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Interação medicamentosa

(STORPITIS)

Interações medicamentosas são ações recíprocas dos componentes ativos dos medicamentos. As
interações são prejudiciais quando aumentam exageradamente os efeitos farmacológicos dos princípios
ativos, ou estes se antagonizam a ponto de anular, mesmo que parcialmente, seus efeitos terapêuticos.

A incompatibilidade medicamentosa difere das interações medicamentosas, pois ocorre quase


sempre fora do organismo, às vezes na seringa de injeção, quando se misturam dois ou mais medicamentos
para uma aplicação única.

Interação por adição é o fenômeno decorrente da associação de dois fármacos que promovem
efeitos semelhantes e por mecanismos de ação também semelhantes.

A interação por somação é aquela em que dois fármacos atuam simultaneamente, promovendo
mesmo efeito, porém por mecanismos diferentes.A codeína e o ácido acetilsalicílico são dotados de atividade
analgésica.Administração concomitante desses fármacos resulta na somação de seus efeitos. Entretanto, a
ação da codeína se faz no sistema nervoso central, enquanto a do ácido acetilsalicílico é predominantemente
periférica.

Potencialização, termo reservado para casos em que, na associação de dois ou mais fármacos, o
efeito final é maior do que a soma algébrica dos efeitos desses agentes (ex: 0+2=10).

Antagonismo fenômeno oposto ao de potencialização. O antagonismo se verifica entre os fármacos


de ações contrárias ou às vezes competitivas ante a determinado receptor farmacológico. Neste último caso, a
competição se faz entre agonista e antagonista, onde ambos possuem afinidade pelo mesmo receptor, porém
o antagonista não tem a capacidade de desencadear eventos biológicos, reduzindo consequentemente a ação
do agonista.

Polifamaciaprescrição de vários medicamentos a um paciente

Na associação de medicamentos, cada componente pode agir independentemente sem nenhuma


interferência na ação de outros componentes. Na maioria das vezes, conhecendo-se os mecanismos de ação
dos fármacos, é possível avaliar os efeitos da associação. As interações são classificadas, didaticamente,
segundo três critérios (OGA, 2003): da intensidade dos efeitos, do tempo de latência e dos mecanismos
de ação.

Intensidade dos efeitos

As interações leves têm pouca importância, pois os efeitos resultantes, muitas vezes, são
imperceptíveis. Interações moderadas são aquelas em que, por ações recíprocas dos fármacos, fazem
aparecer efeitos nocivos. As interações graves são aquelas em que os efeitos resultantes são letais ou de tal
intensidade que chegam a produzir danos irreversíveis ao paciente.

Tempo de Latência

Conforme a velocidade de aparecimento dos efeitos, as interações podem ser classificadas em


rápidas e lentas. As interações rápidas são aquelas em que os efeitos são imediatos ou aparecem no período
de 24 horas, após a administração de fármacos.As interações lentas produzem efeitos tardios, geralmente dias
ou semanas após administração de medicamentos, portanto, tratamentos imediatos para sua prevenção são,
de regra, ineficazes.

Mecanismos de Ação
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Conforme os mecanismos envolvidos, as interações podem ser físico-químicas, farmacocinéticas e
farmacodinâmicas.

Interações físico-químicas

São geralmente interações que ocorrem no trato digestivo entre um fármaco e outro fármaco ou entre
um fármaco e nutrientes. O mecanismo de interação pode ser puramente físico, como, por exemplo, adição
das moléculas de alcaloides na superfície das partículas de carvão ativado, ou químico, em que as moléculas
de fármacos reagem com outras dando origem a produtos diferentes.

Interações farmacocinéticas

São interações em que um dos fármacos modifica a cinética de outro administrado


concomitantemente. Entende-se porcinética de fármacos os processos de absorção,
distribuição,biotransformação e excreção. Pode haver ações recíprocas, commodificação da cinética de
ambos. A alteração desses fenômenos no organismo acaba interferindo na biodisponibilidadee,
consequentemente, na eficácia terapêutica do medicamento.O aumento de absorção e distribuição de um
fármaco sempreocasiona exacerbação dos efeitos, tanto terapêuticos quantoadversos. Contrariamente, o
aumento da biotransforrnação eda excreção de fármacos encurta o tempo de sua permanência no organismo e
tende a reduzir seus efeitos.

