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Reprocessamento de
Produtos para Saúde
Autora: Profa. Débora Popov
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo
Profa. Raquel Machado Cavalca Coutinho
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professora conteudista: Débora Popov
É doutora em Ciências da Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), título obtido em
2016, e mestre em Enfermagem na Saúde do Adulto pela mesma instituição, em 2008. Possui especialização em Centro
Cirúrgico, Centro de Material e Esterilização e Recuperação Pós-Anestésica, concluída em 1997, pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), e graduação em Enfermagem, finalizada em 1994, pela Escola Paulista de Medicina.
Sua carreira profissional começou como enfermeira em unidades de centro cirúrgico, centro de material e
recuperação pós-anestésica em grandes hospitais particulares da cidade de São Paulo, onde trabalhou de 1997 a
2008. Iniciou a carreira docente em 2003, na Universidade de Santo Amaro (Unisa), onde atualmente exerce o cargo
de coordenadora do curso de Enfermagem e é responsável técnica do setor de Esterilização da clínica de Odontologia.
Atua como docente na Universidade Paulista (UNIP) desde agosto de 2014, em disciplinas como Saúde do Adulto,
Biossegurança e Controle de Infecção Hospitalar e em cursos de pós-graduação na área de Centro Cirúrgico, Centro de
Material e Esterilização em universidades privadas da cidade de São Paulo.
Sua linha de pesquisa é saúde do adulto, recuperação pós-anestésica e período de recuperação. Também
acompanha diversos trabalhos de conclusão de curso de graduação e pós-graduação em enfermagem perioperatória.
CDU 614.48
U504.16 – 20
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Lucas Ricardi
Fabrícia Carpinelli
Sumário
Métodos de Reprocessamento de Produtos para Saúde
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 HISTÓRIA DO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO................................................................... 11
1.1 O Centro de Material e Esterilização no Brasil e no mundo................................................ 11
1.2 Principais legislações no CME.......................................................................................................... 14
1.2.1 RDC 50 e RDC 307................................................................................................................................... 14
1.2.2 RDC 15......................................................................................................................................................... 15
2 PRINCIPAIS CONCEITOS EM CME.............................................................................................................. 16
2.1 Produtos para saúde............................................................................................................................ 17
2.2 Dinâmica e fluxo no CME.................................................................................................................. 17
2.3 Planta física e estrutura do CME ................................................................................................... 18
2.3.1 Pisos.............................................................................................................................................................. 19
2.3.2 Paredes......................................................................................................................................................... 19
2.3.3 Teto/forros.................................................................................................................................................. 20
2.3.4 Janelas.......................................................................................................................................................... 20
2.3.5 Ventilação/exaustão/ar-condicionado............................................................................................ 20
2.3.6 Iluminação.................................................................................................................................................. 20
2.3.7 Sistemas de água e energia................................................................................................................. 21
2.4 Equipamentos e máquinas do CME............................................................................................... 21
2.4.1 Termodesinfetadoras.............................................................................................................................. 22
2.4.2 Lavadoras ultrassônicas......................................................................................................................... 22
2.4.3 Lavadoras de descarga........................................................................................................................... 22
2.4.4 Lavadoras de endoscópios.................................................................................................................... 23
2.4.5 Secadora...................................................................................................................................................... 23
2.4.6 Pistolas de ar comprimido................................................................................................................... 24
2.4.7 Seladoras..................................................................................................................................................... 24
2.4.8 Equipamentos para esterilização...................................................................................................... 25
2.4.9 Incubadoras para testes biológicos.................................................................................................. 26
3 USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL NO CME..................................................... 27
3.1 Luvas ......................................................................................................................................................... 28
3.2 Protetores faciais................................................................................................................................... 28
3.3 Máscaras................................................................................................................................................... 29
3.4 Aventais..................................................................................................................................................... 31
3.5 Protetores auriculares......................................................................................................................... 32
3.6 Protetores para os membros inferiores e pés: calçados........................................................ 32
3.7 Equipamentos de segurança coletivos ........................................................................................ 34
4 RECURSOS HUMANOS NO CME................................................................................................................. 35
Unidade II
5 LIMPEZA............................................................................................................................................................... 46
5.1 Conceitos de microbiologia............................................................................................................... 46
5.1.1 Biofilme........................................................................................................................................................ 46
5.1.2 Endotoxinas................................................................................................................................................ 47
5.1.3 Estrutura celular bacteriana................................................................................................................ 48
5.1.4 Príons............................................................................................................................................................ 49
5.1.5 Carga microbiana: bioburden.............................................................................................................50
5.1.6 Resistência dos microrganismos........................................................................................................ 51
5.1.7 Morte microbiana.................................................................................................................................... 51
5.2 Tipos de limpeza.................................................................................................................................... 52
5.2.1 Limpeza manual....................................................................................................................................... 52
5.2.2 Limpeza automatizada.......................................................................................................................... 55
5.2.3 Qualidade da água.................................................................................................................................. 55
5.2.4 Detergentes................................................................................................................................................ 59
