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Atividade Integradora - P9M2

tecidual, associada ao efeito das toxinas, pode desencadear


1 - Compreender a fisiopatologia da disfunção mitocondrial, que tem sido implicada como
mecanismo fisiopatológico significativo da síndrome de
Sepse e Choque Séptico. disfunção de múltiplos órgãos (SDMO). A SDMO pode ter
mortalidade de até 90%, conforme o número de órgãos
Definições acometidos.

Na nova definição (2016), o termo sepse grave foi Ao mesmo tempo da liberação de citocinas pró-
abandonado, e sepse foi considerada agora como a infecção inflamatórias, a fisiopatologia da sepse parece envolver
associada à disfunção orgânica devido a uma resposta também a liberação de mediadores anti-inflamatórios,
desregulada do organismo. Esse conceito incorpora os cujo equilíbrio com os mediadores pró-inflamação parece
conhecimentos modernos da fisiopatologia da síndrome, que ser responsável pelo desfecho do paciente. Os pacientes com
identifica sepse não apenas como resposta inflamatória, mas resolução apropriada da sepse parecem ter um balanço
também como resposta anti-inflamatória com adequado entre inflamação e imunossupressão. Já aqueles
imunossupressão concomitante. pacientes que têm um choque séptico fulminante,
geralmente têm um perfil pró-inflamatório mais acentuado.
Já o choque séptico é definido como a presença de
alterações circulatórias e metabólicas/celulares capazes Esse perfil fisiopatológico complexo, com muitas vias de
de elevar substancialmente a mortalidade no contexto da sinalização celular extremamente inter-relacionadas, pode
sepse. explicar a dificuldade de obtenção de uma única droga para
tratamento da sepse, pois dificilmente uma “bala mágica”
atuaria em todos os mecanismos da doença de forma
eficaz.

2 - Discutir as manifestações clínicas,


exames laboratoriais, tratamento e
prevenção do choque séptico.
Quadro clínico
Fisiopatologia As manifestações clínicas da sepse decorrem do processo
infeccioso primário, do processo inflamatório subjacente e
 Contato com porções do agente infeccioso das disfunções orgânicas que acompanham o processo.
(principalmente a endotoxina das bactérias gram- Infelizmente, não há atualmente um teste diagnóstico que
negativas e o ácido lipoteicoico das gram-positivas) seja altamente específico para a sepse, contudo a presença
 Liberação de uma série de marcadores relacionados a dos sinais e sintomas de SRIS associados a alguns dos
perigo celular e de reconhecimento de patógenos, com critérios da Tabela 1 deve prontamente sugerir a
processos de sinalização na maioria das vezes mediados possibilidade de sepse. Nessa condição, a presteza no
pelos receptores toll-like diagnóstico para instituição da abordagem terapêutica
o Liberação de uma série de citocinas (IL1B, precoce pode ajudar a impedir a progressão da disfunção
IL6, IL8, TNF, IFN): o contato das células orgânica ou mesmo evitar seu estabelecimento. A presença
endoteliais com as citocinas inflamatórias e com de disfunção orgânica não só tem valor prognóstico como
a endotoxina leva a um aumento na produção também serve para determinar o suporte necessário a ser
local de óxido nítrico (NO) dado a esses pacientes.
o Ativação do sistema do complemento e da
coagulação Sobre as disfunções encontradas na sepse:
 Migração de leucócitos ativados para o foco
Cardiovascular
infeccioso e o aumento na produção de células
imaturas por parte da medula óssea.  Hipovolemia (perda de líquidos pela febre, sudorese e
saída de líquidos para o terceiro espaço)
O NO é o principal responsável pelas alterações vasculares
como hiporreatividade e aumento da permeabilidade  Vasodilatação sistêmica progressiva
vascular. Devido a essas alterações, há má distribuição do  Hipotensão e choque podem se desenvolver na
fluxo sanguíneo regional que, associada aos fenômenos evolução das manifestações acima
trombóticos da microvasculatura, pode levar a um
desequilíbrio da oferta celular de oxigênio. Essa hipóxia
Alguns pacientes apresentam uma disfunção cardiovascular Exames laboratorias:
transitória, a miocardiopatia da sepse, caracterizada por
alargamento das câmaras cardíacas e redução da fração  Plaquetopenia
de ejeção; essas alterações tendem a ser revertidas em até  Aumento do tempo de protrombina e de
duas semanas após seu início. O mecanismo preciso dessa tromboplastina parcial ativada
disfunção ainda não está claro.  Redução do fibrinogênio
 Aumento dos produtos de degradação da fibrina
Exames laboratoriais:
Exames laboratoriais (a serem solicitados)
Observa-se piora dos parâmetros perfusionais com:

 Hiperlactatemia
 Aumento da diferença arteriovenosa de CO2
 Acidose metabólica (redução do excesso de base –
BE)
 Redução da saturação venosa central ou mista

Renal
Caracteriza-se por dano isquêmico ao túbulo, seja por lesão
direta ou por baixa pressão de perfusão local. Clinicamente,
é identificada por:

 Oligúria
 Aumento de ureia e creatinina

Pulmonar
Ocorre secundariamente à lesão do endotélio vascular
pulmonar, produzindo um progressivo edema intersticial, o Diagnóstico
qual acarreta um desequilíbrio entre a ventilação e a
perfusão pulmonar, com: Para diagnosticar sepse, o critério atual sugere que seja feita
a avaliação do escore de disfunção orgânica SOFA, e um
 Hipoxemia refratária incremento do escore SOFA maior ou igual a 2 seria
 Diminuição da complacência pulmonar diagnóstico de sepse (tabela 2). Como uma forma de
 Infiltrados pulmonares melhorar a triagem de pacientes sépticos em locais que não
 Redução da relação PaO2/FiO2 dispõem de recursos para realizar exames laboratoriais
rapidamente e otimizar seu tratamento, foi criado o score
Neurológica
quickSOFA (qSOFA) (quadro 2). Basicamente, o qSOFA
A disfunção neurológica é também denominada seria um identificador de pacientes com alto risco baseado
encefalopatia associada à sepse. As principais apenas em dados clínicos sem necessidade de coleta de
manifestações clínicas dessa condição são: exames adicionais. A presença de dois ou três critérios
positivos no qSOFA ≥ 2 definiria esse paciente de alto
 Déficit de atenção risco, que deverá receber monitorização estrita e
 Distúrbio cognitivo eventualmente transferência para UTI.
Contudo, vale salientar que tal diagnóstico é considerado Tabela 2:
como de exclusão.

Da coagulação
Caracteriza-se por um estado pró-coagulante com
surgimento da chamada coagulopatia de consumo ou
coagulação intravascular disseminada (CIVD), bem como
redução da atividade dos sistemas anticoagulantes e do
sistema fibrinolítico.

Como resultado, a CIVD pode evidenciar-se clinicamente


por meio de um espectro de alterações que vão desde
fenômenos microtrombóticos até quadros de
sangramento, principalmente em locais de punção e trato
gastrointestinal.
Está indicado apenas para pacientes com sinais de
hipoperfusão. Os demais pacientes sépticos podem receber
infusão de fluidos em quantidade a critério clínico apenas se
houver evidências de desidratação. A Figura 1 traz um
resumo da sugestão de manejo hemodinâmico inicial no
paciente com sepse e hipoperfusão baseada nos guidelines
da SSC.

Quadro 2:

Recomendações quanto à fluidoterapia:

 Ressuscitação volêmica com dose fixa de 30 mL/kg


de cristaloide em pacientes com hipoperfusão
Tratamento  Preferência pelo uso de cristaloides para expansão
volêmica
O tratamento da sepse envolve:  Coloides sintéticos são contraindicados pelo maior
risco de injúria renal aguda
 Antibioticoterapia precoce
 Considerar o uso de albumina humana em pacientes
Coleta de culturas + Antibioticoterapia: com necessidade de grandes quantidades de fluidos e
com preocupação em relação ao edema tecidual
O ideal é que dois pares de hemoculturas sejam coletados
de dois sítios diferentes. A coleta de culturas não deve Uso de drogas vasoativas:
atrasar o início da terapia antimicrobiana em mais de 45
minutos. É fundamental no manejo do paciente com choque séptico.
O evento fisiopatológico primordial no choque séptico é a
vasodilatação arteriolar e a venodilatação, que causam
respectivamente hipotensão e redução do retorno venoso ao
coração. Nesse contexto, o uso de vasopressores surge como
um dos fatores primordiais na correção do distúrbio
circulatório associado ao choque séptico, pois corrige a
vasodilatação arteriolar quanto à venodilatação,
melhorando assim o retorno venoso e a pressão de perfusão
dos órgãos.

