Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Farmacologia
Enzo Rodrigues Bispo
Turma 108
Universidade de Brasília
Introdução a farmacologia
➢ O que é um fármaco?
Seria uma substância química de estrutura conhecida, não sendo um nutriente ou ingrediente essencial da dieta, capaz
de produzir um efeito biológico quando administrada num organismo vivo.
➢ O que é um medicamento?
Seria uma preparação química, que em geral possua um ou mais fármacos, com o intuito de produzir um efeito
terapêutico quando administrado num organismo vivo. Eles geralmente possuem outras substâncias além do fármaco,
como excipientes, conservantes...)
Desde os primórdios da civilização remédios à base de ervas foram largamente utilizados, porém, devido ao advento
da ciência como base apenas a partir do séc. XIX, diversas terapias letais e indevidas eram recomendadas pelos
estudiosos da época (Robert Boyle, em meados do século XVII, recomeu mistura de larvas, estrume, urina e fungos de
crânio de um homem morto).
Ademais, noções baseadas em ideologias autoritárias atrasavam o desenvolvimento de estudo com bases empíricas
mais consolidadas, possibilitando que crenças como a magia tivessem mais credibilidade que experimentos científicos.
Somente em 1858 Virchow propôs a Teoria Celular, e apenas em 1868 foi descrito o primeiro composto químico em
uma fórmula estrutural.
Um aperfeiçoamento inicial foi a purificação de compostos ativos de plantas (Friedrich Serturner, um jovem boticário
alemão, purificou a morfina a partir do ópio em 1805). Outras substâncias rapidamente seguiram e, mesmo que suas
estruturas fossem desconhecidas, esses compostos mostraram que os produtos químicos, e não a magia ou forças
vitais, é que eram responsáveis pelos efeitos que extratos de planta produziam em organismos vivos.
A química sintética começa a revolucionar a indústria farmacêutica, com novos fármacos sintéticos, tais como os
barbitúricos e anestésicos locais. Ademais, a era da quimioterapia antimicrobiana foi iniciada com a descoberta por
Paul Ehrlich, em 1909, de compostos arsenicais para o tratamento de sífilis.
Em conjunto, o estudo da fisiologia fez rápidos progressos, muitos hormônios, neurotransmissores e mediadores
inflamatórios foram descobertos nesse período e cresceu a noção de que a comunicação química desempenha um
papel central em quase todos os mecanismos de regulação que nosso organismo possui.
O conceito de “RECEPTOR” para mediadores químicos, proposto inicialmente por Langley em 1905, foi rapidamente
adotado na farmacologia e é um tema de constante interesse na farmacologia atual, com grande impacto na
descoberta de novos fármacos e na terapêutica.
➢ Farmacologia hoje:
Comunicação entre várias áreas do saber, devido ao grande impacto e surgimento de novos estudos a cada dia, como
os de gene e genoma – biotecnologia, farmacogenética, farmacogenômica, etc. Dentro do assunto principal inserem-
se vários compartimentos (neurofarmacologia, imunofarmacologia, farmacocinética...), que são subdivisões
convenientes.
Como agem os fármacos
Princípios gerais da interação dos fármacos com os sistemas vivos a nível celular.
➢ Embora muitos fármacos produzam efeitos em doses e concentrações extraordinariamente baixas, isso se
explica, pois as baixas concentrações ainda envolvem um número muito grande de moléculas.
➢ Um dos princípios básicos da farmacologia diz que essas moléculas precisam exercer alguma influência
química sobre um ou mais constituintes das células para produzir uma resposta farmacológica.
➢ Para tanto, tendo em vista que o número de moléculas no corpo é indescritivelmente maior que do fármaco,
as moléculas deste precisam ligar-se a constituintes específicos de células ou tecidos para conseguir produzir
seu efeito, numa distribuição não uniforme dentro do organismo, mas sim mais pontual.
➢ Esses sítios de ligação são referidos como “Alvos farmacológicos”. A partir daí, os mecanismos pelos quais a
associação entre uma molécula de um fármaco e seu alvo leva a uma resposta fisiológica constituem um
sistema que é foco principal da pesquisa farmacológica.
