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Propedêutica e Processos

de Cuidar da Saúde da
Criança e do Adolescente
Autora: Profa. Lidiana Flora Vidôto da Costa
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Unidade I

Professora conteudista: Lidiana Flora Vidôto da Costa

É professora titular da Universidade Paulista (UNIP) desde 2004, graduada em Enfermagem pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC‑Campinas – 1988), mestre em Enfermagem pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp – 2008) e doutora em Patologia Ambiental e Experimental pela Universidade Paulista – UNIP
(2015). Ministra as disciplinas de Propedêutica e Processos de Cuidar da Saúde da Criança e do Adolescente no
curso de graduação em Enfermagem da UNIP. Atuou 20 anos em área hospitalar, com ênfase em terapia intensiva
pediátrica e neonatal.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C837p Costa, Lidiana Flora Vidôto da.

Propedêutica e Processos de Cuidar da Saúde da Criança e do


Adolescente / Lidiana Flora Vidôto da Costa. – São Paulo: Editora Sol, 2018.

264 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-115/18, ISSN 1517-9230.

1. Desenvolvimento. 2. Doença. 3. Hospitalização. I. Título.

CDU 616-083

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Unip Interativa – EaD

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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Rose Castilho
Elaine Pires
Sumário
Propedêutica e Processos de Cuidar da Saúde da
Criança e do Adolescente

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 CRESCIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.............................................................................. 11
1.1 Conhecendo o perfil epidemiológico da criança brasileira.................................................. 11
1.2 O papel do enfermeiro na vigilância do crescimento e do desenvolvimento
da criança e do adolescente..................................................................................................................... 15
1.3 Padrões de crescimento e desenvolvimento.............................................................................. 16
1.3.1 Tendências direcionais........................................................................................................................... 16
1.3.2 Tendências sequenciais......................................................................................................................... 16
1.4 Crescimento............................................................................................................................................. 20
1.4.1 Estatura........................................................................................................................................................ 24
1.4.2 Peso............................................................................................................................................................... 26
1.4.3 Circunferência do braço e espessura da prega cutânea.......................................................... 30
1.4.4 Perímetro cefálico.................................................................................................................................... 31
1.4.5 Determinantes biológicos de crescimento.................................................................................... 35
1.4.6 Gráficos de avaliação antropométrica (peso/estatura) na criança...................................... 38
2 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE................................................................... 48
2.1 Faixas etárias do desenvolvimento da criança.......................................................................... 50
2.1.1 Período pré‑natal..................................................................................................................................... 51
2.1.2 Período de lactente................................................................................................................................. 52
2.1.3 Período inicial da infância.................................................................................................................... 61
2.1.4 Período intermediário da infância (idade escolar)..................................................................... 62
2.1.5 Período tardio da infância.................................................................................................................... 63
2.2 Fatores de risco para problemas do desenvolvimento........................................................... 67
2.3 Avaliação do desenvolvimento da criança................................................................................. 68

Unidade II
3 O ENFERMEIRO, A COMUNICAÇÃO, A CRIANÇA E A FAMÍLIA........................................................ 77
3.1 O enfermeiro e as formas de comunicação com a criança.................................................. 78
3.1.1 Comunicação verbal............................................................................................................................... 78
3.1.2 Comunicação não verbal (paralinguagem)................................................................................... 79
3.1.3 Comunicação abstrata........................................................................................................................... 79
Unidade I

3.2 Instrumento de intervenção na enfermagem pediátrica: o brinquedo.......................... 86


4 CONSULTA DE ENFERMAGEM PEDIÁTRICA........................................................................................... 88
4.1 Entrevista.................................................................................................................................................. 89
4.2 Examinando a criança: verificações fisiológicas e exame físico........................................ 93
4.2.1 As medidas fisiológicas da criança e do adolescente............................................................... 97
4.2.2 Exame físico.............................................................................................................................................113

Unidade III
5 ALIMENTAÇÃO DA CRIANÇA NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA....................................................156
5.1 Aleitamento materno........................................................................................................................156
5.2 Alimentação da criança do 6º mês até o 1º ano de vida....................................................168
6 DOENÇAS NA INFÂNCIA DECORRENTES DE PRIVAÇÃO NUTRICIONAL....................................174
6.1 Desnutrição na infância...................................................................................................................174
6.1.1 Kwashiorkor............................................................................................................................................ 177
6.1.2 Marasmo................................................................................................................................................... 177
6.1.3 Deficiência de vitamina A..................................................................................................................181
6.2 Anemia ferropriva...............................................................................................................................182

Unidade IV
7 A DOENÇA NA INFÂNCIA............................................................................................................................190
7.1 Diarreia....................................................................................................................................................192
7.1.1 Complicações da diarreia................................................................................................................... 198
7.2 Doenças respiratórias........................................................................................................................202
7.2.1 Rinofaringite aguda............................................................................................................................. 203
7.2.2 Otite média aguda (OMA)..................................................................................................................207
7.2.3 Pneumonia.............................................................................................................................................. 209
8 A HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA E AS PRINCIPAIS TÉCNICAS DE ASSISTÊNCIA................211
8.1 A criança hospitalizada.....................................................................................................................211
8.2 Os cuidados de enfermagem na saúde da criança e do adolescente............................217
8.2.1 Administração de medicamentos e a criança............................................................................217
APRESENTAÇÃO

A disciplina Propedêutica e Processos de Cuidar da Saúde da Criança e do Adolescente oferece


embasamento teórico e prático para a avaliação clínica da criança e do adolescente, destacando as
especificidades de cada faixa etária.

Ao final do curso, o aluno deverá ser capaz de conhecer as características e necessidades nos processos
de crescimento e desenvolvimento e de saúde‑doença na criança e no adolescente. Deverá, ainda, ser
capaz de conhecer as características e necessidades nos processos de crescimento e desenvolvimento e
de saúde‑doença na criança e no adolescente.

A disciplina tem como objetivo:

• Conhecer os fundamentos de crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente através


dos estágios de desenvolvimento e padrões de crescimento e desenvolvimento.

• Conhecer o crescimento biológico e o desenvolvimento físico da criança e do adolescente


através da identificação das proporções externas, dos determinantes biológicos do crescimento,
do crescimento e da maturação esqueléticos, das maturações neurológicas e teciduais e das
tendências gerais no ganho de peso e altura durante a infância.

• Identificar os principais desenvolvimentos biológicos, psicossociais, cognitivos e sociais da criança.

• Identificar o gráfico pondero‑estatural como recurso de avaliação do crescimento da criança e


do adolescente.

• Conhecer as alterações fisiológicas da criança e do adolescente (metabolismo, temperatura sono


e repouso).

• Conhecer o desenvolvimento da personalidade e função mental na infância.

• Conhecer métodos de comunicação e avaliação da criança: tipos de comunicação, diretrizes para


a comunicação e entrevista, técnicas de comunicação e levantamento da história de saúde.

• Listar achados clínicos na criança e adolescente, diferenciando do adulto, utilizando as


propedêuticas do exame físico.

• Relacionar os achados da avaliação da criança com as possíveis alterações prevalentes na infância


e adolescência.

• Conhecer a importância da nutrição da criança, adequada às fases de desenvolvimento, e a


seleção, preparação e introdução dos alimentos sólidos.

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Unidade I

• Conhecer as etapas do exame físico da criança: verificações fisiológicas e exame físico da criança.

• Identificar recursos diagnósticos que auxiliam na avaliação clínica da criança e do adolescente


nas situações de doenças prevalentes na infância e adolescência.

• Identificar a utilização do brinquedo, desenhos e avaliação de comportamentos como estratégias


de investigação de enfermagem junto à criança, compreendendo as narrativas e o brinquedo
como importantes recursos de investigação.

• Conhecer as principais doenças prevalentes na infância e correlacioná‑las às ações de enfermagem.

• Conhecer as principais técnicas de enfermagem envolvendo a assistência à criança.

• Realizar cálculos para administração de fármacos à criança e suas peculiaridades.

INTRODUÇÃO

Prezado aluno, todos nós um dia já fomos crianças e talvez já tivemos a oportunidade de cuidar
de alguma criança, seja na vivência da maternidade/paternidade, ajudando algum parente ou amigo,
ou até mesmo em pequenas experiências na comunidade onde vivemos. Quem não se encanta com o
sorriso de uma criança ou com a evolução dela ao aprender aos poucos a usar palavras para descrever
o que vê, ouve, sente e pensa? A criança é o futuro, a esperança, a idealização de um mundo melhor.

Sabemos também que muitas etapas terão que ser vencidas para que ela se torne um adulto saudável,
produtivo, competente, independente e feliz, de preferência.

Construir o futuro de uma criança é construir o futuro de uma sociedade, o futuro das relações
humanas/ambientais para o mundo. Cabe, portanto, a todos os adultos, desempenhar esse papel
construtor. Dessa forma, a criança deve ser assistida pela família, pela comunidade, pela sociedade,
pelas políticas sociais e públicas dos serviços da educação e da saúde, pela legislação, nacional e
internacionalmente, assegurando‑lhes todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e de dignidade.

Já pensou que a somatória de todos esses recursos, se investidos adequadamente, resultarão em uma
sociedade adulta desenvolvida, criativa, respeitosa, honrada, saudável, com os potenciais de inteligência
desenvolvidos, tornando o mundo um lugar melhor para se viver?

Então, contribuindo com essa ideia e integrados a esse desafio, a disciplina que você está prestes a
conhecer e estudar – Propedêutica e Processos de Cuidar da Saúde da Criança e do Adolescente – abordará
uma fração dessas necessidades da criança, com ênfase no monitoramento e vigilância do enfermeiro no
crescimento e desenvolvimento saudável da criança, bem como nas principais doenças na infância.

É importante colocar que durante a experiência profissional como enfermeiro na assistência à criança,
muitas vezes, é necessário demonstrar que a criança não é um adulto em menor proporção de tamanho.
8
Para tal, o enfermeiro precisa conhecer a criança nas diversas fases de seu desenvolvimento e crescimento,
nas peculiaridades e necessidades, e idealizar os recursos tecnológicos e científicos para essa
assistência, inclusive conduzindo a equipe de trabalho (selecionada e capacitada) para desenvolver
a assistência esperada.

Dando início aos estudos desta disciplina, você deverá inicialmente entender que, embora já tenha
bagagem adquirida dos estudos das disciplinas ofertadas com ênfase na saúde do adulto – com todas as
características e peculiaridades dessa população, nos cuidados das esferas da atenção básica, níveis II e
III de saúde –, ela deve ser entendida como exclusivamente voltada para adultos. Nesse momento, você
deverá enxergar a atenção à saúde da criança como um novo desafio de aprendizado, lembrando‑se
sempre de que a criança não é um adulto minimizado.

Espero que você aproveite a disciplina, estudando e aprimorando seu conhecimento para se tornar
um enfermeiro competente e consciente de suas funções.

Bons estudos!

Figura 1 – Criança brincando

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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Unidade I
1 CRESCIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.1 Conhecendo o perfil epidemiológico da criança brasileira

Muitas políticas de saúde nacionais e internacionais visam criar um ambiente propício para a
saúde, buscando transformar as sociedades para que crianças e adolescentes em toda parte possam
usufruir do seu direito à saúde física e mental e ao bem‑estar, da melhor forma que seja possível atingir.
Consequentemente, quando essas metas de atenção à saúde da criança e do adolescente são alcançadas,
benefícios sociais, demográficos e econômicos são vistos e aplaudidos. Dessa forma, esses futuros
adultos terão oportunidades sociais e econômicas e poderão participar plenamente da construção de
sociedades prósperas e economicamente sustentáveis.

Um exemplo de implementação de estratégias dessas políticas em nosso País encontra‑se na


legislação, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente:

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
a lei, assegurando‑lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades
e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990).

Um outro exemplo, este decorrente de um planejamento mundial, foi a Estratégia Global para a
Saúde das Mulheres, das Crianças e dos Adolescentes, iniciativa da Organização Mundial da Saúde, que
vigorou entre 2010 e 2015, atualizada em 2016, conseguindo grandes realizações. A implementação da
Estratégia Global (2010/2015) teve como metas, entre outras:

• O fim das mortes maternas, neonatais, infantis, de adolescentes e da


natimortalidade passíveis de prevenção.

• Um retorno de pelo menos 10 vezes o investimento por meio de


melhores resultados educacionais, participação na força de trabalho e
contribuições sociais.

• Pelo menos US$ 100 bilhões em dividendos demográficos advindos de


investimentos na saúde e no desenvolvimento na primeira infância e
na adolescência.

11
Unidade I

• Uma “grande convergência” em saúde, dando a todas as mulheres,


crianças e adolescentes oportunidade igual de sobreviver e prosperar
(CADA MULHER, CADA CRIANÇA, 2016, p. 7).

É recomendável que todos os países, todas as civilizações, construam, junto com o setor privado e a
sociedade civil, planos de implementações, em escala apropriada, para estabelecer intervenções que visem
aumentar a demanda e a utilização de serviços de saúde e produtos que salvam vidas, especialmente
entre as populações subatendidas, em todas as faixas etárias e gêneros, mas especialmente no que se
diz respeito às crianças.

Para isso, um governo precisa, entre outros, de recursos financeiros, recursos humanos qualificados,
tecnologias e conhecimentos avançados. Todos os aspectos citados são fundamentais para melhorar os
indicadores de qualidade de saúde da criança e do adolescente.

No caso do Brasil, por exemplo, verificou‑se que os esforços estabelecidos a médio prazo, focados
na promoção de ações de diminuição da pobreza, da ampliação da cobertura da Estratégia Saúde da
Família, dentre outros, levaram à diminuição dos óbitos infantis de 47,1 a cada mil nascidos vivos, em
1990, para 15,6 em 2010, ou seja, as taxas de mortalidade infantil (de crianças com menos de 1 ano) e
na infância (com menos de 5 anos) no País apresentaram redução de mais de 70% nos últimos 30 anos
(IBGE, 2018).

O Brasil é um dos 62 países que alcançaram a meta de redução da mortalidade infantil estipulada
pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio dos Objetivos do Milênio. A meta apontava para
a necessidade de diminuição em dois terços no índice. “De 1990 a 2015, o Brasil reduziu em 73% a
mortalidade infantil. Há 25 anos eram registradas 61 mortes para cada mil crianças menores de cinco
anos. O número caiu para 16 mortes (a cada cem mil) após esse período” (BRASIL, 2015a).

Mesmo com os dados positivos demonstrando reduções na taxa de óbitos nos primeiros anos de vida
da criança e alcançando a meta estabelecida pela ONU, o Brasil ocupa o 97º lugar no ranking mundial,
com 16,7 mortes por 1.000 nascidos vivos (CADA MULHER, CADA CRIANÇA, 2016). Embora, hoje em dia,
detenham‑se conhecimentos e tecnologias necessários para acabar com as mortes evitáveis – assim
como a oportunidade de fazê‑lo por meio de diretrizes de iniciativas de saúde pública, desafiadoras e
fundamentais para essas melhorias –, os resultados no Brasil precisam ser mais impactantes.

É importante salientar que 68,6% das mortes de crianças brasileiras com menos de um ano acontecem
no período neonatal, ou seja, com até 27 dias de vida, sendo a maioria no primeiro dia (BRASIL, 2012c).

Outra característica epidemiológica importante dessa população, no Brasil, é que o grupo de crianças
com idade entre 0 e 14 anos vem diminuindo com o passar dos anos, como demonstrado pelos sensos
demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1980 e 2010, como podemos
ver no gráfico a seguir (IBGE, 2018). Mesmo com o perfil da curva descendente, observa‑se que, em
2010, as crianças ainda representavam 25% da população brasileira.

