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Farmacologia
D .R E
Nota da Editora: A área da saúde é um campo em
constante mudança. As normas de segurança
padronizadas precisam de ser obdecidas; contudo, à
medida que as novas pesquisas ampliam nossos
conhecimentos, tornam-se necessárias e modificações
adequadas. O autor desta obra verificou cuidadosamente
os nomes genéricos das peças mencionadas, bem como
conferiu os dados, de modo que as informações fossem
precisas e de acordo com os padrões aceitos por ocasião
da publicação. Todavia, os leitores devem prestar atenção
às novas informações , a fim de se certificarem de que o
padrão não sofreu alterações. Isso é importante, sobretudo
em relação a informações novas ou que aparecem com
pouca frequência. O autor e a editora não podem ser
responsabilizados pelo uso impróprio ou pela aplicação
incorreta do produto apresentado nesta obra. O autor e a
editora empenharam-se para citar adequadamente e dar o
devido crédito a todos os detentores dos direitos autorais
de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a
possíveis acertos cado, inadvertidamente a identificação de
algum deles tenha sido omitida.
Farmacodinamia
Farmacocinética
Cannabis e canabinóides
Etanol
Hormonas tiroideias
Retinóides
Vitamina D
Anti-diabéticos
Anti-bacterianos
Penicilinas
Cefalosporinas
Outros β -lactâmicos
Tetraciclinas
Aminoglicosídeos
Quinolonas
Macrólidos
Inibidores da síntese de folatos
Cloranfenicol
Estreptograminas
Oxazolidinonas
Lincosamidas
Nitroimidazoles
Antibióticos peptídicos
Outros anti-bacterianos
Anti-tuberculosos
Anti-depressores e ansiolíticos
Tranquilizantes
Farmacoterapia da epilepsia
Anti-parkinsonianos
Anti-psicóticos
Histamina e anti-histamínicos
Sistema purinérgico
Anti-arrítmicos
Terapia da hipertensão
Sistema da endotelina
Sistema renina-angiotensina-aldosterona
Diuréticos
Anti-inflamatórios e imunomoduladores
Corticosteróides
Anti-inflamatórios não-esteróides
Farmacoterapia da gota
Imunomoduladores
Anticorpos anti-neoplásicos
Anti-víricos
Agentes anti-víricos
Agentes anti-retrovíricos
Farmacodinamia
Em termos muito genéricos, a farmacodinamia pode ser entendida
como a ciência que estuda o modo como um determinado fármaco
actua num organismo vivo. Ora, na maior parte dos casos, os fármacos
dever-se-ão ligar a um receptor, de modo a exercerem os seus efeitos.
Após ocuparem um receptor, os fármacos podem activar, inactivar, ou
não induzir qualquer alteração no receptor em questão – mediante
essas três possibilidades (ocupação e activação do receptor, ocupação
e inactivação do receptor, e apenas ocupação do receptor), os fármacos
podem ser classificados em três grandes grupos - agonistas,
antagonistas e agonistas inversos.
Agonistas
Antagonistas
Por seu turno, os antagonistas são fármacos que ocupam os
receptores, mas não induzem nestes qualquer alteração de
conformação. Assim, os antagonistas não estimulam os receptores,
apenas impedem que outras substâncias se liguem a estes. A título de
exemplo, a atropina ocupa os receptores da acetilcolina, impedindo, por
isso, que a acetilcolina se ligue aos seus receptores.
Os antagonistas podem
ser do tipo competitivo
ou não-competitivo. Um
antagonista
competitivo, como o
próprio nome indica,
actua no mesmo
receptor (e no mesmo
local de ligação) do
agonista, competindo
com este pelo mesmo
local de ligação do
receptor. Ou seja, a
atropina (referida no
exemplo do parágrafo
anterior) é considerada
um antagonista
competitivo da
acetilcolina, uma vez
que ocupa os mesmos
receptores (e locais de
ligação) da
Já o antagonismo não-competitivo
fisiológico caracteriza-se pela presença
de dois agonistas para receptores
diferentes, e de cuja activação resultam
efeitos opostos. A título de exemplo, a
adrenalina e o captopril são antagonistas
fisiológicos, uma vez que a adrenalina
actua em receptores adrenérgicos,
promovendo um aumento da pressão
arterial, enquanto o captopril é um IECA,
que promove uma redução da pressão
arterial.
Propriedades farmacodinâmicas
Afinidade
Eficácia
A eficácia diz respeito à capacidade de um fármaco induzir uma
alteração no seu receptor (e, como tal, uma resposta). Ilustrando com
um exemplo, sabe-se que, ao ocupar 5% dos receptores, o fármaco A
induz resposta máxima, enquanto o fármaco B despoleta apenas 50%
da resposta máxima. Ora, neste caso, o fármaco A é mais eficaz que o
fármaco B, uma vez que, para a mesma percentagem de receptores
ocupados, A induz uma maior resposta que B.
Potência
A potência consiste na
concentração (EC50) ou
dose (ED50) de um
fármaco necessária
para a obtenção de
50% da resposta
máxima desse fármaco.
O conceito de potência
é diferente do conceito
de afinidade, embora a
potência dependa
parcialmente da
afinidade do fármaco.
De referir que, no caso
particular dos agonistas
totais que para
despoletarem resposta
máxima necessitam de
ocupar todos os
receptores, o valor da
afinidade é igual ao
valor da potência.
O conceito de potência
é igualmente distinto do
conceito de
eficácia, de tal modo que nem sempre um agonista mais eficaz é mais
potente que um agonista menos eficaz (tal como nem sempre um
agonista total é mais potente que um agonista parcial). De facto,
existem casos em que é necessária menor concentração de um
agonista parcial para atingir 50% da resposta máxima.
Canais iónicos
Alguns fármacos podem actuar como bloqueadores ou abridores dos
canais iónicos. A título de exemplo, os fármacos empregues em
anestesias locais actuam como bloqueadores dos canais de sódio
dependentes da voltagem dos neurónios que serão anestesiados. Por
outro lado, em situações de epilepsia (perturbação caracterizada por um
excesso de actividade dos neurónios do sistema nervoso central), é
possível administrar fármacos abridores dos canais de potássio (de
forma a contrariar os efeitos de despolarização em massa registados
nesta patologia) ou bloqueadores dos canais de sódio. Em suma,
perante um fármaco que actue num canal iónico, é essencial saber em
que canal este exerce o seu efeito e se actua num sentido de abrir ou
de bloquear o canal iónico em questão.
Enzimas
Existem fármacos que interferem com a actividade enzimática, podendo
inibi-la ou estimulá-la. Ilustrando com um exemplo: A acetilcolina
libertada pelos neurónios exerce os seus efeitos e é imediatamente
degradada pela enzima colinesterase, de modo a impedir a acumulação
deste neurotransmissor. Ora, os indivíduos com miastenia gravis
(perturbação caracterizada por falta de força muscular) apresentam um
defeito na placa motora, de tal modo que a administração de um
fármaco que iniba a colinesterase se revela benéfica, no sentido em que
permite que se acumule maior quantidade de acetilcolina e, como tal,
que se desenvolva maior força muscular.
Transportadores
Alguns fármacos podem actuar nas moléculas transportadoras,
estimulando-as ou inibindo-as. A título de exemplo, a insulina é um
estimulador do transportador da glicose GLUT4, sendo, como tal,
administrada a indivíduos em coma diabético. Por oposição, a fluoxetina
é um inibidor do transportador de serotonina, sendo utilizada em
situações de depressão. De facto, a falta de serotonina na fenda
sináptica está associada ao desenvolvimento de depressão. Ora, ao
bloquear o transportador que opera a recaptação da serotonina lançada
na fenda sináptica para o neurónio pré-sináptico, a fluoxetina permite
que uma maior quantidade de serotonina se mantenha na fenda
sináptica.
Farmacocinética
Enquanto a farmacodinamia estuda, de grosso modo, as acções que os
fármacos exercem no organismo; a farmacocinética estuda o modo
como o organismo interage e modifica os fármacos. De facto, para que
um fármaco possa actuar, este deverá chegar aos tecidos onde actua
(biofase) em concentrações apreciáveis. Existem situações em que é
possível colocar o fármaco em contacto directo com os tecidos-alvo,
nomeadamente quando estes correspondem às mucosas ou à pele.
Todavia, na maior parte dos casos, a biofase não pode ser colocada em
contacto directo com o fármaco, e este terá de sofrer uma série de
processos bioquímicos até chegar aos tecidos-alvo e exercer os seus
efeitos.
administração sistémica
cumprem, em regra, quatro
etapas sobreponíveis (ou seja,
que não ocorrem
sequencialmente, mas sim
com alguma simultaneidade)
que constituem o ciclo dos
medicamentos: absorção,
distribuição,
biotransformação e
excreção. Estes processos
podem interferir com as
características e/ou
concentração dos fármacos,
de tal modo que o seu estudo
(que é assegurado pela
farmacocinética) é
fundamental para assegurar
uma correcta administração
farmacológica.
Difusão passiva
A difusão passiva é um processo de transporte não-mediado e que
ocorre a favor do gradiente de concentração, sem concomitantes gastos
energéticos. Excluindo os casos de passagem por poros aquosos, a
difusão passiva requer a dissolução de moléculas pela bicamada
fosfolipídica membranar. Ora, a velocidade de difusão depende, não
tanto das dimensões da molécula em questão, mas sobretudo de outras
propriedades, tais como a sua lipofilia e o seu grau de ionização. Essas
relações encontram-se expressas na Lei de Fick, que permite
determinar a velocidade de difusão para uma dada partícula:
Transporte mediado
O transporte mediado é utilizado para fazer deslocar moléculas que,
por serem excessivamente polares ou demasiado grandes, são
incapazes de atravessar as membranas lipídicas por difusão simples.
Este transporte é operado por proteínas transportadoras, podendo
ocorrer a favor do gradiente de concentração e sem concomitantes
gastos energéticos (difusão facilitada), ou contra o gradiente de
concentração e com simultâneos gastos energéticos (transporte
activo). Em qualquer um dos casos, o transporte mediado caracteriza-
se por duas propriedades – selectividade (um dado transportador
apenas transporta determinados fármacos específicos) e
saturabilidade (visto que o número de transportadores é finito).
Pinocitose
A pinocitose é um processo de transporte de fluidos e macromoléculas,
que ocorre, sobretudo, ao nível dos capilares e na parede intestinal.
Este processo de transporte activo, apesar de quantitativamente menos
importante, revela-se particularmente importante para o transporte de
várias moléculas de grande importância farmacológica.
Vias de administração sistémica de fármacos
Via oral
A via oral (administração per os) é a via de administração sistémica
clinicamente mais utilizada para a administração de fármacos. Esta via
apresenta uma considerável vantagem, que diz respeito ao facto de a
maior parte dos fármacos administrados oralmente ser absorvida no
intestino delgado que, como mencionado anteriormente, apresenta
várias características favoráveis à absorção de substâncias.
A absorção por via oral per se não apresenta grande variabilidade inter-
individual. Todavia, o processo de absorção é influenciado por algumas
propriedades gastrointestinais, as quais já poderão apresentar forte
variabilidade. Uma dessas propriedades é o tempo de trânsito
intestinal que, como já foi referido, interfere com o tempo de contacto
de um fármaco.
Após
serem
absorvidos
no
intestino,
os
fármacos
administra
dos por via
oral
chegam
ao sistema
porta,
sendo
encaminha
dos para
o fígado.
Assim, os
fármacos
contactam
com o
fígado
antes de
serem
distribuído
s para os
restantes
tecidos
(incluindo
para os
seus
tecidos-
alvo). Ora,
ao nível do
fígado,
estes
fármacos
poderão
sofrer
alterações
que
poderão
condiciona
r a sua
biodisponi
bilidade –
efeito de
primeira
passagem
. Este
fenómeno
não ocorre
de forma
homogéne
a para
todos os
fármacos:
existem
fármacos
que não
sofrem
qualquer
tipo de
biotransfor
mação
hepática e,
por isso, a
sua
passagem
pelo fígado
não afecta
a sua
biodisponi
bilidade.
Por
oposição,
existem
fármacos
que são
amplament
e
metaboliza
dos e
inactivados
pelos
hepatócito
s, de tal
modo que
a sua
primeira
passagem
induz uma
diminuição
da sua
biodisponi
bilidade.
De referir
que, os
fármacos
que
apresente
m um
efeito de
primeira
passagem
muito
intenso
não
deverão
ser
administra
dos por via
oral, pois
caso
contrário a
sua
eficácia
será a
priori muito
mais
reduzida.
Via sublingual
A aplicação de fármacos por via sublingual possibilita que estes sejam
rapidamente absorvidos, uma vez que o epitélio da mucosa bucal
apresenta reduzida espessura e elevada vascularização. Para além
disso, os fármacos absorvidos por via sublingual são transportados
directamente para o sistema cava, escapando ao efeito de primeira
passagem e, como tal, à metabolização hepática.
Via rectal
Em comparação com o intestino delgado, o recto apresenta menor
vascularização e menor superfície de absorção. Para além disso, o
contacto do fármaco com a superfície absorvente é quase sempre
prejudicado pela presença de fezes, o que leva a que a absorção por
via rectal apresente eficácia inconstante. Acresce ainda o facto da
acção irritante de muitos fármacos (que é tolerável por via oral) ser
intolerável por via rectal.
Via intra-venosa
A via intra-venosa comporta vários riscos e limitações, motivo pelo
qual a aplicação de fármacos por esta via apenas deverá ocorrer
quando não é possível optar por outras vias de administração. Entre os
riscos que podem decorrer da administração intra-venosa de
medicamentos destaque para:
Para além disso, apenas se podem aplicar soluções aquosas por via
endovenosa, as quais deverão ser aplicadas lentamente, uma vez que
uma aplicação vagarosa permite observar se estão a ser desenvolvidos
efeitos inesperados no decurso da injecção (caso esses efeitos sejam
observados, a administração do fármaco deve parar).
Via intra-muscular
A via intra-muscular é uma alternativa consistente à via oral, uma vez
que todos os fármacos capazes de atravessar a parede capilar, e sem
efeito irritante considerável, poderão, a priori, ser administrados por via
intra-muscular. Todavia, os medicamentos que se encontram sob a
forma de solução aquosa são mais facilmente absorvidos que aqueles
que se encontram sob a forma de solução oleosa ou suspensão.
Via subcutânea
Embora seja muito semelhante à via intra-muscular, a via subcutânea é
mais dolorosa, mais susceptível de despoletar fenómenos de irritação
local, e está associada a maior lentidão de absorção. Todavia,
contrariamente ao que ocorre com a via intra-muscular, é possível auto-
administrar medicamentos por via subcutânea.
Via dérmica
A via dérmica (percutânea) não é amplamente utilizada para
administração sistémica. De facto, apesar de os fármacos administrados
por via dérmica poderem atingir a corrente sanguínea (caso sejam
suficientemente lipofílicos e pequenos), a passagem destes para o
sangue ocorre a uma taxa irregular e difícil de quantificar. Assim, os
fármacos aplicados por via dérmica apenas podem ser absorvidos de
forma algo regular caso sejam “especificamente desenhados” para
aplicação sistémica, e caso as áreas de absorção sejam
cuidadosamente escolhidas – de facto, estes medicamentos deverão
ser aplicados em zonas de pele fina e glabra, tais como as áreas
esternal, subclavicular ou abdominal.
Via inalatória
A absorção de fármacos por via inalatória é deveras rápida, devido à
pequena espessura dos alvéolos pulmonares e à elevada irrigação e
extensa área do tecido pulmonar. Todavia, na maior parte dos casos, a
via inalatória não é utilizada com fins sistémicos. Ora, dadas as
características (já referidas) do tecido pulmonar, vários fármacos
inalatórios para administração tópica podem ser involuntariamente
absorvidos, gerando efeitos sistémicos potencialmente indesejáveis.
Deste modo, os aerossóis indicados para administração tópica deverão
conter apenas partículas cujas dimensões apenas lhes permitam chegar
até aos bronquíolos (deste modo a passagem para os alvéolos
pulmonares fica impedida). Caso isto se verifique, a administração
tópica de um fármaco torna-se possível e o risco de absorção diminui.
Via intra-óssea
Esta via é, normalmente, praticada por punção do esterno e utilizada em
situações de administração de grandes quantidades de líquido (sendo
utilizada como alternativa à via intra-venosa).
Via intra-tecal
Esta via consiste na deposição directa de substâncias no sistema
nervoso central, sendo utilizada aquando da presença de moléculas
que, devido à sua dificuldade em atravessar a barreira hemato-
encefálica, nunca poderiam atingir concentrações terapêuticas caso
fossem aplicadas de outra forma.
Ciclo dos medicamentos
Absorção
O processo de absorção de um fármaco define-se como a passagem
de um fármaco desde o seu local de deposição até à circulação
sanguínea. Qualquer fármaco que seja aplicado por via sistémica terá
que sofrer absorção, com excepção dos fármacos que são
administrados por via intra-venosa (que são directamente introduzidos
na corrente sanguínea). Por seu turno, os fármacos que são
administrados por via tópica poderão sofrer absorção, embora esta seja,
na maior parte dos casos, considerada indesejável, uma vez que,
quando se aplica um fármaco por via tópica, deseja-se normalmente
que este apenas apresente efeitos locais na zona de aplicação.
Distribuição
A distribuição de um fármaco consiste na transferência reversível das
moléculas farmacológicas desde o espaço intra-vascular até ao espaço
extra-vascular (nomeadamente para os diferentes órgãos, tecidos, e
fluidos corporais).
Ou seja, como
existe sempre um
equilíbrio entre a
fracção livre e a
fracção ligada, à
medida que a
fracção livre vai
sendo consumida,
a fracção ligada
vai se
“desligando” das
proteínas,
assegurando a
permanência de
fármaco livre em
circulação.
Biotransformação (metabolismo)
O processo de biotransformação diz respeito a qualquer alteração que
a estrutura química dos fármacos poderá sofrer no organismo. De facto,
o organismo considera os fármacos como substâncias estranhas,
procurando eliminá-los o mais rapidamente possível. Para tal, o
organismo opera uma série de reacções com o objectivo de converter
os fármacos em moléculas mais facilmente excretáveis (daí considerar-
se que a biotransformação é um processo de eliminação), as quais se
designam por metabolitos.
é passível de ser
afectada pela ocorrência
de interacções entre
fármacos. De facto,
alguns fármacos
apresentam capacidade
de indução enzimática
(capacidade de aumentar
a actividade metabólica
enzimática), enquanto
outros apresentam
capacidade de inibição
enzimática (capacidade
de diminuir a actividade
metabólica enzimática).
Para compreender quais
as possíveis
consequências deste
facto, imaginemos uma
situação hipotética:
seu substrato – este tipo de inibição não pode ser superado através do
aumento da concentração de substrato. Existem ainda processos de
inibição indirecta, os quais resultam de alterações fisiopatológicas ou
da diminuição da síntese de proteínas enzimáticas.
Excreção
A excreção de um fármaco define-se como o conjunto de processos
através dos quais se dá a saída do fármaco (ou dos metabolitos
resultantes da sua biotransformação) para o exterior do organismo.
Conhecer a via de excreção preferencial de um determinado fármaco é
importante, na medida em que esta poderá estar associada ao
desenvolvimento de efeitos terapêuticos ou indesejados.
Volume de distribuição
A fórmula supracitada (que deriva da fórmula clássica de cálculo de
uma concentração) permite calcular o volume aparente de
distribuição, o qual pode exceder amplamente qualquer volume do
organismo, dado corresponder ao volume aparentemente necessário
para acomodar todo o fármaco presente num dado compartimento (tal
como o plasma) caso o organismo fosse homogéneo. Um fármaco com
elevado volume de distribuição tende preferencialmente a apresentar
concentrações extra-vasculares superiores às intra-vasculares.
Clearance
Em termos matemáticos, a taxa de eliminação (clearance) pode ser
determinada através das seguintes fórmulas:
; sendo que:
Tempo de semi-vida
A semi-vida de um fármaco (t1/2) corresponde ao tempo necessário
para que uma determinada quantidade de fármaco reduza o seu valor
para metade, quer no decurso de um processo de eliminação, quer
após infusão contínua.
; sendo que:
Acumulação
Ocorre acumulação de um fármaco sempre que o intervalo das doses
administradas é inferior a quatro semi-vidas. Como expectável, a
acumulação é inversamente proporcional à fracção de dose de fármaco
perdida em cada intervalo.
sendo que:
Administração de um fármaco
Com base nos parâmetros estudados, é possível proceder ao cálculo da
dose que deverá ser administrada de um determinado fármaco:
Efeitos de um fármaco
Os efeitos de um fármaco podem ser classificados como imediatos,
tardios ou cumulativos:
O papel da
acetilcolina no
sistema nervoso
autónomo é mais
complexo. De facto,
tanto os neurónios
pré-ganglionares
simpáticos, como
os neurónios pré-
ganglionares
parassimpáticos,
libertam acetilcolina
para os respectivos
neurónios pós-
ganglionares.
Todavia, enquanto
os neurónios pós-
ganglionares
simpáticos libertam
noradrenalina, os
neurónios pós-
ganglionares
parassimpáticos
libertam também
acetilcolina. Assim,
a acetilcolina
promove a
contracção do
músculo liso
visceral,
desempenhando
efeitos
característicos de
uma resposta
parassimpática
(tais como a
estimulação da
broncoconstrição e
do peristaltismo).
Para além disso, os
neurónios
simpáticos
responsáveis pela
inervação das
glândulas exócrinas
libertam
acetilcolina, que
estimula a
secreção glandular.
Após ter sido libertada (e após se ter ligado aos seus receptores pós-
sinápticos), a acetilcolina deverá ser rapidamente removida da fenda
sináptica. Assim, existem três mecanismos envolvidos na remoção
deste neurotransmissor:
De entre os
agonistas
muscarínicos, a
maior
vários subtipos de
receptores
muscarínicos.
Todavia, os
compostos de
amónio
quaternário têm
alguma afinidade
para o receptor
M1, a arecaidina
possui afinidade
para o receptor
M2, e o betanecol
Farmacocinética
Ésteres de colina
Alcalóides parassimpaticomiméticos
Acções farmacológicas
Olho
Sistema cardiovascular
Junção neuro-muscular
Estrutura química
Os fármacos desta classe apresentam propriedades farmacodinâmicas
similares, mas propriedades farmacocinéticas e estrutura química
distintas. Assim, no que concerne à estrutura química, os
parassimpaticomiméticos de acção indirecta podem ser divididos em
três grandes grupos:
Farmacocinética
Carbamatos
Organofosfarados
Mecanismo de acção
Os parassimpaticomiméticos de acção indirecta têm como alvo inibitório
a ACh-E. Todavia, dependendo da sua estrutura química, estes
parassimpaticomiméticos apresentam diferentes vias moleculares de
actuação.
Álcoois quaternários
Carbamatos
Organofosfarados
As moléculas dos organofosfarados ligam-
se ao centro activo da ACh-E, por via do
seu átomo de fósforo. Assim, o centro
activo da enzima é fosforilado por estes
compostos. A ligação estabelecida entre a
enzima e o grupo fosfato é muito estável,
sendo hidrolisada apenas ao fim de
centenas de horas! Para além disso, alguns
compostos (como o diflos) são tão
dificilmente hidrolisados, que a recuperação
da actividade enzimática após a sua
inibição, depende da síntese de novas
moléculas de enzima (sendo que este
processo ocorre ao longo de várias
semanas). Por outro lado, no caso concreto
do ecotiofato, a hidrólise processa-se de
forma lenta e ao longo de vários dias, de tal
modo que a inibição enzimática não poderá
ser considerada estritamente irreversível.
Acções farmacológicas
Os parassimpaticomiméticos de acção indirecta apresentam efeitos
semelhantes aos seus homólogos de acção directa. Todavia, estes
efeitos apenas se verificam quando pelo menos 50% das enzimas se
encontram bloqueadas, na medida em que o organismo expressa uma
quantidade de colinesterases muito superior às necessidades
fisiológicas.
Sistema cardiovascular
Junção neuro-muscular
Olho
Ao promoverem a drenagem do humor aquoso, os agonistas
muscarínicos e os inibidores das colinesterases actuam num sentido de
reduzir a pressão intra-ocular, o que se revela benéfico na terapêutica
do glaucoma (patologia caracterizada pelo aumento da pressão intra-
ocular).
Junção neuro-muscular
A miastenia gravis caracteriza-se pela destruição auto-imune dos
receptores nicotínicos. Esta doença, que afecta a junção neuro-
muscular, manifesta-se através de falta de força muscular, ptose,
diplopia, e dificuldades na fala e na deglutição. Contrariamente aos
parassimpaticomiméticos de acção directa (cuja acção pode agravar a
sintomatologia desta doença), os parassimpaticomiméticos de acção
indirecta revelam-se particularmente eficazes na terapêutica da
miastenia gravis. Apesar disso, a maior parte dos indivíduos portadores
desta patologia requer tratamento adicional com imunossupressores.
Coração
Os inibidores das colinesterases de curta duração (tais como o
edrofónio) foram utilizados no passado para o tratamento de
taquicardias supra-ventriculares. Todavia, actualmente utilizam-se
fármacos de eficácia e tolerabilidade superior.
Toxicidade
Estrutura química
Selectividade
A maior parte dos anti-muscarínicos não apresenta selectividade para
nenhum tipo de receptor, todavia, existem excepções:
Farmacocinética
Absorção
Os alcalóides naturais e a maioria das aminas terciárias anti-
muscarínicas são bem absorvidos pelo tubo digestivo e pela conjuntiva.
Alguns destes compostos, como é o caso da escopolamina, podem
inclusive ser absorvidos por via transdérmica.
Por seu turno, as aminas quaternárias têm má absorção por via oral
(apenas 10-30% da dose administrada é absorvida por via oral), o que
reflecte a sua fraca lipossolubilidade.
Distribuição
Os alcalóides naturais e as aminas terciárias sintéticas apresentam uma
boa distribuição pelo organismo, sendo inclusive capazes de penetrar
rapidamente no sistema nervoso central (o que limita a dose máxima
tolerada destes fármacos). De entre os anti-muscarínicos de actuação
central, destaque para a escopolamina, que apresenta uma rápida e
eficaz distribuição central e, por isso, é o anti-muscarínico que mais
efeitos centrais induz.
Mecanismo de acção
A atropina liga-se a um resíduo de aspartato dos receptores
muscarínicos, induzindo um bloqueio reversível (competitivo) destes
receptores. Apesar de se ligar a antagonistas muscarínicos com
diferentes polaridades, este resíduo de aspartato tem maior afinidade
para os antagonistas muscarínicos mais polares.
Acções farmacológicas
Olho
A atropina e as restantes aminas terciárias anti-muscarínicas
apresentam vários efeitos no olho, nomeadamente:
Sistema cardiovascular
O nó sinusal é muito sensível ao bloqueio muscarínico, de tal modo que
a administração de doses terapêuticas de atropina induz a ocorrência
de bloqueio dos receptores M2, o que se manifesta através da
ocorrência de taquicardia (apesar da ocorrência de taquicardia, a
pressão arterial é pouco afectada). Contudo, quando administrada em
doses reduzidas, a atropina induz um efeito bradicárdico inicial, que
precede a manifestação de bloqueio vagal periférico. Este efeito
bradicardizante deve-se ao bloqueio dos receptores muscarínicos pré-
sinápticos existentes nas fibras vagais pós-ganglionares (cuja actividade
permite controlar a libertação de acetilcolina no nó sinusal).
Sistema respiratório
Ao nível do sistema respiratório, a atropina induz broncodilatação e
redução da secreção glandular. Apesar disso, os anti-muscarínicos não
são tão eficazes como os agonistas β-adrenérgicos para a terapêutica
da asma e da doença pulmonar obstructiva crónica. Em termos
moleculares, isto deve-se ao facto de os anti-muscarínicos actuarem
simultaneamente em duas classes de receptores muscarínicos – De
facto, para além de actuarem nos receptores M3 do músculo liso
brônquico (induzindo broncodilatação), os anti-muscarínicos bloqueiam
os auto-receptores inibitórios M2. Ora, estes receptores localizam-se
nas terminações nervosas pós-ganglionares parassimpáticas e, quando
activados, inibem a libertação de mais acetilcolina. Como os anti-
muscarínicos bloqueiam estes receptores, esse mecanismo inibitório
deixa de ocorrer, passando a ser libertada uma maior quantidade de
acetilcolina (que compete com a atropina).
Tracto gastro-intestinal
Os anti-muscarínicos actuam num sentido de inibir a motilidade e as
secreções do tubo digestivo. Todavia, mesmo na presença de bloqueio
muscarínico total, não é possível abolir completamente a actividade
gastro-intestinal, uma vez que esta também se encontra dependente da
actividade do sistema nervoso entérico e de várias hormonas locais.
Glândulas sudoríparas
A atropina suprime a sudação, o que pode levar à elevação da
temperatura corporal. Nos adultos, são necessárias doses elevadas de
atropina para que se observe elevação da temperatura corporal.
Todavia, nas crianças, esse efeito é atingido mesmo aquando da
administração de doses moderadas de atropina.
Uso terapêutico
Doença de Parkinson
Alguns antagonistas muscarínicos de acção central podem ser
utilizados na terapêutica da doença de Parkinson, uma vez que o tremor
e a rigidez parkinsónica parecem resultar de uma sobre-estimulação
colinérgica subjacente ao défice de actividade dopaminérgica no circuito
nigro-estriado.
Enjoo de viagem
As perturbações do aparelho vestibular (tais como o enjoo de viagem)
parecem envolver circuitos nervosos muscarínicos, de tal modo que
podem ser tratadas com recurso a fármacos anti-muscarínicos, ou a
anti-histamínicos com propriedades anti-muscarínicas. De entre esses
fármacos, a escopolamina revela-se particularmente eficaz na
prevenção ou reversão das perturbações vestibulares, sendo tão eficaz
como qualquer composto mais recente. De referir que a escopolamina
pode ser administrada por via oral ou parentericamente (sobretudo, por
via transdérmica, sob a forma de adesivo), embora induza sedação e
sensação de “boca seca”.
Farmacodependência
Foram descritos receptores muscarínicos nas vias neuronais de
gratificação associadas ao consumo de drogas. De facto, a
escopolamina foi clinicamente testada para o tratamento de
dependência de heroína, tendo sido obtidos bons resultados.
Uso oftalmológico
O exame oftalmoscópico da retina é facilitado pela indução de midríase
e, em certos procedimentos oftalmológicos, torna-se vantajoso induzir
paralisia do músculo ciliar. Contudo, os antagonistas muscarínicos não
devem ser usados como midriáticos, a menos que se deseje midríase e
ciclopegia prolongadas (para realização do exame do fundo ocular, os
agonistas dos receptores adrenérgicos são preferíveis, na medida em
que produzem midríase de curta duração).
Uso anestésico
Os fármacos anti-muscarínicos podem ser utilizados em pré-anestesia,
com o objectivo de reduzir a acumulação de secreções na traqueia e,
eventualmente, o espasmo laríngeo associado aos agentes anestésicos
inalatórios. Para além disso, os anti-muscarínicos induzem retenção
urinária, hipomotilidade intestinal, broncodilatação (que facilita a
administração do anestésico inalatório), e taquicardia (que contraria o
efeito depressor cardíaco de alguns compostos anestésicos). No caso
concreto da escopolamina, este fármaco ainda é capaz de induzir
amnésia significativa para os procedimentos pré-cirúrgicos.
Patologia respiratória
O brometo de ipratrópio é um análogo sintético da atropina, que pode
ser aplicado por via inalatória, em situações de asma brônquica. Ao ser
inalado, passam a ser disponibilizadas grandes concentrações de
fármaco junto da sua biofase (músculo liso brônquico), o que minimiza a
ocorrência de efeitos sistémicos indesejáveis. Para além disso, o
ipratrópio pode ser utilizado no tratamento da DPOC, sobretudo, em
doentes mais idosos. Para além do ipratrópio, estão a ser estudados
outros fármacos da mesma categoria, tais como o tiotrópio, que é um
composto quaternário com duração de acção longa, e que também
poderá ser administrado por via inalatória.
Patologia cardiovascular
A atropina e seus análogos podem ser utilizados em situações de
bradicardia sinusal (subjacente a actividade vagal excessiva),
revertendo essa situação. Para além disso, os agentes anti-
muscarínicos podem ser terapeuticamente usados em situações de
hiper-reflexia do seio carotídeo, ou de desmaio na sequência de uma
hiper-estimulação do seio carotídeo (tal como pode acontecer a
mulheres que utilizem colares muito apertados).
Patologia urinária
Os anti-muscarínicos podem ser utilizados para aliviar a sensação de
urgência urinária secundária a inflamação vesical. Para além disso, a
oxibutinina e o tróspio são frequentemente utilizados no tratamento
dos espasmos vesicais que se desenvolvem após cirurgia urológica. A
oxibutinina, o tróspio, a tolterodina (um antagonista preferencial dos
receptores M3) e propiverina são também utilizadas para reduzir a
incontinência urinária (sobretudo, em pacientes com patologias
neurológicas). Alternativamente, pode se proceder ao uso de
darifenacina e solifenacina, que apresentam maior selectividade M3 e
maior semi-vida que o tróspio e a oxibutinina.
Acções adversas
O uso terapêutico da atropina e seus análogos acarreta, quase sempre,
acções adversas em outros tecidos ou órgãos. Quando administrada em
condições elevadas, a atropina bloqueia todas as funções
parassimpáticas. Apesar disso, a atropina é um fármaco relativamente
seguro para os adultos, havendo maior perigo de intoxicação entre as
crianças. De facto, as crianças são mais susceptíveis à hipertermia
induzida pela atropina, de tal modo que algumas podem morrer quando
intoxicadas com baixas doses de atropina. Para além de hipertermia, a
intoxicação por atropina está associada ao desenvolvimento de boca
seca, midríase, taquicardia, pele quente e ruborizada, agitação e delírio
– estes sintomas manifestam-se durante um período variável de tempo,
que poderá ascender a uma semana.
Em ambas as
categorias, existem
antagonistas
despolarizantes e
antagonistas
competitivos. Os
antagonistas despolarizantes
induzem
despolarização
sustentada na
membrana pós-
sináptica, após
activação dos
receptores nicotínicos
(o que impede as
células-alvo de
entrarem em repouso).
Já os
antagonistas
competitivos, actuam
através da ocupação
dos
receptores nicotínicos,
e subsequente
impedimento da sua
ocupação por parte
dos respectivos
agonistas.
Bloqueadores neuromusculares
d-tubocurarina
Pancurónio
Vecurónio
Rapacurónio
Cis-atracúrio
Ganglioplégicos
Tal como os bloqueadores musculares, também os ganglioplégicos
podem actuar por despolarização sustentada da membrana pós-
sináptica, ou por antagonismo competitivo dos receptores nicotínicos.
Ganglioplégicos despolarizantes
Os ganglioplégicos despolarizantes ocupam e estimulam os
receptores nicotínicos, induzindo despolarização das células neuronais
pós-ganglionares. Ora, enquanto essa despolarização se mantiver, a
condução nervosa fica por algum tempo bloqueada. Assim, quando são
administrados ganglioplégicos despolarizantes, estes induzem uma
despolarização que se prolonga no tempo, o que impede a condução
nervosa.
Ganglioplégicos competitivos
Os ganglioplégicos competitivos ocupam os receptores nicotínicos
ganglionares, impedindo assim a ligação da acetilcolina aos seus
receptores. Neste grupo incluem-se todos os derivados do metónio,
visto que estes apresentam propriedades ganglioplégicas e
bloqueadoras da placa motora.
O hexametónio é o
derivado do metónio
com maior actividade
ganglioplégica,
embora apresente
efeitos discretos na
placa motora. Assim,
quando se estuda a
actividade
ganglioplégica em
função do número de
átomos de carbono
da ponte metilénica,
obtém-se um gráfico
parabólico cujo
máximo é atingido
aos seis átomos de
carbono. Assim,
quando o
comprimento da
ponte metilénica
aumenta para além
dos seis átomos de
carbono, a actividade
ganglioplégica
começa a diminuir,
enquanto a actividade
sobre a placa motora
continua a aumentar.
Deste modo, o
decametónio é o
derivado do metónio
com maior actividade
sobre a placa motora.
PATOLOGIA/USO
MÉDICO FÁRMACO
Rivastigmina
Alzheimer Donepezil
Galantamina
Biperideno
Parkinson
Tri-hexafenidilo
Tropicamida
Ciclopentolato
Midriáticos
Escopolamina
Atropina
Glaucoma agudo de Fisostigmina
ângulo aberto
Pilocarpina
Ipratrópio
Tiotrópio
Asma e DPOC
Metacolina
(induz crise para facilitar
diagnóstico)
Bradicardia sinusal Atropina
Tratamento da
cardiopatia
hipertrófica
idiopática Atropina
(anticorpos)
Butilescopolamina
Doença ulcerosa
péptica/
Hipersecreção Clidínio
gástrica Pirenzepina
Telenzepina
Butilescopolamina
Hipermotilidade
gastro-intestinal Clidínio
Dicilomina
Estados
espasmódicos do Otilónio
tracto gastro-
intestinal/ síndrome Mebeverina
do intestino irritável
Zamifenacina
Diarreia do viajante Atropina
Hipomotilidade Betanecol
intestinal
Neostigmina
Xerostomia Pilocarpina
Darifenacina/Solifenacina
Oxibutinina
Incontinência urinária
e estados Tolterodina
espasmódicos Tróspio
Atropina
(sensação de urgência)
Betanecol
Retenção urinária Neostigmina
Carbacol
Neostigmina
Miastenia Gravis
Piridostigmina
Perturbações
vestibulares Escopolamina
Cessação tabágica Vareniclina
Intoxicação por
muscarínicos Atropina
Intoxicação por anti-
muscarínicos Fisostigmina
Piridostigmina
(profilaxia)
Intoxicação por
organofosfarados Fisostigmina (profilaxia)
Pralidoxima e obidoxima
(tratamento)
Rotina pré-operatória Atropina
Escopolamina
Succinilcolina
(entubação)
Atracúrio
Paralisante Cis-atracúrio
Mivacúrio
Rocurónio
Vecurónio
Reversão da paralisia
muscular Neostigmina
farmacologica pós-
cirúrgia Edrofónio
Hipotensão em
contexto cirúrgico Trimetafano
Diferenciação de crise
miasténica de crise
Edrofónio
colinérgica
Introdução ao estudo do sistema
adrenérgico
A noradrenalina é o principal neurotransmissor libertado pelos
neurónios simpáticos pós-ganglionares, de tal modo que as
intervenções terapêuticas que têm por alvo o sistema nervoso simpático
interferem com a acção da noradrenalina nos órgãos efectores.
Libertação de noradrenalina
A libertação de noradrenalina ocorre por exocitose. Ainda se sabe muito
pouco acerca dos mecanismos moleculares envolvidos na libertação de
noradrenalina – todavia, sabe-se que o cálcio desempenha um
importante papel no acoplamento entre o impulso nervoso e essa
libertação. Para além disso, as anexinas são proteínas axoplasmáticas
que interagem com os fosfolipídeos membranares, promovendo a
exocitose na presença de baixas concentrações de cálcio.
Algumas aminas
simpaticomiméticas (como a
anfetamina e a tiramina)
promovem a libertação de
noradrenalina, embora por uma
via não-exocítica. De facto, estas
aminas são captadas para o
interior dos neurónios
noradrenérgicos por via dos
transportadores monoaminérgicos
(DAT, NET e SERT – vide infra).
Essa captação induz uma
alteração conformacional no
transportador, que leva a que este
passe a transportar noradrenalina
(desde o interior dos neurónios)
para o meio extracelular. Para
além disso, estas aminas
competem com a noradrenalina
pela captação vesicular, sendo
assim capazes de mobilizar a
noradrenalina armazenada.
1. Recaptação neuronal
Assim, a
administração de
inibidores da MAO e
da COMT potencia
os efeitos da
noradrenalina,
adrenalina,
dopamina e, no caso
dos Inibidores da
MAO, serotonina.
Assim, os inibidores
da MAO (tais como
a iproniazida) são
clinicamente
utilizados como anti-
depressores e anti-
Parkinsonianos (na
terapia da doença de
Parkinson, procede-
se ao uso de
inibidores da MAO-
B, como a selegilina
e a rasagilina). Por
seu turno, os
inibidores da COMT
(tais como o
entacapone e o
tolcapone) são
unicamente
utilizados na terapia
da doença de
Parkinson. Note-se
que na doença de
Parkinson existe um
défice de dopamina,
sendo que os
inibidores da MAO e
da COMT potenciam
a acção deste
mediador.
Receptores adrenérgicos
Os adrenorreceptores β medeiam
as respostas inibitórias causadas
pela noradrenalina e pela
adrenalina (excepto ao nível do
coração, onde estes receptores
induzem respostas excitatórias).
Assim, a intervenção ao nível
destes receptores é
utilizada na terapêutica da
hipertensão arterial, arritmias
cardíacas, insuficiência cardíaca e
asma. Existem quatro subtipos de
receptores β (β1, β2, β3 e β4),
pensando-se que todos estes
coexistem no coração humano.
Os receptores β1 predominam ao
nível do miocárdio, enquanto os
receptores β2 prevalecem ao
nível do músculo
liso brônquico. Por outro lado, os receptores β3 existem ao nível
do tecido adiposo (onde induzem lipólise) e, em menor escala, do
tubo digestivo. Por fim, os receptores β4 estão ainda a ser alvo
de estudo.
Fármacos de acção adrenérgica:
simpaticomiméticos
O grupo dos agentes simpaticomiméticos inclui não só as substâncias
que mimetizam os efeitos da estimulação simpática, mas também os
fármacos que, por serem quimicamente relacionados com a
noradrenalina (principal mediador simpático), actuam nos mesmos
receptores que esta e são antagonizados pelos mesmos bloqueadores.
α1 α2 β1 β2
Fenilefrina ++ +
Metoxamina ++ +
Clonidina + ++
Noradrenalina ++ ++ + +
Adrenalina ++ ++ ++ ++
Isoprenalina ++ ++
Terbutalina e
ritodrina + ++
Albuterol + ++
Meta-proternol + ++
Dobutamina ++ +
Farmacocinética
A noradrenalina e a adrenalina são substâncias polares, não sendo
praticamente absorvidas por via oral (a pequena quantidade destas
catecolaminas que sofre absorção acaba por ser inactivada no fígado).
Para além disso, parte destas catecolaminas é destruída no interior do
tubo digestivo. Assim, a administração destas substâncias deverá
ocorrer por via parentérica, nomeadamente por via subcutânea ou
intravenosa. A noradrenalina não pode ser administrada por via
subcutânea, na medida em que provoca intensa vasoconstrição. Ora,
isto leva a que a remoção desta catecolamina ocorra muito lentamente,
o que causa uma isquemia local prolongada, que origina necrose
tecidular.