➢ A maioria dos alvos farmacológicos é representada por moléculas de natureza proteica.
➢ No entanto, muitos fármacos antimicrobianos e antitumorais, bem como agentes mutagênicos e
carcinogênicos, agem diretamente sobre o DNA em vez de interagir com proteínas.
➢ Já os bifosfonatos, utilizados no tratamento da osteoporose, ligam-se aos sais de cálcio da matriz óssea,
tornando-a tóxica para os osteoclastos, como veneno de rato.
São quatro os principais tipos de proteínas reguladoras que normalmente atuam como
alvos farmocológicos primários:
- RECEPTORES;
- ENZIMAS;
- CANAIS IÔNICOS.
Receptores farmacológicos:
➢ Termo empregado com frequência para descrever as moléculas-alvo por meio das quais mediadores
fisiológicos solúveis (hormônios, neurotransmissores, mediadores inflamatórios, etc.) produzem seus efeitos.
Sendo assim, o termo receptor geralmente indica uma molécula de reconhecimento para um mediador
químico.
➢ A palavra receptor pode ser usada em diferentes modos e situações.
➢ Por exemplo, o canal de sódio sensível à voltagem é às vezes mencionado como “receptor” para os anestésicos
locais, designando o sítio alvo com o qual uma molécula de um fármaco teve que se combinar para
Existe uma diferença importante entre agonistas, que ativam os receptores, e antagonistas,
que se combinam com o mesmo sítio sem causar ativação e bloqueiam o efeito dos agonistas
sobre aquele receptor.
desencadear seu efeito específico. É preferível nesse contexto, no entanto, utilizar a designação “alvo
farmacológico”.
Obs.: essa distinção entre agonistas e antagonistas, no entanto, somente deve ser feita quando diz respeito a
receptores com papel fisiológico regulador, como é o caso do receptor B-adrenérgico, alvo de ação da epinefrina,
provocando aumento da força e frequência de batimentos cardíacos.
➢ Portanto, não seria apropriado utilizarmos o termo “agonista” para a classe mais geral de alvos
farmacológicos. – contradiz o restante do livro, mas tudo bem tbm
Classificação de receptores:
➢ Associar a ação de um fármaco a um receptor específico é algo valioso para o seu aperfeiçoamento. Sendo
assim, estudos foram feitos, de forma que se produziu novos critério para a classificação de receptores. A
clonagem molecular proveu um subsídio muito mais rico em detalhes do que aquele advindo da simples
análise farmacológica, somado a isso, a identificação das vias bioquímicas associadas à ativação dos receptores
forneceu ainda uma outra base para classificação.
➢ A IUPHAR (International Union of Pharmacological Sciences) reuniu vários especialistas para elaborar
classificações concordantes para os principais tipos de receptores. – banco de dados das classes de receptores
conhecidas: www.iupjar-db.org
Interações fármaco-receptor
➢ A ocupação de um receptor por uma molécula do fármaco pode ou não resultar na ativação desse receptor,
caso ative, irá desencadear uma resposta tecidual.
➢ Ligação e ativação representam duas etapas distintas de uma resposta mediada por um receptor, a qual é
iniciada por um agonista.
➢ Por outro lado, o fármaco que se liga a um receptor sem causar sua ativação, impedindo que um agonista
tome seu lugar, é denominado antagonista do receptor.
➢ A tendência de um fármaco em se ligar a um receptor é denominada afinidade, enquanto a tendência desse
fármaco em ser ativado por esse receptor é denominada eficácia.
➢ Melhor explicando, os fármacos mais potentes apresentam uma alta afinidade pelos receptores, sendo
capazes de ocupar uma porcentagem significativa mesmo em baixas concentrações. Os agonistas irão possuir
relativa eficácia, enquanto os antagonistas, simplificando, terão eficácia zero (não ativarão o receptor).
➢ Quanto maior a afinidade de um fármaco pelo receptor, menor a concentração do fármaco na qual ele
produz um determinado nível de ocupação (mais apto a gerar uma resposta, sendo mais eficaz).
