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Ivana Barbosa Suffredini é farmacêutica, com mestrado e doutorado em Fármaco e Medicamento pela
Universidade de São Paulo, além de pós-doutorado em Toxicologia pela Universidade Paulista. Atua como professora
titular da Universidade Paulista, docente permanente e vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Patologia Ambiental e Experimental (Conceito Capes 5), responsável pelo Núcleo de Pesquisas Biodiversidade (NPBio)
da Universidade Paulista e membro da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), também na Universidade
Paulista. É ainda pesquisadora bolsista 2 do CNPq, com foco nas áreas de farmacognosia, microbiologia, farmacologia
e toxicologia de plantas medicinais, além de temas de avaliação de atividade antitumoral, antimicrobiana e
antioxidante, da toxicidade geral e alterações comportamentais de extratos vegetais e óleos essenciais aplicados
a medicina veterinária e humana e em odontologia. Uma das pesquisadoras principais do Projeto Rio Negro, atua
como líder dos Grupos de Pesquisa de Atividades Biológicas, Farmacológicas e Toxicológicas de Produtos Naturais e
Terapêutica Medicamentosa Aplicada às Ciências da Saúde, que estudam plantas brasileiras. Pesquisadora, ainda, nos
Grupos de Pesquisa Neuropsicofarmacologia Experimental e Ambiental, Esquemas Terapêuticos, Curativos Propostos
e Preconizados no Tratamento das Doenças Bucais e do Grupo de Pesquisa Briotech, que estuda briófitas antárticas.
Autora de vários trabalhos científicos internacionais e de duas patentes que pertencem à Universidade Paulista.
Nilsa Sumie Yamashita Wadt é farmacêutica-bioquímica formada pela Universidade de São Paulo. Possui
doutorado em Fármacos e Medicamentos, na área de insumos farmacêuticos, que estuda as plantas medicinais,
pela mesma instituição. Trabalhou na indústria farmacêutica, na área de controle de qualidade, e foi proprietária de
drogaria por mais de dez anos. Atualmente, ministra aulas, além de ser pesquisadora e pertencer ao grupo de pesquisa
Estudo Estrutural, Bioquímico, Fisiológico e Molecular da Interação Parasita‑hospedeiro, na Universidade Paulista.
Como pesquisadora, coordena a pesquisa clínica nos municípios de Valinhos e Jundiaí utilizando folhas de goiaba e
pitanga em processos de cicatrização, além de óleo e hidrolato de melaleuca. Realiza também outras pesquisas com
plantas e seus derivados, desenvolve estudos na área agrícola, atua como consultora na área de plantas medicinais e
fitoterápicos (principalmente na implantação da fitoterapia nos municípios do estado de São Paulo). Coordena, ainda,
o Grupo de Plantas Medicinais do Conselho Regional de Farmácia (SP) e é autora de artigos científicos e de uma
patente pertencente à Universidade Paulista.
CDU 615.3
U512.81 – 21
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Unip Interativa
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Angélica L. Carlini
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. Deise Alcantara Carreiro
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Talita Lo Ré
Lucas Ricardi
Sumário
Farmacognosia Aplicada
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 COMPOSTOS FENÓLICOS: FLAVONOIDES E SEUS GLICOSÍDEOS................................................... 11
1.1 Compostos fenólicos: visão geral................................................................................................... 13
1.2 Flavonoides e seus glicosídeos......................................................................................................... 24
2 QUINONAS E SEUS GLICOSÍDEOS.............................................................................................................. 48
3 GLICOSÍDEOS SAPONÍNICOS....................................................................................................................... 62
4 GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS..................................................................................................................... 77
Unidade II
5 ÓLEOS ESSENCIAIS.......................................................................................................................................... 94
6 ÓLEOS FIXOS.....................................................................................................................................................126
7 ALCALOIDES......................................................................................................................................................149
7.1 Alcaloides heterocíclicos..................................................................................................................156
7.1.1 Alcaloides pirrólicos............................................................................................................................. 156
7.1.2 Alcaloides pirrolidínicos..................................................................................................................... 157
7.1.3 Alcaloides pirrolizidínicos.................................................................................................................. 158
7.1.4 Alcaloides imidazólicos ou glioxalínicos..................................................................................... 159
7.1.5 Alcaloides piridínicos........................................................................................................................... 160
7.1.6 Alcaloides piperidínicos.......................................................................................................................161
7.1.7 Alcaloides indólicos ou benzopirrólicos...................................................................................... 163
7.1.8 Alcaloides indolizidínicos................................................................................................................... 167
7.1.9 Alcaloides quinolínicos....................................................................................................................... 168
7.1.10 Alcaloides isoquinolínicos............................................................................................................... 169
7.1.11 Alcaloides quinolizidínicos ou norlupinânicos....................................................................... 172
7.1.12 Alcaloides tropânicos........................................................................................................................ 172
7.1.13 Alcaloides aporfínicos...................................................................................................................... 178
7.1.14 Alcaloides terpenoides..................................................................................................................... 179
7.2 Alcaloides não heterocíclicos.........................................................................................................180
7.2.1 Pseudoalcaloides .................................................................................................................................. 180
7.2.2 Protoalcaloides.......................................................................................................................................181
8 METILXANTINAS..............................................................................................................................................185
APRESENTAÇÃO
Esta disciplina tem como objetivo proporcionar ao aluno o estudo da planta como medicamento.
A partir dos conceitos relativos a plantas medicinais, drogas vegetais e seus derivados, fitoterápicos,
medicamentos tradicionais fitoterápicos e os aspectos voltados às atividades farmacológicas e
toxicológicas serão abordados mais profundamente nesta disciplina. Para o farmacêutico, esta disciplina
tem importância histórica e fundamental em sua formação. Plantas medicinais e outras fontes naturais,
como animais e minerais, serviram de remédios para nossos ancestrais, haja vista plantas que até
hoje são usadas, como beladona, bardana, camomila, cicuta, produtos da abelha e alguns sais, entre
tantos outros. Nesta disciplina, o enfoque principal está no uso de plantas como medicamento, embora
alguns produtos de origem animal sejam mencionados. O estudante vai ter a oportunidade de adquirir
e aprofundar seu conhecimento relativo a como as moléculas farmacologicamente ativas de origem
natural podem contribuir para o exercício amplo da profissão, de modo a ter ampliado seu arsenal
terapêutico para o exercício clinico da profissão e seu universo científico relacionado não somente
à busca pela compreensão dos mecanismos de ação envolvidos nas atividades farmacológicas dos
fitoterápicos já disponíveis no mercado, como também para se dedicar à busca por novos princípios
ativos de origem natural, uma vez que o Brasil é o país mais rico em biodiversidade, ainda pouco
compreendida pela ciência.
Com o conceito de que o profissional da área deve ter o conhecimento do medicamento em toda
sua extensão, o que abrange não somente a sua concepção, mas também sua elaboração, administração
correta e racional, a reunião do conhecimento necessário para a utilização da planta como medicamento
é primordial e parte do entendimento de que a planta é um ser vivo e, como todo ser vivo, possui
características geneticamente adquiridas para a espécie, possuindo a capacidade de se adaptar às
mudanças externas. Esperando-se que o farmacêutico seja atuante na linha de frente da saúde pública,
sua formação deve prepará-lo para proporcionar cuidados à saúde e ajudar as pessoas a utilizarem o
medicamento da melhor forma possível, orientando-as corretamente e com a reponsabilidade de quem
conhece, em toda sua extensão, os medicamentos, não somente quanto à sua finalidade terapêutica,
mas também quanto à segurança de seu uso.
Neste livro-texto, daremos mais um passo para construir tal aprendizado. Uma vez que você, aluno,
já adquiriu conhecimentos fundamentais para a compreensão do uso de plantas como medicamento,
como os aspectos legais que envolvem o desenvolvimento de um fitoterápico, os aspectos botânicos
relevantes para a identificação correta da espécie vegetal, os métodos extrativos que otimizam a obtenção
quantitativa do princípio ativo, o controle de qualidade necessário para que o fitoterápico tenha seus
princípios ativos de acordo com as quantidades especificadas pela Farmacopeia Brasileira, iremos nos
aprofundar nos diferentes tipos de classes químicas que compõem os princípios ativos encontrados
nas drogas vegetais. Vamos, ainda, comentar sobre as atividades farmacológicas e mencionar eventuais
efeitos adversos que eles podem apresentar.
Espera-se, portanto, que ao final da leitura deste livro-texto e da realização das atividades propostas,
o aluno tenha conhecimento sobre a extração, a caracterização, as ações farmacológicas, toxicológicas
e os empregos dos princípios ativos de origem vegetal, além de conhecer os métodos de identificação,
controle de qualidade, processos extrativos, emprego terapêutico e toxicologia de drogas vegetais
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contendo glicosídeos flavonoídicos, antraquinônicos, saponínicos, cardioativos, alcaloides, metilxantinas
e óleos essenciais e fixos. A disciplina deve proporcionar a compreensão da aplicação das plantas
medicinais e de seus metabólitos como ferramenta terapêutica, proporcionando o entendimento e o
poder de escolha dos melhores métodos de extração e de identificação fitoquímica, bem como fornecendo
subsídios que fundamentem o melhor caminho para a elaboração de medicamentos fitoterápicos dentro
das especificações legais vigentes no Brasil.
Este livro-texto é dividido em duas unidades. A primeira abarca os princípios ativos formados
com base em estruturas de origem fenólica que podem ou não estar glicosiladas e princípios
ativos triterpênicos ou esteroidais que podem ou não estar glicosilados. Na segunda unidade, são
abordados os princípios ativos e as substâncias de interesse farmacêutico que apresentam baixa
polaridade, os óleos de origem natural, ou seja, aqueles de origem vegetal e alguns de origem
animal, que nós, humanos, utilizamos como medicamento, em cosméticos e na nossa alimentação.
Trata-se de um universo à parte, onde iremos caminhar pelo mundo dos óleos vegetais usados na
culinária, das essências usadas para a fabricação dos perfumes e mesmo de alguns óleos de origem
animal cujos usos são tão diversos como em construção civil e em formulações cosméticas. Na
sequência, veremos ativos que apresentam nitrogênio em sua estrutura – vale destacar que os
metabólitos secundários nitrogenados, como alcaloides e metilxantinas, são de grande interesse
na área de farmácia por apresentarem atividade farmacológica e/ou toxicológica, particularmente
sobre o sistema nervoso, fato que torna essas moléculas tão especiais.
INTRODUÇÃO
Por que algumas plantas podem ser usadas como medicamento? Trata-se de uma questão intrigante
para um leigo, mas, para um profissional da área, essa é uma pergunta com resposta certa: porque as
plantas produzem metabólitos ativos, com características definidas e atividade farmacológica. Sim, essa
é a resposta correta, e que também nos leva a entrar em um universo de informações, que continuaremos
a explorar a partir de agora.
Você sabia que, de 175 moléculas aprovadas para o uso na terapia antitumoral em humanos, 85 são
produtos naturais ou derivados de produtos naturais (NEWMAN; CRAGG, 2016)? Mas não é só isso: pelo
menos 70% da população mundial (ZHEN; KONG; REN, 2014) veem as plantas medicinais como principal
escolha – senão a única – de medicamento. Nas últimas décadas, o consumo de plantas medicinais
como medicamento tem aumentado de forma significativa, não só por ser a única alternativa para boa
parte da população mundial, como também por estar ligado ao falso conceito de que “se é natural, não
faz mal” – veja como o conhecimento adquirido também traz responsabilidades para o farmacêutico
em formação.
Segundo alguns autores (TILBURT; KAPTCHUK, 2008), o mercado para plantas medicinais e
fitoterápicos era de US$ 60 bilhões em 2008 e US$ 94 bilhões em 2014, com uma estimativa de
US$ 167 bilhões para 2024 (WISEGUYREPORTS, 2020). Observe que esse valor é mais do que o produto
interno bruto da maioria dos países considerados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem estimulado o desenvolvimento de legislações que
regulamentem o uso de plantas medicinais e de fitoterápicos nos seus países-membros. Há leis
que regulamentam o uso de medicina tradicional e de medicina complementar e alternativa, em
particular, a serem aplicadas na Atenção Primária à Saúde (APS).
O universo dos produtos naturais é imenso e, juntos, percorreremos as etapas necessárias para desbravar
esse caminho. Sabemos que, em nossa área, esta disciplina está relacionada diretamente a várias outras, das
quais, inclusive, recupera alguns conceitos como suporte para a construção do conhecimento necessário
para compor a ideia do uso racional do medicamento fitoterápico. Nesse sentido, faz-se a interface de
conhecimentos que fundamentam a farmacognosia como ciência farmacêutica.
A literatura que usamos para escrever este livro-texto é fundamentada em livros clássicos da área de
farmacognosia e das outras áreas afins, além de muitos artigos científicos baseados em estudos recentes
relacionados ao uso de plantas como medicamentos.
Para que a compreensão do conteúdo possa ser a melhor possível, o assunto foi dividido em tópicos
cuidadosamente pensados para que você, aluno, tenha os primeiros contatos e ganhe conhecimento
sobre a estrutura química e os efeitos farmacológicos de diversos metabólitos ativos encontrados nas
drogas e nos derivados vegetais – os chamados “princípios ativos vegetais”, eventualmente também
chamados de “ativos”.
Diante de tudo isso, nós convidamos você a continuar a construção desse conhecimento conosco,
compreendeendo melhor o fitoterápico e adquirindo capacidade crítica no universo dos medicamentos
no qual se insere o farmacêutico.
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FARMACOGNOSIA APLICADA
Unidade I
1 COMPOSTOS FENÓLICOS: FLAVONOIDES E SEUS GLICOSÍDEOS
Os princípios ativos provenientes de plantas são divididos em diferentes classes químicas. Algumas
dessas classes químicas, como a de flavonoides, antraquinonas, saponinas e cardenolídeos, podem se
apresentar na natureza em sua forma livre ou ligadas a uma molécula de açúcar. Sabemos que os
açúcares também podem ser chamados por nomes terminados em “-oses”, como glicose, frutose, xilose,
e que, quando estão ligados a outras moléculas, passam a ser chamados com nomes que terminam em
“-osídeos” ou “-ósidos”, como em heterosídeos ou heterósidos e glicosídeos ou glicósidos (COSTA, 1994;
SIMÕES et al., 2017).