Acções farmacológicas
Os receptores adrenérgicos são expressos de forma ubíqua no
organismo, de tal modo que as aminas simpaticomiméticas possuem
um espectro farmacodinâmico muito amplo. Assim, o(s) efeito(s) de
cada amina depende(m) do tipo de receptor para o qual essa amina tem
mais afinidade, bem como da expressão desse tipo de receptor pelos
diferentes órgãos.
Acções cardíacas
As aminas simpaticomiméticas excitam o tecido de condução cardíaco,
o que induz efeitos cronotrópico, batmotrópico, dromotrópico e
inotrópico positivos (ou seja, passa a ocorrer um aumento do
automatismo, da velocidade de condução e da contractilidade).
Sob acção destas aminas, o coração realiza maior trabalho, de tal modo
que o seu consumo de oxigénio aumenta. Deste modo, os indivíduos
com insuficiência coronária que recebam estes fármacos apresentam
maior susceptibilidade de desenvolverem angina de peito.
Efeitos vasculares
A nível vascular, as aminas simpaticomiméticas apresentam efeitos
variáveis. Assim, a isoprenalina apresenta uma acção vasodilatadora,
uma vez que apenas actua em receptores β. Já a adrenalina, que actua
simultaneamente em receptores α e β, induz contracção dos vasos da
pele, mucosas, cérebro, coração e rins (onde predominam os
receptores α); e dilatação dos vasos do músculo esquelético e das
vísceras (onde predominam os receptores β). Por fim, a noradrenalina
apresenta uma acção globalmente vasoconstritora, visto actuar
maioritariamente em receptores α.
é aquele que mais dificilmente induz taquicardia (ou seja, para que se
desenvolva taquicardia, são necessárias doses mais elevadas de
salbutamol que de outro agonista β2 qualquer).
Acções metabólicas
A adrenalina, a noradrenalina e a isoprenalina (entre outras aminas
simpaticomiméticas) apresentam efeitos metabólicos. Todavia, em
condições fisiológicas, apenas a adrenalina exerce esses efeitos de
forma significativa. Assim, a adrenalina induz lipólise (por actuação nos
receptores β3), glicogenólise (por actuação nos receptores β2),
hipercalémia (por actuação nos receptores α) e aumento dos níveis de
ácido láctico.
Outras acções
As aminas simpaticomiméticas provocam outros efeitos, nos quais se
incluem o aumento da secreção salivar, a erecção dos pelos, e a
contracção das vesículas seminais.
Uso terapêutico
Situações de choque e de estados de hipotensão
O uso de aminas simpaticomiméticas está indicado para situações de
choque, excepto quando o choque é de natureza hipovolémica (os choques
hipovolémicos podem surgir num contexto de hemorragia, queimaduras,
diarreia ou vómitos intensos). De facto, numa situação de choque
hipovolémico, o organismo procura restaurar a volémia, activando, para isso,
mecanismos de vasoconstrição generalizada. Ora, os agonistas α potenciam
a ocorrência de mais vasoconstrição, o que coloca os órgãos nobres
(coração, cérebro e rins) em risco de deficiente perfusão sanguínea.
Situações de hipertensão
Alguns agonistas selectivos α2 (tais como a clonidina) são utilizados no
tratamento da hipertensão, embora isto pareça algo paradoxal, na
medida em que os vasos sanguíneos possuem adrenorreceptores α2,
cuja estimulação induz vasoconstrição. Assim, a hipotensão induzida
pela clonidina resulta da activação dos adrenorreceptores α2A presentes
ao nível do tronco cerebral (provavelmente, no núcleo do tracto
solitário).
Indução da hemóstase
A adrenalina pode ser utilizada com o objectivo de evitar ou suster uma
hemorragia. Todavia, a aplicação local de adrenalina apenas permite
controlar as hemorragias provenientes de vasos de pequeno calibre.
Descongestionamento nasal
As situações de congestionamento nasal caracterizam-se pela presença
de vasodilatação abundante. Assim, para proceder ao
descongestionamento nasal, devem ser administrados agentes
vasoconstrictores, tais como os agonistas dos receptores α. Os
agonistas mais utilizados nestas situações incluem a fenilefrina, a
metoxamina e a efedrina, uma vez que apresentam uma acção
prolongada e não exercem efeitos irritantes locais. Todavia, a acção
destes fármacos é relativamente efémera – após passar a fase
desobstrução, volta a ocorrer congestão nasal (por vezes, até mais
intensa). Para além disso, quando usados repetidamente, estes
fármacos podem originar rinite crónica.
Terapêutica da asma
Os agonistas dos receptores β apresentam um efeito broncodilatador,
sendo amplamente utilizados na terapêutica da asma. De entre estes
agonistas, é preferível utilizar substâncias selectivas para os receptores
β2, visto induzirem menor estimulação cardíaca. Ora, os agonistas
selectivos β2 incluem o salbutamol, a terbutalina, o trimetoquinol e o
fenoterol.
Aplicações oftálmicas
Os agonistas α são utilizados, em aplicação local, para produzirem uma
dilatação pupilar tal, que permita o exame adequado do fundo do olho.
Para além de serem utilizadas com fim midriático, a fenilefrina, a
efedrina e a hidroxianfetamina, também podem ser utilizadas para
reduzir a incidência de aderências.
Aplicações obstétricas
Os agonistas selectivos dos receptores β2 são utilizados para atrasar ou
impedir os partos prematuros. Nos Estados Unidos, utiliza-se
preferencialmente a ritodrina, enquanto na Europa a preferência recai
sobre a terbutalina.
espasmo Isoxsuprina β
Síncopes e Aumento da força
bloqueios AV Isoprenalina β contráctil
Choque do miocárdio
Prenalterol β1 (aumento do
cardiogénico
Dobutamina β1 débito cardíaco)
Salbutamol β2
Terbutalina β2
Asma Broncodilatação
Trimetoquinol β2
Fenoterol β2
Desejo de Relaxamento do
retardamento Ritodrina β2 músculo liso
do parto Terbutalina β2 uterino
Fármacos de acção adrenérgica:
bloqueadores adrenérgicos
Os bloqueadores adrenérgicos (também chamados de bloqueadores
dos adrenorreceptores, antagonistas adrenérgicos ou antagonistas dos
adrenorreceptores) são substâncias que actuam nos receptores
adrenérgicos, inibindo a actividade do sistema nervoso simpático ou das
aminas simpaticomiméticas. A inervação simpática é ubíqua,
abrangendo diversos órgãos de múltiplos sistemas. Assim, embora
possam corrigir determinadas situações patológicas, os bloqueadores
adrenérgicos devem ser utilizados com cautela, devido ao risco de
desenvolvimento de efeitos laterais.
Bloqueadores adrenérgicos α
Os bloqueadores adrenérgicos α são fármacos que ocupam
selectivamente os receptores α, impedindo que as aminas
simpaticomiméticas se liguem a estes receptores e exerçam os seus
efeitos. Assim, os bloqueadores adrenérgicos α antagonizam a acção
de vários agonistas α, tais como a fenilefrina, a adrenalina e a
noradrenalina.
Imidazolinas
Fenoxiquilaminas
Benzodioxanas
Hipertensão arterial
Insuficiência
cardíaca Prazosina
Fenoxibenzamina
Prazosina
Obstrução
urinária Doxazosina
Terazosina
Tansulozina
Doenças
vasculares Fenoxibenzamina
periféricas Prazosina
Tolazolina
Insuficiência
cardíaca
Obstrução urinária
Bloqueadores adrenérgicos β
Os bloqueadores adrenérgicos β são amplamente utilizados em
contexto clínico (sendo mais utilizados que os bloqueadores α). Assim,
de entre as patologias para as quais estes fármacos são utilizados,
destaque para a hipertensão arterial, insuficiência coronária, arritmias
cardíacas, cardiomiopatias e tireotoxicose.
5. Bloqueadores β selectivos
5.1. Bloqueadores selectivos β1: Practolol, atenolol, acebutolol,
betaxolol, bisoprolol, celiprolol,
esmolol, metoprolol
5.2. Bloqueadores selectivos β2: Butoxamina
6. Bloqueadores β com alguma acção bloqueadora α: Labetalol,
carvedilol
pindolol e o timolol.
exclusivamente em receptores β1 ou
β2 (mesmo que seja classificado
como “selectivo”). De facto, a
selectividade destes fármacos varia
inversamente com a dose
administrada.
Acebutolol β1 ++ + ++++ 3
Bisoprolol β1 0 0 ++++ 10
Carvedilol* 0 0 0 ++ 7
Celiprolol β1 + 0 +++ 5
Esmolol β1 0 0 0 0,17
Labetalol* 0 + + ++ 5
Metoprolol β1 0 + ++++ 4
Nadolol 0 0 0 ++ 14-20
Penbutolol 0 + 0 ++++ 5
Propranolol 0 0 ++ ++++ 5
Sotalol 0 0 0 ++++ 12
Timolol 0 0 0 ++ 4
Farmacocinética
Na sua maioria, os bloqueadores β são fármacos relativamente
lipofílicos - o propranolol, o alprenolol, o oxprenolol e o metroprolol
destacam-se pelo seu elevado grau de lipofilia; enquanto o sotalol e o
atenolol são os bloqueadores β menos lipofílicos. De referir que, quanto
maior for a lipofilia, mais rápida
Apesar de serem muito bem absorvidos por via oral, estes fármacos
costumam sofrer um elevado grau de biotransformação, de tal modo
que, por norma, estes fármacos apresentam baixa biodisponibilidade
oral (ou seja, devido à ocorrência de biotransformação, quando estes
fármacos são administrados por via oral, obtêm-se concentrações
plasmáticas muito inferiores às que seriam obtidas, caso a mesma dose
fosse administrada por via intra-venosa).
O fenómeno de biotransformação hepática ocorre de modo mais amplo
para o propranolol, oxprenolol, alprenolol e metoprolol. Por seu turno, o
pindolol e o atenolol sofrem menor grau de biotransformação. Assim,
enquanto a quantidade removida pelo fígado de propranolol pode atingir
os 90%, para o pindolol, a quantidade removida na primeira passagem
pelo fígado não ultrapassa os 15%.
Acções farmacológicas
Sistema cardiovascular
Efeitos metabólicos
Uso terapêutico
Os bloqueadores β exercem efeitos, sobretudo, ao nível do sistema
cardiovascular. Assim, na prática clínica, estes fármacos são,
sobretudo, utilizados em situações de patologia cardíaca. De entre as
doenças que mais podem beneficiar com o uso destes fármacos,
destaque para a insuficiência coronária, arritmias cardíacas e
hipertensão arterial.
Angina de peito
Enfarte do miocárdio
Hipertensão arterial
Arritmias cardíacas
Hipertiroidismo
Enxaquecas e ansiedade
Acções adversas
As acções adversas dos bloqueadores β podem ser consequentes ao
bloqueio dos receptores β, ou resultantes de outras acções. De entre os
efeitos adversos resultantes do bloqueio dos receptores β, destaque
para a insuficiência cardíaca, asma, hipoglicemia, bradicardia e
perturbações vasculares periféricas.
Como já foi referido, não obstante a sua eficácia, o practolol foi retirado
do mercado, devido à sua elevada toxicidade. De facto, o uso deste
fármaco esteve associado ao desenvolvimento de casos de erupções
cutâneas, cegueira, surdez, secura nasal e bocal, e peritonite
esclerosante. Caso sejam administrados outros agentes bloqueadores
β, é possível que estes eventos também se possam vir a desenvolver.
Todavia, essa probabilidade é muito mais reduzida.
PATOLOGIA/USO
MÉDICO FÁRMACO
Parkinson Entacapone
Tolcapone
Rasagilina
Selegilina
Toxicomania opióide Clonidina
Glaucoma Bromonidina
Timolol
Midriáticos Efedrina
Fenilefrina
Asma Fenoterol
Trimetoquinol
Terbutalina
Salbutamol
Formoterol (profilaxia)
Salmeterol (profilaxia)
Adrenalina
(casos refractários a
outras aminas)
DPOC Indacaterol
Congestão nasal Fenilefrina
Fenilpropilamina
Efedrina
Pseudoefedrina
Nafazolina
Oximetazolina
Tramazolina
Xilometazolina (longa
acção)
HTA Clonidina
Prazosina
Doxazosina
Fentolamina
(secundária a níveis
elevados de
catecolaminas)
Fenoxibenzamina
(secundária a níveis
elevados de
catecolaminas)
Guanetidina (já em
desuso)
Metoprolol
Nebivolol
Propranolol
Labetalol
Insuficiência cardíaca Prazosina
Dobutamina
(congestiva)
Carvedilol
Metoprolol
Bisoprolol
Nebivolol
Esmolol (supra-ventriculares ou
Arritmias* associadas a tirotoxicose)
Dobutamina
Choque (cardiogénico)
Isoprenalina
(cardiogénico)
Noradrenalina
Metoxamina
Angina de peito Propranolol
Atenolol (em indivíduos
asmáticos)
Doenças vasculares
periféricas Prazosina
Fenoxibenzamina
Diarreia Clonidina
Anfetamina e
fenilpropanolamina (já
Supressores do apetite foram
retiradas do mercado)
Retardar parto Ritodrina
Terbutalina
Metilergonovina
(também usada para
Uterotónicos tratar
hemorragias)
Hipertrofia benigna da
próstata Alfazosina
Doxazosina
Prazosina
Tansulosina
Terazosina
Fogachos da
menopausa Clonidina
Disfunção sexual Ioimbina
Prolongamento do
efeito anestésico local Adrenalina
Diagnóstico e
localização de VMA (urina)
131I-meta-iodo-
benzilguanidina
feocromocitomas (radiologia)
Analgesia Medetomidina
* Vários outros β-bloqueadores são usados como anti-arrítmicos (vide
resumo de anti-arrítmicos)
Fármacos que interferem com a
transmissão 5-
hidroxitriptaminérgica
A 5-hidroxitriptamina (serotonina) desempenha diversas funções ao
nível do sistema nervoso central (onde é um importante
neurotransmissor), e ao nível periférico, onde participa na regulação da
função plaquetária e da actividade do músculo liso dos aparelhos
digestivo e cardiovascular.
Receptores da 5-hidroxitriptamina
Estão descritos sete classes distintas de receptores da 5-hidroxitriptamina:
comportamento.
1.2. Os receptores 5-HT1D são expressos ao nível dos vasos
cerebrais, constituindo o alvo do
Modulação pré-
sináptica.
Facilitação da
SNC, neurónios libertação de
5- Carboxamidatriptamina Espiperona colinérgicos e noradrenalina e
HT1A Gi do acetilcolina.
Bus pri ona Pindolol plexo
mientérico Sono, alimentação,
termorregulação e
ansiedade
Modulação pré-
sináptica.
SNC, músculo
liso Contracção do
Carboxamidatriptamina Metergolina músculo liso
5- vascular e vascular. Ansiedade,
HT1B Suma tri pta no Metiotepina Gi terminais agressão
autónomos
e locomoção
Modulação pré-
SNC, músculo sináptica.
liso
Contracção do
vascular, músculo liso
5- Metergolina terminais
HT1D Sumatriptano Gi vascular. Inibição dos
Metiotepina autónomos e
terminais do neurónios autónomos
trigémio
simpáticos
5-
HT1E Metiotepina Gi SNC
SNC, útero,
5- Sumatriptano mesentério e
HT1F Gi músculo
Naratriptano
liso vascular
5-
HT2B Hidroxitriptamina Gq Corpo gástrico Contracção
5- SNC e plexo Secreção de líquido
HT2C Hidroxitriptamina Mesulergide Gq coroideu cefalo-
LSD Metisergide raquidano
Granisetron
Excitação neuronal,
5-HT3 Hidroxitriptamina Ondansetron - SNC e sistema emese,
nervoso
Clorofenilbiguanida Tropisetron periférico ansiedade
Zacopride
Metoxitriptamida
Renzapride SNC e sistema Excitação neuronal e
5-HT4 Gs nervoso motilidade gastro-
Metoclopramida periférico intestinal
Cisapride
5-HT5 SNC
5-HT6 Gs SNC
SNC, vasos
sanguíneos, Relaxamento do
Carboxamidatriptamina Gs gânglios músculo liso
5-HT7 Clozapina
simpáticos e e modificações
LSD tracto circadianas
gastrointestinal
Acções periféricas
Sistema cardiovascular
Tracto gastro-intestinal
Sistema respiratório
Acções centrais
Os núcleos dos neurónios 5-hidroxitriptaminérgicos encontram-se
contidos no tronco cerebral. Estes neurónios projectam para várias
regiões do sistema nervoso central, através de nove vias 5-
hidroxitriptaminérgicas. Essas várias regiões incluem:
1. Córtex cerebral
Tumor carcinóide
Outras condições
Acções da 5-Hidroxitriptamina
* Contracção dos vasos por acção directa sobre o
Sistema músculo liso e indirecta por
cardiovascular inibição do sistema nervoso simpático
* Relaxamento dos vasos por mecanismos
dependentes do endotélio
* Acções cronotrópica e inotrópica positiva
Sistema * Aumento da motilidade por acção directa sobre a
gastro- musculatura lisa e indirecta por
intestinal neurónios entéricos
* Estimulação dos nervos simpáticos, dos nervos
Neurónios do plexo mientérico e dos nervos
periféricos e
do sensitivos
* Estimulação/inibição dos neurónios centrais
SNC termorregulação, regulação
cardiovascular, controlo do apetite, regulação do
sono, humor, alucinações,
percepção da dor e vómito.
Plaquetas * Agregação
Sumatriptano
O sumatriptano é um
agonista selectivo dos
receptores 5-HT1D e 5-
HT1B, os quais são
expressos nos vasos
cerebrais meníngeos,
mediando um efeito
vasoconstrictor. O
sumatriptano apresenta
ainda capacidade de ligação
desprezável aos receptores
5-HT1A (de facto, a
afinidade para estes
receptores é cerca de 5
vezes inferior à afinidade
para os receptores 5-HT1D e
5-HT1B).
O sumatriptano é utilizado
exclusivamente no
tratamento da fase aguda
(crise) da enxaqueca. Para
compreender o seu modo de
actuação, estudemos as
vias fisiológicas da
enxaqueca: as situações de
enxaqueca cursam com
activação de neurónios
Habitualmente, o
sumatriptano é bem
tolerado. De facto, na
maior parte das
vezes, as suas
acções adversas
apresentam reduzida
intensidade, curta
duração, resolvem-
se espontaneamente
e não mudam de
características com o
uso repetido. Assim,
na maioria das
situações, os efeitos
laterais do
sumatriptano
envolvem irritação ou
parestesias restritas
ao local de
administração.
Contudo, numa pequena fracção de casos, este fármaco pode causar dor
torácica ou dor cervical – a dor torácica é deveras similar à dor de origem
cardíaca, dificultando o diagnóstico de eventos que cursem com dor
cardíaca. Porém, sabe-se que a dor torácica induzida pelo sumatriptano
não é acompanhada por alterações ecocardiográficas (embora este
fármaco possa, excepcionalmente, induzir vasoconstrição do leito
coronário). De qualquer modo, a administração de sumatriptano está
contra-indicada em indivíduos com história de enfarte do miocárdio,
angina de peito e hipertensão arterial.
Para além disso, o sumatriptano não deve ser utilizado juntamente com
inibidores da MAO, com carbonato de lítio, ou com inibidores selectivos
da recaptação de 5-hidroxitriptamina. De facto, a administração
simultânea destes fármacos pode despoletar a síndrome da
serotonina (que inclui inquietação, rigidez muscular, hipertermia,
mioclonias, híper-reflexia, diaforese e tremores). Para além disso, o
sumatriptano não deve ser usado em simultâneo com preparações que
contenham compostos vasoconstrictores (tais como a ergotamina ou o
metisergide), nem na profilaxia da enxaqueca.
Buspirona
A buspirona é um agonista parcial dos receptores 5-HT1A, sendo
utilizada no tratamento da ansiedade. O seu efeito depressor é muito
selectivo, de tal modo que, contrariamente às benzodiazepinas e aos
barbitúricos, a buspirona não induz relaxamento do músculo
esquelético, sonolência, hipnose, acção anti-convulsionante, ressaca,
ou toxicomania (dependência física ou psíquica).
Anti-eméticos
O ondansetron, o granisetron e o tropisetron são antagonistas selectivos
dos receptores 5-HT3, sendo usados no controlo das náuseas e dos
vómitos associados à quimioterapia e à radioterapia. Para além disso,
estão a ser testados vários outros anti-eméticos similares ao
ondansetron, nomeadamente, o alosetron, o azasetron, o bemesetron, o
cilansetron, o dolasetron, o itasetron e o zatrosetron.
Ondansetron
Este fármaco pode ser administrado por via intra-venosa e por via oral -
quando administrado por via oral, o ondansetron é rapidamente
absorvido e apresenta uma biodisponibilidade de 60%. Ao nível
hepático, este fármaco sofre extensa biotransformação, sendo
metabolizado pelo sistema enzimático do citocromo P450 (o que pode
condicionar a génese de interacções medicamentosas). O ondansetron
apresenta uma semi-vida de cerca de três horas, sendo eliminado,
predominantemente, por via hepato-biliar. De referir que, nos doentes
com disfunção hepática, este fármaco apresenta uma biodisponibilidade
de quase 100% e uma semi-vida que pode chegar às 32 horas, pelo
que a dose administrada a estes doentes deve ser inferior.
Granisetron
Tropisetron
Este fármaco pode ser administrado por via intra-venosa ou por via oral.
A sua biodisponibilidade oral é de 52-66%, devido ao seu intenso efeito
de primeira passagem (ao nível hepático, o tropisetron é
biotransformado por enzimas da família do citocromo P450). A sua
semi-vida varia entre 7 e 42 horas e a sua eliminação é
predominantemente renal, embora não sejam necessários ajustes
posológicos em situações de disfunção hepática ou renal.
Cisapride
O cisapride é um agonista dos receptores 5-HT4, que na prática clínica
é utilizado como um pró-cinético (fármaco que condiciona um aumento
da motilidade gastro-intestinal). Este fármaco actua nos receptores 5-
HT4 dos neurónios do plexo mientérico, induzindo a libertação de
acetilcolina. Por seu turno, a acetilcolina aumenta a motilidade
esofágica, a tonicidade do esfíncter esofágico inferior, o esvaziamento
gástrico e duodenal, e a motilidade do intestino delgado e do cólon.
Receptores opiáceos
Em termos endógenos, os opiáceos são os mediadores mais
importantes da analgesia. Os opiáceos endógenos actuam sobre três
tipos de receptores – o receptor μ (MOP), o receptor κ (KOP) e o
receptor
δ (DOP).
Opiáceos endógenos
Os agonistas endógenos dos receptores opiáceos pertencem a três
famílias distintas – encefalinas, endorfinas e dinorfinas. As encefalinas
(met-encefalina e leu-encefalina) são polipeptídeos derivados da pró-
encefalina A, que constituem os ligandos endógenos mais importantes
do receptor δ. Estes peptídeos são expressos ao longo de todo o
sistema nervoso central, existindo em pequenos interneurónios de
circuitos locais.
Morfina
Acções farmacológicas
Acções centrais
Acções periféricas
Farmacocinética
Codeína
A codeína é um alcalóide do ópio, que actua na mesma gama de
receptores opiáceos da morfina. Contudo, a codeína é cerca de 12
vezes menos potente que a morfina (isto significa que 120 mg de
codeína provocam um efeito analgésico idêntico ao de 10 mg de
morfina).
Heroína
A heroína é um pró-fármaco da morfina, que apresenta um curto
período de semi-vida. De facto, a heroína (di-acetilmorfina) é
rapidamente hidrolisada por esterases tecidulares não-específicas,
sendo convertida em monoacetilmorfina que, por sua vez, é convertida
em morfina. Assim, os efeitos da heroína são similares aos da morfina,
sendo que o uso da heroína como analgésico não apresenta qualquer
vantagem clínica.
De referir que, a heroína é considerada um estupefaciente, devido ao
seu elevado potencial de génese de dependência física e psíquica.
Meperidina (petidina)
A meperidina é um fármaco clinicamente semelhante à morfina. De
facto, para doses equianalgésicas, a meperidina, tal como a morfina,
exerce um efeito depressor respiratório – esse efeito inclui similar
diminuição do volume/minuto, mas menor depressão da frequência
ventilatória e maior depressão do volume corrente.
Metadona
A metadona é um opióide sintético, ligeiramente mais potente que a
morfina. A metadona causa dependência física cruzada com a heroína
(e outros agonistas), mas os sintomas de abstinência são menos
intensos e de instalação mais lenta que os da heroína. Assim, o seu uso
está, actualmente, quase limitado ao tratamento da toxicodependência.
Loperamida
A loperamida é um derivado da fenilpiperidina, que é usado no controlo
da diarreia. De facto, a loperamida inibe o peristaltismo intestinal por
actuação nos receptores μ periféricos, mas apresenta poucos efeitos ao
nível dos receptores opiáceos do sistema nervoso central. Esse
reduzido acesso ao sistema nervoso central leva a que a loperamida
apresente um reduzido potencial de génese de dependência.
Fentanil
O fentanil é um opióide cerca de 100 vezes mais potente que a
morfina, mas com uma duração de acção muito inferior. De facto, o
fentanil é rápida e intensamente distribuído para locais de perda no
músculo esquelético e no tecido adiposo (ou seja, devido à sua elevada
biodisponibilidade, o fentanil sofre importantes efeitos de redistribuição).
Assim, ainda durante a fase de distribuição, as concentrações
plasmáticas deste fármaco tornam-se inferiores às suas concentrações
analgésicas mínimas.
Alfentanil e sufentanil
O alfentanil e o sufentanil são dois derivados do fentanil, que
comportam uma elevada margem de segurança, sobretudo, quando
comparados com a meperidina e com o fentanil. De facto, o sufentanil
apresenta uma elevada estabilidade cardiovascular, motivo pelo qual é
amplamente utilizado em cirurgia cardíaca (na verdade, o fentanil e os
seus derivados são quase exclusivamente utilizados em anestesiologia
e cuidados intensivos).
Quando administrado em injecção única, o alfentanil apresenta uma
duração de acção muito curta. Por outro lado, quando administrado em
infusão, este fármaco quase não sofre acumulação, pelo que o seu
efeito cessa poucos minutos após supressão da infusão. Todavia, todos
estes derivados do fentanil apresentam uma grande variabilidade
individual da resposta e do comportamento farmacocinético, o que não
permite a aplicação sistemática do seu uso com base em parâmetros
farmacocinéticos conhecidos.
*Dose que produz anestesia cirúrgica em 50% dos ratos em respiração espontânea
Remifentanil
O remifentanil é um opióide da família do fentanil, sendo um agonista
dos receptores opiáceos μ. Assim, tal como o fentanil, o remifentanil
apresenta efeitos analgésicos, sedativos, depressores da respiração,
hipotensores, bradicárdicos, mióticos e indutores de rigidez muscular,
náuseas e vómitos.
Buprenorfina
A buprenorfina é um agonista parcial dos receptores μ, sendo
praticamente desprovida de acções sobre os receptores κ. Este fármaco
apresenta uma afinidade relativamente alta e uma boa capacidade
analgésica. Todavia, a buprenorfina também induz depressão
respiratória que, embora raramente atinja níveis críticos na prática
clínica, é de difícil reversão. De facto, não é conhecido nenhum
antagonista específico para este fármaco, e a naloxona, mesmo em
doses muito altas, apenas consegue uma reversão muito parcial.
Tramadol
O tramadol é um pró-fármaco do O-desmetiltramadol, um metabolito
com efeito agonista parcial dos receptores opiáceos. A conversão do
tramadol em O-desmetiltramadol ocorre ao nível do fígado, sendo
mediada pela CYP2D6. Em termos centrais, o O-desmetiltramadol
exerce os seus efeitos analgésicos através de três mecanismos.
Tapentadol
O tapentadol é um analgésico com modesta afinidade para os
receptores opióides μ. Este fármaco inibe significativamente a
recaptação neuronal de noradrenalina, de tal modo que os seus efeitos
analgésicos são apenas ligeiramente inibidos pela naloxona, mas
fortemente inibidos por um antagonista adrenérgico α2. De referir que,
comparativamente ao tramadol, o tapentadol estabelece ligações mais
fortes com o transportador de noradrenalina, mas ligações mais fracas
com o transportador de serotonina.
Pentazocina
A pentazocina é um agonista dos receptores κ e σ, e um antagonista
dos receptores μ. No passado, este fármaco foi amplamente usado
como analgésico, devido à sua eficácia e por poder ser administrável
por via oral. Para além disso, a pentazocina causa apenas depressão
respiratória limitada e apresenta pouca capacidade de provocar
dependência. Todavia, actualmente, o interesse clínico na pentazocina
é deveras reduzido, na medida em que este fármaco origina vários
fenómenos disforizantes, que incluem alucinações, sensação de morte
iminente e despersonalização.
Naloxona
A naloxona é um antagonista competitivo dos receptores μ, δ e κ. Este
fármaco é mais eficaz como antagonista dos receptores μ, e não exerce
acção antagonista em relação a todos os efeitos resultantes da
activação dos receptores σ.
Naltrexona
A
naltrexona é um antagonista puro dos opiáceos. Este fármaco é
absorvido por via oral, mas sofre um intenso efeito de primeira
passagem. Em termos terapêuticos, a naltrexona é utilizada no
tratamento da toxicodependência. Este fármaco apresenta uma longa
duração de acção, de tal modo que não devem ser administradas doses
muito elevadas deste fármaco.
Nalmefene
O nalmefene é um derivado da naltrexona, que apenas pode ser
administrado por via intra-venosa. Este fármaco é utilizado na
terapêutica da overdose de opióides, apresentando um maior período
de semi-vida que a naloxona.
Metilnaltrexona e alvimopan
A metilnaltrexona e o alvimopan são antagonistas dos receptores μ
periféricos, que não atravessam a barreira hemato-encefálica. Assim,
estes dois fármacos são capazes de reverter os efeitos periféricos dos
opióides, mas não os seus efeitos analgésicos centrais. Deste modo, a
metilnaltrexona e o alvimopan são utilizados no alívio da obstipação
causada pelos opióides. De referir que, devido à sua potencial
toxicidade cardiovascular, o uso do alvimopan encontra-se restrito a
pacientes hospitalizados por curtos períodos de tempo.
Cannabis e canabinóides
Os canabinóides são substâncias com efeitos analgésicos,
apresentando, por isso, interesse terapêutico, nomeadamente no que
concerne à supressão de dores insensíveis aos opiáceos (tais como a
dor neuropática e certas dores das fases terminais do cancro).
3. Canabinóides sintéticos
Cannabis
A cannabis é consumida pelos seus efeitos psicotrópicos, analgésicos e
orexinérgicos (estimuladores do apetite), os quais se devem, sobretudo,
à acção do fitocanabinóide delta-9-tetra-hidrocanabinol ( 9-THC). Em
termos genéricos, existem três formas principais de consumo de
cannabis, nomeadamente:
Efeitos centrais
Ao nível do sistema nervoso central, a cannabis induz uma sensação de
relaxamento e bem-estar, que os utilizadores descrevem como sendo
“semelhante à causada pelo etanol, mas sem a componente da
agressividade”. Para além disso, a cannabis tem efeitos analgésicos,
sendo que o 9-THC potencia a acção analgésica dos opiáceos.
Efeitos periféricos
Ao nível periférico, a cannabis induz taquicardia e vasodilatação,
sobretudo ao nível da esclerótica e conjuntiva (o que confere o aspecto
característico de “olhos vermelhos”). Para além disso, a cannabis
promove uma diminuição da pressão intra-ocular, de tal modo que
alguns canabinóides sintéticos estão a ser desenvolvidos com fins
oftalmológicos.
Os endocanabinóides
endógenos incluem a
anandamida e o 2-
araquidonoglicerol
(2-AG). Como referido
anteriormente, estas
substâncias apenas
são produzidas quando
estritamente
necessário,
nomeadamente
quando há uma
activação
excessiva das vias
glutamatérgicas.
Assim, em termos
moleculares, aquando
de uma grande
activação de vias
glutamatérgicas,
ocorre um aumento
dos níveis de cálcio.
Por conseguinte, esse
aumento promove a
síntese de
endocanabinóides, na
qual participam muitas
enzimas intervenientes
na síntese de
Fitocanabinóides
Nabilone
Rimonabant
O rimonabant (SR141716) é um agonista inverso dos receptores Cb1,
que foi desenvolvido como supressor do apetite (note-se que a cannabis
aumenta o apetite). Os ensaios clínicos do rimonabant mostraram
resultados muito positivos, nomeadamente:
3. JWH-018
4. JWH-250
Etanol
O etanol é um álcool com baixo peso molecular e altamente
hidrossolúvel, que se difunde rapidamente através das membranas
biológicas (numa hora, cerca de 95% do etanol sofre absorção). De
facto, o tempo de esvaziamento gástrico constitui o principal factor
limitante da velocidade de absorção, de tal modo que esta diminui
aquando da presença de alimentos, mas aumenta em jejum ou em
situações de gastrectomias extensas.
Acções agudas
No que concerne às suas acções agudas, em elevadas doses (cerca de
400 mg/100 mL), o etanol pode induzir sedação (que pode levar à
génese de coma). De facto, concentrações próximas de 600 mg/100 mL
provocam depressão respiratória – este fenómeno é o principal
responsável pela mortalidade associada à intoxicação aguda.
Acções crónicas
Em termos crónicos, o etanol pode induzir dependência física. Apesar
da grande variabilidade individual existente, sabe-se que o tempo
mínimo de consumo elevado de bebidas alcoólicas para que se instale
dependência física ronda os dois anos, embora o mais normal seja a
instalação de dependência em cinco anos. Para além disso, o consumo
crónico de etanol pode induzir psíquica e tolerância. De facto, a
supressão ou diminuição abrupta do consumo de álcool pode levar à
génese de síndroma de abstinência ou, em casos mais graves, delirium
tremens e crises convulsivas.
Acções cardiovasculares
Outros efeitos
Dissulfiram
O dissulfiram é um adjuvante farmacológico do tratamento da
toxicodependência alcoólica, que actua por inibição da desidrogénase
aldeídica. Ao ser ingerido em simultâneo com bebidas alcoólicas, induz
uma reacção muito desagradável (caracterizada pela presença de rubor
facial, hipotensão, náusea e vómitos) associada a um hálito
desagradável a ácido acético. Deste modo, a ingestão de dissulfiram
leva a que os alcoólicos passem a sentir repulsa pela ingestão de
álcool. De referir que, o efeito do dissulfiram verifica-se, mesmo na
presença de quantidades muito reduzidas de álcool.
Naltrexona
A naltrexona é um antagonista selectivo dos receptores opiáceos,
passível de ser administrado por via oral e com uma longa duração de
acção. Sabe-se que este fármaco pode ser utilizado no tratamento da
toxicodependência alcoólica, pois reduz o desejo de beber por parte dos
alcoólicos crónicos e reduz os efeitos psicológicos euforizantes do
etanol. Isto sugere que algumas acções centrais do etanol são
mediadas por peptídeos do sistema opiáceo endógeno.
Acamprosato
O acamprosato é um adjuvante farmacológico do tratamento da
toxicodependência alcoólica, que reduz o desejo de beber e reduz a
frequência de recaídas. Em termos químicos, este fármaco é o sal de
cálcio da N-acetil-homotaurina, sendo estruturalmente similar ao GABA.
Todavia, este fármaco não partilha das acções farmacológicas do GABA
nem das benzodiazepinas. Por outro lado, o acamprosato actua sobre o
receptor NMDA do glutamato, podendo aumentar ou diminuir a
actividade do receptor NMDA. Contudo, isso não explica o mecanismo
de acção deste fármaco, na medida em que a activação do receptor
NMDA tem diferentes efeitos sobre as acções do etanol (enquanto
algumas são potenciadas, outras são inibidas). Assim, desconhece-se
ainda o mecanismo de acção do acamprosato.
Estrogénios, progestagénios e
androgénios
Estrogénios
Acções farmacológicas
Os estrogénios são responsáveis pelo desenvolvimento e maturação
do aparelho genital feminino e caracteres sexuais secundários,
mantendo-os num adequado estado de trofismo na vida adulta.
Uso terapêutico
Como referido anteriormente, os estrogénios devem ser administrados
em dose mínima eficaz, sendo que esse valor varia consoante as
mulheres – uma mulher menopáusica com ovários intactos necessita de
doses menores, por comparação com uma mulher menopáusica que
tenha sido submetida a ovariectomia. Por outro lado, uma mulher com
útero intacto deverá fazer ciclos de progestagénios para reduzir o risco
de cancro do endométrio, algo que não será necessário numa mulher
submetida a histerectomia.
• Hipogonadismo primário
• Osteoporose pós-menopausa
• Dores mamárias
Contra-indicações
Os estrogénios não devem ser administrados a doentes com suspeita
de tumores hormono-dependentes e, por conseguinte, estão contra-
indicados em situações de menometrorragias não diagnosticadas. De
facto, isso ocorre porque as menometrorragias podem ser um sinal de
carcinoma do endométrio, o qual pode ser mascarado pela
administração de estrogénios.
Progestagénios
Efeitos farmacológicos
Ao nível do útero, a progesterona diminui o tónus do miométrio e
promove a fase secretora do ciclo endometrial. Por outro lado, a
progesterona promove a formação de um muco viscoso cervical, que é
desfavorável à penetração dos espermatozóides. Já ao nível da mama,
a progesterona é responsável pelo desenvolvimento do aparelho
secretor.
Uso terapêutico
• Contracepção oral
Progestagénios sintéticos
Levonorgestrel
Contraceptivos orais
Método sequencial
Método polifásico
Minipílula
• Levonorgestrel
Mecanismo de acção
Os contraceptivos orais podem ter várias formas de actuação,
nomeadamente:
Acções adversas:
• Ligeiro aumento do risco de mortalidade/morbilidade por
tromboembolismo
• Vertigens e cefaleias
Anti-estrogénios
O grupo dos anti-estrogénios inclui os antagonistas/agonistas parciais
dos receptores estrogénicos, os inibidores da síntese dos estrogénios
(inibidores da aromatase) e os androgénios (que apresentam acções
opostas às dos estrogénios).
Tamoxifeno
Raloxifeno
Tibolona
Inibidores da aromatase
A aromatase é a enzima responsável pela conversão dos esteróides
androgénicos em estrogénios. Ora, a inibição da aromatase resulta na
inibição da génese de estrogénios, o que acarreta efeitos benéficos no
tratamento do cancro da mama. De facto, os inibidores da aromatase
actuam, por vezes, em casos resistentes aos antagonistas dos
receptores dos estrogénios. Assim, estas duas classes de fármaco
apresentam um efeito sinérgico na terapêutica do cancro da mama.
Anastrozole
Análogos da GnRH
Estes compostos são bastante estáveis e, quando administrados
continuamente, induzem uma estimulação prolongada dos receptores
hipofisários da GnRH, levando à génese de castração fisiológica.
Anti-progestagénios
Os anti-progestagénios são compostos utilizados como contraceptivos
e como fármacos abortivos. De entre esses fármacos, destaque para a
mifepristona.
Mifepristona
A mifepristona é um antagonista competitivo da progesterona, que
apresenta uma elevada afinidade para os receptores progestagénicos.
Este fármaco é um “19-noresteróide”, que apresenta uma longa semi-
vida de 20 horas (pois liga-se amplamente às proteínas plasmáticas,
nomeadamente à albumina e à glicoproteína ácida α1).
Indutores da ovulação
Existem vários fármacos utilizados para induzir a ovulação, sendo que
alguns destes pertencem ao grupo das gonadotrofinas. O clomifeno é
um importante indutor da ovulação, apresentando, simultaneamente,
acção agonista parcial dos receptores dos estrogénios.
Clomifeno
O clomifeno é um antagonista parcial dos receptores dos estrogénios,
que actua como indutor da ovulação. De facto, este fármaco bloqueia os
receptores dos estrogénios do sistema hipotálamo-hipófise,
promovendo a secreção de gonadotropinas e, consequentemente, a
indução da ovulação. Assim, o clomifeno revela-se útil como indutor da
ovulação em casos de infertilidade (que não sejam de causa ovárica ou
hipofisária).
Acções farmacológicas
A testosterona é responsável pelo desenvolvimento embrionário do
aparelho genital masculino, bem como pela sua maturação pubertária e
pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais masculinos. Para além
disso, a testosterona é importante para a normal espermatogénese,
sendo capaz de suprimir a secreção de gonadotropinas em elevadas
doses.
Uso terapêutico
Na prática clínica, os androgénios são utilizados em várias situações,
nomeadamente:
Acções adversas
As acções adversas dos androgénios incluem:
• Virilização e hemorragia em indivíduos do sexo feminino (devido a
efeitos progestagénicos residuais)
Contra-indicações e precauções
• Indivíduos com carcinoma da próstata ou da mama
• Crianças
Androgénios sintéticos
Nandrolona (19-nortestosterona)
A nandrolona é um androgénio que inibe a reabsorção óssea,
promovendo temporariamente a formação a óssea. Assim, este fármaco
aumenta o conteúdo mineral ósseo, bem como o balanço de cálcio e
massa muscular. Todavia, este fármaco não está aconselhado para
mulheres pós-menopausa, na medida em que induz virilização
(nomeadamente hirsutismo). A nandrolona pode ser utilizada como
doping em desportistas.
Análogos da GnRH
Quando administrados continuamente, estes compostos induzem uma
estimulação prolongada dos receptores hipofisários da GnRH, levando à
génese de castração fisiológica. Assim, têm sido utilizados análogos da
GnRH no tratamento de tumores hormono-dependentes (como o cancro
da próstata), na endometriose, nos ovários policísticos e na puberdade
precoce.
Anti-androgénios
Existem diversos compostos com acção anti-androgénica, os quais
podem ser utilizados na contracepção, bem como na terapêutica de
tumores hormono-dependentes (tais como o cancro da próstata).
Flutamida
A flutamida é um antagonista competitivo dos androgénios, que tem
sido utilizado no tratamento do carcinoma da próstata. A sua
administração em conjunto com análogos do GnRH poder-se-á revelar
benéfica. Para além disso, a administração deste fármaco causa
algumas melhorias na maior parte dos pacientes com carcinoma
prostático que não foram alvo de terapia endócrina prévia. A flutamida
pode ainda revelar-se benéfica para a reversão do efeito do excesso de
androgénios em indivíduos do sexo feminino.
Bicalutamida
A bicalutamida é um anti-androgénio potente, que pode ser
administrado por via oral, como uma única dose diária. Este fármaco é
passível de ser administrado a pacientes com carcinoma metastático da
próstata, sendo bem tolerado. A biclutamida dever ser utilizada em
associação com um análogo do GnRH, apresentando menos efeitos
gastrointestinais laterais que a flutamida.