O efeito desse fármaco aparece quando a concentração de suas moléculas no sangue atinge um certo
valor denominado nível plasmático efetivo. Evidentemente, conforme aumenta o nível plasmático do
fármaco, intensifica-se mais o seu efeito terapêutico, mas, ao mesmo tempo, acentuam-se os efeitos
indesejáveis. A concentração sérica que leva à intoxicação é designada nível plasmático tóxico do fármaco.
Ideal, na farmacoterapia, é administrar dose que permita ultrapassar seu nível plasmático efetivo sem,
contudo, atingir o nível tóxico.

Procedimento de monitorização terapêutica é a necessidade de se fazer o controle do nível


plasmático do fármaco em pacientes que recebem medicamentos de margem de segurança estreita. Tem por
objetivo manter a vigilância e o controle da concentração plasmática dos fármacos, que deve estar sempre
acima de seu nível plasmático efetivo e abaixo do nível plasmático tóxico.

Interferência na Absorção

Diversos fatores interferem na absorção gastrintestinal de substâncias.

O pH e o pKa são importantes particularmente para eletrólitos fracos; as substâncias de natureza


ácida ou básica podem sofrer alteração na sua absorção, quando tomadas juntamente com antiácidos.

Alterações do tempo de esvaziamento gástrico e da motilidade do trato causadas pela presença de


alimentos e outras substâncias podem interferir na velocidade e na quantidade de absorção de substâncias

Os agentes que alteram o ritmo contrátil do trato digestivo contribuem aumentando ou reduzindo
absorção de substâncias. Os anticolinérgicos melhoram a absorção de muitas substâncias, mas prejudicam a
de algumas, como a do paracetamol.

Possibilidade da ocorrência do ciclo êntero-hepático, que consiste na reabsorção de uma substância


já excretada; isso acontece, por exemplo, com substâncias excretadas com a bile, na forma conjugada que,
em contato com microrganismos intestinais, são degradadas, voltando novamente à forma absorvível.

Após uma refeição plena, os medicamentos se diluem em grande volume de alimentos, fazendo com
que seu contato com a mucosa gástrica e intestinal seja reduzido, prejudicando a absorção.

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Os metais (ferro, cálcio, magnésio, cobre, zinco), que formam quelatos com certas moléculas como
as de tetraciclinas e outras substâncias, formam complexos insolúveis e, portanto, não absorvíveis no trato
digestivo.

Substâncias que interferem nos transportadores ativos situados ao longo do trato digestivo podem
acarretar um aumento ou diminuição da biodisponibilidade dos fármacos.

Os agentes que alteram o ritmo contrátil do trato digestivo contribuem aumentando ou reduzindo
absorção de substâncias. Os anticolinérgicos melhoram a absorção de muitas substâncias, mas prejudicam a
de algumas, como a do paracetamol.

A absorção de muitos fármacos depende da ação desses transportadores transmembrânicos,


principalmente da glicoproteína-P (P-gp) e polipeptídios transportadores de ânions orgânicos (PTAO).

A P-gp funciona como bomba de efluxo, dependente de ATP, na transferência de substâncias


endógenas e seus metabólitos para fora das células. No intestino, a P-gp exerce importante função de defesa
do organismo, moderando a absorção de xenobióticos. Nos órgãos como fígado, rins e cérebro, secretam
substâncias tóxicas, para evitar seu acúmulo no interior das células.

A P-gp está presente em altas concentrações na mucosa intestinal, nas membranas luminais dos
túbulos proximais dos rins, na membrana canalicular biliar dos hepatócitos e nos astrócitos associados à
barreira hematencefálica. Ela inibe a absorção e aumenta a excreção de xenobióticos. Assim, os indutores e
os inibidores da P-gp podem alterar a cinética de fármacos no organismo.

P-gp transporta anti-histamínicos (excetoloratadina, desloratadinae cetirizina),


agentesantineoplásicos, imunossupressores, cardiotônico glicosídico (digoxina) e esteroides.

