102
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Requerer um novo CA quando houver alteração das especificações do equipamento aprovado.

• Responsabilizar‑se pela manutenção da qualidade do EPI que deu origem ao CA.

• Comercializar ou colocar à venda somente o EPI portador de CA.

• Comunicar ao órgão nacional de SST quaisquer alterações dos dados cadastrais fornecidos.

• Comercializar o EPI com instruções técnicas no idioma nacional, orientando sua utilização, sua
manutenção, sua restrição etc.

• Fazer constar no EPI o número do lote de fabricação.

• Providenciar a avaliação da conformidade do EPI no âmbito do Sinmetro, quando for o caso.

• Fornecer as informações referentes aos processos de limpeza e higienização de seus EPIs.

Ao Ministério do Trabalho e Emprego, também cabe algumas obrigações:

• Cadastrar o fabricante ou importador de EPI.

• Receber e examinar a documentação para emitir ou renovar o CA de EPI.

• Estabelecer, quando necessário, os regulamentos técnicos para ensaios de EPI.

• Emitir ou renovar o CA e o cadastro de fabricante ou importador.

• Fiscalizar a qualidade do EPI.

• Suspender o cadastramento da empresa fabricante ou importadora.

• Cancelar o CA.

Sempre que julgar necessário, o órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no
trabalho pode requisitar amostras de EPIs, identificadas com o nome do fabricante e o número de
referência, além de qualquer outro requisito.

O TEM também deverá, através de seus órgãos regionais, fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado
e à qualidade do EPI, além de recolher amostras e aplicar as penalidades que forem cabíveis, caso haja
o descumprimento da NR-6.

103
Unidade II

Observação

Nas empresas desobrigadas a constituir SESMT, cabe ao empregador


selecionar o EPI adequado ao risco, mediante orientação de profissional
tecnicamente habilitado.

Pela diversidade dos EPIs, os profissionais de segurança do trabalho ou responsáveis devem atentar
ao fornecimento adequado do equipamento para os trabalhadores.

Portanto, é importante que seja observada, de maneira criteriosa, como a atividade é exercida e qual
o tipo de risco que ela oferece, para que o EPI alcance o seu objetivo principal, que é o de proteger o
trabalhador de acidentes físicos, além de possibilitar conforto em atividades insalubres.

5.3.1 Equipamentos de proteção à cabeça

São exemplos de equipamentos de proteção à cabeça:

• Capacete de segurança para proteção contra impactos de objetos sobre o crânio.

• Capacete de segurança para proteção contra choques elétricos.

• Capuz de segurança para proteção do crânio e pescoço contra riscos de origem térmica.

• Capuz de segurança para proteção do crânio e pescoço contra respingos de produtos químicos.

A touca de proteção serve para proteger tanto o usuário quanto o produto manuseado.
Protege o usuário por evitar o contato do cabelo com máquinas que possam colocar em perigo o
trabalhador ao terem contato e, eventualmente, sugar, puxar ou enroscar nos cabelos. Já no caso
de proteção de produto, a touca capilar evita que cabelos caíam no produto manuseado, o que
gera o risco de contaminação.

Os protetores faciais protegem o rosto do trabalhador contra impactos, respingos, substâncias


nocivas, fagulhas e outros materiais biológicos. Também podem proteger contra radiações, dependendo
do material, espessura e cor do visor.

104
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Figura 53 – Protetor facial

Os óculos de segurança servem para proteger o trabalhador em atividades que possam causar
ferimentos nos olhos provenientes de impacto de partículas e respingos, em trabalhos que possam
causar irritação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de líquidos agressivos e outras lesões
decorrentes da ação de radiações perigosas.

A figura a seguir mostra um modelo de óculos de segurança. Note que a diversidade de formas dos
óculos corresponde à diversidade de aplicações de segurança. A aplicação dos óculos de segurança é
específica e a utilização de um modelo em uma aplicação para o qual ele não tenha sido projetado não
garante a segurança.

Figura 54

105
Unidade II

As máscaras são proteções para as vias respiratórias. Da mesma forma que os óculos de proteção,
as máscaras são específicas para o tipo de contaminante. Elas também possuem diversas formas
construtivas, e sua especificação depende de diversos fatores.

Alguns tipos de máscaras trabalham filtrando o ar exterior, conforme os modelos mostrados nas
figuras a seguir.

Figura 55

Figura 56

106
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Quando o ar exterior está contaminado demais para poder ser filtrado, ou quando o teor de oxigênio
no ar é menor que 18%, se torna necessário o uso de aparelhos de isolamento (autônomo ou de adução
de ar). Os sistemas de respiração autônomos podem ser associados a roupas especiais de segurança.

Figura 57

Os protetores auriculares servem para proteger a audição de barulhos intensos. Eles podem ser do
tipo concha com protetores externos, de inserção e/ou descartáveis.

Figura 58

5.3.2 Equipamentos de proteção para os membros superiores

As luvas e mangas de proteção devem ser usadas em trabalhos em que haja perigo de lesão provocada
por materiais ou objetos escoriantes, abrasivos, cortantes ou perfurantes; produtos químicos corrosivos,
107
Unidade II

cáusticos, tóxicos, alergênicos, oleosos, graxos, solventes orgânicos e derivados de petróleo; materiais ou
objetos aquecidos; choque elétrico; radiações perigosas; frio e agentes biológicos.

As mangas de proteção também servem para proteger o objeto de trabalho contra contaminações
por pelos do trabalhador.

Existem cremes protetores que formam uma película sobre a pele, de modo a protegê‑la contra pó,
solventes ou colas, sem que o trabalhador perca a sensibilidade do tato.

Figura 59 – Luvas de proteção

Figura 60

5.3.3 Equipamentos de proteção para os membros inferiores

Existem calçados impermeáveis para trabalhos realizados em lugares úmidos, lamacentos ou


encharcados, que são resistentes a agentes químicos e biológicos agressivos e a riscos de origem elétrica.

108
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Há uma polêmica sobre se a calça deve ser posicionada por dentro ou por fora do cano da bota para
garantir a segurança do trabalhador. Isso vai depender do tipo de serviço executado.

Se o objetivo é proteger a roupa contra a sujeira, o ideal é que a calça fique por dentro, mas, se o
trabalho envolve o risco de derramamentos de líquidos ou pós a partir de uma posição acima do cano
da bota, o ideal é que a calça esteja por fora do cano, pois, caso contrário, a bota atuará como um
recipiente, agravando o acidente.

Figura 61 – Calçado de segurança

Em áreas limpas e secas, é recomendado o uso de pro‑pés. O pro‑pé é uma espécie de touca para ser
colocada sobre o calçado, para que este não transmita contaminantes para o ambiente.

Para a proteção da perna, existem perneiras. Elas protegem contra abrasivos, cortes, impactos e
ataque de cobras.

5.3.4 Equipamentos de proteção para o tronco

Enquadram-se nesta categoria os aventais, as capas e outras vestimentas especiais de proteção


para trabalhos em que haja perigo de lesões provocadas por riscos de origem radioativa, biológica
ou química.

Existem vestimentas de proteção com sistemas de respiração autônoma.

109
Unidade II

Figura 62 – Roupa de proteção Figura 63 – Roupa de proteção

6 CLASSIFICAÇÃO DE ARTIGOS MÉDICOS HOSPITALARES

6.1 Conceitos gerais

Conforme discutido, os perigos biológicos são os mais presentes entre todos os perigos analisados. A
quase onipresença dos microrganismos reduz a eficiência de medidas para evitar a sua presença e isso
resulta na necessidade de adotar medidas para eliminá‑los.

Lembrete

Consideramos perigos biológicos os microrganismos, os parasitas e as


toxinas geradas pelos microrganismos. Animais e insetos são considerados
perigos físicos.

Eliminação não é uma palavra correta para este caso, pois, conforme será discutido a seguir, não
existe eliminação total. Sempre existirá a probabilidade da sobrevivência de alguns microrganismos,
além disso, qualquer processo de limpeza tem prazo de validade. A palavra adequada para esse processo
é descontaminação.

Descontaminação é uma série de procedimentos cujo objetivo é reduzir a carga de microrganismos


de um utensílio até um nível aceitável. Esse nível é dado pelo uso que o utensílio a ser descontaminado
tem. Isso se torna óbvio ao analisarmos alguma situação cotidiana – em uma limpeza doméstica,
esfrega‑se mais a panela que o vaso sanitário.

110
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Porém, antes de descrever os processos de descontaminação, é necessário rever alguns conceitos


associados a isso.

Noções sobre o tratamento matemático da letalidade de microrganismos

Os microrganismos se reproduzem por divisão celular. Uma célula dá origem a duas, duas dão origem
a quatro e assim por diante. Dessa forma, depois de se adaptarem ao ambiente onde foram inoculados
(chamada fase lag) os microrganismos começam a se duplicar. Depois de n ciclos, o número inicial de
microrganismos foi multiplicado por 2n (chamada fase log).

O tempo de duração desses ciclos varia conforme a espécie do microrganismo, mas, na prática,
consideram‑se 20 minutos como um valor de referência. Assim, após uma hora de espera, o número de
microrganismos inicial de uma amostra passou por três ciclos de divisão celular, e o número inicial de
microrganismos foi multiplicado por 8.

A técnica matemática mais simples para se trabalhar com fatores exponenciais é o logaritmo. Quando
os dados de número de células em função do tempo são colocados em um gráfico, obtém‑se uma curva
exponencial (a), porém, ao se trabalhar com o logaritmo do número de células em função do tempo, essa
curva torna‑se uma reta, com que é mais fácil de trabalhar.

Quando é aplicado algum processo para provocar a morte dos microrganismos, a taxa de morte
concorre com a taxa de crescimento, o que também resulta em valores exponenciais, portanto, são
valores trabalhados em logaritmo.

O decréscimo de 90% do número de células viáveis é chamado de década, e os processos de


descontaminação são projetados para eliminar certo número de décadas. Dessa forma, se um processo
eliminar três décadas de microrganismos, ele irá eliminar 90% de 90% de 90% dos microrganismos. É
uma redução expressiva, porém nunca chegará a zero.

Infecções em cirurgias

A pele é a principal barreira que o organismo tem para se proteger contra a invasão de microrganismos,
então as cirurgias podem ser classificadas de acordo com o potencial de contaminação da incisão,
segundo a Portaria nº 2.616/98:

3.2.1. Cirurgias Limpas – são aquelas realizadas em tecidos estéreis ou


passíveis de descontaminação, na ausência de processo infeccioso e
inflamatório local ou falhas técnicas grosseiras, cirurgias eletivas com
cicatrização de primeira intenção e sem drenagem aberta. Cirurgias em que
não ocorrem penetrações nos tratos digestivo, respiratório ou urinário;

3.2.2. Cirurgias Potencialmente Contaminadas – são aquelas realizadas em


tecidos colonizados por flora microbiana pouco numerosa ou em tecidos de
difícil descontaminação, na ausência de processo infeccioso e inflamatório
111
Unidade II

e com falhas técnicas discretas no transoperatório. Cirurgias com drenagem


aberta enquadram‑se nesta categoria. Ocorre penetração nos tratos
digestivo, respiratório ou urinário sem contaminação significativa.

3.2.3. Cirurgias Contaminadas – são aquelas realizadas em tecidos


recentemente traumatizados e abertos, colonizados por flora bacteriana
abundante, cuja descontaminação seja difícil ou impossível, bem como todas
aquelas em que tenham ocorrido falhas técnicas grosseiras, na ausência de
supuração local. Na presença de inflamação aguda na incisão e cicatrização
de segunda intenção, ou grande contaminação a partir do tubo digestivo.
Obstrução biliar ou urinária também se incluem nesta categoria.

