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Seção 1.1
Princípios de farmacologia
Diálogo aberto
João sempre foi muito estressado com o trabalho. Ele passou os últimos três anos
trabalhando no desenvolvimento de uma nova linha de produtos de sua multinacional
e tem viajado semanalmente por diversos países para a divulgação destes produtos. Sua
alimentação piorou consideravelmente e consiste em fast-food, enquanto trabalha em
quantidades excessivas em eventos a que é convidado. Sua saúde foi muito prejudicada
nesses anos e ele mal consegue se lembrar de sua última consulta médica. João tem
reclamado constantemente para sua esposa de dores abdominais durante o dia e que
o fazem acordar no meio da noite com uma sensação de queimação na garganta. Sua
esposa sugeriu, então, um antiácido, o que fez aliviar o mal-estar temporariamente.
Como essas noites mal dormidas têm afetado seu desempenho no trabalho, João
decidiu consultar um gastroenterologista. Apesar da aparência cansada, o médico
notou que o paciente parecia estar saudável. Entretanto, após uma série de perguntas,
João informou que o seu apetite ficou afetado, o que poderia ter sido causado pelo
desconforto abdominal ou algo na alimentação que esteja causando a dor. O médico,
no entanto, solicitou uma endoscopia que avaliaria o seu trato digestivo e identificaria
a causa da dor.
O exame revelou que João tinha uma úlcera péptica. Seu médico prescreveu
cimetidina, um medicamento que reduz a secreção do ácido gástrico, e sugeriu
algumas mudanças no seu estilo de vida. Nos primeiros dias, João notou que a dor
ainda o incomodava. Com base nessas informações, por que o antiácido teve uma
ação temporária? Ele relatou uma leve melhora após o tratamento com cimetidina,
mas o desconforto continuava. Qual seria uma possível alternativa para diminuir
consideravelmente a dor? O que acontece no organismo para que o efeito esperado
de um fármaco seja observado?
Para que uma droga exerça o efeito desejado, ela precisa entrar no organismo
e ser distribuída até alcançar o seu sítio de ação. Ela deve interagir com seu alvo e
isto, muitas vezes, ocorre pela interação com receptores específicos localizados na
superfície ou no interior das células. A duração do efeito varia conforme o fármaco,
já que nosso organismo dispõe de sistemas para detoxificação e eliminação, que
serão abordados nas próximas seções. De maneira geral, podemos representar
os processos a que uma droga está sujeita no organismo e que discutiremos no
decorrer desta disciplina como:
Figura 1.1 | Generalização dos processos que ocorrem com uma droga no organismo
Vocabulário
Afinidade: mede a força de ligação do fármaco com seu alvo.
Reflita
“Uma droga pode ser potente e ter baixa eficácia ou ser altamente
eficaz, mas ter baixa potência”.
Pesquise mais
Para reforçar o que foi apresentado até aqui, você pode consultar o
seguinte artigo, que exemplifica a importância da interação fármaco-
receptor para o desenvolvimento de novos fármacos, revisando alguns
dos conceitos apresentados nesta seção.
1. Antagonista de receptor:
Exemplificando
O cantor Prince faleceu recentemente por uma overdose acidental do
opioide fentanil, um potente analgésico narcótico de curta duração que
age como agonista do receptor e usado no tratamento de dor moderada
a grave.
Assimile
Antes de avançarmos no conteúdo, é importante que você analise tudo o
que foi apresentado até agora. Está claro como ocorre a interação fármaco-
receptor e o efeito no organismo, e por que alguns fármacos são mais
seletivos do que outros?
Farmacodinâmica
Figura 1.3 | Ação de uma droga agonista (A) e uma antagonista (B) sobre a ocupação e
ativação do receptor
Esta é uma curva dose-resposta graduada, na qual o efeito das doses é avaliado
em um indivíduo. O gráfico é muito parecido com a curva de ligação fármaco-
receptor, mas usamos EC50, que indica a concentração do fármaco que resulta
em 50% de sua resposta máxima e diz respeito à potência, enquanto E, indica um
Na prática, isso pode ser mais complicado, já que um receptor pode ter mais
de uma conformação inativa e ativa. Em outros casos, é possível que existam
receptores de reserva que fazem com que um agonista resulte na resposta máxima
com menos de 100% dos receptores ocupados, isto é, a EC50 é menor que o KD.
Graficamente, isto seria representado como uma discrepância entre as Figuras 1.4
e 1.5. Possíveis causas para essa situação são: (a) receptor permanece no estado R*
mesmo após o desligamento do agonista, ou (b) a amplificação do sinal recebido
pelo receptor é significativa para resultar na resposta máxima, sem que todos os
receptores estejam ocupados.
João iniciou o tratamento conforme prescrito e vem tentando mudar seu estilo
de vida. Seu médico explicou que o antiácido ajuda no tratamento paliativo da
queimação que ele sente na garganta. Ao contrário do que vimos até agora, o
antiácido não age em um receptor específico no organismo. Seu efeito ocorre
pela absorção do ácido gástrico ou por neutralização química do ácido. Dessa
maneira, a ação é temporária, já que não há alteração na produção de ácido. Por
outro lado, a cimetidina inibe a secreção gástrica por interagir com seu receptor
(chamado H2) presente nas células estomacais que secretam o ácido. Como
vimos anteriormente, podemos classificar a cimetidina como um antagonista
competitivo, e a sua ligação com o receptor é reversível, ou seja, o aumento da
concentração do agonista pode deslocar o fármaco do seu receptor. Vejamos no
gráfico a seguir como isto ocorre:
Em muitos casos, o ajuste da dose é necessário, já que tais valores são uma
média das respostas obtidas em uma população (curva dose-resposta quantal), o
que diminui as variações individuais que podem ser obtidas com a curva graduada.
Tal análise é usada para prever os efeitos da administração do fármaco em uma
população e doses que podem ser tóxicas ou letais, normalmente, considerando
50% da população. Com isso, pode-se determinar a ED50, TD50 e LD50 que indicam
as doses em que 50% dos indivíduos respondem ao fármaco (dose efetiva mediana),
exibem resposta tóxica (dose tóxica mediana) ou morrem (dose letal mediana),
respectivamente.
Atenção
Note que EC50 e ED50 não são sinônimos. Está clara a diferença entre
esses fatores?
[Concentração no sangue]
Efeitos adversos
Resposta adversa
Janela
terapêutica
Efeito farmacológico
Tempo
A janela terapêutica pode ser estimada pelo índice terapêutico (ou relação
terapêutica), que é a razão entre a dose do fármaco que produz uma resposta
tóxica, (TD50) pela dose que produz o efeito terapêutico desejado (ED50) em 50%
da população. Pode ser expressa matematicamente por:
Índice_ terapêutico(IT ) = TD 50
ED 50
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Resolução da situação-problema