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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

100

% 75

50

25

0
1980 1991 1996 2000 2010
0-14 anos 15-64 anos 65 mais

Figura 2 – Distribuição percentual da população por grandes grupos de idade no Brasil (1980 a 2010)

É importante recordar que no Brasil existem vários programas e políticas de saúde pública
que visam melhorar e intervir nessa realidade. Nesse contexto, podemos citar alguns: Programa
de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), o Programa de Humanização do Pré‑Natal e
Nascimento (PHPN) e o documento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
– Princípios e Diretrizes (PNAISM). Existem ainda programas e políticas específicos, voltados
à saúde da criança. Entre esses, destacamos a Rede Cegonha, em que o Ministério da Saúde
organizou uma grande estratégia a fim de qualificar as Redes de Atenção Materno‑Infantil em
todo o País com o objetivo de reduzir as taxas, ainda elevadas, de morbimortalidade materna e
infantil brasileiras (BRASIL, 2012c).

Atendendo às diretrizes de políticas de saúde vigentes em prol de atender e promover a saúde da


criança, inclusive no contexto familiar sob todos os aspectos, a contribuição do enfermeiro nessas
ações é fundamental. O papel do enfermeiro junto à população jovem (considerando crianças e
adolescentes) é imprescindível na composição multidisciplinar com foco nas ações das políticas de
saúde, que têm como objetivos prioritários a redução das taxas de morbidade e mortalidade por
causas evitáveis (SOUZA et al., 2013).

A criança, em todo o desenvolvimento de sua vida, seja desde os primeiros momentos de vida até
o avançar dos anos, quando na adolescência, necessita estabelecer relações afetivas, precisa de outra
pessoa para ir se estruturando como sujeito e para ter uma identidade própria. Portanto, estabelecer,
desde o nascimento, relações com pessoas que a escutem e entendam suas necessidades, que lhe
deem carinho e afeto, que lhe proporcionem oportunidades seguras de explorar e conhecer o mundo
que a rodeia, são condições essenciais ao adequado crescimento e desenvolvimento da criança
(BRASIL, 2002). Nesse contexto, além do eixo familiar, profissionais da saúde, como o enfermeiro,
devem compor essas relações.

13
Unidade I

Dessa forma, surge um campo rico de atuação para o enfermeiro, que desempenha um importante
papel na consulta de puericultura por meio da detecção precoce de problemas de saúde e prescrição de
cuidados, bem como a implementação de ações interventivas para melhoria da qualidade do atendimento
prestado a esse grupo etário, fortalecendo a assistência para que se reduzam índices de morbidade e
mortalidade na região e no município onde atua (ABE; FERRARI, 2008). Para tal, o enfermeiro deve deter
conhecimentos técnico‑científicos que favoreçam esse trabalho e permitam atingir o objetivo principal,
que é a excelência no cuidado com a saúde da criança.

Saiba mais

Conheça mais sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e descubra


de que forma a legislação brasileira contribui para os direitos de todas
as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação
familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie
as pessoas, as famílias ou a comunidade acessando:

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da


Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 6
jun. 2018.

Figura 3 – A criança e o cuidado

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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.2 O papel do enfermeiro na vigilância do crescimento e do


desenvolvimento da criança e do adolescente

A legislação brasileira, de forma clara e precisa, determina, em todo o território nacional, através
da norma jurídica oriunda da Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, que: “Art. 2º –
Considera‑se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 1990).

Durante toda a longa trajetória da criança, desde seu nascimento até a fase adulta, existem fases e
peculiaridades específicas de cada fase. O enfermeiro deve compreender esses conceitos e os métodos
de avaliação e vigilância, para que a criança possa crescer e se desenvolver com a qualidade máxima
esperada, exposta e com acesso aos melhores recursos disponíveis.

O crescimento e o desenvolvimento são eixos referenciais para todas as atividades de atenção à


criança e ao adolescente sob os aspectos biológico, afetivo, psíquico e social (BRASIL, 2002).

A criança deve ser acompanhada, avaliada e monitorada por profissionais qualificados, desde seu
nascimento, quanto à condição e evolução de seu crescimento e desenvolvimento, independentemente
da situação socioeconômica e origem étnica.

Alguns fatores de risco devem ser considerados para que o monitoramento do crescimento e
desenvolvimento da criança exijam um acompanhamento especial, pois aumentam a probabilidade
da existência de doença perinatal e infantil. Dentre eles encontram‑se: baixo peso ao nascer, baixa
escolaridade materna, idades maternas extremas (< 19 anos e > 35 anos), gemelaridade, intervalo
intergestacional curto (inferior a dois anos), criança indesejada, desmame precoce, mortalidade
em crianças menores de 5 anos na família, condições inadequadas de moradia, baixa renda e
desestruturação familiar (BRASIL, 2002).

Uma das estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde, a partir de 1984, visando incrementar a
capacidade resolutiva dos serviços de saúde na atenção à criança, foi priorizar cinco ações básicas
de saúde: “promoção do aleitamento materno, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento,
imunizações, prevenção e controle das doenças diarreicas e das infecções respiratórias agudas”
(BRASIL, 2002, p. 3).

Tais ações devem constituir o centro da atenção a ser prestada em toda a rede básica de serviços de
saúde, e serão abordadas no decorrer da disciplina.

Em relação ao crescimento e desenvolvimento da criança, sabe‑se que são processos paralelos, mas
com conceitos próprios e não obrigatoriamente dotados de igual velocidade ou de igual sensibilidade
aos agravos (MOREIRA, 2011). Embora o crescimento e o desenvolvimento configurem um processo
global, dinâmico e contínuo, nesta disciplina os estudaremos separadamente, sob a ótica didática, pois
a avaliação do crescimento e a avaliação do desenvolvimento possuem abordagens sistemáticas e
metodologias diferenciadas e específicas.

15
Unidade I

Vamos conhecer cada um deles e aprender como o enfermeiro deve realizar o controle e o
monitoramento do crescimento e do desenvolvimento da criança e do adolescente.

1.3 Padrões de crescimento e desenvolvimento

Como já mencionado, a criança não possui recursos para enfrentar o mundo sozinha. Portanto, ela
necessita do apoio dos adultos e da sociedade, todos dispostos a compartilhar alegrias e momentos difíceis.

Existem padrões de crescimento e desenvolvimento esperados, denominados tendências. De forma


geral, as crianças seguem um mesmo padrão de desenvolvimento e maturação, influenciadas pelas
informações genéticas da sua constituição hereditária, da cultura da sociedade e das experiências a que
serão expostas, que fazem de cada criança um ser distinto. Esses fatores devem ser sempre lembrados
durante a avaliação das condições de saúde de uma criança.

Dentre os padrões de crescimento e desenvolvimento esperados, encontram‑se as tendências


direcionais e as tendências sequenciais.

1.3.1 Tendências direcionais

O crescimento e o desenvolvimento da criança possui uma tendência em seguir um padrão


próximo‑distal (do mais próximo para o mais distante) e da linha média para a periferia.

Observação

Exemplos de tendências direcionais observadas no crescimento e


desenvolvimento da criança:

Exemplo 1: durante o desenvolvimento embrionário, primeiro


observam‑se os botões dos membros e depois aparecem os dedos.

Exemplo 2: durante o desenvolvimento do sistema nervoso,


desenvolve‑se primeiro o sistema nervoso central e depois o periférico.

1.3.2 Tendências sequenciais

Em condições saudáveis, existe uma sequência de crescimento e desenvolvimento definida, previsível


e inalterada.

Observação

Um exemplo de tendência sequencial pode ser: a criança primeiro


consegue sentar‑se sem apoio e depois anda, nunca ao contrário.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A) B)

Figura 4 – Demonstração ilustrativa da tendência sequencial do crescimento/desenvolvimento da criança

É importante salientar que a velocidade de desenvolvimento e crescimento não apresenta o mesmo


ritmo, como observado nas tendências sequencias e direcionais. Essas sequências são caracterizadas por
eventos inalterados, porém o ritmo poderá mudar de criança para criança.

Existem períodos em que o desenvolvimento e o crescimento são mais acelerados e outros


mais lentos.

Observação

Alguns exemplos de períodos em que o crescimento ocorre mais


acelerado ou mais lento: período pré‑natal, período neonatal e adolescência
(acelerados); infância (diminui a velocidade).

Os períodos de crescimento e desenvolvimento devem ser sensibilizados e estimulados durante todo


o processo. O potencial de crescimento e desenvolvimento esperado à idade dependerá da interação
com um meio ambiente particular, podendo ser fator de influência benéfico ou nocivo. A qualidade
dessas interações da criança com o meio em que vive é muito importante.

As figuras a seguir demonstram fotos de crianças sensibilizadas de modos diferentes, dependendo do


ambiente em que vivem. Elas podem aprender e experimentar situações diferentes, o que vai influenciar
no seu desenvolvimento.

17
Unidade I

Figura 5 – Demonstração de influências ambientais no desenvolvimento


da criança: ambientes urbanos, grandes centros versus ambientes rurais, na natureza

Figura 6 – Demonstração da socialização da criança com a família e com outras crianças

Figura 7 – Demonstração da socialização da criança

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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Observação

Um bom exemplo da influência do meio ambiente sobre o crescimento


é o de gêmeos homozigóticos (portanto, com a mesma herança e potencial
genético de crescimento): quando criados separadamente e em meios
diferentes, o que cresceu em meio favorável tende a atingir sua meta de
crescimento determinada pelo seu potencial genético, enquanto o que
foi criado em meio desfavorável, cresce aquém do seu potencial genético
(BRASIL, 2002).

O ambiente em que criança vive também interfere em sua saúde ao longo da vida. Uma criança
exposta a ambientes saudáveis terá possibilidade de usar seu potencial máximo de desenvolvimento
e crescimento, tornando‑se um adulto capaz de enfrentar as dificuldades e contribuir para uma
sociedade mais feliz e justa. Como exemplo, a criança pode sofrer interferências ambientais negativas,
dependendo do local onde vive, como a poluição do ar e das águas, assim como a precariedade de
condições de saneamento básico.

Figura 8 – Criança com a mãe, demonstrando momento de alegria e de bom relacionamento familiar afetivo

Figura 9 – Demonstração da influência do ambiente na vida da criança: um grande centro urbano e a poluição do ar

19
Unidade I

Figura 10 – Demonstração da influência do ambiente na vida da criança: condições precárias de saneamento básico e de moradia

Observação

A oferta de estímulos físicos, sensoriais, emocionais, sociais e nutricionais


inadequados à idade da criança pode influenciar negativamente em
seu crescimento e desenvolvimento. Uma criança privada de nutrientes
adequados e vítima de violência psicológica, por exemplo, certamente,
quando adulta, terá comprometimentos intelectuais e de socialização,
podendo interferir na sua qualidade de vida.

1.4 Crescimento

O crescimento e o desenvolvimento saudável das crianças, principalmente nos primeiros cinco anos
de vida, é fundamental para que possam desenvolver seus potenciais físicos e mentais completos (DE
ONIS et al., 2013).

O crescimento é um processo biológico, dinâmico e contínuo de multiplicação (hiperplasia) e aumento do


tamanho (hipertrofia) celular, que ocorre desde a concepção até o final da vida, considerando‑se os fenômenos
de substituição e regeneração de tecidos e órgãos. De forma geral, o crescimento é entendido como o aumento
do tamanho corporal, cessando com o término do aumento do crescimento linear (BRASIL, 2002).

Existe um perfil de crescimento esperado para cada fase etária do desenvolvimento da criança,
porém é importante salientar que o potencial máximo desse crescimento sofre influências de diversos
fatores, conhecidos como intrínsecos e extrínsecos.

Os fatores genéticos são considerados como fatores intrínsecos, que influenciam o crescimento da
criança. Veja: crianças filhas de pais com estatura alta terão maior chance de ser mais altas se comparadas
àquelas filhas de pais mais baixos. Isso é verificado também em populações, que podem carregar genes
para estaturas mais altas ou mais baixas. Como exemplo, podemos citar o perfil de estatura da população
norte‑americana e compará‑lo à população asiática. Existem diferenças significativas entre o perfil de
estatura dessas populações, sendo uma das causas sua característica genética.
20
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Portanto, a variabilidade genética normal deve sempre ser levada em consideração quando se
realizam diagnósticos de déficit de crescimento na criança.

Todavia, existem também fatores extrínsecos que exercem influência no crescimento da criança e que
devem ser considerados. Fatores extrínsecos são fatores externos, que poderão influenciar o potencial
genético do crescimento da criança de forma positiva ou negativa. Esses fatores são ambientais, tais
como alimentação, condições de higiene e de saneamento básico, condições socioeconômicas e de
educação das pessoas de vínculo, problemas de saúde adquiridos no útero ou na infância, maus‑tratos,
entre outros. Hipoteticamente, vamos comparar dois irmãos, gêmeos idênticos e saudáveis, que, ao
nascer, são separados e criados por duas famílias distintas. A primeira oferece condições adequadas
de educação, saneamento, alimentação. A segunda família não consegue oferecer todas as condições
necessárias para a criança. Provavelmente, quando as curvas de crescimento dessas crianças forem
comparadas, poderão apresentar‑se diferentes, com o potencial de crescimento da primeira criança
atingindo um perfil de maior estatura se comparado à segunda.

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002), existem fatores extrínsecos que influenciam
sistematicamente o crescimento da criança:

Alimentação: a criança até cinco anos requer cuidados específicos com a sua
alimentação. Crescer consome energia: 32% das necessidades calóricas de
um recém‑nascido são destinadas ao crescimento. A dieta da criança deve
ter qualidade, quantidade, frequência e consistência adequadas para cada
idade. Para crianças com até 6 meses de idade, o leite materno exclusivo é
o melhor alimento.

Infecções: é essencial que as crianças sejam imunizadas, segundo o calendário


de vacinação preconizado pelo Ministério da Saúde, para que se evite a
ocorrência das doenças imunopreveníveis. Os processos infecciosos devem ser
identificados e tomadas as medidas para que sejam debelados precocemente.

Higiene: a higiene adequada da criança, dos alimentos, do ambiente e de todos


aqueles que lidam com ela são fatores essenciais para seu bom crescimento.
Isso implica na disponibilidade de água potável, de meios adequados para o
esgotamento sanitário, e destinação de lixo e em conhecimentos, atitudes e
práticas corretas sobre o manuseio, armazenamento, preparo e conservação
dos alimentos, de higiene corporal e do ambiente.

Cuidados gerais com a criança: assim como os demais aspectos citados


acima, também é fundamental para o bom crescimento e desenvolvimento
a qualidade dos cuidados dispendidos à criança. Em outras palavras, a
criança pequena necessita estabelecer relações afetivas, precisa de outra
pessoa para ir se estruturando como um sujeito e para ter uma identidade
própria. Estabelecer, desde o nascimento, relações com pessoas que a
escutem e entendam suas necessidades, que lhe deem carinho e afeto,
21
Unidade I

que lhe proporcionem oportunidades seguras de explorar e conhecer o


mundo que a rodeia, são condições essenciais ao adequado crescimento e
desenvolvimento da criança (BRASIL, 2002, p. 25‑26).

A figura a seguir ilustra um local onde crianças vivem em situação de pobreza. Essas condições de
higiene, de atenção básica e alimentação são consideradas como fatores extrínsecos que influenciarão
no crescimento e no desenvolvimento saudável da criança.