Então, por vezes, moléculas naturais podem ou não estar ligadas a moléculas de açúcar, e isso
ocorre para que essas moléculas possam cumprir suas funções fisiológicas de modo adequado. Como
em geral são produzidas em um órgão vegetal e armazenadas em um outro órgão, essas moléculas
precisam ser conduzidas pelo organismo vegetal. O melhor modo de compostos químicos se deslocarem
no organismo vegetal é através do sistema condutor vegetal formado pelo xilema e pelo floema, que
conduzem as seivas bruta e elaborada, constituídas principalmente por água, sais minerais e moléculas
orgânicas (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2001).
Assim, glicosídeos são compostos químicos formados pela junção de moléculas de açúcar com
moléculas “não açúcar”, ou seja, moléculas que apresentam natureza química diferente da natureza dos
açúcares. Os glicosídeos também podem ser chamados de heterosídeos (neste livro-texto, adotaremos a
forma “glicosídeos”, embora ambas estejam corretas e possam ser usadas na língua portuguesa).
Vejamos alguns casos, então, para sedimentar esses conceitos. Na figura 1, podemos ver a
genisteína como exemplo de aglicona ou genina, a aloína como exemplo de C-glicosídeo e a rutina
como exemplo de O-glicosídeo. Apresentamos, também, um exemplo de S-glicosídeo, a sinigrina,
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Unidade I
um composto comum nas espécies de Brassica, cujas espécies mais conhecidas são usadas na nossa
alimentação, como a couve-de-bruxelas, o brócolis, a couve-flor e a mostarda preta. Apresentamos
também um nucleotídeo, unidade básica de formação dos ácidos nucléicos, conhecidos como ácido
ribonucléico, o RNA, e o ácido desoxirribonucleico, o DNA. O nucleotídeo é formado por um fosfato,
uma molécula de açúcar, que pode ser a ribose ou a desoxirribose, e uma base purínica ou pirimidínica.
O nucleotídeo é, então, considerado um N-glicosídeo porque o açúcar está ligado diretamente a um
dos nitrogênios que constituem a base, embora não o usemos como medicamento. Observe a seguir
os heteroátomos destacados em vermelho.
OH
OH O OH HO O
HO O OH
HO HO
OH O
HO OH O OH
H O
OH O
OH O
HO O Aloína
Genisteína Rutina H3C
HO
OH HO O
HO
O- K+ OH
O O-
S HO
O O P O N
N O O N NH2
HO S
N N
HO O HO OH
HO Sinigrina H
OH Nucleotídeo
Observação
Falamos anteriormente sobre a quebra ocorrida por hidrólise ácida que pode ocorrer em um
glicosídeo, tendo como resultado a molécula de açúcar e sua porção aglicona (ou genina). Essa reação
de hidrólise ocorre na região da molécula em que se encontra o heteroátomo, que, no caso, é o oxigênio.
No caso dos C-glicosídeos, que não apresentam o heteroátomo, a reação de hidrólise é mais difícil de
ocorrer e necessita de ajuda de agentes catalisadores, como o Mg0, por exemplo, para que aconteça
(MOURA et al., 2018). Mas mais tarde voltaremos a esse assunto.
Observe na figura 1 que as moléculas glicosiladas aloína, rutina e sinigrina apresentam uma
quantidade maior de hidroxilas do que a genisteína, uma aglicona. O fato de as moléculas de glicosídeos
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FARMACOGNOSIA APLICADA
estarem ligadas a açúcares faz com que elas apresentem uma polaridade mais alta em relação à sua forma
aglicona. Isso se dá pela grande quantidade de hidroxilas que o açúcar tem. Com isso, a solubilidade de
glicosídeos em água, ou em solventes orgânicos de alta polaridade, é maior do que a solubilidade, nesses
mesmos solventes, de sua forma aglicona. Em geral, são amorfos (sem forma), cristalinos, não voláteis,
apresentam sabor amargo e, como vimos, são hidrolisados com certa facilidade. Por outro lado, as
agliconas são mais solúveis em solventes orgânicos, pouco solúveis ou insolúveis em água, podendo ser
sublimáveis, a depender da estrutura química, são cristais e podem apresentar atividade farmacológica
maior ou menor do que suas formas glicosiladas, também dependendo da estrutura química (XIAO,
2017; EVANS, 1996).
Já os açúcares presentes nos glicosídeos podem ser encontrados como uma, duas ou mais moléculas
de açúcares ligadas à aglicona, ou genina. Os açúcares mais presentes nos glicosídeos são D-xilose,
D-arabinose, D-ramnose, D-galactose e D-glicose; ou seja, podemos encontrar tanto pentoses como
hexoses (SIMÕES et al., 2017).
Mas será que as formas glicosiladas dessas moléculas são mais ativas do que as formas que não
apresentam a molécula de açúcar? Esta não é uma pergunta simples, mas podemos respondê‑la através
da utilização de exemplos extraídos de uma classe química chamada de flavonoides e de seus glicosídeos.
Em um trabalho de revisão feito com esses compostos, o autor (XIAO, 2017) reporta que os flavonoides
em sua forma O-glicosilada podem reduzir seus efeitos como antioxidantes, anti-inflamatórios,
antibacterianos, antifúngicos, antiparasitários (por exemplo, contra tripanossoma), antidiabéticos,
antitumorais, anticoagulantes e imunomodulatórios, por exemplo. Por outro lado, a forma O-glicosilada
pode melhorar certos tipos de atividade biológica ou farmacológica, como atividade anti-HIV, inibição
das enzimas tirosinase e acetilcolinesterase, ação antialérgica e atividade antiestresse e contra a
obesidade, em relação ao potencial observado para a aglicona. Portanto, não temos ainda uma regra
para isso, sendo necessário verificar caso a caso.
Como o próprio nome sugere, compostos fenólicos são aqueles que apresentam anéis fenólicos.
O fenol é uma estrutura que apresenta um anel aromático com pelo menos uma hidroxila (-OH)
como substituinte. Veja na figura 2 algumas estruturas possíveis entre as várias que existem (SARTORI;
CASTRO; MORI, 2014).
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Unidade I
OH
HO HO OH
OH OH OH HO OH
1-hidróxi-benzeno 1,2-dihidróxi-benzeno 1,2,3-trihidróxi-benzeno 1,3,5-trihidróxi-benzeno
OH
OH OH
R
R R
orto‑metil‑fenol meta‑metil‑fenol para‑metil‑fenol
Os anéis fenólicos encontrados nas moléculas produzidas na natureza podem ser obtidos por duas
vias biossintéticas: a via do acetato e a via do ácido chiquímico. A partir da via do acetato temos a
formação do anel benzênico (C6) e, a partir ácido chiquímico, temos a formação da unidade composta
pelo anel benzênico e por uma ramificação formada por três carbonos alifáticos (KREIS; MUNKERT;
PÁDUA, 2017). Veja na figura 3 essas duas estruturas.
C6 C6-C3
Já foram identificadas centenas de substâncias que apresentam em sua estrutura anéis fenólicos.
Esses compostos podem ser classificados segundo o número de anéis fenólicos em sua estrutura e
segundo o número de carbonos da cadeia lateral. O quadro a seguir mostra essa classificação.
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FARMACOGNOSIA APLICADA
A partir dessas estruturas observadas na cadeia principal, cujos exemplos de moléculas naturais serão
vistos mais adiante, podemos observar que há uma diversidade muito grande de estruturas moleculares
entre os compostos que apresentam anéis fenólicos no reino vegetal. Veja na figura 4 algumas estruturas
de compostos fenólicos: as estruturas moleculares são bem diferentes.
O
HO OH
OH O
HO O OH
Ácido cafeico HO OH
O HO O O
OH O
O O
O O O OH Curcumina
O O O OH O O
OH Podofilotoxina Ácido OH
elágico NH
Hidroquinona O
OH HO Capsaicina
OH
O OH O
HO HO O O
HO
O
Resveratrol OH O
HO O Safrol Cumarina
OH Cinarina O OH
Os compostos fenólicos estão entre os de maior interesse quando se trata de plantas medicinais. Isso
se dá em razão de algumas propriedades que eles apresentam, as quais abordaremos posteriormente.
Antes, vamos precisar de alguns conceitos vistos em química orgânica.
Para falarmos um pouco sobre ressonância, vamos lembrar como as ligações químicas podem ser
entendidas. Uma ligação química pode ser iônica ou não iônica. Aqui, para nosso estudo, é importante
revermos o conceito de ligação covalente: uma ligação não iônica na qual cada átomo envolvido na
15
Unidade I
ligação compartilha um elétron, o qual pode ser encontrado em um orbital, sendo um orbital a região
localizada ao redor do núcleo atômico que apresenta uma chance maior de se encontrar um elétron
(MORRISON; BOYD, 2011).
O que os orbitais têm a ver com nossos compostos fenólicos? Basicamente, eles estão envolvidos nas
ligações químicas entre os átomos. Quando temos uma ligação simples, significa que um elétron de cada
átomo envolvido na ligação química está compartilhando elétrons encontrados nos orbitais atômicos
do tipo sigma (σ), que parece uma esfera, como você pode ver na figura 5. Quando temos ligações
duplas ou triplas entre átomos, significa que temos, por sua vez, além de uma ligação sigma, uma ou
duas ligações pi (π). O orbital pi tem um formato que parece uma hélice de motor de barco (figura 5)
(RUSSELL, 1994). No caso das duplas ligações dos anéis fenólicos, a estrutura pode ser vista na figura 6A,
mostrada em sua forma mais simples de representação.
Orbital π
Orbital σ
OH OH OH OH OH O- H+
A B C D E F
Para compreender melhor o orbital pi e por que ele nos interessa, imagine que a cadeia principal do
anel fenólico esteja no plano da folha de papel deste livro-texto. Os orbitais pi encontram-se em um
plano perpendicular ao plano principal formado pelo núcleo atômico e pela ligação sigma dos carbonos
que fazem a cadeia principal do anel fenólico. Imagine, agora, que seu dedo seja o orbital pi. Se você
colocar seu dedo sobre a dupla ligação vai entender o que acontece com a disposição espacial do orbital
pi em relação aos carbonos e ao orbital sigma.
O fato de os orbitais pi estarem em um plano diferente daquele dos orbitais sigma faz com que os
elétrons que estão nesse orbital se encontrem mais afastados do núcleo, ou seja, mais “soltos”, por assim
dizer – lembrando que o elétron se desloca na velocidade da luz, nunca sabemos exatamente onde esse
elétron se encontra, podendo estar em qualquer lugar do orbital.
16
FARMACOGNOSIA APLICADA
Saiba mais
CONN, P. M. Pavlov’s dogs and Schrödinger’s cat: scenes from the living
laboratory. Journal of Clinical Investigation, v. 119, n. 7, p. 1743, 2009.
Veja que, na figura 7, o anel fenólico apresenta três duplas ligações que se intercalam com três
ligações simples. Em química, essas duplas ligações alternadas com ligações simples apresentam-se
conjugadas e formam o que se chama de anel aromático. Agora veja também que as duplas ligações
podem ser representadas de duas maneiras, ambas corretas. E como vamos saber onde estão os elétrons
da segunda ligação no anel fenólico? Não há como: os elétrons relativos à segunda ligação podem estar
em qualquer posição do anel.
OH OH
Como os elétrons estão mais “soltos” quando em orbitais pi, ficam livres para se “deslocarem” entre
as duplas ligações conjugadas, que são aquelas duplas ligações intercaladas com ligações simples, como
é o caso do fenol (figura 6A). Assim, os elétrons que se deslocam à velocidade da luz entre as duplas
conjugadas criam uma verdadeira “nuvem de elétrons” sobre as duplas ligações. Isso acontece porque,
como os elétrons se deslocam à velocidade da luz, não sabemos bem onde se encontram, então assumimos
que podem estar naquela região da nuvem eletrônica. Quando isso ocorre em anéis aromáticos, temos
o que se chama de “ressonância” (RUSSELL, 1994). Veja a sequência dos fenóis na figura 6 para entender
melhor e observe a representação da formação da nuvem eletrônica na sequência B, C e D.
17
Unidade I
Saiba mais
Agora que o conceito de ressonância está bem sedimentado, vamos ver como a ressonância vai deixar
a molécula do fenol mais interessante, dada a presença da hidroxila (que é o que está representado
nas figuras 6E e 6F). Na figura 6E, observamos que o par de elétrons desemparelhados do oxigênio irá
“contribuir” para a ressonância do anel aromático, ou seja, esse par de elétrons vai “entrar na brincadeira
da ressonância também”, já que estão em um orbital mais afastado do oxigênio e, portanto, mais
“soltos”. Com isso, o hidrogênio da hidroxila fica mais “livre” para sair para o meio, como podemos
ver na figura 6F. Assim, os compostos fenólicos ganham um caráter ácido porque podem doar esse
hidrogênio para o meio. A esse caráter ácido damos o nome de caráter fenólico. Em razão de os fenóis
apresentarem caráter fenólico, eles podem participar de reações do tipo ácido-base com reagentes
levemente alcalinos (RUSSELL, 1994).
Mas por que aprender sobre orbitais eletrônicos em farmacognosia aplicada? Não se esqueça de que
as ciências se conversam. Embora se aprenda mais facilmente sobre ciência quando ela é dividida em
seus vários seguimentos, não podemos deixar de ver o todo, de costurar nosso conhecimento e uni‑lo
para conseguirmos entender os fenômenos ligados aos medicamentos e como eles funcionam. Esse
conhecimento mais interligado nos ajuda a compreender melhor os mecanismos de ação dos medicamentos.
Uma vez que entendemos o processo de ressonância que ocorre nas duplas ligações conjugadas
dos anéis fenólicos, vamos focar agora nas hidroxilas que estão ligadas aos anéis fenólicos. Vimos na
figura 4 exemplos bem variados de compostos fenólicos. Retome as estruturas e observe as hidroxilas,
agora, criteriosamente. Elas se encontram em número e em posições variados nas moléculas. Ora estão
em posição vicinal, ora intercaladas, ora sozinhas.