Ciproterona
A ciproterona e o acetato de ciproterona são anti-androgénios
eficazes, que inibem a acção dos androgénios nos seus órgãos-alvo. A
forma acetato apresenta um efeito progestativo significativo, que
suprime o aumento de LH e FSH, levando a um efeito anti-androgénico
mais eficaz.
Finasteride
O finasteride é um inibidor da 5α-redútase do tipo esteróide, sendo
activo por via oral e induzindo uma redução dos níveis de di-
hidrotestosterona. Apresenta um período de semi-vida de cerca de oito
horas, o qual se prolonga em indivíduos mais velhos. Cerca de metade
da sua dose é metabolizada, enquanto mais de metade é excretada nas
fezes.
Dutasteride
O dutasteride é um esteróide similar ao finasteride, que também é
activo por via oral. Todavia, o dutasteride apresenta um menor tempo de
latência e um período de semi-vida muito superior, quando comparado
com o finasteride. Tal como o finasteride, o dutasteride não deve ser
usado em mulheres ou crianças.
Hormonas tiroideias
Acções farmacológicas
As hormonas tiroideias são essenciais para assegurar um correcto
crescimento e desenvolvimento tecidular. Para além disso, estas
hormonas são necessárias para a manutenção e optimização da função
tecidular. Assim, estas hormonas desempenham inúmeras acções, as
quais estão sintetizadas na seguinte tabela:
Insensibilidade à insulina
Regulação da temperatura corporal (aumento da
produção de calor)
Hipotiroidismo
O hipotiroidismo pode ter origem congénita ou adquirida, sendo que a
tiroidite de Hashimoto constitui a causa mais frequente de
hipotiroidismo adquirido – esta patologia caracteriza-se pela destruição
auto-imune das células foliculares da tiróide. Para além disso, o
hipotiroidismo adquirido pode resultar da ablação cirúrgica da tiróide ou
da sua destruição pelas radiações utilizadas na terapia da doença de
Graves.
Hipertiroidismo
O hipertiroidismo manifesta-se por um aumento da função tiroideia,
podendo ter várias causas:
Farmacocinética
A levotireoxina é absorvida de modo incompleto e variável por via oral.
Sabe-se que a absorção de levotireoxina é perturbada pela presença de
alimentos, carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio, sucralfato,
colestiramina, ferro e soja.
Uso terapêutico
Hipotiroidismo
Interacções medicamentosas
As hormonas tiroideias aumentam o catabolismo dos factores de
coagulação dependentes da vitamina K e, por conseguinte, potenciam a
acção pró-hemorrágica da varfarina. Assim, o uso de fármacos tiroideus
de síntese obriga a uma redução das doses administradas de anti-
coagulantes orais.
Acções adversas
O aumento excessivo da função tiroideia constitui a principal acção
adversa resultante do uso da tiroxina. Assim, os fármacos tiroideus de
síntese podem induzir hipertiroidismo sintomático ou subclínico, com
risco de perda óssea (sobretudo em mulheres pós-menopausa) e de
taquiarritmias auriculares (sobretudo em idosos).
Anti-tiroideus de síntese
As tionamidas (anti-tiroideus de síntese) englobam um conjunto de
fármacos com grupo tiocarbamida (S-C-N), constituindo os fármacos
mais utilizados no tratamento do hipertiroidismo. De entre os fármacos
deste grupo, destaque para o propiltiouracilo, metamizol e
carbamizol (que constitui um pró-fármaco do metamizol).
Mecanismo de acção
Farmacocinética
Uso terapêutico
Inibidores iónicos
Os inibidores iónicos são aniões monovalentes que inibem
competitivamente a captação de iodeto pela glândula tiróide. A maior
parte destas substâncias não tem utilização clínica, sendo
preferencialmente utilizada com fins investigacionais. O tiocianato
(SCN-) constitui uma excepção notável, na medida em que,
contrariamente aos restantes inibidores iónicos, também inibe a
organificação do iodo.
Iodetos
Iodeto inorgânico
Uso terapêutico
Acções adversas
Tretinoína
A tretinoína (ácido all-trans-retinóico ou vitamina A ácida) é um
retinóide não-aromático de origem natural, que resulta da oxidação
sequencial do all-trans-retinol (vitamina A). Esta substância é agonista
dos três subtipos de receptor RAR, sendo utilizada no tratamento do
acne ligeiro a moderado.
Isotretinoína
A isotretinoína (ácido 13-cis-retinóico) é um retinóide sintético de
primeira geração, obtido por isomerização da tretinoína. Tal como a
tretinoína, a isotretinoína é utilizada no tratamento do acne, sendo
administrada por via tópica para o tratamento do acne ligeiro a
moderado, e por via oral para o tratamento de formas graves.
Por outro lado, quando administrada por via oral, a isotretinoína possui
uma baixa biodisponibilidade (a qual aumenta com as refeições) e sofre
um intenso efeito de primeira passagem. Este fármaco apresenta uma
semi-vida plasmática de 20 horas e uma capacidade de ligação às
proteínas plasmáticas superior a 99%. Ao nível hepático, a isotretinoína
sofre biotransformação em 4-oxo-isotretinoína e em tretinoína (que
constitui o metabolito activo da isotretinoína) – ambos os metabolitos
são excretados por via renal e fecal. De referir que a isotretinoína
constitui um inibidor de algumas oxídases microssomias hepáticas e
cutâneas.
• Ciclosporina A (dislipidemia)
• Carbamazepina
• Anti-inflamatórios orais
Alitretinoína
A alitretinoína é um derivado do ácido 9-cis-retinóico, usado por via
tópica para o tratamento das lesões cutâneas de pacientes com
sarcoma de Kaposi. Contudo, podem se gerar reacções localizadas
caracterizadas por edema, eritema intenso e vesiculação, que podem
obrigar à descontinuação da terapia. De referir que os pacientes que
usam alitretinoína não devem simultaneamente usar DEET, um
componente comum de repelentes de insectos.
Acitretina
A acitretina é o principal metabolito do etretinato, sendo ambos os
fármacos utilizados na terapêutica da psoríase pustulosa e
eritrodérmica.
• Metotrexato (hepatotoxicidade)
• Vitamina A e outros retinóides e anti-retrovíricos (toxicidade muco-
cutânea)
Adapaleno
O adapaleno é um retinóide sintético de terceira geração, derivado do
ácido aromático naftóico e com afinidade selectiva para os receptores
RARβ e γ. Tal como a tretinoína e isotretinoína, o adapaleno é aplicado
sob a forma tópica para o tratamento do acne ligeiro a moderado.
Contudo, contrariamente à tretinoína, o adapaleno não se degrada com
à exposição à luz ou na presença de radicais de oxigénio.
Tazaroteno
O tazaroteno é um retinóide sintético de terceira geração, que é
utlizado no tratamento do acne e da psoríase em placas que não
excede os 20% da área corporal. Esta substância é um pró-fármaco – o
ácido tazaroténico constitui o seu metabolito activo, ligando-se a todas
as classes de receptores do ácido retinóico (embora tenha maior
afinidade para os receptores RARβ, menor afinidade para os receptores
RARα, e afinidade intermédia para os receptores RARγ).
Bexaroteno
O bexaroteno é um retinóide pertencente à classe dos activadores dos
receptores dos retinóides do tipo RXR. Este fármaco pode ser utilizado
topicamente ou por via oral para o tratamento de linfoma cutâneo das
células T. Contudo, este fármaco induz importantes efeitos
teratogénicos (quer quando aplicado sob a forma sistémica como
administrado por via oral), de tal modo que as mulheres que recebem
este fármaco deverão evitar a gravidez por um período mínimo de um
mês após descontinuação. De referir que o bexaroteno pode aumentar
os níveis de triacilglicerídeos e colesterol.
Vitamina D
A vitamina D é um composto esteróide produzido na pele a partir do 7-
desidrocolesterol, por influência da radiação ultra-violeta. A vitamina D
encontra-se ainda presente em certos alimentos, de tal modo que tanto
o ergocalciferol (vitamina D2) como o colecalciferol (vitamina D3)
estão presentes na dieta. O ergocalciferol difere do colecalciferol, pelo
facto de conter uma dupla ligação e um grupo metilo adicional na sua
cadeia lateral. Todavia, esta diferença não parece ter grande significado
fisiológico (apesar de o ergocalciferol ser menos potente).
Vantagens Desvantagens
*Menor irritação local que o *Interferência com o
Calcitriol calcipotriol metabolismo do
(pode ser aplicado na
face) cálcio
*Causa dermatite
Calcipotriol *Menor interferência com o irritativa na face com
metabolismo do cálcio. grande frequência
* Sinergismo com outras *Incompatibilidade
terapêuticas química com o ácido
anti-psoriáticas salicílico
*Menor irritação local que o
Taclcitol calcipotriol
(pode ser aplicado na
face)
*Eficácia similar à do *Efeito irritativo local
Mexacalcitol calcipotriol similar ao do
calcipotriol
Anti-diabéticos
A diabetes mellitus caracteriza-se por um aumento da glicemia e por
uma inadequada/ausente secreção pancreática de insulina.
Actualmente, a diabetes mellitus é classificada em quatro tipos, os quais
serão descritos individualmente.
Insulina
A insulina é uma pequena proteína constituída por 51 aminoácidos
dispostos em duas cadeias (A e B) unidas por pontes dissulfito. A
insulina é formada a partir do processamento da pró-insulina no
complexo de Golgi. De facto, a pró-insulina é uma molécula peptídica de
cadeia única que, após ser processada, origina insulina e peptídeo C.
A insulina é armazenada em grânulos sitos nas células β. A insulina e o
peptídeo C são secretados em doses equimolares – a secreção dessas
substâncias acompanha-se pela secreção de uma pequena dose de
pró-insulina não-processada. Contrariamente à pró-insulina, que pode
apresentar modesta acção hipoglicémica, o peptídeo C carece de
qualquer função fisiológica.
Secreção de insulina
As células pancreáticas β não-estimuladas libertam quantidades
reduzidas de insulina. Por oposição, quando estimuladas (por exemplo,
pela glicose), estas células libertam doses muito superiores de insulina.
Para além da glicose, várias outras substâncias podem actuar como
estimulantes da secreção da insulina, nomeadamente:
• Estímulos vagais
níveis
cronicamente
elevados de
glicose e baixos
de ácidos gordos
podem inibir a
secreção de
insulina.
Em termos
moleculares, a
hiperglicemia
resulta na
activação de vias
oxidativas da
glicose, que
induzem um
aumento dos
níveis
intracelulares de
ATP. Por sua vez,
esta molécula
fecha canais de
potássio
dependentes de
ATP – desta
acção resulta
Degradação de insulina
A degradação da insulina é maioritariamente operada pelo fígado e rim,
sendo que de entre estes dois órgãos, o fígado desempenha um papel
quantitativamente mais importante. Contudo, nos diabéticos que
recebem injecções de insulina, esta tendência inverte-se e o rim passa
a desempenhar um papel mais preponderante. De referir que o período
de semi-vida da insulina em circulação ronda os 3-5 minutos.
Insulina lispro
Insulina glulisina
Insulina glargina
Insulina determir
Misturas de insulinas
Uma vez que as insulinas NPH de acção intermédia necessitam de
várias horas para atingir níveis terapêuticos adequados, o seu uso deve
ser acompanhado por suplementos de insulinas de acção rápida ou
muito rápida, os quais são administrados antes das refeições. Assim,
estes vários tipos de insulina são misturados nas mesmas injecções.
Alergia à insulina
• Biguanidas
• Tiazolidinedionas
• Inibidores da α-glicosídase
Secretagogos da insulina
Sulfonilureias
Gliburida
Glipizida
Glimepirida
Gliclazida
Derivados da D-fenilalanina
Biguanidas
Mecanismos de acção
Metabolismo e excreção
Uso clínico
Toxicidade
Tiazolidinedionas
As tiazolidinedionas (Tzds) actuam num sentido de diminuir a
resistência à insulina. As Tzds são ligandos do receptor PPAR-γ –
estes receptores pertencem à superfamília dos receptores nucleares,
encontrando-se expressos ao nível do músculo, fígado e tecido adiposo.
Os receptores PPAR-γ modulam a expressão de genes envolvidos no
metabolismo lipídico e glicídico, bem como nas vias de transdução de
sinal da insulina e da diferenciação adipocitária.
Pioglitazona
A pioglitazona pode ser administrada uma vez por dia, podendo ser
administrada isoladamente ou em combinação com a metformina,
sulfonilureias e insulina. Quando comparada com a rosiglitazona, a
pioglitazona reduz os níveis de triacilglicerídeos de modo mais eficaz,
provavelmente por actuar também nos receptores PPAR-α. Para além
disso, este fármaco reduz a mortalidade e o risco de desenvolvimento
de eventos macrovasculares (nomeadamente enfarte agudo do
miocárdio e AVC).
Inibidores da α-glicosídase
As α-glicosídases são enzimas intestinais responsáveis pela hidrólise
de oligossacarídeos. Ora, ao inibirem as α-glicosídases intestinais, a
acarbose e o miglitol atrasam a absorção de amido e dissacarídeos,
reduzindo os picos hiperglicémicos pós-prandiais.
Agonistas do GLP-1
Exanitídeo
Liraglutídeo
Sitagliptina
Saxagliptina
Vidagliptina
Glicagina
A glicagina é um peptídeo de 29 aminoácidos sintetizado pelas células
α dos ilhéus de Langerhans. A glicagina é formada por clivagem
proteolítica da pró-glicagina – um dos seus percursores constitui a
glicentina, um peptídeo de 69 aminoácidos que contém a sequência de
glicagina entreposta entre duas extensões peptídicas.
Usos clínicos
• Hipoglicemia grave: A glicagina é utilizada para o tratamento de
reacções hipoglicémicas graves em pacientes inconscientes com
diabetes I, nos quais a administração oral ou intra-venosa de
glicose não é possível.
A integridade do anel β-
lactâmico é fundamental
para que os β-
lactâmicos possam
exercer a sua actividade
antibiótica. Assim, seja
qual for o antibiótico β-
lactâmico considerado, a
abertura do anel β-
lactâmico (que pode ser
mediada, por exemplo,
por acção das β-
lactamases) anula
completamente a sua
acção antibiótica.
Penicilinas
As penicilinas são antibióticos β-lactâmicos que contêm ácido 6-
aminopenicilânico na sua estrutura química - este ácido resulta da
fusão do anel β-lactâmico com um anel tiazolidínico.
Penicilinas naturais
Benzilpenicilina
A benzilpenicilina foi a primeira penicilina a ser introduzida na prática
clínica. Este antibiótico hidrolisa-se facilmente em meio ácido, motivo
pelo qual não deve ser administrado por via oral. Para além disso, a
benzilpenicilina é muito sensível à acção inactivadora das β-lactamases.
Espectro anti-bacteriano
Farmacocinética
Uso terapêutico
Infecções estreptocócicas
Escarlatina e erisipela
Pneumonia “estreptocócica”
Infecções pneumocócicas
Infecções meningocócicas
Sífilis
Outras infecções
Uso profilático
A benzilpenicilina é eficazmente utilizada na profilaxia de várias situações,
nomeadamente:
1. Infecções estreptocócicas
Fenoximetilpenicilina
A fenoximetilpenicilina é uma penicilina natural, que difere da
benzilpenicilina por ser mais resistente à inactivação pelos ácidos.
Assim, a fenoximetilpenicilina pode ser administrada por via oral,
apresentando uma biodisponibilidade de 60% e uma capacidade de
ligação às proteínas plasmáticas de 55%. A distribuição no organismo e
a excreção deste fármaco são similares às descritas para a
benzilpenicilina.
Amoxicilina
A amoxicilina apresenta maior biodisponibilidade oral que as restantes
aminopenicilinas e um espectro de acção sobreponível. Assim, este é
considerado o antibiótico-padrão das aminopenicilinas.
Espectro bacteriano
Farmacocinética
Uso terapêutico
Ampicilina
A ampicilina é em tudo similar à amoxicilina, excepto no facto de a
ampicilina ser muito pior absorvida pelo tracto digestivo (a absorção oral
da ampicilina é de 30%, motivo pelo qual não se procede à sua
administração por via oral). Todavia, quando esterificada pelo
sulbactam, a ampicilina passa a ser bem absorvida por via oral.
Bacampicilina
A bacampicilina é um éster da ampicilina, que é utilizado como um pró-
fármaco para melhorar a biodisponibilidade da ampicilina. Assim,
aquando da sua absorção e da sua primeira passagem pelo fígado, a
bacampicilina sofre desterificação, libertando ampicilina para o sangue.
Assim, a administração de bacampicilina condiciona uma
biodisponibilidade oral de ampicilina de 85%. Como é óbvio, as
indicações e a farmacocinética da bacampicilina são similares às da
ampicilina e da amoxicilina. De referir que, a bacampicilina não pode ser
administrada por via parentérica.
Piperacilina
Espectro anti-bacteriano
Farmacocinética
A piperacilina não é bem absorvida por via oral, de tal modo que deve
ser administrada por via intra-muscular ou intra-venosa. De entre estas
duas vias, a intra-venosa é aquela que permite alcançar concentrações
mais elevadas, mas um período de semi-vida inferior.
Uso terapêutico
Amidinopenicilinas
As amidinopenicilinas são apenas activas contra bactérias gram-
negativas, algo que se pode dever ao facto de estas penicilinas se
ligarem apenas à PBP2.
Mecanismo de acção
As cefalosporinas actuam, sobretudo, por inibição do último passo da
síntese da parede bacteriana. De facto, estes antibióticos inibem a
transpeptídase bacteriana responsável pelo estabelecimento de uma
ponte peptídica entre duas cadeias de peptidoglicanos.
Cefalosporinas Cefalosporinas
de de
primeira segunda
geração geração
Cefalotina Cefamandol
Cefaloridina Cefuroxima
Cefalexina Cefaclor
Cefazolina Cefonide
Cefapirina Cefoxitima
Cefradina Cefmetazol
Cefradoxil Cefotetan
Ceprozil
Loracarbef
Cefalosporinas Cefosporinas
de de
terceira
geração quarta geração
Cefotaxima Cefepima
Cefixima
Cefibuteno
Cefpodoxima
Cefoperazona
Moxalactam
Ceftazidima
Ceftizoxima
Cefatriazona
Cefsulodina
Apesar disso, as cefalosporinas de primeira geração activas por via oral
podem ser utilizadas no tratamento de infecções urinárias, de lesões
estafilocócicas não-graves, ou de infecções polimicrobianas
relativamente benignas (tais como celulites ou abcessos de tecidos
moles).
Para além disso, alguns destes antibióticos são resistentes aos ácidos,
podendo ser administrados por via oral. Entre os fármacos que verificam
esse parâmetro, destaque para o cefaclor, cefuroxima axetil, cefprozil e
loracarbef.
o Bacteroides fragilis.
As cefalosporinas de segunda geração também são eficazes contra as
bactérias gram-positivas, embora sejam menos eficazes que as
cefalosporinas de primeira geração.
Farmacocinética
Na sua maioria,
as cefalosporinas
não são
absorvidas por
via oral. Todavia,
existem várias
excepções, nas
quais se incluem
a cefalexina, a
cefradina e o
cefadroxil (nas
cefalosporinas de
primeira
geração), o
cefaclor, a
cefuroxima axetil,
o cefproxil e o
loracarbef (nas
cefalosporinas de
Reacções alérgicas
As cefalosporinas são relativamente pouco tóxicas, de tal modo que os
seus efeitos laterais mais comuns cursam com o desenvolvimento de
fenómenos de hipersensibilidade. Na maior parte das situações, estes
fenómenos manifestam-se através de reacções cutâneas discretas,
embora em certos casos possa haver génese de dermatite esfoliativa.
De referir que o risco de hipersensibilidade parece ser o mesmo para
todas as cefalosporinas.
Toxicidade
A cefaloridina é nefrotóxica, podendo originar nefrite intersticial e
necrose tubular aguda. Por oposição, quando administrada
isoladamente, a cefalotina não apresenta grande toxicidade renal.
Todavia, a cefalotina aumenta a nefrotoxicidade dos aminoglicosídeos.
Super-infecções
As cefalosporinas (sobretudo as de terceira geração) podem originar
diarreia por super-infecção. De entre os agentes que mais
frequentemente causam este tipo de infecções, destaque para os
Staphylococcus meticilino-resistentes, os enterococos e os fungos.
Resumo terapêutico
Em suma, à medida que aumenta a geração das cefalosporinas, diminui
a actividade contra bactérias gram-positivas e aumenta a actividade
contra gram-negativas (as cefalosporinas de quarta geração constituem
uma excepção, na medida em que apresentam simultaneamente boa
actividade contra bactérias gram-positivas e gram-negativas).
Assim, caso optemos por utilizar uma cefalosporina, esta deverá ser de
primeira geração, caso o agente bacteriano seja gram-positivo ou
anaeróbio. Por oposição, caso o agente bacteriano seja gram-negativo,
devemos optar pela ceftizoxima ou pela cefotaxima, excepto se o
microorganismo em questão for uma Pseudomonas, uma Enterobacter,
ou o B. fragilis. Na presença de uma Pseudomonas, devemos escolher
entre a ceftazidima ou a cefepima, enquanto a presença de uma
Enterobacter obriga a escolher a cefepima. Por fim,
na presença
de um B.
fragilis,
devemos
optar entre a
cefoxitina ou
o cefotetan.
De referir que
a
cefoperazona
pode se
revelar
vantajosa em
situações de
infecção biliar.
Outros β-lactâmicos
Monobactamos
Os monobactamos são compostos β-lactâmicos monocíclicos e
altamente resistentes às β-lactamases bacterianas. Para além do seu
núcleo, estes compostos contêm cadeias laterais, que lhes conferem
maior potência anti-bacteriana, maior resistência às β-lactamases e
melhores características farmacocinéticas.
Aztreonam
Espectro anti-bacteriano
Farmacocinética
O aztreonam é muito mal absorvido por via oral, de tal modo que este
fármaco deve ser administrado por via intra-venosa ou por via intra-
muscular. De entre estas duas vias, a intra-venosa é aquela que permite
alcançar um período de semi-vida superior.
Uso terapêutico
Tienamicinas (carbapenemas)
A tienamicina é um antibiótico produzido pelo Streptomyces cattleya.
Em termos químicos, este antibiótico é uma carbapenema, na medida
em que apresenta um anel β-lactâmico fundido com um anel insaturado
de cinco membros (contendo um carbono em vez de um enxofre).
Imipenema
Espectro antibiótico
Farmacocinética
Tanto a imipenema como a cilastatina não são absorvidas por via oral,
motivo pelo qual deverão ser administradas por via intra-venosa ou
intra-muscular. De entre estas duas vias, a intra-venosa é aquela que
permite atingir concentrações plasmáticas mais elevadas, mas um
período de semi-vida inferior. De referir que, após injecção intra-
muscular, apenas 75% da imipenema é absorvida, enquanto a
cilastatina é absorvida quase na totalidade.
Uso terapêutico
Meropenema
A meropenema é deveras similar à imipenema, embora não seja
susceptível à acção da desidropeptídase I, motivo pelo qual não precisa
de ser associada a qualquer inibidor.
Ácido clavulânico
O ácido clavulânico é uma substância produzida pelo Streptomyces
clavuligerus, que se liga irreversivelmente à β-lactamase produzida por
vários microorganismos gram-positivos e gram-negativos.
Em termos farmacocinéticos, este inibidor é bem absorvido por via oral.
Assim, o ácido clavulânico tanto pode ser administrado por via oral,
como por via parentérica. Quando administrado em combinação com a
amoxicilina, o ácido clavulânico deve ser administrado por via oral. Por
oposição, quando administrado em associação com a ticarcilina, este
inibidor deve ser administrado por via parentérica.
Sulbactam
O sulbactam é um inibidor das β-lactamases estruturalmente similar ao
ácido clavulânico. Este inibidor pode ser administrado por via oral ou
parentérica, juntamente com o antibiótico em questão. De referir que
existem preparações comerciais de sulbactam associado com
ampicilina.
Tazobactam
O tazobactam é um inibidor das β-lactamases, frequentemente
utilizado em associação com a piperacilina (sendo, para isso,
administrado por via parentérica). A associação tazobactam-piperacilina
não aumenta a eficácia da piperacilina contra a Pseudomonas
aeruginosa e, de facto, existem situações em que a piperacilina sozinha
é mais eficaz no tratamento de infecções por esta bactéria (isto
acontece porque nas associações tazobactam-piperacilina, a dose de
piperacilina é menor).
Mecanismo de acção
30S do ribossoma,
impedindo a ligação do
tRNA ao receptor
aminoacílico ribossómico e,
consequentemente, o
crescimento da cadeia
peptídica. Para além disso,
a tetraciclina forma quelatos
com os iões metálicos das bactérias, o que também contribui para a sua
acção bacteriostática, embora potencie a ocorrência de efeitos adversos
aquando da co-administração com o leite.
Para entrarem no interior das bactérias gram-negativas, as tetraciclinas
deverão atravessar duas membranas celulares. A travessia da
membrana externa pode ser feita por difusão simples (processo levado
a cabo pela minociclina e doxiciclina, que apresentam elevada
lipossolubilidade) ou através de poros hidrofílicos localizados na
proteína 1A. Por oposição, a travessia da membrana interna é feita por
transporte activo.
Espectro anti-bacteriano
Em termos gerais, as tetraciclinas apresentam um mesmo espectro de
acção-antibacteriano, de tal modo que as suas diferenças resultam,
sobretudo, de divergências nas características farmacocinéticas. No
cômputo geral, a doxiciclina é a tetraciclina mais activa.
Resistência
As espécies Proteus,
Providentia, Pseudomonas
aeruginosa e Serratia
marcescens são naturalmente
resistentes à acção das
tetraciclinas. Todavia, existem
várias outras bactérias que,
embora originalmente
sensíveis, já desenvolveram
resistência à acção destes
antibióticos. De entre estes
agentes, destaque para os
Staphylococcus, enterococos,
pneumococos, gonococos e
algumas enterobacteriáceas
(tais como a Shigella e a
Salmonella). A aquisição
destas resistências não se
deve apenas ao uso
terapêutico frequente das
tetraciclinas, mas também ao
consumo de carne de animais
tratados com estes
antibióticos.
Farmacocinética
Apesar de serem absorvidas de modo incompleto por parte do sistema
digestivo, as tetraciclinas podem se administradas por via oral. De facto,
a sua taxa de absorção é suficiente para que, após administração por
via oral, atinjam-se concentrações plasmáticas eficazes destes
antibióticos.
Acções adversas
Ossos e dentes
As tetraciclinas são sequestradas nas zonas de crescimento ósseo e na
dentina, o que pode afectar o crescimento e provocar maior
vulnerabilidade dentária às cáries, hipoplasia do esmalte dentário e uma
coloração acastanhada dos dentes. Deste modo, o uso de tetraciclinas
encontra-se contra-indicado para grávidas e crianças até aos nove anos
(fim da 2ª dentição).
Fototoxicidade
Ao depositar-se na pele, a tetraciclina despoleta fototoxicidade, que
pode originar dermatose pruriginosa e edematosa. Deste modo,
aquando do tratamento com tetraciclinas, deve ser evitada a exposição
solar. De referir que, todas as tetraciclinas podem induzir este
fenómeno, embora este seja mais frequentemente causado pela
demeclocina.
Hepatotoxicidade
Situações que cursem com um aumento dos níveis de tetraciclinas (tais
como insuficiência renal e sobredosagem) podem levar ao
desenvolvimento de degenerescência gorda do fígado, cujo risco
aumenta em indivíduos que estejam a tomar outros fármacos
hepatotóxicos. Por vezes, a hepatotoxicidade está associada ao
desenvolvimento de pancreatite ou alterações tóxicas do rim.
Perturbações gastro-intestinais
As reacções adversas de natureza gastro-intestinal são as mais
frequentes. De facto, as tetraciclinas podem induzir lesão da parede
intestinal e alterações da normal flora intestinal, o que condiciona a
ocorrência de vómitos, náusea e diarreia. Estes fenómenos são, na
maior parte das vezes, causados pela Candida albicans e pelo
Staphylococcus (dois microorganismos resistentes a estes antibióticos).
De facto, a enterocolite estafilocócica pode se desenvolver, inclusive,
após término do tratamento com as tetraciclinas. A alteração da flora
intestinal pode também condicionar o desenvolvimento de colite
pseudo-membranosa, a qual é causada por uma toxina produzida pelo
Clostridium difficile.
Outros efeitos
Ao serem administradas com diuréticos, as tetraciclinas podem produzir
retenção azotada. Para além disso, o uso de tetraciclinas pode induzir
alterações hemáticas, aumento da ureia plasmática, aumento da
excreção de ácido ascórbico, subida da creatinina, proteinúria e outras
alterações reversíveis do metabolismo.
Uso terapêutico
As tetraciclinas são os fármacos de eleição para o tratamento das
infecções causadas por Mycoplasma pneumoniae, clamídeas, riquétsias
e algumas espiroquetas. Assim, o uso desta classe de antibióticos está
indicado para as seguintes situações:
Contra-indicações
As tetraciclinas estão contra-indicadas na gravidez (dado serem
teratogénicas), nas crianças com menos de nove anos e em indivíduos
com miastenia gravis ou alergia às tetraciclinas. Durante o tratamento
com estes antibióticos, deve ser evitada a exposição solar, bem como a
administração simultânea de leite (devido ao elevado conteúdo em
cálcio) e/ou fármacos hepatotóxicos, nefrotóxicos, diuréticos, anti-ácidos
e anti-anémicos. Para além disso, os barbitúricos, a carbamazepina, a
difenilidantoína, a rifampicina e a ingestão crónica de álcool podem
acelerar a metabolização das tetraciclinas, pela indução enzimática que
produzem.
Glicilciclinas
As glicilciclinas (de entre as quais se destaca a tigeciclina) são
derivados das tetraciclinas, que apresentam um espectro ainda mais
largo que o das tetraciclinas, pois ultrapassam todos os mecanismos de
resistência conhecidos para as tetraciclinas. Assim, as glicilciclinas são
activas contra bactérias gram-positivas, gram-negativas e intracelulares.
Apesar disso, estes antibióticos não são eficazes contra Proteus e
Pseudomonas. No que concerne ao seu uso terapêutico, as glicilciclinas
deverão ser utilizados em situações de infecções urinárias, abdominais
e da pele.
Aminoglicosídeos
Os aminoglicosídeos
englobam um conjunto de
antibióticos formados por
dois ou mais amino-
açúcares unidos por uma
ligação glicosídica a uma
hexose aminada (núcleo
aminociclitol). Todos os
aminoglicosídeos com
interesse
clínico apresentam a 2-
desoxiestreptamina como
hexose. Contudo, a
estreptomicina constitui
uma excepção, na medida
em que apresenta a
estreptidina como hexose.
Mecanismo de acção
Os aminoglicosídeos actuam por interferência com a síntese proteica –
a estreptomicina liga-se à subunidade ribossomal 30S, enquanto os
restantes aminoglicosídeos ligam-se a ambas as subunidades.
Espectro anti-bacteriano
Os aminoglicosídeos apresentam uma acção bactericida, que é tanto
mais rápida, quanto maior for a sua concentração. Para além disso,
estes antibióticos apresentam acção pós-antibiótica (actividade anti-
bacteriana residual que persiste após o antibiótico atingir concentrações
plasmáticas inferiores às concentrações inibitórias mínimas) e duração
dependente da dose. Ora, isto explica porque é que, apesar de
apresentarem uma semi-vida muito curta, os aminoglicosídeos são
eficazes em toma única diária.
3. Inactivação enzimática
Farmacocinética
Os aminoglicosídeos são compostos altamente polares, de tal modo
que a sua absorção oral é desprezável – de facto, após administração
oral, a maioria dos aminoglicosídeos aparece intacta nas fezes. Apesar
disso, em certas situações, a administração oral de aminoglicosídeos é
usada com fins clínicos, nomeadamente, quando se pretende um efeito
tópico no tubo digestivo.
Acções adversas
Os aminoglicosídeos exercem uma série de acções adversas, que
limitam o seu uso na prática clínica. As suas acções mais graves têm
como alvo o nervo vestíbulo-coclear, envolvendo a alteração das
terminações periféricas das células ciliadas.
nefrotóxicos,
dado
acumularem-se
ao nível do
córtex renal
(mais
concretamente,
no túbulo
proximal). Ao
acumularem-se,
essas
substâncias podem
condicionar necrose
tubular aguda
(sobretudo, do
túbulo proximal),
o que induz
uma redução da
capacidade de
concentração da
urina, seguida de
redução da
filtração glomerular.
Uso terapêutico
Os aminoglicosídeos apresentam grande interesse clínico, sendo
utilizados no tratamento de infecções causadas por bacilos gram-
negativos aeróbios (nomeadamente enterobacteriáceas e
Pseudomonas aeruginosa), tais como infecções do tracto urinário,
pneumonia nosocomial e endocardite bacteriana. Os aminoglicosídeos
são geralmente utilizados em associação com outras classes de
antibióticos com os quais apresentam um efeito sinérgico – entre esses
antibióticos, destaque para os β-lactâmicos.
Espectro de acção
As fluoroquinolonas são agentes terapêuticos de largo espectro de
acção. De facto, com excepção dos Streptococcus e das bactérias
anaeróbias, a maioria das bactérias gram-positivas e gram-negativas é
sensível à acção das fluoroquinolonas. De referir que, contrariamente ao
que se verifica com os β-lactâmicos, em que a sua acção é dependente
do tempo, a acção das quinolonas é dependente da dose administrada.
e da topo-isomerase IV.
A gírase do DNA
impede que, durante
a replicação, ocorra
sobre-enrolamento
do DNA. Esta
enzima apresenta
quatro
subunidades – duas
subunidades A e
duas subunidades
B. As quinolonas
ligam-se às
subunidades A
(que são
responsáveis pelo
corte das hélices de
DNA), enquanto a
novobiocina liga-se
às subunidades B.
De qualquer modo,
a inibição da gírase
do DNA impede a
normal transcrição e
replicação do DNA.
A topo-isomerase IV
parece
desempenhar um
papel similar.
Todavia, o bloqueio
desta enzima parece
interferir
maioritariamente
com a
segregação do DNA
cromossómico
replicado para as
respectivas células-
filhas. De qualquer
forma, o bloqueio da
topo-isomerase IV
revela-se
particularmente
importante na acção
das fluoroquinolonas
contra as bactérias
gram-positivas.
Farmacocinética
Todas as quinolonas são bem absorvidas por via oral, o que constitui
uma vantagem a favor destes antibióticos contra outros de espectro
semelhante (tais como os aminoglicosídeos, as cefalosporinas de
terceira geração, as ureidopenicilinas e as carboxipenicilinas). Para
além de poderem ser administradas por via oral, estes antibióticos
também podem ser administrados por via intra-venosa, obtendo-se
concentrações plasmáticas semelhantes às obtidas com idêntica dose
por via oral. De referir que a presença de alimentos, ou de catiões
bivalentes reduz a absorção intestinal destes antibióticos.
Algumas quinolonas podem ser administradas uma única vez por dia,
na medida em que apresentam uma semi-vida relativamente longa. A
maioria das fluoroquinolonas apresenta boa distribuição para a maior
parte dos tecidos. O ácido nalidíxico e a norfloxacina constituem duas
excepções, na medida em que apresentam dificuldade a atravessar as
barreiras hemato-encefálica e placentária. Para além disso, o ácido
nalidíxico apresenta escassa difusão para os órgãos e tecidos.
Uso terapêutico
Actualmente, as quinolonas são consideradas agentes terapêuticos de
grande eficácia, sendo não só utilizadas em infecções sistémicas
causadas por microorganismos comuns, mas também em infecções
sistémicas causadas por microorganismos resistentes às penicilinas,
cefalosporinas e aminoglicosídeos.
Infecções urinárias
As fluoroquinolonas são eficazes nas infecções urinárias causadas
pelas enterobacteriáceas e pelas Pseudomonas aeruginosa (mesmo
que resistentes ao cotrimoxazole, aminoglicosídeos e antibióticos β-
lactâmicos).
Infecções respiratórias
As fluoroquinolonas não são agentes de primeira escolha no tratamento
da maioria das infecções respiratórias, devido ao facto de apresentarem
eficácia marginal contra os estreptococos. De facto, apenas a
levofloxacina, a moxifloxacina e a gatifloxacina podem ser utilizadas no
tratamento de pneumonias da comunidade, uma vez que são as únicas
que apresentam boa actividade contra o Streptococcus.
Infecções gastro-intestinais
As fluoroquinolonas possuem uma excelente actividade anti-bacteriana
contra todos os agentes causadores de diarreia, incluindo E. coli,
Shigella (todas as espécies), Salmonella, Campylobacter, Aeromona,
Yersinia enterocolítica e Vibrio parahaemolyticus.
Doenças venéreas
As fluoroquinolonas são extremamente eficazes no tratamento da
gonorreia, na medida em que, com uma única dose, curam a infecção e
eliminam o agente infeccioso. De facto, a N. gonorrhoeae (incluindo as
estirpes penicilino-resistentes) é altamente sensível à acção destes
antibióticos.
As fluoroquinolonas são ainda os fármacos de primeira escolha nas
infecções causadas pelo Haemophilus ducreyi (cancro mole). Para além
disso, a ciprofloxacina e a ofloxacina são eficazes nas uretrites não-
específicas por Chlamydia trachomatis, embora não possam ser
administradas em dose única. De facto, nestas situações, a sua eficácia
fica aquém da apresentada pela doxiciclina.
Osteomielite
As fluoroquinolonas constituem a terapêutica de primeira escolha em
situações de osteomielite aguda hematogénea causada por
Pseudomonas ou Serratia. Para além disso, a ciprofloxacina e a
ofloxacina revelam-se altamente eficazes no tratamento das
osteomielites por contiguidade, ou das osteomielites que surgem em
consequência de um traumatismo ou de uma intervenção cirúrgica e
são causadas por Staphylococcus resistentes à meticilina.
Outras indicações
A ciprofloxacina e a ofloxacina são eficazes no tratamento da
tuberculose e na erradicação de portadores de meningococos.
Acções adversas
Apesar de serem muito bem toleradas, as quinolonas podem provocar
alguns efeitos laterais:
Interacções farmacológicas
Quando as quinolonas são administradas conjuntamente com outros
antibióticos, podem surgir interacções farmacológicas, as quais
costumam apresentar pouco significado clínico. De entre todas as
fluoroquinolonas, a enoxacina é aquela que mais significativamente
pode interferir com a metabolização de outros fármacos.
Eritromicina
A eritromicina foi o primeiro
macrólido a ser desenvolvido. Em
termos estruturais, a sua
molécula apresenta 14 elementos
no anel lactónico macrocítico, ao
qual estão ligados dois açúcares
(nomeadamente, a desosamina e
a cladinose). A eritromicina é
pouco solúvel em água e é uma
base fraca (pKa=8,8).
Espectro de acção
A eritromicina é particularmente activa contra a maioria dos
Streptococcus, nomeadamente contra o Streptococcus pneumoniae e
Streptococcus hemolíticos β dos grupos A, B, C, F e G. De facto, o
Streptococcus pyogenes, o Streptococcus pneumoniae e o
Streptococcus viridans apresentam grande susceptibilidade à acção da
eritromicina. Todavia, as estirpes de Streptococcus resistentes à
penicilina são também resistentes aos macrólidos.
Farmacocinética
A eritromicina é uma base, de tal modo que, apesar de ser bem
absorvida pelo duodeno, é facilmente inactivada pelo ácido gástrico.
Todavia, a administração oral de eritromicina continua a ser possível,
através dos seguintes mecanismos:
O desenvolvimento de um quadro
de colestase intra-hepática
(“hepatite colestática”) constitui o
mais grave efeito adverso
resultante do uso de eritromicina.
Apesar disso, são raras as
situações que cursam
simultaneamente com inflamação
peri-portal e necrose
hepatocelular. Para além disso,
após interrupção do tratamento
costuma ocorrer recuperação
funcional hepática completa.
Em termos comparativos, a
eritromicina e a
triacetiloleandomicina são mais
hepatotóxicas que a josamicina,
espiramicina e medicamicina. De
entre as formas de eritromicina, o
estolato de eritromicina é o
agente causal mais
frequentemente implicado nas
situações de hepatotoxicidade,
embora também estejam descritos
casos para o propionato e
etilsuccinato. Assim, tendo em
conta o maior risco de
hepatotoxicidade e a ausência de
vantagens em relação a outras
formas de eritromicina, o uso de
estolato não é justificável em
indivíduos adultos.
Uso terapêutico
A eritromicina é frequentemente utilizada como alternativa à
benzilpenicilina, quer em doentes hipersensíveis, quer em situações
onde se procure evitar o recurso à via intra-muscular. Para além disso,
este antibiótico constitui um fármaco de primeira escolha no tratamento
de um pequeno grupo de infecções por agentes não-susceptíveis aos
antibióticos β-lactâmicos.
Contra-indicações
A hipersensibilidade constitui a única contra-indicação ao uso de
eritromicina. Para além disso, este antibiótico deve ser usado
cautelosamente em indivíduos com insuficiência hepática, embora não
devam ser realizados ajustes posológicos.
Fidaxomicina
A fidaxomicina é um macrólido usado no tratamento da colite pseudo-
membranosa causada pelo Clostridium difficile. Dado ter uma fraca
absorção intestinal, este antibiótico apenas tem acção local no intestino.
Como expectável, a fidaxomicina é maioritariamente excretada por via
fecal. As suas acções adversas mais comuns incluem náusea, vómitos,
dor abdominal, hemorragia gastro-intestinal, anemia e neutropenia.
Espiramicina
A espiramicina é um macrólido que apresenta um perfil farmacológico
idêntico ao da eritromicina. De facto, estes dois antibióticos diferem
fundamentalmente no seu período de semi-vida plasmática e no seu
espectro anti-microbiano - a espiramicina apresenta um maior período
de semi-vida plasmática e, contrariamente à eritromicina, é eficaz contra
o Cryptosporidium muris e o Toxoplasma gondii, dois importantes
protozoários patogénicos para o Homem.
Roxitromicina
A roxitromicina tem um espectro de acção e um uso terapêutico similar
ao da eritromicina. De facto, as principais diferenças entre estes dois
antibióticos dizem respeito a propriedades farmacocinéticas.
A roxitromicina sofre rápida absorção por via oral, sendo que a sua
biodisponibilidade é pouco condicionada pela presença de alimentos ou
leite. Este antibiótico distribui-se amplamente para os vários tecidos,
atingindo concentrações plasmáticas elevadas nas amígdalas, lágrimas,
pulmões e líquido pleural, próstata, testículos, epidídimos, útero, vagina,
trompas de Falópio, ovários, fígado, rins, pele, gengivas e cavidade oral.
