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de Cuidar da Saúde da
Criança e do Adolescente
Autora: Profa. Lidiana Flora Vidôto da Costa
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Unidade I
É professora titular da Universidade Paulista (UNIP) desde 2004, graduada em Enfermagem pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC‑Campinas – 1988), mestre em Enfermagem pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp – 2008) e doutora em Patologia Ambiental e Experimental pela Universidade Paulista – UNIP
(2015). Ministra as disciplinas de Propedêutica e Processos de Cuidar da Saúde da Criança e do Adolescente no
curso de graduação em Enfermagem da UNIP. Atuou 20 anos em área hospitalar, com ênfase em terapia intensiva
pediátrica e neonatal.
CDU 616-083
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quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Rose Castilho
Elaine Pires
Sumário
Propedêutica e Processos de Cuidar da Saúde da
Criança e do Adolescente
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 CRESCIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.............................................................................. 11
1.1 Conhecendo o perfil epidemiológico da criança brasileira.................................................. 11
1.2 O papel do enfermeiro na vigilância do crescimento e do desenvolvimento
da criança e do adolescente..................................................................................................................... 15
1.3 Padrões de crescimento e desenvolvimento.............................................................................. 16
1.3.1 Tendências direcionais........................................................................................................................... 16
1.3.2 Tendências sequenciais......................................................................................................................... 16
1.4 Crescimento............................................................................................................................................. 20
1.4.1 Estatura........................................................................................................................................................ 24
1.4.2 Peso............................................................................................................................................................... 26
1.4.3 Circunferência do braço e espessura da prega cutânea.......................................................... 30
1.4.4 Perímetro cefálico.................................................................................................................................... 31
1.4.5 Determinantes biológicos de crescimento.................................................................................... 35
1.4.6 Gráficos de avaliação antropométrica (peso/estatura) na criança...................................... 38
2 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE................................................................... 48
2.1 Faixas etárias do desenvolvimento da criança.......................................................................... 50
2.1.1 Período pré‑natal..................................................................................................................................... 51
2.1.2 Período de lactente................................................................................................................................. 52
2.1.3 Período inicial da infância.................................................................................................................... 61
2.1.4 Período intermediário da infância (idade escolar)..................................................................... 62
2.1.5 Período tardio da infância.................................................................................................................... 63
2.2 Fatores de risco para problemas do desenvolvimento........................................................... 67
2.3 Avaliação do desenvolvimento da criança................................................................................. 68
Unidade II
3 O ENFERMEIRO, A COMUNICAÇÃO, A CRIANÇA E A FAMÍLIA........................................................ 77
3.1 O enfermeiro e as formas de comunicação com a criança.................................................. 78
3.1.1 Comunicação verbal............................................................................................................................... 78
3.1.2 Comunicação não verbal (paralinguagem)................................................................................... 79
3.1.3 Comunicação abstrata........................................................................................................................... 79
Unidade I
Unidade III
5 ALIMENTAÇÃO DA CRIANÇA NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA....................................................156
5.1 Aleitamento materno........................................................................................................................156
5.2 Alimentação da criança do 6º mês até o 1º ano de vida....................................................168
6 DOENÇAS NA INFÂNCIA DECORRENTES DE PRIVAÇÃO NUTRICIONAL....................................174
6.1 Desnutrição na infância...................................................................................................................174
6.1.1 Kwashiorkor............................................................................................................................................ 177
6.1.2 Marasmo................................................................................................................................................... 177
6.1.3 Deficiência de vitamina A..................................................................................................................181
6.2 Anemia ferropriva...............................................................................................................................182
Unidade IV
7 A DOENÇA NA INFÂNCIA............................................................................................................................190
7.1 Diarreia....................................................................................................................................................192
7.1.1 Complicações da diarreia................................................................................................................... 198
7.2 Doenças respiratórias........................................................................................................................202
7.2.1 Rinofaringite aguda............................................................................................................................. 203
7.2.2 Otite média aguda (OMA)..................................................................................................................207
7.2.3 Pneumonia.............................................................................................................................................. 209
8 A HOSPITALIZAÇÃO DA CRIANÇA E AS PRINCIPAIS TÉCNICAS DE ASSISTÊNCIA................211
8.1 A criança hospitalizada.....................................................................................................................211
8.2 Os cuidados de enfermagem na saúde da criança e do adolescente............................217
8.2.1 Administração de medicamentos e a criança............................................................................217
APRESENTAÇÃO
Ao final do curso, o aluno deverá ser capaz de conhecer as características e necessidades nos processos
de crescimento e desenvolvimento e de saúde‑doença na criança e no adolescente. Deverá, ainda, ser
capaz de conhecer as características e necessidades nos processos de crescimento e desenvolvimento e
de saúde‑doença na criança e no adolescente.
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Unidade I
• Conhecer as etapas do exame físico da criança: verificações fisiológicas e exame físico da criança.
INTRODUÇÃO
Prezado aluno, todos nós um dia já fomos crianças e talvez já tivemos a oportunidade de cuidar
de alguma criança, seja na vivência da maternidade/paternidade, ajudando algum parente ou amigo,
ou até mesmo em pequenas experiências na comunidade onde vivemos. Quem não se encanta com o
sorriso de uma criança ou com a evolução dela ao aprender aos poucos a usar palavras para descrever
o que vê, ouve, sente e pensa? A criança é o futuro, a esperança, a idealização de um mundo melhor.
Sabemos também que muitas etapas terão que ser vencidas para que ela se torne um adulto saudável,
produtivo, competente, independente e feliz, de preferência.
Construir o futuro de uma criança é construir o futuro de uma sociedade, o futuro das relações
humanas/ambientais para o mundo. Cabe, portanto, a todos os adultos, desempenhar esse papel
construtor. Dessa forma, a criança deve ser assistida pela família, pela comunidade, pela sociedade,
pelas políticas sociais e públicas dos serviços da educação e da saúde, pela legislação, nacional e
internacionalmente, assegurando‑lhes todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e de dignidade.
Já pensou que a somatória de todos esses recursos, se investidos adequadamente, resultarão em uma
sociedade adulta desenvolvida, criativa, respeitosa, honrada, saudável, com os potenciais de inteligência
desenvolvidos, tornando o mundo um lugar melhor para se viver?
Então, contribuindo com essa ideia e integrados a esse desafio, a disciplina que você está prestes a
conhecer e estudar – Propedêutica e Processos de Cuidar da Saúde da Criança e do Adolescente – abordará
uma fração dessas necessidades da criança, com ênfase no monitoramento e vigilância do enfermeiro no
crescimento e desenvolvimento saudável da criança, bem como nas principais doenças na infância.
É importante colocar que durante a experiência profissional como enfermeiro na assistência à criança,
muitas vezes, é necessário demonstrar que a criança não é um adulto em menor proporção de tamanho.
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Para tal, o enfermeiro precisa conhecer a criança nas diversas fases de seu desenvolvimento e crescimento,
nas peculiaridades e necessidades, e idealizar os recursos tecnológicos e científicos para essa
assistência, inclusive conduzindo a equipe de trabalho (selecionada e capacitada) para desenvolver
a assistência esperada.
Dando início aos estudos desta disciplina, você deverá inicialmente entender que, embora já tenha
bagagem adquirida dos estudos das disciplinas ofertadas com ênfase na saúde do adulto – com todas as
características e peculiaridades dessa população, nos cuidados das esferas da atenção básica, níveis II e
III de saúde –, ela deve ser entendida como exclusivamente voltada para adultos. Nesse momento, você
deverá enxergar a atenção à saúde da criança como um novo desafio de aprendizado, lembrando‑se
sempre de que a criança não é um adulto minimizado.
Espero que você aproveite a disciplina, estudando e aprimorando seu conhecimento para se tornar
um enfermeiro competente e consciente de suas funções.