A rifampicina, o fenobarbital, o clotrimazol, a reserpina e oisosafrol são conhecidos como indutores


de P-gp, assim comode CYP3A4.

A coadministraçãode rifampicina (indutor de P-gp) e digoxina (substrato de P-gp)resulta em


diminuição da biodisponibilidade da digoxina

O PTAO (polipeptídio transportador de ânions orgânicos) exerce a função de captar fármacos para
introduzi-los nas células. Este transportador está presente na barreira hematencefálica, mucosa intestinal,
células epiteliais dos rins e outros tecidos.Sucos de frutas como laranja, maçã e grapefruit, parecem exercer
atividade inibitória sobre PTAO.

Interferência na ligação proteíca

Os fármacos circulam no sangue, livres ou complexados com proteínas como albumina,


lipoproteínas e alfa 1-glicoproteína ácida e com eritrócitos.

O grau de ionização das proteínas plasmáticas aumenta com a elevação do pH sanguíneo e, nesta
situação, elas podem fornecer mais ânions para se associarem a cátions. Daí a influência do pH do sangue no
equilíbrio entre fármacos livres e complexados e, consequentemente, na intensidade de suas ações
farmacológicas.

A albumina é um dos principais ligantes de fármacos, e ograu de combinação depende de diversos


fatores, entre os quaiso pH do sangue, a estrutura e a concentração do fármaco, aconcentração de proteínas
no sangue e a afinidade do fármaco pelos sítios de ligação protéicos.

As lipoproteínas são complexos macromoleculares grandes, cuja função fisiológica é transportar


ativamente lipídios insolúveis no plasma. Elas transportam fármacos como clorpromazinae,imipramina.

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A alfa 1-glicoproteína ácida tem função importante no transporte de substâncias de natureza básica
no sangue. A lidocaína, o propranolol, a quinidina, a imipramina, entre outros, são fármacos transportados
por essa proteína.

Interferência na Biotransformação de Fármacos

As interações de medicamentos que envolvem mecanismos de biotransformação dos fármacos levam


a duas consequências básicas: redução ou aumento dos efeitos de um fármaco, respectivamente, por
aceleração e inibição de sua biotransformação por outro fármaco.

Tolerância mecanismo pelo qual o fármaco acelera o seu próprio metabolismo.


As isoenzimas do citocromo P-450 são indicadas por números e letras. Por exemplo, no CYPlAl, o
primeiro número indica a família, a letra indica a subfamília e o segundo número o gene individual. O
metabolismo de fármacos é realizado basicamente pelas famílias 1, 2 e 3. Outras isoenzimas do citocromo P-
450 catalisam a biossíntese de hormônios esteróides nas mitocôndrias do fígado, rins, glândulas adrenais,
placenta e gônadas.

Interferência na Excreção

As interações entre medicamentos por modificação da excreção compreendem três mecanismos


básicos: alteração do fluxo glomerular, por exemplo, sob ação de diuréticos; alteração da reabsorção de
eletrólitos fracos (ácidos e bases fracos) e alteração da secreção tubular de substâncias por mecanismo
competitivo.

As interações farmacodinâmicas são as que se fazem entre dois ou mais fármacos, através de seus
próprios mecanismos de ação, ou competindo junto aos receptores específicos ou independentemente de
receptores.

As interações entre fármacos de efeitos opostos são de fácil detecção e caracterizam um antagonismo
mútuo.Há casos em que se utiliza o fenômeno de antagonismo para reduzir o efeito colateral de um
medicamento.

A associação de fármacos de efeitos semelhantes resulta em adição, somação ou por vezes


potencialização dos efeitos.

Agentes antimicrobianos, tais como tetraciclinas, cloranfenicol, neomicina e succinilsulfatiazol,


podem afetar a flora gastrintestinal, que é importante na síntese de vitamina K. Como consequência, haverá
potencialização do efeito de agentes anticoagulantes, com o risco de causar hemorragia.

