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REVISÃO DE LITERATURA

Diagnóstico e tratamento de choque séptico em cães


Diagnoses and treatment of septic shock in dogs
Thaísa David Cândido - Médica Veterinária mestranda em Anestesiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista, Unesp, campus de
Botucatu. Email: tha_tugi@yahoo.com.br
Francisco José Teixeira Neto - Prof. Ass. Dr. Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária - Faculdade de Medicina Veterinaria e Zootecnia, da Univer-
sidade Estadual Paulista, campus de Botucatu - Distrito de Rubião Júnior, S/N – Botucatu/SP.
Rodrigo Luiz Marucio - Médico Veterinário. Msc. Doutorando em Anestesiologia pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP, São Paulo.
Fabrício de Oliveira Frazílio - Médico Veterinário. Msc. Doutorando em Anestesiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-FMUSP.

Cândido TD, Neto FJT, Marucio RL, Frazílio FO. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação; 2012; 10(32);
128-132.

Resumo
O choque séptico é uma das síndromes mais frequentes na clínica de pequenos animais. Esta síndrome
é associada a altas taxas de mortalidade e pode ocorrer como a evolução de qualquer patologia, seja ela
de natureza infecciosa ou não. Apresenta duas fases, sendo a fase precoce chamada de hiperdinâmica,
Geral

que apesar de muitas vezes não diagnosticada, possui melhor prognóstico, evoluindo para a fase hipo-
dinâmica, caracterizada por hipotensão irresponsiva a vasopressores e inotrópicos, progredindo para a
síndrome da disfunção múltipla de órgãos, e culminando em óbito. O objetivo desta revisão foi reunir
informações para um diagnóstico e tratamento desta síndrome, visando assim aumentar a taxa de sobre-
vida dos pacientes acometidos.

Palavras-chave: cães, SIRS, MODS, sepse, choque séptico.

Abstract
Septic shock is one of the most common syndromes observed in small animal practice. This syndrome
results in high mortality rates and may occur as a consequence of any disease state caused by infectious
or noninfectious processes. The septic shock is presented with 2 phases, the initial stage, which carries
a better prognosis, is named hyperdynamic phase; the later stage (hypodynamic phase) is characterized
by hypotension that is not responsive to vasopressors and inotropes, progressing to multiple organ dys-
function, and death. This literature review aimed to provide an update on the diagnosis and treatment of
this condition, in order to provide the clinician with the latest information on how to reduce the mortality
associated with this syndrome.
Keywords: dogs, SIRS, MODS, sepsis, septic shock.

Introdução da translocação bacteriana, e a inibição da liberação de


A sepse é uma causa importante de hospitalização e mediadores de inflamação e das enzimas pancreáticas (5).
a principal causa de morte em unidades de terapia in- A sepse grave é uma síndrome clínica deflagrada pela
tensiva (UTI)(1,2). Pode ser definida como síndrome da presença de agentes infecciosos em tecidos estéreis, ca-
resposta inflamatória sistêmica (SRIS) que ocorre em vi- racterizada por intensa atividade inflamatória, especial-
gência de um quadro infeccioso (3). A SRIS inclui tanto a mente em sua fase mais precoce (6). A hipovolemia está
sepse quanto doenças semelhantes, provenientes de cau- frequentemente presente nos estágios iniciais de sepse,
sas não infecciosas (4). O tratamento baseia-se em estabe- e é um fator chave que contribui para o baixo aporte de
lecer ou manter a perfusão tecidual adequada, limitação oxigênio para os tecidos. Desta forma, a reposição de flui-

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dos é considerada essencial para restabelecer e evitar a nal e disfunção múltipla dos órgãos (MODS). Quando a
subsequente deterioração cardiovascular na sepse severa, SRIS é causada por uma resposta ao processo infeccioso
evitando um estado de choque séptico (7). A hipoperfu- é definida como sepse(12,16).
são também provoca uma redução no fornecimento de Em quadros de sepse, são tradicionalmente ob-
oxigênio para os tecidos, diminuindo, assim, a produção servadas alterações na expressão de citocinas inflamató-
de ATP e outras funções relacionadas com células. Provo- rias e imunomoduladoras, como IL-1β, IL-6, IL-8, IL-10 e
ca uma isquemia aumentando radicais livres de oxigênio TNF-α, muitas vezes utilizados como biomarcadores da
(OFRs) e as causas de transcrição genética para produzir severidade da sepse nos pacientes (10). A citocina pro-
citocinas inflamatórias e outros produtos (8). -inflamatória interleucina-6 (IL-6) apresenta uma maior
O choque séptico é a sepse associada à hipotensão, meia vida plasmática que o fator de necrose tumoral
apesar da adequada ressuscitação volêmica, apresentan- (TNF- α) ou a interleucina 1-beta (IL-1β) e sua concentra-
do pressão arterial sistólica (PAS) < 90 mmHg, pressão ção tem se mostrado significativamente mais elevada no
arterial média < 60 mmhg ou queda maior que 40 mmHg plasma de pacientes sépticos (17).
na PAS em relação aos valores basais(9), com a presença A correlação entre altos níveis de IL-6 na inter-
de hipoperfusão podendo apresentar acidose lática, oli- nação do paciente e mortalidade foi encontrada em gran-
gúria ou alteração do estado mental, além de disfunção de parte dos estudos. Modelos experimentais caninos
múltipla dos órgãos(10). O choque séptico é a combina- produzidos pela administração de infusões de Escheri-

Geral
ção dos três tipos de choque: hipovolêmico, cardiogênico chia coli viva ou lipossacarideos (LPS) ou provocando
e distributivo (11,12). inflamação artificial com óleo de terebentina têm de-
A gravidade do choque está na intensidade do fator monstrado a indução de altos níveis de IL-6. Entretanto
desencadeante, do tempo decorrido desde a instalação alterações na concentração plasmática desta citocina não
do choque, da capacidade de compensação do organismo têm sido estudadas na ocorrência natural de sepse em
e da adequação na instituição do tratamento. O objetivo cães (18).
deste trabalho é revisar as bases teóricas da abordagem A disfunção múltipla dos órgãos (MODS) é caracteri-
terapêutica do paciente em choque e o processo evolutivo zada pela função alterada de um órgão em animais com
que leva ao suporte farmacológico à circulação. doença aguda, que não conseguem manter a homeostase
sem intervenção. Um exemplo é o achado de acidose lá-
tica em animais com a oxigenação e sistema cardíaco nor-
mal (10). É uma delicada relação entre os efeitos benéfi-
Revisão de Literatura cos e maléficos da resposta inflamatória sistêmica (16). A
A sepse é caracterizada pela liberação maciça de me- ordem de falência geralmente é do trato gastrointestinal,
diadores inflamatórios em resposta à injúria tecidual seguido pelo fígado, rins e pulmões. Se o transporte de
causada direta ou indiretamente por microorganismos oxigênio é cronicamente comprometido a SRIS levará á
patogênicos e leva a um quadro de hipotensão sistêmica, MODS, definindo um estado de choque irreversível (15).
hipertensão pulmonar, vasculite e lesão endotelial, dis- É considerada atualmente como a maior causa de morte
túrbios de coagulação culminando em coagulação intra- em humanos (9).
vascular disseminada (CID), e evolui para colapso car-
diovascular e falência de múltiplos órgãos (13). Alguns
estudos epidemiológicos recentes reportam incidência Diagnóstico
de sepse entre 23,4% e 40 % em pacientes de UTI (1,3). Uma anamnese completa pode ser útil na identifica-
A SRIS é resultado de uma infecção (viral, parasitária ção de fatores predisponentes para o desenvolvimento
ou fúngica), trauma, queimaduras, septicemia, pancre- de sepse: terapias imunossupressoras, doenças imuno-
atite, isquemia, lesão tecidual ou choque hemorrágico mediadas e/ou quimioterapia, hiperadrenocorticismo,
(11,13), ocasionando ativação generalizada do sistema diabetes mellitus, infecções virais, contato com outros
imune, com consequente liberação de citocinas, aumen- animais (domésticos e selvagens), medicações ou proce-
tando a permeabilidade vascular, a infiltração de neutró- dimentos cirúrgicos recentes (14).
filos e o micro embolismo capilar (14). Qualquer insulto Os sinais e sintomas de sepse não são patognomônicos,
que provoque dano celular produzirá uma resposta in- porém podem servir como base para o diagnóstico, que
flamatória e com potencial para causar SRIS. É impor- deve ser, portanto, baseado numa forte suspeita clínica,
tante observar que, embora a infecção seja uma causa apoiada pela presença de várias alterações da sepse (18).
comum da SRIS, ela não é a única (15). Frequentemente a No quadro abaixo seguem algumas alterações clínicas e
SRIS provoca lesão pulmonar aguda, choque, falência re- laboratoriais encontradas no paciente em choque séptico.