As hidroxilas são pontos importantes de reação nos compostos fenólicos, uma vez que conferem
caráter levemente ácido aos compostos, como vimos há pouco. Além disso, o oxigênio presente possibilita
a formação de ligações de hidrogênio, que é um tipo de força intermolecular mais forte que ocorre entre
os dipolos permanentes das moléculas.
(figura 8C), e ficam mais próximas em razão das ligações de hidrogênio, antigamente chamadas de
pontes de hidrogênio.
O O O
H H+ H H+ H H
δ- O δ -
δ+ δ
δ- O δ -
δ+ δ
δ- O δ -
δ+
O O H H
δ+
H
δ+
H
δ+
H
δ+
H
δ+
δ +
δ + δ -
O δ -
δ -
O δ -
δ- O
H H H H H H H H H H
δ+ δ+ δ+ δ+ δ+
A B O δ -
δ- O δ -
δ- O δ -
C
H H H H H H
Outro ponto muito importante com relação às hidroxilas dos anéis fenólicos é a capacidade de
formarem complexos quando em presença de metais. Algumas reações características de compostos
fenólicos são feitas a partir de reagentes compostos por sais metálicos diluídos, como cloreto de alumínio
(AlCl3) ou cloreto férrico (FeCl3). Eles alteram algumas propriedades dos compostos fenólicos, como a
cor, e facilitam no processo de identificação desses compostos (PEIXOTO et al., 2012). Observe a figura 9.
CI
OH AI
O
OH
O
HO O
2 AICI3 HO O
OH
OH
OH O
O O
AI-
CI CI
Algumas espécies vegetais de interesse medicinal apresentam compostos fenólicos que não se
encaixam como taninos, classe de compostos químicos já estudada em outras disciplinas, ou como
flavonoides, que estudaremos a seguir. Vamos falar sobre algumas delas agora.
• Alcachofra:
— Família: Asteraceae.
• Cúrcuma:
— Família: Zingiberaceae.
— Mecanismo de ação: incerto, mas pode ser ligado a aumento de enzimas lisossomais ou
atividade sobre a síntese de prostaglandinas, interferência na resposta dos granulócitos a
estímulos relacionados ao processo anti-inflamatório (SLIKA; PATRA, 2020).
20
FARMACOGNOSIA APLICADA
• Guaco:
— Família: Compositae.
21
Unidade I
• Pimentas:
— Família: Solanaceae.
— Curiosidade: no Brasil, são conhecidas várias espécies com o nome de pimenta, pertencendo
essas espécies aos gêneros Capsicum, reportadas neste capítulo, e Piper, Pimenta, Xylopia,
Schinus, Zanthoxylum, entre outros, a serem reportadas eventualmente em outros tópicos.
• Podofilo:
— Família: Berberidaceae.
— Órgão utilizado: vários órgãos produzem o princípio ativo, como frutos verdes, folhas, rizoma
e raízes.
22
FARMACOGNOSIA APLICADA
— Substâncias químicas: podofilotoxina ou podofilina (figura 4), usada para produção semissintética
de etoposídeo, um inibidor da topoisomerase II, utilizado como antitumoral (REYHANOGLU;
TADI, 2020).
• Uva:
— Família: Vitaceae.
23
Unidade I
— Curiosidade: o resveratrol também pode ser encontrado nas raízes de Polygonum cuspidatum,
Polygonaceae, uma planta japonesa também conhecida por bambu mexicano.
Saiba mais
Você já observou quantas cores podemos ver nas flores e nos frutos, quantas tonalidades diferentes
eles têm? Estudemos agora os flavonoides, um importante grupo de metabólitos secundários, tanto para
as plantas como para quem os consome.
A palavra flavonoide vem do grego flavos, que significa “amarelo”, uma vez que muitas dessas
moléculas são amarelas quando isoladas da natureza. Mas não é só a cor amarela que é produzida
pelos flavonoides. Eles também são um dos tipos de pigmentos naturais responsáveis pelas colorações
24
FARMACOGNOSIA APLICADA
vermelha e azul. Apresentam-se com uma cor sob a luz no comprimento de onda do visível e com outra
cor quando sob luz ultravioleta.
Os flavonoides são amplamente encontrados no reino vegetal e pode-se afirmar que sua ocorrência
entre as plantas terrestres é universal (ou seja, praticamente todas as plantas apresentam flavonoides).
Podem ser encontrados em briófitas (musgos), pteridófitas (samambaias) e também distribuídos
fartamente nas gimnospermas e nas angiospermas. Recentemente, flavonoides e outros compostos
fenólicos foram descritos em algas, as plantas aquáticas (MATEOS; PÉREZ-CORREA; DOMÍNGUEZ, 2020;
HAQ et al., 2019).
Uma vez que são tão presentes nas plantas, muitas funções fisiológicas dos vegetais são atribuídas
aos flavonoides. Uma já explicitamos anteriormente: os flavonoides contribuem para a coloração de
flores e frutos. Esse fato é importantíssimo para a reprodução das plantas, uma vez que os animais
polinizadores são atraídos pela coloração das pétalas e dos frutos e, eventualmente, pela coloração de
outros órgãos, como folhas e caules (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2001).
Além de contribuírem para a cor das flores e frutos, os flavonoides estão envolvidos na proteção
contra os raios ionizantes (como raios ultravioleta, por exemplo), são moléculas sinalizadoras, atuam
como reguladores hormonais (YONEKURA-SAKAKIBARA; HIGASHI; NAKABAYASHI, 2019) e na fixação do
nitrogênio pela simbiose com espécies de Rhizobium (DONG; SONG, 2020).
Retomemos agora a ressonância dos anéis fenólicos e a nuvem eletrônica formada pelas duplas
ligações conjugadas. Essa nuvem eletrônica é capaz de absorver parte da energia proveniente dos raios
solares através da região da molécula conhecida como cromóforo, que, no caso dos compostos fenólicos,
é a região que apresenta as duplas conjugadas e as hidroxilas (SILVERSTEIN et al., 2019), que também
conduzem ao efeito de ressonância. Veja na figura 16 como isso acontece.
Raios
ultravioleta Energia não
absorvida
Energia absorvida
pela molécula
OH
25
Unidade I
As plantas precisam de estratégias, como a presença de flavonoides em seus órgãos, para se proteger
dos raios ultravioleta (UV), a fim de evitar que suas moléculas nobres, como ácidos nucleicos, lipídios de
membrana e proteínas, sofram a ação deletéria e mutagênica dos raios solares ionizantes, como os já
citados raios UV. Assim, os flavonoides funcionam como verdadeiras barreiras naturais protetoras contra
os raios solares. Isso acontece porque a nuvem eletrônica gerada pelo efeito de ressonância absorve
a luz nos comprimentos de onda do ultravioleta e do visível. Essa propriedade também é utilizada no
controle de qualidade de flavonoides.
Essa propriedade protetora contra os raios UV está intimamente relacionada com a estrutura química
dos flavonoides. Iniciemos, então, abordando como os flavonoides são biossintetizados pelas plantas.
Vimos, em outras disciplinas, as principais vias metabólicas das plantas. Os flavonoides são
biossintetizados a partir de diferentes vias biossintéticas e, por isso, falamos que são obtidos por
vias mistas.
As duas principais vias de formação de flavonoides são a via do acetato e a via do ácido chiquímico.
A partir da via do acetato, forma-se um anel fenólico, com seis átomos de C (ou C6) e a partir da via do
ácido chiquímico é formada a parte do esqueleto do flavonoide composta por nove átomos de carbono
(conhecida como C6-C3, um fenilpropanoide). Essas duas unidades, a C6 e a C6-C3, ligam-se para
formar um esqueleto conhecido como C6-C3-C6, com 15 átomos de carbono. Essa estrutura forma um
composto tricíclico, cujos anéis são chamados de A, B e C, sendo o anel A formado pela unidade C6 e
os anéis B e C formados pela unidade C6-C3 (KREIS; MUNKERT; PÁDUA, 2017). Na figura 17, temos a
representação do esqueleto de um flavonoide e podemos observar ambas as estruturas.
5’
6’ 4’
8
B
9
O 3’
7
2 2’
A C
6
10 3
5
O
26
FARMACOGNOSIA APLICADA
O H2O3P O COOH
H2O3P
SCoA O
HO OH Ácido fosfenol pirúvico
Acetil coenzima‑A
Eritrose‑4‑fosfato
Flavonoide
B
O
COOH
A C
HOOC O
Ácido chiquímico
3 x Malonil SCoA O
coenzima‑A HO OH
OH
HO O O R Fenilpropanoide
cumarinas OH
OH
chalconas auronas
O O
O
O OH
O flavonóis
O
flavanonas
O
O flavonas
O
O
OH
O
O flavanonóis
O OH
flavanos flavanóis
OH O
isoflavonas
HO O+ OH
OH OH HO O
OH antocianidinas HO O
OH
OH catequinas
OH
OH OH
leucoantocianidinas
A diversidade química dos flavonoides é entendida a partir da variedade de esqueletos das cadeias
principais das subclasses desse grupo de compostos, mas também devemos entender que hidroxilas,
27
Unidade I
metoxilas, metóxis e outros substituintes dos anéis podem ser encontrados em várias combinações. Em
geral, as espécies vegetais tendem a apresentar tipos específicos de flavonoides e seus derivados, o que
caracteriza aquela espécie e acaba por contribuir com sua identificação taxonômica (DAHLGREN, 1980).
A diversidade dos flavonoides também se deve aos açúcares que se encontram ligados, quando se
apresentam como glicosídeos. Como esperado, os glicosídeos flavonoídicos apresentam polaridade mais
elevada do que aquela observada para a genina, ou aglicona, que é a molécula de flavonoide.
Quando em sua forma glicosilada, os flavonoides podem estar ligados às pentoses D-apiose,
L-arabinose e D-xilose e às hexoses D-alose, D-glactose, D-glicose e L-ramnose, sendo este último um
açúcar classificado como 6-desoxihexose ou como metilpentose, muito comum em alguns gêneros de
plantas medicinais de que falaremos daqui a pouco, como em Rhamnus. Podem também estar ligados
a dissacarídeos ou trissacarídeos. Esses açúcares podem ser encontrados em todas as subclasses de
flavonoides (ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017). Observe as estruturas e como a distribuição
espacial é fundamental na figura 19.
O O OH O
OH OH
HOH2C HO
HO OH
HO OH OH HO OH
D-apiose L-arabinose D-xilose
O OH OH
HO HOH2C O OH H3C O OH
O OH
HO OH HO OH HO OH
OH HO OH
OH OH
OH
D-alose D-galactose D-glicose L-ramnose
Havíamos mencionado, pouco antes, que os flavonoides são classificados em subclasses. Vamos, agora,
conhecer um pouco sobre as mais importantes. Começaremos pelas flavonas e flavonóis, dois grupos
cuja estrutura é bem parecida. Retome as figuras 17 e 18 e você poderá observar que a diferença está na
presença de um OH na posição 3, que fica no anel C, dos flavonóis. As flavonas mais comuns na natureza
são a apigenina e a luteolina, mas também podemos encontrar outras, como acacetina, apiína, crisina,
crisoeriol, diosmetina, escutelarina, tricetina e tricina (ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).
Entre os flavonóis mais comuns estão a rutina, o canferol, a quercetina, a ramnetina e a isoramnetina,
mas também podemos encontrar quercitrina, astragalina, miricetina, miricitrina, morina, entre outros.
Além dos açúcares que mencionamos anteriormente, visualizados na figura 19, podemos encontrar dois
ácidos derivados de açúcares, chamados de ácidos D-glicurônico e D-galacturônico, ligados às flavonas
e flavonóis (ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).
Observe na figura 18 como as isoflavonas têm uma estrutura pouco diferente em comparação com
os outros flavonoides. O anel B, que geralmente está ligado ao anel C na posição 2 nas isoflavonas, aqui
28
FARMACOGNOSIA APLICADA
se liga na posição 3 do anel C. Essa diferença, que parece simples, faz com que as isoflavonas sejam
especiais, uma vez que ocorre em um grupo muito restrito de plantas, mais precisamente, apenas na
família das Fabaceae. Algumas espécies dessa família são a soja (SETCHELL, 2017), a amêndoa, o pistache,
a ervilha, o feijão, a fava e o grão-de-bico. Embora seja apenas uma família de plantas, ela contém cerca
de 19 mil espécies (CHRISTENHUSZ; BYNG, 2016).
Dada a riqueza de espécies vegetais das Leguminosae (Fabaceae), existe uma riqueza relacionada ao
número de isoflavonas dentro desse grupo de plantas. As isoflavonas são divididas em isoflavanonas,
isoflavenos, rotenoides, pterocarpanos, pterocarpenos, cumestanos e cumaronocromonas, entre outras.
As isoflavonas mais conhecidas são a genisteína e a genistina; entre as isoflavanonas, a dalbergioidina;
entre as isoflavanas, o equol e entre os pterocarpanos, a medicarpina. Vale ressaltar que elas costumam
estar em sua forma glicosilada. Uma outra curiosidade biológica das isoflavonas é que elas se comportam
como antibióticos, que são produzidos pelo tecido vegetal em resposta a um agente infeccioso que o
invadiu. Por isso, são consideradas fitoalexinas, que são, de modo geral, essas moléculas produzidas pela
planta em resposta a um agente externo (KRÍZOVÁ ˘˘ et al., 2019; ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO,
2017). Elas são também consideradas fitoestrógenos, porque são moléculas que se encaixam nos sítios
˘˘
dos hormônios estrogênicos (KRÍZOVÁ et al., 2019). Veja na figura 20 como isso é possível.
OH
OH
OH O
HO O
HO
17-b-estradiol Genisteína
OH
OH
OH O
HO
HO O
Outros dois grupos de flavonoides importantes são as chalconas e as auronas. Nas chalconas, não
temos o anel C, mas, sim, a presença de uma carbonila cetônica, que também pode ser uma hidroxila,
dependendo da molécula e da dupla ligação alfa-beta. As chalconas apresentam coloração amarelada
quando isoladas e coloração avermelhada quando em meio alcalino. Essa capacidade de mudar de cor
também ocorre nas auronas, frequentemente presentes junto com as chalconas, nas plantas das famílias
Asteraceae, Oxalidaceae, Scrophulariaceae, Gesneriaceae, Acanthaceae e Liliaceae. As auronas possuem
uma estrutura que se diferencia dos outros grupos por apresentar um anel C com cinco átomos, ao
invés dos seis usuais aos flavonoides das outras subclasses, e podem estar ligadas a açúcares. Tanto as
chalconas como as auronas contribuem para a coloração amarelada das pétalas, juntamente com outros
compostos, conhecidos como carotenos, dos quais falaremos mais tarde (ZUANAZZI; MONTANHA;
ZUCOLOTTO, 2017).