Por oposição, este antibiótico não é detectado no sistema nervoso
central de indivíduos sem alterações da permeabilidade meníngea.
Midecamicina
A midecamicina difere muito pouco da eritromicina, embora a
administração de midecamicina por via oral permita obter concentrações
plasmáticas mais elevadas.
Claritromicina
A claritromicina é um derivado da eritromicina, formado por metilação
na posição 6-hidroxi do anel macrocítico. Tal como a eritromicina, a
claritromicina actua por inibição da síntese proteica bacteriana, ligando-
se reversivelmente à subunidade 50S. Deste modo, as bactérias
resistentes à eritromicina, nas quais se incluem o Streptococcus
pneumoniae resistente à penicilina e os MRSA, são também resistentes
à claritromicina.
Espectro de acção
O espectro de acção da eritromicina é similar ao da claritromicina,
embora este último antibiótico seja mais activo contra determinados
agentes patogénicos, nos quais se incluem o Mycoplasma pneumoniae,
a Legionella pneumophila, o Haemophilus influenzae e a Chlamydia
pneumoniae. Tal como acontece à eritromicina, a maior parte das
bactérias aeróbias gram-negativas (tais como a E. coli, a Pseudomonas
e Salmonella) são resistentes à acção da claritromicina.
Farmacocinética
Em termos farmacocinéticos, a claritromicina é estável em meio ácido e
é bem absorvida pelo tracto gastro-intestinal. Essa absorção condiciona
uma biodisponibilidade oral de 50%, que não é afectada pela presença
de alimentos.
Acções adversas
Tal como os outros macrólidos, a claritromicina é relativamente bem
tolerada, aparentando ser melhor tolerada que a eritromicina. Todavia,
ocasionalmente, a claritromicina pode provocar náuseas, diarreia, dor
abdominal, sabor metálico, cefaleias e algumas anomalias laboratoriais
transitórias (tais como leucopenia e elevação das transamínases) Estão
ainda descritos casos isolados de pancreatite, síndromes miasténicos,
hepatite colestática e hepatite fulminante. De referir que, a incidência de
acções adversas causadas pela claritromicina é superior em doentes
com HIV.
Aplicações terapêuticas
Na prática clínica, a claritromicina é utilizada no tratamento de infecções
do tracto respiratório superior e inferior, incluindo sinusite, bronquite
aguda, exacerbação aguda infecciosa de bronquite crónica e
pneumonia adquirida na comunidade. De facto, nestas situações, a
claritromicina revela-se tão eficaz como a eritromicina, penicilina,
ampicilina, amoxicilina e cefalosporinas.
Diritromicina
A diritromicina apresenta um espectro de acção semelhante ao da
eritromicina e uma semi-vida plasmática de 20-50 horas. São ainda
necessários estudos que versem o interesse terapêutico deste
antibiótico.
Azitromicina
A azitromicina é um macrólido pertencente à subclasse dos azálidos.
Este fármaco é um derivado da eritromicina, que possui 15 elementos
no anel macrocítico e em que o grupo carbonilo na posição 9 do anel
lactónico é substituído por um átomo de azoto. Esta modificação
química leva a que, quando comparada com a eritromicina, a
azitromicina apresente maior estabilidade em meio ácido.
Farmacocinética
A azitromicina apresenta propriedades farmacocinéticas muito
vantajosas sob o ponto de vista clínico. De facto, este antibiótico é
estável em meio ácido, tem boa disponibilidade e uma rápida absorção
oral, atinge concentrações tecidulares elevadas depois de libertada
pelas células fagocíticas, e apresenta um longo período de semi-vida.
Devido ao facto de poder ser administrada uma única vez por dia, a
azitromicina é particularmente útil no tratamento de doenças
sexualmente transmissíveis causadas por Neisseria gonorrhoeae,
Chlamydia trachomatis, Haemophilus ducreyi e Treponema pallidum.
Este antibiótico é ainda usado no tratamento de infecções da pele e dos
tecidos moles causadas por Staphylococcus aureus, Streptococcus
pyogenes e Streptococcus agalactiae.
Para além disso, a azitromicina pode ser usada com fins profiláticos.
Assim, este antibiótico é usado na profilaxia das infecções por
Mycobacterium avium complex em doentes seropositivos (embora
também possa ser usada para o tratamento das mesmas), bem como
na profilaxia da malária e da endocardite bacteriana.
3.
Mecanismo de acção
Para compreendermos o mecanismo de acção das sulfonamidas,
teremos de conhecer os mecanismos de síntese bacteriana de folatos,
até porque, contrariamente às células humanas, a maior parte das
bactérias e alguns protozoários são incapazes de utilizar folatos
exógenos pré-formados.
As bactérias e os protozoários
possuem enzimas (inexistentes
no Homem) intervenientes no
início da síntese de folatos.
A sintétase do di-
hidropteroato constitui a
primeira dessas enzimas,
sendo responsável por catalisar
a formação de di-
hidropteroato a partir de di-
hidropterina e de PABA. Ora,
o di-hidropteroato liga-se ao
glutamato, originando di-
hidrofolato. Por sua vez, este
composto é convertido em
tetra-hidrofolato por parte da
redútase do di-hidrofolato – o
tetra-hidrofolato é um dador de
radicais monocarbonados, que
se revela essencial para a
síntese de ácidos nucleicos. De
referir que, nos humanos
também existe redútase do di-
hidrofolato, todavia, a redútase
humana é distinta da redútase
bacteriana.
Espectro de acção
Todas as sulfonamidas apresentam um espectro de acção similar. De
facto, estes antibióticos são eficazes contra um grande conjunto de
bactérias gram-positivas e gram-negativas, bem como sobre
microorganismos dos grupos Chlamydia, Nocardia, Plasmodia e
Toxoplasma. Todavia, a resistência às sulfonamidas é frequente,
sobretudo entre os estafilococos, estreptococos, gonococos,
meningococos, enterobacteriáceas e Pseudomonas.
Farmacocinética
A diversidade do comportamento farmacológico das várias sulfonamidas
deriva, sobretudo, de diferenças de natureza farmacocinética. Estas
diferenças prendem-se, desde logo, com a absorção – a maior parte
das sulfonamidas são bem absorvidas por via oral, mas o
ftalilsulfatiazole e a sulfaguanidina constituem duas notáveis
excepções. Apesar disso, estes dois últimos fármacos podem ser
administrados por via oral, caso se pretendam obter efeitos tópicos anti-
sépticos ao nível intestinal.
Uso terapêutico
As sulfonamidas não são utilizadas isoladamente, excepto para o
tratamento de infecções por Nocardia asteroides. De facto, as
sulfonamidas constituem os antibióticos mais eficazes contra a
nocardiose.
Trimetoprima
A trimetoprima actua de modo similar às sulfonamidas e, por isso,
também apresenta intensa acção bacteriostática. Todavia, em vez de
bloquear a síntese de di-hidropteroato, a trimetoprima impede a redução
do di-hidrofolato.
Espectro de acção
A trimetoprima apresenta um espectro de acção similar ao das
sulfonamidas, embora seja geralmente mais eficaz. Entre os
microorganismos naturalmente resistentes a este antibiótico, destaque
para a Pseudomonas aeruginosa, Bacteroides fragilis, Treponema
pallidum, Mycoplasma e Mycobacterium.
Farmacocinética
A trimetoprima é rapidamente e bem absorvida por via oral. Este
antibiótico liga-se às proteínas plasmáticas numa percentagem de 40%,
e distribui-se muito bem por todos os tecidos e fluidos, incluindo o fluido
cefalo-raquidiano, as secreções brônquicas e as secreções prostáticas.
Uso terapêutico
Quando administrada isoladamente, a trimetoprima pode ser utilizada
no tratamento de infecções urinárias não-complicadas, na medida em
que a maioria das estirpes de Escherichia coli manifesta sensibilidade
às elevadas concentrações urinárias deste antibiótico. A trimetoprima
pode ainda ser usada (de forma isolada) para o tratamento de
exacerbações agudas de bronquites crónicas.
Cotrimoxazole
O cotrimoxazole consiste numa associação entre trimetoprima e uma
sulfonamida (sulfametoxazole) – esta associação gera um efeito anti-
bacteriano sinérgico e, por vezes, bactericida. De facto, observa-se que
a inibição sequencial de duas etapas da síntese dos folatos gera um
efeito mais eficaz do que o conseguido com soma dos efeitos
subjacentes à inibição isolada de cada uma das etapas.
Espectro de acção
O cotrimoxazole é activo contra muitas estirpes de Staphylococcus
aureus (incluindo MRSA), Streptococcus pyogenes, Streptococcus
pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Haemophilus influenzae,
Escherichia coli, Proteus mirabilis, Salmonella, Shigella, Moraxella
catarrhalis, Listeria monocytogenes e micobactérias atípicas. Este
antibiótico é ainda activo contra alguns fungos, nomeadamente contra o
Pneumocystis jirovecii (para o qual é utilizado como tratamento de
primeira escolha) e contra alguns protozoários, tais como o Toxoplasma
gondii e alguns plasmódios.
Farmacocinética
Como referido anteriormente, o cotrimoxazole é um associado de
sulfametoxazole e trimetoprima, presentes numa relação de 5 para 1. O
sulfametoxazole e a trimetoprima apresentam propriedades
farmacocinéticas similares, embora o sulfametoxazole atinja um pico de
concentração sanguíneo mais tardio, maior capacidade de ligação às
proteínas plasmáticas, e menor penetração tecidular.
Uso terapêutico
O cotrimoxazole pode ser utilizado na terapêutica de infecções urinárias
não-complicadas, sendo particularmente útil para o tratamento de
pielonefrites e de infecções urinárias no homem. Isto deve-se ao facto
de o cotrimoxazole, contrariamente à maior parte dos restantes
antibióticos, atingir boa penetração tecidular na próstata.
Mecanismo de acção
O cloranfenicol liga-se reversivelmente à subunidade 50S do ribossoma,
impedindo a ligação da extremidade aminoacílica do tRNA e, por
conseguinte, a síntese proteica bacteriana. De referir que este
antibiótico penetra facilmente nas células bacterianas (provavelmente
por difusão facilitada).
Espectro anti-bacteriano
O cloranfenicol apresenta um espectro de acção bastante largo. Embora
seja maioritariamente bacteriostático, quando administrado em doses
terapêuticas, este antibiótico apresenta acção bactericida contra várias
estirpes bacterianas (tais como as do Haemophilus influenzae).
Resistência bacteriana
Várias estirpes de bactérias gram-negativas apresentam resistência ao
cloranfenicol. Essa resistência deve-se à presença de um factor
adquirido por conjugação – esse factor codifica para uma acetil-
transférase específica, que acetila o cloranfenicol, impossibilitando-o de
se ligar ao ribossoma bacteriano. Contrariamente às restantes
bactérias, as riquétsias são incapazes de adquirir resistência ao
cloranfenicol.
Farmacocinética
O cloranfenicol é extremamente lipofílico, motivo pelo qual é
rapidamente e quase completamente absorvido pelo tubo digestivo.
Para além de poder ser administrado por via oral, este antibiótico pode
ser administrado por via intra-venosa – as concentrações plasmáticas
obtidas após injecção intra-venosa são similares às resultantes da
administração de uma mesma dose por via oral. Por oposição, a
absorção de cloranfenicol por via intra-muscular é deveras irregular.
Toxicidade hematológica
O cloranfenicol inibe a síntese de enzimas da membrana mitocondrial
interna, provavelmente por inibição da transferase peptidílica
ribossómica. Para além disso, este antibiótico interfere com a actividade
de outras enzimas, nas quais se incluem as citocromoxídases, a
ATPase e a ferroquelátase (enzima que catalisa a etapa final da
biossíntese do heme).
Alterações gastro-intestinais
A administração de cloranfenicol por via oral pode levar ao
desenvolvimento de náusea, vómitos, diarreia, irritação peri-anal e
paladar desagradável. Essas manifestações devem ser distinguidas das
que representam o início de uma super-infecção intestinal.
Reacções de hipersensibilidade
O cloranfenicol pode causar erupções cutâneas, vesiculares e maculares,
febre e edema angioneurótico.
Reacção de Herxheimer
O uso de cloranfenicol no tratamento de sífilis, brucelose ou febre tifóide
pode levar ao desenvolvimento de uma reacção de Herxheimer
(reacção similar à sepsis bacteriana), a qual poderá ser devida à
libertação de proteínas de bactérias mortas.
Neurotoxicidade
As manifestações de neurotoxicidade são raras, surgindo apenas após
longos períodos de tratamento.
Uso clínico
O cloranfenicol só deve ser utilizado na prática clínica quando
estritamente necessário. A título de exemplo, na febre tifóide, este
antibiótico só deve ser administrado na impossibilidade de utilizar
quinolonas. Também nas infecções sistémicas graves (meningite
purulenta, brucelose e riquetsiose), o cloranfenicol só deve ser utilizado
quando os restantes antibióticos estão contra-indicados.
Estas diferenças
moleculares levam
a que a
administração
conjunta destes
dois tipos de
estreptograminas
gere um efeito
sinérgico, que é,
pelo menos, dez
vezes superior à
soma da actividade
individual de cada
componente. Para
além disso, esta
combinação leva a
uma diminuição da
probabilidade de
aparecerem
resistências.
No que concerne
ao seu espectro de
acção, as
estreptograminas
têm boa actividade
contra a maior
parte das bactérias
gram-positivas,
bem como contra
Quinupristina/dalfopristina
A quinupristina é um derivado da
pristinamicina IA (uma
estreptogramina natural
do grupo B), enquanto a
dalfopristina é um
derivado da
pristinamicina IIB (uma
estreptogramina natural
do grupo A). Deste
modo, a associação
quinupristina/dalfopristin
a actua de modo similar
às associações de
estreptograminas
naturais.
A
quinupristina/dalfopristin
a tem boa actividade
contra bactérias
5. Mycobacterium tuberculosis
Farmacocinética
A clindamicina é rapidamente e quase totalmente absorvida por via oral,
mesmo na presença de alimentos. Para além de poder ser administrada
por via oral, a clindamicina também pode ser administrada por via intra-
muscular.
Uso terapêutico
A clindamicina revela-se particularmente útil para o tratamento de
infecções por Bacteroides fragilis e outros anaeróbios. Assim, a
clindamicina é eficaz em situações de bacteriemias, pneumonias,
abcessos pulmonares, supurações abdominais e infecções pélvicas
(pós-parto ou abortamento séptico) causadas por anaeróbios (sobretudo
se a população em causa incluir Bacteroides). Contudo, a clindamicina
não é eficaz em situações de endocardite causada por Bacteroides.
Para além disso, este antibiótico atinge baixas concentrações nas
meninges e sistema nervoso central, de tal modo que não deve ser
utilizado no combate a infecções meníngeas ou cerebrais.
Contra-indicações
A clindamicina deve ser descontinuada, caso sejam registadas reacções
graves de hipersensibilidade. Para além disso, este antibiótico não deve
ser administrado a mulheres grávidas, pois não existem certezas quanto
à sua inocuidade para o feto humano. Por fim, a clindamicina não deve
ser usada por doentes com diarreia.
Nitroimidazoles
Os nitroimidazoles constituem uma classe de antibióticos activos
contra microorganismos anaeróbios, à qual pertencem o
metronidazole, o secnidazole, o tinidazole e o nimorazole.
Metronidazole
Espectro de acção
O metronidazole actua exclusivamente contra microorganismos
anaeróbios (apresentando acção maioritariamente bactericida). Assim,
este antibiótico é eficaz contra:
Mecanismo de acção
O metronidazole penetra
facilmente (por difusão
passiva) no interior de todas
as células, incluindo não só
bactérias anaeróbias, mas
também bactérias aeróbias
e células do hospedeiro.
Todavia, contrariamente ao
que acontece nas restantes
células/bactérias, ao nível
das bactérias anaeróbias, o
metronidazole sofre um
processo activação, do qual
resultam dois efeitos:
Farmacocinética
O metronidazole é rápida e quase totalmente absorvido por via oral. De
facto, a administração oral de metronidazole condiciona uma
biodisponibilidade de praticamente 100% - esta biodisponibilidade não é
condicionada pela presença de alimentos, mas pode ser atrasada por
estes.
Uso terapêutico
O metronidazole é deveras útil no tratamento de infecções causadas por
microorganismos anaeróbios, nomeadamente por Bacteroides e
Clostridium difficile (incluindo colite pseudo-membranosa). De facto,
este antibiótico constitui o agente de primeira escolha para o tratamento
de abcessos cerebrais não-traumáticos, na medida em que estas
infecções são frequentemente causada por Bacteroides.
1. Cirurgias de emergência
Contra-indicações
O metronidazole está contra-indicado em doentes com história de
hipersensibilidade a qualquer derivado nitroimidazólico. Para além
disso, este antibiótico pode causar convulsões, motivo pelo qual deve
ser evitado em epilépticos. O metronidazole deve ainda ser
cautelosamente administrado a doentes com discrasias sanguíneas e
doença activa do sistema nervoso central.
Para além disso, este antibiótico não deve ser usado para o tratamento
de tricomoníases, durante o primeiro trimestre da gravidez. Já no
restante período da gravidez, a utilização deste antibiótico pode ser
levada a cabo, caso não existam outras alternativas terapêuticas.
Glicopeptídeos
Os glicopeptídeos englobam um conjunto de antibióticos
estruturalmente constituídos por sete aminoácidos dispostos
linearmente. Cinco destes aminoácidos são aromáticos e comuns a
todos os membros do grupo, enquanto os restantes permitem dividir os
glicopeptídeos em três classes:
Vancomicina
Espectro de acção
Mecanismo de acção
síntese da parede
bacteriana, por
formação de um
complexo com o
dipeptídeo D-
alanina-D-alanina
da porção terminal
dos
pentapeptídeos
básicos do
peptidoglicano-
UDP-muramil-N-
acetilpentapeptíde
o. Ora, esta
interacção impede
a completa
polimerização do
peptidoglicano
constituinte da
parede bacteriana.
3. Hipotensão
Uso terapêutico
Teicoplanina
Espectro de acção
Mecanismo de acção
Farmacocinética
Uso terapêutico
As indicações terapêuticas da teicoplanina e vancomicina são similares.
Assim, quando administrada isoladamente, a teicoplanina pode ser
utilizada no tratamento de infecções graves por bactérias gram-positivas
(sendo que a taxa de sucesso é superior, aquando da ausência de
bacteriemia). Para além disso, a teicoplanina per se pode ser utilizada
profilaticamente e curativamente em situações de endocardite
bacteriana causada por agentes sensíveis. Caso a endocardite seja
causada por enterococos, a teicoplanina deverá ser administrada em
associação com outro antibiótico (tal como um aminoglicosídeo).
Lipopeptídeos acídicos
Actualmente, existem três lipopeptídeos semi-sintéticos derivados dos
glicopeptídeos supracitados: A oritavancina e a telavancina são
lipopeptídeos derivados da vancomicina, enquanto a dalbavancina é
um lipopeptídeo derivado da teicoplanina.
Daptomicina
A daptomicina é um lipopeptídeo acídico cujo espectro de acção é
similar aos da vancomicina e teicoplanina (este fármaco apenas actua
contra bactérias Gram positivas). Apesar disso, a daptomicina revela-se
particularmente eficaz contra enterococos resistentes à vancomicina e à
teicoplanina. Assim, a daptomicina é útil para o tratamento de infecções
por estafilococos e enterococos mais resistentes.
Lipoglicodepsipeptídeos
Mupirocina
A mupirocina (antigamente designada por ácido pseudomónico) é um
antibiótico produzido pela Pseudomonas fluorescens. A mupirocina
actua por inibição da síntese bacteriana de proteínas e RNA, pois liga-
se à sintétase do tRNA da isoleucina.
A mupirocina tem sido aplicada sob a forma de pomada, uma vez que
apenas uma reduzida fracção da mupirocina aplicada topicamente sofre
absorção (este antibiótico não é detectável nas fezes nem na urina).
Como seria expectável, a penetração deste composto nas camadas
mais profundas da epiderme e derme é superior na pele traumatizada.
De referir que, ao nível da pele e da circulação, a mupirocina é
biotransformada em ácido mónico, um metabolito inactivo.
Espectinomicina
Tal como os aminoglicosídeos, a espectinomicina pertence ao grupo
dos antibióticos aminociclitóis. Todavia, o “espectro de acção” da
espectinomicina é distinto do dos aminoglicosídeos. De facto, apesar de
inibir o crescimento de várias espécies bacterianas distintas, a
espectinomicina apresenta um efeito imprevisível, de tal modo que este
antibiótico não apresenta um espectro de acção stricto sensu. A
Neisseria gonorrhoeae constitui uma excepção, na medida em que a
maioria das estirpes é sempre sensível à acção da espectinomicina. Por
oposição, sabe-se que este antibiótico é desprovido de acção contra
outros agentes frequentes de uretrites não-gonocócicas, tais como o
Treponema pallidum e a Chlamydia trachomatis.
Ácido fusídico
O ácido fusídico é um composto produzido pelo fungo Fusidium
coccineum, que apresenta uma estrutura esteróide similar à da
cefalosporina P. Apesar de actuar contra bactérias gram-positivas,
cocos gram-negativos e Mycobacterium tuberculosis, apenas a acção
do ácido fusídico contra estafilococos (incluindo MRSA) tem interesse
clínico.
O mecanismo de acção deste antibiótico permanece ainda mal
conhecido, embora se saiba que este inibe a síntese ribossómica das
proteínas, sem alteração do código genético.
O ácido fusídico apresenta boa absorção por via oral, embora também
possa ser administrado por via intra-venosa e por via tópica (sob a
forma de fusidato de sódio, para tratamento de infecções
estafilocócicas superficiais). O ácido fusídico apresenta boa penetração
tecidular, excepto para o sistema nervoso central. Para além disso, este
ácido sofre biotransformação parcial, sendo que a fracção intacta é
excretada na bílis.
Polimixinas
A polimixinas A, B, C, D e E são antibióticos polipeptídicos que
praticamente já não são utilizados na prática clínica. De facto, as
polimixinas A, C e D são demasiado tóxicas para serem usadas em
terapêutica, enquanto a polimixina B e a polimixina E (colistina) são
difíceis de obter em forma pura.
Bacitracina e gramicidina
A bacitracina e a gramicidina
são dois antibióticos
polipeptídicos, muito activos
contra
A bacitracina e a gramicidina
inibem a síntese da parede
bacteriana e alteram a
membrana citoplasmática, de tal
modo que a resistência adquirida
a estes antibióticos é rara. De
referir que, de entre estes dois
fármacos, a bacitracina é
geralmente o mais activo.
tal modo que não devem ser utilizadas por via sistémica. De qualquer
modo, nenhum destes dois antibióticos é absorvido por via digestiva,
pela pele ou pelas mucosas externas.
Por oposição, estes antibióticos podem ser administradas por via tópica.
De modo a aumentar o seu espectro de acção, é frequente utilizá-los
em associação com as polimixinas ou com a neomicina.
Derivados nitrofurânicos
Os derivados nitrofurânicos incluem a nitrofurantoína, a furazolidona,
a nifurfolina, a nitrofurazona e a nitroxolina. Estes antibióticos
apresentam actividade contra a maior parte das bactérias gram-
positivas e gram-negativas (embora muitas estirpes de Proteus e
Pseudomonas sejam resistentes). A furazolidona é ainda activa contra
alguns fungos (sobretudo contra a Candida albicans), contra o
Trichomonas vaginalis e contra a Giardia.
Estes antibióticos tanto podem ser administrados por via tópica (na pele
e mucosas vaginal e intestinal), como por via sistémica (aquando de
infecções do tracto urinário). A nitrofurazona e a furazolidona são os
fármacos de eleição para aplicação tópica cutânea, na medida em que
são bem toleradas e apresentam baixa incidência de sensibilização
alérgica.
Tuberculostáticos primários
Isoniazida
Em termos químicos, a
isoniazida é a hidrazida
hidratada do ácido
isonicotínico. Este antibiótico
exerce uma acção
bacteriostática nos bacilos em
repouso, e bactericida nos
bacilos que se encontram em
fase de divisão rápida. Para
além disso, contrariamente à
estreptomicina, a isoniazida
Farmacocinética
A isoniazida é bem absorvida por via oral e por via parentérica. Este
antibiótico difunde-se rapidamente para todos os tecidos e fluidos
orgânicos, incluindo para o tecido de caseificação.
Rifampicina
A rifampicina é um derivado semi-sintético da rifamicina B (um
antibiótico produzido pelo Streptomyces mediterranei), apresentando
acção bactericida contra microorganismos presentes em meio
extracelular e intracelular.
Farmacocinética
A rifampicina sofre boa absorção por via oral. Este antibiótico apresenta
uma semi-vida plasmática de 1,5-5 horas e liga-se intensamente às
proteínas plasmáticas. A rifampicina apresenta boa distribuição para a
generalidade dos tecidos, incluindo para o tecido de caseificação (de
facto, a rifampicina e a isoniazida são os únicos anti-tuberculosos que
se distribuem para o tecido de caseificação).
Acções adversas
Etambutol
O etambutol é um composto sintético que actua sobre quase todas as
estirpes de Mycobacterium tuberculosis, Mycobacterium kansasii e
Mycobacterium avium, sendo desprovido de acção sobre quaisquer
outras bactérias. Este antibiótico desempenha um papel particularmente
importante, na medida em que inibe o crescimento de estirpes de M.
tuberculosis resistentes à isoniazida e à estreptomicina. No que
concerne ao seu mecanismo de acção, o etambutol actua por inibição
da transferase do arabinosil, impedindo a síntese dos
arabinoglicanos da parede micobacteriana.
Farmacocinética
Acções adversas
Pirazinamida
Farmacocinética
Acções adversas
Estreptomicina
Apesar de, in vitro, apresentar acção bactericida contra o bacilo de
Koch, a estreptomicina apresenta apenas actividade bacteriostática in
vivo. Isto pode ser explicado pelo facto de a estreptomicina não penetrar
facilmente no meio intracelular, actuando apenas nos bacilos que se
encontram no meio extracelular. Assim, a estreptomicina não erradica
os bacilos, mas apenas impede que estes proliferem no meio
extracelular.
Farmacocinética
A estreptomicina não é absorvida por via oral, devendo, por isso, ser
administrada por via intra-muscular e subcutânea. Embora atinja
concentrações terapêuticas nos pulmões e gânglios, este antibiótico
distribui-se relativamente mal para a pleura e meninges. A
estreptomicina é excretada por via renal.
Acções adversas
Rifapentina
A rifapentina é usada na fase de continuação do tratamento de
tuberculosos com SIDA, sem cavernas, e cuja expectoração tenha
negativado ao terminar a fase inicial do tratamento. Nestas situações, a
rifapentina é usada apenas uma vez por semana e em associação com
a isoniazida.
Os efeitos laterais da rifapentina são similares aos descritos para a
rifampicina. Para além disso, tal como a rifampicina, a rifapentina é um
indutor dos sistemas enzimáticos hepáticos. De referir que a rifapentina
não deve ser utilizada na gravidez.
Cicloserina
A cicloserina é um antibiótico de largo espectro que é utilizado no
tratamento de recidivas de tuberculose, ou em situações de resistência
a outros fármacos. Este antibiótico apresenta boa absorção por via oral
e boa distribuição para os tecidos e fluidos orgânicos (incluindo para o
líquido cefalo-raquidiano). A cicloserina sofre biotransformação parcial,
e a sua excreção ocorre maioritariamente por via renal.
Etionamida
A etionamida é um derivado da tioisonicotinamida. Este antibiótico
apresenta boa absorção por via oral e o seu período de semi-vida ronda
as duas horas. A etionamida apresenta boa distribuição e sofre ampla
biotransformação, sendo que os seus metabolitos são maioritariamente
excretados por via renal.
Protionamida
A protionamida é um análogo da etionamida que apresenta maior
tolerabilidade a nível gastrointestinal.
Amicacina e canamicina
A amicacina e a canamicina são dois aminoglicosídeos que podem ser
utilizados em doentes portadores de bacilos resistentes a outros
antibióticos. Estes fármacos não são absorvidos por via oral e
apresentam acções ototóxicas e nefrotóxicas, estando contra-indicados
na gravidez.
Capreomicina
A capreomicina é um aminoglicosídeo que pode ser utilizado em
doentes portadores de bacilos multirresistentes a outros antibióticos. Tal
como os restantes aminoglicosídeos, a capreomicina é nefrotóxica e
ototóxica, estando contra-indicada na gravidez.
Fluoroquinolonas
A levofloxacina, a moxifloxacina, a gatifloxacina, a ofloxacina e a
ciproflixacina são fluoroquinolonas activas contra o Mycobacterium
tuberculosis.
Esquemas terapêuticos
A
terapia da tuberculose deverá decorrer ao longo de um período mínimo
de seis meses. Tradicionalmente, nos primeiros quatro meses procede-
se à administração simultânea de quatro fármacos de primeira linha
(rifampicina, isoniazida, etambutol e pirazinamida), sendo que nos dois
meses subsequentes procede-se apenas à administração simultânea de
isoniazida e rifampizina. Contudo, algumas situações especiais obrigam
à adopção de planos terapêuticos ajustados, nomeadamente:
Fármacos anti-depressores
Os diferentes anti-depressores apresentam eficácia distinta no
tratamento da depressão major. Contudo, todos estes fármacos
apresentam limitações, na medida em que pelo menos 20% dos
pacientes com depressão revelam-se insensíveis à acção de múltiplos
anti-depressores distintos.
Mecanismo de acção
Os anti-depressores de
primeira geração
também aumentam a
neuro-transmissão
monoaminérgica – de
facto, ao inibirem a
degradação das
monoaminas, os
inibidores da MAO
aumentam a quantidade
de neurotransmissores
nos grânulos secretores. Por seu turno, os TCAs actuam num sentido
de inibir a recaptação de noradrenalina e serotonina. Embora eficazes,
os agentes de primeira geração apresentam diversos efeitos laterais e
interacções farmacológicas/alimentares, os quais limitam o seu uso
relativo.
Considerações clínicas
Os efeitos dos fármacos anti-depressores apenas se fazem sentir cerca
de 3-4 semanas após início da terapia, o que explica porque é que a
terapia electroconvulsiva (cujos efeitos são mais rapidamente sentidos)
é preferida em pacientes deprimidos com um elevado risco de suicídio.
Obviamente, este intervalo de 3-4 semanas não é mandatório –
dependendo dos pacientes, estes fármacos podem surtir efeito num
período de tempo superior ou inferior.
Farmacocinética
Efeitos adversos
Os inibidores da
MAO aumentam o
risco de
hepatotoxicidade
e participam em
várias interacções
farmacológicas
ou alimentares,
as quais podem
resultar no
desenvolvimento
de crises
hipertensivas
potencialmente
fatais. Os
alimentos
contendo
tiramina
constituem um
importante factor
de risco para o
desenvolvimento
destas crises – de
facto, a MAO-A
intestinal e a
MAO-A e MAO-B
hepáticas
normalmente
degradam a
tiramina ingerida.
Todavia, aquando
da inibição da
MAO-A, a
ingestão de
alimentos ricos
em tiramina (tais
como alguns
queijos, vinho
tinto, favas e
chucrute) resulta
na acumulação
desta substância
nos terminais dos
neurónios
noradrenérgicos,
o que potencia a
libertação de
noradrenalina e
adrenalina. Por
seu turno, as
catecolaminas
libertadas
estimulam os
receptores pós-
sinápticos
periféricos,
aumentando
perigosamente a
pressão arterial.
Note-se, contudo,
que este
fenómeno é
revertido pela
administração de
fármacos anti-
hipertensores. De
referir que, por
omparação com a
tranilcipromina e
isocarboxazida, a
selegilina é
melhor tolerada e
mais segura.
Interacções farmacológicas
Anti-depressores tricíclicos
Não obstante os seus efeitos laterais (que impedem o seu uso clínico
frequente), os TCAs revelam-se eficazes na terapia da depressão
major. Para além disso, estes anti-depressores podem ser usados na
terapia da depressão psicótica, actuando de modo sinérgico com os
anti-psicóticos de primeira geração. Os TCAs com estrutura terciária
(tais como a doxepina e a amitriptilina) são ainda usados, em baixas
doses, no tratamento da insónia. Por fim, estes fármacos são
frequentemente utilizados no tratamento de vários tipos de dor.
Mecanismo de acção
Farmacocinética
Efeitos adversos
Interacções farmacológicas
Mecanismo de acção
Farmacocinética
Efeitos adversos
Interacções farmacológicas
Mecanismo de acção
Efeitos adversos
Interacções farmacológicas
Mecanismo de acção
Farmacocinética
Interacções farmacológicas
Bupropiona
A bupropiona parece actuar através de múltiplos mecanismos distintos.
De facto, este fármaco inibe simultaneamente a recaptação de
noradrenalina e dopamina, potenciando a neuro-transmissão mediada
por estas aminas. Para além disso, a bupropiona parece interferir com a
libertação pré-sináptica de noradrenalina e dopamina.
Farmacocinética
Anti-psicóticos atípicos
Para além de serem usados na terapia da esquizofrenia, depressão
bipolar e depressão major com componente psicótico; os anti-
psicóticos atípicos podem ser utilizados na terapia da depressão sem
componente psicótico. De facto, aquando de uma resposta inadequada
a, pelo menos, dois anti-depressores distintos, é possível recorrer à co-
administração de aripiprazole e SSRIs ou SNRIs, ou de olanzapina e
fluoxetina. Por seu turno, para além de poder ser co-administrada em
conjunto com outros anti-depressores, a quetiapina pode apresentar
acções anti-depressoras próprias. Para além disso, este fármaco é
usado na terapia da insónia e da ansiedade.
Fármacos ansiolíticos
Os principais fármacos utilizados na terapia da ansiedade incluem os
SSRIs, SNRIs, benzodiazepinas, buspirona, azipirona e bloqueadores
β. No passado, os TCAs (nomeadamente a clomipramina) e os
inibidores da MAO constituíam os fármacos mais usados na terapia da
ansiedade, embora o seu uso tenha sido maioritariamente abandonado,
em detrimento de fármacos menos tóxicos.
Considerações clínicas
Terapia aguda da ansiedade: Benzodiazepinas
Benzodiazepinas
As benzodiazepinas promovem a ligação do GABA aos receptores
GABAA (os quais constituem canais de cloreto activados por ligando),
aumentando a magnitude das correntes iónicas activadas pelo GABA.
Em termos moleculares, existem diferenças nos locais de ligação e
acção das várias benzodiazepinas, algo que se relaciona com a
existência de diferentes subunidades constituintes dos receptores
GABAA. Assim, tem-se procurado desenvolver compostos similares às
benzodiazepinas, mas selectivos para um ou mais subtipos de
receptores GABAA – esses esforços estão na base do desenvolvimento
dos “compostos Z”, que incluem o zolpidem (uma imidazopiridina), o
zaleplon (uma pirazolopirimidina) e as ciclopirrolonas zopiclona e
eszopiclona.
Efeitos farmacológicos
Quase todos os efeitos das benzodiazepinas resultam da sua actividade
no sistema nervoso central – de entre os efeitos mais proeminentes,
destaque para a sedação, hipnose, diminuição da ansiedade,
relaxamento muscular, amnésia anterógrada, e actividade anti-
convulsionante. Note-se, contudo, que as acções das benzodiazepinas
não se limitam ao sistema nervoso central – quando administrados em
doses elevadas, estes fármacos podem induzir vasodilatação coronária
e bloqueio neuro-muscular.
primeiro pico de sono REM. Para além disso, estes fármacos diminuem
o tempo passado em sono REM, embora aumentem o número de ciclos
REM. Note-se que o zolpidem e o zaleplon suprimem o sono REM de
forma menos marcada que as benzodiazepinas, podendo revelar
eficácia hipnótica superior.
Efeitos periféricos
Sistema respiratório
Sistema cardiovascular
Tracto gastro-intestinal
Farmacocinética
As propriedades físico-químicas e farmacocinéticas das
benzodiazepinas constituem importantes determinantes da sua utilidade
clínica. Todas as benzodiazepinas são completamente absorvidas por
via oral. O clorazepato constitui uma notável excepção – este fármaco
é rapidamente descarboxilado no suco gástrico em N-
desmetildiazepam (nordazepam), o qual é absorvido rapidamente.
Note-se que, não obstante apresentarem elevados coeficientes de
distribuição lipídeos-água, a lipofilia destes fármacos varia
significativamente.
Os metabolitos
activos de
algumas
benzodiazepinas
são
biotransformados
mais lentamente
que os seus
compostos
originais, de tal
modo que a
duração de acção
de várias
benzodiazepinas
não se
correlaciona com
o tempo de semi-
vida do fármaco
original
administrado
(vide supra, o
caso do
flurazepam). Por
oposição, no
caso dos agentes
que são
convertidos em
metabolitos
inactivos, a taxa
de
biotransformação
constitui um
importante
determinante da
duração de acção
– de entre esses
agentes,
destaque para o
oxazepam,
lorazepam,
temazepam,
triazolam e
midazolam.
Usos terapêuticos
A maior parte das benzodiazepinas pode ser usada em vários contextos
terapêuticos. Na sua maioria, as benzodiazepinas podem ser utilizadas
como hipnóticos, embora sejam preferencialmente usadas
benzodiazepinas com um curto período de semi-vida com esse fim, não
obstante induzirem maior risco de dependência e síndromes de
abstinência mais graves.
Efeitos adversos
Quando atingem as suas concentrações plasmáticas máximas, as
benzodiazepinas (mesmo que administradas em doses hipnóticas)
podem causar tonturas, cansaço, aumento do tempo de reacção,
descoordenação motora, perturbações das funções motoras e mentais,
confusão, e amnésia anterógrada. A cognição parece ser menos
afectada que as funções motoras, embora todos os efeitos supracitados
possam interferir com várias funções psicomotoras, tais como a
condução. Note-se que o álcool potencia os efeitos deletérios das
benzodiazepinas.
Comparativamente às benzodiazepinas, os
compostos Z revelam-se menos activos como
anti-convulsionantes ou relaxantes
musculares, o que se poderá dever à sua
selectividade relativa para os receptores
GABAA que expressam a subunidade α1.
Zaleplon
O zaleplon é uma pirazolopirimidina sedativo-hipnótica não pertencente
à classe das benzodiazepinas, mas que actua por ligação aos receptores
GABAA contendo a subunidade α1, mais propriamente, ao local de ligação
das benzodiazepinas. Este fármaco tem disso estudado para a terapia da
insónia, parecendo estar associado a uma diminuição dos períodos de
latência do sono, tanto em pacientes com insónia transitória como em
pacientes com insónia crónica.
Zolpidem
O zolpidem é uma imidazopiridina sedativo-hipnótica não pertencente à
classe das benzodiazepinas, mas que actua por ligação aos receptores
GABAA (mais concretamente, ao local de ligação das benzodiazepinas),
exercendo acções similares às das benzodiazepinas. Note-se, contudo,
que o zolpidem apresenta maior selectividade para os receptores das
benzodiazepinas com subunidades α.
O zolpidem parece apenas produzir efeitos anti-convulsionantes fracos,
enquanto os seus fortes efeitos sedativos parecem mascarar os seus
efeitos ansiolíticos. Para além disso, contrariamente às
benzodiazepinas, o zolpidem apresenta poucos efeitos nas várias fases
do sono. Contudo, este fármaco revela-se tão eficaz como as
benzodiazepinas a encurtar o tempo de latência do sono, bem como a
prolongar o tempo total de sono em pacientes com insónias.
Eszopiclona
A eszopiclona constitui o enantiómero S(+) activo da zopiclona, não
apresentando semelhanças estruturais com as benzodiazepinas,
zolpidem ou zaleplon. De qualquer modo, este fármaco parece actuar
por ligação ao receptor GABAA, mais propriamente ao local de ligação
às benzodiazepinas.
Flumazenil
O flumazenil é uma imidazobenzodiazepina que actua como um
antagonista dos receptores das benzodiazepinas. Este fármaco liga-se
ao receptor das benzodiazepinas com elevada afinidade, impedindo a
ligação das benzodiazepinas e compostos Z. Assim, o flumazenil
antagoniza os efeitos electrofisiológicos e comportamentais das
benzodiazepinas e β-carbolinas. Para além disso, pensa-se que,
quando administrado em elevadas doses, o flumazenil apresente efeitos
anti-convulsionantes, embora esse fenómeno careça de utilidade clínica
(até porque, em certas condições, este fármaco pode se revelar
paradoxalmente pró-convulsionante – vide infra).
Análogos da melatonina
Ramelteon
O ramelteon é um análogo tricíclico sintético da melatonina, sendo
utilizado na terapia da insónia (nomeadamente das dificuldades em
adormecer).
Mecanismo de acção
Barbitúricos
No passado, os barbitúricos foram amplamente usados como
fármacos sedativo-hipnóticos. Todavia, na maior parte dos casos, estes
fármacos foram substituídos pelas benzodiazepinas, que comportam
maior segurança.
Estrutura química
O ácido barbitúrico é uma 2,4,6-trioxohexahidropirimidina. Este
composto carece de actividade depressora central, embora a presença
de grupos alquil ou aril na posição cinco confira-lhe propriedades
sedativo-hipnóticas.
Propriedades farmacológicas
Os barbitúricos deprimem reversivelmente a actividade de todos os
tecidos excitáveis, sendo que o sistema nervoso central revela-se
particularmente sensível à acção destes fármacos. Assim, quando
administrados em concentrações anestésicas, os barbitúricos apenas
geram efeitos fracos nos tecidos periféricos. Todavia, em situações de
intoxicação aguda por barbitúricos, podem ocorrer graves efeitos
adversos nos tecidos periféricos, nomeadamente ao nível do sistema
cardiovascular.
Efeitos periféricos
Sistema respiratório
Tracto gastro-intestinal
Farmacocinética
Quando administrados com fins sedativo-hipnóticos, os barbitúricos são
normalmente administrados oralmente, sofrendo uma absorção rápida e
quase completa (sendo que a absorção se processa mais rapidamente
quando os barbitúricos são administrados sob a forma de sais de sódio).
A administração de barbitúricos (sob a forma de sais de sódio) por via
intra-muscular deverá ocorrer ao nível dos grandes músculos, de modo
a evitar a génese de dor e necrose muscular. Por fim, a administração
de barbitúricos por via intra-venosa apenas é normalmente empregue
para indução/manutenção de anestesia geral ou para controlo da
epilepsia.
Efeitos terapêuticos
Na prática clínica, os barbitúricos foram maioritariamente substituídos
pelas benzodiazepinas. De qualquer modo, estes fármacos
(especialmente o butabarbital e o fenobarbital) são, por vezes, usados
para antagonizar os efeitos (indesejados) estimulantes centrais de
vários fármacos, tais como a efedrina, a dextroanfetamina e a teofilina.