➢ Fármacos com níveis de eficácia intermediários, ou seja, que são capazes de desencadear uma resposta
tecidual submáxima mesmo quando 100% dos receptores estão ocupados (mesmo em alta afinidade), são
chamados de agonistas parciais.
➢ Estão, portanto, distintos daqueles cuja eficácia gera uma resposta tecidual máxima, os quais são chamados
de agonistas plenos
- Antagonismo farmacocinético (um fármaco que afeta a absorção, o metabolismo ou a eliminação de outro)
- Antagonismo competitivo (ambos os fármacos se ligam ao mesmo receptor) – pode ser reversível ou irreversível.
Efeito alostérico:
➢ Além do sítio de ligação ao agonista, no qual os antagonistas competitivos se ligam, as proteínas dos
receptores possuem muitos outros sítios de ligação, através dos quais fármacos podem influenciar a ação do
receptor de diversas formas. Alterando afinidade ou eficácia do fármaco principal e modificando sua atuação,
por exemplo.
➢ Dependendo da direção do efeito, os ligantes podem ser chamados de antagonistas alostéricos ou
facilitadores alostéricos. Na curva log de concentração x efeito isso se reflete como uma mudança de
inclinação ou no efeito máximo.
➢ Exemplos bem conhecidos de facilitação alostérica incluem a ação da glicina, um ligante alostérico, sobre
receptores de glutamato e dos benzodiazepínicos sobre os receptores GABA.
➢ Antagonismo fisiológico: ocorre entre dois fármacos cujas ações opostas no organismo
tendem a se anular mutuamente. Exemplificando, a histamina age sobre receptores das células parietais da
mucosa gástrica estimulando a secreção ácida, enquanto o omeprazol bloqueia esse efeito por meio da
inibição da bomba de prótons; pode-se dizer que esses fármacos atuam como antagonistas fisiológicos.
Dessensibilização ou taquifilaxia:
➢ Termos sinônimos utilizados para descrever o fenômeno no qual o efeito de um fármaco diminui à medida
que ele é administrado de forma contínua ou repetida, a qual se desenvolve muito rápido (questão de
minutos).
➢ Já o termo tolerância é convencionalmente empregado para descrever uma diminuição mais gradual da
responsividade a um fármaco, que levará dias ou até semanas para se desenvolver.
➢ A expressão “resistência a um fármaco” é utilizada para descrever a perda de eficácia dos fármacos
antimicrobianos ou antineoplásicos.
➢ Muitos mecanismos são capazes de gerar esse fenômeno, englobando:
I. Alteração em receptores
II. Translocação de receptores
III. Depleção de mediadores
IV. Aumento da degradação metabólica do fármaco
V. Adaptação fisiológica
VI. Extrusão ativa do fármaco de dentro das células (principalmente relevante em quimioterapia
antineoplásica).
➢ Em dada família de receptor, dentre as quatro citadas, os receptores geralmente apresentam muitas
variedades moleculares ou subtipos, com uma arquitetura similar, mas com diferenças significativas em
suas sequências, e frequentemente em suas propriedades farmacológicas.
▪ Os receptores nicotínicos de acetilcolina são típicos nesse aspecto; subtipos ocorrem em diferentes
regiões do encéfalo, que se diferem do receptor presente no tecido muscular.
▪ Algumas das diferenças conhecidas, como na sensibilidade a agentes bloqueadores, entre os receptores
de acetilcolina do músculo e do encéfalo se correlacionam com diferenças específicas na sequências.
▪ Os problemas na classificação, nomenclatura e taxonomia resultantes, em consequência do acúmulo de
dados provenientes dos diferentes subtipos, já foi mencionado anteriormente (classificação de
receptores).
❖ Obs.: as proteínas G parecem ser livremente difusíveis no plano da membrana, de modo que um único conjunto
de proteínas G em uma célula pode interagir com vários receptores e efetores diferentes, de uma maneira
essencialmente promíscua.
❖ A variação molecular da subunidade α é a principal apontada como influente na variação de efeito entre as
proteínas G, sendo que os subtipos mostram seletividade com respeito aos receptores e aos efetores com os quais
eles se acoplam, tendo domínios de reconhecimento específico na sua estrutura complementar para domínios de
ligação de proteína G específicos nas moléculas receptoras e efetoras.
