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Lucimar Barbosa da Motta, bióloga formada pela Fundação Educacional Miguel Mofarrej de Ourinhos – SP. Mestre
e doutora pela Universidade de São Paulo. Suas pesquisas na área de botânica abordaram temas de pesquisas, evolução
química, taxonômica e ecológicos de plantas nativas, sistemática molecular e potencial de aproveitamento econômico
de espécies nativas. Atua no ensino do nível superior desde 2012, no curso de graduação de Ciências Biológicas, pela
Universidade Paulista, com atuação nas disciplinas das subáreas da Botânica (Botânica de Criptógamas, Botânica de
Fanerógamas, Fisiologia Vegetal e Botânica Econômica).
CDU 581
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Gustavo Guiral
Cristina Z. Fraracio
Sumário
Botânica – Criptógamas
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA.....................................................................9
1.1 Introdução à classificação....................................................................................................................9
1.2 Abordagens históricas das classificações botânicas............................................................... 11
1.3 Abordagem histórica das classificações dos seres vivos....................................................... 14
2 ESTUDOS DOS FUNGOS E LÍQUENS.......................................................................................................... 17
2.1 Introdução................................................................................................................................................ 17
2.2 Características básicas dos fungos................................................................................................. 18
2.3 Classificações dos fungos.................................................................................................................. 23
2.4 Líquens: associação entre algas e fungos................................................................................... 25
3 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS MICROALGAS..................................................................................... 29
3.1 Introdução................................................................................................................................................ 29
3.2 Cianobactérias........................................................................................................................................ 32
3.3 Seres euglenoides.................................................................................................................................. 34
3.4 Microalgas criptófitas.......................................................................................................................... 35
3.5 Microalgas haptófitas.......................................................................................................................... 36
3.6 Dinoflagelados........................................................................................................................................ 36
3.7 Algas diatomáceas................................................................................................................................ 38
3.8 Algas crisófitas....................................................................................................................................... 39
4 MACROALGAS: ASPECTOS MORFOLÓGICOS, EVOLUTIVOS E ECONÔMICOS............................ 40
4.1 Introdução................................................................................................................................................ 40
4.2 Algas pardas............................................................................................................................................ 41
4.3 Algas vermelhas..................................................................................................................................... 43
4.4 Algas verdes............................................................................................................................................. 45
Unidade II
5 AS PLANTAS E A CONQUISTA DO AMBIENTE TERRESTRE................................................................ 56
6 PLANTAS TERRESTRES AVASCULARES: BRIÓFITAS............................................................................. 61
Unidade III
7 ORIGEM DAS TRAQUEÓFITAS...................................................................................................................... 74
8 PLANTAS VASCULARES SEM SEMENTES: PTERIDÓFITAS.................................................................. 79
8.1 Introdução................................................................................................................................................ 79
8.2 Aspectos reprodutivos......................................................................................................................... 81
8.3 Aspectos vegetativos........................................................................................................................... 83
8.4 Diversidade e classificação................................................................................................................ 85
8.5 Relevância econômica......................................................................................................................... 90
APRESENTAÇÃO
A disciplina tem o objetivo de reconhecer a importância da sistemática no estudo dos seres vivos,
identificar aspectos morfológicos e taxonômicos de criptógamos e relacioná‑los a seus ciclos de vida,
aprender a manusear chaves de identificação, identificar aspectos relevantes da vida dos seres vivos
estudados e conciliar o estudo dos diferentes grupos de seres vivos com a melhoria da qualidade de vida
humana e a preservação do meio ambiente, pois todos esses aspectos são relevantes para diferentes
campos de atuação de biólogos.
Como material auxiliar para a disciplina, este livro‑texto está estruturado em unidades dedicadas a
introduzir a ciência da diversidade biológica; ao estudo dos fungos e líquens; ao estudo das microalgas;
aos aspectos morfológicos, evolutivos e econômicos das macroalgas. Também estudaremos as plantas,
a conquista do ambiente terrestre e as plantas terrestres avasculares (briófitas). Por fim, trataremos da
origem das traqueófitas e das plantas vasculares sem sementes (pteridófitas).
INTRODUÇÃO
Tais conhecimentos serão fundamentais para entender como esses grupos fazem parte da natureza
e do nosso dia a dia, bem como para planejar projetos de conservação e de uso sustentável, capacitando
assim o profissional com vistas à sua inserção no mercado de trabalho, com sucesso em diferentes áreas
de atuação com tais organismos como o meio ambiente, a biodiversidade, a biotecnologia, ou até a
aplicação econômica.
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BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Unidade I
1 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA
Quando deparamos com uma grande variedade de objetos à nossa volta, somos levados pela tendência
a reunir em grupos aqueles que são semelhantes, isto é, a classificá‑los (figura 1). Classificamos as coisas,
porque isso as torna mais facilmente compreensíveis. As ciências responsáveis por esse aspecto são a
Sistemática e a Taxonomia da diversidade biológica. O estudo de ambas abrange diferentes abordagens:
a Sistemática ocupa‑se da diversidade e das relações de parentesco entre os organismos, já a Taxonomia,
das normas de nomenclatura e classificação dos organismos.
Observação
Lembrete
As principais categorias taxonômicas, as quais todo ser vivo está submetido, são Reino, Filo, Classe,
Ordem, Família, Gênero e Espécie, mas também há categorias adicionais, como Subclasse, Subfamília,
Secção etc. – estas são próprias apenas a alguns grupos mais complexos.
• Toda espécie recebe dois nomes (nomenclatura binominal): o primeiro refere‑se ao gênero e o
segundo, à espécie.
Um táxon é um grupo formado por agrupamentos de organismos, como: Reino Plantae, Filo Lycopodiophyta,
Família Lycopodiaceae, Gênero Lycopodium. Os sistemas de classificação devem conter as categorias taxonômicas
organizadas hierarquicamente, dentro das quais diferentes grupos de organismos devem ser situados.
Algumas regras básicas devem ser observadas em relação ao uso correto da nomenclatura botânica,
para que se universalizem os nomes dados aos diferentes táxons. Os nomes científicos de plantas seguem
o Código Internacional de Nomenclatura Botânica (BICUDO; PRADO, 2007), que é atualizado durante
os Congressos Internacionais de Botânica. Esse código não dispõe apenas sobre plantas terrestres, mas
também protistas, algas e fungos.
fim é servir à identificação dos distintos grupos taxonômicos, frequentemente artificiais. Os caracteres
têm de ser claros, menos plásticos e com menos métodos ou materiais para sua identificação.
As chaves são geralmente dicotômicas, podendo ser escritas em formato identado ou pareadas.
Ela oferece uma série de alternativas entre dois caracteres mutuamente excludentes: se o usuário
fizer a escolha correta, será levado ao nome do objeto desconhecido. Também existem chaves
de múltiplos acessos, as quais possuem um número muito maior de caracteres que podem ser
consultados em qualquer ordem. Dessa forma, se alguma estrutura estiver faltando no exemplar,
pode‑se pular esse passo e obter um grupo de poucos nomes que poderão corresponder ao
exemplar em questão.
Os primeiros sistemas de classificação foram elaborados na Antiguidade. Seu intuito era informar às
pessoas a utilidade dessas plantas. No período entre 370 e 285 a.C., Theophrastus, considerado pai da
botânica, classificou as plantas em árvores, arbustos, subarbustos e ervas, além de muitos dos nomes
atuais de plantas terem sido batizados por ele.