5.3 Secagem.................................................................................................................................................... 62
5.4 Controle microbiológico..................................................................................................................... 63
5.4.1 Controle químico..................................................................................................................................... 64
6 EMBALAGENS PARA ESTERILIZAÇÃO....................................................................................................... 65
6.1 Tecido de algodão................................................................................................................................. 67
6.2 Papel grau cirúrgico............................................................................................................................. 69
6.3 Papel crepado.......................................................................................................................................... 72
6.4 SMS – Tecido não tecido.................................................................................................................... 72
6.5 Tyvek®......................................................................................................................................................... 73
6.6 Containers rígidos ................................................................................................................................ 74
7 DESINFECÇÃO DE PRODUTOS PARA A SAÚDE..................................................................................... 75
7.1 Desinfecção automatizada................................................................................................................ 78
7.2 Desinfecção química............................................................................................................................ 80
7.2.1 Aldeídos....................................................................................................................................................... 81
7.2.2 Ácido peracético....................................................................................................................................... 83
7.2.3 Peróxido de hidrogênio......................................................................................................................... 83
7.2.4 Água eletrolizada .................................................................................................................................... 83
7.2.5 Soluções cloradas.................................................................................................................................... 83
7.2.6 Álcool ........................................................................................................................................................... 84
7.2.7 Quaternário de amônia......................................................................................................................... 84
7.2.8 Fenóis............................................................................................................................................................ 85
7.3 Desinfecção de endoscópios............................................................................................................. 85
8 ESTERILIZAÇÃO.................................................................................................................................................. 86
8.1 Vapor saturado sob pressão.............................................................................................................. 86
8.2 Calor seco................................................................................................................................................. 92
8.3 Radiação ionizante............................................................................................................................... 92
8.4 Métodos de esterilização a baixa temperatura......................................................................... 93
8.4.1 Óxido de etileno....................................................................................................................................... 93
8.4.2 Plasma de peróxido de hidrogênio................................................................................................... 95
8.4.3 Vapor a baixa temperatura de formaldeído.................................................................................. 97
8.5 Métodos químicos de esterilização................................................................................................ 98
8.6 Controle dos processos de esterilização...................................................................................... 98
8.6.1 Controles e segurança na desinfecção........................................................................................... 98
8.6.2 Controles e segurança na esterilização.......................................................................................... 99
8.7 Armazenamento e distribuição dos produtos para a saúde..............................................105
APRESENTAÇÃO
A disciplina tem o objetivo de definir o Centro de Material e Esterilização (CME) e todos os processos
que acontecem nesse setor, desde o recebimento do artigo na área considerada contaminada até sua
limpeza, secagem, embalagem, esterilização/desinfecção, armazenamento e distribuição. Todas as
etapas serão definidas, e a compreensão dos processos estabelecida, para que você compreenda o papel
da enfermagem no processo e os recursos físicos, humanos e materiais necessários à prática segura no
CME, possibilitando que os processos possam ser reproduzidos em práticas posteriores.
Inicialmente, apresentaremos a história do CME, seu surgimento, intimamente ligado aos avanços cirúrgicos
do século XX, e também o desenvolvimento de conceitos e definições importantes, como a classificação dos
artigos. Ainda determinaremos o fluxo do material até sua distribuição segura e o uso no paciente.
Também trataremos das principais legislações que regem as boas práticas no processamento de
artigos e o impacto da legislação nos CMEs atuais.
Por fim, conheceremos as principais atividades desenvolvidas pela equipe de enfermagem no CME e
o papel do enfermeiro, do técnico e do auxiliar de enfermagem.
INTRODUÇÃO
O CME é uma unidade de grande importância nos estabelecimentos de assistência à saúde. Configura
um setor de grande avanço do ponto de vista tecnológico e tem tido, desde seu surgimento no início
do século XX, avanços significativos tecnológicos, aspectos físicos e estruturais, e avanços também nos
recursos humanos.
Para a enfermagem, o CME é um local onde a assistência indireta ao paciente tem seu ponto mais
alto, e a segurança e a qualidade dos processos devem ser atingidas de maneira a garantir o uso do
material usado na assistência à saúde dentro de padrões de qualidade e segurança.
9
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
Unidade I
1 HISTÓRIA DO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO
A história do Centro de Material e Esterilização (CME) tem início com a evolução das técnicas
cirúrgicas, tendo seu marco na década de 1950, após a Segunda Guerra Mundial. Antes disso, os materiais
usados nos procedimentos cirúrgicos se pareciam muito com ferramentas usadas em marcenarias.
Saiba mais
Destacamos Joseph Lister, em meados do século XIX, que realizou tratamento de fios de sutura e
compressas usados em pacientes, com solução de fenol, diminuindo a mortalidade pós‑cirúrgica, fato
que impulsionou a evolução das técnicas de esterilização de materiais médico-hospitalares (AGUIAR;
SOARES; DA SILVA, 2011).
Outro destaque pode ser dado a Louis Pasteur, que em 1860 cria o forno de Pasteur, após provar
que na presença de calor um ser microscópico perdia a capacidade de fermentação. Dessa maneira, seus
estudos sobre microrganismos se tornaram referência na área de esterilização.
11
Unidade I
A primeira autoclave foi criada, em 1880, por Charles Chamberlain, ao observar a ausência de
microrganismos em alimentos que passavam por processo de cozimento em panela de pressão. Dessa
forma, foi inventada a primeira autoclave de esterilização por vapor de água saturada.
O CME surge da necessidade de um local onde fossem processados os materiais utilizados em cirurgia,
a partir da concepção e dos princípios de assepsia e controle de infecção. Dessa maneira surgem o CME
e a enfermagem em CME.
Lembrete
Conforme afirma Possari (2010), houve a necessidade de contar com uma pessoa que se
responsabilizasse pelas atividades de limpeza, conservação, acondicionamento, esterilização, guarda e
controle de instrumentais cirúrgicos utilizados em procedimentos, e também de um local para que esses
processos pudessem ser efetivados.
Figura 2
Os primeiros CME eram ligados ao Centro Cirúrgico (CC) e tinham estrutura simples se compararmos
aos CME atuais. A tecnologia era praticamente inexistente, e a gestão do CME se fazia sem um processo
de sistematização e monitoramento gerencial.
A princípio, o CME era descentralizado, ou seja, o material era processado em diversas unidades
do hospital, não sendo exclusivo do CME o processo de limpeza, desinfecção e esterilização. Outra
característica dos primeiros CMEs era o compartilhamento de recursos humanos e estruturais com o CC,
prática que persistiu até meados da década de 1970 e início da de 1980.