Figura 11 – Crianças vivendo em situação de pobreza

Através do acompanhamento do crescimento e do pleno conhecimento dos fatores envolvidos nesse


processo, pode‑se não só apoiar a manutenção e promoção de um crescimento saudável, como intervir,
o mais precocemente possível, nos casos de desvio, possibilitando, assim, que o processo de crescimento
se concretize na plenitude do potencial genético da criança (AQUINO, 2011).

Portanto, durante a consulta da criança, na entrevista, o enfermeiro deverá investigar as condições


dos cuidados que estão sendo ofertados à criança, levando em consideração os fatores intrínsecos,
porém sempre avaliando e corrigindo, quando possível, os extrínsecos.

Saiba mais

Leia sobre o crescimento da criança:

BRASIL. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e


desenvolvimento infantil. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Série Cadernos
de Atenção Básica, n. 11. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/crescimento_desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2018.

22
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

As medidas de peso e estatura, conhecidas como medidas antropométricas, estabelecem uma


relação entre peso e estatura importante para detectar o estado nutricional da criança, seja
apontando as deficiências recentes de peso (desnutrição aguda), bem como sobrepeso e obesidade.
As medidas de peso e estatura, além de serem utilizadas para esses fins, são fundamentais para
analisar fatores de crescimento, desenvolvimento e maturação. Os parâmetros de crescimento
físico incluem, além do peso e da estatura, as espessuras das dobras cutâneas, circunferências
do braço e cefálica.

Durante o crescimento da criança, é importante compreender que as diversas partes do corpo


crescem em velocidades diferentes, até que se alcance a fase adulta, como exemplificado na figura
a seguir. Observe na figura que aos dois meses de idade fetal, a cabeça é maior em relação ao corpo,
quando comparada às demais fases, e essa proporção vai diminuindo e se adequando, com o crescimento
nas demais fases, até a fase de adulto. Verifique que o tronco, aos 12 anos, representa uma proporção
corpórea maior quando comparada à fase fetal.

2 meses 6 meses Recém‑nascido 2 anos 6 anos 12 anos 25 anos


fetal fetal

Figura 12 – Demonstração do crescimento das diversas partes do corpo


da criança, em velocidades diferentes, de acordo com a idade

Sabe‑se também que a velocidade de crescimento que ocorre nas diferentes fases etárias de
desenvolvimento da criança acontece em um mesmo ritmo quando comparado entre as populações. Ou
seja, o perfil do ritmo da velocidade nas diferentes fases etárias de desenvolvimento da criança tende
a ser similar entre as populações no mundo, exceto em algumas tribos africanas e crianças orientais
(HABICHT et al., 1974).

23
Unidade I

Saiba mais

A leitura do artigo científico a seguir pode propiciar uma inter‑relação


com os conteúdos:

PEDRAZA, D. F.; SALES, M. C.; MENEZES, T. N. Fatores associados


ao crescimento linear de crianças socialmente vulneráveis do Estado
da Paraíba, Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3,
p. 935‑946, 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/
v21n3/1413‑8123‑csc‑21‑03‑0935.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2018.

É importante frisar que as técnicas de verificação da estatura e do peso da criança devem ser realizadas por
profissionais qualificados, treinados e habilitados. Um registro com informações erradas, gerado pela realização
inadequada da técnica indicada, poderá comprometer a avaliação de saúde atual e futura da criança.

1.4.1 Estatura

Para avaliar o crescimento linear da criança, verificamos a estatura, medindo a criança no sentido
longitudinal, podendo ser em centímetros ou em metros, de acordo com a medida obtida.

A estatura é considerada como um dos melhores indicadores de saúde da criança, pois possibilita
que o profissional da saúde identifique ou suspeite de falhas nos cuidados desejáveis à sua saúde, que
de forma significativa influenciarão diretamente no seu crescimento.

Essas falhas podem estar relacionadas à alimentação inadequada, ocorrência de doenças, cuidados gerais
e de higiene insatisfatórios, condições de habitação e saneamento básico comprometidos, inacessibilidade aos
serviços de saúde, refletindo assim as condições de vida da criança, no passado e no presente (BRASIL, 2002).

Para verificar a estatura, o enfermeiro deverá levar em consideração a idade da criança. É aconselhável
que a medição da estatura da criança até os dois anos (ou três, dependendo da indicação do gráfico que
será usado para o registro), seja feita com a criança em decúbito dorsal e no sentido céfalo‑caudal, que
chamamos de verificação do comprimento, conhecida também como comprimento em decúbito dorsal.

Quando avaliamos a estatura da criança na posição vertical, chamamos de verificação da altura, que
é similar à verificação da altura do adulto, salvo as orientações e cuidados com a segurança da criança
durante a avaliação.

Técnica de verificação do comprimento da criança (BRASIL, 2002; HOCKENBERRY; WILSON, 2014):

• Material necessário:

— Régua antropométrica.
24
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

— Gráfico de crescimento adequado à idade e gênero da criança (se a criança já recebeu


atendimento anterior, usar sempre o mesmo gráfico, para gerar a curva de crescimento da
criança) e caneta para os registros.

— Mesa de avaliação com colchonete.

• Inicie a técnica:

— Lave as mãos.

— Verifique se a temperatura do ambiente está propícia.

— Posicione a criança em decúbito dorsal sobre a mesa de avaliação, seguindo as normas de segurança.

— A criança deve estar descalça, despida, sem touca, protetores ou enfeites de cabeça.

— Com o auxílio da mãe, deite a criança, mantendo seus ombros e cabeça apoiados na mesa ou
superfície plana.

— Coloque a régua perpendicular ao corpo da criança, encostando a cabeça na extremidade fixa


da régua.

— Em virtude da posição, normalmente flexionada (recém‑nascidos e lactentes), estique


completamente o corpo, segurando a cabeça na linha média, centrada ao eixo do corpo,
coloque a mão sobre os joelhos, mantendo‑os juntos e empurrando‑os suavemente em direção
ao colchão, para baixo. Segure os tornozelos da criança, mantendo as pernas esticadas.

— Deslize a peça móvel até encostar nos calcanhares, mantendo os joelhos bem estendidos.
Solicite ajuda da mãe para manter a cabeça da criança na posição correta.

— Proceda a leitura da medida. A medida correta exige a precisão até o milímetro, contudo, para
evitar erros de medição, aconselha‑se aproximar, quando necessário, para o meio centímetro
mais próximo (exemplo: 70,2 cm pode ser aproximado para 70,0 cm, 81,8 cm, para 82,0 cm).
Registre imediatamente.

— Retire a criança da mesa e oriente a mãe para vesti‑la.

— Lave as mãos.

— Registre no gráfico e avalie o resultado.

— Informe e oriente a mãe sobre o resultado da avaliação.

— Não se esqueça de higienizar a mesa e a régua após o atendimento.


25
Unidade I

Figura 13 – Verificação do comprimento da criança

Observação

O ganho de estatura é um bom parâmetro para a avaliação do


crescimento da criança por ser cumulativo, progressivo e não sofrer
regressões (BRASIL, 2002).

1.4.2 Peso

O peso é um importante indicador de crescimento, pois sua variação com relação à idade da criança
é muito mais rápida do que a da estatura e reflete, quase que imediatamente, o estado de saúde da
criança, seja satisfatoriamente ou indicando algum problema de saúde, como nos processos agudos.

O peso expressa a dimensão da massa ou volume corporal considerado somatório de células do


corpo, tecidos de sustentação, órgãos, músculos e água. Portanto, diferente da estatura, em um prazo
de poucos dias, podem ser observadas alterações importantes no peso, cuja medição é mais fácil e mais
precisa que a estatura (BRASIL, 2002).

O peso é facilmente verificado por meio de uma balança, adequada à idade da criança. A balança
pode ser eletrônica ou manual, desde que tenha recursos adequados. Ou seja, deve propiciar uma
mensuração do peso em escala e comportar o peso da criança:

• Lactentes: escalas de 10 g em 10 g; peso até 16 Kg.

• Acima da faixa etária/lactentes: escalas de 100 g.

26
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Para que os equipamentos de verificação antropométrica estejam sempre calibrados, é importante


que o enfermeiro estabeleça rotinas de checagem e manutenção periódica que favoreçam essa meta.
Antes do uso, o enfermeiro deve checar as condições de calibração dos equipamentos.

Geralmente as balanças portáteis são recomendáveis, pois facilitam seu deslocamento.

Figura 14 – Verificação do peso da criança

Porém, se a abalança disponível for do tipo manual, antes de iniciar a pesagem, deve‑se verificar
sua calibragem, ou seja, sem nenhum peso colocado sobre ela deverá registrar 0 Kg (nem uma grama a
mais ou a menos). Caso não esteja assim, regule‑a antes do uso. Algumas balanças podem oferecer esse
recurso e outras necessitarão de serviço técnico específico, dependendo do fabricante.

Técnica de verificação do peso da criança menor de 2 anos:

• Material necessário:

— Balança pediátrica adequada à idade da criança, colocada em superfície plana, em altura que
permita uma boa visualização da escala, destravada e tarada.

— Gráfico de crescimento adequado à idade e gênero da criança (se a criança já recebeu


atendimento anterior, usar sempre o mesmo gráfico para gerar a curva de crescimento da
criança) e caneta para registros.
27
Unidade I

• Inicie a técnica:

— Lave as mãos.

— Verifique se a temperatura do ambiente está propícia.

— A criança deve estar descalça, despida ou, no caso de frio, com roupas muito leves, sem touca,
protetores ou enfeites de cabeça. Se usar fralda, ela deve ser retirada.

— Com o auxílio da mãe ou acompanhante, colocar a criança no centro da balança pediátrica,


deitada ou sentada (caso já esteja sentando sem apoio). Em ambas as situações, a criança nunca
deverá ser deixada na balança sozinha e sem acompanhamento de um adulto. As normas de
segurança da criança devem ser sempre respeitadas.

— Se a balança for manual, movimente o cursor maior (quilogramas) sobre o suporte,


aproximando‑a do número de quilos esperados para a idade. Movimentar o cursor menor
(gramas), fazendo o ajuste até o ponteiro atingir o equilíbrio. Se a balança for digital, aparecerá
o peso da criança na tela.

— Espere a criança parar de se movimentar.

— Leia o peso da criança.

— Retire a criança da balança, entrega‑a para a mãe/pessoa de vínculo para propiciar conforto/
aquecimento.

— Lave as mãos.

— Registre imediatamente os dados no gráfico de acompanhamento antropométrico da criança.

— Interprete a curva da evolução, comparando o peso atual com o peso anterior e com o peso
esperado, relacionando‑o ao comprimento. Avalie a curva de crescimento.

— Informe o peso da criança e a evolução do crescimento para a mãe ou acompanhante.

— Não se esqueça de higienizar a mesa de exames e a balança após o atendimento.

É importante salientar que acessórios que não possam ser retirados deverão ser registrados em uma
observação ao lado do registro do peso (impresso), tais como tala gessada, tala para imobilização para
acesso venoso, fixadores externos e internos etc.

28
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Figura 15 – Verificação do peso da criança na posição deitada

Figura 16 – Verificação do peso da criança na posição sentada

29
Unidade I

Lembrete

As técnicas de verificação da estatura e do peso da criança devem


ser rigorosamente realizadas por profissionais qualificados, treinados e
habilitados para tal. Um registro com informações erradas, gerado pela
realização inadequada da técnica indicada, poderá comprometer a avaliação
de saúde atual e futura da criança.

As medidas de peso e estatura (medidas antropométricas) estabelecem uma relação entre peso
e estatura, importante para detectar o estado nutricional da criança, seja apontando as deficiências
recentes de peso (desnutrição aguda) como também sobrepeso e obesidade. Além de serem
utilizadas para esses fins, são fundamentais para analisar fatores de crescimento, desenvolvimento
e maturação.

Observação

A mãe, ou a pessoa de vínculo da criança, deve ser orientada de modo


que reconheça a importância de levar a criança à Unidade Básica de Saúde
(UBS) para acompanhamento e monitoramento do peso e da estatura,
possibilitando intervir, o mais precocemente possível, nos casos de desvio
do crescimento saudável.

1.4.3 Circunferência do braço e espessura da prega cutânea

As verificações do peso e da estatura não podem diferenciar tecido adiposo de músculo. Dessa
forma, a verificação da circunferência do braço e espessura da prega cutânea permite avaliar a
gordura corporal.

A circunferência do braço indica uma medida indireta da massa muscular do braço. Já a verificação
da espessura da prega cutânea está baseada na relação entre gordura subcutânea, gordura interna e
densidade corporal. Além de não ser um método invasivo, tem um baixo custo operacional, aplicabilidade
em grandes grupos, rapidez e facilidade na aquisição das medidas, sendo utilizado amplamente em
estudos epidemiológicos (SICHIERI; FONSECA; LOPES, 1999).

Os locais mais comuns para medir a espessura da prega cutânea é na região do tríceps (mais
utilizada), subescapular, supra ilíaca e parte superior da coxa, utilizando‑se um marcador específico.
Deve‑se verificar duas vezes a medida do mesmo local e depois fazer a média aritmética. O valor a ser
considerado será o obtido pela média (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).

Em crianças, a técnica usada é a mesma que no adulto.

30
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Saiba mais

Para conhecer mais sobre a importância da relação entre peso e altura


no acompanhamento do estado nutricional da criança e do adolescente,
leia o texto a seguir:

CORADINE, A. V. P.; PIANOVSKI, M. A. D.; RABITO, E. I. Medidas


antropométricas para o acompanhamento do estado nutricional
de crianças e adolescentes com câncer, o que utilizar na prática
clínica? Revista Brasileira de Cancerologia, v. 61, n. 3, p. 269‑276,
2015. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/rbc/n_61/v03/
pdf/10‑revisao‑medidas‑antropometricas‑para‑o‑acompanhamento‑do
‑estado‑nutricional‑de‑criancas‑e‑adolescentes‑com‑cancer‑o‑que‑
utilizar‑na‑pratica‑clinica.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2018.

1.4.4 Perímetro cefálico

A medição do perímetro da cabeça é importante para avaliar o tamanho da cabeça e do


cérebro. Sua importância na infância está relacionada ao volume intracraniano, permitindo
uma avaliação do crescimento do cérebro. O acompanhamento do perímetro craniano deve
ser feito, prioritariamente, nas crianças de 0 a 24 meses, período de maior crescimento
pós‑natal da cabeça e cérebro (BRASIL, 2002). Mas é importante lembrar que, na suspeita de
qualquer alteração no tamanho da cabeça, independentemente da idade, ele deve ser avaliado
e monitorado.

O perímetro cefálico (PC) é maior que o perímetro torácico (PT) até aproximadamente os dois anos
de idade. Entre o primeiro e o segundo ano de idade o PC e O PT são iguais. Posteriormente, o PT
ultrapassa o PC em torno de 5 a 7 cm.

Durante os primeiros meses de vida, uma anormalidade cerebral pode ser investigada verificando‑se
o PC e por meio das provas de desenvolvimento.

A partir de 2016, o Ministério da Saúde estabeleceu novos parâmetros para medir o perímetro
cefálico, com o intuito de identificar casos suspeitos de bebês com microcefalia. Para meninos, a medida
é considerada igual ou inferior a 31,9 cm e, para meninas, igual ou inferior a 31,5 cm. A mudança está
de acordo com a recomendação anunciada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
valendo para bebês nascidos com 37 ou mais semanas de gestação.

31
Unidade I

Figura 17 – Verificação do perímetro cefálico

A seguir, técnicas de verificação do Perímetro Cefálico (PC) da criança menor de 2 anos:

• Material necessário:

— Fita métrica (descartável ou plástica).