Efeitos adversos
Efeitos residuais
Excitação paradoxal
Hipersensibilidade
Interacções farmacológicas
Quando co-administrados com outros depressores centrais, os
barbitúricos induzem depressão grave do sistema nervoso central. De
entre as substâncias que potenciam os efeitos depressores dos
barbitúricos, destaque para o etanol, anti-histamínicos, isoniazida e
inibidores da MAO.
5. Os seus efeitos nas várias etapas do sono são similares aos dos
barbitúricos;
Paraldeído
O paraldeído é um polímero de acetaldeído, constituindo um poliéter
cíclico com um forte odor e um sabor desagradável. Quando
administrado por via oral, este fármaco revela-se irritante para a
garganta e estômago. Todavia, este fármaco também não deverá ser
administrado parentericamente, devido aos seus efeitos deletérios nos
tecidos.
Hidrato cloral
O hidrato cloral resulta da adição de uma molécula de água ao grupo
carbonilo do cloral, podendo ser utilizado na terapia dos pacientes com
reacções paradoxais às benzodiazepinas.
Meprobamato
O meprobamato (um
éster de bis-carbamato) é
um ansiolítico que
também apresenta
propriedades sedativo-
hipnóticas. As
propriedades
farmacológicas do
meprobamato
assemelham-se às das
Clometiazol
O clometiazol apresenta propriedades sedativas, relaxantes
musculares e anti-convulsionantes. Este fármaco é usado para induzir
sedação pré-anestésica e hipnose (em pacientes institucionalizados e
idosos), sendo ainda usado no controlo da abstinência alcoólica. Este
fármaco apresenta um elevado índice terapêutico, de tal modo que,
quando administrado isoladamente, este fármaco induz efeitos
desprezáveis na respiração. Todavia, a sua co-administração com o
etanol pode se revelar fatal.
Propofol
O propofol é um di-isopropilfenol altamente lipofílico e de rápida
actuação, sendo utilizado na indução e manutenção da anestesia geral,
bem como na manutenção da sedação a longo prazo. A sedação
induzida pelo propofol assemelha-se qualitativamente à produzida pelo
midazolam. De qualquer modo, o despertar da sedação ocorre
rapidamente, fruto da sua rápida clearance. Em termos clínicos, o
propofol é administrado para sedação de adultos internados nos
cuidados intensivos, bem como para sedação de indivíduos submetidos
a endoscopia gastro-intestinal ou recuperação trans-vaginal de oócitos.
Convulsões parciais
O mecanismo molecular
subjacente à actividade destes
fármacos parece envolver o
prolongamento do período de
recuperação dos canais de
sódio inactivos. Ou seja, os
fármacos supracitados
diminuem a velocidade de
conversão dos canais de sódio
inactivos (refractários) em
canais fechados (e passíveis de
sofrerem reactivação),
impedindo assim a activação
neuronal de elevada frequência.
Para além disso, o bloqueio
pré-sináptico e pós-sináptico
dos canais de sódio
dependentes de voltagem
estabiliza as membranas
neuronias, bloqueia e previne a
potenciação pós-tetânica, limita
o desenvolvimento máximo de
convulsões epilépticas e diminui
a progressão das convulsões.
As benzodiazepinas e os
barbitúricos actuam em locais
distintos dos receptores
GABAA, potenciando a inibição
neuronal mediada
Convulsões generalizadas
Convulsões de ausência
Contrariamente às convulsões
parciais, que têm origem em
regiões localizadas do córtex
cerebral, as convulsões
generalizadas têm origem na
activação recíproca do tálamo e
córtex cerebral.
As convulsões de ausência
constituem o tipo de convulsões
generalizadas melhor estudado.
Nestas convulsões ocorre um
importante envolvimento
talâmico, de tal modo que a
estimulação de estruturas
talâmicas medianas a baixas
frequências despoleta ritmos
corticais similares aos
observados nas convulsões de
ausência.
De facto, as convulsões de
ausência estão associadas à
visualização de descargas
spike-and-wave de 3Hz no
electroencefalograma (EEG).
Estas descargas, que resultam
de oscilações entre a actividade
talâmica e neocortical,
dependem parcialmente da
existência de correntes de
cálcio do tipo T nos neurónios
talâmicos. Ora, essas correntes
amplificam as oscilações do
potencial de membrana
talâmico, sendo que uma
dessas oscilações é a descarga
spike-and-wave de 3Hz, que
está envolvida na génese de
convulsões de ausência.
Fármacos anti-convulsivos
Considerações gerais
c. fármaco anti-
convulsivo ideal
deveria suprimir
todas as
convulsões sem
causar quaisquer
efeitos adversos.
Infelizmente, os
fármacos utilizados
actualmente não
só são ineficazes
em alguns
pacientes, como
também podem
induzir vários
efeitos adversos,
alguns dos quais
potencialmente
fatais.
efeitos adversos, é
preferível recorrer
ao uso de um
único fármaco anti-
convulsivo. Caso o
fármaco
Fenitoína
A fenitoína (difenilhidantoína) é uma hidantoína eficaz contra todos os
tipos de convulsões parciais e tónico-clónicas, mas não contra as
convulsões de ausência.
Estrutura química
Efeitos farmacológicos
Mecanismo de acção
Farmacocinética
A fenitoína pode ser administrada por via oral sob a forma de fórmulas
de libertação rápida ou de libertação prolongada, apresentando uma
biodisponibilidade próxima de 95%. As características farmacocinéticas
da fenitoína são fortemente influenciadas pela sua capacidade de
ligação às proteínas plasmáticas, pela não-linearidade da sua
eliminação e pelo seu metabolismo hepático.
envolvendo outros
fármacos que
sejam
biotransformados
pelas mesmas
enzimas. A título
Toxicidade
Interacções farmacológicas
A co-administração de fenitoína com qualquer outro fármaco
metabolizado pelo CYP2C9 ou CYP2C10 pode resultar no aumento das
concentrações plasmáticas de fenitoína, por diminuição do
metabolismo. Por seu turno, a carbamazepina induz um decréscimo dos
níveis plasmáticos de fenitoína (por potenciação do seu metabolismo),
enquanto a fenitoína reduz os níveis plasmáticos de carbamazepina. As
interacções entre a fenitoína e o fenobarbital são variáveis.
Usos terapêuticos
Fenobarbital
O fenobarbital é um barbitúrico com propriedades anti-convulsivas.
Para além de eficaz, este fármaco apresenta um baixo custo, o que
explica o seu uso generalizado.
Estrutura química
Propriedades anti-convulsivas
A maioria dos barbitúricos apresenta propriedades anti-convulsivas,
embora apenas alguns desses agentes (tais como o fenobarbital)
exerçam uma acção anti-convulsiva máxima a doses inferiores às
necessárias para que seja exercido um efeito hipnótico – de facto, esta
condição revela-se essencial para determinar a utilidade clínica de um
barbitúrico como agente anti-convulsivo.
Mecanismo de acção
Farmacocinética
Toxicidade
Interacções farmacológicas
Usos terapêuticos
Carbamazepina
Estrutura química
Efeitos farmacológicos
Propriedades farmacocinéticas
Toxicidade
A intoxicação aguda por carbamazepina pode resultar em estupor,
coma, hiperirritabilidade, convulsões e depressão respiratória. Já num
contexto de terapia crónica, os efeitos adversos mais frequentes
incluem sonolência, vertigens, ataxia, diplopia e visão desfocada. Para
além disso, a sobredosagem deste fármaco pode exercer um paradoxal
efeito convulsivo. Assim, de modo a minimizar o risco de
neurotoxicidade, o início da terapia com carbamazepina deverá cursar
com um aumento gradual das doses administradas deste fármaco.
Interacções farmacológicas
Oxcarbazepina
A oxcarbazepina é um análogo ceto- da carbamazepina, actuando de
modo similar a este último fármaco. Em termos clínicos, a
oxcarbazepina pode ser usada na terapia das convulsões parciais e
secundariamente generalizadas, tanto em monoterapia, como em
terapia adjuvante. De entre os principais efeitos adversos deste
fármaco, destaque para a sonolência, cefaleias, vertigens, diplopia,
rash, hiponatrémia e alterações gastro-intestinais.
Acetato de eslicarbazepina
O acetato de eslicarbazepina constitui o pró-fármaco de
eslicarbazepina, tendo sido descoberto por investigadores Portuenses.
A eslicarbazepina constitui o derivado 10-monohidroxi da
oxcarbazepina (estas duas moléculas são inter-convertíveis) e, tal como
este último fármaco, é utilizada na terapia das convulsões parciais, com
ou sem generalização secundária. Por comparação com a
oxacarbazepina, este fármaco apresenta propriedades similares,
embora pareça revelar maior segurança, induzindo menor quantidade
de efeitos adversos (menor frequência de rash e hiponatrémia) e
participando em menos interacções farmacológicas. Note-se, contudo,
que este fármaco induz o metabolismo dos contraceptivos orais.
Etosuximida
Estrutura química
Mecanismo de acção
A etosuximida actua nos neurónios talâmicos, reduzindo as correntes de
cálcio do tipo T (correntes de baixo limiar). Como referido anteriormente,
estas correntes desempenham um importante papel na génese dos
ritmos spike-and-wave de 3 Hz, os quais são característicos das
convulsões de ausência. Assim, a inibição das correntes de cálcio do
tipo T constitui o mecanismo através do qual a etosuximida inibe a
ocorrência de convulsões de ausência.
Farmacocinética
Toxicidade
Ácido valpróico
O ácido valpróico (ácido n-dipropilacético) é um
ácido carboxílico de cadeia ramificada simples.
Vários outros ácidos carboxílicos de cadeia
ramificada apresentam uma potência anti-
convulsiva similar à do ácido valpróico - todavia,
estas moléculas não deverão apresentar nove ou
mais átomos de carbono, sob pena de induzirem
sedação. Por oposição, os
Mecanismo de acção
Propriedades farmacocinéticas
Note-se que alguns dos metabolitos deste fármaco (tais como o ácido
2-propil-2-pentenóico e o ácido 2-propil-4-pentenóico) constituem
agentes anti-convulsivos quase tão potentes como o próprio valproato.
Todavia, apenas o ácido 2-propil-2-pentenóico (também designado por
2-en-valproato) acumula-se no plasma e no encéfalo em
concentrações significativas. De referir que o período de semi-vida do
valproato ronda as 15 horas, sendo que esse valor encontra-se reduzido
em pacientes que estejam a tomar outros fármacos anti-convulsivos.
Toxicidade
O ácido valpróico exerce vários efeitos na função hepática (os quais são
maioritariamente mediados pelo 4-en-valproato), podendo causar
elevação das transamínases hepáticas. Mais raramente, este fármaco
pode induzir hepatite fulminante (o risco desta condição potencialmente
fatal é superior em crianças com idade inferior a dois anos), bem como
pancreatite e hiperamonémia. Para além disso, o valproato também
apresenta efeitos teratogénicos, podendo causar defeitos do tubo
neural.
Interacções farmacológicas
Benzodiazepinas
Na prática clínica, as benzodiazepinas são maioritariamente utilizadas
como ansiolíticos, embora também possam ser usadas na terapia da
epilepsia. De facto, várias benzodiazepinas apresentam propriedades
anti-epilépticas, embora apenas algumas revelem interesse terapêutico:
Propriedades anti-convulsivas
Mecanismo de acção
As benzodiazepinas actuam em locais específicos dos receptores
GABAA, aumentando a frequência (mas não a duração) de abertura dos
canais de cloreto activados pelo GABA. Assim, a potenciação da
inibição sináptica mediada pelo GABA constitui o mecanismo
subjacente aos efeitos anti-convulsivos destes fármacos. Note-se que,
quando administrados em maiores concentrações, o diazepam e várias
outras benzodiazepinas podem reduzir a activação neuronal de elevada
frequência, exercendo um efeito comparável ao da fenitoína,
carbamazepina e valproato.
Farmacocinética
Toxicidade
Usos terapêuticos
Gabapentina e pré-gabalina
Em termos estruturais, a pré-
gabalina resulta da ligação
covalente de uma molécula de
GABA a um isobutano. Por seu
turno, a gabapentina é constituída
por uma molécula de GABA
covalentemente ligada a um anel
ciclo-hexano lipofílico. Note-se que o
perfil altamente lipofílico da
gabapentina permite que este
fármaco atravesse facilmente a
barreira hemato-encefálica,
exercendo importantes efeitos de
cariz central.
Farmacocinética
Toxicidade
Lamotrigina
A lamotrigina é um derivado da feniltriazina que foi inicialmente
desenvolvido como um agente anti-folato. Todavia, sabe-se que a sua
eficácia como agente anti-convulsivo não se correlaciona com as suas
propriedades anti-folatos.
Farmacocinética
Uso terapêutico
Toxicidade
Os efeitos adversos mais comuns da lamotrigina incluem tonturas,
ataxia, visão desfocada, náusea, vómitos e rash – estes efeitos são
mais comuns aquando da co-administração de lamotrigina com outro
fármaco anti-convulsivo. Para além disso, já foram descritos casos de
síndrome de Stevens-Johnson e coagulação intra-vascular
disseminada.
Levetiracetam
5. levetiracetam é uma pirrolidina, constituindo o S-enantiómero da
α-etil-2-oxo-1-pirrolidieacetamida. O levetiracetam é administrado a
adultos e crianças com idade superior a quatro anos, sendo que a sua
co-administração com outros fármacos anti-convulsivos revela-se eficaz
na terapia de vários tipos de convulsões, nomeadamente:
Farmacocinética
Toxicidade
Tiagabina
A tiagabina é um derivado do ácido nipecótico utilizado (em indivíduos
adultos) como adjuvante na terapia das convulsões parciais refractárias
com ou sem generalização secundária.
Farmacocinética
Toxicidade
Topiramato
O topiramato é um monossacarídeo com um
grupo sulfamato que é utilizado na terapia das
convulsões parciais e generalizadas tónico-
clónicas. Note-se que em pacientes com idade
inferior a dez anos, este fármaco pode ser
administrado como monoterapia inicial. Por
oposição, em pacientes com idade inferior a
dois anos, este fármaco pode ser usado como
terapia adjuvante.
Para além disso, em pacientes com idade superior a dois anos, o
topiramato pode ser utilizado na terapia da síndrome de Lennox-
Gastaut. Por fim, este fármaco pode ser usado na profilaxia das
cefaleias e na terapia dos drop ataccks.
Farmacocinética
Toxicidade
O topiramato é um fármaco bem tolerado. Os seus principais efeitos
adversos incluem sonolência, fadiga, confusão mental, vertigens,
parestesias, perturbações de memória, depressão, perda de peso,
alterações do paladar, irritabilidade e perturbações cognitivas. Para
além disso, este fármaco pode levar à precipitação de cálculos renais
(provavelmente por inibição da anídrase carbónica).
Felbamato
O felbamato é um dicarbamato que pode ser
utilizado na terapia das convulsões parciais e
secundariamente generalizadas. Para além disso,
este fármaco também exerce um efeito anti-
convulsivo em pacientes com síndrome de Lennox-
Gastaut. Todavia, o felbamato exerce importantes
efeitos adversos (incluindo anemia aplástica e
insuficiência hepática), que limitam o seu uso na
prática clínica. Para além disso, este fármaco
aumenta o risco de insónia, perda de peso, náusea,
fadiga, ataxia, letargia e vertigens.
Zonisamida
A zonisamida é um derivado das sulfonamidas que é usado como
adjuvante na terapia das convulsões parciais (em indivíduos adultos).
Para além de inibir as correntes de cálcio do tipo T, este fármaco inibe a
activação repetida e sustentada dos neurónios da espinal medula,
provavelmente por prolongamento da inactivação dos canais de sódio
dependentes de voltagem.
Farmacocinética
Toxicidade
Lacosamida
Rufinamida
A rufinamida é um derivado triazólico cuja estrutura
não se assemelha à de nenhum outro fármaco anti-
convulsivo. Este fármaco pode ser usado em indivíduos
com idade superior a quatro anos, como adjuvante na
terapia das convulsões tónico-clónicas associadas à
síndrome de Lennox-Gastaut.
Acetazolamida
A acetazolamida é um inibidor da anídrase carbónica com
propriedades anti-convulsivas. Embora este fármaco possa ser eficaz
na terapia das convulsões de ausência, a sua utilidade é limitada pelo
rápido desenvolvimento de tolerância. Quando administrado em doses
terapêuticas e durante períodos de tempo limitados, este fármaco é bem
tolerado, exercendo poucos efeitos adversos.
Vulnerabilidade selectiva
Uma característica curiosa destas doenças prende-se com o facto da
degeneração neuronal se restringir especificamente a tipos particulares
de neurónios. A título de exemplo, na doença de Parkinson, ocorre uma
intensa destruição dos neurónios dopaminérgicos da substância negra,
enquanto os neurónios do córtex e de várias outras regiões do encéfalo
permanecem inalterados. Por sua vez, as lesões neuronais
características da doença de Alzheimer afectam sobretudo o hipocampo
e o neocórtex, embora a perda de neurónios corticais não seja uniforme.
Interacção genético-ambiental
As influências genéticas e ambientais constituem determinantes
fundamentais para a patogenia de todas as doenças
neurodegenerativas. No que concerne às influências genéticas, estas
revelam-se particularmente significativas na doença de Huntington, visto
que esta apresenta um padrão de transmissão mendeliano (sendo uma
doença autossómica dominante). Todavia, convém não esquecer a
importância dos factores ambientais na patogenia desta doença, uma
vez que estes influenciam significativamente a idade de aparecimento e
a taxa de progressão dos sintomas subjacentes.
Enquadramento clínico
O parkinsonismo constitui uma síndrome clínica caracterizada por quatro
características cardinais:
6. Rigidez muscular;
Fisiopatologia
O défice dopaminérgico subjacente à doença de Parkinson resulta da
perda de neurónios da pars compacta da substância negra, os quais
asseguram a inervação do núcleo estriado (caudado e putamen). Deste
modo, a potenciação da neurotransmissão dopaminérgica revela-se
benéfica na doença de Parkinson.
Receptores dopaminérgicos
Quando administrada
isoladamente, a levodopa é
amplamente descarboxilada
em dopamina pelas
enzimas da mucosa
intestinal (e de outros
tecidos periféricos), de tal
modo que menos de
fenómeno on-off.
Quando a levodopa é
administrada por via oral, cerca
de 99% deste fármaco não actua
no encéfalo – de facto, a maior
parte da levodopa
é perifericamente convertida
pela descarboxílase dos ácidos
aromáticos em dopamina, a qual
causa náusea e hipotensão. A
adição de um inibidor da
descarboxílase dos ácidos
aromáticos (tal como a
carbidopa) reduz a formação de
dopamina, embora aumente a
fracção de levodopa que sofre
metabolização pela COMT. Ora,
os inibidores da COMT actuam
num sentido de bloquear a
conversão
selectivo e irreversível.
Assim, ao inibir a
degradação estriatal de
dopamina, estes
fármacos apresentam
benefícios modestos na
sintomatologia da
doença de Parkinson.
Contrariamente aos
inibidores não-
específicos da MAO
(tais como a
isocarboxazida,
tranilcipromina e
fenelzina), os inibidores
selectivos da MAO-B
não inibem o
metabolismo periférico
das
catecolaminas de modo
significativo, podendo
ser co-administrados
com a levodopa. Para
além disso, a co-
administração destes
agentes com a tiramina
não resulta em
hipertensão.
A selegilina é usada na
terapia sintomática da
doença de Parkinson,
sendo normalmente
bem tolerada em
pacientes mais jovens e
com um quadro ligeiro
ou moderado. Contudo,
em pacientes com
doença de Parkinson
avançada, ou com uma
Apomorfina
Sumário clínico
Patogénese da esquizofrenia
A esquizofrenia é considerada uma doença do desenvolvimento
neural, tendo por base alterações estruturais e funcionais no encéfalo.
Estas podem estar presentes desde o período fetal ou desenvolver-se
durante a infância e adolescência. De qualquer modo, a esquizofrenia
constitui uma perturbação genética (mas não monogénica),
apresentando uma elevada heritabilidade.
Hipótese da dopamina
Embora não permita explicar todos os aspectos da esquizofrenia, a
hipótese da dopamina continua a ser extremamente relevante para a
compreensão das principais dimensões desta perturbação, incluindo os
sintomas positivos e negativos (atenuação das emoções, exclusão
social e falta de motivação), as perturbações cognitivas e,
possivelmente, a depressão. Para além disso, esta hipótese permite
compreender o mecanismo de acção da maioria (quiçá de todos) dos
fármacos anti-psicóticos.
Contudo, a
hipótese da
dopamina não se
revela capaz de
explicar todos os
aspectos da
esquizofrenia. De
facto, não obstante
serem eficazes na
terapia da
esquizofrenia, os
agentes
anti-psicóticos
atípicos exercem
menos efeitos nos
receptores D2,
quando
comparados com
outros anti-
psicóticos.
Hipótese do glutamato
A patogenia da esquizofrenia pode estar ainda relacionada com uma
hipofunção dos receptores NMDA expressos pelos neurónios
GABAérgicos. De facto, esta hipofunção conduz a uma diminuição da
actividade GABAérgica (inibitória), o que pode resultar numa desinibição
da actividade glutamatérgica a jusante e, por conseguinte, numa
hiperestimulação dos neurónios corticais (via receptores não-NMDA).
Agentes anti-psicóticos
5. Derivados alifáticos
6. Derivados da piperidina
7. Derivados da piperazina
Os derivados
alifáticos (tais
como a
cloropromazina) e
piperidínicos (tais
como a tioridazina)
constituem as
fenotiazinas menos
potentes, induzindo
maior grau de
sedação e ganho
ponderal. Por seu
turno, os derivados
piperazínicos são
mais potentes, mas
não
necessariamente
mais eficazes.
Todavia, os
derivados
piperazínicos
exercem efeitos
farmacológicos mais
seletivos.
De referir que, de acordo com estudos recentes, a perfenazina (uma
fenotiazina) revela-se tão eficaz como os anti-psicóticos atípicos (com
excepção da olanzapina). Contudo, não obstante a sua eficácia,
convém não esquecer que os anti-psicóticos típicos acarretam maior
risco de discinesia tardia que os anti-psicóticos atípicos.
Derivados do tioxanteno
Derivados da butirofenona
Outros fármacos
Farmacocinética
A maior parte dos fármacos
anti-psicóticos sofre absorção
rápida, mas incompleta. Para
além disso, vários destes
fármacos sofrem um
importante efeito de primeira
passagem. Deste modo, a
biodisponibilidade oral da
clorpromazina e tioridazina
ronda os 25-35%, enquanto a
biodisponibilidade do
haloperidol (cujo efeito de
primeira passagem é inferior)
ronda os 65%.
A maior parte dos anti-
psicóticos apresenta elevada
lipofilia e elevada capacidade
de ligação às proteínas
plasmáticas. Estes fármacos
manifestam um grande volume
de distribuição, de tal modo
que a sua duração de acção é
superior ao seu período de
semi-
Farmacodinamia
Os anti-psicóticos fenotiazínicos mais antigos (dos quais a
clorpromazina constitui o protótipo) exercem vários efeitos centrais,
autonómicos e endócrinos. Embora a eficácia destes fármacos resulte
maioritariamente do seu bloqueio dos receptores D2, os seus efeitos
adversos (também) resultam do bloqueio de uma série de outros
receptores, incluindo os receptores adrenérgicos, muscarínicos,
histaminérgicos H1 e serotoninérgicos 5-HT2.
Sistemas dopaminérgicos
Receptores dopaminérgicos
Efeitos fisiológicos
Em indivíduos não-psicóticos, a maior parte dos fármacos anti-
psicóticos causa efeitos desagradáveis. De entre esses efeitos,
destaque para os sintomas extra-piramidais (incluindo acatsia), efeitos
autonómicos, irrequietude e sonolência. Este último efeito, contudo,
pode ser aproveitado com fins terapêuticos – de facto, alguns anti-
psicóticos (sobretudo a quetiapina) são usados para promover o início
e manutenção do sono.
Efeitos electro-encefalográficos
Os fármacos anti-psicóticos produzem alterações no padrão electro-
encefalográfico (EEG), diminuindo as frequências do EEG e
aumentando a sua sincronização. Essa lentificação (hipersincronia) é,
por vezes, focal ou unilateral, o que pode levar a interpretações
diagnósticas erróneas.
Efeitos endócrinos
Efeitos cardiovasculares
Uso terapêutico
Indicações psiquiátricas
Indicações não-psiquiátricas
Reacções adversas
A maior parte dos efeitos laterais dos fármacos anti-psicóticos
constituem extensões das suas acções farmacológicas. Contudo, estes
fármacos também podem despoletar reacções alérgicas ou efeitos
idiossincráticos.
Efeitos comportamentais
Os fármacos anti-psicóticos típicos mais antigos apresentam vários
efeitos laterais, os quais diminuem a adesão terapêutica dos pacientes.
Para contornar este problema, podem-se administrar pequenas doses
destes fármacos durante o dia, e doses superiores antes do adormecer.
Efeitos neurológicos
amenorreia-galactorreia,
infertilidade e osteoporose em
indivíduos do sexo feminino. Já
em indivíduos do sexo masculino,
a hiperprolactinemia está
associada a perda da líbido,
impotência sexual e infertilidade.
Assim, aquando da detecção
destes sintomas, deve se proceder
a uma redução da dose
administrada ou a uma
substituição por um anti-psicótico
atípico que não aumente os níveis
de prolactina, tal como o
aripiprazol.
Efeitos cardiovasculares
Efeitos oculares
Interacções farmacológicas
Devido à sua multiplicidade de efeitos, os anti-psicóticos participam em
mais interacções farmacodinâmicas que farmacocinéticas. De facto,
podem se registar efeitos aditivos aquando da sua co-administração
com outros fármacos com propriedades sedativas, α-bloqueadoras, anti-
colinérgicas, ou (no caso da tioridazina e ziprasidona) do tipo quinidina.
Por outro lado, já foram registadas várias interacções farmacocinéticas,
embora nenhuma apresente importância clínica major.
Intoxicação
Contrariamente ao que se verifica com os anti-depressores tricíclicos, a
intoxicação com agentes anti-psicóticos raramente se revela fatal, com
excepção da intoxicação por mesoridazina e tioridazina (os efeitos letais
destes dois últimos fármacos resultam da sua indução de taquiarritmias
ventriculares). Note-se que os pacientes deverão receber um tratamento
de suporte e receber um acompanhamento similar ao verificado em
situações de intoxicação por anti-depressores tricíclicos.
Resumo clínico
Na maior parte dos pacientes com esquizofrenia, os anti-psicóticos
típicos revelam-se tão eficazes como os anti-psicóticos atípicos na
terapia dos sintomas positivos. Todavia, os anti-psicóticos atípicos
revelam mais benefícios na cognição e terapia dos sintomas negativos.
Para além disso, estes últimos fármacos revelam-se mais seguros,
acarretando um menor risco de discinesia tardia (ou outros sintomas
extra-piramidais) e gerando menores aumentos dos níveis de prolactina.
Fenotiazinas
Alifáticos
Cloropromazina
4. Farmacocinética
7. Farmacodinamia
D1: +
β D2: +++
o D4: ++
o α-adrenérgicos: +++
é H1: ++
Muscarínicos: +
5-HT2: +
4. Efeitos adversos
Perturbações da ejaculação
Sedação: +++
Efeitos extra-piramidais: ++
Hipotensão: ++
Trifluopromazina
4. Farmacocinética e considerações clínicas
é Farmacodinamia
D1: +
4. D2: +++
o D4: ?
o α-adrenérgicos: ++
4. H1: ++
Muscarínicos: ++
5-HT2: +
4. Efeitos adversos
Sedação: +++
3. Efeitos extra-
piramidais: ++ o
Hipotensão: ++
Piperidinas
Tioridazina
4. Farmacocinética
Metabolização pelo CYP2D6
5. Farmacodinamia
D1: +
D2: ++
D4: ++
o α-adrenérgicos: +++
• H1: -
Muscarínicos: ++
5-HT2: ++
• Efeitos adversos
Sedação: +++
Efeitos extra-piramidais: +
Hipotensão: +++
Mesoridazina
• Farmacocinética
• Efeitos adversos
Perturbações da ejaculação
• Taquiarritmias ventriculares
(em overdose) o Sedação: +++
o Efeitos extra-piramidais: +
o Hipotensão: ++
Piperazinas
Flufenazina
• Farmacocinética
• Farmacodinamia
D1: +
• D2: +++
o D4: ++++
o α-adrenérgicos: ++
• H1: ++
Muscarínicos: ++
5-HT2: +
à Efeitos adversos
Sedação: +
o Hipotensão: +
Perfenazina
• Farmacocinética
5. Efeitos adversos
Sedação: ++
• Efeitos extra-
piramidais: ++ o
Hipotensão: +
Trifluoperazina
• Farmacocinética
Efeitos adversos
Sedação: +
Hipotensão: +
Derivados do tioxanteno
Alifáticos
Cloroprotixeno
• Farmacodinamia
Inibição dos receptores 5-HT2, D1, D2, D3, H1, muscarínicos e
α1-adrenérgicos
Efeitos anti-eméticos
B Forte acção sedativa e anti-colinérgica
o Efeitos extra-piramidais: ++
o Hipotensão: +
Piperizinas
Tiotixeno
2. Efeitos adversos
8. Sedação: ++
3. Efeitos extra-
piramidais: ++ o
Hipotensão: +
Farmac
odinami
a o D1:
+ o D2:
+++
o D4: ?
o α-adrenérgicos: ++
4. H1: -
Muscarínicos: -
5-HT2: +++
5. Efeitos adversos
Sedação: ++
7. Efeitos extra-
piramidais: ++ o
Hipotensão: ++
Flupentixol
p Farmacocinética
B Farmacodinamia
D1: ++
3. D2: +++
o D4: ?
o α-adrenérgicos: ++
4. H1: -
Muscarínicos: -
5-HT2: +++
Sedação: ++
Hipotensão: ++
Derivados da butirofenona
Haloperidol
f Farmacocinética
Farmacodinamia
D1: +
D2: ++++
o D4: ++++
o α-adrenérgicos: -
H1: +
Muscarínicos: -
5-HT2: +
Potente anti-emético
Torsades de pointes
Sedação: +
Hipotensão: +
Droperidol
Período de acção
muito curto o Elevada
capacidade de sedação
o Uso como sedativo e anestésico de emergência (uso num
contexto de neuroleptanestesia com o fentanil)
Pimozídeo
Farmacocinética
Farmacodinamia
D1: -
D2: +++
o D4: +
o α-adrenérgicos: -
H1: -
Muscarínicos: -
5-HT2: -
Efeitos adversos
Sedação: +
Hipotensão: +
Fluspirileno
Farmacocinética
Sedação: ++
Efeitos extra-
piramidais: ++ o
Hipotensão: +
Pipamperona
Melperona
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Farmacodinamia
D1: +
D2: +
D4: ++++
α-adrenérgicos: +++
H1: ++
Muscarínicos: +++
5-HT2: +++
Efeitos terapêuticos
Efeitos adversos
o
Agranulocito
se o
Convulsões
o Obstipação
o
Hipersalivaçã
o o Diabetes
mellitus o
Sedação: +++
o Efeitos extra-piramidais: -
o Hipotensão: +++
Olanzapina
Farmacocinética
Farmacodinamia
D1: -
D2:
++ o
D4: +++
o α-adrenérgicos: -
H1: -
Muscarínicos: -
5-HT2: ++
Diabetes mellitus
Xerostomia
Aumento das transamínases hepáticas
Sedação: +++
Efeitos extra-
piramidais: - o
Hipotensão: +
Quetiapina
Farmacocinética
Farmacodinamia
D1: ++
D2: +
o D4:
-
o α-adrenérgicos: +++
H1: ++++
Muscarínicos: -
5-HT2: -
Usos terapêuticos
Sedativo-hipnótico
Efeitos adversos
risco de arritmias
Sedação: ++
Efeitos extra-
piramidais: - o
Hipotensão: +++
Asenapina
Farmacocinética
Efeitos adversos
Ziprasidona
Farmacocinética
Farmacodinamia
D1: +
D2: +++
o D4: ++
o α-adrenérgicos: ++
H1: ++
Muscarínicos: -
5-HT2: ++++
Efeitos adversos
Prolongamento do intervalo QT (não induz aumento do risco
de torsades de pointes).
Efeitos extra-
piramidais: - o
Hipotensão: +
Iloperidona
Risperidona
Farmacocinética
Farmacodinamia
D1: -
D2: +++
o D4: ++++
o α-adrenérgicos: +++
H1: +++
Muscarínicos: -
5-HT2: +++
Efeitos terapêuticos
Efeitos adversos
Sedação: ++
Efeitos extra-
piramidais: ++ o
Hipotensão: +++
Sulpiride
Farmacodinamia
Antagonista dos receptores 5-HT7
D1: -
o D2: +++
o D4: -
o α-adrenérgicos: -
H1: -
Muscarínicos: -
5-HT2: -
Efeitos adversos
o Efeitos extra-piramidais: +
o Hipotensão: +
Remoxipride
Aripiprazol
Farmacocinética
Farmacodinamia
D1: ++
D2: +++ (agonista parcial com elevada taxa de ocupação)
D4: ++
α-adrenérgicos: ++
H1: +++
Muscarínicos: -
5-HT2: +++
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Sedação: -
Efeitos extra-
piramidais: - o
Hipotensão: -
Sertindol
Amperozídeo
Loxapina
Farmacocinética e
farmacodinamia o
Estrutura tricíclica
Efeitos adversos
Sedação: +
Efeitos extra-
piramidais: ++ o
Hipotensão: +
Molindona
Induz perda
de peso o
Sedação: ++
o Efeitos extra-piramidais: ++
o Hipotensão: +
Zotepina
Benefícios na cognição
Lítio
Farmacocinética
O lítio é quase completamente absorvido por via oral, de tal modo que
os seus níveis plasmáticos máximos atingem-se num período de 30
minutos-2 horas. Este ião distribui-se pelo volume total de água do
organismo, entrando lentamente no compartimento intracelular. Note-se
que o lítio não circula ligado às proteínas plasmáticas, mas que parte
deste ião é sequestrado nos ossos. O lítio não sofre metabolização,
sendo excretado por via renal.
Farmacodinamia
Os mecanismos de acção
do lítio (bem como de outros
fármacos usados na terapia
da doença bipolar) ainda
não se encontram
completamente
esclarecidos. Sabe-se,
contudo, que o lítio inibe
directamente duas vias de
transdução de sinal,
suprimindo a via de
sinalização do inositol (por
depleção do inositol
intracelular) e inibindo a
cínase-3 da síntase do
glicogénio (GSK-3). Esta
regeneração dos
fosfoinositídeos membranares,
o lítio potencia a depleção de
inositol livre e,
subsequentemente, de
fosfatidilinositol-4,5-bifosfato
(PIP2). Ora, o PIP2 constitui o
percursor membranar do
inositol trifosfato (IP3) e
diacilglicerol (DAG), os quais
constituem importantes
segundos
Uso clínico
Doença bipolar
Interacções farmacológicas
O uso de diuréticos reduz a clearance renal de lítio, de tal modo que a
co-administração de diuréticos e lítio obriga a uma redução das doses
deste ião. O uso de anti-inflamatórios não-esteróides modernos também
reduz a clearance de lítio – note-se, contudo, que este efeito não tem
sido observado com o uso de aspirina ou acetaminofeno. A maioria dos
neurolépticos (com excepção da clozapina) e os anti-psicóticos atípicos
mais recentes podem produzir síndromes extra-piramidais mais graves
quando co-administrados com o lítio.
Efeitos adversos
A terapia com lítio induz vários efeitos adversos, incluindo fadiga, ataxia,
tremor, perturbações digestivas e sede. Estes efeitos podem ocorrer em
diferentes fases da terapia, sendo que alguns não são deletérios,
enquanto outros podem estar na base de graves reacções tóxicas.
Efeitos psiquiátricos e neurológicos
Efeitos tiroideus
Efeitos renais
Edema
Efeitos cardiovasculares
Intoxicação
A sobredosagem terapêutica de lítio é mais comum que a intoxicação
por ingestão deliberada ou acidental deste fármaco. De facto, a
intoxicação terapêutica resulta normalmente da acumulação de lítio
após ocorrência de alguma alteração no estado fisiológico do paciente,
tal como uma alteração da função renal ou uma diminuição dos níveis
séricos de sódio. De qualquer modo, o lítio é um pequeno ião, de tal
modo que é facilmente removido por hemodiálise ou diálise peritoneal.
Valproato
O valproato é um fármaco anti-convulsivo com efeitos anti-maníacos.
Em termos gerais, a eficácia do valproato é equivalente à do lítio
durante as primeiras semanas da terapia, embora o valproato se revele
eficaz em alguns pacientes incapazes de responder ao lítio. Para além
disso, este fármaco revela-se mais seguro, de tal modo que a sua dose
pode ser rapidamente aumentada (em alguns pacientes, a náusea
constitui o único factor limitante da administração de valproato).
Carbamazepina
A carbamazepina é utilizada como alternativa ao lítio, nomeadamente
quando este último fármaco apresenta eficácia sub-óptima. A
carbamazepina pode ser usada na terapia e na profilaxia da mania
aguda, revelando-se normalmente mais segura que o lítio. Em termos
clínicos, este fármaco pode ser administrado isoladamente ou, em
pacientes refractários, a par com o lítio ou com o valproato. De referir
que, o modo de acção da carbamazepina permanece amplamente
desconhecido, embora se saiba que a oxcarbazepina não se revela
eficaz nestas situações.
Note-se que, quando usada na terapia da doença bipolar, a
carbamazepina não potencia o risco de discrasias sanguíneas
(contrariamente ao que se verifica quando este fármaco é usado como
anti-convulsivo). De qualquer modo, a intoxicação por carbamazepina
revela-se deveras grave, devendo ser tratada de modo similar à
intoxicação por anti-depressores tricíclicos.
Outros fármacos
A lamotrigina revela-se útil na prevenção da fase depressiva que se
pode seguir à fase maníaca da doença bipolar. Para além disso, vários
outros agentes estão a ser investigados para a terapia da depressão
bipolar, nomeadamente:
Síntese e metabolização
A histamina é formada por
descarboxilação da
histidina, sendo essa
reacção catalisada pela
descarboxílase da
histidina. Como
expectável, esta enzima é
expressa em todas as
células que contêm
histamina.
Receptores da histamina
Os receptores histaminérgicos são receptores metabotrópicos
acoplados à proteína G. Existem quatro classes destes receptores,
nomeadamente:
Receptores H1: Encontram-se acoplados à proteína Gq/11,
activando a via da fosfolipase C-IP3-cálcio e a fosfolipase A2.
Receptores H1 e H2
Os receptores H1 e H2 encontram-se amplamente expressos no sistema
nervoso central e tecidos periféricos, mediando os efeitos da histamina
no músculo liso e glândulas. De facto, estes receptores são
responsáveis por alguns dos mais importantes efeitos da histamina,
incluindo:
Prurido
Receptores H3 e H4
Contrariamente ao que se verifica com os restantes receptores
histaminérgicos, os receptores H3 e H4 apresentam um elevado grau de
homologia, de tal modo que vários ligandos dos receptores H3 também
interagem com os receptores H4. De qualquer modo, foram já
desenvolvidos ligandos selectivos para cada um destes tipos de
receptores – os agonistas “selectivos” dos receptores H3 incluem alguns
compostos não-imidazóis, enquanto os agonistas “selectivos” dos
receptores H4 incluem o dimaprit e a 4-metilhistamina (não obstante a
sua selectividade, estes compostos podem também actuar como
agonistas fracos dos receptores H2). De referir que, por comparação
com os receptores H1 e H2, os receptores H3 e H4 demonstram maior
afinidade para a histamina.
Funções da histamina
A histamina desempenha importantes papéis fisiológicos. De facto, ao
actuar no músculo liso brônquico e vascular, a histamina libertada pelos
mastócitos desempenha um papel fundamental nas respostas alérgicas
e de hipersensibilidade imediata. Para além disso, a histamina
desempenha um papel crucial na regulação da secreção de ácido
gástrico e na modulação da libertação de neurotransmissores.
Sistema cardiovascular
Vasodilatação
Em termos fisiológicos,
vasodilatação
constitui o
principal efeito
da histamina,
resultando de
uma
acção deste
mediador nos
receptores H1 e
H2 expressos
nos vasos de
resistência.
Note-se,
contudo, que o
grau de
vasodilatação
obtido difere
consoante os
leitos
vasculares.
Como referido
Choque histaminérgico
Efeitos cardíacos
Usos clínicos
Em termos clínicos, a histamina é apenas usada como agente
diagnóstico, nomeadamente na avaliação da hiper-reactividade
brônquica não-específica em indivíduos asmáticos, ou como controlo
positivo durante os testes alérgicos cutâneos.
Antagonistas dos receptores histaminérgicos
Tricíclicos de dibenzoxepina
Etanolaminas
As etilenediaminas incluem a
pirilamina e a tripelenamina. Estes
fármacos apresentam bastante
selectividade para os receptores H1,
exercendo fracos efeitos centrais.
Apesar disso, a sonolência e os efeitos
laterais gastro-intestinais revelam-se
deveras comuns.
Alquilaminas
Fenotiazinas
Músculo liso
Glândulas exócrinas
Efeitos anti-colinérgicos
Farmacocinética
Os antagonistas H1 são bem absorvidos pelo tracto gastro-intestinal,
podendo ser administrados por via oral. Os seus efeitos normalmente
duram 4-6 horas, embora alguns fármacos demonstrem um período de
acção superior.
Os anti-histaminérgicos
de primeira geração (tais
como a difenidramina)
distribuem-se
amplamente por todo o
organismo, incluindo
para o sistema nervoso
central, placenta e leite
materno. Estes fármacos
são maioritariamente
excretados por via renal
sob a forma de
metabolitos, sendo que
apenas fracções
desprezáveis são
excretadas de modo
intacto. Contudo, mesmo
após diminuição dos
seus níveis
plasmáticos, quantidades
significativas destes
fármacos podem
perdurar na pele por um
período que pode
ascender a 36 horas.
Usos terapêuticos
Doenças alérgicas
Constipação comum
incluem a cimetidina,
ranitidina, famotidina e
nizatidina. Estes fármacos
inibem a produção de ácido
gástrico por competição
reversível com a histamina
pela ligação aos receptores
H2 da membrana
basolateral das células
parietais gástricas. Embora
menos potentes que os
inibidores da bomba de
protões, os antagonistas H2
suprimem a secreção
gástrica em 70% ao longo
de 24 horas. O uso destes
fármacos revela-se, pois,
adequado para a terapia
das úlceras duodenais, em
que a secreção nocturna de
ácido gástrico constitui o
principal determinante.