Outra mudança significativa para a configuração dos CMEs diz respeito à complexidade crescente
de materiais e seus diversos componentes. O avanço dessa tecnologia impulsionou a criação e o
desenvolvimento de tecnologias compatíveis no CME.
Inicialmente a enfermagem que atuava no CC também era responsável pelo CME, porém hoje vemos uma
evolução, sendo o CME uma unidade independente do CC, incluindo o que se refere ao seu recurso humano.
Possari (2010) afirma que no Brasil, os primeiros CMEs começam a surgir em 1950, porém ainda com
características de descentralização das atividades, e o processamento de gazes, aventais e compressas
era realizado nas unidades de internação.
Na década de 1970, alguns hospitais de grande porte em capitais e centros universitários iniciam a
implantação de setores destinados a atividades de processamento dos materiais, sendo caracterizados
como unidades autônomas e independentes do CC, conforme Possari (2010).
13
Unidade I
O autor afirma ainda que na década de 1990 encontrávamos unidades de CME ligadas às unidades
de CC, incluindo em relação aos recursos humanos. A percepção de que o processo de trabalho no
CME é específico e totalmente diferenciado do processo de trabalho do CC impulsionou a separação
do CME do CC, gerando assim plantas físicas específicas e recursos humanos especializados no
processamento de materiais, aperfeiçoando a racionalidade, melhorando os processos e aumentando
a segurança do paciente e equipe do CME.
O CME tem como fundamentação teórica e conceitual o Ministério da Saúde (MS), que
apresenta o CME como “O conjunto de elementos destinados a recepção, expurgo, preparo,
guarda e distribuição dos artigos para as unidades dos estabelecimentos assistenciais de saúde”
(BRASIL, 2002).
A legislação em CME tem evoluído e trazido novos conceitos e propostas a essa unidade tão
específica e com tantas particularidades. Portanto, para o enfermeiro é essencial o conhecimento das
suas principais recomendações, assim como as leis que regem o processamento de materiais de uso
odonto-médico-hospitalares.
A Portaria nº 400, de 6 de dezembro de 1977 (BRASIL, 1977), estabelecia área mínima do CME de 40 m2
para um hospital geral de até 50 leitos e de 66 m2 para um hospital com até 150 leitos. A Portaria
também dizia que 18% dessa área seria destinada a recepção e expurgo, 43% destinada ao preparo
de materiais, 24% para esterilização e 15% para área de guarda e distribuição de material esterilizado
(GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011).
Após quase duas décadas, em 1994, o MS, por meio da Portaria nº 1.884, de 11 de novembro de 1994
(BRASIL, 1994), estabeleceu novos parâmetros para a aprovação de projetos físicos de estabelecimentos
de saúde, revogando a Portaria 400. Em 21 de fevereiro de 2002, essa portaria foi revogada pela RDC 50
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo que posteriormente a RDC 50 foi revogada
pela RDC 307, de 14 de novembro de 2002.
Muito conhecida no meio hospitalar, a RDC 50, conforme Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), dispõe
sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos
físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.
Constam da RDC 50 as seguintes recomendações para as áreas que compõem o CME, conforme
Possari (2010):
• Recepção, desinfecção, lavagem e separação de artigos: 0,8 m2 por leito com área mínima
de 8 m2.
14
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
• Armazenagem e distribuição de artigos esterilizados: 0,2 m2 por leito, com mínimo de 10 m2.
A RDC 50 e a RDC 307 foram então revogadas pela RDC 15, de 2012, a qual discutiremos e
conheceremos a seguir.
Saiba mais
1.2.2 RDC 15
A RDC 15, de 15 de março de 2012, regulamenta os requisitos para as boas práticas para o
processamento de produtos para a saúde, definindo o CME como “Unidade funcional destinada
ao processamento de produtos para a saúde dos serviços de saúde” (ANVISA, 2012).
Algumas recomendações estão apresentadas a seguir, para que você possa comparar com as
anteriormente apresentadas na RDC 50:
15
Unidade I
• Sala de desinfecção química, quando aplicável: sala exclusiva para essa atividade,
com área mínima de 4,0 m2, com bancada e cuba de lavagem de no mínimo 0,8 x 0,6 x 0,5
de profundidade.
Um aspecto importante da RDC 15 foi a classificação do CME em CME classe I e classe II. Temos os
seguintes conceitos de cada um desses tipos de CME:
• O CME classe I é aquele que “realiza o processamento de produtos para a saúde não críticos,
semicríticos e críticos de conformidade não complexa passíveis de reprocessamento”.
• O CME classe II é aquele que “realiza o processamento de produtos para a saúde não críticos,
semicríticos e críticos de conformação complexa e não complexa passíveis de processamento”
(ANVISA, 2012).
Saiba mais
O CME classe II também deve contar com áreas de apoio, como vestiário com sanitários para os
funcionários, depósito de material de limpeza, copa de funcionários, sala administrativa e sala de
descanso dos funcionários em plantões noturnos.
Os conceitos que veremos a seguir darão subsídios para a compreensão dos processos desenvolvidos
no CME, uma vez que são essenciais para o processamento de artigos e seu correto destino dentro do CME.
16
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
Spaulding, na década de 1960, propôs a classificação de materiais (produtos para saúde) de uso
hospitalar e de uso na assistência à saúde em três categorias, tendo por base o risco potencial de
infecções que envolvem o uso desses materiais:
• Semicríticos: entram em contato com mucosa íntegra ou pele não intacta. O risco de
transmissão de infecção envolvido é intermediário, pois as membranas apresentam certa
resistência a infecções causadas por esporos bacterianos. Esses produtos devem receber no
mínimo a desinfecção de alto nível.
• Não críticos: entram em contato com a pele intacta ou não entram em contato direto
com o paciente. O risco de transmissão de infecções é baixo, porque a pele age como uma
barreira efetiva a muitos microrganismos. Devem receber desinfecção de nível baixo, e
em caso de ausência de matéria orgânica, a limpeza seria suficiente (GRAZIANO; SILVA;
PSALTIKIDIS, 2011).
Até a RDC 15 de 2012, os produtos para saúde eram chamados de artigos, por isso você ainda pode
encontrar essa terminologia em algumas referências anteriores a 2012. Neste material, adotaremos
“produtos para a saúde” como terminologia mais atualizada e adequada, segundo a legislação vigente
(ANVISA, 2012).
Conhecemos o fluxo no CME como fluxo unidirecional, ou seja, um fluxo único e contínuo em que
o cruzamento de materiais seria impossibilitado, ou seja, materiais limpos não se cruzam com materiais
contaminados (SOBECC, 2013).
Alguns exemplos de produtos consumidos são: roupas, como aventais e campos cirúrgicos,
instrumentais cirúrgicos, extensões de borracha, materiais inalatórios, equipamentos de ventilação
mecânica etc.
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Unidade I
As três áreas destacadas na figura anterior devem ser separadas entre si por barreiras físicas, ou
seja, paredes ou estruturas físicas que garantam que cada uma dessas áreas esteja isolada das demais,
impossibilitando fluxo de materiais e pessoas.
O conceito de barreira técnica se faz importante, pois o fluxo unidirecional com três áreas distintas
pode ser encontrado em CME classe II. O CME classe I pode ter entre si separações com barreiras técnicas
que são conceituadas como “o conjunto de medidas comportamentais dos profissionais de saúde
visando à prevenção de contaminação cruzada entre o ambiente sujo e o ambiente limpo, na ausência
de barreiras físicas” (ANVISA, 2012).
Todo estabelecimento de assistência à saúde (EAS) que tiver um CC, centro obstétrico e/ou
ambulatorial, hemodinâmica, emergência de alta complexidade e urgência deve ter um setor de CME.
Se houver materiais de conformação complexa, deverá existir um CME classe II. O CME pode se localizar
dentro ou fora da EAS, desde que não haja prejuízo à integridade do material ou qualquer risco de
contaminação ou perda da validade do processo realizado (SOBECC, 2013).
O CME também deve ter normas, rotinas e procedimentos operacionais padronizados (POPs),
validados e atualizados com frequência, garantindo a qualidade e segurança do processo.
Como já vimos anteriormente, o CME deve ser um local autônomo e independente do CC, sendo que
o ideal é que o CME esteja próximo de unidades fornecedoras (exemplo – almoxarifado e rouparia) e
permita comunicação e transporte fácil para os centros consumidores (exemplos: CC, centro obstétrico,
unidades de tratamento e internação, entre outros).
Recomenda-se também que o CME esteja afastado de áreas de grande circulação de pessoas,
evitando que elas entrem em contato com materiais contaminados ou estéreis (POSSARI, 2010).
A seguir, detalharemos os elementos que compõem a planta física e estrutura do CME, com suas
particularidades e recomendações.
O tamanho do CME deve estar de acordo com a demanda diária de produtos a serem processados,
número e especificidade de leitos no hospital, existência de CC, número de salas de operações e
18
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
média diária de cirurgias, além das especialidades a serem atendidas, uso de materiais de único,
arsenal cirúrgico e forma de armazenagem e distribuição dos produtos esterilizados às unidades
consumidoras (SOBECC, 2013).
2.3.1 Pisos
Devem ser de cor clara, ser resistentes ao calor, umidade e soluções corrosivas, ser não porosos,
não sonoros e absorventes da luz, oferecer boa condutibilidade elétrica, ser duráveis, ser laváveis e ser
de fácil limpeza. A preferência deve ser por pisos de vinil, que são menos duros e de fácil conservação
(POSSARI, 2010). Podemos ver esse tipo de material na figura a seguir.
Os pisos podem ser específicos para áreas diferentes dentro do CME, como em áreas úmidas ou
molhadas, e também ter pisos antiderrapantes, sem porosidades e que suportem produtos químicos
de limpeza. Além dessa recomendação, o transporte de materiais feitos em carros pode prejudicar e
danificar o piso, portanto os rodízios dos carros devem ser apropriados aos transportes realizados e ao
peso deles, evitando danos e possibilidades de quedas por parte de trabalhadores (SOBECC, 2013).
2.3.2 Paredes
As paredes devem ser lisas e planas, sem saliências ou reentrâncias, com cantos abaulados e
arredondados. O revestimento deve ser de material lavável, impermeável, sem porosidade, resistente a
abrasão, durável e de cor suave, diminuindo a reverberação da luz (POSSARI, 2010).
2.3.3 Teto/forros
O uso de forros acústicos tem impacto na redução de ruídos no CME. Os forros podem ser removíveis
ou não, e muitas vezes sustentam instalações e equipamentos. O material deve permitir a limpeza, e nas
áreas onde há presença de vapor, deve-se optar por um material impermeável. Dessa forma, espera-se
que haja manutenção e durabilidade do material usado no CME.
2.3.4 Janelas
De acordo com Possari (2010), as janelas podem ser usadas no CME, desde que lacradas, permitindo
entrada de luz natural e iluminação em áreas que necessitam de melhor visualização. Outro detalhe
também diz respeito ao estresse do trabalhador e à possibilidade de visão do meio externo, o que pode
ser um fator de diminuição de estresse e humanização.
Para que as janelas possam ser mantidas fechadas e lacradas, é necessário sistema de ar condicionado
e climatização, pois o CME tem exposição a diferentes temperaturas, o que interfere no conforto térmico
do profissional que atua nesse setor (SOBECC, 2013).
2.3.5 Ventilação/exaustão/ar-condicionado
No CME existem diversos equipamentos, como as autoclaves, que podem elevar a temperatura nesse
setor, configurando uma queixa frequente dos trabalhadores.
Recomenda-se o uso de exaustão na área de recepção e limpeza dos produtos, com uso de pressão
negativa, evitando que o ar contaminado saia dessa região. Já na área de armazenamento e distribuição
de materiais, recomenda-se uso de pressão positiva, evitando que ao abrir a porta o ar que está no lado
externo entre na região considerada mais limpa.
Para garantir esse sistema, há a necessidade de um piso acima do CME com o controle e maquinário
do ar condicionado do CME.
Outro aspecto é o controle da temperatura, que também se faz essencial. Manter a temperatura
entre 20 e 24 ºC com vazão mínima de ar total de 18 m3/hora/m2 é recomendação da Associação de
Enfermeiros de CC, CME e sala de recuperação anestésica (SOBECC, 2013).
2.3.6 Iluminação
Conforme falado anteriormente, a iluminação natural pode ser utilizada no CME, mantendo janelas
lacradas; porém, devido à especificidade das atividades desenvolvidas no CME, é necessário que seja
mantida iluminação artificial.
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MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
No CME deve haver boa iluminação geral, além de pontos específicos em bancadas de trabalho e
estações, locais que exigem maior acurácia visual. A iluminação pode ser feita também com lâmpadas
fluorescentes repelentes a insetos (POSSARI, 2010; SOBECC, 2013).
O CME tem passado por diversas transformações nos últimos anos. A tecnologia encontrou no CME
um campo vasto de possibilidade e investimentos.
Você já deve ter percebido que o CME é um local que teve uma evolução muito grande do ponto
de vista estrutural. Neste tópico, discutiremos os diversos equipamentos e maquinários que podem ser
utilizados em CME e vêm sendo incorporados ao CME como parte da estrutura que garante a qualidade
do processo de limpeza, desinfecção, esterilização etc.
A manutenção dos equipamentos deve ser periódica e acompanhada pelo enfermeiro do CME
e profissionais da engenharia clínica. Em caso de qualquer suspeita de falhas nos processos, mau
funcionamento, mudanças de local de funcionamento, reparos e requalificação do processo, deve ser
acompanhado e novamente monitorado o funcionamento do equipamento.
Ao adquirir o equipamento e seus insumos, deve-se compreender o que será necessário para o
funcionamento adequado do equipamento, além de monitorar a qualidade da água, detergentes e
saneantes (SOBECC, 2013).
21
Unidade I
2.4.1 Termodesinfetadoras
São máquinas que removem a sujidade pela ação de força de spray e de jatos de água aplicados por
meio de bicos ou braços rotativos associados ao detergente. São programadas para sucessivas etapas,
como a pré-lavagem, ciclos de lavagem, enxague, desinfecção térmica e secagem (GRAZIANO; SILVA;
PSALTIKIDIS, 2011). Existem vários modelos de lavadoras desinfetadoras no mercado.
A NBR ISO 15883-1 especifica os requisitos gerais de desempenho para lavadoras desinfetadoras
e seus acessórios, que são destinados ao uso para limpeza e desinfecção de dispositivos médicos
reutilizáveis e outros artigos utilizados no contexto da prática médica, odontológica, farmacêutica e
veterinária. Especifica também os requisitos de desempenho para limpeza e desinfecção, bem como
para os acessórios, os quais podem ser requeridos para atingir o desempenho necessário. Os métodos e a
instrumentação exigidos para validação, controle de rotina e monitoração e revalidação, periodicamente
e após consertos essenciais, também estão especificados. Os requisitos para lavadoras desinfetadoras
destinadas ao processamento de cargas específicas estão descritos na NBR ISO 15883 (NBR, 2013).
As lavadoras ultrassônicas são lavadoras que agem por ondas sonoras impossíveis de serem ouvidas
por humanos, que variam entre 20 e 120 kHz, as quais se propagam em meio líquido. A lavadora
ultrassônica gera bolhas microscópicas que estouram quando entram em contato com a superfície dos
materiais, gerando uma área de vácuo localizado, removendo a sujidade do material. Chamamos esse
processo de cavitação.
É recomendado que produtos de conformação complexa, ou seja, aqueles de difícil limpeza e com
lúmens de difícil acesso, produtos com válvulas e espaços internos inacessíveis, sejam lavados nesse tipo
de máquina após passarem por processo de limpeza manual, o qual discutiremos adiante neste material.
Produtos com lúmens inferiores a 2,5 mm têm recomendação de utilização da lavadora ultrassônica,
com uso de jatos pulsáteis (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011).
A lavadora conta com uma cuba que deve ser preenchida com solução de detergentes até o nível
indicado. Deve-se imergir completamente os materiais nesse líquido, abrir pinças e preencher os lúmens,
garantindo que todos os espaços entrem em contato com o detergente. Ao terminar o ciclo, deve ser
feito enxague abundante das peças (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011).
22
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
Figura 5 - Lavadora de endoscópio. Específica para esse tipo de material, que configura um desafio à limpeza e ao processamento
2.4.5 Secadora
23
Unidade I
Filtros High Efficiency Particulate Air (Hepa) podem ser adaptados à secadora para remoção de
99,97% das partículas de 0,3 micra. A secadora possui fluxo contínuo de ar e distribuição uniforme
de calor para que a secagem possa ser eficiente. A capacidade da secadora depende do seu tamanho,
podendo ser para 61, 84 e 120 tubos. Os controles podem ser programados para o tipo de produto a ser
submetido a secagem (POSSARI, 2010).
Outro recurso utilizado na secagem de produtos para a saúde são as pistolas de ar comprimido.
Lembramos da necessidade do profissional que atua no CME de utilizar os equipamentos de proteção
individual (EPIs) em todos os momentos do processo.
2.4.7 Seladoras
A selagem deve obedecer à largura de 6 mm, podendo ser em “linha” simples, dupla ou tripla, e
distante 3 cm da borda e do material (SOBECC, 2013).
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MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
Após o processo de selagem, o produto para a saúde embalado deve passar pelo processo de
esterilização. A escolha do equipamento para o processo de esterilização dependerá dos recursos
disponíveis no estabelecimento, tipos de materiais a serem esterilizados – por exemplo, materiais
termossensíveis (ou seja, aqueles que podem sofrer danos se expostos ao calor) –, tipo e quantidade de
materiais e ciclos de esterilização necessárias, por exemplo, por dia em um CME.
A seguir mostraremos algumas figuras relativas a modelos de autoclaves, que são os equipamentos
responsáveis pelo processo de esterilização, ou seja, é na autoclave que acontece a morte e destruição
de todas as formas viáveis de vida bacteriana, conforme veremos adiante. As autoclaves podem
funcionar com ciclos a vapor ou de baixa temperatura, como o vapor de baixa temperatura de
formaldeído e o plasma de peróxido de hidrogênio. Todos esses métodos de esterilização serão
oportunamente discutidos e explicados.
25
Unidade I
Figura 9 - Autoclave a vapor em um CME, com fechamento manual das portas e porta manual
Outro tipo de equipamento para esterilização de produtos para a saúde termossensíveis é a autoclave
com esterilização de plasma de peróxido de hidrogênio.
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MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
Ainda destacamos a RDC 15, que traz as seguintes recomendações quanto à manutenção e cuidados
com os equipamentos no CME:
I – Data da intervenção.
II – Identificação do equipamento.
O CME é um local onde o profissional pode estar exposto a diversos riscos ao exercer a sua atividade
laboral. Os riscos podem ser entendidos como tudo aquilo que pode colocar a saúde em situação de
exposição e possíveis danos, sejam permanentes ou não.
É uma área onde encontramos riscos diversos ao trabalhador, sendo exigido, portanto, o uso de EPIs,
desde a área de recepção do material até a área de distribuição do mesmo aos setores consumidores dos
produtos processados nesse setor.
Entende-se EPI como “todo dispositivo de uso individual, de fabricação nacional ou estrangeira,
destinado a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador” (BRASIL, 1978).
O uso de EPIs no CME está vinculado ao tipo de atividade desenvolvida em cada área onde se dá o
processamento dos produtos para a saúde.
27
Unidade I
Na área de recepção e limpeza de materiais, temos um grande risco de contato com materiais
contaminados, com alta carga microbiana, sendo, portanto, imprescindível a proteção do profissional
com itens de segurança, conforme veremos a seguir.
3.1 Luvas
As luvas indicadas para uso na área de limpeza de produtos devem ser de materiais chamados nitrila e
butila, que são antiderrapantes. Elas devem ser usadas ao manipular produtos contaminados de diversas
origens, seja do CC, das unidades de internação, das UTIs, dos prontos-socorros etc. Independentemente
de conhecermos a fonte contaminadora do material, o uso de EPIs deve ser criterioso e sempre
supervisionado, garantindo a segurança do profissional.
Protegem a face contra impactos (partículas quentes ou frias), produtos químicos (poeiras, líquidos
e vapores) e riscos biológicos (aerossóis, gotículas e partículas diversas). Os protetores faciais oferecem
proteção sem necessidade do uso de óculos.
28
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
3.3 Máscaras
As máscaras são indicadas para serem usadas na área de limpeza do material, pois protegem
o profissional da inalação de aerossóis e respingos na região da boca e nariz. Devem ser utilizadas
cobrindo toda a região da boca e nariz e trocadas sempre que houver saturação de seu uso ou quando o
profissional espirrar ou tossir. Deve ser descartável e retirada cuidadosamente para evitar o contato das
mãos do profissional com a área de filtro.
As máscaras cirúrgicas protegem o profissional de riscos biológicos, porém o ideal seria que o
profissional na área de expurgo utilizasse a máscara com filtro para proteção do aparelho respiratório. Os
filtros podem ser mecânicos, para proteção contra partículas suspensas no ar, e químicos, que protegem
contra gases e vapores orgânicos e combinados, ou seja, químicos e físicos.
O uso de máscaras faciais com filtro de carvão ativado pode reduzir a inalação do vapor dos
desinfetantes e esterilizantes nas áreas de desinfecção e esterilização no CME.
As máscaras podem ser substituídas por protetores faciais, no caso de ausência de vapores
ou aerossóis.
A máscara cirúrgica pode ser utilizada na área de preparo do produto para esterilização, em especial
para evitar respingos ou que o profissional converse durante o preparo do produto.
De maneira geral, as máscaras devem proteger contra produtos químicos (desinfetantes, por
exemplo), mas na área de limpeza pode ser utilizada a máscara facial cirúrgica. Porém, o ideal seria
utilizar uma máscara com filtro, evitando que se inalem produtos químicos utilizados na limpeza, como
vemos nas figuras a seguir.
29
Unidade I
Figura 13 - Máscara facial com filtração para aerossóis e partículas menores de 5 micras
Figura 14 - Máscara facial cirúrgica – evita que respingos possam contaminar o material
no momento do preparo e protege o profissional de respingos no nariz e boca. Note que a
máscara cobre toda a região, sem expor o nariz e sua mucosa. Nessa imagem vemos
também o uso de óculos de proteção
Figura 15 - Exemplo de protetor facial utilizado em CME nos Estabelecimentos de Assistência à Saúde
30
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
3.4 Aventais
Os aventais são usados na área de limpeza do material, para proteger o profissional dos riscos
biológicos. O avental deve ser impermeável e cobrir todo o corpo do profissional, inclusive os
membros superiores.
Para o profissional nas áreas de preparo do material, deve ser usado avental de tecido, limpo, ou
roupa privativa, evitando o contato do material durante o processamento com a roupa do indivíduo.
Figura 17 - Exemplo de roupas privativas utilizadas no CME, área restrita à circulação de pessoas.
Aventais de tecido, fechados, de manga longa e limpos, podem ser utilizados para a área de preparo no CME
31
Unidade I
Na área de distribuição e armazenamento deve ser utilizada a roupa privativa, ou avental limpo
de tecido, pois o contato do material limpo e estéril deve ser evitado com o corpo e roupa comum
do profissional.
Visam proteger os ouvidos contra níveis elevados de ruído, regidos pela norma NBR nº 10.152
(ABNT, 1987), que estabelece o limite de 60 decibéis para uma condição de conforto durante a jornada
de trabalho.
Os protetores podem ser do tipo concha, externos, ou de inserção e/ou descartáveis. Os padrões
internacionais preconizam o limite de 85 decibéis por período de oito horas (HIRATA; HIRATA; MANCINI
FILHO, 2012).
No CME, por causa das máquinas e seus ruídos – por exemplo, as autoclaves –, recomenda-se a
fiscalização por parte da segurança do trabalho, para controle de decibéis e saúde do trabalhador.
Para o CME, assim como para as áreas hospitalares e de assistência à saúde, recomenda-se pela NR
32 o uso de calçados fechados.
32
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
Saiba mais
Para o CME, a recomendação é de calçados fechados, e na área de expurgo, pelo fato de ser uma área
úmida, com possibilidade de quedas ou de se molhar os pés, recomendamos o uso de botas ou calçados
impermeáveis. Uma possibilidade é o uso de botas como vemos na figura a seguir:
33
Unidade I
Observação
Consideramos equipamentos de segurança coletivos, como o próprio nome já diz, aqueles que podem ser
utilizados coletivamente, como lava‑olhos ou chuveiros de emergência. No CME, pode ser necessário o uso
de lava‑olhos devido à possibilidade de contato de produtos químicos na região dos olhos. Já o chuveiro pode
ser usado coletivamente, ou então recomenda-se que haja chuveiros nos vestiários, para qualquer eventual
necessidade dos profissionais que atuam nesse setor fechado (HIRATA; HIRATA; MANCINI FILHO, 2012).
Além do EPIs e EPCs recomendados no CME, devem estar ao alcance de todos as informações
necessárias em caso de emergências, como incêndios, acidentes com materiais perfurocortantes etc.
Todos esses procedimentos devem ser registrados e monitorados visando à segurança do profissional no
ambiente de trabalho do CME.
34
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
O trabalho no CME é realizado por uma equipe especializada e voltada às necessidades específicas
do CME, porém nem sempre foi assim.
Os primeiros CMEs tinham profissionais que não eram preparados e treinados para o trabalho desse
setor. Existiam muitos profissionais sem qualificação ou qualquer formação para executar o trabalho
de processamento dos produtos. Essa situação persistiu até pouco tempo, pois ainda recentemente
encontrávamos profissionais sem qualquer formação prestando serviço no CME.
Com a adesão de novas tecnologias, maquinários cada vez mais modernos e processos de limpeza
complexos e específicos, surge a necessidade de profissionais especializados e direcionados ao trabalho
desenvolvido nesse local, gerando então a especificidade do profissional e a consequente valorização de
sua prática e formação.
O enfermeiro configura peça-chave nos CMEs no Brasil. Em alguns países, o profissional enfermeiro não
exerce papel de liderança do CME, cabendo a outros profissionais de nível superior essa função, porém no Brasil
em particular, com a RDC 15, temos a recomendação que segue: “O CME deve contar com um profissional
de nível superior, para coordenar as atividades relacionadas ao processamento de produtos para a saúde, de
acordo com as competências profissionais definidas em legislação específica” (ANVISA, 2012).
A RDC, conforme lemos, não fala claramente da presença do enfermeiro como profissional a liderar
e coordenar o CME, porém no Brasil temos o trabalho de coordenação e supervisão do CME cabendo
ao enfermeiro, já que sua formação e desenvolvimento de competências direcionam essa função a ele
como profissional mais preparado e capacitado a coordenar o setor.
Finalmente no artigo 3º, o Cofen diz que: “Cabe aos Conselhos Regionais adotar as
medidas necessárias ao cumprimento desta Resolução”.
A Sobecc (2013) também fala sobre as atribuições do enfermeiro no CME, contribuindo para o
delineamento das atividades direcionadas a esse profissional, como as que encontramos a seguir:
Ainda segundo a Sobecc (2013), o enfermeiro é o profissional que reúne as características necessárias
e imprescindíveis para assumir a responsabilidade pelo CME, uma vez que exerce todas as atividades
de enfermagem, incluindo chefia do serviço e da unidade de enfermagem e também a organização e
a direção dos serviços de enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares do Estabelecimento de
Assistência à Saúde (EAS), assim como o planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação
dos serviços de assistência de enfermagem. O enfermeiro é o profissional que recebe em sua formação
acadêmica conteúdos específicos sobre as boas práticas para o processamento de produtos para saúde.
Para garantir a qualidade do processamento dos produtos para a saúde, o CME deve contar com a
atuação dos profissionais exclusivos para essa unidade durante sua jornada de trabalho (SOBECC, 2013).
O enfermeiro no CME tem diversos desafios, os quais estão relacionados com a complexidade e
especificidade do CME, e também muito caracterizados pela “invisibilidade”, pois no CME, o cuidado
é prestado de forma indireta ao paciente. Esse tipo de cuidado pode ser menos valorizado, apesar de
sua importância e conhecimento envolvidos – o que por si só poderia ser gerador de reconhecimento
considerável a esse profissional (GIL; CAMELO; LAUS, 2013).
Outro aspecto importante do enfermeiro do CME diz respeito à sua formação, pois o enfermeiro
passa pelo CME de forma muito abreviada na graduação, e ao se deparar com a possibilidade de assumir
essa unidade como enfermeiro, podem aparecer diversas dúvidas e receios. Dessa forma, recomendamos
que o profissional busque a realização de curso de capacitação constantemente e seja um enfermeiro
especialista na área de CME.
37
Unidade I
As atividades realizadas com mais frequência no CME são, em ordem de frequência: supervisão
das atividades realizadas nessa área, confirmação da programação de cirurgias para verificação da
disponibilidade de produtos como caixas e roupas, atendimento às unidades consumidoras, coordenação
do processo de trabalho da unidade, acompanhamento da equipe nas atividades, em especial em relação
aos novos trabalhadores, supervisão do funcionamento de equipamentos, confirmação das cirurgias em
relação ao uso de materiais consignados e checagem de documentação de controle de esterilização.
Observação
Lembrete
O enfermeiro do CME deve mostrar competências no que diz respeito à modernização do processo
produtivo e, em especial na valorização dos recursos humanos e sua atualização através de educação
continuada eficaz e comprometida com o desenvolvimento de todas as potencialidades dos profissionais
de enfermagem diante das novas tecnologias implementadas.
manuais; estabelecer métodos de limpeza e frequência da limpeza nas áreas do CME; participar de
reuniões em conjunto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) para discussão de
condutas e técnicas a serem desenvolvidas na área; desenvolver trabalhos científicos, colaborando com
estudos e pesquisas na área da enfermagem (POSSARI, 2010).
O profissional precisa ter competências distintas para trabalhar no CME, pois a especificidade
desse setor determina o grau de interesse e satisfação do trabalhador. As competências esperadas para
o técnico e auxiliar de enfermagem no CME são: competências técnicas; confiança e credibilidade;
equilíbrio emocional; habilidade de trato com o público; capacidade de organização; reter as informações
recebidas; facilidade para memorizar as especificações ou padronizações; resistência quanto ao contato
com temperaturas que variam; atenção e organização; gostar do que faz; estar atento às normas e
regras de assepsia (POSSARI, 2010).
O auxiliar administrativo também faz parte do CME, sendo considerado o elo entre o ambiente
externo e interno ao CME, sendo responsáveis por uma efetiva comunicação com os demais setores
da instituição.
As atividades desenvolvidas por esses trabalhadores dependem de cada serviço e suas características,
porém as atividades mais comuns são: efetuar pedidos de produtos de consumo, digitar comunicados,
40
MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
realizar escalas de serviço e escala de férias, digitar listagens de caixas de instrumentais e digitar lista
de rotinas, normas e comunicados, entre outros. Ainda destacamos o atendimento telefônico como
atividade possível de ser realizada por esse profissional.
De acordo com Possari (2010), CME é um local de constante inovação tecnológica. Dessa forma,
o treinamento e desenvolvimento ao profissional nesse setor deve ser direcionado à realidade do
profissional do CME, pois suas atividades diferem das demais unidades do estabelecimento.
O treinamento no CME tem os seguintes objetivos: desenvolver espírito de equipe, elevar o padrão
de qualidade, aumentar a produtividade, favorecer práticas ergonômicas, ampliar conhecimentos,
possibilitar o desempenho de seu papel com segurança e satisfação, mudar atitudes, diminuir necessidade
de supervisão, redução de custos, redução de desperdícios, trabalhar em sincronia com a instituição e
seus objetivos e ainda detectar precocemente eventos adversos.
Quando o treinamento não é realizado, pode gerar problemas como: queda da qualidade das
atividades realizadas, baixa autoestima, insatisfação profissional, alta rotatividade e consequente
dificuldade na realização de treinamento e desenvolvimento, imagem negativa da instituição.
A seguir, apresentamos sugestões para o treinamento do CME, de acordo com Possari (2010):
• Registros de enfermagem.
41
Unidade I
• Atendimento ao público.
• Trabalho em equipe.
• Rastreabilidade e recall.
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MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
Resumo
Exercícios
Questão 1. (SEPLAG, 2011) Nos termos da regulamentação normativa editada pela Anvisa, RDC
nº 307/2002, quanto à internação de transplantados de medula óssea:
A) consente-se que as unidades de enfermagem e de apoio possam ser estabelecidas com um andar
de diferença para o local da internação.
B) exige-se uma subunidade exclusiva, com capacidade de, no mínimo, três quartos individuais.
C) permite-se que a unidade de enfermagem atenda a outros pacientes, em quartos coletivos, junto
com os transplantados.
D) permite-se que os ambientes de apoio sejam compartilhados, mesmo que fora do andar da
unidade de internação.
43
Unidade I
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa correta.
Justificativa: para internação de transplantados de medula óssea é exigida uma subunidade exclusiva,
com capacidade de no mínimo três quartos individuais com filtragem absoluta do ar interior no caso de
transplantados alogênicos e um subposto de enfermagem. Vide Portaria MS/GAB nº 1.316, de 30/11/00,
Regulamento técnico para transplante de medula óssea e outros precursores hematopoéticos.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: é exigida uma subunidade exclusiva, com capacidade de no mínimo três quartos individuais
com filtragem absoluta do ar interior no caso de transplantados alogênicos e um subposto de enfermagem.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: exige-se uma subunidade exclusiva, com capacidade de no mínimo três quartos individuais.
A) aprova as diretrizes para execução e financiamento das ações de Vigilância em Saúde pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios e dá outras providências.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Lei n. 8.078/1990 é que dispõe sobre a Proteção do Consumidor e dá outras providências.
D) Alternativa correta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a RDC n. 44/2013 é que dispõe sobre o procedimento administrativo para a avaliação
toxicológica de produtos técnicos e formulados com base em ingredientes ativos com preocupação
para saúde.
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