29
Unidade I
Solúveis em água, são muito comuns na indústria alimentícia, mostrando-se seguros, embora muito
instáveis nas composições dos alimentos industrializados – em razão do pH, da incidência de luz e da
presença de outros componentes que possam reagir, deixando as antocianidinas instáveis (ZUANAZZI;
MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017). As antocianinas são frequentemente associadas a moléculas de açúcares,
enquanto as antocianidinas são as formas não glicosiladas (OKUMURA; SOARES; CAVALHEIRO, 2002).
Outra subclasse de flavonoides a ser mencionada são as catequinas, muito importantes para a
constituição dos taninos, que já estudamos anteriormente, em Farmacognosia. Na figura 18, podemos
ver que a estrutura das catequinas apresenta uma grande quantidade de hidroxilas e que no anel C não
há duplas ligações. As catequinas se polimerizam para formar os taninos condensados. As catequinas são
encontradas no chá verde e estudadas quanto a vários efeitos benéficos para o organismo, como agentes
antioxidantes e anti-inflamatórios (MUSIAL; KUBAN-JANKOWSKA; GORSKA-PONIKOWSKA, 2020).
Observação
Uma boa estratégia para se extrair flavonoides é retirar, primeiramente, compostos de baixa polaridade
da droga vegetal, o que pode ser feito com a utilização de solventes de baixa polaridade, como hexano
ou benzeno, por exemplo, que vão retirar ceras, gorduras e pigmentos lipossolúveis. Depois, pode‑se
utilizar solventes um pouco mais polares, como clorofórmio, diclorometano ou acetato de etila, por
exemplo, para retirar flavonoides pouco polares, como aqueles mais metilados e que não apresentem
tantas hidroxilas. A utilização sequencial de solventes como álcoois e misturas hidroalcóolicas permite
a extração de flavonoides mais hidroxilados, que apresentam polaridade mais elevada. Por fim, a
utilização de água possibilita a extração dos glicosídeos flavonoídicos, muito polares por estarem ligados
a moléculas de açúcar, estas altamente hidroxiladas por conta de sua natureza química (ZUANAZZI;
MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).
30
FARMACOGNOSIA APLICADA
Em termos das propriedades físico-químicas, temos a seguinte situação: quando falamos dos
flavonoides livres, como agliconas ou geninas, e quando falamos dos flavonoides glicosilados. As
agliconas são menos polares que quando glicosiladas, por isso, são solúveis em uma gama de solventes
que vão desde os apolares, como os clorados e acetato de etila, até alguns mais polares como etanol e
metanol. Por conta do caráter fenólico resultante da ressonância, os flavonoides são levemente ácidos, e,
portanto, podem ser solúveis em soluções alcalinas também (ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).
As formas glicosiladas dos flavonoides são solúveis em misturas hidroalcóolicas feitas com etanol ou
metanol. Temos uma exceção, que são as antocianinas. Como elas são estáveis em sua forma catiônica,
sua extração e seu armazenamento devem ser feitos em meio ácido, desde que a solução ácida seja
diluída. Como a maioria dos glicosídeos flavonoídicos é composta por O-glicosídeos, o aquecimento
desses compostos em meio ácido ou em meio alcalino pode levar à hidrólise e, consequentemente, à
separação da molécula de glicosídeo da aglicona (ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).
Os flavonoides, quando em sua forma livre, ou seja, sem os açúcares ligados formando os glicosídeos,
costumam mostrar-se como cristais amarelados quando isolados. Em situações em que o isolamento e a
purificação de flavonoides são importantes, por exemplo, para se determinar a estrutura química de um
flavonoide desconhecido, as informações físico-químicas acumuladas sobre os flavonoides conhecidos
servem para fornecer uma base pela qual se começar, quais as melhores técnicas para se escolher, etc.
Lembrete
Sendo os flavonoides amplamente distribuídos no reino vegetal, muito se sabe sobre esse grupo
de substâncias, o que é refletido no número de artigos científicos e livros que descrevem a aura de
conhecimento reunido em torno dessas moléculas especiais. O estudo dos flavonoides se dá a partir
da identificação de sua presença nas plantas. É possível identificar a presença de flavonoides no tecido
vegetal a partir de reações histoquímicas; pode-se, ainda, verificar a presença de flavonoides em
extratos vegetais. Em geral, a identificação de flavonoides é mais comum de ser realizada a partir da
matéria‑prima vegetal em pó, portanto, é feita uma extração em mistura hidroalcoólica, com etanol e
água, sob aquecimento. A partir desse extrato, caracteriza-se a presença de flavonoides com o uso de
reações cromóforas ou de ensaios cromatográficos sob sistemas específicos.
amarelo vermelho
O
O+
Mg0 / HCI
O
flavonoide antocianidina
correspondente
Outra reação usada para identificar a presença de flavonoides em extratos vegetais é a reação
com AlCl3, ilustrada na figura 9. Essa reação pode ser feita sobre um pedaço de papel de filtro, no
qual duas gotas do extrato alcoólico vegetal são aplicadas a uma distância significativa uma da outra.
Sobre uma das gotas, é adicionada uma gota de AlCl3 5%. O papel de filtro é, então, observado sob
luz UV 365 nm e o que se espera observar, caso haja a presença de flavonoides, é a obtenção de uma
coloração amarelo‑esverdeada intensa (COSTA, 1982) – dependendo do flavonoide, a cor pode variar de
violácea a azulada.
Além dessas reações cromóforas, as técnicas cromatográficas podem ser utilizadas para se
verificar a presença de flavonoides em um extrato vegetal. Para isso, podem ser usadas as técnicas de
cromatografia em papel (CP) ou de cromatografia em camada delgada (CCD), mais acessíveis, embora
as outras técnicas, como a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE ou HPLC, da sigla em inglês),
também possam ser adotadas. Para que haja uma eficiência na análise cromatográfica voltada à
verificação da presença de flavonoides no extrato, deve-se escolher o sistema cromatográfico voltado
para essa classe de compostos, de modo que a separação do flavonoide seja favorecida para melhor
visualização no cromatograma.
Para isso, um sistema para CCD adequado pode ser composto pela fase estacionária, constituída
pelos adsorventes sílica-gel, poliamida ou celulose, fase móvel, agente eluente, pode ser composta por
uma mistura de solventes conhecida por BAW, contendo n-butanol: ácido acético: água (4: 1: 5) ou
pode ser composta por ácido acético diluído em diferentes porcentagens. O agente revelador também é
importante e, para os flavonoides, a simples visualização do cromatograma sob luz UV nos comprimentos
de onda curto (254 nm) ou longo (365 nm) pode ser suficiente para indicar sua presença, particularmente
se feita após a exposição das manchas do cromatograma a vapores de amônia (que fazem com que
os flavonoides mudem de cor sob luz UV). Além da revelação com luz UV, outros reagentes podem
ser usados para revelar a presença de flavonoides no cromatograma: AlCl3 1%, NaOH 2%, reagente
de Folin-Ciocateau (fosfomolibdato-fosfotungstato), FeCl3 1% e NP/PEG (difenilboriloxietildiamina),
entre outros (WAGNER; BLADT, 1996). A questão é que esses reagentes não são tão específicos para
flavonoides, pois revelam a presença de compostos fenólicos. Por isso, é importante a análise conjunta
das informações obtidas.
Existem situações, por exemplo, quando se estuda uma espécie vegetal nova ou quando há a
necessidade de se analisar um marcador em um fitoterápico, em que precisamos isolar e identificar o
flavonoide. Em situações como essas, é necessário utilizar o conhecimento adquirido até aqui e ir um
32
FARMACOGNOSIA APLICADA
pouco mais além. No caso de isolarmos um marcador de uma espécie vegetal que é matéria-prima
para fitoterápico, a planta já é conhecida, já foi estudada e o marcador, determinado. O processo
de isolamento e separação, em geral, já está determinado e faz parte dos protocolos de controle de
qualidade físico-químico da matéria-prima e do produto acabado, o fitoterápico. No caso de se realizar
esse procedimento com espécies vegetais que estão sendo estudadas como potenciais matérias-primas
de fitoterápicos, os procedimentos de isolamento e identificação ainda não estão estabelecidos. Como
fazer, então?
Saiba mais
Talvez seja interessante você retomar o esquema do espectro de emissão
de luz. Para isso, acesse o link indicado a seguir.
EM_SPECTRUM_PROPERTIES_REFLECTED.SVG.
Disponível em: https://bit.ly/3j5ObqP. Acesso em: 20 jul. 2021.
33
Unidade I
Voltando à hipótese anterior, caso nosso flavonoide seja desconhecido, precisamos submetê-lo a
mais análises, como à espectrometria de massas. Essa técnica serve para obtermos a massa molecular
do nosso flavonoide, um dado muito importante para nos ajudar na identificação da molécula. Além
disso, a espectrometria de massas também nos auxilia a construir nosso flavonoide em termos de sua
estrutura molecular, como se fosse um quebra-cabeça. Imagine que a molécula seja o quebra‑cabeça
montado e que, quando a molécula é submetida ao espectrômetro de massas, ela é desmontada tal qual
desmontamos o quebra-cabeça quando ele vem montado. Depois, temos que identificar as peças do
quebra-cabeça, que, no caso da nossa análise espectrométrica, seriam as partes da molécula que foram
34
FARMACOGNOSIA APLICADA
quebradas durante a análise, e juntá-las de volta para formarmos a figura final. No caso da análise
por espectrometria de massas, juntamos os “pedaços” de molécula, ou fragmentos, para usar o termo
correto, para formarmos a molécula inteira (VESSECCHI et al., 2011).
Outra análise que é necessária para a identificação das moléculas, para se atestar que a molécula
está bem identificada com base nas análises por UV-VIS, IV e massas, é a espectroscopia por ressonância
magnética nuclear (RMN) feita com os isótopos de carbonos (C13) e hidrogênios (H1) das moléculas
orgânicas – às vezes, essa análise é complementada com análises de isótopos de nitrogênio, enxofre
e fósforo presentes na molécula. Essa técnica submete a molécula a campos eletromagnéticos muito
elevados que alteram os spins eletrônicos dos átomos mencionados. Como cada átomo apresenta uma
ligação específica, essa alteração no campo magnético vai gerar uma alteração na radiofrequência
desses isótopos, permitindo seu registro, que acaba por fornecer os tipos de átomos que estão presentes
na nossa amostra de flavonoides (SILVERSTEIN et al., 2019). Então, o analista, com esses dados em mãos,
monta o quebra-cabeça e compara com os resultados obtidos pelas outras técnicas. Ao final de tudo,
temos a identificação do flavonoide desconhecido.
Como vimos, o trabalho para identificar uma molécula desconhecida não é dos mais simples, mas,
quando se trata de um marcador (ou seja, uma molécula conhecida presente em um fitoterápico, que
muitas vezes é o próprio princípio ativo vegetal), o processo se torna muito mais fácil, uma vez que a
molécula é conhecida. Em decorrência disso, já existe o conhecimento de todos os dados das análises
de UV-VIS, IV, massas e RMN feitas, cabendo apenas compararmos os dados que acabamos de obter
com esses já conhecidos. Com isso, podemos até otimizar os custos de análise e empregar as técnicas
mais baratas para realizá-las, como o UV-VIS, que, para flavonoides, é muito utilizado por cada um
deles apresentar uma curva espectrofotométrica característica, ou mesmo cromatografia, seja ela
uma CCD e/ou uma CLAE. Para que haja eficiência nas análises de marcadores, é necessário utilizar
compostos de referência como padrão. Esses compostos, que devem ser ultrapuros, são caracterizados
pelas técnicas mais sofisticadas, como massas e RMN, para depois serem empregados como padrão
nas técnicas mais acessíveis e rotineiras, que são as de UV-VIS, IV e as técnicas cromatográficas
mencionadas (SILVERSTEIN et al., 2019). Com isso, temos condições plenas de quantificar nosso
marcador no fitoterápico.
Mas não é só de análises físico-químicas que é feito o interesse nos flavonoides, não é mesmo?
Nós os estudamos porque apresentam propriedades farmacológicas. De modo geral, as propriedades
relacionadas aos flavonoides estão relacionadas a algumas propriedades físico-químicas que foram
abordadas para os compostos fenólicos, que vimos anteriormente. Vamos entender isso melhor
logo adiante.
“sequestrar” os elétrons muito reativos encontrados em moléculas conhecidas como espécies reativas
de oxigênio (ROS), como os radicais livres, deixando-os menos reativos. Veja a reação demonstrada
na figura 23.
OH OH
OH OH
HO O HO O
R R
+ O O•
+ O OH
OH O O• O molécula
espécie reativa de neutra
flavonoide oxigênio - ERO
OH
OH
HO O
radical mais
estável
O• O
Observação
Os flavonoides têm sido muito estudados como agentes anti-inflamatórios por diversas razões.
Talvez uma das mais importantes seja o fato de que o consumo dos alimentos considerados
saudáveis, que incluem frutas, legumes e verduras, represente uma grande quantidade de
flavonoides e tem sido associado à prevenção de doenças inflamatórias, como asma, diabetes,
doenças neurodegenerativas e câncer (BOUVARD et al., 2015). Os flavonoides apresentam diferentes
mecanismos de ação relacionados à ação anti-inflamatória, como miricetina e quercetina, que inibem
proteínas quinases relacionadas à ativação das células envolvidas no processo inflamatório (HOU;
KUMAMOTO, 2010). Também podem agir como antioxidantes por sequestrarem EROs formadas nos
tecidos inflamados (CHEN et al., 2019), além de poderem agir sobre a cascata inflamatória, inibindo
enzimas como ciclo-oxigenase 1 e 2, lipoxigenase e fosfolipase A2 envolvidas no metabolismo
do ácido aracdônico, que por sua vez irá inibir a formação de prostaglandinas, tromboxanos e
leucotrienos (YAHFOUFI et al., 2018).