A droga de escolha é a noradrenalina, pois se mostrou a


droga mais segura e eficaz nessa população. A vasopressina
De todo modo, qualquer que seja o antimicrobiano foi avaliada em diversos estudos clínicos e não parece
escolhido, o importante é que ele seja realizado no tempo apresentar diferença robusta em relação à noradrenalina.
adequado (em até uma hora da identificação da sepse). Assim, hoje é considerada droga de segunda escolha em
pacientes com choque séptico que se mantêm hipotensos a
O tempo de tratamento antimicrobiano a ser realizado ainda despeito de doses crescentes de noradrenalina.
é controverso na literatura, mas, a sugestão atual é de manter
a ATB por 7 dias na maioria das infecções. Assim como os antimicrobianos, os vasopressores também
devem ser iniciados precocemente nos pacientes com
 Suporte hemodinâmico inicial choque séptico, notadamente naqueles com hipotensão grave
(PAM < 50 mmHg) ou sinais claros de má perfusão.
Quanto à meta de pressão arterial a ser atingida, a SSC  Sugere-se a transfusão de plaquetas profiláticas
recomenda uma meta inicial de pressão arterial média quando:
(PAM) maior do que 65 mmHg. No entanto, essa meta deve o <10 mil/mm3 na ausência de hemorragia
ser individualizada a depender do contexto clínico do aparente;
paciente, como em pacientes cronicamente hipertensos que o <20 mil/mm3 se o paciente tiver um risco
podem se beneficiar de metas de PAM mais elevadas. significativo de sangramento
o > ou = 50 mil/mm3 são aconselhadas para
Outros fármacos:
sangramento, cirurgia ou procedimentos
 Pacientes com disfunção sistólica  Dobutamina invasivos ativos.
(inotrópico) em doses baixas
Profilaxias:
 Pacientes com baixo risco de taquiaaritmias e
bradicardia absoluta ou relativa  Dopamina pode ser  Úlcera de estresse – recomendada para os pacientes
usada como alternativa a norepinefrina em ventilação mecânica por mais do que 48 horas
 Corticoterapia é controversa. Uma sugestão possível ou coagulopatia
é:  Tromboembolismo venoso – deve também ser
o Usar em pacientes com risco elevado de realizada com heparinas de baixo peso molecular, na
morte ausência de disfunção renal significativa, ou com a
o Não usar em pacientes com choque menos heparina não fracionada, na presença de disfunção
grave e pacientes em sepse sem alterações renal
cardiovasculares  Retirada de dispositivos invasivos assim que
possível, a lavagem de mãos, a manipulação
 Suporte às demais disfunções orgânicas adequada dos dispositivos e outras medidas
reconhecidamente eficazes são cabíveis para a
Pacientes sob ventilação mecânica terão maior risco de
prevenção de infecções nosocomiais
delirium e eventual necessidade de uso de sedativos. Assim,
a recomendação de minimizar o uso de sedativos é válida Prevenção
também para pacientes sépticos em geral, com qualquer uma
das estratégias validadas na literatura: protocolos de sedação Da sepse:
ou despertar diário ou a estratégia de não sedação.
 Lavagem das mãos
Se evoluir para Síndrome do Desconforto Respiratório  Elevação da cabeceira do leito
Agudo:  Técnicas estéreis para inserção de cateteres
 Novos locais de inserção para trocas de cateteres
 Ventilação mecânica protetora – objetivo de limitar o
 Isolamento dos pacientes que estão
volume corrente a 6 mL/kg e a pressão de platô a
significativamente imunocomprometidos
menos de 30 cmH2O;
 Posição prona, por ao menos 12 horas, nas primeiras Da progressão da sepse:
24 horas de SDRA naqueles com relação PaO2/FiO2 <
150.  Diagnóstico precoce
 Ressucitação agressiva
Se evoluir para Injúria Renal Aguda:  Antibioticoterapia empírica
Sugere que seja utilizada a terapia substitutiva renal  Ventilação protetora dos pulmões
contínua em pacien-tes com edema tecidual e instabilidade
hemodinâmica.
3 - Compreender o significado
Outros cuidados:
fisiológico dos parâmetros de
 Manter controle glicêmico entre 140-180mg/dL
 Iniciar dieta enteral assim que as condições monitorização apresentados no caso.
hemodinâmicas permitirem
Independente da etiologia, o evento fisiopatológico primário
 Estudos demonstraram que pacientes sépticos
no choque é a hipoperfusão tecidual, levando à hipóxia, à
podem ser mantidos com valores de hemoglobina
acidose e à disfunção orgânica. No choque séptico a
por volta de 8 g/dL sem prejuízo de suas funções
síndrome é provocada pela presença de toxinas bacterianas
orgânicas. Assim, pacientes com valores de
na circulação. Embora possa ser produzido por toxinas de
hemoglobina menores do que 7 g/dL devem ser
qualquer bactéria e até mesmo de vírus ou fungos, é
transfundidos, ao passo que pacientes com valores
principalmente provocado pelo lipopolissacarídeo (LPS)
de hemoglobina entre 7 e 9 g/dL, especialmente
derivado da desintegra- ção da membrana celular de
após as primeiras horas do quadro, não devem
bactérias gramnegativas. O processo inicia-se com a
receber transfusão de rotina
infecção, fenômeno microbiano caracterizado por uma vez que a infecção se dissemina para a corrente circulatória,
resposta inflamatória à presença de microorganismos os mesmos mecanismos por meio dos quais o TNF-α
(bactérias, vírus, fungos e outros agentes) ou à invasão de reprime a infecção local com tanta eficiência, tornam-se
um tecido estéril de um hospedeiro pelos mesmos. O insulto catastróficos. A liberação sistêmica de TNF-α causa
infeccioso produz uma SRIS (Síndrome da Resposta vasodilatação e perda de volume plasmático, devido a um
Inflamatória Sistêmica), semelhante aos não-infecciosos. aumento da permeabilidade vascular, conduzindo ao choque.
Quando a SRIS é resultado de uma infecção comprovada, o No choque séptico, a coagulação intravascular disseminada
termo sepse está indicado. Nesta circunstância clínica, o (CIVD) é igualmente deflagrada pelo TNF-α, levando à
termo sepse representa uma SRIS na presença de infecção. formação de coágulos nos pequenos vasos e ao consumo de
A sepse associada com disfunção orgânica, hipoperfusão ou proteínas da coagulação, de modo que o paciente perde a
hipotensão resultará numa sepse grave. Hipoperfusão e capacidade de coagular o sangue de maneira apropriada. Tal
anormalidades de perfusão podem incluir, mas não serão condição leva frequentemente à falência dos órgãos vitais,
limitadas a: acidose láctica, oliguria, acidose metabólica, como rins, fígado, coração e pulmões, que são rapidamente
hipoxemia e diminuição do nível de consciência ou sinais e comprometidos pela insuficiência de perfusão normal. A
sintomas de meningite. O choque séptico nada mais é do que interleucina-1 (IL-1) promove, em condições normais, a
um subcenário da sepse grave, sendo definido como sepse ativação e maturação linfocitária, mas se comporta como
associada à hipotensão que persiste apesar da reanimação mediador humoral danoso no choque séptico quando é
fluídica adequada acompanhada de hipoperfusão ou liberada em níveis elevados, provocando hipermetabolismo
disfunção orgânica. O denominador comum na sepse e intenso e alterações sanguíneas: proteólise muscular, febre,
choque séptico é uma inflamação sistêmica que envolve hipermetabolismo, proliferação de neutrófilos e linfócitos.
principalmente a microcirculação, provocada pela ativação Virtualmente todas as células do organismo podem produzir
do endotélio, que passa de um estado normal anticoagulante a IL-6, porém, os monócitos, macrófagos e as células
para um estado prócoagulante, com aumento na adesividade endoteliais são os princi pais produtores durante a sepse,
dos leucócitos e plaquetas. O paciente séptico apresenta enquanto o TNF-α, a IL-1 e a endotoxina são os
alterações metabólicas decorrentes de produtos liberados estimulantes. A IL-6 possui uma atividade variada, entre as
pelas bactérias ou de substâncias sintetizadas pelo quais o crescimento e diferenciação de células T e B,
organismo para combater o agente agressor. As alterações produção de proteínas de fase aguda e febre. Talvez, a
na microcirculação são centrais na instalação do cenário das principal função da IL-6 in vivo seja sua capacidade de
alterações metabólicas nestes pacientes. Na vigência do induzir a síntese de proteínas de fase aguda pelos
choque séptico muitos mediadores humorais são liberados hepatócitos. Embora, no grupo das interleucinas, a mais
na reação inflamatória, tais como citocinas, enzimas, importante seja a IL-1, estudos recentes estão relacionando
metabólitos teciduais, etc. Essas substâncias podem ser os níveis mais altos de mortalidade à presença de níveis
utilizadas como marcadores de choque séptico, que aumentados de IL-6.
favorecem um diagnóstico precoce, dentre eles destacamos:
PROTEÍNA C REATIVA – PCR: A proteína C reativa
Citocinas, Proteína C Reativa, Procalcitonina, Óxido
(PCR) é uma proteína de fase aguda produzida pelos
Nítrico, Ácido Lático, Creatinina, Bilirrubina e Troponina I.
hepatócitos após um estímulo de mediadores inflamatórios,
CITOCINAS: Após a inoculação de endotoxinas, várias como a IL-6 e IL-8. A elevação das chamadas proteínas de
células do organismo começam a liberar na circulação fase aguda é importante para o diagnóstico e monitoramento
sanguínea pequenas proteínas (citocinas) que induzem da evolução do processo infeccioso. Elas incluem: alfa 1-
respostas por meio da ligação a receptores específicos. A antitripsina, glicoproteína ácida, haptoglobina,
sequência clássica é a liberação do fator de necrose tumoral ceruloplasmina, fibrinogênio e proteína C reativa. A PCR é
(TNF-α) seguido das interleucinas 1 (IL-1), 6 (IL-6) e 8(IL- a proteína de fase aguda que se eleva mais rapidamente e
8), que são chamadas citocinas pró-inflamatórias. As que retorna ao normal mais precocemente com o sucesso da
citocinas TNF-α e IL-1 são os principais mediadores terapia. Ela pode ter propriedades pró e antiinflamatórias.
endógenos da resposta inflamatória. Possuem atividades Ao contrário das citocinas e procalcitonina, os níveis
semelhantes e sinérgicas, apesar de estruturalmente plasmáticos de PCR atingem seu pico após 24-36 horas,
diferentes. Em aproximadamente uma hora, ambos são havendo certo retardo para diagnosticar-se choque séptico
secretados em grande quantidade na circulação, causando em suas fases iniciais. É provavelmente o marcador mais
efeitos locais e à distância. São altamente tóxicos, mas frequentemente utilizado para determinar a presença e
necessários para alguns mecanismos de defesa, por isso, dimensionar a gravidade da reação inflamatória. Enquanto
devem ser reguladas em diferentes níveis. Uma ou outra alguns autores encontram uma associação com a severidade
pode induzir a leucocitose através da estimulação da medula da sepse e choque séptico, outros questionam o valor da
óssea. Altos níveis de TNF-α livre estão associados com PCR elevada no diagnóstico da sepse e na estratificação de
morbidade e aumento da mortalidade no choque sua gravidade.
acompanhado de bacteremia por bacilos gram-negativos. É
PROCALCITONINA (PCT): A PCT é um pró-peptídeo
uma citocina importante que ativa a contenção da infecção
do hormônio calcitonina, o qual normalmente é produzido
local, mas induz choque se liberado sistemicamente. Uma
pelas células parafoliculares da glândula tireóide. Em
indivíduos sadios, os níveis circulantes de PCT são muito vários compartimentos do corpo, manter o pH fisiológico, e
baixos (<0,1 ng/ml). Em pacientes com sepse, os níveis regular a função apropriada do coração e músculos. SÓDIO
plasmáticos aumentam substancialmente, algumas vezes (NA+) O sódio é o cátion que está em maior concentração
acima de várias centenas de nanogramas por mililitro. Em no meio extracelular e é responsável por quase a metade da
pacientes com choque séptico, aumentando até 100-10.000 osmolaridade plasmática. A concentração sérica varia entre
vezes. Os valores de PCT relatados no início do choque 135 a 145 mmol/L. O mecanismo de transporte do sódio é
séptico são os mais elevados em comparação com outras chamado de bomba de sódio. Uma das funções mais
categorias de inflamação. No estudo de Harbath e cols. importantes desta é a de impedir o intumescimento contínuo
(2001) com 78 pacientes, o ponto de corte da PCT em 1,1 das células. No choque séptico, a partir do momento em que
ng/ml resultou em uma sensibilidade de 87% e uma a célula deixa de receber seu suprimento normal de
especificidade de 78% para diferenciar os pacientes com oxigênio, ocorre alteração do metabolismo aeróbico normal
SRIS daqueles com sepse, sepse severa e choque séptico. da célula para a forma anaeróbica, causando a redução do
Níveis persistentemente elevados na concentração de PCT número de moléculas de ATP (Adenosina Trifosfato)
associam-se a mau prognóstico. A PCT correlaciona-se necessárias ao acionamento normal da bomba de sódio. O
estreitamente com a gravidade da sepse e disfunção não acionamento da bomba de sódio faz com que o sódio
orgânica. fique dentro da célula, levando a séria alteração do potencial
de membrana e ao ingresso de água para o interior da célula
ÓXIDO NÍTRICO (NO): O óxido nítrico é um
(edema celular). Valores de sódio inferiores a 120 mmol/L
vasodilatador endógeno que é produzido pelas óxido nítrico
resultam em fraqueza e valores entre 90 a 105 mmol/L em
sintetases (NOS). Atualmente são conhecidas três isoformas
sinais e sintomas graves de comprometimento neurológico,
de NOS: neuronal, induzível e endotelial, sendo cada uma
tais como náusea, cefaléia, letargia, confusão, coma e
delas codificada por genes diferentes. Duas dessas isoformas
insuficiência respiratória.
da NOS, endotelial e neuronal, são expressas
constitutivamente em condições normais e são denominadas POTÁSSIO (K+): O potássio é o cátion que está em maior
coletivamente de óxido nítrico sintetases constitucionais concentração no meio intracelular. O baixo teor no líquido
(cNOS). Tem sido sugerido que a superprodução da forma extracelular se deve a atividade da bomba de sódio,
induzível (iNOS) contribui para a vasodilatação e localizada na membrana celular, que expulsa o sódio das
hipotensão observadas nos pacientes com choque séptico. O células, enquanto promove a captação ativa do potássio. Os
gene da iNOS é induzido em quase todos os órgãos e em valores séricos esperados devem situarse entre 3,5 a 5,1
múltiplas células durante a endotoxemia. A hiperprodução mmol/L. A acidose metabólica, presente no choque séptico,
de NO pode contribuir para a falência circulatória, disfunção faz com que ocorra um aumento na concentração sérica de
miocárdica, lesão orgânica e ultimar o desenvolvimento da potássio, resultante do movimento do potássio intracelular
disfunção de múltiplos órgãos (DMO) para o extracelular. A hipercalemia (aumento na
concentração de potássio), geralmente assintomática, é uma
ÁCIDO LÁTICO: O ácido lático (lactato), um
emergência médica quando os níveis de potássio são
intermediário do metabolismo dos carboidratos, é derivado
superiores a 6,5 mmol/L, devido ao alto potencial
predominantemente do músculo esquelético, cérebro e
arritmogênico, podendo causar arritmias cardíacas letais.
eritrócitos. A concentração sanguínea é dependente da taxa
de produção e taxa de metabolismo do fígado e rins. No CÁLCIO (CA++): O cálcio está presente quase que
estado de choque, a acidose corre devido a má oxigenação exclusivamente no plasma sob três formas distintas: cálcio
tecidual. A acidose lática não é incomum e pode levar a uma livre e ionizado (forma fisiologicamente ativa), complexado
taxa de mortalidade superior a 60%, que pode chegar a com uma variedade de ânions (particularmente fosfato e
100% quando combinada com a hipovolemia. Dosagens citrato) e ligado a proteínas plasmáticas (especialmente a
seriadas de lactado são realizadas no acompanhamento albumina). No acompanhamento clínico, o cálcio iônico
terapêutico do paciente e seus níveis devem ser mantidos oferece vantagens por se referir à fração fisiologicamente