Como regra geral, a administração de medicamentos logo após uma refeição plena é prejudicial à
absorção de fármacos. Entretanto, há exceções, como é o caso de diazepam, dicumarol, griseofulvina,
hidroclortiazida, metoprolol, nitrofurantoína, propranolol etc., que, na presença de alimentos ricos em
carboidratos e gordura, são mais bem absorvidos.Certos antibióticos e anti-inflamatórios acompanhados de
ingestão alimentar, por exemplo de leite, além de terem sua absorção melhorada, têm seus efeitos colaterais,
particularmente irritação gastrintestinal, reduzidos. O leite aumenta ligeiramente o pH gástrico, o que
facilita a dissolução de substâncias de natureza ácida, aumentando a superfície de contato de suas
moléculas com a mucosa do trato digestivo. A ingestão de sucos de frutas cítricas juntamente com os
medicamentos não é recomendada, tendo em vista a possibilidade da alteração de pH, prejudicial à
dissolução de fármacos, assim como pela sua atuação sobre o transporte ativo de fármacos no intestino. Da
mesma forma, o chá e alimentos que contêm taninos devem ser evitados durante a medicação, por causa da
precipitação de certos fármacos, tipo alcalóides, na forma de tanatos.
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Interação medicamentosa

(Farmacologia clinica FUCHS)

Fármaco corresponde ao princípio ativo de uma formulação. É ele que exerce a ação
farmacológica. No medicamento, o fármaco é a base da formulação, estando complementado pelos
ingredientes inativos, denominados auxiliares de formulação.A combinação dessas substâncias- em
dose específica e forma farmacêutica particular- constitui o produto medicamentoso. Dessa forma,
as características intrínsecas do medicamento, que correspondem a propriedades físicas (aparência,
sabor, uniformidade e solubilidade), químicas (estrutura molecular, pureza, integridade e
estabilidade da formulação, potência declarada no rótulo dentro de limites especificados) e
biofarmacêuticas (desintegração, dissolução, capacidade de absorção no organismo), podem
modular os desfechos do uso de cada medicamento presente na terapêutica.
A prescrição caracterizará os medicamentos que o pacienteusa, devendo-se atentar para
associações que levem a possíveisinterações entre os diferentes componentes da prescrição.As
interações medicamentosas podem ser do tipo medicamento alimento, medicamento-enfermidade,
medicamento-teste diagnóstico, medicamento-substância química e medicamento-medicamento.
O chamado "indiferentismo farmacológico", em que cada uma das substâncias associadas
age independentemente das demais, sem alteração de ação ou efeito. Outro modo é a interação
farmacológica em que um dos fármacos associados interfere em ação ou efeito do outro. Um tipo de
interação é a sinergia, em que um fármaco reforça a ação ou efeito do outro, mediante diferentes
mecanismos. As sinergias podem ser farmacocinéticas (por interferência na disposição do fármaco
no organismo) e farmacodinâmicas (quando há interferência no mecanismo de ação). Também
há as chamadas sinergias de efeitoquando dois fármacos, por ação em diferentes tecidos e por
diferentes mecanismos, reforçam determinados efeitos terapêuticos.Outro tipo de interação refere-se
ao antagonismo, em que umfármaco se opõe à ação ou efeito do outro, geralmente atuandoem
receptores farmacológicos comuns, mas também podendoexercer seus efeitos em receptores e
efetores diferentes (antagonismo de efeito). Quando um fármaco modifica quimicamente o outro,
está-se em presença de antidotismo.
Nas interações farmacológicas, os componentes ou substâncias farmacologicamente ativas
envolvidos são basicamente dedois tipos.
a) Precipitantes- são substâncias possuidoras de alta afinidadepor proteínas plasmáticas
ou que alteram metabolismo deoutras substâncias, fármacos ou xenobióticos (por inibiçãoou
indução de enzimas hepáticas) ou afetam a função renal,modificando a depuração renal de outros
fármacos.
b) Afetados- são os que usualmente apresentam curva dose-resposta íngreme (pequena
alteração de dose causa grandealteração de efeito) ou estreito índice terapêutico.
Se a alteração apresentada pela interação for qualitativa, a resposta farmacológica é
completamente diversa dos efeitos habituais do medicamento, o chamado efeito paradoxal ou
inesperado; se quantitativa, o efeito próprio do fármaco pode aumentar (sinergia), diminuir
(antagonismo parcial) ou cessar (antagonismo total e antidotismo).
Antagonismos diminuem ou impedemo efeito terapêutico do fármaco afetado. Um
exemplo é a interação entre rifampicina e anticoncepcionais orais: rifampicina aumenta a
metabolização dos hormônios e pode comprometer o nível plasmático dos mesmos, diminuindo sua
eficácia. Porém antagonismos têm utilidade terapêutica quando exercem efeito corretivo, isto é,
impedem ou corrigem um dado efeito indesejado para o beneficio terapêutico.