36
FARMACOGNOSIA APLICADA
uma vez que, ao sequestrar os radicais livres, os flavonoides impedem que esses reajam com moléculas
nobres como ácidos nucléicos, proteínas, enzimas e lipídios de membrana (MALEKI; CRESPO;
CABANILLAS, 2019).
Vamos agora mostrar algumas espécies vegetais que apresentam flavonoides como a principal classe
de compostos responsáveis pela atividade farmacológica observada.
• Faveiro:
— Família: Fabaceae.
— Efeitos tóxicos e interações medicamentosas: sementes são tóxicas para o gado bovino
(SANT’ANA et al., 2014), existe registro de toxicidade da astilbina às abelhas e larvas de algumas
borboletas e besouros (TOMBA, 2015).
37
Unidade I
• Camomila:
— Família: Asteraceae.
— Curiosidades: essa espécie é usada há milênios, desde a época dos antigos gregos, egípcios e
romanos (SINGH et al., 2011).
38
FARMACOGNOSIA APLICADA
• Arnica:
— Família: Asteraceae.
— Curiosidades; o nome “arnica” significa pele de cordeiro. Várias patentes já foram aplicadas
com base nos estudos farmacológicos com arnica.
39
Unidade I
— Efeitos tóxicos e interações medicamentosas: hepatotóxica se administrada por via oral por conter
alcaloides pirrolizidínicos tussilagina e isotussilagina (KRIPLANI; GUARVE; BAGHAEL, 2017).
A) B)
C)
Figura 26 – Em A, arnica, capítulos florais (Arnica montana L.), em B, arnica-do-campo (Solidago chilensis Meyen)
e, em C, arnica paulista (Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass)
• Calêndula:
40
FARMACOGNOSIA APLICADA
— Família: Asteraceae.
• Equinácea:
— Família: Asteraceae.
41
Unidade I
• Citrus sp.:
— Família: Rutaceae.
— Uso popular: na alimentação, contra resfriados, afecções das vias aéreas superiores (EVANS, 1996).
• Ginkgo:
— Família: Gingkoaceae.
— Órgão usado: folhas amareladas de árvores de pelo menos três anos de idade (BRASIL, 2020).
— Efeitos tóxicos e interações medicamentosas: por conta de ser antiagregador plaquetário, não
pode ser consumido com fármacos que tenham essa propriedade farmacológica (BRASIL, 2020).
43
Unidade I
• Maracujá:
— Famíli: Passifloraceae.
— Efeitos tóxicos e interações medicamentosas: não usar juntamente a outros ansiolíticos, não
usar na gravidez.
44
FARMACOGNOSIA APLICADA
A) B) C)
• Cranberry:
— Família: Ericaceae.
— Uso popular: anti-inflamatório usado no trato urinário (JEPSON; WILLIAMS; CRAIG, 2012).
— Efeitos tóxicos e interações medicamentosas: consumo do suco do fruto não recomendado para
quem tem diabetes, que só devem comer os frutos em sua forma natural (JEPSON; WILLIAMS;
CRAIG, 2012).
45
Unidade I
• Soja:
— Família: Fabaceae.
— Curiosidades: o processamento da soja leva à obtenção de óleos, farinha, molho de soja, sabão,
cosméticos, resinas, tintas, solventes e biodiesel (GOLDWYN; LAZINSKY; WEI, 2000).
— Atividade farmacológica: compostos que mimetizam o estrogênio (veja a figura 20), que são
usados como substitutos de hormônios sintéticos na reposição hormonal e que atuam na
prevenção de osteoporose (GOLDWYN; LAZINSKY; WEI, 2000).
46
FARMACOGNOSIA APLICADA
• Própolis:
— Nomenclatura científica: o termo “própolis” vem do grego pro, que significa defesa ou “na
frente de”, e polis, que significa cidade, e é produzida pela abelha-europeia, Apis mellifera
L., e de outras espécies como jataí, mandaçaia, iraí, moça-branca, guaraipó ou guarupu (filo
Arthropoda; Classe Insecta; Família Apidae; Gêneros Apis, Melipona, Tetragonisca, Frieseomellita,
Nannotrigona, entre outros tantos).
— Própolis é um material resinoso produzido por abelhas para selar ou reparar a superfície da
colmeia e impedir a invasão de agentes patógenos ou predadores à colônia (ALI et al., 2018;
EVANS, 1996). No Brasil, as própolis mais comuns são conhecidas comercialmente como
própolis verde e própolis vermelha, embora tenha a própolis marrom, a própolis de jataí (um
tipo de abelha sem ferrão) (PETER et al., 2019).
47
Unidade I
Figura 34 – Própolis
São compostos fenólicos do tipo C6-C2-C6, originados a partir da oxidação de fenóis, sendo as
benzoquinonas, as naftoquinonas e as antraquinonas as mais comuns na natureza e as mais conhecidas.
As naftoquinonas e as antraquinonas são compostos que apresentam caráter aromático (MORRISON;
BOYD, 2011). Veja na figura 35 as estruturas das quinonas.
O O O O
1
O
8 1 8 1 8 1
6 2 1 O O
6 7 2 7 2 7 2
2
5 3 3 3 3
4 5 3 6 6 6
4 4 4
O 4 5 5 5
O O
1,4‑benzoquinona 1,2‑benzoquinona 1,4‑naftoquinona 1,2‑naftoquinona 9,10‑antraquinona
OH OH OH OH O OH OH O OH
1,8‑di‑hidroxi‑antranol 1,8‑di‑hidroxi‑antrona O
1,8‑di‑hidroxi‑antraquinona
OH OH OH OH O OH OH O OH
OH O OH
OH
OH
1,8‑di‑hidroxi‑oxantrona
OH O OH OH O OH
tetra‑hidroxi‑diantrona tetra‑hidroxi‑naftodiantrona
Figura 35 – Quinonas
48
FARMACOGNOSIA APLICADA
As quinonas são obtidas a partir da via do ácido chiquímico ou pela via do acetato (veja, na figura 36,
as duas vias de obtenção descritas de forma simplificada). As quinonas apresentam núcleo antracênico,
formado pelos anéis aromáticos vicinais, embora haja compostos derivados que apresentam apenas
dois ou mesmo um anel fenólico (KREIS; MUNKERT; PÁDUA, 2017). Entre todas as quinonas naturais, as
antraquinonas são as mais importantes. Porém, as quinonas pertencentes a outros grupos eventualmente
também são utilizadas como compostos com finalidade terapêutica, conforme veremos adiante.
HO COOH
HO ácido mevalônico
HO O COOH COOH O
COOH
A) +
HO HOOC
OH ácido cetoglutárico O
ácido chiquímico O
ácido o‑succinilbenzoico
antraquinona
O O O O
O O
+ 4 COOH S CoA
CoA S CoA S várias etapas
acetil‑coenzima A O
malonil‑coenzima A
O O O
B) várias etapas
OH O OH
O O O O OH O OH
crisfanol‑antrona
O HO
O O O
emodinal‑antrona
Como se observa na figura 35, as quinonas podem se apresentar em formas mais oxidadas ou mais
reduzidas. Nas drogas vegetais secas, é mais comum encontrarmos as formas mais oxidadas, uma vez
que o processo de secagem possibilita a incorporação de O nas estruturas originais, que na planta
fresca apresentam-se em suas formas mais reduzidas. As quinonas que primeiramente são sintetizadas
pelas plantas são as antronas e os antranóis. Depois, são formadas as antraquinonas e as diantronas
(FALKENBERG, 2017).
Veja, ainda na figura 35, a numeração dada às quinonas. Hidroxilas são comuns nas posições C1 e
C8, enquanto outros substituintes, como metila (CH3-), metoxila (H3CO-) ou carboxila (-RCO-R-) em
C3 e metila ou metoxila em C6. Muitos derivados quinônicos naturais são glicosilados. Os açúcares dos
O-glicosídeos estão ligados pelas hidroxilas presentes em C1, C6 ou C8, enquanto nos C-glicosídeos,
derivados das antronas, os açúcares estão em C10, que é uma das carboxilas do anel central. Vale ressaltar
49
Unidade I
que os açúcares mais comuns a formarem os glicosídeos são glicose, ramnose e apiose (FALKENBERG,
2017). Agora vejamos como são distribuídas na natureza.
As mais de 2 mil quinonas podem ser encontradas em bactérias, fungos, líquenes, gimnospermas e
angiospermas (FALKENBERG, 2017), além de já terem sido observadas também em esponjas e ouriços‑do‑mar
(ANOUAR et al., 2014), além de insetos, como as cochonilhas. Algumas quinonas são consideradas metabólitos
primários, como as plastoquinonas, as filoquinonas (entre as quais, a vitamina K1) e as ubiquinonas (entre as
quais, a coenzima Q10), estando presentes nos tecidos que fotossintetizam de plantas aquáticas e terrestres.
Ainda segundo Falkenberg (2017) e Anouar et al. (2014), podemos encontrar antraquinonas nas
famílias Rubiaceae, Fabaceae, Rhamnaceae, Polygonaceae, Liliaceae, Verbenaceae, Asphodelaceae,
Gesneriaceae e Scrophulariaceae; naftoquinonas em Bignoniaceae, Juglandaceae, Plumbaginaceae,
Boraginaceae, Lythraceae, Ebenaceae e Droseraceae; e benzoquinonas em Myrsinaceae, Boraginaceae,
Iridaceae e Primulaceae. Outras quinonas estão presentes na família em Lamiaceae. Já a família Fabaceae,
que contém muitas espécies, pode apresentar outros tipos de quinonas.
As quinonas podem auxiliar a identificação taxonômica das espécies vegetais. Acredita-se que a
presença desses compostos nas plantas confere um caráter protetor contra agentes patógenos, como
microrganismos e insetos. Em outras palavras, as plantas podem fazer uma guerra química. Sendo seres
fixados em um substrato (como o solo, uma rocha, o caule de outra espécie), a competição por espaço é
diferente daquela que vemos entre serescom maior motilidade, como os mamíferos, que podem “partir
para a briga” com o grupo rival. No caso das plantas, essa competição por espaço é feita a partir da
produção de determinados compostos que são voláteis ou que sublimam à temperatura ambiente. Esses
compostos, ao serem liberados pela planta, inibem a germinação de outras espécies, caso do composto
chamado de juglona (figura 37), produzido pela espécie Juglans regia L. Esse composto, ao ser liberado
pela planta, impede que outra espécie cresça nas proximidades.
Observação
Saiba mais
50
FARMACOGNOSIA APLICADA
O
OH O
HO OH
O OH
HO
OH O
OH O O
juglona HO OH
OH ácido carmínico
As quinonas apresentam cores bem fortes quando isoladas, podendo exibir uma faixa de coloração
que vai do amarelo ao vermelho, incluindo a cor laranja, podendo ser azul ou verde. Essa variedade
de cores se dá em razão da variedade estrutural desse grupo de substâncias e, principalmente, das
duplas ligações conjugadas com hidroxilas e carbonilas contribuindo para o caráter ressonante dos
anéis. Antronas e antranóis são geralmente amarelados, antraquinonas são alaranjadas ou vermelhas,
naftoquinonas são violeta. Essas cores podem ser usadas nos processos de identificação das quinonas
em espectrofotômetro UV-VIS, por exemplo, já que absorvem luz nessas regiões (YUSIASIH et al., 2019).
Uma outra característica muito interessante das quinonas é o fato de terem sua cor alterada de
acordo com o pH do meio. Essa capacidade (a qual detalharemos melhor mais adiante) é muito útil para
a identificação de quinonas em uma droga vegetal. Vale lembrar que as quinonas são compostos muito
oxidantes e eletrofílicos (SOUSA; LOPES; ANDRADE, 2016), estando envolvidas nos processos redox do
organismo vegetal. Elas podem ter um potencial redox maior ou menor dependendo dos substituintes
encontrados em cada molécula.
Observação
Se observarmos as estruturas das quinonas, na figura 35, podemos ver que as diferentes subclasses
apresentam graus de oxidação diferentes. Esse grau de oxidação varia em função do meio (alcalino ou
ácido), uma propriedade que resulta da estrutura composta pelas ligações duplas e pelos substituintes.
Sim, a estrutura molecular é extremamente importante para se compreender a função de cada molécula
presente em um ser ou na natureza. Na natureza, em particular, trata-se de um fator profundamente
representativo, sobretudo se pensarmos que a formação de moléculas naturais é o resultado de
um processo evolutivo e adaptativo que otimiza o gasto energético para a produção das moléculas
necessárias para tornar um organismo viável. Assim, os seres vivos não produzem moléculas à toa; caso
isso aconteça, a chance de esse organismo se tornar inviável na natureza é bastante considerável.
51
Unidade I
Em razão de sua estrutura química, as antraquinonas são mais estáveis do que as antronas e
diantronas. Se verificarmos o porquê, logo notamos as duas carbonilas nas posições 9 e 10, no anel
central: são duas posições já fortemente oxidadas. Ainda quanto às posições nos anéis, as posições C1
e C8 são particularmente importantes nas quinonas. Quando essas duas posições estão hidroxiladas, as
antraquinonas ganham uma acidez que se assemelha à de alguns ácidos orgânicos. Isso se dá devido
aos hidrogênios das hidroxilas tenderem a sair da molécula para o meio, em particular se o meio está
alcalinizado (FALKENBERG, 2017).
Algumas quinonas apresentam uma característica física bastante particular, a sublimação. A sublimação,
passagem do estado sólido para o estado gasoso sem passar pelo estado líquido, pode ocorrer inclusive
na temperatura ambiente. Por exemplo, você já deve ter ouvido falar sobre naftalina, uma bolinha branca
que se costuma colocar no armário a fim de evitar traças. Pois bem, depois de algum tempo, essa bolinha
vai reduzindo de tamanho até sumir; costuma-se notar também um odor característico que fica no
armário. Isso acontece porque a naftalina sofreu sublimação, passando para o estado gasoso e ficando
dispersa pelo armário. Por isso, quando abrimos o armário, sentimos rapidamente o odor da naftalina
(então, gasosa). Quinonas como as benzoquinonas ou as naftoquinonas, por exemplo, apresentam
capacidade de sublimação (MORRISON; BOYD, 2011), e essa capacidade também pode contribuir para
sua análise, como veremos mais adiante. Agora vejamos como essas moléculas podem ser extraídas
das plantas.
