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Farmacologia Aplicada

à Enfermagem
Autor: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo
Profa. Rachel Machado Coutinho
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professor conteudista: Juliano Rodrigo Guerreiro

Juliano Rodrigo Guerreiro é formado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade de São Paulo – USP (2004),
doutor em Bioquímica pelo Instituto de Química da mesma universidade (2009) e pós-doutor em Bioquímica de
Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, também da Universidade de São Paulo – USP (2009-
2012). É especialista em Mariologia pela Universidade Dehoniana (2017) e, atualmente, cursa licenciatura em História
pela Universidade Paulista – UNIP, com previsão de término em 2018. Na UNIP, é coordenador do curso de Farmácia
desde 2008 e professor titular desde 2009, tendo sido professor auxiliar de 2005 a 2009. Tem experiência nas áreas
de Bioquímica, Farmacologia, Fisiologia, Química, Teologia e História. É autor de livros e autor e coautor de artigos
científicos sobre Venenos Animais, Fisiologia e Bioquímica.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G934f Guerreiro, Juliano Rodrigo.

Farmacologia aplicada à enfermagem. / Juliano Rodrigo


Guerreiro. – São Paulo: Editora Sol, 2018.

120 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-014/18, ISSN 1517-9230.

1. Farmacologia. 2. Antibióticos. 3. Farmacoterapia. I. Título.

681.3

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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Elaine Pires
Carla Moro
Sumário
Farmacologia Aplicada à Enfermagem

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 ANTI-INFLAMATÓRIOS................................................................................................................................... 13
1.1 Processo inflamatório.......................................................................................................................... 13
1.1.1 Inflamação aguda.................................................................................................................................... 14
1.1.2 Inflamação crônica................................................................................................................................. 17
1.2 Analgésicos.............................................................................................................................................. 18
1.3 Antipiréticos............................................................................................................................................ 18
1.4 Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)................................................................................ 19
1.5 Anti-inflamatórios esteroidais (AIEs)............................................................................................ 22
1.5.1 Efeitos adversos........................................................................................................................................ 24
2 FÁRMACOS QUE ATUAM NO TRATO RESPIRATÓRIO.......................................................................... 25
2.1 Antiasmáticos......................................................................................................................................... 25
2.1.1 Asma............................................................................................................................................................. 25
2.1.2 Fármacos utilizados no tratamento da asma............................................................................... 26
2.2 Antialérgicos............................................................................................................................................ 30
2.2.1 Rinite alérgica........................................................................................................................................... 30
2.3 Antitussígenos........................................................................................................................................ 32
2.4 Terapêutica da DPOC........................................................................................................................... 33
3 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (PARTE 1)...................................... 35
3.1 Antiepiléticos e anticonvulsivantes............................................................................................... 37
3.1.1 Epilepsia....................................................................................................................................................... 37
3.1.2 Convulsões.................................................................................................................................................. 38
3.1.3 Classificação das crises.......................................................................................................................... 38
3.1.4 Fármacos utilizados como antiepiléticos ou anticonvulsivantes......................................... 39
3.1.5 Estado epilético........................................................................................................................................ 42
3.2 Relaxantes musculares........................................................................................................................ 43
3.3 Ansiolíticos e hipnóticos.................................................................................................................... 45
4 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (PARTE 2)...................................... 49
4.1 Antidepressivos...................................................................................................................................... 49
4.2 Estabilizadores de humor................................................................................................................... 53
4.3 Estimulantes do sistema nervoso central.................................................................................... 53
4.4 Antipsicóticos......................................................................................................................................... 54
4.4.1 Ações dos fármacos antipsicóticos................................................................................................... 57
4.4.2 Efeitos adversos........................................................................................................................................ 57
4.5 Tratamento da enxaqueca................................................................................................................. 58

Unidade II
5 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (PARTE 3)...................................... 62
5.1 Tratamento de doenças neurodegenerativas............................................................................. 62
5.1.1 Mal de Alzheimer..................................................................................................................................... 62
5.1.2 Mal de Parkinson...................................................................................................................................... 63
5.2 Analgésicos opioides............................................................................................................................ 67
5.2.1 Indicação de uso terapêutico.............................................................................................................. 68
5.3 Anestésicos locais.................................................................................................................................. 69
5.3.1 Indicações e ações................................................................................................................................... 70
5.3.2 Efeitos adversos........................................................................................................................................ 70
5.4 Anestésicos gerais................................................................................................................................. 71
5.4.1 Fatores do paciente na seleção da anestesia............................................................................... 71
5.4.2 Fármacos adjuvantes ............................................................................................................................ 72
5.4.3 Estágios da anestesia............................................................................................................................. 72
5.4.4 Anestésicos inalatórios.......................................................................................................................... 73
5.4.5 Anestésicos intravenosos...................................................................................................................... 74
6 ANTIBIÓTICOS (PARTE 1)............................................................................................................................... 75
6.1 Antibacterianos...................................................................................................................................... 77
6.1.1 Sulfonamidas............................................................................................................................................. 77
6.1.2 b-lactâmicos e inibidores da b-lactamase.................................................................................... 78
6.1.3 Tetraciclinas................................................................................................................................................ 81
6.1.4 Anfenicol..................................................................................................................................................... 82
6.1.5 Aminoglicosídeos..................................................................................................................................... 83
6.1.6 Macrolídeos................................................................................................................................................ 83
6.2 Antifúngicos............................................................................................................................................ 85
6.2.1 Poliênicos.................................................................................................................................................... 85
6.2.2 Imidazólicos............................................................................................................................................... 86
6.2.3 Aliaminas..................................................................................................................................................... 87
6.2.4 Caspofunginas (equinocandinas) ..................................................................................................... 87
6.2.5 Griseofulvina.............................................................................................................................................. 88

Unidade III
7 ANTIBIÓTICOS (PARTE 2)............................................................................................................................... 91
7.1 Antiparasitários...................................................................................................................................... 91
7.1.1 Fármacos usados contra os nematódeos (helminto)................................................................ 91
7.1.2 Fármacos usados contra trematódeos (helminto)...................................................................... 92
7.1.3 Fármacos usados contra os cestoideos (helminto) ................................................................... 92
7.1.4 Antiprotozoários...................................................................................................................................... 93
7.2 Antivirais................................................................................................................................................... 93
7.2.1 Antirretrovirais.......................................................................................................................................... 94
7.2.2 Anti-herpéticos......................................................................................................................................... 95
7.2.3 Anti-influenza........................................................................................................................................... 96
7.2.4 Anti-hepatites........................................................................................................................................... 97
7.3 Antineoplásicos...................................................................................................................................... 99
7.3.1 Antimetabólitos......................................................................................................................................101
7.3.2 Agentes alquilantes..............................................................................................................................102
7.3.3 Inibidores de microtúbulos................................................................................................................103
7.3.4 Anticorpos monoclonais.....................................................................................................................103
7.3.5 Antimicrobianos.....................................................................................................................................104
7.3.6 Efeitos adversos......................................................................................................................................105
8 FARMACOTERAPIA E FARMACOLOGIA CLÍNICA.................................................................................106
8.1 Aplicações da farmacoterapia e farmácia clínica..................................................................106
8.2 Farmacovigilância...............................................................................................................................107
8.3 Pesquisa clínica....................................................................................................................................108
8.4 Monitoramento terapêutico...........................................................................................................109
8.5 Prescrição médica e de enfermagem..........................................................................................110
8.6 Cuidados de enfermagem na administração de medicamentos.....................................111
APRESENTAÇÃO

A disciplina de Farmacologia Aplicada à Enfermagem propõe noções dos fatores modificadores da


cinética e da dinâmica dos medicamentos de uso clínico e oferece aos alunos orientações sobre os
principais grupos de medicamentos prescritos nas diferentes especialidades clínicas.

A disciplina tem como objetivos primordiais proporcionar ao aluno conhecimentos fundamentais


e gerais de Farmacologia, capacitando o estudante ao entendimento do paciente que faz uso de
medicamentos, além de entender a relação entre benefício e desvantagem no tratamento das diferentes
patologias. Também serão apresentadas noções entre os diferentes grupos farmacológicos usados na
terapêutica medicamentosa.

O aluno, ao final do curso, deverá estar apto a discorrer sobre farmacocinética, mecanismos de ação,
usos terapêuticos, efeitos colaterais, toxicidade e interações medicamentosas, além de alertar quanto
ao mau uso ou abuso de medicamentos. Assim, deverá ter condições de orientar de maneira consciente
e correta a utilização dos medicamentos, dialogando com a comunidade e com outros profissionais da
área da saúde.

O conhecimento técnico sobre os fármacos – ação, atuação e reações que eles podem ocasionar –
deve ser do conhecimento de todos os profissionais da saúde. O profissional da área de saúde é aquele
que está em contato direto com o paciente.

A Farmacologia estuda as interações que a droga (fármaco) tem com os sistemas biológicos em
toda a extensão do corpo humano. O conhecimento farmacológico irá ajudar o aluno a compreender o
funcionamento dos fármacos, as reações adversas possíveis e a terapia farmacológica correta.

O objetivo é desenvolver os conhecimentos acerca do comportamento geral de ação dos fármacos


no organismo e a capacidade de planejamento terapêutico racional.

O profissional de enfermagem tem a função de preparar e administrar os medicamentos


para o paciente, identificar e comunicar possíveis reações adversas e problemas relacionados
aos medicamentos, como lote, validade e medicamentos em mau estado de conservação.
A responsabilidade em administrar medicamentos ao paciente é uma importante tarefa do
enfermeiro. Devido a isso, o enfermeiro deve ter conhecimentos profundos sobre: a ação da
droga no organismo; a dose e quais fatores podem interferir na sua ação; as vias que podem ser
administradas; a farmacocinética da droga (absorção e eliminação).

INTRODUÇÃO

A Farmacologia é, sem dúvida, umas das principais ferramentas para profissionais da área de saúde,
ou, em sentido mais amplo, para todos os profissionais que necessitam ou trabalham diretamente e
indiretamente com medicamentos. A compreensão do modo com o qual os fármacos agem no organismo
é de fundamental importância para o melhor emprego dos medicamentos. Em sua fundamentação,
a Farmacologia compreende o entendimento histórico, propriedades físico-químicas, composição,
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bioquímica, efeitos fisiológicos, mecanismo de ação, absorção, distribuição, eliminação e terapêutica
relacionados a substâncias químicas que conseguem alterar a função normal de um organismo.

A Farmacologia é dividida em farmacocinética e farmacodinâmica. A farmacocinética estuda a


correlação do organismo com o fármaco, ou seja, em qual ponto ocorre a absorção, locais no qual
o fármaco se acumula no organismo, rota de biotransformação e onde ocorre a sua eliminação.
A farmacocinética é muito aplicada para determinação adequada da posologia, interpretação
de resposta inesperada ou ausência de efeito, melhor compreensão da ação dos fármacos
e uso racional destes. De forma simplificada, a farmacocinética preocupa-se em entender em
que os organismos alteram os fármacos. A farmacodinâmica estuda a correlação do fármaco
com o organismo, ou seja, quais processos fisiológicos são afetados pela ação da droga. Assim,
pode‑se afirmar que os focos da farmacodinâmica são: local e mecanismo de ação; relação entre
concentração e magnitude do efeito; variação de efeitos e respostas.

A compreensão das ações dos fármacos no organismo é fundamental para o planejamento clínico da
terapêutica. O conhecimento da farmacologia está alicerçado em diversos conceitos, e a apreensão destes
facilitará o entendimento desta ciência. A seguir, têm-se algumas definições que serão importantes no
decorrer do livro:

• Fármaco: substância química capaz de provocar algum efeito terapêutico no organismo.

• Medicamento: produto tecnicamente elaborado contendo um ou mais fármacos. Os outros


componentes do medicamento recebem a denominação excipientes, os quais podem ter as
mais variadas funções, como melhorar o sabor, o odor e até mesmo atuar como conservantes,
lembrando que, do ponto de vista terapêutico, o excipiente é inerte, não devendo interagir com o
fármaco. Os medicamentos podem ser classificados em magistrais, oficiais e oficinais.

• Remédio: qualquer tratamento que traga benefício para a saúde do paciente, o conceito de
remédio é bem mais amplo, envolvendo até mesmo a definição de medicamento.

• Dose: quantidade de fármaco capaz de provocar alterações no organismo. Essa dose pode
ser eficaz (DE), letal (DL), de ataque ou de manutenção. A DE é a dose capaz de produzir o
efeito terapêutico desejado, podendo ser classificada em mínima eficaz e máxima tolerada.
A DL, por sua vez, é a dose capaz de causar mortalidade. Em ambos os casos (DE e DL), a
eficácia pode ser determinada em porcentagem, portanto, DE50 é a dose eficaz em 50% dos
tecidos ou pacientes.

• Índice terapêutico: relação entre a DL50 e a DE50, pode ser um indicativo da segurança do fármaco.

• Janela terapêutica: faixa entre a dose mínima eficaz e a máxima eficaz sem produzir
efeitos tóxicos.

• Posologia: é a dose que deve ser administrada e a frequência de administração.

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• Forma farmacêutica: forma de apresentação do medicamento, como comprimidos, cápsulas
e xaropes.

• Pró-fármaco: fármaco que necessita ser ativado no organismo para ação terapêutica.

• Interação medicamentosa: efeito resultante da interação entre dois fármacos, podendo


como resultado final ocorrer o aumento ou a atenuação do efeito farmacológico dos fármacos
envolvidos.

• Efeito indesejado: efeito provocado pela ação do fármaco no organismo diferente do idealizado.
Pode ser classificado em previsível e imprevisível. Os efeitos previsíveis são decorrentes da
toxicidade por alta dosagem, efeito secundário (reação provocada pelo efeito do fármaco em um
local de ação diferente do previsto), efeito colateral e interações medicamentosas. Por sua vez, os
efeitos imprevisíveis podem ser classificados em idiossincrático, alérgico e por intolerância.

11
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

Unidade I
1 ANTI-INFLAMATÓRIOS

1.1 Processo inflamatório

O processo inflamatório é uma resposta tecidual desencadeada por danos aos tecidos vivos. A
resposta inflamatória é um mecanismo de defesa que evoluiu em organismos superiores para protegê-
los de infecções e lesões. Seu objetivo é localizar e eliminar o agente prejudicial e remover componentes
de tecidos danificados para que o organismo possa se regenerar ou cicatrizar. A resposta consiste em
mudanças no fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos e migração de fluidos,
proteínas e glóbulos brancos (leucócitos) da circulação para o local do dano tecidual. Uma resposta
inflamatória que dura apenas alguns dias é chamada de inflamação aguda, enquanto uma resposta de
maior duração é referida como inflamação crônica.

Embora a inflamação aguda seja geralmente benéfica, muitas vezes causa sensações desagradáveis,
como a dor ou prurido (nas picadas de insetos). O desconforto geralmente é temporário e desaparece
quando a resposta inflamatória termina. Mas, em alguns casos, a inflamação pode causar danos. A
destruição do tecido pode ocorrer quando os mecanismos regulatórios da resposta inflamatória são
defeituosos, ou há incapacidade de remover o tecido danificado, e quando há presença de substâncias
estranhas ao organismo. Em outros casos, uma resposta imune inadequada pode dar origem a
uma resposta inflamatória prolongada e prejudicial. Os exemplos incluem reações alérgicas ou de
hipersensibilidade, em que um agente ambiental como o pólen – que normalmente não representa
ameaça para o indivíduo – estimula inflamação e reações autoimunes, nas quais a inflamação crônica é
desencadeada pela resposta imune do corpo contra seus próprios tecidos.

Os fatores que podem estimular a inflamação incluem micro-organismos, agentes físicos, produtos
químicos, respostas imunológicas inapropriadas e morte de tecidos. Agentes infecciosos como vírus e
bactérias são alguns dos estímulos mais comuns da inflamação. Os vírus originam inflamação ao entrar e
destruir células do corpo; as bactérias liberam substâncias chamadas de endotoxinas, que podem iniciar
a inflamação. Traumas físicos, queimaduras, radiações e congelamento podem danificar os tecidos e
causar inflamação, como também os produtos químicos corrosivos, ácidos, álcalis e agentes oxidantes.

Conforme mencionado, as respostas imunológicas com defeito podem incitar a uma resposta
inflamatória inadequada e prejudicial. A inflamação também pode acontecer quando os tecidos morrem
por falta de oxigênio ou nutrientes, uma situação que muitas vezes é causada pela perda de fluxo
sanguíneo para a área danificada.

O processo inflamatório costuma desencadear os seguintes sinais ou sintomas: vermelhidão


(rubor), calor, febre, inchaço (tumor) e dor. A vermelhidão é causada pela dilatação de pequenos
13
Unidade I

vasos sanguíneos na área da lesão. O calor resulta do aumento do fluxo sanguíneo por meio da
área e é experimentado apenas em partes periféricas do corpo, como a pele. A febre é provocada
por mediadores químicos da inflamação e contribui para o aumento da temperatura na lesão. O
inchaço, chamado edema, é causado principalmente pela acumulação de fluido fora dos vasos
sanguíneos. A dor associada à inflamação resulta, em partes, pela compressão dos tecidos causada
por edema e também é induzida por certos mediadores químicos da inflamação, como bradicinina,
serotonina e prostaglandina.

1.1.1 Inflamação aguda

A lesão tecidual desencadeia, inicialmente, vasoconstrição dos vasos sanguíneos pequenos


na área danificada. Seguindo esse evento transitório, que se acredita ser de pouca importância
para a resposta inflamatória, os vasos sanguíneos se dilatam (vasodilatação), aumentando o fluxo
sanguíneo para a área. A vasodilatação pode durar de 15 minutos a várias horas. Em seguida,
as paredes dos vasos sanguíneos, que normalmente permitem que apenas água e sais passem
facilmente, tornam-se mais permeáveis. O líquido rico em proteínas, chamado exsudado, agora é
capaz de sair dos vasos para os tecidos. As substâncias no exsudado incluem fatores de coagulação
e anticorpos que ajudam a prevenir a propagação de agentes infecciosos em todo o corpo. À
medida que fluidos e outras substâncias saem dos vasos sanguíneos, o fluxo sanguíneo torna-se
mais lento, e os glóbulos brancos migram do centro do vaso para mais perto da parede do vaso. As
células brancas do sangue aderem à parede do vaso sanguíneo. A característica mais importante
da inflamação é a acumulação de glóbulos brancos no local da lesão. A maioria dessas células são
fagócitos, certos leucócitos que atacam bactérias e outras partículas estranhas, limpando detritos
celulares causados ​​pela lesão.

Os principais fagócitos envolvidos na inflamação aguda são os neutrófilos, um tipo de glóbulo branco
que contém grânulos de enzimas e proteínas destruidoras de células. Quando os danos nos tecidos são
leves, um suprimento adequado dessas células pode ser obtido daqueles que já circulam no sangue.
Mas, quando o dano é extenso, as reservas de neutrófilos – algumas na forma imatura – são liberadas
da medula óssea, onde são produzidos.

Para realizar suas tarefas, não só os neutrófilos devem sair através da parede dos vasos sanguíneos,
mas também se mover ativamente do vaso sanguíneo em direção à área de danos nos tecidos. Esse
movimento é possível por substâncias químicas que se difundem na área de danos nos tecidos e criam
um gradiente de concentração seguido pelos neutrófilos. As substâncias que criam o gradiente são
chamadas de fatores quimiotáticos, e a migração unidirecional das células ao longo do gradiente é
chamada de quimiotaxia.

Um grande número de neutrófilos atinge o local da lesão primeiro, às vezes dentro de uma hora
após a lesão ou a infecção. Após os neutrófilos, muitas vezes de 24 a 28 horas após a inflamação
começar, vem outro grupo de glóbulos brancos, os monócitos, que eventualmente amadurecem em
macrófagos e auxiliam no ataque aos agentes infecciosos. Os macrófagos geralmente se tornam
mais prevalentes no local da lesão somente dias ou semanas depois e são uma característica
celular da inflamação crônica.
14
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

Embora a lesão seja o agente desencadeador da resposta inflamatória, os fatores químicos liberados
após essa estimulação provocam as mudanças vasculares e celulares descritas anteriormente. Os
produtos químicos originam-se principalmente de plasma sanguíneo, glóbulos brancos (basófilos,
neutrófilos, monócitos e macrófagos), plaquetas, mastócitos, células endoteliais que revestem os vasos
sanguíneos e células do tecido danificadas. Um dos mediadores químicos mais conhecidos liberados das
células durante a inflamação é a histamina, que desencadeia vasodilatação e aumenta a permeabilidade
vascular. Armazenada em grânulos de basófilos circulantes e mastócitos, a histamina é liberada
imediatamente quando essas células estão lesadas ou estimuladas. Outras substâncias envolvidas
no aumento da permeabilidade vascular são os compostos lisosomáticos, que são liberados a partir
de neutrófilos. Muitas citocinas secretadas por células envolvidas na inflamação também possuem
propriedades vasoativas e quimiotáticas.

As prostaglandinas são um grupo de ácidos graxos produzidos por vários tipos de células. Algumas
prostaglandinas aumentam os efeitos de outras substâncias que promovem a permeabilidade vascular.
Outros afetam a agregação de plaquetas, que faz parte do processo de coagulação. As prostaglandinas
estão associadas à dor e à febre da inflamação. Os fármacos anti-inflamatórios, como a aspirina, são
eficazes em parte porque inibem uma enzima envolvida na síntese de prostaglandinas. As prostaglandinas
são sintetizadas a partir de ácido araquidônico, assim como os leucotrienos, outro grupo de mediadores
químicos que possuem propriedades vasoativas.

O plasma contém quatro sistemas inter-relacionados – sistema complemento, cininas, fatores


de coagulação e sistema fibrinolítico – que geram vários mediadores da inflamação. As proteínas
do complemento ativado servem como fatores quimiotáticos para os neutrófilos, aumentam a
permeabilidade vascular e estimulam a liberação de histamina dos mastócitos. Eles também aderem à
superfície das bactérias, tornando-os mais susceptíveis para a ação dos fagócitos. O sistema cinina, que
é ativado pelo fator de coagulação XII, produz substâncias que aumentam a permeabilidade vascular.
A mais importante das cininas é a bradicinina, que é responsável por grande parte da dor e prurido
experimentados com a inflamação. O sistema de coagulação converte o fibrinogênio em fibrina, que
é um componente importante do exsudado fluido. O sistema fibrinolítico contribui para a inflamação
principalmente por meio da formação de plasmina, que fragmenta a fibrina em produtos que afetam a
permeabilidade vascular.

Uma vez que a inflamação aguda tenha se iniciado, concomitantemente, começam os processos de
recuperação tecidual. Esses processos incluem cicatrização e reparação, supuração e inflamação crônica.
O resultado depende do tipo de tecido envolvido e da quantidade de destruição de tecido, que, por sua
vez, está relacionada à causa da lesão.

Durante o processo de cicatrização, as células danificadas são capazes de se regenerar. Diferentes


tipos de células variam em sua capacidade de regeneração. Algumas células, como as células epiteliais,
se regeneram facilmente, enquanto outras, como as células do fígado, geralmente não proliferam, mas
podem ser estimuladas a fazê-lo depois que o dano ocorreu. Outros tipos de células são incapazes de
regeneração. Para que a regeneração seja bem-sucedida, também é necessário que a estrutura do tecido
seja simples o suficiente para se reconstruir. Por exemplo, estruturas simples, como a superfície plana
da pele, são fáceis de reconstruir, mas a arquitetura complexa de uma glândula não é. Em alguns casos,
15
Unidade I

a falta de replicação do quadro original de um órgão pode levar à doença. Esse é o caso da cirrose do
fígado, na qual a regeneração de tecido danificado resulta na construção de estruturas anormais que
podem levar à hemorragia e à morte.

O reparo – que ocorre quando o dano tecidual é substancial ou a arquitetura normal do tecido não
pode ser regenerada com sucesso – resulta na formação de uma cicatriz fibrosa. Por meio do processo de
reparo, as células endoteliais dão origem a novos vasos sanguíneos, e as células chamadas fibroblastos
crescem para formar uma estrutura solta de tecido conjuntivo. Esse tecido conectivo vascularizado
delicado é chamado de tecido de granulação. Deriva seu nome das pequenas áreas granulares vermelhas
que são vistas no tecido cicatricial (por exemplo, a pele abaixo de uma costela). À medida que o reparo
avança, os novos vasos sanguíneos estabelecem a circulação sanguínea na área de cicatrização, e os
fibroblastos produzem colágeno que confere força mecânica ao tecido em crescimento. Eventualmente,
uma cicatriz que consiste quase completamente em colágeno densamente embalado é formada. O
volume de tecido cicatricial é geralmente menor do que o tecido que substitui, o que pode fazer com
que um órgão se contraia e se distorça. Por exemplo, a cicatrização dos intestinos pode fazer com que a
estrutura tubular se obstrua pelo estreitamento. Os casos mais dramáticos de cicatrização ocorrem em
resposta a queimaduras ou traumatismos graves.

O processo de formação de pus, chamado supuração, ocorre quando o agente que provocou a
inflamação é difícil de eliminar. Pus é um líquido viscoso que consiste principalmente em neutrófilos
mortos e moribundos e bactérias, detritos celulares e líquidos dos vasos sanguíneos. A causa mais
comum de supuração é a infecção com bactérias piogênicas (produtoras de pus), como Staphylococcus
e Streptococcus. Uma vez que o pus começa a se acumular em um tecido, ele se torna cercado por
uma membrana, dando origem a uma estrutura chamada abscesso. Como um abscesso é praticamente
inacessível para anticorpos e antibióticos, é muito difícil de tratar. Às vezes, é necessária uma incisão
cirúrgica para drená-lo e eliminá-lo. Alguns abcessos, como fervas, podem explodir por vontade própria.
A cavidade do abscesso então colapsa, e o tecido é substituído por meio do processo de reparo.

Cascata de inflamação
Membrana celular fosfolipídica
Fosfolipase A2 (enzima que, quando ativada
por um estímulo lesivo, libera o ác. aracdônico
da membrana celular para o citoplasma)
Estímulo lesivo Ác. Araquidônico
Ciclooxigenase (COX-1 e COX-2): enzimas
que vão transformar o ác. araquidônico nos
mediadores inflamatórios
Mediadores inflamatórios (endoperóxidos)

Prostaciclina Prostaglandinas Tromboxano


(Vasodilatação (sensibilidade exagerada à dor, febre, (Agregação
e inibição da vasodilatação, inibição da agregação plaquetária e
agregação plaquetária, inibição da secreção de ác. gástrico, vasoconstrição)
plaquetária) aumento da secreção gástrica de muco)

Figura 1 – Descrição do processo inflamatório e seus mediadores químicos

16
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

1.1.2 Inflamação crônica

Se o agente que causa uma inflamação não pode ser eliminado, ou se há alguma interferência com
o processo de cicatrização, uma resposta inflamatória aguda pode progredir para o estágio crônico.
Episódios repetidos de inflamação aguda também podem dar origem à inflamação crônica. A extensão
física, a duração e os efeitos da inflamação crônica variam com a causa da lesão e a capacidade do corpo
para melhorar o dano.

Em alguns casos, a inflamação crônica não é uma sequela de inflamação aguda, mas uma
resposta independente. Algumas das doenças humanas mais comuns e incapacitantes, como
tuberculose, artrite reumatoide e doença pulmonar crônica, são caracterizadas por esse tipo de
inflamação. A inflamação crônica pode ser provocada por organismos infecciosos capazes de
resistir às defesas do hospedeiro e persistir nos tecidos por um longo período. Esses organismos
incluem Mycobacterium tuberculosis (agente causador da tuberculose), fungos, protozoários e
parasitas metazoários. Outros agentes inflamatórios são materiais estranhos ao corpo que não
podem ser removidos por fagocitose ou degradação enzimática. Estes incluem substâncias que
podem ser inaladas, como poeira de sílica, e materiais que podem entrar em feridas, tais como
estilhaços de metal ou madeira.

Nas reações autoimunes, o estímulo à inflamação crônica é um componente normal do corpo ao qual
o sistema imune se tornou sensibilizado. As reações autoimunes dão origem a doenças inflamatórias
crônicas, como a artrite reumatoide.

A característica da inflamação crônica é a infiltração do local do tecido por macrófagos,


linfócitos e células plasmáticas (linfócitos B produtores de anticorpos maduros). Essas células
são recrutadas a partir da circulação pela liberação constante de fatores quimiotáticos. Os
macrófagos são as principais células envolvidas na inflamação crônica e produzem muitos
efeitos que contribuem para a progressão do dano tecidual e para o comprometimento funcional
consequente. A inflamação granulomatosa é um tipo distinto de inflamação crônica. É marcada pela
formação de granulomas, que são pequenas coleções de macrófagos modificados denominados
células epitelioides, e geralmente são cercados por linfócitos. Os granulomas geralmente contêm
células gigantes, ou Langhans, que se formam a partir da coalescência das células epitelioides.
Um exemplo clássico de inflamação granulomatosa é a tuberculose, e os granulomas formados
são chamados tubérculos. Os granulomas também são tipicamente provenientes de infecções
fúngicas e estão presentes na esquistossomose, sífilis e artrite reumatoide.

Lembrete
A inflamação é parte da resposta biológica complexa dos tecidos
corporais aos estímulos prejudiciais – como patógenos, células
danificadas ou irritantes – e envolve células imunes, vasos sanguíneos
e mediadores moleculares.

17
Unidade I

1.2 Analgésicos

Um fármaco analgésico é qualquer membro do grupo de drogas usado para alcançar


analgesia, ou seja, alívio da dor. Os fármacos analgésicos atuam de várias maneiras nos sistemas
nervoso periférico e central. Eles são distintos dos anestésicos, que afetam temporariamente e,
em alguns casos, eliminam completamente a sensação. Os analgésicos incluem o paracetamol,
conhecido na América do Norte como acetaminofeno, ou simplesmente APAP, os anti-
inflamatórios não esteroides (AINEs), tais como os salicilatos, e os medicamentos opioides,
como a morfina e a oxicodona.

A escolha do analgésico a ser utilizado no tratamento deve levar em consideração o caso de


gravidade e a resposta a outros medicamentos. A escolha analgésica também é determinada pelo tipo
de dor; para a dor neuropática, por exemplo, os analgésicos tradicionais são menos efetivos e, muitas
vezes, se beneficiam das classes de medicamentos que normalmente não são considerados analgésicos,
como antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes.

Saiba mais
Mais informações sobre os analgésicos não esteroidais podem ser
obtidas no seguinte artigo:
FIGUEIREDO, W. L. M.; ALVES, T. C. A. Uso dos anti-inflamatórios
não esteroides no controle da dor aguda: revisão sistemática. Revista
Neurociência. 2015. Disponível em: <http://www.revistaneurociencias.com.
br/edicoes/2015/2303/revisao/1070revisao.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2017.

1.3 Antipiréticos

Fármacos antipiréticos são substâncias que reduzem a febre. Os antipiréticos fazem com que o
hipotálamo não aumente a temperatura corpórea em resposta à presença da prostaglandina. O
corpo então trabalha para diminuir a temperatura, o que resulta em redução da febre. A maioria dos
medicamentos antipiréticos tem outros propósitos. Os antipiréticos mais comuns nos Estados Unidos
são ibuprofeno e aspirina, que são anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) usados principalmente
como analgésicos, mas que também possuem propriedades antipiréticas, e paracetamol, um analgésico
com propriedades anti-inflamatórias fracas.

Há algum debate sobre o uso adequado de tais medicamentos, pois a febre é parte da resposta
imune do organismo à infecção. Um estudo publicado pela Royal Society alega que a supressão da febre
causa pelo menos 1% mais casos de morte por gripe, o que resultaria em pelo menos 700 mortes extras
por ano apenas nos Estados Unidos.

18
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

Lembrete

A febre desempenha um papel significativo como mecanismo


de defesa contra a infecção. A subida de temperatura é uma forma de
o organismo se defender contra as infecções, pois pode anular os
microorganismos causadores da infecção, que são frágeis às alterações
de temperatura. Vários processos envolvidos no combate à infecção por
parte do nosso organismo têm maior atividade a uma temperatura acima
da normal.

1.4 Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)

Os AINEs são um grupo de fármacos quimicamente heterogêneos que se diferenciam na sua


atividade antipirética, analgésica e anti-inflamatória. Eles atuam principalmente inibindo as enzimas
ciclo-oxigenases (COX) que catalisam o primeiro estágio da biossíntese de prostaglandinas. Essa
inibição leva à redução da síntese de prostaglandinas, que pode ter um efeito benéfico na diminuição
dos sintomas inflamatórios e indesejados no sistema cardiovascular, como risco potencial grave de
trombose, infarto do miocárdio e derrame. No organismo humano, estão descritos dois tipos de COXs:
tipo 1 e tipo 2. A COX-1 é encontrada principalmente durante o processo inflamatório, e a COX-2
é encontrada em muitos tecidos constitutivos, como nas células parietais do estômago. A seguir, os
principais agentes AINEs:

• Ácido acetilsalicílico (AAS): o AAs é o protótipo dos AINEs tradicionais e aprovado nos Estados
Unidos desde 1939.

— Mecanismo de ação: atua na acetilação irreversível, inativando a COX. A metabolização


do AAS leva à formação do ácido salicílico, que possui ação anti-inflamatória, antipirética e
analgésica. Os efeitos antipiréticos e anti-inflamatórios dos salicilatos são devidos ao bloqueio
da síntese de prostaglandinas no centro termorregulador do hipotálamo e nos sítios-alvo da
periferia. Além disso, os salicilatos também evitam a sensibilização dos nociceptores (receptores
relacionados ao estímulo doloroso).

— Indicação: os derivados do ácido acetilsalicílico são utilizados no tratamento da gota, febre


reumatoide, osteoartrite e artrite reumatoide. Esses fármacos também são usados para tratar
condições comuns que requerem analgesia (cefaleia, artralgia e mialgia) devido aos seus efeitos
anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos. O AAS é utilizado topicamente no tratamento
de acne, calosidades, calos ósseos e verrugas. Outra utilização desse fármaco é na inibição da
aglutinação plaquetária. Assim, doses baixas do AAS são empregadas profilaticamente para
reduzir o risco de ataques isquêmicos transitórios, acidentes vasculares encefálicos, infartos
do miocárdio recorrente e os riscos cardiovasculares em pacientes submetidos a certos
procedimentos de revascularização.

19
Unidade I

— Efeitos adversos: o AAS pode desencadear inúmeras reações adversas, entre elas no trato
gastrointestinal, com irritação epigástrica, náuseas, êmese e sangramento; no sistema
circulatório, pode provocar sangramentos e, por isso, deve ser descontinuado uma semana
antes de procedimentos cirúrgicos; atua no sistema respiratório e nervoso e pode provocar
depressão respiratória, acidose respiratória e metabólica.

• Derivados do ácido propiônico: nesta categoria encontram-se os fármacos ibuprofeno,


naproxeno, fenoprofeno e cetoprofeno.

— Mecanismo de ação: todos esses fármacos possuem atividade anti-inflamatória, analgésica e


antipirética. São inibidores reversíveis da COX-1 e COX-2 e inibem a síntese de prostaglandinas,
mas não a síntese de leucotrieno.

— Indicação: eles possuem grande aceitação no tratamento da artrite reumatoide e osteoartrite,


pois seus efeitos no trato gastrointestinal são menos intensos do que os efeitos do AAS.

— Efeitos adversos: os mais comuns são cefaleia, zumbidos e tonturas.

• Derivados do ácido acético: nesta classe estão incluídos a indometacina, o sulindaco e o etodolaco.

— Mecanismo de ação: atuam na inibição reversível da COX-1 e COX-2 e apresentam ação


anti‑inflamatória, analgésica e antipirética.

— Indicação: apesar da sua potência como anti-inflamatório, a toxicidade da indometacina


limita seu uso ao tratamento da artrite gotosa aguda, para o fechamento do ducto arterioso
patente em neonatos, da espondilite anquilosante e da osteoartrite de quadril. O sulindaco é
um pró-farmaco relacionado à indometacina e apresenta as mesmas indicações, e o etodolaco
tem as mesmas indicações que os derivados do ácido propiônico.

— Efeitos adversos: apresentam os mesmos efeitos adversos que os outros AINEs já descritos.

• Derivados do oxicam: nessa família tem-se o piroxicam e o meloxicam.

— Mecanismo de ação: agem inibindo a COX-1 e COX-2, porém apresentam preferência


pela COX-2.

— Indicação: são utilizados no tratamento da artrite reumatoide, da espondilite anquilosante e


da osteoartrite. Por apresentarem meia-vida longa, podem ser administrados uma vez ao dia.

— Efeitos adversos: 20% dos pacientes tratados com piroxicam apresentam distúrbios
gastrointestinais. Já o tratamento com meloxicam a baixas doses não afeta o trato digestório.

20
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

• Fenamatos: encontram-se nesta categoria o ácido mefenâmico e o meclofenamato.

— Mecanismo de ação: são inibidores não seletivos da COX, portanto, apresentam os mesmos
efeitos dos outros AINEs não seletivos.

— Indicação: inflamações crônicas.

— Efeitos adversos: seus efeitos adversos mais comuns são diarreia, inflamação intestinal e
anemia hemolítica.

• Derivados do ácido heteroarila acético: diclofenaco e cetorolaco são exemplos de fármacos


desta classe.

— Mecanismo de ação: são potentes inibidores não seletivos da COX. O diclofenaco é um


potente anti-inflamatório com ação analgésica e antipirética (efeito moderado); já o cetorolaco
apresenta efeito anti-inflamatório moderado, mas é um potente analgésico.

— Indicação: o diclofenaco é indicado para o tratamento da artrite reumatoide, osteoartrite


e espondilite anquilosante; já o cetorolaco é indicado para dor pós-cirúrgica e conjuntivite
alérgica, além de alívio para dor moderada a intensa.

— Efeitos adversos: úlcera péptica, sangramentos do trato digestório e perfuração do estômago


e intestino. Deve-se evitar o uso em pacientes pediátricos.

• Inibidores seletivos da COX-2: os principais fármacos desta categoria são a nimesulida, o


celecoxibe e o etoricoxibe.

— Mecanismo de ação: estes fármacos apresentam maior afinidade para inibição do COX-
2, o que lhes confere vantagens terapêuticas em relação aos demais AINEs. Apresentam
eficácia similiar aos AINEs, porém apresentam menos riscos cardiovasculares e distúrbios
gastrointestinais, como sangramento.

— Indicação: estão aprovados para o uso no tratamento da polipose adenomatosa, artrite


reumatoide, osteoartrite e dor de aguda a moderada.

— Efeitos adversos: cefaleia, dispepsia, diarreia e dor abdominal são os efeitos adversos mais
comuns. Deve ser evitado o uso em pacientes com insuficiência renal crônica, doença cardíaca
grave e insuficiência hepática.

• Paracetamol

— Mecanismo de ação: o paracetamol inibe a síntese de prostaglandina no sistema nervoso


central. Isso explica suas propriedades antipiréticas e analgésicas. Apresenta pouca atividade
pelas COXs nos tecidos periféricos, o que contribui para seu fraco efeito anti-inflamatório. O
paracetamol não afeta os componentes sanguíneos e não é considerado AINE.
21
Unidade I

— Indicação: pode ser um substituto para os efeitos analgésicos e antitérmicos do AAS nos
pacientes com problemas gástricos. Por ser um moderado analgésico e antipirético, é o fármaco
de escolha para tratamento por infecções virais ou varicela em crianças. Não interage com os
medicamentos utilizados no tratamento da gota, como os AINEs fazem.

— Efeitos adversos: é um fármaco relativamente seguro nas doses terapêuticas, mas, raramente,
podem acontecer eritema cutâneo e reações alérgicas. Em altas doses, pode ocorrer necrose
tubular renal grave. Também pode desencadear necrose hepática nessas condições. Em casos de
intoxicações hepáticas por paracetamol, é recomendado o uso de acetilcisteína. Em pacientes
que precisam ser tratados com altas doses de paracetamol, faz-se necessário o monitoramento
periódico das enzimas hepáticas no sangue.

Saiba mais

Para saber mais sobre os AINEs, consulte o artigo:

MONTEIRO, E. C. A. et. al. Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs).


Temas de Reumatologia. 2008. Disponível em: <http://www.gruponitro.
com.br/atendimento-a-profissionais/%23/pdfs/artigos/antiinflamatorios/
aines.pdf>. Acesso em: 20 out. 2017.

1.5 Anti-inflamatórios esteroidais (AIEs)

Os AIEs são uma classe de corticosteroides derivados de hormônios esteroides. Os corticoides


fazem parte do mecanismo de feedback no sistema imunológico, que diminui certos aspectos
da função imune, como a redução da inflamação. Eles são, portanto, utilizados em medicina
para tratar doenças causadas por um sistema imune hiperativo, como alergias, asma, doenças
autoimunes e sepse. Os AIEs têm diversos efeitos (pleiotrópicos), incluindo efeitos colaterais
potencialmente nocivos e, como resultado, raramente são vendidos no balcão das farmácias. Eles
também interferem com alguns dos mecanismos anormais em células cancerígenas, sendo usados​​
em altas doses para tratar câncer. Isso inclui efeitos inibitórios sobre a proliferação de linfócitos,
como no tratamento de linfomas, leucemias e na mitigação dos efeitos colaterais de drogas
anticancerígenas. Os AIEs afetam células por ligação ao receptor de glicocorticoide. O complexo de
GR ativado, por sua vez, regula a expressão de proteínas anti-inflamatórias no núcleo (um processo
conhecido como transativação) e reprime a expressão de proteínas pró-inflamatórias no citossol,
evitando a translocação de outros fatores de transcrição do citosol para o núcleo.

Os corticoides são distinguidos dos mineralocorticoides e esteroides sexuais por seus receptores
específicos, células-alvo e efeitos. Em termos técnicos, o corticosteroide refere-se tanto aos
glicocorticoides como aos mineralocorticoides (uma vez que ambos são imitadores de hormônios
produzidos pelo córtex adrenal), mas é frequentemente usado como sinônimo de glicocorticoide.
Os glicocorticoides são produzidos principalmente na zona fasciculata do córtex adrenal, enquanto
22
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

os mineralocorticoides são sintetizados na zona glomerulosa. O cortisol (ou hidrocortisona) é o


glicocorticoide humano mais importante. É essencial para a vida e regula ou suporta uma variedade
de funções cardiovasculares, metabólicas, imunológicas e homeostáticas importantes. Vários
glicocorticoides sintéticos estão disponíveis, eles são amplamente utilizados na prática médica geral e
em inúmeras especialidades, quer como terapia de reposição na deficiência de glicocorticoide ou para
suprimir o sistema imunológico.

Os glucocorticoides são potentes anti-inflamatórios, independentemente da causa da


inflamação. O mecanismo anti-inflamatório primário é a síntese de lipocortina-1 (anexina-1).
A lipoportina-1 suprime a fosfolipase A2, bloqueando a produção de eicosanoides e inibindo
vários eventos inflamatórios de leucócitos (adesão epitelial, emigração, quimiotaxia, fagocitose,
explosão respiratória etc.). Em outras palavras, os glicocorticoides não só reprimem a resposta
imune, como também inibem os dois principais produtos de inflamação, prostaglandinas e
leucotrienos. Eles inibem a síntese de prostaglandinas ao nível da fosfolipase A2, bem como ao
nível da ciclooxigenase / PGE isomerase (COX-1 e COX-2), sendo o último efeito semelhante
aos dos AINEs, potenciando o efeito anti-inflamatório. Além disso, os glucocorticoides também
reprimem a expressão da ciclooxigenase.

Fosfolipídios de
membrana
Anti-inflamatórios
esteroidais Fosfolipase A2
prednisona,
dexametasona
Ácido
araquidônico
Anti-inflamatórios
não esteroidais
indometacina,
aspirina,
rofecoxib

Prostaglandinas Tromboxano

Figura 2 – Síntese de prostaglandinas e tromboxano a partir do ácido araquidônico e locais


de ação dos anti-inflamatórios esteroidais e não esteroidais

Os AIEs comercializados como anti-inflamatórios são muitas vezes formulações tópicas, tais
como pulverizações nasais para rinite ou inaladores para asma. Esses preparativos têm a vantagem
de afetar apenas a área visada, reduzindo assim os efeitos colaterais ou potenciais interações.
Neste caso, os principais compostos utilizados são beclometasona, budesonida, fluticasona,
mometasona e ciclesonida. Na rinite, são utilizados sprays. Para a asma, os glicocorticoides são
administrados como inalantes, com um inalador de pó com dose medida ou com pó seco. A seguir,
os principais fármacos utiizados como AIEs:

23
Unidade I

Tabela 1 – Classificação dos fármacos anti-inflamatórios esteroidais

Nome Potencial como AIEs Ação mineralocorticoide Meia-vida (h)


Hidrocortisona 1 1 8
Cortisona 0,8 0,8 8
Prednisona 4 0,8 16-36
Dexametasona 80 0 36-54
Betametasona 30 0 36-54
Fluticortisona 15 200 -

1.5.1 Efeitos adversos

Os AIEs atualmente utilizados atuam de forma não seletiva, de modo que, a longo prazo, podem
prejudicar muitos processos anabolizantes saudáveis. Para evitar isso, muitas pesquisas foram
focadas recentemente na elaboração de medicamentos com glicocorticoides de ação seletiva. Os
efeitos adversos incluem:

• Imunodeficiência.

• Hiperglicemia devido ao aumento da gliconeogênese, resistência à insulina e tolerância à glicose


(“diabetes esteroide”); atenção em pacientes com diabetes mellitus.

• Maior fragilidade da pele e contusões fáceis.

• Balanço de cálcio negativo devido à redução da absorção intestinal de cálcio.

• Osteoporose induzida por esteroides (redução da densidade óssea, osteoporose, osteonecrose,


maior risco de fratura e reparação mais fraca da fratura).

• Ganho de peso devido ao aumento da deposição de gordura visceral e truncal (obesidade central)
e estimulação do apetite.

• Hipercortisolemia com uso prolongado ou excessivo (também conhecida como síndrome de


Cushing exógena).

• Diminuição da memória e déficit de atenção.

• Insuficiência adrenal (se usada por muito tempo e parou de repente).

• Destruição de músculo e tendão (proteólise), fraqueza, massa muscular reduzida e redução na


reparação tecidual.

• Lipomatose dentro do espaço peridural.

24
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

• Efeito excitador no sistema nervoso central (euforia e psicose).

• Anovulação e irregularidade dos períodos menstruais.

• Falha no crescimento e puberdade tardia.

• Aumento dos aminoácidos plasmáticos, aumento da formação de ureia e balanço de nitrogênio


negativo.

• Glaucoma devido ao aumento da pressão ocular.

Em doses elevadas, a hidrocortisona (cortisol) e os glicocorticoides com potência mineralocorticoide


apreciável também podem exercer um efeito mineralocorticoide. Os efeitos de mineralocorticoides
podem incluir retenção de sal e água, expansão do volume de fluido extracelular, hipertensão, depleção
de potássio e alcalose metabólica.

2 FÁRMACOS QUE ATUAM NO TRATO RESPIRATÓRIO

As principais doenças que afetam o trato respiratório são a asma, a rinite alérgica e a doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Cada uma dessas condições pode estar associada à tosse
incoercível, que pode ser a única queixa do paciente. A asma é uma doença crônica caracterizada por
vias aéreas hiper‑responsivas, que afetam milhões de pacientes (7% da população brasileira), resultando
anualmente em 1 milhão de atendimentos de emergência, 150 mil hospitalizações e 3 mil mortes. A
DPOC, que inclui enfisema e bronquite crônica, pode afetar mais de 12 milhões de pessoas no Brasil.
A rinite alérgica, caracterizada por olhos lacrimejantes, prurido, rinorreia e tosse não produtiva, é uma
condição extremamente comum que, segundo os pacientes, diminui a qualidade de vida. A tosse é uma
defesa respiratória importante contra os agentes irritantes e é citada como a principal razão pela qual
os pacientes procuram cuidados médicos. A tosse coercível pode representar diversas etiologias, como
resfriado, sinusite ou doença respiratória crônica subjacente.

2.1 Antiasmáticos

2.1.1 Asma

A asma é uma doença das vias aéreas caracterizada por episódios de broncoconstrição aguda,
causando encurtamento da respiração, tosse, tensão torácica, respiração ruidosa e rápida. Esses sintomas
agudos podem ser resolvidos espontaneamente, com exercícios de relaxamento não farmacológico
ou com fármacos de “alívio rápido”, como um agonista beta-2 adrenérgico de ação curta. A asma,
diferentemente da bronquite crônica, fibrose cística ou bronquiectasia, não é uma doença progressiva
(ou seja, não evolui para a degradação das vias aéreas inevitavelmente). A asma é uma doença crônica
com fisiopatologia inflamatória subjacente, que, se não tratada, pode evoluir para remodelação das
vias aéreas, resultando em agravamento e incidência de exacerbações e/ou morte. Mortes decorrentes
de asma são relativamente infrequentes, mas a morbidade significativa resulta em altos custos de
atendimento e ambulatorial, numerosas hospitalizações e redução na qualidade de vida.
25
Unidade I

O tratamento da asma consiste em dois objetivos: redução do agravamento e redução do risco.


A redução do agravamento significa diminuir a intensidade, a frequência dos sintomas e o grau de
limitações que o paciente apresenta devido a esses sintomas. A redução do risco significa diminuir os
resultados adversos associados à asma e ao seu tratamento.

A obstrução do fluxo aéreo na asma resulta em broncoconstrição por contração de músculos lisos
brônquicos, inflamação da parede brônquica e aumento na secreção de muco. As crises de asma podem
estar relacionadas a uma exposição recente a alérgenos ou irritantes inalados, levando à hiperatividade
brônquica e à inflamação da mucosa das vias aéreas. Os sintomas da asma podem ser tratados
efetivamente com vários fármacos, mas nenhum deles promove a cura.

Trato respiratório superior

Cavidade nasal

Faringe

Laringe

Trato respiratório inferior

Traqueia

Brônquio principal

Pulmão

Figura 3 – Trato respiratório

2.1.2 Fármacos utilizados no tratamento da asma

Os fármacos utilizados no tratamento das doenças respiratórias podem ser aplicados


topicamente na mucosa nasal, inalados ou administrados por via oral ou parenteral para a
absorção sistêmica. Os métodos de aplicação local, como nebulizadores ou inaladores, são os
preferidos, pois o fármaco atinge o tecido-alvo e minimiza os riscos sistêmicos. Os objetivos do
tratamento da asma são diminuir a intensidade e a frequência dos sintomas e o grau de limitações
que o paciente apresenta devido a esses sintomas. Todos os pacientes necessitam de medicação
de alívio rápido para tratar de sintomas agudos.

O tratamento farmacológico para controle de longo prazo objetiva reverter e prevenir a inflamação
das vias aéreas.

26
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

As principais classes terapêuticas estão listadas a seguir:

• Modificadores de leucotrieno: os principais fármacos desta categoria são o montelucaste


e o zafirlucaste. Os leucotrienos são produzidos a partir do ácido araquidônico pela via da
5-lipoxigenase e parte da cascata inflamatória. Os leucotrienos atuam no recrutamento dos
eosinófilos e neutrófilos, além de gerar a contração dos músculos lisos dos bronquíolos, aumentar
a permeabilidade endotelial e promover a secreção de muco.

— Mecanismo de ação: o montelucaste e o zafirlucaste atuam como antagonistas seletivos do


receptor de leucotrieno.

— Indicação: esses fármacos são aprovados para prevenir os sintomas da asma. Eles não devem
ser utilizados em situações em que é necessária a broncodilatação imediata. Os antagonistas
de leucotrieno também podem atuar na prevenção do broncoespasmo induzido pelo exercício.

— Efeitos adversos: ocorre elevação das enzimas hepáticas, exigindo monitorização periódica e
interrupção do tratamento se houver aumento de mais que três vezes dos valores normais das
enzimas hepáticas no soro. Outros efeitos incluem cefaleia e dispepsia.

• Cromolina

— Mecanismo de ação: é um anti-inflamatório profilático que inibe a desgranulação e a liberação


de histaminas dos mastócitos.

— Indicação: é um tratamento alternativo contra a asma leve persistente. Contudo, não é útil no
manejo dos ataques agudos da asma, pois não é broncodilatador.

— Efeitos adversos: são mínimos, mas podem surgir tosse, irritação e gosto desagradável.

• Antagonistas colinérgicos: são exemplos de fármacos utilizados nesta classe o ipratrópio e o


tiotrópio.

— Mecanismo de ação: os anticolinérgicos bloqueiam a contração dos músculos lisos das vias
aéreas e a secreção de muco mediadas pelo nervo vago.

— Indicação: são indicados para pacientes que possuem baixa tolerância a outros
broncodilatadores durante os episódios de asma. Oferecem vantagens terapêuticas sobre os
demais broncodilatadores durante o tratamento de crises agudas de asma em emergências.

— Efeitos adversos: xerostalmia e gosto amargo. Esses efeitos estão relacionados a efeitos locais.

• Teofilina

— Mecanismo de ação: a teofilina é um broncodilatador que promove o alívio das vias aéreas na asma
crônica. Possui atividade anti-inflamatória, embora o mecanismo ainda não esteja esclarecido.
27
Unidade I

— Indicação: antigamente, a teofilina foi a base do tratamento da asma, sendo amplamente


substituída pelos agonistas adrenérgicos e corticosteroides devido à janela terapêutica estreita.

— Efeitos adversos: os principais efeitos adversos relatados são convulsões e arritmias


potencialmente fatais. Apresenta numerosas interações medicamentosas.

• Omalizumabe

— Mecanismo de ação: este fármaco é um anticorpo monoclonal que se liga seletivamente à


imunoglobulina E (IgE), diminuindo a ligação do IgE ao seu receptor na superfície dos mastócitos
e basófilos. A ligação do omalizumabe ao IgE impede, portanto, a liberação de histamina e de
outros mediadores inflamatórios.

— Indicação: é indicado para o tratamento de asma persistente, de moderada a grave, em


pacientes que são mal controlados com o tratamento convencional.

— Efeitos adversos: seu uso é limitado devido ao alto custo e à administração subcutânea. Os
efeitos adversos mais prevalentes são artralgias e urticárias.

• Beta-2 agonistas adrenérgicos: essa classe terapêutica é divida em fármacos de alívio rápido
e fármacos para controle a longo prazo.

— Alívio rápido (salbutamol e levossalbutamol): os beta-2 agonistas de curta duração (BACAs)


têm rápido início de ação (5 minutos) e proporcionam alívio durante 4 horas.

- Mecanismo de ação: esses fármacos promovem broncodilação significativa com poucos


efeitos indesejáveis de estimulação dos outros receptores adrenérgicos.

- Indicação: os BACAs não têm efeitos anti-inflamatórios, são usados no tratamento


sintomático do broncoespasmo e dão alívio rápido na broncoconstrição aguda. Todos os
pacientes asmáticos devem fazer uso de um BACA.

- Efeitos adversos: taquicardia, hiperglicemia, hippotassemia, hipomagnesemia e tremores


dos músculos esqueléticos.

— Controle a longo prazo (salmeterol e formoterol): são beta-2 agonistas de longa duração (BALAs)
e são parecidos quimicamente com o salbutamol. Promovem broncodilatação por 12 horas.

- Mecanismo de ação: são semelhantes aos BACAs, possuem apenas tempo de meia-vida maior.

- Indicação: não devem ser empregados como monoterapia e nem para alívio rápido durante o
ataque de asma aguda. São considerados úteis como tratamento auxiliar para esse controle.

- Efeitos adversos: são similares aos efeitos adversos dos BACAs.


28
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

• Corticosteroides (CSIs): os CSIs são fármacos de escolha para controle de longo prazo em
pacientes com algum grau de asma persistente. Estão nesta categoria os fármacos prednisolona,
metilprednisolona, prednisona, beclometasona, budesonida, mometasona e fluticasona.

— Mecanismo de ação: os CSIs inibem a liberação de ácido araquidônico por meio da inibição
da fosfolipase A2, produzindo assim efeito anti-inflamatório direto nas vias aéreas. Não afetam
diretamente o músculo liso das vias aéreas, ao contrário, os CSIs inalados visam diretamente à
inflamação subjacente das vias aéreas, diminuindo a cascata inflamatória, revertendo o edema
da mucosa, diminuindo a permeabilidade dos capilares e inibindo a liberação de leucotrienos.
Após algum período de administração, os CSIs diminuem a responsividade das vias aéreas aos
alérgenos, como irritantes, ar frio e exercício.

— Indicação: nenhuma outra medicação é tão eficaz no tratamento da asma crônica em longo
prazo que os CSIs, tanto em crianças como em adultos. Devem ser usados regularmente para
obter a máxima eficácia. A asma grave e persistente pode exigir o uso de glicocorticoides oral.

— Efeitos adversos: candidíase orofarígea e rouquidão. Podem apresentar efeitos sistêmicos


semelhantes a outros CSIs.

Quadro 1 – Resumo dos fármacos que agem no trato respiratório

Medicação Indicação
Agonista beta-2 adrenérgico de ação curta
Levossalbutamol Asma, DPOC
Salbutamol Asma, DPOC
Agonista beta-2 adrenérgico de ação longa
Arformoterol DPOC
Formoterol Asma, DPOC
Indacaterol DPOC
Salmeterol Asma, DPOC
Corticosteroides inalatórios
Beclometasona Rinite alérgica, Asma, DPOC
Budenosida Rinite alérgica, Asma, DPOC
Ciclesonida Rinite alérgica
Fluticasona Rinite alérgica, Asma, DPOC
Mometasona Rinite alérgica, Asma
Triancinolona Rinite alérgica
Associação entre agonista beta-2 de ação longa e corticosteroides
Formoterol + Budenosida Asma, DPOC
Formoterol + Mometasona Asma, DPOC
Salmeterol + Fluticasona Asma, DPOC
Vilanterol + Fluticasona DPOC

29
Unidade I

Anticolinérgico de ação curta


Ipratrópio Rinite alérgica, DPOC
Anticolinérgico de ação longa
Aclidínio DPOC
Tiotrópio DPOC
Modificadores de leucotrienos
Montelucaste Asma, rinite alérgica
Zafirlucaste Asma
Zeleutona Asma
Anti-histamínico
Azelastina Rinite alérgica
Cetirizina Rinite alérgica
Desloratadina Rinite alérgica
Fexofenadina Rinite alérgica
Loratadina Rinite alérgica
Agonista alfa-adrenérgico
Fenilefedrina Rinite alérgica
Oximetazolina Rinite alérgica
Pseudoefedrina Rinite alérgica
Antitussígenos
Benzonatato Supressor de tosse
Codeína Supressor de tosse + expectorante
Dextrometorfano Supressor de tosse
Guainefenesina Supressor de tosse
Outros fármacos
Cromolina Asma, rinite alérgica
Omalizumabe Asma
Roflumilaste DPOC
Teofilina Asma

Fonte: Whalen; Finkel; Panaveli (2016, p. 382).

2.2 Antialérgicos

2.2.1 Rinite alérgica

A rinite alérgica, também conhecida como febre do feno, é um tipo de inflamação no nariz que
ocorre quando o sistema imune reage em excesso aos alérgenos no ar. Sinais e sintomas incluem um
nariz entupido, espirros, olhos vermelhos, pruridos e inchaço ao redor dos olhos. O líquido do nariz
geralmente é claro. O início dos sintomas é geralmente em poucos minutos após a exposição e pode
afetar o sono, a capacidade de trabalhar e a capacidade de se concentrar na escola. Aqueles cujos
sintomas são devidos ao pólen geralmente desenvolvem sintomas durante épocas específicas do ano.
Muitas pessoas com rinite alérgica também têm asma, conjuntivite alérgica ou dermatite atópica.

30
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

A rinite alérgica geralmente é desencadeada por alérgenos ambientais, como pólen, pêlos de animal
de estimação, poeira ou mofo. A genética hereditária e as exposições ambientais contribuem para o
desenvolvimento de alergias. Quando a criança vive em ambiente rural e tem muitos irmãos, o risco
diminui. O mecanismo subjacente envolve anticorpos IgE associados ao alérgeno e causa a liberação
de substâncias químicas inflamatórias, como a histamina dos mastócitos. O diagnóstico geralmente é
baseado em uma história médica em combinação com um teste cutâneo ou exames de sangue para
anticorpos IgE específicos para alérgenos. Esses testes, no entanto, às vezes são falsamente positivos. Os
sintomas das alergias se assemelham aos do resfriado comum, no entanto, eles geralmente duram mais
de duas semanas e tipicamente não incluem febre. Entre as opções de medicamentos para o tratamento
da rinite alérgica estão:

• Anti-histamínicos (fexofenadina, loratadina, desloratadina, cetirizina e azelastina).

— Mecanismo de ação: são antagonistas dos receptores H1 de histamina que estão


constitutivamente distribuídos pelo organismo. Dessa forma, a histamina liberada pelos
mastócitos durante a crise alérgica não produzirá os efeitos histamínicos da inflamação.

— Indicação: os anti-histamínicos são úteis no manejo dos sintomas de rinite alérgica causada
pela liberação de histamina (espirros, rinorreia aquosa e prurido nasal e ocular). Contudo,
são menos eficazes na prevenção dos sintomas do que no tratamento após o aparecimento
dos sintomas. A combinação de anti-histamínicos com descongestionantes nasais tem uma
eficácia maior.

— Efeitos adversos: os efeitos mais comuns são sedação e efeitos anticolinérgicos.

• Corticosteroides intranasais (beclometasona, budesonida, fluticasona, ciclesonida, mometasona


e triancinolona).

— Mecanismo de ação: inibem a liberação de ácido araquidônico por meio da inibição da


fosfolipase A2, produzindo assim efeito anti-inflamatório direto nas vias aéreas.

— Indicação: são os medicamentos mais eficazes no tratamento da rinite alérgica, contudo, há


um período de latência antes que os efeitos terapêuticos sejam notados pelos pacientes.

— Efeitos adversos: a absorção sistêmica deve ser evitada para não apresentar os efeitos adversos
sistêmicos típicos dos corticosteroides, portanto, o paciente deve ser instruído a não aspirar
profundamente as soluções. As principais reações adversas locais são sangramento, irritação e
dor de garganta.

• Agonistas alfa adrenérgicos: são também chamados de descongestionantes nasais e incluem a


fenilefrina e a oximetazolina.

— Mecanismo de ação: os alfas agonistas adrenérgicos atuam na contração das arteríolas


dilatadas na mucosa nasal e na redução da resistência das vias aéreas.
31
Unidade I

— Indicação: são eficazes no tratamento da rinite alérgica. Podem ser classificados como de
longa duração (oximetazolina) ou de curta duração (fenilefrina) e, quando administrados como
aerossol, esses fármacos apresentam um início de ação rápido e poucos efeitos sistêmicos.

— Efeitos adversos: infelizmente, as formulações intranasais de agonistas alfa adrenérgicos não


devem ser usadas por mais de três dias devido ao risco de congestão nasal de rebote (rinite
medicamentosa).

Observação

O tratamento de imunoterapia com alérgenos envolve a administração


de doses de alérgenos para acostumar o corpo a substâncias que são
geralmente inofensivas, como pólen e ácaros do pó doméstico, induzindo
assim uma tolerância específica a longo prazo. A imunoterapia para alergia
pode ser administrada por via oral ou por injeções subcutâneas.

2.3 Antitussígenos

A tosse é um mecanismo de defesa importante do sistema respiratório contra os agentes irritantes


e é uma causa comum para a procura por cuidados médicos. A tosse incoercível tem diversas etiologias,
como resfriado comum, sinusite e/ou doença respiratória crônica subjacente. Em alguns casos, a tosse
pode ser um reflexo de defesa eficaz contra uma infecção bacteriana e não deve ser suprimida. Antes
de combater a tosse, é importante identificar suas causas para assegurar que o tratamento antitussivo
é apropriado. A prioridade sempre é tratar a causa subjacente, quando possível. Há dois tipos de tosse:
a tosse seca e a tosse produtiva. É a presença ou não de muco que estabelece a diferença. Na tosse
produtiva, a secreção se movimenta e é eliminada; na seca, esse catarro parece não existir. É importante
avaliar se a tosse é, realmente, seca ou se a secreção não flui por desidratação ou tratamento incorreto.

O fumo é a principal causa de tosse, porque aumenta o volume de muco produzido pelos brônquios,
causa irritação física e química das mucosas, destrói os cílios que cobrem o revestimento interno
dos brônquios e facilita o acúmulo de material estranho às vias aéreas. Outras causas importantes
são a sinusite, principalmente em crianças, a síndrome do gotejamento pós-nasal, a asma, o refluxo
gastroesofágico, as infecções respiratórias, a bronquite crônica e os medicamentos para controle
da hipertensão. As principais classes terapêuticas utilizadas como antitussígenas são:

• Opioides (codeína e dextrometorfano)

— Mecanismo de ação: a codeína diminui a sensibilidade do centro da tosse no sistema nervoso


central aos estímulos periféricos e diminui a secreção da mucosa. Esse efeito terapêutico ocorre
em dosagens menores do que as necessárias para causar analgesia.

— Indicação: são utilizados para diminuir os reflexos e estímulos da tosse.

32
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

— Efeitos adversos: constipação, disforia e fadiga. A codeína tem poder de causar dependência,
já o dextrometorfano apresenta menor risco de dependência.

• Benzonatato

— Mecanismo de ação: suprime o reflexo da tosse por ação periférica. Age anestesiando os
receptores de estiramento localizados nas passagens respiratórias, nos pulmões e na pleura.

— Indicação: é indicado para alívio de tosse.

— Efeitos adversos: tonturas, dormência da língua, da boca e da garganta.

2.4 Terapêutica da DPOC

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é um tipo de doença pulmonar obstrutiva caracterizada
por fluxo de ar insuficiente a longo prazo. Os principais sintomas incluem falta de ar e tosse com
produção de escarro. A DPOC é uma doença progressiva, o que significa que tipicamente piora ao
longo do tempo. Eventualmente, as atividades diárias, como subir escadas, tornam-se difíceis. Bronquite
crônica e enfisema são termos mais antigos usados para
​​ diferentes tipos de DPOC. O termo bronquite
crônica ainda é usado para definir uma tosse produtiva que está presente há pelo menos três meses por
ano por dois anos.

O tabagismo é a causa mais comum de DPOC, com fatores como poluição do ar e genética
desempenhando um papel menor. A exposição prolongada a estes irritantes fatores provoca uma
resposta inflamatória nos pulmões, resultando no estreitamento das pequenas vias aéreas e na lesão
do tecido pulmonar. O diagnóstico é baseado no fluxo de ar pobre, conforme medido pelos testes de
função pulmonar. Em contraste com a asma, a redução do fluxo de ar não melhora muito com o uso de
um broncodilatador.

A maioria dos casos de DPOC pode ser prevenida por meio da redução da exposição a fatores
de risco. Isso inclui diminuir as taxas de tabagismo e melhorar a qualidade do ar interior e exterior.
Enquanto o tratamento pode retardar a piora, não há cura. Os tratamentos de DPOC incluem
interrupção do tabagismo, vacinações, reabilitação respiratória e, muitas vezes, broncodilatadores
e esteroides inalatórios. Algumas pessoas podem se beneficiar de oxigenoterapia a longo prazo ou
transplante pulmonar. Naqueles que têm períodos de agravamento agudo, pode ser necessário um
aumento no uso de medicamentos e hospitalização.

Em 2015, a DPOC afetou cerca de 174,5 milhões de pessoas (2,4% da população global). Geralmente
ocorre em pessoas com mais de 40 anos, independentemente do sexo. Ainda em 2015, a DPOC resultou
em 3,2 milhões de mortes, contra 2,4 milhões de mortes em 1990. Mais de 90% dessas mortes ocorrem
no mundo em desenvolvimento. Prevê-se que o número de mortes aumente ainda mais devido ao
aumento das taxas de tabagismo no mundo em desenvolvimento e ao envelhecimento da população
em muitos países.

33
Unidade I

Ainda não existe uma cura conhecida para a DPOC, mas os sintomas são tratáveis e​​ sua progressão
pode ser adiada. Os principais objetivos do tratamento são reduzir fatores de risco, gerenciar DPOC
estável, prevenir e tratar exacerbações agudas e gerenciar doenças associadas. As únicas medidas que
foram mostradas para reduzir a mortalidade são a cessação do tabagismo e a administração de oxigênio
suplementar. Parar de fumar diminui o risco de morte em 18%.

Outras recomendações incluem vacinação contra a gripe uma vez por ano, vacinação pneumocócica
uma vez a cada cinco anos e redução da exposição à poluição ambiental do ar. Naqueles com doenças
avançadas, os cuidados paliativos podem reduzir os sintomas, com a morfina melhorando a sensação de
falta de ar. A ventilação não invasiva pode ser usada para suportar a respiração. Fornecer às pessoas um
plano de ação personalizado, uma sessão educacional e apoio ao uso de seu plano de ação em caso de
exacerbação, reduz o número de visitas hospitalares e incentiva o tratamento precoce de exacerbações.
Entre os tratamentos farmacológicos incluem-se:

• Broncodilatadores: os broncodilatadores inalatórios são os principais medicamentos utilizados


e resultam em um pequeno benefício geral. Existem dois tipos principais, β2 agonistas e
anticolinérgicos; ambos existem em formas de ação prolongada e de ação curta. Eles reduzem
a falta de ar, a sibilância e a limitação do exercício, resultando em uma melhoria da qualidade
de vida. Não está claro se eles alteram a progressão da doença subjacente. Naqueles com
doença leve, os fármacos de ação curta são recomendados conforme necessidade. Naqueles
com doença mais grave, fármacos recomendados são de ação prolongada. Os fármacos de
longa duração funcionam parcialmente, melhorando a hiperinflação. Se os broncodilatadores
de ação prolongada são insuficientes, então os corticosteroides inalados são tipicamente
adicionados. No que diz respeito aos agentes de ação prolongada, não está claro se os tiotrópios
(anticolinérgicos de ação prolongada) são melhores ou se os agonistas beta de ação prolongada
(BALAs) são melhores, pode valer a pena tentar cada um e continuar o que melhor funcionar.
Ambos os tipos de agentes parecem reduzir o risco de exacerbações agudas entre 15-25%.
Ambos os tipos de fármacos já foram relatados anteriormente quanto aos mecanismos de ação,
indicações e efeitos adversos.

• Corticosteroides: os corticosteroides geralmente são usados ​​na forma inalada, mas também
podem ser usados como
​​ comprimidos para tratar e prevenir exacerbações agudas. Enquanto
os corticosteroides inalados (CSIs) não mostraram benefício para pessoas com DPOC leve, eles
diminuem as exacerbações agudas naqueles com doença moderada ou grave. Por si só, não têm
efeito sobre a mortalidade global em um ano. Não está claro se eles afetam a progressão da
doença. Quando usados em combinação com um BALA, eles podem diminuir a mortalidade em
comparação com CSI ou BALA sozinho. Os fármacos desta classe já foram relatados anteriormente
quanto aos mecanismos de ação, indicações e efeitos adversos.

• Oxigenoterapia: consiste na administração de oxigênio suplementar.

— Mecanismo de ação: a falta do oxigênio em pacientes com DPOC é responsável pelos principais
sintomas da patologia e sua reposição melhora os sinais clínicos.

34
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

— Indicação: é recomendada naqueles com baixos níveis de oxigênio em repouso (uma pressão
parcial de oxigênio inferior a 50-55 mmHg ou saturações de oxigênio inferior a 88%). Neste
grupo de pessoas, diminui o risco de insuficiência cardíaca e morte e, se usada 15 horas
por dia, pode melhorar a capacidade de exercício. Naqueles com níveis de oxigênio normais
ou suavemente baixos, a suplementação de oxigênio pode melhorar a falta de ar quando
administrada durante o exercício, mas pode não melhorar a falta de ar durante as atividades
diárias normais ou afetar a qualidade de vida.

— Efeitos adversos: existe o risco de incêndios e pouco benefício quando os pacientes continuam
a fumar. Nessa situação, não se recomenda a sua utilização. Durante exacerbações agudas,
muitos requerem oxigenoterapia. O uso de altas concentrações de oxigênio sem levar em
conta as saturações de oxigênio de uma pessoa pode levar a níveis aumentados de dióxido de
carbono e à piora dos resultados. Nos pacientes com alto risco de altos níveis de dióxido de
carbono, recomenda-se saturações de oxigênio de 88-92%, enquanto para aqueles sem esse
risco, os níveis recomendados são de 94-98%.

3 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (PARTE 1)

O sistema nervoso central (SNC) é a parte do sistema nervoso que consiste no encéfalo e na medula
espinhal. Ele é assim chamado porque integra a informação que recebe, coordena e influencia na
atividade de todas as partes dos corpos de animais bilateralmente simétricos, isto é, todos os animais
multicelulares, exceto esponjas e animais radialmente simétricos.

O SNC está contido dentro da cavidade do corpo dorsal, com o encéfalo alojado na cavidade craniana
e na medula espinhal no canal espinhal. Nos vertebrados, o cérebro é protegido pelo crânio, enquanto a
medula espinhal é protegida pelas vértebras.

Em vários aspectos, o funcionamento básico dos neurônios no SNC é similar ao do sistema


autônomo (SNA). Por exemplo, a transmissão da informação no SNC e na perferia envolve a
liberação de neurotransmissores que se difundem por meio do espaço sináptico e se ligam a
receptores específicos no neurônio pós-sináptico. Em ambos os sistemas, o reconhecimento
do neurotransmissor pelo receptor de membrana do neurônio pós-sináptico inicia alterações
intracelulares. Contudo, várias doenças existem entre os neurônios no sistema nervoso autônomo
periférico e os neurônios no SNC. O SNC contém uma rede poderosa de neurônios inibitórios que
estão ativos constantemente na modulação da velocidade de transmissão neuronal. Além disso, o
SNC se comunica por meio de neurotransmissores múltiplos.

No SNC, os receptores da maioria das sinapses estão associados a canais iônicos. A ligação do
neurotransmissor ao receptor da membrana pós-sináptico resulta na abertura rápida e transitória de
canais iônicos. A abertura permite que íons específicos, dentro ou fora da célula, fluam conforme o
gradiente de concentração. A alteração resultante na composição iônica, por meio da membrana do
neurônio, altera o potencial pós-sináptico, produzindo despolarização ou hiperpolarização da membrana
pós-sináptica, dependendo do íon específico que se move e da direção do seu movimento.

35
Unidade I

Telencéfalo
Cérebro
Diencéfalo
Cerebelo
Encéfalo
Sistema Nervoso Mesencéfalo
Central (SNC)
Medula espinhal Tronco Ponte
encefálico

Bulbo

Figura 4 – Subdivisão do sistema nervoso central

Os neurotransmissores podem ser classificados em excitatórios ou inibitórios, dependendo da


natureza de ação que provocam. A estimulação de um neurônio excitatório causa movimento de íons
que resulta em despolarização da membrana pós-sináptica. Esses potenciais pós-sinápticos excitatórios
são gerados pelos seguintes fatores:

• A estimulação de um neurônio excitatório causa a liberação de moléculas neurotransmissoras,


como o glutamato ou a acetilcolina, que se ligam aos receptores na membrana pós-sináptica. Isso
causa um aumento transitório na permeabilidade dos íons sódio.

• O influxo de sódio causa uma leve despolarização, que desloca o potencial pós-sináptico em
direção ao limiar.

• Se o número de neurônios excitatórios estimulado aumenta, mais neurotransmissores excitatórios


são liberados. Finalmente, isso determina que o potencial pós-sináptico ultrapasse o limiar,
gerando um potencial de ação tudo ou nada.

A estimulação de neurônios inibitórios causa movimento de íons que resulta em hiperpolarização da


membrana pós-sináptica. Esses potenciais pós-sinápticos inibitórios são gerados pelos seguintes fatores:

• A estimulação de neurônios inibitórios libera moléculas neurotransmissoras, como o ácido gama


aminobutírico (GABA) ou glicina, que se ligam a receptores na membrana pós-sináptica. Isso
causa um aumento transitório na permeabilidade de íons específicos, como potássio ou cloreto.

• O influxo de cloreto ou o efluxo de potássio causa uma leve hiperpolarização que afasta o potencial
pós-sináptico do seu limiar. Isso diminui a geração de potenciais de ação.

A maioria dos neurônios no SNC recebe esses potenciais excitatórios ou inibitórios. Assim, vários
tipos de neurotransmissores podem atuar no mesmo neurônio, mas cada um se liga ao seu próprio
receptor específico. O resultado líquido é a soma das ações individuais dos vários neurotransmissores no
neurônio. Os neurotransmissores não estão uniformemente distribuídos no SNC, mas estão localizados
36
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

em agrupamentos específicos de neurônios, cujos axônios podem fazer sinapses com regiões específicas
do cérebro. Vários tratos neuronais parecem codificados quimicamente, o que pode permitir maiores
oportunidades de modulação de certas vias neuronais.

Neurotransmissores

Aminas biogênicas Aminoácidos Endorfinas Outros


(GABA, Glutamato) (NO, Adenosina)

Aceticolina Monoaminas

Serotonina Catecclaminas

Dopamina Noradrenalina Adrenalina

Figura 5 – Os principais neurotransmissores que agem no sistema nervoso central

3.1 Antiepiléticos e anticonvulsivantes

Esta classe de medicamentos é usada para tratamento de convulsões ou ataques epiléticos.

3.1.1 Epilepsia

A epilepsia é um grupo de distúrbios neurológicos caracterizados por convulsões epiléticas. As crises


epilépticas são episódios que podem variar de períodos breves e quase indetectáveis ​​a longos períodos
de agitação vigorosa. Esses episódios podem resultar em lesões físicas, incluindo ossos quebrados
ocasionalmente. Na epilepsia, as convulsões tendem a se repetir e, como regra geral, não têm causa
subjacente imediata. As convulsões isoladas que são provocadas por uma causa específica, tais como
envenenamento, não são consideradas como epilepsia.

A causa da maioria dos casos de epilepsia é desconhecida. Alguns ocorrem como resultado de lesões
cerebrais, acidentes vasculares cerebrais, tumores cerebrais, infecções do cérebro e defeitos congênitos,
por meio de um processo conhecido como epileptogênese. As mutações genéticas conhecidas estão
diretamente ligadas a uma pequena proporção de casos. As crises epilépticas são o resultado de uma
atividade de células nervosas excessivas e anormais no córtex do cérebro. O diagnóstico envolve a
exclusão de outras condições, que podem causar sintomas semelhantes, como desmaios e determinação
de outra causa de convulsão, como a retirada de álcool ou problemas de eletrólitos. Isso pode ser feito em
parte pela imagem do cérebro e pela realização de exames de sangue. A epilepsia pode frequentemente
ser confirmada com um eletroencefalograma (EEG).

37
Unidade I

Em 2015, cerca de 39 milhões de pessoas no mundo apresentavam epilepsia, resultando em 125


mil óbitos. No mundo desenvolvido, o aparecimento de novos casos ocorre com maior frequência em
bebês e idosos. No mundo em desenvolvimento, o início é mais comum em crianças mais velhas e jovens
adultos, devido a diferenças na frequência das causas subjacentes.

3.1.2 Convulsões

Há evidências de que as crises epilépticas geralmente não são um evento aleatório. Os ataques
são muitas vezes provocados por fatores como estresse, abuso de álcool, luz cintilante, falta de sono,
entre outros.

O termo limiar de convulsão é usado para indicar a quantidade de estímulo necessário para provocar
uma convulsão. O limiar de apreensão é diminuído na epilepsia. Nas crises epilépticas, um grupo de
neurônios começa a disparar de forma anormal, excessiva e sincronizada. Isso resulta em uma onda de
despolarização conhecida como mudança de despolarização paroxística. Normalmente, depois que um
neurônio excitatório dispara, torna-se mais resistente ao disparo por um período de tempo. Isto é devido,
em parte, ao efeito de neurônios inibitórios, às mudanças elétricas dentro do neurônio excitatório e aos
efeitos negativos da adenosina.

As apreensões focais começam em um hemisfério do cérebro, enquanto as crises generalizadas


começam em ambos os hemisférios. Alguns tipos de convulsões podem mudar a estrutura do cérebro,
enquanto outros parecem ter pouco efeito. Gliose, perda neuronal e atrofia de áreas específicas do
cérebro estão ligadas à epilepsia, mas não está claro se a epilepsia causa essas alterações ou se essas
alterações resultam em epilepsia.

3.1.3 Classificação das crises

É importante classificar corretamente as crises para determinar o tratamento apropriado. As crises


são classificadas com base em local e origem, etiologia, correlação eletrofisiológica e apresentação
clínica. A nomenclatura desenvolvida pela Liga Internacional contra a Epilepsia é considerada a via
padrão para classificar convulsões e síndromes epilépticas. As crises são classificadas em dois grupos
gerais: focais e generalizadas.

3.1.3.1 Focais

A crise focal envolve somente uma porção do cérebro, normalmente parte de um lobo de
um hemisfério.

Os sinais de cada tipo de crise dependem do local da descarga neuronal e da extensão pela qual a
atividade elétrica se espalha nos demais neurônios do cérebro. Crises focais podem evoluir, tornando-se
crises tônico-clônicas generalizadas. A seguir, alguns tipos:

• Parciais simples: essas crises são causadas por um grupo de neurônios hiperativos que
apresenta atividade elétrica anormal e que fica confinado em um local único do cérebro. A
38
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

descarga elétrica não se alastra, e o paciente não perde a consciência ou a percepção. Com
frequência, o paciente apresenta atividade anormal em um dos membros ou em um grupo
muscular controlado pela região cerebral que apresenta o distúrbio. O paciente pode apresentar
distorções sensoriais.

• Parciais complexas: essas crises provocam alucinações sensoriais complexas e distorção mental.
A disfunção motora pode envolver movimentos mastigatórios, diarreia ou micção. A consciência
se altera. A crise parcial simples pode se alastrar e, então, evoluir para uma convulsão generalizada
secundária.

3.1.3.2 Generalizadas

As crises generalizadas podem iniciar localmente e avançar, incluindo descargas elétricas anormais
pela totalidade de ambos os hemisférios cerebrais. As crises generalizadas primárias podem ser convulsivas
ou não convulsivas, e o paciente normalmente apresenta perda imediata de consciência.

A seguir, alguns tipos:

• Tônico-clônicas: essas crises resultam em perda da consciência, seguida das fases tônicas (de
contração contínua) e clônica (de contração e relaxamento rápidos). A crise pode ser seguida por
um período de confusão e exaustão, devido à depleção de glicose e dos estoques energéticos.

• Ausências: essas crises envolvem uma perda breve, abrupta e atolimitante da consciência. Em
geral, iniciam-se em pacientes de três a cinco anos de idade e perduram até a puberdade ou mais.
O paciente permanece com o olhar fixo e pisca rapidamente.

• Mioclônicas: essas crises consistem em episódios curtos de contração muscular, que podem
recorrer por vários minutos. Em geral, elas ocorrem após o despertar e se revelam como breves
contrações espasmódicas dos membros.

• Clônicas: essas crises consistem em episódios curtos de contração muscular, que podem se parecer
muito com as crises mioclônicas. A consciência está mais comprometida nas crises clônicas em
comparação com as mioclônicas.

• Atônicas: também chamadas de ataques de queda, essas crises se caracterizam pela perda súbita
de tônus muscular.

3.1.4 Fármacos utilizados como antiepiléticos ou anticonvulsivantes

Os fármacos reduzem as crises por meio de mecanismos, como bloqueio dos canais voltagem-
dependentes (sódio ou cálcio), potencializando impulsos inibitórios gabaérgicos. Alguns fármacos
parecem ter múltiplos alvos no SNC.

A seguir, os principais fármacos usados nessa terapêutica:


39
Unidade I

• Ácido valproico

— Mecanismo de ação: os possíveis mecanismo de ação deste fármaco incluem o bloqueio de


canais de sódio, bloqueio da transaminase do GABA e ações nos canais de cálcio.

— Indicação: múltiplos mecanismos de ação oferecem um amplo espectro de atividade contra


crises epiléticas. São eficazes no tratamento de epilepsias focais e primárias generalizadas.

— Efeitos adversos: os efeitos nocivos são raros, porém podem levar ao aumento das enzimas
hepáticas no sangue e teratogenicidade.

• Clonazepam, clobazam e diazepam: também conhecidos como benzodiazepínicos.

— Mecanismo de ação: são potencializadores alostéricos do GABA.

— Indicação: a maioria dos benzodiazepínicos é utilizada na emergência ou em crises agudas


devido à sua tolerância. Podem ser indicados no tratamento de tipos particulares de crises.

— Efeitos adversos: os efeitos adversos desta classe são amplos. Entre os efeitos mais comuns
estão sonolência, tremores, cansaço e fadiga.

• Carbamazepina

— Mecanismo de ação: bloqueia os canais de sódio, inibindo, assim, a geração de potenciais de


ação repetitivos no foco epilético e evitando seu alastramento.

— Indicação: é eficaz no tratamento de crises focais e convulsões tônico-clônicas generalizadas,


além disso, pode ser usada no tratamento da neuralgia do trigêmeo e nos transtornos bipolares.

— Efeitos adversos: pode causar hiponatremia em idosos e é contraindicada em casos de crises


de ausência.

• Fenitoína

— Mecanismo de ação: bloqueia os canais de sódio voltagem-dependentes, ligando-se


seletivamente ao canal no estado inativo e tornando lenta a sua recuperação.

— Indicação: é eficaz no tratamento de crises focais, tônico-clônicas generalizadas e no


tratamento do estado epilético.

— Efeitos adversos: ocorre depressão do SNC, particularmente no cerebelo e no sistema


vestibular, causando nistagmo e ataxia. Causa também hiperplasia de gengiva, neuropatias
periféricas e osteoporose.

40
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

• Fenobarbital

— Mecanismo de ação: potencialização dos efeitos inibitórios dos neurônios mediados por
GABA devido ao aumento na entrada de cloreto. Bloqueiam também os receptores excitatórios
de glutamato.

— Indicação: anestésico de curta duração, anticonvulsivante e hiponótico-sedativo.

— Efeitos adversos: pode causar depressão do SNC, depressão respiratória, sonolência,


dificuldade de concentração e preguiça mental e física. Os efeitos depressores do fenobarbital
podem ser potencializados com o uso concomitante de etanol. Dependendo da dose, pode
causar a sensação de ressaca ao despertar, levando a tonturas e náuseas. O fenobarbital causa
alta dependência e tolerância e desencadeia crises de abstinência após a interrupção do
tratamento. Os sintomas da crise de abstinência incluem tremores, fraqueza, intranquilidade,
náuseas, êmese, convulsão, delírio e parada cardíaca.

• Gabapentina

— Mecanismo de ação: a gabapentina é análoga. Contudo, ela não atua nos receptores GABA,
não potencializa as ações do GABA e nem se converte em GABA. O mecanismo é desconhecido.

— Indicação: é aprovada para tratamento auxiliar para crises focais e tratamento de neuralgia
pós-herpética.

— Efeitos adversos: é bem tolerada pelos idosos com crises parciais devido aos seus efeitos
adversos relativamente leves e apresenta pouca interação com outros fármacos.

• Lamotrigina

— Mecanismo de ação: atua bloqueando os canais de cálcio, bem como os canais de cálcio
voltagem-dependentes.

— Indicação: é eficaz em uma variedade de crises, incluindo focais, generalizadas, de ausência e


de Lennox-Gestaut. É também usada para tratar transtorno bipolar.

— Efeitos adversos: a lamotrigina apresenta interação com ácido valproico, e a utilização


concomitante de ambos requer uma diminuição da dose de lamotrigina administrada. Entre as
reações apresentadas, devido à essa interação com o ácido valproico, estão as urticárias, que
podem evoluir para reações graves e levar à morte.

• Oxcarbazepina

— Mecanismo de ação: é um pró-fármaco que bloqueia os canais de sódio, prevenindo o


alastramento das descargas anormais.
41
Unidade I

— Indicação: está aprovada para uso em adultos e crianças com crises de ataques focais.

— Efeitos adversos: hiponatremia, o que limita seu uso em idosos.

• Pregabalina

— Mecanismo de ação: a pregabalina se liga a receptores auxiliares dos canais de cálcio


voltagem-dependentes, inibindo a liberação do neurotransmissor excitatório.

— Indicação: o fármaco comprovou eficácia no tratamento de crises de início focal, neuropatia


periférica diabética, neuralgia pós-herpética e fibromialgia.

— Efeitos adversos: aumento de massa corporal e edema periférico foram observados nos
pacientes. Em caso de lesão renal, o fármaco deve ser evitado.

• Tiagabina

— Mecanismo de ação: bloqueia a captação de GABA pelos neurônios pré-sinápticos, permitindo


que haja uma maior quantidade de GABA disponível para a ligação com o receptor, aumentando
a atividade inibitória do neurotransmissor.

— Indicação: é eficaz no tratamento auxiliar nas crises de início parcial.

— Efeitos adversos: convulsão em pacientes que não apresentam epilepsia.

• Topiramato

— Mecanismo de ação: o topiramato tem múltiplos mecanismos de ação. Bloqueia os canais de


sódio voltagem-dependentes, diminui as correntes de cálcio de alta voltagem (tipo L), inibe a
anidrase carbônica e pode atuar em receptores de glutamato do tipo NMDA.

— Indicação: é bastante eficaz no tratamento de epilepsias parciais e primárias generalizadas.


Também é aprovado no tratamento da enxaqueca.

— Efeitos adversos: sonolência, perda de massa corporal e parestesias. Podem surgir cálculos
renais, glaucoma, oligoidrose (sudorese reduzida) e hipertermia.

3.1.5 Estado epilético

No estado epilético, ocorrem duas ou mais crises sem recuperação plena da consciência entre os
episódios. Essas crises podem ser focais ou generalizadas primárias, convulsivas ou não convulsivas.

O estado epilético ameaça a vida e exige tratamento de emergência, consistindo na administração


de medicação de ação rápida, como um benzodiazepínico de ação rápida seguido de medicação de ação
lenta, como a fenitoína.
42
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

Chave: Nome do fármaco Nome do fármaco Nome do fármaco Estimulação vagal


Inicialmente considere com Considere esta opção se Considere esta alternativa Considere a adesão ao
base nas características do as crises persistem ou se se as crises persistem ou os tratamento, as interações
paciente, no diagnóstico os efeitos adversos do efeitos adversos impedem o farmacológicas ou os
e sintomas e leve em primeiro fármaco impedem tratamento efeitos adversos impedem o
consideração problemas o tratamento tratamento farmacológico
médicos concorrentes

Epilepsia Parcial

Parcial simples, Divalproex


Lamotrigina Carbomazepina
parcial complexa Gabapentina
Lacosamida
com ou sem Levetiracetam Oxcarbazepina Estimulação vagal
generalização Pregabalina
Topiramato Fenitoina
secundária Zonisamida
Tiagabina
Paciente idoso Lamotrigina Gabapentina Carbomazepina Estimulação vagal

Epilepsia Generalizada Primária


Levetiracetam
Ausência Divalproex Erosuximida Topiramato
Lamotrigina Zonisamida

Divalproex Lamotrigina Benzodiazepínicos


Mioclônica
Levetiracetam Topiramato Zonisamida

Lamotrigina
Divalproex
Tônico-clônica Levetiracetam Estimulação vagal
Zonisamida
Topiramato

Benzodiazepínicos
Estado epilético Barbitúricos
Fosfenitoína

Síndrome epiléptica

Gabapentina Carbomazepina
Rolândica Divalproex
Levetiracetam
benigna Lamotrigina Oxcarbazepina
Topiramato

Corticotropina Benzodiazepínicos
Espasmos infantis Lamotrigina
Divalproex
(síndrome de West) Vigabatrina Zonisamida
Topiramato
Divalproex Levetiracetam
Benzodiazepínicos
Lennox-Gastaut Lamotrigina Vigabatrina Estimulação vagal
Feibamato
Topiramato Zonisamida

Figura 6 – Indicações terapêuticas para os anticonvulsivantes

3.2 Relaxantes musculares

O relaxante muscular é uma droga que afeta a função do músculo esquelético e diminui o tônus
muscular. Pode ser usado para aliviar sintomas como espasmos musculares, dor e hiperreflexia. O termo
relaxante muscular é usado para se referir a dois principais grupos terapêuticos: bloqueadores
neuromusculares e espasmolíticos.

43
Unidade I

Os bloqueadores neuromusculares agem interferindo na transmissão na placa final neuromuscular


e não possuem atividade do sistema nervoso central (SNC). Eles são frequentemente usados durante
procedimentos cirúrgicos, em cuidados intensivos e em medicamentos de emergência para causar
paralisia temporária.

O espasmolíticos, também conhecidos como relaxantes musculares de ação central, são usados
para aliviar a dor e os espasmos musculoesqueléticos e para reduzir a espasticidade em uma variedade
de condições neurológicas. Tanto os bloqueadores neuromusculares quanto os espasmolíticos são
frequentemente agrupados como relaxantes musculares, porém o termo é comumente usado para se
referir apenas a espasmolíticos.

Os neurônios motores promovem a contração muscular dependendo do equilíbrio de excitação e


inibição sináptica que esse neurônio recebe. Os agentes espasmolíticos geralmente funcionam, quer
aumentando o nível de inibição, quer reduzindo o nível de excitação. A inibição é reforçada imitando ou
aumentando as ações de substâncias inibitórias endógenas, como o GABA.

Os espasmolíticos, como o carisoprodol, a ciclobenzaprina, a metaxalona e o metocarbamol, são


comumente prescritos para dor lombar ou dor no pescoço, fibromialgia, dores de tensão e síndrome de
dor miofascial. No entanto, eles não são recomendados como agentes de primeira linha. Na dor lombar
aguda, não são mais eficazes do que o paracetamol ou anti-inflamatórios não esteroides (AINEs); e, na
fibromialgia, não são mais eficazes do que os antidepressivos.

No entanto, algumas evidências (de baixa qualidade) sugerem que os relaxantes musculares podem
adicionar benefício ao tratamento com AINEs. Em geral, nenhuma evidência de alta qualidade apoia seu
uso. Nenhuma droga mostrou ser melhor do que outra, e todas elas têm os mesmos efeitos adversos,
particularmente, tontura e sonolência.

Um relaxante muscular é escolhido com base em seu perfil de efeitos adversos, tolerabilidade e
custo. Os relaxantes musculares não são recomendados para condições ortopédicas, mas sim para
condições neurológicas, como espasticidade em paralisia cerebral e esclerose múltipla. O dantroleno,
embora considerado principalmente como um agente de atuação periférica, está associado a efeitos do
SNC, enquanto a atividade do baclofeno é estritamente associada ao SNC.

Devido ao aumento da inibição no SNC, a maioria dos agentes espasmolíticos têm os efeitos
colaterais da sedação, como sonolência, e podem causar dependência com uso a longo prazo. Vários
desses agentes também têm potencial de abuso e sua receita é controlada.

Os benzodiazepínicos, como o diazepam, interagem com o receptor GABAA no sistema nervoso


central. Embora possa ser usado em pacientes com espasmos musculares de qualquer origem, ele produz
sedação na maioria dos indivíduos, nas doses necessárias para reduzir o tônus muscular.
​​

O baclofeno é considerado tão eficaz quanto o diazepam na redução da espasticidade e causa


muito menos sedação. Atua como um agonista GABA nos receptores GABAB no cérebro e na medula
espinhal, resultando em hiperpolarização de neurônios que expressam esse receptor, provavelmente
44
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

devido ao aumento da condutância iônica do potássio. O baclofeno também inibe a função neural pré-
sináptica, reduzindo o influxo de íons de cálcio e, assim, reduzindo a liberação de neurotransmissores
excitatórios no cérebro e na medula espinhal. Também pode reduzir a dor em pacientes, inibindo a
liberação da substância P.

A clonidina e outros compostos de imidazolina também demonstraram diminuir espasmos


musculares pela atividade do sistema nervoso central.

A tizanidina é talvez o análogo de clonidina mais estudado. É um agonista nos receptores alfa
2 adrenérgicos, mas reduz a espasticidade em doses que resultam em hipotensão significativamente
menor do que a clonidina. Estudos neurofisiológicos mostram que deprime o feedback excitatório
dos músculos que normalmente aumentariam o tônus ​​muscular, minimizando a espasticidade. Além
disso, vários ensaios clínicos indicam que a tizanidina tem uma eficácia semelhante a outros agentes
espasmolíticos, tais como diazepam e baclofeno, com um espectro diferente de efeitos adversos.

O dantroleno é um agente espasmolítico com um mecanismo de ação exclusivo fora do SNC.


Reduz a força do músculo esquelético, inibindo o acoplamento excitação-contração na fibra
muscular. Na contração muscular normal, o cálcio é liberado do retículo sarcoplásmico através
do canal receptor do rianodina, o que provoca a interação geradora de tensão da actina e da
miosina. O dantroleno interfere com a libertação de cálcio por ligação ao receptor de rianodina
e bloqueando o ligante de rianodina endógeno por inibição competitiva. O músculo que
se contrai mais rapidamente é mais sensível ao dantroleno do que o músculo que se contrai
lentamente, embora o músculo cardíaco e o músculo liso estejam deprimidos apenas ligeiramente,
provavelmente porque a liberação de cálcio por seu retículo sarcoplásmico envolve um processo
ligeiramente diferente. Os principais efeitos adversos do dantroleno incluem fraqueza muscular
geral, sedação e ocasionalmente hepatite.

Outros agentes espasmolíticos comuns incluem: metacrobamol, carisoprodol, clorzoxazona,


ciclobenzaprina, gabapentina, metaxalona e orfenadrina.

Observação

Considera-se que os relaxantes musculares são úteis em distúrbios


dolorosos com base na teoria de que a dor induz espasmo e o espasmo
causa dor.

3.3 Ansiolíticos e hipnóticos

Os transtornos de ansiedade são um grupo de transtornos mentais caracterizados por


sentimentos significativos de ansiedade e medo. A ansiedade é uma preocupação com os eventos
futuros, e o medo é uma reação aos eventos atuais. Esses sentimentos podem causar sintomas
físicos, como um aumento na frequência cardíaca e tremores rápidos. Há uma série de transtornos
de ansiedade, incluindo transtorno de ansiedade generalizada, fobia específica, transtorno de
45
Unidade I

ansiedade social, distúrbios de ansiedade por separação, agorafobia, transtorno de pânico e


mutismo seletivo. A desordem difere pelos sintomas que surgem no paciente. Muitas vezes as
pessoas têm mais de um transtorno de ansiedade.

A causa dos transtornos de ansiedade é uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Os


fatores de risco incluem história de abuso infantil, história familiar de transtornos mentais e pobreza.

Os distúrbios de ansiedade geralmente ocorrem concomitante com outros distúrbios mentais,


particularmente com transtornos depressivos maiores, transtornos de personalidade e transtornos
por uso de substâncias. Para serem diagnosticados, os sintomas geralmente precisam estar presentes
por pelo menos seis meses, serem mais do que seria esperado para a situação e comprometer o
funcionamento cerebral.

Outros problemas que podem resultar em sintomas semelhantes são: hipertireoidismo, doença
cardíaca, uso de cafeína, álcool ou cannabis, retirada de certos medicamentos etc.

Sem tratamento, os transtornos de ansiedade tendem a permanecer. O tratamento pode incluir


mudanças no estilo de vida, aconselhamento e medicamentos. O aconselhamento é tipicamente com
um tipo de terapia cognitivo-comportamental.

Os medicamentos utilizados incluem os inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS),


que são escolhas de primeira linha para transtornos de ansiedade generalizada. Não há nenhuma boa
evidência para qualquer membro da classe ser melhor do que outro, então, é o custo que costuma
direcionar a escolha da droga.

Buspirona, quetiapina e pregabalina são tratamentos de segunda linha para pessoas que não
respondem aos ISRS, também há evidências de que os benzodiazepínicos – incluindo diazepam e
clonazepam – são efetivos, mas caíram em desuso devido ao risco de dependência e abuso. Como
muitos dos fármacos ansiolíticos causam alguma sedação, eles podem ser usados clinicamente como
ansiolíticos e hipnóticos (indutores de sono).

A seguir, a descrição dos principais fármacos usados como ansiolíticos e hipnóticos:

• Benzodiazepínicos: são os ansiolíticos mais usados e substituíram os barbitúricos (fenobarbital)


no tratamento da ansiedade e da insônia por serem fármacos considerados mais seguros e eficazes.
Ainda que os benzodiazepínicos sejam comumente usados, eles não são a melhor escolha contra
ansiedade e insônia. Certos antidepressivos com ação ansiolítica (ISRS) são preferidos em vários
casos, e os hipnóticos não benzodiazepínicos e os anti-histamínicos podem ser preferidos para
a insônia. Os principais benzodiazepínicos são: alprazolam, clonazepam, diazepam, flurazepam,
midazolam, lorazepam, oxazepam, temazepam e triazolam.

— Mecanismo de ação: o alvo de ação destes fármacos é o receptor de GABAA do neurotransmissor


GABA (principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central). A fixação do GABA ao
seu receptor inicia a abertura do canal iônico, permitindo a entrada de cloreto através deste
46
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

poro. O influxo do cloreto causa hiperpolarização do neurônio e diminui a neurotransmissão,


inibindo a formação dos potenciais de ação. Os benzodiazepínicos potencializam a abertura
dos canais de cloreto induzida pelo GABA.

— Indicação: entre os efeitos esperados dos benzodiazepínicos estão a redução da ansiedade,


indução de sono, amnésia anterógrada, anticonvulsivante e relaxamento muscular. Portanto,
são indicados para o tratamento dos distúrbios de ansiedade, distúrbios de sono, amnésia,
distúrbios musculares e epilepsia.

— Efeitos adversos: esses fármacos são potentes indutores de dependência, por isso, seu
uso deve ser controlado com receituário controlado. Podem causar sedação, confusão
mental, comprometimento cognitivo e diminuição dos reflexos. Não devem ser utilizados
concomitantemente com álcool, pois o etanol potencializa os efeitos destes fármacos.

• Antagonistas de receptor benzodiazepínicos

— Mecanismo de ação: o flumazenil é um antagonista do receptor GABA que pode rapidamente


reverter os efeitos dos benzodiazepínicos. O início de ação é rápido, mas a duração é curta.

— Indicação: reversão dos efeitos dos benzodiazepínicos.

— Efeitos adversos: tonturas, náuseas, êmese e agitação.

• Barbitúricos: esses fármacos foram a base do tratamento usado para sedar ou induzir e manter
o sono. Com o tempo foram substituídos pelos benzodiazepínicos, principalmente porque os
barbitúricos induzem tolerância e dependência físca e estão associados a sintomas de abstinência
graves. Dentre os principais barbitúricos estão o fenobarbital, tiopental e o pentobarbital.

— Mecanismo de ação: a ação desses fármacos se deve à sua interação com os receptores
GABAA, potencializando a transmissão gabaérgica. O local de ligação dos barbitúricos no
receptor GABAA é diferente do local dos benzodiazepínicos.

— Indicação: os efeitos esperados desses fármacos incluem depressão do SNC e depressão


respiratória. São indicados como anestésicos, anticonvulsivantes e hipnótico-sedativo.

— Efeitos adversos: sonolência, dificuldade de concentração e preguiça mental e física. O uso


concomitante com etanol é altamente indesejável.

• Zolpidem

— Mecanismo de ação: esse fármaco tem estrutura química semelhante aos benzodiazepínicos,
mas sua resposta é diferente. O zolpidem não tem propriedades anticonvulsivantes ou
miorrelaxantes. Apresenta poucos efeitos de abstinência e provoca insônia de rebote mínimo.
Produz efeito hipnótico por cerca de cinco horas.
47
Unidade I

— Indicação: para o tratamento de transtornos de sono.

— Efeitos adversos: pesadelo, agitação, amnésia anterógrada, cefaleia, distúrbios gastrointestinais,


tonturas e sonolência diurna.

• Anti-histamínicos: os principais fármacos desta classe são difenidramina, hidroxizina e doxilamina.

— Mecanismo de ação: antagonista do receptor H1 de histamina.

— Indicação: são eficazes no tratamento dos tipos leves de insônia situacional.

— Efeitos adversos: efeitos colinérgicos.

• Antidepressivos: o uso de antidepressivos com forte perfil anti-histamínico ocorre há décadas. A


doxepina, um tricíclico antigo com ação antidepressiva e ansiolítica, foi aprovada recentemente
para o tratamento de insônia. Outros antidepressivos, como a trazodona e a mirtazapina, são
usados extrabula no tratamento da insônia.

Observação

O canabidiol, ou CBD, é o composto encontrado na maconha e apresenta


benefícios significativos para o tratamento de pessoas com ansiedade. O
CBD é um dos 85 compostos encontrados na Cannabis sativa (maconha).
É um elemento importante, constituindo 40% do extrato da planta, e tem
um benefício médico mais amplo do que o tetraidrocanabinol (THC). No
Brasil, o CBD não tem permissão de uso.

48
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

Desvantagens terapêuticas Vantagens terapêuticas


Benzodiazepínicos
Clonazepam • Uso potencial no tratamento crônico de
crises
Clorazepato
Clordiazepóxido
• Esses fármacos menos potentes e
• Os benzodiazepínicos podem perturbar a Diazepam eliminados de forma mais lenta não
função intelectual e a destreza manual. apresentam insônia de rebote na
Flurazepam interrupção do tratamento.
• Os benzodiazepínicos apresentam
potencial de dependência e podem Quazepam
ocorrer convulsões na sua retirada. • Fármaco de escolha no tratamento dos
Alprazolam distúrbios de pãnico.
Lorazepam
Não requerem biotransformação de fase
Temazepam 1, portanto têm menos interações com
outros fármacos e são mais seguros em
• A interrupção com frequência resulta Triazolam pacientes com insuficiência hepática.
em insônia de rebote.
• Útil no tratamento de longa duração
contra a ansiedade crônica com
sintomas de irritabilidade e hostilidade.
Outros fármacos • Não potencializa a depressão do SNC
pelo álcool.
• Início de ação mais lento do que os Buspirona
benzodiazepínicos. • Baixo potencial de dependência.

• Não apresenta atividade anticonvulsiva Eszopiclona • Eficaz por até seis meses.
ou músculo‑relaxante.
Hidroxizina
• Causam efeitos mínimos de abstinência
Zaleplona e Causam insônia de rebote mínima.
• Não apresentam propriedades
anticonvulsivas ou músculo‑relaxantes. • Pouca ou nenhuma tolerância ocorre
Zolpidem com o uso prolongado.

• Somente tem efeitos mínimos nas Ramelteona • Baixo potencial de abuso com efeitos de
medidas objetivas de eficácia de sono. abstinência e dependência mínimos.
• O fármaco pode ser usado por tempo
Barbitúricos prolongado.
Fenobarbital
Pentobarbital
• Os barbitúricos induzem tolerância,
enzimas biotransformadoras de fármacos Secobarbital
e dependência física e apresentam graves
sintomas de abstinência. Amobarbital
Tiopental • Rápido início de ação.

Figura 7 – Vantagens e desvantagens terapêuticas de alguns fármacos ansiolíticos e hipnóticos

4 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (PARTE 2)

4.1 Antidepressivos

O transtorno do humor, também chamado de transtorno afetivo, é um conjunto de transtornos


que inclui mania, ou hipomania, humor deprimido (dos quais o mais conhecido e mais pesquisado
é o transtorno depressivo maior – comumente denominado depressão clínica, depressão unipolar ou
49
Unidade I

depressão maior) e estados de humor (que circulam entre mania e depressão, também conhecidos
como transtorno bipolar e, anteriormente, chamados de depressão maníaca).

Existem vários sub-tipos de distúrbios depressivos ou síndromes psiquiátricas com sintomas menos
graves, como distúrbio distímico (semelhante ao mais ameno do que o transtorno depressivo maior)
e distúrbio ciférmico (bipolaridade mais leve). Os transtornos de humor podem ser induzidos por
substâncias ou ocorrerem em resposta a uma condição médica.

Os sintomas da depressão são: sensação de tristeza, desesperança, incapacidade de sentir prazer em


atividades usuais, alterações nos padrões de sono e apetite, perda de vigor e pensamentos suicidas.

A mania é caracterizada pelo comportamento oposto, ou seja, entusiasmo, raiva, pensamentos e


falas rápidos, extrema autoconfiança e diminuição de autocrítica.

A maioria dos fármacos antidepressivos úteis clinicamente potencializa, direta ou indiretamente, as


ações da noradrenalina e/ou da serotonina (5-HT) no cérebro. Isso levou à teoria das aminas biogênicas,
que propõe que a depressão se deve às deficiências das monoaminas em certos locais do cérebro. Já a
mania seria causada por produção excessiva desses neurotransmissores. Contudo, trata-se de uma teoria
simplista, que não explica porque os efeitos farmacológicos de qualquer antidepressivo e antimania na
neurotransmissão ocorrem imediatamente, ao passo que a evolução temporal para a resposta terapêutica
precisa de várias semanas. Isso sugere que a diminuição da captação dos neurotransmissores é apenas o
efeito inicial do fármaco, que pode não ser diretamente responsável pelos efeitos antidepressivos.

A seguir, os principais antidepressivos:

• Inibidores seletivos da captação da serotonina: são exemplos desta classe terapêutica o


citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvosamina, paroxetina e sertralina.

— Mecanismo de ação: estes fármacos inibem especificamente a captação da serotonina. Não


apresentam ação na captação das demais monoaminas e nem intereferem com o receptor
muscarínico de acetilcolina. O bloqueio na captação da serotonina leva ao aumento da concentração
do neurotransmissor na fenda sináptica. Os antidepressivos, em geral, precisam de duas semanas para
produzir melhora significativa de humor, e o benefício máximo pode demorar 12 semanas ou mais.
— Indicação: são indicados primariamente para tratar depressão. Vários outros transtornos
psiquiátricos também respondem favoravelmente aos inibidores seletivos da captação de
serotonina, incluindo transtorno obsessivo-compulsivo, pânico, ansiedade generalizada, estresse
pós-traumático, ansiedade social, além de transtorno disfórico pré-menstrual e bulimia.
— Efeitos adversos: são mais seguros que os demais antidepressivos, porém podem produzir
cefaleia, sudoração, ansiedade, agitação, efeitos gastrointestinais – como náuseas, êmese e
diarreia –, fraqueza, cansaço, disfunções sexuais, alteração na massa corporal, distúrbios do
sono – insônia e sonolência – e hiponatremia. Estes fármacos podem causar síndrome da
interrupção, e os principais sintomas da síndrome são cefaleia, mal-estar, sintomas de gripe,
agitação, irritabilidade, nervosismo e alteração do padrão do sono.
50
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

• Inibidores da captação de serotonina e noradrenalina: são exemplos desta classe os fármacos


venlafaxina, desvenlafaxina e duloxetina.

— Mecanismo de ação: são potentes inibidores da captação de serotonina e noradrenalina em


todas as dosagens.

— Indicação: são eficazes no tratamento de depressão em pacientes nos quais os inibidores


da captação seletiva da serotonina são ineficazes. Além disso, a depressão com frequência é
acompanhada de sintomas dolorosos crônicos, como dor lombar e dor muscular. Essas dores
são, em partes, moduladas por vias de serotonina e noradrenalina no sistema nervoso central.

— Efeitos adversos: os principais efeitos adversos são náuseas, cefaleia, disfunções sexuais,
tonturas, insônia, sedação e constipação. Em doses elevadas, pode ocorrer hipertensão e
aumento na frequência cardíaca.

• Antidepressivos atípicos: são fármacos que têm ações em vários locais diferentes. Os principais
exemplos são a bupropiona, a mirtazapina, nefazodona e a trazodona.

— Mecanismo de ação: esses fármacos possuem multissítios de ação, e, em alguns casos, o


mecanismo é desconhecido.

— Indicação: a bupropiona é indicada para aliviar sintomas da depressão, diminuir a fissura


por alguma substância e atenuar os sintomas de abstinência da nicotina; a mirtazapina é
indicada para o tratamento da depressão e para causar sedação; a nefazodona e a trazodona
são indicadas para o tratamento de depressão e insônia.

— Efeitos adversos: os principais são boca seca, sudoração, nervosismo, tremores, risco de
convulsões, sedação, priapismo, hepatotoxicidade, ortostasia e tonturas.

• Antidepressivos tríclicos (ADTs): são fármacos desta categoria a imipramina, amitriptilina,


clomipramina, doxepina e nortriptilina.

— Mecanismo de ação: estes fármacos agem inibindo a captação de noradrenalina e serotonina


nos neurôniso pré-sinápticos. Também atuam no bloqueio dos receptores de serotonina,
adrenalina, histamina e acetilcolina. Os ADTs melhoram o humor e o alerta mental, aumentam
a atividade física e reduzem a preocupação mórbida dos indivíduos com depressão. O início
da melhora do humor é lento, necessitando de duas semanas ou mais. A resposta do paciente
pode ser usada para ajustes de doses.

— Indicação: os ADTs são eficazes no tratamento de depressão moderada e grave. Algus pacientes
com transtorno de pânico também respondem aos ADTs. A imipramina pode ser usada para
controlar a enurese em crianças com mais de seis anos. A amitriptilina tem sido usada para
auxiliar a prevenção da enxaqueca e tratar a síndrome de dor crônica.

51
Unidade I

— Efeitos adversos: o bloqueio dos receptores muscarínicos leva à visão turva, xerostalmia,
retenção urinária, taquicardia sinusal, constipação e agravamento do glaucoma de ângulo
fechado. Os ADTs também bloqueiam os receptores adrenérgicos causando hipoensão
ortostática, tonturas e taquicardia reflexa. A sedação é causada por bloqueio de receptores
histamínicos.

• Inibidores da monoaminoxidase (iMAO): são exemplos destes fármacos a fenelzina,


tranilcipromina e selegilina.

— Mecanismo de ação: a maioria dos iMAOs causa inativação irreversível com a monoaminoxidase.
Isso resulta em aumento dos estoques de norepinefrina, serotonina e dopamina no interior
dos neurônios e subsequente difusão do excesso de neurotransmissores para a fenda sináptica.
Esses fármacos inibem a iMAO não só no cérebro, mas também no fígado e no intestino, onde
catalisam desaminações oxidativas de fármacos e substâncias potencialmente tóxicas, como a
tiramina, que é encontrada em certos alimentos.

— Indicação: os iMAOs são indicados para pacientes deprimidos que não respondem ou são
alérgicos aos ADTs ou que apresentam forte ansiedade. Uma subcategoria especial de depressão,
denominada depressão atípica, pode responder aos iMAOs preferencialmente.

— Efeitos adversos: os efeitos graves, frequentemente imprevisíveis devido a interações com


fármacos e alimentos, limitam o amplo uso destes fármacos. Por exemplo, a tiramina, que está
presente em alimentos como queijos envelhecidos, carnes, fígado de aves, peixes em conserva ou
defumados e vinhos tintos, normalmente é inativada pela iMAO no intestino. Indivíduos tratados
com iMAO são incapazes de degradar a tiramina presente na dieta. A tiramina causa liberação de
grande quantidade de catecolaminas armazenadas nos terminais nervosos, resultando em crise
hipertensiva com sinais e sintomas, como cefaleia occipital, rigidez no pescoço, taquicardia,
náuseas, hipertensão, arritmias cardíacas, convulsões e, possivelmente, colapso.

Quadro 2 – Resumo dos fármacos antidepressivos

1950 1960 1980 1990 2000 2010

Classe Agonista de
Tricíclicos iMAO ISRS IRSN IRDN melatonina
Aumentam Aumentam Aumentam
Mecanismo Aumentam os Aumentam Estimulam a
os níveis de os níveis de os níveis de
de ação níveis de todas as os níveis de produção de
serotonina e serotonina e dopamina e
aminas biogênicas serotonina melatonina
noradenalina noradrenalina noradrenalina

Efeitos Ganho de peso, Ganho de peso, Ganho de peso, Ganho de peso, Perda de peso, Náuseas,
adversos transpiração e impotência sexual transpiração e transpiração e boca seca e tonturas e
boca seca e insônia náuseas náuseas cefaleia dor de cabeça
Fluoxetina
Amitriptilina Paroxetina
Fármacos Fenelzina Duloxetina
Clomipramina Sertralina Bupropiona Agomelatina
Selegilina Venalfaxina
Imipramina Fluvoxamina
Escitalopram

Adaptado de: Whalen; Finkel; Panavelil (2016, p. 149).

52
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

4.2 Estabilizadores de humor

Os estabilizadores de humor são fármacos psicoativos usados para tratar distúrbios do humor
caracterizados por mudanças de humor intensas e sustentadas, tipicamente do tipo bipolar tipo I,
tipo II ou esquizofrenia. Os estabilizadores de humor suprimem oscilações entre mania e depressão.
Os fármacos que estabilizam o humor também são usados no transtorno de personalidade limítrofe
e transtorno esquizoafetivo. O termo estabilizador de humor não descreve um mecanismo, mas,
sim, um efeito.

As drogas comumente classificadas como estabilizadores do humor incluem:

• Lítio: é o estabilizador de humor “clássico”, primeiro a ser aprovado nos Estados Unidos, ainda
é usado em tratamento. O monitoramento terapêutico de drogas é necessário para garantir que
os níveis de lítio permaneçam na faixa terapêutica: 0,6 ou 0,8-1,2 mEq/L (ou milimolar). Sinais
e sintomas de toxicidade incluem náuseas, vômitos, diarréia e ataxia. Os efeitos colaterais mais
comuns são a letargia e o ganho de peso. Os efeitos secundários menos frequentes do uso de lítio
são visão turva, tremores ligeiros nas mãos e sensação de estar ligeiramente enfermo. Em geral,
esses efeitos colaterais ocorrem nas primeiras semanas após o início do tratamento com lítio.
Esses sintomas geralmente podem ser melhorados pela redução da dose.

• Anticonvulsivantes: muitos agentes descritos como estabilizadores do humor também são


classificados como anticonvulsivantes. O termo estabilizadores de humor anticonvulsivos às vezes
é usado para descrevê-los como uma classe. Embora este grupo também seja definido por efeito
em vez de mecanismo, há pelo menos uma compreensão preliminar do mecanismo da maioria
dos anticonvulsivantes utilizados no tratamento de transtornos de humor. Os principais usados
nesse caso são: ácido valproico (Depakine), valproato semisódico (Depakote) e valproato de sódio
(Depacon; Epilim). Estão disponíveis em formato de liberação prolongada. O ácido valproico pode
ser muito irritante para o estômago, especialmente quando tomado como lamotrigina (Lamictal),
carbamazepina (Tegretol) ou oxcarbazepina (Trileptal). Não há evidências suficientes para apoiar
o uso de vários outros anticonvulsivantes, como gabapentina e topiramato, como estabilizadores
do humor.

• Antipsicóticos: alguns antipsicóticos atípicos (aripiprazol, risperidona, olanzapina, quetiapina,


asenapina, paliperidona, ziprasidona e lurasidona) também têm efeito de estabilizadores de humor
e, portanto, são comumente prescritos, mesmo quando os sintomas psicóticos estão ausentes.

4.3 Estimulantes do sistema nervoso central

Os estimulantes do sistema nervoso central (SNC) são medicamentos que aceleram processos físicos
(psicomotores) e mentais. Os estimulantes do sistema nervoso central são usados ​​para tratar condições
caracterizadas pela falta de estimulação adrenérgica, incluindo narcolepsia e apneia neonatal. Além
disso, o metilfenidato (ritalina) e o sulfato de dextroanfetamina (dexedrine) são utilizados para o seu
efeito paradoxal no transtorno de hiperatividade com déficit de atenção (TDAH).

53
Unidade I

Os anorexígenos – como a benzfetamina, dietilpropiona, fendimetrazina, fentermina e sibutramina


– são estimulantes do SNC utilizados na redução do apetite na obesidade severa. Embora essas drogas
sejam estruturalmente semelhantes às anfetaminas, elas causam menos sensação de estimulação e
são menos adequadas para uso em condições caracterizadas pela falta de estimulação adrenérgica.
A fenilpropanolamina e a efedrina foram utilizadas tanto como auxiliares dietéticos quanto como
vasoconstritores.

A maioria dos estimulantes do SNC é quimicamente semelhante à norepinefrina e simula a síndrome


tradicional de “luta ou fuga” associada à excitação do sistema nervoso simpático.

A cafeína está mais relacionada às xantinas, como a teofilina. Um pequeno número de membros
adicionais da classe de estimulantes do SNC não se enquadra em grupos químicos específicos.

As anfetaminas têm um alto potencial de abuso. Elas devem ser usadas em ​​ programas de
redução de peso somente quando as terapias alternativas forem ineficazes. A administração por
períodos prolongados pode levar à dependência de drogas. As anfetaminas são contraindicadas
em arteriosclerose avançada, doença cardiovascular sintomática, hipertensão de moderada a
grave e hipertireoidismo. Não devem ser usadas para
​​ tratar pacientes com hipersensibilidade ou
idiossincrasia às aminas simpaticomiméticas, tampouco em pacientes com glaucoma, história
de estados agitados, história de abuso de drogas ou durante os 14 dias após a administração de
inibidores da monoamina oxidase (iMAO).

O metilfenidato pode diminuir o limiar de convulsão. Houve relatos de que quando usado em crianças,
o metilfenidato e as anfetaminas podem retardar o crescimento. Embora esses relatórios tenham sido
questionados, pode-se sugerir que os medicamentos não sejam administrados fora do horário escolar
(porque a maioria das crianças tem problemas de comportamento na escola), a fim de permitir que a
estatura completa seja alcançada. Os efeitos adversos mais comuns dos estimulantes do SNC estão
associados a sua ação primária. As respostas típicas incluem superestimulação, tonturas, agitação e
reações semelhantes. Raramente, foram relatadas reações hematológicas, incluindo leucopenia,
agranulocitose e depressão da medula óssea. A diminuição do limiar de convulsão foi observada com a
maioria das drogas nessa classe.

4.4 Antipsicóticos

A psicose é uma condição anormal da mente que envolve uma perda de contato com a realidade.
Pessoas com psicose podem apresentar alterações de personalidade e transtornos do pensamento.
Dependendo da sua gravidade, isso pode ser acompanhado por um comportamento incomum ou
estranho, bem como dificuldade de interação social e comprometimento na realização de atividades da
vida diária. Essa característica é encontrada em pacientes que apresentam esquizofrenia.

A esquizofrenia é uma doença mental caracterizada por comportamento social anormal e falha
em entender o que é real. Os sintomas comuns incluem falsas crenças, pensamentos pouco claros ou
confusos, ouvir vozes que outros não ouvem, engajamento social reduzido, expressão emocional e falta
de motivação.
54
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

As pessoas com esquizofrenia muitas vezes têm problemas de saúde mental adicionais, como
distúrbios de ansiedade, doença depressiva maior ou distúrbios do uso de substâncias. Os sintomas
geralmente ocorrem gradualmente, começam na idade adulta jovem e duram muito tempo.

As causas da esquizofrenia incluem fatores ambientais e genéticos. Possíveis fatores ambientais


incluem ser criado em cidade, consumo de cannabis durante a adolescência, certas infecções, idade e
má nutrição durante a gravidez.

Os fatores genéticos incluem uma variedade de variantes genéticas comuns e raras. O diagnóstico
é baseado no comportamento observado, nas experiências relatadas pela pessoa e nos relatórios
de outros familiarizados com a pessoa. A esquizofrenia não implica uma “personalidade dividida”
ou “transtorno de personalidade múltipla”, condições com as quais geralmente é confundida na
percepção pública.

O principal suporte do tratamento é a medicação antipsicótica, juntamente com aconselhamento,


treinamento profissional e reabilitação social. Não está claro se os antipsicóticos típicos ou atípicos
são melhores. Naqueles pacientes que não melhoram com outros antipsicóticos, a clozapina pode ser
usada. Em situações mais graves – em que existe risco para si ou para outros – pode ser necessária a
hospitalização involuntária, embora as internações hospitalares sejam atualmente mais curtas e menos
frequentes do que já foram.

Cerca de 0,3-0,7% das pessoas são afetadas pela esquizofrenia durante a vida. Em 2013, havia
aproximadamente 23,6 milhões de casos no mundo todo. A expectativa de vida média das pessoas com
o transtorno é de 10 a 25 anos a menos do que a população em geral.

Foram feitas várias tentativas para explicar o vínculo entre a função cerebral alterada e a
esquizofrenia. Uma das mais comuns é a hipótese de dopamina, que atribui a psicose à superestimulação
dopaminérgica. Muitos mecanismos psicológicos têm sido implicados no desenvolvimento e na
manutenção da esquizofrenia. Os vícios cognitivos foram identificados nas pessoas com diagnóstico ou
em risco, especialmente quando sob estresse ou em situações confusas.

Algumas características cognitivas podem refletir déficits neurocognitivos globais, como a perda
de memória, enquanto outras podem estar relacionadas a questões e experiências específicas.
Descobertas recentes indicam que muitos indivíduos diagnosticados com esquizofrenia são responsivos
emocionalmente, particularmente para estímulos estressantes ou negativos, e que tal sensibilidade pode
causar vulnerabilidade aos sintomas ou à desordem. Algumas evidências sugerem que o conteúdo de
crenças delirantes e experiências psicóticas podem refletir as causas emocionais da desordem, e o modo
como uma pessoa interpreta essas experiências pode influenciar a sintomatologia.

O uso de “comportamentos de segurança” (atos como gestos ou o uso de palavras em contextos


específicos) para evitar ou neutralizar ameaças imaginadas pode realmente contribuir para a cronicidade
de delírios. Outras evidências para o papel dos mecanismos psicológicos provêm dos efeitos das
psicoterapias nos sintomas da esquizofrenia.

55
Unidade I

Os fármacos antipsicóticos (neurolépticos) são usados principalmente para tratar esquizofrenia, mas
também são eficazes em outros estados psicóticos e estados de mania. O uso de medicação antipsicótica
envolve o difícil limite entre o benefício de aliviar os sintomas psicóticos e o risco de uma ampla variedade
de efeitos perturbadores adversos.

Os antipsicóticos não são curativos e não eliminam o transtorno crônico do pensamento, mas, com
frequência, diminuem a intensidade das alucinações e ilusões, permitindo que a pessoa com esquizofrenia
conviva em um ambiente de apoio.

Os antipsicóticos são divididos em primeira e segunda gerações. A primeira geração é subdividida


em potência baixa e potência alta. Essa classificação não indica a eficácia clínica dos fármacos, mas
especifica a afinidade pelo receptor de dopamina D2, que, por sua vez, pode influenciar o perfil dos
efeitos adversos do fármaco.

Figura 8 – Vias dopaminérgicas cerebrais

A seguir, as duas divisões dos antipsicóticos:

• Primeira geração: os antipsicóticos de primeira geração (também denominados antipsicóticos


tradicionais, típicos ou convencionais) são inibidores competitivos em vários receptores, mas
seus efeitos antipsicóticos refletem o bloqueio competitivo dos receptores D2 da dopamina.
Os antipsicóticos de primeira geração são os que provavelmente mais causam transtornos do

56
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

movimento conhecido como sintomas extrapiramidais (SEPs), particularmente o haloperidol. Os


principais fármacos desta família são flufenazina, haloperidol, perfenazina e tiotixeno.

• Segunda geração: a segunda geração de antipsicóticos (também denominada antipsicóticos


atípicos) têm menor incidência de SEP do que os de primeira geração, mas são associados com
maior risco de efeitos adversos metabólicos, como diabetes, hipercolesterolemia e aumento de
massa corporal. A segunda geração de fármacos deve sua atividade singular ao bloqueio dos
receptores de serotonina, dopamina e outros. Os principais fármacos desta família são aripiprazol,
asenapina, clozapina, olanzapina, quetiapina e risperidona.

4.4.1 Ações dos fármacos antipsicóticos

Os efeitos dos antipsicóticos parecem refletir o bloqueio dos receptores de dopamina e/ou serotonina.
Contudo, vários desses fármacos também bloqueiam receptores colinérgicos, adrenérgicos e histamínicos.

• Efeitos antipsicóticos: todos os antipsicóticos podem diminuir as alucinações e ilusões associadas


à esquizofrenia (sintomas positivos), bloqueando os receptores D2 no sistema meso-límbico do
cérebro. Os sintomas negativos, como falta de afeto, apatia e falta de atenção, bem como o déficit
cognitivo, não são controlados pelos antipsicóticos.

• Efeitos extrapiramidais: distonias (contrações sustentadas dos músculos levando a posturas


distorcidas), sintomas tipo Parkison, acatisia (intranquilidade motora), discinesia tardia
(movimentos involuntários geralmente de língua, lábios, pescoço, tronco e membros) podem
ocorrer com o tratamento com antipsicóticos.

• Efeitos antieméticos: esse efeitos se deve ao bloqueio dos receptores D2 da zona quimiorreceptora
disparadora bulbar.

• Efeitos anticolinérgicos: alguns antipsicóticos produzem efeitos anticolinérgicos que incluem


visão turva, boca seca, confusão e inibição dos músculos lisos dos tratos gastrointestinal e urinário,
causando constipação e retenção urinária.

4.4.2 Efeitos adversos

Os efeitos adversos dos antipsicóticos ocorrem em praticamente todos os pacientes; os principais


são: os efeitos extrapiramidais, discinesia tardia, síndrome do antipsicótico maligno, retenção urinária,
aumento de massa corporal, convulsões, sedação, hipotensão postural, disfunção sexual, arritmias,
xerostalmia e constipação.

Veja o quadro a seguir, no qual bloqueio 5HT2 corresponde à melhora de sintomas negativos, bloqueio
D ao efeito antipsicótico, bloqueio M ao efeito anticolinérgico, bloqueio alfa ao efeito hipotensor e
bloqueio H1 à sedação:

57
Unidade I

Tabela 2 – Perfil de antipsicóticos de acordo com o receptor

Perfil de receptor (afinidade


Droga Dose (mg/dia) por bloqueio)
Quetiapina 150-750 H1>5HT2>alfa>D2
Amisulprida 50-1200 D2>D3>D1
Olanzapina 0,5-20 5HT2>D>M>alfa>H1
Risperidona 0,2-0,8 5HT2>D>alfa>H1
Clozapina 50-900 5HT2>D>alfa>M>H1
Ziprasidona 40-160 5HT2>D2>5HT1a
Aripiprazol 15-30 5HT2

Fonte: Deniker (1983, p. 163).

4.5 Tratamento da enxaqueca

A enxaqueca é um distúrbio de dor de cabeça primário caracterizado por dores de cabeça recorrentes,
que vão de moderadas a graves. Normalmente, as dores de cabeça afetam metade da cabeça, são de
natureza pulsante e duram de duas a 72 horas.

Os sintomas associados podem incluir náuseas, vômitos e sensibilidade à luz, ao som ou ao


cheiro. A dor geralmente é piorada com a atividade física. Aproximadamente um terço das pessoas
tem o mesmo sintoma: um curto período de distúrbio visual, que sinaliza que a dor de cabeça
em breve ocorrerá. Ocasionalmente, esse sintoma pode aparecer com pouca ou nenhuma dor de
cabeça depois.

Acredita-se que as enxaquecas se devem a uma combinação de fatores ambientais e genéticos. A


mudança dos níveis hormonais também pode desempenhar um papel importante na enxaqueca, pois
as enxaquecas afetam ligeiramente mais homens do que mulheres antes da puberdade e duas a três
vezes mais mulheres do que homens na idade adulta. O risco de enxaqueca geralmente diminui durante
a gravidez.

Os mecanismos subjacentes não são totalmente conhecidos. No entanto, acredita-se que


envolvam nervos e vasos sanguíneos do cérebro. O tratamento recomendado inicial é com medicação
para dor simples, como ibuprofeno e paracetamol para a dor de cabeça, medicação para a náusea
e buscar evitar gatilhos.

Medicamentos específicos, como triptanos ou ergotaminas, podem ser usados naqueles


​​ para
quem os medicamentos para dor simples não são eficazes. Uma série de medicamentos são úteis
para prevenir ataques, incluindo metoprolol, valproato e topiramato. Globalmente, cerca de 15%
das pessoas são afetadas por enxaquecas. A maioria das vezes começa na puberdade e é pior
durante a idade adulta.

58
FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

Os medicamentos preventivos para enxaqueca são considerados eficazes se reduzirem a frequência


ou a gravidade dos ataques de enxaqueca em pelo menos 50%. As diretrizes são razoavelmente
consistentes na classificação de topiramato, divalproex/valproato de sódio, propranolol e metoprolol,
tendo o maior nível de evidência para o uso de primeira linha. No entanto, recomendações sobre a
eficácia variaram entre gabapentina e pregabalina.

O timolol é eficaz para a prevenção da enxaqueca e também na redução da frequência e


da gravidade do ataque de enxaqueca, enquanto o frovatriptano é eficaz para a prevenção da
enxaqueca menstrual.

Há evidências que apoiam o uso de suplementos de magnésio. A amitriptilina e a venlafaxina


também são eficazes. A toxina botulínica (Botox) foi considerada útil naqueles pacientes com enxaquecas
crônicas, mas não em pacientes episódicos.

Resumo

Anti-inflamatório refere-se à propriedade de uma substância ou


tratamento reduzir a inflamação ou o inchaço. Os medicamentos anti-
inflamatórios constituem cerca de metade dos analgésicos, corrigindo a dor
ao reduzir a inflamação em oposição aos opioides, que afetam o sistema
nervoso central para bloquear a sinalização da dor no cérebro.

Alguns anti-inflamatórios podem ser usados em doenças pulmonares,


como a asma e o DPOC. Os fármacos usados para o tratamento das doenças
respiratórias podem ser aplicados topicamente na mucosa nasal, inalados
ou administrados por via oral ou parenteral para absorção sistêmica. Os
métodos de aplicação local, como os nebulizadores ou inaladores, são
preferidos, pois o fármaco atinge o tecido-alvo e minimiza os efeitos
adversos sistêmicos.

A maioria dos fármacos que afetam o sistema nervos central atua


alterando alguma etapa do processo de neurotransmissão. Os fármacos
que afetam o DNC podem atuar na pré-sinapse, influenciando a
produção, o armazenamento, a liberação ou o término da ação dos
neurotransmissores. Outros fármacos podem ativar ou bloquear os
receptores pós-sinápticos.

Esta unidade apresentou uma visão geral do SNC, com foco nos
neurotransmissores que estão envolvidos nas ações dos fármacos
clinicamente úteis. Também foram estudados os principais tratamentos
farmacológicos para transtornos de ansiedade, epilepsia, transtornos de
humor, afetividade, entre outros.

59
Unidade I

Exercícios

Questão 1. (Fumarc 2014) A intoxicação por medicamentos tem sido um problema geral de saúde.
De acordo com a farmacologia, dos principais agentes envolvidos nas intoxicações medicamentosas
encontram-se os benzodiazepínicos e opiáceos. O agente e seu correto antagonista estão indicados em:

A) Opioide – flumazenil.

B) Benzodiazepínico – naloxone.

C) Benzodiazepínico – flumazenil.

D) Opioide – bloqueador de canal de Ca.

E) Opioide – bloqueador de canal de Fe.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: agente: opioide – antagonista: naloxone.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: agente: benzodiazepínico – antagonista: flumazemil.

C) Alternativa correta.

Justificativa: o flumazenil tem uma estrutura imidazobenzodiazepínica e, ao nível do SNC, comporta-


se como um antagonista da ação das benzodiazepinas.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: os derivados das diidropiridinas (como nifedipina, felodipina, lacidipina e amlodipina),


dos benzotiazepínicos (como diltiazem), das fenilalquilaminas (como verapamil) e tetralol (como
mebefradil) são os agentes antagonistas dos canais de cálcio.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: opioides são agentes que atuam no sistema nervoso para tirar a dor, portanto não são
bloqueadores de Fe.

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FARMACOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM

Questão 2. (Cesgranrio 2008) Quando um trabalhador é afastado de sua atividade laboral porque
está sendo medicado com psicofármaco, que pode causar impregnação, significa que o medicamento
em uso está classificado entre os:

A) Hipnóticos.

B) Psicolépticos.

C) Anticonvulsivantes.

D) Neurolépticos.

E) Ataráxicos.

Resolução desta questão na plataforma.

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