Você está na página 1de 10

Curso: Psicologia

Disciplina: Psicofarmacologia

Tema: Farmacodinâmica e Farmacocinética

FARMACODINÂMICA

É o campo da farmacologia que estuda e analisa os efeitos fisiológicos dos fármacos


nos organismos, bem como os mecanismos de ação e a relação entre a
concentração do fármaco, os efeitos desejáveis ou colaterais.

A farmacodinâmica estuda e apresenta uma variedade de formas pelas quais as


substâncias afetam o corpo. Depois de terem sido engolidos, injetados ou
absorvidos através da pele, quase todos os fármacos entram na corrente sanguínea,
circulam pelo corpo e interagem com diversos locais-alvo. Mas dependendo de suas
propriedades ou da via de administração, um medicamento pode atuar apenas em
uma área específica do organismo.

Seletividade da Ação dos Medicamentos

Alguns medicamentos são relativamente não seletivos, atuando em muitos tecidos


ou órgãos diferentes. Por exemplo, a atropina, uma substância administrada com o
objetivo de relaxar os músculos no trato gastrointestinal, também pode relaxar os
músculos do olho e do trato respiratório, além de diminuir a secreção das glândulas
sudoríparas e mucosas. Outros medicamentos são altamente seletivos e afetam
principalmente um órgão ou sistema isolado.

Um Encaixe Perfeito

Um receptor de superfície celular tem uma configuração que permite a uma


substância química específica, por exemplo, um medicamento, hormônio ou
neurotransmissor, se ligar ao receptor, porque a substância tem uma configuração
que se encaixa perfeitamente ao receptor.

Por exemplo, a digital, uma droga administrada a pessoas com insuficiência


cardíaca, atua principalmente no coração para aumentar sua eficiência de
bombeamento. Drogas soníferas se direcionam a certas células nervosas do
cérebro. Drogas anti-inflamatórias não esteroides como a aspirina e o ibuprofen são
relativamente seletivas, porque atuam em qualquer local onde esteja ocorrendo
inflamação. Como as drogas sabem onde exercer seus efeitos? A resposta está em
como elas interagem com as células ou com substâncias como as enzimas.

Receptores

Muitas drogas aderem (se ligam) às células por meio de receptores existentes na
superfície celular. A maioria das células possui muitos receptores de superfície, o
que permite que a atividade celular seja influenciada por substâncias químicas como
os medicamentos ou hormônios localizados fora da célula.

O receptor tem uma configuração específica, permitindo que somente uma droga
que se encaixe perfeitamente possa ligar-se a ele. Frequentemente a seletividade da
droga pode ser explicada por quão seletivamente ela se fixa aos receptores.
Algumas drogas se fixam a apenas um tipo de receptor; outras podem ligar-se a
diversos tipos de receptores por todo o corpo.

Os receptores têm finalidades naturais (fisiológicas), mas os medicamentos tiram


vantagem dos receptores. Exemplificando, morfina e drogas analgésicas afins ligam-
se aos mesmos receptores no cérebro utilizados pelas endorfinas (substâncias
químicas naturalmente produzidas que alteram a percepção e as reações
sensitivas). Uma classe de drogas chamadas agonistasativa ou estimula seus
receptores, disparando uma resposta que aumenta ou diminui a função celular.

Exemplificando, o agonista carbacol liga-se a receptores no trato respiratório


chamados receptores colinérgicos, fazendo com que as células dos músculos lisos
se contraiam e causando broncoconstrição (estreitamento das vias respiratórias).
Outro agonista, albuterol, liga-se a outros receptores no trato respiratório, chamados
receptores adrenérgicos, fazendo com que as células dos músculos lisos relaxem e
causando broncodilatação (dilatação das vias respiratórias).

Outra classe de drogas, chamadas antagonistas, bloqueia o acesso ou a ligação dos


agonistas a seus receptores. Os antagonistas são utilizados principalmente no
bloqueio ou diminuição das respostas celulares aos agonistas (comumente
neurotransmissores) normalmente presentes no corpo. Exemplificando, o
antagonista de receptores colinérgicos ipratrópio bloqueia o efeito broncoconstritor
da acetilcolina, o transmissor natural dos impulsos nervosos colinérgicos. Os
agonistas e os antagonistas são utilizados como abordagens diferentes, mas
complementares, no tratamento da asma.

O agonista dos receptores adrenérgicos albuterol, que relaxa os músculos lisos dos
bronquíolos, pode ser utilizado em conjunto com o antagonista dos receptores
colinérgicos ipratrópio, que bloqueia o efeito broncoconstritor da acetilcolina. Um
grupo muito utilizado de antagonistas é o dos beta-bloqueadores, como o
propranolol. Esses antagonistas bloqueiam ou diminuem a resposta excitatória
cardiovascular aos hormônios do estresse - adrenalina e noradrenalina; esses
antagonistas são utilizados no tratamento da pressão sanguínea alta, angina e
certos ritmos cardíacos anormais.

Os antagonistas são mais efetivos quando a concentração local de um agonista está


alta. Esses agentes operam de forma muito parecida à de uma barreira policial em
uma autoestrada. Um número maior de veículos é parado pela barreira na hora do
"rush" que às 3 horas da madrugada. Do mesmo modo, betabloqueadores em doses
que têm pouco efeito na função cardíaca normal podem proteger o coração contra
elevações súbitas dos hormônios do estresse.

Enzimas

Além dos receptores celulares, outros alvos importantes para a ação dos
medicamentos são as enzimas, que ajudam no transporte de substâncias químicas
vitais, regulam a velocidade das reações químicas ou se prestam a outras funções
de transporte, reguladoras ou estruturais. Enquanto as drogas que se direcionam
para os receptores são classificadas como agonistas ou antagonistas, as drogas
direcionadas para as enzimas são classificadas como inibidoras ou ativadoras
(indutoras). Exemplificando, a droga lovastatina, utilizada no tratamento de algumas
pessoas que têm níveis sanguíneos elevados de colesterol, inibe a enzima HMG-
CoA redutase, fundamental na produção de colesterol pelo corpo.
Quase todas as interações entre drogas e receptores ou entre drogas e enzimas são
reversíveis - depois de certo tempo a droga "se solta" e o receptor ou enzima
reassume sua função normal. Às vezes uma interação é em grande parte irreversível
(como ocorre com omeprazol, uma droga que inibe uma enzima envolvida na
secreção do ácido gástrico), e o efeito da droga persiste até que o corpo manufature
mais enzimas.

Afinidade e Atividade Intrínseca

Duas propriedades importantes para a ação de uma droga são a afinidade e a


atividade intrínseca. A afinidade é a atração mútua ou a força da ligação entre uma
droga e seu alvo, seja um receptor ou enzima. A atividade intrínseca é uma medida
da capacidade da droga em produzir um efeito farmacológico quando ligada ao seu
receptor.

Medicamentos que ativam receptores (agonistas) possuem as duas propriedades;


devem ligar-se efetivamente (ter afinidade) aos seus receptores, e o complexo
droga-receptor deve ser capaz de produzir uma resposta no sistema-alvo (ter
atividade intrínseca). Por outro lado, drogas que bloqueiam receptores
(antagonistas) ligam-se efetivamente (têm afinidade com os receptores), mas têm
pouca ou nenhuma atividade intrínseca - sua função consiste em impedir a interação
das moléculas agonistas com seus receptores.

Potência e Eficácia

A potência refere-se à quantidade de medicamento (comumente expressa em


miligramas) necessária para produzir um efeito, como o alívio da dor ou a redução
da pressão sanguínea. Exemplificando, se 5 miligramas da droga B alivia a dor com
a mesma eficiência que 10 miligramas da droga A, então a droga B é duas vezes
mais potente que a droga A. Maior potência não significa necessariamente que uma
droga é melhor que a outra. Os médicos levam em consideração muitos fatores ao
julgar os méritos relativos dos medicamentos, como seu perfil de efeitos colaterais,
toxicidade potencial, duração da eficácia (e, consequentemente, número de doses
necessárias a cada dia) e custo.
A eficácia refere-se à resposta terapêutica máxima potencial que um medicamento
pode produzir. Exemplificando, o diurético furosemida elimina muito mais sal e água
por meio da urina, que o diurético clorotiazida. Assim, furosemida tem maior
eficiência, ou eficácia terapêutica, que a clorotiazida. Da mesma forma que no caso
da potência, a eficácia é apenas um dos fatores considerados pelos médicos ao
selecionar o medicamento mais apropriado para determinado paciente.

Tolerância

A administração repetida ou prolongada de alguns medicamentos resulta em


tolerância - uma resposta farmacológica diminuída. Tolerância ocorre quando o
corpo adapta-se à contínua presença da droga. Comumente, são dois os
mecanismos responsáveis pela tolerância: o metabolismo da droga é acelerado
(mais frequentemente porque aumenta a atividade das enzimas que metabolizam os
medicamentos no fígado) e diminui o número de receptores ou sua afinidade pelo
medicamento.

O termo resistência é utilizado para descrever a situação em que uma pessoa não
mais responde satisfatoriamente a um medicamento antibiótico, antiviral ou
quimioterápico para o câncer. Dependendo do grau de tolerância ou resistência
ocorrente, o médico pode aumentar a dose ou selecionar um medicamento
alternativo.

Planejamento e Desenvolvimento dos Medicamentos

Muitos dos medicamentos em uso corrente foram descobertos por pesquisas


experimentais e pela observação em animais e seres humanos. As abordagens mais
recentes ao desenvolvimento de um medicamento baseiam-se na determinação das
alterações bioquímicas e celulares anormais causadas pela doença e no
planejamento de compostos que possam impedir ou corrigir especificamente essas
anormalidades. Quando um novo composto mostra-se promissor, comumente ele é
modificado muitas vezes para otimizar sua seletividade, potência, afinidade pelos
receptores e eficácia terapêutica.
Também são considerados outros fatores ao longo do desenvolvimento dos
medicamentos, como se o composto é absorvido pela parede intestinal e se é
estável nos tecidos e líquidos do corpo. Idealmente, o medicamento deve ser efetivo
ao ser tomado por via oral (para a conveniência da autoadministração), bem
absorvido pelo trato gastrointestinal e razoavelmente estável nos tecidos e líquidos
do corpo, de modo que uma dose por dia seja adequada.

O medicamento deve ser altamente seletivo para seu local-alvo, de modo que tenha
pouco ou nenhum efeito nos outros sistemas do organismo (efeitos colaterais
mínimos ou ausentes). Além disso, o medicamento deve ter potência e eficácia
terapêutica em alto grau para que seja efetivo em baixas doses, mesmo nos
transtornos de difícil tratamento. Não existe o remédio que seja perfeitamente efetivo
e completamente seguro.

Portanto, os médicos avaliam os benefícios e riscos potenciais dos medicamentos


em cada situação terapêutica que exija tratamento com medicamento de receita
obrigatória. Mas às vezes alguns transtornos são tratados sem a supervisão de um
médico; por exemplo, pessoas fazem autotratamento com medicamentos de venda
livre para pequenas dores, insônia, tosses e resfriados. Nesses casos, essas
pessoas devem ler a bula fornecida com o medicamento, seguindo explicitamente as
orientações para seu uso.

FARMACOCINÉTICA
A farmacocinética estuda a atividade dos fármacos dentro, através e fora do
corpo, engloba, cronologicamente, as fases de
absorção, biodisponibilidade, distribuição, biotransformação e excreção. Como
estuda quantitativamente utilizando metodologia matemática para descrever a
cronologia dos processos, através da farmacocinética se consegue estabelecer
relações entre a dose e as mudanças de concentração das drogas nos diversos
tecidos em função do tempo, sendo possível adequar posologia, via de
administração e intervalo entre cada dose, visando melhorar o resultado terapêutico
e, ao mesmo tempo, reduzir a probabilidade de desenvolver efeitos tóxicos
potenciais.

Absorção  

Refere-se a passagem de um fármaco do seu local de administração para a corrente


sanguínea. Para que um fármaco seja absorvido pelo corpo e possa se distribuir
pelos líquidos corporais, é preciso transpor barreiras teciduais, que se dá pela via de
administração, que pode ser: cutânea, subcutânea, respiratória, oral, retal, muscular.
Também pode ser introduzido diretamente na circulação pela via intravenosa, mas
neste caso não acontece absorção, pois não transpassa nenhuma barreira, cai
diretamente na circulação.

A velocidade e a eficiência da absorção dependem do ambiente onde o fármaco é


absorvido, das suas características químicas e da via de administração. Grande
parte dos fármacos são absorvidos no intestino, e alguns no estômago. Têm melhor
absorção quando estão em forma não ionizada, quando são ácidos fracos serão
absorvidos melhor no estômago que tem pH ácido, já os fármacos que são bases
fracas, serão absorvidos mais no intestino, sendo que esse tem um pH mais básico
que o do estômago. Drogas em forma de comprimido, passam por diversas fases de
quebra, até ficarem na forma de pó e assim serem solubilizados e absorvidos, já os
fármacos em soluções, não necessitam sofrer todo esse processo, pois já estão na
forma solúvel, e podem ser rapidamente absorvidos.

Biodisponibilidade

Indica a quantidade absorvida do fármaco, resultado da via de administração, de


propriedades físico-químicas do fármaco e de certos fatores presentes nos
pacientes.
Distribuição

Depois que a droga é administrada e absorvida, é distribuída, sendo transportada


pelo sangue e outros fluidos aos tecidos do corpo. O organismo divide-se em
diferentes compartimentos, e há fatores que condicionam esse movimento da droga
de um compartimento para outro, uma vez na corrente sanguínea, o fármaco, de
acordo com suas características de tamanho e peso molecular, carga elétrica, pH,
solubilidade, capacidade de união a proteínas se distribui pelos distintos
compartimentos corporais.

Biotransformação ou Metabolismo

O fármaco sofre uma biotransformação, passando a ser um composto solúvel em


água para facilitar a extração. O metabolismo das drogas apresenta as quatro
modalidades seguintes:

 Inativação: As drogas, na sua maioria, e seus metabólitos são inativados ou


transformados em produtos menos ativos.
 Metabólito ativo de droga ativa: Muitas drogas são parcialmente
transformadas em um ou mais metabólitos ativos. Os efeitos observados são
causados pela droga original e pelos seus metabólitos.
 Ativação de droga inativa: Algumas drogas, chamadas pró-drogas ou pró-
fármacos, são inativas e necessitam ser metabolizadas para se tomarem
ativas.
 Ausência de metabolismo: Certas drogas, como penicilinas e anestésicos
gerais inalatórios, são excretadas em forma inalterada, sem sofrer
metabolismo, devido às suas propriedades físico-químicas peculiares.

Excreção

Por fim, o fármaco é eliminado do corpo por meio de algum órgão excretor. As três
principais vias de eliminação são: biotransformação hepática, eliminação biliar e
eliminação urinária. Juntos, esses processos de eliminação diminuem
exponencialmente a concentração no plasma. Ou seja, uma fração constante do
fármaco presente é eliminada por unidade de tempo.
Os fármacos devem ser suficientemente polares para serem eliminados do
organismo. A saída dos fármacos e seus metabólitos do organismo ocorre por
numerosas vias, sendo a eliminação na urina por meio dos rins a mais importante. A
excreção de fármacos pode ocorrer também por intestinos, bile, pulmões, leite, entre
outros. Os fármacos que não são absorvidos após administração oral ou fármacos
que são secretados diretamente para os intestinos ou na bile são eliminados com as
fezes. Os pulmões estão envolvidos primariamente na eliminação dos gases
anestésicos. A excreção da maioria dos fármacos no suor, na saliva, nas lágrimas,
nos pelos e na pele ocorre em pequena extensão. A excreção corporal total e a
meia-vida do fármaco são variáveis importantes da sua eliminação, sendo usadas
para otimizar o tratamento medicamentoso e minimizar a toxicidade.

Os fármacos são eliminados do organismo sem alterações pelo processo de


excreção ou convertidos em metabólitos, com exceção dos pulmões, os órgãos
excretores eliminam mais eficientemente os compostos polares que as substâncias
altamente lipossolúveis. Assim, os fármacos lipossolúveis não são facilmente
eliminados até que sejam metabolizados em compostos mais polares.

Referências

https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/farmacologia-cl%C3%ADnica/
farmacodin%C3%A2mica/vis%C3%A3o-geral-da-farmacodin%C3%A2mica

https://www.editorasanar.com.br/blog/
farmacocinetica_tudo_que_voce_precisa_saber

https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/farmacologia-cl%C3%ADnica/
farmacodin%C3%A2mica/intera%C3%A7%C3%B5es-f%C3%A1rmaco-receptor

https://www.msdmanuals.com/pt/casa/medicamentos/farmacodin%C3%A2mica/a
%C3%A7%C3%A3o-farmacol%C3%B3gica

https://www.msdmanuals.com/pt/casa/medicamentos/farmacodin%C3%A2mica/
seletividade-do-local

Você também pode gostar