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A variação individual, de cunho genético, influencia a resposta a fármacos e outros
xenobióticos. A farmacogenética é o campo de estudo que examina o modo como a diversidade
genética nas populações influencia a efetividade e a toxicidade dos fármacos.
Alimentos podem interagir com muitos fármacos, diminuindo, por exemplo, sua absorção.
É o caso de penicilinas, tetraciclina e teofilina. Em algumas situações, ocorre aumento da absorção.
O uso de alimentos graxos pode potencializar a absorção de antifúngicos, como griseofulvina e
itraconazol. Dietas hiperproteicas estimulam o sítio CYP450, influenciando o metabolismo de
alguns fármacos, enquanto dietas ricas em carboidratos possuem efeito contrário. No caso de
profármacos, como omeprazol, a clivagem da molécula, e a consequente liberação do princípio
ativo, só é conseguida garantindo-se pH em certa faixa ácida. O alimento estimula a produção de
ácido; assim, a ingestão do medicamento logo antes da refeição ajudaa garantir a ativação
Sucos cítricos, em especial de laranjas amargas e pomelo(grapefruit), modificam o perfil
cinético de mais de 40 fármacos, entre eles sinvastatina, atorvastatina, lovastatina, ciclosporina,
saquinavir, antagonistas de cálcio, benzodiazepínicos. Substâncias presentes no suco, como 6-7-di-
hidroxi-bergamotina, inibem o sítio CYP34A no intestino delgado, diminuindo a eliminação pré-
sistêrnica dos fármacos e aumentando sua biodisponibilidade. O uso de um copo de suco (200ml) já
proporciona quantidade suficiente para promover interações, e seu efeito perdura por 24 horas.
Dissulfiram interfere no metabolismo do álcool etílico, por inibição irreversível de
acetaldeído desidrogenase, causando efeitos como náusea, vômitos, cefaleia e rubor facial (efeito
antabuse). Alguns fárrnacos, como sulfas, cloranfenicol, metronidazol, antifúngicos, nitratos e
sulfonilureias, causam reações desse tipo quando administrados com álcool. Depressores do SNC
acentuam os efeitos do álcool. Álcool pode diminuir o metabolismo de paracetamol, aumentando
sua toxicidade.
Sabe-se que preparados magistrais são especialmente sujeitos a causar danos quando
inadequadamente prescritos e formulados, ocorrência não rara nesses casos.
Medicamentos fitoterápicos são produtos farmacêuticos padronizados obtidos a partir de
plantas medicinais, nas quais existem associações naturais, de vários princípios ativos.