❖ Exemplo: uma diferença funcional que se mostrou útil como ferramenta experimental diz respeito à ação de
toxinas bacteriana: a toxina colérica e a toxina pertussis, as quais são enzimas que catalisam uma reação de
conjugação na subunidade α das proteínas G. A toxina colérica age somente em um subtipo de proteína G,
causando ativação persistente. Muitos dos sintomas da cólera, como a excreção excessiva de fluido pelo epitélio
gastrintestinal, devem-se à ativação descontrolada da ADENILIL CICLASE.
❖ Resumindo, a heterogeneidade das proteínas G permite que receptores diferentes
exerçam efeitos opostos em uma mesma enzima-alvo.
Receptores associados a proteína G ativados por proteases: muitas proteases, como a
trombina, podem ativar receptores acoplados a proteína G removendo a extremidade da cauda N-terminal
extracelular do receptor, expondo cinco ou seis resíduos N-terminais que se ligam aos domínios do receptor
nas alças extracelulares, funcionando como um “agonista aprisionado”.
➢ Receptores desse tipo ocorrem em vários tecidos, e parecem desempenhar um papel na inflamação e em
outras respostas a lesões de tecido, nas quais são liberadas proteases individuais.
➢ Exemplificando, um receptor PAR-2 é ativado por uma protease liberada de mastócitos e é expresso em
neurônios sensoriais, mecanismo que parece desempenhar um papel na dor da inflamação.
➢ Um receptor ativado por protease pode ser ativado apenas uma vez, já que a clivagem não pode ser revertida,
de modo que há necessidade de ressíntese contínua da proteína receptora.
A inativação desse tipo de receptor ocorre seja pela própria clivagem proteolítica, ou através da dessensibilização,
a partir de fosforilação.
• Apesar das proteínas serem importantes para as vias de transdução de sinal, outras moléculas podem
participar da mesma forma. Inúmeras vis envolvem segundos mensageiros, moléculas pequenas e não
proteicas que repassam um sinal iniciado pela ligação de um ligante (“primeiro mensageiro” a seu
receptor).
Segundos mensageiros incluem íons 𝑪𝒂𝟐+ , AMP cíclico (um derivado de ATP) e inositol fosfatos
que são sintetizados a partir de fosfolipídeos.
• As vias de sinalização podem ficar bastante complicadas muito rapidamente. Por exemplo, a versão
completa da via de sinalização do fator de crescimento epidérmico que vimos anteriormente parece
uma enorme bola de pelos e ocupará um cartaz inteiro se você tentar retirá-la! Você mesmo pode ver
isso no vídeo de Sal via de MAPK.
• Essa complexidade surge porque as vias podem interagir, e muitas vezes o fazem, com outras vias.
Quando as vias interagem, elas basicamente permitem que a célula realize operações lógicas e
"calcule" a melhor resposta às múltiplas fontes de informação. Por exemplo, os sinais de duas vias
diferentes podem ser necessários para ativar uma resposta, que é como um "e" lógico. Por outro lado,
qualquer uma das duas vias pode desencadear a mesma resposta, que é como um "OU" lógico.
Sistema adenilil ciclase/AMPc:
A descoberta do AMPc (3’-5’-adenosina-monofosfasto cíclico) como um mediador intracelular derrubou as barreiras
que existiam entre a bioquímica e a farmacologia, introduzindo o conceito de segundos mensageiros na transdução
do sinal do receptor.
➢ O AMPc é um nucleotídeo sintetizado no interior da célula a partir do ATP, pela ação de uma enzima ligada
à membrana, a adenilil ciclase, removendo dois fosfatos do ATP e ligando o fosfato remanescente ao açúcar
em forma de anel.
➢ É produzido continuamente e inativado pela hidrólise a 5’-AMP, através da ação de uma família de enzimas
conhecidas como fosfodiesterases (PDEs).