3.2.4. Cirurgias Infectadas – são todas as intervenções cirúrgicas realizadas


em qualquer tecido ou órgão, em presença de processo infeccioso (supuração
local) e/ou tecido necrótico (BRASIL, 1998b).

Essa classificação, feita pelo Ministério da Saúde, mostra claramente que muitas vezes o profissional
da área da saúde precisa conviver com a possibilidade de não conseguir eliminar a flora microbiana
existente no paciente. Dependendo de cada situação, existe uma probabilidade maior ou menor de
ocorrência de infecção, e diversos fatores relacionados ao paciente poderão agravar essa probabilidade
– obesidade, tabagismo, diabetes, idade, desnutrição, tempo de internação e extensão da cirurgia.
Dependendo do quadro, o profissional da saúde precisará escolher entre diversas técnicas e recursos para
tentar conter o avanço da infecção. As estratégias mais comuns estão relacionadas com a diminuição do
tamanho da contaminação e a melhora das defesas imunológicas do paciente.

Note que a classificação dada pelo Ministério da Saúde também dá atenção especial a cirurgias nos
tratos digestivo, respiratório e urinário. Esses sistemas possuem, naturalmente, uma flora microbiana
muito numerosa, e o risco da evolução para uma septicemia é muito grande.

A septicemia, sepse ou sépsis é uma infecção geral, resultante da invasão de um microrganismo


patógeno na corrente sanguínea. Ela pode evoluir a partir de uma infecção comum e pode levar o
paciente a óbito.

Comissão de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH)

A Portaria nº 2.616/MS/GM, de 12 de maio de 1998, da Anvisa, estabeleceu o Programa de Controle de


Infecções Hospitalares, com o objetivo de reduzir a incidência e a gravidade das infecções hospitalares.

Os hospitais foram obrigados a estabelecer uma comissão técnica, formada por profissionais de nível
superior, da área da saúde, com o objetivo de assessorar a alta administração do hospital a estabelecer
ações de controle de infecção hospitalar. Essa comissão é chamada Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar (CCIH).

O presidente da comissão pode ser qualquer um de seus membros, indicado pela direção do hospital.
112
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Os membros da CCIH serão de dois tipos:

• Consultores – serão representantes do serviço médico, do serviço de enfermagem, do serviço de


farmácia, do laboratório de microbiologia e da administração.

• Executores – representam o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar e são encarregados da


execução das ações de controle. Serão, no mínimo, dois profissionais de nível superior da área de
saúde para cada 200 leitos. Um desses profissionais deve ser, de preferência, enfermeiro.

O número de membros executores é aumentado se o hospital atender a pacientes em UTIs, pacientes


queimados, submetidos a transplantes de órgãos, de oncologia ou com aids.

A CCIH tem como função elaborar e implementar um programa para controlar as infecções
hospitalares, contendo:

• Um sistema de vigilância epidemiológica das infecções hospitalares. Esse sistema é a observação


sistemática da ocorrência da infecção hospitalar, da distribuição entre pacientes e das condições
que afetam sua ocorrência.

• Normas internas e rotinas para a prevenção e controle das infecções hospitalares.

• Ações para treinamento de funcionários para a prevenção de infecções hospitalares.

• A garantia do uso racional de produtos antimicrobianos, germicidas e materiais médico‑hospitalares.

• A realização da investigação epidemiológica de casos e implantação de medidas de controle.

Essa comissão responde diretamente à alta administração do hospital, que tem também a obrigação
legal de promover as determinações da CCIC.

6.2 Limpeza

Limpeza é o primeiro passo para o processamento de descontaminação. É um processo de remoção


mecânica das sujidades e seu objetivo é a remoção de sujidades físicas e químicas. Nessa remoção,
ocorre também a redução de microrganismos como resultado da ação mecânica.

Um processo de limpeza utilizado no cotidiano é a lavagem de louças. Partiremos desse exemplo


para explicar as etapas da limpeza em detalhes, mas os conceitos são estendíveis a qualquer aplicação.
Imagine um prato sujo com molho de tomate.

Enxágue inicial

Se a pessoa que lavar esse prato partir direto para esfregá‑lo com bucha, vai sujar a bucha e espalhar
resíduos de molho por toda a louça a ser lavada, dificultando todo o processo.
113
Unidade II

Porém, se a pessoa iniciar o processo com um enxágue, vai remover as sujidades mais grossas apenas
pela ação mecânica da água, reduzindo o trabalho futuro e o emprego de sabão.

O enxágue inicial é a principal ação no processo de limpeza. Se benfeito, reduz gastos em tempo
de operação, em produtos químicos e em tratamento de efluentes, além de aumentar a eficiência das
próximas operações.

Ação mecânica

Após o enxágue inicial, a pessoa deve esfregá‑lo utilizando uma esponja com sabão.

O enxágue inicial removeu as sujidades que estavam soltas, mas as sujidades incrustadas precisam
ser removidas por meio do atrito mecânico entre a bucha e a camada superficial da incrustação. O
sabão é um coadjuvante nesse processo, fazendo a solubilização dos lipídios e das proteínas. Existem
microrganismos aderidos a essas incrustações e às paredes do prato, e essa ação mecânica removerá
parte dessa carga.

Essa remoção de microrganismos é pequena em relação aos outros processos de descontaminação.

Porém, como todas essas remoções de microrganismos são proporcionais à quantidade inicial de
microrganismos, qualquer redução na quantidade de microrganismos na etapa anterior quer dizer
aumento significativo na eficiência das etapas posteriores.

Enxágue final

Serve para remover os resíduos de detergente, incrustações e microrganismos.

Aqui, continua valendo o conceito: uma operação anterior benfeita reduz os custos operacionais
das operações posteriores e aumenta a eficiência do processo.

Exemplos de limpeza

Discutimos uma aplicação doméstica, mas os conceitos são os mesmos nas mais diversas aplicações.

Seguem alguns exemplos:

• Em restaurantes – ocorre o uso de máquinas de lavar louças, logo, o esfregaço com bucha é
substituído por jatos d’água.

• Em indústrias farmacêuticas e de alimentos – a limpeza do interior de tubulações (CIP) é feita


circulando‑se água e soda cáustica em alta velocidade. A alta velocidade garante o atrito entre o
fluido e as paredes dos tubos.

114
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Em hospitais – é feita a remoção de resíduos dos instrumentos cirúrgicos com o uso de banhos de
ultrassom. O ultrassom faz a ação mecânica, quebrando as incrustações.

• Em laboratórios – é feita a limpeza da vidraria utilizando‑se escovas.

6.3 Desinfecção

Desinfecção é um processo mais severo, cujo objetivo é destruir os microrganismos no estado


vegetativo, sejam patogênicos ou não. Esse processo pode ocorrer por meios físicos ou químicos.

Partículas, incrustações, gorduras e qualquer outro tipo de sujidade funcionam como uma camada
protetora dos microrganismos, por isso, antes de se executar uma desinfecção, é fundamental que se
faça uma limpeza.

6.3.1 Processos físicos de desinfecção

O principal processo físico de desinfecção é a elevação da temperatura. Em altas temperaturas,


interrompe‑se a divisão celular dos microrganismos e começa a acontecer a morte das células. Quanto
maior o tempo na temperatura alta, mais células vão morrer. Quanto mais alta a temperatura, mais
rápido esse processo acontece. Esse é o chamado binômio tempo versus temperatura.

Quando se aumenta a temperatura, tanto a membrana celular quanto as proteínas são afetadas. Isso
porque os ácidos graxos que compõem a parede celular aumentam sua permeabilidade, permitindo a
entrada de substâncias indesejáveis no interior da célula. Além disso, o aumento da temperatura acelera
as reações dentro das células, atingindo níveis inaceitáveis para o funcionamento celular, ou ainda
desnaturando proteínas.

Consideram‑se altas as temperaturas acima de 60 ºC. O tempo de exposição vai depender do tipo de
microrganismo e da quantidade de células a serem eliminadas. Cada microrganismo tem características
próprias na determinação desses parâmetros.

Lembrete

O efeito dos processos de eliminação de microrganismos é proporcional


à quantidade inicial de microrganismos, por isso, nunca chegará a zero.

Após a exposição à alta temperatura, um recurso muito utilizado é a redução da temperatura, para
que os microrganismos sobreviventes não voltem a se multiplicar.

O processo mais conhecido de desinfecção por meios físicos é a pasteurização do leite. Até 1952, o
leite era vendido de porta em porta, vindo diretamente da fazenda produtora. Porém, nessa mesma época,
ocorria no Brasil um surto de tuberculose. A bactéria responsável por esse surto era a Micobacterium
bovis, a da tuberculose bovina.
115
Unidade II

Ao perceber essa relação, foi instituída a obrigação da pasteurização do leite, proibindo o comércio
in natura (Decretos nº 39.093/56 e 66.183/70). Os parâmetros de pasteurização são fixados por lei nos
seguintes valores:

• Pasteurização lenta – 62 ºC durante 30 minutos.

• Pasteurização rápida – 72 ºC durante 20 segundos.

Esses valores são calculados para a eliminação da M. bovis. Note que a variação desses não é linear.

6.3.2 Processos químicos de desinfecção

Nem todos os materiais suportam temperaturas elevadas. Para esses casos, é necessário lançar mão
de produtos químicos para fazer a desinfecção, tomando muito cuidado na avaliação da compatibilidade
química com os utensílios. A desinfecção química acontece porque algumas substâncias têm a capacidade
de danificar a parede celular.

A desinfecção por produtos químicos pode ser dividida em três níveis, dependendo da resistência do
microrganismo a ser combatido:

• Desinfecção de baixo nível – é quando objetiva eliminar bactérias vegetativas, vírus médios ou lipídicos.

Um dos produtos mais comuns nesse processo é o quaternário de amônia, utilizado na limpeza de
superfícies, paredes e mobiliários; tem a vantagem de ser pouco tóxico para humanos, mas pode causar
irritações na pele e ataca borrachas sintéticas, cimento e alumínio.

• Desinfecção de nível médio – o objetivo é eliminar, além dos microrganismos citados no baixo
nível, os fungos e alguns tipos de vírus. Álcool etílico a 70%, compostos fenólicos entre 2% e 5%
e hipoclorito de sódio a 1% são produtos utilizados nesse processo.

Os compostos fenólicos com concentração de 2% a 5% precisam de um período de exposição de 20 a


30 minutos. O consumo de produto é relativamente baixo, pois são pouco afetados por matéria orgânica,
mas têm a desvantagem de impregnar materiais porosos, não sendo indicado para artigos que entrem em
contato com o trato respiratório (borracha, látex). São contraindicados para uso em berços e incubadoras.

O hipoclorito a 1%, além de outros compostos clorados, tem ação rápida e baixo custo, mas é corrosivo
para metais, inclusive o aço inox. É irritante das vias respiratórias e inativado por matéria orgânica.

O álcool etílico a 70% também é de ação rápida e de baixo custo, mas ataca plásticos, borrachas e
verniz, além de ser inflamável. Curiosamente, o aumento da concentração do álcool reduz a eficiência
do produto, pois ele evapora antes de degradar a parede celular dos microrganismos.

• Desinfecção de alto nível – elimina microbactérias e esporos, além dos microrganismos citados
anteriormente. Os produtos mais usados são o glutaraldeído a 2% e o ácido peracético.
116
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

O glutaraldeído precisa de tempo de exposição de 20 a 30 minutos. Não produz corrosão de


instrumentais e não altera componentes de borracha ou plástico, mas impregna matéria orgânica e
pode ser retido por materiais porosos, além de ser irritante de vias aéreas, ocular e cutânea.