CLASSIFICAÇÃO
A interação que ocorre in vitro, isto é, fora do organismo, é chamada de interação
farmacêuticaouincompatibilidade, interações físico-químicas. Podem ocorrer em solução ou
suspensão (líquidos) ou a seco (sólidos), entre componentes ativos e inativos da preparação, entre
eles e diluentes ou reconstituintes, e entre eles e equipamentos de administração, como equipas
plásticos, seringas e agulhas. A depender das condições do meio ou dos fatores ambientais, as
reações podem ser imediatas ou retardadas. A estrutura molecular pode oferecer grupamentos
químicos reativos e sensíveis, seja na estrutura espacial da molécula seja no seu sistema de
veiculação - cuja função é tanto proteger a integridade do fármaco até que chegue ao sítio de
absorção como torná-lo mais rápida e completamente absorvido. Outros fatores predisponentes são
natureza do soluto ou do solvente (estado físico, polaridade), natureza do continente (vidro,
polietileno, cloreto de polivinila ou PVC, etilvínil acetato ou EVA etc.), pH do meio, constantes de
díssociação, solubilidade, concentração, temperatura, luminosidade, existência de veículos,
excipientes, tampões, estabilidade dos demais solutos e tempo de contato entre os compostos.
Há vários resultados potenciais dessas interações. As mais comuns são as que alteram
características organolépticas dos medicamentos (cor, consistência, forma física), visíveis a olho nu,
manifestando-se como formação de cristais, precipitados, turvação, espessamento e diluição. Essas
alterações podem interferir na ação farmacológica, diminuindo, inativando ou aumentando a
toxicidade de algum dos fármacos ou formando novo composto que pode ser tóxico. Ao contrário,
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hídralazina pode interagir com o aço inoxidável das agulhas, mudando de cor (coloração rósea),
sem modificação do efeito farmacológico.
A ausência de modificações visíveis não significa, necessariamente, a inexistência da
interação. Por outro lado, a incompatibilidade entre substâncias não é preditiva de interações in
vivo. Por exemplo, penicilinas e aminoglicosídeos são incompatíveis (sem alterações visíveis em
solução), mas são sinérgicos in vivo, desde que administrados em sítios diferentes.
Há algumas maneiras de evitar incompatibilidadesmedicamentosas.
1) A administraçãointravenosa de fármacos deveser feita, na medida do possível, por injeção de
bolo ou bomba de infusão. Sempre que possível, é conveniente usar diferentes sítios de infusão, ou
equipoemY, para diferentes fármacos. Misturas de fármacos com soluções nutritivas parenterais
devem ser evitadas a todo custo.
2) Leitura atenta das instruções do fabricante quanto a reconstituição, diluição, temperatura e
condições de armazenamento pós-diluição deve preceder o preparo da infusão. Não adicionar à
infusão outros fármacos que não glicose ou soro fisiológico, e esses de acordo com a monografia do
fabricante; é conveniente lembrar que mesmo esses diluentes poderão afetar alguns fármacos.
3) Urna vez feita a preparação, é preciso verificar se houve completa diluição do fármaco na
solução de infusão, observando presença de alterações organolépticas a intervalos regulares.
4) O medicamento, diluído ou não, não deve ser exposto a luz direta e calor. Diluições não devem
ser reaproveitadas sema certeza de sua estabilidade. Dessa forma, a reconstituiçãoe a preparação de
diluições devem ser feitas apenas para ohorário de administração.
5) Orecipiente de infusão deve receber rotulagem adequada. Alémdos dados do paciente, deverão
constar dose,composição, concentração final dos componentes, horário de início e de fim.
Interações farmacocinéticaspodem envolver as diferentes etapas farmacocinéticas:
absorção, distribuição, metabolismo (biotransformação) e excreção. Expressam-se por modificações
dessas funções, causadas pelo fármaco precipitante sobre o afetado. Resultados possíveis das
interações cinéticas são incremento ou inibição de processos enzimáticos de detoxíficação,
competição em relação a proteínas transportadoras e modificações da biodisponibilidade
(quantidade do fármaco que chega intacto à circulação sistêmica e a velocidade com que ocorre o
fenômeno).
Interações de efeito, sinérgicas ou antagônicas, acontecem por vias farmacológicas distintas,
em sítios diferentes, ocasionando efeitos semelhantes ou opostos, respectivamente, ou ainda
influenciando os mecanismos de toxicidade dos fármacos envolvidos.
Os resultados possíveis das interações de ação e de efeito são:
• Dois fármacos podem competir no mesmo receptor celular, tendo o antagonista puro maior
afinidade pelo receptor e nenhuma atividade intrínseca (antagonismo competitivo). O antagonista
pode anular (antagonismo total) ou diminuir (antagonismo parcial) o efeito do agonista.
• Dois fármacos dados simultaneamente determinam resposta maior do que a soma de seus
efeitos individuais (sinergia de potenciação), por estimular a reatividade do receptor celular ou
inibir enzimas que inativam o agonista no local de ação. Outra forma de sinergia consiste na
atuação dos fármacos em diferentes pontos de uma mesma rota metabólica (por exemplo,
sulfametoxazol e trimetoprima).

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• Dois fármacos possuem características terapêuticas distintas que atuam em um mesmo
sentido (sinergicamente) ou em sentidos opostos (antagonismos). Nos dois casos há interações de
efeito.
Antagonismos são usados para nulificar ou minimizar efeitos danosos de uma substância,
como é o caso dos antídotos nas intoxicações (acetilcisteína e paracetarnol; naloxona e morfina;
flumazenil e benzodiazepínicos; desferroxarnina e ferro). Também se obtém o chamado efeito
corretivo quando só um dos efeitos adversos da substância é anulado.
Na fase de distribuição, um fármaco pode ser afetado por outro que altere o fluxo sanguíneo
ou a capacidade de ligação a proteínas plasmáticas e teciduais. Se dois fármacos competem pelos
mesmos sítios de ligação nas proteínas, o de menor afinidade é deslocado, aumentando sua fração
livre no plasma.
É na biotransforrnação que os fatores farmacogenéticos exercem maior influência. A
descoberta de polimorfismo genético expresso no citocromo CYP450 pode explicar por que alguns
pacientes apresentam efeitos inesperados, toxicidade e maior possibilidade de sofrer interações com
outros fármacos. São os polimorfismos apresentados pelas diferentes isoformas que produzem as
diferenças individuais, incluindo a velocidade de metabolização. Na população, esses
polimorfismos são geralmente expressos como quatro diferentes fenótipos: metabolizadores lentos,
intermediários, rápidos e ultrarrápidos.
Excreção e reabsorção renais sofrem influência de pH urinário, fluxo plasmático renal,
capacidade funcional do rim e presença de carreadores tubulares renais. Interações podem ter
origem na competição por glicoproteína P e transportadores de íons orgânicos
Interações farmacodinâmicaspodem modificar efeitos pelas alterações na ação. Tais
alterações podem ocorrer em mesmo receptor ou enzima comum, determinando sinergias ou
antagonismos. As primeiras ocorrem quando um fármaco aumenta o efeito do agonista por
estimular a receptividade de seu receptor celular ou inibir enzimas que o inativam no local de ação.
Os segundos se devem a diminuição de efeito decorrente de competição pelo mesmo receptor,
tendo o antagonista puro maior afinidade pelo receptor e nenhuma atividade intrínseca
(antagonismo competitivo). Esse último é reversível na dependência do aumento da concentração
do agonista no sítio de ação.
Sinergias são usadas terapeuticamente por aumentar o efeito desejado (sulfametoxazol +
trimetoprima; amoxicilina + clavulanato), retardar a resistência rnicrobiarta (antituberculosos) ou
aumentar a duração de efeito (probenecida + penicilinas; benzilpenicilina + penicilina procafna).
Antagonismos são usados para nulificar ou minimizar efeitos danosos de uma substância,
como é o caso dos antídotos nas intoxicações (acetilcisteína e paracetarnol; naloxona e morfina;
flumazenil e benzodiazepínicos; desferroxarnina e ferro). Também se obtém o chamado efeito
corretivo quando só um dos efeitos adversos da substância é anulado.
A interação clinicamente relevante pode escalonar-se em quatro níveis, relacionados à
gravidade (grave, moderada, leve) e à estimativa de ocorrência (definida, provável, possível) e
condicionados à qualidade da evidência disponível:
Nível I - altíssimo risco, estando a associação contraindicada quando se combinam os
critérios "grave e definida" e "grave e provável".
Nível 2- alto risco, caracterizada pela combinação de critérios "grave e possível", "moderada
e definida" e "moderada e provável". Nesse caso, o uso associado dos medicamentos requer
cuidados especiais, ajuste posológico e avaliação benefício-risco.

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Nível 3- risco médio, quando os critérios são: "moderada e possível", "leve e definida" e
"leve e provável". O uso simultâneo dos fármacos enseja ajuste posológico e acompanhamento dos
desfechos terapêuticos esperados, inclusive quanto à segurança.
Nível 4- baixo risco, quando a combinação de critérios é "leve e possível". Sugere pequena
relevância clínica.
Pílulas polivalentes ou combinação de doses fixas CDF com três e quatro componentesestão
em desenvolvimento, necessitando da comprovação debenefício por meio de ensaios clínicos
randomizados.

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Interação medicamentosa

(GOMES)

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