➢ Depois de produzido, o AMPc pode ativar uma enzima chama proteína quinase A (PKA). Essa PKA é
encontrada em variados tecidos e em cada suas proteínas-alvo variam. Desta forma, o mesmo mensageiro
AMPc pode produzir diversas respostas em diferentes contextos.
➢ Muitos fármacos, hormônios e neurotransmissores diferentes agem nos GPCRs e produzem seus
efeitos aumentando ou diminuindo a atividade catalítica da adenilil ciclase, e assim elevando ou
diminuindo a concentração de AMPc dentro da célula.
➢ Exisem 11 subtipos de PDEs, dos quais alguns são seletivos par AMPc, enquanto outros são seletivos
para GMPc. A maior parte deles é moderadamente inibida por fármacos como as metilxantinas
(teofilina e cafeína).
▪ O rolipram, usado no tratamento da asma, é seletivo para PDE4 expressa nas células
inflamatórias;
▪ Milrinona, usada no tratamento da insuficiência cardíaca, é seletiva para PDE3, a qual é expressa
no músculo cardíaco;
▪ A sildenafila, mais conhecida como Viagra, é seletiva para PDE5, e consequentemente reforça os
efeito vasodilatadores do óxido nitroso e de fármacos que liberam NO, cujos efeitos são
mediados pelo GMPc.
▪ Estão em desenvolvimento inibidores seletivos das várias PDEs, principalmente para o
tratamento de doenças cardiovasculares e respiratórias.
❖ O AMPc regula muitos aspectos da função celular, incluindo, por exemplo, enzimas envolvidas
no metabolismo energético, divisão e diferenciação celulares, transporte de íons, canais
iônicos e as proteínas contráteis no músculo liso.
❖ O mecanismo pelo qual o AMPc gera esses diferentes efeitos se dá pela ativação de proteínas
quinases, as quais regulam a função de muitas proteínas celulares diferentes pelo controle da
fosforilação proteica.
❖ Por exemplo, a resposta aumentada de AMPc em resposta à ativação do β-adrenoreceptor
afeta as enzimas envolvidas no metabolismo do glicogênio e da gordura no fígado e nas
células adiposas e musculares. Em resultado, uma resposta coordenada faz com que energia
armazenada na forma de glicogênio e gordura se torne disponível em forma de glicose para
suprir a contração muscular.
❖ Outro exemplo envolve canais de cálcio ativados por voltagem nas células do músculo
cardíaco. A fosforilação desses canais aumenta a quantidade de cálcio que entra célula
durante o potencial de ação, gerando mais depolarização e aumentando a força da contração.
❖ No músculo liso, a proteína quinase dependente de AMPc fosforila, e assim inativa, outra
enzima, a quinase da miosina de cadeia leve, que é necessária para a contração. Isso explica
o relaxamento do músculo liso produzido por muitos fármacos que aumentar a produção de
AMPc no músculo liso.
Sistema fosfolipase C/fosfato de inositol:
➢ É um importante sistema intracelular descoberto na década de 1950 por Hokin, quando se constatou que a
secreção de sais pelas glândulas nasais das aves marinhas era acompanhada de um aumento da renovação de
uma classe menor de fosfolipídeos de membrana, conhecidos como fosfoinositídeos (PI).
➢ Posteriormente, outros cientistas descobriram que muitos hormônios que produzem aumento na
concentração intracelular de 𝐶𝑎2+ livre (incluindo, por exemplo, agonistas muscarínicos e agonistas de
α-adrenoreceptores que agem no músculo liso e nas glândulas salivares; e a vasopressina, que atua sobre
as células hepáticas) também aumentam a renovação de PI.
➢ Posteriormente se descobriu também que um membro específico de determinada classe de PI, o
fosfatidilinositol bisfosfato (PIP2), que possui grupos adicionais de fosfato ligados ao anel inositol,
desempenha um papel chave.
• Esse composto é substrato de uma enzima ligada à membrana, a fosfolipase Cβ, que atua clivando
o PIP2 a diacilgricerol (DAG) e inositol-1,4,5-trifosfato (IP3). A ativação dessa enzima por agonistas
é mediada por uma proteína G.