Note-se que a ranitidina e a
nizatidina também
estimulam a motilidade
gastro-intestinal, embora a
relevância clínica deste
efeito permaneça
desconhecida.
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Tolerância
A despolarização
membranar e
subsequente entrada de
cálcio nos neurónios
purinérgicos (neurónios
do sistema nervoso
vegetativo não-
adrenérgicos e não-
colinérgicos, que
participam na inervação
do músculo liso) resultam
na libertação de vários
mediadores (tais como o
ATP), que, no espaço
extracelular, são
convertidos em adenosina
por várias ectoenzimas,
de entre as quais se
destaca a ecto-5’-
nucleotídase, que
converte o AMP em
adenosina. Isto permite
gerar adenosina no meio
A principal fonte de
adenosina é, no entanto,
a hidrólise do AMP pela
5’-nucleotídase
intracelular. Apesar
ATP e receptores P2
O sistema purinérgico consiste num sistema primitivo envolvido em
mecanismos neuronais e não-neuronais (a curto ou longo prazo),
incluindo secreção endócrina e exócrina, resposta imunitária,
inflamação, mecanocepção, agregação plaquetária, vasodilatação, e
proliferação, diferenciação, migração e morte celular. Este sistema
utiliza o ATP como transmissor, tendo sido identificados neurónios
purinérgicos no estômago, bexiga e canais deferentes. Note-se que o
ATP e os neurotransmissores “clássicos” são armazenados e libertados
conjuntamente.
Agregação plaquetária
Estimulação da glicogenólise
Adenosina e dipiridamole
Actualmente, a adenosina é clinicamente utilizada como um anti-
arrítmico, nomeadamente em pacientes com taquicardia supra-
ventricular paroxística ou síndrome de Wolff-Parkinson-White. Para
além disso, este fármaco é utilizado no diagnóstico de doença
coronária, bem como na indução de hipotensão num contexto cirúrgico.
Todavia, estudos recentes sugerem que o uso de adenosina (ou dos
seus análogos) poder-se-á revelar benéfico em vários outros contextos,
nomeadamente:
Na terapia da hiperlipidemia.
Metilxantinas
No que concerne aos antagonistas dos receptores da adenosina,
destaque para as metilxantinas – alcalóides de origem vegetal que
actuam num sentido de aumentar a sinalização celular mediada pelo
cAMP e cGMP. A cafeína constitui uma das metilxantinas mais
conhecidas – da sua metabolização, resulta a génese de paraxantina
(que potencia a lipólise), teobromina (um vasodilatador) e teofilina (um
broncodilatador, vide infra).
No que diz respeito aos seus efeitos laterais, estes podem resultar da
inibição de fosfodiesterases (náusea, cefaleias, aumento da secreção
ácida e refluxo gastro-esofágico) ou do antagonismo dos receptores da
adenosina (arritmias, convulsões, tonturas, diurese e intranquilidade).
Note-se ainda que a teofilina participa em interacções farmacológicas
com as quinolonas, cimetidina e fluvoxamina.
Por fim, o prasugrel revela-se mais eficaz que o clopidogrel, não por
ser mais potente, mas por apresentar propriedades farmacocinéticas
mais vantajosas, nomeadamente uma biotransformação completa e
menos dependente da acção de enzimas da família do citocromo P450.
Ora, isto explica porque é que, por comparação com o clopidogrel, os
efeitos do prasugrel instalam-se mais rapidamente e são menos
influenciados pela presença de polimorfismos nas enzimas da família do
citocromo P450. Note-se, contudo, que ao induzir menor risco de
eventos isquémicos, o prasugrel potencia o risco de eventos
hemorrágicos, encontrando-se contra-indicado para pacientes com
acidente vascular cerebral.
Por fim, o elinogrel pode ser administrado por via intra-venosa ou oral,
podendo ser utilizado num contexto agudo, crónico e pré-cirúrgico. De
facto, este fármaco revela-se relativamente eficaz e seguro.
Anti-arrítmicos
Introdução
As células cardíacas sofrem despolarizações e repolarizações
sucessivas, gerando cerca de 60 potenciais de acção por minuto. A
forma e duração de cada potencial de acção são determinadas pela
actividade dos canais iónicos expressos nas membranas das células
cardíacas. A função desses canais iónicos pode ser perturbada por
mutações/polimorfismos, isquemia aguda, estimulação simpática ou
cicatrização miocárdica – todos estes eventos geram anomalias no
ritmo cardíaco, que se traduzem pelo desenvolvimento de arritmias.
Não admira que os fármacos anti-arrítmicos actuem por via da
modulação de canais iónicos específicos, ou por via de alterações
autonómicas.
equação de Nernst:
Em suma:
Período refractário
Como referido anteriormente, após terem sido abertos, os canais de
sódio adquirem transitoriamente uma conformação “inactiva”, não
sendo, por isso capazes de abrir e, por conseguinte, de gerar novo
potencial de acção. Assim, no período imediatamente após ter ocorrido
um potencial de acção, os cardiomiócitos entram num período
refractário, no qual não podem gerar um novo potencial de acção.
Aumento da automacidade
O fenómeno de aumento da automacidade verifica-se em células que,
normalmente, manifestam despolarização diastólica espontânea, ou
seja, nas células nodais e nas células do sistema His-Purkinje. A
estimulação β-adrenérgica, a hipocalémia e o estiramento mecânico das
células musculares cardíacas aumentam o declive da fase 4 e, por
consequência, aceleram o ritmo de pacemaker. Por oposição, a
acetilcolina reduz o ritmo de pacemaker, na medida em que diminui o
declive da fase 4 e induz hiperpolarização.
Reentrada
Regista-se a presença de uma reentrada, quando um impulso cardíaco
se desloca numa via que conduz ao local onde originalmente tinha sido
gerado, reactivando esse local e perpetuando um circuito de activação
rápida e independente da normal condução do nó sinusal. Esta via de
activação anormal (circuito reentrante) encontra-se potenciada em
situações de lentificação (ou incapacidade) da condução anisotrópica,
podendo resultar de perturbações anatómicas ou funcionais.
Reentrada anatómica
Reentrada funcional
Em situações de reentrada
anatómica, utilizam-se fármacos
que bloqueiam a propagação do
potencial de acção ao nível do “elo
mais fraco” do circuito cardíaco. A
título de exemplo, no caso da
síndrome de Wolff-Parkinson-
White, esse “elo mais fraco”
encontra-se ao nível do nó AV, de
tal modo que os fármacos que
prolongam a refractoriedade do nó
AV, ou que lentificam a condução
do nó AV, podem ser usados em
pacientes com esta condição.
Exemplos desses fármacos
incluem os bloqueadores dos
canais de cálcio, os bloqueadores
β-adrenérgicos e os glicosídeos
digitálicos.
Apesar da utilidade
desta classificação,
convém não esquecer
que muitos fármacos
anti-arrítmicos exercem
múltiplos efeitos. Assim,
os fármacos que
modificam a
electrofisiologia
cardíaca apresentam
frequentemente uma
janela terapêutica muito
estreita. Para além
disso, os fármacos anti-
arrítmicos podem induzir novas arritmias, acarretando consequências
potencialmente fatais. Deste modo, em muitas situações de arritmia,
opta-se por um tratamento não-farmacológico.
Para além disso, os fármacos com τrecuperação >10 segundos (tais como
a flecainida) tendem a prolongar o intervalo PR, embora não se saiba se
isso se deve a um bloqueio adicional dos canais de cálcio, ou ao
bloqueio do tecido de resposta rápida da região do nó AV. Note-se,
contudo, que os efeitos farmacológicos no intervalo PR são altamente
influenciados por efeitos autonómicos – de facto, a quinidina tende a
encurtar o intervalo PR, sobretudo, devido às suas propriedades
vagolíticas.
Fármacos anti-arrítmicos
Fármacos de classe Ia
Procainamida
Efeitos farmacológicos
Efeitos adversos
Farmacocinética
Quinidina
Efeitos farmacológicos
Farmacocinética
Interacções farmacológicas
Disopiramida
Efeitos farmacológicos
Farmacocinética
Fármacos de classe Ib
Lidocaína
Efeitos farmacológicos
A lidocaína bloqueia simultaneamente os canais de sódio abertos e
inactivos. A recuperação do bloqueio farmacológico ocorre muito
rapidamente, de tal modo que a lidocaína exerce efeitos mais amplos
em tecidos despolarizados (tais como os tecidos isquémicos) ou de
condução rápida. Por outro lado, a lidocaína não se revela útil no
tratamento de arritmias auriculares, provavelmente, porque os
potenciais de acção auriculares são tão curtos que os canais de sódio
se encontram no estado “inactivado” durante muito pouco tempo. A
lidocaína induz ainda hiperpolarização das fibras de Purkinje
despolarizadas, o que contribui para o seu efeito anti-arrítmico.
A lidocaína diminui a automacidade por redução do declive da fase 4 e
por alteração do limiar da excitabilidade. Contudo, este fármaco não
afecta, ou pode inclusive diminuir, a duração do potencial de acção – a
eventual diminuição do potencial de acção pode se dever ao bloqueio
dos poucos canais de sódio que sofrem inactivação tardia. Por outro
lado, a lidocaína não exerce qualquer efeito significativo da duração dos
intervalos PR ou QRS, enquanto o intervalo QT pode ser ligeiramente
encurtado. Este fármaco exerce poucos efeitos na função
hemodinâmica, embora possa ocorrer exacerbação da insuficiência
cardíaca, sobretudo, em pacientes com perturbações da função
ventricular esquerda.
Efeitos adversos
Farmacocinética
Mexiletina
Fármacos de classe Ic
Flecainida
Efeitos farmacológicos
Efeitos adversos
Farmacocinética
A flecainida é bem absorvida, sendo eliminada por via renal (de modo
intacto) e por via hepática (através da sua biotransformação em
metabolitos inactivos). A sua metabolização é mediada pelo CYP2D6.
Contudo, mesmo em indivíduos cuja função do CYP2D6 esteja
diminuída, a excreção renal per se revela-se capaz de impedir a
ocorrência de acumulação deste fármaco. De facto, a acumulação
plasmática da flecainida em concentrações tóxicas apenas se verifica
em determinadas situações raras, nomeadamente, quando os pacientes
apresentam simultaneamente insuficiência renal e disfunção do
CYP2D6. De qualquer modo, o de tempo de semi-vida deste fármaco é
menor quando a urina se encontra acidificada.
Propafenona
Efeitos adversos
Os efeitos adversos decorrentes da terapia com propafenona incluem
aceleração da resposta ventricular em pacientes com flutter auricular,
aumento da frequência ou gravidade dos episódios de taquicardia
ventricular de reentrada, e exacerbação da insuficiência cardíaca. Para
além disso, a propafenona partilha dos efeitos adversos dos β-
bloqueadores - incluindo bradicardia sinusal e broncospasmo -,
encontrando-se contra-indicada para pacientes com asma, hipoglicemia
ou doença vascular periférica.
Farmacocinética
Morizicina
A morizicina é um derivado da fenotiazina empregue na terapia das
arritmias ventriculares malignas. Embora se assemelhe aos agentes
anti-arrítmicos Ia na intensidade com que bloqueia os canais de sódio,
este fármaco difere destes agentes na sua capacidade em encurtar a
duração do potencial de acção do tecido ventricular. Este fármaco
suprime a ocorrência de despolarizações prematuras e taquicardia
ventricular, apresentando um baixo rol de efeitos adversos. Note-se,
contudo, que a morizicina constitui um potente inibidor do CYP1A.
Esmolol
Sotalol
Amiodarona
Efeitos farmacológicos
Efeitos adversos
Farmacocinética
Dronedarona
Efeitos farmacológicos
Ibutilida
Dofetilida
Farmacocinética
Bretílio
Verapamil e diltiazem
Outros anti-arrítmicos
Adenosina
A adenosina é um
nucleosídeo natural, que
é administrado por via
intra-venosa com o
objectivo de terminar
agudamente a ocorrência
de arritmias supra-
ventriculares de
reentrada. A adenosina
tem ainda sido utilizada
para induzir hipotensão
Efeitos farmacológicos
Efeitos adversos
Farmacocinética
Efeitos farmacológicos
Efeitos adversos
Farmacocinética
Magnésio
Vernakalant
Nitratos orgânicos
Os nitratos orgânicos são pró-
fármacos que actuam como
fontes de óxido nítrico (NO). O
NO activa a isoforma solúvel da
guanilil-cíclase, aumentando
os níveis intracelulares de
cGMP. Por seu turno, o cGMP
promove a desfosforilação da
cadeia leve de miosina e leva à
redução dos níveis
intracelulares de cálcio,
induzindo o relaxamento das
células musculares lisas de um
vasto conjunto de tecidos,
incluindo o tecido vascular.
Assim, ao activar a guanilil-
cíclase, o NO induz
vasodilatação, inibição da
agregação plaquetária, e
relaxamento do músculo liso
dos brônquios e tracto gastro-
intestinal.
Estrutura química
Os nitratos orgânicos são ésteres de polióis do ácido nítrico, enquanto
os nitritos orgânicos constituem ésteres de ácido nitroso. Os ésteres de
nitrato (-C-O-NO2) e os ésteres de nitritos (-C-O-NO) caracterizam-se
pela presença de sequências de carbono-oxigénio azoto, enquanto os
compostos “nitro“ possuem ligações carbono-azoto (C-NO2). Deste
modo, o trinitrato de gliceril não é considerado um composto “nitro”,
sendo, por isso, erradamente designado por nitroglicerina.
Mecanismo de acção
Os nitritos, os nitratos orgânicos, os compostos nitrosos, e vários outras
substâncias contendo NO (incluindo o nitroprussiato) levam à formação
de NO – um radical livre gasoso reactivo – bem como de outros
compostos relacionados e contendo NO. Os mecanismos exactos
através dos quais os compostos supracitados libertam NO permanecem
desconhecidos. Sabe-se, contudo, que a desidrogénase dos aldeídos
mitocondrial catalisa a redução da nitroglicerina, gerando metabolitos
de NO bioactivos.
Efeitos cardiovasculares
Efeitos hemodinâmicos
Outros efeitos
Farmacocinética
Como referido anteriormente, ainda se conhece pouco acerca do
processo de biotransformação dos nitratos orgânicos. Actualmente,
pensa-se que a biotransformação da nitroglicerina é mediada por uma
desidrogénase dos aldeídos mitocondriais, embora outras vias
enzimáticas e não-enzimáticas possam também contribuir para a
biotransformação dos nitrovasodilatadores.
Nitroglicerina
Dinitrato de isosorbida
Isosorbida-5-mononitrato
Nicorandil
Tolerância
Os nitratos orgânicos sublinguais devem ser administrados aquando de
um ataque anginoso, ou antes de um esforço físico ou de um evento
stressante. De facto, a exposição frequente, ou contínua, a doses muito
elevadas de nitratos orgânicos leva a uma atenuação significativa da
magnitude da maior parte dos seus efeitos farmacológicos. Assim, a
tolerância aos nitratos orgânicos reflecte a sua dose e frequência de
uso.
Aplicações terapêuticas
Angina de peito estável
Para além disso, a nitroglicerina pode ser administrada por via cutânea
– a aplicação cutânea de nitroglicerina alivia os sintomas anginosos,
prolonga a capacidade de realização de esforços físicos e reduz a
depressão do segmento ST subjacente a quadros isquémicos. Os
efeitos resultantes da administração cutânea de nitroglicerina
manifestam-se passados 30-60 minutos, perdurando por um período de
4-6 horas. De referir que esta via de administração revela-se
particularmente útil para o controlo da angina nocturna, bem como para
a profilaxia dos episódios anginosos.
Estrutura química
Os antagonistas dos canais de cálcio apresentam diferentes estruturas
químicas, sendo agrupados em quatro classes, nomeadamente:
Classe 5: Prenilamina
Classe 6: Perexilina
Mecanismos de acção
O aumento dos níveis citosólicos de
cálcio promove a contracção das
células cardíacas e das células
musculares lisas vasculares. Ora, as
concentrações citosólicas de cálcio
podem aumentar em resposta a
diversos estímulos contrácteis
exercidos nas células musculares
lisas - entre esses estímulos,
destaque para o aumento das
concentrações externas de potássio,
bem como para acção de hormonas e
autacóides.
Efeitos cardiovasculares
Acções no tecido vascular
Efeitos hemodinâmicos
Usos terapêuticos
Angina de Prinzmetal (angina variante)
Angina típica
Os antagonistas dos canais de cálcio também se revelam eficazes no
tratamento da angina induzida pelo exercício, algo que pode resultar do
seu efeito vasodilatador coronário, do seu efeito atenuador das
necessidades miocárdicas de oxigénio (secundário ao decréscimo na
pressão arterial, frequência cardíaca e contractilidade), ou do conjunto
de ambos os efeitos. Contudo, de acordo com dados experimentais, a
diminuição das necessidades miocárdicas de oxigénio parece
desempenhar um papel mais proeminente que o aumento do fluxo
coronário. De qualquer modo, os bloqueadores dos canais de cálcio
diminuem o número de ataques anginosos e atenuam a depressão do
segmento ST induzida pelo exercício.
Angina instável
Outros usos
Os antagonistas dos canais de cálcio podem ser utilizados na
terapêutica de arritmias e da hipertensão. Para além disso, a
amlodipina pode ser usada na terapêutica da insuficiência cardíaca.
Por outro lado, o verapamil é utilizado na profilaxia das cefaleias,
estando ainda associado a uma melhoria da sintomatologia da
cardiomiopatia hipertrófica.
Usos terapêuticos
Angina instável
Enfarte do miocárdio
A pentoxifilina é um
derivado da
metilxantina, sendo
considerada um
modificador reológico,
na medida em que
aumenta a
deformabilidade dos
eritrócitos. Apesar
disso, a pentoxifilina
apresenta apenas
efeitos modestos na
claudicação das
extremidades
inferiores.
Ranolazina
A ranolazina constitui um novo agente anti-anginoso, que actua através
de mecanismos ainda mal conhecidos. De qualquer modo, este fármaco
parece ser mais eficaz caso seja administrado em conjunto com outros
agentes anti-anginosos. Para além disso, sabe-se que a ranolazina
interfere com o metabolismo da glicose e inibe o desenvolvimento de
arritmias cardíacas.
Nitratos e β-bloqueadores
O uso simultâneo de nitratos orgânicos e β-bloqueadores pode ser
deveras eficaz na terapia da angina típica (induzida pelo exercício). Esta
eficácia aditiva resulta, sobretudo, do facto de um dos fármacos
bloquear o reflexo despoletado pelo outro. Isto é, os β-bloqueadores são
capazes de atenuar os efeitos associados à supressão do reflexo
barorreceptor (taquicardia e aumento da contractilidade), o qual pode
ser activado pelos nitratos. Por seu turno, ao aumentarem a
capacitância venosa, os nitratos são capazes de atenuar o aumento do
volume ventricular telediastólico subjacente ao uso de β-bloqueadores.
Para além disso, os nitratos são capazes de atenuar o aumento da
resistência vascular coronária associado ao uso de β-bloqueadores.
imunofilina citosólica
FKB12, formando um
complexo que inibe a
cínase alvo da
rapamicina (mTOR),
inibindo a progressão
do ciclo celular.
Diuréticos
Os diuréticos desempenham um papel fundamental na terapia
farmacológica dos sintomas congestivos da ICC. De facto, a expansão
do volume acarreta vários efeitos deletérios, contribuindo para o
aumento do volume telediastólico ventricular esquerdo e,
consequentemente, para o desenvolvimento de maior pressão no
coração direito, de congestão venosa pulmonar e edema periférico.
Nitrovasodilatadores
O uso de vasodilatadores orais revela-se benéfico na farmacoterapia
da ICC. Foram já desenvolvidos vários vasodilatadores com o objectivo
de melhorar os sintomas da ICC, embora apenas alguns desses
fármacos estejam associados a um aumento da sobrevida – esses
fármacos incluem a combinação hidralazina-dinitrato de isosorbida, os
IECAs e os bloqueadores dos receptores AT1 (ARBs).
Para além disso, existem diferenças nos mecanismos através dos quais
os nitrovasodilatadores são convertidos nas suas formas activas. De
facto, contrariamente ao nitroprussiato, que é convertido em NO• por
agentes redutores celulares (tais como a glutationa), a nitroglicerina e
outros nitratos orgânicos sofrem uma biotransformação enzimática mais
complexa em NO• ou S-nitrosotiois bioactivos.
Nitratos orgânicos
Como referido no texto sobre farmacoterapia da doença cardíaca
isquémica, os nitratos podem ser administrados de várias formas, as
quais se revelam relativamente seguras e eficazes. Na terapia da ICC,
os nitratos actuam, sobretudo, num sentido de aumentar a capacitância
venosa periférica, reduzindo a pré-carga e, por conseguinte, diminuindo
a pressão de enchimento ventricular esquerda. Para além disso, os
nitratos orgânicos reduzem a resistência vascular sistémica e pulmonar
(sobretudo quando administrados a doses mais elevadas) e induzem
vasodilatação das artérias coronárias epicárdicas, aumentando a função
ventricular sistólica e diastólica.
Nitroprussiato de sódio
Hidralazina
A maior parte das acções clínicas da Ang II, incluindo os seus efeitos
deletérios na ICC, resultam da sua ligação ao receptor AT1. Por
oposição, a activação dos receptores AT2 parece contrabalançar os
efeitos biológicos resultantes da estimulação dos receptores AT1.
Devido à sua maior especificidade, os antagonistas dos receptores
AT1 bloqueiam os efeitos da Ang II de modo mais eficiente que os
IECAs. Para além disso, o bloqueio dos receptores AT1 leva a que uma
maior quantidade de Ang II esteja disponível para ligação aos
receptores AT2. Note-se, contudo, que, contrariamente aos IECAs, os
bloqueadores dos receptores AT1 não influenciam o metabolismo da
bradicinina (vide infra).
IECAs
Inibidores da renina
Antagonistas da aldosterona
Metoprolol
Carvedilol
Bisoprolol
O bisoprolol é um antagonista selectivo dos receptores adrenérgicos
β1. O seu uso está associado a uma redução da mortalidade e das
hospitalizações em pacientes com ICC, independentemente da etiologia
desta patologia.
Glicosídeos cardíacos
Os glicosídeos cardíacos incluem a digoxina, a digitoxina e a
ouabaína (um glicosídeo endógeno, que também pode ser usado como
veneno). Estes fármacos apresentam vários benefícios na terapia da
ICC, os quais são passíveis de ser atribuídos às seguintes funções:
Farmacocinética
Toxicidade da digoxina
Dopamina
Dobutamina
Inibidores da fosfodiesterase
Os inibidores do cAMP-fosfodiesterase diminuem a degradação do
cAMP celular, permitindo um aumento dos níveis de cAMP nos miócitos
do músculo liso e cardíaco. Consequentemente, verifica-se um aumento
do inotropismo miocárdico, bem como vasodilatação dos vasos de
resistência e capacitância. Deste modo, a inibição da fosfodiesterase
aumenta o débito cardíaco, ao exercer um efeito inotrópico positivo, e
ao diminuir a pré-carga e a pós-carga (daí que os fármacos com esta
função sejam designados por inodilatadores).
Inamrinona e milrinona
Sildenafil
Outros inodilatadores
Vários outros agentes apresentam simultaneamente propriedades
inotrópicas positivas e vasodilatadoras, sendo que alguns deles podem
ser administrados por via oral. O uso destes fármacos induz melhorias
nos sintomas da ICC, bem como do estado funcional e do perfil
hemodinâmico, embora não esteja associado a uma diminuição da
mortalidade. De facto, alguns destes fármacos até se encontram
associados a um aumento da mortalidade – de entre esses fármacos,
destaque para a ibopamina (um agonista dopaminérgico), vesnarinona
(que é um inibidor da fosfodiesterase), pimobendan e nilidrina
(bufenina). Este último fármaco é um agonista β-adrenérgico com
propriedades vasodilatadoras, sendo usado na terapia de perturbações
da circulação periférica, tais como a síndrome de Raynaud.
Terapias futuras
A ICC caracteriza-se pela ocorrência de disfunção vascular, a qual
constitui um importante alvo farmacoterapêutico em pacientes com esta
patologia. De facto, de acordo com o paradigma actual, os vasos
sanguíneos constituem estruturas dinâmicas essenciais para a normal
função miocárdica. Ora, os níveis elevados de stress inflamatório
observados nos pacientes com ICC podem perturbar a reactividade
vascular, ao interferirem com as vias de sinalização participantes no
processo de vasodilatação. A diminuição da reactividade vascular está
associada a menor tolerância ao esforço físico, bem como a um pior
prognóstico clínico.
Resumo clínico
Em pacientes assintomáticos com disfunção ventricular esquerda ou
disfunção diastólica, ocorre activação de mecanismos neuro-humorais
compensatórios – apesar de procurarem manter a função
cardiovascular, estes mecanismos agravam a progressão da doença.
Assim, em pacientes com este quadro clínico, implementa-se uma
terapia focada na atenuação da activação neuro-humoral sustentada,
sendo administrados β-bloqueadores, IECAs ou antagonistas dos
receptores AT1.
Diuréticos tiazídicos
Os diuréticos tiazídicos são capazes de proceder à alteração
farmacológica do equilíbrio de sódio, sendo frequentemente utilizados
na terapia da hipertensão. De facto, para além de apresentarem um
efeito anti-hipertensor per se, estes fármacos aumentam a eficácia de
quase todos os restantes anti-hipertensores.
Mecanismo de acção
Interacções farmacológicas
O efeito anti-hipertensor dos diuréticos é frequentemente aditivo ao de
outros agentes anti-hipertensores, de tal modo que os diuréticos são
frequentemente co-administrados com outros fármacos.
Agentes simpatolíticos
Efeitos farmacológicos
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Usos terapêuticos
Carvedilol
Metildopa
metildopa (α-metil-3,4-dihidroxi-L-fenilalanina) é um agente anti-
hipertensor de acção central. Esta substância é um pró-fármaco, que
deverá ser convertido no seu metabolito activo (α-metildopamina) para
poder exercer as suas acções anti-hipertensoras. A metildopa acarreta
um vasto rol de efeitos adversos, de tal modo que, actualmente, este
fármaco apenas é usado na gravidez (onde, curiosamente, se revela
deveras seguro).
Farmacocinética
A metildopa é uma pró-fármaco, de tal modo que as suas
concentrações plasmáticas influenciam os seus efeitos de modo pouco
significativo. De facto, embora este fármaco apresente um tempo de
semi-vida de duas horas, as suas acções prolongam-se por um período
de cerca de 24 horas.
Efeitos adversos
Efeitos farmacológicos
Efeitos adversos
Efeitos terapêuticos
Os agonistas dos receptores α2 desempenham uma vasta panóplia de
efeitos adversos centrais, de tal modo que o uso isolado destes
fármacos não constitui uma opção de primeira escolha para a terapia da
hipertensão. Assim, apesar de serem eficazes em alguns pacientes que
não respondam adequadamente a outros fármacos, os agonistas dos
receptores α2 devem ser cautelosamente administrados, devido aos
seus efeitos laterais. Para além disso, pensa-se que o uso destes
fármacos não esteja associado a uma diminuição do risco de
desenvolvimento de eventos cardiovasculares adversos.
Guanadrel
O guanadrel inibe, de modo específico, a função dos neurónios
adrenérgicos pós-ganglionares periféricos. Em termos estruturais, este
fármaco contém um grupo guanidina fortemente alcalino.
Mecanismo de acção
Efeitos farmacológicos
Farmacocinética
Efeitos adversos
Uma vez que o guanadrel sofre transporte activo até ao seu local de
acção, o seu efeito é inibido pelo uso de fármacos que bloqueiem ou
compitam pelo seu transportador. De entre esses fármacos, destaque
para os anti-depressores tricíclicos, cocaína, clorpromazina, efedrina,
fenilpropanolamina e anfetamina.
Em suma, o guanadrel acarreta um vasto rol de efeitos laterais, que
explicam porque é que este fármaco é tão pouco utilizado.
Reserpina
Mecanismo de acção e efeitos farmacológicos
Farmacocinética
Toxicidade
Usos terapêuticos
Metiltirosina
A α-metiltirosina inibe a hidroxílase da tirosina, que é a enzima
responsável pela conversão da tirosina em DOPA. Assim, este fármaco
diminui a biossíntese de catecolaminas, revelando-se particularmente
útil na terapia de pacientes com feocromocitomas. Note-se, contudo,
que o decréscimo máximo da síntese de catecolaminas apenas se
verifica passados alguns dias após início da terapia com metiltirosina.
Efeitos adversos
Usos terapêuticos
Quando administrados em doses adequadas, os ARB revelam-se tão
eficazes como os IECAs no tratamento da hipertensão. Todavia, o uso
simultâneo de um IECA e de um ARB não é aconselhado para o
tratamento da hipertensão. De facto, caso os ARB sejam incapazes per
se de controlar a pressão arterial, deverá ser introduzido um segundo
fármaco que actue por um mecanismo diferente (tal como um diurético
ou um bloqueador dos canais de cálcio).
Inibidores da renina
O aliskiren é um inibidor da renina que é utilizado no tratamento da
hipertensão. Todavia, desconhece-se se este fármaco se revela eficaz
na prevenção de efeitos cardiovasculares adversos. Assim, a escassez
de informação envolvendo o aliskiren leva a que este seja considerado
um fármaco secundário na terapia da hipertensão.
Mecanismo de acção
Efeitos farmacológicos
Farmacocinética
Toxicidade
Usos terapêuticos
Vasodilatadores
Hidralazina
Mecanismo de acção
Efeitos farmacológicos
Farmacocinética
Toxicidade
O uso de hidralazina pode levar ao desenvolvimento de dois tipos de
efeitos adversos, nomeadamente efeitos resultantes das acções deste
fármaco e efeitos causados por reacções imunes desajustadas. Os
efeitos pertencentes à primeira categoria incluem cefaleias, náuseas,
rubor, hipotensão, palpitações, taquicardia, tonturas e angina de peito.
De facto, a activação simpática reflexa secundária ao uso de hidralazina
aumenta as necessidades miocárdicas de oxigénio, levando ao
desenvolvimento de isquemia do miocárdio. Assim, o uso parentérico de
hidralazina encontra-se contra-indicado em pacientes hipertensos com
doença coronária, ou que manifestem factores de risco cardiovascular
ou idade avançada.
Efeitos farmacológicos
Farmacocinética
Efeitos adversos
Usos terapêuticos
Nitroprussiato de sódio
Mecanismo de acção
O nitroprussiato de sódio é um
vasodilatador que promove a
libertação de NO (note-se que o NO
activa
via da guanilil cíclase-cGMP-PKG,
exercendo um efeito vasodilatador).
Assim, o nitroprussiato mimetiza a
produção de NO pelas células
endoteliais vasculares, sendo que
este mecanismo encontra-se
perturbado em vários pacientes
hipertensos. Desconhece-se ainda o
mecanismo através do qual o
nitroprussiato induz libertação de
NO, embora se pense que este
fármaco actue simultaneamente por
Efeitos farmacológicos
Farmacocinética
O nitroprussiato de sódio é uma molécula instável, que se decompõe na
presença de um pH fortemente alcalino, ou quando exposto à luz.
Assim, este fármaco deve ser protegido da acção da luz, devendo ser
administrado por infusão intra-venosa. O seu tempo de latência ronda
os 30 segundos, enquanto os seus efeitos hipotensivos máximos
atingem-se ao fim de dois minutos. Estes efeitos desaparecem ao fim
de três minutos após término da infusão deste fármaco.
Usos terapêuticos
Toxicidade
A hipotensão constitui o
principal efeito adverso a
curto prazo do nitroprussiato,
resultando da ocorrência de
vasodilatação excessiva.
Embora seja mais raro, o uso
de nitroprussiato também
pode levar à acumulação
tóxica de cianeto e tiocianato
(que constituem os seus
produtos de metabolismo). A
acumulação tóxica de cianeto
ocorre maioritariamente
aquando
Diazoxida
No passado, a diazoxida foi usada no tratamento das crises
hipertensivas, embora tenha perdido popularidade, devido ao risco de
diminuição significativa da pressão arterial inerente à administração de
doses elevadas deste fármaco. Assim, actualmente, o controlo
parentérico da hipertensão é preferencialmente assegurado por outros
fármacos. Note-se que a diazoxida também é administrada por via oral,
para o tratamento da hipoglicemia.
As endotelinas
interagem com
vários sistemas
endócrinos,
promovendo a
secreção de
renina,
aldosterona,
vasopressina e
ANP. Para além
disso, estes
peptídeos
exercem vários
efeitos nos
sistemas
reprodutores,
nervoso, gastro-
intestinal (e
fígado),
Inibidores da endotelina
O sistema da endotelina pode ser inibido com recurso a antagonistas
selectivos ou não-selectivos dos receptores ETA e ETB. O bosentan é
um antagonista não-selectivo do receptor da endotelina. Este fármaco é
activo por via oral, inibindo as respostas depressora transitória (ETB) e
vasopressora prolongada (ETA) mediadas pela endotelina. Por seu
turno, o sitaxsentan e o ambrisentan demonstram maior selectividade,
pois antagonizam apenas o receptor ETA.
Encefalínase (cinínase I)
Endopeptídase neutra
Carboxipeptídase M e N
Renina
A renina é uma protease de aspartato, que catalisa a conversão do
angiotensinogénio em angiotensina I (Ang I), ao clivar a ligação entre os
resíduos 10 e 11 do terminal amina do angiotensinogénio.
Angiotensinogénio
O angiotensinogénio constitui o substrato da renina – de facto, a
renina cliva o terminal amina do angiotensinogénio, originando Ang I. A
síntese de angiotensinogénio ocorre maioritariamente ao nível hepático
(embora o tecido adiposo, o rim e o sistema nervoso central também
participem na síntese deste peptídeo), sendo estimulada pela
inflamação, insulina, estrogénios, glicocorticóides, hormonas tiroideias e
angiotensina II. Note-se, contudo, que o angiotensinogénio é
inicialmente secretado sob a forma de pró-enzima (pré-
angiotensinogénio).
Por seu turno, a Ang III (Ang2-8) desempenha efeitos similares à Ang
II, sendo que, embora ambas estimulem a secreção de aldosterona de
modo equipotente, a Ang III revela-se menos eficaz que a Ang II a
elevar a pressão arterial e a estimular a medula da glândula supra-renal.
Em termos bioquímicos, a Ang III pode ser formada a partir da Ang II ou
da Ang (2-10), sendo para isso necessária a acção da aminopeptídase
ou da ACE, respectivamente.
Angiotensinases
As angiotensinases englobam um conjunto de enzimas não-
específicas responsáveis pela degradação e inactivação das
angiotensinas. Estas enzimas pertencem à família das
aminopeptídases, endopeptídases e carboxipeptídases. No que
concerne à sua expressão, as angiotensinases encontram-se expressas
na maioria dos leitos vasculares, com excepção do leito pulmonar.
Apesar de constituir a
percursora da renina, a pró-
renina não se encontra
totalmente desprovida de
actividade. De facto, a pró-
renina revela-se capaz de
activar sistemas renina-
angiotensina locais, bem
como eventos dependentes e
independentes da Ang II que
contribuem para a ocorrência
de lesões tecidulares. Note-
se que, por comparação com
os indivíduos saudáveis, os
indivíduos
diabéticos expressam
maiores concentrações de
renina, as quais estão
associadas a um risco
superior de nefropatia,
fibrose renal e retinopatia.
Por sua vez, o papel dos receptores AT-2 ainda não se encontra
totalmente conhecido. Todavia, estes receptores parecem
contrabalançar os efeitos resultantes da activação dos receptores AT-1,
ao apresentarem efeitos anti-proliferativos, pró-apoptóticos,
vasodilatadores, natriuréticos e anti-hipertensores. De acordo com a
visão clássica, o receptor AT-2 desempenha efeitos cardio-protectores.
Todavia, actualmente sabe-se que a sobre-expressão e activação
destes receptores pode contribuir para o desenvolvimento de hipertrofia
e fibrose cardíaca, de tal modo que várias doenças cardiovasculares
(tais como a insuficiência cardíaca e a doença cardíaca isquémica)
cursam com sobre-expressão dos receptores AT-2 (embora ainda se
desconheça o significado clínico deste achado). Note-se que, os
receptores AT-2 apresentam uma distribuição mais profusa no tecido
fetal, do que no tecido adulto.
Por seu turno, os efeitos da Ang(1-7) são mediados pelo receptor Mas.
De facto, a activação deste receptor desempenha um efeito cardio-
protector, vasodilatador e anti-proliferativo. Por fim, o receptor AT-4
medeia os efeitos da Ang IV, sendo co-expresso a par do transportador
de glicose GLUT4. No que concerne à sua expressão, os receptores AT-
4 encontram-se presentes no coração, vasos sanguíneos, córtex
cerebral e outras regiões do encéfalo.
Vasoconstrição directa
Farmacologia clínica
Captopril
Enalapril e enalaprilat
Lisinopril
Benazepril
Fosinopril
Trandolapril
O trandolapril pode ser administrado por via oral, sendo que a sua
absorção não é afectada pela presença de alimentos. O trandolapril é
um pró-fármaco que, ao nível hepático, é metabolizado em
trandolaprilat (o seu composto activo) e em metabolitos inactivos
(nomeadamente glicuronatos) – esses metabolitos sofrem excreção por
via renal e biliar. O trandolapril apresenta um longo período de semi-
vida (fruto da sua lenta dissociação da ACE), o qual aumenta em
pacientes com insuficiência renal ou hepática.
Quinapril
O quinapril é um pró-fármaco cuja conversão no seu metabolito activo
(quinaprilat) requer a acção hidrolítica de esterases hepáticas (essa
conversão encontra-se diminuída em pacientes com insuficiência
hepática). Por seu turno, o quinaprilat é tão potente como o
benazeprilat.
Ramipril
Cilazapril
Imidapril
Zofenopril
Moexipril
Perindopril
Aplicações terapêuticas
Hipertensão arterial
A acção inicial dos IECAs na pressão arterial depende dos níveis pré-
tratamento de renina e Ang II plasmática. Por outro lado, a diminuição a
longo prazo da pressão arterial resulta de um aumento da excreção de
sódio e água, bem como de uma redução da resistência periférica total.
Os vasos renais revelam-se particularmente sensíveis às acções
vasoconstrictoras da Ang II, de tal modo que os IECAs aumentam o
fluxo sanguíneo renal, ao induzirem vasodilatação das arteríolas
aferente e eferente. Ora, uma vez que esse aumento do fluxo renal não
se acompanha por um aumento da taxa de filtração glomerular, verifica-
se uma diminuição da fracção de filtração (que corresponde ao rácio
entre a taxa de filtração glomerular e o fluxo plasmático renal).
Efeitos adversos
Hipotensão
Hipercalémia
Rash cutâneo
Interacções farmacológicas
Sede
Libertação de vasopressina
Secreção de aldosterona
Cilexetil de candesartan
Eprosartan
Irbesartan
Losartan
Medoxomil de olmesartan
Telmisartan
Valsartan
Usos terapêuticos
Todos os ARBs podem ser usados no tratamento da hipertensão, na
medida em que estes fármacos revelam-se tão eficazes como os
IECAs, mas mais seguros. Para além disso, o irbesartan e o losartan
podem ser usados no tratamento da nefropatia diabética, sendo que o
losartan pode ainda ser usado na profilaxia do AVC. Por seu turno, o
valsartan pode ser usado na terapia da insuficiência cardíaca, podendo
ainda ser usado em pacientes estáveis com disfunção ventricular
esquerda pós-enfarte do miocárdio.
Efeitos adversos
Efeitos farmacológicos
Farmacocinética
Hipertensão arterial
Efeitos adversos
Interacções farmacológicas
Mecanismo de acção
As células epiteliais do túbulo proximal expressam elevadas
quantidades de anídrase carbónica, tanto ao nível das membranas
basolateral e luminal (anídrase carbónica do tipo IV), como ao nível
do citoplasma (anídrase carbónica do tipo II).
Outras acções
A anídrase carbónica encontra-se presente em vários tecidos extra-
renais, incluindo o olho, a mucosa gástrica, o pâncreas, o sistema
nervoso central e os eritrócitos. Ao nível ocular, a anídrase carbónica
catalisa a formação de grandes quantidades de HCO3- no humor
aquoso, de tal modo que a sua inibição resulta num decréscimo da
formação de humor aquoso, o que se traduz por uma redução da
pressão intra-ocular.
Farmacocinética
Os inibidores da anídrase carbónica ligam-se avidamente à anídrase
carbónica, de tal modo que os tecidos ricos nesta enzima concentram
quantidades mais elevadas destes fármacos.
Usos terapêuticos
Embora a acetazolamida seja usada no tratamento do edema, a
administração isolada de inibidores da anídrase carbónica revela-se
pouco eficaz, de tal modo que estes fármacos não são frequentemente
administrados em monoterapia. Por oposição, em pacientes com baixa
excreção funcional basal de sódio, a co-administração de acetazolamida
com outros diuréticos bloqueadores da reabsorção de sódio resulta
numa resposta natriurética significativa. De qualquer modo, a utilidade a
longo prazo dos inibidores da anídrase carbónica é limitada pela
possibilidade de desenvolvimento de acidose metabólica.
Diuréticos osmóticos
Os diuréticos osmóticos são agentes que são livremente filtrados no
glomérulo, sofrem reabsorção tubular renal, e são relativamente inertes
sob o ponto de vista farmacológico. Estes fármacos actuam num sentido
de aumentar a osmolalidade do plasma e do fluido tubular, acarretando
maior excreção de água. Assim, estes fármacos demonstram um
intenso efeito diurético, mas um efeito natriurético modesto.
Actualmente, são usados quatro diuréticos osmóticos – glicerina,
isosorbida, manitol e ureia.
Mecanismo de acção
Os diuréticos osmóticos actuam no túbulo proximal e, sobretudo, na
ansa de Henle. Como são substâncias osmoticamente activas, quando
presentes no lúmen tubular, estes fármacos impedem a reabsorção de
água e, secundariamente, a reabsorção de sódio.
Para além disso, este fluxo de água também causa hiponatrémia, o que
pode explicar alguns efeitos adversos comuns destes fármacos,
incluindo cefaleias, náuseas e vómitos. Por outro lado, na presença de
um excesso de electrólitos, a perda de água pode causar hipernatrémia
e desidratação. De referir que os diuréticos osmóticos também
potenciam o risco de acidose metabólica.
Usos terapêuticos
O manitol pode ser utilizado no tratamento dos desequilíbrios
electrolíticos resultantes da diálise. De facto, na hemodiálise, os solutos
podem ser removidos de modo tão rápido, que se passe a registar uma
redução da osmolalidade do fluido extracelular. Consequentemente,
ocorre um movimento da água desde o compartimento extracelular para o
compartimento intracelular, o que causa hipotensão, cefaleias, náuseas,
inquietude, depressão do sistema nervoso central, e convulsões. Ora, ao
aumentarem a osmolalidade do compartimento extracelular, os diuréticos
osmóticos “obrigam” a que a água regresse ao compartimento
extracelular.
Estrutura química
De acordo com a sua estrutura química, é possível agrupar os inibidores
dos simporter Na+-K+-2Cl- em três classes:
Sulfonilureias: Torsemida
simporter Na+-K+-2Cl-
transporta Na+, K+ e Cl- desde
o lúmen tubular até ao interior
das células epiteliais renais, de
tal modo que a inibição deste
transportador resulta num
aumento da excreção destes
iões. Desconhecem-se ainda
os mecanismos moleculares
através dos quais os diuréticos
de ansa actuam, embora se
pense que estes fármacos se
liguem ao local de ligação do
cloreto sito no domínio
transmembranar do simporter.
Outras acções
Os diuréticos de ansa, sobretudo a furosemida, aumentam agudamente
a capacitância venosa sistémica e, por conseguinte, diminuem a
pressão de enchimento ventricular esquerda. Este efeito, que parece
ser mediado por prostaglandinas, revela-se benéfico em pacientes
com edema pulmonar.
Farmacocinética
Todos os diuréticos de ansa (com excepção da torsemida) podem ser
administrados por via oral e injectável. A furosemida, a bumetanida, o
ácido etacrínico e a torsemida apresentam uma elevada capacidade de
ligação às proteínas plasmáticas, de tal modo que estes fármacos são
maioritariamente transportados para o lúmen tubular por secreção
tubular (e não por filtração glomerular). O probenecid inibe
competitivamente a secreção de furosemida, motivo pelo qual desloca a
curva de concentração-resposta da furosemida para a direita.
Toxicidade
A maior parte dos efeitos adversos associados ao uso de diuréticos de
ansa resulta de anomalias no equilíbrio de fluido e electrólitos. De facto,
a sobredosagem de diuréticos de ansa pode resultar numa grave
depleção de sódio.
Para além de poderem causar hiponatrémia, estes fármacos podem
induzir depleção do volume extracelular, o que pode condicionar um
quadro de hipotensão, diminuição da taxa de filtração glomerular,
colapso circulatório, episódios tromboembólicos e, em pacientes com
doença hepática, encefalopatia hepática.
Usos terapêuticos
A terapia do edema pulmonar agudo constitui uma das principais
aplicações terapêuticas dos diuréticos de ansa. De facto, ao
aumentarem a capacitância venosa e ao induzirem natriurese, estes
fármacos reduzem a pressão de enchimento ventricular esquerda,
aliviando rapidamente o edema pulmonar.
Estrutura química
Outras acções
Os diuréticos tiazídicos parecem inibir as fosfodiesterases dos
nucleotídeos cíclicos, o consumo mitocondrial de oxigénio e a captação
renal de ácidos gordos. Todavia, estes efeitos não se revelam
clinicamente importantes.
Farmacocinética
Os tiazídicos são transportados para o lúmen tubular simultaneamente
por filtração glomerular e secreção. A fracção que sofre filtração
glomerular varia entre os diferentes tiazídicos, dependendo da
capacidade de ligação às proteínas plasmáticas de cada fármaco. Por
outro lado, o transporte por secreção é competitivamente inibido pelo
probenecid, de tal modo que este fármaco pode atenuar a acção
diurética dos tiazídicos.
Efeitos adversos
O uso de tiazídicos está associado a uma baixa frequência de efeitos
adversos, embora estes possam ocorrer em vários sistemas de órgãos,
nomeadamente:
Usos terapêuticos
Os tiazídicos são utilizados no tratamento do edema resultante de
doença cardíaca, hepática e renal (ou seja, são usados na terapia do
edema da insuficiência cardíaca, cirrose hepática, síndrome nefrótica,
insuficiência renal crónica e glomerulonefrite aguda). Com excepção da
metolazona e indapamida, a maior parte dos diuréticos tiazídicos
revela-se ineficaz perante taxas de filtração glomerular inferiores a 30-
40 mL/minuto.
Estrutura química
A amilorida é um derivado da pirazinoilguanidina, enquanto o
triamtereno é uma pteridina. Estes dois fármacos são bases
orgânicas, sendo transportados para o lúmen tubular por processos de
secreção.
Mecanismo de acção
O triamtereno e a
amilorida actuam por
mecanismos similares,
sendo que estes dois
fármacos inibem os
ENaCs (canais epiteliais
de sódio expressos nas
membranas luminais das
células do túbulo distal e
ducto colector). Os
ENaCs permitem a
entrada de sódio para o
interior das células
epiteliais, de tal modo
que a sua inibição resulta
num aumento da
excreção de sódio.
Outras acções
Quando administrada a concentrações supra-terapêuticas, a amilorida
também bloqueia os antiporters Na+-H+ e Na+-Ca2+, bem como a
ATPase de sódio e potássio.
Farmacocinética
A amilorida é maioritariamente eliminada por via renal e sob a forma
intacta. Por oposição, o triamtereno é amplamente convertido num
metabolito activo (sulfato de 4-hidroxitriametereno), o qual é
excretado na urina. A actividade farmacológica do sulfato de 4-
hidroxitriametereno é comparável à do triamtereno, de tal modo que a
toxicidade deste último composto é exacerbada pela insuficiência
hepática (em que há menor metabolismo do triamtereno) e pela
insuficiência renal (em que há menor excreção renal do sulfato de 4-
hidroxitriametereno).
Usos terapêuticos
Os inibidores dos ENaCs causam apenas natriurese ligeira, de tal modo
que é raro o uso isolado destes fármacos são no tratamento do edema
ou hipertensão.
Mecanismo de acção
Os receptores dos mineralocorticóides (MR) encontram-se
expressos no citosol das células epiteliais do túbulo distal. Estes
receptores pertencem à superfamília dos receptores das hormonas
esteróides, apresentando elevada afinidade para a aldosterona. De
facto, a ligação da aldosterona aos MR leva à formação de um
complexo, o qual migra para o núcleo, onde regula a expressão de
vários genes - dessa acção resulta um aumento da expressão de
ENaCs e, por conseguinte, um aumento do transporte transepitelial de
NaCl. Por outro lado, o aumento do transporte de sódio aumenta a
voltagem transepitelial luminal negativa, a qual promove a secreção de
potássio e H+ para o lúmen tubular.
A espironolactona e a eplerenona inibem competitivamente a ligação da
aldosterona aos MR, sendo que, contrariamente ao complexo MR-
aldosterona, o complexo MR-espironolactona não se revela capaz de
regular a transcrição génica. Assim, a espironolactona e a eplerenona
bloqueiam os efeitos biológicos da aldosterona, atenuando a reabsorção
de sódio e água.
Outros efeitos
A espironolactona apresenta alguma afinidade para os receptores da
progesterona e dos androgénios, de tal modo que pode induzir
ginecomastia, impotência sexual e irregularidades menstruais – assim,
este fármaco pode ser usado na terapia de pacientes com excesso de
androgénios. Por oposição, dado apresentar um grupo 9,11-epóxido, a
eplerenona apresenta uma afinidade mais reduzida para os receptores
da progesterona e androgénios.
Farmacocinética
A espironolactona sofre absorção parcial, apresentando uma elevada
capacidade de ligação às proteínas plasmáticas, mas um curto período
de semi-vida (1,6 horas). Este fármaco sofre ampla metabolização
hepática por desacetilação e detioacetilação - de entre os metabolitos
gerados, destaque para a 7α-tiometil espironolactona, um metabolito
activo cujo período de semi-vida é superior ao da própria
espironolactona. A espironolactona é eliminada por via biliar, de tal
modo que o seu tempo de semi-vida encontra-se aumentado em
pacientes com cirrose hepática.
Para além disso, parece existir uma associação entre o uso crónico de
antagonistas da aldosterona e o desenvolvimento de alguns tumores
(tais como o cancro da mama), embora não esteja estabelecida
qualquer relação de causa-efeito.
Usos terapêuticos
Tal como acontece com outros diuréticos poupadores de potássio, a
espironolactona é frequentemente co-administrada com tiazídicos ou
com diuréticos de ansa, sendo utilizada no tratamento do edema e
hipertensão. De facto, estas combinações aumentam a excreção de
fluidos, sem perturbar significativamente o balanço de potássio.
Mecanismo de acção
O DCMI constitui o local mais distal do nefrónio onde ocorre reabsorção
de sódio - de facto, até 5% do sódio filtrado sofre reabsorção nesse
local. Ao nível do DCMI, o sódio entra para as células epiteliais por via
de canais de sódio do tipo CNG ou ENaC, os quais diferem nas suas
características:
O ANP é produzido
nas aurículas em
resposta ao
estiramento da
parede cardíaca.
Este peptídeo liga-
se ao receptor
NPR-A,
aumentando os
níveis intracelulares
de cGMP e, por
conseguinte,
inibindo o canal
CNG e
promovendo a
ocorrência de
natriurese. Para
além disso, o ANP
inibe a produção de
renina e
aldosterona.
Outros efeitos
A administração de nesiritide diminui as resistências vasculares
pulmonar e sistémica, bem como a pressão de enchimento ventricular
esquerda, induzindo um aumento secundário do débito cardíaco. Note-
se, contudo, que a intensidade do efeito anti-hipertensor do nesiritide
depende da dose em que este fármaco é administrado.
Farmacocinética
Os peptídeos natriuréticos são administrados por via intra-venosa,
apresentando um curto período de semi-vida (na ordem dos minutos).
Existem três mecanismos que explicam o curto período de semi-vida do
nesiritide:
Excreção renal
Usos terapêuticos
O nesiritide deve ser apenas usado em pacientes com insuficiência
cardíaca congestiva agudamente descompensada e com dispneia em
repouso. De facto, este fármaco reduz os sintomas e melhora os
parâmetros hemodinâmicos dos pacientes não-hipotensos e com
dispneia em repouso. De qualquer modo, o nesiritide não deve ser
administrado em substituição dos diuréticos.
Agentes anti-diuréticos
A vasopressina e seus análogos apresentam propriedades anti-
diuréticas, sendo usados na terapia da diabetes insípida. De entre os
análogos da vasopressina, destaque para a desmopressina, que
apresenta o dobro da acção anti-diurética mas ausência de efeito
vasopressor. Para além disso, a desmopressina demonstra maior
duração de acção que a vasopressina e maior resistência à
biotransformação. A desmopressina é usada na terapia da diabetes
insípida neurogénica, actuando em receptores V1 e V2. As suas
principais acções adversas incluem toxicidade cardiovascular,
perturbações gastro-intestinais, contracções uterinas e reacções
alérgicas.
Fármacos que interferem com a
hemóstase
Mecanismos anti-coagulantes naturais
A activação plaquetária e a coagulação não ocorrem normalmente ao
nível dos vasos sanguíneos intactos, uma vez que a trombogénese é
prevenida por vários mecanismos reguladores que requerem a
presença de um endotélio vascular íntegro. De facto, as células
endoteliais secretam NO e prostaciclina (PGI2) – duas substâncias que
induzem vasodilatação e inibem a activação e agregação plaquetária.
Anti-coagulantes parentéricos
Derivados da heparina
Mecanismo de acção
Ora, esta alteração acelera a taxa de inibição do factor Xa, embora não
exerça qualquer efeito na taxa de inibição da trombina. De facto, para
aumentar a taxa de inibição da trombina pela anti-trombina, a heparina
deve actuar como uma ponte catalítica, à qual tanto a anti-trombina
como a trombina se ligam (note-se que apenas moléculas de heparina
compostas por, pelo menos, 18 unidades sacarídicas conseguem
exercer esta acção). Note-se que, para além de inibir o factor Xa e a
trombina, a anti-trombina inibe a fibrina e os factores XIIa, IXa e VIIa.
Efeitos farmacológicos
Uso terapêutico
A heparina, as LMWH e o fondaparinux podem ser usados no início da
terapia das tromboses venosas e embolias pulmonares, devido ao seu
rápido início de acção. Nestas situações, estes fármacos são
normalmente administrados juntamente com um antagonista oral da
vitamina K (tal como a varfarina). A heparina, a LMWH e o fondaparinux
podem ainda ser utilizados na terapia inicial dos pacientes com angina
instável ou enfarte agudo do miocárdio.
Farmacocinética
Resistência à heparina
Hemorragia
Desirudina
A desirudina é um derivado recombinante da hirudina que está
indicado para a profilaxia da trombose venosa profunda em pacientes
submetidos a cirurgia de substituição da anca. Este fármaco é
administrado por via subcutânea, apresentando um período de semi-
vida de duas horas. A desirudina é excretada por via renal, devendo ser
cautelosamente administrada a pacientes com insuficiência renal. Deve-
se proceder à monitorização diária da creatinina sérica e aPTT.
Bivalirudina
Argatroban
Anti-trombina
Anti-coagulantes orais
Varfarina
Estrutura química
De referir que, para além dos derivados cumarínicos, a classe dos anti-
coagulantes orais inclui ainda os derivados da 1,3-inandiona.
Mecanismo de acção
Farmacocinética
A varfarina é frequentemente administrada por via oral, embora também
possa ser administrada por via intra-venosa. A administração deste
fármaco por via intra-muscular não se encontra recomendada, devido
ao risco subjacente de formação de hematomas. A varfarina apresenta
uma biodisponibilidade quase completa, quer seja administrada por via
oral, intra-venosa ou rectal. Note-se, contudo, que os alimentos
diminuem a taxa de absorção deste fármaco.
Interacções farmacológicas
Toxicidade
Hemorragias
Defeitos congénitos
Necrose cutânea
Uso terapêutico
Derivados da indandiona
Rodenticidas
Rivaroxaban
Fármacos fibrinolíticos
A α2-anti-plasmina
liga-se à plasmina
(quando esta se
encontra ligada à
fibrina), inactivando-a. A
acção da α2-anti-
plasmina ocorre a
baixas concentrações e
de modo quase
imediato, desde que a
primeira kringle da
plasmina não se
encontre ocupada pela
fibrina ou por outros
antagonistas (tais como
o ácido aminocapróico).
A activação maciça do
plasminogénio resulta
na depleção da α2-anti-
plasmina, de tal modo
que a plasmina livre
passa a estabelecer um
“estado lítico
Estreptocínase
A estreptocínase é uma proteína produzida pelos Streptococcus β-
hemolíticos. Embora não apresente actividade enzimática intrínseca,
esta proteína forma um complexo estável (não-covalente) com o
plasminogénio. Subsequentemente, ocorre uma alteração
conformacional no plasminogénio, a qual promove a sua conversão em
plasmina.
Inibidores da fibrinólise
Ácido aminocapróico
O ácido aminocapróico é um análogo da lisina capaz de competir com
os resíduos de lisina da fibrina pela ligação ao plasminogénio e
plasmina. Assim, o ácido aminocapróico liga-se ao plasminogénio e à
plasmina, impedindo a sua interacção com a fibrina. Deste modo, o
ácido aminocapróico constitui um importante inibidor da fibrinólise,
revelando-se capaz de reverter estados caracterizados por um excesso
de fibrinólise.
Fármacos anti-plaquetários
As plaquetas constituem
elementos essenciais da
coagulação, de tal modo
que os anti-plaquetários
podem apresentar uma
importante função anti-
hemostática. Os anti-
plaquetários podem actuar
por mecanismos distintos,
de tal modo que a sua co-
administração pode gerar
efeitos aditivos ou até
sinérgicos.
Aspirina
Os eicosanóides são
metabolitos do ácido
araquidónico que participam
na trombose, inflamação,
regeneração de feridas e
alergias. Assim, a via de
síntese dos eicosanóides
constitui um alvo de vários
agentes terapêuticos,
incluindo alguns
analgésicos, fármacos anti-
inflamatórios e agentes anti-
trombóticos.
Nas plaquetas, o
tromboxano A2 constitui o
principal produto resultante
da acção da ciclo-
oxigénase. Este
Dipiridamole
O dipiridamole interfere com a função plaquetária, ao aumentar a
concentração celular de cAMP, sendo que este efeito é mediado pela
inibição de fosfodiesterases de nucleotídeos cíclicos e/ou pelo bloqueio
da captação de adenosina (a qual actua nos receptores A2, estimulando
a cíclase do adenilato plaquetária e, por conseguinte, o cAMP). O
dipiridamole actua ainda como vasodilatador, sendo que, quando co-
administrado com a varfarina, este fármaco inibe a embolização
proveniente de válvulas de próteses. Apesar disso, o dipiridamole não
apresenta qualquer benefício como agente anti-trombótico, de tal modo
que ainda não se sabe até que ponto a adição deste fármaco assegura
algum benefício aos pacientes que estejam já a tomar aspirina ou
clopidogrel.
Ticlopidina
As plaquetas expressam dois receptores purinérgicos (P2Y1 e
P2Y12), aos quais se liga o ADP. A ligação do ADP ao receptor P2Y1
resulta na activação da via Gq-fosfolípase C-IP3-cálcio, o que induz
uma alteração na forma e agregação plaquetária. Por outro lado, a
ligação do ADP ao receptor P2Y12 resulta na activação da proteína Gi,
o que reduz a inibição plaquetária mediada pelo cAMP. Note-se que a
activação plaquetária requer a estimulação simultânea dos receptores
P2Y1 e P2Y12, sendo que a inibição de qualquer um destes receptores
é suficiente para bloquear a activação plaquetária.
Efeitos adversos
Usos terapêuticos
Clopidogrel
Tal como a ticlopidina, o clopidogrel é um inibidor irreversível dos
receptores plaquetários P2Y12, embora apresente maior potência e
menor toxicidade. De facto, este fármaco induz uma menor frequência
de leucopenia e trombocitopenia, embora apresente maior risco de
hemorragia gastro-intestinal.
Prasugrel
O prasugrel também é um pró-fármaco pertencente à classe das
tienopiridinas. Todavia, por comparação com a ticlopidina e clopidogrel,
os efeitos do prasugrel instalam-se mais rapidamente. Para além disso,
o prasugrel apresenta uma acção mais potente e menos variável.
Cangrelor
O cangrelor é um análogo da adenosina que se liga reversivelmente
aos receptores P2Y12, inibindo a sua actividade. O cangrelor apresenta
um período de semi-vida de 3-6 minutos, sendo que, após
descontinuação deste fármaco, a função plaquetária regressa aos
valores basais num período de 60 minutos. Em termos clínicos, o
cangrelor é administrado por via intra-venosa, não parecendo
demonstrar maior eficácia que o clopidogrel.
Ticagrelor
O ticagrelor é um inibidor reversível do P2Y12 que pode ser
administrado por via oral. Este fármaco revela-se mais eficaz que o
clopidogrel, estando sujeito a menor variabilidade. Para além disso, os
efeitos do ticagrelor instalam-se (e terminam) mais rapidamente.
Abciximab
Eptifibatide
Tirofiban
Vitamina K
A vitamina K é um co-factor essencial para a γ-carboxilação de vários
factores da coagulação e proteínas anti-coagulantes. Assim, os
antagonistas da vitamina K inibem a formação de resíduos de γ-
carboxiglutamato (resíduos Gla) e, por conseguinte, a coagulação. Por
oposição, o excesso de vitamina K1 pode reverter os efeitos destes anti-
coagulantes orais.
Proteínas anti-coagulantes C e S
Défice de vitamina K
Os défices de vitamina K aumentam o risco de hemorragias, as quais se
manifestam através da ocorrência de equimoses, epistáxis, hematúria,
hemorragia gastro-intestinal, hemorragia pós-operatória e,
eventualmente, hemorragia intra-craniana. Todavia, a ocorrência de
hemoptises é rara.
Toxicidade
A fitonadiona e as menaquinonas não são tóxicas. Todavia, a
menadiona e os seus derivados (formas sintéticas de vitamina K)
podem induzir anemia hemolítica e kernicterus em recém-nascidos
(sobretudo, em prematuros). Deste modo, a menadiona não deve ser
administrada como forma terapêutica da vitamina K.
Farmacocinética
O mecanismo de absorção intestinal dos compostos com actividade de
vitamina K varia de acordo com a solubilidade dos mesmos. Na
presença de sais biliares, a fitonadiona e menaquinonas são quase
completamente absorvidas pelo intestino por via linfática. A fitonadiona
é absorvida através de um processo de transporte activo ao nível do
intestino delgado proximal. Por seu turno, as menaquinonas são
absorvidas por difusão nas porções distais do intestino delgado e no
cólon.
Usos terapêuticos
A vitamina K é clinicamente utilizada para correcção da tendência
hemorrágica ou das hemorragias resultantes do seu défice. Por seu
turno, os défices de vitamina K podem resultar de uma ingestão,
absorção ou utilização inadequadas, bem como da acção de um
antagonista desta vitamina.
Ingestão inadequada
Hipoprotrombinemia do recém-nascido
Absorção inadequada
Síndromes de má-absorção
Sumário clínico
Em termos clínicos, a heparina e as LMWHs são normalmente
utilizadas no tratamento do tromboembolismo venoso, angina instável e
enfarte agudo do miocárdio. Para além disso, esses agentes são
utilizados na prevenção da trombose, bem como aquando de uma
angioplastia coronária ou de outras indicações de alto-risco. Os
principais efeitos adversos da heparina incluem hemorragias e síndrome
da trombocitopenia induzida pela heparina, a qual pode precipitar a
ocorrência de trombose venosa ou arterial. Contudo, em pacientes com
trombocitopenia induzida pela heparina, podem ser administrados
inibidores directos da trombina, tais como a lepirudina, a
bivalirudina e o argatroban.
Cortisol
Os corticosteróides
são usados no
diagnóstico e terapia
de perturbações da
função supra-renal,
bem como no
tratamento de várias
doenças
imunológicas e
inflamatórias. O
cortisol
(hidrocortisona)
constitui o principal
corticosteróide
endógeno, sendo
produzido pelo córtex
da glândula supra-
renal a partir do
colesterol. Este
composto exerce
vários efeitos
fisiológicos, actuando
num sentido de
regular o
metabolismo, o
crescimento, a função
imunitária e a função
cardiovascular.
A síntese de cortisol é
estimulada pela
corticotropina
(ACTH), uma
hormona hipofisária
que pode ser usada
como um agente anti-
inflamatório, bem
como no diagnóstico
da função supra-
renal. Por seu turno,
o cortisol e os
glicocorticóides
sintéticos inibem a
síntese ACTH,
exercendo assim um
efeito de feedback
negativo. Num
indivíduo normal, a
secreção de cortisol
segue um padrão
circadiano, o qual é
determinado pelos
pulsos de ACTH que
atingem o seu valor
máximo de
madrugada e após as
refeições.
Mecanismo de acção
Cerca de 10-20% dos genes expressos por uma célula são passíveis de
ser regulados pelos glicocorticóides. Assim, a especificidade das
acções dos glicocorticóides nas diferentes células é determinada pelo
número e afinidade dos receptores para estas hormonas, bem como
pela expressão de factores de transcrição e co-reguladores, e pela
ocorrência de eventos pós-transcricionais.
Efeitos fisiológicos
Efeitos metabólicos
Efeitos catabólicos
Outros efeitos
Glicocorticóides sintéticos
Farmacocinética
Os glicocorticóides sintéticos são maioritariamente sintetizados a partir
do ácido cólico. Quando administrados por via oral, estes fármacos são
absorvidos de forma rápida e completa. Não obstante as diferenças
existentes, os corticosteróides sintéticos e os corticosteróides
endógenos são transportados e metabolizados de modo similar.
Os esteróides sintéticos ligam-se aos receptores dos glicocorticóides,
exercendo efeitos similares aos do cortisol. Contudo, estes compostos
apresentam diferentes potências de ligação a estes receptores.
Usos terapêuticos
Perturbações da função da glândula supra-renal
Síndrome de Itsenko-Cushing
Aldosteronismo
Doenças reumáticas
Os glicocorticóides
são frequentemente
usados na terapia de
várias doenças
reumáticas, sendo
que os
glicocorticóides de
acção intermédia
(tais como a
prednisona e a
metilprednisolona)
constituem os
fármacos de primeira
escolha na terapia
das doenças
reumáticas
inflamatórias graves,
tais como a lúpus
eritematosa sistémica
e várias vasculites
(incluindo a poliartrite
nodosa, a
granulomatose de
Wegener, a síndrome
de Churg-Strauss e a
arterite de células
gigantes). No caso
destas doenças mais
Doenças renais
Doenças alérgicas
Por outro lado, as crises de asma menos graves podem ser tratadas
com recurso à administração de glicocorticóides orais (nomeadamente
prednisona) por curtos períodos de tempo. Após resolução dessas
exacerbações agudas, as doses de glicocorticóides podem ser
rapidamente reduzidas sem que isso se acompanhe por efeitos
deletérios significativos.
Doenças infecciosas
Doenças oculares
Doenças cutâneas
Doenças gastro-intestinais
Doenças hepáticas
Neoplasias
Edema cerebral
Os corticosteróides revelam-se eficazes na redução ou prevenção do
edema cerebral associado a parasitas e neoplasias. Note-se que,
embora frequente, o uso de glicocorticóides na terapia do edema
cerebral causado por lesões ou acidentes cérebro-vasculares não se
encontra ainda validado.
Sarcoidose
Transplante de órgãos
Efeitos adversos
Os glicocorticóides exercem vários efeitos adversos, os quais versam
diferentes órgãos e sistemas. Todavia, os seus principais efeitos
adversos resultam das suas acções hormonais, as quais podem
despoletar uma síndrome de Cushing iatrogénica.
Quando os glicocorticóides são usados por curtos períodos de tempo
(menos de duas semanas), o desenvolvimento de efeitos adversos
graves constitui um fenómeno raro, mesmo aquando da administração
de doses relativamente elevadas. Contudo, o desenvolvimento de
úlceras pépticas agudas, pancreatite aguda, alterações
comportamentais (sobretudo hipomania) e insónia pode-se registar
apenas num período de alguns dias após início da terapia.
Efeitos metabólicos
Insónia
Aumento do apetite
Contra-indicações e precauções
Os glicocorticóides devem ser cautelosamente usados em pacientes
com úlcera péptica, doença cardíaca, hipertensão com insuficiência
cardíaca, psicose, diabetes, osteoporose, glaucoma, e algumas
doenças infecciosas, tais como varicela e tuberculose.
ACTH
No passado, a ACTH foi usada para induzir a produção endógena de
cortisol em pacientes com glândulas supra-renais normais. Contudo,
esta hormona já não é clinicamente utilizada, excepto quando se
procura aumentar os níveis de androgénios.
Cetoconazole
O cetoconazole é um agente anti-fúngico que, quando administrado
em doses superiores às empregues na terapia anti-fúngica, constitui um
inibidor eficaz da esteroidogénese supra-renal e gonadal, sobretudo
devido à sua capacidade de inibição da 17 α-hidroxílase (CYP17).
Para além disso, quando administrado em doses ainda superiores, este
fármaco também inibe o CYP11A1, bloqueando eficazmente a
esteroidogénese em todos os tecidos esteroidogénicos primários.
Etomidato
Quando administrado em doses sub-hipnóticas, o etomidato (um
imidazol maioritariamente usado como anestésico e sedativo) inibe a
secreção de cortisol, sobretudo por inibição da actividade da CYP11B1.
Este fármaco é administrado por via intra-venosa, sendo usado na
terapia do hipercortisolismo, nomeadamente aquando da necessidade
de um controlo rápido de pacientes que não possam ser submetidos a
terapia oral.
Mitotano
O mitotano é um agente adreno-corticolítico usado na terapia de
carcinomas adreno-corticais inoperáveis. A sua acção citolítica resulta
da sua conversão num metabolito cloreto acil reactivo (sendo essa
reacção mediada pelas CYPs mitocondriais supra-renais), o qual reage
com proteínas celulares.
O mitotano pode ser usado na terapia a longo-prazo do
hipercortisolismo, sendo que o seu período de latência dura semanas
ou meses. Os seus principais efeitos adversos incluem perturbações
gastro-intestinais e ataxia.
Anti-glicocorticóides
Quando administrada em elevadas doses, a mifepristona (um
antagonista do receptor dos progestagénios usado com fins abortivos)
revela-se capaz de inibir o receptor dos glicocorticóides, bloqueando a
regulação do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal e aumentando
secundariamente os níveis endógenos de ACTH e cortisol.
Mecanismos de acção
As prostaglandinas constituem importantes mediadores inflamatórios,
sendo libertadas aquando da ocorrência de danos celulares. Ora, ao
actuarem na COX, a aspirina e os AINEs tradicionais (tAINEs) inibem
a biossíntese de prostaglandinas em todos os tipos de células, não
interferindo directamente com a formação de outros mediadores
inflamatórios.
Indução da apoptose
Efeitos terapêuticos
Mastocitose sistémica
A mastocitose sistémica é uma condição caracterizada pela presença
de um excesso de mastócitos na medula óssea, sistema retículo-
endotelial, sistema gastro-intestinal, ossos e pele. Ora, em pacientes
com esta condição, ocorre libertação de grandes quantidades de PGD2,
a qual induz um forte efeito vasodilatador e hipotensor, que pode ser
contrariado pelos AINEs (sobretudo pelo cetoprofeno). Contudo, a
aspirina e os tAINEs podem simultaneamente despoletar desgranulação
dos mastócitos, o que cursa com a libertação de grandes quantidades
de histamina. Assim, num contexto de mastocitose sistémica, antes de
iniciar uma terapia com AINEs, deve-se proceder ao bloqueio dos
receptores histaminérgicos H1 e H2.
Quimioprofilaxia do cancro
De acordo com estudos epidemiológicos, o uso frequente de aspirina
diminui o risco de vários tipos de neoplasias, tais como o cancro do
cólon. De facto, os AINEs têm sido usados na terapia de pacientes com
polipose adenomatosa familiar.
Tolerabilidade à niacina
Quando administrada em doses elevadas, a niacina (ácido nicotínico)
diminui os níveis séricos de colesterol e LDL, aumentando os níveis de
HDL. Todavia, a niacina é mal tolerada, dado induzir rubor intenso. Ora,
este rubor é mediado pela libertação cutânea de prostaglandina D2,
cuja síntese pode ser inibida pelo uso de aspirina.
Efeitos adversos
Sistema gastro-intestinal
Os AINEs podem induzir vários efeitos adversos de cariz gastro-
intestinal, incluindo anorexia, náusea, dispepsia, dor abdominal e
diarreia. Estes sintomas podem estar relacionados com a presença de
úlceras gástricas ou intestinais, cuja génese é potenciada pelo uso de
AINEs. Estas úlceras podem assumir diferentes dimensões – desde
pequenas erosões superficiais até ulcerações envolvendo a perfuração
de toda a espessura da muscular da mucosa. Para além disso, as
ulcerações podem ser múltiplas, podendo cursar com uma perda
gradual de sangue (levando a anemia) ou com hemorragia
potencialmente fatal.
Sistema cardiovascular
Contrariamente à aspirina, os tAINEs não
parecem exercer efeitos cardio-
protectores, o que se deve aos seus
curtos períodos de semi-vida. Por seu
turno, os inibidores selectivos da COX-2
parecem desempenhar efeitos
cardiovasculares deletérios, pois inibem a
síntese endotelial de prostaciclina (PGI2)
sem concomitantemente inibirem a
síntese plaquetária de TXA2.
Sistema genito-urinário
nefropatia analgésica caracteriza-se
pela ocorrência de piúria estéril,
insuficiência renal lenta e progressiva, e
diminuição da capacidade tubular renal
em concentrar urina. Ora, esta condição é
potenciada pelo uso crónico de doses
elevadas de AINEs, de tal modo que a
descontinuação precoce destes fármacos
possibilita a recuperação da função renal.
Hipersensibilidade
Alguns indivíduos evidenciam hipersensibilidade à aspirina e restantes
AINEs, a qual cursa com vários sintomas, incluindo rinite vasomotora,
angioedema, urticária generalizada, asma brônquica, edema laríngeo,
broncoconstrição , rubor, hipotensão e choque. Em pacientes com
intolerância à aspirina, não se deve proceder à administração de
qualquer outro AINE, sob pena de se registar uma reacção
potencialmente fatal por mecanismos de sensibilidade cruzada.
Interacções farmacológicas
A aspirina não deve ser co-administrada com os tAINEs ou com os
inibidores da COX-2, na medida em que essa combinação aumenta
significativamente o risco de eventos adversos gastro-intestinais. Por
outro lado, a co-administração de AINEs e glicocorticóides aumenta o
risco e a gravidade de ulceração gastrointestinal, enquanto a co-
administração de AINEs e varfarina potencia o risco de hemorragia.
Os efeitos dos IECAs devem-se parcialmente à estimulação da
produção de cininas vasodilatadoras e natriuréticas. Ora, ao inibirem a
génese de prostaglandinas (que constituem mediadoras da acção das
cininas, vide supra), os AINEs atenuam a eficácia dos IECAs. Para além
disso, a co-administração de AINEs e IECAs pode induzir hipercalémia,
sendo que o aumento dos níveis de potássio potencia o risco de
bradicardia e síncope. Note-se que, estes efeitos adversos revelam-se
particularmente comuns em idosos e pacientes com hipertensão,
diabetes mellitus ou doença cardíaca isquémica.
Farmacocinética
Os AINEs são ácidos fracos, sendo a maioria absorvida pelo tracto
gastro-intestinal de modo rápido e completo, atingindo as suas
concentrações plasmáticas máximas ao fim de 1-4 horas. Os alimentos
tendem a atrasar a absorção destes fármacos, embora não reduzam a
sua biodisponibilidade oral. A maioria dos AINEs apresenta uma
elevada capacidade de ligação às proteínas plasmáticas (95%-99%),
sendo alvo de metabolização hepática e excreção renal. Assim, na sua
maioria, os AINEs não devem ser administrados a pacientes com
insuficiência renal ou insuficiência hepática avançada.
Considerações terapêuticas
Em termos clínicos, os AINEs cujos efeitos se fazem sentir mais
rapidamente (mas que apresentam uma duração mais curta) são
preferencialmente usados na terapia da febre associada a infecções
víricas minor ou da dor associada a lesões músculo-esqueléticas minor.
Por oposição, os AINEs com maior duração de acção são
preferencialmente usados no alívio da dor pós-operatória.
Efeitos fisiológicos
Efeitos analgésicos
Efeitos anti-piréticos
Efeitos respiratórios
Efeitos cardiovasculares
Efeitos hepáticos
Efeitos uricosúricos
Efeitos pró-hemorrágicos
Efeitos metabólicos
Farmacocinética
Quando administrados por via oral, os salicilados são rapidamente
absorvidos, sobretudo pelo intestino delgado proximal. Note-se,
contudo, que a presença de alimentos atrasa a absorção destes
fármacos. Por seu turno, a absorção rectal de salicilados é,
normalmente, lenta, incompleta e inconsistente. Por oposição, quando
aplicados na pele, os salicilados são rapidamente absorvidos, podendo
inclusive revelar-se tóxicos caso sejam colocados sobre grandes áreas
cutâneas.
Dessa
biotransformação
resultam três
metabolitos
principais,
nomeadamente o
ácido salicilúrico, o
glicuronido fenólico
e o acil glicuronido.
Usos terapêuticos
A aspirina (ácido acetilsalicílico) e o salicilato de sódio constituem
os dois salicilados mais frequentemente utilizados com fins sistémicos.
Contudo, vários outros salicilados podem ser usados com esses fins,
incluindo o tiosalicilato, o salicilato de colina, o salicilato de
magnésio, e o salsalato (ácido salilsalicílico) – este último fármaco é
hidrolisado em ácido salicílico aquando e após a sua absorção.
Febre
Analgesia
Artrite reumatóide
sulfassalazina (salicilazosulfapiridina)
resulta do estabelecimento de uma ligação
covalente entre a mesalamina e a
sulfapiridina (um composto lipofílico).
Quando administrado por via oral, este
fármaco é mal absorvido, sendo clivado
pelas
Efeitos neurológicos
Efeitos respiratórios
Terapia
A intoxicação por salicilatos constitui uma emergência médica
potencialmente fatal para a qual não existe nenhum antídoto específico.
De qualquer modo, deve-se proceder à administração de carvão
vegetal activo, na medida em que esta substância impede a ulterior
absorção gastro-intestinal de salicilados.
Diflunisal
O diflunisal é um derivado difluorofenil do ácido salicílico. Após
administração oral, este fármaco é quase completamente absorvido,
apresentando uma elevada capacidade de ligação à albumina
plasmática (99%). Cerca de 90% deste fármaco é excretado sob a
forma de conjugados glicuronados, sendo a taxa de eliminação
dependente da dose administrada. A sua semi-vida ronda as 8-12
horas.
O diflunisal é usado como analgésico na terapia da osteoartrite,
contracturas e entorse. Para além de ser mais potente que a aspirina,
este fármaco está associado a um menor risco de efeitos anti-
plaquetários e gastro-intestinais. Contudo, o diflunisal exerce apenas
um fraco efeito anti-pirético. No que concerne aos seus efeitos
adversos, este fármaco não execre efeitos adversos de cariz auditivo,
embora sofra distribuição para as secreções mamárias.
Derivados do para-aminofenol
A fenacetina foi o primeiro derivado do para-aminofenol usado na
prática clínica. Contudo, embora este fármaco se revelasse eficaz como
analgésico, o seu uso foi descontinuado devido ao risco subjacente de
nefropatia, anemia hemolítica e cancro da bexiga. Assim, o uso de
fenacetina foi substituído pelo do seu metabolito activo, o qual se
designa por acetaminofeno.
Acetaminofeno
Embora exerça importantes efeitos analgésicos e anti-
piréticos, o acetaminofeno (paracetamol; N-acetil-p-
aminofenol) carece praticamente de efeitos anti-
inflamatórios. Assim, embora possa ser usado no alívio
da dor associada à osteoartrite não-inflamatória, este
fármaco não deverá ser administrado na terapia de
condições inflamatórias crónicas (tais como a artrite
reumatóide).
Propriedades farmacológicas
Farmacocinética
O acetaminofeno é
maioritariamente excretado
por via renal, sobretudo sob
a forma de metabolitos
conjugados com o
glicuronato, sulfato e
cisteína. Uma fracção
menor deste fármaco é alvo
de outros processos de
biotransformação, incluindo
desacetilação e N-
hidroxilação. Este último
processo é mediado pelas
CYPs e origina N-acetil-
p-benzoquinonimina
(NAPQI), que constitui um
metabolito tóxico e
altamente reactivo.
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Indometacina
Propriedades farmacológicas
Interacções farmacológicas
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Sulindac
sulindac constitui um pró-fármaco cuja actividade
anti-inflamatória é mediada pelo seu metabolito
sulfito. Assim, enquanto o sulindac não-
metabolizado apresenta metade da potência da
indometacina, o seu principal metabolito activo
revela-se cerca de 500 vezes mais potente. Este
fármaco exerce efeitos analgésicos e anti-
inflamatórios (os quais são similares aos da
aspirina), o que possibilita o seu uso na terapia da
artrite reumatóide, osteoartrite, espondilite
anquilosante e gota aguda.
Farmacocinética
Efeitos adversos
O uso de sulindac está frequentemente associado à génese de efeitos
adversos de cariz gastro-intestinal, hepático e central, bem como de
rash e prurido. Apesar disso, quando comparado com a indometacina, o
sulindac apresenta um menor risco de efeitos adversos. De qualquer
modo, tal como se verifica com os restantes AINEs, este fármaco deve
ser cautelosamente administrado a pacientes com patologia gástrica ou
renal.
Etodolac
O etodolac é um derivado do ácido acético que apresenta alguma
selectividade para a COX-2. Assim, quando administrado em doses
anti-inflamatórias, o etodolac induz menor risco de irritação gástrica que
os restantes tAINEs.
Farmacocinética
Efeitos adversos
Tolmetina
A tolmetina exerce efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e anti-
piréticos. As suas propriedades farmacológicas, eficácia terapêutica e
efeitos laterais são similares às dos restantes tAINEs.
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Cetorolac
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Diclofenac
O diclofenac é um tAINE com propriedades
analgésicas, anti-piréticas e anti-inflamatórias. Para
além de inibir a COX, este fármaco actua nos
leucócitos, promovendo uma redução dos seus níveis
intracelulares de ácido araquidónico.
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Por outro lado, quando aplicado por via oftálmica, o diclofenac pode ser
usado na terapia da inflamação pós-operatória subsequente à extracção
de cataratas.
Efeitos adversos
Propriedades farmacológicas
Os derivados do ácido propiónico apresentam propriedades
farmacodinâmicas similares, na medida em que todos estes fármacos
constituem inibidores não-selectivos da COX. Assim, os efeitos
(terapêuticos e adversos) destes fármacos assemelham-se aos dos
restantes tAINEs.
Interacções farmacológicas
Tal como se verifica com outros AINEs, os derivados do ácido
propiónico podem interferir com a acção dos anti-hipertensores e
diuréticos. Para além disso, estes fármacos potenciam o risco
hemorrágico subjacente ao uso de varfarina, bem como o risco de
supressão medular inerente ao uso de metotrexato. Por seu turno, o
ibuprofeno interfere com os efeitos anti-plaquetários da aspirina.
Ibuprofeno
Farmacocinética
Efeitos adversos
Naproxeno
Quando administrado por via oral, o naproxeno sofre absorção
completa, a qual é acelerada pela co-administração de bicarbonato de
sódio, mas atrasada pela presença de alimentos, óxido de magnésio ou
hidróxido de alumínio. Por seu turno, a absorção rectal deste fármaco é
deveras lenta.
O tempo de semi-vida do naproxeno ronda as 14 horas, sendo esse
valor superior nos pacientes idosos, devido à diminuição da função
renal característica da idade avançada. Este fármaco circula
amplamente ligado às proteínas plasmáticas, revelando-se capaz de
atravessar a placenta e de se distribuir para as secreções mamárias. Ao
nível hepático, o naproxeno é alvo de processos de 6-desmetilação e,
sobretudo, glicurono-conjugação, gerando metabolitos que são
maioritariamente excretados por via renal.
Efeitos adversos
Cetoprofeno
Para além dos usos clínicos “tradicionais”, o cetoprofeno pode ser
usado na terapia da mastocitose sistémica. De facto, no que concerne
ao seu mecanismo de acção, para além de inibir a COX, o cetoprofeno
parece estabilizar as membranas lisossomais, antagonizando os efeitos
da bradicinina (desconhece-se, contudo, a relevância clínica destes
efeitos). Os seus principais efeitos adversos são de cariz gastro-
intestinal, sendo atenuados pela administração deste fármaco com os
alimentos ou anti-ácidos. Em termos farmacocinéticos, a metabolização
deste fármaco passa pela sua conjugação com o ácido glicurónico, com
subsequente génese de um produto que é excretado na urina.
Fenamatos
Os fenamatos incluem os ácidos mefenâmico, meclofenâmico e
flufenâmico. Em termos estruturais, o ácido mefenâmico e o
meclofenamato de sódio são dois ácidos fenilantranílicos N-
substituídos.