O ácido peracético a 0,2% precisa de tempo de exposição de 5 a 10 minutos, é pouco tóxico, mas
bastante irritante das vias aéreas. É corrosivo para metais (aço, bronze, latão, ferro galvanizado).

Observação

Não faz sentido enxaguar o utensílio após a desinfecção química, pois


a água de enxágue também possui uma carga microbiana própria. Além
disso, o resíduo do produto ajuda a garantir a qualidade da operação. Por
isso, é muito importante especificar corretamente o processo e o produto
a serem utilizados.

6.4 Esterilização

Esterilização é a destruição de todas as formas vegetativas e esporuladas, fungos e vírus. Da mesma


forma que a desinfecção, esse processo pode ocorrer por meios físicos ou químicos.

Como já foi discutido, o resultado final de um processo de eliminação de microrganismos é


proporcional à quantidade inicial de microrganismos, por isso é muito importante que se façam uma
limpeza e uma desinfecção antes da esterilização.

Observação

Os processos de limpeza e desinfecção são frequentemente ignorados


por causa da falsa ideia de que a esterilização vai matar todos os organismos.
Portanto, é importante salientar que por ser uma redução proporcional, o
resultado nunca vai ser zero.

6.4.1 Processos físicos de esterilização

O principal processo físico de esterilização também é relacionado com o binômio tempo versus
temperatura, porém as condições de processo são mais severas.

O processo de esterilização mais conhecido é a produção do leite longa vida ou UHT. Nesse processo,
o leite cru é centrifugado (limpeza mecânica), a temperatura é elevada até cerca de 80 °C e mantida
durante alguns segundos (desinfecção), para depois ter sua temperatura elevada a cerca de 150 °C e
mantida por alguns segundos (esterilização).

117
Unidade II

Outro processo de esterilização bastante difundido é aquele que ocorre por meio de radiações. As
mais usadas são a radiação gama, as micro‑ondas e a radiação ultravioleta.

A radiação gama, emitida pelo cobalto‑60 ou pelo césio‑137, é utilizada em materiais sensíveis
ao calor, mas sua eficiência é condicionada à densidade do material, que irá determinar o grau de
penetração da radiação.

Ela afeta diretamente alguns processos fisiológicos, eliminando microrganismos e inativando enzimas.

As micro‑ondas são ondas eletromagnéticas com frequência em torno de 2,5 GHz. Elas afetam
diretamente a água, elevando sua temperatura.

A radiação ultravioleta, além de afetar diretamente os processos fisiológicos, também forma


como resíduo o ozônio, uma substância que ataca a parede celular dos microrganismos. Porém, sua
penetrabilidade é menor que a da radiação gama.

6.4.2 Processos químicos de esterilização

Existem duas formas de esterilização com produtos químicos: com produtos líquidos e com
produtos gasosos.

A esterilização com produtos líquidos é feita por meio da imersão do utensílio num banho contendo
o produto. Os esterilizantes mais utilizados nesse processo são o glutaraldeído a 2%, o ácido peracético
a 0,2% e o peróxido de hidrogênio a 6%. São produtos semelhantes aos da desinfecção, mas o tempo
de exposição é maior.

Essa imersão deve ser feita com extremo cuidado para que não fiquem bolhas de ar adsorvidas
nas superfícies dos utensílios, já que essas bolhas não permitem o contato entre a superfície a ser
esterilizada e o produto esterilizante. Por essa razão, não é recomendável utilizar‑se a esterilização por
produtos líquidos. Esse problema não ocorre com o uso de produtos químicos gasosos.

O produto gasoso de esterilização mais comum, muito usado em hospitais, é o óxido de etileno (EtO).
Ele é inflamável e carcinogênico, mas, se misturado com dióxido de carbono (8,5% de EtO e 91,5% de
CO2), torna‑se seguro para trabalhar.

6.4.3 Monitoramento do processo de esterilização

O grande problema dos riscos biológicos é que não vemos os microrganismos. Por isso, é necessário
que se façam testes para verificar se a esterilização foi eficiente de fato.

O teste mais seguro para garantir que o produto foi esterilizado é promover a cultura dos
microrganismos, mas se trata de um procedimento que leva dias para apresentar algum resultado. Em
um hospital onde se fazem milhares de esterilizações por mês, isso seria inviável.

118
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Para resolver a essa questão, fazem‑se avaliações práticas periódicas dos procedimentos e dos
equipamentos, colocando‑se indicadores químicos ou biológicos da eficiência da esterilização.

Essas verificações são feitas nas seguintes situações:

• Na instalação e após a manutenção de equipamentos envolvidos no processo.

• Após qualquer modificação proposta no processo de esterilização.

• Periodicamente, para se estabelecer um histórico de confiabilidade do processo.

Por exemplo: um laboratório comprou uma autoclave úmida nova. Apesar de nova, não dá para
garantir que o equipamento é eficiente, pois, se a distribuição de temperaturas no interior dele não for
uniforme, alguma região do equipamento pode não ser esterilizada. Algo semelhante acontece no forno
de um fogão doméstico: um lado do assado sempre queima mais que o outro.

No primeiro teste do equipamento, posiciona‑se o indicador na pior posição possível e inicia‑se o


procedimento. Se ocorrer a esterilização, o equipamento está liberado para produção. Esse teste deverá
ser repetido, por exemplo, a cada 12 horas.

Se, após alguns dias, o equipamento continuar eficiente, o tempo entre os testes pode ser estendido,
já que o equipamento tem se mostrado confiável.

Como testes rápidos, podem ser utilizados:

• Tiras indicadoras – são tiras impregnadas com tinta termoquímica que muda de coloração
quando exposta à temperatura. São colocadas sobre todos os produtos a serem esterilizados.

• Teste Bowie e Dick – é um teste semelhante às tiras indicadoras que avalia remoção de ar,
penetração do vapor, tempo e temperatura. Normalmente, é usado na primeira operação do dia.

• Indicadores biológicos – são culturas padronizadas de microrganismos comprovadamente


resistentes a processos térmicos menos severos. Caso essa cultura sobreviva ao processo de
esterilização, significa que este é falho.

6.5 Classificação dos artigos médico‑hospitalares

Dependendo da aplicação do utensílio, será exigido um nível de descontaminação. Na área da saúde,


cada instrumento ou utensílio utilizado é um transmissor de infecções em potencial.

Os artigos médico‑hospitalares são classificados em:

• Artigos não críticos – são os que não entram em contato com pacientes ou que interagem
apenas com a pele íntegra. Apesar de apresentarem baixo risco de transmissão de infecções,
119
Unidade II

podem servir de disseminação de microrganismos entre os pacientes. Por exemplo: comadres,


jarros, bacias, aparelhos de pressão e termômetros.

• Artigos semicríticos – são os artigos que entram em contato com a membrana mucosa que
reveste os órgãos internos, como tubo digestivo, intestino ou pulmões, ou com a pele não
íntegra. A pele íntegra é impermeável a microrganismos, mas, se estiver rompida, permitirá
o ingresso destes. Estão incluídos nessa categoria endoscópios, equipamentos de terapia
respiratória etc.

• Artigos críticos – são aqueles que penetram em tecidos ou têm contato com o sangue, portanto,
possuem alto risco de infecção. Por exemplo – agulhas hipodérmicas, instrumentos cirúrgicos,
cateteres etc.

Note que entender e aplicar o critério de classificação é muito mais importante do que generalizar.
Dessa forma, uma comadre que venha a ser utilizada por um paciente com queimaduras na região dos
glúteos, por exemplo, deve ser tratada como um artigo semicrítico e não como um artigo não crítico,
como seria normalmente.

De acordo com a classificação do artigo médico‑hospitalar, o processo de descontaminação deve ser


especificado da seguinte forma:

• Artigos não críticos devem receber apenas a limpeza.

• Artigos semicríticos devem receber a limpeza e, posteriormente, a desinfecção.

• Artigos críticos devem receber a limpeza, a desinfecção e, posteriormente, a esterilização.

Observação

Existem diversos catálogos sobre instrumentação cirúrgica disponíveis


na internet. Por meio deles, você pode se familiarizar com os nomes
específicos de diversos artigos médico‑hospitalares.

7 PGRRS

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2004), a saúde ambiental “se refere aos aspectos
da saúde e qualidade de vida humana determinados por fatores ambientais, sejam físicos, químicos,
biológicos ou sociais”.

Ainda destaca a teoria e a prática de avaliação, correção, controle e prevenção daqueles fatores que
presentes no ambiente podem afetar potencialmente de forma adversa a saúde humana de gerações
presentes e futuras.

120
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Atualmente, aproximadamente de 1 a 3% dos resíduos urbanos são provenientes de serviços de


saúde, transformando estas instituições em grandes geradoras de resíduos infectantes.

O objetivo do gerenciamento de resíduos de saúde corresponde à atenção especial e aos cuidados


com o ambiente no que se refere ao uso e descarte de materiais com resíduos biológicos, químicos e
radioativos. Também deve estar direcionado para o processo de uso e de descarte de insumos ou de seus
subprodutos, sendo de responsabilidade da instituição e do profissional que os manipula.

A Resolução Conama nº 005/1993 define resíduos sólidos como resíduos nos estados sólido e
semissólido que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola
e de serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de
tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face
à melhor tecnologia disponível (BRASIL, 1993a).

No entanto, as normas e resoluções existentes classificam os resíduos sólidos em função dos riscos
potenciais ao meio ambiente e à saúde, como também em função da natureza e origem.

Com relação aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, a NBR 10.004/2004 classifica
os resíduos sólidos em duas classes: classe I e classe II.

Os resíduos classe I, denominados perigosos, são aqueles que, em função de suas propriedades
físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar riscos à saúde e ao meio ambiente. São caracterizados
por possuírem uma ou mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
toxicidade e patogenecidade.

Os resíduos classe II denominados não perigosos são subdivididos em duas classes: classe II‑A e
classe II‑B.

• Os resíduos classe II‑A – não inertes podem ter as seguintes propriedades: biodegradabilidade,
combustibilidade ou solubilidade em água.

• Os resíduos classe II‑B – inertes não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a
concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, com exceção dos aspectos cor,
turbidez, dureza e sabor.

Com relação à origem e à natureza, os resíduos sólidos são classificados em: domiciliar, comercial,
varrição e feiras livres, serviços de saúde, portos, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários,
industriais, agrícolas e resíduos de construção civil.

Com relação à responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos, pode‑se dividi‑los em dois
grandes grupos.

121
Unidade II

O primeiro grupo refere‑se aos resíduos sólidos urbanos, compreendido pelos:

• Resíduos domésticos ou residenciais.

• Resíduos comerciais.

• Resíduos públicos.

O segundo grupo, dos resíduos de fontes especiais, abrange:

• Resíduos industriais.

• Resíduos da construção civil.

• Rejeitos radioativos.

• Resíduos de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários.

• Resíduos agrícolas.

• Resíduos de serviços de saúde.

Os resíduos provenientes da assistência à saúde são possíveis veículos de contaminação e


de poluição do solo, ar e água. Estão incluídos no grupo que exige tratamento específico para a
preservação do meio ambiente.

Assim, toda instituição deve ter o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde
(PGRSS), garantindo a exposição mínima dos trabalhadores bem como de outras pessoas e do ambiente.

Os órgãos responsáveis pelas normas e regulamentações no manejo dos resíduos dos serviços de
saúde são:

• Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

• ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.

• Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente.

Ainda, quando houver o manejo de resíduos químicos, também haverá a fiscalização da Cetesb –
Companhia Elétrica de Tecnologia de Saneamento Ambiental.

122
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos a respeito do tema, leia na íntegra


as seguintes normas da ABNT:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12.809/93: dispõe


sobre procedimentos de manuseio dos resíduos de serviços de saúde no ambiente
interno. Rio de Janeiro, 1993. Disponível em: <http://www.vigilanciasanitaria.
sc.gov.br/index.php/download/category/119‑saude‑ambiental?download
=768:nbr‑n‑12‑809‑1997‑manuseio‑de‑residuos‑de‑servico‑de‑saude>.
Acesso em: 20 dez. 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004/04:


classifica os resíduos em perigosos e não perigosos. Rio de Janeiro,
2004. Disponível em: <http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/index.
php/download/category/119‑saude‑ambiental?download=767:nbr‑n‑10
‑004‑2004‑classificacao‑de‑residuos‑solidos>. Acesso em: 20 dez. 2016.

De acordo com a RDC Anvisa nº 306/04 e a Resolução Conama nº 358/2005, são definidos como
geradores de RSS todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive
os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos
para a saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento;
serviços de medicina legal, drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos
de ensino e pesquisa na área da saúde; centro de controle de zoonoses; distribuidores de produtos
farmacêuticos, importadores e distribuidores produtores de materiais e controles para diagnóstico in
vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, dentre
outros similares.

Os resíduos do serviço de saúde ocupam um lugar de destaque, pois merecem atenção especial
em todas as suas fases de manejo (segregação, condicionamento, armazenamento, coleta, transporte,
tratamento e disposição final) em decorrência dos imediatos e graves riscos que podem oferecer, por
apresentarem componentes químicos, biológicos e radioativos.

Dentre os componentes químicos destacam‑se as substâncias ou preparados químicos – tóxicos,


corrosivos, inflamáveis, reativos, genotóxicos, mutagênicos; produtos mantidos sob pressão – gases,
quimioterápicos, pesticidas, solventes, ácido crômico; limpeza de vidros de laboratórios, mercúrio de
termômetros, substâncias para revelação de radiografias, baterias usadas, óleos, lubrificantes usados etc.

Dentre os componentes biológicos destacam‑se os que contêm agentes patogênicos que possam
causar doença e dentre os componentes radioativos utilizados em procedimentos de diagnóstico e
terapia, os que contêm materiais emissores de radiação ionizante.

123
Unidade II

Para a comunidade científica e entre os órgãos federais responsáveis pela definição das políticas
públicas pelos resíduos de serviços saúde (Anvisa e Conama) esses resíduos representam um potencial
de risco em duas situações:

• Para a saúde ocupacional de quem manipula esse tipo de resíduo, seja o pessoal ligado à assistência
médica ou médico‑veterinária, seja o pessoal ligado ao setor de limpeza e manutenção.

• Para o meio ambiente, como decorrência da destinação inadequada de qualquer tipo de resíduo,
alterando as características do meio.

Observação

O risco no manejo dos RSS está principalmente vinculado aos acidentes


que ocorrem devido às falhas no acondicionamento e segregação dos
materiais perfurocortantes sem utilização de proteção mecânica.

A Resolução RDC 306/2004 (BRASIL, 2004), que dispõe sobre a obrigatoriedade do Plano de
Gerenciamento de Resíduos em Serviços de Saúde, descreve que as ações de manejo dos resíduos sólidos
deve conter ações de:

• Geração.

• Segregação.

• Acondicionamento.

• Coleta.

• Armazenamento.

• Transporte.

• Destino final.

O momento da geração é quando o profissional inicia um processo de trabalho que irá finalizar
com um resíduo a ser descartado. Nesse momento o profissional já deve ter planejado ações para
que a geração deste resíduo não cause nenhum impacto ou risco a sua saúde ou a do paciente ou
dano ao ambiente.

No momento da segregação, a operação deve ser realizada a considerar a identificação e a separação


dos resíduos no momento da geração. É necessário que o empregador garanta o uso de EPI adequado
pelos profissionais. A segregação tem como principal objetivo evitar a mistura de resíduos incompatíveis.

124
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

O acondicionamento é o momento de guarda dos resíduos em recipientes adequados de acordo


com o seu tipo e suas características, logo após a sua manipulação e geração. Consiste no ato de
embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resistam às ações
de punctura e ruptura. A capacidade dos recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a
geração diária de cada tipo de resíduo.

Os resíduos sólidos devem ser acondicionados em sacos impermeáveis e resistentes à ruptura e ao


vazamento, de acordo com a NBR 9191/2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Deve ser
respeitado o limite de peso de cada saco, além de ser proibido o seu esvaziamento ou reaproveitamento.
Devem ser sinalizados com símbolos internacional de risco.
RISCO INFECTANTE

RISCO INFECTANTE

Figura 64

RISCO RISCO
BIOLÓGICO QUÍMICO

Figura 65 Figura 66

Figura 67

Após o acondicionamento, acontece a coleta interna, que se dá pelo recolhimento e transporte do


local onde foi gerado o resíduo até o seu abrigo dentro da instituição de saúde. Deverá ser realizada a
coleta de acordo com a necessidade da unidade, sendo, no mínimo, uma vez ao dia. O transporte até o
local destinado ao armazenamento temporário até a sua retirada deverá acontecer de maneira segura,
e com utilização adequada dos profissionais que fazem essa coleta e transporte.

125
Unidade II

O armazenamento temporário dos resíduos deve ser feito em local específico e apropriado, pois visa
a guarda dos recipientes com os resíduos já acondicionados. Deve ser um local em ambiente externo,
exclusivo, e com acesso para os veículos coletores.

A coleta final é o transporte até a unidade de tratamento ou destinação final. Nesse momento, se
devem utilizar técnicas de preservação da integridade física do pessoal designado para essa atividade,
da população e do ambiente, e estar de acordo com as normas dos órgãos de limpeza urbana.

O tratamento final é o processo realizado dentro dos padrões de segurança que modifica as características
físicas, químicas ou biológicas dos resíduos eliminando ou minimizando o risco associado a estes.

A destinação ou tratamento final de cada classe é a seguinte:

• Grupo A = risco biológico = incineração, autoclave, micro‑ondas, tratamento químico, radiação


ionizante.

• Grupo B = risco químico = devolver ao fabricante.

• Grupo C = rejeitos radioativos = aterro sanitário industrial.

• Grupo D = resíduo comum = reciclagem ou aterro sanitário comum.

• Grupo E = perfurocortante = incineração.

A elaboração de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de saúde pressupõe as seguintes etapas:

• Definir os objetivos gerais.

• Construir a equipe de trabalho e designar as responsabilidades.

• Diagnosticar a situação atual.

• Elaboração de forma detalhada o PGRSS.

• Efetivar o PGRRS, garantindo uma adequada coordenação.

• Controlar e reavaliar periodicamente a implementação do PGRSS.

A realização de cada um desses passos requer a aprovação da direção do estabelecimento de saúde


e exige a coordenação das atividades com os departamentos e setores envolvidos.

Os principais objetivos no estabelecimento da elaboração de um PGRSS são:

• Melhorar as medidas de segurança e higiene no trabalho.


126
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Proteger a saúde e o meio ambiente.

• Cumprir a legislação vigente.

• Reduzir a quantidade e a periculosidade dos resíduos perigosos.

• Substituir os materiais perigosos, sempre que possível, por outros de menor periculosidade.

A equipe de trabalho a ser responsável pelo plano será composta de membros da CCIH e do SESMT,
sendo suas atividades:

• Avaliar a eficiência do sistema de manejo.

• Reportar à direção médica as denúncias de irregularidade na gestão, recomendando as medidas


corretivas.

• Sugerir os conteúdos da capacitação de pessoal e estabelecer programas de informação e


comunicação dirigidos à população em geral.

A Resolução Conama 358/2005 (BRASIL, 2005), que dispõe sobre o tratamento e a disposição final
dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências, classifica os resíduos provenientes de
serviços de saúde como:

• Grupo A = resíduos com possível presença de agentes biológicos.

• Grupo B = resíduos químicos.

• Grupo C = resíduos radioativos.

• Grupo D = resíduos comuns.

• Grupo E = resíduos perfurocortantes ou escarificantes.

O Anexo I desta resolução define cada grupo da seguinte maneira:

I – Grupo A – resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características
de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção.

A1

• Culturas e estoques de microrganismos; resíduos de fabricação de produtos biológicos, exceto


os hemoderivados; descarte de vacinas de microrganismos vivos ou atenuados; meios de cultura
e instrumentais utilizados para transferência, inoculação ou mistura de culturas; resíduos de
laboratórios de manipulação genética.
127
Unidade II

• Resíduos resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza


de contaminação biológica por Agentes Classe de Risco 4, microrganismos com relevância
epidemiológica e risco de disseminação ou causador de doença emergente que se torne
epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido.

• Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeitadas por contaminação ou


por má conservação, ou com prazo de validade vencido, e aquelas oriundas de coleta incompleta.

• Sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos, recipientes e


materiais resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos
corpóreos na forma livre.

A2

• Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais submetidos a


processos de experimentação com inoculação de microrganismos, bem como suas forrações,
e os cadáveres de animais suspeitos de serem portadores de microrganismos de relevância
epidemiológica e com risco de disseminação, que foram submetidos ou não a estudo
anatomopatológico ou confirmação diagnóstica.

A3

• Peças anatômicas (membros) do ser humano; produto de fecundação sem sinais vitais, com
peso menor que 500 gramas ou estatura menor que 25 cm ou idade gestacional menor que 20
semanas, que não tenham valor científico ou legal e não tenha havido requisição pelo paciente
ou familiares.

A4

• Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores, quando descartados.

• Filtros de ar e gases aspirados de área contaminada; membrana filtrante de equipamento


médico‑hospitalar e de pesquisa, entre outros similares.

• Sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções, provenientes
de pacientes que não contenham e nem sejam suspeitos de conter agentes Classe de Risco 4, e
nem apresentem relevância epidemiológica e risco de disseminação, ou microrganismo causador
de doença emergente que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de
transmissão seja desconhecido ou com suspeita de contaminação com príons.

• Resíduos de tecido adiposo proveniente de lipoaspiração, lipoescultura ou outro procedimento de


cirurgia plástica que gere esse tipo de resíduo.

128
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

• Recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, que não contenha sangue
ou líquidos corpóreos na forma livre.

• Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de procedimentos cirúrgicos


ou de estudos anatomopatológicos ou de confirmação diagnóstica.

• Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais não submetidos a
processos de experimentação com inoculação de microrganismos, bem como suas forrações.

• Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós‑transfusão.

A5

• Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes ou escarificantes e demais materiais


resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza de contaminação
com príons.

II – Grupo B – resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública
ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade
e toxicidade.

• Produtos hormonais e produtos antimicrobianos; citostáticos; antineoplásicos; imunossupressores;


digitálicos; imunomoduladores; antirretrovirais, quando descartados por serviços de saúde,
farmácias, drogarias e distribuidores de medicamentos ou apreendidos e os resíduos e insumos
farmacêuticos dos medicamentos controlados pela Portaria MS 344/98 e suas atualizações.

• Resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; resíduos contendo metais pesados; reagentes


para laboratório, inclusive os recipientes contaminados por estes.

• Efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores).

• Efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em análises clínicas.

• Demais produtos considerados perigosos, conforme classificação da NBR‑10.004 da ABNT (tóxicos,


corrosivos, inflamáveis e reativos).

III – Grupo C – quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos
em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de
Energia Nuclear‑CNEN e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista.

Enquadram‑se nesse grupo quaisquer materiais resultantes de laboratórios de pesquisa e ensino


na área de saúde, laboratórios de análises clínicas e serviços de medicina nuclear e radioterapia que
contenham radionuclídeos em quantidade superior aos limites de eliminação.

129
Unidade II

IV – Grupo D – resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao
meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares.

• Papel de uso sanitário e fralda, absorventes higiênicos, peças descartáveis de vestuário, resto
alimentar de paciente, material utilizado em antissepsia e hemostasia de venóclises, equipo de
soro e outros similares não classificados como A1.

• Sobras de alimentos e do preparo de alimentos.

• Resto alimentar de refeitório.

• Resíduos provenientes das áreas administrativas.

• Resíduos de varrição, flores, podas e jardins.

• Resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde.

V – Grupo E – materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como: lâminas de barbear, agulhas,


escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas;
tubos capilares; micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; e todos os utensílios de vidro quebrados
no laboratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares.

Além da destinação adequada, como já vimos de cada classe, no momento da segregação e


acondicionamento devem ser consideradas as seguintes necessidades:

Grupo A – deve ser acondicionado em saco plástico branco leitoso, resistente e impermeável. Devem
ainda possuir a identificação com o símbolo de substância infectante, sendo o desenho e seu contorno
na cor preta e o fundo branco.

Grupo B – devem ser acondicionados em sua embalagem original, dentro de um recipiente


inquebrável, envolvido por um saco, sendo este identificado com símbolo de risco associado e com
discriminação de substância química e frases de risco.

Grupo C – devem ser acondicionados em recipientes blindados, identificados pelo símbolo


internacional de presença de radiação ionizante em rótulos de fundo amarelo e contornos pretos,
acrescido da expressão material radioativo.

Grupo D – se os materiais forem de destinação para reciclagem, devem ser acondicionados em


recipientes identificados usando código e cores, bem como suas nomeações, baseadas na Resolução
Conama 275/2001, e símbolos de material reciclável. Os demais resíduos devem ser acondicionados em
embalagens de coloração cinza ou preta.

Grupo E – devem ser acondicionados em recipientes rígidos preenchidos somente até 2/3 da sua
capacidade. Devem ser identificados com símbolo de substância infectante, com rótulos de fundo
130
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

branco e desenho e contornos pretos, acrescido da inscrição de resíduo perfurocortante, indicando o


risco que apresenta o resíduo.

8 ERGONOMIA

8.1 Ergonomia

A expressão “análise ergonômica do trabalho” começou a ser utilizada após a publicação de uma
nova versão de uma das normas que disciplinam as matérias de segurança e saúde do trabalhador no
Brasil, a qual dizia textualmente que “cabe aos empregadores realizar a análise ergonômica do trabalho”.
Trata‑se da Norma Regulamentadora de Ergonomia 17, ou NR-17, do Ministério do Trabalho e Emprego
(BRASIL, 1978e), que, em sua nova versão, ampliava o campo normativo da ergonomia.

Essa ampliação normativa da ergonomia muda a responsabilidade, que era restrita a conselhos sobre
como levantar e carregar pesos, e passa a incluir mais quatro itens:

• O mobiliário de trabalho.

• Algumas condições dos ambientes de trabalho.

• Os equipamentos (todos os equipamentos) de trabalho.

• A organização do trabalho, as regras e tempos de trabalho.

A NR-17 – Ergonomia, de acordo com o seu texto:

[...] visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições


de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo
a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.

17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao


levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos
equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria
organização do trabalho.

17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às


características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador
realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no
mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma
Regulamentadora (BRASIL, 1978e).

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) deve ser uma análise feita em campo, baseada naquilo que
é realizado pelos trabalhadores nas situações de trabalho.

131
Unidade II

A AET tem como característica avaliar as situações de trabalho, privilegiando a relação entre as
condições de execução do trabalho e as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores (GUERIN et al.,
2001 apud SIMONELLI et al., 2010).

A realização da análise ergonômica do trabalho deve levar em consideração que este é, por natureza,
uma atividade social e econômica, assim, sua condição é indissociável da organização. Dessa maneira,
essa análise deve contemplar três aspectos:

• A tarefa que define o trabalho a ser realizado, antecipando os resultados e determinando as


condições para a sua execução.

• A atividade para a realização das tarefas com a utilização do corpo e da inteligência do homem.

• Os resultados efetivos dessa atividade.

Realizando a AET de maneira adequada é possível observar o trabalho real, compreendendo como o
trabalhador utilizava suas habilidades intelectuais e cognitivas para entender o ambiente do processo
de trabalho e assim realizar as ações para completar a tarefa.

Entretanto, essa prática de observação acaba sendo muito peculiar de cada observador, pois é
subjetiva à determinação “do que” e “como” observar. Para que não aconteça nenhum ou o menor
número possível de viés de observação, a definição de uma sistematização determinando quais serão os
objetivos dessa análise poderá auxiliar na conclusão da AET. Segundo Simonelli et al. (2010), essa análise
deve observar as seguintes categorias:

• As posturas físicas assumidas pelos funcionários para a realização das atividades.

• As ações e as tomadas de informações pelos funcionários durante a realização da atividade.

• Os deslocamentos dos funcionários para executar a atividade.

• O arranjo físico do ambiente.

• As dimensões dos postos de trabalho.

• As habilidades sensoriais (visual e auditiva), motoras e cognitivas necessárias à realização da atividade.

Segundo Zurimendi (1994 apud SIMONELLI et al. 2010, p. 70):

A ergonomia, na abordagem da AET, não estabelece diferença quanto ao


trabalhador apresentar incapacidade ou não, pois seu pressuposto é de que a
dinâmica das condições reais de execução do trabalho é a que define a forma
específica da realização da atividade. Desta forma, a ergonomia situada pode
contribuir para a compreensão e a avaliação das situações de inclusão no
132
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

trabalho, apontando soluções específicas para certos problemas, sejam esses


de caráter fisiológico, patológico, transitório ou de diferentes dificuldades.

A AET garante a melhora das condições de trabalho através de seu objetivo principal, que é garantir o
aumento da produtividade e a qualidade dos produtos. Com as modificações das condições de trabalho, o
seu objetivo acaba se justificando em si mesmo, promovendo finalmente uma mudança real e duradoura
dos comportamentos dos trabalhadores.

Os conceitos de ergonomia no Brasil começaram tardiamente em relação a outros países mais


industrializados, apenas em 1960, sendo incialmente utilizados nas empresas de engenharia de produtos.
Na década de 70, com um grande número de acidentes de trabalho em decorrência das condições de
trabalho, ela passa a ser utilizada em todos os ramos industriais.

Em 1975, aconteceu o 1º Seminário Brasileiro de Ergonomia, sendo discutido o enfrentamento aos


acidentes e às duras condições de trabalho na mineração do carvão e na siderurgia na Europa, e de que
maneira essa experiência poderia contribuir para os problemas dos acidentes do trabalho presentes
naquela época, que já buscava uma nova abordagem da análise do trabalho e de suas condições.

Foi a partir da década de 80 que começou o desenvolvimento real da AET, contribuindo adequadamente
para os problemas de saúde associados ao trabalho. Nessa época, estava acontecendo uma epidemia de
tenossinovites entre digitadores, e a metodologia da AET surgiu como uma estratégia adequada para
avaliar as condições de trabalho, buscando por alternativas de melhoria daquele ambiente.

Com essa ação, houve um efeito muito positivo, a publicação de nova versão da Norma
Regulamentadora 17 (NR‑17) no início dos anos de 1990, fundamentada nos princípios da AET e
que, pela primeira vez, incorporava na legislação brasileira a questão da organização do trabalho
(BRASIL, 2002).

Apenas a publicação da NR‑17 não foi suficiente para a melhoria dos ambientes de trabalho, mas
serviu como instrumento para a apropriação da AET, principalmente em diversas instituições públicas –
na saúde, no trabalho ou na justiça –, na academia e até em algumas empresas particulares. A prática
de uma análise ergonômica que atendia aos requisitos qualitativos da norma serviu para fazer avançar a
compreensão da ergonomia da atividade, e não apenas melhorar a condição para evitar punições fiscais
por órgãos de fiscalização.

A ergonomia da atividade quando aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) apresenta como
fundamentos teóricos e metodológicos programas que operacionalizam práticas assistencialistas que
buscam compensar os desgastes vivenciados pelos trabalhadores nos ambientes corporativos.

A ergonomia tem por objetivo adaptar o trabalho ao ser humano, e considerando a abordagem da
QVT, deve identificar as causas mais profundas do mal‑estar no trabalho.

Sob a ótica das organizações, a QVT é um preceito de gestão organizacional que se expressa por
um conjunto de normas, diretrizes e práticas no âmbito das condições, da organização e das relações
133
Unidade II

socioprofissionais de trabalho que visa à promoção do bem‑estar individual e coletivo, o desenvolvimento


pessoal dos trabalhadores e o exercício da cidadania organizacional nos ambientes de trabalho.

Já sob a ótica dos trabalhadores, ela se expressa por meio das representações globais (contexto
organizacional) e específicas (situações de trabalho) que estes constroem, indicando o predomínio de
experiências de bem‑estar no trabalho, de reconhecimento institucional e coletivo, de possibilidade de
crescimento profissional e de respeito às características individuais (FERREIRA, 2012).

A figura a seguir descreve como o modelo de Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de


Vida no Trabalho (EAA-QVT) identificam a necessidade de níveis analíticos, fatores estruturadores e
métodos voltados para a avaliação da qualidade de vida, sendo caracterizada por uma necessidade de
conhecimentos que explicam os mecanismos e os fatores que influenciam as condutas dos indivíduos
em situação de risco ou não no trabalho.

Qualidade de vida
Risco de adoecimento no trabalho (QVT)

Contínuo de representações dos trabalhadores

Mal-estar no trabalho Bem-estar no trabalho


Coexistência
(representações negativas) (representações positivas)

Nível microergonômico

Estratégias operatórias de mediação Eficaz


Ineficaz método. AET
individual/coletiva

Custo humano do trabalho

Físico / cognitivo / afetivo

Relações Reconhecimento
Condições Organização Elo trabalho e
socioprofissionais do e crescimento
de trabalho de trabalho vida escolar
trabalho profissional

Cultura organizacional

Figura 68 – Modelo descritivo teórico‑metodológico da Ergonomia da Atividade


Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho (EAA‑QVT)

134
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

No quadro a seguir são apresentados os fatores que representam o bem‑estar e o mal‑estar


no trabalho. Eles podem levar o trabalhador a vivenciar sentimentos positivos, que serão fatores
de promoção da saúde nas situações de trabalho e indicam a presença de qualidade de vida, e os
sentimentos negativos, que podem ser um fator de risco para a saúde e segurança no ambiente de
trabalho, indicando, desta maneira, a falta de qualidade de vida.

Quadro 3 – Fatores estruturantes das representações de bem‑estar e mal‑estar no trabalho

Equipamentos arquitetônicos (piso, paredes, teto, portas, janelas,


decoração, arranjos físicos, layouts); ambiente físico (espaços
de trabalho, iluminação, temperatura, ventilação, acústica);
Condições do instrumental (ferramentas, máquinas, aparelhos, dispositivos
trabalho informacionais, documentação, postos de trabalho, mobiliário
complementar); matéria‑prima (materiais, bases informacionais);
suporte organizacional (informações, suprimentos, tecnologias,
políticas de remuneração, de capacidade e de benefícios).
Missão, objetivos e metas organizacionais (qualidade e
quantidade, parametragens); divisão do trabalho (hierárquica,
técnica, social); processo de trabalho (ciclo, etapas, ritmos,
tipos de pressão); padrão de conduta (conhecimento, atitudes,
Organização do habilidades previstas, higiene, trajes/vestimenta); trabalho
trabalho prescrito (planejamento, tarefas, natureza e conteúdo das
tarefas, regras formais e informais, procedimentos técnicos,
prazos); tempo de trabalho (jornada, duração, turnos, pausas,
férias, flexibilidade); gestão do trabalho (controles, supervisão,
fiscalização, disciplina).
Relações hierárquicas (chefia imediata, chefia superiores); relações
Relações com os pares colegas de trabalho, membros de equipes); relações
socioprofissionais externas (cidadãos‑usuários dos serviços públicos, clientes e
do trabalho fornecedores de produtos e serviços privados, prestadores de
serviços, auditores, fiscais).
Reconhecimento (do trabalho realizado, do empenho, da
Reconhecimento dedicação, da hierarquia [chefia imediata e superiores], da
e crescimento instituição, dos cidadãos‑usuários/clientes/consumidores,
profissional da sociedade); crescimento profissional (uso da criatividade,
desenvolvimento de competências, capacitações, oportunidades,
incentivos, equidade, carreira).
Sentido do trabalho (prazer, bem‑estar, valorização do tempo
vivenciado na organização, sentimento de utilidade social,
Elo trabalho e vida produtividade saudável); importância da instituição empregadora
social (significado pessoal, significado profissional, significado familiar,
significado social); vida social (relação trabalho‑casa, relação
trabalho‑família, relação trabalho‑amigos, relação trabalho‑lazer,
relação trabalho‑sociedade).

Adaptado de: Ferreira (2015).

Já na figura a seguir é abordado um modelo de investigação da qualidade de vida, que tem como
ponto de partida a demanda que levou àquela investigação. Tem destaque neste tipo de avalição a
compreensão da causa dos indicadores positivos e negativos e de que maneira influenciam a qualidade
de vida no ambiente de trabalho.

135
Unidade II

Demanda: como promover a QVT?

Etapa 1 - Diagnóstico da QVT?

- Pactuação ética: contrato psicológico


Passo - Alinhamento cognitivo de gestores e equipe
- Plano de ação e cronograma Etapa 3 - Formulação
do programa de QVT
Passo 2 Passo 3 Passo 5 Formulação de
Diagnóstico Diagnóstico Programa de Qualidade
microergonômico microergonômico de Vida
Recorte da situação-problema com Definição: projetos, ações,
Definição do público-alvo base nos resultados do diagnóstico indicadores

Planejamento da coleta de dados Pré-validação: gestores e equipe


Levantamento do perfil dos
participantes e adaptação do
IA-QVT Validação com o público-alvo
Sensibilização dos participantes

Sensibilização do público-alvo Divulgação do programa


Análise
Aplicação do Inventário de Grupo focal Formalização do programa
Avaliação de Qualidade de Vida
no Trabalho - IA-QVT Coleta de dados Entrevistas
Etapa 2 - Formulação
Observações de política de QVT
Tratamento dos dados
quantativos e qualitativos Passo 4 Redação política
Medidas
Definição: QVT, princípio, diretrizes
Elaboração de Tratamento dos dados
relatório
Pré-validação: gestores e equipe
Elaboração de
relatório
Tratamento Tratamento Validação com o público-alvo
dos resultados Validação
dos resultados Validação
Divulgação do programa
Divulgação
Divulgação
Formalização do programa

Figura 69 – Modelo metodológico em ergonomia aplicada à qualidade de vida no trabalho

Observação

Dar uma definição para Qualidade de Vida no Trabalho sempre será um


desafio, por se tratar de um conceito que é muito individual e particular.
O conceito de qualidade de vida pode passar por várias áreas e de maneira
diferente entre uma mesma classe de trabalhadores. Essa definição pode
permear condições relacionadas a como os processos de trabalho são
executados, e também de que maneira o trabalhador recebe pelo trabalho
136
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

executado. O importante é determinar quais são os fatores positivos e que


causam bem‑estar ao trabalhador e fazer a manutenção destes, e identificar
aqueles negativos para que possam ser corrigidos.

8.2 Vigilância ocupacional

As ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador são um conjunto de atividades relacionadas ao


binômio saúde‑trabalho, destinadas às ações de vigilância sanitária e epidemiológica, à promoção e
à proteção da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos dos ambientes, das
condições e dos processos de trabalho, da manutenção ou incorporação de tecnologias potencialmente
nocivas à saúde e, ainda, das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição
e manuseio de substâncias, produtos, máquinas e equipamentos.

De acordo com a Portaria nº 2.120, de 1º de julho de 1998, a Vigilância em Saúde do Trabalhador


deve seguir as seguintes ações:

• Intervir nos ambientes, processos e condições de trabalho – através da identificação dos fatores
de risco e cargas de trabalho e da caracterização dos agravos relacionados com o trabalho.

• Eliminar, atenuar ou controlar os fatores determinantes de agravos à saúde – através de subsídios


para: políticas públicas, aprimoramento das normas legais, criação de novas normas, planejamento
e estratégias na atenção, formação, capacitação, treinamento e redes de articulação e informação,
em conjunto com a avaliação do impacto das medidas adotadas para a eliminação, atenuação e
controle dos fatores determinantes de agravos à saúde.

Essas duas ações devem seguir o cumprimento das normas e legislações existentes, nacionais ou, na
ausência destas, internacionais, e da negociação coletiva em saúde do trabalhador, com participação dos
trabalhadores, seus representantes e afins e com a divulgação das informações sobre riscos e agravos,
maior participação e conscientização dos trabalhadores.

Assim, para o estabelecimento de ações em saúde do trabalhador, se faz necessário o estabelecimento


de metas, pactuando com as ações de outras áreas, de maneira a garantir a integralidade da assistência.

Para a investigação da relação saúde‑trabalho, devem ser destacados a anamnese ocupacional e a


utilização de instrumentos de investigação de agravos quando no plano individual. Já no plano coletivo
são necessários estudos epidemiológicos, avaliação de evento sentinela, monitoramento ambiental e
biológico, além da avaliação ergonômica e utilizando metodologias participativas dos trabalhadores
para a investigação do ambiente e condições de trabalho.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, a atenção integral à saúde do trabalhador define
o atendimento integral como o conjunto de ações com prioridade das atividades preventivas, sem
prejuízo para as atividades assistenciais. A Lei nº 8.080, de 1990, estabelece ainda que o princípio da
integralidade deve abranger todas as ações necessárias em todos os níveis de atenção, permitindo desse
modo atividades mais resolutivas.
137
Unidade II

Já de acordo com a PNSST, devem ser consideradas como indissociáveis as ações de promoção e
proteção da saúde, a prevenção de agravos e do adoecimento e as ações assistenciais, que incluem
a reabilitação, em nível individual e coletivo, considerando os aspectos biológicos, sociopolíticos
e culturais envolvidos.

Como já discutido anteriormente, os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas
ao trabalho, por consequência das atividades que exercem em suas profissões ou pelas condições
adversas em que seu trabalho foi realizado. Assim, o perfil de adoecimento e morte pode ser sintetizado
conforme o quadro a seguir:

Quadro 4 – Grupos de causas do adoecimento e morte dos trabalhadores

Grupo Descrição
Doenças “comuns” Aparentemente sem qualquer relação com o trabalho.
Eventualmente modificadas no aumento da frequência de
Doenças “comuns” – sua ocorrência, ou na precocidade de seu surgimento em
crônico‑degenerativas, infecciosas, trabalhadores, sob determinadas condições de trabalho. A
neoplásicas, traumáticas etc. hipertensão arterial em motoristas de ônibus urbanos, nas
grandes cidades, exemplifica essa possibilidade.
A asma brônquica, a dermatite de contato alérgica, a
Doenças “comuns” – têm o perda auditiva induzida pelo ruído (ocupacional), doenças
espectro de sua etiologia ampliado musculoesqueléticas e alguns transtornos mentais exemplificam
ou tornado mais complexo pelo essa possibilidade, à qual, em decorrência do trabalho, somam‑se
trabalho (efeito aditivo) ou multiplicam‑se (efeito sinérgico) as condições
provocadoras ou desencadeadoras desses quadros nosológicos.
Tipificados pelos acidentes do trabalho e pelas doenças
Agravos à saúde específicos profissionais. A silicose e as asbestose exemplificam este grupo de
agravos específicos.

Adaptado de: Mendes e Dias (1999).

Os Grupos 2, 3 e 4 constituem a família das doenças relacionadas com o trabalho, e a natureza dessa
relação é sutilmente distinta em cada grupo, conforme o quadro a seguir:

Quadro 5 – Classificação das doenças relacionadas com o trabalho

Grupo Descrição
Doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas doenças
I profissionais e pelas intoxicações agudas de origem ocupacional.
Doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco contributivo, mas
não necessário, exemplificadas pelas “doenças comuns” mais frequentes ou
mais precoces em determinados grupos ocupacionais, e para as quais o nexo
II causal é de natureza eminentemente epidemiológica. A hipertensão arterial e
as neoplasias malignas em determinados grupos ocupacionais ou profissões
constituem exemplo típico.
Doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente ou
agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa,
III tipificadas pelas doenças alérgicas de pele e respiratórias e pelos distúrbios
mentais, em determinados grupos ocupacionais ou profissões.

Adaptado de: Schilling (1984).

138
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Observação

Fator de risco representa uma característica do indivíduo ou de


condições ou situações ambientais que, quando presentes, aumentam a
probabilidade de aparecimento e/ou agravamento de doenças.

Concausa significa ação, omissão ou fato que concorre com uma conduta
humana para a prática da infração penal. Tudo o que contribui para o acidente
de trabalho é a causa, concausa ou condição. A concausa ocorre quando
há contribuição multifatorial para o acometimento do resultado, que, neste
caso, é a ocorrência do acidente do trabalho (típico ou atípico).

Para o estabelecimento da relação entre o adoecimento ou agravo e o trabalho é essencial que os


profissionais de saúde que cuidam do trabalhador conheçam o trabalho executado pelo indivíduo, as
condições em que é realizado, os fatores de risco percebidos e os existentes, sempre por meio de uma
escuta qualificada e com uma postura acolhedora, permitindo assim maior proximidade do trabalhador
com o serviço de saúde.

A saúde do trabalhador, através de suas formas de intervenção nos ambientes de trabalho, sempre
buscou por superar o efeito de causa e efeito e o do processo saúde e doença. A Vigilância em Saúde do
Trabalhador deve, então, abordar não só apenas os riscos, mas os agravos e os efeitos à saúde. Devem
ser avaliados os processos de trabalho e os determinantes das condições dentro do ambiente de trabalho
que possam favorecer a promoção da saúde.

A Vigilância em Saúde do Trabalhador deve valorizar a subjetividade e o saber dos trabalhadores,


buscando articular formas de ser instrumento de transformação social, sendo uma área em que se
possam compor equipes de diversas áreas de conhecimento – médicos do trabalho, assistentes sociais,
dentistas, educadores, enfermeiros, engenheiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, sociólogos, entre
outros –, de maneira a favorecer a contextualização, a interpretação e a compreensão das relações
sociais, bem como as técnicas que envolvem os processos de produção.

A Vigilância em Saúde do Trabalhador deve ter o objetivo de promover e proteger a saúde do


trabalhador, de maneira a evitar situações e condições de sofrimento que levam ao adoecimento e
à ocorrência de acidentes de trabalho. O papel da vigilância não é de ser um agente fiscalizador, mas
educativo e sensibilizador, que possa ser transformador no ambiente de trabalho, articulando as ações
integrais entre os trabalhadores e os empregadores.

A Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador, publicada pela Portaria nº 3.120/98,


conceitua a Vigilância em Saúde do Trabalhador como:

[...] uma atuação contínua e sistemática ao longo do tempo, no sentindo


de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e

139
Unidade II

condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e ambientes


de trabalho, em seus aspectos tecnológicos, social, organizacional e
epidemiológico com a finalidade de planejar, executar e avaliar intervenções
sobre esses aspectos, de forma a eliminá‑los ou controlá‑los (BRASIL, 1998c).

Muita confusão ainda acontece em relação às diferentes vigilâncias determinadas nas legislações atuais:

• A Vigilância Epidemiológica tem a atuação no limite técnico das informações sobre a ocorrência
das doenças.

• A Vigilância Sanitária tem atuação na intervenção dos fatores que contribuem para a ocorrência
de doenças e que podem colocar em risco a saúde de uma população.

• A Vigilância em Saúde do Trabalhador deve superar essa dicotomia e integrar as diferentes ações,
identificando o problema de saúde, e realizar as intervenções necessárias para as mudanças no
processo de trabalho.

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos a respeito dos Indicadores e


Dados Básicos – IDB, no Brasil, faça um passeio pelos dados disponíveis
no site do Datasus.

BRASIL. Ministério da Saúde. IDB‑2011: indicadores e dados básicos.


Disponível em: <http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?acao=
11&id=29010>. Acesso em: 20 dez. 2016.

8.3 Risco ocupacional

Para a avaliação do risco ocupacional é preciso primeiro entender a diferença entre o conceito de
risco e de perigo. Conforme dissemos anteriormente, risco é a probabilidade de perigo, geralmente, com
ameaça física para o homem e/ou para o ambiente, enquanto perigo é a situação em que a existência
ou a integridade de uma pessoal, um animal ou um objeto se encontra sob ameaça.

Como o risco está relacionado com a probabilidade de eventos ou falhas de componentes em processos
produtivos, a avaliação de risco deve servir para a identificação da probabilidade de ocorrência de perigos,
desenvolvendo cenários e analisando consequências dos acidentes, em especial particularmente nos casos
que resultam em exposição de trabalhadores e emissões de poluentes para o meio ambiente.

Avaliação de risco é a atividade científica que analisa as propriedades tóxicas de uma substância e
as condições de exposição em humanos, tanto para verificar a possibilidade de que os humanos expostos
se vejam afetados adversamente como para caracterizar a natureza dos efeitos que podem experimentar.

140
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

A avaliação de risco permite maior compreensão dos problemas ocupacionais e ambientais que podem
ocasionar efeitos adversos à saúde. A metodologia de avaliação de risco foi sendo aprimorada, e de acordo
com o entendimento de que as condições, as formas de trabalho e os processos produtivos são determinantes
para a relação saúde‑doença e para contaminação ambiental, passou a ser um instrumento utilizado
de maneira interdisciplinar e intersetorial, garantindo a participação dos trabalhadores e das populações
envolvidas nas áreas de vigilância em saúde do trabalhador, vigilância ambiental e epidemiológica, com o
objetivo de resultar em ações de prevenção, minimização e eliminação de riscos à saúde.

A avaliação de risco é um procedimento utilizado para sintetizar as informações disponíveis e os


julgamentos sobre elas, buscando identificar os riscos associados à exposição aos agentes perigosos e
determinando a possibilidade de efeitos adversos em todas as espécies e ecossistemas expostos.

A avaliação e o gerenciamento de riscos são ferramentas importantes para a vigilância ambiental e


em saúde do trabalhador, e deve seguir as seguintes etapas:

• Identificação do perigo.

• Estabelecimento do nível de dose‑resposta.

• Avaliação da exposição.

• Caracterização dos riscos.

Somente a partir da caracterização dos riscos é que são tomadas as decisões para o desenvolvimento
de estratégias de gerenciamento de riscos, que serão afetadas diretamente por fatores culturais, sociais,
políticos e econômicos.

A identificação do perigo consiste em buscar informações sobre as substâncias químicas a


respeito das suas características físico‑químicas, seus efeitos toxicológicos em estudos experimentais
e epidemiológicos e seu impacto ambiental. Nessa etapa é definido o perfil qualitativo do risco,
determinando o grau de toxicidade das substâncias.

Na identificação do perigo, os objetivos são:

• Identificar os órgãos ou sistemas específicos do corpo que possam ser afetados.

• Encontrar anomalias ou enfermidades específicas que possam ser produzidas.

• Estabelecer as condições de exposição e doses que causem formas específicas de danos ou doenças.

• Verificar a natureza e a evolução específica das doenças produzidas por uma substância.

• Investigar os processos biológicos que fundamentam a produção do dano ou doença observada.

141
Unidade II

Na avaliação da relação dose‑resposta, deverão ser levantadas todas as informações sobre a substância,
estabelecendo as concentrações que produzem um determinado efeito adverso ou efeito tóxico. Essas
doses de exposição estarão relacionadas às concentrações no ambiente e a duração e frequência, além de
fatores temporais que possam ser determinantes da exposição. Essas características da exposição e de todo
o espectro de efeitos que podem advir dela são correlacionados e conhecidos como dose‑resposta.

Entre os indivíduos de uma população, há grande variabilidade de resposta à exposição às substâncias


químicas. Isso se deve a vários fatores, como diferentes etnias, estado nutricional, grupos vulneráveis
(crianças, idosos e gestantes) e estado fisiopatológico.

Assim, é possível identificar que em uma população geral há indivíduos que respondem a doses
muito baixas (os hipersensíveis), e aqueles que são mais resistentes e irão apresentar efeitos apenas com
doses muito mais elevadas. Nessa etapa de avaliação, é preciso determinar níveis aceitáveis de exposição
à substância. Essa dose considerada como aceitável é a dose de referência (DRf), uma estimativa da
exposição diária em uma população humana, que pode se apresentar sem riscos aparentes ou efeitos
deletérios durante a vida.

Na terceira etapa, de avaliação da exposição são considerados três tipos de exposição – de consumo,
ambiental e ocupacional. A exposição a uma substância pode acontecer por intermédio de alimentos
contaminados, produtos de higiene, cosméticos e por acidente.

A exposição ambiental é contaminação de alimentos, ar e água, de maneira direta ou indireta,


relacionada com o processo produtivo, em que houve a contaminação pelas substâncias químicas, seja
pelo solo, ar ou água.

Por fim, a exposição ocupacional é aquela avaliada diretamente no ambiente de trabalho.

Para a avaliação da exposição é importante que algumas questões sejam levadas em consideração:

• Quais são as vias de absorção (inalatória, dérmica ou oral) e quais as rotas de exposição (solo,
água ou ar)?

• Como as pessoas estão expostas? Em que situação (diretamente no seu processo de trabalho,
indiretamente ligadas ao processo de trabalho)? Há quanto tempo?

• Quais são as vias de exposição?

• Qual o grau de absorção pelas diversas vias de exposição?

• Quem são as pessoas expostas?

• Há grupos de alto risco?

• Qual a intensidade, duração e frequência da exposição?


142
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Na última etapa, a de caracterização do risco, se faz uma análise integrada dos resultados, reunindo
as informações das etapas anteriores. Assim o objetivo principal passa a ser a realização de um relatório,
com o maior nível possível de detalhamento dos resultados, das abordagens utilizadas e dos cenários de
exposição identificados na avaliação.

Com a realização dessas etapas, inicia‑se o gerenciamento de riscos, analisando os dados


qualitativos e quantitativos acerca do caso, selecionando e implementando estratégias mais
apropriadas para o controle e a prevenção de riscos. Essas estratégias irão envolver a regulamentação,
a disponibilidade de tecnologias de controle, a análise de custos e benefícios, a aceitabilidade de
riscos, a análise de seus impactos nas políticas públicas, nas estratégias das empresas e nos diversos
setores sociais e políticos.

A proposta final do gerenciamento de riscos é dar subsídios para a tomada de decisões normativas,
que podem incluir:

• Redução de riscos para a saúde pública, o meio ambiente, visando ao bem‑estar geral.

• Redução de riscos para limites abaixo do nível crítico.

• Fomento da participação do público.

• Incentivo do uso de tecnologias ecologicamente mais adequadas.

• Maximização do custo efetivo das ações.

• Tomada de decisão no sentido de não intervir. A sociedade pode assumir que o risco não deve ser
eliminado nesse momento.

• Determinação de medidas drásticas sobre as consequências e não sobre as causas.

• Adoção de medidas baseadas em incentivos econômicos. De acordo com as prioridades


estabelecidas, as medidas a serem adotadas podem receber aportes financeiros específicos de
fontes públicas ou privadas.

• Adoção de ações preventivas.

• Evolução de uma cadeia de decisões baseada no desenvolvimento de tecnologias de controle


e prevenção.

• Combinação de decisões.

143
Unidade II

Lembrete

Avaliação de risco é a atividade científica que analisa as propriedades


tóxicas de uma substância e as condições de exposição em humanos,
tanto para verificar a possibilidade de que os humanos expostos se vejam
afetados adversamente como para caracterizar a natureza dos efeitos que
podem experimentar.

8.4 LER/Dort

A expressão LER (Lesões por Esforços Repetitivos) surgiu oficialmente no Brasil em 1997, com a
publicação da Portaria nº 4.062, que reconheceu a tenossinovite como uma doença relacionada ao
trabalho. A tenossinovite é uma inflamação dos tendões e das membranas que recobrem os tendões,
provocando dor, falta de força e inchaço no local. Essa doença foi chamada, muitas vezes, de tenossinovite
do digitador (BRASIL, 2001b).

Aqui, vale fazer uma diferenciação: segundo a Organização Mundial da Saúde, os distúrbios de
saúde relacionados à atividade laboral se dividem em duas categorias – doença profissional e doença
relacionada ao trabalho.

As doenças profissionais são aquelas inerentes à atividade profissional, pois não há como o
trabalhador atuar sem estar exposto ao agente causador da doença. Um exemplo disso é o cantor de
rock – não é possível cantar em uma apresentação sem estar exposto a um som extremamente alto, o
que ocasiona perdas auditivas. Aqui, há uma relação direta entre causa e efeito.

No caso das doenças relacionadas ao trabalho, não é possível identificar um agente específico
entre os que estão relacionados à atividade profissional. É o caso do professor, que usa a voz como
instrumento de trabalho. A utilização da voz está condicionada ao comportamento da classe, à matéria
dada, à hidratação da garganta, à umidade relativa do ar, ao seu período de descanso, enfim, a uma
gama enorme de fatores.

A expressão LER passou a ser usada indiscriminadamente, abrangendo os distúrbios ou doenças do


sistema músculo‑esquelético‑ligamentar, relacionados ou não ao trabalho. Nesse panorama, a expressão
se tornou imprecisa, e os diagnósticos, muitas vezes, deixaram de ser tendinite ou bursite e passaram a
ser LER (BARBOSA, 2009).

Em 1998, por meio da Ordem de Serviço INSS/DSS nº 606, foi adotada a terminologia Doença
Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (Dort), equiparando‑a à LER para respeitar a literatura já
existente na época. A partir daí, as expressões LER e Dort aparecem juntas, na forma LER/Dort.

Apesar dessa equiparação, para efeito de continuidade histórica da literatura publicada, a OS nº 606
justifica a mudança de terminologia afirmando que:

144
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

[...] o termo LER é genérico, e o médico deve sempre procurar determinar


o diagnóstico específico. Como se refere a diversas patologias distintas,
torna‑se difícil estabelecer o tempo necessário para uma lesão persistente
passar a ser considerada como crônica. Além disso, até a mesma patologia
pode se instalar e evoluir de forma diferente, dependendo dos fatores
etiológicos (BRASIL, 2003).

Com todas essas limitações, o que se pode dizer é que as lesões causadas por esforços repetitivos são
patologias, manifestações ou síndromes patológicas que se instalam insidiosamente em determinados
segmentos do corpo, em consequência de trabalho realizado de forma inadequada.

Assim, o nexo é parte indissociável do diagnóstico que se fundamenta numa


boa anamnese ocupacional e em relatórios de profissionais que conhecem
a situação de trabalho, permitindo a correlação do quadro clínico com a
atividade ocupacional efetivamente desempenhada pelo trabalhador, donde
a proposta da nova terminologia é Distúrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho – Dort (BRASIL, 1998a).

As doenças enquadradas nesse grupo compreendem uma heterogeneidade de distúrbios funcionais


e/ou orgânicos, que manifestam em seu portador sintomas comuns, muitas vezes, inespecíficos, como:

• Fadiga muscular.

• Dor.

• Parestesia.

• Sensação de peso.

• Mal‑estar.

• Processos inflamatórios em tendões, ligamentos e bursas sinoviais.

• Contraturas musculares.

O desenvolvimento da LER/Dort está relacionado a diversas causas. Então, é muito importante


analisar cada caso e determinar quais os fatores de risco envolvidos de forma direta ou indireta
na ocorrência.

Esses fatores de riscos são determinados por meio de anamnese feita pelo médico do trabalho,
procurando identificar as interações entre os possíveis fatores de riscos e se essa interação é capaz de
ultrapassar a capacidade de regeneração do tecido muscular, mesmo que o funcionamento deste esteja
parcialmente mantido.

145
Unidade II

Nessa caracterização, é importante observar alguns elementos, como:

• A região anatômica e a biomecânica associada a ela.

• A intensidade do esforço.

• A organização temporal do trabalho (a duração do ciclo de trabalho e a distribuição das pausas).

• A adequação do posto de trabalho.

• O conforto ambiental.

• A carga estática.

• A invariabilidade da tarefa.

• As exigências de atenção, provocando aumento de tensão muscular ou reação mais generalizada


de estresse.

• Os fatores psicossociais ligados ao trabalho, como percepções relativas à carreira, à carga e ao


ritmo de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho.

As LER/Dort são doenças de notificação obrigatória. Quando o médico do trabalho suspeitar de


uma LER/Dort, deve emitir uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para o INSS, mesmo que a
doença não provoque a incapacitação do trabalhador ou gere o seu afastamento.

A CAT é um documento utilizado pelo INSS para a obtenção de dados relativos aos acidentes
do trabalho e às doenças ocupacionais. O objetivo dessa captação é fornecer informações para o
enquadramento das empresas segundo os graus de risco no ambiente do trabalho, para o cálculo da
contribuição da empresa ao INSS, destinada ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do
grau de incidência dos acidentes, e subsidiar políticas de prevenção e fiscalização das empresas.

8.4.1 Ginástica laboral

A ginástica laboral começou na indústria com o objetivo de dar repouso ativo aos operários por alguns
períodos durante sua jornada de trabalho. A primeira referência bibliográfica de que se tem notícia sobre esse tipo
de experiência é um manual editado na Polônia, em 1925. Posteriormente, surgiram também outras publicações
na Holanda e na Rússia. Neste último país, milhões de operários em milhares de empresas passaram a praticar a
ginástica laboral, adaptada a cada ocupação, nas décadas anteriores à Segunda Guerra Mundial.

Nos anos 1960, já com o nome ora apresentado, a ginástica laboral renasceu na Bulgária, na
Alemanha, na Suécia e no Japão, sendo que, neste último, consolidou‑se sua obrigatoriedade com
relação a determinadas tarefas industriais. Nos EUA, desde 1974, trabalhadores de empresas estão
envolvidos em programas diários de ginástica durante a jornada de trabalho.
146
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

A ginástica laboral visa à promoção da saúde e melhora das condições de trabalho, além da
preparação biopsicossocial dos participantes. Contribui direta ou indiretamente para a redução de lesões
por esforços repetitivos, consequentemente proporcionando aumento da produtividade com qualidade.

Há três tipos de ginástica utilizados pelas empresas:

• Ginástica compensatória – praticada antes do expediente, tem como objetivo proporcionar


aquecimento para o trabalhador.

• Ginástica de pausa – praticada no meio do expediente, tem como meta aliviar as tensões e
fortalecer os músculos do trabalhador.

• Ginástica de relaxamento ou compensatória – praticada após o expediente, tem como alvo


proporcionar relaxamento muscular e mental aos trabalhadores.

Saiba mais

O uso da ginástica laboral foi adotado nos anos 1980 pela indústria
automotiva japonesa, então em franca expansão no mercado americano. A
comédia Fábrica de Loucuras retrata os conflitos entre o modo de produção
oriental e o ocidental na época e mostra aplicações de ginástica laboral.

FÁBRICA de loucuras. Dir. Ron Howard. EUA: Paramount Pictures, 1986.


112 min.

Certas empresas, setores de escritório e outros, muitas vezes, colocam o indivíduo em inatividade
motora, causando‑lhe grandes problemas. Exemplo disso são trabalhadores com problema de coluna,
pressão arterial etc. Algumas empresas renomadas já constataram resultados positivos na prevenção
de acidentes de trabalho, promoção da saúde e lazer para os trabalhadores, proporcionando melhor
rendimento no trabalho.

É de grande importância que a maioria das empresas adote o programa para melhoria da qualidade
de vida (ginástica laboral) dos funcionários contratando um profissional especializado. Com certeza, não
só teremos melhor produtividade, mas melhor relacionamento recíproco nas atividades diárias.

Resumo

A respeito de equipamentos de proteção individual (EPIs), a Norma


Regulamentadora 6 considera EPI todo dispositivo ou produto de uso
individual utilizado pelo trabalhador e destinado à proteção de riscos
suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. A empresa é

147
Unidade II

obrigada a fornecer EPIs adequados ao risco e treinar o trabalhador para seu


uso adequado. Para serem confiáveis, os EPIs precisam ter um Certificado
de Aprovação (CA) emitido pelo Ministério do Trabalho mediante um laudo
feito por um laboratório credenciado pelo Inmetro. No Brasil, só podem ser
comercializados EPIs que possuam CA.

Também estudamos a respeito de LER/Dort. A expressão LER (Lesões por


Esforços Repetitivos) surgiu oficialmente no Brasil em 1997. Com seu uso
geral e indiscriminado, a expressão se tornou imprecisa, e os diagnósticos,
muitas vezes, deixaram de ser tendinite ou bursite e passaram a ser LER. Em
1998, o INSS adotou a terminologia Doença Osteomuscular Relacionada ao
Trabalho (Dort), equiparando‑a à LER para respeitar a literatura já existente
na época. A partir daí, as expressões LER e Dort aparecem juntas, na forma
LER/Dort.

A ginástica laboral contribui direta ou indiretamente para a redução de


LER. Ela pode ser aplicada em três situações diferentes: antes do expediente
(ginástica compensatória), durante (ginástica de pausa) e depois (ginástica
de relaxamento).

Exercícios

Questão 1. (FCC, 2008) Os materiais utilizados nos procedimentos de enfermagem são submetidos
a processos diferenciados que visam a não disseminação de infecção. Um desses processos é a:

A) Esterilização: método utilizado para destruir todas as formas de vida microbiana, por meio do uso
de agentes físicos ou químicos.

B) Desinfecção de nível intermediário: método de destruição de microrganismos em estado vegetativo,


inclusive as formas esporuladas e microbactérias, utilizando agentes físicos ou químicos.

C) Desinfecção de alto nível: método capaz de eliminar todos os microrganismos e esporos bacterianos,
exceto os esporos virais.

D) Pasteurização: método de desinfecção dos circuitos de assistência ventilatória, realizada em


autoclave de alta pressão e à temperatura de 37 ºC (trinta e sete).

E) Desinfecção de baixo nível: método de remoção de sujidades por meio de fricção e uso de água e
sabão ou soluções detergentes.

Resposta correta: alternativa A.

148
BIOSSEGURANÇA E ERGONOMIA

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: esterilização é o processo que visa destruir todas as formas de vida e seu desenvolvimento.
Pode ser pelo processo físico ou físico‑químico.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: desinfecção de nível intermediário elimina a maioria das bactérias vegetativas, alguns
vírus e fungos.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: desinfecção de alto nível não elimina todos os microoorganismos. Elimina Mycobacterium
tuberculosis, Enterovirus, bactérias vegetativas, fungos e vírus pouco resistentes.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: na pasteurização o processo não destrói esporos bacterianos. Não se trata de desinfecção
de baixo nível e sim de limpeza.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: elimina a maioria das bactérias vegetativas, alguns vírus e fungos.

Questão 2. Quanto aos equipamentos de proteção individual, cabe ao empregador:

I – Ditar as normas para sua confecção.

II – Exigir o seu uso.

III – Adquirir o equipamento adequado para cada atividade.

IV – Responsabilizar‑se pela higienização e manutenção periódica.

V – Orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação.

Assinale a alternativa que contém as afirmativas verdadeiras.

A) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.

B) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.

149
Unidade II

C) Somente as afirmativas lI, III, IV e V são verdadeiras.

D) Somente as afirmativas lII e lV são verdadeiras.

E) Somente as afirmativas I, ll e V são verdadeiras.

Resolução desta questão na plataforma.

150
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 39

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Figura 40

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preparação alcoólica e com sabonete líquido e água. Disponível em: <http://www20.anvisa.gov.br/
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Figura 46

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Figura 47

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Figura 50

Grupo Unip‑Objetivo.

Figura 56

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151
Figura 57

EQUIP_AUTONOMO1‑150X150.JPG. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/emergencias‑quimicas/


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Figura 58

PROTETORES.JPG. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/emergencias‑quimicas/wp‑content/uploads/


sites/53/2015/03/protetores.jpg>. Acesso em: 21 dez. 2016.

Figura 59

ASLATEX‑300X189.JPG. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/emergencias‑quimicas/wp‑content/


uploads/sites/53/2015/03/luvaslatex‑300x189.jpg>. Acesso em: 21 dez. 2016.

Figura 60

LUVASPVC‑300X204.JPG. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/emergencias‑quimicas/wp‑content/


uploads/sites/53/2015/03/luvaspvc‑300x204.jpg>. Acesso em: 21 dez. 2016.

Figura 61

BOTA_PVC.JPG. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/emergencias‑quimicas/wp‑content/uploads/


sites/53/2015/03/bota_pvc.jpg>. Acesso em: 21 dez. 2016.

Figura 62

ROUPAA1.JPG. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/emergencias‑quimicas/wp‑content/uploads/


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Figura 63

ROUPAC1.JPG. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/emergencias‑quimicas/wp‑content/uploads/


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Figura 68

FERREIRA, M. C. Qualidade de vida no trabalho: uma abordagem centrada no olhar dos trabalhadores.
2. ed. Brasília: Paralelo 15, 2012. p. 177.

Figura 69

FERREIRA, M. C. Qualidade de vida no trabalho: uma abordagem centrada no olhar dos trabalhadores.
2. ed. Brasília: Paralelo 15, 2012. Adaptado.
152
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Exercícios

Unidade I – Questão 1: CETRO. ANVISA 2013: Especialista em regulação – Vigilância sanitária – Área 1.

Unidade I – Questão 2: BIO‑RIO. IF‑RJ 2015: Médico nutrologista.

Unidade II – Questão 1: FCC. TRT 2ª REGIÃO (SP) 2008: Técnico Judiciário – Enfermagem.

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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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