San Alberto Magno, em 1193, escreveu De Vegetabilis, também descrevendo detalhadamente muitas
plantas; acredita‑se ter sido ele o primeiro a distinguir monocotiledôneas de dicotiledôneas.
Com o surgimento da imprensa nos séculos XVI e XVII, o interesse e a difusão da botânica aumentaram
bastante a partir das muitas publicações a respeito, principalmente na Alemanha.
Observação
Linnaeus (figura 2) foi naturalista, escritor e médico sueco (1707 – 1778) interessou‑se
por plantas já na infância. Seu pai, pastor luterano, também gostava de botânica – a ponto
de mudar o nome da família para Linné, em homenagem à árvore da tília (em alemão, linde).
O naturalista é considerado pai da Taxonomia, tal como ela é conhecida atualmente, por ter
criado o sistema binomial de nomenclatura, como vimos. Em suas obras Genera Plantarum e
Species Plantarum, elaborou sistema muito útil para identificação de plantas baseado apenas
em características reprodutivas das plantas, embora as relações naturais entre os grupos não
tenham sido enfatizadas (figura 3).
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BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
No final do século XVIII, muitos botânicos dedicaram‑se à busca de afinidades naturais entre
as plantas, passando a empregar um número de caracteres muito superior ao de Lineu para
atingir esse propósito. Michel Adanson, em sua obra Families des Plantes, dá o mesmo peso a
cada caráter observado, valendo‑se de caracteres morfológicos, químicos, ecológicos e biológicos.
Antoine‑Laurent De Jussieu, em Genera Plantarum, observa que certos caracteres têm maior peso
na classificação. Agustin Pyramus de Candolle baseou‑se no sistema de Jussieu e separou algas de
fungos e briófitas. Mais tarde, seu filho Alphonse de Candolle, em 1844, une pteridófitas a briófitas.
E M. Wilkomm, em 1854, apresenta uma das melhores classificações de sua época, segundo a
qual são divididos os vegetais em criptógamas e fanerógamas; desse modo, ele foi um dos
primeiros a separar gimnospermas de angiospermas, levando em consideração monocotiledôneas
e dicotiledôneas como classes de angiospermas.
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Unidade I
Os sistemas filogenéticos, assim como a taxonomia numérica, também objetivam conferir mais
objetividade à construção das classificações. Têm sua origem no trabalho do entomólogo alemão Willi
Hennig. A partir da segunda metade da década de 1970, o número de seguidores e publicações em
cladística cresce. Hoje, o que se conhece como cladística reúne quase todas as tendências derivadas
da prática filogenética. Considera‑se transformação o processo histórico real da evolução. Baseiam‑se
em sinapomorfias para construir grupos monofiléticos, e os demais grupos são arbitrários. Após esse
período, a botânica evoluiu e diversificou muito seus métodos, cativando maior aceitação na comunidade
científica, além de atualmente contar com o auxílio da reconstrução filogenética por meio da sistemática
molecular (JUDD, 2009).
O surgimento dos organismos vivos na Terra é um dos fatos mais intrigantes para nós. Várias são
as hipóteses dessa origem. Entre elas, a mais aceita procede de um cenário proposto por Oparin, em
que o oceano primitivo seria rico em compostos químicos energéticos e que a interação entre eles teria
levado à produção de moléculas complexas autorreplicativas, por exemplo, o RNA, que, eventualmente,
por processos ainda não muito claros, tornaram‑se entidades celulares autorreplicativas. Segundo esse
cenário, os primeiros organismos vivos seriam procariontes heterotróficos, tendo as linhas autotróficas
surgido posteriormente. Os eucariontes teriam sido originados a partir de procariontes com capacidade
de fagocitose e que, ao fagocitar outros procariontes, adquiriram capacidades metabólicas adicionais.
Esses procariontes fagocitados foram simplificando‑se e especializando‑se gradualmente, originando as
organelas das células atuais, além de contribuírem com genes para a formação do núcleo. Essa célula
hospedeira primitiva foi denominada de urcarioto.
Inicialmente, todos os seres vivos eram classificados como plantas ou animais, mas, após a invenção
do microscópio, descobriu‑se um mundo de criaturas unicelulares, impossíveis de serem acomodadas
em um desses dois grandes grupos. Por essa razão, foi criada uma terceira categoria de seres vivos: os
protistas. Cientistas do século XIX já tinham percebido a importância de considerações evolutivas no
14
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
estudo dos seres vivos. A árvore filogenética de Haeckel, em 1866, demonstra essa preocupação em
relacionar os diferentes grupos de seres vivos.
A partir da visão clássica de Haeckel, foi desenvolvido o esquema dos 5 reinos de Whittaker (1969),
modelo dominante até a década de 1980, que propõe a seguinte divisão:
• o Reino Protista, compreende os seres eucariontes unicelulares, como alguns grupos conhecidos
por algas e fungos unicelulares;
• o Reino Fungi contém seres eucariontes multicelulares, com nutrição heterótrofa absortiva, como
os fungos verdadeiros;
Apesar de bem aceita, a proposta de Whittaker passou por inúmeras revisões em função da deficiência
de critérios para a reconstrução filogenética.
A hipótese de Woese de classificação dos seres vivos em três domínios primários baseia diversos
estudos que têm sido realizados tentando verificar a relação entre esses domínios. Vários estudos têm
postulado que as arqueobactérias e os eucariontes tiveram um ancestral comum, sendo evolutivamente
mais próximos entre si do que o são das eubactérias. Entretanto é possível que esse cenário venha a ser
estendido depois da expansão de sequências de DNA para um maior número de organismos.
Algumas classificações têm o enfoque nos eucariontes, como a proposta inicialmente por Baldauf (2003).
Ela sugere sete grandes grupos para classificar os eucariotos, a saber: Opistocontes, Amebozoa, Rhizaria,
Archaeplastida, Alveolados, Extramenópilas e Discristados, além de outro grupo dentro de Excavados, o qual
inclui formas amitocondriadas. Essa é a proposta aceita por Raven, Evert e Eichhorn (2014), e também o será
neste livro.
15
Unidade I
Diante disso, portanto, das criptógamas, abordaremos o estudo dos seres inclusos nos domínios
procarióticos e eucarióticos.
• No domínio dos eucarióticos, que implica vários grupos, debruçaremo‑nos sobre os fungos
verdadeiros (Reino Fungi), as algas consideradas protistas fotossintetizantes (Reino Protista) e
também as algas correlacionadas com as plantas (algas vermelhas e verdes). Do Reino Plantae,
também serão tratadas as plantas terrestres avasculares, conhecidas como briófitas, e as plantas
vasculares sem sementes, conhecidas como pteridófitas.
Lembrete
Saiba mais
Você já ouviu falar no achado que mudou a árvore da vida?
Apesar de toda a oposição a elas, quando de sua exposição, as ideias de
Woese têm prevalecido. Atualmente, pouco se discorda de que bactérias
e arqueias constituam linhagens distintas, não podendo ser mantidas no
mesmo grupo taxonômico, portanto.
Para ler na íntegra o artigo‑homenagem, escrito em memória de Carl R.
Woese, consultar:
COSTA, F. A. P. L. O senhor das arqueias. Observatório da Imprensa, ed.
732, 5 fev. 2013. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.
br/news/view/_ed732_o_senhor_das_arqueias>. Acesso em: 6 abr. 2015.
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BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
2.1 Introdução
Você sabia que poucas pessoas têm consciência da importância dos fungos em nosso dia a dia?
Basta lembrar que a micologia, a ciência que estuda os fungos, tem ramificações, aplicações e disciplinas
em biotecnologia, medicina, veterinária, zootecnia, agronomia, bioquímica, genética, entre outras.
Estima‑se que cerca de 70.000 espécies foram descritas até o momento, contudo especula‑se que esse
número representa apenas cerca de 5% das espécies existentes de um total de 1,5 milhões de espécies.
Essa afirmação demonstra o quanto o grupo é pouco conhecido e pode representar uma vasta linha de
pesquisa para os futuros biólogos.
Cogumelos (figura 4), bolores, leveduras, ferrugens, carvões, entre outros organismos
tradicionalmente considerados fungos são muito diversificados, embora, em muitos casos, pouco
relacionados evolutivamente. Em virtude disso, sua posição entre os seres vivos tem sido polemizada e
continuamente reclassificada. A despeito de serem distintos de plantas e animais, têm sido estudados
em disciplinas de Botânica.
A origem dos fungos vem sendo discutida em alguns estudos, que apontam que eles sofreram um
processo de irradiação há cerca de 1 bilhão de anos, como um grupo independente dos animais. As
evidências fósseis são relativamente pobres, se comparadas a outros grupos, e indicam sua presença no
Proterozoico (900 – 570 milhões de anos). Sua diversidade aumentou durante a Era Paleozoica, com a
presença de todos os grupos atuais.
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Unidade I
Algumas características básicas dos fungos chamam a atenção, como seu tipo de nutrição. Eles
são heterotróficos, necessitando de fontes de carbono fixadas por outros organismos, vivos ou mortos,
vegetais, animais ou mesmo outros fungos. Manifestam pigmentos responsáveis pelas cores variadas
que apresentam, mas nenhum capaz de absorver energia para síntese de carboidratos a partir do
CO2, como o que acontece com as plantas no processo de fotossíntese. Tal como os animais, têm a
habilidade de transportar enzimas que quebram matéria orgânica (polímeros), as quais são absorvidas
para a nutrição.
Podem ser classificados como fungos sapróbios, quando dependem de matéria orgânica morta, ou
biotróficos, quando de matéria viva.
Estima‑se que 80% das plantas formam associações do tipo micorriza – o que é suficiente
para demonstrar sua importância na natureza e para o homem. São expressões disso, por
exemplo, as orquídeas, que, invariavelmente, são invadidas por fungos associados, assim como os
formigueiros conhecidos popularmente por sauveiros ou formigas cortadeiras: as formigas saúva
não se alimentam das folhas que coletam, pois são incapazes de digerir a celulose. As folhas são
usadas para alimentar os fungos cultivados no interior dos sauveiros que são ingeridos pelas
formigas. Esses fungos biotróficos formam associações simbiônticas (parasitismo, comensalismo
e mutualismo).
Além dos dois grupos, ainda existe um terceiro, que pode ser considerado predador.
Vimos que uma fonte de matéria orgânica é essencial à nutrição dos fungos, mas eles dependem
também de água em estado líquido, tanto para seu crescimento quanto seu desenvolvimento – o que é
essencial para todo processo vital.
Quanto à respiração dos fungos, a maioria também depende do oxigênio para a respiração, portanto,
são predominantemente seres aeróbios. Outra grande parte dos fungos, entretanto, são seres anaeróbios
facultativos, isto é, aqueles que respiram na presença de oxigênio e fermentam em sua ausência.
A grande maioria dos fungos apresenta crescimento adequado entre 20 e 30°C. O pH ligeiramente
ácido, próximo a 6, é o ideal para a grande maioria dos fungos, diferindo das bactérias, que crescem
melhor em pH alcalino.
Os fungos proliferam nos mais variados ambientes: desde aquáticos, marinhos e de águas continentais
aos terrestres. Esporos resistentes são muito comuns no ar, dispersando‑se facilmente nesse meio. A
diversidade da maioria dos grupos de fungos é maior em regiões tropicais – estudos mostram que as
condições ambientais estão ligadas a essa diversidade.
Cogumelo (Talo)
Hifas
Micélio
Figura 5 – Desenho esquemático com representação do cogumelo (talo) e o conjunto de hifas (o micélio)
Quanto à morfologia, os fungos podem apresentar bastante variação: desde unicelulares a pequenas
colônias ou indivíduos pluricelulares. As células fúngicas agrupam‑se em filamentos, podendo ou não
apresentar septos entre elas, porém, mesmo quando presentes, as funções metabólicas ocorrem sem
impedimentos entre as células. Esses filamentos celulares são denominados hifas e o agrupamento
intenso de hifas ramificadas constitui o micélio. É importante salientar que micélios fúngicos nunca
constituem tecidos. Os cogumelos comumente são caracterizados por corpos (talo) não móveis,
construídos de filamentos alongados microscópicos: as hifas (figura 5).
Observadas em maior detalhe, as hifas são muito simples, notando‑se seu contorno, representado
pela parede celular e seu citoplasma. Podem ser septadas (divididas) ou cenocíticas (figura 6).
As hifas septadas podem apresentar, ao microscópio eletrônico, septo completo, com poro simples
ou poro dolíporo (com espessamento).
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Unidade I
Outra característica dos fungos compartilhada com animais é o glicogênio, que representa a principal
substância de reserva dos fungos e dos animais. O glicogênio, bem como o amido, é polissacarídeo
constituído por uma cadeia de monômeros de glicose (um tipo de açúcar).
Quanto à reprodução, os fungos podem apresentar tanto reprodução assexual, aquela que envolve
apenas divisões celulares do tipo mitoses, quanto reprodução sexual, a resultante da união de micélios
ou plasmogamia, com posterior fusão de núcleos ou cariogamia, seguido de sucessivas divisões do tipo
meiose.
Nos fungos, a reprodução assexual é mais comum para multiplicação e dispersão. Ela tem, como
principais função e importância, a troca de material genético e a consequente diversidade genética.
Por meio da reprodução assexuada, várias gerações são produzidas no intervalo de um ano, porém
a reprodução sexuada ocorre, comumente, em uma única época do ano, porque exige condições
ambientais específicas.
20
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
• a heterogamia, que pode ser do tipo anisogamia – caso em que os gametas são diferentes
no aspecto morfológico, sendo o feminino maior que o masculino, porém ambos móveis –
ou ainda pode ser do tipo oogamia, isto é, gametas com as duas diferenças: a morfológica
e a fisiológica.
Ao final do processo, de todo modo, resultará, sempre, a formação de esporos derivados da meiose.
Já outros fungos despertam enorme consideração nos agricultores não por seus benefícios, mas, ao
contrário, por enormes prejuízos causados pelas pragas das plantas cultivadas.
Os fungos são os mais importantes patógenos das plantas, como as ferrugens do café, da
cana‑de‑açúcar, do milho, do trigo, pragas da batata e muitas hortaliças, os carvões etc. São empregados
fungicidas no combate ao problema. Os fungos são considerados problemas quando afetam seres
humanos ou animais, por exemplo com infecções mortais para o homem, como a pneumonia, provocada
pelo fungo Pneumocystis, e a candidíase, causada pelo fungo Candida albicans.
Muitas vezes, a simples presença de esporos no ar pode ser a causa de alergias no homem e em
outros animais. Alguns fungos produzem em seu metabolismo toxinas conhecidas como aflatoxinas,
que podem chegar a contaminar cereais mal estocados, estes podem transmitir tais toxinas para aves e
mamíferos domésticos via consumo ou contaminar diretamente o homem, podendo causar distúrbios
digestivos ou tumores no homem, assim como levar à morte animais domésticos.
21
Unidade I
Vários fungos têm importância direta na alimentação humana e em processos industriais. Muitos
fungos podem ser consumidos diretamente, sendo muito nutritivos, como os cogumelos champignon
de Paris (figura 7), shimeji e shiitake (figura 8), dentre outros.
No Brasil, ainda são consumidos em pequena escala, ao contrário da Europa e do Japão. O fungo
Saccharomyces cerevisiae, conhecido popularmente como fermento de pão, tem sido considerado
a espécie domesticada mais importante para o homem. Esse fungo é envolvido nos processos
fermentativos responsáveis pela fabricação e pela produção de álcool etílico, cerveja, vinho, bem
como em processamento e aromatização de pão. Outros fungos estão implicados na produção
industrial de glicerina, vitaminas, ácidos orgânicos, enzima etc. A fabricação e a aromatização
de certos tipos de queijos, como os tipos camembert, roquefort e gorgonzola, são mediados por
Penicillium roqueforttii.
Os fungos são de grande importância para o homem na produção de antibióticos, como o fungo
Penicillium chrysogenum (figura 9), do qual é obtida a penicilina.
22
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Whittaker (1969) propôs a classificação dos fungos em um reino à parte, exclusivo para
organismos eucarióticos, com modo de nutrição por absorção, os quais vivem como sapróbios,
parasitas e simbiontes. Essas classificações já sugeriam que grupos como Oomycota, Myxomycota,
Acrasiomycota e Labyrinthulomycota não seriam monofiléticos. Outros autores sugerem sua
classificação em outros reinos: Oomycota, em Stramenopila, e os demais, e, Protista. Entretanto
esses organismos continuam sendo estudados por micologistas e, por conveniência, são aqui
apresentados em uma categoria denominada “fungos lato sensu” (ou fungos falsos). Hoje, quando
falamos em fungos, é necessário distingui‑los entre as classificações tradicionais (lato sensu, isto
é, em sentido amplo) e a atual (stricto sensu, isto é, sentido estrito, ou, em outra nomenclatura,
fungos verdadeiros).
23
Unidade I
Basidiomycota
Dikarya
Ascomycota
Glomeromycota
Mucormycotina (Zygomycota)
Entomophthorales (Zygomycota) & Olpidium (Chytridiomycota)
Blastocladiales (Chytridiomycota)
Euchytrids (Chytridiomycota)
Microsporidia
Rozella (Chytridiomycota)
Animals
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BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Os líquens são associações estáveis entre algas (fotobiontes ou ficobiontes) e fungos (micobiontes)
(figura 11), formando talos capazes de autorreprodução com morfologia e estrutura definidas e constantes.
Sorédio
Camada gonidial
(hifas + algas unicelulares)
Rizoides (hifas)
• Mutualismo: o fungo absorve nutrientes orgânicos derivados das algas, e as algas obtêm proteção,
por exemplo, contra dessecamento e excesso de luz.
• Parasitismo fraco: os fungos parasitam as algas que resistem ao ataque. Esse ponto de vista
baseia‑se no fato de que os fungos emitem haustórios que penetram na parede celular das algas
ou mesmo invadem o citoplasma.
Os fungos podem, ainda, apresentar saprofitismo nas células mortas das algas. Existe um equilíbrio
muito delicado nessa associação. Qualquer distúrbio que altere a taxa de crescimento e/ou mortalidade
de componente micobionte ou fotobionte pode levar à morte da associação. Como consequência do
equilíbrio delicado dessa associação, os líquens são bons indicadores da ação do homem no ambiente,
sendo muito sensíveis à poluição. Assim, a flora liquênica modifica‑se com o grau de poluição, não
estabelecendo associação entre esses diferentes seres em áreas muito poluídas.
25
Unidade I
O micobionte é o componente estrutural dos líquens, sendo o principal responsável por sua
morfologia. O talo dos líquens pode ser classificado em:
• Crostoso: assemelha‑se ao folhoso, mas adere fortemente ao substrato, além de não apresentar
córtex inferior, nem rizoides (figura 13).
26
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
• Fruticoso: apresenta aspecto arborescente, é estratificado com muitas camadas distintas (figura 14).
Quanto à reprodução, os líquens são compostos por dois genomas distintos e não apresentam
reprodução gamética. A reprodução vegetativa se dá por:
• Sorédios: estruturas compostas por um conjunto de células de algas envolvidas por hifas de
fungos (figura 15).
Córtex superior
Camada gonidial
Camada medular
Córtex inferior
27
Unidade I
• Isídios: pequenos ramos diferenciados do talo que se destacam com facilidade por ação mecânica
das chuvas, ventos etc.
28
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Exemplo de aplicação
Após ler a reportagem da Fapesp, “Fungo produz biodiesel”, reflita sobre ela e pesquise artigos que
retratam a aplicação dos fungos nas pesquisas biotecnológicas.
3.1 Introdução
Definimos “alga” como um termo genérico, desprovido de significado taxonômico, que inclui
organismos que possuem clorofila A e um talo não diferenciado em raiz, caule ou folhas, com hábito
predominantemente aquático. Desempenham função ecológica importante, como produtores primários
dos ecossistemas em que proliferam, sendo responsáveis provavelmente por mais de 50% do total
da produção primária de todo o planeta. O fato de serem clorofilados não implica que sejam verdes,
pois, além da clorofila, possuem outros pigmentos denominados acessórios, os quais podem mascarar
a presença da clorofila, proporcionando às algas colorações avermelhadas, azuladas, pardas ou até
enegrecidas. O termo “alga” inclui organismos de linhagens filogenéticas completamente diferentes, ou
seja, esses organismos não são necessariamente semelhantes entre si e nem sempre resgatam origem
evolutiva próxima.
A Ficologia é ciência que estuda as algas. A etimologia remonta ao termo grego “phykos” (alga).
Constitui o ramo da biologia que abrange a maior diversidade de grandes grupos de organismos nem
sempre relacionados filogeneticamente.
Algumas classificações tratam de vários grupos de algas, como o Reino Protistas. No sistema de
classificação de cinco reinos de Whittaker (1969), por exemplo, os protistas reúnem os eucariontes que
não pertencem ao grupo das plantas, fungos ou animais.
Já as classificações atuais, baseadas em DNA, indicaram que os protistas não formavam um grupo
com origem em comum (monofilético), de tal modo a não ser aceito taxonomicamente. Assim, os
seres do antigo Reino Protista foram redistribuídos em diferentes supergrupos no Domíno Eukarya.
Mas, para facilitar o estudo desses diferentes grupos, algumas literaturas incluem as algas como
protistas fotossintetizantes. As algas do grupo protista tiveram origem em eventos de endossimbiose
29
Unidade I
primária ou secundária, podendo apresentar todos os tipos de clorofila conhecidos. Os protistas não
fotossintetizantes estudados junto às algas são seres filogeneticamente próximos aos organismos que
fizeram endossimbiose no passado ou derivados de grupos fotossintetizantes que perderam a capacidade
de realizar fotossíntese (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2014).
Nesta unidade, adotaremos uma classificação com adaptações para algas proposta por Raven, Evert
e Eichorn (2014), segundo a qual as algas estão abrigadas no domínio de seres procarióticos, incluindo as
cianobactérias, e no domínio de seres eucarióticos, inseridos os protistas autótrofos (fotossintetizantes),
conhecidos como algas, dentre outros grupos.
Entre as algas, há os seres euglenoides, as algas Criptófitas (filo Cryptophyta), Haptófitas (filo
Haptophyta), os Dinoflagelados, as algas Diatomáceas (ou filo Bacillariophyta), as algas douradas (ou
filo Chrysophyta), as algas xantofíceas (ou filo Xanthophyta), as algas pardas (ou filo Phaeophyta), as
rodófitas ou algas vermelhas (filo Rhodophyta) e algas verdes (filos Chlorophyta e Charophyta).
As algas podem ser encontradas em diversos tipos de habitant (plural do termo latino “habitat”),
proliferando em ambientes de água doce e salgada, sobre troncos de árvores, rochas, desertos,
superfície de neves e geleiras, além de fontes termais. As algas marinhas podem variar entre indivíduos
unicelulares microscópicos e formas multicelulares complexas com muitos metros de comprimento. As
algas multicelulares podem abranger uma diversidade enorme de formas. As algas de vida livre podem
formar, principalmente, dois tipos de comunidades:
• fitoplâncton: comunidade formada por microalgas que vivem livres na coluna d’água; e
• fitobentos: comunidade formada por macro ou microalgas que crescem fixas sobre qualquer
superfície passível de ser colonizada, como rochas, esqueletos de corais mortos, animais, plantas
marinhas (macroalgas ou fanerógamas), embarcações naufragadas etc.
Também quanto à organização do talo, as algas abarcam diversidade muito grande. Existem desde
formas microscópicas até formas que atingem 60 metros de comprimento, como as algas pardas
do gênero Macrocystis. Na presente unidade, trataremos dos grupos de algas que se caracterizam
principalmente por apresentar formas microscópicas, conhecidas microalgas.
Microgalgas transformadas
Ana Teresa explica que, no processo de cultivo de algas, é preciso um fluxo contínuo
para a entrada de nutrientes frescos. Só que em alguns momentos há um extravasamento
desse fluxo e é preciso retirar o meio de cultura usado. “No biorreator padrão, quando esse
meio velho é removido, há perda de células, ou seja, é como se tudo tivesse sido lavado.”
Como a membrana tem poros extremamente pequenos, os nutrientes utilizados só saem
depois de passar pelo processo de filtragem. Dessa forma, além da possibilidade de reúso do
meio, é possível escolher a densidade de células que ficará no tanque e o meio de cultura
que entrará no reator pelo fluxo contínuo. “As algas se adaptam rapidamente a mudanças
nos nutrientes porque passam por uma transformação intracelular”, diz Ana Teresa. Ou
seja, elas conseguem fazer uma modificação na sua composição bioquímica dependendo
do ambiente em que vivem. “Transformamos esse atributo microbiológico das algas em um
processo tecnológico”, ressalta a pesquisadora.
Nesta unidade, serão abordados também cianobactérias, os seres euglenoides, as algas Criptófitas
(filo Cryptophyta), Haptófitas (filo Haptophyta), os Dinoflagelados, as algas Diatomáceas (ou filo
Bacillariophyta), as algas douradas (ou filo Chrysophyta), todos esses grupos são, na grande maioria das
vezes, microalgas.
3.2 Cianobactérias
O grupo das algas procarióticas, as cianobactérias, conhecidas também como algas azuis ou
cianofíceas, inclui representantes que, muitas vezes, apresentam coloração azul. No entanto, podem ser
esverdeadas, avermelhadas ou enegrecidas. São organismos procarióticos, como as bactérias. No sistema
de classificação de cinco reinos de Whittaker (1969), esse grupo de algas estava posicionado no Reino
Monera, que abrangia procariontes representados pelas bactérias e cianobactérias. Na classificação
atual, esse grupo está posicionado no Domínio Bacteria.
Algas são organismos fotossintetizantes com clorofila A. Existem outras bactérias, que são
fotossintetizantes, mas é possível diferenciá‑las, pois as bactérias não possuem clorofila A. As algas
azuis apresentam oxigênio como produto final da fotossíntese, já as bactérias nunca liberam O2 como
produto final da fotossíntese. Esse grupo de organismos fotossintetizantes não possui flagelos. Algumas
bactérias possuem‑nos e as algas azuis atingem maior complexidade morfológica que bactérias.
Algumas formas são terrestres, vivendo sobre rochas ou solo úmido. Outras vivem em associações com
fungos, como nos líquens e as que se associam a outros vegetais.
A organização do talo da maior parte das cianobactérias é muito simples: podem ser unicelulares,
coloniais ou filamentosas, como a cianobactéria filamentosa Anabaena sp. (figura 17)
As formas filamentosas possuem filamento constituído por tricomas, ou seja, uma sequência linear de
células envolvida por uma bainha de mucilagem. Os filamentos podem ser unisseriados não ramificados
ou ramificados. Podem ser ainda plurisseriados.
São organismos procariontes; portanto, não apresentam núcleo organizado, seu DNA está disperso
no citoplasma. A parede celular desse grupo é semelhante à encontrada em bactérias gram‑negativas,
é complexa e composta por várias camadas, sendo que apenas as duas camadas mais internas são as
mesmas para todas as cianobactérias.
A estrutura das camadas mais externas depende das condições ambientais e da quantidade de
mucilagem secretada; a mucilagem presente em maior quantidade é um tipo de peptídeo (tipo de
carboidrato). O revestimento mucilaginoso forma o que chamamos bainha, fica externo à parede celular;
a mucilagem faz a conexão ao ambiente externo, tornando os nutrientes disponíveis para a célula,
conferindo habilidade às cianobactérias e vantagens sobre outras algas do fitoplâncton. Na periferia da
célula, estão localizados os tilacoides, membranas lipoproteicas, em que estão situados os pigmentos.
Associados aos tilacoides, podem ocorrer pigmentos, como a clorofila A, vários tipos de ficobiliproteínas
– tanto ficocianina (azul) quanto ficoeritrina (vermelho) –, tipos de carotenos, como o β‑caroteno e
xantofilas de vários tipos, porém não ocorre luteína.
As cianobactérias possuem grânulos de amido, também conhecidos como amido das cianofíceas. Ele
é constituído por uma cadeia altamente ramificada, semelhante ao glicogênio.
33
Unidade I
As formas planctônicas de cianobactérias possuem vesículas de gás para a flutuabilidade. À medida que
aumenta a atividade fotossintetizante, vesículas de gás diminuem e, consequentemente, a alga afunda.
Quando isso acontece, a alga é submetida a um ambiente com menos luz; por conseguinte, reduz‑se a
taxa de fotossíntese e as vesículas começam a formar‑se novamente. Dessa forma, a célula volta a flutuar.
Não se conhece reprodução sexuada nas algas azuis. Nunca se observou plasmogamia. No entanto,
existem evidências de combinação gênica. Podem reproduzir‑se de várias formas, como a divisão celular
simples, a fragmentação, os hormogônios (que são fragmentos de tricoma que deslizam na bainha, até a
extremidade do filamento, desprendendo‑se deste e dando origem a um novo indivíduo), os endósporos
(a formação de esporos é feita por meio da divisão endógena do protoplasto em duas ou mais partes,
que emergem quando a parede se rompe) ou o acineto (que se desenvolve a partir de uma célula
vegetativa que se torna maior, com reservas, funciona como um esporo de resistência a condições
ambientais desfavoráveis).
Outra característica que pode ocorrer nas cianobactérias é a presença do heterocito, que é uma
célula de conteúdo homogêneo, parede espessa, geralmente maior que a célula vegetativa e com a
função à fixação de nitrogênio.
Existem vários registros de contaminação de água por toxinas de cianofíceas, que podem levar à morte
dos organismos. Certas cianobactérias são capazes de produzir toxinas e liberá‑las para o meio onde vivem.
Essas toxinas são alcaloides (neurotoxinas) ou peptídeos de baixo peso molecular (hepatotoxinas).
Já no Domínio de seres eucarióticos, há um grupo que costuma ser abordado junto às algas, trata‑se
dos seres euglenoides – do grego, “eu” (bem) e “glene” (encaixe). Em algumas classificações, eles são
considerados Filo Euglenophyta. São seres esverdeados com um ou dois flagelos, unicelulares eucariontes
e características tanto de plantas como de animais. Eles fazem fotossíntese e deslocam‑se no meio com
auxílio do flagelo. A substância de reserva é o paramilo, um polissacarídeo exclusivo das euglenas, não
possui parede celular e o citoplasma apresenta uma mancha ocelar conhecida por estigma, capaz de
perceber variações de intensidade luminosa (figura 18). Vivem principalmente em água doce.
Aceita‑se que o cloroplasto dos euglenoides tenha origem endossimbiótica com algas verdes. Essa
suposição está baseada na semelhança entre os cloroplastos desses dois grupos, ambos apresentam
clorofilas A e B.
34
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Conhece‑se apenas reprodução vegetativa, por meio de divisão longitudinal da célula. Quando as
condições ambientais tornam‑se desfavoráveis, o indivíduo, que é constituído por apenas uma célula,
transforma‑se em cisto, o qual permanece dormente até que as condições tornem‑se favoráveis. O
principal representante é a euglena.
Vacúolo pulsátil
Estigma
Cloroplasto
Paramilo
Flagelo
Núcleo
Citoplasma
35
Unidade I
3.6 Dinoflagelados
Os dinoflagelados são, em sua maioria, seres unicelulares e com presença de dois flagelos, sendo
que a disposição deles é característica do grupo; um dos flagelos é orientado transversalmente, inserido
em um sulco equatorial que circunda toda a célula partindo sempre em direção ao lado esquerdo e o
segundo flagelo dispõe‑se em posição longitudinal e está em sulco disposto verticalmente (figura 19).
O movimento desses organismos é realizado com o batimento dos flagelos em seus respectivos sulcos,
gerando um movimento giratório semelhante a um pião.
36
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Flagelo
Os dinoflagelados podem ainda apresentar tecas, que são formadas por placas rígidas de celulose
impregnadas com carbonato de cálcio, cujas características morfológicas são importantes para a
identificação taxonômica dos grupos. Existem dinoflagelados imóveis que produzem células flageladas
apenas durante o processo de reprodução sexuada, assim como outros sem placas celulósicas, os quais
são chamados de zooxantelas e, geralmente, ocorrem em simbiose com outros organismos, como os
poríferos, cnidários, moluscos e outros protistas.
Alguns gêneros apresentam bioluminescência (exemplo: Noctiluca) (figura 20). Por meio da oxidação
da luciferina pela luciferase, forma‑se um produto excitado que libera fótons, sendo responsável
bioluminescência nos oceanos.
37
Unidade I
Outro grupo em destaque no estudo das algas são os Estramenópilos fotossintetizantes. Eles são
conhecidos também como supergrupo Heterokonta. Os Estramenópilos formam um grupo monofilético
(com ancestral em comum) que abrange os grupos dos oomicetos (tipos de fungos), das algas diatomáceas,
das algas douradas (crisofíceas) e algas pardas. Os Estramenópilos possuem a característica comum
geralmente dois flagelos, um liso e outro plumoso. As algas pardas serão abordadas mais adiante, por
tratar‑se de um grupo considerado macroalgas em sua grande maioria.
As algas diatomáceas (Filo Bacillariophyta) são um grupo formado por organismos unicelulares
ou coloniais, desprovidos de flagelos imóveis ou que se movem através de secreção de mucilagem.
Possuem um tipo de parede celular impregnada de sílica denominada frústula, que é composta por duas
valvas de sílica morfologicamente semelhantes e que se encaixam perfeitamente. A presença da frústula
caracteriza uma diatomácea e sua diferente ornamentação ostenta grande valor taxonômico (figura 21).
38
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Dois grandes grupos de diatomáceas podem ser reconhecidos por sua simetria: diatomáceas
cêntricas, que são radialmente simétricas, e as diatomáceas penadas que são bilateralmente simétricas.
A reprodução das diatomáceas de forma geral é assexuada, por fissão binária. A reprodução sexuada
irá ocorrer quando a célula, depois de sucessivas divisões celulares, atingir um tamanho reduzido a
ponto de comprometer o metabolismo celular. A reprodução sexuada é oogâmica, isto é, se dá por
meiose gamética, reestabelecendo o tamanho original da espécie. Os gametas masculinos são as únicas
células flageladas no ciclo de vida das diatomáceas e possuem apenas um flagelo do tipo pinado.
As diatomáceas são quase sempre autotróficas e possuem, em seu cloroplasto, tanto as clorofilas
A e C quanto o pigmento fucoxantina. Como nas algas douradas, o carboidrato de reserva das
bacilariófitas é a crisolaminarina. São os organismos aquáticos de distribuição muito ampla, exercendo
um papel muito importante como produtores primários. A maioria das diatomáceas vive nos oceanos,
particularmente os de águas frias. Quando morrem, depositam no fundo as suas carapaças de sílica,
formando depósitos chamados “terra de diatomáceas”. Essa terra é usada na fabricação de pasta
dentifrícia e nos chamados pós‑dentifrícios. É usada para polimento e para fabricação de filtros
industriais, alteando importância econômica.
Outro grupo de algas Estramenópilos ou heteroconta é formado por crisófitas ou algas douradas,
que são seres unicelulares ou coloniais, às vezes filamentosos abundantes em ambientes de água
doce. Os organismos podem ser nus, providos de uma fina parede celular ou recobertos com escamas
entrelaçadas ou ornamentadas com sílica. Podem ser seres biflagelados ou multiflagelados, como
os outros seres Estramenópilos, sendo que, no caso de possuírem muitos flagelos, eles são desiguais.
As algas douradas podem ingerir partículas orgânicas, como aquelas que ingerem bactérias em
lagos – tornando‑se importantes agentes de controle biológico – ou serem fotossintetizantes –
neste caso apresentam tanto clorofilas A e C quanto o pigmento fucoxantina. Seu carboidrato de
reserva é a crisolaminarina.
39
Unidade I
Saiba mais
O diatomito, também chamado de terra de diatomáceas, é uma rocha
sedimentar biogênica, que se forma pela deposição dos restos microscópicos
das carapaças de algas diatomáceas em mares, lagoa e pântanos.
Leia o artigo completo e conheça mais sobre o uso dessa alga:
BRANCO, P. de M. Os muitos usos do diatomito. Brasília: CPRM/Serviço
Geológico do Brasil, 2014. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/
cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1296&sid=129>. Acesso em: 9 abr. 2015.