Mecanismos de acção
O ácido mefenâmico exerce acções centrais e periféricas, enquanto o
ácido meclofenâmico parece antagonizar directamente alguns efeitos
das prostaglandinas. Todavia, desconhece-se se este fármaco bloqueia
os receptores das prostaglandinas, quando administrado em doses
terapêuticas.
Farmacocinética
Os fenamatos são rapidamente absorvidos, exercendo acções de curta
duração. Cerca de metade da dose administrada de ácido mefenâmico
é excretada por via renal, sobretudo sob a forma dos metabolitos 3-
hidroximetil e 3-carboxil e dos respectivos conjugados. Uma fracção
significativa deste fármaco é excretada por via fecal, sobretudo sob a
forma de um metabolito 3-carboxil não-conjugado.
Efeitos adversos
O uso de fenamatos está frequentemente associado à génese de
efeitos adversos de cariz gastro-intestinal. De entre esses efeitos,
destaque para a diarreia, que pode ser acompanhada por esteatorreia
Piroxicam
Para além de inibir a COX, o piroxicam revela-se capaz de suprimir a
activação neutrofílica, de tal modo que este fármaco demonstra
propriedades anti-inflamatórias significativas.
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Meloxicam
O meloxicam é usado na terapia da osteoartrite e artrite reumatóide.
Este fármaco demonstra alguma selectividade para a COX-2, de tal
modo que, quando administrado em doses reduzidas, induz menor risco
de lesão gástrica que o piroxicam. Em pacientes com maior risco de
enfarte do miocárdio ou AVC, o meloxicam não constitui uma alternativa
adequada aos inibidores da COX-2.
Tenoxicam
O tenoxicam é usado na terapia da osteoartrite e controlo da dor
aguda. Este fármaco é rapidamente e completamente absorvido por via
oral, sendo metabolizado no fígado em vários metabolitos
farmacologicamente inactivos.
Nabumetona
A nabumetona é um agente anti-inflamatório
usado na terapia da artrite reumatóide,
osteoartrite e lesões dos tecidos moles. Este
fármaco revela-se relativamente seguro,
induzindo um baixo rol de efeitos adversos.
Farmacocinética
Efeitos adversos
Derivados da priazolona
Actualmente, os derivados da priazolona são pouco utilizados na
prática clínica, devido ao possível risco subjacente de agranulocitose
irreversível. No caso concreto da dipirona (metamizole), a relação
entre o uso deste fármaco e o desenvolvimento de agranulocitose ainda
não foi validada por estudos epidemiológicos, de tal modo que, após um
longo período de interdição, este fármaco voltou a ser usado (de modo
limitado) na Europa.
Celecoxib
Farmacocinética
Etoricoxib
O etoricoxib é um coxib com um grupo metilsulfonil que parece não
induzir hipersensibilidade às sulfonamidas. Em termos estruturais, este
fármaco é uma biperidina com um grupo monoaril de substituição,
sendo que a sua selectividade para a COX-2 fica apenas aquém da do
lumiracoxib.
Parecoxib e valdecoxib
O parecoxib é o único coxib passível de ser administrado por via
injectável, sendo eficaz como analgésico peri-operatório quando os
pacientes são incapazes de ser submetidos a terapia oral.
Apazona (azapropazona)
A apazona é um tAINE com propriedades anti-inflamatórias,
analgésicas, anti-piréticas e uricosúricas. Para além de inibir a COX (de
modo não selectivo), este fármaco inibe a migração e desgranulação
neutrofílica, e atenua a produção de superóxido. A apazona é usada na
terapia da artrite reumatóide, osteoartrite, espondilite anquilosante, e
gota; embora seja apenas administrada quando o uso de outros tAINEs
não se revela eficaz.
Nimesulide
O nimesulide é uma sulfonanilida com propriedades anti-inflamatórias,
analgésicas e anti-piréticas. Para além de inibir selectivamente a COX-
2, este fármaco inibe a activação neutrofílica e a fosfolipase A2, diminui
a produção de citocinas, e parece activar os receptores dos
glicocorticóides.
Análogos da PGF2α
Análogos da PGI2
O epoprostenol é uma forma de PGI2 usada na terapia da hipertensão
pulmonar primária, sendo administrado sob a forma de infusão intra-
venosa contínua. Para além disso, este fármaco é usado na terapia da
hipertensão porto-pulmonar (uma condição secundária a doença
hepática). Em ambos os casos, este fármaco facilita ou atrasa a
necessidade de transplante pulmonar. Análogos similares incluem o
iloprost e trprostinil.
Colquicina
Mecanismo de acção
A colquicina exerce vários efeitos farmacológicos, embora se
desconheça de que modo é que estes se correlacionam com a sua
actividade anti-gotosa. De facto, este fármaco exerce acções anti-
mitóticas, pois interfere com a formação dos microtúbulos e do fuso
mitótico, parando a divisão celular em G1 - este efeito é superior nas
células com elevado turn-over, de entre as quais se destacam os
neutrófilos. Para além disso, a colquicina parece interferir com outras
funções neutrofílicas, tais como a mobilidade, adesão endotelial, e
capacidade de produção de superóxido e factores quimiotáticos.
Quando administrada em elevadas concentrações, a colquicina parece
ainda inibir o processamento e libertação neutrofílica de IL-1β.
Farmacocinética
Quando administrada por via oral, a colquicina é absorvida de modo
rápido, mas variável. Este fármaco apresenta um amplo volume de
distribuição, dado formar complexos colquicina-tubulina em vários
tecidos. A sua capacidade de ligação às proteínas plasmáticas ronda os
50%.
Usos terapêuticos
Gota aguda
Efeitos adversos
O tracto gastro-intestinal encontra-se particularmente susceptível aos
efeitos tóxicos da colquicina, o que se deve não só à extensa exposição
aos metabolitos deste fármaco (que sofrem circulação entero-hepática),
mas também ao elevado turn-over da mucosa intestinal. Assim, os
principais efeitos adversos da colquicina incluem náusea, vómitos,
diarreia e dor abdominal – a ocorrência destes sintomas obriga a uma
descontinuação deste fármaco, dado que estes constituem os
indicadores mais precoces de um quadro de intoxicação. Note-se que a
intoxicação por colquicina revela-se deveras perigosa, dado cursar com
gastropatia hemorrágica.
Alopurinol
Mecanismo de acção
O alopurinol e o oxipurinol (aloxantina) actuam por inibição da oxídase
da xantina, reduzindo a síntese de urato. O alopurinol inibe a oxídase
da xantina de modo competitivo caso seja administrado em baixas
concentrações, mas de modo não-competitivo quando administrado em
elevadas doses. Para além disso, o próprio alopurinol também constitui
um substrato da oxídase da xantina, que o converte em oxipurinol.
Note-se que este metabolito actua por inibição não-competitiva desta
enzima, sendo que a sua longa persistência nos tecidos explica parte
da actividade farmacológica do alopurinol.
Farmacocinética
Quando administrado por via oral, o alopurinol é rapidamente absorvido,
atingindo as suas concentrações plasmáticas máximas ao fim de 60-90
minutos. Na sua maioria, este fármaco sofre biotransformação, sendo
convertido em oxipurinol pela oxido-redútase dos aldeídos. Assim, o
alopurinol é maioritariamente excretado sob a forma de oxipurinol (o
qual é lentamente excretado por filtração glomerular e secreção
tubular), embora fracções menores sejam excretadas nas fezes e urina
de modo intacto.
Interacções farmacológicas
O alopurinol aumenta o período de semi-vida do probenecid,
exacerbando os seus efeitos uricosúricos. Por seu turno, o probenecid
potencia a clearance do oxipurinol, obrigando à administração de doses
superiores de alopurinol.
Usos terapêuticos
O alopurinol pode ser administrado por via oral e intra-venosa. Quando
administrado por via oral, este fármaco é usado na terapia da gota
primária e secundária, bem como no tratamento da hiperuricémia
secundária a neoplasias, e dos cálculos de oxalato de cálcio. Por seu
turno, a administração intra-venosa encontra-se indicada para a terapia
da hiperuricémia secundária a quimioterapia neoplásica,
nomeadamente em pacientes intolerantes ao uso oral deste fármaco.
Efeitos adversos
O alopurinol é normalmente bem tolerado, embora possa despoletar
reacções de hipersensibilidade, as quais obrigam à descontinuação do
uso deste fármaco. Estas reacções são deveras comuns, manifestando-
se apenas meses ou anos após início da terapia. Assim, ao nível
cutâneo, o alopurinol pode causar erupções pruríticas, eritematosas ou
máculo-papulares, mas que também podem assumir um padrão
urticarial ou purpúrico. Embora raramente, estas reacções podem
ocorrer num contexto de necrólise epidermal tóxica ou síndrome de
Stevens-Johnson, duas condições potencialmente fatais. Note-se que a
presença de rash constitui uma indicação para descontinuação do uso
de alopurinol, dado poder preceder o desenvolvimento de reacções
graves de hipersensibilidade.
Febuxostat
Farmacocinética
O febuxostat é rapidamente absorvido, desconhecendo-se contudo qual
a sua biodisponibilidade absoluta. A absorção oral de febuxostat é
atrasada pelo hidróxido de magnésio e pelo hidróxido de alumínio,
sendo ligeiramente reduzida pelos alimentos (embora esta última
interacção careça de significado clínico).
Efeitos adversos
Os principais efeitos adversos associados ao uso de febuxostat incluem
anomalias da função hepática, náusea, dor articular e rash. Após início
da terapia, pode se verificar um aumento transitório dos ataques agudos
de gota, o qual resulta da mobilização do urato acumulado nos
depósitos tecidulares.
Interacções farmacológicas
O febuxostat não deve ser co-administrado com fármacos
metabolizados pela oxídase da xantina (tais como a teofilina,
mercaptopurina e azatioprina), uma vez que esta combinação parece
resultar num aumento potencialmente tóxico dos níveis destes últimos
fármacos.
Rasburicase
A rasburicase é uma oxídase do urato recombinante que catalisa a
oxidação enzimática do ácido úrico em alantoína, um metabolito solúvel
e inactivo. Por comparação com o alopurinol, este fármaco parece
diminuir os níveis de urato de modo mais eficaz, encontrando-se
indicado para a terapia inicial de crianças com hiperuricémia secundária
à quimioterapia de leucemias, linfomas, e neoplasias sólidas.
Agentes uricosúricos
Os agentes uricosúricos actuam num sentido de aumentar a taxa de
excreção de urato. Embora este composto seja alvo de secreção
tubular, a reabsorção (mediada pelo URAT-1) constitui o processo
predominante, de tal modo que a quantidade de urato excretada
constitui normalmente um décimo da quantidade filtrada. Note-se que,
para além do URAT-1, vários outros transportadores de ácidos
orgânicos podem participar no transporte de urato ao longo da
membrana basolateral das células epiteliais tubulares proximais.
Probenecid
Mecanismo de acção
O probenecid é um
derivado lipossolúvel do
ácido benzóico cujas
acções resultam
maioritariamente da sua
capacidade de inibição
do transporte
transepitelial de ácidos
orgânicos. De facto, ao
actuar em vários
transportadores de
aniões orgânicos (mas,
sobretudo, no URAT-
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Gota
Efeitos adversos
Benzbromarona
A benzbromarona é um agente uricosúrico que acuta por inibição do
URAT-1. Este fármaco pode ser usado em pacientes com insuficiência
renal, bem como em pacientes alérgicos ou refractários a outros anti-
gotosos. Note-se que a hepatotoxicidade constitui o principal efeito
adverso associado ao uso de benzbromarona.
Sulfinpirazona
A sulfinpirazona é um derivado da priazolona desprovido de acção
anti-inflamatória e cujas indicações terapêuticas e mecanismo de acção
são similares às do probenecid. No que concerne à sua
farmacocinética, este fármaco e o seu derivado hidroxilado activo são
rapidamente excretados por via renal, embora a duração dos seus
efeitos seja similar à do probenecid. Os efeitos adversos deste fármaco
incluem irritação gastro-intestinal, rash e anemia aplástica (supressão
da hematopoiese) – devido à elevada frequência de efeitos adversos,
este fármaco é pouco usado actualmente.
Sumário clínico
Terapia da gota aguda
As crises agudas de artrite gotosa atenuam espontaneamente num
período de dias ou semanas. Todavia, a adopção de uma terapia anti-
inflamatória (envolvendo AINEs, colquicina, ou glicocorticóides intra-
articulares ou sistémicos) resulta num alívio mais rápido dos sintomas
subjacentes. O anakinra, um antagonista da IL-1β, poderá também vir a
ser utilizada na terapia anti-gotosa aguda.
Glicocorticóides
Inibidores da calcineurina
Agentes anti-proliferativos/anti-metabólicos
reactivas constituem
importantes co-
adjuvantes
terapêuticos,
possibilitando
uma acção
específica nas
células
Imunoterapia de manutenção
Corticosteróides
Vários glicocorticóides, tais como a prednisona e a prednisolona,
são usados como agentes imunossupressores, podendo ser
administrados isoladamente ou em politerapia para tratamento da
rejeição de transplantes e doenças auto-imunes.
Mecanismo de acção
Usos terapêuticos
Toxicidade
Inibidores da calcineurina
Os inibidores da calcineurina (ciclosporina e tacrolimus) constituem
os fármacos imunossupressores mais eficazes usados na prática
clínica. Embora apresentem diferentes alvos moleculares, estes dois
fármacos inibem a transdução de sinal das células T pelo mesmo
mecanismo. De facto, a ciclosporina e o tacrolimus não constituem
agentes imunossupressores per se, na medida em que a sua actividade
supressora requer a sua ligação a uma imunofilina e subsequente
inibição do NFAT (um factor de transcrição essencial para proliferação e
diferenciação das células T).
Tacrolimus
Mecanismo de acção
Farmacocinética
O tacrolimus pode ser administrado por via oral e injectável, sendo que
as suas propriedades farmacocinéticas são alvo de uma intensa
variabilidade inter-individual. Assim, deve-se proceder à administração
de doses individualizadas deste fármaco.
Quando administrado por via oral, o tacrolimus
é absorvido de forma incompleta e variável,
sendo que os alimentos atrasam e diminuem a
absorção deste fármaco. O período de semi-
vida do tacrolimus ronda as 12 horas, sendo
que este fármaco apresenta uma elevada
capacidade de ligação às proteínas
plasmáticas (75-99%), nomeadamente à
albumina e glicoproteína ácida α1. O tacrolimus
é amplamente metabolizado no fígado pela
CYP3A, gerando alguns metabolitos activos.
Este fármaco (bem como os seus metabolitos)
é maioritariamente excretado por via fecal,
sendo que apenas uma fracção desprezável é
excretada na urina de modo intacto.
Usos terapêuticos
Toxicidade
Interacções farmacológicas
O tacrolimus apresenta um elevado potencial nefrotóxico, de tal modo
que os seus níveis plasmáticos e a função renal devem ser
cautelosamente monitorizados, especialmente aquando da sua co-
administração com outros fármacos potencialmente nefrotóxicos. A
título de exemplo, a co-administração de tacrolimus com ciclosporina
gera um efeito nefrotóxico aditivo ou sinérgico, sendo necessário um
período mínimo de 24 horas para que um paciente previamente
submetido a terapia com ciclosporina inicie terapia com tacrolimus. O
tacrolimus é maioritariamente metabolizado pela CYP3A, partilhando
das interacções farmacológicas da ciclosporina.
Ciclosporina
Estrutura
A ciclosporina é um
polipeptídeo cíclico de 11
aminoácidos produzido por
um fungo. Este fármaco é
altamente lipofílico e
hidrofóbico, devendo ser
administrado dissolvido em
óleo.
Mecanismo de acção
Embora a ciclosporina
também interfira com a
imunidade humoral, o
principal mecanismo de
acção deste fármaco passa
pela supressão da
imunidade mediada pelas
células T, com inibição dos
mecanismos subjacentes à
rejeição de transplantes e
a algumas formas de auto-
imunidade. Este fármaco
inibe preferencialmente as
vias linfocíticas de
transdução de sinal
induzidas pelos antigénios,
atenuando a expressão de
várias citocinas (tais como
a IL-2) e proteínas anti-
apoptóticas.
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Isatx247
Inibidores da JAK
As JAK são cínases que participam nas vias de sinalização das
citocinas, de tal modo que a sua inibição constitui o mecanismo de
acção de vários imunossupressores. Assim, ao inibir as JAK, vários
fármacos (como o CP-690550) bloqueiam a proliferação celular. Note-se
que o CP-690550 é um inibidor da JAK3, cuja eficácia parece ser similar
à de outros agentes imunossupressores. Em termos de segurança, este
fármaco não parece demonstrar nefrotoxicidade ou outros efeitos
adversos major (excepto anemia).
Inibidores da PKC
Várias isoformas da PKC participam nas vias de sinalização activadas
pelo receptor das células T e seus co-activadores. A título de exemplo,
o imunossupressor AEB071 bloqueia a activação das células T por
inibição da PKC.
Mecanismo de acção
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Toxicidade
Interacções farmacológicas
Everolimus
Azatioprina
Mecanismo de acção
A azatioprina é um anti-metabolito da
família das purinas, constituindo um
derivado imidazolil da 6-mercaptopurina.
Assim, após exposição a nucleófilos
(tais como a glutationa), a azatioprina é
clivada em 6-mercaptopurina, a qual
sofre clivagens adicionais, gerando
metabolitos que inibem a síntese de
novo das purinas. De entre esses
metabolitos, destaque para o 6-tio-IMP,
que é convertido em 6-tio-GMP e,
seguidamente, em 6-tio-GTP. Por seu
turno, este último nucleotídeo é
incorporado no DNA, impedindo a
síntese ulterior de DNA e, por
conseguinte, a proliferação e migração
celular. Para além de interferir com a
síntese de DNA, a azatioprina interfere
com a síntese de RNA e, por
conseguinte, com o processamento
antigénico. Por fim, a azatioprina
potencia a ocorrência de apoptose, por
activação da RAC-1.
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Toxicidade
Interacções farmacológicas
Mofetil de micofenolato
Mecanismo de acção
O mofetil de
micofenolato
(MMF) constitui o
éster 2-
morfolinoetil do
ácido micofenólico
(MPA). Assim, o
MMF actua como
pró-fármaco do
MPA, o qual, por
sua vez, constitui
um inibidor
reversível não-
competitivo e
selectivo da
desidrogénase da
inosina
monofosfato
(IMPDH), uma
enzima participante
na via de síntese de
novo da guanina.
Ora, contrariamente
ao que se verifica
em outras células,
esta via é crucial
para a proliferação
dos linfócitos B e T,
de tal modo que o
MPA inibe
selectivamente a
proliferação e
funções
linfocitárias,
incluindo a
formação de
anticorpos e a
adesão e migração
celular.
Farmacocinética
Usos terapêuticos
Toxicidade
Interacções farmacológicas
O MMF pode interagir com vários outros fármacos frequentemente
usados por pacientes submetidos a transplantes. De facto, o tacrolimus
atrasa a eliminação do MMF (pois atrasa a conversão do MPA em
MPAG), podendo exacerbar a toxicidade gastro-intestinal deste último
fármaco. Todavia, a co-administração do MMF com a ciclosporina,
cotrimoxazole, ou contraceptivos orais não parece gerar efeitos
adversos significativos.
Metotrexato
Sintétase do timidilato
Ciclofosfamida
Leflunomida
Fingolimod
Mecanismo de acção
fingolimod (FTY720)
é um agonista do
receptor da
esfingosina-1-fosfato
(S1P) que actua num
sentido de reduzir a
recirculação dos
linfócitos desde o
sistema linfático até ao
sangue e tecidos
periféricos (incluindo
lesões inflamatórias e
órgãos
transplantados). Ou
seja, o
fingolimodinduzhoming
linfocitário,
sequestrando
reversivelmente os
linfócitos nos gânglios
linfáticos e placas de
Peyer e impedindo-os
de andar em
circulação. Ora, isto
protege os tecidos
transplantados dos
ataques mediados
pelas células T.
No que concerne à
sua metabolização, o
fingolimod é
Toxicidade
Anticorpos policlonais
Globulina anti-timócito
Mecanismo de acção
A globulina anti-timócito (ATG) é uma gama globulina purificada,
extraída a partir do soro de coelhos imunizados com timócitos humanos.
Assim, a ATG contém anticorpos citotóxicos que se ligam a várias
moléculas expressas à superfície dos linfócitos T, incluindo o CD2, CD3,
CD4, CD8, CD11a, CD18, CD25, CD44, CD45, MHC I e MHC II. Deste
modo, estes anticorpos exercem um efeito citotóxico directo nos
linfócitos em circulação, induzindo a sua depleção. Para além disso,
estes anticorpos bloqueiam a função linfocitária por ligação às
moléculas de superfície envolvidas na regulação da função celular.
Usos terapêuticos
Efeitos adversos
Mecanismo de acção
Efeitos adversos
Mecanismo de acção
Usos terapêuticos
Alemtuzumab
Briacinumab
Fontolizumab
Omalizumab
O omalizumab é um anticorpo recombinante (anti-IgE) monoclonal
humanizado usado na terapia da asma alérgica em pacientes adultos e
adolescentes refractários aos corticosteróides inalatórios. Este anticorpo
bloqueia a ligação da IgE ao receptor Fc de elevada afinidade,
suprimindo a libertação de mediadores participantes nas respostas
alérgicas (tais como a histamina e leucotrienos).
Agentes anti-TNF
O TNF-α participa na patogénese de várias doenças mediadas pelo
sistema imunitário – a título de exemplo, os pacientes com artrite
reumatóide e doença de Crohn apresentam elevados níveis de TNF-α
nas articulações e fezes, respectivamente. Deste modo, não admira que
vários agentes anti-TNF sejam usados na terapia dessas patologias,
bem como na terapia da psoríase e sarcoileíte. Note-se, contudo, que
todos os agentes anti-TNF aumentam o risco de reacções imediatas,
infecções graves (incluindo tuberculose), linfomas e outras neoplasias,
tendo sido já descritos casos de linfomas das células T hepato-
esplénicas.
Infliximab
Certolizumab
Adalimumab
Etanercept
Onercept
Inibidores da IL-1
Os pacientes com respostas inflamatórias activas evidenciam níveis
plasmáticos superiores de IL-1. Embora exista um antagonista
endógeno do receptor da IL-1 (IL-1RA), estão a ser desenvolvidos
vários outros antagonistas deste receptor para uso na terapia de
doenças inflamatórias:
Inibidores do LFA
Efalizumab
Alefacept
Imunoestimulação
Os agentes imuno-estimuladores são usados em pacientes com
infecções, imunodeficiências e cancro. Contudo, o uso destes fármacos
é limitado pela sua reduzida eficácia e/ou pelos seus efeitos sistémicos
(generalizados).
Levamisole
O levamisole parece restabelecer a função imune dos linfócitos B,
linfócitos T, monócitos e macrófagos. Este fármaco é usado como
adjuvante do 5-fluorouracil após ressecção cirúrgica de alguns
pacientes com cancro do cólon, embora induza um elevado risco de
agranulocitose.
Talidomida
A talidomida é usada na terapia do eritema nodoso leproso e do
mieloma múltiplo. Para além disso, este fármaco é usado na terapia de
infecções micobacterianas, doença de Crohn, caquexia associada ao
HIV, sarcoma de Kaposi, lúpus, mielofibrose, neoplasias encefálicas,
lepra, doença enxerto-contra-hospedeiro, e úlceras aftosas. Todavia, o
uso da talidomida encontra-se restrito pelos seus efeitos teratogénicos
graves e potencialmente fatais. Assim, este fármaco não deve ser
usado por mulheres grávidas ou com possibilidade de engravidar.
Lenalidomida
A lenalidomida é um análogo da talidomida com propriedades
imunomoduladoras e anti-angiogénicas. Este fármaco é usado na
terapia de pacientes com anemia dependente de transfusões
secundária a síndromes mielodisplásicas associadas a uma deleção
cromossómica em 5q.
Citocinas recombinantes
Interferões
Para além de demonstrarem actividade anti-vírica, os interferões (IFN)
também exercem importantes efeitos imunomoduladores. De facto, ao
ligarem-se a receptores da superfície celular, os interferões induzem um
vasto conjunto de eventos intracelulares, incluindo indução enzimática,
inibição da proliferação celular, potenciação da fagocitose e aumento da
citotoxicidade específica das células T.
Interleucina-2
Comparativamente à IL-2 endógena, a IL-2 recombinante humana
(aldesleucina) apresenta algumas diferenças estruturais, as quais
aumentam a sua potência. Contudo, tal como a IL-2 endógena, a
aldesleucina potencia a proliferação linfocitária, estimula a
citotoxicidade mediada por linfócitos e promove a actividade das células
NK e do IFN-γ. Assim, este fármaco activa a imunidade celular,
induzindo linfocitose, eosinofilia, trombocitopenia e libertação de várias
citocinas (incluindo o TNF, IL-1 e IFN-γ). Em termos clínicos, a
aldesleucina é usada na terapia de pacientes com melanoma e
carcinoma metastático das células renais.
Herpesvírus
Vírus influenza
Aciclovir
O aciclovir é um derivado acíclico da guanosina que demonstra
actividade contra o HSV-1, HSV-2 e VZV (revelando-se cerca de 10
vezes mais potente contra o HSV-1 e HSV-2 do que contra o VZV). Este
fármaco demonstra ainda fraca actividade in vitro contra o vírus Epstein-
Barr, citomegalovírus e herpesvírus 6 (HHV-6).
Quando administrado por via oral, o aciclovir pode ser usado com
múltiplos fins, nomeadamente:
Valaciclovir
valaciclovir constitui o éster L-valil do
aciclovir. De facto, quando administrado por
via oral, o valaciclovir é submetido a hidrólise
enzimática no fígado e intestino, originando
níveis séricos de aciclovir similares aos que
seriam obtidos após administração intra-
venosa deste último fármaco (e três a cinco
vezes superiores aos obtidos após
administração oral). O valaciclovir apresenta
uma biodisponibilidade oral de 54-70%,
sendo capaz de se distribuir
Famciclovir
O famciclovir constitui o éster diacetil do 6-
deoxipenciclovir (que, por seu turno, é um análogo acíclico
de guanosina). De facto, após ser administrado por via
oral, o famciclovir é rapidamente desacetilado e oxidado
em penciclovir, o qual apresenta um longo período de
semi-vida intracelular (7-20 horas), sendo maioritariamente
excretado por via renal.
Penciclovir
O penciclovir, que constitui o metabolito activo do famciclovir,
encontra-se disponível para uso tópico, revelando-se eficaz na terapia
do herpes labial recorrente. Este análogo da guanosina apresenta
poucos efeitos adversos, embora possa despoletar reacções alérgicas
no local de aplicação.
Docosanol
O docosanol é um álcool alifático saturado de 22 carbonos. Este
fármaco inibe a fusão entre a membrana plasmática e o invólucro do
HSV, impedindo a entrada deste vírus nas células hospedeiras e, por
conseguinte, a replicação viral.
Trifluridina
Idoxuridina
Brivudina
A brivudina é um análogo de timidina incorporado no DNA vírico, que
bloqueia a acção das polimerases de DNA, inibindo a replicação dos
herpesvírus. Por comparação com os restantes anti-herpéticos, este
fármaco revela-se mais eficaz contra o VZV. Os seus principais efeitos
adversos incluem perturbações gastro-intestinais, sendo que este
fármaco é tão bem tolerado como o aciclovir.
Vidarabina
A vidarabina é um anti-vírico com acção contra o HSV e VZV que,
devido à sua toxicidade, apenas é sistemicamente usado em casos de
infecção por HSV ou VZV potencialmente fatal (ou que possa colocar
em risco a visão). Para além disso, este fármaco é usado na terapia
tópica da queratite epitelial por HSV. Este anti-vírico revela-se menos
eficaz que o aciclovir no que concerne à terapia da encefalite por HSV e
infecções por HSV e VZV em imunocomprometidos, embora possa ser
usado nesse contexto.
Ganciclovir
O ganciclovir é um análogo acíclico de
guanosina que actua por inibição
competitiva da DNA polimerase vírica e
subsequente supressão do
elongamento do DNA vírico. Para que
este fármaco seja activo, este deverá
sofrer uma tri-fosforilação, sendo que a
fosforilação inicial é catalisada pela
fosfotransférase UL97, que constitui
uma cínase vírica apenas presente nas
células infectadas por CMV. O
ganciclovir revela-se activo contra o
CMV, HSV, VZV, EBV, HHV-6 e HHV-8
– a sua actividade contra o CMV é
cerca de cem vezes superior à do
aciclovir.
Valganciclovir
valganciclovir constitui o éster L-valil do
ganciclovir, consistindo numa mistura de
dois diastereómeros. Este fármaco é
utilizado na terapia da retinite por CMV em
pacientes com SIDA, bem como na
prevenção das infecções por CMV em
pacientes submetidos a transplantes renais
e cardíacos. Os seus efeitos adversos,
interacções farmacológicas, e padrões de
resistência são similares aos do ganciclovir.
Foscarnet
Cidofovir
Maribavir
O maribavir é um ribosídeo de benzimidazol que se revela activo
contra o CMV. Contrariamente aos restantes agentes, que actuam por
inibição da DNA polimerase, o maribavir inibe a estruturação do DNA
viral, bem como a saída da cápside vírica a partir do núcleo das células
infectadas.
Interferão alfa
Os interferões são citocinas endógenas que exercem complexas
acções anti-víricas, imunomoduladoras e anti-proliferativas. Existem três
grandes tipos de IFN: IFN-α, IFN-β (estas duas moléculas são
interferões de tipo I) e IFN-γ (interferão do tipo II). Ora, o interferão
alfa (IFN-α) é usado na terapia de várias hepatites víricas, pois, ao
ligar-se a receptores membranares específicos, activa várias vias
intracelulares de sinalização que potenciam a resposta imune,
induzindo:
reabsorção tubular.
De facto, apenas
fracções desprezáveis
destesfármacossofrem
metabolização
hepática e
subsequente excreção
biliar.
Em pacientes com
infecção crónica por
HBV, a administração
de IFN-α resulta num
aumento da
seroconversão do
HBeAg, bem como
numa diminuição dos
níveis detectáveis de
DNA vírico (vide infra).
A magnitude destes
efeitos é superior
aquando da
administração de IFN-
α peguilado.
O uso de formas
peguiladas não só é
vantajoso na terapia
das infecções por
HBV, como também
se revela benéfico na
terapia de infecções
por HCV. De facto, em
pacientes com
infecção crónica por
HCV, o IFN-α-2a
peguilado e o IFN-
α-2b peguilado
podem ser
administrados num
menor número de
doses diárias, devido
ao facto de
apresentarem maiores
períodos de semi-
vida. Note-se que os
IFN peguilados são
parcialmente
eliminados por via
renal, devendo se
proceder a ajustes
posológicos em
indivíduos com
insuficiência renal.
Dipivoxil de adefovir
O dipivoxil de adefovir consiste na forma diéster do
adefovir (o qual constitui um análogo nucleotídico da
adenina). De facto, após ser administrado, este pró-
fármaco sofre a acção de esterases intestinais e
plasmáticas, sendo rapidamente e completamente
convertido em adefovir.
Lamivudina
Entecavir
Telbivudina
Agentes em investigação
Ribavirina
Amantadina e rimantadina
A amantadina (hidrocloreto de 1-aminoadamantano) e a
rimantadina (que constitui o seu derivado metilado) são aminas
tricíclicas da família do adamantano que actuam apenas contra o
influenza A. Em termos moleculares, estas aminas bloqueiam os canais
protónicos M2 e inibem a replicação do RNA viral (por inibição do seu
uncoating), sendo que a rimantadina é cerca de 4-10 vezes mais activa
que a amantadina.
A proteína M2 da
membrana vírica constitui o
principal alvo da acção
destes fármacos, o que
explica a sua selectividade
contra o influenza A.
Contudo, a proteína M2
encontra-se
particularmente susceptível
à ocorrência de mutações,
as quais podem conferir
resistência à acção da
amantadina e rimantadina.
Ora, esses vírus
resistentes podem se
revelar geneticamente
estáveis, o que explica o
recente aumento da
resistência à amantadina e
rimantadina e consequente
diminuição da utilidade
destes agentes na terapia
e prevenção do influenza.
Note-se, contudo, que não
se observa resistência
cruzada com o zanamivir e
o oseltamivir (embora se
verifique resistência
cruzada entre a
amantadina e a
rimantadina).
Os principais efeitos
adversos destes fármacos
versam o tracto gastro-
intestinal e o sistema
nervoso central. Os
Oseltamivir e zanamivir
O oseltamivir e o zanamivir
são análogos do ácido siálico
que actuam por inibição
competitiva e reversível da
neuraminidase. Esta enzima
vírica medeia a clivagem dos
resíduos terminais do ácido
siálico e destrói os
receptores celulares
reconhecidos pela
hemaglutinina, o que se
revela essencial para a
libertação dos vírus recém-
formados a partir das células
infectadas (sobretudo na
mucosa do tracto
respiratório). Ora, ao inibir a
acção da neuraminidase, o
oseltamivir potencia a
agregação viral à superfície
celular, perturbando assim o
alastramento da infecção ao
nível do tracto respiratório.
Interferões
Para além de poderem ser administrados na terapia das infecções por
HBV e HCV, os interferões (nomeadamente o IFN-α-2b e o IFN-α-n3)
podem ser usados na terapia do condiloma acuminado.
Ribavirina
Para além de poder ser usada na terapia da hepatite C, a ribavirina
pode ser administrada (por via inalatória) em crianças com bronquiolite
ou pneumonia causada por vírus sincicial respiratório, actuando num
sentido de reduzir a gravidade e duração da infecção. Para além disso,
no passado, a ribavirina inalatória chegou a ser usada na terapia das
infecções por influenza A e B.
Pneumonia do sarampo
Encefalites víricas
Palivizumab
O palivizumab é um anticorpo monoclonal humanizado que actua
contra o epítopo do antigénio A da proteína de superfície F do vírus
sincicial respiratório. Em termos clínicos, o palivizumab é usado na
prevenção de infecções causadas por vírus sincicial respiratório, sendo
administrado a bebés e crianças de elevado risco (incluindo recém-
nascidos prematuros ou crianças com displasia bronco-pulmonar ou
doença cardíaca congénita). Note-se que ainda não foram encontradas
estirpes resistentes a este anticorpo.
Imiquimod
O imiquimod é um modificador da resposta imune que se revela eficaz
na terapia tópica das verrugas genitais e peri-anais externas (das quais
o condiloma acuminado constitui um exemplo). Para além disso, este
fármaco actua contra as queratoses actínicas e, possivelmente, contra o
molusco contagioso (uma infecção causada pelo vírus do molusco
contagioso e que se caracteriza pela presença de bolhas cutâneas).
Abacavir
Didanosina
Lamivudina
A lamivudina é um análogo de citosina que
apresenta actividade contra estirpes de HIV-1
sensíveis e resistentes à zidovudina, exercendo
uma acção sinérgica com a de vários outros
análogos nucleosídicos anti-retrovíricos. Note-se,
contudo, que quando a lamivudina não é
administrada de modo completamente supressor,
ocorre selecção de estirpes víricas portadoras da
mutação M184V.
Emtricitabina
A emtricitabina é um análogo fluorinado da
lamivudina cujo maior período de semi-vida
intracelular (>24 horas) possibilita a
administração de uma única dose diária. A
emtricitabina apresenta elevada
biodisponibilidade oral (93%), a qual não é
afectada pela presença de alimentos. Este
fármaco apresenta uma fraca capacidade de
penetração
Stavudina
A stavudina constitui um análogo da timidina. Este
fármaco apresenta uma elevada biodisponibilidade
oral (86%), a qual não é afectada pela presença de
alimentos. O seu período de semi-vida plasmática
ronda as 1,1 horas, enquanto o seu período de semi-
vida intracelular ronda as 3-3,5 horas. A sua
excreção processa-se simultaneamente por secreção
tubular activa e filtração glomerular.
Tenofovir
Zalcitabina
Zidovudina
Delavirdina
A delavirdina apresenta uma
elevada biodisponibilidade oral
(85%), a qual é reduzida pelos anti-
ácidos e pelos antagonistas dos
receptores histaminérgicos H2. Este
fármaco circula amplamente ligado
às proteínas plasmáticas, atingindo
baixas concentrações no fluido
cefalo-raquidiano. A sua semi-vida
plasmática ronda as seis horas.
Efavirenz
O efavirenz apresenta um longo período de semi-vida (40-55 horas), de
tal modo que pode ser administrado apenas uma vez por dia. Este
fármaco apresenta uma razoável biodisponibilidade oral (45%), a qual
aumenta na presença de lipídeos. Assim, dado que a toxicidade do
efavirenz aumenta a par com a sua biodisponibilidade, este fármaco
deverá ser administrado em jejum.
Etravirina
Nevirapine
O nevirapine apresenta uma elevada
biodisponibilidade oral (>90%), a qual não é afectada
pela presença de alimentos. Este fármaco é
altamente lipofílico, de tal modo que os seus níveis
cefalo-raquidianos correspondem a cerca de 45%
dos seus níveis plasmáticos. O nevirapine apresenta
um período de semi-vida plasmática de 25-30 horas,
sendo amplamente biotransformado em metabolitos
hidroxilados (pela CYP3A), os quais são
maioritariamente excretados por via renal.
Para além disso, este fármaco pode potenciar um aumento dos níveis
de enzimas hepáticas, sendo este fenómeno mais frequente em
pacientes (1) com maior número de células CD4, (2) com co-infecção
pelo HBV ou HCV, e (3) do sexo feminino. Note-se, contudo, que a
ocorrência de hepatite fulminante constitui um evento raro. Para além
dos efeitos adversos supracitados, o nevirapine potencia o risco de
febre, náuseas, cefaleias e sonolência.
Inibidores da protease
A protease constitui a enzima responsável pela clivagem das
poliproteínas Gag-Pol (peptídeos imaturos de budding) em proteínas
estruturais da nucleocápside do virião maduro. Ao impedir a clivagem
pós-transducional da poliproteína Gag-Pol, os inibidores da protease
(PIs) impedem que as proteínas virais adquiram uma conformação
funcional, o que resulta na produção de partícula víricas imaturas e não-
infecciosas. Note-se que os PIs são simultaneamente activos contra o
HIV-1 e HIV-2, sendo que, contrariamente aos NRTIs, estes fármacos
não requerem a ocorrência de activação intracelular.
Atazanavir
Darunavir
O darunavir é um fármaco que deve ser co-administrado com o
ritonavir em pacientes resistentes a outros PIs. Os efeitos adversos do
darunavir incluem diarreia, náuseas, cefaleias e rash. Para além disso,
este fármaco pode induzir dislipidemia e aumento dos níveis de trans-
amínases hepáticas. Já foram ainda descritos casos de
hepatotoxicidade induzida pelo darunavir, sendo esse risco superior em
pacientes co-infectados por HBV e HCV, ou que manifestem outra
doença hepática crónica. Note-se que o darunavir apresenta um grupo
sulfonamida, de tal modo que deverá ser cautelosamente administrado
a pacientes com alergia às sulfonamidas.
Fosamprenavir
O fosamprenavir constitui o pró-fármaco do amprenavir. De facto,
quando administrado por via oral, o fosamprenavir é rapidamente
convertido em amprenavir pelas enzimas do epitélio intestinal. Note-se
que, comparativamente ao amprenavir, o fosamprenavir pode ser
administrado menos vezes por dia.
Indinavir
A solubilidade do indinavir é máxima em
meio acídico, de tal modo que este
fármaco deve ser administrado em jejum
ou, quando muito, na sequência de uma
pequena refeição com parco conteúdo
proteico e lipídico. O período de semi-
vida plasmática do indinavir ronda a 1,5-
2 horas, sendo que este fármaco
apresenta uma elevada capacidade de
penetração no fluido cefalo-raquidiano.
A sua excreção ocorre maioritariamente
por via fecal, sendo necessários ajustes
posológicos em indivíduos com
insuficiência hepática.
Lopinavir
Nelfinavir
O nelfinavir apresenta uma elevada biodisponibilidade oral (que
aumenta na presença de alimentos), sofre metabolização pela CYP3A,
e é maioritariamente excretado por via fecal. Este fármaco apresenta
um período de semi-vida plasmática de 3,5-5 horas, manifestando uma
elevada capacidade de ligação às proteínas plasmáticas.
Ritonavir
O ritonavir apresenta uma elevada
biodisponibilidade (75%), a qual
aumenta na presença de alimentos.
Este fármaco apresenta uma elevada
capacidade de ligação às proteínas
plasmáticas, sendo que o seu período
de semi-vida plasmática ronda as 3-5
horas. A sua biotransformação é
mediada pelo CYP3A e pela CYP2D6,
Saquinavir
Tipranavir
O tipranavir é um PI usado na terapia de estirpes resistentes a outros
PIs. Este fármaco apresenta reduzida biodisponibilidade oral, a qual
aumenta aquando do consumo de uma refeição com um alto teor
lipídico. Este fármaco é metabolizado pelo sistema microssomal
hepático, encontrando-se contra-indicado em pacientes com
insuficiência hepática. Note-se que, para atingir níveis séricos eficazes,
o tipranavir deverá ser co-administrado com o ritonavir.
Inibidores da entrada
O processo de entrada do HIV-1 nas células hospedeiras constitui um
processo complexo que ocorre ao longo de várias etapas sequenciais,
nomeadamente:
Enfuvirtide
O enfuvirtide é um peptídeo sintético de 36 aminoácidos que bloqueia
a entrada do HIV nas células do sistema imune. Em termos
moleculares, este fármaco liga-se à subunidade gp41 da glicoproteína
do invólucro viral, impedindo a ocorrência das alterações
conformacionais necessárias para a fusão das membranas viral e
celular.
Maraviroc
O maraviroc liga-se especificamente e selectivamente ao CCR5, que
constitui um dos dois co-receptores necessários para a entrada do HIV
nas células CD4+. Assim, o maraviroc bloqueia a entrada dos vírus HIV-
1 com tropismo para o CCR5 (vírus R5) para o interior das células T
CD4+.
Inibidores da integrase
Raltegravir
O raltegravir é um análogo da pirimidinona que actua por inibição da
acção da integrase (por acção no centro activo), uma enzima vírica
essencial para a replicação do HIV-1 e HIV-2. Em termos moleculares, o
raltegravir interfere com a última etapa de integração do pró-vírus, ou
seja, com a integração do DNA complementar do HIV no DNA das
células hospedeiras. Em termos clínicos, este fármaco deverá ser
usado em pacientes adultos infectados por estirpes de HIV-1 resistentes
a vários outros agentes.
NRTIs: Elvucitabine
PIs: Bracanavir