Em geral, as quinonas encontradas nos vegetais são estáveis e, portanto, fáceis de serem extraídas
por não correrem o risco de serem alteradas quimicamente com os solventes escolhidos. Bons solventes
para extração de quinonas são clorofórmio e acetona, embora etanol seja bem utilizado por não ser tão
tóxico. O metanol pode provocar a incorporação da metila (CH3-) na estrutura de determinadas quinonas.
As técnicas usuais de extração, como maceração e percolação, podem ser empregadas, embora técnicas
de extração por fluido supercrítico tenham sido registradas (DHANANI et al., 2017).
A partir de toda informação a respeito de como as quinonas são e como elas se comportam
físico‑quimicamente, já podemos formar uma ideia a respeito de sua caracterização e doseamento, os
quais são importantes para o controle de qualidade de drogas vegetais que apresentam quinonas.
52
FARMACOGNOSIA APLICADA
A reação química mais característica das quinonas livres é chamada de reação de Bornträeger.
Ela acontece com base na solubilidade das quinonas livres (ou seja, não glicosiladas) em solventes
orgânicos e na capacidade de formação de fenolatos quando em soluções aquosas alcalinas. Nas
soluções alcalinas, as antraquinonas coram-se de vermelho, por exemplo. Essa reação não ocorre com
os glicosídeos quinônicos, uma vez que esses não são solúveis em solventes orgânicos apolares. Para
analisarmos drogas vegetais que contenham glicosídeos quinônicos em sua forma O-glicosilada, é
necessário fazer a hidrólise da molécula, de modo que a aglicona (quinona) seja liberada da molécula de
açúcar. Assim, com a aglicona livre, é possível realizar a reação de Bornträeger. Para fazer essa hidrólise,
os O-glicosídeos quinônicos devem estar em uma solução aquosa adicionada de um ácido forte diluído.
O conjunto é levado ao aquecimento e esse processo resulta na quebra da molécula por hidrólise ácida,
liberando a quinona.
Com os C-glicosídeos, a situação é um pouco mais demandante, uma vez que somente a adição do
ácido e o aquecimento não são suficientes para que ocorra a hidrólise. Nesse caso, há a necessidade
de se incluir um agente catalisador da reação de hidrólise no meio ácido, por exemplo, cloreto férrico (FeCl3)
diluído em 5% em água. Então, com a adição desse catalisador ao meio ácido e o aquecimento do
conjunto, temos a hidrólise do C-glicosídeo, liberando a aglicona (quinona) que, assim, pode também
ser analisada pelo reagente de Bornträeger. Acompanhe na figura 38 o passo a passo dessas reações.
A) OH O OH O- O O-
2 OH- + H2O
O O
1,8‑di‑hidroxi‑antraquinona íon fenolato
B) glicose O O OH
OH O OH
HCI 1N glicose
ramnose +
O aquecimento
HO ramnose
O
O
glicofrangulina A O‑glicosídeo
frangulina
aglicona ou genina açúcares
antraquinona livre
C) OH O OH
CH2OH OH O OH HO
OH
HCI 1N + FeCl3 5% + OH
OH O
aloína O aquecimento
CH2OH
OH OH
aglicona ou genina açúcar
HO HO antraquinona livre
C‑glicosídeo
53
Unidade I
A verificação da capacidade de sublimação de determinadas quinonas pode ser usada como técnica
de caracterização da presença desse grupo de compostos em uma determinada droga vegetal, embora
a indicação funcione apenas para algumas quinonas, como benzoquinonas ou naftoquinonas. É possível
utilizar técnicas de sublimação em microescala, por exemplo, na análise do pó da droga vegetal que
contém as quinonas. Segundo a técnica, uma lâmina de microscopia é disposta em uma tela de amianto
no seu suporte. Sobre a lâmina, é disposto um anel de metal e, dentro desse anel, uma pequena
quantidade do pó da droga vegetal é colocada. Sobre o anel, é disposta, então, uma outra lâmina e o
conjunto é levado ao aquecimento – caso haja a formação de condensação de vapor de água, a lâmina
deve ser trocada por outra. Ainda sob aquecimento, haverá o depósito de cristais de quinonas na lâmina
sobre o anel, os quais, vistos ao microscópio, devem se apresentar amarelos e com formato de agulha
(COSTA, 1994).
Para as quinonas não identificadas, algumas técnicas podem ser empregadas a fim de se obter a
elucidação estrutural, como a de ressonância magnética nuclear, que identifica os tipos de 1H e 13C
presentes na molécula, a técnica de espectrometria de massas, que estuda o padrão de fragmentos
originados do bombardeamento eletrônico à molécula íntegra e seus picos característicos, e a técnica de
espectrofotometria de infravermelho, que identifica os tipos de ligações de grupos químicos presentes
na molécula (SILVERSTEIN et al., 2019)
Outro ponto de grande interesse são os usos farmacológicos que podemos fazer com as drogas
vegetais que apresentam quinonas em sua composição. No caso das quinonas, o principal efeito é
o de laxativo drástico, propriedade também conhecida como purgativa ou catártica. Encontramos
essa propriedade particularmente nos derivados antracênicos hidroxilados (COSTA, 1994). As outras
quinonas apresentam atividades biológicas (em sistemas in vitro) e farmacológicas (em sistemas in
vivo) bem variadas, a serem mencionadas conforme apresentamos as drogas vegetais que contêm os
derivados quinônicos.
Vamos ver, agora, que nessa classe de compostos, especificamente nos que apresentam a atividade
laxativa, a estrutura química exerce uma influência na atividade farmacológica. Então, falaremos mais
das antraquinonas, antronas e diantronas nesse momento.
As relações são as seguintes: (1) a presença de hidroxilas nas posições C1 e C8 é essencial para
a ação laxativa das quinonas; (2) as formas glicosiladas das antraquinonas são mais facilmente
transportadas em meio aquoso, o que fisiologicamente é muito conveniente, porém, por apresentar
baixa lipossolubilidade, acabam sendo pouco absorvidas (ou seja, são menos biodisponíveis do que as
antraquinonas livres); (3) as formas menos oxidadas de quinonas, como as antronas e diantronas, são
muitas vezes mais laxativas que as antraquinonas, em particular quando suas formas glicosiladas
54
FARMACOGNOSIA APLICADA
são hidrolisadas pela ação de enzimas das bactérias que compõem a flora intestinal, no intestino grosso,
e estima-se que os glicosídeos de antronas sejam até dez vezes mais potentes que os glicosídeos de
antraquinonas (FALKENBERG, 2017).
Observação
As drogas vegetais mais importantes, quando se fala de quinonas e seus derivados (glicosilados
ou não), são: babosa, cáscara-sagrada, frângula, sene, ipê-roxo (lapachol), erva-de-são-joão (hipérico)
e ruibarbo.
• Babosa:
— Família: Xanthorrhoeaceae.
— Órgão usado: das folhas se extrai um látex amarelo-alaranjado, que é concentrado e seco,
sendo assim usado como laxativo (EVANS, 1996).
— Efeitos tóxicos e interações medicamentosas: as quinonas presentes podem ser tóxicas, além
de ativas farmacologicamente, a depender da quantidade ingerida e da sensibilidade de quem
55
Unidade I
Figura 39 – Babosa, folhas (Aloe barbadensis Mill. ou Aloe vera L.ex. Webb.)
• Cáscara-sagrada:
— Família: Rhamnaceae
— Órgão usado: casca do caule, retiradas durante a primavera-verão do Hemisfério Norte, nos
meses de abril a julho (BRASIL, 2020).
— Curiosidades: esta é a droga vegetal considerada a menos drástica, sendo, por isso, muito
consumida. A droga vegetal deve ser armazenada por pelo menos um ano para que possa
56
FARMACOGNOSIA APLICADA
ser usada seguramente, de modo que as quinonas mais laxativas tenham suas propriedades
reduzidas conforme sofrem o processo de oxidação (BRASIL, 2020).
• Frângula:
— Família: Rhamnaceae.
— Órgão usado: casca do caule, colhidas durante a primavera europeia, em particular de Portugal
continental (EVANS, 1996).
— Curiosidades: a droga vegetal deve ser armazenada por pelo menos um ano para que possa
ser usada seguramente, de modo que as quinonas mais laxativas tenham suas propriedades
reduzidas conforme sofrem o processo de oxidação (EVANS, 1996).
57
Unidade I
• Sene:
— Família: Fabaceae.
58
FARMACOGNOSIA APLICADA
• Ipê-roxo:
— Família: Bignoniaceae.
— Uso popular: gripe, bronquite, cervicite, afina o sangue, calmante, dor no corpo, picada de
cobra, gastrite, diarreia, câncer (CHAVES; BARROS, 2012).
— Mecanismo de ação: do lapachol (mecanismo de ação provável) interação com ácidos nucléicos.
Lapachona induz apoptose por indução da BAX (proteína expressada por um gene influenciado
pela p53, envolvida nos processos de apoptose) e ativação de caspase (SIMÕES et al., 2004).
— Curiosidades: a palavra ipê vem do Tupi e significa “árvore cascuda”. Árvore quase chegou à
extinção, nos anos 1970.
59
Unidade I
• Erva-de-são-joão:
— Família: Hypericaceae.
60
FARMACOGNOSIA APLICADA
• Ruibarbo:
— Família: Polygonaceae.
— Curiosidades; o ruibarbo original cresce em áreas elevadas da Ásia, e aos seis anos a planta
produz seus princípios ativos em maior quantidade, quando se coleta os órgãos usados na
época da floração (embora hoje a coleta seja mais constante por conta de que haja um maior
proveito econômico da exploração dessa espécie para fins comerciais). Ao consumir ruibarbo,
as quinonas passam para as secreções, como o leite, nesse caso pode causar efeitos purgativos
no bebê, e a urina, que se cora em castanho caso esteja ácida e em vermelho caso esteja
alcalina (EVANS, 1996).
61
Unidade I
O O OH OH O OH
OH O OH
CH2OH CH2OH
b‑D‑glic
O crisofanol
cascarosídeo A O
aloe‑emodina
OH O OH
b‑D‑glic
O O OH
OH O OH
H3CO
COOH O
H COOH fisciona
H
HOOC O
reína
OH O OH
O
OH O O O
glic‑D‑b
senosídeo A HO
HO
O O
OH b‑lapachona
OH O OH
hipericina
O
lapachol
3 GLICOSÍDEOS SAPONÍNICOS
é a capacidade de formar espuma quando em soluções aquosas – daí o nome glicosídeos “saponínicos”.
A capacidade dessa molécula de formar espuma decorre do fato de a aglicona (ou genina) da molécula
ser muito lipofílica e a porção açúcar ser hidrofílica – como esperado. Essa combinação fornece à
molécula de glicosídeo saponínico um caráter anfifílico, que está relacionado à alteração da tensão
superficial da água (COSTA, 1994).
Observação
Para entender um pouco das saponinas, vejamos sua estrutura química. As saponinas apresentam
um núcleo fundamental formado por vários anéis, em estruturas trierpênicas ou esteroidais. Por ser de
origem terpênica, a biossíntese das saponinas se dá pela via do ácido mevalônico (KREIS; MUNKERT;
PÁDUA, 2017), cujo principal intermediário é o esqualeno. Veja na figura 47 a via metabólica dos terpenos
em sua forma simplificada, a partir do óxido de esqualeno. Segundo a figura, conseguimos ver que existe
a possibilidade de que o nitrogênio ocorra na cadeia principal e, eventualmente, na porção glicosídica.
óxido de esqualeno
O
R R
H H
H H
HO HO
cadeira barco cadeira barco cadeira cadeira cadeira barco
R2 R3
R R
H
H
H
H
colestanos
HO
HO triterpenos
pentacíclicos ‑ C30
alcaloides cardenolídeos
esteroidais esteroides ‑ C27
63
Unidade I
Os açúcares mais comuns que ocorrem nas saponinas são a D-glicose, D-galactose, L-ramnose,
L-arabinose, D-xilose, D-fucose e os ácidos D-glicurônico e D-glacturônico. Ainda, as moléculas de
açúcar das saponinas estão ligadas à aglicona (ou genina) separadamente ou interligadas, ou seja, as
moléculas de açúcar ligadas entre si e apenas uma delas ligada à aglicona, formando cadeias lineares
ou ramificadas. Quando o glicosídeo saponínico apresenta apenas uma molécula de açúcar, é chamado
de saponina monodesmosídica; quando tem duas moléculas de açúcar, de saponina bidesmosídica;
saponinas tridesmosídicas são raras. Veja a figura 48. As saponinas podem ser triterpênicas, esteroidais e
alcaloide esteroidais, monodesmosídicas ou bidesmosídicas, raramente tridesmosídicas (ATHAYDE et al.,
2017; COSTA, 1994).
COOGlic
COOH 28
28
Glic 3
Glic 3 O
O
saponina bidesmosídica
saponina monodesmosídica
Quando as saponinas são esteroidais, a cadeia principal da estrutura é formada por 27 átomos de
carbono distribuídos em um núcleo heterocíclico formado por 4 anéis, ou seja, um núcleo tetracíclico. As
saponinas esteroidais podem apresentar caráter neutro ou alcalino, a depender do tipo de heteroátomo
presente. Já as saponinas triterpênicas apresentam 30 átomos de carbono e são as mais frequentes na
natureza. A cadeia principal da estrutura apresenta um núcleo pentacíclico. Veja as figuras 47 e 48 para
entender melhor a distribuição dos anéis nas estruturas. Vale ressaltar que as saponinas triterpênicas
apresentam caráter neutro ou ácido, a depender do substituinte encontrado, que pode ser hidroxilas ou
carboxilas, por exemplo (KREIS; MUNKERT; PÁDUA, 2017).
As saponinas podem ter caráter ácido, alcalino ou neutro, a depender da presença de oxigênio
ou de nitrogênio em sua estrutura. Em geral, o oxigênio ocorre com mais frequência, mas
eventualmente pode ser o nitrogênio, um heteroátomo, presente nas saponinas alcaloide esteroidais.
Essas saponinas, que são raras e que podem se fazer presentes em alguns animais, apresentam
caráter levemente alcalino. Nesse ponto, vale lembrar que o nitrogênio carrega um caráter alcalino,
em razão do par de elétrons disponível; é exatamente por isso que a leve alcalinidade está presente
nessas moléculas. Quanto às saponinas neutras ou ácidas, o oxigênio que aparece nos substituintes
é quem dá o tom. Se o substituinte for uma carboxila, a saponina apresentará um caráter levemente
ácido, assim como se tiver presente um ácido urônico, como o D-glicurônico ou D-galacturônico.
Por fim, caso o substituinte seja uma hidroxila, a saponina apresentará caráter neutro (ATHAYDE et al.,
2017; COSTA, 1994).
Esse tipo de molécula tem uma importância grande para as plantas, pois são amplamente distribuídas
na natureza. As saponinas são, há muito tempo, encontradas em samambaias (SHINOZAKI et al., 2020),
64
FARMACOGNOSIA APLICADA
Com relação à distribuição das saponinas na natureza, podemos afirmar que, até poucos anos atrás,
não havia registro da ocorrência de saponinas em algas e nem mesmo em briófitas, hoje, no entanto,
já existem trabalhos mostrando que as algas marinhas podem produzir triterpenos (LI; HIMAYA; KIM,
2013), assim como os musgos (DEY; MUKHERJEE, 2015). Hoje, mais de 14 mil saponinas terpênicas são
conhecidas (CÁRDENAS; ALMEIDA; BAK, 2019). Nas plantas, as saponinas podem inibir herbivoria e
fungos e bactérias.
As saponinas são solúveis em água por terem açúcar em sua estrutura – o que já poderíamos
supor, uma vez que há a formação de espuma em soluções aquosas. Elas também são solúveis em
misturas hidroalcóolicas e, dada sua estrutura terpênica ou esteroidal, essas moléculas são parcialmente
solúveis em solventes orgânicos e em óleo, mas, para isso, precisam ter uma molécula de açúcar ligada à
aglicona, apenas, ou se tratar de uma sapogenina, ou seja, da molécula de saponina sem o açúcar ligado
(COSTA, 1994).
As saponinas são alvo de um considerável interesse comercial e por, serem encontradas em grande
quantidade na natureza, muitas técnicas de otimização para o processo de extração têm sido propostas
– além de serem introduzidas técnicas mais ecologicamente amigáveis. Vimos que a solubilidade da
saponina em água é elevada, dados os açúcares presentes, o que se mostra uma vantagem quanto a
aplicação direta, como medicamentos. Porém, açúcares presentes em meio aquoso tornam-se meios
de cultura extremamente ricos para microrganismos, por isso, a utilização de misturas hidroalcóolicas
pode ser considerada uma alternativa muito interessante, mas isso desde que o extrato seja submetido
à retirada de compostos de menor polaridade (COSTA, 1994).
espuma, de lisar hemácias e de apresentar toxicidade para peixes (temas que veremos em detalhes
mais adiante). Com o passar do tempo, as técnicas analíticas ficaram mais acessíveis e novos ensaios,
baseados em instrumental analítico, substituíram os tradicionais (COSTA, 1994).
Uma das maiores dificuldades para se analisar saponinas está relacionada ao fato de elas
não apresentarem, por exemplo, sistemas conjugados em sua estrutura, o que faz com que o
espectrofotômetro UV-VIS não possa ser empregado. As técnicas analíticas usuais, hoje, são
baseadas em CCD, CLAE ou CLUE. Frias et al. (2021) apresentaram uma análise de cucurbitacinas em
CCD, enquanto Peixoto et al. (2012) analisaram com CLAE e espectrometria de massas saponinas
triterpênicas de Ilex paraguariensis, uma planta que ocorre em território brasileiro e é muito
consumida na forma de chá. Na análise por CLAE ou por CLUE, a detecção das saponinas se faz em
comprimentos de onda mais baixos, como em 210 nm, em um detector UV-VIS. Outros detectores
podem ser acoplados à CLAE, como o de índice de refração ou o espectrômetro de massas, citados
no exemplo acima.
Outra propriedade das saponinas é a capacidade de se agregar a moléculas presentes nas células ou
mesmo na corrente sanguínea, como o colesterol e outros esteroides. Quando as saponinas se agregam
a esteroides presentes na membrana lipídica, há a formação de poros, sem que a membrana perca sua
estrutura. Isso faz com que mais água consiga penetrar na célula, que acaba por se romper (MALABED
et al., 2017).
Ainda sobre a interação entre esteroides e saponinas, é necessário destacar que as saponinas
podem interagir com o colesterol circulante, tornando-se um composto hipocolesterolêmico –
ou seja, um composto que diminui a quantidade de colesterol ruim em circulação. A interação
esteroide-saponina pode ainda conferir propriedade antifúngica às saponinas, uma vez que as
membranas celulares dos fungos apresentam vários esteroides, como o ergosterol (ALVAREZ;
DOUGLAS; KONOPKA, 2007).
66
FARMACOGNOSIA APLICADA
Saiba mais
JIANG, X. et al. Where does the toxicity come from in saponin extract?
Chemosphere, v. 204, p. 243-250, 2018.
As saponinas são substâncias tóxicas para peixes – ou seja, apresentam ictiotoxicidade (JIANG
et al., 2018) – e a outros animais que possuem guelras (ou brânquias), como lesmas. Tal toxicidade está
relacionada à perda de capacidade de os peixes (ou lesmas) conseguirem retirar o oxigênio dissolvido na
água, o que os impede de respirar, levando, então, à morte por asfixia.
Vamos ao índice de espuma (ou índice afrosimétrico). O índice de espuma é uma medida qualitativa
ou semiquantitativa que avalia a capacidade de as saponinas presentes em um vegetal formarem uma
espuma estável, e a avaliação é usualmente feita em extratos aquosos obtidos por decocção ou infusão.
A detecção qualitativa da presença de saponinas é feita ao se agitar vigorosamente uma pequena porção
do extrato aquoso, observando-se, na sequência, a estabilidade da espuma persistente – ou seja, que se
formou e que persiste por pelo menos 15 minuos. A avaliação semiquantitativa do total de saponinas
tensoativas, que formam a espuma, no caso, é feita a partir da obtenção do extrato aquoso feito com
5 g da droga vegetal moída adicionadas a 100 mL de água destilada e levadas ao aquecimento. Essa
solução é diluída de forma sequencial, ou seriada, de razão ½, em dez tubos de ensaio. Veja a figura 49
para entender melhor.
Uma vez que os tubos estejam com 5 mL de solução, eles devem ser agitados vigorosamente,
todos ao mesmo tempo, por 15 segundos. Depois disso, os tubos são deixados em repouso por outros
15 minutos e, ao final desse tempo, anota-se o tubo que apresentar a formação de 1 cm de espuma
persistente após esse tempo de repouso. A concentração do extrato vegetal saponínico, relativa ao tubo
no qual foi observado 1 cm de espuma persistente e que é calculada a partir da concentração inicial do
extrato, é uma referência que pode ser usada para caracterizar a droga vegetal (COSTA, 1982).
67
Unidade I
1) 10 mL 4) Descartar
de extrato 5 mL do
aquoso tubo 10
no tubo 1
A)
2) 5 mL de
água nos
tubos 2 a 10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 1/2 1/4 1/8 1/16 1/32 1/64 1/128 1/256 1/512
B)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 cm
C)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 49 – Diluição seriada usada na avaliação semiquantitativa de saponinas em extratos aquosos.
Observe o tubo no qual houve a formação de 1 cm de espuma persistente por 15 minutos
O índice de hemólise pode ser obtido por meio de uma técnica semelhante à da diluição seriada usada
para a determinação do índice afrosimétrico. A diferença está na utilização de uma solução fisiológica
para diluição do extrato saponínico e a adição de uma suspensão tamponada de hemácias a 2% nos
tubos 1 a 9 (ver figura 49). Além disso, aqui a agitação por 15 segundos não é necessária, devendo‑se
apenas deixar os tubos em repouso. Ao final dos 15 minutos de análise, e após esses tubos serem
centrifugados, ao invés de observarmos a formação de espuma, observamos a coloração avermelhada
correspondente à liberação da hemoglobina das células sanguíneas lisadas pelas saponinas. Temos,
então, que identificar qual o tubo mais diluído que causou a hemólise total (vermelho translúcido).
A verificação de ocorrência de hemólise também pode ser feita com técnicas de CCD e, nesse caso, o
68
FARMACOGNOSIA APLICADA
agente revelador do cromatograma é composto de sangue desfibrinado de boi 5% em gelatina, que deve
ser vertido sobre o cromatograma ainda morno. Após uma hora de contato, os compostos separados na
cromatografia geram manchas esbranquiçadas no revelador de gelatina-sangue, o que indica a presença
de saponinas com capacidade de causar hemólise (COSTA, 1982).
1 2
3 4 5
1) São colocadas diferentes concentrações do extrato aquoso saponínico em cada aquário
2) Após um determinado tempo, verifica‑se quantos peixes estão vivos
3) A quantidade de peixes sobreviventes em cada aquário será usada para a elaboração de uma curva
concentração x número de peixes sobreviventes para obtenção da concntração efetiva 50%
Regulamentação OECD 236, de 26/07/2013, e legislação brasileira RN 34, de 27/07/2017.
A complexação das saponinas com os lipídios da membrana dos microrganismos justifica a atividade
antimicrobiana, dependendo da concentração da saponina, podendo ser, por exemplo, bacteriostática
ou bactericida. Agora, vejamos algumas das espécies vegetais que tem as saponinas como o grupo ativo.
69
Unidade I
• Castanha-da-índia:
— Família: Sapindaceae.
• Centella:
— Família: Apiaceae.
70
FARMACOGNOSIA APLICADA
— Órgão usado: folhas (BRASIL, 2011), partes aéreas ou planta inteira (em outros países; EVANS, 1996).
• Ginseng:
— Nome popular: ginseng, ginseng verdadeiro, ginseng coreano, ginseng branco, ginseng vermelho.
— Família: Araliaceae.
71
Unidade I
neuronal (NGF), inibidor de agregação plaquetária. Tem sido usado como um “agente
antiestresse” (RATAN et al., 2021; LIU et al., 2020).
— Curiosidades: ginseng branco é a raiz sem a periderme e ginseng vermelho é obtido da exposição
da raiz com a periderme a vapores de água e posterior secagem (SIMÕES et al., 2004).
• Ginseng brasileiro:
— Família: Amaranthaceae.
A) B)
Figura 53 – Em A, Ginseng (Panax ginseng C.A. Mey.), em B, Ginseng brasileiro (Pfaffia glomerata (Spreng.)
Pedersen ou P. paniculata (Mart.) Kuntze)
72
FARMACOGNOSIA APLICADA
— Família: Fabaceae.
— Curiosidades: glicirriza significa “raiz doce”, em grego. Uso como modificador de alimentos,
edulcorante.
A) B)
73
Unidade I
• Quilaia:
— Família: Rosaceae.
— Mecanismo de ação: reduz o colesterol pois formam um complexo insolúvel com o colesterol,
inibindo a absorção intestinal (BRUNETON, 2001).
— Curiosidades: as saponinas triterpênicas da quilaia têm sido procuradas como substituintes dos
sabões que têm tensoativos sintéticos por serem tensoativos naturais. É o apelo do “natural”
sobre o sintético”. O que você acha disso? Interessante? Controverso? Por isso, outra espécie de
quilaia, Q. brasiliensis (A.St. Hil.&Tul.) Mart., tem sido explorada e estudada também.
74
FARMACOGNOSIA APLICADA
• Saboeira:
— Curiosidades: contém saporina, um toxicante proteico que inativa ribossomos, que está sendo
estudado na construção de imunotoxinas a serem direcionadas a alvos específicos de células
tumorais (GIANSANTI et al., 2018).
75
Unidade I
• Cipó timbó:
— Nomenclatura científica: estima-se que existam por volta de 140 espécies pertencentes às
famílias Leguminosae e Sapindaceae que são usadas na pesca com timbó (PÉRICO et al., 2015).
— Mecanismo de ação: altera a permeabilidade das células das guelras e impede que os animais
retirem oxigênio da água, sofram asfixia e venham a óbito (HEIZER, s.d.).
Figura 57 – Cipó-timbó
• Hera:
— Família: Araliaceae.
76
FARMACOGNOSIA APLICADA
— Mecanismo de ação: irrita vias aéreas superiores provocando estímulo de tosse (ALONSO, 2004;
HOFFMAN; HECKER; VOLP, 2003; BARNES et al., 2020).
4 GLICOSÍDEOS CARDIOATIVOS
Existe outra classe de produtos naturais, entre os glicosídeos, que tem origem terpênica: são os
glicosídeos cardioativos. Na literatura, esse grupo também é chamado de heterosídeo cardiotônico, glicosídeo
cardiotônico ou heterosídeo cardioativo. Todos esses nomes se referem a esse conjunto de mais de
400 moléculas que apresentam em comum, como o próprio nome da classe química sugere, a capacidade
de agir especificamente sobre a musculatura cardíaca. Historicamente, os preparados com plantas que
contêm essas substâncias eram usados como tônico cardíaco, diurético e emético (RATES et al., 2017).
Observação
Esse grupo de substâncias encontra-se distribuído restritamente em alguns grupos de plantas das
famílias das Apocynaceae (aqui incluídas as Asclepiadaceae, segundo APG IV), Asparagaceae, Brassicaceae,
77
Unidade I
A obtenção dos glicosídeos cardioativos se dá a partir do esqualeno, tal qual as saponinas, porém, em
etapas finais biossintéticas irão gerar os cardenolídeos a partir do pregnano e uma unidade dicarbonada,
ou os bufadienolídeos a partir do pregnano e uma unidade tricarbonada (KREIS; MUNKERT; PÁDUA,
2017). Você pode observar como essas duas subclasses de glicosídeos cardioativos, os cardenolídeos e os
bufadienolídeos, se parecem na figura 59. Veja que o termo bufadienolídeos lembra o nome do gênero
Bufos, dos sapos (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2001).
Vejamos agora com mais detalhes as estruturas dos glicosídeos cardioativos. Conforme mostrado
na figura 59, os glicosídeos cardioativos apresentam três partes da molécula muito importantes: a
porção açúcar, o núcleo esteroidal e o anel lactônico. Cada uma dessas três partes tem suas próprias
especificidades, as quais serão abordadas agora.
A porção açúcar é formada por açúcares ligados através de ligações osídicas de açúcares que
perderam as hidroxilas, e que, portanto, são chamados de desoxiaçúcares. Os açúcares mais comuns
são β-D-digitoxose, α-L-oleandrose, β-D-diginose, além das já conhecidas α-L-ramnose, β-D-fucose,
α‑L‑tevetose e β-D-digitalose; eventualmente, podemos encontrar β-D-glicose ou β-D-xilose. Note que
os nomes dos açúcares dos glicosídeos cardioativos apresentam uma relação com os nomes científicos
das espécies que produzem esses compostos, como veremos melhor daqui a pouco (RATES et al., 2017).
O núcleo esteroidal é formado pelos quatro anéis característicos que compõem o esqueleto
ciclopentanoperhidrofenantrênico, comum a vários hormônios conhecidos. Na figura 59, temos
a numeração desse núcleo com 17 átomos de carbono. Observe que a hidroxila que está no C14 é
comumente presente, bem como os grupos metila (CH3-) em C10 e em C13 (RATES et al., 2017).
O anel lactônico está ligado ao núcleo esteroidal no C17. Veja na figura 59 que o anel lactônico pode
apresentar cinco ou seis átomos. Caso apresente cinco átomos, é chamado de anel γ-lactônico, caso apresente
seis átomos, é chamado de anel δ-lactônico. Independentemente do número de átomos, o anel lactônico
é sempre insaturado em α-β. Retome a figura 59 e veja que o carbono alfa é aquele seguinte à carbonila.
As γ-lactonas α-β insaturadas são conhecidas como cardenolídeos, enquanto que as δ-lactonas α-β
insaturadas são conhecidas como bufadienolídeos. Os cardenolídeos são mais frequentes nos vegetais do que
os bufadienolídeos; esses, por sua vez, podem ser encontrados em animais, como vimos anteriormente. Em
todo caso, animais e vegetais produzem tais compostos a fim de se proteger contra predadores. Trata-se de
uma ferramenta química que exerce seu efeito diretamente sobre o coração (RATES et al., 2017; COSTA, 1994).
O núcleo esteroidal ligado ao anel lactônico, que constitui a aglicona ou genina, é a porção ativa
da molécula, cabendo aos açúcares presentes conferir melhor solubilidade. A melhora na solubilidade
significa uma melhor distribuição do princípio ativo no organismo, tornando, assim, a molécula mais
ativa. Quando o anel lactônico apresenta uma configuração espacial β, ele é mais ativo. Isso porque a
disposição espacial dos anéis do núcleo esteroidal mostra-se de grande importância para a atividade
sobre a musculatura cardíaca, e a disposição cis-trans-cis potencializa tal atividade – outras disposições e
insaturações extras diminuem a atividade. A aglicona é mais facilmente absorvida e, consequentemente,
metabolizada, sendo menos ativa do que a forma glicosilada. Por outro lado, a aglicona é mais facilmente
armazenada no sistema nervoso central e no tecido adiposo (RATES et al., 2017).
O
a
OH b O
Cardenolídeos
γ
C D
HO
O O O
O O O A B OH
HO HO HO
porção açúcar núcleo esteroidal anel lactônico pentagonal
a O
b
OH O
Bufadienolídeos γ
δ
C D
HO
O O O
O O O A B OH
HO HO HO
porção açúcar núcleo esteroidal anel lactônico hexagonal
porção açúcar
desoxiaçúcares anel lactônico pentagonal a‑b insaturado
anel lactônico hexagonal a‑b insaturado
Os glicosídeos cardioativos são mais polares que as agliconas e a quantidade de hidroxilas presentes na
aglicona influencia sua polaridade – embora a ocorrência de substituintes hidroxilados não seja frequente.
A presença de anel lactônico torna a molécula instável em pH alcalino, pois pode haver a abertura do anel
– deve-se lembrar que ocorrem O-glicosídeos nessa classe de compostos (RATES et al., 2017).
A obtenção de glicosídeos cardioativos parte de uma extração a quente com mistura de solvente
hidroalcóolico e posterior precipitação de moléculas interferentes com sais metálicos, como o AlCl3,
seguida de extração líquido-líquido por meio do uso de clorofórmio. O processo de obtenção é
sempre acompanhado por uma técnica analítica, como as reações colorimétricas destinadas ao
anel lactônico, núcleo esteroidal e à porção de desoxiaçúcares, mas pode também ser feita com
CCD (COSTA, 1994).
As reações colorimétricas são rápidas e fáceis de serem feitas na rotina laboratorial. As reações para
a porção de desoxiaçúcares são as seguintes (COSTA, 1982; RATES et al., 2017):
79
Unidade I
• Reação do xantiridol (ou de Pesez): uma porção da solução clorofórmica obtida da extração
líquido-líquido é levada à secura, em um cadinho. O resíduo é dissolvido em ácido acético glacial,
seguido do reagente de xantiridol (ácido fosfórico concentrado) – observar sob luz UV a cor
amarelo-esverdeada.
• Reação de Baljet: ao resíduo clorofórmico seco obtido nos ensaios anteriores, adicionam-se duas
gotas de ácido pícrico, obtendo-se uma coloração alaranjada.
• Reação de Kedde: ao resíduo clorofórmico seco obtido nos ensaios anteriores, adicionam-se duas
gotas de ácido 3,5-dinitrobenzoico, obtendo-se em uma coloração violácea.
Lembrete
A CCD pode ser usada para identificar a presença dos glicosídeos cardioativos em um extrato vegetal
por meio do usodo reagente de Kedde como revelador – que indica positivo caso se obtenha a cor
azul ou violácea nas manchas após nebulização. A quantificação de compostos como a digoxina ou a
digitoxina pode ser feita por CLAE, com detector UV em 218 nm.
Em uma metanálise realizada com 19 artigos científicos de 1993 a 2014 (VAMOS; ERATH; HOHNLOSER,
2015), com um total de 326.426 pacientes, verificou-se que o uso de digoxina foi associado a um
aumento de 29% no risco de morte em pacientes com fibrilação atrial e de 14% em pacientes com
falência cardíaca. Mesmo assim, os fármacos derivados dos glicosídeos cardioativos são associados à
melhoria na qualidade de vida e à diminuição das taxas de internação em pacientes com ICC (RATES
et al., 2017).
digitoxina
O O
OH
glicose 3 digitoxose O
digitoxigenina
Purpurea‑glicosídeo A
+ acetila : lanatosídeo A
gitoxina
OH O O
OH
glicose digitoxose digitoxose digitoxose O
gitoxigenina
Purpurea‑glicosídeo B
+ acetila : lanatosídeo B
digoxina
OH
O O
OH
glicose digitoxose digitoxose digitoxose O
digoxigenina
Purpurea‑glicosídeo C
+ acetila : lanatosídeo C
81
Unidade I
A insuficiência cardíaca é um tipo de disfunção que impede que o sangue circule de forma
adequada em razão de uma diminuição na contração da musculatura do coração, portanto uma
queda no consumo de O2 e na condução de glicose para o sistema nervoso central. Assim, o coração,
que está fraco, tenta compensar sua fraqueza aumentando o número de batimentos cardíacos, que
passam a ser muitos, porém, ainda fracos. Nesse contexto, o organismo não consegue fazer com
que o sangue seja filtrado adequadamente, o que aumenta a quantidade de líquido no corpo: é o
que se chama popularmente de “reter líquido”. Com mais líquido no corpo, o coração, então, se vê
obrigado a trabalhar mais, num efeito cascata. Há ainda a retenção de sódio, piorando a situação
(RATES et al., 2017).
Quando os glicosídeos agem, há uma melhora no débito cardíaco, que vai ajudar a musculatura do
coração a realizar a contração de forma adequada, assim como o bombeamento de sangue. Há também
uma melhora no retorno venoso, o que ajuda a estimular a diurese em razão do melhor funcionamento
dos rins, que filtram mais sangue enviado a eles. Esse mecanismo de estímulo das forças contráteis da
musculatura cardíaca recebe o nome de ação inotrópica positiva (RATES et al., 2017).
Os glicosídeos cardioativos têm uma intensa afinidade com a enzima Na+/K+ ATPase, e, uma vez que
se ligam, impedem que o sódio saia da célula da musculatura cardíaca. Com o acúmulo de sódio nas
células, dá-se um acúmulo de cálcio (Ca++). O cálcio aumentado, por sua vez, vai desencadear o processo
de formação do complexo actina-miosina, responsável pela contração cardíaca dependente de ATP.
A figura 61 apresenta um esquema retratando tal quadro (RATES et al., 2017).
Na+
Glicosídeos 1
cardioativos
Bomba
Na+ / K+
Força de contração 6
K
+
3 Na+
Na+
Na+ Ca++
Na+ Na+ Ativação do
Ca++ complexo
Na+ Ca++
actina‑miosina
Ca++ Ca++
5
4
Na+ /
Ca++
Ca++
82
FARMACOGNOSIA APLICADA
Podemos imaginar que, com esse tipo de atividade farmacológica, os efeitos colaterais são muitos,
assim como as interações medicamentosas. Pois bem, uma das grandes desvantagens da utilização
dos cardioativos é a sua “janela terapêutica”, isto é, a distância entre a dose efetiva – aquela que causa
o efeito farmacológico desejado – e a dose tóxica. Quanto maior for essa janela terapêutica, mais
seguro é o medicamento e menos efeitos colaterais serão observados. No entanto, no caso em questão,
temos uma janela estreita. Dessa forma, qualquer erro de dose pode ser comprometedor. Além disso, os
cardioativos interagem com diuréticos não poupadores de potássio (K), beta-bloqueadores, fármacos que
influenciam na disponibilidade de cálcio, mineralocorticoides e adrenocorticoides (RATES et al., 2017).
Tendo isso em mente, vejamos agora as drogas vegetais e plantas medicinais mais importantes
quanto à produção de glicosídeos cardioativos
• Dedaleira:
— Família: Plantaginaceae.
— Efeitos colaterais: retomar descrição no texto; quando em excesso pode provocar cansaço,
falta de ar, taquicardia, náuseas e vômitos.
83
Unidade I
A) B)
• Espirradeira:
— Família: Apocynaceae.
— Órgão: toda a planta é tóxica por conta da presença de glicosídeos cardioativos no látex
(SIMÕES et al., 2004).
— Uso popular: não há, porém, registros de casos de toxicidade em crianças foram feitos, pois os
galhos teriam sido usados para se fazer churrasco (SIMÕES et al., 2004).
84
FARMACOGNOSIA APLICADA
• Chapéu-de-napoleão:
— Família: Apocynaceae.
85
Unidade I
• Cila:
— Família: Liliaceae.
86
FARMACOGNOSIA APLICADA
• Estrofanto:
— Família: Apocynaceae.
— Uso popular: flechas envenenadas para caça e guerra (SIMÕES et al., 2004).
87
Unidade I
Resumo
88
FARMACOGNOSIA APLICADA
Exercícios
Questão 1. Nos vegetais, nas frutas e nos produtos industrializados, encontramos ampla diversidade
de compostos fenólicos. Nessa categoria de compostos, considerando fontes naturais, temos, entre
outros, os ácidos fenólicos, os flavonoides e os tocoferóis. Em relação a tais fenóis, avalie as afirmativas.
II – Os flavonoides são compostos fenólicos que apresentam dois anéis aromáticos, unidos por
três carbonos, que formam um anel heterocíclico, e são amplamente encontrados em frutas, folhas e
sementes na forma, por exemplo, de glicosídeos.
A) I, II e III.
B) I e II, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) II, apenas.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a estrutura química dos ácidos fenólicos é caracterizada pela presença de um anel
benzênico, um grupamento carboxílico e um ou mais grupamentos de hidroxila e/ou metoxila na
molécula, o que confere propriedades antioxidantes aos vegetais.
Vale destacar que há dois grupos de ácidos fenólicos, derivados do ácido hidroxibenzoico e derivados
do ácido hidroxicinâmico, mostrados na figura a seguir.
A) B)
R1 R1
OH OH
R2 COOH R2 COOH
II – Afirmativa correta.
Justificativa: a estrutura química dos flavonoides é caracterizada pela presença de dois anéis
aromáticos (chamados de anel A e de anel B), unidos por três carbonos, que formam um anel heterocíclico
(chamado de anel C), conforme mostrado na figura a seguir.
B
O
A C
Questão 2. Em relação aos glicosídeos saponínicos, também conhecidos como saponinas, avalie
as afirmativas.
I – Os glicosídeos saponínicos são formados basicamente por duas partes: uma porção lipofílica e
uma porção hidrofílica.
II – As cadeias de açúcares presentes nas saponinas podem estar ligadas à aglicona em um ou dois
sítios de glicosilação por meio de ligação glicosídica.
III – Quanto ao número de cadeias de açúcares presentes, as saponinas podem ser classificadas em
monodesmosídicas, bidesmosídicas e tridesmosídicas.
A) I, II e III.
B) I e II, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) II, apenas.
92
FARMACOGNOSIA APLICADA
Análise da questão
Os glicosídeos saponínicos são constituídos basicamente por duas partes: uma porção lipofílica,
formada por aglicona ou sapogenina; uma porção hidrofílica, formada por um ou mais açúcares.
Em virtude desse tipo de estrutura química, as saponinas têm elevada solubilidade em óleo, reduzem
a tensão superficial da água e apresentam ações detergentes, emulsificantes e surfactantes. Vale
destacar que, em solução aquosa, as saponinas geram farta espuma.
As cadeias de açúcares presentes nos glicosídeos saponínicos podem ser lineares ou ramificadas e
podem estar ligadas à aglicona em um ou dois sítios de glicosilação por meio de ligação glicosídica, ou
seja, ligação covalente resultante da reação de condensação ocorrida entre um carboidrato e um álcool.
Em relação à quantidade de cadeias de açúcares presentes, as saponinas podem ser classificadas em:
monodesmosídicas, quando apresentam uma cadeia de açúcar; bidesmosídicas, quando apresentam
duas cadeias de açúcar; tridesmosídicas, quando apresentam três cadeias de açúcar.
93