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• Hipertermia ou hipotermia, taquipnéia, taquicardia, lóides artificiais (dose máxima de 20 mL/kg/dia)(11). A res-
normovolemia, edema, alteração no tempo de
Alterações clínicas
preenchimento capilar, hipotensão arterial, aumento do
suscitação com solução salina hipertônica, apesar de possuir
débito cardíaco, baixa resistência vascular sistêmica (18). um tempo de ação curto, promove efeitos em longo prazo
e tardios na modulação das funções imunes, melhorando o
• Leucocitose com desvio à esquerda e possíveis
neutrófilos tóxicos; ou leucopenia acentuada. Nos casos padrão hemodinâmico e produzindo níveis mais baixos de ci-
Hemograma
mais graves hemoconcentração ou anemia associada à tocinas inflamatórias, reduzindo assim a atividade pró-infla-
hipoproteinemia nos animais com perda sanguínea (19).
Aumento dos marcadores inflamatórios (proteína C matória excessiva e, consequentemente, o dano tecidual (21).
ativa, procalcitonina, interleucina 6 (18).
Muitas vezes os vasopressores são utilizados antes mes-
• Hipoalbuminemia, secundária à perda de fluidos pelo
mo do restabelecimento da normovolemia (18). Os efeitos
Bioquímico aumento da permeabilidade capilar, enzimas hepáticas dos simpatomiméticos dependem dos receptores onde os
aumentadas, hiperbilirrubinemia e azotemia (18)
mesmos atuam no sistema cardiovascular. Receptores α-1 e
• Diminuição do débito urinário (18), cilindrúria β-2 localizados na musculatura lisa causam vasoconstrição e
Urina tipo I
(compatível com insuficiência renal aguda) ou vasodilatação respectivamente, enquanto que receptores β-1
bacteriúria e hematúria (sinais de infecção no trato
urinário)(19) localizados no miocárdio modulam a atividade inotrópica e
cronotrópica. Existem ainda os receptores dopaminérgicos,
• Hipoxemia, distúrbios eletrolíticos (19), aumento da
saturação venosa central de oxigênio (SvO2),
estando os receptores DOPA-1 localizados nos rins, mesen-
Hemogasometria
hiperlactatemia, aumento do déficit de bases, alcalose tério e coronárias enquanto os receptores DOPA-2 estão loca-
respiratória(18)
Geral

lizados nas terminações nervosas, causando vasodilatação e


• Hipoxemia (lesão aguda pulmonar), alteração do estado inibição da liberação de norepinefrina, respectivamente (22).
mental, inexplicável alteração da função renal, Dopamina: em doses baixas (1-5 mcg/kg/min), interme-
Sinais de hiperglicemia/hipoglicemia, trombocitopenia,
disfunção coagulação intravascular disseminada, inexplicável diárias (5-10 mcg/kg/min), altas (10-15 mcg/kg/min) atua em
dos órgãos alteração dos exames hepáticos como
hiperbilirrubinemia, anorexia (alteração da motilidade
receptores dopaminérgicos, β-adrenérgicos, β e α adrenérgicos
gastrointestinal)(9,18) respectivamente. É menos potente que a epinefrina ou dobu-
tamina no que se refere a sua ação inotrópica positiva, além de
Quadro 1 - Alterações clínicas e laboratoriais no paciente com
choque séptico. ser um vasopressor menos potente que a norepinefrina (22). A
dopamina é considerada o agente de primeira escolha no tra-
tamento de hipotensão refratária a ressuscitação com fluidos
Tratamento (20). Tem maior potencial de causar efeitos adversos que a do-
O objetivo do tratamento do choque séptico, além dos butamina, podendo causar flebite e necrose tecidual isquêmica
cuidados médicos básicos, compreende essencialmente (caso ocorra extravasamento para fora da veia), taquicardia,
quatro pontos-chaves: controle de infecção, suporte hemo- hipertensão e arritmias. Além disso, não deve ser utilizada em
dinâmico, intervenções imunomoduladoras e metabólicas e animais com insuficiência miocárdica (23).
suporte endócrino (18), objetivando melhorar e maximizar Norepinefrina (NE): possui ação mista sobre os recep-
a oferta de oxigênio para os tecidos (11). tores α e β adrenérgicos, com ação preferencial sobre recep-
tores α. A dose empregada varia de 0,2-3,3 mcg/kg/min.
Controle da infecção: Seu efeito sobre a frequência cardíaca e contratilidade são
O foco da infecção deve ser identificado, seja por meio leves. É comumente usada como agente vasopressor (22),
de exames clínicos periódicos ou por imagem, e retirados aumentando a pressão arterial média (24). Os animais que
por cirurgia, quando necessário. Deve-se lembrar dos “cin- se encontram em choque séptico têm a função renal melho-
co grandes” da sepse: pulmões, abdômen, urina, feridas e rada quando tratados com a norepinefrina, pois esta au-
cateteres (18), além de prevenir escaras de decúbito. En- menta o fluxo sanguíneo renal independente da pressão de
quanto se espera o resultado do antibiograma, terapia com perfusão (25). Porém, caso a norepinefrina seja administra-
antibióticos de largo espectro pode ser instituída (11). da em infusão contínua por períodos prolongados (mais de
10 dias) pode levar o animal a MODS e, consequentemente,
Suporte hemodinâmico: a óbito (26). Quando comparada a dopamina, a norepine-
A fluidoterapia pode ser iniciada com bolus de solução frina produz igual aumento nas pressões arteriais sistólica
cristalóide de 20 mL/kg durante 5-10 min (20) ou 70-90 e diastólica e o mesmo aumento na pressão de perfusão co-
mL/kg/h,analisando-se a resposta mediante a obtenção ronariana, porém, a norepinefrina é um vasoconstritor mais
de estabilidade hemodinâmica (normalização da pressão potente, promovendo maior aumento na resistência vascu-
arterial, TPC, PVC, qualidade e frequência do pulso femo- lar sistêmica (22). Em humanos com choque séptico, a ad-
ral, coloração das mucosas e temperatura). Caso a resposta ministração de norepinefrina está associada a uma menor
aos cristalóides não seja adequada, pode-se administrar co- taxa mortalidade e a uma menor incidência de eventos ar-

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rítmicos quando comparado à administração de dopamina, fluidoterapia com dextrose (2,5 – 7,5%)(34).
porém, em outros estudos, a mortalidade foi a mesma (27). A acidose metabólica deve ser corrigida mediante o
Fenilefrina: é um agonista α-adrenérgico puro, causan- restabelecimento da perfusão tecidual e, se necessário, com
do profunda vasoconstrição. Pode melhorar o débito cardí- bicarbonato de sódio. O uso de anti-coagulante, como a he-
aco, provavelmente devido à ativação de receptores α-1 do parina, inibe a interação da trombina com o fibrinogênio,
miocárdio e ao aumento do retorno venoso devido a sua prevenindo a formação de trombos e antagonizando ou
ação venoconstritora. Geralmente é usada em animais ir- prevenindo a fibrinólise secundária, porém, a administração
responsivos a outros simpatomiméticos e, como é a menos prévia é contra-indicada, pois piora a coagulopatia de con-
arritmogênica, é útil naqueles animais em que se obteve ta- sumo(11).
quiarritmias (22), porém, pode diminuir o fluxo sanguíneo
cerebral e esplâncnico (20). Suporte endócrino:
Dobutamina: é um agonista β-adrenérgico sem efeito Glicocorticóides: seu uso é controverso (18), mas obser-
importante sobre receptores α. Aumenta o débito cardíaco, o va-se que a pressão arterial e a resistência vascular sistêmica
transporte e o consumo de oxigênio sem causar vasoconstri- aumentam nos animais tratados com corticóide, podendo
ção e pode piorar ou precipitar taquiarritmias(22). Deve ser ser benéfico nos casos de hipotensão (22). A hidrocortisona
usada nos casos de disfunção do miocárdio, reconhecida pelo pode ser utilizada após a constatação de hipotensão arterial
baixo débito cardíaco, alta resistência vascular sistêmica (ex- irresponsiva à ressuscitação por fluido e vasopressores. Po-

Geral
tremidades frias, TPC aumentado, baixo débito urinário, mas rém a hidrocortisona não deve ser empregada em animais
com pressão normal depois da ressuscitação por fluido)(20). que não se encontram chocados (20). A combinação de
Vasopressina: é o hormônio antidiurético liberado em baixa dose de vasopressina e de corticosteróides diminuiu
resposta a hipóxia, hipernatremia, hipotensão e/ou acido- a mortalidade e a disfunção de múltiplos órgãos quando
se. Estimula direta e indiretamente a musculatura lisa (28) comparada com noradrenalina e corticosteróides (35).
via receptores V1 (vasoconstrição) e os rins via receptores
V2 (reabsorção de água). Ambos os receptores podem au- Outras terapias adjuvantes:
mentar a pressão arterial média na fase hipodinâmica da Há outras terapias adjuvantes que podem ser emprega-
sepse (14). O aumento da pressão arterial pode ser constata- das no choque séptico, podendo-se citar:
do após 15 minutos do início da infusão, sem observação de 1) ProteínaC-ativada: é um produto recombinante humano
bradi ou taquiarritmia (29). A dose de 0,4UI/kg foi eficaz que apresenta efeitos anti-inflamatórios e inibitórios das citoci-
nos casos de choque hemorrágico e se administrada depois nas dos monócitos, além de causar redução da adesão dos neu-
da ressuscitação com cristalóide promove uma melhora trófilos ao endotélio(14). É recomendado em humanos para pa-
na hemodinâmica e no transporte de oxigênio (30). Doses cientes que apresentam MODS e com alto risco de morte (20);
muito altas devem ser evitadas devido ao risco de isquemia 2) Fator inibitóriode migração macrófago (MIF): é uma
do miocárdio (31), excessiva vasoconstrição coronariana e citocina com propriedades moduladoras da inflamação
esplâncnica e hipercoagulabilidade (28). produzida pelas células T, macrófagos, células pituitárias,
Terlipressina: vem sendo utilizada em humanos, mas monócitos entre outras, podendo ser encontrada no plasma
ainda seu uso é controverso. É uma substância análoga a de pacientes com sepse e choque séptico.
vasopressina, com farmacodinâmica semelhante, mas far- 3) Inibidor de óxido nítrico: o óxido nítrico é produto
macocinética diferente, pois enquanto a meia-vida da va- de diversas células e produz severa vasodilatação e hipo-
sopressina é de seis minutos, a da terlipressina chega a seis tensão. A utilização deste composto pode auxiliar na esta-
horas, portanto, há uma maior probabilidade de ser empre- bilização hemodinâmica na sepse.
gada com sucesso no choque séptico refratário (32). 4) N-acetilcisteína (NAC): é um precursor da glutatio-
na, tem capacidades antioxidantes com efeitos benéficos na
Intervenções imunomoduladoras e metabólicas função hepática e reduz a adesão de citocinas;
Como os animais hipoglicêmicos na fase mais avançada 5) Antioxidantes: como o alopurinol, mesilato de defe-
do choque podem apresentar hiperinsulinemia absoluta ou roxamina, dimetilsulfóxido(11).O galato de etila, por inibir
relativa, o uso de insulina só é necessário naqueles animais o peróxido de hidrogênio, que produz vasodilatação, pode-
em que há resistência periférica à sua ação ou quando a hi- rá ser uma alternativa aos vasopressores (36, 37)
poglicemia for acompanhada de hipoinsulinemia, adminis- 6) Mensuração seriada de procalcitonina: em humanos sa-
trando glicose e insulina concomitantemente (33). Se a gli- dios esse peptídeo se encontra em níveis muito baixos, mas em
cemia estiver abaixo de 60, administrar bolus de 0,5-1 mL/ caso de infecção é secretado na circulção sanguínea, podendo
kg de glicose a 50%, diluído em solução salina com igual ser útil na identificação dos pacientes sépticos com grande ris-
volume IV(12) durante 1-2 minutos, além de suplementar a co de mortalidade, e ajudar na melhora do tratamento (38).

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e Animais de Estimação 2012;10(32); 128-132. 131
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Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais


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