• Após a clivagem, o DAG é fosforilado para forma ácido fosfatídico (PA), enquanto o IP3 é
desfosforilado e reaclopado a PA, para formar PIP2 mais uma vez. – o lítio, usado na psiquiatria, age
bloqueando essa via de reciclagem.
➢ O IP3 (inositol trifosfato) é um mediador hidrossolúvel que é liberado no citosol e age sobre um receptor
específico, o receptor de IP3, o qual é um canal de cálcio controlado por ligante presente na membrana do
retículo endoplasmático.
▪ A função principal desse composto é regular a liberação de 𝑪𝒂𝟐+ das reservas intracelulares.
▪ Uma vez que muitos efeitos de fármacos e hormônios envolvem o cálcio intracelular, essa via é
particularmente importante.
▪ Dentro da célula, o IP3 é convertido em IP4, o qual ainda não tem função determinada mas acredita-se
que aja em conjunto com os fosfatos de inositol na sinalização do controle da expressão gênica.
➢ O DAG, produzido assim como o IP3 sempre que há hidrólise de PI induzida por receptores, tem como efeito
principal ativar uma proteína quinase ligada à membrana, a proteína quinase C (PKC).
▪ A PKC migra do citosol para a membrana da célula na presença de DAG, ativando-se.
▪ Existem 10 diferentes tipos de PKC em mamíferos, que têm distribuições celulares distintas e fosforilam
diferentes proteínas.
▪ A maior parte é ativada por DAG e por níveis intracelulares elevados de 𝑪𝒂𝟐+ , ambos produzidos por
ativação de GPCRs (receptores acoplados à proteína G).
▪ Um dos subtipos de PKC é ativado pelo ácido araquidônico, produzido por ação da fosfolipase A sobre
os fosfolipídeos de membrana.
▪ As várias isoformas de PKC, como as tirosina quinases, agem em muitas proteínas funcionais diferentes,
como canais iônicos, receptores, enzimas (incluindo outras quinases), fatores de transcrição e proteínas
do citoesqueleto.
▪ As quinases, de modo geral, exercem uma função central na transdução de sinal e regulam muitos
aspectos diferentes da função celular.
❖ A conexão DAG-PKC fornece um mecanismo pelo qual GPCRs podem mobilizar esse
exército de agentes controladores.
❖ IP3 e PKC agem como segundos mensageiros.
Obs.: as GPCRs controlam também: fosfolipase A (e, portanto, a formação de ácido araquidônico e eicosanoides);
canais iônicos (como canais de potássio e cálcio, afetando assim a excitabilidade da membrana, liberação de
transmissores, contratilidade, etc.
Resumindo: duas vias-chave são controladas por receptores através de proteínas G, ambas podem ser
ativadas ou inibidas por ligantes farmacológicos, dependendo da natureza do receptor e da proteína G:
• Adenilil ciclase/AMPc – ativa várias proteínas quinases que controlam a função celular de diferentes
formas, por meio de fosforilação de várias enzimas, transportadores e outras proteínas;
▪ A maioria é constituída por proteínas que geram uma cadeia única de 1000 resíduos, com apenas uma
região transmembrana e helicoidal, associada a um grande domínio extracelular de ligação ao ligante e
um domínio intracelular de tamanho e funções variados – existe uma grande variedade estrutural.
▪ Principais tipos:
I) Receptores tirosina quinase (RTK): incorpora uma porção tirosina quinase na região intracelular.
Um bom exemplo é o receptor insulínico.
II) Serina/treonina quinases: pequena classe similar aos RTKs em estrutura, porém fosforila
resíduos de serina e de treonina em vez de tirosina. Principal exemplo é o receptor para o fator de
crescimento transformados (TGF).
III) Receptores de citocinas: não possuem atividade enzimática intrínseca. Quando ocupados
eles se associam e ativam uma tirosina quinase citosólica, a Jak (quinase Jacus) ou outras quinases. Os
ligantes desses receptores incluem citocinas IF e fatores estimulantes de colônia envolvidos nas
respostas imunológicas.
▪ Eles estão envolvidos principalmente em eventos que controlam o crescimento e a diferenciação celulares,
atuando diretamente por regulação da transcrição gênica.