— Gráfico de crescimento do Perímetro Cefálico, adequado à idade e ao gênero, e caneta.

— Álcool 70% e bolas de algodão.

— Mesa de exame.

• Inicie a técnica:

— Lave as mãos.

— Verifique se a temperatura do ambiente está propícia.

— A criança deve estar sem touca, protetores ou enfeites de cabeça.

— Com o auxílio da mãe ou acompanhante, colocar a criança deitada na posição dorsal ou sentada
(caso já esteja sentando sem apoio) no centro da maca. Em ambas as situações, a criança nunca
deverá ser deixada na maca sozinha e sem acompanhamento de um adulto. As normas de
segurança da criança devem ser sempre respeitadas.

— Meça o perímetro cefálico colocando a fita métrica (marco zero) entre e logo acima das
sobrancelhas, iniciando o contorno da fita pela cabeça da criança, passando acima do pavilhão
auditivo, sobre a proeminência occipital e, assim, da mesma forma, chegando ao ponto de início.
Esse é o maior diâmetro da circunferência da cabeça da criança.

32
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

— Leia o PC da criança.

— Retire a criança da maca, entregue‑a para a mãe/pessoa de vínculo para propiciar


conforto/aquecimento.

— Lave as mãos.

— Registre imediatamente no gráfico de acompanhamento antropométrico da criança. O PC deve


ser registrado em centímetros (cm).

— Interprete a curva da evolução, comparando com o PC anterior, se houver.

— Avalie se a medida está de acordo com o esperado para a idade/gênero.

— Informe o PC da criança e a evolução do crescimento para a mãe ou acompanhante.

— Não se esqueça de higienizar a mesa de exames e a fita métrica. Se a fita for descartável,
despreze‑a no lixo logo após o atendimento.

Figura 18 – Verificação do perímetro cefálico

33
Unidade I

Na figura a seguir, você verá modelos de gráfico de acompanhamento do crescimento cefálico em


crianças 0 a 2 anos, de acordo com o gênero (menina e menino, respectivamente):
1 2
0 2 4 6 8 10 ano 2 4 6 8 10 anos
P90
50 50

48 48
P10
46 46
Perímetro cefálico CM

Perímetro cefálico CM
44 44

42 42

40 40

38 38
36 36
P90
34 34
P10
32 32
0 2 4 6 8 10 1 2 4 6 8 10 2
ano anos
1 2
0 2 4 6 8 10 ano 2 4 6 8 10 anos
P90
50 50

48 48
P10
46 46
Perímetro cefálico CM

Perímetro cefálico CM

44 44

42 42

40 40

38 38
36 36
P90
34 34
P10
32 32
0 2 4 6 8 10 1 2 4 6 8 10 2
ano anos

Figura 19 – Demonstração de gráficos de monitoramento e avaliação do perímetro


cefálico da criança até os 36 meses de idade para meninas (rosa) e meninos (azul)

34
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.4.5 Determinantes biológicos de crescimento

Como sabemos se uma criança está crescendo de acordo com o esperado? Durante o exame físico,
o que o enfermeiro deverá usar como base para avaliar se o crescimento da criança avaliada está de
acordo com o esperado para a idade?

Essas perguntas são muito importantes, pois de nada adiantaria conhecer as técnicas de como pesar
e como medir a criança se o enfermeiro não souber interpretar os dados antropométricos.

A característica mais proeminente da infância e da adolescência é o crescimento físico. E no decorrer


de todo o período de crescimento da criança, vários tecidos corporais passam por determinadas
mudanças no crescimento, composição e estrutura (HOCKENBERRY; WILSON, 2014). A figura a seguir
ilustra crianças de diferentes tamanhos e, portanto, de diferentes idades.

Figura 20 – Crianças de diferentes tamanhos e idades

O crescimento do corpo, a exemplo do crescimento dos tecidos – nervoso, linfoides, genital e


ósseos –, possui características diferentes relacionadas ao período da vida em que ocorrem, e também
sobre a velocidade desses crescimentos, conforme demonstrados na figura a seguir. Esses padrões
esperados de crescimento devem ser considerados no decorrer da avaliação do crescimento da
criança/adolescente.

35
Unidade I

200

180

160
Linfoide
140

120
Nervoso
Percentual 100

80

60
Geral
40

20 Genital

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Idade

Figura 21 – Padrões esperados de crescimento de tecidos do corpo, de acordo com a idade da criança

Dessa forma, conclui‑se que a idade cronológica da criança é um indicador importante para
observarmos o seu crescimento e identificar se está adequado à idade biológica.

Vamos compreender a diferença entre a idade cronológica e a idade biológica, para contextualizarmos
a frase anterior:

• Idade cronológica: é a idade que se refere ao período de tempo contado a partir do nascimento,
podendo ser em meses ou anos. Exemplo: uma criança tem 1 ano e 3 meses de idade. Essa é a
idade cronológica da criança.

• Idade biológica: de acordo com as modificações biológicas que ocorrem ao longo do


tempo, pode‑se classificar a idade biológica. Avaliando uma criança, por exemplo, pode‑se
verificar a idade biológica esperada à idade cronológica. Por exemplo, por volta dos 10 anos
de idade, é esperado que, em meninas, inicie‑se o aparecimento das características sexuais
secundárias, como o crescimento de pelos pubianos e das mamas. Essas características
identificam a idade biológica.

É desejável que a idade biológica da criança acompanhe a idade cronológica, mas essa adequação
nem sempre poderá ocorrer. Como exemplo, podemos citar as crianças com Síndrome de Down, que
possuem velocidade de crescimento mais lenta, entre os 3 e os 6 meses de idade, demonstrando que
essas crianças possuem a idade biológica atrasada quando comparada à idade cronológica.

36
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Figura 22 – Criança com Síndrome de Down

Observação

Um indicador importante e confiável para avaliar se o crescimento


biológico da criança está de acordo com o crescimento cronológico é a
verificação da estatura e do peso e sua comparação aos indicadores de
crescimento por idade/gênero. Dessa forma, o processo evolutivo de
crescimento da criança poderá ser avaliado com segurança.

A medição mais precisa do desenvolvimento geral é a idade esquelética ou óssea. A idade óssea
pode ser determinada por meio de exames radiológicos da articulação, nos quais se compara a imagem
radiológica com um indicador de imagens correspondentes à maturação óssea (HOCKENBERRY; WILSON,
2014, p. 67).

Geralmente é realizada a análise do raio‑X da mão da criança, avaliando‑se o aparecimento de


núcleos de ossificação do rádio/ulna, metacarpos/falanges e carpo.

Ao que parece, a idade esquelética tem melhor correlação com outras medidas da maturidade
fisiológica, a idade cronológica ou a altura (HOCKENBERRY; WILSON, 2014, p. 67).

Observação

Um exemplo de medida da maturidade fisiológica seria o início da


menarca, que não é visto como um bom marcador de idade biológica.

37
Unidade I

A maturação óssea pode ser influenciada por fatores genéticos, ambientais e endócrinos.
A idade óssea é determinada comparando a mineralização dos centros de ossificação aos
padrões relacionados à idade, obtidos por meio de padrões cronológicos de crianças normais.
Essa avaliação é feita pelo médico e pelo odontólogo quando houver suspeita de atraso do
crescimento, ou mesmo ao contrário, quando a criança estiver crescendo além do padrão
esperado para a idade.

Saiba mais

A estudante de medicina Patrícia Schwenck de Carvalho, da Universidade


Estadual de Montes Claros (Unimontes), desenvolveu um aplicativo que
auxilia médicos na avaliação da idade óssea e na verificação de distúrbios
de crescimento de crianças e adolescentes. Vale a pena conhecer mais sobre
esse aplicativo, que está disponível para download.

Para esclarecer as dúvidas dos usuários, a acadêmica disponibilizou


informações sobre o aplicativo e suas funcionalidades em um website
minimalista, totalmente responsivo, que pode ser acessado de qualquer
plataforma digital:

<http://www.mesmeracomunicacao.com.br/produtos/idadeossea/>.

1.4.6 Gráficos de avaliação antropométrica (peso/estatura) na criança

Como já discutido anteriormente, a partir dos índices antropométricos são construídos


indicadores, definindo níveis de corte que permitam situar a criança dentro de uma faixa aceita
como normal, de acordo com a referência de crescimento utilizada. Avaliar o crescimento da
criança implica:

1) coletar medidas antropométricas com metodologia padronizada;

2) relacionar essas medidas com sexo, idade ou outra variável da criança


(índices), comparando‑as com os valores de referência;

3) verificar se os valores encontrados estão dentro dos limites (pontos de


corte) estabelecidos como normais (BRASIL, 2002).

A antropometria não deve ser entendida como uma simples ação de pesar e medir, mas, sobretudo,
como uma atitude de vigilância.

38
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Figura 23 – Evolução do crescimento

Agora que você já aprendeu como deve ser realizada a verificação dos dados antropométricos da
criança, você irá conhecer como avaliar esses resultados. Os gráficos de crescimento, por exemplo, são
instrumentos importantes de avaliação e acompanhamento do crescimento da criança.

Como já descrito anteriormente, as verificações e o acompanhamento da evolução das curvas de


crescimento e de peso da criança são indicadores importantes da qualidade de saúde da criança e
podem, inclusive, ser usados como integrantes da avaliação do estado nutricional delas. No entanto,
nunca devem ser usados como únicos indicadores. É importante conhecer os fatores de risco aos quais
a criança está exposta, como o peso baixo ao nascer (identificar problemas no pré‑natal, como fumo,
etilismo, drogadição, a hipertensão arterial, as doenças infecciosas crônicas, as doenças sexualmente
transmissíveis, o estado nutricional da gestante, o curto intervalo interpartal, entre outros), as condições
ambientais socioeconômicas e emocionais às quais a criança está exposta e a presença de doenças na
história pregressa e atual (infecciosas, genéticas e agudas).

A figura a seguir ilustra crianças de diferentes idades e gêneros. Cada uma poderá ter apresentado,
em sua história de crescimento, fatores de risco que possam interferir, que estejam interferindo ou
que, por ventura, venham a interferir no potencial de crescimento e desenvolvimento, visto que o
crescimento da criança é contínuo e findará apenas ao final da adolescência.

Figura 24 – Crianças de diferentes idades e gêneros

39
Unidade I

A história do crescimento da criança pode ser representada por meio de dois tipos de curvas: a
curva de distância ou de crescimento longitudinal e a curva de velocidade de crescimento (BRASIL,
2002). Nessa abordagem serão apresentadas a curva de crescimento longitudinal e a curva de
ganho de peso.

A curva de referência de uma população é aquela cujas medidas antropométricas foram aferidas
em indivíduos sadios, vivendo em condições socioeconômicas, culturais e ambientais satisfatórias,
tornando‑se uma referência para comparações com outros grupos. Com a distribuição gráfica das
medidas de peso e estatura de indivíduos sadios, são construídas curvas de crescimento de referência
(BRASIL, 2011b).

Portanto, as curvas de referência recomendadas em 2006 pela Organização Mundial da Saúde


(OMS) foram criadas a partir de estudos multicêntricos, com a participação de crianças sadias
de várias partes do mundo, inclusive do Brasil. Para que a amostra fosse capaz de representar
diferentes grupos étnicos, foram escolhidas seis cidades, de continentes diferentes: Pelotas
(Brasil), Davis (Estados Unidos), Muscat (Omã), Oslo (Noruega), Acra (Gana) e Nova Deli (Índia).
Esse estudo teve início em 1997 e terminou em 2003, com a avaliação de 8.500 crianças sadias
com idades entre zero e cinco anos. Os parâmetros padronizados possibilitam a avaliação de
crianças de qualquer país, independentemente de etnia, condição socioeconômica e tipo de
alimentação (OMS, 2006).

Essa referência foi adotada pelo Ministério da Saúde para avaliação e acompanhamento do
crescimento e do estado nutricional das crianças no Brasil. Inclusive, na Caderneta de Saúde da Criança,
as curvas de referência adotadas foram essas.

Existem várias curvas de referência, de acordo com os índices desejados para avaliação. A OMS
recomendou curvas de índice, tais como (BRASIL, 2018):

• Faixa etária, gênero e peso.

• Faixa etária, gênero e altura.

• Faixa etária, gênero e Índice de Massa Corporal (IMC), entre outros.

Cada curva de referência possui cortes, denominados de percentis ou scores.

Veja a seguir alguns exemplos de gráficos com curvas de referência da OMS.

Exemplo A: esse gráfico demonstra a curva de referência da OMS que deve ser usada para
meninas, desde o nascimento até os 5 anos de idade. Trata‑se do índice comprimento/estatura por
idade. Existe também um gráfico para avaliar as mesmas variáveis, só que exclusivo para meninos,
como será demonstrado posteriormente.

40
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Figura 25 – Demonstração de gráfico para avaliação da estatura da criança


(meninas) de acordo com a idade, com referenciais de curva de crescimento

Exemplo B: esse gráfico demonstra a curva de referência da OMS que deve ser usada para meninos,
desde o nascimento até os 5 anos de idade. Trata‑se do índice comprimento/estatura por idade.

Figura 26 – Demonstração de gráfico para avaliação da estatura da criança (meninos)


de acordo com a idade, com referenciais de curva de crescimento

41
Unidade I

Observe que os gráficos dos Exemplos A e B:

• Apresentam, no eixo X, as variáveis da idade (em meses) e, no eixo Y, as variáveis da estatura


(comprimento). Existem outros padrões de gráficos estabelecidos pela OMS que utilizam outras
variáveis, como a faixa etária, o gênero e o peso, por exemplo, e, portanto, é outro tipo de gráfico
de referência.

• Apresentam curvas coloridas e ascendentes e cada uma representa um percentil (poderia ser
representado como score Z). Encontramos à direita dos gráficos os percentis (P) informados:
iniciando pela linha inferior (P3) e finalizando no P97. Dessa forma, uma criança saudável, exposta
a condições adequadas de saúde e levando em conta sua herança genética, deverá estar com seus
registros dentro desses percentis. Nessas condições, geralmente, mantêm‑se com um perfil de
crescimento próximo ao percentil de nascimento, acompanhando a evolução da curva.

Cada mensuração deve ser registrada no gráfico. Assim, a história de crescimento da criança vai
ficando documentada no gráfico.

Exemplo C: supondo que o gráfico a seguir seja de um menino com 10 meses de idade, observamos
que os registros de comprimento do nascimento não estão presentes e que o primeiro registro da criança
é aos 5 meses de idade. Mesmo assim, pode‑se avaliar que o percentil do comprimento da criança aos 10
meses é o percentil 50 e que vem se mantendo próximo a esse perfil desde o primeiro registro.

Figura 27 – Demonstração de gráfico para avaliação da estatura da criança (meninos)


de acordo com a idade, com referenciais de curva de crescimento e exemplo de registros de crescimento

42
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Saiba mais

Amplie seus conhecimentos sobre a aplicação das curvas de


crescimento na avaliação de determinada população de crianças,
realizando a leitura do artigo:

COSSIO‑BOLAÑOS et al. O uso das curvas de crescimento da Organização


Mundial da Saúde em crianças e adolescentes que vivem em regiões de
altitude moderada. Rev. Paul. Pediatr., São Paulo, v. 30, n. 3, p. 314‑320, set.
2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rpp/v30n3/03.pdf>. Acesso
em: 12 jun. 2018.

É importante salientar que uma criança pode deixar de crescer, se privada de nutrientes ou se houver
alguma doença de base que culmine na desaceleração do crescimento, porém nunca perderá altura. Nesse
sentido, pode‑se observar uma queda no percentil da estatura, porém não haverá declínio da estatura.

Quando ocorrem doenças infecciosas e/ou problema social, há uma desaceleração no ritmo de
crescimento normal. Entretanto, corrigida a causa e se as condições ambientais forem adequadas,
observa‑se um aumento da velocidade de crescimento superior ao esperado para a idade, como um
crescimento compensatório. Esse fenômeno é observado na reabilitação de crianças com desnutrição
grave, principalmente nas menores de 2 anos. Durante os dois primeiros anos de vida, o déficit de
crescimento ocasionado pela desnutrição é reversível (BRASIL, 2002).

Após essa idade, nota‑se que o fenômeno do crescimento compensatório, apesar de ativado, é bem
menos intenso. Essa grande vulnerabilidade biológica faz com que seja extremamente importante o
acompanhamento sistemático do crescimento da criança nessa fase da vida. Atividades de recuperação
nutricional devem priorizar crianças menores de 24 meses, para permitir uma total recuperação e
prevenção de problemas futuros (BRASIL, 2018).

Uma variável mais instável é o peso. A criança perde peso facilmente quando exposta a alguma condição
desfavorável, seja de adaptações ao ambiente, motivações psicológicas, doenças agudas, entre tantas outras.

Da mesma forma, a criança poderá ganhar peso se exposta a uma condição de oferta inadequada
de alimentos, situação potencializada com o sedentarismo, levando ao estado nutricional de sobrepeso
e obesidade.

O recém‑nascido, nos primeiros dias, perde cerca de 10% de seu peso de nascimento, devendo,
dentro de 10 a 15 dias, ter recuperado essa perda, voltando ao peso inicial.

Portanto, o gráfico de peso da criança pode apresentar curvas descendentes e ascendentes, assim
como pode existir a flutuação dos percentis. Essas variações devem ser percebidas de imediato e
corrigidas durante a avaliação do enfermeiro.
43
Unidade I

Exemplo D: o gráfico a seguir demonstra a curva de referência da OMS que deve ser usada para
meninas desde o nascimento até os 5 anos de idade. Trata‑se do índice peso/por idade.

Figura 28 – Demonstração de gráfico para avaliação do peso da criança (meninas)


de acordo com a idade, com referenciais de curva de crescimento

Exemplo E: o gráfico a seguir demonstra a curva de referência da OMS que deve ser usada para
meninos desde o nascimento até os 5 anos de idade. Trata‑se do índice peso/por idade.

Figura 29 – Demonstração de gráfico para avaliação do peso da criança (meninos)


de acordo com a idade, com referenciais de curva de crescimento

44
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Exemplo F: o gráfico a seguir demonstra o perfil de peso de uma menina com 11 meses de idade,
que não possui registros do peso de nascimento e cujo primeiro registro ocorreu aos 3 meses de idade:

Figura 30 – Demonstração de gráfico para avaliação do peso da criança (meninas)


de acordo com a idade, com referenciais de curva de crescimento e exemplo de curva de peso

Alguns dados importantes demonstrados no histórico de crescimento da criança, de acordo com o


gráfico do exemplo F:

• 3 meses de idade: peso – 4.600 g; P15.

• 6 meses de idade, peso – 6.000 g; P15.

• 8 meses de idade, peso – 9.000 g; P85

• 27 meses de idade (2 anos e 3 meses): peso – 9.000 g; entre o P15 e P50

Veja, se os dados do peso em relação à idade demonstrados não estivessem expostos no gráfico do
exemplo F, não seria possível identificar os percentis, e a avaliação da criança estaria comprometida.

Como a curva de ganho de peso da criança poderia ser interpretada pelo enfermeiro?

Houve um ganho de peso entre os 4 e 10 meses de idade, e, provavelmente, devido a alguma ação
proposta, a curva de ganho de peso está regredindo.

É importante compreender que o inverso também pode acontecer, ou seja, quando, por algum motivo
específico, a criança perde peso, consequentemente, isso refletirá no declínio da curva e dos percentis.

45
Unidade I

Lembrete

Para que essas análises sejam efetivas, é fundamental que a mãe/pessoa


de vínculo, responsável pela criança, seja orientada pelo enfermeiro para
cumprir o calendário das consultas de puericultura, na Unidade Básica de
Saúde, evitando as faltas.

Não é possível recuperar uma informação antropométrica retroativa, pois o marco de seu crescimento
não consegue se reproduzir em decorrência de que o tempo evolui e, com ele, o crescimento da criança.

Observação

É importante orientar o responsável pela criança que, quando ele falta


à consulta de puericultura agendada, não levando a criança, jamais será
possível retroceder no tempo para saber qual eram os dados antropométricos
na época em que ela deveria ter sido avaliada, ocasionando, entre tantos
problemas de acompanhamento do crescimento, uma falha significativa
nos registros do histórico de crescimento da criança

Os indicadores antropométricos, incluindo o índice peso/idade, são utilizados como indicadores


diretos para avaliar o estado nutricional da criança.

Os pontos de corte da Vigilância Nutricional no Brasil, determinados pelo Ministério da Saúde, são
baseados em recomendações adotadas internacionalmente (BRASIL, 2011a).

A Organização Mundial da Saúde apresenta referências de peso para estatura apenas para menores
de 5 anos pelo padrão de crescimento de 2006 (OMS, 2006). A partir dessa idade, deve ser utilizado o
Índice de Massa Corporal (IMC) para idade para avaliar a proporção entre o peso e a estatura da criança.

A seguir, são apresentados os pontos de corte para a avaliação do estado antropométrico de crianças:

Tabela 1 – Demonstração dos pontos de corte de peso para estatura


para crianças de 0 a 5 anos

Valores críticos Diagnóstico nutricional


< P* 0,1 Magreza acentuada
> ou = P 0,1 e P3 Magro
> ou = P3 e < ou = P85 Eutrófico
> Percentil 85 e < ou = P97 Risco de sobrepeso
> ou = P97 e < ou = P99,9 Sobrepeso
> P 99,9 Obeso
*Percentil
Adaptado de: Brasil (2002); OMS (2006).

46
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

É importante acrescentar que a avaliação do peso do recém‑nascido, verificada logo ao nascer, recebe
uma classificação, pois pode ter significados fundamentais para o acompanhamento da evolução de
crescimento da criança. Pesos, ao nascer, menores que 2.500 g podem ser decorrentes de prematuridade
e/ou déficit de crescimento intrauterino.

Uma classificação específica para o peso do recém‑nascido é demonstrada a seguir:

Pequeno para a idade gestacional (PIG) = < 10º do percentil da Curva de


Crescimento Intra Uterina ‑ CCIU.

Peso adequado p/a idade gestacional (AIG) = entre 10º e 90º da CCIU.

Grande para a idade gestacional (GIG) = > 90º do percentil da CCIU


(BRASIL, 2002).

Essa classificação deve sempre ser acompanhada da classificação da idade gestacional. Por exemplo:

• Um RN nascido entre 37 e 40 semanas de gestação (RN a termo), pesando 2.300 g, pode ser PIG
(pequeno para a idade gestacional).

• Um RN nascido com 30 semanas de gestação (RN pré‑termo/prematuro), pesando 2.300 g, pode


ser GIG (grande para a idade gestacional).

Essa classificação pode ser obtida utilizando gráficos de referência, como o demonstrado a seguir,
relacionando a idade gestacional do nascimento e o peso de nascimento:
5.000
4.750
4.500 90º percentil
50º percentil
4.250 10º percentil
4.000
3.750 Grande para a idade gestacional
3.500 Apropriado para a idade gestacional
3.250 Pequeno para a idade gestacional
Peso ao nascer (g)

3.000
2.750
2.500
2.250
2.000
1.750
1.500
1.250
1.000
750
500
250
0
20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44
Idade gestacional (semanas)

Figura 31 – Gráfico para avaliação do peso do recém‑nascido em relação à idade gestacional

47
Unidade I

Algumas características de ganho ponderal de peso e da altura são previstos durante a infância, e
o enfermeiro deverá conhecê‑las para avaliar o crescimento da criança. Algumas dessas características
estão demonstradas a seguir:

Do nascimento até 6 meses de idade


Peso: ganho semanal entre 140 e 200 g.
O peso de nascimento duplica ao término do 4º até o 7º mês de idade.

De 6 a 12 meses de idade
Peso: aumento de 15 g/dia, ou seja, 85 a 140 g/semana.
O peso de nascimento é triplicado no final do primeiro ano.
Altura: ganho mensal de 1,25 cm. Aumento em 50% ao final do 1º ano.

De 12 meses a 24 meses de idade


Peso: o peso de nascimento quadriplica em torno de 2,5 anos.
Ganho anual: 2 a 3 Kg.
Altura: a altura aos dois anos é de aproximadamente ½ da altura da fase
adulta. Ganho anual em torno de 12 cm.

Figura 32 – Características de peso e altura em relação ao período etário da criança

2 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O desenvolvimento humano é um processo de crescimento e mudança em nível físico, do


comportamento, cognitivo e emocional ao longo da vida. Em cada fase surgem características específicas.

Entende‑se como desenvolvimento o aumento da capacidade do indivíduo em realizar cada vez mais
funções, em relação à quantidade e à complexidade. Para que isso ocorra, é importante compreender
que devem ocorrer a maturidade, o crescimento e o aprendizado (SOUZA; VERÍSSIMO, 2015).

Dessa forma, é esperado que, a cada fase etária do desenvolvimento, a criança apresente determinadas
características comportamentais.

A vigilância do desenvolvimento da criança e de como lidar com a situação diante de atrasos ou


suspeitas de problemas relacionadas ao seu desenvolvimento são fundamentais para realizar esse
acompanhamento. A equipe de saúde deverá conhecer os aspectos mais relevantes do desenvolvimento
e estar preparada para fazer algumas intervenções, se necessário, mas principalmente identificar com
clareza aquelas crianças que devem ser referidas para tratamento especializado (BRASIL, 2002).

O acompanhamento do desenvolvimento da criança na atenção básica objetiva sua promoção,


proteção e a detecção precoce de alterações passíveis de modificação que possam repercutir em sua
vida futura. Isso ocorre principalmente por meio de ações educativas e de acompanhamento integral da
saúde da criança (BARROS, 2008).
48
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A criança deve atravessar cada estágio de seu desenvolvimento segundo uma sequência regular,
ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada ou
motivada no devido momento, ela não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Afinal, o
desenvolvimento infantil se dá à medida que a criança vai crescendo e vai se desenvolvendo de acordo
com os meios onde vive e os estímulos recebidos (BRASIL, 2012c).

Dessa forma, é importante lembrar que é desejado que a criança cresça e se desenvolva dentro de
critérios esperados. Porém nem sempre uma criança que não cresceu dentro dos padrões (em maiores
ou menores proporções) obrigatoriamente também terá déficits em seu desenvolvimento, assim como
o inverso também é verdadeiro.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1: Uma criança pode crescer e não se desenvolver ou vice‑versa?

Resposta: Sim, uma criança pode se desenvolver plenamente e não crescer, como no caso de acondroplasia.

Exemplo 2: Uma criança pode crescer adequadamente, dentro dos parâmetros esperados, e não se
desenvolver de acordo com os parâmetros desejados à idade cronológica?

Resposta: Sim, como o que ocorre com a criança autista.

Observação

A acondroplasia é a mais frequente displasia esquelética de membros


curtos, resultante de uma mutação genética que afeta a ossificação
endocondral. O processo básico é uma inabilidade da placa epifisária em
produzir cartilagem colunar, o que resulta em um crescimento insuficiente
dos ossos longos, tornando a linha de ossificação irregular e alterando o
fechamento das epífises (COTRAN; KUMAR; COLLINS, 2000, p. 1.092).

Sobre o desenvolvimento, é importante saber que as respostas a estímulos evoluem de reflexos


generalizados, envolvendo todo o corpo para as ações voluntárias, definidas pelo córtex. São os chamados
reflexos corticais. Esses reflexos permitem à criança passar das reações simétricas involuntárias (identificadas
logo ao nascer), evoluindo em respostas ao meio ambiente (gritar, agitar os braços, dar pontapés), para
os movimentos assimétricos voluntários, em função de determinado estímulo. Essas funções nervosas, ou
reflexos, podem, conforme sua evolução, ser divididas em três grupos:

A) manifestações normais: aparecem durante algum tempo e desaparecem


com a evolução, somente reaparecendo em condições patológicas. Exemplo:
reflexo de Moro, que desaparece em torno de 4‑6 meses; e o sinal de Babinski,
que quando bilateral, pode ser normal até 18 meses.

49
Unidade I

B) reflexos que existem normalmente, desaparecem com a evolução e


reaparecem como atividades voluntárias. Exemplo: reflexo de preensão,
sucção e marcha.

C) manifestações que persistem por toda a vida. Exemplo: vários reflexos


profundos e os reflexos cutâneos abdominais (BRASIL, 2012c).

Saiba mais

Conheça mais sobre a avaliação do desenvolvimento na infância e a


atuação do enfermeiro lendo o artigo:

SOUZA, J. M.; VERÍSSIMO, M. L. O. R. Desenvolvimento infantil: análise


de um novo conceito. Rev. Latino‑Am. Enfermagem., Ribeirão Preto, v. 23,
n.  6, p. 1.097‑1.104, nov./dez. 2015. Disponível em: <http://www.revistas.
usp.br/rlae/article/view/108021/106364>. Acesso em: 12 jun. 2018.

2.1 Faixas etárias do desenvolvimento da criança

As linhas orientadoras de desenvolvimento aplicam‑se a grande parte das crianças em cada fase
de desenvolvimento, denominadas de faixas etárias do desenvolvimento da criança, e encontram‑se
divididas em períodos:

Pré‑natal: da concepção até o nascimento da criança.

Lactente: subdividido em:

ֳ• Neonatal: do nascimento até 28 dias de vida.

• Lactente: (propriamente dito) de 28 dias a 2 anos de vida.

Inicial da infância: subdividido em:

• Período de infantes, também conhecidos como Toddlers: entre 2 e 3


anos de idade.

• Período pré‑escolar: entre 3 e 6 anos de idade.

Intermediário da infância (idade escolar): de 6 anos a 11 anos (ou 12 anos,


de acordo com alguns autores).

50
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Tardio da infância: subdividido em:

• Pré‑púbere ou pré‑adolescência: de 10 a 13 anos.

• Adolescência: de 13 a 18 anos, segundo a OMS e, de acordo com a


Sociedade Brasileira de Pediatria, até 21 anos de idade (BRASIL, 2012c).

Recém-nascido Reflexos subcortiais

1 mês Segue a luz


2 meses Sorri, balbucia
3 meses Sustenta a cabeça

4 meses Agarra objetos


5 meses Gira sobre o abdômen
6 meses Mantem-se sentado
7 meses Preensão palmar
8 meses Pinça digital

9 meses Põe-se sentado


10 meses Engatinha

11 meses De pé, dá passos com apoio


12 a 14 meses Caminha só

Figura 33 – Demonstração do desenvolvimento motor da criança no 1º ano de vida

No entanto, cada criança é um indivíduo e pode atingir estas fases de desenvolvimento mais cedo ou mais
tarde quando comparada a outras crianças da mesma idade, sem se falar, propriamente, de problemáticas.

Lembrete

Como mencionado anteriormente, durante a vida da criança, existe


um padrão de desenvolvimento esperado de acordo com a faixa etária.
O enfermeiro deve reconhecer cada faixa e saber identificar se a idade
cronológica da criança está de acordo com o esperado.

2.1.1 Período pré‑natal

O pré‑natal compreende o intervalo entre a concepção e o nascimento da criança. Encontra‑se


subdividido em períodos: germinativo (concepção a 2 semanas), embrionário (2 a 8 semanas) e fetal
(8 a 40 semanas).
51
Unidade I

As condições de desenvolvimento da criança estão relacionadas à saúde materna e devem ser


acompanhadas durante todo o pré‑natal. Nesse período, o feto possui uma rápida velocidade de
crescimento e depende totalmente das condições oferecidas pela mãe, intraútero. Para tal, dependerá
de um pré‑natal adequado e assistido.

2.1.2 Período de lactente

Esse período compreende outros dois subperíodos:

• Período neonatal: do período do nascimento até 28 dias.

• Período lactente (propriamente dito): de 29 dias a 2 anos de idade.

A fase dos 0 até os 2 anos de idade é considerada o marco do desenvolvimento infantil.


É caracterizada pelo desenvolvimento motor, cognitivo e social acelerado, em que a criança
estabelece vínculo com o cuidador (pai/mãe), a confiança básica no mundo e fundamentos para
futuros relacionamentos interpessoais.

2.1.2.1 Período neonatal: do período do nascimento até 28 dias

Ao observar um recém‑nascido (RN), deve‑se considerar que suas reações, apesar de reflexas em sua
grande maioria, estão também fortemente relacionadas com seu grau de maturidade e condições físicas,
como sono, fome, saciedade, irritabilidade etc.

O neonato tem o predomínio do tônus flexor, assimetria postural e preensão reflexa. Assim,
quando colocado em decúbito ventral, mantém‑se fletido e gira a cabeça de um lado para
o outro. Quando colocado em decúbito dorsal, mantém‑se fletido e rígido, geralmente. Tem
percepções visuais, podendo fixar o rosto a uma luz na linha de visão, ou seja, consegue
acompanhar a luz (estímulo luminoso) com os olhos, e as pupilas reagem à luz.

Desde as primeiras horas de vida, é capaz de indicar a percepção de alguns sons e apresenta uma
reação global a barulhos muito fortes (exemplos: choro forte com som de palmas, latidos, porta batendo).
A voz humana causa nele efeitos diferentes de outros sons, e, em torno da segunda semana de vida, a
voz da mãe ou mesmo de outra mulher, modulada por tonalidades afetivas, já é capaz de desencadear
sorrisos mais facilmente do que qualquer outro som.

Dorme grande parte do tempo (em média 18 horas por dia), e o tempo que se mantém acordado é
para se alimentar e receber cuidados, como banho e troca de fraldas.

Os neonatos possuem alguma discriminação olfativa e o paladar altamente desenvolvido, pois


as células do paladar se formam com 7 ou 8 semanas, ainda quando feto, estando completamente
formadas na 14ª semana de gestação. Dessa forma, percebe alguns sabores, tendo predileção pelo doce
(BRASIL, 2012c; BRASIL, 2002; HOCKENBERRY; WILSON, 2014).

52
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Figura 34 – Demonstração da postura corporal adotada pelo recém‑nascido, na posição ventral e dorsal

De acordo com a idade gestacional, o RN é classificado como (BRASIL, 2002, p. 19‑20):

• Pré‑termo: menos do que 37 semanas completas (menos do que 259 dias completos).

• Termo: de 37 semanas completas até menos de 42 semanas completas (259 a 293 dias).

• Pós‑termo: 42 semanas completas ou mais (294 dias ou mais).

Reflexos neurológicos

A pesquisa dos reflexos neurológicos deve ser verificada desde o nascimento. Alguns reflexos
verificados no neonato o acompanham por determinado período e depois desaparecem. Esse perfil deve
ser acompanhado pelo enfermeiro, que, conhecendo as fases etárias do desenvolvimento e o que esperar
em cada uma, pode identificar atrasos no desenvolvimento esperado. O enfermeiro deve verificar, além
da presença ou ausência do reflexo, a resposta reflexa, checando dados com relação à velocidade, força,
amplitude e variação de movimentos produzidos, além da duração da contração muscular e aumento
da área reflexógena. Pode graduar a resposta em ausente, hipoativo, normal, hiperativo e reduplicado
com resposta clônica.

Conheça um pouco mais sobre os reflexos neurológicos primários dos recém‑nascidos e como
realizá‑lo, no quadro a seguir:

Quadro 1 – Reflexos neurológicos primários dos recém‑nascidos

Pressionar a face palmar da mão do RN com o dedo do examinador ou com lápis ou


caneta. A resposta é a flexão dos dedos.
Reflexo de preensão
palmar A resposta deve ser simétrica.
O início do aparecimento da resposta a esse reflexo é 28 semanas de idade gestacional.
Pressionar a face plantar do pé do RN com o dedo do examinador ou com lápis ou
caneta.
Reflexo de preensão
plantar A resposta é a flexão dos dedos.
A resposta deve ser simétrica.

53
Unidade I

Reflexo cutâneo Estimular a face lateral da planta do pé.


plantar em extensão A resposta esperada é a abertura em leque dos dedos ou a abertura do primeiro dedo.
Estimular os lábios do RN em várias posições (direita, esquerda, acima e abaixo) com o
Reflexo de dedo enluvado do examinador ou com a própria mão do RN. A resposta esperada é a
voracidade abertura da boca, desvio da cabeça e movimentação da língua em direção ao estímulo.
Obtém‑se melhor resposta com o RN acordado e com fome.
O toque dos lábios da criança com o dedo enluvado provoca movimento involuntário de
Reflexo de sucção abertura da boca e preensão do dedo.
A língua reage em forma de cânula e faz movimentos ondulatórios anteroposteriores.
A compressão da palma das mãos simultaneamente provoca a abertura da boca,
Reflexo de Babinski abertura ocular e movimento da cabeça para frente, na linha média.
Desaparece com 3‑4 meses de vida.
Com o RN em decúbito dorsal, manter o tronco centrado e promover a rotação e a
manutenção da cabeça para um dos lados.
Reflexo tônico
cervical assimétrico A resposta normal é a extensão dos membros do lado da face e a flexão dos membros
do lado occipital. A resposta pode ser parcial ou incompleta. A resposta aparece com 35
semanas de idade gestacional, sendo mais proeminente com 1 mês pós‑termo.
Pode ser obtido por abrupto estímulo sonoro, luminoso ou sinestésico.
Com o RN em posição supina, tracioná‑lo levemente pelos braços a poucos centímetros
Reflexo de Moro do leito e soltar os braços, permitindo que ele retorne ao leito. A resposta esperada
consiste na abertura das mãos e extensão e abdução dos membros superiores, seguida
pela flexão anterior dos membros superiores (abraçar) e choro.
Desaparece com 6 meses de idade.
Sustentar o RN na posição ereta, tocando a planta dos pés no leito. Esta manobra faz
com que haja uma contração dos músculos antigravitários, que facilita a sustentação
Reflexo de apoio mantida.
plantar
Com 40 semanas de gestação, permite que a criança mantenha a cabeça ereta por
poucos segundos.
É realizado em seguida do reflexo de apoio plantar. Após endireitar o tronco, inclinar
Reflexo de marcha levemente a criança para frente o que desencadeará movimentos sucessivos de marcha
dos membros inferiores, de modo simétrico.

Adaptado de: Brasil (2012a).

2.1.2.2 Período lactente (propriamente dito): de 29 dias a 2 anos de idade

1º mês

O 1° mês de vida da criança é considerado como crítico, pois é uma fase que, além das adaptações
extrauterinas exigidas ao recém‑nascido (RN) logo após o nascimento, exige adaptações da família e
depende de cuidados específicos, pois o funcionamento de muitos órgãos e sistemas são imaturos ou
estão sendo sensibilizados, a exemplo dos sistemas imunológico, renal, hepático e gastrointestinal.

Com relação ao desenvolvimento motor, quando colocado em decúbito ventral, o RN eleva mais
a cabeça, sustenta a cabeça ao plano do corpo, e, quando colocado em decúbito dorsal, predomina a
postura tônica do pescoço; se puxado para sentar, a cabeça ainda cai para trás.

O desenvolvimento visual ocorre, pois acompanha um objeto em movimento por 180° e sorri ao
contato social (BRASIL, 2012c; BRASIL, 2002; HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
54
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Figura 35 – Lactente no 1º mês de vida

2º mês

Desenvolvimento motor: algumas características são importantes e devem ser observadas, pois,
quando o lactente com 2 meses é colocado em decúbito ventral, é esperado que ele eleve a cabeça e o
tórax, com os braços estendidos e a cabeça acima do plano do corpo; e quando colocado em decúbito
dorsal, é esperado o predomínio da postura tônica do pescoço.

Quando colocado na posição dorsal e ao ser puxado para a posição sentada, a cabeça pende um
pouco para trás, demonstrando ainda não ter sustentação muscular da coluna cervical. Quando colocado
na posição sentado com apoio, observa‑se o dorso curvado.

Desenvolvimento cognitivo: ao ser estimulado por um objeto, por exemplo um boneco, é esperado
que ele estenda a mão para os objetos, porém sem conseguir pegá‑los. Ou seja, ele agita as mãos,
demonstrando estímulo pelo brinquedo, mas ainda não tem coordenação motora desenvolvida para
conseguir pegá‑lo.

Desenvolvimento social: já mantém o contato social, dizendo “AAAA...” aos estímulos. Exemplo:
estímulo musical.

Figura 36 – Lactente no 2º mês de vida

55
Unidade I

3º mês

Desenvolvimento motor: nessa idade, desaparece a resposta ao reflexo de Moro, quando colocado
na posição dorsal, ao ser puxado para a posição sentada, a cabeça não pende para trás, mantém‑se
firme, demonstrando sustentação da coluna cervical, porém observa‑se o dorso curvado. Nessa idade,
o lactente gosta de permanecer sentado com apoio, comportamento que deve ser estimulado. Deve‑se
orientar a mãe para colocá‑lo por curtos períodos, sob sua supervisão, sentado, com apoio de travesseiros
e almofadas. Esse estímulo auxiliará a fortalecer a musculatura vertebral e ajudará no próximo passo,
que será sentar‑se sem apoio (por volta dos 6 meses de idade).

Ao posicionar o lactente na posição vertical, ele permanece em pé com apoio.

Desenvolvimento cognitivo: estende as mãos para apanhar os objetos, conseguindo pegá‑los.


Consegue segurar e trazer objetos à boca (lembrar que neste período inicia‑se a fase oral), porém,
quando o objeto cai, não consegue apanhá‑lo.

Nessa idade, a visão binocular está quase estabelecida e inicia‑se a coordenação mão‑olho.

Nessa fase, o lactente já reconhece a mãe.

Desenvolvimento social: ri alto, pode demonstrar desagrado se o contato for interrompido, excita‑se
com a visão do alimento, começa a demonstrar memória; emite sons consonantais, como n, k, g, p, b.

Figura 37 – Lactente no 3º mês de vida

6º mês

Desenvolvimento motor: no 6º mês, a criança tem um desenvolvimento motor importante e


observa‑se que já consegue movimentar seus braços intencionalmente, também já consegue segurar
um copo ou a mamadeira com as duas mãos.
56
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Consegue rolar sobre o próprio eixo (se estiver em decúbito dorsal, pode virar‑se para o ventral e
vice‑versa), apoiando‑se em uma das mãos, e tenta sentar‑se quando está seguro pelas mãos.

Quando deitado na posição dorsal, brinca com os pés, e quando colocado na posição sentado com
apoio, mantém‑se com a coluna vertebral alinhada. Ao ser apoiado pelos braços, consegue levantar‑se
e manter‑se de pé.

Figura 38 – Lactente no 6º mês de vida

Desenvolvimento cognitivo: esquece os brinquedos quando escondidos ou postos fora do seu


alcance visual, olha para os brinquedos dentro do seu campo de visão e agarra‑os com ambas as mãos.
Encontra‑se mais atento ao seu redor, quanto às pessoas e o que ocorre.

Quando estimulado com seus brinquedos, agarra‑os e consegue alternar de uma mão para a outra.
Adora jogar os brinquedos para os ver caindo.

A criança demonstra o seu estado de espírito pela emissão de sons compostos por uma ou duas
sílabas como “daaaaa” ou “da‑da”, podendo gritar de entusiasmo ou irritação, e até dar gargalhadas.
Reage, vocalizando e virando a cabeça, quando escuta um som conhecido ou quando ouve seu nome.
A criança apresenta o balbucio cada vez mais rico, devido ao prazer de se ouvir, e os sons são mais
diferenciados e repetitivos (dada, gugu, agu, mãmãmã etc.).

Chora, levanta as mãos e estende os braços para pedir colo, demonstrando desenvolvimento
emocional. Se houver introdução de novos alimentos, além do aleitamento materno exclusivo, começa
a demonstrar preferência por determinados sabores.

Desenvolvimento social: é amistoso com estranhos, gosta de brincar rebolando sobre si próprio,
gosta que leiam para ele.

57
Unidade I

7º mês

Desenvolvimento motor: quando colocada em decúbito ventral, a criança rola o corpo, podendo
girar em torno do próprio eixo, e quando em decúbito dorsal, ergue a cabeça espontaneamente, senta‑se
momentaneamente com o apoio da pelve, inclinando‑se para diante, apoiando‑se com as mãos. Quando
colocada na posição vertical, permanece sustentando o peso do corpo; em pé, com apoio, pode suportar
maior peso, balançando‑se ativamente, pulando. Nessa fase, a criança pode iniciar a intenção de se
deslocar, a se rastejar.

Desenvolvimento cognitivo: a criança já pode alcançar e segurar um objeto grande e transferir


objetos de uma mão para a outra. Além disso: possui preensão unidestra; bate com o cubo na mesa;
procura por objetos pequenos; fixa o olhar em objetos muitos pequenos e tenta pegá‑los; responde
ao próprio nome; localiza o som virando a cabeça em arco; forma sons vocábulos polissílabos, como
“mamama... dadada...”; e conversa quando outros estão falando.

Desenvolvimento social: nessa idade, a criança prefere a mãe, balbucia, gosta do espelho, responde
às alterações do conteúdo emocional no contato social, tem medo de estranhos, apresenta sinais de
medo quando a mãe desaparece, brinca de esconde‑esconde, imita atos e ruídos simples, tenta chamar
a atenção com tosses e roncos, demonstra desinteresse pelos alimentos mantendo os lábios fechados e
reage negativamente a estranhos.

Figura 39 – Lactente no 7º mês de vida

10º mês

Desenvolvimento motor e cognitivo: a criança nessa idade pode mudar do decúbito ventral para
a posição sentada. Já senta‑se sozinha e indefinidamente sem apoio, com o dorso permanecendo reto.
Quando colocada na posição vertical, permanece em pé na posição ereta e levanta um dos pés, como
iniciando e treinando para dar um passo. Já pode engatinhar.

58
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Observa‑se nessa idade que a criança recupera o equilíbrio quando senta rapidamente e consegue
se sentar partindo da posição em pé, sem ajuda.

Ela executa atividades motoras elencadas com o objetivo aprendido, como agarrar o sino pelo cabo
e agitar, esperando obter o som, ou seja, ela sabe qual dos lados do sino deverá segurar para chacoalhar
e fazer o barulho.

Nessa idade, a criança poderá desenvolver o movimento de rastejar ou engatinhar, podendo até
mesmo tentar dar os primeiros passos. A criança já procura o objeto que abandonou há algum tempo no
devido local, demonstrando memória. Ela entende e demonstra comportamento perante um comando,
como “não... não” e é capaz de olhar e acompanhar figuras em um livro.

Desenvolvimento social: nessa fase, a criança tende a repetir ações que atraem a atenção
e despertam risos. Ela reage à raiva do adulto por meio de gritos e/ou choro. Gosta e participa de
brincadeiras interativas, como esconde‑esconde. Já há um desenvolvimento da linguagem, dizendo
“papa” e “mama” com significado, compreendendo o significado de “tchau”.

Figura 40 – Lactente no 10º mês de vida

1º ano

Algumas características são importantes nessa idade. O peso do nascimento é triplicado, e a altura,
aumentada em 50%. A criança já apresenta em torno de seis a oito dentes primários, e a fontanela
anterior já está quase fechada.

Desenvolvimento motor: o reflexo de Babinski desaparece, já caminha com uma das mãos
segura ou sozinha.

59
Unidade I

Desenvolvimento cognitivo: consegue segurar um objeto com o polegar e o indicador, tateia


os objetos com o indicador, descobre brinquedos escondidos, tenta recuperar o objeto que caiu,
solta o objeto quando a outra mão está segurando, coloca cubos em copos, pode virar as páginas
de um livro (muitas de uma só vez).

Desenvolvimento da linguagem: nesse momento há o surgimento das primeiras palavras


(normalmente são sons labiais: papai, mamãe, papá), formação de sons consonantais e vocábulos
polissílabos, de três a cinco sílabas, exemplos: “mamama, dadadada”, “auau”. Compreende o
significado das palavras e de frases simples compatíveis com o seu meio, como “vai com a vovó” e
“cadê o miau?”.

Desenvolvimento social: ri alto, pode demonstrar desagrado se o contato for interrompido;


excita‑se com a visão do alimento; demonstra emoções mais específicas em relação a uma situação,
como raiva, ciúmes, afeição, desejo e temor a situações estranhas; desenvolve hábitos, como cobertor
de segurança, brinquedo preferido, entre outros.

Figura 41 – Lactente com um ano de vida

2º ano

Estima‑se que uma criança de 2 anos seja capaz de nomear 300 objetos. Nessa etapa, o
aprendizado linguístico está a todo vapor: os pequenos aprendem entre 10 e 20 palavras novas
todos os dias. Com isso, começam a formar as primeiras frases.

60
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Nessa idade, começa a brincar de faz de conta (atividade que deve ser estimulada, pois auxilia no
desenvolvimento cognitivo e emocional, ajudando a criança a lidar com ansiedades e conflitos e a
elaborar regras sociais).

A criança começa a desenvolver o controle dos esfíncteres, e os pais devem começar a retirar o uso
das fraldas aos poucos e a ensiná‑la a usar o penico/vaso sanitário. Nesse processo devem ser levados
em consideração o estágio do desenvolvimento e as habilidades necessárias para o controle. A idade
ideal para iniciar o processo educativo varia de criança para criança: algumas entre 18 e 24 meses já
mostram sinais de que estão prontas e outras não.

Figura 42 – Lactentes com dois anos de vida

2.1.3 Período inicial da infância

Compreende a fase de 2 a 6 anos de idade, embora alguns autores classificam essa fase a partir do
1º ano de vida.

Esse período encontra‑se subdividido em:

• Período de infantes: quando também são conhecidos como toddlers, com idade entre 2 a 3 anos.

• Período pré‑escolar: entre 3 e 6 anos de idade.

Entende‑se que esse período compreende desde o momento em que a criança atinge a posição ereta
e se sustenta sozinha até o início escolar. Esse período é marcado por descobertas e atividades intensas,
além de um acentuado desenvolvimento físico e da personalidade. Observam‑se também amplos
desenvolvimentos: motor, de linguagem e social. É esperado que adquiram autocontrole e consciência
da dependência e independência (autoconceito).

61
Unidade I

Figura 43 – Infante

2.1.4 Período intermediário da infância (idade escolar)

Essa fase compreende o período de 6 a 11 anos (ou 12 anos, de acordo com alguns autores).

Crianças nessa fase buscam o convívio, além do familiar, com outros grupos, como amigos na escola,
dessa forma dirigem‑se para fora do grupo familiar.

Encontram‑se centralizadas ao redor do mundo, buscando experiências com o relacionamento com


seus colegas. Observa‑se o avanço no desenvolvimento físico, mental e social, porém com ênfase no
desenvolvimento da competência das habilidades, como em determinado esporte, na música, na arte,
entre outros. O desenvolvimento moral também é verificado.

Figura 44 – Crianças brincando: pré‑escolar e infante

62
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.1.5 Período tardio da infância

Esse período encontra‑se subdividido em outros dois:

• Período pré‑púbere ou pré‑adolescência: de 10 a 13 anos.

• Adolescência: de 13 a 18 anos.

O período tardio da infância representa um tumultuado período de maturação (biológica e de


personalidade), de alterações físicas rápidas, desordem física e emocional, redefinição do autoconceito,
busca concentrada de uma identidade individual, própria. Observam‑se novas formas físicas e estéticas
decorrentes do crescimento e maturação somáticos, principalmente gerando maturação sexual
originárias de uma complexa inter‑relação de vários órgãos neuroendócrinos.

Considera‑se a puberdade como um componente que antecede a adolescência quando


ocorrem as modificações biológicas decorrentes de ação hormonal, enquanto na adolescência
(processo de maior duração) engloba além dos fenômenos físicos da puberdade, as
transformações psicossociais pelas quais passa o indivíduo no auge do seu processo maturativo.
Sob a ótica das modificações biológicas corporais da adolescência, podemos dizer que elas
envolvem, aproximadamente, todos os órgãos e estruturas do corpo, que não se iniciam na
mesma época, nem têm a mesma duração em todos os indivíduos. Essas manifestações são
decorrentes da ação hormonal do eixo neuro‑hipofisário e constituem a chamada puberdade
(BRASIL, 1993).

Observação

A puberdade é um fenômeno universal e, em condições de normalidade,


tem seus limites (início e fim) estabelecidos dentro de uma margem de variação
em função de fatores internos e externos inerentes a cada indivíduo.

A adolescência, embora seja um fenômeno universal, tem características


que variam conforme o ambiente sociocultural do indivíduo e é difícil
precisar os seus limites.

Nem sempre o início da puberdade coincide com o da adolescência.


Ela pode suceder ou preceder as transformações psicossociais.

A puberdade está concluída com o fim do crescimento esquelético,


que coincide com a soldadura das cartilagens de conjugação dos ossos
longos e com o amadurecimento gonadal, que permite a plena execução
da função reprodutora.

63
Unidade I

2.1.5.1 Período pré‑púbere ou pré‑adolescência: de 10 a 13 anos

As principais características da puberdade são o estirão de crescimento, o desenvolvimento das


gônadas, o surgimento dos caracteres sexuais secundários, mudanças na composição corporal
(principalmente na quantidade e distribuição de gorduras em associação com o crescimento do esqueleto
e músculos) e desenvolvimento dos sistemas respiratório e circulatório.

O enfermeiro deve atuar na avaliação do crescimento e do desenvolvimento do pré‑púbere mediante


as recomendações do Ministério da Saúde, pois essas ações são fundamentais para estabelecer a
vigilância e o monitoramento:

Efetuar medidas antropométricas e de avaliação do desenvolvimento


puberal, registrando‑as em gráficos e tabelas apropriados e interpretando
seu valor segundo os padrões estabelecidos.

Estabelecer o diagnóstico diferencial dos distúrbios de crescimento e


desenvolvimento com base na correlação de dados epidemiológicos,
de anamnese, de exame clínico e da história de vida do adolescente
em seu contexto familiar, orientando a solicitação criteriosa de
exames complementares.

Identificar situações de risco para o crescimento e desenvolvimento – por


exemplo, condições clínicas e nutricionais – estabelecendo medidas de
prevenção pertinentes; conhecer as condutas terapêuticas apropriadas
para cada caso e reconhecer as situações que deverão ser encaminhadas a
serviços de maior complexidade (BRASIL, 2007, p. 13).

2.1.5.2 Adolescência: de 13 a 18 anos

A adolescência é uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano. Não pode ser considerada meramente
uma etapa da transição entre a infância e a idade adulta, pois é nesta fase que culmina todo o processo
da maturação biopsicossocial do indivíduo. Não se pode estudar separadamente os aspectos biológicos,
psicológicos, sociais ou culturais do adolescente, eles são indissociáveis, e é o conjunto de características
que dá unidade ao fenômeno da adolescência (BRASIL, 1993).

É uma etapa decisiva no processo de desprendimento da família. Nesse movimento de conquista


de independência da personalidade e da autonomia, o jovem volta‑se para o meio social e apoia‑se
no seu grupo de iguais. Nessa fase, a família já não é mais o centro de suas atenções. É comum, nesse
processo, que o jovem apresente maior rebeldia em relação à autoridade em geral. Nessa etapa da
vida, as regras costumam ser questionadas e até mesmo contestadas por ele, o que é necessário para o
desenvolvimento da sua identidade (WAGNER et al., 2005).

A adolescência também está caracterizada por um período de vulnerabilidade física, psicológica


e social, com complexas mudanças no processo de desenvolvimento do ser humano. As modificações
64
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

físicas, cerebrais, endócrinas, emocionais, sociais e sexuais ocorrem de forma conjugada, com
modificações estruturais, físicas e mentais, originando comportamentos e emoções antes não sentidas
pelo adolescente, família, amigos e profissionais que convivem com ele. Por ser um período vulnerável,
a experiência do adolescer vai exigir da família, dos profissionais de saúde e da educação uma atenção
especial para esse adolescente, ajudando‑o a lidar com situações e problemas que possam provocar
danos e agravos à saúde (BITENCOURT; SANTANA; SILVA, 2011).

O adolescente poderá ser encaminhado para exames de laboratório ou referência especializada. Todos
os adolescentes, além do atendimento, deverão ser encaminhados para participar de grupos informativos,
educativos e psicoprofiláticos. A equipe deverá ser capacitada para manter contatos e interagir com a
comunidade visando à promoção de saúde. Nas unidades de atenção secundária e terciária, os roteiros do
atendimento serão organizados conforme a disponibilidade dos recursos e da dinâmica interna de cada
serviço, obedecendo sempre os critérios da integralidade do atendimento (BRASIL, 1993).

Ainda cabe ao enfermeiro, no atendimento ao adolescente, indicar o exame ginecológico oportuno,


reconhecer os comportamentos de risco que possam implicar doenças sexualmente transmissíveis e
AIDS e encaminhar a profissionais habilitados, quando necessário. Prevenir, diagnosticar precocemente
e acompanhar a gravidez na adolescência além de orientar e apoiar o exercício da maternidade/
paternidade, identificar e orientar os adolescentes e jovens sexualmente ativos para a prática saudável
de sua sexualidade, e conhecer os aspectos socioculturais que influenciam o comportamento sexual do
adolescente e do jovem (BRASIL, 2007).

Durante o atendimento, o contexto social deve ser avaliado, verificando os elementos importantes
na vida sob o ponto de vista emocional e sexual, assim como sua relação com a família e o impacto desse
relacionamento (principalmente afetivo e emocional), sua relação com os profissionais de educação e
com os amigos. Saber lidar com os aspectos emocionais que envolvem a vivência da sexualidade durante
a adolescência é fundamental para o desenvolvimento esperado nessa fase etária.

Dessa forma, a falta de informação adequada, a carência de um sistema educacional que estimule a
sociabilidade e ainda a precária qualidade dos serviços de saúde fazem com que os adolescentes, tanto
no nível social quanto individual, se tornem bastante vulneráveis. Cabe à família e aos profissionais de
saúde e da educação uma análise dos problemas que possam advir com danos e agravos à saúde, e uma
sistematização de ações com vistas a um atendimento eficiente a esse grupo etário (DAVIM, 2009).

Saiba mais

Para saber mais sobre o período da adolescência, leia o artigo a seguir:

DAVIM, R. M. et al. Adolescente/adolescência: revisão teórica sobre uma


fase crítica da vida. Rev. Rene, Fortaleza, v. 10, n. 2, p. 131‑140, abr./jun.
2009. Disponível em: http://periodicos.ufc.br/rene/article/view/4787/3541.
Acesso em: 1 jun. 2018.

65
Unidade I

Figura 45 – Adolescentes

Observação

Alguns hormônios interferem no crescimento somático e no


desenvolvimento neurológico e, portanto, podem influenciar
no desenvolvimento da criança. Em caso de suspeita em relação
à fase do desenvolvimento (atrasado ou avançado), devem ser
investigados, entre outros hormônios:

Hormônio tiroideano: participa do crescimento somático (ósseo) e


do desenvolvimento neurológico. Exemplo: hipotireoidismo ocasionará
crianças com estaturas baixas e diminuição da capacidade de inteligência.
Em casos de hipotireoidismo congênito, é caracterizado por atraso do
desenvolvimento neuropsicomotor, além de sinais sistêmicos, conhecidos
como cretinismo.

Hormônio paratormônio: auxilia o metabolismo Ca++ e Ferro,


influenciando diretamente no crescimento da criança.

Hormônio hipofisário: conjugação da cartilagem óssea, participando


do crescimento.

Hormônios sexuais: estão relacionados ao crescimento e à maturação


sexual. Devem ser investigados quando da presença de caracteres sexuais
secundários em períodos anteriores à puberdade, assim como sua ausência
durante e após a puberdade.

66
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Saiba mais

Conheça mais sobre o desenvolvimento da criança lendo o Caderno de


Atenção Básica, do Ministério da Saúde, nº 33, p.119 a 129, disponível na
biblioteca eletrônica:

BRASIL. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. Brasília:


Ministério da Saúde, 2012c. (Cadernos de Atenção Básica, nº 33). Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_
desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2018.

2.2 Fatores de risco para problemas do desenvolvimento

Os fatores de risco para problemas de desenvolvimento podem ser classificados em genéticos


(por exemplo: síndrome de Down), biológicos (por exemplo: prematuridade, hipóxia neonatal,
meningites) e/ou ambientais (fatores familiares, de ambiente físico, fatores sociais) (OPAS, 2005).

O baixo peso ao nascer e a prematuridade são eventos que aumentam o risco da criança para
alterações globais em seu desenvolvimento, sendo possível identificar distúrbios de linguagem, de
motricidade, de aprendizagem e de atraso neuropsicomotor, podendo, contudo, evoluir durante os
primeiros dois anos de vida para padrões de normalidade na maioria dos casos (BRASIL, 2012c).

A identificação eficaz de crianças em risco de desenvolvimento começa com um exame dos fatores
de risco que contribuem para as desordens da criança, tornando‑a vulnerável ao enfrentamento das
tarefas evolutivas do ciclo vital. Os riscos ao desenvolvimento podem estar presentes na própria criança
– componentes biológicos, temperamento e a própria sintomatologia –, na família – história parental
e dinâmica familiar – ou no ambiente – nível socioeconômico, suporte social, escolaridade e contexto
cultural (LEWIS et al.,1988).

A manifestação de dificuldades no desenvolvimento é muito variável e pode ser de ordem


mental, física, auditiva, visual ou relacional. O déficit mental é caracterizado por um estado de
redução notável do funcionamento intelectual, significativamente inferior à média, que se inicia
durante o período de desenvolvimento da criança e está associado a limitações em pelo menos dois
aspectos do funcionamento adaptativo: comunicação, cuidados pessoais, atividades de vida diária,
habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, aptidões escolares, lazer e
trabalho (BRASIL, 2012c).

O tratamento de uma criança com distúrbio do desenvolvimento poderá ser individualizado ou ser
feito em grupo e depende muito de sua complexidade. O adequado manejo poderá variar, podendo
ser feito mediante orientações aos pais sobre a importância da relação entre o desenvolvimento da
criança e a maneira como eles lidam com isso (BRASIL, 2002).

67
Unidade I

Saiba mais

Conheça mais sobre o desenvolvimento da criança lendo o artigo a seguir:

MARIA‑MENGEL, M. R. S.; LINHARES, M. B. M. Fatores de risco para


problemas de desenvolvimento infantil. Rev. Latino‑Am. Enfermagem,
Ribeirão Preto, v. 15; nº esp., p. 837‑842, out. 2007. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/rlae/v15nspe/pt_18.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2018.

2.3 Avaliação do desenvolvimento da criança

O acompanhamento do desenvolvimento deve fazer parte da consulta geral da criança. Para isso,
não é necessário criar espaços específicos, momentos fora da consulta ou instrumental especializado,
embora alguns pequenos brinquedos e/ou objetos do consultório possam ser usados para desencadear
alguma resposta reflexa ou marco do desenvolvimento (BRASIL, 2002)

Durante a consulta, o enfermeiro deve prestar atenção à forma como a mãe lida com o seu filho, se
conversa com ele, se está atenta às suas manifestações.

A sequência do desenvolvimento pode ser identificada em termos gerais através da verificação


das referências esperadas de acordo com a idade, conforme demonstrado anteriormente. Essas
referências constituem uma abordagem sistemática para a observação dos avanços da criança no
tempo. A aquisição de determinada habilidade baseia‑se nas adquiridas previamente e raramente
pulam‑se etapas (BRASIL, 2012c).

Esses marcos constituem a base dos instrumentos de avaliação.

O Ministério da Saúde recomenda que o profissional preencha um instrumento em cada avaliação


da criança na puericultura, o que permite documentar a evolução do desenvolvimento da criança e
identificar as inconsistências, e o instrumento encontra‑se disponível na caderneta de atenção à saúde
da criança (BRASIL, 2002).

68
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Figura 46 – Instrumento para acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento infantil

A ficha de acompanhamento do desenvolvimento deve ficar no prontuário da criança, e, sempre que


possível, o enfermeiro deve tentar utilizar a mesma forma de padronização, o que facilitará o exame e
dará maior confiabilidade aos achados clínicos.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2002) recomenda a conduta a ser tomada mediante os resultados da
avaliação do acompanhamento do desenvolvimento da criança:

69
Unidade I

• Presença das respostas esperadas para a idade: a criança está se desenvolvendo bem e o profissional
de saúde deverá seguir o calendário de consulta.

• Falha em alcançar algum marco do desenvolvimento para a idade: o profissional de saúde deverá
antecipar a consulta seguinte, investigar a situação ambiental da criança, a relação com a mãe e a
oferta de estímulos (ambientais e emocionais). Sugere‑se orientar a mãe para brincar e conversar
com a criança durante os cuidados diários.

• Persistência do atraso por mais de duas consultas (ou ausência do marco no último quadro
sombreado): se verificado, encaminhar a criança para referência ou serviço de maior complexidade,
ou seja, suspeitando de atraso no desenvolvimento da criança avaliada, associado ou não a
alterações clínicas/físicas, a criança deve ser imediatamente direcionada para avaliações mais
específicas e acompanhamento por profissionais especializados, como no caso do psicólogo e/ou
do neurologista pediátrico.

Observação

A Escala de Denver II é uma escala de triagem de risco de


desenvolvimento na infância, muito utilizada no Brasil, que verifica o
atraso no desenvolvimento infantil e que pode ser aplicada em crianças
de até 6 anos de idade. A escala permite triar crianças assintomáticas
com possíveis problemas de desenvolvimento e monitorar aquelas que
tenham risco para problemas de desenvolvimento. Muitas vezes, auxilia
na identificação de problemas de atraso do desenvolvimento.

Resumo

É recomendável que todos os países, todas as civilizações, construam,


junto com o setor privado e a sociedade civil, planos de implementação,
em escala apropriada, para estabelecer intervenções que visem aumentar a
demanda e a utilização de serviços de saúde e produtos que salvam vidas,
especialmente entre as populações subatendidas, em todas as faixas etárias
e gêneros, mas especialmente no que diz respeito às crianças.

Para isso, um governo precisa, entre outros, de recursos financeiros,


recursos humanos qualificados, tecnologias e conhecimentos avançados,
aspectos fundamentais para melhorias dos indicadores de qualidade de
saúde da criança e do adolescente.

O Brasil é um dos 62 países que alcançaram a meta de redução da


mortalidade infantil, estipulada pela Organização das Nações Unidas
(ONU) por meio dos Objetivos do Milênio. Mesmo com os dados positivos,
70
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

demonstrando reduções na taxa de óbitos nos primeiros anos de vida


da criança e alcançando a meta estabelecida pela ONU, o Brasil ocupa o
97º lugar no ranking mundial, com 16,7 mortes por 1.000 nascidos vivos
(SECETÁRIO‑NACIONAL NAÇÕES UNIDAS, 2010).

É importante salientar que 68,6% das mortes de crianças brasileiras com


menos de um ano acontecem no período neonatal (até 27 dias de vida),
sendo a maioria no primeiro dia de vida (BRASIL, 2012c).

Buscando visualizar a criança inserida no contexto familiar sob todos


os aspectos que determinam sua saúde, a colaboração do enfermeiro é
fundamental, pois contribui nas ações das políticas de saúde, galgando
reduzir as taxas de morbidade e mortalidade por causas evitáveis
(SOUZA et al., 2013).

De acordo com a legislação brasileira, criança é a pessoa com até 12


anos de idade incompletos e adolescente, aquela entre 12 e 18 anos de
idade (BRASIL, 1990).

O crescimento e o desenvolvimento são eixos referenciais para todas as


atividades de atenção à criança e ao adolescente sob os aspectos biológico,
afetivo, psíquico e social (BRASIL, 2002).

A criança deve ser acompanhada, avaliada e monitorada por


profissionais qualificados, desde seu nascimento, quanto à condição e
evolução de seu crescimento e desenvolvimento, independentemente da
situação socioeconômica e origem étnica.

O crescimento e o desenvolvimento saudável das crianças, principalmente


nos primeiros 5 anos de vida, é fundamental para que possam desenvolver
seus potenciais físicos e mentais completos (DE ONIS et al., 2013).

O crescimento é um processo biológico, dinâmico e contínuo de


multiplicação (hiperplasia) e aumento do tamanho (hipertrofia) celular, que
ocorre desde a concepção até o final da vida, considerando‑se os fenômenos
de substituição e regeneração de tecidos e órgãos. De uma forma geral, o
crescimento é entendido como o aumento do tamanho corporal, cessando
com o término do aumento do crescimento linear (BRASIL, 2002).

Existe um perfil de crescimento esperado para cada fase etária do


desenvolvimento da criança, e o potencial máximo desse crescimento é
influenciado por diversos fatores, conhecidos como intrínsecos e extrínsecos.

71
Unidade I

As medidas de crescimento compreendem a estatura, o peso, a


circunferência do braço, a prega cutânea e o perímetro cefálico, avaliados
durante o exame físico periodicamente, de acordo com as recomendações
do Ministério da Saúde.

O enfermeiro deve avaliar o crescimento linear da criança verificando


a estatura (denominada de comprimento, quando a criança é colocada em
decúbito dorsal, e altura, quando na posição vertical).

A avaliação do crescimento da criança é medida e comparada com


o auxílio de gráficos de referência, que possuem curvas de padrões de
crescimento esperado em relação à idade e gênero. O enfermeiro deve
conhecer os gráficos recomendados e vigentes, sabendo interpretá‑los,
assim como alimentá‑los com os dados de crescimento da criança,
construindo e documentando a história desse conhecimento.

As fases do desenvolvimento etário da criança são: fase neonatal,


lactente, infante, pré‑escolar, escolar, pré‑adolescente e adolescente.

O enfermeiro deve conhecer as características de cada fase para possibilitar


identificar atrasos possíveis de desenvolvimento de acordo com a idade.

O desenvolvimento humano é um processo de crescimento e de


mudança nos âmbitos físicos, de comportamento, cognitivos e emocionais
ao longo da vida. Em cada fase surgem características específicas. Dessa
forma, é esperado que a cada fase etária do desenvolvimento a criança
apresente determinadas características comportamentais.

As linhas orientadoras de desenvolvimento aplicam‑se a grande parte das


crianças em cada fase de desenvolvimento, denominadas de faixas etárias do
desenvolvimento da criança, e encontram‑se divididas em períodos:

• Pré‑natal: da concepção até o nascimento da criança.

• Lactente: subdividido em:

— Neonatal: do nascimento até 28 dias de vida.

— Lactente (propriamente dito): de 28 dias a 2 anos de vida.

• Inicial da infância: subdividido em:

— Período de infantes: também conhecido como toddler, entre 2 e 3


anos de idade.
72
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

— Período pré‑escolar: entre 3 e 6 anos de idade.

• Intermediário da infância (idade escolar): de 6 a 11 anos (ou 12, de


acordo com alguns autores).

• Tardio da infância: subdividido em:

— Pré‑púbere ou pré‑adolescência: de 10 a 13 anos.

— Adolescência: de 13 a 18 anos, segundo a OMS, ou, de acordo com


a Sociedade Brasileira de Pediatria, até 21 anos de idade.

No entanto, cada criança é um indivíduo e pode atingir essas fases


de desenvolvimento mais cedo ou mais tarde quando comparada a outras
crianças da mesma idade, sem se falar, propriamente, de problemáticas.

Durante a vida da criança existe um padrão de desenvolvimento


esperado de acordo com a faixa etária. O enfermeiro deve reconhecer cada
faixa e saber identificar se a idade cronológica da criança está de acordo
com o esperado.

Os fatores de risco para problemas de desenvolvimento podem


ser classificados em genéticos (por exemplo: síndrome de Down),
biológicos (por exemplo: prematuridade, hipóxia neonatal, meningites)
e/ou ambientais (fatores familiares, de ambiente físico, fatores sociais)
(OPAS,2005).

A vigilância do desenvolvimento da criança e o preparo para saber como


lidar com a situação diante de atrasos ou suspeitas de problemas relacionados
ao seu desenvolvimento são fundamentais para realizar esse acompanhamento.
A equipe de saúde deverá conhecer os aspectos mais relevantes do
desenvolvimento e estar preparada para fazer algumas intervenções, se
necessário, mas principalmente identificar com clareza aquelas crianças que
devem ser referidas para tratamento especializado (BRASIL, 2002).

A manifestação de dificuldades no desenvolvimento é muito variável


e pode ser de ordem mental, física, auditiva, visual ou relacional. O déficit
mental caracteriza‑se por um estado de redução notável do funcionamento
intelectual significativamente inferior à média, que se inicia durante o
período de desenvolvimento da criança e está associado a limitações em
pelo menos dois aspectos do funcionamento adaptativo: comunicação,
cuidados pessoais, atividades de vida diária, habilidades sociais, utilização
dos recursos comunitários, autonomia, aptidões escolares, lazer e trabalho
(BRASIL, 2012c).
73
Unidade I

O tratamento de uma criança com distúrbio do desenvolvimento


poderá ser individualizado ou ser feito em grupo e depende muito de sua
complexidade. O adequado manejo poderá variar, podendo ser feito mediante
orientações aos pais sobre a importância da relação entre o desenvolvimento
da criança e a maneira como eles lidam com isso (BRASIL, 2002).

Durante a consulta, o enfermeiro deve prestar atenção à forma


como a mãe lida com o seu filho, se conversa com ele e se está atenta
às suas manifestações.

A sequência do desenvolvimento pode ser identificada em termos


gerais através da verificação das referências esperadas de acordo com a
idade. Essas referências constituem uma abordagem sistemática para a
observação dos avanços da criança no tempo. A aquisição de determinada
habilidade baseia‑se nas adquiridas previamente e raramente pulam‑se
etapas (BRASIL, 2012c).

O acompanhamento do desenvolvimento deve fazer parte da consulta


geral da criança. Para isso, não é necessário criar espaços específicos,
momentos fora da consulta ou instrumental especializado, embora alguns
pequenos brinquedos e/ou objetos do consultório possam ser usados
para desencadear alguma resposta reflexa ou marco do desenvolvimento
(BRASIL, 2002).

Exercícios

Questão 1. (COPEVE, 2013) O crescimento e o desenvolvimento são eixos referenciais para todas as
atividades de atenção à criança e ao adolescente. A respeito desses temas, é correto afirmar:

A) O período intrauterino não é um fator determinante para a possibilidade de a criança atingir o seu
potencial máximo de crescimento.

B) Do ponto de vista do crescimento, a herança genética recebida do pai e da mãe estabelece um


potencial ou alvo que com certeza será atingido pela criança, independentemente de outros fatores.

C) O ambiente é o único fator que influencia o crescimento infantil.

D) Desenvolvimento é um conceito amplo que se refere a uma transformação complexa, contínua,


dinâmica e progressiva, que inclui, além do crescimento, a maturação, a aprendizagem e os
aspectos psíquicos e sociais.

E) Os fatores extrínsecos que influenciam o desenvolvimento infantil são aqueles que determinam
as características físicas da criança.
74
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o período intrauterino é um fator determinante para a possibilidade de a criança atingir


o seu potencial máximo de crescimento por estarem intrínsecos os fatores de genética e metabolismo.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: do ponto de vista do crescimento, a herança genética é fundamental no crescimento


e na formação fisiológica, mas estará atrelada aos demais fatores metabólicos e extrínsecos, como
alimentação, saúde, higiene e outros.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: não é só o ambiente que influencia o crescimento infantil, mas a herança genética também.

D) Alternativa correta.

Justificativa: desenvolvimento é um conceito amplo que começa desde a fecundação do óvulo até
a velhice. Portanto, é complexo e progressivo, estendendo‑se aos fatores psicológicos e às condições
ambientais e sociais.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: os fatores extrínsecos determinam as características físicas, devido ao funcionamento


celular (fisiologia), assim como os psíquicos determinados por estímulos ambientais que irão transformar
o aprendizado e a percepção do indivíduo sobre seu ambiente social e cultural.

Questão 2 (COPEVE, 2013). O desenvolvimento infantil, ao contrário do crescimento, pode ser difícil
de medir e avaliar. Apesar disso, é possível estabelecer certos padrões e áreas do desenvolvimento com
vistas a identificar fatores que possam intervir na evolução desse processo. Em razão disso:

I – Alterações de linguagem e cognitivas são mais facilmente identificáveis do que alterações do


desenvolvimento motor.

II – A avaliação do desenvolvimento implica investigação mais detalhada de crianças com suspeita de


serem portadoras de problemas no desenvolvimento, sendo geralmente multidisciplinar e diagnóstica.

III – No grupo de crianças menores de dois meses, a ausência de um ou mais reflexos/posturas/


habilidades para sua faixa etária ou perímetro cefálico < p10 ou > p 90 classifica‑se como provável
atraso de desenvolvimento.
75
Unidade I

IV – A criança classificada como desenvolvimento normal com fatores de risco deve retornar ao
serviço no intervalo de 30 dias.

Sobre as afirmativas, verifica‑se que:

A) Apenas I está correta.

B) Apenas II está correta.

C) Apenas III está correta.

D) Apenas I e II estão corretas.

E) Apenas I e IV estão incorretas.

Resolução desta questão na plataforma.

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