Bons estudos!
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Unidade I
1 CRESCIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Muitas políticas de saúde nacionais e internacionais visam criar um ambiente propício para a
saúde, buscando transformar as sociedades para que crianças e adolescentes em toda parte possam
usufruir do seu direito à saúde física e mental e ao bem‑estar, da melhor forma que seja possível atingir.
Consequentemente, quando essas metas de atenção à saúde da criança e do adolescente são alcançadas,
benefícios sociais, demográficos e econômicos são vistos e aplaudidos. Dessa forma, esses futuros
adultos terão oportunidades sociais e econômicas e poderão participar plenamente da construção de
sociedades prósperas e economicamente sustentáveis.
Um outro exemplo, este decorrente de um planejamento mundial, foi a Estratégia Global para a
Saúde das Mulheres, das Crianças e dos Adolescentes, iniciativa da Organização Mundial da Saúde, que
vigorou entre 2010 e 2015, atualizada em 2016, conseguindo grandes realizações. A implementação da
Estratégia Global (2010/2015) teve como metas, entre outras:
11
Unidade I
É recomendável que todos os países, todas as civilizações, construam, junto com o setor privado e a
sociedade civil, planos de implementações, em escala apropriada, para estabelecer intervenções que visem
aumentar a demanda e a utilização de serviços de saúde e produtos que salvam vidas, especialmente
entre as populações subatendidas, em todas as faixas etárias e gêneros, mas especialmente no que se
diz respeito às crianças.
Para isso, um governo precisa, entre outros, de recursos financeiros, recursos humanos qualificados,
tecnologias e conhecimentos avançados. Todos os aspectos citados são fundamentais para melhorar os
indicadores de qualidade de saúde da criança e do adolescente.
No caso do Brasil, por exemplo, verificou‑se que os esforços estabelecidos a médio prazo, focados
na promoção de ações de diminuição da pobreza, da ampliação da cobertura da Estratégia Saúde da
Família, dentre outros, levaram à diminuição dos óbitos infantis de 47,1 a cada mil nascidos vivos, em
1990, para 15,6 em 2010, ou seja, as taxas de mortalidade infantil (de crianças com menos de 1 ano) e
na infância (com menos de 5 anos) no País apresentaram redução de mais de 70% nos últimos 30 anos
(IBGE, 2018).
O Brasil é um dos 62 países que alcançaram a meta de redução da mortalidade infantil estipulada
pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio dos Objetivos do Milênio. A meta apontava para
a necessidade de diminuição em dois terços no índice. “De 1990 a 2015, o Brasil reduziu em 73% a
mortalidade infantil. Há 25 anos eram registradas 61 mortes para cada mil crianças menores de cinco
anos. O número caiu para 16 mortes (a cada cem mil) após esse período” (BRASIL, 2015a).
Mesmo com os dados positivos demonstrando reduções na taxa de óbitos nos primeiros anos de vida
da criança e alcançando a meta estabelecida pela ONU, o Brasil ocupa o 97º lugar no ranking mundial,
com 16,7 mortes por 1.000 nascidos vivos (CADA MULHER, CADA CRIANÇA, 2016). Embora, hoje em dia,
detenham‑se conhecimentos e tecnologias necessários para acabar com as mortes evitáveis – assim
como a oportunidade de fazê‑lo por meio de diretrizes de iniciativas de saúde pública, desafiadoras e
fundamentais para essas melhorias –, os resultados no Brasil precisam ser mais impactantes.
É importante salientar que 68,6% das mortes de crianças brasileiras com menos de um ano acontecem
no período neonatal, ou seja, com até 27 dias de vida, sendo a maioria no primeiro dia (BRASIL, 2012c).
Outra característica epidemiológica importante dessa população, no Brasil, é que o grupo de crianças
com idade entre 0 e 14 anos vem diminuindo com o passar dos anos, como demonstrado pelos sensos
demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1980 e 2010, como podemos
ver no gráfico a seguir (IBGE, 2018). Mesmo com o perfil da curva descendente, observa‑se que, em
2010, as crianças ainda representavam 25% da população brasileira.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
100
% 75
50
25
0
1980 1991 1996 2000 2010
0-14 anos 15-64 anos 65 mais
Figura 2 – Distribuição percentual da população por grandes grupos de idade no Brasil (1980 a 2010)
É importante recordar que no Brasil existem vários programas e políticas de saúde pública
que visam melhorar e intervir nessa realidade. Nesse contexto, podemos citar alguns: Programa
de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), o Programa de Humanização do Pré‑Natal e
Nascimento (PHPN) e o documento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
– Princípios e Diretrizes (PNAISM). Existem ainda programas e políticas específicos, voltados
à saúde da criança. Entre esses, destacamos a Rede Cegonha, em que o Ministério da Saúde
organizou uma grande estratégia a fim de qualificar as Redes de Atenção Materno‑Infantil em
todo o País com o objetivo de reduzir as taxas, ainda elevadas, de morbimortalidade materna e
infantil brasileiras (BRASIL, 2012c).
A criança, em todo o desenvolvimento de sua vida, seja desde os primeiros momentos de vida até
o avançar dos anos, quando na adolescência, necessita estabelecer relações afetivas, precisa de outra
pessoa para ir se estruturando como sujeito e para ter uma identidade própria. Portanto, estabelecer,
desde o nascimento, relações com pessoas que a escutem e entendam suas necessidades, que lhe
deem carinho e afeto, que lhe proporcionem oportunidades seguras de explorar e conhecer o mundo
que a rodeia, são condições essenciais ao adequado crescimento e desenvolvimento da criança
(BRASIL, 2002). Nesse contexto, além do eixo familiar, profissionais da saúde, como o enfermeiro,
devem compor essas relações.
13
Unidade I
Dessa forma, surge um campo rico de atuação para o enfermeiro, que desempenha um importante
papel na consulta de puericultura por meio da detecção precoce de problemas de saúde e prescrição de
cuidados, bem como a implementação de ações interventivas para melhoria da qualidade do atendimento
prestado a esse grupo etário, fortalecendo a assistência para que se reduzam índices de morbidade e
mortalidade na região e no município onde atua (ABE; FERRARI, 2008). Para tal, o enfermeiro deve deter
conhecimentos técnico‑científicos que favoreçam esse trabalho e permitam atingir o objetivo principal,
que é a excelência no cuidado com a saúde da criança.
Saiba mais
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A legislação brasileira, de forma clara e precisa, determina, em todo o território nacional, através
da norma jurídica oriunda da Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, que: “Art. 2º –
Considera‑se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 1990).
Durante toda a longa trajetória da criança, desde seu nascimento até a fase adulta, existem fases e
peculiaridades específicas de cada fase. O enfermeiro deve compreender esses conceitos e os métodos
de avaliação e vigilância, para que a criança possa crescer e se desenvolver com a qualidade máxima
esperada, exposta e com acesso aos melhores recursos disponíveis.
A criança deve ser acompanhada, avaliada e monitorada por profissionais qualificados, desde seu
nascimento, quanto à condição e evolução de seu crescimento e desenvolvimento, independentemente
da situação socioeconômica e origem étnica.
Alguns fatores de risco devem ser considerados para que o monitoramento do crescimento e
desenvolvimento da criança exijam um acompanhamento especial, pois aumentam a probabilidade
da existência de doença perinatal e infantil. Dentre eles encontram‑se: baixo peso ao nascer, baixa
escolaridade materna, idades maternas extremas (< 19 anos e > 35 anos), gemelaridade, intervalo
intergestacional curto (inferior a dois anos), criança indesejada, desmame precoce, mortalidade
em crianças menores de 5 anos na família, condições inadequadas de moradia, baixa renda e
desestruturação familiar (BRASIL, 2002).
Uma das estratégias adotadas pelo Ministério da Saúde, a partir de 1984, visando incrementar a
capacidade resolutiva dos serviços de saúde na atenção à criança, foi priorizar cinco ações básicas
de saúde: “promoção do aleitamento materno, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento,
imunizações, prevenção e controle das doenças diarreicas e das infecções respiratórias agudas”
(BRASIL, 2002, p. 3).
Tais ações devem constituir o centro da atenção a ser prestada em toda a rede básica de serviços de
saúde, e serão abordadas no decorrer da disciplina.
Em relação ao crescimento e desenvolvimento da criança, sabe‑se que são processos paralelos, mas
com conceitos próprios e não obrigatoriamente dotados de igual velocidade ou de igual sensibilidade
aos agravos (MOREIRA, 2011). Embora o crescimento e o desenvolvimento configurem um processo
global, dinâmico e contínuo, nesta disciplina os estudaremos separadamente, sob a ótica didática, pois
a avaliação do crescimento e a avaliação do desenvolvimento possuem abordagens sistemáticas e
metodologias diferenciadas e específicas.
15
Unidade I
Vamos conhecer cada um deles e aprender como o enfermeiro deve realizar o controle e o
monitoramento do crescimento e do desenvolvimento da criança e do adolescente.
Como já mencionado, a criança não possui recursos para enfrentar o mundo sozinha. Portanto, ela
necessita do apoio dos adultos e da sociedade, todos dispostos a compartilhar alegrias e momentos difíceis.
Observação
Observação
A) B)
Observação
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Unidade I
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Observação
O ambiente em que criança vive também interfere em sua saúde ao longo da vida. Uma criança
exposta a ambientes saudáveis terá possibilidade de usar seu potencial máximo de desenvolvimento
e crescimento, tornando‑se um adulto capaz de enfrentar as dificuldades e contribuir para uma
sociedade mais feliz e justa. Como exemplo, a criança pode sofrer interferências ambientais negativas,
dependendo do local onde vive, como a poluição do ar e das águas, assim como a precariedade de
condições de saneamento básico.
Figura 8 – Criança com a mãe, demonstrando momento de alegria e de bom relacionamento familiar afetivo
Figura 9 – Demonstração da influência do ambiente na vida da criança: um grande centro urbano e a poluição do ar
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Unidade I
Figura 10 – Demonstração da influência do ambiente na vida da criança: condições precárias de saneamento básico e de moradia
Observação
1.4 Crescimento
O crescimento e o desenvolvimento saudável das crianças, principalmente nos primeiros cinco anos
de vida, é fundamental para que possam desenvolver seus potenciais físicos e mentais completos (DE
ONIS et al., 2013).
Existe um perfil de crescimento esperado para cada fase etária do desenvolvimento da criança,
porém é importante salientar que o potencial máximo desse crescimento sofre influências de diversos
fatores, conhecidos como intrínsecos e extrínsecos.
Os fatores genéticos são considerados como fatores intrínsecos, que influenciam o crescimento da
criança. Veja: crianças filhas de pais com estatura alta terão maior chance de ser mais altas se comparadas
àquelas filhas de pais mais baixos. Isso é verificado também em populações, que podem carregar genes
para estaturas mais altas ou mais baixas. Como exemplo, podemos citar o perfil de estatura da população
norte‑americana e compará‑lo à população asiática. Existem diferenças significativas entre o perfil de
estatura dessas populações, sendo uma das causas sua característica genética.
20
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Portanto, a variabilidade genética normal deve sempre ser levada em consideração quando se
realizam diagnósticos de déficit de crescimento na criança.
Todavia, existem também fatores extrínsecos que exercem influência no crescimento da criança e que
devem ser considerados. Fatores extrínsecos são fatores externos, que poderão influenciar o potencial
genético do crescimento da criança de forma positiva ou negativa. Esses fatores são ambientais, tais
como alimentação, condições de higiene e de saneamento básico, condições socioeconômicas e de
educação das pessoas de vínculo, problemas de saúde adquiridos no útero ou na infância, maus‑tratos,
entre outros. Hipoteticamente, vamos comparar dois irmãos, gêmeos idênticos e saudáveis, que, ao
nascer, são separados e criados por duas famílias distintas. A primeira oferece condições adequadas
de educação, saneamento, alimentação. A segunda família não consegue oferecer todas as condições
necessárias para a criança. Provavelmente, quando as curvas de crescimento dessas crianças forem
comparadas, poderão apresentar‑se diferentes, com o potencial de crescimento da primeira criança
atingindo um perfil de maior estatura se comparado à segunda.
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2002), existem fatores extrínsecos que influenciam
sistematicamente o crescimento da criança:
Alimentação: a criança até cinco anos requer cuidados específicos com a sua
alimentação. Crescer consome energia: 32% das necessidades calóricas de
um recém‑nascido são destinadas ao crescimento. A dieta da criança deve
ter qualidade, quantidade, frequência e consistência adequadas para cada
idade. Para crianças com até 6 meses de idade, o leite materno exclusivo é
o melhor alimento.
A figura a seguir ilustra um local onde crianças vivem em situação de pobreza. Essas condições de
higiene, de atenção básica e alimentação são consideradas como fatores extrínsecos que influenciarão
no crescimento e no desenvolvimento saudável da criança.
Saiba mais
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Sabe‑se também que a velocidade de crescimento que ocorre nas diferentes fases etárias de
desenvolvimento da criança acontece em um mesmo ritmo quando comparado entre as populações. Ou
seja, o perfil do ritmo da velocidade nas diferentes fases etárias de desenvolvimento da criança tende
a ser similar entre as populações no mundo, exceto em algumas tribos africanas e crianças orientais
(HABICHT et al., 1974).
23
Unidade I
Saiba mais
É importante frisar que as técnicas de verificação da estatura e do peso da criança devem ser realizadas por
profissionais qualificados, treinados e habilitados. Um registro com informações erradas, gerado pela realização
inadequada da técnica indicada, poderá comprometer a avaliação de saúde atual e futura da criança.
1.4.1 Estatura
Para avaliar o crescimento linear da criança, verificamos a estatura, medindo a criança no sentido
longitudinal, podendo ser em centímetros ou em metros, de acordo com a medida obtida.
A estatura é considerada como um dos melhores indicadores de saúde da criança, pois possibilita
que o profissional da saúde identifique ou suspeite de falhas nos cuidados desejáveis à sua saúde, que
de forma significativa influenciarão diretamente no seu crescimento.
Essas falhas podem estar relacionadas à alimentação inadequada, ocorrência de doenças, cuidados gerais
e de higiene insatisfatórios, condições de habitação e saneamento básico comprometidos, inacessibilidade aos
serviços de saúde, refletindo assim as condições de vida da criança, no passado e no presente (BRASIL, 2002).
Para verificar a estatura, o enfermeiro deverá levar em consideração a idade da criança. É aconselhável
que a medição da estatura da criança até os dois anos (ou três, dependendo da indicação do gráfico que
será usado para o registro), seja feita com a criança em decúbito dorsal e no sentido céfalo‑caudal, que
chamamos de verificação do comprimento, conhecida também como comprimento em decúbito dorsal.
Quando avaliamos a estatura da criança na posição vertical, chamamos de verificação da altura, que
é similar à verificação da altura do adulto, salvo as orientações e cuidados com a segurança da criança
durante a avaliação.
• Material necessário:
— Régua antropométrica.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
• Inicie a técnica:
— Lave as mãos.
— Posicione a criança em decúbito dorsal sobre a mesa de avaliação, seguindo as normas de segurança.
— A criança deve estar descalça, despida, sem touca, protetores ou enfeites de cabeça.
— Com o auxílio da mãe, deite a criança, mantendo seus ombros e cabeça apoiados na mesa ou
superfície plana.
— Deslize a peça móvel até encostar nos calcanhares, mantendo os joelhos bem estendidos.
Solicite ajuda da mãe para manter a cabeça da criança na posição correta.
— Proceda a leitura da medida. A medida correta exige a precisão até o milímetro, contudo, para
evitar erros de medição, aconselha‑se aproximar, quando necessário, para o meio centímetro
mais próximo (exemplo: 70,2 cm pode ser aproximado para 70,0 cm, 81,8 cm, para 82,0 cm).
Registre imediatamente.
— Lave as mãos.
Observação
1.4.2 Peso
O peso é um importante indicador de crescimento, pois sua variação com relação à idade da criança
é muito mais rápida do que a da estatura e reflete, quase que imediatamente, o estado de saúde da
criança, seja satisfatoriamente ou indicando algum problema de saúde, como nos processos agudos.
O peso é facilmente verificado por meio de uma balança, adequada à idade da criança. A balança
pode ser eletrônica ou manual, desde que tenha recursos adequados. Ou seja, deve propiciar uma
mensuração do peso em escala e comportar o peso da criança:
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Porém, se a abalança disponível for do tipo manual, antes de iniciar a pesagem, deve‑se verificar
sua calibragem, ou seja, sem nenhum peso colocado sobre ela deverá registrar 0 Kg (nem uma grama a
mais ou a menos). Caso não esteja assim, regule‑a antes do uso. Algumas balanças podem oferecer esse
recurso e outras necessitarão de serviço técnico específico, dependendo do fabricante.
• Material necessário:
— Balança pediátrica adequada à idade da criança, colocada em superfície plana, em altura que
permita uma boa visualização da escala, destravada e tarada.
• Inicie a técnica:
— Lave as mãos.
— A criança deve estar descalça, despida ou, no caso de frio, com roupas muito leves, sem touca,
protetores ou enfeites de cabeça. Se usar fralda, ela deve ser retirada.
— Retire a criança da balança, entrega‑a para a mãe/pessoa de vínculo para propiciar conforto/
aquecimento.
— Lave as mãos.
— Interprete a curva da evolução, comparando o peso atual com o peso anterior e com o peso
esperado, relacionando‑o ao comprimento. Avalie a curva de crescimento.
É importante salientar que acessórios que não possam ser retirados deverão ser registrados em uma
observação ao lado do registro do peso (impresso), tais como tala gessada, tala para imobilização para
acesso venoso, fixadores externos e internos etc.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
29
Unidade I
Lembrete
As medidas de peso e estatura (medidas antropométricas) estabelecem uma relação entre peso
e estatura, importante para detectar o estado nutricional da criança, seja apontando as deficiências
recentes de peso (desnutrição aguda) como também sobrepeso e obesidade. Além de serem
utilizadas para esses fins, são fundamentais para analisar fatores de crescimento, desenvolvimento
e maturação.
Observação
As verificações do peso e da estatura não podem diferenciar tecido adiposo de músculo. Dessa
forma, a verificação da circunferência do braço e espessura da prega cutânea permite avaliar a
gordura corporal.
A circunferência do braço indica uma medida indireta da massa muscular do braço. Já a verificação
da espessura da prega cutânea está baseada na relação entre gordura subcutânea, gordura interna e
densidade corporal. Além de não ser um método invasivo, tem um baixo custo operacional, aplicabilidade
em grandes grupos, rapidez e facilidade na aquisição das medidas, sendo utilizado amplamente em
estudos epidemiológicos (SICHIERI; FONSECA; LOPES, 1999).
Os locais mais comuns para medir a espessura da prega cutânea é na região do tríceps (mais
utilizada), subescapular, supra ilíaca e parte superior da coxa, utilizando‑se um marcador específico.
Deve‑se verificar duas vezes a medida do mesmo local e depois fazer a média aritmética. O valor a ser
considerado será o obtido pela média (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
30
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Saiba mais
O perímetro cefálico (PC) é maior que o perímetro torácico (PT) até aproximadamente os dois anos
de idade. Entre o primeiro e o segundo ano de idade o PC e O PT são iguais. Posteriormente, o PT
ultrapassa o PC em torno de 5 a 7 cm.
Durante os primeiros meses de vida, uma anormalidade cerebral pode ser investigada verificando‑se
o PC e por meio das provas de desenvolvimento.
A partir de 2016, o Ministério da Saúde estabeleceu novos parâmetros para medir o perímetro
cefálico, com o intuito de identificar casos suspeitos de bebês com microcefalia. Para meninos, a medida
é considerada igual ou inferior a 31,9 cm e, para meninas, igual ou inferior a 31,5 cm. A mudança está
de acordo com a recomendação anunciada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
valendo para bebês nascidos com 37 ou mais semanas de gestação.
31
Unidade I
• Material necessário:
— Mesa de exame.
• Inicie a técnica:
— Lave as mãos.
— Com o auxílio da mãe ou acompanhante, colocar a criança deitada na posição dorsal ou sentada
(caso já esteja sentando sem apoio) no centro da maca. Em ambas as situações, a criança nunca
deverá ser deixada na maca sozinha e sem acompanhamento de um adulto. As normas de
segurança da criança devem ser sempre respeitadas.
— Meça o perímetro cefálico colocando a fita métrica (marco zero) entre e logo acima das
sobrancelhas, iniciando o contorno da fita pela cabeça da criança, passando acima do pavilhão
auditivo, sobre a proeminência occipital e, assim, da mesma forma, chegando ao ponto de início.
Esse é o maior diâmetro da circunferência da cabeça da criança.
32
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
— Leia o PC da criança.
— Lave as mãos.
— Não se esqueça de higienizar a mesa de exames e a fita métrica. Se a fita for descartável,
despreze‑a no lixo logo após o atendimento.
33
Unidade I
48 48
P10
46 46
Perímetro cefálico CM
Perímetro cefálico CM
44 44
42 42
40 40
38 38
36 36
P90
34 34
P10
32 32
0 2 4 6 8 10 1 2 4 6 8 10 2
ano anos
1 2
0 2 4 6 8 10 ano 2 4 6 8 10 anos
P90
50 50
48 48
P10
46 46
Perímetro cefálico CM
Perímetro cefálico CM
44 44
42 42
40 40
38 38
36 36
P90
34 34
P10
32 32
0 2 4 6 8 10 1 2 4 6 8 10 2
ano anos
34
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Como sabemos se uma criança está crescendo de acordo com o esperado? Durante o exame físico,
o que o enfermeiro deverá usar como base para avaliar se o crescimento da criança avaliada está de
acordo com o esperado para a idade?
Essas perguntas são muito importantes, pois de nada adiantaria conhecer as técnicas de como pesar
e como medir a criança se o enfermeiro não souber interpretar os dados antropométricos.
35
Unidade I
200
180
160
Linfoide
140
120
Nervoso
Percentual 100
80
60
Geral
40
20 Genital
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Idade
Figura 21 – Padrões esperados de crescimento de tecidos do corpo, de acordo com a idade da criança
Dessa forma, conclui‑se que a idade cronológica da criança é um indicador importante para
observarmos o seu crescimento e identificar se está adequado à idade biológica.
Vamos compreender a diferença entre a idade cronológica e a idade biológica, para contextualizarmos
a frase anterior:
• Idade cronológica: é a idade que se refere ao período de tempo contado a partir do nascimento,
podendo ser em meses ou anos. Exemplo: uma criança tem 1 ano e 3 meses de idade. Essa é a
idade cronológica da criança.
É desejável que a idade biológica da criança acompanhe a idade cronológica, mas essa adequação
nem sempre poderá ocorrer. Como exemplo, podemos citar as crianças com Síndrome de Down, que
possuem velocidade de crescimento mais lenta, entre os 3 e os 6 meses de idade, demonstrando que
essas crianças possuem a idade biológica atrasada quando comparada à idade cronológica.