- A ativação da Ras por sua vez ativa a Raf, que acaba por ativar a MAP, a qual fosforila um ou mais fatores
de transcrição que iniciam a expressão gênica.
- Essa via de três etapas faz parte de processos como tumores malignos, inflamação, neurodegeneração,
aterosclerose e muitos outros.
- Muitos cânceres estão associados a mutações nos genes que codificam proteína envolvidas nessa
cascata, levando à ativação da mesma na ausência do sinal do fator de transcrição.
• Via Jak/Stat: ativada por muitas citocinas, capaz de controlar a síntese e a liberação de mediadores
inflamatórios.
- Ocorre a dimerização desses receptores quando a citocina se liga, atraindo uma unidade de tirosina
quinase citosólica, a Jak, que se associa e fosforila o dímero do receptor.
- Entre os alvos para a fosforilação da Jak, está uma família de fatores de transcrição (Stats), que são
proteínas de domínio SH2 capazes de se ligar aos grupamentos de fosfotirosina no complexo receptor-Jak,
sendo elas próprias fosforiladas.
▪ Muitas das, se não todas, proteínas envolvidas, incluindo os receptores e as próprias quinases, são
substratos para quinases, de modo que há muitos mecanismos de feedback e interações cruzadas
entre as várias vias de sinalização.
IV. Receptores nucleares:
A família de receptores nucleares (NRs) inclui um grande número de receptores órfãos (receptores que não possuem
um ligante bem definido que seja conhecido). É conveniente tratar toda a família como fatores de transcrição ativados
por ligantes, os quais transduzem os sinais através de modificações na transcrição gênica.
▪ Diferentemente dos receptores já descritos, essa família de receptores não está inserida na membrana da
célula, mas sim presente na fase solúvel da célula. Alguns, como os receptores para esteroides, tornam-se
móveis na presença de seus ligantes e podem se translocar do citoplasma para o núcleo.
▪ Outros, como o RXR, residem de preferência no próprio compartimento nuclear.
▪ O NRs são alvos muito importantes de fármacos, sendo responsáveis pelos efeitos biológicos de
aproximadamente 10% de todos os fármacos de prescrição.
▪ Eles podem reconhecer um número diversificado de substâncias, sendo a maioria delas moléculas
hidrofóbicas, que podem exibir atividade total ou parcial como agonistas, antagonistas ou agonistas inversos.
▪ Alguns NRs estão envolvidos predominantemente na sinalização endócrina, porém muitos atuam como
sensores de lipídeos e são vínculos cruciais entre nosso status dietético e metabólico e a expressão de genes
que regulam o metabolismo e a disposição de lipídeos.
▪ Regulam a expressão de muitas enzimas do metabolismo de fármacos e transportadores. Logo, muitas
doenças estão associadas ao mau funcionamento do sistema NR, entre elas inflamação, câncer, diabetes,
doenças cardiovasculares, obesidade e distúrbios na reprodução.
Estrutura:
➢ Domínio N-terminal: apresenta maior heterogeneidade. Abriga o sítio AF1 (função de ativação 1) que se liga
de maneira ligante-independente a outros fatores de transcrição específicos da célula e modifica a ligação ou
a atividade do próprio receptor.
➢ Domínio central: altamente conservado e consiste na estrutura responsável pelo reconhecimento e ligação
ao DNA. Contém duas alças ricas em dedos de zinco, que são alças ricas em cisteína em sua cadeia de
aminoácidos e que são mantidas em uma conformação específica por íons zinco.
▪ Função principal: reconhecer e se ligar aos elementos responsivos a hormônios localizados nos genes, que
são regulados por essa família de receptores, mas também tem um papel na regulação da dimerização do
receptor.
➢ Região de dobradiça: permite a dimerização com outros NRs e a capacidade de ligação ao DNA em inúmeras
configurações.
➢ Domínio C-terminal: contém o módulo de ligação ao ligante, sendo específico para cada classe de receptor.
Uma região AF2 altamente conservada é importante para a ativação dependente de ligante.
Classificação: