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Problema 3 – Hipocinético

Objetivos:
1. Estudar os aspectos anatômicos, funcionais e fisiopatológicos do sistema extrapiramidal.
Sistema Extrapiramidal – Aspectos anatômicos, funcionais e fisiopatológicos

● Este sistema é filogeneticamente mais primitivo que o sistema piramidal, e corresponde a um conjunto de
estruturas anatômicas envolvidas no controle motor, particularmente no que se refere ao planejamento e
coordenação de atividades motoras complexas.
● Tal sistema engloba todos os sistemas de projeção não-piramidal envolvidos no controle motor. Suas
principais estruturas não corticais são:
o Tálamo: no sistema motor, o tálamo funciona basicamente como um interruptor, integrando
diferentes estruturas do sistema extrapiramidal com o córtex motor. Localiza-se no diencéfalo e é
constituído basicamente por substância cinzenta – nesta encontram-se vários núcleos. Estes núcleos
talâmicos são divididos em 5 grupos:
I. Grupo Anterior: integra o circuito de Papez e está relacionado ao comportamento emocional.
II. Grupo Posterior: corresponde ao pulvinar e corpos geniculados medial e lateral, estando estes últimos
ligados às vias auditiva e óptica respectivamente.
III. Grupo Lateral: é o de maior relação com o sistema motor. Apresenta aferências motoras provenientes
dos gânglios da base e cerebelo, particularmente globo pálido, projetando-as para o córtex motor. O
grupo lateral é subdividido em dorsal e ventral. Os núcleos do subgrupo ventral estão diretamente
implicados com o sistema motor extrapiramidal.
✔ Núcleo ventral anterior: tem função ligada a motricidade somática e recebe a maior parte de
fibras provenientes do globo pálido.
✔ Núcleo ventral lateral: recebe fibras do cerebelo e parte das fibras do globo pálido, as quais
também se projetam para o córtex motor.
✔ Núcleo ventral póstero-lateral: recebe fibras do leminisco medial (informações de tato
epicrítico e propriocepção) e do leminisco espinhal (informações de temperatura, dor,
pressão e tato protopático), sendo, portanto, um interruptor de vias sensitivas que se
projetam ao córtex.
✔ Núcleo ventral póstero-medial: recebe fibras do leminisco trigeminal (sensibilidade somática
geral de parte da cabeça), projetando-as para o córtex (giro pós-central).
IV. Grupo Mediano: promove conexões com o hipotálamo.
V. Grupo Medial: tem importante papel de ativador do córtex cerebral, uma vez que recebe fibras do
sistema reticular ativador ascendente. Porém, um dos núcleos o centro mediano, parece não ter
conexões corticais, mas apenas com gânglios da base.
▪ Aspectos clínicos: lesões talâmicas cursam com as mais diversas síndromes clínicas devido as diversas
funções de seus núcleos. As enfermidades que mais frequentemente cursam com comprometimento
talâmico são as lesões vasculares e tumorais. As principais síndromes clínicas, conforme os grupos
talâmicos afetados, são:
✔ Grupo Anterior: déficit de atenção, acinesia, alterações de linguagem e amnésia.
✔ Grupo Posterior: hemianestesia, dor, defeitos no campo visual, e déficit de atenção.
✔ Grupo Lateral: perda sensitiva, dores paroxísticas e hemiataxia contralaterais ao lado do
corpo afetado, principalmente quando sua região posterior é afetada. Ademais, também
pode haver distonia, mioclonias e asterix (tremor no punho quando estendido – dorsiflexão).
✔ Grupo Medial: apatia, agitação, sonolência e coma.
o Cerebelo: é a porção do sistema extrapiramidal responsável pela cronometragem das atividades
motoras, controle da intensidade da carga muscular e interação entre grupos agonistas e
antagonistas, para a execução dos movimentos. O cerebelo faz a sequenciação, monitora, refina e
ajusta, e termina os movimentos motores, porém não os inicia diretamente. Do ponto de vista
macroscópico, o cerebelo é dividido em:
I. Vérmis: recebe aferências da musculatura axial.
II. Hemisférios cerebelares: apresentam uma zona intermediária, relacionada à musculatura apendicular
e uma zona lateral, relacionada a movimentos sequenciais.
▪ As principais vias aferentes do cerebelo são:
✔ Via córtico-ponto-cerebelar:
origina-se de neurônios do
córtex motor, pré-motor e
somato-sensorial. Participam
diretamente no planejamento
de movimentos complexos.
✔ Feixe olivo-cerebelar:
neurônios originados no
córtex motor, gânglios da
base e formação reticular.
Auxilia na correção dos
movimentos em execução,
uma vez que fornece ao
córtex cerebelar detalhes da
intenção de cada movimento.
✔ Feixe vestíbulo-cerebelar: suas fibras têm origem nos núcleos vestibulares. Traz dados
importantes sobre a posição cefálica, auxiliando no controle do equilíbrio.
✔ Tratos espino-cerebelares dorsal e ventral: o primeiro tem suas aferências originadas em
fusos neuromusculares e órgãos tendinosos de Golgi, e permite a avaliação inconsciente da
posição e velocidade de movimento do corpo. O segundo tem suas aferências originadas de
estímulos que chegam à base do corno posterior da medula e conduzem informações
posturais de todo um membro ao cerebelo.
▪ As principais vias eferentes do cerebelo são:
✔ Conexões do vérmis: originam-se de axônios do córtex cerebelar, os quais fazem sinapse com
o núcleo fastigial, e através dos feixes fastígio-vestibulares e fastígio-bulbares, exercem
influência sobre neurônios motores que participam do controle das musculaturas axial e
proximal dos membros,
mantendo o equilíbrio e a
postura.
✔ Conexões da zona
intermediária: os axônios do
córtex cerebelar fazem sinapse
com o núcleo interpósito,
originando os feixes
interpósito-rubro-espinhal e
interpósito-tálamo-cortical,
exercendo influência sobre
neurônios motores que
controlam a musculatura
distal. Portanto, esta via
controla os movimentos finos
e delicados, uma vez que integra a musculatura agonista e antagonista dos membros.
✔ Conexões da zona lateral: os axônios do córtex cerebelar fazem sinapse com o núcleo
denteado, de onde se originam fibras para os núcleos ventro-lateral e ventro-medial do
tálamo do lado oposto, projetando-se então para o córtex motor, auxiliando na coordenação
de atividades motoras sequenciais iniciadas pelo córtex motor.
▪ Os circuitos intrínsecos (permitem que informações cheguem a este órgão oriundas de vários setores
do SN agindo inicialmente sobre os núcleos centrais de onde saem as respostas eferentes do cerebelo)
do cerebelo são coordenados pelas células de Purkinje (neurônios de grandes dimensões), as quais
têm atividade inibitória sobre os neurônios dos núcleos centrais do cerebelo. Já o controle das células
de Purkinje deve-se às fibras que penetram no cerebelo e se dirigem ao córtex cerebelar, as quais
podem ser musgosas ou trepadeiras. As primeiras originam-se no cérebro, tronco encefálico e medula
espinhal, e têm uma ação excitatória direta sobre as células dos núcleos centrais, além de se
ramificarem na camada granular do córtex cerebelar e através de fibras paralelas exercerem atividade
excitatória sobre as células de Purkinje. As fibras trepadeiras originam-se do feixe olivo-cerebelar e
têm ação excitatória direta sobre as células de Purkinje.
▪ Aspectos clínicos: lesões cerebelares têm como principal sintomatologia a incoordenação motora, a
qual pode ser observada através do exame neurológico. Podem estar presentes:
✔ Astasia: dificuldade para se manter em pé. O paciente mantém a base de sustentação
alargada e apresenta tendência de queda multidirecional.
✔ Abasia: dificuldade para marcha, a qual se apresenta de forma ebriosa.
✔ Dismetria: paciente não consegue atingir um alvo, executando movimentos inapropriados
que podem tanto ser interrompidos antes como depois do esperado.
✔ Decomposição: movimentos realizados em etapas, por dificuldade de integração de
diferentes musculaturas, conferindo uma característica “quebrada” e não uniforme ao
movimento.
✔ Disdiadococinesia: dificuldade de realizar movimentos rápidos, alternantes e coordenados.
✔ Tremor: elevada amplitude e baixa frequência, acentuando-se ao final de um movimento,
desencadeando também a manutenção de posturas em relação a um alvo.
o Gânglios da base: estas estruturas são responsáveis pela execução de padrões da atividade motora,
controle cognitivo das sequências de padrões motores e auxiliam na alteração da cronologia e
gradação da intensidade de movimentos. Deve-se observar que o putâmen e o núcleo caudado
podem ser considerados no aspecto funcional como uma unidade: o neoestriado ou striatum. Já o
globo pálido e substância negra dividem-se em duas porções cada: o primeiro em medial e lateral
enquanto a segunda em pars compacta e pars reticulata. O neoestriado representa a via de entrada
do circuito dos gânglios da base, tendo como principal aferência o córtex motor e áreas associativas.
O núcleo caudado recebe um maior número de aferências de áreas associativas e parece estar
relacionado a atividades cognitivas como a aprendizagem motora. Já as aferências do putâmen são
provenientes do córtex motor, parecendo estar envolvido apenas no controle da motricidade. O
neostriado recebe ainda aferências da substância negra pars compacta, tendo como
neurotransmissor a dopamina. Esta, ao atuar sobre receptores do tipo D2, inibe neurônios estriatais
que se projetam para o pálido lateral. Por outro lado, ao atuar sobre receptores do tipo D1, excita os
neurônios estriatais que se dirigem ao pálido medial e substância negra pars reticulata. O pálido
medial e a substância negra pars reticulata constituem um complexo, o qual representa a via de saída
do circuito dos gânglios da base, com projeções para os núcleos ventral-lateral e ventral-anterior do
tálamo, de onde partem fibras para o córtex motor, córtex pré-motor e área motora suplementar. As
vias que partem do complexo pálido interno/substância negra pars reticulata para o tálamo têm
como neurotransmissor o ácido
gama-aminobutírico (GABA) e exercem
atividade inibitória. As fibras que se projetam
do tálamo para o córtex são excitatórias, tendo
como neurotransmissor o glutamato. A
integração do neostriado com o complexo
pálido medial/substância negra pars reticulata
pode ocorrer de duas formas:
I. Via direta: tem como neurotransmissor o
GABA e a substância P, exercendo,
portanto, uma atividade inibitória.
II. Via indireta: ocorre através de conexões
com o pálido lateral e o núcleo
subtalâmico. As projeções do neoestriado
para o pálido lateral têm como
neurotransmissor o GABA e encefalianas,
promovendo ação inibitória. As projeções
do pálido lateral para o núcleo subtalâmico são inibitórias e seu neurotransmissor também é o GABA.
Já as projeções do núcleo subtalâmico para o complexo pálido medial/substância negra pars reticulata
são excitatórias e o neurotransmissor é o glutamato.
▪ Aspectos clínicos: as disfunções dos gânglios da base podem ser classicamente divididas em dois
grupos:
✔ Síndrome hipocinética (parkinsonismo): ocorre comprometimento da substância negra pars
compacta, levando a uma redução da atividade do neoestriado sobre as vias de saída direta e
indireta. Essas alterações promovem intensificação da atividade inibitória do complexo pálido
medial/substância negra pars reticulata sobre o tálamo e, consequentemente, uma redução
da estimulação cortical. O quadro clínico característico compõe-se de bradicinesia, hipertonia
plástica, tremor de repouso de baixa frequência e elevada amplitude, além de instabilidade
postural.
✔ Síndrome hipercinéticas (Coréia, balismo, ditonia e atetose): ocorre comprometimento dos
neurônios do neoestriado que tem o GABA e a encefalina como neurotransmissores, levando
a uma diminuição da atividade inibitória do complexo pálido medial/substância negra pars
reticulata sobre o tálamo e consequente hiperatividade das projeções do tálamo sobre o
córtex.

2. Descrever a síndrome parkinsoniana e a doença de Parkinson idiopática (estágios: pré-clínica,


pré-motora e motora).
Síndrome Parkinsoniana ou Parkinsonismo
● O parkinsonismo é um distúrbio do movimento frequente, presente na Doença de Parkinson e em outras
condições. Ele faz parte das síndromes extrapiramidais caracterizadas por acometimento no tálamo, cerebelo
ou núcleos da base, componentes do sistema piramidal e motor do corpo.
● A síndrome Parkinsoniana é caracterizada por 4
componentes (abaixo). O conhecimento desses
componentes permite diferenciar possíveis
diagnósticos diferenciais para Doença de Parkinson,
além de permitir a identificação de outras causas
reversíveis.
o Acinesia: é a principal responsável pela
marcha parkinsoniana e é definida como a
pobreza e lentidão na realização dos
movimentos voluntários. Ela ocorre com
pequenos passos, pés arrastados, perda do
movimento de MMSS durante a deambulação,
hesitações no início da execução ou
interrupções. Algumas características
relacionadas à acinesia são: incapacidade de
sustentar movimentos repetitivos;
dificuldade em realizar movimentos
simultâneos; redução da expressão facial;
diminuição dos gestos corporais; marcha em
bloco; redução da deglutição e sialorreia. O
termo bradicinesia é muito usado e mais
específico para a lentidão na execução dos
movimentos. Porém, outros distúrbios também estão associados, como a festinação – aceleração
involuntária da marcha para evitar a queda para a frente. A lentificação descrita na síndrome pode
gerar comprometimento na fala resultando em disartria hipocinética com perda do volume da voz,
ritmo monótoso e pausas recorrentes. A festinação pode estar presente na fala. Manifestações
semiologicamente associadas sem relação fisiológica são:
▪ Acinesia súbita: conhecida como freezing. Há perda abrupta da capacidade de iniciar ou sustentar
uma atividade motora específica tendo como sinal a hesitação inicial ou frenação súbita dos MMII.
▪ Cinesia paradoxal: é a melhora breve e repentina dos sintomas motores em momentos de forte
emoção. Nesse caso, a cinesia não está relacionada ao déficit dopaminérgico, mas às oscilações da
atividade noradrenérgica.
o Rigidez: a rigidez do parkinsonismo é classificada como hipertonia plástica comum a síndromes
extrapiramidais. O paciente acometido manifesta o sinal clássico da “roda denteada”, ou seja,
resistência à movimentação do local de forma contínua ou intermitente. O paciente com
parkinsonismo apresenta a chamada postura simiesca em que há ântero-flexão do tronco com
semiflexão dos membros por comprometimento da musculatura flexora.
o Tremor: é caracterizado como: de repouso, e unilateral ou assimétrico. Sua instalação é
normalmente assimétrica. Ele é exacerbado durante a realização de movimento involuntários, como
marcha, e em situações de estresse, esforço mental, movimentos voluntários ou durante o sono é
cessado. O movimento geralmente alterna entre pronação e supinação ou flexão e extensão dos
dedos. Tal tremor apresenta boa resposta a drogas antiparkinsonianas e isso auxilia na diferenciação
do tremor com o tremor essencial. Este último é um distúrbio neurológico do movimento que
geralmente afeta as mãos, mas que também pode afetar a cabeça, a voz e as pernas, sendo muitas
vezes confundido com a Doença de Parkinson.
o Instabilidade postural: resulta da perda dos reflexos de readaptação postural. Inicialmente é bem
visto durante mudanças bruscas de direção durante a deambulação e aumenta consideravelmente o
risco de quedas.
● Distúrbios dentro da Síndrome parkinsoniana ou parkinsonismo incluem a doença de corpos de Lewy, atrofia
de múltiplos sistemas, paralisia supranuclear progressiva, degeneração ganglionar corticobasal, intoxicação
por medicamento ou AVC. Ou seja, são doenças que, apesar de ter sintomas em comum com a Doença de
Parkinson, têm outras características que permitem diferenciá-las. Às vezes, é preciso realizar exames para
diferenciar a Doença de Parkinson de outras síndromes parkinsonianas e outras vezes somente o tempo irá
mostrar qual dessas o paciente realmente desenvolveu.
● As síndromes parkinsonianas podem ser divididas em:
o Parkinsonismo primário: engloba as formas hereditárias ou idiopática. Nele está contido a Doença
de Parkinson. Antes de classificar a doença como parkinsonismo primário, deve-se investigar
cuidadosamente e excluir outras causas.
o Parkinsonismo secundário: nesse grupo as principais etiologias são a vascular e a induzida por
fármacos. É importante considerar essas condições em pacientes > 75 anos e investigar o uso de
fármacos bloqueadores de dopamina. Outras causas secundárias do parkinsonismo são mais raras.
o Parkinsonismo atípico: também conhecido como parkinsonismo plus, termo utilizado para quadros
neurológicos de síndrome parkinsoniana associada a outros distúrbios que podem ser autonômicos,
cerebelares, piramidais, entre outros. Esse tipo de parkinsonismo costuma se instalar de forma
simétrica. A insuficiência autonômica associada está relacionada a quedas precoces e demência
precoce. Apresentam, em geral, prognóstico ruim pela rápida progressão e resposta pobre aos
remédios.

Doença de Parkinson Idiopática

● Esse termo é usado para o tipo mais comum da Doença de Parkinson. Trata-se da doença na qual a pessoa
apresenta rigidez, lentificação, tremor e instabilidade postural, sem que tenha outra causa para os sinais e
sintomas apresentados pelo paciente. É a doença clássica descoberta por Parkinson e, portanto, é esperado
que se comporte como uma doença conhecida e previsível. Melhora com o medicamento levodopa e tem
uma evolução característica. Também conhecida como mal de Parkinson.
● Acomete cerca de 2 a 3% da população acima de 65 anos e tem caráter predominantemente motor com
evolução progressiva. É ligeiramente mais comum no sexo masculino. Em geral, surge após os 50 anos, sendo
considerada precoce antes dos 40 e juvenil (10% dos casos) antes dos 20 (raro).
● Anormalidades não motoras como distúrbios cognitivos, psiquiátricos e autonômicos, hiposmia (baixa
sensibilidade olfativa), fadiga e dor também podem ocorrer, e algumas delas podem preceder as alterações
motoras.
● Na etiologia da DP interagem de forma complexa fatores genéticos, ambientais (exposição a pesticidas e
metais pesados, desnutrição, obesidade) e o próprio envelhecimento. Entretanto, sabe-se que na maioria dos
casos de DP não se tem uma causa definida, sendo diagnosticados como DP idiopática. Mas, cerca de 10-15%
dos casos é de natureza genética, sendo que mais de 20 loci gênicos já foram identificados. Em relação a
fisiopatologia tem-se uma sequência: 1º processo degenerativo dos neurônios mesencefálicos nigrais
(depósitos anormais de alfassinucleína; disfunção de organelas e morte neuronal) -> 2º deficiência na
transmissão dopaminérgica na via nigroestriatal -> 3º expressão motora da DP.
● Sobre a evolução da doença, tem-se alguns estágios:
o Fase pré-motora: inicialmente os pacientes cursam com um quadro de hiposmia, constipação
intestinal, distúrbios do sono REM e depressão. Esses dados, apesar de não fecharem diagnósticos,
são bastante sugestivos da Doença de Parkinson.
o Fase motora: é a mais importante de ser observada e compreendida. Sendo uma doença que se
apresenta como uma síndrome parkinsoniana – com os 4 componentes clássicos (rigidez,
bradicinesia, tremor de repouso e instabilidade postural).
o Fase avançada: é nesta fase que na maioria das vezes a instabilidade postural se apresenta. Essa
instabilidade é decorrente da perda da capacidade de readaptação postural no paciente.
● Classificação p/ avaliar gravidade: a escala de Hoehn & Yahr (HY) compreende cinco estágios de classificação
para avaliar a gravidade da DP e abrange medidas globais de sinais e sintomas que possibilitam classificar o
indivíduo quanto ao nível de comprometimento motor e do equilíbrio corporal e de incapacidade funcional.
Na versão modificada, inclui 2 estágios intermediários. Para avaliar se o equilíbrio corporal está
comprometido, utiliza-se o teste de “retropulsão” ou “pull test”.

3. Identificar quais as doenças relacionadas ao parkinsonismo secundário e parkinsonismo plus.


● Parkinsonismo secundário: nesse grupo as principais etiologias são a vascular e a induzida por fármacos.
Exemplos:
o Fármacos: são aqueles que diminuem a atividade dopaminérgica. Esses fármacos incluem
antipsicóticos que bloqueiam os receptores para dopamina no estriado (p. ex., fenotiazina,
tioxanteno, butirofenona), antieméticos (p. ex.,
metoclopramida, procloroperazina) e fármacos que
depletam a dopamina no estriado (p. ex.,
tetrabenazina, reserpina). Tais drogas podem
induzir um estado parkinsoniano. Essa condição é
reversível com a suspensão da droga nociva, mas
isso pode demandar algumas semanas. Um
parkinsonismo que persista por mais de 6 meses é
atribuído a uma DP subjacente que se torne
evidente durante a exposição a essas drogas
antidopaminérgicas. As drogas anticolinérgicas
podem melhorar os sinais e sintomas
parkinsonianos. As drogas antipsicóticas atípicas
clozapina e quetiapina são os antipsicóticos com
menor probabilidade de induzir ou agravar o
parkinsonismo.
o Vasculares:
▪ Hidrocefalia com pressão normal: o distúrbio da marcha na hidrocefalia com pressão normal
assemelha-se ao do parkinsonismo, com passos curtos e arrastados e perda dos reflexos posturais e,
algumas vezes, congelamento. Posteriormente, observa-se a ocorrência das características de
incontinência urinária e demência. O tremor é raro. Os ventrículos visivelmente aumentados levam ao
estabelecimento do diagnóstico correto, com melhora frequente dos sintomas após remoção ou
derivação do LCS. O distúrbio da marcha contrasta de modo notável com a ausência de parkinsonismo
na parte superior do corpo.
▪ Parkinsonismo vascular: o parkinsonismo vascular decorrente de um acometimento lacunar não é
comum, mas pode ser diagnosticado pela aquisição de neuroimagens, com evidências em ressonância
magnética de sinais T2 ponderados mais fortes, compatíveis com pequenos infartos. A hipertensão é
geralmente necessária para a ocorrência desse transtorno. O início dos sintomas, geralmente por um
transtorno da marcha, é insidioso, e a evolução é progressiva. Uma história de um acidente vascular
cerebral de maior gravidade precedendo o início do parkinsonismo é rara, embora seja vista por vezes
uma evolução por etapas. A marcha é profundamente afetada (parkinsonismo da parte inferior do
corpo), com congelamento e perda dos reflexos posturais. O tremor é raro. A resposta às drogas
antiparkinsonianas típicas é fraca.
● Parkinsonismo-plus: as três síndromes
Parkinson-plus mais comuns são a paralisia supranuclear
progressiva (PSP), atrofia de múltiplos sistemas (AMS) e
degeneração corticobasal (DCB).
o Paralisia supranuclear progressiva: síndrome de
paralisia pseudobulbar, paralisia ocular
supranuclear (afetando principalmente o olhar
vertical), rigidez extrapiramidal, ataxia da
marcha e demência. Eles encontraram um
padrão consistente de degeneração neuronal e
emaranhados neurofibrilares (ENF), afetando
principalmente a ponte e o mesencéfalo. Essa
condição passou a ser designada paralisia
supranuclear progressiva (PSP), ou síndrome de
Steele-Richardson-OJszewski. Sinais e sintomas:
os pacientes com PSP clássica ou síndrome de
Richardson apresentam uma síndrome acinética
rígida semelhante à Doença de Parkinson, com
perda precoce dos reflexos posturais, quedas e
demência e, habitualmente, exibem paralisia
supranuclear precoce na evolução. O tremor de repouso, o início assimétrico e a obtenção de
melhora com a levodopa não são comuns. Com frequência, a rigidez axial excede a rigidez dos
membros, e a postura pode ser ereta. Os pacientes apresentam distonia facial com pregas
nasolabiais profundas e testa sulcada (sinal do prócero), com aparência de surpresa ou preocupação.
Quando o paciente anda, o pescoço pode ficar estendido, os braços entram em abdução nos ombros
e em flexão nos cotovelos. Em geral, a disfagia e a disartria aparecem em um estágio precoce e
tornam-se graves. A voz é pastosa e rouca, e alguns pacientes apresentam anartria com a progressão
da doença. O “congelamento” da marcha pode ser proeminente, e a parada transitória da atividade
motora interrompe a marcha, a fala e/ou outras ações. Os primeiros sintomas visuais na síndrome de
Richardson consistem na incapacidade de manter o contato dos olhos em interações sociais e na
dificuldade em tarefas que exigem olhar para baixo, como ler, comer ou descer escadas. No exame,
verifica-se uma hesitação no olhar para baixo voluntário, acompanhada de perda do nistagmo
opticocinético vertical no movimento para baixo do alvo. Com frequência, os pacientes queixam-se
de diplopia, visão turva ou dificuldade na leitura.
o Atrofia de múltiplos sistemas: o termo atrofia de múltiplos sistemas (AMS) foi aplicado a um grupo
de quatro síndromes consideradas anteriormente entidades distintas e separadas: degeneração
nigroestriada, síndrome de Shy-Drager, AOPC e síndrome de Parkinsonismo amiotrofia. Os pacientes
com AMS apresentam parkinsonismo e algumas das outras características clínicas; cada condição
pode ser identificada por sua característica clínica típica.
o Degeneração corticobasal:  relatado inicialmente como degeneração corticodenteadonigral esse
transtorno se caracteriza patologicamente por neurônios acromáticos aumentados de tamanho em
áreas corticais (especialmente os lobos parietal e frontal), juntamente com degeneração de
neurônios na substância negra e no estriado. O início é insidioso e tipicamente unilateral com
distonia rígida acentuada no braço envolvido. São também vistos sinais corticais de apraxia,
fenômeno do membro alienígena, perda sensorial cortical, mioclonias reflexas corticais e
ocasionalmente afasia. A fala é hesitante, a marcha se mostra deficiente e por vezes se evidencia um
tremor de ação. A doença geralmente se dissemina lentamente até afetar ambos os lados do corpo, e
dificuldades supranucleares do olhar muitas vezes ocorrem tardiamente. Ela pode se assemelhar à
PSP, e ambas as condições acumulam proteína tau – quadros de demência estão associados a
defeitos nessa proteína. As medicações têm se mostrado ineficazes.

4. Discutir mecanismo de ação e efeitos colaterais da levodopa na doença de Parkinson.


● Vários dos fármacos disponíveis para doença de Parkinson atualmente visam manter constantes os níveis de
dopamina no SNC. Esses fármacos oferecem alívio temporário dos sintomas, mas não interrompem nem
revertem a degeneração neuronal causada pela doença.
● A levodopa é um precursor metabólico da dopamina. Ela restabelece a neurotransmissão dopaminérgica no
neoestriado, aumentando a síntese de dopamina nos neurônios ainda ativos da substância negra. No início
da doença, o número de neurônios dopaminérgicos residual na substância negra (geralmente cerca de 20%
do normal) é adequado para a conversão da levodopa à dopamina. Assim, nesses pacientes, a resposta à
levodopa é consistente, e o paciente raramente se queixa de que os efeitos do fármaco desvanecem.
Infelizmente, com o tempo, o número de neurônios diminui, e poucas células são capazes de converter a
levodopa exógena à dopamina. Em consequência, desenvolvem-se flutuações no controle motor.
● O alívio oferecido pela levodopa é meramente sintomático e dura somente o tempo que o fármaco fica
presente no organismo. Os efeitos da levodopa no SNC podem ser potencializados pela coadministração de
carbidopa, um inibidor da
dopamina-descarboxilase que
não atravessa a barreira
hematoencefálica e diminui a
biotransformação da levodopa na
periferia. Dessa forma, há
aumento da disponibilidade de
levodopa no SNC.
● Mecanismo de ação:
o Levodopa: a dopamina
não atravessa a barreira
hematoencefálica, mas
seu precursor imediato, a
levodopa, é transportado
ativamente para o SNC e
transformado em dopamina. A levodopa precisa ser administrada com a carbidopa. Sem carbidopa,
muito do fármaco é descarboxilado a dopamina na periferia, resultando em náusea, êmese, arritmias
cardíacas e hipotensão.
● Efeitos adversos:
o Efeitos periféricos: anorexia, náusea e êmese ocorrem devido à estimulação da zona disparadora
química. Taquicardia e extrassístoles ventriculares resultam da ação da dopamina no coração.
Também pode ocorrer hipotensão. A ação adrenérgica na íris causa midríase. Em alguns indivíduos,
observam-se discrasias sanguíneas – alterações nos elementos figurados do sangue; e reação
positiva ao teste de Coombs. A saliva e a urina apresentam coloração marrom, devido ao pigmento
melanina produzido pela oxidação da catecolamina.
o Efeitos no SNC: podem ocorrer alucinações visuais e auditivas e movimentos involuntários anormais
(discinesia). Esses efeitos são opostos aos sintomas da Doença de Parkinson e refletem a
hiperatividade da dopamina nos gânglios basais. A levodopa também pode causar alteração do
humor, depressão, psicose e ansiedade.

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