36
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Observação
A medição mais precisa do desenvolvimento geral é a idade esquelética ou óssea. A idade óssea
pode ser determinada por meio de exames radiológicos da articulação, nos quais se compara a imagem
radiológica com um indicador de imagens correspondentes à maturação óssea (HOCKENBERRY; WILSON,
2014, p. 67).
Ao que parece, a idade esquelética tem melhor correlação com outras medidas da maturidade
fisiológica, a idade cronológica ou a altura (HOCKENBERRY; WILSON, 2014, p. 67).
Observação
37
Unidade I
A maturação óssea pode ser influenciada por fatores genéticos, ambientais e endócrinos.
A idade óssea é determinada comparando a mineralização dos centros de ossificação aos
padrões relacionados à idade, obtidos por meio de padrões cronológicos de crianças normais.
Essa avaliação é feita pelo médico e pelo odontólogo quando houver suspeita de atraso do
crescimento, ou mesmo ao contrário, quando a criança estiver crescendo além do padrão
esperado para a idade.
Saiba mais
<http://www.mesmeracomunicacao.com.br/produtos/idadeossea/>.
A antropometria não deve ser entendida como uma simples ação de pesar e medir, mas, sobretudo,
como uma atitude de vigilância.
38
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Agora que você já aprendeu como deve ser realizada a verificação dos dados antropométricos da
criança, você irá conhecer como avaliar esses resultados. Os gráficos de crescimento, por exemplo, são
instrumentos importantes de avaliação e acompanhamento do crescimento da criança.
A figura a seguir ilustra crianças de diferentes idades e gêneros. Cada uma poderá ter apresentado,
em sua história de crescimento, fatores de risco que possam interferir, que estejam interferindo ou
que, por ventura, venham a interferir no potencial de crescimento e desenvolvimento, visto que o
crescimento da criança é contínuo e findará apenas ao final da adolescência.
39
Unidade I
A história do crescimento da criança pode ser representada por meio de dois tipos de curvas: a
curva de distância ou de crescimento longitudinal e a curva de velocidade de crescimento (BRASIL,
2002). Nessa abordagem serão apresentadas a curva de crescimento longitudinal e a curva de
ganho de peso.
A curva de referência de uma população é aquela cujas medidas antropométricas foram aferidas
em indivíduos sadios, vivendo em condições socioeconômicas, culturais e ambientais satisfatórias,
tornando‑se uma referência para comparações com outros grupos. Com a distribuição gráfica das
medidas de peso e estatura de indivíduos sadios, são construídas curvas de crescimento de referência
(BRASIL, 2011b).
Essa referência foi adotada pelo Ministério da Saúde para avaliação e acompanhamento do
crescimento e do estado nutricional das crianças no Brasil. Inclusive, na Caderneta de Saúde da Criança,
as curvas de referência adotadas foram essas.
Existem várias curvas de referência, de acordo com os índices desejados para avaliação. A OMS
recomendou curvas de índice, tais como (BRASIL, 2018):
Exemplo A: esse gráfico demonstra a curva de referência da OMS que deve ser usada para
meninas, desde o nascimento até os 5 anos de idade. Trata‑se do índice comprimento/estatura por
idade. Existe também um gráfico para avaliar as mesmas variáveis, só que exclusivo para meninos,
como será demonstrado posteriormente.
40
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Exemplo B: esse gráfico demonstra a curva de referência da OMS que deve ser usada para meninos,
desde o nascimento até os 5 anos de idade. Trata‑se do índice comprimento/estatura por idade.
41
Unidade I
• Apresentam curvas coloridas e ascendentes e cada uma representa um percentil (poderia ser
representado como score Z). Encontramos à direita dos gráficos os percentis (P) informados:
iniciando pela linha inferior (P3) e finalizando no P97. Dessa forma, uma criança saudável, exposta
a condições adequadas de saúde e levando em conta sua herança genética, deverá estar com seus
registros dentro desses percentis. Nessas condições, geralmente, mantêm‑se com um perfil de
crescimento próximo ao percentil de nascimento, acompanhando a evolução da curva.
Cada mensuração deve ser registrada no gráfico. Assim, a história de crescimento da criança vai
ficando documentada no gráfico.
Exemplo C: supondo que o gráfico a seguir seja de um menino com 10 meses de idade, observamos
que os registros de comprimento do nascimento não estão presentes e que o primeiro registro da criança
é aos 5 meses de idade. Mesmo assim, pode‑se avaliar que o percentil do comprimento da criança aos 10
meses é o percentil 50 e que vem se mantendo próximo a esse perfil desde o primeiro registro.
42
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Saiba mais
É importante salientar que uma criança pode deixar de crescer, se privada de nutrientes ou se houver
alguma doença de base que culmine na desaceleração do crescimento, porém nunca perderá altura. Nesse
sentido, pode‑se observar uma queda no percentil da estatura, porém não haverá declínio da estatura.
Quando ocorrem doenças infecciosas e/ou problema social, há uma desaceleração no ritmo de
crescimento normal. Entretanto, corrigida a causa e se as condições ambientais forem adequadas,
observa‑se um aumento da velocidade de crescimento superior ao esperado para a idade, como um
crescimento compensatório. Esse fenômeno é observado na reabilitação de crianças com desnutrição
grave, principalmente nas menores de 2 anos. Durante os dois primeiros anos de vida, o déficit de
crescimento ocasionado pela desnutrição é reversível (BRASIL, 2002).
Após essa idade, nota‑se que o fenômeno do crescimento compensatório, apesar de ativado, é bem
menos intenso. Essa grande vulnerabilidade biológica faz com que seja extremamente importante o
acompanhamento sistemático do crescimento da criança nessa fase da vida. Atividades de recuperação
nutricional devem priorizar crianças menores de 24 meses, para permitir uma total recuperação e
prevenção de problemas futuros (BRASIL, 2018).
Uma variável mais instável é o peso. A criança perde peso facilmente quando exposta a alguma condição
desfavorável, seja de adaptações ao ambiente, motivações psicológicas, doenças agudas, entre tantas outras.
Da mesma forma, a criança poderá ganhar peso se exposta a uma condição de oferta inadequada
de alimentos, situação potencializada com o sedentarismo, levando ao estado nutricional de sobrepeso
e obesidade.
O recém‑nascido, nos primeiros dias, perde cerca de 10% de seu peso de nascimento, devendo,
dentro de 10 a 15 dias, ter recuperado essa perda, voltando ao peso inicial.
Portanto, o gráfico de peso da criança pode apresentar curvas descendentes e ascendentes, assim
como pode existir a flutuação dos percentis. Essas variações devem ser percebidas de imediato e
corrigidas durante a avaliação do enfermeiro.
43
Unidade I
Exemplo D: o gráfico a seguir demonstra a curva de referência da OMS que deve ser usada para
meninas desde o nascimento até os 5 anos de idade. Trata‑se do índice peso/por idade.
Exemplo E: o gráfico a seguir demonstra a curva de referência da OMS que deve ser usada para
meninos desde o nascimento até os 5 anos de idade. Trata‑se do índice peso/por idade.
44
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Exemplo F: o gráfico a seguir demonstra o perfil de peso de uma menina com 11 meses de idade,
que não possui registros do peso de nascimento e cujo primeiro registro ocorreu aos 3 meses de idade:
Veja, se os dados do peso em relação à idade demonstrados não estivessem expostos no gráfico do
exemplo F, não seria possível identificar os percentis, e a avaliação da criança estaria comprometida.
Como a curva de ganho de peso da criança poderia ser interpretada pelo enfermeiro?
Houve um ganho de peso entre os 4 e 10 meses de idade, e, provavelmente, devido a alguma ação
proposta, a curva de ganho de peso está regredindo.
É importante compreender que o inverso também pode acontecer, ou seja, quando, por algum motivo
específico, a criança perde peso, consequentemente, isso refletirá no declínio da curva e dos percentis.
45
Unidade I
Lembrete
Não é possível recuperar uma informação antropométrica retroativa, pois o marco de seu crescimento
não consegue se reproduzir em decorrência de que o tempo evolui e, com ele, o crescimento da criança.
Observação
Os pontos de corte da Vigilância Nutricional no Brasil, determinados pelo Ministério da Saúde, são
baseados em recomendações adotadas internacionalmente (BRASIL, 2011a).
A Organização Mundial da Saúde apresenta referências de peso para estatura apenas para menores
de 5 anos pelo padrão de crescimento de 2006 (OMS, 2006). A partir dessa idade, deve ser utilizado o
Índice de Massa Corporal (IMC) para idade para avaliar a proporção entre o peso e a estatura da criança.
A seguir, são apresentados os pontos de corte para a avaliação do estado antropométrico de crianças:
46
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
É importante acrescentar que a avaliação do peso do recém‑nascido, verificada logo ao nascer, recebe
uma classificação, pois pode ter significados fundamentais para o acompanhamento da evolução de
crescimento da criança. Pesos, ao nascer, menores que 2.500 g podem ser decorrentes de prematuridade
e/ou déficit de crescimento intrauterino.
Peso adequado p/a idade gestacional (AIG) = entre 10º e 90º da CCIU.
Essa classificação deve sempre ser acompanhada da classificação da idade gestacional. Por exemplo:
• Um RN nascido entre 37 e 40 semanas de gestação (RN a termo), pesando 2.300 g, pode ser PIG
(pequeno para a idade gestacional).
Essa classificação pode ser obtida utilizando gráficos de referência, como o demonstrado a seguir,
relacionando a idade gestacional do nascimento e o peso de nascimento:
5.000
4.750
4.500 90º percentil
50º percentil
4.250 10º percentil
4.000
3.750 Grande para a idade gestacional
3.500 Apropriado para a idade gestacional
3.250 Pequeno para a idade gestacional
Peso ao nascer (g)
3.000
2.750
2.500
2.250
2.000
1.750
1.500
1.250
1.000
750
500
250
0
20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44
Idade gestacional (semanas)
47
Unidade I
Algumas características de ganho ponderal de peso e da altura são previstos durante a infância, e
o enfermeiro deverá conhecê‑las para avaliar o crescimento da criança. Algumas dessas características
estão demonstradas a seguir:
De 6 a 12 meses de idade
Peso: aumento de 15 g/dia, ou seja, 85 a 140 g/semana.
O peso de nascimento é triplicado no final do primeiro ano.
Altura: ganho mensal de 1,25 cm. Aumento em 50% ao final do 1º ano.
Entende‑se como desenvolvimento o aumento da capacidade do indivíduo em realizar cada vez mais
funções, em relação à quantidade e à complexidade. Para que isso ocorra, é importante compreender
que devem ocorrer a maturidade, o crescimento e o aprendizado (SOUZA; VERÍSSIMO, 2015).
Dessa forma, é esperado que, a cada fase etária do desenvolvimento, a criança apresente determinadas
características comportamentais.
A criança deve atravessar cada estágio de seu desenvolvimento segundo uma sequência regular,
ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada ou
motivada no devido momento, ela não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Afinal, o
desenvolvimento infantil se dá à medida que a criança vai crescendo e vai se desenvolvendo de acordo
com os meios onde vive e os estímulos recebidos (BRASIL, 2012c).
Dessa forma, é importante lembrar que é desejado que a criança cresça e se desenvolva dentro de
critérios esperados. Porém nem sempre uma criança que não cresceu dentro dos padrões (em maiores
ou menores proporções) obrigatoriamente também terá déficits em seu desenvolvimento, assim como
o inverso também é verdadeiro.
Exemplo de aplicação
Resposta: Sim, uma criança pode se desenvolver plenamente e não crescer, como no caso de acondroplasia.
Exemplo 2: Uma criança pode crescer adequadamente, dentro dos parâmetros esperados, e não se
desenvolver de acordo com os parâmetros desejados à idade cronológica?
Observação
49
Unidade I
Saiba mais
As linhas orientadoras de desenvolvimento aplicam‑se a grande parte das crianças em cada fase
de desenvolvimento, denominadas de faixas etárias do desenvolvimento da criança, e encontram‑se
divididas em períodos:
50
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
No entanto, cada criança é um indivíduo e pode atingir estas fases de desenvolvimento mais cedo ou mais
tarde quando comparada a outras crianças da mesma idade, sem se falar, propriamente, de problemáticas.
Lembrete
Ao observar um recém‑nascido (RN), deve‑se considerar que suas reações, apesar de reflexas em sua
grande maioria, estão também fortemente relacionadas com seu grau de maturidade e condições físicas,
como sono, fome, saciedade, irritabilidade etc.
O neonato tem o predomínio do tônus flexor, assimetria postural e preensão reflexa. Assim,
quando colocado em decúbito ventral, mantém‑se fletido e gira a cabeça de um lado para
o outro. Quando colocado em decúbito dorsal, mantém‑se fletido e rígido, geralmente. Tem
percepções visuais, podendo fixar o rosto a uma luz na linha de visão, ou seja, consegue
acompanhar a luz (estímulo luminoso) com os olhos, e as pupilas reagem à luz.
Desde as primeiras horas de vida, é capaz de indicar a percepção de alguns sons e apresenta uma
reação global a barulhos muito fortes (exemplos: choro forte com som de palmas, latidos, porta batendo).
A voz humana causa nele efeitos diferentes de outros sons, e, em torno da segunda semana de vida, a
voz da mãe ou mesmo de outra mulher, modulada por tonalidades afetivas, já é capaz de desencadear
sorrisos mais facilmente do que qualquer outro som.
Dorme grande parte do tempo (em média 18 horas por dia), e o tempo que se mantém acordado é
para se alimentar e receber cuidados, como banho e troca de fraldas.
52
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Figura 34 – Demonstração da postura corporal adotada pelo recém‑nascido, na posição ventral e dorsal
• Pré‑termo: menos do que 37 semanas completas (menos do que 259 dias completos).
• Termo: de 37 semanas completas até menos de 42 semanas completas (259 a 293 dias).
Reflexos neurológicos
A pesquisa dos reflexos neurológicos deve ser verificada desde o nascimento. Alguns reflexos
verificados no neonato o acompanham por determinado período e depois desaparecem. Esse perfil deve
ser acompanhado pelo enfermeiro, que, conhecendo as fases etárias do desenvolvimento e o que esperar
em cada uma, pode identificar atrasos no desenvolvimento esperado. O enfermeiro deve verificar, além
da presença ou ausência do reflexo, a resposta reflexa, checando dados com relação à velocidade, força,
amplitude e variação de movimentos produzidos, além da duração da contração muscular e aumento
da área reflexógena. Pode graduar a resposta em ausente, hipoativo, normal, hiperativo e reduplicado
com resposta clônica.
Conheça um pouco mais sobre os reflexos neurológicos primários dos recém‑nascidos e como
realizá‑lo, no quadro a seguir:
53
Unidade I
1º mês
O 1° mês de vida da criança é considerado como crítico, pois é uma fase que, além das adaptações
extrauterinas exigidas ao recém‑nascido (RN) logo após o nascimento, exige adaptações da família e
depende de cuidados específicos, pois o funcionamento de muitos órgãos e sistemas são imaturos ou
estão sendo sensibilizados, a exemplo dos sistemas imunológico, renal, hepático e gastrointestinal.
Com relação ao desenvolvimento motor, quando colocado em decúbito ventral, o RN eleva mais
a cabeça, sustenta a cabeça ao plano do corpo, e, quando colocado em decúbito dorsal, predomina a
postura tônica do pescoço; se puxado para sentar, a cabeça ainda cai para trás.