inferiores a 2,0 mmol/L ou 18,9 mg/dL, dependendo da atuante. Dentre as inúmeras funções do cálcio destacam-se
metodologia utilizada. Não existe uma concentração os processos de coagulação sanguínea, excitabilidade do
uniformemente aceita para o diagnóstico de acidose lática, músculo esquelético e cardíaco, e permeabilidade da
mas concentrações acima de 5 mmol/L e ph < 7,25 indicam membrana no intercâmbio de sódio e potássio. Seu intervalo
uma acidose lática significativa. A elevação do lactato de referência encontra-se situado entre 8,4 a 10,2 mg/dL
sanguíneo em pacientes críticos normalmente é interpretada para o cálcio total e 1,10 a 1,30 mmol/L para o cálcio iônico.
como um sinal de perfusão tecidual inadequada. No estudo Em pacientes com choque séptico, tem sido relatada uma
de Suistomaa et al., a hiperlactatemia presente no início do diminuição nos níveis de cálcio. Uma concentração baixa de
quadro de choque esteve associada a uma maior mortalidade cálcio no líquido extracelular causa impulsos espontâneos
do que a hiperlactatemia que se desenvolveu tardiamente. nos nervos periféricos, resultando em contração tetânica dos
músculos por todo o corpo com consequente morte por
ELETRÓLITOS: O papel dos eletrólitos no organismo é
paralisia respiratória.
bastante variado. Entre as várias funções destacamos:
manter a pressão osmótica e a distribuição de água nos
MAGNÉSIO (MG2+): O magnésio é o quarto cátion mais lipídios, e sua depressão leva à perda da habilidade de
abundante no corpo e o segundo cátion mais concentrado no síntese das proteínas plasmáticas, do fibrinogênio, da
compartimento intracelular. Sua função correlaciona-se protrombina; perda do poder de desaminar aminoácidos;
como ativador de várias enzimas e preservação da estrutura falência da excreção da bile; distúrbios dos sistemas
macromolecular do DNA, RNA e na síntese protéica. Sua enzimáticos, etc. Muitas enzimas são sintetizadas pelo
importância clínica é significativamente maior quando se fígado, mas nem todas são úteis no diagnóstico de desordens
encontra diminuído, como ocorre no choque séptico. A hepáticas. Dentre as enzimas de interesse clínico mais
concentração de magnésio extracelular é baixa, apenas 1,8 a utilizadas estão as aminotransferases (transaminases).
2,5 mEq/L. A diminuição das concentrações podem causar Elevações nas concentrações das transaminases e bilirrubina
irritabilidade neuromuscular severa, tetania, convulsões, comprovam um quadro de icterícia frequentemente
vasodilatação periférica e arritmias cardíacas. As encontrado em pacientes sépticos.
diminuições do magnésio raramente ocorrem como um
AMINOTRANSFERASES: A hipotensão arterial é uma
fenômeno isolado. Geralmente são acompanhadas por
das principais causas de insuficiência hepática. Nos
desordens no metabolismo do potássio, cálcio e fósforo
pacientes com dano hepatocelular agudo geralmente
GLICEMIA: A glicose é o fornecedor central de energia do encontra-se aumento na atividade das aminotransferases que
metabolismo humano. A concentração de glicose no plasma podem estar elevadas mais de 50 vezes que o normal. A
(nível de glicose sanguínea) é determinada, por um lado, AST (aspartato aminotransferase) muito elevada, com uma
pelo gasto de glicose e, por outro lado, por sua reposição. Os elevação brusca e um rápido retorno aos valores basais, pode
níveis séricos de glicose estão aumentados em pacientes ser observada em pacientes com fígado de choque,
com choque séptico, devido a gliconeogênese hepática secundária à anóxia. Os valores de referência da AST
(principalmente a partir de proteínas), a qual ocorre em situam-se entre 17 a 59 U/L para homens e 14 a 36 U/L para
função da insuficiência de oxigênio. O balanço entre mulheres. Níveis aumentados de ALT (alanina
insulina e seus hormônios contrarreguladores (glucagon, aminotransferase) também estão associados à lesão
cortisol e catecolaminas) é alterado na resposta metabólica hepatocelular, sendo mais específica que AST e
para a sepse, como consequência, as ações da insulina são permanecendo aumentada por mais tempo. Os valores de
antagonizadas pelos hormônios contrarreguladores. Níveis referência da ALT situam-se entre 21 a 72 U/L para homens
elevados de glicose agem sobre o processo inflamatório e 09 a 52 U/L para mulheres.
levando à uma adicional liberação de mediadores pró-
BILIRRUBINAS: A bilirrubina total é formada pela
inflamatórios (TNFα e IL-6) e disfunção endotelial e
bilirrubina indireta e direta. Níveis elevados de bilirrubina
neutrófila
total e direta são encontrados na lesão hepatocelular. A
MARCADORES DE FUNÇÃO RENAL: Os rins sofrem icterícia é o sinal mais precoce de uma série de patologias
intensa isquemia ao curso do choque séptico. A deficiência hepáticas e biliares, incluindo o choque séptico. Torna-se
de perfusão que dela decorre leva à diminuição da filtração evidente clinicamente quando as concentrações plasmáticas
glomerular, com retenção de resíduos metabólicos e de bilirrubina total excedem 3,0 mg/dL. Os valores de
autointoxicação. No choque, a presença de sinais clínicos de referência situam-se entre 0,3 a 1,0 mg/dL para a bilirrubina
azotemia e oligúria obriga à solicitação de dosagens de uréia total e até 0,2 mg/dL para a bilirrubina direta
e creatinina a fim de diagnosticar insuficiência renal.
MARCADOR DE LESÃO MIOCÁRDICA –
CREATININA: A creatinina é o produto catabólico da TROPONINA: I Troponinas cardíacas tem surgido como
fosfatocreatina, do músculo esquelético. A creatinina é marcadores sensíveis e específicos para determinar danos
excretada pelos rins, principalmente por filtração miocárdicos. Embora a forma majoritária da troponina esteja
glomerular. Em geral, uma duplicação dos valores da localizada dentro do aparato contrátil, uma pequena fração
creatinina indica perda de 50% da função renal. Seu valor de de troponina T (cTnT) e troponina I (cTnI) é encontrada
referência situa-se entre 0,8 a 1,3 mg/dL para homens e 0,7 a livre no citoplasma. A especificidade é a chave do sucesso
1,2 mg/dL para mulheres. de testes para estas proteínas: troponinas cardíacas T e I não
são encontradas em qualquer outro tecido humano além do
UREIA: A ureia é o maior produto final do catabolismo de
coração. Nos estudos comparativos entre as troponinas T e I,
aminoácidos e proteínas, sendo gerada no fígado e
destaca-se uma melhor sensibilidade para a I, a qual
excretada, quase que exclusivamente, pelos rins. O nível de
apresenta sensibilidade semelhante à enzima Creatino
uréia no plasma é afetado pela função renal, conteúdo
Kinase-Fração MB (CKMB), porém, uma melhor
proteico da dieta e teor do catabolismo proteico, e estado de
especificidade podendo ser utilizada para detecção precoce,
hidratação do paciente. Apesar dessas limitações, entretanto,
acompanhamento e prognóstico das doenças coronarianas
o nível de ureia ainda serve como um marcador de
agudas. Sua elevação ocorre de três a seis horas do início
insuficiência renal. Seu valor de referência situa-se entre 10
dos sintomas, atinge o pico entre 14 e 20 horas, retornando
a 40 mg/dL.
aos níveis próximos do normal em cinco a sete dias. Pela
MARCADORES DE FUNÇÃO HEPÁTICA: O fígado é metodologia de quimioluminescência o valor de referência
o órgão central do metabolismo de proteínas, carboidratos e para a troponina I é inferior a 1 ng/mL. No choque séptico,
existe uma correlação entre a concentração de cTnI no soro valor na avaliação da respiração e na eficiência da terapia
com a disfunção miocárdica. Níveis elevados de cTnI prediz pelo oxigênio. Resultados das medidas de pO2 estão
o aumento na severidade do choque séptico e elevação da alterados quando a capacidade de transporte do oxigênio no
mortalidade. A maior vantagem da cTnI é sua habilidade sangue é afetada. O grau de hipoxemia presente é revelado
para detectar danos celulares miocárdicos que é indetectável pela pO2. Valores baixos de pO2 indicam hipoxemia.
pelos métodos enzimáticos convencionais
HEMOGRAMA
O LABORATÓRIO CLÍNICO NO
MONITORAMENTO DE PACIENTES COM SÉRIE VERMELHA: Redução na deformabilidade dos
CHOQUE SÉPTICO: O diagnóstico do estado de choque é eritrócitos. Nos quadros prolongados de sepse, a produção e
relativamente simples e pode ser realizado por meio dos a sobrevida dos eritrócitos estão diminuídas. Os eritrócitos
sinais clínicos clássicos. Porém, o mais importante não é o normais têm uma forma bicôncava, podendo alterar-se à
simples diagnóstico da presença de choque séptico, mas sim medida que transita entre os capilares. Essa deformabilidade
a avaliação de sua intensidade, o conhecimento de seu é vital para a preservação da perfusão na microcirculação,
estágio evolutivo e a identificação de todos os problemas principalmente quando a pressão de perfusão está diminuída.
hemodinâmicos, biológicos, físicos e químicos presentes, Quando há redução na deformabilidade, o tempo necessário
bem como o grau de comprometimento celular ocorrido. para a passagem dos eritrócitos através dos capilares é
Sendo assim, as análises laboratoriais a seguir são de grande aumentado, podendo ocorrer bloqueio dos mesmos. A
importância: deformabilidade dos eritrócitos é afetada no choque pela
acidose e hipotermia e, quando associada a coagulopatia,
VOLUME URINÁRIO: A medida do volume urinário esta tríade é conhecida como triângulo da morte, um achado
horário é o mais valioso meio de avaliação da perfusão indicativo de mau prognóstico no choque.
renal, e, consequentemente, da perfusão dos órgãos vitais.
Um pequeno volume urinário, abaixo de 30 mL/h, significa SÉRIE BRANCA: No choque séptico geralmente encontra-
deficiência de perfusão. No choque séptico, o grau de se leucocitose neutrofílica com presença de células jovens.
oligúria juntamente com o grau de deficiência perfusional, Em alguns casos, podem ser até evidenciadas reações
serve para avaliar a gravidade do processo ou a recuperação leucemóides com contagens superiores a 50.000/mm3. Mais
do enfermo quanto a diurese aumenta. importante do que a leucocitose são as alterações
morfológicas nos neutrófilos como a presença de células
MEDIDA DO PH, PO2 E PCO2: São medidas realizadas jovens (desvio à esquerda), e também a presença de
no sangue arterial, e decisivas para evolução da gravidade granulações tóxicas finas ou grosseiras e vacuolização
do processo e para indicação da melhor terapêutica a ser citoplasmática, indicando atividade celular intensa.
empreendida. Quando há suspeita de desequilíbrio
ácidobásico, a análise dos gases sanguíneos e pH é COAGULAÇÃO: Distúrbios da coagulação sanguínea são
necessária para uma avaliação do padrão de desequilíbrio. É frequentemente observados nos choques graves, como é o
importante que sejam registradas as condições ventilatórias choque séptico. Inicialmente, e na maior parte do curso,
no momento da coleta de sangue (respiração em ar verifica-se um aumento da coagulabilidade
ambiente, inalação de oxigênio por cateter ou máscara, (hipercoagulabilidade) e, nas fases mais tardias, poder ser
ventilação mecânica, etc.). pCO2 Um parâmetro direto e observado a hipo ou a incoagulabilidade sanguínea. a)
sensível que expressa se a ventilação alveolar está correta plaquetas. O número normal varia de 150.000 a 450.000 por
em vista das demandas metabólicas atuais. Como a pCO2 é microlitro de sangue. A trobocitopenia é um achado comum
uma expressão da ventilação, pode-se afirmar que: Com na CIVD. No entanto, os sintomas clínicos geralmente só
uma pCO2 < 30 mm/hg existe hiperventilação alveolar; aparecem em níveis inferiores a 100.000/microlitro.
Com uma pCO2 entre 30 e 45 mm/hg existe uma ventilação Trombocitopenia isolada pode ser encontrada em torno de
normal; Com uma pCO2 > 45 mm/hg existe insuficiência 30% do início do quadro séptico. b) Fibrinogênio. É o fator
respiratória. Assim, o valor da pCO2 oferece uma de coagulação mais abundante e que forma o coágulo de
informação clara acerca da ventilação pulmonar do paciente. fibrina. Os níveis de fibrinogênio tornam-se elevados com
No choque séptico encontramos uma hiperventilação os outros reagentes de fase aguda. Encontra-se diminuído na
verificada pela pressão do pCO2 < 32 mm/hg. CIVD devido à depleção dos fatores de coagulação. Seu
intervalo de referência situa-se entre 200-400 mg/dL. c) D-
pH Arterial Para diagnosticar qualquer transtorno do Dímero. É um dos produtos de degradação da fibrina, ou
equilíbrio ácido-base é necessária a determinação do pH. A seja, o teste é específico para a detecção da fibrinólise
medida do pH informa se o paciente está normoacidêmico decorrente de fenômenos trombóticos. Níveis elevados são
ou se sofre uma acidemia (pH < 7,36) ou alcalemia (pH > encontrados na CIVD. O valor de referência é inferior a 500
7,42). No choque séptico ocorre uma acidose metabólica ng/ml.
(diminuição do pH sanguíneo), devido ao aumento de
formação de ácido lático por hipóxia, associada com má PESQUISA DO FOCO INFECCIOSO: A pesquisa do
oxigenação tecidual. pO2 A medida de pO2 no sangue foco infeccioso é parte obrigatória da abordagem
arterial (valores de referência: 80-110 mm/hg) é de grande diagnóstica do choque séptico, uma vez que pode orientar o
tratamento antimicrobiano. Antes de o paciente receber
terapia antimicrobiana empírica é preciso coletar amostras predominantes, uma reação dependente de IgE e outra
de sangue, urina, secreções, líquidos cavitários ou coleções independente de IgE (anafilactoide).
localizadas suspeitas de ser o provável foco infeccioso e
Mecanismo mediado por IgE - mecanismo de
enviar para cultura. Exames de rápida realização com o
hipersensibilidade tipo I:
exame direto a fresco para a pesquisa de fungos e parasita,
como também a bacterioscopia (gram), provas imunológicas O alérgeno se liga ao segmento Fab da IgE e este ativa e
e técnicas de biologia molecular constituem ferramentas libera proteinoquinases presentes em basófilos e
úteis para detectar diretamente patógenos bacterianos em mastócitos e, por consequência, leva à liberação de
amostras clínicas, contribuindo para um diagnóstico rápido e mediadores pré-formados estocados nos grânulos
direcionamento precoce da antibioticoterapia. citoplasmáticos daquelas células, que incluem histamina
e triptase, entre outros mediadores.
4 - Entender o uso de aminas  A histamina liga-se aos receptores H1 e H2.
vasoativas (noradrenalina e  Os receptores H2 têm efeitos vasodilatadores e de
vasopressina) nos quadros de choque aumento da permeabilidade capilar.
 Os receptores H1, por sua vez, têm efeitos
séptico. vasoconstritores e broncoconstritores.
 A triptase tem muitos efeitos, como ativação da via do
Objetivo 2 (Uso de drogas vasoativas). complemento e da cascata de coagulação, quimiotaxia e
produção de mediadores pró-inflamatórios, resultando
5 - Entender a fisiopatologia, quadro em manifestações clínicas como edema e distúrbios
hemorrágicos.
clínico e conduta no choque  Os leucotrienos, prostaglandinas e PAF induzem
anafilático. broncoconstrição, vasodilatação, permeabilidade capilar
e regulação da resposta inflamatória.
A anafilaxia é definida como grave reação alérgica, com  Outros elementos envolvidos incluem o óxido nítrico e
rápida instalação e potencialmente causadora de a cascata de coagulação.
complicações graves que incluem a morte.
O mecanismo independente da IgE é, por sua vez, ativado
É uma reação de hipersensibilidade sistêmica grave, causada por IgG ou por complemento. O mecanismo é pouco
pela liberação de mediadores de mastócitos e basófilos de entendido e pode ser causado por atividade física, álcool e
uma forma dependente de IgE, que pode cursar com anafilaxia associada ao uso de opioides, entre outras causas.
hipotensão grave ou comprometimento das vias aéreas.
Etiologia
A anafilaxia pode ocorrer por reação a diferentes agentes,
sendo os mais comuns alimentos e medicamentos. As principais etiologias da anafilaxia incluem:

 Crianças: alimentos são as maiores causas de reações  Uso de drogas: Antibióticos betalactâmicos,
alérgicas ou anafiláticas; sulfametoxazol-trimetoprima, vancomicina, ácido
 Mulheres jovens são especialmente afetadas por acetilsalicílico, anti-inflamatórios não esteroidai
anafilaxia a alimentos;  Consumo de determinados alimentos: Marisco, soja,
 Homens idosos apresentam pior evolução após alergias nozes, trigo, leite, ovos, salicilatos, sementes, sulfitos.
ocorridas por picadas de inseto;  Picadas de insetos.
 A taxa de recorrência de anafilaxia é de 40 a 60% para
Fatores que se predispõem ao desenvolvimento de reação
picadas de insetos, de 20 a 40% para os agentes de
anafilática:
radiocontraste e de 10 a 20% para o uso de
penicilina.  Pacientes nos extremos de idade
 As causas mais comuns de anafilaxias graves são uso  Mastocitose e atopia grave
de antibióticos, picadas de insetos e alimentos.  Episódio de doença respiratória
 Ingestão de álcool
O choque anafilático, por sua vez, é definido como reação
anafilática em que ocorre uma insuficiente entrega de  Comorbidades: asma, insuficiência respiratória crônica,
oxigênio para os tecidos, resultando em colapso doença cardiovascular
cardiovascular e fluxo sanguíneo insuficiente.  Uso de betabloqueadores, inibidores de enzima
conversora de angiotensina e anti-inflamatórios não
Fisiopatologia esteroidais
 Viagem.
O mecanismo básico subjacente às reações alérgicas é a
degranulação de mastócitos e liberação de mediadores A anafilaxia idiopática, que representa 19 a 37% dos casos,
por basófilos. A reação pode ocorrer com dois mecanismos é um diagnóstico de exclusão, definido quando nenhum
agente causador pode ser identificado. Os pacientes sofrem da permeabilidade capilar, com hipovolemia e
recorrentes ataques, sem fatores precipitantes evolução para padrão hipocinético.
identificados após extensa avaliação.
Sintomas gastrointestinais:
Achados Clínicos
 ocorrem em 30 a 45% dos casos;
As manifestações têm um tempo de início variável.  náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, usualmente
na forma de cólica.
O tempo entre o contato alérgeno e a morte pode variar
de 5 minutos após injeção de droga, 10-15 minutos após Sistema nervoso central:
picada de inseto e até 35 minutos em anafilaxia
 Sensação de morte iminente
secundária a alimentos. A maioria dos pacientes que
desenvolvem manifestações graves apresenta essas  Alteração de nível de consciência
manifestações em até 60 minutos da exposição, com mais  Tontura, confusão, cefaleia
da metade das mortes por anafilaxia ocorrendo com 60 Sinais de alarme em pacientes com anafilaxia
minutos da exposição.

A rapidez com que os sintomas ocorrem se associa com


sua gravidade e, em alguns casos, as manifestações só
aparecem após um intervalo de horas desde a exposição.

O quadro clínico pode seguir um curso unifásico ou


bifásico; neste segundo caso, os sintomas desaparecem ou
apresentam melhora parcial, para retornarem cerca de 1 a 8
horas depois, período que pode se estender até 24 horas.

As manifestações podem envolver sistema respiratório,


cardiovascular, gastrointestinal e neurológico, sendo o Exames complementares
mais comum o envolvimento cutâneo, que ocorre em 85 a
O diagnóstico de anafilaxia é clínico, utilizando os Critérios
90% dos casos. diagnósticos de Sampson:
Sintomas cutâneos e de mucosa:

 Prurido (periorbitário, lábios, língua, palato, ouvido


externo, genitália, palmas e plantas);
 Rubor, edema dos lábios e língua, eritema
urticariforme.

Sintomas respiratórios:

 Aparecem após os cutâneos, são os mais comuns;


 Incluem sintomas de vias aéreas superiores como
coriza, espirros, prurido nasal e, em suas formas graves,
estridor, disfonia e rouquidão;
 Vias aéreas inferiores: dispneia, sibilos e outros achados
de broncoespasmo e hipoxemia (cianose);
 Cerca de 45 a 60% dos óbitos por reações alérgicas são
secundários a complicações respiratórias.
Em quadros de menor gravidade, o diagnóstico pode ser
Complicações cardiovasculares:
difícil, principalmente quando as principais manifestações
 ocorrem pela anafilaxia, ou como complicação de seu são cutâneas, mas uma boa história e exame físico
tratamento. costumam ser suficientes para o diagnóstico.
 Síncope e tonturas são relativamente comuns, bem Durante os episódios de anafilaxia, os valores séricos de
como arritmias e bradicardia paradoxal. triptase e histamina ficam elevados, assim, essas dosagens
 Dor torácica, bradicardia, hipotensão, disritmia. podem ser úteis em quadros duvidosos. Nesse caso, as
 O uso da atropina pode reverter a bradicardia, mas não amostras devem ser coletadas durante o episódio agudo.
têm efeito na hipotensão.
 O choque anafilático inicialmente se manifesta por  A triptase sérica deve ser coletada em períodos de 15
taquicardia hipercinética e diminuição da resistência minutos a 3 horas a partir da instalação do episódio.
vascular sistêmica e, posteriormente, devido a aumento Valores normais, no entanto, não descartam anafilaxia.
 A histamina plasmática apresenta metabolismo rápido,  Pena – detenção, de um a três anos. Aborto provocado
o tempo ideal de coleta é de 10 a 60 minutos da por terceiro
instalação do episódio.
Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
 Outras investigações podem ser realizadas envolvendo a
pesquisa in vitro de IgE específica, testes cutâneos ou  Pena – reclusão, de três a dez anos.
de provocação.
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Tratamento
 Pena – reclusão, de um a quatro anos.
1. Retirar fator precipitante (alérgeno)  Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior,
2. Monitorização se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é
3. O2 até SatO2 > 92% alienada ou débil mental, ou se o consentimento é
4. Usar baixo limiar para indicação de via aérea definitiva obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
5. Adrenalina IM 0,5 mg, podendo ser repetida a cada 5
minutos de acordo com a resposta Forma qualificada
6. Se hipotensão, reposição volêmica, 1-2 litros de solução Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores
cristaloide em 1 hora são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto
7. Se não houver resposta à adrenalina IM: Adrenalina ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre
EV: Bolus: 0,1 mg lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por
8. Manutenção: adrenalina colocando adrenalina 1 mg em qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
500 mL de solução fisiológica em uma infusão inicial
de 0,5 a 2 mL/min, titulando-se a dose conforme o Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico:
efeito
Aborto necessário
9. Considerar associação de vasopressores se choque
refratário I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
10. Corticoide para evitar fase tardia: metilprednisolona 1-2
mg/kg em crianças, até dose máxima de 125 mg, ou Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
hidrocortisona 200 a 300 mg por via intravenosa (5 a 10 II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido
mg/kg em crianças até dose máxima de 300 mg). Na de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu
alta (pacientes com manifestações cutâneas representante legal.
persistentes), manter prednisona 40 mg por 3 a 5 dias
11. Considerar: difenidramina 25 a 50 mg IV; ranitidina 50 Código de ética Médica – Sigilo médico
mg IV
É vedado ao médico:
12. Se broncoespasmo: usar broncodilatadores como
fenoterol 100-250 µg IN e ipratrópio 250-500 µg IN
13. Se broncoespasmo grave: sulfato de magnésio 2 g EV Art. 73. Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude
durante 20 a 30 minutos em adultos e 25 a 50 mg/kg em do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever
crianças legal ou consentimento, por escrito, do paciente.
14. Se paciente faz uso de betabloqueadores, considerar o
uso de glucagon 1 mg IV a cada 5 minutos, até que se Parágrafo único. Permanece essa proibição: a) mesmo
resolva a hipotensão, seguido por uma infusão de 5 a 15 que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha
µg/min falecido; b) quando de seu depoimento como testemunha.
Nessa hipótese, o médico comparecerá perante a autoridade
Os pacientes em uso de betabloqueadores podem ser pouco e declarará seu impedimento; c) na investigação de suspeita
responsivos a adrenalina e, nesses casos, o glucagon, que de crime, o médico estará impedido de revelar segredo que
age via adenilciclase, pode ser uma boa opção devido a seus possa expor o paciente a processo penal.
efeitos inotrópicos e cronotrópicos.
Art. 74. Revelar sigilo profissional relacionado a paciente
6 - Discutir os aspectos bioéticos do menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes
legais, desde que o menor tenha capacidade de
aborto. discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar
dano ao paciente.
Artigo 128 do Código Penal

Aborto provocado pela gestante ou com seu


consentimento

Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que


outrem lho provoque:

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