4.1 Introdução
Como visto anteriormente, o termo “alga” inclui organismos de linhagens filogenéticas completamente
diferentes; esses organismos não são necessariamente semelhantes entre si e nem sempre possuem
origem evolutiva próxima. Mas a ciência que estuda as algas, a ficologia considerada as algas como
sendo organismos talófitos, ou seja, não são diferenciados em raízes, caules e folhas, fotossintetizantes
que possuem em comum o pigmento clorofila a e, com raras exceções, não apresentam um envoltório
de células estéreis nas células reprodutivas.
40
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
grupos de algas (exceto as algas cianofíceas) no Reino Protistas; por exemplo, o sistema de classificação
de cinco reinos de Whittaker (1969). Os protistas reúnem os eucariontes que não pertencem ao grupo
das plantas, fungos ou animais; as classificações atuais baseadas em DNA indicaram que os protistas
não formavam um grupo com origem em comum (monofilético), sendo assim não poderia ser aceito
taxonomicamente; os seres do antigo Reino Protista foram redistribuídos em diferentes supergrupos
dentro do Domíno Eukarya. Mas, para facilitar, o estudo desses diferentes grupos, algumas literaturas
trazem as algas como protistas fotossintetizantes (RAVEN; EVERT; EICHORN, 2014). As algas do grupo
protista tiveram origem em eventos de endossimbiose primária ou secundária, podendo apresentar
todos os tipos de clorofila conhecidos. Os protistas não fotossintetizantes, estudados junto às algas,
são seres filogeneticamente próximos aos organismos que fizeram endossimbiose no passado, ou são
derivados de grupos fotossintetizantes que perderam a capacidade de realizar fotossíntese.
Adotamos uma classificação com adaptações para algas proposta por Raven, Evert e Eichorn (2014),
segundo a qual as algas são classificadas no Domínio de seres procarióticos, incluindo as cianobactérias
e as algas do Domínio de seres eucarióticos, os protistas autótrofos (fotossintetizantes). Entre elas, há
os seres euglenoides, as algas Criptófitas (Cryptophyta), Haptófitas (Haptophyta), os Dinoflagelados, o
supergrupo Estramenópilos (formado pelas as algas Diatomáceas (Bacillariophyceae), as algas douradas
(Chrysophyceae) e as algas pardas (Phaeophyceae), e as algas do supergrupo correlacionado às Plantas (são
elas rodófitas ou algas vermelhas (Rhodophyta) e algas verdes (Chlorophyta, Ulvophyceae e Charophyta).
As algas podem ser encontradas em diversos tipos de habitant e variar entre indivíduos unicelulares
microscópicos, que formam o fitoplâncton: comunidade formada por microalgas que vivem livres na
coluna d’água; elas são conhecidas como microalgas e foram abordadas anteriormente. As algas de
formas multicelulares podem apresentar a organização do talo mais complexas, grande parte delas são
caracterizadas como macroalgas e algumas podem atingir 60 m de comprimento, como as algas pardas
do gênero Macrocystis, grupo de algas que juntamente com outros organismos forma as verdadeiras
florestas marinhas, também conhecidas como kelps. As macroalgas podem apresentar uma diversidade
enorme de formas, grande parte delas auxilia a formação da comunidade bentônica que são organismos
que crescem fixos sobre qualquer superfície passível de ser colonizada, como, por exemplo, rochas,
esqueletos de corais mortos etc. Agora, trataremos do estudo dos aspectos morfológicos, evolutivos,
ecológicos e econômicos dos grupos de algas considerados como macroalgas: o das algas pardas
(Phaeophyceae) posicionadas no supergrupo Estramenópilos, e o das algas do supergrupo correlacionado
com as Plantas, são elas rodófitas ou algas vermelhas (Rhodophyta) e as algas verdes (Chlorophyceae,
Ulvophyceae e Charophyceae).
As algas pardas (Phaeophyceae), também conhecidas como algas marrons, segundo a classificação
atual, fazem parte do supergrupo Estramenópilos, junto aos oomicetos (tipos de fungos), as algas
diatomáceas e as algas douradas, formando um grupo monofilético, que compartilha um ancestral
comum e apresenta, como principal característica, a presença de dois flagelos: um liso e outro plumoso.
Cerca de 1.500 espécies de algas pardas são conhecidas atualmente. Esse grupo de algas, com exceção
de três gêneros muito raros que ocorrem água doce, ocupam predominantemente mares das regiões
temperadas frias e polares. Nos mares tropicais, as algas pardas apresentam um número reduzido de
41
Unidade I
espécies, mas podem acumular grande quantidade de biomassa. Em certas regiões, essas algas podem
formar imensas massas flutuantes, como, por exemplo, no mar de Sargaços, ao nordeste das ilhas
caribenhas e as florestas marinhas de kelps da costa acidentada da Nova Zelândia, servindo de alimento
ou habitat para toda uma comunidade biológica.
Não há registros de representantes unicelulares no grupo de algas pardas. Seus tamanhos podem
variar de poucos milímetros, podendo chegar a mais de 60 m de comprimento. Os kelps são considerados
populações de algas gigantes (figura 23).
Quanto à organização da morfologia do talo, as algas pardas podem apresentar diferentes tipos
de talo, como o filamentoso simples, o filamentoso ramificado e o parenquimatoso. As formas
parenquimatosas podem ter o talo diferenciado em uma parte com função de fixação da alga ao
substrato ou ao apressório, outra parte formando uma haste de sustentação, conhecida como estipe e
sobre a estipe a parte conhecida como lâmina, formada por diversas camadas de células, como é o caso
dos kelps e de Sargassum, um gênero muito comum em mares tropicais.
As paredes celulares das algas pardas são constituídas de celulose e uma matriz mucilaginosa de ácido
algínico, também conhecido como alginato; essa substância têm a função de fornecer flexibilidade e
resistência, ajudando a reduzir a dessecação durante a exposição nos períodos de maré baixa. Em algumas
espécies, é depositado carbonato de cálcio nas paredes celulares, como em algumas espécies de Padina.
Quanto aos pigmentos, as algas pardas caracterizam‑se por possuir além da clorofila A, as clorofilas
C1 e C2. Entre os carotenos, o mais comum é o β‑caroteno e, entre as xantofilas, a mais frequente é a
fucoxantina, um pigmento marrom parcialmente responsável pela cor parda dessas algas. O material de
reserva das algas pardas é a laminarina, um tipo de polímero de origem da glicose e o manitol tipo de
álcool, que ficam depositados nos vacúolos. Alguns gêneros formam vesículas gasosas para flutuação,
como o Sargassum (figura 24).
42
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Estruturalmente, esse grupo de alga pode-se apresentar com talo mais complexo, visto que, apenas
poucas espécies desse grupo são unicelulares e microscópicas. As algas vermelhas são quase sempre
filamentosas, mas os filamentos podem-se agregar, formando uma estrutura pseudoparenquimatosa ou
até mesmo em forma de lamina (laminar). Poucos representantes são laminares, como Porphyra (figura 25).
43
Unidade I
Pelo fato de possuírem apenas clorofila A e terem como reserva de carboidrato o amido
das florídeas (molécula semelhante ao glicogênio), associa‑se a origem desses cloroplastos à
endossimbiose com cianobactérias.