O desenvolvimento visual ocorre, pois acompanha um objeto em movimento por 180° e sorri ao
contato social (BRASIL, 2012c; BRASIL, 2002; HOCKENBERRY; WILSON, 2014).
54
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
2º mês
Desenvolvimento motor: algumas características são importantes e devem ser observadas, pois,
quando o lactente com 2 meses é colocado em decúbito ventral, é esperado que ele eleve a cabeça e o
tórax, com os braços estendidos e a cabeça acima do plano do corpo; e quando colocado em decúbito
dorsal, é esperado o predomínio da postura tônica do pescoço.
Quando colocado na posição dorsal e ao ser puxado para a posição sentada, a cabeça pende um
pouco para trás, demonstrando ainda não ter sustentação muscular da coluna cervical. Quando colocado
na posição sentado com apoio, observa‑se o dorso curvado.
Desenvolvimento cognitivo: ao ser estimulado por um objeto, por exemplo um boneco, é esperado
que ele estenda a mão para os objetos, porém sem conseguir pegá‑los. Ou seja, ele agita as mãos,
demonstrando estímulo pelo brinquedo, mas ainda não tem coordenação motora desenvolvida para
conseguir pegá‑lo.
Desenvolvimento social: já mantém o contato social, dizendo “AAAA...” aos estímulos. Exemplo:
estímulo musical.
55
Unidade I
3º mês
Desenvolvimento motor: nessa idade, desaparece a resposta ao reflexo de Moro, quando colocado
na posição dorsal, ao ser puxado para a posição sentada, a cabeça não pende para trás, mantém‑se
firme, demonstrando sustentação da coluna cervical, porém observa‑se o dorso curvado. Nessa idade,
o lactente gosta de permanecer sentado com apoio, comportamento que deve ser estimulado. Deve‑se
orientar a mãe para colocá‑lo por curtos períodos, sob sua supervisão, sentado, com apoio de travesseiros
e almofadas. Esse estímulo auxiliará a fortalecer a musculatura vertebral e ajudará no próximo passo,
que será sentar‑se sem apoio (por volta dos 6 meses de idade).
Nessa idade, a visão binocular está quase estabelecida e inicia‑se a coordenação mão‑olho.
Desenvolvimento social: ri alto, pode demonstrar desagrado se o contato for interrompido, excita‑se
com a visão do alimento, começa a demonstrar memória; emite sons consonantais, como n, k, g, p, b.
6º mês
Consegue rolar sobre o próprio eixo (se estiver em decúbito dorsal, pode virar‑se para o ventral e
vice‑versa), apoiando‑se em uma das mãos, e tenta sentar‑se quando está seguro pelas mãos.
Quando deitado na posição dorsal, brinca com os pés, e quando colocado na posição sentado com
apoio, mantém‑se com a coluna vertebral alinhada. Ao ser apoiado pelos braços, consegue levantar‑se
e manter‑se de pé.
Quando estimulado com seus brinquedos, agarra‑os e consegue alternar de uma mão para a outra.
Adora jogar os brinquedos para os ver caindo.
A criança demonstra o seu estado de espírito pela emissão de sons compostos por uma ou duas
sílabas como “daaaaa” ou “da‑da”, podendo gritar de entusiasmo ou irritação, e até dar gargalhadas.
Reage, vocalizando e virando a cabeça, quando escuta um som conhecido ou quando ouve seu nome.
A criança apresenta o balbucio cada vez mais rico, devido ao prazer de se ouvir, e os sons são mais
diferenciados e repetitivos (dada, gugu, agu, mãmãmã etc.).
Chora, levanta as mãos e estende os braços para pedir colo, demonstrando desenvolvimento
emocional. Se houver introdução de novos alimentos, além do aleitamento materno exclusivo, começa
a demonstrar preferência por determinados sabores.
Desenvolvimento social: é amistoso com estranhos, gosta de brincar rebolando sobre si próprio,
gosta que leiam para ele.
57
Unidade I
7º mês
Desenvolvimento motor: quando colocada em decúbito ventral, a criança rola o corpo, podendo
girar em torno do próprio eixo, e quando em decúbito dorsal, ergue a cabeça espontaneamente, senta‑se
momentaneamente com o apoio da pelve, inclinando‑se para diante, apoiando‑se com as mãos. Quando
colocada na posição vertical, permanece sustentando o peso do corpo; em pé, com apoio, pode suportar
maior peso, balançando‑se ativamente, pulando. Nessa fase, a criança pode iniciar a intenção de se
deslocar, a se rastejar.
Desenvolvimento social: nessa idade, a criança prefere a mãe, balbucia, gosta do espelho, responde
às alterações do conteúdo emocional no contato social, tem medo de estranhos, apresenta sinais de
medo quando a mãe desaparece, brinca de esconde‑esconde, imita atos e ruídos simples, tenta chamar
a atenção com tosses e roncos, demonstra desinteresse pelos alimentos mantendo os lábios fechados e
reage negativamente a estranhos.
10º mês
Desenvolvimento motor e cognitivo: a criança nessa idade pode mudar do decúbito ventral para
a posição sentada. Já senta‑se sozinha e indefinidamente sem apoio, com o dorso permanecendo reto.
Quando colocada na posição vertical, permanece em pé na posição ereta e levanta um dos pés, como
iniciando e treinando para dar um passo. Já pode engatinhar.
58
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Observa‑se nessa idade que a criança recupera o equilíbrio quando senta rapidamente e consegue
se sentar partindo da posição em pé, sem ajuda.
Ela executa atividades motoras elencadas com o objetivo aprendido, como agarrar o sino pelo cabo
e agitar, esperando obter o som, ou seja, ela sabe qual dos lados do sino deverá segurar para chacoalhar
e fazer o barulho.
Nessa idade, a criança poderá desenvolver o movimento de rastejar ou engatinhar, podendo até
mesmo tentar dar os primeiros passos. A criança já procura o objeto que abandonou há algum tempo no
devido local, demonstrando memória. Ela entende e demonstra comportamento perante um comando,
como “não... não” e é capaz de olhar e acompanhar figuras em um livro.
Desenvolvimento social: nessa fase, a criança tende a repetir ações que atraem a atenção
e despertam risos. Ela reage à raiva do adulto por meio de gritos e/ou choro. Gosta e participa de
brincadeiras interativas, como esconde‑esconde. Já há um desenvolvimento da linguagem, dizendo
“papa” e “mama” com significado, compreendendo o significado de “tchau”.
1º ano
Algumas características são importantes nessa idade. O peso do nascimento é triplicado, e a altura,
aumentada em 50%. A criança já apresenta em torno de seis a oito dentes primários, e a fontanela
anterior já está quase fechada.
Desenvolvimento motor: o reflexo de Babinski desaparece, já caminha com uma das mãos
segura ou sozinha.
59
Unidade I
2º ano
Estima‑se que uma criança de 2 anos seja capaz de nomear 300 objetos. Nessa etapa, o
aprendizado linguístico está a todo vapor: os pequenos aprendem entre 10 e 20 palavras novas
todos os dias. Com isso, começam a formar as primeiras frases.
60
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Nessa idade, começa a brincar de faz de conta (atividade que deve ser estimulada, pois auxilia no
desenvolvimento cognitivo e emocional, ajudando a criança a lidar com ansiedades e conflitos e a
elaborar regras sociais).
A criança começa a desenvolver o controle dos esfíncteres, e os pais devem começar a retirar o uso
das fraldas aos poucos e a ensiná‑la a usar o penico/vaso sanitário. Nesse processo devem ser levados
em consideração o estágio do desenvolvimento e as habilidades necessárias para o controle. A idade
ideal para iniciar o processo educativo varia de criança para criança: algumas entre 18 e 24 meses já
mostram sinais de que estão prontas e outras não.
Compreende a fase de 2 a 6 anos de idade, embora alguns autores classificam essa fase a partir do
1º ano de vida.
• Período de infantes: quando também são conhecidos como toddlers, com idade entre 2 a 3 anos.
Entende‑se que esse período compreende desde o momento em que a criança atinge a posição ereta
e se sustenta sozinha até o início escolar. Esse período é marcado por descobertas e atividades intensas,
além de um acentuado desenvolvimento físico e da personalidade. Observam‑se também amplos
desenvolvimentos: motor, de linguagem e social. É esperado que adquiram autocontrole e consciência
da dependência e independência (autoconceito).
61
Unidade I
Figura 43 – Infante
Essa fase compreende o período de 6 a 11 anos (ou 12 anos, de acordo com alguns autores).
Crianças nessa fase buscam o convívio, além do familiar, com outros grupos, como amigos na escola,
dessa forma dirigem‑se para fora do grupo familiar.
62
PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
• Adolescência: de 13 a 18 anos.
Observação
63
Unidade I
A adolescência é uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano. Não pode ser considerada meramente
uma etapa da transição entre a infância e a idade adulta, pois é nesta fase que culmina todo o processo
da maturação biopsicossocial do indivíduo. Não se pode estudar separadamente os aspectos biológicos,
psicológicos, sociais ou culturais do adolescente, eles são indissociáveis, e é o conjunto de características
que dá unidade ao fenômeno da adolescência (BRASIL, 1993).
físicas, cerebrais, endócrinas, emocionais, sociais e sexuais ocorrem de forma conjugada, com
modificações estruturais, físicas e mentais, originando comportamentos e emoções antes não sentidas
pelo adolescente, família, amigos e profissionais que convivem com ele. Por ser um período vulnerável,
a experiência do adolescer vai exigir da família, dos profissionais de saúde e da educação uma atenção
especial para esse adolescente, ajudando‑o a lidar com situações e problemas que possam provocar
danos e agravos à saúde (BITENCOURT; SANTANA; SILVA, 2011).
O adolescente poderá ser encaminhado para exames de laboratório ou referência especializada. Todos
os adolescentes, além do atendimento, deverão ser encaminhados para participar de grupos informativos,
educativos e psicoprofiláticos. A equipe deverá ser capacitada para manter contatos e interagir com a
comunidade visando à promoção de saúde. Nas unidades de atenção secundária e terciária, os roteiros do
atendimento serão organizados conforme a disponibilidade dos recursos e da dinâmica interna de cada
serviço, obedecendo sempre os critérios da integralidade do atendimento (BRASIL, 1993).
Durante o atendimento, o contexto social deve ser avaliado, verificando os elementos importantes
na vida sob o ponto de vista emocional e sexual, assim como sua relação com a família e o impacto desse
relacionamento (principalmente afetivo e emocional), sua relação com os profissionais de educação e
com os amigos. Saber lidar com os aspectos emocionais que envolvem a vivência da sexualidade durante
a adolescência é fundamental para o desenvolvimento esperado nessa fase etária.
Dessa forma, a falta de informação adequada, a carência de um sistema educacional que estimule a
sociabilidade e ainda a precária qualidade dos serviços de saúde fazem com que os adolescentes, tanto
no nível social quanto individual, se tornem bastante vulneráveis. Cabe à família e aos profissionais de
saúde e da educação uma análise dos problemas que possam advir com danos e agravos à saúde, e uma
sistematização de ações com vistas a um atendimento eficiente a esse grupo etário (DAVIM, 2009).
Saiba mais
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Unidade I
Figura 45 – Adolescentes
Observação
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Saiba mais
O baixo peso ao nascer e a prematuridade são eventos que aumentam o risco da criança para
alterações globais em seu desenvolvimento, sendo possível identificar distúrbios de linguagem, de
motricidade, de aprendizagem e de atraso neuropsicomotor, podendo, contudo, evoluir durante os
primeiros dois anos de vida para padrões de normalidade na maioria dos casos (BRASIL, 2012c).
A identificação eficaz de crianças em risco de desenvolvimento começa com um exame dos fatores
de risco que contribuem para as desordens da criança, tornando‑a vulnerável ao enfrentamento das
tarefas evolutivas do ciclo vital. Os riscos ao desenvolvimento podem estar presentes na própria criança
– componentes biológicos, temperamento e a própria sintomatologia –, na família – história parental
e dinâmica familiar – ou no ambiente – nível socioeconômico, suporte social, escolaridade e contexto
cultural (LEWIS et al.,1988).
O tratamento de uma criança com distúrbio do desenvolvimento poderá ser individualizado ou ser
feito em grupo e depende muito de sua complexidade. O adequado manejo poderá variar, podendo
ser feito mediante orientações aos pais sobre a importância da relação entre o desenvolvimento da
criança e a maneira como eles lidam com isso (BRASIL, 2002).
67
Unidade I
Saiba mais
O acompanhamento do desenvolvimento deve fazer parte da consulta geral da criança. Para isso,
não é necessário criar espaços específicos, momentos fora da consulta ou instrumental especializado,
embora alguns pequenos brinquedos e/ou objetos do consultório possam ser usados para desencadear
alguma resposta reflexa ou marco do desenvolvimento (BRASIL, 2002)
Durante a consulta, o enfermeiro deve prestar atenção à forma como a mãe lida com o seu filho, se
conversa com ele, se está atenta às suas manifestações.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2002) recomenda a conduta a ser tomada mediante os resultados da
avaliação do acompanhamento do desenvolvimento da criança:
69
Unidade I
• Presença das respostas esperadas para a idade: a criança está se desenvolvendo bem e o profissional
de saúde deverá seguir o calendário de consulta.
• Falha em alcançar algum marco do desenvolvimento para a idade: o profissional de saúde deverá
antecipar a consulta seguinte, investigar a situação ambiental da criança, a relação com a mãe e a
oferta de estímulos (ambientais e emocionais). Sugere‑se orientar a mãe para brincar e conversar
com a criança durante os cuidados diários.
• Persistência do atraso por mais de duas consultas (ou ausência do marco no último quadro
sombreado): se verificado, encaminhar a criança para referência ou serviço de maior complexidade,
ou seja, suspeitando de atraso no desenvolvimento da criança avaliada, associado ou não a
alterações clínicas/físicas, a criança deve ser imediatamente direcionada para avaliações mais
específicas e acompanhamento por profissionais especializados, como no caso do psicólogo e/ou
do neurologista pediátrico.
Observação
Resumo
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Unidade I
Exercícios
Questão 1. (COPEVE, 2013) O crescimento e o desenvolvimento são eixos referenciais para todas as
atividades de atenção à criança e ao adolescente. A respeito desses temas, é correto afirmar:
A) O período intrauterino não é um fator determinante para a possibilidade de a criança atingir o seu
potencial máximo de crescimento.
E) Os fatores extrínsecos que influenciam o desenvolvimento infantil são aqueles que determinam
as características físicas da criança.
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PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: não é só o ambiente que influencia o crescimento infantil, mas a herança genética também.
D) Alternativa correta.
Justificativa: desenvolvimento é um conceito amplo que começa desde a fecundação do óvulo até
a velhice. Portanto, é complexo e progressivo, estendendo‑se aos fatores psicológicos e às condições
ambientais e sociais.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2 (COPEVE, 2013). O desenvolvimento infantil, ao contrário do crescimento, pode ser difícil
de medir e avaliar. Apesar disso, é possível estabelecer certos padrões e áreas do desenvolvimento com
vistas a identificar fatores que possam intervir na evolução desse processo. Em razão disso:
IV – A criança classificada como desenvolvimento normal com fatores de risco deve retornar ao
serviço no intervalo de 30 dias.
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