O material de reserva das algas vermelhas é um composto que possui propriedades intermediárias
entre o amido (produto de reserva das plantas) e o glicogênio (reserva alimentar dos fungos, bactérias
e de muitos organismos não vegetais), chamado de amido das florídeas, e fica armazenado no
citoplasma. A parede celular é constituída de celulose e uma camada externa de mucilagem, que pode
ser galactana (como o ágar ou e a carragenana). Algumas espécies depositam carbonato de cálcio
em suas paredes celulares, o que lhes confere um aspecto rígido. Por isso, algumas são chamadas de
algas coralináceas (figura 26).
Algumas algas vermelhas podem apresentar uma grande relevância econômica, pois as carrogenanas
e os ágares, retirados de sua parede celular, são utilizados como meios de cultura, espessantes,
geleificantes e base para produção de cosméticos. Também são muito comercializadas e consumidas
44
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
como vegetais no Oriente, como por exemplo o gênero Porphyra sp. Conhecida popularmente por
nori, é usada principalmente no preparo do sushi, prato típico da cozinha oriental e tem uma longa
história de cultivo entre os povos da China e do Japão. Além disso, as algas coralináceas exercem um
papel de cimentação indispensável à formação e à sobrevivência dos recifes de corais, além de serem
produtores primários.
As algas verdes, junto às briófitas, pteridófitas e plantas com sementes, formam uma linhagem
filogenética incluindo organismos eucarióticos com um ancestral em comum (monofilético),
o qual compartilha evidências moleculares e estruturais como a presença das clorofilas A e
B, além de armazenamento de amido como substância de reserva. Alguns autores propõem
que essa linhagem seja chamada como um todo de Viridófitas (literalmente, plantas verdes).
Essa linhagem inclui praticamente todos os tipos de morfologia vegetativa, de organismos
unicelulares até as complexas plantas terrestres, e, talvez, graças a essa grande diversidade de
formas, foi a única linhagem dentro das algas a colonizar com sucesso o ambiente terrestre
(JUDD et al ., 2009).
São conhecidas cerca de 17.000 espécies de algas verdes ou clorófitas, sendo muitas delas
unicelulares. As algas verdes estão presentes em ambientes marinhos, mas a maioria encontra‑se em
águas continentais (água doce), sendo que algas verdes de ambiente doce são geralmente unicelulares,
podendo também habitar troncos de árvores, solos, rochas (figura 27), superfícies de neve e viver em
simbiose com fungos (líquens), protozoários, hidras, esponjas e outros animais.
Os talos das algas verdes multicelulares podem ser filamentosos, foliáceos (parenquimatosos),
cenocíticos ou crostosos (figura 28). Alguns gêneros de algas verdes multicelulares podem ter a forma
pinada, foliácea ou de cacho‑de‑uva, como Caulerpa.
45
Unidade I
As paredes celulares da maioria das algas verdes são formadas por celulose e polissacarídeos não
celulósicos. Em certos casos, pode ocorrer o depósito de carbonato de cálcio nas paredes celulares.
São reconhecidos cerca de 500 gêneros distribuídos em três classes de algas verdes:
Chlorophyceae, Ulvophyceae e Charophyceae. Esses grupos foram delimitados por estudos
estruturais citológicos e moleculares. As características citológicas capazes de diferenciar classes
estão associadas à divisão celular.
46
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Nas algas pertencentes às Chlorophyceae, o fuso mitótico não é persistente e um novo sistema
de microtúbulos, o ficoplasto, desenvolve‑se paralelamente ao plano de divisão celular, assegurando
que o sulco de clivagem, resultante da invaginação da membrana plasmática, placa celular, passe
entre os dois núcleos filhos. Nas outras classes de clorófitas, os fusos mitóticos persistem até
serem rompidos pela formação de um sulco ou crescimento de uma placa celular. As Ulvophyceae
apresentam o fuso persistente, mas não têm placa celular, sendo a divisão realizada pelo sulco de
clivagem. Algumas Charophyceae têm um fragmoplasto idêntico àquele das plantas terrestres,
sendo que essa estrutura está orientada perpendicularmente ao plano de divisão celular e orienta
o crescimento da placa celular.
O grupo Chlorophyceae é constituído por organismos de água doce que podem ser unicelulares
ou coloniais. Os seres unicelulares e coloniais podem ou não apresentar flagelo. Colônias móveis,
como as de Volvox, têm seus indivíduos unidos por glicocálice, sendo que os flagelos nessas
colônias apresentam‑se voltados para o meio circundante (figura 29). As colônias não móveis,
que incluem o gênero Hydrodictyon, são constituídas por células grandes, cilíndricas, dispostas
em forma de um único cilindro oco rendado. As Chlorophyceae filamentosas ramificadas e
parenquimatosas incluem as algas de estruturas mais complexas encontradas na classe. As
células dessas algas estão ligadas por plasmodesmos e são especializadas para cada função,
constituindo um tecido vegetal verdadeiro.
47
Unidade I
Dentre as algas parenquimatosas, pode destacar‑se o gênero Ulva, também conhecido como
alface‑do‑mar (figura 31), que consiste em um talo laminar formado por duas camadas de células
justapostas interligadas por plasmodesmos.
48
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
como a presença do um fragmoplasto e a retenção do zigoto coberto por esporopolenina são exclusivas
dessas ordens. Estudos moleculares indicam que Charales é mais próxima das plantas terrestres que
Coleochaetales; essa proposta evolutiva pode ser sustentada também por características morfológicas,
pois o grupo Charales possui o talo com características semelhantes aos tecidos das plantas terrestres.
Saiba mais
Bastante usadas nas indústrias de alimentos e cosméticos, as macroalgas
marinhas têm também um grande potencial biotecnológico. Novos
estudos brasileiros mostram que compostos produzidos por elas têm ação
antioxidante, fotoprotetora e até antitumoral. Elas estão em pudins, loções,
pastas de dente e até na cerveja. São inúmeras as aplicações industriais
de substâncias extraídas das macroalgas marinhas (algas pluricelulares
visíveis a olho nu). Mas seu aproveitamento pode ser ainda mais intensivo:
pesquisas recentes têm mostrado que compostos produzidos por esses
organismos têm um incrível potencial biotecnológico.
Leia o artigo completo e conheça mais sobre o uso das algas:
FRAGA I. O poder das algas. Instituto Ch, Especiais/Reunião Anual da SBPC
– 2010, 28 jul. 2010. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/
reuniao-anual-da-sbpc-2010/o-poder-das-algas>. Acesso em: 9 abr. 2015.
Resumo
49
Unidade I
Exercícios
A) Apenas I é verdadeira.
B) Apenas II é verdadeira.
I – Assertiva correta.
II – Assertiva correta.
54
BOTÂNICA – CRIPTÓGAMAS
Justificativa: estudos comprovam que o fitoplâncton é responsável por 98% do oxigênio presente
na atmosfera do planeta. São mais eficientes do que as florestas na produção de oxigênio, pois liberam
mais oxigênio do que são capazes de consumir, o que não ocorre nas florestas, que produzem muito,
mas consomem igualmente, através de animais e plantas do próprio local.
Figura 32
O desenho anterior representa o ciclo vital de um fungo ascomiceto. A respeito dele são feitas as
seguintes afirmações:
I – A indica o ascocarpo (corpo de frutificação), constituído por hifas tanto monocarióticas como dicarióticas.
Assinale: